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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS “BUILT TO SUIT” Por: Sabrina de Oliveira Valente Orientador Prof. Jean Alves Rio de Janeiro 2014 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO … AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, acima de tudo, que ilumina os meus caminhos e renova as minhas forças todos os dias para buscar sempre

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS “BUILT TO SUIT”

Por: Sabrina de Oliveira Valente

Orientador

Prof. Jean Alves

Rio de Janeiro

2014

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS “BUILT TO SUIT”

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito Privado e Civil.

Por: Sabrina de Oliveira Valente

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, acima de tudo, que

ilumina os meus caminhos e renova as

minhas forças todos os dias para

buscar sempre atingir os meus

objetivos, nunca me esquecendo de

que colocando o Seu reino em primeiro

lugar na minha vida, todas as outras

coisas me serão acrescentadas. Aos

meus pais, meus irmãos, meu

namorado e aos meus amigos, que me

ajudam, me aconselham e me fazem

nunca desistir.

4

5

DEDICATÓRIA

Dedico à Deus, acima de tudo, ao meu

pai e à minha mãe, que com muito amor

me ajudaram a chegar até aqui, que

sempre investiram em minha educação,

e ajudaram a formar o meu caráter e a

me tornar a pessoa que sou hoje. Ao meu

namorado, que me incentivou e me deu

forças nos momentos difíceis. E aos meus

irmãos, que também nunca faltaram nos

momentos difíceis, e são muito

importantes na minha vida.

6

RESUMO

O presente trabalho estuda uma modalidade de contrato muito

frequente no ramo imobiliário, cuja previsão legal é recente em nosso

ordenamento jurídico, denominado contrato “built to suit”.

Para alcançar o objetivo do presente, faremos uma breve análise sobre

o contrato no ordenamento jurídico brasileiro, suas principais características,

seus requisitos de validade, os princípios que os regem, bem como as

disposições legais que os norteiam.

Após o prévio estudo de contratos, veremos a modalidade “buit to suit”,

que tem sido utilizada por grandes empresas, cuja atividade fim, via de regra,

não está relacionada à construção civil.

Estudaremos quais eram os negócios jurídicos celebrados entre os

contratantes antes do surgimento deste tipo de contrato, bem como porque se

fez necessário avançar, alterando os procedimentos então adotados.

Nessa linha de raciocínio, analisaremos ainda porque esses contratos

são tão importantes para as empresas que pretendem a concretização de um

empreendimento imobiliário feito sob medida, de forma a atender às suas

necessidades, sem que as mesmas precisem dispor e imobilizar vultosas

quantias neste tipo de projeto.

Desta forma, analisaremos quais as principais características e aspectos

deste contrato, principalmente no que tange à sua função social. Ou seja, até

que ponto esta modalidade tem contribuído para viabilizar o desenvolvimento

da sociedade, e em que medida tem atendido aos seus anseios.

Enfim, buscamos com o presente estudo analisar a contribuição do

contrato “built to suit” para a celebração de negócios jurídicos, bem como quais

são as principais vantagens para as partes contratantes, que o tornaram tão

frequentes em nosso mundo de negócios.

7

METODOLOGIA

Os métodos empregados para o desenvolvimento deste trabalho foram

a pesquisa de jurisprudências, a leitura de livros, jornais, revistas, bem como a

pesquisa de campo.

Através das informações obtidas, principalmente nas pesquisas de

campo, foi possível constatar como o objeto de estudo neste trabalho tem

estado presente nos negócios jurídicos das grandes empresas.

Constatou-se ainda através da pesquisa de campo em uma grande

empresa brasileira do ramo do varejo, que a modalidade contratual ora

estudada tem sido muito utilizada de forma a possibilitar o crescimento das

empresas e o desenvolvimento da sociedade.

Assim, constatou-se através de casos concretos que os contratos em

referência, são capazes de atender aos anseios de ambas as partes

contratantes, desde que as mesmas tomem os devidos cuidados de manter o

equilíbrio contratual quando da celebração do contrato.

Dessa forma, foram realizados estudos de casos em que a operação

dos contratos “built to suit” foi bem sucedida, logrando êxito em alcançar os

seus objetivos finais, bem como, foram estudados ainda casos em que a

operação não teve o sucesso esperado.

Nesta linha, constatou-se que na maioria dos casos em que a operação

não teve sucesso, o fracasso decorreu de falta de experiência dos

investidores, empreendedores, responsáveis pela aquisição e customização do

prédio a ser fornecido para o futuro usuário.

Enfim, através de estudos foi possível verificar que esta modalidade

contratual tem contribuído muito para a expansão rápida e eficaz das

empresas. Logo, a tendência é que esteja cada vez mais presente nos

negócios jurídicos celebrados na área de construção civil.

8

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

11

CAPÍTULO I - O Contrato

1.1 A origem do contrato

1.2 A Função Social do Contrato

1.3 A Inobservância á Função Social do Contrato

14

14

15

20

CAPÍTULO II - O Contrato Built to Suit

2.1 A origem e o conceito do contrato Built to Suit

2.2 A denúncia antecipada do contrato de locação e a ação

revisional de aluguel

2.3 A importância do contrato Built to Suit

23

23

25

26

CAPÍTULO III - A função social do contrato Built to Suit

3.1 A função social do contrato e os benefícios trazidos ao

locatário

3.2 A função social do contrato e os benefícios trazidos ao

locador

3.3 Os possíveis conflitos decorrentes do contrato Built to Suit

30

32

34

35

CONCLUSÃO

ANEXOS

38

42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

59

61

10

11

INTRODUÇÃO

A atual dinâmica do mercado exige cada vez mais das sociedades

empresárias competitividade. Nessa linha, prevalecerão na liderança aquelas

que forem capazes de se adaptar e se adequar às novas realidades, que por

sua vez, são cada vez mais voláteis.

Dessa forma, a sociedade se desenvolveu e cresceu através da

celebração de negócios jurídicos entre as partes interessadas. A liberdade de

contratar, principalmente entre particulares, foi fundamental neste processo de

crescimento econômico dos Estados ao longo da história.

Surgiram assim ao longo do tempo necessidades de adequações dos

nossos ordenamentos jurídicos, capazes de organizar, criar regras e

estabelecer limites às relações e negócios celebrados. Isso significa que a

liberdade de contratar existe, mas deve observar determinados princípios

norteadores que devem reger estas relações, como por exemplo o princípio da

boa-fé e a observância à função social do contrato.

Assim, as sociedades empresárias enfrentam hoje um cenário cada

vez mais dinâmico. Diante deste cenário, sobreviverão aquelas que forem

capazes de superar as adversidades sem deixar de focar em seus

crescimentos; as demais certamente sucumbirão estagnadas.

Desta maneira, o foco será sempre a atividade fim da sociedade, e

todos os esforços serão envidados para esse objetivo: traçar e alcançar metas

visando sempre o maior e melhor desenvolvimento da atividade fim.

Importante observar que todo crescimento envolve um aumento da

capacidade de produção das sociedades empresárias. Logo, não é raro que

haja uma ampliação do espaço físico envolvido na linha de produção.

Nesta esteira de raciocínio, é comum que determinadas atividades

exijam a presença de estabelecimentos e edificações com características

específicas do ramo do negócio, de modo a facilitar e proporcionar uma melhor

operação. Por isso, é muito frequente a locação de imóveis com o fim de

atender a essas necessidades.

12

Exatamente para atender a essa necessidade é que o ordenamento

jurídico brasileiro buscou adequar a Lei de Locações através do advento da Lei

12.744/2012, a qual introduziu o artigo 54-A à Lei 8.245/1991, de modo a

refletir a realidade do mercado.

Desta maneira, passamos a conviver com uma nova modalidade de

contratos de locação. Sendo esta nova modalidade capaz de regulamentar os

negócios celebrados entres grandes empreendedores, ou construtores, com

sociedades empresárias.

O maior objetivo desses contratos celebrados é possibilitar a edificação

e ou adequação de grandes construções/estruturas, de modo a atender às

necessidades das grandes sociedades empresárias que não atuam neste ramo

do negócio, pelo que não pretendem imobilizar vultosas quantias nas referidas

edificações.

Sendo assim, os empreendedores podem ter o retorno dos altos

investimentos feitos a longo prazo, através da locação do imóvel; e as referidas

sociedades poderão se beneficiar das edificações feitas sob medida para suas

operações, sem precisarem dispor de vultosas quantias, que poderão continuar

sendo destinadas ao desenvolvimento da atividade fim da sociedade.

Logo, a dinâmica criada e envolvida neste tipo de negócio possibilita o

crescimento econômico da coletividade, já que envolve diversos personagens

totalmente distintos.

Conforme mencionado acima, as construtoras e ou empreendedores,

ou incorporadoras serão responsáveis pela execução dos projetos de

construção, ou seja, pela execução das obras.

Para concretizar a execução, essas construtoras precisam, via de

regra, de obter financiamentos perante as instituições financeiras. Este é,

portanto, mais um personagem envolvido neste processo.

Portanto, é inquestionável que esse tipo de contrato, com tantos

personagens envolvidos, exerce de forma significativa a sua função social,

atendendo de forma satisfatória à coletividade. Seja por conta da quantidade

de agentes envolvidos, seja por conta do fomento econômico das grandes

13

empresas envolvidas no negócio, o número de pessoas beneficiadas é de

considerável relevância.

O fato é que estamos estudando um avanço da legislação brasileira,

que tem propiciado a celebração de grandes negócios com uma certa

segurança jurídica, que outrora não existia.

Por fim, cumpre-nos analisar a função social dessa nova modalidade

contratual no mercado brasileiro, e ainda o seu impacto, e como ela tem

contribuído para o desenvolvimento de grandes negócios.

14

CAPÍTULO I

O CONTRATO

“Com a pacificidade da doutrina, dizemos então que o

contrato é um acordo de vontades, na conformidade da

lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir,

conservar, modificar ou extinguir direitos.” (CAIO MÁRIO

DA SILVA PEREIRA, 2009, p. 7)

1.1 – A origem do contrato

O contrato rege a vida em sociedade; qualquer cidadão, sem distinção

de classe social, poder econômico e ou grau de instrução contrata, e sem o

contrato a celebração de negócios jurídicos entre os homens teria abrangência

muito restrita.

A sua principal origem advém do Direito Romano, sendo, contudo, seu

conceito moderno distinto daquele, no que tange às relações jurídicas criadas.

Isso porque no Direito Romano era essencial o elemento material, pelo

que não seria possível ter contrato sem o mesmo, sem a exteriorização da

forma. Eram duas as categorias dos contratos: verbis ou litteris, podendo

decorrer de palavras sacramentais, da inscrição no codex, ou da efetiva

entrega do objeto. Posteriormente quatro contratos consensuais passam a ser

reconhecidos como tais: venda, locação, mandato e sociedade.

Ademais, no Direito Romano, em razão do caráter personalíssimo dos

contratos, a ligação estabelecida entre as pessoas dos contratantes os prendia

e os sujeitava aos seus próprios corpos.

Posteriormente, embora mantido o sentido personalíssimo no sistema,

foi possível desvincular a execução que incidia sobre a pessoa do devedor

para os seus bens.

O contrato pretende assim, fundamentalmente a criação de direitos e

obrigações, agindo sempre em conformidade com o ordenamento jurídico em

15

vigência. Trata-se de um negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, ou seja,

exige o consentimento de ambas as partes, e visa objetivos específicos.

Assim sendo, o contrato estende a sua abrangência a toda espécie de

negócio jurídico com participação e vontade plúrima, seja nas atividades da

Administração Pública, seja qualquer espécie de convenção. Tanto é assim,

que o legislador dispôs no artigo 221 do Código Civil de 2002 a expressão

“obrigações convencionais” ao se referir aos contratos.

Nesta linha de raciocínio, temos o contrato como uma fonte criadora de

direitos e obrigações, razão pela qual se assemelha à lei, embora em âmbito

muito mais restrito.

O nosso Código ao dispor sobre os contratos faz ainda elucidação aos

princípios que o norteiam, como o princípio da função social, da probidade e da

boa fé. Ou seja, o legislador buscou guardar a transparência nas relações

negociais, traçando uma autonomia limitada de vontades para as partes, com o

fim de preservação do bom convívio social.

Enfim, é importante ressaltar que a liberdade de contratar é limitada.

Precisamos entender quais são essas limitações e porque o nosso

ordenamento jurídico as resguarda.

1.2 – Função Social do Contrato

Ab initio, cumpre-nos registrar que o legislador ao dispor sobre

contratos no Código Civil de 2002, estabelece que a “liberdade de contratar

será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.

Desta forma, devemos analisar a função social que o contrato exerce

sob seus diversos prismas.

Sob o ponto de vista econômico, o contrato regula os negócios

celebrados no mundo moderno, e sem eles presenciaríamos a estagnação da

vida social. Isso porque a ausência de contratos deixaria as pessoas

vulneráveis, inseguras para celebrar negócios.

Na medida em que as partes possuem a liberdade de contratar, ou

seja, de celebrar um negócio jurídico estabelecendo direitos e obrigações para

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ambas, é possível fomentar o crescimento econômico da sociedade. A

coletividade é beneficiada com os avanços que os contratos trouxeram. É

impossível imaginarmos uma sociedade no mundo moderno sem a celebração

de contratos.

Além disso, devemos destacar um princípio norteador dos contratos,

que é o princípio da força obrigatória dos contratos, através do qual teremos a

obrigatoriedade do seu cumprimento pelas partes contratantes, tal como

anteriormente avençado. Podendo-se assim considerar o contrato “lei entre as

partes”.

Não fosse assim, não haveria sentido a formalização dos negócios

através de contratos. Estes só possibilitam o avanço da sociedade porque as

partes nele envolvidas acreditam que o outro contratante está obrigado a

cumprir com os deveres e obrigações ali previstos.

A vida moderna exige métodos cada vez mais eficientes e econômicos

para que se alcance determinados objetivos, principalmente em razão da

concorrência oriunda do Capitalismo.

Assim sendo, com o passar do tempo a função social do contrato

ampliou-se. Quando se contrata, as partes devem observar as regras ali

contidas para que se alcance o objetivo disposto. Além do aspecto econômico,

podemos identificar no contrato um papel civilizador, educativo.

Desta sorte, no que dispõe o Código Civil de 2002, ao traçar os

aspectos que regerão a liberdade de contratar, a autonomia de vontades das

partes fica limitada, não podendo o contrato afrontar o interesse social,

devendo este prevalecer.

Importante ressaltarmos que o pacta sunt servanda, sendo o aspecto

jurídico, não poderá se sobrepor aos aspectos econômicos nem tampouco ao

aspecto social acima mencionado.

O código faz prevalecer, assim, os princípios condizentes com a ordem

pública, não podendo o contrato confrontar com o conceito de justiça

comutativa.

Ou seja, embora a livre iniciativa domine a economia do país, a

liberdade de contratar deve subordinar-se à regra contida no artigo 421 do

17

Código Civil Brasileiro de 2002, subordinando-se à sua função social. Daí

lembrar que o direito de propriedade deverá atender aos limites de

desempenho de deveres compatíveis com a sua função social, nos termos da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, pelo que o código

estabelece que a liberdade de contratar também não pode dissociar-se

daquela função.

Nesta esteira de raciocínio, deve-se destacar que como uma das

formas de constitucionalização do Direito Privado, a Constituição da República

de 1988, em seu Art. 173, § 4º, ao tratar da exploração da atividade

econômica, não admite negócio jurídico que implique abuso do poder

econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da concorrência

e ao aumento arbitrário dos lucros.

Desta maneira, respeitando esta concepção e limitando a liberdade de

contratar, o nosso Código Civil admite a resolução do contrato por onerosidade

excessiva. Ou seja, quando determinadas circunstâncias afetam o equilíbrio do

contrato, causando o ganho de uma das partes e perda da outra,

ultrapassando os limites do razoável, daquilo que se poderia entender por lucro

e prejuízo, teremos a onerosidade excessiva de uma das partes.

E é em razão deste desequilíbrio contratual é que o legislador dispôs

que o devedor poderá pedir a resolução do contrato quando, nos contratos de

execução continuada ou diferida, em razão de acontecimentos extraordinários

e imprevisíveis, a prestação se tornar excessivamente onerosa para uma das

partes, com extrema vantagem para a outra.

Nesse mesmo sentido, o código determina que aquele que sem justa

causa se enriquece a custa de outrem deve restituir o indevidamente auferido.

Ou seja, trata-se de mais uma situação em que a liberdade de contratar

enfrenta limites legais.

Além das hipóteses acima mencionadas, podemos destacar inúmeras

outras situações trazidas pelo Código Civil de 2002, a saber, quando este

anula aquele contrato celebrado em estado de perigo, trata da rescisão do

contrato lesivo, e ainda disciplina a redução de cláusula penal excessiva.

18

Neste diapasão, a luz do interesse social maior, o princípio moderno da

função social do contrato vem agregar valores aos princípios clássicos do

contrato, que são os princípios da força obrigatória, da autonomia de vontade,

da relatividade dos seus efeitos, e o da intangibilidade do seu conteúdo.

No que tange ao princípio da obrigatoriedade, conforme mencionado

acima, este remonta do Direito Romano, e possui divergências doutrinárias.

Pode-se dizer que uma vez celebrado o contrato, observados os requisitos de

sua validade, o mesmo terá plena eficácia, obrigando os contratantes.

As divergências doutrinárias se concentram principalmente no

fundamento da obrigatoriedade. Assim, para os jusnaturalistas o fundamento

estaria no pacto social, através do qual as partes teriam transigido assumindo

livremente compromissos.

Para a Escola Positivista o princípio da obrigatoriedade consiste no

mandamento da lei. Para eles, o contrato obriga simplesmente porque a lei

assim dispõe.

Assim, inobstante todas as posições doutrinárias, concluímos que o

conceito da superlegalidade, imprimindo o mais genuíno conteúdo ético à

norma jurídica será o alicerce da obrigatoriedade do contrato.

Desta forma, haverá força obrigatória para os que celebram o contrato,

à luz do ordenamento positivo, e uma vez estipulada a avença regularmente,

norteado pelo conteúdo de moralidade que anima a obrigatoriedade, e

direcionado para o campo específico do direito obrigacional.

Com relação às formalidades, temos o princípio consensualista, que

primitivamente exigia um certo rigor para a existência jurídica dos contratos,

limitando-se a quatro modalidades: venda, locação, mandato e sociedade. O

formalismo só era excepcionado por necessidade de flexibilização nas relações

mercantis, já que a sociedade era marcadamente comerciante.

O formalismo então exigido naquela sociedade primitiva romana foi

relativizado ao se constituir o direito contratual moderno, que não encontra

obstáculos para o princípio do consensualismo.

Através deste princípio o contrato se forma pelo consenso das partes.

Assim, o contrato deverá ser cumprido não apenas por sua força obrigatória,

19

mas generalizando o conceito para que todo ajuste que demonstre a

expressão de acordo de vontade das partes possua igual força cogente.

É certo essa generalização não poderá ser absoluta, pois se assim o

fosse, as partes contratantes estariam totalmente carecedoras de regras de

segurança.

Por isso, o nosso ordenamento jurídico exige elaboração de

documento escrito para a venda de automóveis, exige-se a inscrição no

registro imobiliário para que as promessas de compra e venda sejam dotadas

de execução específica com eficácia real, bem como se exige o registro da

alienação fiduciária em garantia, dentre outros diversos exemplos que

encontramos em nosso ordenamento.

Isto posto, o valor social do contrato implica na observância do papel

da boa-fé na origem e execução dos negócios jurídicos. Estes não poderão ser

celebrados com o propósito de contornar ou fraudar a aplicação de obrigações

previstas na Constituição e na Lei Civil.

O legislador pretendeu, através do Código Civil de 2002, elaborar um

ordenamento jurídico das relações privadas, assumindo uma posição que

combina os interesses individuais com os sociais, de maneira complementar,

segundo regras ou cláusulas abertas propícias a soluções eqüitativas e

concretas.

Assim sendo, os livres acordos exigidos pela sociedade

contemporânea não colidem com o dispositivo que consagra a função social do

contrato; pelo contrário, o referido dispositivo lhes assegura efetiva validade e

eficácia.

Importante observar que o contrato não pode ser transformado em um

instrumento de atividades abusivas, até porque este não é o fim para o qual o

mesmo foi criado.

Enfim, por todo o acima exposto, pode-se dizer que os contratos, e o

exercício da liberdade de contratar não interessam somente às partes

contratantes, mas a toda a coletividade. É claro que o “pacta sunt servanda”

deverá prevalecer, mas desde que os contratantes guardem na conclusão do

contrato, assim como em sua execução, os princípios da probidade e da boa

20

fé. Estes deverão ser os princípios norteadores à celebração dos negócios

jurídicos, devendo os mesmos estar presentes nos contratos, na medida em

que forem criadas as obrigações e deveres para ambas as partes.

1.3 – A inobservância à função social do contrato

É muito comum a existência de contratos que não observam a sua

função social, e refletem um desequilíbrio contratual entre as partes

contratantes.

Os contratos de adesão, muito frequentes nas relações de consumo,

via de regra, apresentam cláusulas abusivas que beneficiam o prestador de

serviços ou fornecedor de produtos, em detrimento do consumidor, parte

hipossuficiente da relação.

A cláusula geral de boa-fé objetiva já era implícita em nosso

ordenamento antes mesmo da vigência do CDC e do Código Civil de 2002.

Contudo, a partir desses marcos legislativos ela passou a ser explicitada.

Impõe-se assim deveres de condutas leais aos contratantes e, como visto

anteriormente, os referidos dispositivos funcionam como um limite ao exercício

abusivo de diretos.

Desta maneira, o direito subjetivo assegurado em contrato não pode

ser exercido de forma a subtrair do negócio jurídico a sua precípua finalidade.

Assim, os nossos Tribunais Superiores, ao se depararem com situações nas

quais existe um notório desequilíbrio contratual, buscam através da aplicação

da legislação pátria, reparar os danos sofridos pela parte lesada,

reestabelecendo assim o equilíbrio contratual.

Com relação ao chamado princípio “pact sunt servanda”, há muito

abrandado pelo ordenamento jurídico pátrio, este não deve ser utilizado em

hipótese alguma para escudar disposições contratuais que imponham

desvantagens exageradas a uma das partes, pois como demonstramos, essa é

uma condição qualificada pela lei como ilegal, resultando a nulidade das

cláusulas que a viabilizem.

21

Ou seja, deve-se interpretar a situação existente privilegiando os

princípios da função social e da boa-fé objetiva.

O princípio da boa-fé objetiva está diretamente ligado à interpretação

dos contratos, e ensina que o Judiciário deve analisar o negócio jurídico de

forma global, o conjunto como um todo, para verificar se, de alguma forma,

deliberada ou não, uma das partes contratantes teve sua expectativa frustrada,

pelo abuso da confiança por ela depositada.

Através dos princípios da função social do contrato e da boa fé

objetiva, pode-se extrair os chamados deveres anexos ou laterais de conduta,

tais como os deveres de transparência, de colaboração, respeito, honestidade,

que devem estar presentes nas relações contratuais. Nos casos em que esses

deveres não estão presentes, faz-se necessária a intervenção do judiciário,

com o intuito de reequilibrar-se a relação jurídica entre os contratantes; trata-se

de buscar o equilíbrio, ou seja, a equivalência, e a justiça contratual.

As partes devem, assim, recorrer ao Judiciário toda vez que o contrato

deixar de cumprir com a sua função social, deixando de observar os ser

princípios norteadores.

Importante destacarmos ainda que, conquanto geralmente nos

contratos o mero inadimplemento não seja causa para ocorrência de danos

morais, a jurisprudência já tem reconhecido o direito ao ressarcimento por

danos morais em alguns casos de inadimplemento contratual.

Sendo assim, ao se analisar um contrato de adesão, por exemplo, com

a presença de cláusulas abusivas, além do afastamento do princípio “pacta

sunt servanda”, pode ser que se conclua pelo inadimplemento contratual da

outra parte. E caso se consiga demonstrar que o inadimplemento contratual

agravou a aflição psicológica ou situação de angústia no espírito da parte

lesada, agravando assim uma condição de dor, seria o caso de a parte

inadimplente reparar os danos morais sofridos pela outra parte.

Enfim, a inobservância à função social do contrato implica na

obrigação da parte inadimplente em reparar os danos sofridos pela parte

lesada, sejam estes danos de ordem material, ou ainda de ordem moral. Para

se verificar se um contrato está deixando de cumprir com sua função social,

22

basta verificarmos o caso concreto, devendo sempre estar presente o equilíbrio

contratual, bem como a boa fé objetiva.

23

CAPÍTULO II

O CONTRATO BUILT TO SUIT

“Entre os mais recentes contratos desenvolvidos de

forma a atender os anseios das partes está o built to

suit, cujas características específicas o tornam uma

modalidade contratual diferenciada na viabilização de

negócios que tem como cerne o desenvolvimento de um

projeto imobiliário.” (CRISTIANO SCHILLER, 2013, p.

45).

2.1 – A origem e o conceito do contrato “Built to Suit”

O contrato built to suit tem a sua origem no mercado imobiliários dos

Estados Unidos. Trata-se de um contrato que visa atender às necessidades do

mundo moderno, de forma que um projeto imobiliário possa ser desenvolvido

de forma rápida e eficaz, e de modo a beneficiar todos os contratantes,

gerando lucros e reduzindo custos para todas as partes envolvidas.

Através da edição da Lei nº 12.744/12 o nosso ordenamento jurídico

passou a prever esta nova modalidade de contratos, alterando assim a lei de

locações, Lei nº 8245/1991, tornando-o um contrato típico cujas características

serão analisadas adiante.

O advento da Lei 12744/2012 modificou a Lei 8245/1991, tendo

introduzido nesta o artigo 54-A.

Através da referida inserção, a legislação pátria definiu o contrato built

to suit da seguinte forma: trata-se de locação não residencial, ou seja, não será

admitida essa modalidade de contrato na locação de imóveis residenciais; o

imóvel deverá ser urbano, logo não se aplica à locação de imóveis rurais; o

contrato de locação deverá ser por prazo determinado. Logo, esses são os

requisitos legais do contrato built to suit.

24

A expressão built to suit em nosso idioma seria traduzida como

“construído para servir” ou “construção sob medida”. Isso porque se trata de

uma modalidade de contrato através do qual uma das partes, o investidor,

adquire um imóvel, ou já o possui, e constrói ou simplesmente realiza

significativas alterações nas suas edificações, adequando o projeto imobiliário

às necessidades do futuro usuário, o qual usufruirá das edificações,

comprometendo-se a pagar valores preestabelecidos pela utilização do referido

imóvel por um determinado período, suficiente para que o investidor reveja

todos os valores então investidos no negócio.

Nessa linha de raciocínio, Francisco Maia Neto leciona sobre o

assunto, ao dispor que “por definição, trata-se de uma modalidade de operação

imobiliária que pode ser traduzida como construção sob medida, consistindo

em um contrato pelo qual um investidor viabiliza um empreendimento

imobiliário segundo os interesses de um futuro usuário, que irá utiliza-lo por um

período preestabelecido garantindo um retorno pelo investimento e a

remuneração pelo uso do imóvel.”

A rigor, a estrutura jurídica envolvida neste tipo de contrato exigiria a

presença de três elementos: a construção, um imóvel sob medida, e um

investimento relevante, podendo inclusive haver a aquisição de um terreno

pelo locador.

Enfim, as partes celebram um negócio jurídico através do qual locador

e locatário traçarão os seguintes direitos e obrigações: o locador deverá

disponibilizar para o locatário o imóvel feito sob medida para a operação deste;

o locatário deverá pagar mensalmente os aluguéis fixados ao longo da vigência

do contrato de locação.

Isto posto, cumpre-nos analisar a importância que este tipo de contrato

tem para o desenvolvimento da sociedade.

25

2.2 – A denúncia antecipada do contrato e a Ação

Revisional de Aluguel

Os pontos que causavam uma certa insegurança jurídica aos

contratantes foram superados com a Lei 12744/2012, quais sejam, a denúncia

antecipada do contrato e a ação revisional de aluguel.

Desta sorte, a lei de locações tratava da denúncia da locação em seu

artigo 4º, através do qual concede ao locatário o direito de devolver o imóvel

locado mediante o pagamento da multa pactuada, devendo esta ser

proporcional ao tempo de cumprimento do contrato. Ou seja, permite a

rescisão unilateral pelo locatário a qualquer tempo, independentemente de

notificação prévia. O locador por sua vez deve observar e respeitar o contrato

de locação até o término de seu prazo.

Ocorre que o referido dispositivo poderia prejudicar a celebração dos

contratos buil to suit. Sendo assim, o legislador introduziu uma exceção ao

disposto no artigo 4º, dispondo que neste tipo de contrato, em caso de

denúncia antecipada do vínculo locatício pelo locatário, este se compromete a

cumprir a multa convencionada, que não excederá, porém, a soma dos valores

dos aluguéis a receber até o termo final da locação.

Ou seja, sabendo o legislador que nos contratos built to suit a

remuneração do contrato visa não apenas a contraprestação pelo uso do

imóvel, mas também o pagamento da edificação e adequações do mesmo, ele

decidiu por excepcionar o pagamento da multa de forma proporcional ao

cumprimento do contrato.

De tal forma, caso um contrato de locação com prazo de vigência de

vinte anos seja rescindido no primeiro ano de locação, o locador surpreendido

com a denúncia poderá exigir o cumprimento da multa nos termos do contrato,

que em razão da peculiaridade do mesmo, não poderá ser considerada

excessiva para o locatário.

Enfim, a inovação do dispositivo legal serviu para afastar a

insegurança que esse tipo de negócio jurídico poderia gerar. Logo, o investidor

26

não precisará temer o não retorno de seus investimentos, pois passa a ter

respaldo legal para a concretização deste retorno.

2.3 – A importância do contrato “Built to Suit”

O fato é que esta modalidade de locação está sendo cada vez mais

utilizada no mercado imobiliário, principalmente pelas grandes empresas,

tendo-se mostrado extremamente vantajosa e atrativa aos usuários, uma vez

que estes não imobilizarão os seus recursos financeiros na aquisição dos

terrenos e construção das benfeitorias, além de o aluguel ser contabilizado

como despesa, o que reduz a carga tributária.

Dessa forma, o usuário terá à sua disposição um imóvel por ele

escolhido, construído sob medida para atender às suas necessidades, sem ter

imobilizado o seu capital na compra de imóvel, nem gastado vultosa quantia na

construção ou adaptação da edificação, o que possibilitará que o referido

capital disponível em seu caixa seja direcionado para a sua atividade fim, que

é o que mais lhe interessa.

As instituições financeiras fornecem o capital necessário para a

execução das obras. Contudo, para que o referido capital seja liberado,

geralmente as construtoras apresentam o contrato de locação built to suit

celebrado como uma garantia de pagamento do empréstimo a ser contraído.

Além disso, o locador poderá ainda oferecer o imóvel em construção

como garantia de pagamento do crédito liberado.

Em razão do processo acima mencionado, não é raro que os referidos

contratos tenham seus créditos cedidos para as instituições financeiras, com o

fim de quitação da dívida anteriormente contraída.

Importante ainda destacarmos que a construtora, locadora, ao término

da locação terá quitado a sua dívida com a instituição financeira; terá lucrado

com o aluguel pago pelo locatário e terá ainda um imóvel, certamente bem

valorizado por conta de todos os investimentos feitos.

Com relação ao locatário, esse como destinatário final do imóvel a ser

construído, não é menos beneficiado. Isso porque ela terá um imóvel feito sob

27

medida para atender às necessidades específicas da sua operação, sem

precisar imobilizar o seu ativo para isso.

Assim sendo, alguns negócios que antes da utilização desta

modalidade contratual seriam inexequíveis, passam a ser viáveis, de modo que

as empresas não precisam dispor de uma vultosa quantia de uma só vez nas

adaptações de um imóvel, ou para a sua compra, podendo arcar com este

ônus a longo prazo, remunerando mensalmente e em parcelas menores o

investidor pelos investimentos feitos.

Apenas a título ilustrativo, podemos citar uma grande rede de varejo

que, objetivando atingir as suas metas de expansão, busca investidores que

possam adquirir imóveis em novos pontos comerciais, de acordo com a

necessidade e o interesse desta grande rede.

O investidor compra o imóvel, via de regra escolhido pelo locatário,

com as dimensões e localização por este definida, e realiza nele alterações, ou

constrói as edificações de acordo com os padrões daquela empresa,

resguardando em contrato a obrigação daquela rede de varejos em manter-se

como locatária ou usuária daquele imóvel por um determinado período de

tempo, remunerando o investidor com uma quantia mensalmente, de modo

que este tenha um retorno de todo o investimento feito.

É claro que neste tipo de contrato, essa quantia a ser paga

mensalmente se refere não apenas ao uso do imóvel, mas remunera também

às benfeitorias e edificações feitas sob medida.

Nesse diapasão, as metas relacionadas à atividade fim daquela

sociedade empresária serão priorizadas, sem que as verbas sejam desviadas

de tal objetivo, podendo ainda só vir a ter despesas com o uso do imóvel

disponibilizado quando as suas atividades comerciais já tiverem se iniciado

naquele imóvel.

Cumpre destacar que a vantagem do contrato “buit to suit” não se

restringe aos aspectos financeiros, possibilitando que o negócio seja celebrado

em curto espaço de tempo, com maior objetividade. Ou seja, o que antes

demandaria a celebração de diversos contratos para o usuário passa a exigir a

28

celebração de apenas um contrato com o investidor, que envolverá diversas

partes para atingir um único objetivo.

Desta forma, o futuro usuário celebrará um único contrato com o

investidor, e este será responsável pela aquisição do imóvel; pelas adaptações

e ou edificações a serem feitas no mesmo, nos termos das exigências do

usuário; e ainda pela obtenção do financiamento.

Além disso, é bem provável que haja maior agilidade na concretização

do empreendimento na medida em que o responsável por todas as obrigações

será o proprietário, que em regra possui expertise neste tipo de operação,

diferentemente do futuro usuário, cuja atividade-fim geralmente não engloba

desenvolvimento de projetos imobiliários.

Cumpre ressaltar ainda que o risco suportado pelo usuário é bem

menor, já que ele celebra apenas um contrato, ficando a maior parte das

obrigações por conta do proprietário.

Já o proprietário poderá adquirir o financiamento com a instituição

financeira, garantindo o pagamento do mesmo através de cessão do crédito

oriundo do contrato “buit to suit” celebrado com o usuário.

Sendo assim, a doutrina menciona que em um primeiro momento o

detentor, ou titular dos direitos creditório cede-os a uma companhia

securitizadora. É claro que isso só é possível se esses direitos estiverem

totalmente disponíveis. Em um segundo momento, a securitizadora emitirá

títulos que correspondam a este crédito. Por último, a securitizadora venderá

esses títulos no mercado. Dessa forma, a empresa incorporadora consegue

atender também ao mercado investidor.

Além disso, o contrato prevê, via de regra, que o usuário pagará pela

utilização do referido imóvel por um longo período, garantindo assim recebíveis

ao proprietário por longo prazo. Ademais, ao término da locação, o locador

estará com seu imóvel com todos os altos investimentos incorporados ao

mesmo, o que sem dúvida o terá valorizado.

Logo, todos serão beneficiados. O usuário porque não precisará

disponibilizar vultosa quantia de uma só vez para adquirir o imóvel e fazer as

adequações das edificações às suas necessidades, podendo arcar com o ônus

29

dessas edificações em longo prazo. Da mesma forma, a empresa

incorporadora e o mercado investidor terão seus anseios atendidos.

30

CAPÍTULO III

A FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO BUILT TO SUIT

Ao analisarmos a história da sociedade podemos constatar a mudança

do Estado Liberal para o Estado Social. Este último traz a dignidade da pessoa

humana como um dos seus fundamentos.

Desta maneira, nos negócios jurídicos celebrados neste novo Estado

Social, a autonomia de vontade das partes deverá ser acompanhada pela

observância aos chamados princípios sociais, com o intuito de alcançar o

equilíbrio contratual, devendo sempre prevalecer o interesse coletivo frente aos

interesses individuais.

A fim de garantir a dignidade da pessoa humana, e objetivando a atual

visão de justiça contratual, deve-se buscar acima de tudo a igualdade, ou seja,

equilíbrio entre as partes contratantes, levando-se em consideração suas

diferentes posições econômicas. Dessa maneira, faz-se necessário observar

os princípios sociais da boa-fé objetiva e da função social do contrato,

especificamente na modalidade “Built to Suit”.

A intervenção estatal, evidenciada com o advento do Código Civil de

2002 bem como com a Constituição da República de 1988 demonstra a

preocupação do Estado em buscar a igualdade entre os contratantes, bem

como uma certa proporcionalidade entre as obrigações e deveres previstos no

contrato.

O contrato de um modo geral deve assim ser entendido como um

mecanismo que busca o bem comum, que almeja o interesse social. A ótica

individualista perde sua razão de ser, buscando-se garantir direitos por valores

sociais, de um novo paradigma para efetividade dos modernos princípios

contratuais.

Nesse sentido, considerando-se que a dignidade da pessoa humana é

o pilar para o Estado Democrático de Direito, a liberdade de contratar, seja

qual for o tipo de contrato, não pode, de maneira alguma, deixar de observar e

se ater aos limites da função social do contrato.

31

A doutrina mais moderna entende, assim, que a função do contrato

não é a de atender aos interesses das partes, exclusivamente. A sua realidade

é muito maior, e deve ser analisada considerando-se o mundo que o cerca. O

contrato é um claro fator de alteração da realidade social; ele está inserido no

meio social, sendo um instrumento de enorme influência na vida das pessoas.

O Direito Privado enfrenta assim o fenômeno da “socialização”, já que

as relações contratuais passam a ser norteados pela coletividade.

A jurisprudência pátria tem decidido com base na função social dos

contratos, e as diversas ações propostas com o fim de revisão contratual tem

observado o argumento político de equilibrar as partes e proteger a parte mais

fraca na relação contratual, deixando de prevalecer assim o poder da parte

economicamente mais forte.

Com relação ao contrato objeto do presente estudo, conforme

verificamos nos capítulos anteriores, trata-se de uma modalidade importada de

alguns países que já a utilizavam há algum tempo, tendo alcançado sucesso

em seus resultados, razão pela qual despertou interesse de grandes

empresários que atuam no território nacional.

Como restou demonstrado, trata-se de uma modalidade contratual

mais complexa e diversa da locação, razão pela qual se fez necessária a

alteração da lei.

Nesta linha de raciocínio, podemos destacar que este tipo de contrato

trouxe grandes avanços para a celebração de negócios, pelo que é válido

estudarmos a sua função social.

Neste diapasão, é inquestionável que a segurança jurídica trazida com

o advento da Lei 12744/2012 proporcionou um aquecimento econômico do

mercado imobiliário ligado aos contratos “built to suit”.

Assim sendo, sob o ponto de vista econômico, é evidente que o “built

to suit” representa um avanço sem precedentes. Ora, o futuro usuário poderá

sem grandes esforços ter à sua disposição empreendimentos imobiliários

construídos sob medida, atendendo às suas necessidades, sem que precise

investir nenhum capital em um primeiro momento.

32

Da mesma forma, o locador terá seu proveito econômico garantido de

forma muito mais eficiente do que poderia esperar no cenário anterior à

alteração na legislação aplicável.

Com efeito, pode-se dizer que o legislador ajudou a fomentar o

crescimento econômico das grandes empresas no território nacional; onde se

conclui que este tipo de contrato exerceu com louvor seu papel social na

economia.

Importante destacarmos que as partes deverão sempre dispensar em

seus negócios a boa-fé objetiva. Deste modo, ambas as partes deverão

sempre agir com transparência, sem querer obter vantagens excessivas em

detrimento do outro, mantendo-se sempre um equilíbrio contratual.

Enfim, importante analisarmos como estes contratos beneficiam o

locador e o locatário sob diversos aspectos, priorizando sempre o exercício de

sua função social.

3.1 – A função social do contrato e os benefícios

trazidos ao locatário

Conforme evidenciado no texto acima, o papel social do contrato deve

ser priorizado, mantendo-se sempre os princípios norteadores de sua função

social.

Cumpre-nos analisar porque este tipo de contrato tem atraído

determinadas sociedades empresárias que pretendem a expansão de suas

atividades.

Evidente que o usuário, ou locatário, é um grande beneficiado com

todo esse processo de desenvolvimento de um empreendimento. Isso porque

ele poderá acelerar o seu crescimento, expandindo-se ainda que não disponha

de capital, podendo suportar estes investimentos a longo prazo.

Sendo assim, o capital do qual a sociedade empresária dispõe não

precisará ser desviado do desenvolvimento e crescimento da atividade fim da

sociedade.

33

Importante ressaltar ainda que para o locatário, celebrar o negócio

nesses moldes é muito válido, pois ele precisa tão somente negociar com o

proprietário, não tendo de se envolver, e nem mesmo negociar com a

construtora, tão pouco com a instituição financeira.

Ora, a única obrigação do locatário ao celebrar o contrato será de

honrar com o pagamento dos aluguéis no curso do prazo do contrato de

locação. Trata-se de uma maneira de o locatário pagar por um imóvel feito sob

medida para lhe atender.

Evidentemente o pagamento mensal feito pelo locatário não se trata

apenas do pagamento de um aluguel pelo uso do imóvel. A essência deste

contrato vai além, ou seja, trata-se de uma maneira de ajudar a financiar as

obras e investimentos feitos pelo locador.

Isso não significa que o fato de o locatário pagar mensalmente um

valor superior ao valor de mercado, ao que seria justo pela locação de um bem

imóvel com aquelas condições e dimensões, enseje qualquer desequilíbrio

contratual.

Note-se que não se trata de um simples contrato de locação, mas sim

de um contrato que envolve a construção de um empreendimento imobiliário

com características predefinidas. Ou seja, o papel social envolvido neste

contrato, repita-se, é muito maior.

Exatamente por este motivo é que o parágrafo primeiro do artigo 54-A,

introduzido através da Lei 12.744/2012 permite expressamente que as partes

renunciem ao direito de revisar o valor dos aluguéis.

As ações revisionais de aluguéis estão previstas no artigo 19 da Lei

8.245/1991, o qual dispõe que no caso de não haver acordo, o locador ou o

locatário, após três anos de vigência do contrato ou do acordo anteriormente

realizado, poderiam pleitear judicialmente a revisão do aluguel, com o fim de

ajustá-lo ao preço de mercado.

É certo que a alteração na legislação nada mais fez do que legitimar a

autonomia de vontade das partes, e o entendimento já pacificado pela

jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. O próprio Supremo Tribunal

Federal formalizou este entendimento através da súmula nº 357: “É lícita a

34

convenção pela qual o locador renuncia, durante a vigência do contrato, à ação

revisional.” Ou seja, ao alterar o diploma legal o legislador apenas incorporou

ao ordenamento jurídico o entendimento que já estava pacificado há muito na

jurisprudência.

Isso porque a função social do contrato deve priorizar sempre o

equilíbrio econômico, e caso este seja preservado, é possível que as partes

tenham autonomia de vontade para estabelecer as condições comerciais nas

cláusulas contratuais.

Por fim, o contrato certamente garante benefícios ao locatário, que não

precisará se preocupar com a execução da obra, nem tampouco com toda a

responsabilidade envolvida na referida execução. Isso é uma grande vantagem

ao locatário, pois não precisará se envolver com um negócio no qual não

possui expertise, e do qual pouco entende.

3.2 – A função social do contrato e os benefícios

trazidos ao locador

Conforme mencionado anteriormente, o locador será responsável pela

concretização do projeto do empreendimento, sendo assim responsável por

eventuais vícios na obra, já que ele se responsabiliza por todas as adequações

do imóvel.

É claro que o proprietário, constatado algum vício no imóvel, poderá,

se for o caso, demandar regressivamente sobre a construtora, caso não seja o

próprio a fazer as adequações. Mas o fato é que perante o locatário é o

proprietário que deverá responder e se responsabilizar, já que é ele que está

contratando com o locatário, e é ele que está disponibilizando o imóvel locado,

nos termos do contrato.

Cumpre ressaltar que a obrigação do proprietário perante o usuário é

de disponibilizar a edificação pronta para uso, nos moldes do projeto técnico

aprovado, e não o de realizar a obra em favor do usuário.

Ainda sob o ponto de vista econômico, os contratos celebrados são de

grande valia para o proprietário do imóvel. Isso porque, o proprietário, com o

35

contrato assinado pelo futuro usuário, terá facilidade em obter o financiamento

com a instituição financeira.

Desta forma, temos mais um personagem envolvido neste tipo de

negócio. Assim, a instituição financeira também será beneficiada ao celebrar

com a construtora os contratos de financiamento, que em razão do tamanho

das obras a serem realizadas, envolvem o empréstimo de vultosas quantias.

É válido esclarecermos que a relação locatícia, que exerce papel

fundamental nesta operação, somente se inicia após a conclusão de toda a

obra.

3.3 – Os possíveis conflitos decorrentes dos contratos

“Built to Suit”

Embora os contratos “built to suit” exerçam de forma significativa sua

função social, conforme restou demonstrado acima, não podemos deixar de

mencionar que conflitos poderão surgir e prejudicar a boa concretização do

negócio jurídico celebrado, impossibilitando que o objetivo final seja alcançado.

É importante destacarmos assim que tanto os locadores quanto os

locatários encontram pontos positivos e pontos negativos que podem surgir

deste tipo de negócio celebrado.

Nestes termos, podemos mencionar uma suposta desvantagem ao

proprietário do imóvel locado ao término do contrato de locação. Isso porque,

caso o locatário não tenha interesse em renovar a locação do imóvel

construído e ou reformado, o locador estará com um imóvel cuja utilidade

possivelmente estará restrita a um determinado tipo de operação, o que

poderá dificultar que o proprietário consiga imediatamente dar uma nova

destinação ao mesmo.

Por exemplo, caso o imóvel tenha sido construído para a instalação de

um hospital, as características do referido empreendimento dificilmente

atenderão a uma sociedade empresária de comércio varejista, que pretenda ali

instalar um centro de distribuição. Esta certamente precisará de um galpão,

com instalações disponíveis para armazenar mercadorias, com docas em

36

galpões para que as transportadoras das mercadorias possam estacionar seus

veículos e descarregar as mercadorias. Enfim, trata-se de negócios distintos

com exigências completamente divergentes para a operação de suas

atividades.

Logo, para que o locador destine o seu imóvel para outra sociedade de

outro ramo de atividade, diverso da exercida pelo antigo locatário, certamente

precisará fazer novas adequações no imóvel, o que implicaria em novos

custos.

De qualquer forma, não se pode dizer com veemência em prejuízo do

locador, pois os investimentos feitos no referido imóvel já terão ao menos sido

ressarcidos através do pagamento mensal dos aluguéis, nos termos do

contrato firmado.

É evidente que os investimentos a serem feitos, bem como o risco

acima mencionado, são fatores relevantes que devem ser estudados e

analisados antes da celebração do contrato de locação.

Como estudado no primeiro subitem deste capítulo, neste mesmo

sentido, a lei 8245/1991 convenciona em seu artigo 54-A que neste tipo de

contrato de locação poderá ser convencionada a renúncia ao direito de revisão

dos aluguéis durante o prazo de vigência do contrato. Esta foi a maneira

encontrada pelo legislador para garantir uma certa segurança jurídica ao

locador, dando a este a certeza de que terá o retorno dos seus investimentos,

independentemente da realidade e das especulações do mercado imobiliário.

Nesta mesma linha, o ordenamento jurídico garante que em caso de

denúncia antecipada do vínculo locatício pelo locatário, este deverá cumprir a

multa convencionada no referido contrato de locação. Sendo certo que esta

multa não poderá exceder a soma do valor dos aluguéis a receber até o

término da locação.

Ou seja, o diploma legal trouxe dispositivos capazes de garantir a

efetividade da função social dos contratos de locação “built to suit”, de modo a

possibilitar que o mesmo seja aproveitado ao desenvolvimento da sociedade,

mantendo-se sempre o equilíbrio econômico entre as partes.

37

Enfim, como restou demonstrado, esses contratos vieram para inovar e

facilitar a concretização de grandes projetos, acelerando a circulação de

riquezas. A importância do “built to suit” não se restringe à aceleração do

crescimento de algumas empresas, mas representa um benefício para toda a

coletividade. Uma prova disso é a quantidade de partes envolvidas nestes

negócios, que geram empregos, aceleram o crescimento da economia,

promovem a circulação de riquezas e possibilitam o benefício da coletividade,

sem contar que tornam as sociedades empresárias mais competitivas, em um

mercado que prioriza exige a inovação e a redução de custos.

38

CONCLUSÃO

A realidade do contrato built-to-suit é consideravelmente recente, tendo

sido introduzida formalmente em nosso ordenamento jurídico em 2012, através

do advento da Lei 12.744.

Desta forma, por ser recente, ainda não temos uma sólida

jurisprudência relacionada a eventuais conflitos que possam ser gerados por

conta dessa nova modalidade contratual.

Contudo, embora recente e com poucos julgados sobre o assunto,

trata-se de uma modalidade que tem sido muito utilizada por grandes

empresas, com o fim de aperfeiçoar cada vez mais suas atividades, e melhor

atender suas operações.

Assim sendo, uma grande empresa de varejo por exemplo pode se

utilizar desse tipo de contrato para a edificação de um grande centro de

distribuição feito sob medida exclusivamente para seu uso, com as dimensões

e condições feitas de acordo com a necessidade do seu ramo do negócio, sem

precisar se descapitalizar para fazê-lo.

O grande investidor, por sua vez, poderá ter o retorno do seu

investimento, resguardado ainda pela segurança jurídica que o ordenamento

lhe proporciona, uma vez que a sociedade empresária beneficiada pela

edificação se compromete, via de regra, a alugar o imóvel por um extenso

prazo, e por um valor prefixado.

Portanto, vale esclarecer que a remuneração paga através do aluguel

no contrato de built-to-suit não remunera apenas a utilização do imóvel, longe

disto, pode-se dizer que se trata de uma recompensa pela edificação de um

imóvel feito sob medida.

Além disso, uma grande vantagem para o locador com a celebração

deste tipo de contrato é o fato de as partes poderem renunciar ao direito de

revisão do valor dos aluguéis durante o prazo de vigência do contrato de

locação.

Desta maneira, o locador terá os valores dos aluguéis garantidos ao

longo do prazo da locação, independentemente de alterações no cenário do

39

mercado imobiliário. Ou seja, o investidor tem assegurada juridicamente a

garantia de retorno dos seus investimentos, o que não seria possível antes da

alteração da lei de locações.

Ora, em razão da segurança jurídica que a legislação proporciona, o

número de investidores dispostos a celebrar esse tipo de contrato tende a

aumentar. Consequentemente, o referido avanço fomentará o desenvolvimento

econômico da sociedade, exercendo assim a sua função social.

A referida alteração na legislação estabelece ainda a prevalência das

condições livremente pactuadas no contrato respectivo, ou seja, no contrato

built to suit, mantidas as disposições procedimentais previstas na lei.

Assim, as partes poderão celebrar um contrato atípico no caso de uma

locação não residencial de imóvel urbano, na qual o locador proceda à prévia

aquisição, construção ou substancial reforma, por si mesmo ou por terceiros,

do imóvel então especificado pelo pretendente à locação, a fim de que seja

locado por prazo determinado.

Por fim, diante de todos os benefícios trazidos por essa modalidade de

contrato, exaustivamente explorados ao longo desse trabalho, resta

inquestionável o papel social que esta tem desempenhado.

Assim, o locatário poderá gozar de sua liquidez patrimonial, e efetuar

os pagamentos por todos os investimentos a longo prazo.

Embora se trate de um contrato atípico, o contrato built-to-suit é dotado

de regras próprias que lhe são peculiares, tal como a impossibilidade de

revisão do "aluguel", que não está suscetível aos humores do mercado

imobiliário.

Isso porque a natureza do contrato não a admite, primeiro porque não

se confunde com um contrato típico de locação, para o qual a revisional de

aluguel foi idealizada, depois porque a admissão da revisional de aluguel traria

um completo desequilíbrio contratual, e faria ruir este tipo de contrato, não

servindo ao fim a que se destina.

40

Por fim, o instituto, embora recente e em plena constituição, tem sido

muito utilizado, e de grande importância para o crescimento e desenvolvimento

de grandes empresas, propiciando o alcance do fim social a que se destina.

41

ANEXO

Índice de anexo

Anexo >> Jurisprudência;

42

ANEXO

JURISPRUDÊNCIA

RECURSO ESPECIAL Nº 885.910 - SP (2006/0144180-0)

RELATORA

RECORRENTE

ADVOGADOS

RECORRIDO

ADVOGADOS

RECORRIDO

ADVOGADO

:

:

:

:

:

:

:

MINISTRA NANCY ANDRIGH

CONSTRUTORA MORAES DANTAS S/A

HELOÍSA MENDONÇA E OUTRO(S) ARLINDO DE

CARVALHO PINTO NETO E OUTRO(S)

MONDIAL DO BRASIL EXPORTAÇÃO LTDA

LEONARDO PERES DA ROCHA E SILVA E

OUTRO(S)

MARCOS MASENELLO RESTREPO E OUTRO(S)

ALUIZIO A M D'ÁVILLA E ASSOCIADOS S/C LTDA

VERA LÚCIA LABES

EMENTA

Civil. Processo civil. Recurso especial. Ação de indenização. Contrato de

incorporação no modelo 'build to suit'. Construção de imóvel sob medida para

utilização e no interesse de terceiros pré-determinados. Contrato posterior de

empreitada. Obra que foge aos padrões determinados, de forma a ter sua

utilidade reduzida. Reparação dos danos pleiteada, em valores a serem

parcialmente estabelecidos em liquidação de sentença, de acordo com perícia

ainda a ser realizada. Culpa caracterizada pela má execução do serviço.

Condenação a reparar os gastos verificáveis para dar à obra a utilidade

desejada, assim como para indenizar os prejuízos sofridos pela limitação de

uso. Alegação de condicionalidade e de julgamento para além do pedido.

Honorários.

A inicial não tratou, especificamente, de valores a serem ressarcidos; nesse

ponto, o levantamento total dos prejuízos foi relegado à prova pericial, pois, ao

lado dos reparos já realizados, constatou-se a necessidade de novas obras. -

Porém, apesar de não ter havido menção a valores na inicial, a autora admitiu

43

que a perícia havia superestimado os custos das obras já realizadas em

memoriais apresentados antes da sentença. Em que pese ser bastante

peculiar a situação, e nos limites em que devolvida a matéria em recurso

especial, deve-se considerar tal conduta como sendo equivalente a uma

individuação tardia do pedido, que nem por ter sido postergada pode ser

desconsiderada. Nas circunstâncias, a referência a valores feita só no

memorial deve ser equiparada àquela que deveria ter constado na própria

inicial, tendo o efeito de limitar a condenação possível. Há, portanto,

julgamento 'ultra petita' quando o juiz considera o valor superior constatado

pelo perito, em desprezo à manifestação da própria parte interessada, ainda

que esta tenha sido praticada posteriormente à inicial. A solução, na hipótese,

encontra-se no simples afastamento do excesso, sendo totalmente descabida

a alegada obrigatoriedade de anulação de todo o processo - providência que

viria, inclusive, em desfavor das próprias partes. - Quanto às alegações de

condicionalidade, em recentes precedentes, a 3ª Turma tem entendido que,

em casos de dúvida a respeito do alcance e da precisão do dispositivo da

sentença, este não pode ser lido em total isolamento, como se não fosse

decorrência lógica do processo obrigatório de argumentação jurídica que o

precede. O suposto vício no dispositivo, na verdade, deixa de ter plausibilidade

quando a frase citada pela recorrente é traduzida com base na motivação do

ato judicial. Assim, a sentença, consignou-se a obrigatoriedade e de novas

reformas, muito embora não fosse possível, ainda, precisar quanto elas

custariam; em tal provimento não há qualquer vício, pois se trata-se de típico

caso no qual se fixa o 'an debeatur', mas relega-se à execução o 'quantum'. -

No modelo de construção 'build to suit', há um contrato inicial entre a

incorporadora e os terceiros que utilizarão efetivamente o bem. Na

presente hipótese, tal relação originária já previa a responsabilidade da

ora recorrente, que ficara incumbida de escolher o empreiteiro, por

eventual má prestação de serviços deste. A sentença, já reconhecendo o

dever de ressarcimento da incorporadora em face de terceiros que não

são parte neste processo - os locatários - condenou a ré nos mesmos

termos, aplicando assim uma espécie de cadeia de responsabilidades

44

contratuais. - Ainda nessa situação não há condicionalidade, pois se há

responsabilidade contratual - questão que não pode mais ser discutida - a

parte sobre a qual recai tal obrigação não é obrigada a ser demandada em

juízo para que se sinta no dever de cumpri-la. Portanto, o dever escalonado de

ressarcimento é certo; apenas a liquidação e a execução desta obrigação é

que podem estar condicionadas a evento futuro e incerto, que é o pagamento

dos prejuízos, por parte da incorporadora, aos locatários. Pontos definidos pelo

Tribunal de Justiça com base no exame das provas dos autos não podem ser

alterados em sede extraordinária, em face do óbice da Súmula nº 7/STJ. - A

constatação de que houve sucumbência recíproca, e não sucumbência mínima

como determinara a sentença, pode ter seus efeitos respeitados pela simples

redução, em metade, do valor inicialmente fixado a título de honorários, na

medida em que estes devem ser compensados nos termos da Súmula nº

306/STJ, passível de aplicação nesta instância caso ocorra, aqui, o

redimensionamento das verbas de sucumbência. Não haveria, portanto, efeito

prático na alteração do acórdão. Recurso especial parcialmente provido (grifo

nosso).

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da TERCEIRA

TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em parte

do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe provimento, nos termos do voto da

Sra Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Massami Uyeda e Ari Pargendler

votaram com a Sra.. Ministra Relatora. Impedido o Sr. Ministro Sidnei Beneti.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Massami Uyeda. Pela recorrente: Dra.

Márcia Guasti Almeida. Pelo 1º recorrido: Dr. Leonardo Rocha e Silva Brasília

(DF), 15 de abril de 008.(data do julgamento).

MINISTRA NANCY ANDRIGHI

Relatora

45

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

36ª Câmara de Direito Privado

Registro: 2013.0000533752

Embargos de Declaração nº 0113744-22.2013.8.26.0000/50000

RELATOR

EMBARGANTE

EMBARGADO

VOTO Nº 22.474

:

:

:

ARANTES THEODORO

DIACUI EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES

LTDA

ITAU UNIBANCO S/A MONDIAL DO BRASIL

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Embargos de Declaração nº

0113744-22.2013.8.26.0000/50000, da Comarca de São Paulo, em que é

embargante DIACUI EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA, é

embargado ITAU UNIBANCO S/A. ACORDAM, em 36ª Câmara de Direito

Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:

"Rejeitaram os embargos. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que

integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos.

Desembargadores PEDRO BACCARAT (Presidente) e RENATO RANGEL

DESINANO. São Paulo, 5 de setembro de 2013.

Arantes Theodoro

RELATOR - Assinatura Eletrônica

EMENTA

Embargos de declaração. Inocorrência do vício apontado pelo recorrente.

Embargos rejeitados. Cuida-se de embargos declaratórios opostos contra

acórdão que deu provimento a agravo de instrumento tirado de despacho que

fixou locativo provisório em autos de ação revisional de aluguel. O embargante

alega que ao dar provimento ao agravo o acórdão incorreu em erro. Assim, ele

46

diz que, contrariamente ao que constou do julgado, ao caso não se aplicava o

artigo 54-A da Lei 8.245/91, eis que o dispositivo diz respeito ao “buil to

suit”, isto é, construção destinada à locação. O recorrente sustenta que

aqui importava, então, o fato de ser nula a cláusula contratual que

impedia a revisão do valor do aluguel durante certo tempo, motivo pelo

qual pede seja alterado o resultado do agravo. É o relatório. De pronto se

registra que a figura contratual à qual alude o embargante não se

denomina “buil to suit”, mas “built to suit”, isto é, “construir para servir”.

Pois bem. Não corresponde ao que está no acórdão a assertiva de que os

julgadores deram provimento ao agravo por considerar presente no caso

concreto locação da modalidade regida pelo artigo 54-A da Lei 8.245/91. Com

efeito, no acórdão os julgadores apontaram o fato de haver no contrato

cláusula que textualmente vedava a revisão do valor do aluguel durante o

prazo da locação. Eles então asseveraram que, “à parte indagação acerca da

validade de tal cláusula, inclusive à vista do artigo 54-A da Lei 8.245/91”, não

se podia aqui dizer verossímil o direito alegado pelo autor, isto é, de alterar o

valor do aluguel antes de vencer o prazo do contrato. Isto é, os julgadores

expressamente anunciaram que não estavam levando em conta aquele

dispositivo legal, mas só os termos do próprio contrato. Não se identifica, pois,

vício a ser sanado, cabendo lembrar que tudo o mais que o recorrente ora

alega é impróprio nessa sede, eis que mal mascara o propósito de unicamente

obter modificação da questão julgada. Os embargos, por isso, ficam rejeitados.

(assinado digitalmente) ARANTES THEODORO - Relator

47

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO

5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça

Apelação Cível nº 0027271-22.2009.8.19.0209

4ª Vara Cível de Jacarepaguá

APELANTE

APELADO

JUIZ

RELATOR

:

:

:

:

NOVA REVIV ADM. ASS. E CORRETORA DE

SEGUROS LTDA..

ALFASETE SOCIEDADE LTDA.

Drª. RAPHAELA DE ALMEIDA SILVA

DESEMBARGADORA CRISTINA TEREZA GAULIA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os argumentos da apelação cível de referência,

em que são partes as acima indicadas, ACORDAM os Desembargadores da

Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por

__________________, em DAR PROVIMENTO ao recurso, nos termos do

voto do Relator. Rio de Janeiro, 09 / 09 /2014. Des. Cristina Tereza Gaulia

Relator TJRJ - 5ª CC Ap. Cív. nº 0027271-22.2009.8.19.0209

Des. Cristina Tereza Gaulia.

EMENTA

Apelação cível. Inexecução contratual. Perdas e danos. Insurge-se o autor

contra a improcedência dos pedidos de rescisão contratual c/c perdas e danos

ajuizado em face de empresa de engenharia que ofertara imóvel (quiosque)

em empreendimento comercial ainda em construção. Contrato atípico de

promessa de locação que, conquanto não contivesse data de entrega do

imóvel, fazia referência que esta seria oportunamente informada aos

interessados. Comunicação da inauguração descumprida em duas

oportunidades. Imóveis que foram oferecidos sem que o empreendedor tivesse

48

concluído os procedimentos administrativos necessários à concessão do

habite-se. Excessiva demora. Ausência de boa-fé objetiva e de probidade

contratual. Inteligência dos arts. 113 c/c 422 CC. Inexecução contratual.

Aplicação dos arts. 389, 395 e 940 CC. Perdas e danos que devem recompor

os prejuízos advindos da inadimplência contratual. Recurso a que se dá

provimento.

VOTO

A controvérsia está em definir se existe descumprimento contratual da apelada

que permita a rescisão contratual e, ultrapassado este ponto, em caso positivo,

se houve perdas e danos. As partes celebraram contrato de compromisso de

locação de área de 15 m2 de construção e 10 m2 para a colocação de mesas

e cadeiras, destinada à instalação de quiosque para o exercício de comércio

no ramo de corretora de seguros, financiamento e consórcio, dentro do

empreendimento denominado Rio Auto Shopping, acordo firmado em

04/09/2007. Quando da assinatura do contrato, o empreendimento ainda se

encontrava em fase de construção, não havendo no contrato cláusula

estabelecendo prazo para a entrega das unidades aos locatários, constando

no item 2.2, in verbis, a menção de que posse seria transferida 60 dias antes

da inauguração, sem contudo estabelecer quando esta se daria: “2.1 Este

contrato passa a produzir efeito a partir da presente data de assinatura, e o

prazo de locação será de 60 (sessenta) meses, a partir da entrega da ÁREA

para o(a) LOCATÁ-RIO(A), cujo ato será formalizado por correspondência em

até 30 dias antes da respectiva entrega.” “2.2 A posse indireta da ÁREA será

dada pela LOCADORA ao(à) LOCATÁRIO(A), livre e desembaraçada de

pessoas e coisas, para instalação do QUIOSQUE do(a) LOCATÁRIO(A), em

até 60 (sessenta) dias antes da data prevista para a inauguração para o

público do RIO AUTO SHOPPING, devendo o(a) LOCATÁRIO(A) também

iniciar suas atividades na mesma data da inauguração retro mencionada.”

Ocorre que, e tal fato é incontroverso, a apelada, em duas oportunidades,

notificou o apelante de que o empreendimento seria inaugurado. A primeira (fl.

65), em 05/10/2007, concedendo prazo de 60 dias para que o locatário fizesse

49

as obras de instalação e decoração; e a segunda (fl. 67), em 29/10/2008,

indicando que o empreendimento seria inaugurado em 18/12/2008, conclusão

esta que, em ambas as datas informadas, não chegou a acontecer. Houve

efetivamente embaraço na finalização do processo administrativo de

concessão do “habite-se”, junto ao Município do Rio do Janeiro, em razão dos

óbices registrais narrados às fls. 159/160, trecho a seguir transcrito: “A

Requerente adquiriu da antiga proprietária LETRA S/A — CREDITO

IMOBILIÁRIO, OS LOTES 2; 3; 4; 5; 6 e 7, do PAL 43.912, e mais o lote 2 do

PAL 46109.,situados na Av. Ayrton Senna, n°6.000, Jacarepaguá, Rio de

Janeiro.TJRJ - 5ª CC Ap. Cív. nº 0027271-22.2009.8.19.0209 Des. Cristina

Tereza Gaulia Ocorre que a proprietária Original LETRA S/A em função do

objetivo contratual e a natureza do empreendimento projetado, que era um

grupamento de edificações residenciais multifamiliares, obrigou-se junto ao

Município do Rio de Janeiro a realizar as obras de urbanização do trecho da

Avenida das Lagoas PAA 8997, corresponde a 320,18m, além da obrigação

legal da doação de um lote para o Município do Rio de Janeiro. Efetuada a

transferência dos lotes dos antigos proprietários para a empresa ALFASETE

SOCIEDADE LTDA., os atuais proprietários requerem e obtiveram

licenciamento junto ao Município do Rio de Janeiro para edificação comercial

destinada a shopping especializado em compra e venda de automóveis que já

se encontra construído. Resta claro, que a doação do lote pela primitiva

proprietária já foi devidamente incorporada ao patrimônio publico municipal da

Cidade da Rio de Janeiro. Diante do acima escrito, não pesa o gravame das

obrigações do art. 133 do Regulamento do Zoneamento aprovado pelo Decreto

322/76, tendo em vista que não foi construído no local conjunto residencial

algum, sendo a construção atual e autorizada, empreendimento comercial. Da

mesma forma, os lotes 5 e 7 do PAL 43912 que faziam frente para a Av. Das

Lagoas, quando necessária a urbanização, foram remembrados para o

restante do lote e desmembrados em 2 (dois) lotes com frente exclusiva para

Av. Ayrton Senna. Assim, em vista dos acessos aos lotes projetados ocorrer

exclusivamente pela Av. Ayrton Senna, não se torna necessária a implantação

da urbanização do trecho das Av. das Lagoas, conforme anteriormente

50

obrigado.” O “habite-se” só foi deferido em 22/10/2009, conforme certidão de fl.

238, perfazendo um lapso de cerca de dois anos, entre a assinatura do

contrato e a disponibilização do imóvel. Inicialmente, pontue-se que não existe

nulidade, eis que o ato jurídico, nos termos do art. 104 c/c 166 CC, só se

reputa nulo quando praticado por agente incapaz, quando ilícito o seu objeto,

não concretizada a forma prescrita em lei, ou se a lei taxativamente o reputar

nulo, hipóteses não aplicáveis ao presente caso. A relação jurídica que une

as partes é o contrato atípico de compromisso de locação, tendo a

apelada se comprometido a construir e entregar para locação imóvel,

onde o apelante iria instalar ponto de venda de seguros, financiamento e

consórcios, assumindo este a obrigação de pagar os respectivos

alugueres. Compulsando os autos verifica-se que o apelado ofereceu em

locação imóvel comercial em construção, sem constar no instrumento

contratual o prazo para entrega, omissão que foge à praxe do mercado

imobiliário e que impõe ao oblato dúvida em relação ao cumprimento de

obrigação essencial ao contrato, o que discrepa da conduta de boa-fé e

probidade esperada de todo o contratante, perfazendo clausulação deste

jaez, conduta abusiva, pois deixa um dos contratantes, ao sabor de

determinações unilaterais do outro. A respeito, confira-se o art. 122 parte

fnal do CC: “São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei,

à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se

incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o

sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.” Refira-se que um dos

maiores avanços observados na teoria geral dos contratos, trazidos pela nova

ordem civil, concerne à análise da necessidade de comportamentos de boa-fé

objetiva, ou seja, a boa-fé deixou de situar-se na psique do contratante, deixou

de ser subjetiva e passou a ser investigada objetivamente, consoante a

conduta ética e prudente esperada do bonus pater família. As dificuldades na

obtenção do “habite-se”, conforme se extrai de fl. 159/160, advém do fato de

ter a apelante erigido o seu empreendimento em terreno antes pertencente à

outra empresa de engenharia, que averbara junto às autoridades municipais a

construção de conjunto residencial, assumindo para tanto obrigações de

51

construção de equipamentos públicos. A demora no deferimento do “habite-

se”, portanto, diante do que se extrai da situação do imóvel, seria de se

esperar, não sendo crível que a apelada, atuante no segmento imobiliário, não

vislumbrasse que a legalização do empreendimento pudesse ter retardos,

evidenciando comportamento temerário e de pouca probidade, induzir no

futuro locatário a falsa expectativa de que teria a posse de imóvel em tempo

razoável. Conclui-se, portanto, que a apelada agiu em desrespeito ao

princípio da boa-fé objetiva, este que deve permear os contratos, previsto

no art. 422 NCC, e do qual decorre a obrigatória lealdade para com o parceiro

contratual, na fase précontratual e no curso da contratação, verbis: “Art. 422.

Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do

contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. A

cláusula contratual sem prazo, há de ser vista como potestativa pura, na forma

do art. 122 CC e, por conseguinte, nula. Registre-se que a violação da base

objetiva do contrato, advinda da quebra da boa-fé (deveres anexos), importa

na ampliação do espectro do inadimplemento contratual e possibilita à parte

lesada valer-se das perdas e danos e da exceção de contrato não cumprido.

Refira-se a respeito lição de Gustavo Tepedino: (...) amplia-se o suporte fático

do inadimplemento obrigacional, considerando-se violação ao contrato o

descumprimento de deveres laterais, a dar lugar não apenas à pretensão

ressarcitória, mas igualmente, àqueles outros remédios próprios ao

inadimplemento: a possibilidade de recusar a pretensão com base na exceção

de contrato não cumprido e, a possibilidade de resolver o contrato (CC, art.

475 e 476).”1 Noutro prisma, a apelante como acima exposto, conquanto tenha

deixado em aberto o prazo para a entrega do imóvel pronto, comprometeu-se

através de duas notificações dirigidas ao apelante, a entregar o imóvel,

descumprindo em ambas as oportunidades o compromisso (fls. 65 e 67).

O contrato prevê a obrigação de entrega do imóvel em prazo que se iniciaria a

partir do momento em que os pretensos locatários fossem notificados da data

da entrega (cláusula 2.1, fl. 28), restando, pois configurado, por mais este

motivo, o descumprimento contratual da apelada. A lei civil estatui que

descumprida a obrigação, responde o devedor pelas perdas e danos,

52

sendo o que dispõem os arts. 389 e 395 CC, verbis: “Não cumprida a

obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e

atualização monetária segundo índices oficiais regularmente

estabelecidos, e honorários de advogado.” “Responde o devedor pelos

prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores

monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários

de advogado.” As perdas e danos refletem o efetivo prejuízo advindo do

descumprimento contratual, na forma do art. 402 CC, verbis: “Ainda que a

inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os

prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem

prejuízo do disposto na lei processual.” In “Código Civil Interpretado”, editora

Renovar, 2006, p. 18. O dever de reparar o dano deve ser integral, na forma do

art. 944 CC, a saber: “A indenização mede-se pela extensão do dano.” A

propósito do princípio da reparação integral veja-se elucidativa lição de Carlos

Alberto Menezes Direito e Sérgio Cavalieri Filho, in verbis: “O fim da

responsabilidade civil é a restituição do lesado ao estado e que se encontraria

se não tivesse havido o dano. Indenizar significa tornar indene a vítima; reparar

todo o dano por ela sofrido. Por isso mede-se a indenização pela extensão do

dano, ou seja, há de corresponder a tudo aquilo que a vítima perdeu, ao que

razoavelmente deixou de ganhar e, ainda, ao dano moral.2” Aduz o apelante

que teve que pagar a quantia de R$10.000,00 a título de reserva de cessão de

direitos, R$ 7.784,30, relativo a despesas que teve com a legalização da nova

filial e R$ 1.500,00, a título de honorários contratuais de advogado,

requerendo, no total o ressarcimento de R$ 19.284,30. A prova dos autos

demonstra, através dos recibos apresentados às fls. 78/79, que o apelante

efetivamente pagou R$2.984,00, à título de despesas diversas relativas ao

serviço de legalização e R$ 4.800,00, divididos em três parcelas de

R$1.600,00 (fls. 80/82), à título de honorários de contador, ambas as despesas

totalizando R$ 7.784,00. Em relação aos valores pagos à apelada, a título de

reserva de cessão, os cheques nominais de fls. 84/88, a emissão de quatro

cheques: R$ 2.000,00 (fl. 84), R$ 2.000,00 (fl. 85), R$ 1.600,00 (fl. 86),

R$2.000,00 (fl. 87) e R$ 2.400,00 (fl 88), comprovam o aludido pagamento,

53

perfazendo R$ 10.000,00. Por fim, o pagamento dos honorários advocatícios

contratuais também restam comprovados, no valor de R$ 1.500,00, valor este

efetivamente recebido pelo advogado que representa os interesse da autora e

compatível com a complexidade da causa. 2 in “Comentários ao Novo Código

Civil”, Coordenador Sálvio de Figueiredo Teixeira, Editora Forense, p. 331/332.

Ressalte-se que a jurisprudência do STJ vem entendendo que tal verba pode

integrar os lucros cessantes. Refira-se precedente:

REsp 1027797 / MG - Ministra NANCY ANDRIGHI - TERCEIRA TURMA - DJe

23/02/2011 - DECTRAB vol. 201 p. 138 - REVJMG vol. 196 p. 333 - RIOBTP

vol. 263 p. 108 - DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.

PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 211/STJ. DISSÍDIO

JURISPRUDENCIAL. COTEJO ANALÍTICO E SIMILITUDE FÁTICA.

AUSÊNCIA. VIOLAÇÃO DA COISA JULGADA. RECLAMAÇÃO

TRABALHISTA. HONORÁRIOS CONVENCIONAIS. PERDAS E DANOS.

PRINCÍPIO DA RESTITUIÇÃO INTEGRAL. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO

CÓDIGO CIVIL. 1. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais

indicados como violados, não obstante a interposição de embargos de

declaração, impede o conhecimento do recurso especial. 2. O dissídio

jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analítico entre

acórdãos que versem sobre situações fáticas idênticas. 3. A quitação em

instrumentos de transação tem de ser interpretada restritivamente. 4. Os

honorários convencionais integram o valor devido a título de perdas e danos,

nos termos dos arts. 389, 395 e 404 do CC/02. 5. O pagamento dos honorários

extrajudiciais como parcela integrante das perdas e danos também é devido

pelo inadimplemento de obrigações trabalhistas, diante da incidência dos

princípios do acesso à justiça e da restituição integral dos danos e dos arts.

389, 395 e 404 do CC/02, que podem ser aplicados subsidiariamente no

âmbito dos contratos trabalhistas, nos termos do art. 8º, parágrafo único, da

CLT. 6. Recurso especial ao qual se nega provido.

Isto posto, voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao recurso, para

desconstituir a relação jurídica existente entre as partes, condenando a parte

apelada a pagar ao autor R$ 19.284,30, a título de perdas e danos, com

54

correção monetária a contar de cada desembolso, e juros moratórios a

contar da citação, mais, os ônus da sucumbência e honorários

advocatícios de 10% sobre o valor da condenação. Des. Cristina Tereza

Gaulia - Relator

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

26ª Câmara de Direito Privado

Processo: 207451/05

Agravo de Instrumento nº 1019061- 0/5

Comarca de São Paulo – 31ª Vara Cível

RELATOR

AGRAVANTE

AGRAVADO

VOTO Nº 12.070

:

:

:

DES. VIANNA COTRIM

GLOBAL REALTY S/A

COMSAT BRASIL LTDA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os desembargadores desta turma

julgadora da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade

com o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte integrante deste

julgado, nesta data, deram provimento ao recurso, por votação unânime.

Turma Julgadora da RELATOR o Juiz Presidente 26ª Câmara DES. VIANNA

COTRIM DES. FELIPE FERREIRA DES. ANDREATTA RIZZO Data do

julgamento: 29/05/06 DES/ VIANNA COTRIM Relator

EMENTA

1. Agravo de Instrumento - Cautelar inominada - Contrato de locação atípico -

Locativos destinados à amortização da compra - Recebimento direto dos

rendimentos em caso de inadimplemento - Possibilidade - Agravante titular do

imóvel e cessionária de seus rendimentos. 2. Concessão de liminar

Possibilidade - Fumus boni iurís e periculum in mora presentes - Interposição

de Recurso Especial - Ausência de óbice para a concessão - Agravo provido.

55

VOTO N° 12.070

Trata-se de agravo de instrumento tirado em medida cautelar inominada contra

decisão que negou a liminar visando o bloqueio de numerário da agravada.

Sustenta a recorrente, em síntese, que é cessionária de 90% de contrato

locativo de imóvel construído sob o regime built to suit cujo valor deveria ser

pago diretamente à cedente por força de escritura de compra e venda com

pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia em pagamento firmado entre a

recorrente e a Mercúrio Distribuidora de Título e Valores mobiliários, então

proprietária do imóvel; todavia, a agravada não vem pagando parte das

parcelas vencidas de sua obrigação, além da integralidade de outras, gerando

responsabilidades perante a alíenante do imóvel e terceiros investidores, e

risco aos respectivos patrimônios, de forma que pretende a liminar, com a

propositura de futura ação principal com o fito de evitar dano grave e de difícil

reparação à recorrente e aos demais envolvidos no investimento. Deferida a

liminar pelo então relator, o agravo foi processado regularmente, com traslado

de peças e contraminuta.

A decisão de fls. 293, ratificando a decisão do magistrado de 1° grau, revogou

em parte a liminar para limitar o bloqueio à verba necessária, mediante

depósito em conta judicial.

É o relatório. A questão dos autos deve ser analisada, no momento,

exclusivamente do ângulo processual da cautelar inominada, não cabendo a

esta altura aprofundamento em relação às demais questões do processo e

todos os envolvidos nas diversas operações que resultaram na construção de

determinado edifício, sob o regime buiit to suit, atualmente ocupado pela

agravada por força de contrato específico.

Mas importa ressaltar que a requerente da cautelar, por força da escritura de

venda e compra, com pacto adjeto de alienação fiduciária em garantia de

pagamento e outras avenças é titular do imóvel ali descrito no item 1.1 (fls.

94/95) e, bem assim, cessionária de seus rendimentos.

É certo que estes são destinados à amortização da compra (cf. cláusula 4 - Do

Mecanismo de Pagamento do Preço e da Cessão de Alugueis), fls. 95v., mas

56

não é menos exato que, na hipótese de inadimplência, ou mesmo pagamento

a menor, ficou a agravante obrigada, em relação ao seu credor, ao pagamento

integral ou da parcela faltante (item 4.2). Em conseqüência, preservado o

convencimento do douto magistrado, apesar da destinação da verba no caso

de regular adimplemento, não estava impedida a cessionária de buscar

proteção de seu eventual direito na hipótese contrária, daí porque tem-se por

equivocada a leitura isolada de cláusula contratual que impede o recebimento

direto do locativo.

Por outra, cabe consignar que é possível ao juiz, nos termos do art. 798 do

Código de Processo Civil, a concessão de medidas provisórias que julgar

adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do

julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.

São, pois, os requisitos habituais da cautelar atípica, consubstanciados no

fumus boni iuris e o periculum in mora, com o objetivo de assegurar, no futuro,

a eficiência e a utilidade do processo principal.

Na inicial da cautelar a agravante, conforme já salientado, justificou

razoavelmente o primeiro requisito, ao dizer que, por força dos contratos

firmados entre as partes responsabilizou-se pela quitação das parcelas

destinadas à amortização em caso de inadimplemento perfeitamente

admitido pela agravada e decorrente, em boa parte, consoante se extrai das

peças que instruíram o recurso, de ação revisional proposta pela agravada,

cujo recurso foi improvido por esta Câmara, expressamente cassada a liminar

anteriormente deferida.

O outro requisito também está evidenciado, com a possibilidade de perda do

imóvel por força do exercício dos direitos previstos na Lei n. 10.931 de

02/08/2004, face a existência de cláusula de alienação fiduciária em

garantia.

E a propósito cabe lembrar a lição de Humberto Theodoro Júnior no sentido de

que, no âmbito da ação cautelar, a prova não é tão rigorosa quanto nos demais

processos. A cognição é sumária e devem ser valorizadas as provas indiciarias

e circunstanciais. Mesmo na dúvida, é preferível ao juiz deferir a medida,

exigindo caução, do que denegá-la e causar, eventualmente, um dano

57

irreparável ao interesse da parte e do próprio Estado, no que se relaciona

ajusta composição da lide (Comentários ao C.P.C., vol. V, p. 89, Forense).

E assim, presentes os pressupostos legais, a liminar pretendida na cautelar

haveria de ser deferida, nos termos em que concedida nos termos do

despacho inicial deste recurso. Por outro lado, não era óbice para a sua

concessão a simples interposição de recurso especial em face do acórdão

antes mencionado, sem efeito suspensivo, menos ainda a discussão acerca da

forma de p pagamento das diferenças, própria do mérito, quando não da ação

revisional. Finalmente, não há motivo para a redução do valor agora em

depósito judicial dada sua natureza cautelar que abrange inclusive novos

débitos. Pelo exposto, por esses fundamentos, dou provimento ao agravo.

VÍANNA CÒTRIM RELATOR (grifo nosso)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Agravo de Instrumento nº 825.706 -SP (206/018962-7)

RELATOR

AGRAVANTE

ADVOGADO

AGRAVADO

ADVOGADO

AGRAVADO

ADVOGADO

:

:

:

:

:

:

:

MINSTRO NILSONAVES

COMSAT BRASIL LTDA

GLÁUCIA CALEGARI EOUTROS

INPAR EMPRENDIMENTOS PATRIMONIAS LTDA

ELISA JUNQUEIRA FIGUEIREDO EOUTROS

GLOBAL REALTY S/A

ROSELI FEREIRA RODRIGUES E OUTROS

DECISÃO

Estou de acordo com a decisão que, na origem, inadmitiu o especial.

Preliminarmente, não houve alegada ofensa ao art. 53 do Cód. de Proc. Civil,

tendo Tribunal de origem se pronunciado de forma suficiente sobre a matéria

dos autos. No mais, quanto ao mérito, também sem razão a recorrente. Vê-se

que o colegiado analisou os elementos de prova dos autos e cláusulas

58

contratuais para decidir, de um lado, pela impossibilidade de reduzir,

imediatamente, os alugueis, de outro, pela manutenção do segredo de justiça.

Confiram-se os seguintes trechos do acórdão recorrido:

"Conforme se vê dos termos do contrato firmado entre os litigantes ou

sucessores, trata-se, em princípio, de avença complexa que abrangeu, além da

locação em si, outros fatores, no denominado conceito built to suit, tal como se

vê primeiramente do item a dos considerandos contidos no instrumento (fls. 7)

onde se disse que se cuida de empreendimento construído de acordo com a

necessidade específica do locatário, e sob sua encomenda, para o

desenvolvimento de suas atividades e, mais adiante, no item 18. (fls 93),

quando se afirmou que a presente locação é ajustada em caráter 'intuito

personae', uma vez que a Locadora Inpar, através da interveniente

Construtora, executará a construção da edificação, em regime Built to Suit, isto

é, especialmente para atender às necessidades de uso da locatária Comsat e

segundo suas especificações, visando aspectos de funcionalidade

desenvolvimento específico de suas atividades. Vai daí que, por esses

fatores que se acham embutidos no contrato, não se mostra possível, em

princípio, a imediata redução do locativo a pretenso valor de mercado

quando não se pode estabelecer, desde logo, se o parâmetro adotado

pelo perito contratado pela agravante observou os requisitos apontados,

mesmo porque há de se levar em conta que a matéria exige exame mais

aprofundado, ao longo da instrução processual, não sendo razoável a

respectiva discussão final em sede de simples agravo de instrumento

irado contra limnar não acolhida pelo juízo nos moldes pretendidos pela

recorrente. ................. Por último, não se mostrou desarrazoado deferimento

do processamento em segredo de justiça, em face das alegações da

existência, no feito principal, de informações pertencentes a terceiros." Assim,

par mudar tal entendimento, com quer a recorrente, necessário seria o

reexame vedado pelas Súmulas 5 e 7.

Confirmando a decisão de fls. 184/186, nego provimento ao agravo. Publique-

se. Brasília, 08 de fverio de 207. Minstro Nilson Naves Relator (grifo nosso)

59

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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61

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 5

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 9

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I – O Contrato 14

1.1 – A origem do contrato 14

1.2 – A função social do contrato 15

1.3 – A Inobservância á Função Social do Contrato 20

CAPÍTULO II – O Contrato Built to Suit 23

2.1 – A origem e o conceito do contrato Built to Suit 23

2.2 – A denúncia antecipada do contrato de locação e a ação

revisional de aluguel 25

2.3 – A importância do contrato Built to Suit 26

CAPÍTULO III – A função social do contrato Built to Suit 30

3.1 – A função social do contrato e os benefícios trazidos ao

locatário 32

3.2 – A função social do contrato e os benefícios trazidos ao

locador 34

3.3 – Os possíveis conflitos decorrentes do contrato Built to

Suit 35

CONCLUSÃO 38

ANEXOS 42

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 59

ÍNDICE 61

62