5
1 Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo Disciplina: Tópicos em Arq. E Urb. I: Urbanismo de Guerra - Leituras contemporâneas da Produção do Espaço (ARQ808) Aluno: Guilherme Basto Lima Professor: Frederico Canuto Documentário da Aula 01: O Urbano(ismo) e a guerra - Fundamentos São milenares os registros do fenômeno da guerra. A antiguidade das reflexões acerca do tema é tamanha ao ponto de hieróglifos sobre a guerra terem sido descobertos por arqueólogos. A produção literária documentada em relação à temática também transcorre milênios, tendo entre alguns de seus principais expoentes pessoas de nacionalidades diferentes , como o chinês Sun Tzu, o inglês Thomas Hobbes e o italiano Nicolau Maquiavel. Embora muitas vezes o caráter prático da guerra em si tenha sido acentuado na obra desses estudiosos, as reflexões sobre a guerra só vieram a ser organizadas em termos por Carl Von Clausewitz. Em “ Da Guerra” (1832) são superados tanto o foco das discussões em torno da ética e da moral, quanto o idealismo da busca por uma natureza humana. Entendendo o fenômeno sob outro 1

Documentário - Aula 1 (Guilherme Basto Lima)

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ouch

Citation preview

2

Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e UrbanismoDisciplina: Tpicos em Arq. E Urb. I: Urbanismo de Guerra - Leituras contemporneas da Produo do Espao (ARQ808) Aluno: Guilherme Basto LimaProfessor: Frederico Canuto

Documentrio da Aula 01: O Urbano(ismo) e a guerra - FundamentosSo milenares os registros do fenmeno da guerra. A antiguidade das reflexes acerca do tema tamanha ao ponto de hierglifos sobre a guerra terem sido descobertos por arquelogos. A produo literria documentada em relao temtica tambm transcorre milnios, tendo entre alguns de seus principais expoentes pessoas de nacionalidades diferentes , como o chins Sun Tzu, o ingls Thomas Hobbes e o italiano Nicolau Maquiavel.Embora muitas vezes o carter prtico da guerra em si tenha sido acentuado na obra desses estudiosos, as reflexes sobre a guerra s vieram a ser organizadas em termos por Carl Von Clausewitz. Em Da Guerra (1832) so superados tanto o foco das discusses em torno da tica e da moral, quanto o idealismo da busca por uma natureza humana. Entendendo o fenmeno sob outro enfoque que no a partir da tradicional contradio entre a civilizao contra a barbrie, Clausewitz elaborou um padro geral para analisar distintos tipos de guerra. Por mais dspares que possam ser a natureza e as caractersticas de uma guerra, seu objetivo final sempre deve ser liquidar todas as foras morais do oponente, inviabilizando uma possvel retomada do territrio adquirido. Embora a chamada era das armas nucleares que se abre com o ataque Hiroshima e Nagasaki tenha colocado a guerra em outro patamar, conceitos como o de Guerra total e a ideia da primazia da batalha final esto longe de serem considerados obsoletos entre os estudiosos do campo.Aps uma apresentao do pensamento de Clausewitz foram abordados alguns aspectos da obra de Michel Foucault. Ao aprofundar o estudo sobre a guerra, Foucault concluiu que trata-se de um fenmeno que possui vrios de seus aspectos presentes nos elementos constitutivos da matriz da verdade. A guerra acaba figurando como uma das variveis analticas que perpassa parte significativa da formulao terica de Foucault, auxiliando o desenvolvimento da totalidade de seu pensamento.Nesse sentido, o poder entendido como um dispositivo que funciona em cadeia, tecendo uma rede ao sistematizar saberes e discursos de verdade, desenvolve a capacidade de disciplinar a biopoltica, introjetando novas subjetividades nos corpos. O poder, ao invs de ser interpretado na tradicional perspectiva centralizadora, emanando de um centro (por exemplo, o estado), apresentado como uma teia de relaes que se efetivam principalmente a nvel local, perpassando todos os aspectos que compem a totalidade da vida social.Foucault se aproxima ao mesmo tempo que se afasta do pensamento de Clausewitz na medida em que, com de um jogo de palavras, inverte a relao entre guerra e poltica: teria afirmado Clausewitz que a guerra seria a continuidade da poltica, enquanto para Foucault a poltica seria a continuidade da guerra. Mas seria mesmo essa uma falsa polmica? Se, por um lado, no se trata de um problema de origem, qual seja, saber quem vem primeiro (no consta qualquer genealogia ou arqueologia da guerra por parte de Foucault para desbravar sua historicidade), por outro, a complexidade da assertiva de Clausewitz demanda completude: A guerra uma continuao da poltica estatal misturada a outros meiosAlm do fato de Clausewitz claramente subordinar a guerra poltica, interessa-nos tambm reafirmar que trata-se de um continuum , onde a poltica no suprimida, mas outros meios de disputa territorial so acionados. O paralelo com o urbanismo, tanto no escopo do planejamento, quanto como dispositivo normativo e legal para o exerccio disciplinador do poder sobre um lugar bem oportuno: trata-se indubitavelmente de uma instncia agenciadora da guerra. Realidade essa tornada bem clara no filme Rebel Architecture, onde esse agenciamento se materializada ao ser mostrada a Arquitetura usada como arma quando posicionadas casas residenciais como guaritas; ou quando os checkpoints cumprem funo de intimidar e sujeitar o inimigo (povo palestino) a uma transio vexatria e humilhante reduzidos a nada mais do que corpos, ou seja, destrudas suas foras morais; ou mesmo quando o espao privado se torna o de circulao de soldados e o pblico o da resistncia ao massacre genocida executado por Israel. As imagens do filme podem ser lidas como um dos componentes do real. O aspecto das imagens destacado por Guy Debord nessa relao entre o urbanismo e a guerra. Figura no corpo constituinte de sua teoria o espetculo como mecanismo de afirmao ideolgica do poder. As relaes sociais so mediadas por imagens, provocando sensaes homogeneizantes nos indivduos, que, distantes fisicamente dos acontecimentos (a espetacularizao pressupe o distanciamento) tomam a projeo como realidade; ao reapresentar um reordenamento da cidade, o urbanismo opera na mesma lgica. No seria exagero dizer que, para Debord o real imageticamente construdo, sendo, nesse sentido, o urbano um reflexo de projees miditicas organizadas para constituir uma aparncia que, dotada de f pblica, define os contornos da absoro da realidade pelos citadinos e citadinas. Da mesma forma, o estado projeta a imagem da nao, permitindo institutos de identificao e solidariedade populaes quilometricamente separadas.O conjunto de conceitos apresentados no desenrolar da aula nos suscita algumas reflexes: de que maneira, no transcurso da poltica e da guerra urbana, se organizam os trs agenciamentos-formas que definem o ordenamento do saber e o exerccio do poder (a saber, o Atlas, o Museu e o Censo) ? Qual o papel do Estado como catalisador desse processo? Como pode ser lida a contradio entre a tentativa de centralizao do poder estatal e a potncia dos micro-poderes que perpassam a cotidianidade no constante remodular-se do tecido urbano? Sugerimos essas questes para pensarmos as aproximaes conceituais possveis, visando a uma aproximao mais fidedigna aos movimentos que constituem a dinmica do real.2