39
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO AVM FACULDADE INTEGRADA O programa de internação domiciliar e sua relevância no contexto histórico do sistema único de saúde - SUS. Por: LINDIMARA RAMALHO BARCELOS Orientador: prof. Antônio Fernando Vieira Ney Co-orientador: prof.Marcelo Oliveira Goiânia 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · domiciliar no contexto histórico do SUS, esta monografia está divida em três capítulos. O primeiro refere-se à internação

Embed Size (px)

Citation preview

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO AVM FACULDADE INTEGRADA

O programa de internação domiciliar e sua relevância no contexto histórico do sistema único de saúde - SUS.

Por: LINDIMARA RAMALHO BARCELOS

Orientador: prof. Antônio Fernando Vieira Ney Co-orientador: prof.Marcelo Oliveira

Goiânia 2013

DOCU

MENTO

PRO

TEGID

O PEL

A LE

I DE D

IREIT

O AUTO

RAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSO AVM FACULDADE INTEGRADA

O programa de internação domiciliar e sua relevância no contexto

histórico do sistema único de saúde - SUS.

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a obtenção do titulo de especialista em gestão pública

Por: Lindimara Ramalho Barcelos

3

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares e amigos, que sempre

estiveram comigo, sempre ao meu lado, cuidando de mim

e me acompanhando com grandes vitórias e

especialmente ao professor Marcelo Oliveira, que com

paciência e dedicação me incentivou e procurou

conduzir-me ao término deste trabalho.

4

DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus familiares,

amigos, professores que de alguma forma contribuíram

com a minha aprendizagem.

5

RESUMO

O objetivo do estudo, é analisar o contexto de inserção do programa de

internação domiciliar, com suas características, dificuldades e possibilidades

atuais na saúde pública.

Visando compreender como se deu o desenvolvimento dessa internação

domiciliar no contexto histórico do SUS, esta monografia está divida em três

capítulos. O primeiro refere-se à internação domiciliar, de forma ampla,

iniciando-se pela constituição da internação domiciliar no âmbito do SUS,

perpassando suas legislações e definições/conceitos específicos, chegando a

uma análise histórica, seguida de uma análise bibliográfica sobre o tema. No

segundo capítulo são enfocadas a saúde pública e suas dificuldades,

compreendendo seu cenário atual e desenvolvendo um percurso das políticas

públicas de saúde, que culminam na criação do SUS. No terceiro capítulo, por

sua vez, encontramos uma verticalização teórica no Programa Melhor em

Casa, analisando-se desde o surgimento da Política Nacional de Humanização

até o desenvolvimento da Política Nacional de Internação Domiciliar,

propriamente dita, objetivando-se ampliar as discussões e questionamentos

sobre esse tema que demanda constantes interlocuções.

Muitos avanços foram notados no contexto da saúde pública brasileira,

entretanto, as dificuldades e os empecilhos ainda demandam reflexões diárias

e soluções iminentes. Tem em vista que novos programas são continuamente

criados, readaptados com o intuito de tornar cada vez melhor o Sistema Único

de Saúde do país. E a internação domiciliar no contexto do Sistema Único de

Saúde é um desses programas que deverá sofrer ao longo do tempo

adaptações e que oferecerá grandes benefícios a Saúde Pública brasileira.

Palavras-chave: Internação domiciliar, Saúde pública, SUS

6

Metodologia

Este trabalho foi realizado através da pesquisa bibliográfica em livros,

revistas e sites. Durante a analise foi possível colher dados que tornaram

possível a realização deste, proporcionando o conhecimento do tema, que

apesar de ser algo novo na realidade do SUS, possui muitos autores que se

interessam e estuda o assunto, neste trabalho analisamos as seguintes obras:

ALBUQUERQUE, A.B.B.; BOSI, M.L.M. Visita domiciliar no âmbito da

Estratégia saúde da Família: percepções de usuários no Município de

Fortaleza, Ceará, Brasil. Cad. Saúde Pública, v.25, n.5, p. 1103-1112, 2009.

AMARAL, N.N.; CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B.;

GABBAI, A.A. Assistência Domiciliar à saúde ( Home Health Care): sua História

e sua Relevância para o Sistema de Saúde Atual. Revista Neurociências, v.9,

n.3, p.111-117, 2001.

BEN, L.W.D.; GAIDIZNSKI, R.R. Sistema de classificação de pacientes em

assistência domiciliária. Acta Paul Enferm, v.19, n.1, p.100-108, 2006.

BERTI, H.W.; ALMEIDA, E.S. Percepção de Gestores Municipais de Saúde

sobre Qualidade da Assistência e Controle Social. Revista Nursing, v.88, n.8,

p.425-431, 2005.

BERTOLOZZI, M.R. O sistema de Saúde Brasileiro: em que ponto estamos?.

Revista Nursing, v.64, n.6, p.27-34, 2003.

BRASIL, Ministério da Saúde. Constituição Brasileira de 1988.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 2.416, de 23 de março de 1998.

BRASIL, Ministério da Saúde. Relatório técnico programa de humanização.

2004.

BRASIL, Ministério da Saúde. As Conferências Nacionais de Saúde: Evolução

e perspectivas. 2009.

BRASIL, Ministério da saúde, Fundação Nacional de Saúde

[http://www.funasa.gov.br/internet/index.asp] acessado em 27/01/2012.

7

BRASIL, Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Disponível

em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=1342,

acessado em 02 de abril de 2012.BRONDANI, C.M.; BEUTER, M. A vivência

do cuidado no contexto da internação domiciliar. Revista Gaúcha Enfermagem,

v. 30, n.2, p.206-213, 2009.

FABRÍCIO, S.C.C.; WEHBE, G.; NASSUR, F. B.; ANDRADE, J.I. Assistência

Domiciliar: A experiência de um hospital privado no interior paulista. Revista

Latino- Americana Enfermagem, v.12, n.5, p.721-726, 2004.

FALK, M.L.R. contextualizando a política nacional de humanização: a

experiência de um hospital universitário. Boletim da saúde: Porto Alegre, v.20,

n.2, 2006.

FEUERWERKER, L.C.M.; MERHY, E.E. A contribuição da atenção domiciliar

para a configuração de redes substitutivas de saúde: desinstitucionalização e

transformação de práticas. Revista Pabam salud Publica/ Pan am J Public

Health, v.24, n.3, p.180-188, 2008.

FIGUEIREDO, N.M.A. Ensinando a cuidar em Saúde Pública. Difusão

Enfermagem: São Caetano do Sul, p.48-51, 2004.

FILHO, S.B.S. perspectivas da avaliação na Política Nacional de Humanização

em Saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Ciência & Saúde Coletiva,

v.12, n.4, p.999-1010, 2007.

GIACOMOZZI, C.M.; LACERDA, M.R. A prática da assistência domiciliar dos

profissionais da estratégia de saúde da família. Texto Contexto Enfermagem, v.

15, n.4, p.645-653, 2006.

GOUVEIA, M.L.; SCHUMACKER, R.C.; MOREIRA, R.M. Satisfação do cliente

quanto ao serviço de atendimento domiciliar da unidade básica de saúde.

Nursing, 2011.

IYDA, M. Cem anos de Saúde Pública: a cidadania negada, Revista UNESP:

São Paulo, 1994.

KLOCK, A.D.; HECK, R.M.; CASARIM, S.T. Cuidado domiciliar: A experiência

da residência multiprofissional em saúde da família/ UFPEL- MS/ BID. Texto

Contexto Enfermagem, v.14, n.2, p.237-245, 2005.

MARIN, M.J.S.; LALUNA, M.C.C.; CAETANO, F.B.; PALASSON, R.R. As

dificuldades de idosos após alta da internação domiciliar. Revista Nursing, v.72,

n.7, p.31-36, 2003.

8

OLIVEIRA, J.G. Percepção de gestores municipais de saúde sobre qualidade

da assistência e controle social. Revista Saúde Pública, 2007

POLIGNANO, M.V. História das políticas de Saúde no Brasil, uma pequena

revisão. Revista Medicina UFMG, 2012.

PORTO, M.Y. Uma revolta popular contra a vacinação. Cienc Cult [online],

v.55, n.1, p.53-54, 2003.

RIZZOTO, M.L.F. História da Enfermagem e sua relação com a Saúde Pública.

AB: Goiânia, 1999.

SILVA, K.L.; SENA, R.; LEITE, J.C.A.; SEIXAS, C.T.; GONÇALVES, A.M.

Internação domiciliar no Sistema Único de Saúde. Revista Saúde Púbçica,

v.39, n.3, p.391-397, 2005.

SOARES, L.G. Políticas públicas e organização do sistema de saúde:

antecedentes, reforma sanitária e o SUS. História da Saúde Pública no Brasil.

Ebah, 2012.

9

Introdução ................................................................................................. .........9

Capítulo I – Internação Domiciliar

1.1- Saúde e Internação Domiciliar no âmbito do SUS..................................11 1.2- Legislações.............................................................................................12

1.3- Definições/ conceitos..............................................................................13

1.4- Análise do cuidado domiciliar..................................................14

1.5- Análise Bibliográfica................................................................................16

Capítulo II- Saúde Pública e suas dificuldades

2.1- O cenário atual do sistema de saúde pública.............................................18

2.2- Evolução das políticas públicas de saúde..................................................19

2.3- Modelo Campanhista..................................................................................19

2.4- Plano de pactuação social e início da previdência....................................21

2.5- O nascimento do SUS................................................................................24

Capítulo III- Programa Melhor em Casa

3.1- Política Nacional de Humanização............................................................28

3.2- Política Nacional de Internação Domiciliar.................................................29

Considerações Finais........................................................................................33

Referências Bibliográficas.................................................................................35

10

Introdução

Quase 25 anos após a sua criação, o Sistema Único de Saúde (SUS)

continua buscando a implementação de seus princípios básicos de

universalidade; equidade; integralidade; descentralização; resolutividade;

regionalização e hierarquização; e participação popular. Apesar dos evidentes

avanços com a concepção do SUS, seus conflitos e dificuldades ainda são

evidentes. Há a insuficiência de recursos financeiros e materiais; bem como

excesso de demanda e falta de leitos e atendimentos, que se refletem nas

longas filas e na falta de estrutura física; expressando a baixa

institucionalização alcançada, nesse período, entre a formulação e a prática

efetiva das ações no contexto da saúde.

Frente ao exposto, há a necessidade de construção de formas

particulares de visualização e intervenção neste âmbito, que possam ir para

além do tradicional modelo hospitalocêntrico que sempre prevaleceu na saúde.

Uma das grandes propostas de melhoria no SUS foi a criação, em 2003, da

Política Nacional de Humanização, cujo objetivo central é “efetivar os princípios

do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde

pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores

e usuários” (BRASIL, 2012).

Em ampliação a essa extensa política, foram desenvolvidos outros

planos de ação mais específicos. Em novembro de 2011 foi lançado o

Programa Melhor em Casa, que tem como objetivo maior possibilitar uma

assistência multiprofissional gratuita nos lares de pessoas com necessidade de

reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos sem agravamento ou em

situação pós-cirúrgica, permanecendo os pacientes mais próximos da família.

Obviamente, objetiva também a redução das filas nos hospitais de emergência,

além da liberação de leitos hospitalares.

Visando compreender como se deu o desenvolvimento dessa internação

domiciliar no contexto histórico do SUS, esta monografia está divida em três

11

capítulos. O primeiro refere-se à internação domiciliar, de forma ampla,

iniciando-se pela constituição da internação domiciliar no âmbito do SUS,

perpassando suas legislações e definições/conceitos específicos, chegando a

uma análise histórica, seguida de uma análise bibliográfica sobre o tema.

No segundo capítulo são enfocadas a saúde pública e suas dificuldades,

compreendendo seu cenário atual e desenvolvendo um percurso histórico das

políticas públicas de saúde, que culminam na criação do SUS.

No terceiro capítulo, por sua vez, encontramos uma verticalização

teórica no Programa Melhor em Casa, analisando-se desde o surgimento da

Política Nacional de Humanização até o desenvolvimento da Política Nacional

de Internação Domiciliar, propriamente dita, objetivando-se ampliar as

discussões e questionamentos sobre esse tema que demanda constantes

interlocuções.

12

Capítulo I

Internação domiciliar

1.1- Saúde e Internação Domiciliar no âmbito do SUS

A Constituição Brasileira de 1988 inscreveu a saúde dentre os direitos

sociais, reconhecendo-a como um direito de cidadania estendido a todos os

brasileiros, redefinindo seu conceito e incorporando novas dimensões. Em seu

artigo 196 cita que “saúde é direito de todos e dever do estado, garantido

mediante políticas sociais’’. Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem

comum”, um bem e um direito social, em que é assegurado a todos o exercício

e a prática do direito à saúde, a partir da aplicação e utilização de toda a

riqueza disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvida pela sociedade

científica nesse campo, adequados às suas necessidades, abrangendo

promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. Em

outras palavras, considerar esse bem e esse direito como componente e

exercício da cidadania é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo

poder público para o balizamento e orientação de sua conduta, decisões,

estratégias e ações (BRASIL, 1988).

Assim, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como

componente da qualidade de vida. No Brasil foi instituído em 1988 o Sistema

Único de Saúde (SUS), ao qual cabe identificar e divulgar fatores

condicionantes e determinantes da saúde; formular políticas destinadas a

promover suas ações e serviços; bem como assistir as pessoas por meio de

ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Assim, são percebidas

modificações claras dos valores que regem a assistência à saúde, ampliando

seus efeitos para além da simples ausência de doença, incrementando a

qualidade desta assistência de acordo com as novas demandas.

Aproxima-se então um novo panorama, ainda em construção em

nossas políticas públicas: a internação domiciliar, que se apresenta através da

necessidade do aprimoramento do cuidado ofertado aos usuários do sistema

de saúde hospitalar e a implantação de alternativas de cuidado que contribuem

13

para a integralidade na rede de serviços e resolutividade na assistência ao

usuário, princípios estes já definidos na criação do SUS.

Neste contexto, a Internação Domiciliar é descrita como um conjunto

de atividades prestadas no domicílio, a pacientes que exijam atenção mais

intensa, mas que possam ser mantidos em casa, desde que disponham de

atenção contínua, de um cuidador treinado e de supervisão de uma equipe

multiprofissional assistente exclusiva para este fim.

O processo de Internação Domiciliar é complexo, não sendo específico

de patologias e ou de grupo etário. Requer articulações entre paciente, família,

profissionais e serviços de saúde, devendo se pautar nos princípios da

Integralidade, Universalidade e Equidade em suas ações. A assistência pode

ocorrer de forma preventiva: com o objetivo de evitar a doença ou o

agravamento das já existentes; de forma terapêutica: como continuidade de um

tratamento; ou de forma paliativa: quando visa à assistência a pacientes com

diagnóstico de patologias sem prognóstico de cura, proporcionando assim

qualidade de vida (GOUVEIA, 2011).

Sendo assim, as equipes multiprofissionais de Internação Domiciliar

são compostas por no mínimo os seguintes profissionais: médico, enfermeiro,

técnico ou auxiliar de enfermagem e outros profissionais, levando em

consideração o perfil de atenção a ser prestado e os protocolos firmados.

1.2- Legislações

No panorama da assistência domiciliar, existem legislações

importantes pertinentes ao tema:

a. Portaria 2.416 de 23 de março de 1998, estabelecida pelo Ministro de

Estado da Saúde: versa sobre os requisitos para credenciamento de

hospitais e critérios para a realização de internação domiciliar no âmbito

do SUS, considerando que “a internação domiciliar proporcionará a

humanização do atendimento e acompanhamento de pacientes

cronicamente dependentes do hospital e que a adequada

desospitalização proporciona um maior contato do paciente com a

família favorecendo sua recuperação e diminuindo o risco de infecções”

(BRASIL, 1998)

14

b. Lei 10.424/02, que complementa a lei 8.080/90, que é a lei orgânica da

Saúde: acrescenta o Capítulo VI e o art. 19-I: “do subsistema de

atendimento e Internação Domiciliar, estabelecendo no âmbito do

Sistema Único de Saúde, o atendimento e a Internação Domiciliar”, com

ênfase ao atendimento por equipes multidisciplinares nos níveis da

medicina preventiva, terapêutica e reabilitadora, viabilizando o cuidado

integral dos pacientes em seu domicílio;

c. Portaria 2.529 de 19 de outubro de 2006: institui a internação hospitalar

no âmbito do SUS, com menção aos aspectos teóricos e práticos de sua

proposta e com roteiro técnico para elaboração do projeto de sua

implantação.

Em 2006 a Resolução - RDC/ANVISA Nº11, de 26 de janeiro de 2006,

que dispõe sobre o regulamento técnico de funcionamento de serviços que

prestam Atenção Domiciliar, sendo ele público ou privado, considera a

necessidade de propor requisitos mínimos de segurança para o funcionamento

dos serviços de Atenção Domiciliar.

Portanto, o Ministério da Saúde preconiza a internação domiciliar como

uma diretriz para a equipe básica de saúde, destacando-se que a mesma não

substitui a internação hospitalar e que deve ser sempre utilizada no intuito de

humanizar e garantir maior conforto à população. Para tanto, o atendimento e a

internação domiciliar só poderão ser realizados por indicação médica e com

expressa concordância do paciente e de sua família.

1.3- Definições/ conceitos

De acordo com a RDC N° 11/2006, que tem como objetivo estabelecer

os requisitos de funcionamento para os serviços de Atenção Domiciliar, são

preconizadas algumas definições que serão demonstradas a seguir:

a. Admissão em Atenção Domiciliar: início da prestação da assistência

domiciliar, que é feita após a indicação e a elaboração do plano de

atenção domiciliar - um documento que contém um conjunto de medidas

que orienta a atuação de todos os profissionais envolvidos de forma

direta ou indireta na assistência domiciliar;

15

b. Atenção domiciliar: termo genérico que envolve ações de promoção à

saúde, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidos

no domicílio do paciente;

c. Assistência domiciliar: conjunto de atividades de caráter ambulatorial,

programadas e continuadas, desenvolvidas em domicílio;

d. Internação Domiciliar: um conjunto de atividades prestadas no domicílio

a pessoas clinicamente estáveis, que exijam intensidade de cuidados

acima das modalidades ambulatoriais, mas que possam ser mantidas

em casa, atendidas por uma equipe multiprofissional;

e. Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar - EMAD: profissionais que

compõem a equipe técnica da atenção domiciliar, com a função de

prestar assistência clínico-terapêutica e psicossocial ao paciente em seu

domicílio;

f. Cuidador: pessoa com ou sem vínculo familiar capacitada para auxiliar o

paciente em suas necessidades e atividades da vida cotidiana. É

fundamental no processo de internação domiciliar, pois é ele que irá

gerir os cuidados dos quais o paciente necessita, intermediando a

relação entre os profissionais de saúde e o paciente.

1.4- Análise do cuidado domiciliar

No Brasil não há muitos registros formais sobre a história da

assistência domiciliar. Encontram-se alguns registros como: a criação do

serviço de Enfermeiras Visitadoras no Estado do Rio de Janeiro no século XX

e, em 1949, a criação do Serviço de Assistência Médica e de Urgência

(SAMDU), onde o atendimento era destinado exclusivamente aos

previdenciários vinculados aos sindicatos de trabalhadores. Os atendimentos

eram acionados via chamada telefônica, quando um médico saía para prestar o

atendimento de emergência. Havia, ainda, as visitas domiciliares frequentes,

destinadas a pacientes com doenças crônicas (GOUVEIA, 2011).

No início da década de 90, seguindo uma tendência mundial, surgiu o

serviço organizado na forma de cuidado domiciliar denominado home care,

concentrado em empresas privadas e instaladas em grandes centros

(FEUERWERKER & MERHY, 2008).

16

Tendo em vista que a internação domiciliar é algo recente na realidade

da saúde pública brasileira. Elencou-se como objeto deste estudo a internação

domiciliar no contexto histórico- social das políticas de saúde pública no país,

associando as características e dificuldades de implantação desse programa.

O objetivo do estudo, portanto, é analisar o contexto de inserção do

programa de internação domiciliar, com suas características, dificuldades e

possibilidades atuais na saúde pública.

1.5 – Análise Bibliográfica

Alguns autores compreendem a internação domiciliar enquanto uma

estratégia na reversão da atenção centrada nos hospitais, que propicia uma

nova lógica de atenção, com enfoque na promoção de saúde, na prevenção e

na humanização, como mostra BRONDANI & BEUTER (2009). Outros autores

ressaltam essa proposta como uma nova maneira de reorientar os

investimentos que prioritariamente eram destinados a instituições hospitalares

e aprofundar o conhecimento anteriormente focalizado nas doenças

transmissíveis para o relacionado com as doenças crônicas, como retrata

AMARAL et al (2001) avalia a internação hospitalar de forma positiva,

relatando que o atendimento domiciliar pode acelerar a recuperação do

paciente visto que o mesmo ficará afastado do risco de infecção hospitalar e do

estresse da internação. Há, ainda, uma redução dos custos, sendo uma

alternativa mais humana, por considerar a colaboração para a qualidade de

vida do paciente e seus familiares.

Para KLOCK et al (2005), a ação do cuidado domiciliar foi alavancado

pelo propósito de ampliação da integralidade na atenção e no cuidado à saúde,

no sentido de construção de um novo modelo assistencial, sendo que o

cuidado no espaço domiciliar possibilita fortalecer as relações familiares.

FABRÍCIO et al (2004) destaca que são vários os fatores que justificam

a implantação e implementação de programas de cuidado domiciliar, sendo

eles: a humanização no tratamento que proporciona melhor qualidade de vida

ao usuário, a diminuição de internações e de tempo de permanência em

hospitais, e ainda podendo ser levado em consideração outro benefício muito

17

importante, porém de difícil mensuração, que seria a satisfação do paciente e

de seus familiares ao ter seu tratamento realizado em seu lar.

GIACOMOZZI & LACERDA (2006) enfatiza a atenção domiciliar

enquanto uma modalidade ampla, que envolve as ações de promoção à saúde

em sua totalidade, incluindo a prática de políticas econômicas e sociais, que

influenciam o processo de saúde-doença dos usuários. Envolve ações

preventivas e assistenciais, transpondo as práticas institucionalizadas, visando

construir uma nova ação com base na inserção dos profissionais de saúde no

local de vida, interações e relações dos indivíduos, em sua comunidade e,

principalmente, em seu domicílio.

SILVA et al (2005) afirma que na internação domiciliar as relações

cuidador/usuário, equipe/usuário, família/usuário, cuidador/família, são

otimizados pelo vínculo cotidiano que se estabelece e são considerados como

positivo na implantação do cuidado e melhoria para o usuário, reafirmando a

importância das tecnologias leves na qualificação do cuidado. Referem ainda a

necessidade de utilização de tecnologias leves-duras sustentadas por

protocolos para o cuidado na internação domiciliar.

Um grupo característico da internação domiciliar são os idosos, MARIN

et al (2003) em sua discussão referente às dificuldades de idosos após alta da

internação domiciliar, e conclui que assistência ao idoso deve ser baseada na

continuidade, uma vez que o atendimento esporádico e restrito às

complicações não atendendo as necessidades da população. Acrescenta ainda

que estrutura e funcionamento do sistema de referência e contra-referência

como mecanismo de troca de informação evitando-se a duplicação de esforços

e consequentemente melhorando a qualidade da assistência.

BEN & GAIDIZNSKI (2006) ressalta que os cuidados de enfermagem,

cuidados básicos e cuidados de ajuda em domicílio, são classificados em

ações sociais, ações familiares e outras prestações de cuidados. Os cuidados

de ajuda em domicílio são oferecidos, em especial aos idosos, e incluem a

estrutura de manutenção das atividades de vida diária, todos os dias da

semana e podendo ser estendida às 24 horas por dia.

BRONDONI & BEUTER (2009) constataram que cuidar é uma

experiência inerente ao ser humano, adquirido no dia a dia, no cuidado aos

filhos, aos irmãos menores, aos pais, logo, a equipe multiprofissional ao atuar

18

no domicílio, deve considerar esses saberes e conhecimentos adquiridos

durante a trajetória de vida dos cuidadores familiares, envolvidos no processo

de cuidado ao doente, respeitando a singularidade de cada um, tornando-os

sujeitos ativos desta ação.

A internação domiciliar é uma modalidade de atenção humanizadora e

inovadora, que visa inverter a lógica de atuação dos profissionais de saúde. A

partir do momento que a equipe de saúde vai até o domicílio do doente, abre-

se espaço para o estabelecimento de uma relação de confiança ajuda mútua,

entre os profissionais de enfermagem e o cuidador, pautada no respeito à

individualidade e a singularidade de cada família, possibilitando a construção

de novos saberes (BRONDANI & BEUTER, 2009).

Segundo GIACOMOZZI & LACERDA (2006) prestar assistência à

saúde no domicílio, é muito mais que simplesmente levar a equipe ao encontro

do paciente com dificuldade de locomoção, ou de realizar orientações com

relação à higiene e alimentação, é de fato compreender o contexto sócio-

econômico e cultural que o envolve, os hábitos de higiene e alimentação da

família, e o significado da dificuldade de locomoção para o paciente, e sua

influência na dinâmica familiar, é avançar na compreensão do contexto, no qual

estas pessoas se inserem.

19

Capítulo II

Saúde Pública e suas dificuldades

2.1 - O cenário atual do sistema de saúde pública

No Brasil, a crise no setor de saúde pública vem sendo apontada como

um desafio no processo de reestruturação do setor. Constantes iniquidades em

termo de acessos e atendimentos às necessidades da população se fazem

presente, piorando as condições de vida e de saúde de uma grande parcela da

população brasileira que depende dos serviços públicos de saúde (MARIN et

al, 2003).

Encontramos diariamente pacientes em busca de atendimentos nos

serviços de saúde, onde se deparam com filas quilométricas, falta de leitos

hospitalares e de atendimentos especializados, escassez de recursos materiais

e humanos, unidades sucateadas por falta de investimentos no setor, e por

vezes, suspensão de atendimento por falta de materiais e insumos (SOARES,

2012). Tal realidade é divulgada diariamente pela mídia e confirmada nas

portas das unidades de saúde.

A incompetência de gestão é também apontada como um fator

condicionante da crise. Sabe-se que existe uma escassez de recursos

financeiros e quando este se alia à incompetência administrativa, os resultados

são negativos e confirmados através do cenário atual da saúde pública, como

mostra o parágrafo anterior (BERTI & ALMEIDA, 2005).

Como a capacidade de resolução dos serviços de saúde em todos os

níveis de assistência constitui um dos princípios do SUS, ela requer uma

estrutura e um financiamento adequado, equipamentos e materiais adequados,

recursos humanos capacitado e em números suficientes, medicamentos

disponíveis de acordo com a necessidade de assistência que o serviço se

propõe a prestar. E quando gestores e profissionais se empenham em oferecer

uma assistência de qualidade, os recursos, mesmo que escassos, têm uma

utilização mais apropriada, oferecendo, assim, um serviço de melhor qualidade

(BERTI & ALMEIDA, 2005).

20

2.2 - Evolução das políticas públicas de saúde

Para que possamos analisar a realidade hoje existente, devemos

percorrer a evolução histórica das políticas de saúde e todo o contexto político-

social e econômico do país, não sendo possível uma dissociação.

No Brasil, as políticas de saúde pública, enquanto ações objetivas, sob

responsabilidade do Estado, só começaram a existir no início do século XX.

Devido ao elevado número de mortes provocadas por agravos infecciosos,

relacionados às condições precárias nas áreas de habitação, higiene, trabalho,

alimentação, dentre outros. Epidemias como febre amarela, varíola e malária

eram perpetuadas entre a população principalmente nas capitais portuária dos

estados, causando sérias consequências na saúde coletiva (FIGUEIREDO,

2004).

Não dispondo de uma estrutura sanitária mínima, uma situação caótica

de endemias e epidemias se instalou nas cidades. Navios estrangeiros não

queriam atracar em portos brasileiros em função da situação sanitária

existente, o que acabou gerando sérias consequências, que repercutiram

significativamente, de forma negativa, na economia capitalista, na época

agricultura de exportação (RIZZOTO, 1999).

Com essa repercussão negativa do quadro sanitário brasileiro na

economia capitalista é que a saúde passa a ser alvo de maior atenção por

parte das autoridades do governo, que passam a pensar na formulação de

políticas de saúde pública ou, pelo menos, inserem o tema no discurso

institucional (ALBUQUERQUE, 2009).

2.3 - Modelo Campanhista

O modelo campanhista foi instituído durante o governo do então

presidente do Brasil, Rodrigo Alves, que nomeou o cientista Osvaldo Cruz

como diretor do departamento federal de saúde pública, onde o mesmo se

propôs a melhorar o perfil da saúde e erradicar a epidemia de febre amarela

existente no período (SOARES, 2012).

Teve início, então, a realização de práticas sanitárias, que foram

realizadas pelo serviço público e executadas pela polícia sanitária, criando um

21

verdadeiro exército, que passou a exercer atividades que se concentravam na

desordem urbana, na desinfecção e combate ao mosquito vetor da febre

amarela, no combate às doenças epidêmicas, na higiene e controle dos hábitos

da sociedade (FIGUEIREDO, 2004).

E apesar de não constituírem de fato uma política nacional de saúde,

as campanhas sanitárias representaram uma importante iniciativa instituída

nesse período de crise; e sob o ponto de vista epidemiológico, tais medidas

apresentaram certa eficiência, apesar de serem executadas dentro de uma

visão militar (autoritarismo, imposição, arbitrariedade), com uma visão de que

os fins justificam os meios (RIZOTTO, 1999). A falta de esclarecimento e o

método empregado nas ações causaram indignação e revolta na população,

que não percebia nenhuma melhoria na qualidade de vida, percebendo apenas

a imposição e o direito do estado sobre ela.

Esse quadro se agravou ainda mais após a criação da lei Federal nº

1261, de 31 de outubro de 1904, que institui a vacina anti-varíola obrigatória

em todo território nacional, ocasionando uma grande manifestação popular,

que ficou amplamente conhecida como a Revolta da Vacina. Durante muito

tempo, tal fato foi visto como um movimento de revolta de pessoas ignorantes

contra o avanço da ciência, mas a população, humilhada pelo poder público,

autoritário e violento, não acreditava na eficácia da vacina e se manifestou,

recebendo o apoio de grupos positivistas, estudantis, imprensa, e intelectuais

da época (PORTO, 2003).

Apesar das práticas de atuação, conduzidas de forma arbitrária, sem

os necessários esclarecimentos à população, o modelo campanhista obteve

importantes vitórias no controle das doenças epidêmicas, fortalecendo a

proposta de intervenção na área de saúde coletiva e a articulação entre o

conhecimento científico, competência técnica e a organização do processo de

trabalho em saúde, contribuindo para a promoção da saúde de toda

a população brasileira (BRASIL, 2012).

Gradativamente, com o controle das epidemias nas grandes cidades

brasileiras, o modelo campanhista deslocou a sua ação de campo para o

combate das denominadas endemias rurais, dado ser a agricultura a atividade

hegemônica da economia da época (FIGUEIREDO, 2004).

22

Na reforma promovida por Oswaldo Cruz foram incorporados como

elementos das ações de saúde: o registro demográfico, que possibilitava

conhecer a composição e os fatos vitais de importância da população; a

introdução laboratorial, como auxiliar do diagnóstico etiológico; e a fabricação

organizada de produtos profiláticos para uso em massa (BRASIL, 2012).

Em 1920, Carlos Chagas se tornou sucessor de Osvaldo Cruz,

reestruturando o departamento nacional de saúde. Introduziu a educação

sanitária e a propaganda como técnica rotineira de ação, o que inovou o

modelo campanhista, que antes era puramente fiscal e policial, dando início

também à aplicação de métodos estatísticos para contabilizar as mortes e

identificar diferenças de risco de morrer entre lugares e grupos sociais.

Contribuiu, assim, para o debate que marcou o período, sobre a importância da

determinação ambiental ou social (POLIGNANO, 2012).

A partir de então, a educação sanitária passa a ganhar destaque, tendo

como objetivo interromper a cadeia de transmissão através da difusão do

conhecimento. Direcionado ao saneamento do ambiente urbano, mudanças

nos padrões sócio culturais da população, através de práticas normativas e

educativas, diferentemente dos períodos anteriores, a participação do Estado

na área da saúde tornou-se global e contínua, não se limitando às épocas de

surtos epidêmicos, mas estendendo-se por todo tempo e todos os setores da

sociedade, originando a criação de uma ‘política de saúde’ (IYDA, 1994).

2.4- Plano de pactuação social e início da previdência

A década de 30 foi considerada um marco no processo de

industrialização e, sobretudo, de urbanização no Brasil, beneficiada pela Crise

de 1929 e pela Revolução de 1930. A acumulação capitalista advinda do

comércio exterior tornou possível o início do processo de industrialização no

país. O eixo do poder político e econômico deixava de ser a elite

agroexportadora, criando condições para o desenvolvimento industrial

brasileiro, que se deu, principalmente, no eixo Rio São Paulo, devido à

presença de uma infraestrutura herdada do ciclo do café (FIGUEIREDO, 2004).

A crescente urbanização nos grandes centros contribuiu para a

formação de um mercado consumidor potencial, proporcionando uma

23

acelerada expansão industrial, quase sempre dedicada à produção de bens de

consumo não duráveis. Surgiram, então, muitas fábricas e indústrias, e com

elas, muitos empregos e a utilização de imigrantes, especialmente Europeus

como mão de obra qualificada, visto que os mesmos já possuíam grande

experiência neste setor, que já era muito desenvolvido na Europa.

Nesta época, os operários não tinham quaisquer garantias trabalhistas

e as condições de trabalho eram precárias, o que gerou uma grande

insatisfação social dos setores produtivos em relação à ineficiência estatal em

manter os trabalhadores assalariados em estado de higidez, porém os

imigrantes traziam consigo a história do movimento operário na Europa e os

direitos trabalhistas já conquistados e, desta forma, procuraram mobilizar a

classe operária no Brasil na luta pela conquista dos seus direitos, realizando

duas greves gerais no país: uma em 1917 e outra em 1919, o que resultou na

conquista de alguns direitos sociais e trabalhistas.

Destaca-se, neste contexto, a importância da lei Eloy Chaves, instituída

em 24 de janeiro de 1923, criando o departamento nacional de saúde pública,

marco da atuação do governo federal na saúde e início da previdência social

no Brasil. Através desta lei foram instituídas as Caixas de Aposentadoria e

Pensões (CAPs), com o intuito de organizar a assistência médica para os

trabalhadores dos setores econômicos estratégicos (OLIVEIRA, 2007).

As CAPs eram organizadas por empresas e mantidas pelos patrões e

empregados. Seu sistema de financiamento consistia no modelo tripartite: o

empregado contribuía, juntamente com a empresa e o governo federal. Seus

benefícios cobriam quatro situações de risco: assistência médico-curativa;

aposentadoria: por invalidez, por tempo de serviço e velhice; pensões para os

dependentes; e por último, um adicional para cobertura de funeral. Entretanto,

com o crescimento dos CAPs são criados os Institutos de Aposentadorias e

Pensões (IAPs), quando a participação do Estado se dá de forma mais clara. A

contribuição passa a ser tripartite, entrando o Estado como contribuinte. A partir

de então, os IAPs passam a se organizarem por categorias profissionais.

Passamos então a observar um novo tipo de direito à saúde: a

medicina previdenciária. Voltada para aqueles que tinham um trabalho formal

ou, principalmente, para as categorias profissionais que impulsionavam a

economia brasileira, pode ser entendida como resposta do empresariado e do

24

Estado às reivindicações operárias e à crescente importância da questão

social.

O modelo médico-assistencial privatista consistia em manter e

recuperar a força de trabalho como forma de aumentar a capacidade produtiva

do trabalhador. Foi um modelo altamente excludente, que privilegiava a prática

curativa individual especializada, não contemplando o conjunto dos problemas

de saúde de toda a população. A compra de serviços privados de saúde pelo

Estado expandiu-se, neste momento.

A crescente massa assalariada urbana passa a constituir o ponto de

sustentação política do governo, sendo promulgadas as leis trabalhistas, que

procuram estabelecer um contrato capital-trabalho, garantindo direitos sociais

aos trabalhadores e criando, ao mesmo tempo, uma estrutura sindical do

Estado. Tais ações transparecem como dádivas do governo e do Estado e não

como conquista dos trabalhadores. Desta forma, o Estado pode manter o

movimento trabalhista contido dentro de seu poder.

Os IAPs formaram a base da política de assistência médica

previdenciária, dando origem ao Instituto Nacional de Previdência Social

(INPS). Muitas siglas se sucederam a esta, assim como aumentou o número de

órgãos ligados à previdência social. O último elo responsável pela assistência

hospitalar foi o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

(INAMPS), extinto no final dos anos de 1980. A criação de todos esses órgãos

dificultou ainda mais o controle do orçamento da Previdência, favorecendo o

desvio de verbas e a corrupção, já que era praticamente inexistente a

fiscalização. Assim, o modelo proposto entrou em crise (FIGUEIREDO, 2004).

O modelo econômico implantado pela ditadura militar entra em crise. A

população, com baixos salários e contida pela repressão, passou a conviver

com o desemprego e suas graves consequências sociais, mostrando a

fragilidade do modelo previdenciário, que priorizou a medicina curativa.

Percebe-se ser um modelo altamente excludente, que fornecia atenção médica

somente para a parcela da população que tinha condições financeiras de arcar

com o setor. O modelo proposto foi incapaz de solucionar os primeiros

problemas de saúde coletiva, devido à escassez de recursos para sua

manutenção e o descrédito social, fazendo com que o poder público

redescobrisse a saúde pública e a necessidade de investir nesse setor que

25

trabalhava com um custo menor e atendendo a grande parcela da população

carente de assistência (POLIGNANO, 2012).

Passa-se a pensar em uma estratégia coletiva que promova a

universalização do acesso a saúde, a concepção de saúde como direito social

e dever do Estado, a reestruturação setorial com um olhar sobre a saúde

individual e coletiva, a descentralização do processo decisório para as esferas

estadual e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do poder

local através de novos mecanismos de gestão, ou seja, através dos conselhos

de saúde. A definição dessas novas diretrizes da política de saúde foi

fundamentada nas recomendações aprovadas na XV Congresso Brasileiro de

Higiene e na 3ª Conferência Nacional de Saúde. O golpe militar de 1964

inviabilizou a implementação das medidas propostas, mas suas deliberações

alimentaram muitos dos debates realizados por movimentos sociais a partir do

proposto, incluindo as quatro demais conferências, fato que só iriam se

concretizar após o início do processo de redemocratização do país (BRASIL,

2009).

2.5- O nascimento do SUS

O sistema de saúde centralizado, fragmentado institucionalmente, com

permanente descontinuidade administrativa, verticalizado e excludente que se

havia consolidado nas últimas décadas, não respondia às necessidades

expressas por amplos setores da sociedade e o processo decisório fechado no

espaço governamental era fortemente contestado pelo movimento social que

se organizara em torno do setor.

Então foi chegada à hora de mudanças. Um amplo processo de

mobilização popular pedia para garantir a saúde de cada indivíduo como

interesse coletivo e como dever do Estado, a ser contemplado de forma

prioritária por parte das políticas públicas sociais.

Sendo, então, realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde, onde o

temário da conferência era composto pelos seguintes itens: saúde como direito,

reformulação do Sistema Nacional de Saúde e financiamento do setor. Uma

ampla participação popular se fez presente nas discussões, juntamente com

trabalhadores da saúde, governo e parte dos prestadores de serviço da saúde.

26

De um total de mais de quatro mil participantes, quase mil eram delegados com

direito a voz e voto. Impulsionados pelo movimento da reforma sanitária

propuseram a criação de uma ação institucional correspondente ao novo

conceito ampliado de saúde, que envolve promoção, proteção e recuperação.

As propostas foram contempladas tanto no texto da Constituição Federal como

nas leis orgânicas da saúde, sendo um marco na formulação das mudanças no

setor de saúde (BRASIL, 2009).

Como resultado dos debates, o relatório da 8ª Conferência explicitou as

diretrizes para a reorganização do sistema e estabeleceu que a mesma

deveria:

[...] resultar na criação de um Sistema Único de

Saúde que efetivamente represente a construção de

um novo arcabouço institucional, separando

totalmente saúde de previdência, através de uma

ampla Reforma Sanitária (Idem, Resolução 1, do

tema 2) SUS.

O Sistema Único de Saúde – SUS foi criado pela Constituição Federal

de 1998 e regulamentado pela Lei n° 8080/90, que é a Lei Orgânica da Saúde.

Tendo como finalidade, alterar a situação de desigualdade na assistência à

Saúde, garantindo acesso universal, igualitário e gratuito a toda população

brasileira. Para isso redefine o conceito de saúde e cita como fatores

determinantes e condicionantes de saúde: alimentação; moradia; educação,

lazer; trabalho e renda, entre outros.

Fica então estabelecido um novo conceito de saúde, visto de forma

ampliada. Saúde é o resultado das condições de alimentação, habitação,

educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,

liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. Essa

definição envolve reconhecer o ser humano como ser integral e a saúde como

qualidade de vida (FALK, 2006).

Em seu artigo 196 cita que a saúde é um direito de todos e dever do

Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à

redução do risco de doença e outros agravos mediante políticas sociais. Suas

ações devem ser voltadas para promoção, proteção e recuperação da saúde,

27

contemplando o individuo em sua totalidade. Com este artigo fica definida a

universalidade da cobertura do SUS.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, as ações e serviços

públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada,

constituindo um Sistema Único, organizado com as seguintes diretrizes:

a- Descentralização, com direção única em cada esfera do governo;

b- Atendimento Integral, com prioridade para as atividades preventivas,

sem prejuízo dos serviços assistenciais;

c- Participação da comunidade.

Em 1990 com a promulgação das Leis 8080 e 8142, se deu a

efetivação e regulação do SUS, a primeira refere-se à promoção da saúde e a

organização dos serviços; e a segunda, à participação da comunidade e o

repasse de recursos do governo federal para as demais instâncias. Foram

também criados os princípios do SUS, sendo eles: Doutrinário: Universalidade;

integralidade; Equidade; e Organizacionais: Descentralização; Hierarquização e

Regionalização.

O SUS é considerado como uma grande conquista social. Visto que

sua criação se deu através de lutas e reivindicações da base da sociedade.

Sua abrangência Nacional promove a inclusão social. Sendo visto como a

materialização de uma nova concepção na saúde; do estado de não doente,

onde o cuidado priorizava a medicina curativa; para uma nova noção, centrada

na prevenção dos agravos e na promoção da saúde. Neste cenário a saúde

passa a ser relacionada à qualidade de vida.

O Sistema Único de Saúde não tem significado imediatamente a

solução dos principais problemas que envolvem o processo de atenção à

saúde no país. Além das dificuldades inerentes à operacionalização dos

princípios e diretrizes somam-se as consequências de um sucateamento

progressivo das unidades, precariedade de infraestrutura e piora das condições

de vida da população (BERTOLOZZI, 2003).

Constantes crises no setor de saúde, como fora descrito no início do

capítulo, evidencia inadequações entre as teorias institucionais do SUS e sua

implantação prática. Mesmo já havendo decorrido mais de duas décadas da

sua criação, e ainda não conseguindo alcançar sua legitimidade junto à

população, medidas que contribuam para a produção da integralidade na rede

28

de serviços de saúde vem sendo propostas (FEUERWERKER & MERHY,

2008).

O atual contexto do sistema de saúde pública brasileiro, ponta para

necessidade de criações de medidas, que visem solucionar os problemas

existentes.

29

Capítulo III

Programa Melhor em Casa

3.1- Política Nacional de Humanização

Os inúmeros avanços no campo da saúde pública brasileira foram

operados especialmente ao longo das últimas duas décadas, porém convivem

de modo contraditório, com problemas de diversas ordens, como descritos

anteriormente. Se podemos, por um lado, apontar avanços na descentralização

e na regionalização da atenção e da gestão da saúde, com ampliação dos

níveis de universalidade, equidade, integralidade e controle social, por outro, a

fragmentação e a verticalização dos processos de trabalho separam as re-

lações entre os diferentes profissionais da saúde e entre estes e os usuários; o

trabalho em equipe, assim como o preparo para lidar com as dimensões sociais

e subjetivas presentes nas práticas de atenção, fica fragilizado (BRASIL, 2004).

Diante de tal quadro, surge a proposta da Política Nacional de

Humanização (PNH), criada em 2003 pelo Ministério da Saúde, visa efetivar os

princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão a saúde.

Qualificando a saúde pública enfatizando a necessidade de assegurar atenção

integral à população e estratégias para ampliar a condição de direitos de

cidadania das pessoas e também a valorização dos trabalhadores (FILHO,

2007).

Tematizar a humanização da assistência abre, assim, questões

fundamentais que podem orientar a construção das políticas em saúde.

Humanizar é, então, ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços

tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das

condições de trabalho dos profissionais (BRASIL, 2004).

As orientações desta política, portanto, partem do SUS que já dá certo

na realidade atual, com a “valorização dos diferentes sujeitos implicados no

processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; fomento

30

da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos; aumento do

grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos;

estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo

de gestão; mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e

subjetivas de saúde; defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo

brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade,

etnia, origem, gênero e orientação sexual; mudança nos modelos de atenção e

gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos

cidadãos, a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde,

valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho; proposta de um

trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil e mais

resolutivo; compromisso com a qualificação da ambiência, melhorando as

condições de trabalho e de atendimento; compromisso com a articulação dos

processos de formação com os serviços e práticas de saúde; luta por um SUS

mais humano, porque construído com a participação de todos e comprometido

com a qualidade dos seus serviços e com a saúde integral para todos e

qualquer um” (BRASIL, 2012).

3.2- Política Nacional de Internação Domiciliar

No Brasil a transformação dos modos de organizar a atenção à saúde

vem sendo considerada indispensável para a consolidação do SUS. A

realidade enfrentada pelos usuários do sistema de saúde nós mostra há

necessidade de adotar modos mais eficientes para utilizar os escassos

recursos destinados ao setor e que tragam resultados positivos aos problemas

enfrentados, além de promover mudança do padrão de atenção à saúde

priorizando a prevenção (FEUERWERKER & MERHY, 2008).

Para isso os valores que regem a assistência à saúde têm sido

modificados, e o SUS em busca de alternativas para incrementar a qualidade

da assistência, institui a política nacional de internação domiciliar que foi

lançada em 2006 considerando a necessidade do aprimoramento do cuidado

oferecido aos usuários do sistema de saúde, e a implementação de alternativas

de cuidado que contribuem para a integralidade da assistência (GIACOMOZZI

& LACERDA, 2006).

31

Sedo assim o programa de internação domiciliar representa uma

estratégia na reversão da atenção hospitalocêntrico, propiciando uma

alternativa de atenção voltada para prevenção, promoção, vigilância à saúde e

na humanização da assistência, contribuindo para a efetivação dos princípios

do SUS, além de racionalizar os leitos hospitalares e os custos da atenção

(SILVA et al, 2005).

A atenção domiciliar diferencia-se por constituir uma modalidade ampla

que envolve as ações de promoção à saúde em sua totalidade, incluindo a

prática de políticas econômicas, sociais e de saúde, que influenciam o

processo saúde-doença dos indivíduos, envolvendo ações preventivas e

assistenciais prestadas no domicílio, ou seja, a incorporação desta modalidade

à saúde pública aponta para uma reestruturação e reorganização das práticas

de saúde transpondo as práticas institucionais (GIACOMOZZI & LACERDA,

2006).

O Ministério da Saúde propõe como objetivo da política nacional de

internação domiciliar, disponibilizar a população um conjunto de atividades

prestadas no domicilio, caracterizadas pela atenção ao paciente com quadro

clínico que exijam cuidados e necessidades de tecnologia especializada, mas

que não necessitam de internação hospitalar com a finalidade de: Evitar a

hospitalização desnecessária, ofertando uma melhor alternativa assistencial;

Humanização do cuidado; Resgate da autonomia do usuário/família; Processos

de alta assistida; Períodos maiores livres de intercorrências hospitalares em

pacientes crônicos; Redução do sofrimento de forma humanizada em situação

de cuidados paliativos.

Existe ainda a perspectiva de promover a desospitalização. Sendo à

atenção hospitalar caracterizada pelo seu elevado custo aos cofres públicos,

atribuído ao emprego de altas tecnologias denominadas tecnologia pesada, e

as elevadas taxas de internações, respaldadas na hegemonia do modelo

hospitalocêntrico, fazendo com que haja uma disparidade entre os gastos

hospitalares e os gastos na atenção básica, mostrando a necessidade de

priorizar novas formas e espaços de atuação em saúde que minimize os

custos, ou seja, a ampliação da atenção básica (SILVA et al, 2005).

Existe ainda uma resposta insatisfatória demonstrada pelos indicadores

de saúde acerca da atenção a saúde centrada nos hospitais, pois são cuidados

32

focados na doença o que implica custos crescentes, particularmente em função

do envelhecimento da população, da transição epidemiológica e, sobretudo, da

incorporação tecnológica orientada pela lógica do mercado, não sendo capaz

de responder às necessidades de saúde da população (FEUERWERKER &

MERHY, 2008).

Diante de tal fato o atendimento domiciliar pode ser caracterizado por

objetivar diversos benefícios, entre eles o social e econômico colaborando para

a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares revisando o

conceito saúde/doença/cuidado comprometido em estabelecer uma relação

mais acolhedora e humana.

A utilização do domicílio como espaço de atenção, busca humanizar a

assistência ou racionalizar a utilização dos leitos hospitalares e os custos da

atenção. Devemos avaliar se tais tentativas para racionalizar os gastos não

produzem efeitos contraditórios com os princípios do SUS, já que têm levado a

estratégias de focalização, de simplificação do cuidado e de instituição de

mecanismo de controle, que buscam retirar decisões da esfera de operação do

trabalho no cuidado, sem falar dos riscos em relação à qualidade da atenção

prestada (FEUERWERKER & MERHY, 2008). E também incentivando o

processo de alta precoce, para ampliar a rotatividade dos leitos hospitalares,

porém justificando-se evitar complicações advindas de internações

prolongadas, não pode ser vista como uma transferência da instituição

hospitalar para o espaço extra-institucional.

Alguns autores apontam para uma nova questão, o do manuseio de

determinadas formas de tecnologias não se relacionar mais exclusivamente

com a educação profissional especializada. Os familiares são incentivados a se

tornarem cuidadores, o que implica uma exploração de suas habilidades

pessoais, condições emocionais e formação cultural/social. Pesquisas sugerem

experiência de isolamento social, privação do sono, stress e depressão, nos

cuidadores domiciliares que manuseiam tecnologias da assistência, que é

então descrita como fonte de ansiedade porque a natureza do cuidado pode

não ser somente potencialmente perigosa, como também, em alguns casos,

envolver parentes em procedimentos dolorosos.

A autonomia e a mobilidade, contidas na idéia da liberdade que seria

proporcionada pela alta hospitalar, tornam-se problemáticas na medida em que

33

tais espaços sofrem o impacto da inovação exercendo influência sobre a

dinâmica familiar. Sendo assim o usuário recebe o que o sistema considera

melhor, mas sem a devida consulta àquele que é seu alvo, é preciso detectar

as dificuldades e as deficiências encontradas e para atingir-se sua meta devem

ser realizados questionamentos mais efetivos e dirigidos, com ênfase no que

se pode melhorar, mas, sobretudo buscar maneiras de viabilizar recursos na

direção certa do saneamento das falhas, visando alcançar o completo bem-

estar biopsicossocial do indivíduo (AMARAL et al, 2001).

O contexto domiciliar deve ser percebido por parte dos profissionais

que ali atuam, de forma mais abrangente, ou seja, ir além do espaço físico,

considerar este ambiente como um conjunto de coisas, eventos e seres

humanos correlacionados entre si e de certo modo, cujas entidades

representam caráter particular e interferente mútuo e simultâneo. O profissional

deve-se inserir, de forma a desenvolver suas ações e interações evitando

considerar somente os problemas físicos, apresentados pelo paciente; mas

observando também os fatores sociais, econômicos, espirituais e culturais,

tanto do paciente como de seu grupo familiar, atuando com vista à

integralidade de suas ações (GIACOMOZZI & LACERDA, 2006).

Outra questão que merece destaque no sistema público de saúde SUS

se refere a dos recursos humanos, trinta por cento dos empregados são

precários e são raros os exemplos em que se conta com planos de carreira e

de desenvolvimento que possibilitem ao trabalhador fixar-se e desejar seguir

carreira, ao contrário existem mecanismos de terceirização, que não vinculam o

trabalhador ao sistema. No contexto do SUS, tomar por estratégico a formação

e qualificação permanente de quadros profissionais é condições para

estabilidade e continuidade de suas ações.

34

Considerações Finais

Como se pôde perceber, muitos avanços foram notados no contexto da

saúde pública brasileira, entretanto, as dificuldades e os empecilhos ainda

demandam reflexões diárias e soluções iminentes. Tem em vista que novos

programas são continuamente criados, readaptados com o intuito de tornar

cada vez melhor o Sistema Único de Saúde do país.

Apesar de todas as ambivalências que os programas governamentais

apresentam, avocando críticas, inclusive, em relação a quais são os seus

objetivos primordiais nesse contexto; acabam propiciando formas alternativas

de melhora do ambiente caótico da saúde pública atual.

O Programa Melhor em Casa, de forma indiscutível, abrange conceitos

claros de humanização, de cuidados paliativos e de proximidade do paciente

com o contexto familiar, o que efetivamente melhora sua reabilitação.

Logo a internação domiciliar no contexto do Sistema Único de Saúde é

um desses programas que deverá sofrer ao longo do tempo adaptações e que

oferecerá grandes benefícios a Saúde Pública brasileira.

Observou-se que no cuidado domiciliar é necessário que o profissional

da saúde busque encontrar uma identificação com o meio ao qual será

inserido, uma vez que no cuidado domiciliar existe o envolvimento do

profissional no ambiente familiar, tornando-se de extrema importância o

conhecimento de crenças, hábitos, normas, valores e cultura dos pacientes e

de seus familiares, através do diálogo constante, pautados no respeito e

solidariedade.

Verificou-se ainda, que o programa de internação domiciliar é

potencialmente capaz de dar seguimento aos tratamentos de saúde iniciados

nos hospitais, atuando na promoção da saúde e prevenção das doenças,

através da redução do tempo da internação hospitalar daqueles pacientes que

possuem condições de ter o tratamento estendido para suas residências.

Assim promove a disponibilidade dos leitos hospitalares e a redução da

infecção hospitalar e evidentemente a redução dos custos para o SUS.

Desse modo, a internação domiciliar, surge como uma opção para

reverter situações antigas e que causava grandes preocupações ao SUS e

seus usuários, sendo que o seu principal objetivo, alem da redução da

35

internação hospitalar, é principalmente promover a saúde, permitindo a

interação de pacientes, familiares e profissionais da saúde, levando

humanização para os serviços oferecidos aos seus usuários.

Portanto, ao final desse trabalho, concluiu-se que o sistema único de

saúde –SUS- apesar das muitas dificuldades, enfrentadas desde o seu

surgimento, vem progredindo, e através de programas como a internação

domiciliar, procura atender seus usuários de forma eficaz. Sabemos que ainda

falta muito, mas através dessa lógica de prestação de serviços, atendendo

reivindicações antigas da sociedade, estamos caminhando para a otimização

dos serviços públicos de saúde. Nesse contexto, a internação domiciliar deve

ser alvo de reflexão, devendo receber devida atenção nas políticas nacionais

de saúde.

36

Referências Bibliográficas

ALBUQUERQUE, A.B.B.; BOSI, M.L.M. Visita domiciliar no âmbito da

Estratégia saúde da Família: percepções de usuários no Município de

Fortaleza, Ceará, Brasil. Cad. Saúde Pública, v.25, n.5, p. 1103-1112, 2009.

AMARAL, N.N.; CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B.;

GABBAI, A.A. Assistência Domiciliar à saúde ( Home Health Care): sua História

e sua Relevância para o Sistema de Saúde Atual. Revista Neurociências, v.9,

n.3, p.111-117, 2001.

BEN, L.W.D.; GAIDIZNSKI, R.R. Sistema de classificação de pacientes em

assistência domiciliária. Acta Paul Enferm, v.19, n.1, p.100-108, 2006.

BERTI, H.W.; ALMEIDA, E.S. Percepção de Gestores Municipais de Saúde

sobre Qualidade da Assistência e Controle Social. Revista Nursing, v.88, n.8,

p.425-431, 2005.

BERTOLOZZI, M.R. O sistema de Saúde Brasileiro: em que ponto estamos?.

Revista Nursing, v.64, n.6, p.27-34, 2003.

BRASIL, Ministério da Saúde. Constituição Brasileira de 1988.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 2.416, de 23 de março de 1998.

BRASIL, Ministério da Saúde. Relatório técnico programa de humanização.

2004.

BRASIL, Ministério da Saúde. As Conferências Nacionais de Saúde: Evolução

e perspectivas. 2009.

BRASIL, Ministério da saúde, Fundação Nacional de Saúde

[http://www.funasa.gov.br/internet/index.asp] acessado em 27/01/2012.

37

BRASIL, Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Disponível

em http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=1342,

acessado em 02 de abril de 2012.

BRONDANI, C.M.; BEUTER, M. A vivência do cuidado no contexto da

internação domiciliar. Revista Gaúcha Enfermagem, v. 30, n.2, p.206-213,

2009.

FABRÍCIO, S.C.C.; WEHBE, G.; NASSUR, F. B.; ANDRADE, J.I. Assistência

Domiciliar: A experiência de um hospital privado no interior paulista. Revista

Latino- Americana Enfermagem, v.12, n.5, p.721-726, 2004.

FALK, M.L.R. contextualizando a política nacional de humanização: a

experiência de um hospital universitário. Boletim da sáude: Porto Alegre, v.20,

n.2, 2006.

FEUERWERKER, L.C.M.; MERHY, E.E. A contribuição da atenção domiciliar

para a configuração de redes substitutivas de saúde: desinstitucionalização e

transformação de práticas. Revista Pabam salud Publica/ Pan am J Public

Health, v.24, n.3, p.180-188, 2008.

FIGUEIREDO, N.M.A. Ensinando a cuidar em Saúde Pública. Difusão

Enfermagem: São Caetano do Sul, p.48-51, 2004.

FILHO, S.B.S. perspectivas da avaliação na Política Nacional de Humanização

em Saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Ciência & Saúde Coletiva,

v.12, n.4, p.999-1010, 2007.

GIACOMOZZI, C.M.; LACERDA, M.R. A prática da assistência domiciliar dos

profissionais da estratégia de saúde da família. Texto Contexto Enfermagem, v.

15, n.4, p.645-653, 2006.

38

GOUVEIA, M.L.; SCHUMACKER, R.C.; MOREIRA, R.M. Satisfação do cliente

quanto ao serviço de atendimento domiciliar da unidade básica de saúde.

Nursing, 2011.

IYDA, M. Cem anos de Saúde Pública: a cidadania negada, Revista UNESP:

São Paulo, 1994.

KLOCK, A.D.; HECK, R.M.; CASARIM, S.T. Cuidado domiciliar: A experiência

da residência multiprofissional em saúde da família/ UFPEL- MS/ BID. Texto

Contexto Enfermagem, v.14, n.2, p.237-245, 2005.

MARIN, M.J.S.; LALUNA, M.C.C.; CAETANO, F.B.; PALASSON, R.R. As

dificuldades de idosos após alta da internação domiciliar. Revista Nursing, v.72,

n.7, p.31-36, 2003.

OLIVEIRA, J.G. Percepção de gestores municipais de saúde sobre qualidade

da assistência e controle social. Revista Saúde Pública, 2007

POLIGNANO, M.V. História das políticas de Saúde no Brasil, uma pequena

revisão. Revista Medicina UFMG, 2012.

PORTO, M.Y. Uma revolta popular contra a vacinação. Cienc Cult [online],

v.55, n.1, p.53-54, 2003.

RIZZOTO, M.L.F. História da Enfermagem e sua relação com a Saúde Pública.

AB: Goiânia, 1999.

SILVA, K.L.; SENA, R.; LEITE, J.C.A.; SEIXAS, C.T.; GONÇALVES, A.M.

Internação domiciliar no Sistema Único de Saúde. Revista Saúde Púbçica,

v.39, n.3, p.391-397, 2005.

SOARES, L.G. Políticas públicas e organização do sistema de saúde:

antecedentes, reforma sanitária e o SUS. História da Saúde Pública no Brasil.

Ebah, 2012.

39