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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA Orçamento Participativo e suas implicações Por: BRUNO GUIMARÃES DE CASTRO Orientador Prof. LUIZ EDUARDO CHAUVET Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · a participação direta da população na definição do orçamento público, ... 1.1 Origem e Evolução O processo de arrecadação

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Orçamento Participativo e suas implicações

Por: BRUNO GUIMARÃES DE CASTRO

Orientador

Prof. LUIZ EDUARDO CHAUVET

Rio de Janeiro

2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Orçamento Participativo e suas implicações

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em Gestão Pública.

Por: Bruno Guimarães de Castro

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AGRADECIMENTOS

...ao meu pai, minha mãe, meu irmão,

minha esposa que sempre me incentivaram aos

estudos.

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DEDICATÓRIA

...dedico este trabalho a todos que lutam

de alguma forma pela diminuição das diferenças

sociais...

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RESUMO

O presente estudo tenta esclarecer o funcionamento do Orçamento

participativo (OP) nos diversos municípios brasileiros. Com base na experiência

do caso de Porto Alegre, o pioneiro, algumas questões são abordadas. O que é

o OP? Para que serve? Quais são seus efeitos?

O OP é uma ferramenta criada pelo Partido dos Trabalhadores e propõe

a participação direta da população na definição do orçamento público, por meio

de assembleias com participação direta da população e do Poder Executivo. A

ideia central do OP é distribuir de forma mais equânime o orçamento disponível

entre as determinadas regiões. Além disso, tenta efetivar uma democracia justa

e igualitária, diminuindo o abismo que persiste em existir na sociedade

brasileira.

Com relação aos feitos, são diversos. Neste estudo será abordado os

efeitos mais significativos do ponto de vista democrático. Os dois principais, o

aumento do interesse da população pelas decisões políticas e a “diminuição”

do poder da Assembleia Legislativa, são abordados no terceiro capítulo de

forma objetiva.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa se deu de forma a tentar fixar no leitor a ideia central do

trabalho. A partir de comentários em aula, leituras de livros e pesquisa na web

foi possível responder algumas questões desenvolvidas. A pesquisa feita por

meio de livros de diversos autores foi a principal fonte do trabalho. Apesar da

dificuldade em encontrá-los, muitos foram achados em sites da web. A

pesquisa na web também enriqueceu o conteúdo do trabalho. Nela conseguiu-

se achar diversos relatos práticos dos resultados da implantação do OP nos

diversos municípios do Brasil. Além disso, foi possível encontrar na internet

diversas referências bibliográficas consultadas para o desenvolvimento e

detalhamento do projeto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Orçamento Público: história, evolução, conceito, 10

princípios.

CAPÍTULO II - Orçamento Participativo: história, função, 33

estrutura e atuação.

CAPÍTULO III – OP e seu impacto no município. 45

CONCLUSÃO 51

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 55

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INTRODUÇÃO

Criado pelo Partido dos Trabalhadores, o Orçamento Participativo (OP) é

uma forma de participação direta da população nas decisões orçamentárias,

complementando o sistema democrático representativo. Além disso, possibilita

que o cidadão debata, questione e defina o rumo dos investimentos em sua

cidade.

Além de fazer uma abordagem geral de como funciona a Orçamentação

Pública brasileira, este estudo tem a principal intenção de apresentar o OP,

visto que poucos ouviram falar ou, se ouviram falar, não conhecem seu sistema

de funcionamento.

Durante a leitura deste trabalho chamo a atenção para a observação de

quatro coisas fundamentais: a intenção dos que elaboraram a ideia do OP, seu

impacto nos municípios, tanto em termos de redistribuição de renda, quanto a

educação cidadã, e o seu potencial democrático.

De acordo com Pires, o orçamento participativo é uma das experiências

em andamento, nas duas últimas décadas, que procura responder aos anseios

de aprofundamento democrático na gestão das contas públicas, apontando na

direção de uma democracia participativa que se não coloca em questão a

validade da democracia representativa, propõem uma calibragem mais fina dos

mecanismos de representação para, com isso, tornar o regime democrático

mais efetivo e as finanças públicas mais eficientes e inclusivas. (PIRES, 2010

p. 2)

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Capítulo 1

Orçamento Público (OP): história, evolução, conceito,

princípios.

1.1 Origem e Evolução

O processo de arrecadação de recursos pelos governos teve início há

vários séculos, quando as obrigações tributárias impostas pelos monarcas

começaram a ficar insustentáveis. Esta situação fez com que o povo

entendesse que esse poder discricionário do monarca poderia ser limitado pela

criação de um Parlamento.

Coube à Inglaterra o pioneirismo na gestão orçamentária, cujo início se

deu com a promulgação da Carta Magna, em 1215, onde o Parlamento

procurou exercer um controle maior, limitando a coroa da Inglaterra de instituir

impostos e de dar a eles o destino que acham melhor (UNICEF, FUNDAÇÃO

JOÃO PINHIEIRO, 2000).

No período compreendido entre de 1628 a 1689, com a instituição dos

postulados do direito e da Lei dos Meios, o parlamento passou a ter o poder de

criar e autorizar a cobrança de tributos, além de autorizar a despesa do

governo. Pode-se afirmar, então, que essa condição de criar e autorizar a

arrecadação de tributos e conceder a autorização para os gastos públicos

caracteriza o surgimento do que se denomina orçamento.

Os primeiros Orçamentos que se têm notícia eram os chamados

orçamentos tradicionais, que se importavam apenas com o gasto (ênfase no

gasto). Eram meros documentos de previsão de receita e autorização de

despesas sem nenhum vínculo com um sistema de planejamento

governamental. Simplesmente se fazia uma estimativa de quanto se ia

arrecadar e decidia-se o que comprar, sem nenhuma prioridade ou senso

distributivo na alocação dos recursos públicos.

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O Orçamento evoluiu ao longo da história para um conceito de

Orçamento-Programa, segundo o qual o Orçamento não é apenas um mero

documento de previsão da arrecadação e autorização do gasto, mas um

documento legal que contém programas e ações vinculados a um processo de

planejamento público, com objetivos e metas a alcançar no exercício (a ênfase

no Orçamento-Programa é nas realizações do Governo).

No Brasil, o ato de praticar e cobrar imposto é resultante do Pacto

Colonial existente entre a Metrópole e a Colônia, após o descobrimento, que se

caracterizava pela exploração econômica por parte do Governo Português, que

instituía arbitrariamente tributos a serem pagos pelo Brasil colônia, de acordo

com a necessidade da metrópole.

Em 1808, o Direito Orçamentário Brasileiro teve suas bases lançadas

com o Alvará que criou o Erário e o Regime de Contabilidade. No entanto, o

primeiro orçamento brasileiro só foi regularmente votado em 1830, pelo

Decreto da Constituição de 1824, que determinava a apresentação anual à

Câmara de um Balanço Geral a fim de que fosse discutido e organizado o

Orçamento Geral da Nação.

A necessidade da criação do Orçamento no Brasil deu-se com a

ampliação qualitativa das funções do Governo, que evidenciou a carência de

um instrumento especializado de orientação e controle das atividades

governamentais, decorrente do exercício de novas funções. Em decorrência

desse fato adveio o Orçamento.

A Constituição de 1891 exclui do Executivo a responsabilidade de

elaborar o Orçamento e atribuiu ao Congresso Nacional a competência para

anualmente orçar a receita e fixar a despesa federal. Já a Constituição de

1934atribui ao Executivo a iniciativa de preparação do orçamento e ao

Legislativo aprecia-lo não havendo limitações para emendas. Criado através da

Constituição de 1937 o Departamento de Administração responsável pela

preparação do orçamento e coordenação das ações de planejamento. Em

1946, a Constituição assegura ao Executivo, a competência para elaborar a

proposta orçamentária e admite a possibilidade de emendas.

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A constituição de 1967 teve curtíssima duração, porque, em 1969, foi

editada a EC nº 01, de 17.10.1969, com entrada em vigor em 30.10.1969.A EC

nº 1/1969, embora formalmente seja uma emenda à Constituição de 1967, é

considerada por muitos constitucionalistas verdadeiramente uma nova

Constituição. Uma peculiaridade histórica dessa constituição é que ela se

denominava “Constituição da República Federativa do Brasil”, a de 1967

era,simplesmente, “Constituição do Brasil”.

A constituição de 1969 alterou diversos artigos da carta de 1967, mas

manteve os dispositivos sobre orçamento, inclusive o que limita a capacidade

de iniciativa do Legislativo em leis que gerem despesas e em emendas ao

orçamento quando de sua discussão. Em alguns aspectos ela aperfeiçoou o

processo de elaboração da lei orçamentária, a fiscalização financeira e

orçamentária dos municípios, modificou o sistema tributário, entre outros

assuntos.

Antes de chegar à Constituição de 1988, é importante saber como se

deu a evolução conceitual do orçamento no Brasil. A evolução conceitual

acompanha o desenvolvimento e o progresso realizados no mundo, com fito de

aperfeiçoar a qualidade da distribuição de renda entre as pessoas, o

interrelacionamento entre as funções de planejar e executar o orçamento, e o

melhor controle sobre os gastos realizados pelos governantes. Dividi-se a

evolução do orçamento em:

- Orçamento Tradicional: processo orçamentário em que apenas uma

dimensão do orçamento é explicitada, qual seja, o objeto de gasto. Também é

conhecido como Orçamento Clássico. No orçamento tradicional ou clássico

constavam apenas a fixação da despesa e a previsão da receita, sem nenhuma

espécie de planejamento das ações do governo. Era peça meramente contábil–

financeira, um documento de previsão de receita e de autorização de

despesas.

Neste tipo de orçamento não havia preocupação com a realização dos

programas de trabalho do governo, preocupando-se apenas com as

necessidades dos órgãos públicos para realização das suas tarefas, sem

preocupação em questionar sobre objetivos e metas a serem atingidos.

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- Orçamento de desempenho ou por realizações: sucessor natural do

orçamento clássico foi o orçamento de desempenho ou por realizações. Neste

tipo de orçamento, o gestor começa a se preocupar com o resultado dos gastos

e não apenas com o gasto em si, ou seja, preocupa-se agora em saber “as

coisas que o governo faz e não as coisas que o governo compra”. Apesar de

ser um passo importante, o orçamento de desempenho ainda se encontra

desvinculado de um planejamento central das ações do governo.

- Orçamento-Programa: foi introduzido no Brasil através da Lei 4320/64

e do decreto–lei 200/67. O orçamento–programa pode ser entendido como um

plano de trabalho, um instrumento de planejamento da ação do governo,

através da identificação dos seus programas de trabalho, projetos e atividades,

além dos estabelecimentos de objetivos e metas a serem implementados, bem

como a previsão dos custos relacionados.

A CF/88 implantou definitivamente o orçamento-programa no Brasil, ao

estabelecer a normatização da matéria orçamentária através do Plano

Plurianual - PPA, da Lei de Diretrizes Orçamentárias - LDO e da Lei

Orçamentária Anual - LOA, ficando evidente o extremo zelo do constituinte

para com o planejamento das ações do governo.

- Orçamento de base zero ou por estratégia: técnica utilizada para a

confecção do orçamento–programa, que consiste basicamente em uma análise

crítica de todos os recursos solicitados pelos órgãos governamentais. Neste

tipo de abordagem, na fase de elaboração da proposta orçamentária, haverá

um questionamento acerca das reais necessidades de cada área, não havendo

compromisso com qualquer montante inicial de dotação. (Fonte: Ministério da

Fazenda)

Os órgãos governamentais deverão justificar anualmente, na fase de

elaboração da sua proposta orçamentária, a totalidade de seus gastos, sem

utilizar o ano anterior como valor inicial mínimo.

- Orçamento Participativo: será melhor explicitado sobre este tipo de

orçamento, no próximo capítulo. Aqui um breve resumo. Caracteriza-se por

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uma participação direta e efetiva das comunidades na elaboração da proposta

orçamentária do governo. Orçamento Participativo (OP) é um mecanismo

governamental de democracia participativa que permite aos cidadãos

influenciar ou decidir sobre os orçamentos públicos, geralmente o orçamento

de investimentos de prefeituras municipais, por meio de processos de

participação cidadã. Esses processos costumam contar com assembleias

abertas e periódicas e etapas de negociação direta com o governo. No

Orçamento Participativo retira-se poder de uma elite burocrática repassando-o

diretamente para a sociedade. Com isso a sociedade civil passa a ocupar

espaços que antes lhe eram "furtados".

Com diferentes metodologias em cada município em que o OP é

executado, suas assembleias costumam ser realizadas em sub-regiões

municipais, bairros ou distritos, em discussões temáticas e/ou territoriais,

elegendo também delegados que representarão um tema ou território nas

negociações com o governo.

Esses delegados formam um Conselho anual que além de dialogar

diretamente com os representantes da prefeitura sobre a viabilidade de

executar as obras aprovadas nas assembleias, também irão propor reformas

nas regras de funcionamento do programa e definirão as prioridades para os

investimentos, de acordo com critérios técnicos de carência de serviço público

em cada área do município.

1.2 O processo orçamentário na Constituição de 1988

O atual estágio do processo de elaboração, aprovação, execução,

avaliação e controle do planejamento orçamentário pátrio compreende a edição

de três leis ordinárias, todas a cargo do Poder Executivo, com posterior

aprovação do Poder Legislativo:

Plano Plurianual – PPA;

Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO;

Lei Orçamentária Anual – LOA.

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Esse processo orçamentário, denominado doutrinariamente de ciclo

orçamentário, desempenha a possibilidade de o Estado interligar o

planejamento à execução orçamentária, que tem as seguintes fases:

planejamento (elaboração e aprovação), execução, avaliação e controle. Ao

todo, o ciclo orçamentário atual não se destina somente a um exercício

financeiro, que corresponde à previsão e execução da receita e fixação e

execução da despesa do ano corrente. O processo orçamentário começa muito

antes, quando da abertura das agendas políticas, a cargo das eleições para o

comando do Poder Executivo e dos assentos nas cadeiras do Poder Legislativo

e termina no ano seguinte a execução de cada Lei Orçamentária Anual,

quando da auditoria externa, no setor público denominado Controle Externo,

exercido pelo Tribunal de Contas da União, órgão que auxilia o Congresso

Nacional, na missão de fiscalizar os dinheiros e patrimônios públicos.

A própria Constitucional Federal - CF expressamente descreve em seu

artigo 71, caput: “O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será

exercido como o auxílio do Tribunal de Contas da União” (...).

Todo esse arcabouço foi elaborado de forma a possibilitar a melhor

administração, gerencia, guarda e utilização dos recursos que entram na conta

do governo, com o intuito de financiar as políticas públicas, que irão satisfazer

aos anseios da sociedade brasileira.

Para melhor compreensão, faz-se necessário delinearmos as principais

características das leis que fazem parte do nosso ciclo orçamentário. O plano

plurianual – PPA é instrumento de planejamento de médio prazo, que

estabelece as diretrizes, os objetivos e as metas do governo para os projetos e

programas de longa duração, para um período de quatro anos. Nenhuma obra

de grande vulto ou cuja execução ultrapasse um exercício financeiro (01 de

janeiro a 31 de dezembro) pode ser iniciada sem prévia inclusão no plano

plurianual.

A Constituição Federal - CF em seu artigo 165, parágrafo 1º assim

estabelece:

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“A lei que instituir o plano plurianual

estabelecerá, deforma regionalizada, as diretrizes,

objetivos e metas da administração pública federal

para as despesas de capital e outras delas

decorrentes e para as relativas aos programas de

duração continuada”.

Mais à frente, a CF, no artigo 167, parágrafo 1º, descreve:

“Nenhum investimento cuja execução

ultrapasse um exercício financeiro poderá ser

iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou

sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime

de responsabilidade”.

Inserido nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT,

artigo 35, parágrafo 2º, inciso I, da CF as normas a serem seguidas pela União,

sobre exercício financeiro, vigência, prazos, elaboração e organização:

“O projeto do plano plurianual, para vigência

até o final do primeiro exercício financeiro do

mandato presidencial subsequente, será

encaminhado até quatro meses antes do

encerramento do primeiro exercício financeiro e

devolvido para sanção até o encerramento da

sessão legislativa”.

Infere-se desse dispositivo constitucional que o Projeto de Plano

Plurianual deve ser enviado pelo Poder Executivo ao Poder Legislativo até 31

de agosto e o Poder Legislativo tem até o dia 22 de dezembro para apreciar,

emendar, votar, aprovar e devolver o plano plurianual ao Poder Executivo para

fins de sanção e publicação. Essas datas são determinadas pela própria CF,

quando menciona em seu artigo 57, caput: “O Congresso nacional reunir-se-á,

anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de 1ª de

agosto a 22 de dezembro”.

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O autor Francisco Glauber Lima Mota descreve em sua obra

Contabilidade Aplicada ao Setor Público:

Desse trecho do ADCT também se depreende

que o plano plurianual representa uma lei de

vigência quadrienal, ou seja, quatro anos. Ele é

elaborado no primeiro ano de mandato do chefe do

Poder Executivo, para vigorar desde o segundo ano

do mandato atual até o primeiro ano do mandato

subsequente, representando uma forma de

entrelaçar os mandatos. Então, seu período de

execução não coincide exatamente com o do

mandato do chefe do Poder Executivo.

Segundo as regras atuais, que são

transitórias, pois determinadas pelo ADCT, enquanto

um mandatário no primeiro ano de seu governo

encerra o PPA de seu antecessor, elabora seu

próprio PPA para execução nos três anos restantes,

ficando um ano para ser executado pelo seu

sucessor. Essa regra deve vigorar até a entrada em

vigor de uma lei complementar que estabeleça

regras permanentes, conforme determinado pelo

artigo 165 da CF. Essa lei complementar é

conhecida como “nova lei 4320”, porque deve tratar

de Direito Financeiro.

Para finalizar, observa-se abaixo o nome das cinco edições de PPA que

o país já teve:

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Vigência Chefe do Poder

Executivo

Nome do PPA

1996 – 1999 Fernando Henrique Brasil em Ação

2000 – 2003 Fernando Henrique Avança Brasil

2004 – 2007 Luiz Inácio Lula da Silva Brasil de todos

2008 – 2011 Luiz Inácio Lula da Silva Desenvolvimento com

inclusão social e

Educação de Qualidade

2012 – 2015 Dilma Rousset Mais Brasil

A lei de diretrizes orçamentárias - LDO define as metas e prioridades do

governo para o ano seguinte, orienta a elaboração da lei orçamentária anual,

dispõe sobre alterações na legislação tributária e estabelece a política das

agências de desenvolvimento (Banco do Brasil, BNDES etc.). Também fixa

limites para os orçamentos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério

Público e dispõe sobre os gastos com pessoal. A Lei de Responsabilidade

Fiscal remeteu à LDO diversos outros temas, como política fiscal,

contingenciamento dos gastos, transferências de recursos para entidades

públicas e privadas e política monetária.

A LDO é o elo entre o planejamento (Plano Plurianual) e a ação

governamental (Lei Orçamentária Anual). Ela é responsável pela interligação

entre o que o governo planejou para os seus quatro anos de mandato e o que

efetivamente vai realizar em cada ano civil.

Para exemplificar, podemos citar que entre os planos de governo existe

a metade construir 1.000.000 (um milhão) de casas durante seus quatro anos

de mandato. A Lei de Diretrizes Orçamentárias vai definir quantas casas serão

construídas por ano, isto é, pode-se dividir o total de casas a serem

construídas pelos quatro anos de mandato, sendo construídas, dessa forma,

250.000 (duzentas mil) casas por ano, ou simplesmente definir que no primeiro

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ano serão construídas 400.000 (quatrocentas mil) casas, no segundo, 300.000

(trezentas mil) residências, no terceiro ano, nenhuma casa, e no quarto ano

mais 300.000 (trezentas mil) moradias.

Ou seja, o chefe do Poder Executivo tem o condão de decidir, conforme

sua conveniência e seu interesse, se realizará o programa e de que forma irá

conduzi-lo, podendo até não implementar a política pública, se assim decidir.

No exemplo dado, poderia não ser construída nenhuma casa durante os quatro

anos de seu governo caso fosse sua opção. Daí surge a grande controvérsia,

comentada no item 04 deste trabalho, entre os Poderes Executivo e Legislativo,

sobre ser o orçamento meramente autorizativo ou efetivamente impositivo.

Discussões acaloradas não faltam sobre o tema, conforme já descrito no item

04.

Ainda sobre a LDO, a CF, artigo 165, parágrafo 2º, assim descreve

sobre a Lei de Diretrizes Orçamentárias:

“lei de diretrizes orçamentárias compreenderá as

metas e prioridades da administração pública federal,

incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro

subsequente, orientará a elaboração da lei orçamentária

anual, disporá sobre as alterações na legislação tributária e

estabelecerá a política de aplicação das agências

financeiras oficiais de fomento”.

O ADCT, artigo 35, parágrafo 2º, inciso II, da CF orienta sobre o

exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização:

“O projeto de lei de diretrizes orçamentárias será

encaminhado até oito meses e meio antes do

encerramento do exercício financeiro e devolvido para

sanção até o encerramento do primeiro período da sessão

legislativa”.

Portanto, o projeto da lei de diretrizes orçamentárias deverá ser enviado

pelo poder Executivo ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril, e este tem

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até o dia 17 de julho para apreciar, emendar, votar, aprovar e devolver ao

Poder Executivo para fins de sanção e publicação.

Sobre o tema, ainda, assevera a CF, no artigo 57, parágrafo 2: “A

sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de

diretrizes orçamentárias”. Significa dizer que o Congresso Nacional não poderá

entrar em recesso parlamentar no período de julho enquanto não aprovar a

LDO. Mas grande novidade introduzida pela LRF para elaboração da LDO, foi

determinar a inclusão do Anexo de Metas Fiscais e do Anexo de Riscos

Fiscais, instrumentos esses de controle de gastos e o endividamento

governamental como abaixo mencionado:

“Integrará o projeto de lei de diretrizes

orçamentárias Anexo de Metas Fiscais, em que são

estabelecidas metas anuais, em valores correntes e

constantes, relativas a receitas, despesas, resultado

nominal e primário e montante da dívida pública,

para o exercício a que se referirem e para os dois

seguintes. (LRF, artigo 4º, parágrafo 1º).

(...)

A lei de diretrizes orçamentárias conterá

Anexo de Riscos Fiscais, onde serão avaliados os

passivos contingentes e outros riscos capazes de

afetar as contas públicas, informando as

providências e serem tomadas, caso se concretizem.

(LRF, artigo, 4º, parágrafo 3)”.

A lei de diretrizes orçamentárias - LDO é novidade introduzida pela

Constituição Federal de 1988, e tem como principal objetivo fazer o elo entre o

planejamento (PPA) e a execução orçamentária (LOA), de forma a representar

uma só unidade entre planejamento e execução de um governo. A nova visão

gerencial da administração pública pátria vem exigindo esforços cada vez

maiores de nossos representantes eleitos, principalmente, do Poder Executivo,

no sentido de convergir os interesses partidários ou pessoais aos interesses da

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sociedade. Isso só se alcança se os instrumentos de planejamento e execução

estiverem interligados através de normas e regulamentos que deem efetivação

a sua unidade.

Com base na LDO, a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) elabora a

proposta orçamentária para o ano seguinte, com a participação dos Ministérios

(órgãos setoriais) e as unidades orçamentárias dos Poderes Legislativo e

Judiciário. Por determinação constitucional, o governo é obrigado a encaminhar

o projeto de lei do orçamento ao Congresso Nacional até o dia 31 de agosto de

cada ano. Acompanha a proposta uma mensagem do Presidente da República,

na qual é feito um diagnóstico sobre a situação econômica do país e suas

perspectivas, observando os seguintes procedimentos:

1ª Etapa

Entre os meses de janeiro e maio, na Secretaria de Orçamento Federal

- SOF, é desenvolvida a análise da série histórica da execução dos últimos

exercícios, para definição dos limites de gastos por unidade orçamentária da

União.

2ª Etapa

No mês de junho, os órgãos setoriais apresentam uma proposição

detalhada relativa às suas programações em:

Atividades - envolvendo o montante de recursos necessários para

assegurar a manutenção da execução das ações atualmente desenvolvidas

para a prestação de serviços à comunidade;

Despesas Obrigatórias - relativas a despesas com pessoal, serviço da

dívida, benefícios previdenciários.

3ª Etapa

Com a estimativa da Receita a ser arrecadada e o montante de gastos

projetados para o exercício na 2a Etapa, define um limite adicional e o remete

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aos órgãos para complementar a sua programação orçamentária,

compreendendo:

Expansão de atividades - os valores necessários para expansão dos

serviços;

Projetos - gastos requeridos para aumento da capacidade física de

atendimento ou inserção de uma ação nova nas atribuições dos órgãos.

4ª Etapa

Formaliza o documento final elaborando todos os demonstrativos

exigidos pela Lei Federal no 4.320/64 e pela Lei de Diretrizes Orçamentárias.

No Congresso, deputados e senadores discutem a proposta que o

Executivo preparou, fazem as mudanças que consideram necessárias e votam

o projeto. Até à Constituição de 1988, o Congresso apenas homologava o

orçamento tal qual ele vinha do Executivo. A partir de 1988, deputados e

senadores adquiriram o direito de emendar o orçamento, o que significa que os

parlamentares podem propor alterações em programas e projetos

apresentados pelo Poder Executivo, desde que sejam compatíveis com o Plano

Plurianual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias. A Constituição determina que o

Congresso deve votar o Orçamento até o encerramento da sessão legislativa

de cada ano. Depois da aprovação pelo Legislativo, o projeto é enviado ao

Presidente da República para ser sancionado. Após a sanção, transforma-se

em lei.

Utilizando o Sistema Integrado de Dados Orçamentários (SIDOR), a

Secretaria de Orçamento Federal acompanha e avalia a execução

orçamentária, procedendo a alterações, através de créditos adicionais, quando

necessário. A Secretaria do Tesouro Nacional registra no Sistema Integrado de

Administração Financeira (SIAFI) a execução orçamentária realizada pelos

órgãos da administração pública.

Na lei orçamentária anual (LOA) estão estimadas as receitas que serão

arrecadadas durante o exercício financeiro e fixadas as despesas que o

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Governo espera realizar. A LOA contém três orçamentos, conforme previstos

na Constituição Federal: o orçamento fiscal, o orçamento da seguridade social

(previdência social, assistência social e saúde) e o orçamento de investimentos

das empresas estatais. O projeto de lei orçamentária é elaborado pela

Secretaria de Orçamento Federal (SOF) e encaminhado ao Congresso

Nacional pelo Presidente da República.

A CF, no artigo 165, parágrafo 5º e seus incisos descreve sobre a lei

orçamentária anual (LOA):

“A lei orçamentária anual compreenderá:

I – o orçamento fiscal referente aos Poderes

da União, seus fundos, órgãos e entidades da

administração direta e indireta, inclusive fundações

instituídas e mantidas pelo Poder Público;

II – o orçamento de investimento das

empresas em que a União, direta e indiretamente,

detenha a maioria do capital social com direito a

votos;

III – o orçamento da seguridade social,

abrangendo todas as entidades e órgãos e ela

vinculados, da administração direta ou indireta, bem

como os fundos e fundações instituídos e mantidos

pelo Poder Público”.

A lei 4.320/64 em seu artigo 2º tratou a lei do orçamento estabelecendo

que:

“A lei do Orçamento conterá a discriminação

da receita e despesa, de forma a evidenciar a

política econômico-financeira e o programa de

trabalho do Governo, obedecidos os princípios da

unidade, universalidade e anualidade”.

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O autor Francisco Glauber Lima Mota nos ensina com primazia essa

passagem:

“Pode afirmar que, desses dois comandos

legais, as receitas e despesas contempladas nas

esferas fiscal e seguridade social são registradas de

acordo com as regras da Lei 4.320/64, empregando

as técnicas da Contabilidade Aplicada ao Setor

Público. Enquanto as receitas e despesas

constantes da esfera de investimentos das estatais

são contabilizadas em atenção aos preceitos da Lei

nº 6.404/76 (Contabilidade Aplicada à Atividade

Empresarial)”.

O ADCT, artigo 35, parágrafo 2º, inciso III, da CF descreve sobre o

exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização:

“O projeto de lei da orçamentária da União

será encaminhado até quatro meses antes do

encerramento do exercício financeiro e devolvido

para sanção até o encerramento da primeira sessão

legislativa”.

Desprende-se do citado dispositivo que o projeto da lei orçamentária

anual deverá ser enviado pelo poder Executivo ao Poder Legislativo até o dia

31 de agosto, e este tem até o dia 22 de dezembro para apreciar, emendar,

votar, aprovar e devolver ao Poder Executivo para fins de sanção e publicação.

Outras determinações são emanadas da Carta Maior, como vedação ao

início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual (artigo

167, inciso I). As emendas aos projetos de lei do orçamento anual ou aos

projetos de créditos adicionais somente podem ser aprovadas caso sejam

compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias, de

conformidade com o artigo 166, parágrafo 3º, inciso I.

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Abaixo, observa-se uma tabela com o nome dos projetos de leis, que

fazem parte de nosso ciclo orçamentário, com os prazos de envio e de retorno

entre os Poderes Executivo e Legislativo.

Projetos de Leis Datas para envio ao Poder Legislativo

Datas de devolução para o Poder Executivo

PPA 31 de agosto 22 de dezembro

LDO 15 de abril 17 de julho

LOA 31 de agosto 22 de dezembro

O Orçamento Geral da União (OGU) prevê todos os recursos e fixa

todas as despesas do Governo Federal, referentes aos Poderes Legislativo,

Executivo e Judiciário.

As despesas fixadas no orçamento são cobertas com o produto da

arrecadação dos impostos federais, como o Imposto de Renda (IR) e o Imposto

sobre Produtos Industrializados (IPI), bem como das contribuições, como o da

Contribuição para Financiamento da Seguridade Social - COFINS, que é

calculado sobre o faturamento mensal das empresas, nas vendas de

mercadorias, de mercadorias e serviços e de serviços de qualquer natureza, e

bem assim do desconto na folha que o assalariado paga para financiar sua

aposentadoria. Os gastos do governo podem também ser financiados por

operações de crédito - que nada mais são do que o endividamento do Tesouro

Nacional junto ao mercado financeiro interno e externo. Este mecanismo

implica o aumento da dívida pública.

As receitas são estimadas pelo governo. Por isso mesmo, elas podem

ser maiores ou menores do que foi inicialmente previsto. Se a economia

crescer durante o ano, mais do que se esperava, a arrecadação com os

impostos também vai aumentar. O movimento inverso também pode ocorrer.

Com base na receita prevista, são fixadas as despesas dos poderes

Executivo, Legislativo e Judiciário. Depois que o Orçamento é aprovado pelo

Congresso, o governo passa a gastar o que foi autorizado. Se a receita do ano

for superior à previsão inicial, o governo encaminha ao Congresso um projeto

de lei pedindo autorização para incorporar e executar o excesso de

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arrecadação. Nesse projeto, define as novas despesas que serão custeadas

pelos novos recursos. Se, ao contrário, a receita cair, o governo fica

impossibilitado de executar o orçamento na sua totalidade, o que exigirá corte

nas despesas programadas.

A inflação crônica, antes do Plano Real, distorcia o orçamento. Quando

o governo elaborava a proposta orçamentária, previa uma taxa anual de

inflação, a fim de corrigir as dotações orçamentárias para que elas

mantivessem o valor real. Mas na última década, por causa da inflação

crônicae ascendente, essa taxa estimada quase sempre era menor que a

inflação efetivamente ocorrida no ano. Com isso, o processo inflacionário

corroía as dotações orçamentárias.

Por exemplo, se o orçamento previa um determinado valor para a

construção de uma estrada federal, quando o recurso era liberado, o seu valor

real (ou seja, descontada a inflação do período) não era mais suficiente para a

execução da obra. Esse problema gerou inúmeras distorções, como a

paralisação de projetos pela metade ou a construção de estradas de péssima

qualidade.

1.4 Princípios Orçamentários

Existem princípios básicos que devem ser seguidos para elaboração e

controle do orçamento, que estão definidas na Constituição, na Lei nº 4.320, de

17 de março de 1964, no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes

Orçamentárias.

A Lei nº 4.320/64 estabelece os fundamentos da transparência

orçamentária (art. 2º):

"A Lei do Orçamento conterá a discriminação

da receita e despesa, de forma a evidenciar a

política econômico-financeira e o programa de

trabalho do governo, obedecidos os princípios da

unidade, universalidade e anualidade".

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Princípio da Unidade

Cada entidade de direito público deve possuir apenas um orçamento,

fundamentado em uma única política orçamentária e estruturado

uniformemente. Assim, existe o orçamento da União, o de cada Estado e o de

cada Município.

Princípio da Universalidade

A Lei orçamentária deve incorporar todas as receitas e despesas, ou

seja, nenhuma instituição pública deve ficar fora do orçamento. Princípio da

Anualidade Estabelece um período limitado de tempo para as estimativas de

receita e fixação da despesa, ou seja, o orçamento deve compreender o

período de um exercício, que corresponde ao ano fiscal.

Princípio da exclusividade/pureza

A lei orçamentária não poderá conter matéria estranha à previsão das

receitas e à fixação das despesas. Esse princípio está consagrado na

legislação brasileira por meio da Constituição Federal (art. 165, §8º) e Lei nº

4.320/64 (art. 7º).

Princípio da especificação/especialização/discriminação

Veda as autorizações de despesas globais. As receitas e despesas

devem ser discriminadas, demonstrando a origem e a aplicação dos recursos.

O §4º do art. 5º da Lei de responsabilidade Fiscal-LRF estabelece a vedação

de consignação de crédito orçamentário com finalidade imprecisa, exigindo a

especificação da despesa. As exceções a esse princípio orçamentário são os

programas especiais de trabalho e a reserva de contingência (art. 5º, III da

LRF).

Princípio da publicidade

Esse princípio zela pela garantia da transparência e total acesso a

qualquer interessado às informações necessárias ao exercício da fiscalização

sobre a utilização dos recursos arrecadados dos contribuintes. Deve ser

divulgado por meio de veículos oficiais de comunicação para conhecimento

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público e para gerar eficácia de sua validade enquanto ato oficial de

autorização de arrecadação de receitas e execução de despesas.

Princípio do equilíbrio

Esse princípio visa assegurar que as despesas não serão superiores à

previsão das receitas. Contabilmente o orçamento está sempre equilibrado,

pois se as receitas esperadas forem inferiores às despesas fixadas, e o

governo resolver não cortar gastos, a diferença deve ser coberta por operações

de crédito que, por lei, devem também constar do orçamento.

Princípio do orçamento bruto

Esse princípio estabelece que todas as receitas e despesas devem

constar do orçamento em seus valores brutos, sem qualquer tipo de dedução,

de forma a permitir efetivo controle financeiro do orçamento e universalidade.

Esse princípio está consagrado na legislação brasileira por meio da Lei nº

4.320/64 (art. 6º).

Princípio da não-afetação (não-vinculação) das receitas

Esse princípio dispõe que nenhuma receita poderá ser reservada ou

comprometida para atender a certos e determinados gastos(CF/88, art. 167, IV

e IX). Pretende-se, com isso, evitar que as vinculações reduzam o grau de

liberdade do planejamento. As exceções estão dispostas nos arts. 158, 159 e

212 da CF/88. Quando as receitas de impostos são vinculadas a despesas

específicas, diz-se, em geral, que essas despesas são obrigatórias.

Com base nessas informações podemos classificar o orçamento

conforme observa-se abaixo.

1.5 Classificações Orçamentárias

De grande importância para a compreensão do orçamento são os

critérios de classificação das contas públicas. As classificações são utilizadas

para facilitar e padronizar as informações que se deseja obter. Pela

classificação é possível visualizar o orçamento por Poder, por Instituição, por

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Função de Governo, por Programa, por Subprograma, por Projeto e/ou

Atividade, ou, ainda por categoria econômica.

Várias são as razões por que deve existir um bom sistema de

classificação no orçamento. Podemos citar algumas:

1) Facilitar a formulação de programas.

2) Proporcionar uma contribuição efetiva para o acompanhamento da execução

do orçamento.

3) Determinar a fixação de responsabilidades.

4) Possibilitar a análise dos efeitos econômicos das atividades governamentais.

Dependendo do critério de classificação, alguns aspectos das contas

poderão ser evidenciados. A Lei estabelece a obrigatoriedade de classificação

segundo vários critérios, conforme veremos a seguir:

Classificação por Categoria Econômica

A classificação por categoria econômica é importante para o

conhecimento do impacto das ações de governo na conjuntura econômica do

país. Ela possibilita que o orçamento constitua um instrumento de importância

para a análise e ação de política econômica, de maneira a ser utilizado no

fomento ao desenvolvimento nacional, no controle do déficit público, etc. Por

esse critério, o orçamento se divide em dois grandes grupos: as Contas

Correntes e Contas de Capital:

RECEITAS CORRENTES RECEITAS DE CAPITAL

Receita Tributária Operações de Crédito

Receita de Contribuições Alienação de Bens

Receita Patrimonial Amortização de Empréstimos

Receita Agropecuária Transferências de Capital

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Receita Industrial Outras Receitas de Capital

Receita de Serviços

Transferências Correntes

Outras Receitas Correntes

DESPESAS CORRENTES DESPESAS DE CAPITAL

Pessoal e Encargos Sociais Investimentos

Juros e Encargos da Dívida Inversões Financeiras

Outras Despesas Correntes Amortização da Dívida

Outras Despesas de Capital

Classificação Funcional Programática

A classificação Funcional Programática representou um grande avanço

na técnica de apresentação orçamentária. Ela permite a vinculação das

dotações orçamentárias a objetivos de governo. Os objetivos são viabilizados

pelos Programas de Governo. Esse enfoque permite uma visão de "o que o

governo faz", o que tem um significado bastante diferenciado do enfoque

tradicional, que visualiza "o que o governo compra".

Os programas, na classificação funcional-programática, são

desdobramentos das funções básicas de governo. Fazem a ligação entre os

planos de longo e médio prazos e representam os meios e instrumentos de

ação, organicamente articulados para o cumprimento das funções. Os

programas geralmente representam os produtos finais da ação governamental.

Esse tipo de orçamento é normalmente denominado Orçamento-Programa.

No Brasil, o Orçamento-Programa está estruturado em diversas

categorias programáticas, ou níveis de programação, que representam

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objetivos da ação governamental em diversos níveis decisórios. Assim, a

classificação funcional programática apresenta:

· Um rol de funções, representando objetivos mais gerais: o maior nível

de agregação das ações, de modo a refletir as atribuições permanentes do

Governo.

· Um rol de programas, representando produtos concretos. São os meios

e instrumentos de ações organicamente articulados para o cumprimento das

funções. Uma função se concretiza pela contribuição de vários programas.

· Um rol de subprogramas, representando produtos e ações parciais dos

programas.

Por exemplo, a função Saúde e Saneamento está desdobrada em

programas de Saúde, Saneamento e Proteção ao Meio Ambiente. O programa

de Saneamento está desdobrado em subprogramas de Abastecimento D’água,

Saneamento Geral e Sistema de Esgoto.

Aos subprogramas estarão vinculados os projetos e atividades. Cada

projeto se subdivide em vários subprojetos e cada atividade em várias

subatividades. Os subprojetos e subatividades constituem o menor nível de

agregação das ações e concorrem diretamente para a obtenção dos objetivos

pretendidos nos outros níveis de programação.

Em síntese:

· As funções representam as áreas de atuação do Governo;

· Os programas e subprogramas representam os objetivos que se pretende

alcançar;

· Os projetos e atividades representam os meios de alcançar tais objetivos.

Fonte: http://www.lrf.com.br/mp_op_classificacao_economica_receita_publica.html

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Capítulo 2

Orçamento Participativo: história, função, estrutura e

atuação.

2.1 História

Os primeiros indícios de gestão pública em que a participação popular

teve tratamento especial, principalmente referente aos recursos públicos,

tiveram início a partir de 1970 com as prefeituras de Vila Velha no Espírito

Santo e Lages, em Santa Catarina. Nestas os prefeitos adotaram como

estratégia de formulação orçamentária reuniões com a população nos bairros e

regiões específicas para ouvir diretamente dos interessados suas

necessidades.

Com a promulgação da Constituição de 1988, a participação popular foi

estimulada a participar das decisões político governamentais, por meio da

criação dos Conselhos Setoriais de Políticas Públicas. A vontade popular, as

inovações constitucionais e a iniciativa de um partido que havia elegido por três

vezes consecutivas o chefe do Poder Executivo Municipal de Porto Alegre, feito

até então inédito na história do Brasil, proporcionou a implantação, neste

município, do Orçamento Participativo (OP), em 1989, propondo discutir junto

com a população onde seria investido o orçamento público.

Alguns municípios como Barcelona (Espanha), Bruxelas (Bélgica),

Rosário (Argentina), Belo Horizonte (Minas Gerais), Niterói (Rio de Janeiro) e

vários outros adotaram a participação popular baseando-se no modelo do OP.

Este sucesso foi premiado pelo ONU, como sendo um dos grandes fenômenos

da nova Gestão Pública.

2.2 Função, estrutura e atuação.

De acordo com Márcia Ribeiro Dias (2002), o Orçamento Participativo

tem como alvo prioridades que fazem dele um instrumento de grande valia na

busca de uma administração mais cidadã. No centro deste projeto está a ideia

de criação e fortalecimento de conselhos populares, por meio dos quais o

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poder público estabeleceria canais de comunicação e consulta popular de

forma a aproximar ainda mais as decisões do Estado às reais necessidades da

sociedade. Por trás dessa ideia encontra-se um outro objetivo político do

partido que é a redistribuição de renda através do Estado.

Já Luciano Fedozzi (1998) diz que:

“O método do OP, ao primar por regras

universais e previsíveis de participação e por

critérios objetivos e impessoais para a seleção das

prioridades reivindicadas pelas comunidades,

estabelece uma dinâmica de acesso aos recursos

públicos que se opõe ao particularismo da "justiça de

gabinete" como prática tradicional que caracteriza a

gestão pública”.

Resumidamente, Fedozzi define Orçamento Participativo como a

instituição de uma esfera pública ativa de co-gestão do fundo público municipal,

a qual se expressa por meio de um sistema de racionalização política, baseado

em regras de participação e distribuição de recursos de investimentos que são

pactuadas entre o Executivo e Sociedade Civil, pautadas numa lógica

contratual favorável à diferenciação entre o “público” e o “privado” e, portanto,

contrária às práticas clientelistas.

Para Félix Ruiz Sánches (2000, p.113):

“O orçamento participativo aparece como uma

proposta consistente de reorganização da sociedade

e do Estado por meio da participação popular. Mais

cedo do que tarde, perto de todos nós, o OP

descortina um horizonte de possibilidades que está

recolocando com a força de novos protagonistas

sociais o desabrochar de uma nova onda

democratizadora em nossas sociedades.”

Essas ideias aparecem de forma mais clara quando as camadas mais

carentes da população são estimuladas a participar, aproximando o poder

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público dessas regiões, mostrando alternativas para que seus moradores

definam escolhas e prioridades governamentais. Dessa forma, ao mesmo

tempo em que o governo amplia sua prestação de contas, prioriza

determinados segmentos da população, o que resulta em um tipo de resposta

para compensar, por meio do Estado, as desigualdades produzidas pelo

sistema capitalista.

A principal função prática do OP nas decisões do poder municipal

consiste em auxiliar o Executivo na execução do orçamento anual, tendo papel

principal na distribuição do percentual orçamentário referente aos recursos de

investimentos. A parcela de recursos reservada para a aplicação em

investimentos é decidida nas diversas instâncias do OP e seus resultados

incorporados integralmente pelo executivo em sua planilha orçamentária anual.

Sempre baseado no caso pioneiro de Porto Alegre, o Orçamento

Participativo é uma ferramenta que muda suas regras anualmente, sendo essa

característica uma das mais marcantes. Por este motivo, neste capítulo está

sendo estudada a forma como foi estruturada a ideia do OP até chegarmos aos

dias de hoje; o que será estudado nos próximos capítulos.

Para entender melhor esta estrutura serão analisadas algumas questões

importantes. O OP (baseado na experiência de Porto Alegre) está estruturado

em um processo de participação comunitária baseado em três princípios

básicos:

I- Regras universais de participação em instâncias institucionais e

regulares de funcionamento;

II- Um método objetivo de definição dos recursos para

investimentos, referentes a um ciclo anual de orçamentação do

município; e

III- Um processo decisório descentralizado tendo por base a

divisão de cidade em determinadas regiões.

Além destes princípios, sua estrutura é formada por três tipos de

instâncias mediadoras da relação entre Executivo Municipal e os moradores da

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cidade:

I- Unidades administrativas e órgãos internos ao Executivo

Municipal voltados especialmente para o gerenciamento e o

processamento técnico-político da discussão com os

moradores. Entre eles se destacam o Gabinete de

Planejamento (GAPLAN) e a Coordenação de Relações com

as Comunidades (CRC).

II- Instâncias comunitárias, autônomas em relação à

Administração Municipal, formadas principalmente por

organizações de base regional – Conselhos Populares,

Articulações Regionais, União de Vilas e outras – que

articulam a participação dos moradores e a seleção das

prioridades de investimentos das regiões da cidade. Por

serem autônomas e dependerem do nível de organização

decada região, essas instâncias não existem em todas as

regiões do OP, possuindo diferentes formatos e níveis de

organização, de funcionamento e participação.

III- Instâncias institucionais permanentes de participação

comunitária específicas do OP - como o Conselho do

Orçamento Participativo, Assembléias Regionais, Fórum

Regional, Plenárias Temáticas e Fórum Temático do

Orçamento – encarregadas dos procedimentos concernentes

a sua dinâmica de modo a viabilizar a co-gestão dos recursos

públicos e a prestação de contas do Executivo às

comunidades sobre as decisões na alocação das verbas

orçamentárias.

Já o processo de participação das definições do orçamento municipal

dá-se em três etapas e segundo duas modalidades de participação: a regional

e a temática. As Assembleias Regionais e as Assembleias Temáticas

acontecem ao mesmo tempo e obedecem à mesma dinâmica, diferindo quanto

ao conteúdo da pauta de discussão: demandas territorializadas, no primeiro

caso, e temas específicos, mas referentes ao conjunto das regiões da cidade.

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Com relação ao ciclo anual do OP se desenvolve em três etapas: I-

realização das Assembleias Regionais e Temáticas; II- formação das instâncias

institucionais de participação, tais como o Conselho do Orçamento e os Fóruns

de Delegados; III- discussão do orçamento do Município e aprovação do Plano

de Investimentos pelos representantes dos moradores no Conselho do OP.

A Primeira etapa ocorre por meio das Assembleias Regionais (em Porto

Alegre são 17 regiões) e pelas chamadas Plenárias Temáticas, sendo 6

temáticas – (1) Educação Esporte e Lazer; (2) Circulação, Transporte e

Mobilidade Urbana; (3) Habitação, Organização da Cidade Desenvolvimento

Urbano e Ambiental; (4) Desenvolvimento Econômico Tributação, Turismo e

Trabalho; (5) Cultura; (6) Saúde e Assistência Social – ocorrem em locais

independentes da região.

Faz-se necessário chamar a atenção para o critério que recorta a cidade

em regiões. Este adota uma forma sócio-espacial levando em conta o histórico

organizacional dos movimentos de moradores na cidade, não obedecendo

exclusivamente a critérios exclusivamente técnicos de zoneamento urbanístico.

Em conjunto, as duas modalidades de participação geram vinte e três

assembleias (17 regionais e 6 temáticas), que ocorrem em duas rodadas

oficiais por ano, diferenciando-se segundo suas pautas de trabalho.

Estas duas modalidades são abertas à participação individual de

qualquer morador da cidade e às representações das entidades civis. As

Assembleias contam com a presença do Prefeito e dos Secretários de Órgãos

Municipais, sendo coordenadas por integrantes da Administração Municipal e

por representantes comunitários.

A Primeira rodada de assembleias, que se realiza nos meses de março e

abril, tem os seguintes objetivos e pautas:

- Prestação de contas, pelo Executivo, do Plano de Investimento do ano

anterior e apresentação do Plano aprovado para o orçamento vigente;

- Avaliação do Plano de Investimentos do ano anterior pelos moradores

da região e/ou participantes das temáticas e pelo Executivo;

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- Primeiras eleições para os fóruns de delegados, mediante o critério de

um delegado para cada 20 pessoas presentes na assembleia. Os demais

delegados ao Fórum de Delegados da Região ou da Plenária Temática são

escolhidos no momento seguinte ao processo.

Entre a primeira e a segunda rodada de assembleias oficiais ocorrem as

reuniões preparatórias intermediárias (nos meses de março e junho), que

também são organizadas pela própria população nas regiões e temáticas,

sendo acompanhadas por um representante do Poder Executivo.

Nessas reuniões as demandas aprovadas em cada entidade ou grupo

organizado (ex: Associação de Moradores, Centros Esportivos ou Culturais,

ONGs etc) são escolhidas e organizadas de acordo com sua importância, por

meio de processos de negociação e votação. Essas listas aprovadas são

trazidas para discussão e aprovação em reuniões de toda a região e temática.

Cada região ou temática escolhe três prioridades setoriais por ordem de

importância (por ex: 1ª educação; 2ª saúde; e 3ª lazer) da mesma forma como

são hierarquizadas as obras propostas pelos moradores em cada setor de

investimento (ex.: setor de educação básica - construção de escola: 1º região

A; 2º região B; e 3º região C etc). Essa lista de prioridades é encaminhada ao

Executivo. Ainda nesse momento, são escolhidos os demais representantes ao

Fórum de Delegados de cada região ou temática. Essa escolha se dá por meio

de um critério padronizado de um delegado para cada dez pessoas presentes

no maior encontro realizado pela região ou temática.

A Segunda rodada, realizada entre os meses de junho e julho, é

organizada da seguinte forma:

- O Poder Executivo apresenta os principais pontos da política de

tributos e de receitas e a política de despesas que vão nortear a elaboração do

orçamento do próximo ano, apresentando também a proposta da forma de

critérios para a distribuição dos recursos de investimentos;

- São eleitos os representantes ao Conselho do Orçamento Participativo,

por meio da escolha de dois membros titulares e dois suplentes em cada região

e em cada temática.

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- Os representantes das comunidades apresentam, para o Executivo e

para a assembleia dos moradores, as principais necessidades que foram

aprovadas nas reuniões intermediárias das regiões e plenárias temáticas;

Na Segunda Etapa formam-se as instâncias institucionais de

participação comunitária: o Conselho do Orçamento Participativo (COP) e os

Fóruns de Delegados (dezessete regionais e seis temáticas em Porto Alegre).

O COP é a principal instância participativa. Nele os representantes

comunitários vindos das regiões e das plenárias temáticas têm contato com as

finanças públicas, debatem e defendem as prioridades regionais e temáticas.

São nas sessões do Conselho, realizadas durante todo o segundo semestre –

em dias e horários fixos na semana – que se processam as mediações

institucionais visando às principais decisões do OP (a Tabela abaixo traz as

principais atribuições e normas de funcionamento do Conselho baseadas no

Regimento Interno – 2010/2011).

Atribuições e Normas de funcionamento do Conselho do Orçamento

Participativo (COP) 2010/2011.

Atribuições Planejar, propor, fiscalizar e deliberar sobre a receita e despesa do orçamento do Município de Porto Alegre, de acordo com o que preconiza o Artigo 116 da Lei Orgânica do Município.

Composição O COP será composto por um número de membros assim distribuídos: a) 2 Conselheiros titulares e 2 suplentes eleitos em cada uma das 17 Regiões e 6 Temáticas da Cidade; b) 1 conselheiro titular e um suplente da UAMPA (União das Associações de Moradores de Porto Alegre). c) 2 representantes titulares e 2 suplentes do Executivo Municipal das seguintes áreas de atuação: 1 representante titular e 1 suplente da SMCPGL (Secretaria Municipal de Coordenação Política e Governança Local), 1 representante titular e 1 suplente do GPO (Gabinete de

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Programação Orçamentária). Mandato O mandato de Conselheiro titular ou

suplente é de 1 ano de duração, havendo a possibilidade de reeleição.

Competência( algumas consideradas mais relevantes)

I- Apreciar, emitir opinião, alterar no todo ou em parte a proposta do PPA (Plano Plurianual) do Governo a ser enviada à Câmara Municipal de Vereadores no 1º (primeiro) ano de cada mandato do Governo Municipal; II- Apreciar, emitir opinião, alterar no todo ou em parte a proposta do Governo para a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) a ser enviada anualmente a Câmara Municipal de Vereadores. Após aprovação da mesma, deverão ser emitidas cópias para os Conselheiros OP; III- Emitir opinião, alterar no todo ou em parte a proposta do Orçamento Anual antes de ser enviado à Câmara Municipal de Vereadores; IV- Apreciar, emitir opinião, alterar no todo ou em parte a proposta do Plano de Investimentos e Serviços, respeitada a decisão dos Fóruns Regionais e Temáticos do OP; V- Avaliar e divulgar a situação das demandas do Plano de Investimentos e Serviços do ano anterior (executadas, em andamento, prazo de conclusão, licitadas e não realizadas) a partir das informações prestadas pelo Município, quando da apresentação da Matriz Orçamentária do ano seguinte; e outros

Organização Interna

Uma Coordenação, uma Secretaria Executiva e conselheiros.

Reuniões Para instalação da reunião do COP será necessário o quorum de ½ mais 1 das 23 Regiões e Temáticas ou de ½ mais um dos 46 Conselheiros eleitos computadas as presenças de titulares ou suplentes no exercício da titularidade. Para as deliberações ou encaminhamentos do COP serão adotados os mesmos critérios para a verificação de quorum. As decisões

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serão por maioria simples. - As votações poderão ser por contraste ou secreta. Só será permitida a votação nominal mediante solicitação de 1 Conselheiro do COP. - O COP fará uma reunião ordinária quinzenal, sendo esta às terças-feiras com duração de 3 horas no seguinte horário: das 18h às 21h reservando as outras terças-feiras para extraordinária, caso necessário. - As reuniões do COP são públicas, sendo permitida a livre manifestação dos Conselheiros presentes sobre assuntos em pauta, respeitada a ordem da inscrição. Os Conselheiros inscritos não poderão receber mais de uma cedência por reunião.

Das atribuições dos delegados (com relação ao COP)

Apoiar os Conselheiros na informação e divulgação para a população dos assuntos tratados no COP;

Fonte Regimento Interno do Orçamento Participativo – 2010/2011

Ao passo que o Executivo realiza, durante o mês de agosto, um trabalho

interno de adequação entre as necessidades dos moradores e suas próprias

demandas, e elabora a proposta orçamentária em seus grandes agregados

econômicos (receitas e despesas), o COP debate os critérios para distribuição

dos recursos de investimentos, define o calendário de reuniões e o seu

Regimento Interno.

Os trabalhos do Conselho compreendem basicamente duas fases:

- discussão dos itens de receita e despesa (não contendo as

especificações das obras) até o envio do Projeto de Lei Orçamentária à

Câmara dos Vereadores;

- elaboração do Plano de Investimentos, que consta de uma lista

detalhada de obras e atividades priorizadas pelo Conselho do Orçamento.

O COP, enquanto acompanha as discussões do projeto orçamentário no

Legislativo, até sua aprovação no dia 30 de novembro, realiza sessões entre os

meses de setembro e dezembro, com o intuito de esclarecer projetos de obras

e de investimentos. A discussão dos investimentos está delimitada pelo

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Executivo, incluindo-se a previsão das despesas com a folha de pessoal e

demais custeios estimados pelo Executivo, incluindo-se a previsão das

despesas compulsórias e gastos fixados por lei, a exemplo dos percentuais

previstos constitucionalmente para as áreas da educação e saúde (conforme a

Lei Orgânica do Município).

Por meio do Gabinete de Planejamento (GAPLAN) e da presença dos

Órgãos Municipais das sessões do Conselho, propondo projetos de interesse

global, o Executivo participa da definição dos investimentos. Todo o recurso

para investimentos é discutido no Conselho; não existe um limite prévio fixado

pelo Executivo na discussão desse tipo de recursos. A etapa final desse

processo baseia-se na aprovação do Plano de Investimentos, que recebe uma

publicação especial, constituindo-se no documento básico de fiscalização dos

representantes comunitários e da prestação de contas que o Executivo realiza

nas instâncias do Orçamento Participativo.

2.3 Método e Critério para a distribuição dos recursos de investimentos.

A indicação das prioridades pelas instâncias Regionais e Temáticas dá

início ao processo de distribuição dos recursos de investimentos, finalizando

com a aprovação, pelo Conselho do Orçamento, de um Plano de Investimentos

detalhando obras e atividades discriminadas por setor de investimento, por

região e para toda a cidade.

O método de distribuição dos recursos de investimentos se inicia com a

definição, pelas regiões e temáticas, das três prioridades setoriais, as quais

orientam a elaboração da proposta orçamentária com relação a alocação global

de investimentos, assim como são hierarquizadas, pelos regiões e temáticas,

as obras e atividades selecionadas pelas comunidades em cada um dos

setores de investimentos indicado por elas, conforme vimos anteriormente ao

tratar das reuniões intermediárias.

Feito isso, a distribuição desses recursos acontece por meio de critérios

objetivos definidos pelo Conselho do Orçamento que são aplicadas a cada um

dos setores de investimentos. Estes critérios serão Regionais e Temáticos

seguindo uma sequencia hierarquizada:

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1º - Prioridade da micro-região ou comunidade;

2ª - Prioridade dos Delegados(as);

3ª- Carência do serviço ou infra-estrutura;

4ª - População atingida

No Capítulo 3 será explicada a aplicação dos critérios, a hierarquização

das prioridades e outras questões importantes, levando em conta as

peculiaridades de cada Município. Dessa forma, será melhor percebida umas

das principais funções do Orçamento Participativo, estimulando o controle

social por meio da prestação de contas (accountability) dos governantes.

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Capítulo 3

OP e seu impacto no município

Participação Popular

Por meio do OP as decisões orçamentárias deixam de ser restritas aos

representantes eleitos ou líderes locais, historicamente inseridos dentro de uma

lógica clientelista, e são distribuídos com setores antes excluídos desse

processo político. O trecho abaixo de Lüchmann (2007) corrobora com essa

perspectiva:

“O modelo do OP, por prever a participação

direta dos cidadãos, independentes de vínculos

associativos, apresenta maior capacidade de

inclusão dos setores ou indivíduos mais

empobrecidos da população. O perfil

socioeconômico dos participantes do OP é um

importante indicador da adoção de um critério de

legitimidade pautado na ideia de inclusão social.”

Sánchez (2002) ressalta que boa parte dos participantes já possuía

alguma identificação, seja com movimentos sociais, associações de bairros ou

partidos políticos. No entanto, esse fato não diminui a importância do OP, tendo

em vista que a participação nas assembleias e fóruns, de modo geral, tende a

crescer, incluindo todos os segmentos não apenas os cidadãos já organizados

da sociedade civil (SÁNCHEZ, 2002; Santos, 2002; Souza 2001).

Consequentemente, resulta numa representação mais fidedigna das

classes e grupos sociais da comunidade, como Santos (2002):

“O OP é um processo de tomada de decisão

baseado em regras gerais e um critérios de justiça

distributiva, discutidos e aprovados por órgãos

institucionais regulares de participação, nos quais as

classes populares têm representação majoritária.”

(SANTOS, 2002, P.512)

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Dessa forma, com relação à inclusão de segmentos marginalizados do

processo de tomada de decisões públicas é consoante com os pressupostos

da democracia participativa, haja vista que a sociedade civil como um todo e

esses setores, em especial, deixam de ser apenas passivos e se tornam

sujeitos do processo.

A educação política é outro aspecto importante. O OP se fundamenta no

incentivo à participação como forma de quebrar o conhecido desinteresse pelos

assuntos públicos e desenvolver um censo de cidadania participativa e de

consciência coletiva.

Goulart (2006) afirma que o OP possui um caráter pedagógico e

inclusive que é basilar para o sucesso da iniciativa. O aprendizado de regras e

procedimentos das deliberações dentro do orçamento participativo indica um

caminho de ampliação gradual da participação nas assembleias. Como

exemplo, em Porto Alegre, o número de participantes na primeira rodada do

OP saltou de 628 em 1990 para mais de 16 mil em 2001.

Esse aumento da participação popular, de forma universal e impessoal,

diversificando os responsáveis no processo decisório, contribui de forma

significativa para reduzir tradicionais administrações patrimonialistas e

clientelistas, fortalecendo movimentos associativistas. O OP pode ser visto

como uma forma direta e concreta de participação nas decisões na esfera

pública. Nesta direção, Lüchemann (2007) argumenta que o OP possui forte

capacidade de formação de consensos não apenas em função deste

compartilhamento de interesses, como também de maior capacidade de

incorporação de lideranças sociais.

Abers (1998) defende que dentro de um processo flexível e

desburocratizado de organização, educação popular e negociação, a gestão

municipal ajudou grupos de bairros a se organizarem. Novos líderes populares

passaram por aprendizado de técnicas básicas de orçamento, que resultou na

promoção entre eles de uma ideologia de cooperação e de reciprocidade.

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Alguns autores veem um outro lado do OP, criticando-o por criar uma

nova representação que não necessariamente transfere para a base a

capacidade de decisão final. Este modelo pode criar duplicação da esfera de

representação, embora seja mais bem distribuída geograficamente. Portanto,

as principais decisões do OP restringem-se aos representantes ou delegados

regionais, o que mostra uma nova forma de representação piramidal, na qual a

base define as prioridades, mas as decisões centrais dos investimentos são

dos representantes e dos tecnocratas.

Contra essa crítica, percebeu-se que com o desenvolvimento do OP a

dinâmica das relações públicas municipais mudou. Suas regras impessoais e

universais e a inclusão de uma nova diversidade de atores nos processos

decisórios faz diminuir a tradição clientelista na política local brasileira.

Para que esta mudança na visão dos governantes mude, Dias (2002)

define que a capacidade de influência dos cidadãos politicamente ativos sobre

eles acontece baseada em duas questões complementares entre si: a primeira

verifica até que ponto demandas populares são transformadas em políticas

públicas; e a segunda trata de observar como os representantes encaram e

lidam com a interferência externa sobre seus mandatos.

A primeira questão pode ser avaliada quando as pressões dos

participantes conseguem interferir na decisão dos representantes na esfera

pública. A eficácia dessas interferências produz um feedback estimulando e

reforçando a participação dos indivíduos. Com este aumento e fortalecimento,

a participação política produz efeitos ainda mais significativos sobre as

decisões dos representantes, em função do aumento da pressão que é

exercida sobre os mesmos.

A segunda questão trata das formas como os representantes veem o

processo de participação política dos cidadãos. Um olhar central sobre o

processo está no estabelecimento da democracia como valor universalizado

em sistemas representativos, por meio da incorporação das demandas

populares às escolhas políticas. Dessa forma, para Dias (2002), aquiescer à

vontade popular quando o povo é considerado o legítimo portador da soberania

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política torna-se uma obrigação moral uma vez que esta vontade se expressa

de forma explícita.

Entretanto, existem representantes que não acreditam que esta forma de

participação popular seja a mais eficaz. O argumento fundamental é que os

cidadãos em geral são mal informados com relação aos procedimentos

políticos e muito vinculados aos interesses imediatos. Quando participam do

processo são movidos por interesses quase privados: a própria moradia, o

saneamento que chega às suas casas, a iluminação e o asfalto das ruas onde

moram, e assim sucessivamente.

Portanto, percebe-se que o OP coloca a população, principalmente os

mais carentes, com mais poder de decisão sobre onde será gasto o orçamento

público. Essa aproximação, além de contribuir para que o dinheiro público seja

mais bem distribuído, faz com que esses cidadãos contribuam para mudanças

mais efetivas das políticas públicas. Essa participação acaba tendo um efeito

dominó, influenciando outras pessoas a participarem e comparecerem às

assembleias deliberativas.

Esta mudança acabou por diminuir, de certa forma, o poder que o Poder

Legislativo tinha sobre o Orçamento Público. Antes do OP, como já foi dito

anteriormente, o Poder Legislativo, por meio de emendas, conseguia fazer as

mudanças que deliberasse nas sessões. Com a criação do OP, a população é

quem define para onde vai a verba pública, como que será gasto e o quanto

será gasto (dentro de um valor pré-definido pelo Poder Executivo). Com isso,

alguns vereadores (em sua maioria da bancada de oposição) se sentiram

coagidos a não mais emendar as decisões orçamentárias, por receio de que

isso causasse algum mal para sua imagem perante a população. Esse assunto

será melhor explanado no próximo item.

Os efeitos do OP sobre o Poder Legislativo

A Constituição de 1988 transferiu o poder de emendar a proposta

orçamentária ao Poder Legislativo. O efeito mais relevante que o OP

proporcionou sobre o Legislativo deu-se sobre o poder de emenda. Este sentiu-

se constrangido a fazê-las. De acordo com Ribeiro Dias (2002), se por um lado

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o Poder Executivo ficou mais fortalecido a partir da aliança feita com os

segmentos populares da sociedade, desequilibrando a balança entre os

poderes; por outro, a pressão popular tornou-se um poderoso inibidor da ação

do Legislativo em função dos efeitos negativos que esta poderia ocasionar do

ponto de vista eleitoral.

O fato é que como os Projetos de Lei Orçamentária passaram a ser

construídos pelo Executivo com o auxílio da sociedade civil, por meio do

Orçamento Participativo, qualquer alteração no mesmo poderia ser interpretada

como uma contrariedade à vontade popular.

Ribeiro Dias (2002) ainda ressalta que a pressão popular sobre os

vereadores não é apenas simbólica. Durante as reuniões legislativas para a

discussão das questões orçamentárias, o plenário da Câmara conta sempre

com uma assistência numerosa de membros do OP. A pressão, portanto, se

exerce de fato, diretamente, através de protestos contra a ação de vereadores

que apresentem emendas ao orçamento.

O constrangimento é sentido tanto coletivamente, em relação à

“diminuição do poder” da instituição legislativa, quanto individualmente, em

relação à ameaça de derrota eleitoral de cada vereador. Esse declínio do poder

individual, na realidade trata-se de uma questão muito mais simbólica, em

virtude do temor a uma reação negativa por parte do eleitorado à alteração do

plano traçado pelo Executivo juntamente ao OP.

A consequência desse constrangimento é a renúncia ao poder decisório

que é cabido aos vereadores. A ideia disseminada nas cidades de que a

democracia exercida de forma direta por meio do OP é mais eficaz na alocação

de recursos do que o mecanismo representativo efetuado pela Câmara,

somada à pressão popular dos participantes do OP, contribuiu para que os

vereadores reduzissem a sua participação no processo decisório.

Portanto, percebe-se que essa diminuição do poder da Câmara se deu

apenas por uma questão política criada pela própria casa. Na realidade o poder

de emendar não foi perdido ou diminuído. O OP, por criar mecanismos de

participação direta e por aumentar a fiscalização às decisões do Legislativo,

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acabou por inibir o poder de emenda deste. Os vereadores, normalmente da

oposição, sentiam-se acuados a fazer qualquer tipo de emenda que fosse

contra as decisões já definidas durante as Assembleias do OP.

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CONCLUSÃO

O Orçamento Participativo, como o próprio nome propõe, incentiva a

participação da população de forma direta nas decisões orçamentárias do

município. Esta participação muda o eixo dos debates onde são decididas as

prioridades dos investimentos públicos. O exemplo de Porto Alegre mostra com

bastante clareza essa questão.

Os resultados da implantação do OP são inúmeros. O principal deles é

aproximar o cidadão das decisões políticas. Quebrar a barreira histórica que

separava o povo das diretrizes orçamentárias é o fato que mais chama

atenção. Nos locais onde se conseguiu implantar o OP (Porto Alegre – PO,

Recife – PE, São Carlos – SP, Angra (RJ) e outros) fica clara a diminuição do

clientelismo e do paternalismo que tanto freiam o progresso brasileiro.

O OP, além de aumentar a participação popular nas decisões

orçamentárias, consegue aumentar o interesse da população a cobrar dos

políticos uma gestão limpa e eficiente. Muitos estudos e programas fornecem

evidências empíricas de que o orçamento participativo melhora o desempenho

da administração em termos de eficiência e promove maior equidade na

distribuição dos recursos públicos. O orçamento participativo tem demonstrado

a capacidade de se tornar um instrumento de participação da população de

baixa renda e de transferência de recursos materiais para essa faixa da

população, ao inverter prioridades estabelecidas há décadas, e limitar a ação

dos mediadores políticos, substituindo-os por fóruns nos quais a população

toma as principais decisões.

O processo do orçamento participativo – que objetiva, como em outras

experiências sérias, a radicalização da democracia, o fortalecimento da

participação popular e da transparência e o controle social da administração

pública – vem sendo aperfeiçoado pelas ferramentas de interatividade que a

Internet oferece, tendo contribuído, ao menos potencial e virtualmente, para

que o cidadão se torne algo mais do que um mero beneficiário de obras e

serviços públicos e passa a ser também um fiscal dos seus interesses e dos

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interesses da coletividade. Mais do que identificar, sugerir e indicar

investimentos prioritários, a população pode acompanhar todo o processo, da

licitação até a execução final, podendo assim cobrar maior eficiência

administrativa, caso alguma obra esteja com problemas.

Portanto, o OP além de tentar distribuir o orçamento público de forma

mais equânime, horizontaliza a administração por meio da ingerência do povo

nas decisões políticas. Isto significa um aumento do processo democrático. A

participação efetiva da população no processo decisório das políticas públicas

do Estado trás benefícios incalculáveis para o processo democrático. E este é

um caminho sem volta. Além do Brasil, vários países já adotaram o modelo

brasileiro de participação popular, com ótimos resultados.

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BIBLIOGRAFIA

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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

PORTALTRANSPARÊNCIA

http://www.portaldatransparencia.gov.br/controleSocial/OrcamentoParticipativo.asp

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FOLHA DE AVALIAÇÃO