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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais Projeto A VEZ DO MESTRE A DISTÂNCIA
ARTE TERAPIA EM EDUCAÇÃO
NÁDIA MARIA BOABAID
Cuiabá-MT 2006
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NADIA MARIA BOABAID
ARTE TERAPIA EM EDUCAÇÃO
Monografia apresentada a Universidade Candido Mendes como parte dos requisitos de conclusão do curso de Especialização em Arte Terapia em Educação, sob a orientação da Profª Fabiane Muniz.
Cuiabá-MT 2006
DEDICATÓRIA
Dedico ao ser Criador e criativo que existe em cada ser do Universo; Dedico à todos que se e em se buscando usam a sua criatividade para curar-se e em se curando, curam a outros. Dedico ainda à todos que no processo de criação soltem a criança que somos e ajudam a outros a encontrar a criança interior de cada indivíduo.
AGRADECIMENTO Agradeço ao Ser Supremo Criador de todos e tudo.
..."a música acompanha cada homem desde antes de seu nascimento até o momento em que morre [ ...]; é utilizada como elemento de expressão individual e coletiva e se insere em quase todas as atividades do homem." (Barcellos, 1992)
RESUMO
A Arteterapia possui recursos artísticos para que as pessoas possam
obter uma melhor compreensão de si mesmo, utilizando-se este como uma
fonte de libertação emocional, interagindo espírito, alma e corpo, revitalizando
as suas próprias habilidades e possibilidades em uma nova motivação para a
vida e as relações afetivas e profissionais. As diversas linguagens podem ser
adequadas para este fim, seja a literatura, o teatro, a musica, a pintura, a
dança e desta forma favorecer o verdadeiro ser humano oculto em cada um de
nós. O Cantar, dançar, sentir, pensar, são formas, tendo ainda como recurso
as cantigas e brincadeiras-de-roda no favorecimento para o despertar das
linguagens pertinentes aos sentidos existentes em cada um.
METODOLOGIA
Segundo Gil (1991) pesquisa bibliográfica é aquela “... desenvolvida a
partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos” . Mas ela também inclui outras formas de publicação, tais como
artigos de jornais e revistas dirigidos ao público em geral. No caso da pesquisa
jurídica, é importante também o estudo de documentos como leis, repertórios
de jurisprudência, sentenças, contratos, anais legislativos, pareceres etc.,
constituindo uma vertente específica da pesquisa bibliográfica que podemos
chamar de documental.
Desta forma, a metodologia empregada no presente trabalho será a da
pesquisa bibliográfica.
De acordo com GIL (1999), LAKATOS & MARCONI (1993) tendo como
referência a fundamentação na dialética proposta por Hegel, na qual as
contradições se transcendem dando origem a novas contradições que passam
a requerer solução. Este é um método de interpretação dinâmica e totalizante
da realidade. Considera que os fatos não podem ser considerados fora de um
contexto social, político, econômico.
SUMARIO Resumo 06 Metodologia 07 Introdução 09 Capítulo I A Arte Terapia, Um Recurso Eficaz 11 1.1 Breve Histórico do Surgimento da Arte Terapia 11 1.2 Conceito e Utilização 14 1.3 O Profissional da Arte Terapia 17 1.4 As Atividades Desenvolvidas 18 1.4.1 O Artesanato como Arte Terapia 21 1.4.2 A Pintura como Arte Terapia 22 1.4.3 A Música como Arte Terapia 23 1.4.4 O Desenho como Arte Terapia 24 1.4.5 A Modelagem como Arte Terapia 24 1.5 Benefícios da Terapia pela Arte 25 Capítulo II A Musicoterapia 26 2.1 Conceito 26 2.2 O Profissional que Trabalha com a Musicoterapia 27 2.3 A Musicoterapia como Ciência 30 2.3.1 A Musicoterapia como Recurso Terapêutico 31 2.4 A Musicoterapia e a Sociedade 33 2.4.1 Musicoterapia entre os Membros da Família 34 2.4.2 Musicoterapia na Escola 34 2.4.3 Musicoterapia na Empresa 35 Capítulo III A Musicoterapia no Redescobrimento do Ser Criança 37 3.1 A Musicoterapia e a Criança 38 3.1.1 A Musicoterapia e as Cantigas de Roda 38 3.2 A Depressão e a Musicoterapia 41 Considerações Finais 43 Referências Bibliográficas 47
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é demonstrar que para o “(re)descobrimento”
da criança que existe em cada pessoa, independentemente da idade
cronológica, é uma tarefa possível através da arte-terapia, verificando para
tanto, quais os entraves que mais freqüentemente ocorrem nesse processo.
Com os avanços e conturbações que a sociedade vive, faz-se
importante podermos parar e analisarmos a nossa vida e a consciência de nós
mesmos e daqueles que vivem ao nosso redor, revendo nas atitudes, rever
padrões e valores, procurando encontrar saídas para melhor integração.
A arte-terapia é um recurso que tem como base à elaboração estética
a serviço da educação e da saúde, sendo guiada pela percepção do arte-
terapeuta diante do sujeito.
A abordagem psicológica denominada arte-terapia é a que utiliza
essencialmente, as técnicas expressivas verbais e não verbais e os recursos
artísticos com finalidade terapêutica. A atividade criativa aliada ao trabalho de
compreensão intelectual e emocional, facilita o processo evolutivo da
personalidade como um todo.
Técnicas de relaxamento e dinâmicas são utilizados no sentido que
estes inferem diretamente no emocional e no relacionamento das pessoas com
seus pares e na percepção de si.
O objetivo principal da arteterapia é oportunizar a todas as crianças os
benefícios e a alegria proporcionada pelos recursos artísticos. A arteterapia é
uma terapia onde se usam técnicas expressivas, ou seja, a expressão artística.
É uma técnica eficaz que promove o autoconhecimento, estimula o processo
criativo, resgata a auto-estima, amplia as percepções que a pessoa tem do
mundo e conseqüentemente há mudanças de atitudes.
A arte é um instante do sentir. A pessoa mostra de maneira prazerosa
os seus conteúdos emocionais sem o desgaste do processo terapêutico
tradicional.
Conhecendo e explorando os recursos artísticos, o educador estará
propiciando aos seus alunos novas experiências de autoconhecimento,
descoberta de talentos e auto-estima elevada.
Acentua-se a realização pessoal através de atividades de expressão
artística, apelando para a imaginação, a espontaneidade, a expressão de
sentimentos; dá-se ênfase à integração de todas as formas de arte - artes
plásticas movimento, música, drama, - como modo de assegurar o
desenvolvimento e experiência pessoal.
A pintura, o desenho e toda a expressão plástica, bem como a música,
a dança, a expressão corporal e dramática formam um instrumento valioso
para o indivíduo organizar sua ordem interna e ao mesmo tempo reconstruir a
realidade.
A arte é a mais antiga forma de comunicação do ser humano e toda sua
beleza está juntamente nesta sua capacidade de aproximar pessoas e atuar
como instrumento de integração e mudanças pessoais e sociais.
Rever crenças e paradigmas, através da arte e do processo criador é
uma das principais tarefas do arte-terapeuta, um facilitador do aprendizado
simbólico e da educação emocional.
Arte é a capacidade que os indivíduos tem de representar
simbolicamente suas experiências e fantasias. É a capacidade de expressar de
forma verbal e não verbal o seu interior, sua realidade psíquica, sem
julgamentos, censuras ou medos. Toda criança ri, brinca, canta, desenha,
pinta. Crianças não precisam palavras para mostrar seu estado de espírito.
A arte atua de maneira diferente em cada ser humano, porém não são
só as obras terminadas que interessam na terapia, nem a sua qualidade
estética, é na atividade criadora, nas cores, sons, formas que traz a superfície
o que passa e acontece no universo interior.
CAPÍTULO I
ARTE TERAPIA, UM RECURSO EFICAZ
A arte terapia traz ações culturais para diferentes populações, tendo a
produção individual somada à expressão humana, como uma forma de
comunicação de transmitir idéias através da sensibilidade artística.
Ciornai, (1994) afirma que: “A arte provê a possibilidade de dar forma a
esta complexidade que é nossa intimidade, sem as exigências da linearidade
causa-temporal cartesiana que a lógica nos traz. Ao dar forma, podemos dar
sentido às nossas experiências, significando e resignificando nossas vivências,
ampliando e construindo nossa consciência de nós mesmos na relação com o
mundo.”
Assim sendo, pode-se aliar a arte com a terapia, estendendo-se até a
educação, possibilitando que o mundo do indivíduo cresça e o seu mundo se
amplie, favorecendo a uma maior integração entre as pessoas.
1.1 Breve Histórico do Surgimento da Arte Terapia
A origem da terapia artística vem do trabalho conjunto que a Dra. Ita
Wegmann (1876-1943) desenvolveu com Rudolf Steiner (1861-1925), no qual a
pintura era às vezes, prescrita como parte do tratamento médico.
Em 1925 quando a médica Dra. Margarethe Hauschka (1896-1980) foi
pela primeira vez ao Instituto Clínico-Terapêutico de Arlesheim, Suiça, para
estudar Euritmia Curativa, encontrou-se com duas artistas alemãs, Sofia Bauer
e Maria Kleiner, que praticavam a pintura com os pacientes. Nesse mesmo ano
e até 1927, ela pode trabalhar com pintura e cerâmica com pacientes da clínica
do Dr. Husemann, em Gunterstal, Alemanha, e nos dois anos seguintes, a
pedido da Dra. Wegmann, foi para uma clínica filial da de Arlesheim, em
Lugano (Suiça), com a incumbência de cuidar terapêutica e culturalmente de
um número limitado de pacientes. Com essa experiência, teve a oportunidade
de desenvolver o elemento artístico de várias maneiras.
De volta à Clínica de Arlesheim, em 1929, paralelamente ao seu trabalho
médico, foi responsável pelo ensino de arte nos cursos anuais de enfermagem
e medicina antroposóficas por doze anos consecutivos, até que a 2a. guerra
colocou um fim temporário a essa atividade.
Em 1940 foi para a Áustria, onde durante 22 anos trabalhou e deu
cursos no país e no exterior. Por meio dessa experiência, construiu as bases
práticas e teóricas da terapia artística para, em 1962, fundar a primeira escola
de terapia artística, em Bad Boll, na Alemanha. Mais tarde surgiram outras
escolas que também deram contribuições próprias ao desenvolvimento dessa
nova terapia.
Na década de 40, nos Estados Unidos consolidou-se o que hoje é
conhecido como Arte-terapia, pelas mãos de duas irmãs, até hoje celebradas
como precursoras: Florence Cane e Margareth Naumburg. Ambas
sistematizaram significativas metodologias de trabalho nos campos da
psicoterapia e da pedagogia, enfatizando a importância da expressão artística.
Antes disso, no entanto, desde o final do século XIX, já se estudava e
valorizava a relação da expressão artística com os processos psicológicos do
indivíduo nos campos da psiquiatria, e posteriormente no início do século XX,
na psicanálise por Freud. Na década de 20, Jung passa a fazer uso da
linguagem não-verbal – imagens e símbolos, expressos plasticamente – que
emergiam do inconsciente através dos sonhos, como parte integrante de sua
abordagem verbal de terapia.
No Brasil, a terapia Artística surgiu graças ao impulso dado por Ada
Jens (1921-1994), primeiro por meio de sua prática na Clínica Tobias, S.Paulo,
e depois pela criação do curso de Terapia Artística.
A Ada Jens, que era enfermeira e fisioterapeuta, fez a formação em
Terapia Artística no ano de 1969 em Bad Boll e teve como mestra a própria
Dra. Margarethe Hauschka. De volta ao Brasil, ela foi responsável pela Terapia
Artística na Clínica Tobias por vinte anos.
Em 1986, junto à SBMA (Sociedade Brasileira de Medicina
Antroposófica) e com o apoio da ABT (Associação Beneficiente Tobias), a D.
Ada iniciou, com entusiasmo constante, o primeiro curso de formação de
terapeutas artísticos do Brasil, que teve como sede, até 1992, o Centro Paulus
de Estudos Goetheanísticos, em Parelheiros, SP. A partir de 1993 e até 1996
esse ensino foi sendo feito em São Paulo. Atualmente, há duas escolas de
Terapia Artística, a Terarte – Associação de Ensino de Terapia Artística em
São Paulo e a Associação Sagres em Florianópolis.
Em 1996 foi fundada a AURORA - Associação Brasileira dos Terapeutas
Artísticos Antroposóficos com o objetivo de contribuir para o aprofundamento e
divulgação da terapia artística, respaldar o profissional da área, promover troca
de experiências, cursos e palestras. bem como representar as atividades da
terapia artística em todo o território nacional.
Osório Cesar nos anos 20 desenvolve importantes estudos sobre a arte
dos internos do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, em SP, tendo realizado
inúmeras exposições dos trabalhos artísticos daqueles, e se destacado como o
pioneiro na análise de sua expressão psicopatológica. Na década de 40, Nise
da Silveira – outra pioneira – inaugura no Centro Psiquiátrico do Engenho de
Dentro, no Rio de Janeiro uma nova utilização da arte, agora como instrumento
facilitador da comunicação entre terapeuta e paciente, e subseqüentemente,
incorporando a função de re-inclusão social do doente, através da pintura.
1.2 Conceito e Utilização
Arteterapia é o termo que designa a utilização de recursos artísticos em
contextos terapêuticos. A Arte-terapia, que se define como um instrumento
terapêutico não-verbal de auto-análise, leva o indivíduo a elaborar reflexões
acerca de sua existência através da expressão artística
Esta é uma definição ampla, pois pressupõe que o processo do fazer
artístico tem o potencial de cura quando o cliente é acompanhado pelo
arteterapeuta experiente, que com ele constrói uma relação que facilita a
ampliação da consciência e do autoconhecimento, possibilitando mudanças. É
um campo de interface com especificidade própria, pois não se trata de simples
“fusão” de conhecimentos de arte e de psicologia.
Isso significa que não basta ser psicólogo e “gostar de arte” ou ser
artista arte-educador e “gostar de trabalhar com pessoas com dificuldades
especiais”.
Segundo Ciornai (2004) “a criatividade e as atividades artísticas podem
ser facilitadores e catalizadores do processo de resgate da qualidade de vida”.
Assim a Arte-Terapia seria um caminho para que o indivíduo descubra
possibilidades de expressão para, figurar e reconfigurar, através de técnicas e
materiais artísticos, suas dificuldades de relacionamento com o outro e com o
mundo.
A Arteterapia atende a qualquer pessoa que tenha problemas
emocionais ou sociológicos ou queira saber mais sobre si própria,
especialmente se acha difícil exprimir-se por palavras.
Arte terapia consiste na utilização da arte como forma de expressão,
consciente e inconsciente, do sujeito. Através da Arte Terapia a subjetividade
do sujeito se manifesta, possibilitando fazer pensáveis os conteúdos
trabalhados.
É especialmente recomendado em grupo para pessoas com dificuldades
no relacionamento com os outros ou que sofram de problemas, como
alcoolismo, anorexia e bulimia, dependência de drogas, deficiências físicas ou
mentais que interferem na capacidade de comunicação.
Muitas vezes elas conseguem exprimir medos e necessidades que estão
tão profundamente ocultos que a pessoa normalmente nem tem consciência
deles. Dar-lhes uma forma visual, com tintas, barro ou qualquer outro meio
artístico, pode ser a primeira fase no processo de cura, pois ajuda a pessoa a
reconhecer seus problemas e a redescobrir sua capacidade criativa.
A professora Santo (2006) ressalta que a utilização de recursos
artísticos para auxiliar o desenvolvimento de conteúdos escolares específicos
vem se expandindo cada vez mais, com o foco do trabalho pedagógico na
aprendizagem do aluno. Os cursos de formação de professores procuram
enfatizar atividades didáticas que privilegiem a ação do aluno e, nesse sentido,
atividades artísticas são excelentes recursos, uma vez que a arte vem
ocupando significativo espaço na formação humana, desde o início das
civilizações até a atualidade.
As atividades de arte terapia estimulam a desinibição, o
autoconhecimento, a criatividade, levando os participantes a uma sensação de
integração com o mundo que instiga à resolução de conflitos pessoais, à
melhoria do relacionamento social e desenvolvimento harmônico da
personalidade.
Finalmente, a arte terapia pode ser utilizada como elo de interação
entre os vários campos do conhecimento, colaborando sobremaneira na
construção da interdisciplinaridade no âmbito da escola, elaborando a
comunicação entre as possibilidades e limites próprios da ciência e a
expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios
gerados pelo mundo atual com o mais remoto passado, enfim promovendo o
desenvolvimento do potencial humano através de situações que favoreçam a
leitura do mundo de maneira ampla, rica e profunda.
Nossos sentimentos e emoções, pensamentos e esperanças, sonhos e
desejos podem se revelar com muito mais facilidade através de imagens do
que através de palavras para diversas pessoas, pois cada um de nós tem uma
modalidade de aprendizagem. Santo (2006) ressalta: “a modalidade de
aprendizagem é como um idioma que cada um utiliza para entender os outros e
fazer-se entender por eles”. E essas imagens serão interpretadas juntamente
com o terapeuta, que auxilia o sujeito nesse processo de autoconhecimento e
mobilização de recursos internos.
Assim, a Arte terapia lança mão de recursos artísticos em contextos
terapêuticos (de tratamento) ou profiláticos, de prevenção de questões
diversas, que variam desde estresse e depressão até inibição e dificuldades de
aprendizagem.
No texto Arteterapia, uma abordagem terapêutica ressalta que:
“A arteterapia propicia a utilização e transformação dos vários materiais, numa produção simbólica. As técnicas expressivas tem o poder de ampliar a elaboração simbólica. E a partir disso aumentar a compreensão dos significados emocionais contidos no símbolo. O símbolo tem a função de integrar e revelar aquilo que está oculto, fazendo com que, ao entrar em contato com seus níveis mais profundos, o indivíduo alcance um maior desenvolvimento”. Valladares & Novato (2001)
Na terapia artística aprende-se a observar, sentir, agir e pensar de modo
mais consciente e diferente do que antes. No entusiasmo pela natureza, pelo
belo, pelo ritmo e pela harmonia a pessoa sente-se novamente "inteira".
Toda atividade artística pode levar a um caminho de aprendizado e auto
-desenvolvimento. Mas, a arteterapia é diferente da arte em seus princípios, no
que diz respeito à atitude interior, métodos e propósitos. O caminho artístico
quer expressar algo, sejam idéias, sentimentos ou estilo do artista. O caminho
terapêutico tem a intenção de transformar cada dificuldade em exercício,
possibilitando assim, um processo de mudança.
1.3 O Profissional da Arte Terapia
O arte terapeuta trabalha com o sujeito individualmente, ou com grupos,
desenvolvendo práticas, dinâmicas, vivências que valorizam a arte em todas as
suas manifestações: pintura, escultura, música, desenho, teatro, poesia, entre
outros.
Ao realizar-se uma atividade artística, não só interfere-se na realidade,
como também desenvolve-se competências pessoais que aprimoram a
performance, o desempenho da pessoa, o que estabelecerá formas de
comunicação entre o real e o imaginário, entre o pragmático e o sensível,
transformando o ato criativo em expressão produtiva.
Dessa forma, as pessoas aprendem a construir espaços de autoria,
reconhecem-se como autores e desfrutam o prazer de criar, valorizando a
invenção de coisas originais e não a mera repetição estereotipada,
acrescentando detalhes específicos, comprovadores de que o criar nos faz
humanos e nos leva a sair da lógica dual: melhor ou pior. O sujeito
artista/artesão aprende a relativizar; a perceber sua obra com diferentes
matizes e cada uma com sua beleza única.
O arte-terapeuta tem o papel de contribuir para que arteterapia seja
uma prática terapêutica que trabalhe com a interseção de vários saberes, como
educação, saúde, arte e ciência, buscando resgatar a dimensão intergral do ser
humano, resgatando a promoção, a preservação e a expansão da saúde.
Desta forma, a arteterapia canalizara o trabalho para reestruturação e
reorganização mental do indivíduo, sendo seu foco direcionado mais para os
processos individuais, para as emoções, questões e dificuldades de cada
pessoa, cuja ênfase está na subjetividade.
1.4 As Atividades Desenvolvidas
As atividades desenvolvidas no processo de Arte Terapia permitem
trabalhar, entre outras, a auto-imagem, a percepção da transformação, a
superação de obstáculos, a estimulação da desinibição, que conduzem a uma
sensação de integração com o mundo, instigando à resolução de conflitos
pessoais. A Arte Terapia destina-se a todas as pessoas, desde a mais tenra
idade até as idades bem avançadas.
Conseqüentemente, ocorre um aperfeiçoamento na forma de
comunicação do sujeito, consigo mesmo e com os grupos com que interage:
família, escola, lazer incentivando o desenvolvimento harmônico da
personalidade; a construção de um ambiente saudável, com espaços de
autoria que permitem ressituar-se diante do passado. O ato criativo se faz
presente em todas as formas de se produzir a arte, com a necessidade de
produzir uma obra pessoal, característica.
Winnicott (1975) nos diz: "...onde o brincar não é possível, o trabalho
efetuado pelo terapeuta é dirigido então no sentido de trazer o paciente de um
estado em que não é capaz de brincar para um estado em que o é". As
pessoas que procuram este trabalho devem estar conscientes de que não se
trata de uma aula, não há imposição de conduta e nem necessidade de
aprender uma técnica. É apenas um espaço onde o seu ritmo é respeitado e
proporciona o desenvolvimento das potencialidades que tornam cada pessoa
um ser absolutamente singular.
Portanto, para Winnicott (1975) a Arte Terapia tem preocupação com o
indivíduo, que escolhe o que irá realizar. Para tanto, este espaço oferece
múltiplos materiais de artes plásticas, abrangendo inúmeras possibilidades de
expressão. Às vezes, há dificuldade de escolher e de "brincar". Então , utiliza-
se da reeleitura de uma obra de arte ou de alguma ilustração de revista.
A arteterapia trabalha com: lápis de cera, tinta guache, argila, papel
canção, telas virgens, tinta acrílica, tinta óleo, mosaico e outros. A
comunicação verbal é menor que a gestual, por isso que se torna necessário
conhecer o significado das cores e das formas e em alguns casos dos sons.
Todo ser humano tem um quadro vivo e simbólico dentro de si, que é
composto de todas as suas experiências de vida, então se ele pinta uma
paisagem: mostrará cores, clima, luz, sombra, rios vales e montanhas, sendo
um todo de sentimentos e atitudes. Cabe ao terapeuta interpretar com o cliente
a sua obra, se for necessário usar outras técnicas para mudança de atitudes,
conscientizar e desbloquear conteúdos psíquicos traumáticos, elaborar uma
nova realidade ou preocupar-se com a mesma.
A Arte-terapia trabalha muito ligada a biografia do indivíduo, uma
doença, um divórcio, uma demissão, um acidente, uma crise econômica, uma
guerra e esses acontecimentos serão relatados por meio de cores, formas,
sons, ritmos, poemas, etc.
A terapia Artística possibilita uma transformação onde o paciente é o
agente que segue e dá continuidade a um determinado processo que lhe traz
harmonia. Dá forma onde há pouca estrutura, dissolve onde há rigidez, dá
clareza onde tudo é vago e traz fantasia onde a mente está endurecida.
O paciente enfrenta limites, supera dificuldades, aprende a adaptar-se
ao material que usa, aceita as falhas e tende a desenvolver autoconfiança e
auto-estima.
A terapia artística tem metas claras. O resultado estético, porém, não é o
objetivo; a importância está no processo.
A Associação Brasileira dos Terapeutas Artísticos ressalta que a terapia
artística pode ser aplicada a todos os casos de doença ou desarmonia, sendo
que em cada situação será utilizado um meio específico adequado - pintura,
modelagem, desenho. Além disso, os exercícios propostos devem ter
significado próprio, dirigidos a uma determinada situação.
Segundo a Associação qualquer atividade artística pode levar a um
caminho de aprendizado e auto-desenvolvimento. A terapia artística, porém, é
muito diferente da prática artística pura, no que diz respeito à atitude interior,
métodos e propósitos. O caminho terapêutico tem a intenção de transformar
cada dificuldade em exercícios terapêuticos que possibilitem o processo de
mudança.
A terapia artística possibilita uma transformação onde o paciente é o
agente de um determinado processo que lhe traz harmonia. Dá forma onde há
pouca estrutura, dissolve onde há rigidez, dá clareza onde tudo é vago e traz
fantasia onde a mente está endurecida.
O paciente enfrenta limites, supera dificuldades aprende a adaptar-se ao
material que usa, aceita as falhas e tende a desenvolver autoconfiança e auto-
estima. A terapia artística tem determinação, mas, o objetivo não é o resultado
em si mesmo. A importância está no processo.
A arte-terapia baseia-se no pressuposto de que as artes podem ter um
papel igualmente importante quando integradas no processo de reabilitação ou
crescimento pessoal, do ponto de vista da saúde mental. E, finalmente, as
descobertas feitas por arte-terapeutas acerca do potencial terapêutico das
atividades criativas e de expressão artística vêm seguramente contribuir para o
ensino artístico na medida em que realçam o valor do processo de criação
como atividade lúdica, a importância da relação professor-aluno, que se reflete
na produção artística em si, e a contribuição de ambos os aspectos para o
desenvolvimento equilibrado do indivíduo como pessoa e como artista.
1.4.1 – O Artesanato como Arte-Terapia
No mundo contemporâneo, Marcolino (2006) apresenta para o mundo o
inconsciente. Mostra que há, em cada pessoa, um mundo interno, que muitas
vezes permanece adormecido por diversas questões. Nesse mundo estaria a
chave para a resolução de muitas doenças e distúrbios humanos. Só há um
problema: como adentrar no obscuro inconsciente das pessoas.
Assim, o artesanato pode ser entendido como oportunidade para a
pessoa se expressar e descobrir as próprias aptidões; oportunidade de
autoconhecimento e valorização das manifestações artísticas.
Para a autora com o artesanato, a pessoa desenvolve habilidades com
as mãos e, principalmente, com o cérebro, dando lugar à criatividade através
de diversos materiais, técnicas e procedimentos.
Desta forma, a pessoa ira criar, aproximando idéias e materialidade,
dando forma, vida à sua idéia exercitando desta maneira a mente, favorecendo
o desenvolvimento e prevenindo a saúda da memória, principalmente no caso
de indivíduos da melhor idade, além e claro de relacionar-se com diversas
pessoas que conheceu e passou a ter afinidade, interesses comuns,
contribuindo para o bom humor e a sociabilizacão.
Associado a tudo isso, poderá ainda encontrar no artesanato uma fonte
de renda, já que o artesão por seu trabalho manual tem grande aceitação e
admiração na sociedade, principalmente nos dias atuais, onde as pessoas não
possuem tempo para dedicar-se as coisas simples, sem falar na necessidade
de desenvolvimento das habilidades mínimas que são incentivadas neste tipo
de trabalho.
Santo (2006) ressalta que o trabalho manual necessita de concentração,
reflexão e introspecção, o que tem contribuído de forma decisiva para que as
pessoas que o praticam fiquem mais calmas, atentas, com os olhos focados
em sua produção, acompanhando criteriosamente o resultado de cada passo
realizado. Durante esse processo sentem-se importantes, capazes e
amadurecem, convivendo melhor consigo mesmas e com o grupo.
A utilização de recursos artísticos (pincéis, cores, papéis, argila, cola,
figuras, desenhos, recortes, ...) tem como finalidade a mais pura expressão do
verdadeiro self, não se preocupando com a estética, e sim com o conteúdo
pessoal implícito em cada criação e explícito como resultado final.
De acordo com escritos freudianos, as imagens escapam com mais
facilidade do superego do que as palavras, alojando-se no inconsciente e por
este motivo o indivíduo expressa-se melhor de forma não verbal. A
necessidade da comunicação simbólica origina-se deste pressuposto, como
forma de auto-conhecimento no tratamento terapêutico.
1.4.2 – A Pintura como Arte Terapia
Na pintura, indicada, por exemplo, para problemas como depressão e
síndrome do pânico, trabalha-se o lado emocional, harmonizando e
equilibrando os sentimentos. A técnica do desenho desenvolve a esfera
cognitiva e a capacidade de abstração, ordenando os pensamentos. Já a
modelagem em argila e a escultura em pedra-sabão ou madeira permitem a
estimulação tátil, trabalhando a musculatura, a estruturação postural e a
capacidade de planejar e concretizar, despertando o entusiasmo, o interesse e
a vontade de viver.
Para Campos (2006), podemos dizer que, de acordo com a terapia
artística, as atividades artísticas do desenho e do canto estão relacionadas
com a cabeça e o sistema neuro-sensorial; ao estado de consciência desperto;
têm como qualidade o pensar e como atitude interna a verdade.
A autora lembra ainda que a pintura, relacionada ao tórax e ao sistema
rítmico, ao estado de semi-consciência (sonhar), tem como qualidade o sentir e
como atitude interna a beleza. Já a modelagem relaciona-se aos membros –
sistema metabólico-motor; ao estado de inconsciência (dormir), tem como
qualidade o querer/agir e como atitude interna a bondade. A pintura e bastante
benéfica para pessoas de natureza introvertida, pois desperta o interesse
amoroso pelo mundo que as cerca. Nosso “apetite psíquico” e nossos vínculos
com as pessoas, objetos e fatos dependem da nossa capacidade de criar
imagens deles.
Este fato pode ser exemplificado no caso de crianças que não puderam
viver emocionalmente o mundo das imagens dos contos de fadas e que mais
tarde atravessam períodos de depressão, solidão e vazio na vida.
1.4.3 – A Música como Arte Terapia
A música é sentida como vinda das alturas, um vibrar celeste caloroso
em nós que nos atravessa e afeta nossa vida afetiva. Podemos senti-la no
espaço e no tempo, por isso a música tem um caráter de continuidade,
imortabilidade. Esse caráter interior da música se assemelha às leis do Eu, que
regem o sistema nervoso e a cabeça.
A música será terapêutica nos casos em que a organização do Eu for
incapaz de transmitir seus impulsos aos demais corpos. Quando o Eu não
consegue permear bem o astral (nossa vida sensorial), por exemplo, temos
casos de dispersão, irritação motora, tremores, escleroses, distúrbios do sono
etc.
A música ajuda porque é um elemento com que todo mundo tem
contato, a cada momento, nos mais diversos momentos do dia-a-dia, através
dos tempos, cada um sempre teve, e ainda tem, a música em sua vida.
1.4.4 – O Desenho como Arte Terapia
O desenho em preto e branco também será terapêutico nos casos de
pouca força do Eu. Quando se trabalha o branco sobre uma superfície preta
ou o preto sobre a superfície branca é necessário um esforço e uma “presença
de espírito” enormes para conseguir harmonia e beleza na composição.
Ao contrário das cores, tão sedutoras e belas por si, um exercício
artístico em preto e branco exige a atuação constante da organização do Eu.
As hachuras do desenho em preto e branco (inclinadas de cima para baixo)
também são usadas quando se pretende estimular a presença no mundo, pois
o sentido descendente é o sentido da encarnação.
Valadares & Carvalho (1999) lembram que:
“O desenho como modalidade da arteterapia, objetiva a forma, a precisão, o desenvolvimento da atenção, da concentração, da coordenação viso-motora e espacial. Também concretiza alguns pensamentos e exercita a memória. O desenho está relacionado ao movimento e ao reconhecimento do objeto, tendo a função ordenadora”.
1.4.5 – A Modelagem como Arte Terapia
A escultura ou modelagem é ainda mais profunda e uma possibilidade
só do adulto, já que na infância todas as forças plásticas estão envolvidas na
construção física do corpo. Existem crianças prodígio na música, mas não na
pintura ou na escultura.
É uma atividade espacial, terrena, que trabalha concretamente com a
metamorfose da forma em profunda ligação como o físico, o inerte. A escultura
só é viva quando consegue arrancar a matéria física da gravidade, vencendo
sua rigidez e plasmando-a com leis do ritmo, movimento, leveza, ou seja,
erguendo o morto à vida.
A modelagem será terapêutica nos casos em que a ligação etérico-física
não for sadia, como na formação pouco nítida dos pensamentos, na falta de
concentração.
1.5 Benefícios da Terapia pela Arte
Segundo Tourinho (1999) a arte-terapia é mais um canal, uma saída
para beneficiar a todos e principalmente aquela pessoa que necessita da
recuperação e reabilitação no processo de promoção do seu redescobrimento
das suas necessidades, contribuindo para a recuperação da saúde, tanto física
quanto mental.
As artes plásticas são espaços onde as pessoas desenvolvem, através
de desenhos e pinturas, suas percepções, estímulos visuais e visões de
mundo, procurando com estes a promoção da auto-estima e a melhoria de
suas qualidades de vida funcionando como um modo de produção do pensar
criativo, enquanto possibilidade de reencontrar suas vidas.
Segundo ainda Tourinho (1999) arte-terapia através da arte tem alguns
benefícios como:
1 - Melhora a comunicação consigo mesmo e com o outro;
2 - O cliente se torna independente do terapeuta pois é ativo, cria nas sessões;
3 - O tempo do tratamento é menor pois a transferência é reduzida, a atividade
diminui o valor desta;
4 - Favorece a busca da harmonia e do equilíbrio da vida;
5 - Facilita o diagnóstico propiciando leitura de material pré e inconsciente
através de imagens pictórias, sonoras, táteis e sinestéricas.
6 - Aumenta a espontaneidade e a criatividade positivamente orientadas.
CAPITULO II
A MUSICOTERAPIA
O vínculo entre os sons e o ser humano proporciona a base de trabalho
para a Musicoterapia. O trabalho da musicoterapia é o desenvolvimento no
campo das enfermidades psíquicas, muitas das quais se caracterizam por
retração, inibições, repressão ou negação de sentimentos, ou dissociações dos
mesmos, no campo da educação especial.
Assim sendo a Musicoterapia procura promover um crescimento
emocional, afetivo, relacional e social da pessoa, através da utilização de sons,
movimentos e expressão corporal como meio de comunicação e expressão.
2.1 Conceito
A Federação Mundial de Musicoterapia define como sendo a utilização
da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia), por um
musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, em um processo
destinado a facilitar e promover comunicação, relacionamento, aprendizado,
mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos
relevantes, a fim de atender às necessidades físicas, mentais, sociais e
cognitivas.
A Musicoterapia busca desenvolver potenciais e/ou restaurar funções
do indivíduo para que ele ou ela alcance uma melhor organização intra e/ou
interpessoal e, conseqüentemente, uma melhor qualidade de vida, através da
prevenção, reabilitação ou tratamento.
2.2 O Profissional que Trabalha com a Musicoterapia
O musicoterapeuta é um profissional que deve ter conhecimentos
médicos, psicológicos, pedagógicos e musicais, mas não é um médico, nem
um psicólogo, nem um músico, é sim um profissional sensível para descobrir
junto ao seu “aluno” o melhor caminho para se chegar a sua auto
compreensão, tendo este uma formação específica, devendo ser antes de tudo
um terapeuta, com grande conhecimento teórico e prático da utilização do
complexo mundo sonoro, musical e do movimento.
Ele não deve ter o pré-juízo musical estético que tem o músico formado,
pois isso o impedirá de aceitar com inteira liberdade os ritmos "não-estéticos"
de um determinado paciente ou o "desafinado" de outro, etc.
Ele não deve ter o pré-juízo interpretativo do psicólogo, que se formou
numa concepção de verbalização dos fenômenos inconscientes, com uma
tendência à interpretação verbal e superintelectualização dos mecanismos
psíquicos, pois isso dificultará lidar dentro da concepção do pensamento não
verbal.
Madaleno & Braga (2006) lembram que:
“O olhar clínico do psicólogo estará voltado para reações corporais e verbais do participante. O olhar clínico do musicoterapeuta estará na produção musical e de como esta produção musical pode ser modificada, transformada ou percebida pelo participante (paciente). De maneira tal que o participante (paciente) tenha noção de seu possível problema apresentado na/pela música e que pode ser desenvolvido através de outras vivências musicais, tendo na experiência musical a sua mudança, dependendo de sua necessidade, e não apenas a mudança com a discussão verbal, como trabalha o psicólogo”.
Ele não deve ser um médico porque este tem que indicar a aplicação
deste auxiliar da Medicina e avaliar seus resultados no contexto geral do
processo recuperatório do paciente.
Desta forma, não é preciso ser exímio concertista para estudar
Musicoterapia. Mas noções de teoria musical e dos sons que regem o universo
são essenciais para aproveitar bem o curso e se tornar um profissional de
qualidade. Se souber tocar um instrumento, melhor.
Na Grécia Antiga, a música era usada para eliminar fobias e angústias,
mas sua prática como terapia é recente no Brasil. Começou nos anos 60, no
Conservatório Musical do Rio de Janeiro, uma década depois de aparecer nos
Estados Unidos e na Europa.
Esses países continuam à frente no mundo da Musicoterapia. O uso de
técnicas musicais para diminuir o estresse de funcionários e,
conseqüentemente, melhorar o desempenho, é bastante comum nos países
desenvolvidos, enquanto no Brasil só agora as empresas começam a descobrir
esses profissionais.
Segundo Lopes & Carvalho (1999) a música é capaz de nos remeter a
situações, pessoas ou épocas e evocar lembranças. Há uma identificação
pessoal com algum elemento desta música que faz dela um recurso importante
para a expressão e a comunicação. Esta qualidade torna a música elemento
fundamental, dentro do processo terapêutico, influenciando na relação, quando
o paciente compartilha de situações, pessoas e épocas que recordou, e na
comunicação, quando dá significado, identificando como prazer ou desprazer, e
abrindo canais de comunicação.
Eles dominam técnicas capazes de controlar o ritmo respiratório e
cardíaco, estimular a memória e a percepção. Podem fazer tanto trabalhos
preventivos – no caso de idosos e gestantes que queiram relaxar ou melhorar a
organização mental – como de reabilitação, campo onde estão as melhores
chances. Nas instituições públicas esse profissional tem sido requisitado para
tratar da recuperação de dependentes de álcool e de drogas, estimular e
integrar crianças de rua.
A Musicoterapia também pode ser usada como tratamento de saúde em
portadores de deficiências como autismo e síndrome de Down – esses
pacientes melhoram sua qualidade de vida quando submetidos à terapia da
música. Outra aplicação de sucesso tem sido a recuperação de pacientes em
UTIs, apesar dessa atuação ainda ser rara no Brasil. É possível, até, aplicar a
ciência como auxiliar na área educacional, voltada para crianças ou jovens com
dificuldade de aprendizagem, concentração ou barreiras na escrita ou leitura.
O texto “Quando a dança é um grande remédio” (2007) ressalta que as
indicações da musicoterapia são variadas. Ela tanto pode ajudar crianças com
deficiência mental quanto pacientes com problemas motores, aqueles que
tenham tido derrame, os portadores de doenças mentais, como o psicótico, ou
ainda pessoas com depressão,estressadas ou tensas.
Tem servido também para cuidar de aidéticos e indivíduos com câncer.
Não há restrição de idade: desde bebês com menos de um ano até pessoas
bem idosas podem ser beneficiadas.
"Quanto mais cedo se trabalha o paciente, mais se criam condições para
que ele evolua". Mesmo crianças menores de oito meses, ou aquelas
consideradas "de risco" costumam ter progressos com a musicoterapia.
É fundamental ter em mente a importância da música: como ela não é
verbal, permite àqueles que não podem, não conseguem, ou não querem
comunica-se verbalmente, um outro tipo de comunicação com seus pares,
através de som, ritmo e melodias.
Em geral, esse profissional trabalha em equipes multidisciplinares
integradas por psicólogos, médicos, fisioterapeutas e assistentes sociais. Por
isso, é interessante montar uma clínica com profissionais de diversas áreas.
Para ganhar clientela, a dica é visitar colégios especiais para deficientes ou
que utilizem métodos pedagógicos alternativos.
2.3 A Musicoterapia como Ciência
Ramos (2006) ressalta que a musicoterapia é considerada uma ciência
paramédica que estuda a relação do homem com o som/música. "A influência
fisiológica e psicológica do som no cérebro traz inúmeros benefícios à pessoa".
Ela ressalta ainda que a Musicoterapia é a ciência que utiliza sons,
ritmos e melodias como ferramentas de apoio no tratamento de pessoas com
problemas psicológicos, emocionais ou deficiência mental e física.
Ao contrário de uma sessão de psicoterapia verbal tradicional, a sessão
de musicoterapia inclui atividades como a improvisação musical, a audição de
peças gravadas e a composição ou reprodução de canções. A produção e
audição musicais requerem treino específico da parte do terapeuta, que
participa ativamente num processo mútuo de interação através da música.
Estas atividades podem ser complementadas por discussão verbal,
dependendo das capacidades de expressão verbal do cliente. O aspecto
fundamental é a introdução da atividade musical como experiência de interação
entre as pessoas envolvidas e não como material trazido para a sessão para
ser interpretado do ponto de vista psicológico pelo terapeuta.
Ao contrário da aula de formação musical ou de treino de instrumento, o
objetivo da atividade musical em terapia é do foro psicológico e terapêutico,
apesar de os aspectos técnicos de produção musical estarem sempre
presentes: a atividade musical é portanto utilizada como forma de expressão ou
experiência interativa onde o aperfeiçoamento das capacidades musicais do
cliente toma um papel secundário.
2.3.1 – A Musicoterapia como Recurso Terapêutico
Além da utilização da música como processo terapêutico, há correntes
de estudiosos no assunto que voltam seus interesses para a ação curativa de
determinado som.
É a utilização da música, ou de seus elementos (melodia, som, ritmo e
harmonia), por um musicoterapeuta qualificado, com o objetivo de promover
mudanças positivas físicas, mentais, sociais e cognitivas em uma pessoa, ou
grupo de pessoas, com problemas de saúde ou de comportamento.
Prade (2006) lembra que:
“O efeito terapêutico da música, porém, vai muito além do aspecto tranqüilizante de uma sonata de Bach ou uma sinfonia de Beethoven. Estudos garantem que a música potencializa a reabilitação de pacientes em casos de doenças degenerativas do cérebro, como Parkinson e Alzheimer, melhora a coordenação motora de deficientes físicos e induz a liberação de certas substâncias, como dopamina e serotonina, que proporcionam sensação de prazer e bem-estar”.
O musicoterapeuta avalia o estado emocional, físico, comportamental,
comunicativo e habilidade cognitiva através de respostas dadas pela música.
As seções, que podem ser individuais, ou em grupo, dependendo das
necessidades do paciente, abrangem improvisação musical, audição,
composição de músicas, discussão, imaginação, performance e aprendizado
através da música.
Para o trabalho da musicoterapia, paciente não precisa ter nenhuma
habilidade musical para se beneficiar do tratamento e não existe um estilo
particular de música que é mais terapêutico que os outros.
O campo de atuação da musicoterapia é muito grande, podendo
beneficiar desde crianças à idosos, sendo que trabalhos clínicos são
realizados em várias áreas, como: Deficiência Mental (retardo, síndromes
genéticas), Deficiência Física (Paralisia, Cerebral, Amputações, Distrofia
Muscular Progressiva), Deficiência Sensorial (surdez, cegueira); nas doenças
mentais (área psiquiátrica, autismo infantil, problemas neurológicos); nas áreas
social (com crianças e adolescentes carentes ou de rua); em geriatria; em
distúrbios infantis de aprendizagem e comportamento e com gestantes, na
estimulação precoce.
A musicoterapia só pode ser aplicada por um musicoterapeuta, que
desenvolve um processo musicoterápico específico para cada paciente ou
grupo de pacientes.
Este processo se trata da interação paciente e terapeuta, podendo e
devendo ser usado por pessoas que não possuem nenhum tipo de problema,
com o intuito de se beneficiarem do prazer da música, como estímulo, para a
redução do stress, para o relaxamento.
Musicoterapia é a utilização estruturada da música como processo
criativo, para desenvolver e manter o máximo potencial humano. É uma
atividade planejada, que tem como objetivo a humanização do estilo de vida
contemporâneo, através das muitas facetas da experiência musical, para
proteger e recuperar a saúde e melhorar as relações sociais e ambientais.
Promove habilidades nas esferas da comunicação e interação, no
funcionamento e desenvolvimento cognitivo, afetivo, sensorial e motor.
Como terapia humanista, refere-se ao espaço em que o
desenvolvimento pessoal e transpessoal são facilitados pelo som e pela
música, utilizando uma abordagem que enfatiza o respeito, a aceitação, a
empatia e a harmonia.
O modelo holístico tem uma inter-relação implícita entre o som e o ser
humano e seus componentes físico-vital, mental-emocional e espiritual.
Através dos elementos musicais como ritmo, melodia e harmonia
desenvolvidos pela participação "ativa" (cantar, compor, tocar instrumentos), e,
pela participação "passiva" (ouvir, perceber e interpretar), a musicoterapia
fortalece e acorda no nível da criação, a consciência individual e social.
Criar música possibilita a auto-expressão em diversos níveis . No nível
mais primitivo ela nos permite expressar nossos corpos através do som.
Quando cantamos ou tocamos instrumentos, liberamos energia interna para o
mundo externo, fazemos nosso corpo soar.
Já no nível mais sutil damos forma aos nossos impulsos, vocalizamos o
não dizível ou as idéias não pronunciáveis e, destilamos nossas emoções em
formas sonoras descritivas.
Ao ouvirmos música nos expressamos através do compositor e do
executante da peça. Este tipo de auto-expressão é muito importante, quando
temos dificuldade de dar forma adequada aos nossos sentimentos e idéias por
rejeição ou bloqueio, que podem ser liberados dissolvidos ou transformados,
através da identificação com a música ouvida.
2.4 A Musicoterapia e a Sociedade
A musicoterapia mostra-se um tratamento eficaz na elaboração e
resolução de conflitos internos e emoções, trazendo-os à tona, podendo então
ser expressos e reativados por meio da música.
Nas clientelas, as pessoas mais simples, menos capacitadas intelectual
e culturalmente, têm um menor grau de crítica à exposição e ao ridículo. São
em geral mais espontâneas e têm menos dificuldades de interagir com os
companheiros do seu grupo e o terapeuta. Não ficam bloqueadas e as
atividades fluem com facilidade, sendo os objetivos terapêuticos mais
rapidamente alcançados.
2.4.1 Musicoterapia entre os Membros da Família
O relacionamento entre pais, filhos, cônjuges e irmãos, é a base para o
desenvolvimento individual de cada membro. Da mesma maneira, o
desenvolvimento individual de cada um, interfere diretamente no
relacionamento familiar refletindo na atuação, na comunicação e interação
social. Do mesmo modo a família está sujeita a influências externas e culturais.
A situação pessoal e profissional dos pais pode gerar uma dinâmica
familiar positiva, ou uma sobrecarga no relacionamento, se houver falta de
conteúdo e objetivos, dificuldade entre gerações e de identificação de seus
devidos papéis. Cansaço, falta de compreensão, acúmulo de culpas, falta de
responsabilidade e tempo, contribuem para o surgimento de problemas no
relacionamento familiar.
A musicoterapia, tem o objetivo de ajudar cada um a criar um espaço
que possibilite despertar novos interesses, compartilhar novos momentos, e
promover as mudanças necessárias em direção a uma harmonização.
Dependendo da situação a musicoterapia familiar poderá ser
acompanhada de uma médico ou psicoterapeuta.
2.4.2 Musicoterapia na Escola
Na educação, a musicoterapia pode auxiliar no desenvolvimento
psicopedagógico e em dinâmica de grupo em sala de aula. Uma escola tem a
missão de educar o ser humano, isto é, formá-lo promovendo o seu
desenvolvimento, e informá-lo promovendo seu aprendizado e sua relação com
o mundo.
Os profissionais mediantes essa responsabilidade, precisam ter abertura
e conhecimento do mundo em que vivem, absorvendo o que de positivo dele
emana e aprendendo com as influências negativas.
Para vencer essa tarefa será necessário desenvolver criatividade e auto-
conhecimento. Além de um trabalho sobre si mesmo, este auto-conhecimento
inclui os vários estágios de desenvolvimento com os quais o educador lida na
escola.
Uma escola é além disso, um centro de sociabilização, de
relacionamentos e de interação profissional e humana. A prática social dos
professores transmite-se à escola como um todo, envolvendo colegas, alunos e
pais, terminando por influenciar toda a base administrativa que a mantém.
Uma experiência musicoterápica entre funcionários e ou professores,
pode fortalecer e aprofundar a capacidade profissional dos mesmos, trazer
conhecimento mútuo e levar à percepção das necessidades dos outros. Essa
experiência poderá desenvolver a iniciativa e a criatividade, possibilitar
abertura, interesse e integração, transformando aborrecimentos, intolerâncias e
falta de confiança, com o objetivo de adquirir novas perspectivas de trabalho e
relacionamento.
2.4.3 Musicoterapia na Empresa
Com a velocidade em que o mundo globalizado vivencia as suas
conquistas e necessidades, a empresa de hoje corre o serio perigo de
desenvolver em sua equipa a gradativa desumanização do trabalho, sendo que
as visões imediatistas e consumistas do mercado, levam empresas a
conscientização da necessidade de buscar instrumentos que possam promover
desenvolvimento profissional e humano aos seus funcionários, possibilitando
mais entusiasmo, melhor habilitação, mais organização e maior eficiência nos
níveis pessoal, social e profissional.
Através da prática musicoterápica aprende-se a trabalhar em grupo, a
ouvir atentamente as intenções e os sentimentos dos outros, criando
momentos de auto-expressão e comunicação, desenvolvendo iniciativas e
impulsionando a coragem para quebrar padrões, criando um processo que
favoreça a autenticidade e qualidade nas relações.
CAPITULO III
A MUSICOTERAPIA NO REDESCOBRIMENTO DO SER CRIANÇA
Andréa Cunha (2006) no prefácio do livro dos jogos e das brincadeiras
para todas as idades ressalta que:
“é brincando que exercitamos habilidades essenciais à saúde de nossas relações. Ao exercitar nos jogos a capacidade de lidar com os sentimentos que eles nos despertam e com os desafios, buscamos competência para administrar situações cotidianas com eficácia”.
Lembra a autora ainda que lidar com sentimentos aflitivos, mantendo
entusiasmo e perseverança diante dos desafios, aumenta nossa capacidade de
empatia e envolvimento com nossos semelhantes. Assim é que se estabelece
uma sociedade de direitos individuais e de relações independentes. Brincar e
jogar são exercícios prazerosos da administração de nossa realidade, onde
adquirimos autoconsciência, estabelecemos regras básicas de convivência e
mudamos a nós mesmos e a sociedade.
Trata-se do exercício de habilidades necessárias ao domínio e ao bom
uso de nossa inteligência emocional. Nossa capacidade de encontrar formas
de encaminhar o que queremos pode ser exercitada numa situação lúdica,
aprendendo a compreender e a atuar perante as forças que operam no meio
em que vivemos. A arte de adquirir competência na administração estratégica,
segura e confiante de nosso viver, nos leva a celebrar a vida com amor e
entusiasmo.
O desenvolvimento pleno da pessoa para a vida passa por sua
capacidade de lidar com seus sentimentos e elaborar suas experiências em
busca de competência individual e em equipe.
Cada vez mais utilizamos o lúdico para colocar em cena o que as
pessoas querem aprender sobre si mesmas e sobre suas relações, por se
tratar de uma atividade que estimula o pensamento estratégico e coloca em
cena os sentimentos agregados aos comportamentos que temos na nossa
atuação cotidiana.
Adultos de todas as idades poderão relembrar brincadeiras e até mesmo
redescobrir o encontre entre amigos, celebrando com o jogo uma convivência
saudável, relaxante. E ainda poderão exercitar o raciocínio lógico, a
elaboração de suas emoções, despertando a criatividade, tão fundamental à
construção de soluções para a complexidade de coisas que administramos em
nosso cotidiano.
3.1 A Musicoterapia e a Criança
Toda criança está imersa em um processo cultural, que é formado não
só pela sua família, mas também por todo o grupo social no qual ela cresce.
Nesse sentido, a forma como a música influencia o desenvolvimento de
uma criança é muito diferente da forma como isso se dá com uma outra
criança, seja em qualquer classe social, seja uma criança de classe média alta,
que freqüenta ambientes nos quais a música é praticada de forma intensa,
apresenta características bem diversas de uma criança que se vê vítima da
exploração do trabalho infantil.
3.1.1 – A Musicoterapia e as Cantigas de Roda
Michahelles (1998) desenvolveu a sua monografia de musicoterapia e as
cantigas de roda, onde demonstrou que “a musicoterapia através das cantigas
de roda são um grande momento de interação da musica e os seus agentes”.
Nesta ela ressalta ainda que “quando se canta, se vivencia uma cantiga de
roda, esta na verdade entrando em contato com o seu intimo, com o seu
desejo, consigo mesmo”.
Ela lembra que como o próprio nome já diz - Cantigas e Brincadeiras-de-
roda - tratam-se de cantigas para se brincar, e, pode-se dizer também, de
cantigas que nasceram e ou se desenvolveram em contextos do universo
lúdico infantil. Assim, como não podia deixar de ser, estas marcas
transparecem em seus parâmetros musicais -ritmo, melodia, harmonia.
As Brincadeiras-de-roda, apesar de estarem um tanto quanto deixadas
de lado por conta da evolução tecnológica que traz consigo uma concorrência
muito grande com os brinquedos atrativos, estas ainda expressam uma cultura
popular, seja nas ruas, nas praças, nos quintais ou quando em pequenos
espaços, nos parques ao ar livre, que quando cantadas pelas crianças, em sua
simplicidade de melodias, ritmos e palavras, guardam séculos de sabedoria e
a riqueza condensada do imaginário popular .
E, apesar de todo avanço tecnológico e dos brinquedos de hoje, o teor
valoroso intrínseco às Cantigas e Brincadeiras-de-roda não se perderam,
sendo estas ainda, símbolos fecundadores de toda a vida subjetiva, e
continuam funcionando como pretextos maravilhosos para a criança
experimentar o seu corpo, a linguagem, e para descobrir-se a si própria ao
mesmo tempo se revelando ao outro e inserindo-se no convívio social.
Em sua obra, Jung (1989) já chamava atenção para a enorme
importância das manifestações do folclore tradicional, apontando para a “perda
irreparável” que sofrem aqueles que descartam ou desprezam as suas
imagens.
Melo (1985) nos lembra, que do ponto de vista pedagógico, estes jogos
infantis são considerados completos: brincando de roda a criança exercita
naturalmente o seu corpo, desenvolve o raciocínio e a memória, estimula o
gosto pelo canto. Poesia, música e dança unem-se em uma síntese de
elementos imprescindíveis a educação global.
Vale lembrar que, a atividade lúdica constitui o aspecto mais autêntico
do comportamento da criança (Boulch, apud. Lyra). Ao brincar, a criança está
correspondendo a necessidades vitais suas, dando vazão a impulsos que a
permitem desenvolver-se como ser pleno e afirmar a sua existência singular. É
um movimento que faz parte dos seus esforços de compreender o mundo, e
que a torna capaz de lidar com problemas até complexos e que muitas vezes
tem dificuldade de compreender.
Quando se trabalha com cantigas de rodas, oportuniza-se que os
participantes, seja de qualquer idade, vivam ou revivam as suas experiências
infantis, surgindo através destas lembranças, imagens e emoções de uma
outra época e que, naquele momento, tornam-se de alguma forma presentes
novamente.
A despeito de serem estas cantigas e brincadeiras pertencentes, por
definição, ao universo lúdico-musical infantil, elas são também, com freqüência,
espontaneamente trazidas por adolescentes, adultos e idosos. Também são
utilizadas como recurso interventivo pelos musicoterapeutas a partir de outros
conteúdos apresentados pelos pacientes, de modo a irem ao encontro de
determinados objetivos estabelecidos durante o processo musicoterápico.
Muitas cantigas apresentam em sua dinâmica convites - implícitos ou
explícitos - para que os participantes se abracem, onde o contato corporal e a
troca de afetos - tão necessários ao pleno desenvolvimento infantil - ocorrem
de forma natural e prazerosa dentro da segurança dos limites das próprias
brincadeiras.
Ao escolher uma cantiga no grupo de brincadeiras, a criança estaria
fazendo-o de maneira condizente à sua situação interna naquele momento,
buscando uma comunicação com os seus conteúdos mais profundos, assim
como uma maneira de elaborá-los.
As músicas folclóricas, as brincadeiras de roda e jogos cantados em
geral se referem às próprias lembranças de infância. Os acalantos e canções
de ninar, relacionam-se às vivências dos papéis nos quais atuam como pais,
mães, avós, avôs, bisavós, bisavôs.
3.2 A Depressão e a Musicoterapia
Atentando para dentro de nós mesmos, descobriremos através da nossa
respiração, dos batimentos cardíacos, dos nossos sons viscerais, uma
verdadeira "orquestra" interior onde cada um com seu corpo sonoro através
dos seus mais variados ritmos internos, poderá detectar algum mal
funcionamento físico ou mental, pois esses instrumentos corporais que muitos
mal conhecem, nos possibilitarão o reconhecimento de disfunções.
Ruud (1990) salienta que a saúde é um fenômeno que se estende além
do indivíduo para abranger a sociedade e a cultura. Como saúde individual, ela
não poderia ser ter a higidez do corpo, mente e espírito em uma sociedade e
em uma cultura que não são saudáveis. Por outro lado, uma sociedade e uma
cultura não podem ser saudáveis se os indivíduos em seu interior não são
hígidos de corpo, mente e espírito.
Bruscia (2000) afirma que a saúde de cada indivíduo, a sociedade e
cultura estão completamente vinculadas ao meio ambiente. Assim, a saúde
abrange e depende do sistema ecológico completo, desde o corpo, a mente e o
espírito com suas interações no indivíduo até os contextos mais amplos das
relações do indivíduo com a sociedade, a cultura e o meio ambiente.
A memória, reativada pela música, faz a senescência ser encarada
como tempo de lembrar. Momento em que o idoso pode reconstruir e reviver
passagens significativas de sua mocidade e resgatar sua identidade.
Lembrar, muitas vezes, não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar
com as imagens e idéias de hoje as experiências do passado. Memória não é
só sonho, é trabalho. Esse trabalho que emerge através do fazer musical, além
de prazeroso, nos leva a elaboração consciente de material inconsciente que
vem à tona, impulsionado pela música.
Conforme nos ressalta Bosi (1987):
“as possíveis releituras durante a vida são como um "abrir de baús" de que nos falam tantos poetas e escritores. Uma apreensão do tempo dependente da ação passada e da presente e um tempo que fosse abstrato e a-social nunca poderia abarcar lembranças e não constituiria a natureza humana."
Através do rememorar, podemos voltar ao tempo passado e tornar
presentes fatos possíveis que, reelaborados, nos sirvam de introspecção, que
nos levem a outras saídas.
Essas saídas são oportunidades e esclarecimentos que passamos a
conhecer. Cada qual deve fazer suas próprias opções e o passo fundamental
para a conquista da liberdade interior é optar por si mesmo. A liberdade não
chega automaticamente: é conquistada, e não é de uma só vez. Precisa ser
conseguida dia-a-dia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Partindo do princípio, de que muitas vezes não se consegue falar de
conflitos pessoais, a Arteterapia possui recursos artísticos para que sejam
projetados e analisados, todos esses processos, obtendo uma melhor
compreensão de si mesmo, e podendo ser trabalhado no intuito de uma
libertação emocional.
A Arte-terapia vai atuar na inter-relação do espírito, alma e corpo. A
alma ou aprendizado vivencial, amadurece melhorando as qualidades do
pensar, sentir e querer(ou agir). A Arte-terapia permite restabelecer as forças
vitais necessárias para sustentar as mudanças de vida que o cliente tenha que
realizar. Sae-se revigorado, cheio de otimismo e com uma nova motivação para
a vida enriquecendo as relações afetivas e profissionais.
A Arte-terapia precisa de terapeutas que conseguem interpretar as
metáforas os símbolos contidos em cada expressão conhecer que cada
momento da vida de uma pessoa.
As linguagens plásticas, poéticas e musicais dentre outras, podem ser
mais adequadas à expressão e elaboração do que é apenas vislumbrado, ou
seja complexidade implica na apreensão simultânea de vários aspectos da
realidade. Esta é a qualidade do que ocorre na intimidade psíquica; um mundo
de constantes percepções e sensações, pensamentos, fantasias, sonhos e
visões, sem a ordenação moral da comunicação verbal do cotidiano.
A arte, seja na literatura, no teatro, na musica, na pintura, na dança –
pode mostrar o irreal que é convencionalmente eleito como real, o absurdo, o
vazio, a nulidade, o jogo que todos jogam. E, desta forma, facetas do drama
humano que permaneceriam ocultas, são reveladas pela arte: revela-se o
humano para o homem. É por meio do próprio humano veiculado pela arte, que
o homem pode vir a se conhecer, e a saber do horrível, do belo, do sagrado, do
gracioso, do verdadeiro, do eterno, do exótico, do absurdo, do cruel.
A terapia artística fundamenta-se na visão médica, terapêutica e artística
ampliada pela Antroposofia de Rudolf Steiner, segundo a qual o homem é um
ser espiritual constituído de espírito, alma e corpo vivo, e no conhecimento
teórico e prático dos elementos das artes e das leis que os regem.
Assim, por meio desses elementos, que nas artes plásticas são, por
exemplo, cor, forma, volume, disposição espacial, etc., a terapia artística
possibilita que a pessoa vivencie os arquétipos da criação, ou seja, se re-
conecte com as leis que são inerentes à sua natureza interior mas que foram
"esquecidas" por diferentes motivos. Com isso, traz um contato com a essência
sanadora de cada um.
Na terapia artística aprende-se a observar, sentir, agir e pensar de modo
mais consciente e diferente do que antes. No entusiasmo pela natureza, pelo
belo, pelo ritmo e pela harmonia a pessoa sente-se novamente "inteira".
Cantar, dançar, sentir, pensar, compartilhar, transformar, diversas as
forma de expressão que justificam o trabalho na Musicoterapia.
Todos estes são poderosos mecanismos de poder de comunicação,
onde cada um expressa-se de forma simples, autentica e direta para com o
outro, sem reservas, pois as cantigas de roda são uma forma pura de
expressão dos seus desejos mais ocultos.
As Cantigas e Brincadeiras-de-roda tem as suas raízes nas relações
primárias do desenvolvimento humano. Do ponto de vista musical, a
simplicidade e a especificidade de seus caminhos rítmicos e melódicos refletem
os traços bio-psico-musicais típicos da etapa infantil.
Brincar de roda constitui como uma atividade prazerosa, na qual estão
harmoniosamente integradas as linguagens sonora, corporal e verbal. Assim,
música, corpo, emoção e pensamento atuam conjuntamente, impulsionando-se
entre si e possibilitando a ampliação da própria expressão. Emergem
personagens e tramas que são vividos pelos participantes do seu interior, num
processo dinâmico que implica num constante relacionar-se com os próprios
conteúdos, elaborá-los e ressignificá-los.
Desta forma, tem o musicoterapeuta uma riqueza disponíveis como
instrumentos de trabalho.
A musicoterapia, busca desenvolver potenciais, restaurar funções de
saúde do indivíduo através de reabilitação, prevenção ou tratamento. “É uma
modalidade de trabalho que se utiliza da música e de elementos constituintes
da música numa relação terapêutica para ajudar a pessoa a atender as suas
necessidades. Destina-se a pessoas que têm alguma deficiência, algum
distúrbio psíquico como depressão, autismo, esquizofrenia, assim como a
atendimentos geriátricos ou pessoas que buscam auto-desenvolvimento",
define o musicoterapeuta paulista Renato Tocantins Sampaio, presidente da
Associação de Profissionais e Estudantes de Musicoterapia do Estado de São
Paulo.
O objetivo da Musicoterapia é, pois, promover um crescimento
emocional, afetivo, relacional e social da pessoa, através da utilização de sons
mas também de movimentos corporais como meio de comunicação e
expressão.
O homem pode se expressar através da música e pode provocar
respostas em vários níveis. Pode ser usada de forma compatível com a cultura
do indivíduo, viabilizando todos aqueles envolvidos com essas questões, seja
abrindo os canais de comunicação através do processo não-verbal
(característico da musicoterapia), ou mesmo abrindo os canais de percepção
que muitas vezes se encontram bloqueados e dos quais a música é a ponte.
A música - elemento e agente de cultura - , pode ser utilizada como
elemento terapêutico, pois é uma linguagem estruturada. Pode ser utilizada
não só para auxiliar no processo de vida e, principalmente, quando este
processo se desfaz, interrompe, por aspectos ou problemas internos e
externos.
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