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,'\. ftt'_4> A mesa com o inimigo~ Refeições pré-confeccionadas, bebidas e~ sobremesas light, carnes e peixes fumados
~--...~ e outros repastos de cor atractiva e sabor intensonão são tão inofensivos para a saúde como se pensa
POR CLARA SOARES*
POP
O quadro de Warholtransformounum ícone da eramoderna a comida
processada
'Adose faz o veneno.» A mensa
gem data do século XV, pertence ao médico e alquimista suíçoParacelso e continua actual. A
diferença é que hoje diz respeito a todos,consumidores incluídos. Que perigos seescondem no que levamos à boca? Estamosa envenenar-nos no acto da compra, mesmo que a embalagem assegure que o produto está identificado e obedece a normas
legais? Com o escândalo da melamina, velhos fantasmas voltam a sair do frigorífico.Apesar de não ser tóxica, aquela substânciade uso industrial pode conduzir a paragensrenais e levar à morte por contaminação[como aconteceu a bebés e, no ano passado, a milhares de animais domésticos queingeriram rações falsificadasJ. Mas o que
Os mais perigosos
TO MATO
dizer dos sintéticos adicionados a comes e
bebes para os conservar, lhes intensificar osabor, melhorar a textura e o aspecto?
Os aditivos são um mal necessário da
indústria alimentar, sem a qual não seriapossível dar de comer a toda a populaçãodo planeta. Alguns são até benéficos paraa saúde, como os corantes vegetais à basede extractos de corcuma ou açafrão, canela ou pimenta. A descoberta recente deefeitos adversos, na saúde, de certos aditivos é que torna o seu uso questionável,tanto aos olhos das autoridades reguladoras mundial e europeia como do ponto devista clínico.
«O aspartame (E951) é um tóxico cerebral associado ao aumento de cancro cere
bral e a quadros depressivos e, no entanto,este edu1corante encontra-se em mais de 6
mil produtos alimentares, como iogurtes,refrigerantes e produtos light, bem comono revestimento de vários medicamen
tos», adverte Cristina Sales, 52 anos, médica especialista emmedicina geral e familiar, com mestrado emnutrição clínica.
O monoglutamatode sódio (E621), inten- ~
Estão escondidos nos alimentos processados e de baixo valor calórico. Têm uso legal mas questionável
ASPARTAME (E951)
É um ê.ubstituto do açúcar. com baixoteor calórico, e a indústria coloca-
-o nos produtos e bebidas light.No entanto, algumas pessoas sãosensíveis: urticária. dores de cabeça.perturbações da visão são sintomascomuns. Há um risco acrescido de
cancro. extensível à sacarina (E954),um adoçante similar.
MONOGLUTAMATO DE SÓDIO (E621)Com o propósito de intensificar o saborde sopas. molhos, queijos e alimentospré-cozinhados. a indústria utiliza este
aditivo. É usual na cozinha chinesa, peloque os cientistas deram o nome de
DOO às pessoas que desenvolvem um
conjunto de sintomas: dores de cabeça,náuseas, fraqueza e sensação de ardor
nos braços e cabeça.
108 VISÃO 2 DE OUTUBRO DE 2008
A CIÊNCIA
COMPROVOU QUE O
USO PROLONGADO
DESTES ADITIVOS
TEM EFEITOS
NEFASTOS A NíVEL
CEREBRAL
CORANTE VERMELHO (E128)
Dos aditivos que servem para intensificar a cor, é o
que tem uma menor tolerância por quilo de peso: umindivíduo com 60 kg não deve ultrapassar as 6 mg pordia. A Austrália já proibiu a sua utilização por provocaralergias, hiperactividade e existir risco de cancro.
BENZOATO (E211 A E213)Impedem o crescimento de microorganismos emprodutos ácidos e, por isso, a indústria utiliza-os embebidas sem álcool, compotas sem açúcar, conservas,
molhos e produtos à base de peixe e carne. Vitima,sobretudo, quem sofre de alergias ou asma.
NITRATOS (E249 A E252)É adicionado às carnes e a produtos de charcutaria,deixando-os com uma atraente cor vermelha e um
sabor mais intenso. No entanto, sujeitos ao calor,formam as nitrosaminas, compostos cancerígenos.Aumentam a tensão arterial e podem ser tóxicos embebés.
ESTES
ADITIVOS
ACTIVAM OU
AGRAVAM
PROBLEMAS
DE SAÚDE JÁ
EXISTENTES
ANTES Anecessidadedealimentarmilharesde milhõesde pessoasacaboucomacomida«natural»
~ sificador de sabor usado para ar?matizarrefeições caseiras, encontrado na comida processada das cantinas e na indústriahoteleira, chegou a ser fatal para pessoasalérgicas, por causa do «síndroma do restaurante chinês» (ver caixa). Asua acumulação no organismo, adianta Cristina Sales,«conduz a alterações de comportamentoamplamente documentadas, como a hiperactividade, irritabilidade e dificuldadesde concentração». Contrariamente ao quese pensava há uns anos, o uso indiscriminado destas duas substâncias legais estálonge de ser inócuo [a autoridade do medicamento americana (FDA) reconheceu,em 2007, a ligação entre o E951 e o risco decancro cerebral].
CUIDADOS A TERO lema «não há almo
ços grátis» aplica-se amoléculas que, sendode uso pacífico, activam processos de inflamação crónica empessoas que lhes sãosensíveis. «Nas aná
lises ao sangue quemedem intolerânciasalimentares há uma
elevada percentagem areagir mal ao ácido cítrico (E330), por esteagravar sintomas das'pessoas com cólon irritável, eczema, enxaqueca, asma e artritereumatóide», concluia médica.
Os corantes sintéticos e conservantes
usados~na pastelaria fina, ovas de peixe,aperitivos e cascas de queijos não são inofensivos. Nuno Lima Dias, 41anos, da áreaalimentar da DECOjProteste, afirma quenada justifica o uso legal de corantes e intensificadores de sabor, assegurando queservem apenas para enganar o consumidor. «Num só dia, uma criança pode ingerir um leque enorme de corantes e estarexposta a reacções alérgicas», alerta o técnico da DECO.
Quem abusa da secção de charcutarianem sempre está consciente de um riscocomum aos fumadores: em contacto com asaliva, os nitratos que conservam os enchidos convertem-se em nitrosaminas, quedificultam a oxigenação do sangue e sãotambém responsáveis pela «doença azul»em bebés. E mesmo os sulfitos (conservam bebidas alcoólicas, sumos e frutos se-
cos) não estão isentos de efeitos secundários (dores de cabeça e crises de asma, empessoas vulneráveis).
Para o biomédico Roni Lara Moya, 32anos, os aditivos não podem servistos comomaus da fita. Mas reconhece que «contribuem para que os alimentos percam a suafuncionalidade». O clínico salienta o au
mento de respostas inflamatórias associadas ao consumo de comida processada. «Ocorpo responde a estas substâncias comoelementos externos e tóxicos.»
INVESTIGAR É PRECISO
«A percepção sobre os aditivos tem vindoa alterar-se», revela Sílvia Machado, 47
Inventadaem 1830 por um cientistaalemão, a melamina é um químicoindustrial composto de nitrogénio,
carbono e hidrogénio. A partir dos anostrinta, foi usada como matéria-primana indústria de plásticos por permitir ofabrico de peças com design atractivo.Mas estes não resistiam a manchas eos americanos voltaram às lo iças decerâmica, de porcelana e de vidro.A melamina caiu no esquecimentoaté voltar às bocas do mundo. destavez associada ao crime. Usada porfabricantes chineses sem escrúpulos nacomposição de alimentos processados,permite falsear os testes que medem ovalor nutricional dos alimentos, fazendose passar nas análises por proteína dearroz ou de glúten de trigo.
anos, coordenadora do departamento dealimentação e saúde da DECOjProteste.Tal justifica a segunda edição actualizadado livro Veneno no seu Prato? (2005) e nãoestá excluída nova revisão da obra, assimque haja novas informações disponíveis.Até porque, apesar das garantias de segurança da European Food Safety Authority (EFSA) , é impossível estabelecer umarelação linear entre todos os elementos .envolvidos no processo: o peso corporal (a partir do qual se estabelece a dosediária admitida de aditivos, ou DDA), onível de defesas orgânicas e a ingestãocontinuada de aditivos, sem esquecer asua interacção com fármacos.
Por último, convém lembrar a possibilidade de efeitos
ainda por estudar enão menos preocupantes: os «inimigos»ambientais. «Metais
pesados e dioxinas,que entram na cadeiaalimentar e vão sendoacumulados no cor
po, ao longo do tempo; e os antibióticosdas rações animais,responsáveis pela resistência humana amedicamentos», enumera Nuno Borges, 42anos, investigador emalimentos funcionaisda Faculdade de Ciên
cias da Nutrição, noPorto.
Neste cenário, que fazer? Na hora deabastecer o cabaz, o princípio da precaução é o melhor remédio. Variar marcas erotinas alimentares'também ajuda a evitar os perigos escondidos no prato. E estar atento a alterações fisiológicas fora donormal. Xavier Malcata, 45 anos, directorda Escola Superior de Biotecnologia daUniversidade Católica do Porto, avisa:«Não tenhamos ilusões; os aditivos vãocontinuar a existir e compete aos consumidores serem exigentes no que respeita a escolhas alimentares, para evitaremproblemas crónicos.»
Já sabe, caso lhe falte olho clínico paradeslindar o que vem escrito nas embalagens alimentares, não desespere e siga oconselho da médica Cristina Sales: «Se
tiver que dobrar muito a língua a ler os rótulos, não compre.» E!3
'COM ALINA BALDÉ
110 VISÃO 2 DE OUTUBRO DE 2008