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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA MEDITAR É PRECISO: OS EFEITOS DA MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM À LUZ DA NEUROCIÊNCIA Por: Antônio Ricardo Alves do Nascimento Orientador Prof. Marta Pires Relvas Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO … · memória e de aprendizagem, sendo que as memórias de longo prazo então distribuídas no córtex cerebral. Esta estrutura armazena

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

MEDITAR É PRECISO: OS EFEITOS DA MEDITAÇÃO

TRANSCENDENTAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM À

LUZ DA NEUROCIÊNCIA

Por: Antônio Ricardo Alves do Nascimento

Orientador

Prof. Marta Pires Relvas

Rio de Janeiro

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

MEDITAR É PRECISO: OS EFEITOS DA MEDITAÇÃO

TRANSCENDENTAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM À

LUZ DA NEUROCIÊNCIA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Neurociência Pedagógica

Por: Antônio Ricardo Alves do Nascimento

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que, direta ou indiretamente,

contribuíram para realização deste trabalho, em especial:

a minha filha Nathalia pela compreensão e paciência

quando das ausências, devido as horas de estudos

nas quais precisei me dedicar e aos demais

membros da minha família pelo carinho e incentivo;

à Martha Relvas, minha orientadora, pela forma

generosa e gentil, de compartilhar seus

conhecimentos e conduziu-me à conclusão dessa

jornada;

aos meus colegas do curso de especialização em

neurociência pedagógica, pela parceria e

companheirismo durante esse processo de

conhecimento e descoberta.

DEDICATÓRIA

A você que, não por acaso, encontra-se com este

trabalho diante dos olhos prestes a ser apreciado pelos

lobos frontais

RESUMO

A prática de MT propicia, por meio da plasticidade cerebral,

modificações mensuráveis nas áreas ligadas ao sistema límbico, responsável

pelos processos relacionados às emoções (ansiedade, estresses etc.), do

córtex pré-frontal, este voltado para o planejamento, comportamento social,

pensamentos complexos etc., o hipocampo responsável pelos processos

ligados à aprendizagem e memória.

A neurociência desempenha um papel de significativa importância, no

sentido de desmistificar a prática da MT, fornecendo fundamentação científica

necessárias ao esclarecimento da relação entre os estados alterados da

consciência e o processo de aprendizagem.

O trabalho em tela estimula uma reflexão sobre o possível uso, no

âmbito escolar, de uma ferramenta de relativa simplicidade de aplicação,

natural e de comprovada eficácia, somando-se ao arsenal pedagógico,

necessário ao atual docente, visando ao atendimento das necessidades cada

vez mais demandantes dos alunos, fruto dessa nova era ditada pela tecnologia

da informação.

Palavras chave: Aprendizagem. Educação. Meditação Transcendental.

Neurociência. Plasticidade Cerebral.

METODOLOGIA

O estudo proposto será realizado por meio de pesquisa bibliográfica

qualitativa em artigos acadêmicos e científicos específicos, periódicos, sítios

eletrônicos, tendo em conta critérios como credibilidade e cientificidade,

revistas especializadas no tema, livros de autores consagrados em assuntos

relativamente à meditação, psicologia, educação e neurociência, tais como:

Antônio R. Damásio; Augusto Cure; Daniel Goleman; Leonor B. Guerra;

Elkonon Goldberg; Leonardo Mascaro; Marta Pires Relvas; Ramon M. Cosenza

e Richard Davidson

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O cérebro e a aprendizagem 09

CAPÍTULO II - Neurociência da Meditação 20

CAPÍTULO III – Meditação e Aprendizagem 33

CONCLUSÃO 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS 45

ÍNDICE 48

8

INTRODUÇÃO

Em consonância com as mais recentes pesquisas no campo da

neurociência, possibilitadas pelo atual avanço tecnológico e, considerando a

constante evolução comportamental do atual público alvo - os alunos - em

decorrência da popularização de ferramentas tecnológicas de informação e

comunicação, tais como: internet móvel, facebook, telefones celulares de

última geração, tablets, aparelhos de multimídia, ipods, iphones etc., todas

concorrendo pela a atenção e foco dessa “clientela”, contribuindo desta forma

para uma relativa sensação de estresse e ansiedade que, de certa maneira,

compromete o processo de aprendizagem, o presente trabalho, busca abordar,

com base nas atuais pesquisas e publicações científicas, os mecanismos que

envolvem processo de meditação, especificamente, a meditação

transcendental, sua influência nas respostas neuorofisiológica do cérebro,

contribuindo como mais uma ferramenta do processo pedagógico. Para tanto,

no capitulo I, são descritos os aspectos funcionais das principais estruturas

cerebrais, relacionando-as aos processos de memória e aprendizagem; no

capítulo II, argumenta-se sobre a neurociência voltada para a meditação e

suas implicações nos estágios meditativos; por fim, no capítulo III, são

abordadas as aplicações da meditação, no âmbito educacional, evolvendo a

propriedade de neuroplasticidade cerebral no processo de aprendizagem.

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CAPÍTULO I

O CÉREBRO E A APRENDIZAGEM

Embora dez por cento não se aplique para

quanto nós usamos nosso cérebro, pode

aplicar-se a quanto nós entendemos como

nossos cérebros funcionam.

Robynne Boyd

1.1 – Estrutura cerebral: arquitetura e aspectos funcionais

O cérebro é, notoriamente, o maior e mais poderoso órgão da

constituição biológica do ser humano. Formado por cerca de 90 bilhões de

neurônios e mais de 10 trilhões de conexões entre os mesmos (sinapses).

Todo esse arsenal faz-se necessário para dar conta da complexidade

que é o perfeito funcionamento do ser humano. Inclusive permitindo o

desenvolvimento de atividades totalmente autônomas, como é o caso da

respiração, sono, batimentos cardíacos etc.

É neste fascinante órgão que se dá o processamento das emoções,

pensamentos e aprendizagem. Esta última, intimamente ligada à memória que,

segundo LENT, 2013, refere-se aos processos de adquirir, formar, conservar e

evocar informações, sendo a faze de aquisição coloquialmente chamada de

“aprendizagem”, enquanto a evocação recebe as denominações de expressão,

recuperação e lembrança.

Para desempenhar essas funções, dentre outras, o cérebro necessita de

consumir energia. Para ser ter uma idéia dessa necessidade e do desempenho

cerebral, sabe-se que o custo energético do cérebro para manter uma

10

atividade mínima do corpo em repouso gira em torno de 1/4 do oxigênio

consumido pelos tecidos, apesar deste órgão representar apenas 1/50 da

massa corporal.

O processo de aprendizagem ou memória é codificado pelos neurônios,

armazenado em redes neurais e evocadas por estas mesmas redes ou por

outras (LENT, 2013).

Os neurônios constituem a unidade funcional do cérebro, tanto que

alguns autores referem-se ao cérebro como sendo uma “máquina neural”.

Essa unidade fundamental pode ser classificada em mais de mil tipos

diferentes, porem possuem uma arquitetura

básica, sendo:

• corpo celular – constituído de

núcleo e pericário, geralmente

encontrado em áreas restritas do

sistema nervoso, que formam o

Sistema Nervoso Central (SNC),

ou nos gânglios nervosos,

localizados próximo da coluna

vertebral, sendo responsável por dar

suporte metabólico para toda célula;

• dendritos - geralmente são curtos, medindo de alguns micrômetros a

alguns milímetros de comprimento, possuem ramificações

semelhantes a galhos de uma árvore, em ângulo agudo, originando

dendrites de menor diâmetro. Apresentam contorno irregular, sendo

responsáveis pela comunicação entre os neurônios por meio das

sinapses e;

Fonte:http://www.sogab.com.br/anatomia/sistemanervosojonas.htm

Figura 1 – Estrutura Básica do Neurônio

11

• axônio – filamento único, geralmente mais longo do que os dendritos,

podendo atingir alguns metros, contento poucas ramificações.

Conduz o impulso a partir do corpo celular para fora através de

ramificações terminais com bastões sinápticos e transmissores.

Contém neurofibrilas e neurotúbolos. É recoberto pela membrana

plasmática (neurilema) e por uma bainha de mielina. A mielina é uma

substância branca, rica em lipídios e atua como um isolante,

influenciando na transmissão dos impulsos nervosos.

Assim, a complexidade do comportamento humano depende menos da

especialização de cada neurônio e mais do fato de que essas células formam

circuitos anatômicos precisamente determinados na arquitetura do cérebro.

Isso significa que neurônios com propriedades similares podem produzir, a

partir de suas próprias atividades, diferentes ações simplesmente pela forma

que estejam conectados entre si, pelos diferentes circuitos cerebrais

(MASCARO, 2008).

Juntamente com os neurônios têm-se as chamadas células da glia que,

dentre suas inúmeras funções, algumas ainda pouco estudadas, destacam-se:

a participação na formação da bainha de mielina, anteriormente citada; síntese

de compostos bioquímicos especializados; armazenamento de energia;

manutenção do equilíbrio iônico, realizado em perfeita harmonia com os

neurônios; modulagem de neurotransmissores etc.

O cérebro, constituído em sua grande parte por neurônios e células da

glia, encontra-se dividido em duas metades, os hemisférios cerebrais,

esquerdo e direito, conectados em sua parte central por fibras nervosas

chamadas de corpo caloso, o qual atua como ponte, permitindo, deste modo,

que os dois hemisférios comuniquem-se entre si.

O hemisfério direito é, de uma maneira geral, responsável pelo

processamento das emoções, das informações sensoriais proveniente de

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diferentes canais. Neste hemisfério a memória é armazenada sob forma de

imagens visuais e auditivas. Constitui-se, desta forma, na parte mais criativa e

intuitiva do cérebro, votada para o pensamento simbólico.

Por outro lado, o hemisfério esquerdo é responsável pelo

processamento da fala e da linguagem, sendo responsável processamento

lógico e seguencial, habilidades de abstrações e raciocínio. Neste hemisfério a

memória é armazenada sob a forma de linguagem, possuindo duas áreas

especializadas em linguagem: a área de Broca, responsável pela motricidade

da fala e; a área de Wernicke, responsável pela compreensão verbal. Sendo,

portanto, mais detalhista e racional.

Cada hemisfério encontra-se subdividido em lóbos que desempenham

diferentes tarefas:

• lobos frontais – responsável

pela elaboração do

pensamento, planejamento e

ação. Estudos demonstram a

relação entre a ativação destas

estruturas e a expressão

emocional do indivíduo. Assim,

quanto maior a ativação de áreas

corticais do lobo frontal esquerdo, maior a emergência de emoções

positivas, tais como o otimismo, entusiasmo, bom humor etc. Certos

tipos de emoções negativas relacionadas a comportamentos

violentos, irracionais e anti-sociais, parecem estar ligados a sub-

ativações dos lobos frontais;

• lobos temporais – estão relacionados com o sentido de audição,

possibilitando o reconhecimento de tons específicos, intensidade do

som, compreensão da fala, aprendizagem e memória de curto prazo,

Fonte:http://bunkernerd.com.br/brain-turbine-seu-cerebro/

Figura 2 – Lobos Cerebrais

13

reconhecimento facial, funções ligadas ao controle de temperamento

e humor;

• lobos parietais – relacionam-se com o processamento sensorial e de

sua discriminação, inclusive as somáticas como dor.

Adicionalmente, são também responsáveis pela habilidade de

reconhecimento de padrões, aspectos ligados a auto-imagem e auto-

estima;

• lobos occipitais – estão relacionados ao processamento das funções

de visão e da interpretação das informações visuais. Juntamente

com as áreas posteriores dos lobos parietais, participa do

reconhecimento dos objetos. Alem de estarem diretamente

envolvidos com o processo de relaxamento e à facilitação do sono.

1.2 – O cérebro emocional: sistema límbico, memória e

aprendizagem

No interior do cérebro existe um conjunto de estruturas que funcionam com se

fossem uma central de processamento das emoções, as quais estão

intimamente ligadas ao processo de aprendizagem e memória, sendo

conhecida como “cérebro emocional” ou sistema límbico. Além disso, este

sistema também está envolvido com a regulação do comportamento sexual,

das emoções e dos ritmos biológicos. Os sintomas de alterações funcionais

nestas estruturas envolvem, desde a perda do sentido olfativo até a perda do

controle emocional e da capacidade de integrar a memória recente.

As principais estruturas do sistema límbico são:

• amígdala – desempenha a função de

um autêntico sistema de alarme

neural. Realiza constantes varreduras

Fonte:http://neuroinformacao.blogspot.com.br/2012/08/o-sistema-limbico.html

Figura 3 – Sistema Límbico

14

dos sinais aferentes – os que chegam ao cérebro – em busca de

indícios de problemas ou situações incomuns. Caso detecte algo

ameaçador, gerador de medo, repugnância ou algo desagradável,

esta estrutura reage imediatamente, enviando sinais a diversas áreas

do cérebro que, de uma forma ou de outra, estarão envolvidas na

reação do indivíduo àquela ameaça. Mobilizando respostas de

ataque ou fuga, pela liberação de hormônios na corrente sanguínea,

principalmente a noradrenalina, aumentando, com isso, a reatividade

do cérebro, deixando os sentidos mais aguçados e o individuo em

estado de alerta. Ativas as áreas motoras e o sistema cardiovascular.

Também, ativa os sistemas de memória do córtex cerebral na busca

imediata de informações relevantes que possam fazer frente à

situação de alerta apresentada. Por meio de um feixe de neurônios,

proveniente do tálamo, promove uma resposta emocional mais

rápida, sem necessidade de aguardar o processamento dos centros

corticais superiores, responsáveis por traduzir os sinais recebidos, na

busca de estabelecer um “plano de ação” em resposta ao estímulo

percebido. Desta forma, pode-se inferir que este circuito é

responsável pelas reações instintivas, quando a emoção

praticamente neutraliza o processo de racionalidade feito pelas

estruturas corticais;

• hipocampo – responsável pelo processamento de formação de

memória e de aprendizagem, sendo que as memórias de longo prazo

então distribuídas no córtex cerebral. Esta estrutura armazena o fato

em si, desprovido de qualquer atributo emocional, ficando esta

função a cardo da amígdala;

• fórnix – faz a integração do hipocampo com o septum, corpos

mamilares e o hipotálamo, o qual, além das funções de controle de

variáveis físicas, tais como: temperatura corpórea, sede, fome etc.,

participa do circuito que envolve a amígdala, hipocampo e córtex, no

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que tange ao gerenciamento das respostas corpóreas as mais

variadas situações;

• corpo mamilar – essa estrutura tem como principal função a conexão

com a amígdala e o hipocampo bem como responde pela memória e

as funções olfativas;

• giro cingulado – sabe-se que a sua porção frontal coordena odores, e

visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Participa

ainda, da reação emocional à dor e da regulação do comportamento

agressivo, depressão e ansiedade;

• septum – relaciona-se com as sensações de prazer, principalmente

aquelas associadas às experiências sexuais;

• bulbo olfatório – área olfatória primária do cérebro, sofrendo

influência das conexões do sistema límbico o eu demonstra a ligação

direta entre estímulos olfativos e situações emocionais;

Do ponto de vista endócrino o cérebro possui três glândulas, a saber:

(i) hipotálamo – que possui amplas

conexões com as demais áreas

do cérebro. Lesão dos núcleos

hipotalámicos interfere com

diversas funções vegetativas e

com alguns dos chamados

comportamentos motivados, tais

como: sexualidade,

combatividade, fome e sede. Esta

estrutura também exerce importante papel, dentre outros, no

controle endócrino, regulação da temperatura corporal,

regulagem do comportamento emocional e ritmo circadiano;

Fonte: http://las-hormonas.blogspot.com.br/2012/10/las-hormonas-del-cerebro.html

Figura 4 – Glândulas Cerebrais

16

(ii) hipófise ou pituitária – situada na base do cérebro, dentro de um

pequeno “berço ósseo” denominado sella túrcica. Sabe-se que

uma pequena lesão ou simples anormalidade na formação do

berço ósseo pedem acarretar distúrbio tanto de ordem física

como mental, moral e de aprendizagem. Esta glândula é

também denominada “glândula mestra” por alguns autores, por

ser responsável pela regulação e funcionamento de todas as

demais glândulas do corpo. Sabe-se que a queda de atividade

desta glândula, observada no processo natural de

envelhecimento, está ligada ao mau funcionamento do relógio

interno e, consequentemente, dos padrões de sono. A ação

desta glândula no processo de aprendizagem está ligada a sua

influência no funcionamento da tireóide onde a baixa atividade

desta, pode acarretar uma fluidez mais lenda do sangue pelas

artérias, levando, com isto, pouco nutrientes e oxigênio para o

cérebro, tento com conseqüência a perda na concentração e a

baixa capacidade de aprendizagem e;

(iii) pineal – conectada diretamente aos olhos, trabalhando em

conjunto com a hipófise, recebe informações sobre claro e

escuro, participa regulando ritmo circadiano e demais ritmos do

organismo. Durante muito tempo acreditava-se que esta

glândula era apenas um apêndice sem função no cérebro,

porém, hoje em dia, sabe-se que a pineal, age no processo de

prevenção ao envelhecimento, por meio da produção de

substancias químicas antioxidantes, regulação da pressão

arterial, produção diária de melatonina, fortalecimento do

sistema imunológico, produção de serotonina –

neurotransmissor importante em sua atuação no processo de

manutenção do bom humor e emoções positivas etc.

17

Os processos do sistema límbico estão intimamente correlacionados aos

processos de aprendizagem e memória. De acordo com LENT, 2013, é mais

sensato falar de memórias e não de memória, já que existem vários tipos de

memórias, tantas quantas forem as experiências possíveis. Algumas dessas

memórias, dependendo do tipo de experiência vivida, podem ser adquiridas em

segundos, como é de ter colocado o dedo em uma tomada energizada, outras

em semanas, como andar de bicicleta, outras em anos como uma formação

universitária. Podem ser visuais, olfativas, motoras. Algumas estão

relacionadas ao prazer, outras associadas a experiências não muito

agradáveis etc.

Sendo assim, pode-se concluir que os mecanismos empregados pelo

sistema nervoso central (SNC), para formar e armazenar cada um desses tipos

de memórias são igualmente diferentes.

Ainda, conforme LENT, 2013, pode-se distinguir basicamente dois

grandes tipos de memórias: as declarativas ou explicativas e as memórias

procedimentais ou implícitas, as quais muitos denominam também hábitos, por

serem evocadas de forma quase automática. As memórias declarativas são

aquelas que contem informações de acesso consciente. Inclui-se neste tipo, o

conhecimento de nossa história pessoal e sobre o mundo ao nosso redor,

podendo ser subdividida em memória episódica, aquela que contém

informações sobre a nossa própria vida e eventos a ela relacionados; e

semânticas, que contem informações sobre o ambiente que nos rodeia e da

qual somos capazes de lembrar sem saber como, quando e onde adquirimos.

As memórias procedimentais, contem informações à qual não temos

acesso consciente, tal como um procedimento automático de dirigir um

automóvel, envolvendo aprendizado motor e condicionamento. Na formação

das memórias declarativas participam varias regiões corticais, tais como: pré-

frontal, parietal etc. Este tipo de memória também conta com participação do

hipocampo.

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Já, na formação das memórias implícitas, além de envolver as regiões

corticais e o hipocampo, tem-se a contribuição dos circuitos subcorticais,

implicando o núcleo caudado ou as áreas cerebelares.

Com relação ao período ou tempo de armazenamento tem-se a

subdivisão da memória em dois grupos, a saber:

(i) memória de curto prazo (MCP) – a qual contem fatores limitantes

como extensão e tempo de armazenamento. Alguns autores

estimam que o tempo de retenção da memória de curto prazo gira

em torno de quinze a trinta segundos. A informação armazenada

na MCP pode ser transferida para memória de longo prazo antes

do término deste período. Caso isso não ocorra a informação é

perdida. O tipo de conteúdo ou da experiência vivenciada

favorece ou não a passagem da informação da MCP para MLP.

Portanto, este tipo de memora determina se a informação é útil

para o individuo e deve ser armazenada ou se esta informação

deve ser descartada, dependendo do tamanho da informação.

Estão envolvidas no processo de MCP as estruturas como o

hipocampo, a amígdala, o córtex e o giro para-hipocampal, sendo

depois transferida para as áreas de associação do chamado

neocórtex parietal e temporal e;

(ii) memória de longo prazo (MLP) – compreende o processo de

formação de arquivos e consolidação deste, podendo durar

horas, meses ou décadas. Este tipo de memória influencia as

percepções do mundo e, por conseguinte a tomada de decisões.

A MLP está relacionada com as estruturas cerebrais que inclui o

lobo temporal medial, incluindo o hipocampo, o córtex entorrinal,

o córtex para-hipocampal e do diencéfalo. Pessoas idosas com

disfunção dos lobos frontais têm mais dificuldades para a

memória episódica do que para a memória semântica. Por outro

19

lado, lesões no lobo parietal esquerdo apresentam prejuízos na

memória semântica.

Aprendizagem de habilidades motoras, decorrente de um tipo

MLP chamada por vários autores de memória implícita, depende

de aferências corticais de áreas sensoriais de associação para o

corpo estriado ou para os núcleos da base. O condicionamento

das respostas da musculatura esquelética depende do cerebelo,

enquanto o condicionamento das respostas emocionais depende

da amígdala, como já visto anteriormente. Sabe-se que o neo-

estriado e o cerebelo estão envolvidos na aquisição e no

planejamento das ações, constituindo, então, por meio das

conexões entre o cerebelo e o tálamo e entre o cerebelo e os

lobos frontais.

20

CAPÍTULO II

NEUROCIÊNCIA DA MEDITAÇÃO

Não deixe as vozes das opiniões dos outros

afogarem sua voz interior. E, mais importante,

tenha coragem de seguir seu coração e sua

intuição. De alguma forma, eles já sabem o

que você realmente quer se tornar.

Steve Jobs (em discurso para uma turma de

formandos da Universidade de Stanford)

2.1 – Impulsos elétricos do cérebro e suas implicações

Sabe-se que cérebro é um órgão elétrico e, sendo assim, possui

atividades elétricas que podem ser medidas objetivamente. Estas atividades

são, em última instância, fruto da somatória de atividades elétricas individuais

de cada uma das centenas de milhares de neurônios que possuem seus

corpos celulares dispostos no córtex cerebral.

Desta forma, em um processo meditativo, cientificamente controlado, o

que se mede são as atividades elétricas corticais do cérebro, ou seja, dos

neurônios, buscando-se, com isso, estabelecer uma relação entre estas

atividades elétricas e os diferentes estados de consciência alcançados durante

o processo meditativo. Adicionalmente, segundo MASCARO, 2008, pode-se

também relacionar a tensão muscular, por meio da eletromiografia (EMG), para

realizar avaliações do nível de relaxamento em que o paciente se encontra

durante as sessões de meditação, associadas a um analisador de espectro

especialmente desenvolvido, denominado Mind Mirror, oriundo do estudo de

mestres na arte da meditação.

21

Assim, têm-se basicamente quatro categorias de ondas cerebrais –

atividades elétricas produzidas pelo cérebro – com suas frequências e suas

amplitudes, sendo estas as duas dimensões consideradas na análise dos

ritmos elétricos cerebrais, que podem ser medidas pela eletroencefalografia

(EEG), por meio de contatos (eletrodos) colocados na superfície da cabeça.

Sabe-se que a frequência e amplitude, produzidas pelas ondas

cerebrais, caracterizam a velocidade de transmissão de informações entre os

neurônios, relacionando-se ao número de vezes em que, em um segundo, um

neurônio comunica-se com outros (sinapse), sendo que cada neurônio pode

estar conectado com cerca de outros dez mil (MASCARO, 2008).

Considerando-se os cerca de 90 bilhões de neurônios existentes em nosso

cérebro, pode-se estimar, com isto, que em torno de dez trilhões de conexões

estão envolvidas no processo de pensamento, movimento, dor, sonhos,

emoções etc. Portanto, isto é mais do que o número estimado de estrelas no

universo, o que demonstra a grande dimensão de atividades no interior do

cérebro humano.

Com isso, o número de vezes em que cada neurônio emite um pulso de

informação para outro neurônio em um segundo, denomina-se de frequência e

é medido em Hertz (Hz). Já a amplitude está relacionada com a intensidade de

cada impulso elétrico, sendo medida em microvolts (µV).

Assim, segundo, MASCARO, 2008, a transmissão de informações entre

os neurônios no córtex cerebral é representada pelas letras gregas – alpha (α);

beta (β); delta (δ) e theta (θ), conforme sua velocidade, sendo: beta (β) – 14 Hz

– 38 Hz; alpha (α) – 8 Hz a 14 Hz; theta (θ) – 4 Hz a 8 Hz e; delta (δ) – 0,5 Hz

a 4 Hz. Pode-se, então, inferir que as quatro categorias de velocidades

(frequências) representam diferentes níveis de processamento da informação

no cérebro.

22

Alguns autores descrevem estas diferentes freqüências relacionando-as

em termos de dinâmica psíquica bem como a diferentes estados de

consciência, tais como:

• beta (β) – 14 Hz – 38 Hz – a mais

rápida das frequências cerebrais,

onde ocorre a atividade mental

consciente e a capacidade de

pensar. Por tanto, representa

predominantemente o nosso

estado de vigília, ou seja, nossa

mente analítica;

• alpha (α) – 8 Hz a 14 Hz – frequência comumente relacionada ao

estado meditativo, pois, durante muito tempo acreditava-se que esta

freqüência de atividade cerebral era o objetivo a ser alcançado pelos

meditadores transcendentais. De fato, segundo alguns autores, a

frequência alpha está relacionada ao estado de relaxamento, porém

possuindo-se ainda uma consciência interna, ou seja, uma

autopercepção dos pensamentos e dos processos internos, aumento

da criatividade, bem estar, memorização e abstrações. Para

MASCARO, 2008, a frequência alpha representa a ponte entre a

nossa mente consciente, em beta, e nosso subconsciente em theta.

Funcionando, como lente que ajusta o olho míope da mente

consciente, permitindo a ela ler o conteúdo distante do

subconsciente, a fim de vivenciarmos nossas experiências interiores;

• theta (θ) – 4 Hz a 8 Hz – frequência que representa um estado mais

profundo de relaxamento, com baixa atividade cerebral,

correspondente a sua baixa frequência. Está relacionada ao

subconsciente, sendo mais frequentemente observada durante o

sono do tipo REM, do inglês, Rapid Eye Movement (movimentos

Fonte: http://www.neuroterapia.com.br/ondas-cerebrais-neurofeedback.html

Figura 5 – Frequências das Ondas Cerebrais

23

rápidos dos olhos), geralmente associado à experiência de sonhar,

ao acesso a memórias remotas, aprendizagem acelerada,

criatividade, habilidades e vocações. Segundo, MASCARO, 2008,

crianças, até nove anos de idade, apresentam predominância de

frequência theta, do córtex límbico, sendo tudo que vivem gravado

neste tipo de arquivo emocional. Deste modo, justifica-se fase

criativa e de pensamentos mágicos vividos pelas crianças durante

este período de vida. Quando na fase adulta o funcionamento

cerebral migra para frequência beta, situada no córtex cerebral,

restando o funcionamento na freqüência theta para o período

noturno, durante o sono;

• delta (δ) – 0,5 Hz a 4 Hz – é a frequência mais lenta do

nosso cérebro, caracterizada pelo sono profundo, neste estado é

produzido o hormônio do crescimento, proporcionando a

regeneração celular. Nesta freqüência cerebral têm-se acesso ao

inconsciente e à intuição. Diferentemente de theta, mais relacionado

dimensão pessoal e individual, a frequência delta está vinculada,

segundo alguns autores, a experiências mais sutis da inconsciência

denominada inconsciente coletivo.

Desta forma, as diferentes composições dessas quatro frequências

determinam, de certa maneira, os variados estados de consciência que o ser

humano experimenta ao longo de sua vida. Há, no entanto, uma quinta

frequência, mencionada por MASCARO, 2008, cuja maior produção é

alcançada durante o processo meditativo, denominada frequência gama, que

pode alcançar índices acima de 40 Hz. Sua presença tem sido registrada em

monges com extenso treinamento em meditação, chegando à faixa de 70 Hz a

80 Hz. Assim, os impulsos cerebrais podem circular entre o consciente,

subconsciente, inconsciente e estado alterado da mente conforme as

frequencias beta, theta, delta e gama, respectivamente.

24

2.2 – O cérebro no controle do cérebro

O cérebro humano é um órgão “treinado” para responder de forma

eficiente aos estímulos externos. Esta capacidade vem garantindo a

sobrevivência da humanidade deste dos tempos mais remotos até os dias de

hoje. No entanto, um ambiente rico em estímulos pode agir como um fator de

distração para esse órgão. Para equilibrar essas múltiplas solicitações

externas, GOLDBERG, 2002, sustenta o fato de que o cérebro humano teve

que evoluir, lentamente, de estágios mais simples de reação ao caos externo

para um estágio mais complexo, onde esse órgão fosse capaz de agir

deliberadamente na seleção desses estímulos. Neste sentido, este autor

descreve o teste de Stroop, onde a pessoa é solicitada a olhar para uma lista

de nomes de cores, impressas em cores discordantes, como por exemplo, a

palavra “vermelha” impressa em cor azul ou ao contrário. Desta forma, pede-se

para o indivíduo nomear as cores, em vez de ler as palavras. Assim, a

tendência natural de uma pessoa alfabetizada é ler o material escrito, embora

a tarefa seja nomear as cores. Para ter êxito nesta tarefa, por tanto, deve-se

seguir um plano interno em detrimento do impulso natural.

Esse experimento mostra a capacidade da maioria das pessoas em

exercer uma orientação do comportamento por meio de uma representação

interna. Isto, segundo GOLDBERG, 20012, acontece tão sem esforço que

tomamos por uma condição garantida, porém, por mais trivial que isso possa

parecer, esta capacidade emerge relativamente tarde na evolução cerebral e

está ligada a atenção.

Segundo DAVIDSON & BEGLEY, 2013, a desatenção impede que uma

pessoa se concentre nos detalhes e, consequentemente, faz com que ela

cometa erros nas tarefas escolares, no trabalho bem como em outras funções,

fazendo com que a pessoa se distraia constantemente. Segundo esse mesmo

autor, dados mais recentes do governo americano mostram que

aproximadamente 9,5% da população do país com idade entre 4 e 17 anos, o

25

que equivale a 5,4 milhões de crianças e adolescentes, receberam diagnóstico

de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Embora os

sintomas dos diferentes tipos de TDAH indiquem a existência desajustes em

vários processos cerebrais, o foco do problema parece estar nos circuitos

responsáveis pela a atenção e pela inibição de resposta, ou seja, a capacidade

de conter os impulsos. DAVIDSON & BEGLEY, 2013, exemplificam, ainda,

que em uma análise de 16 estudos, que envolveram 184 pacientes com TDAH

e 186 pessoas que não apresentavam o transtorno, pesquisadores do Centro

de Estudos sobre Crianças da Universidade de Nova York descobriram que

várias regiões do córtex pré-frontal relacionadas com a atenção seletiva e a

inibição de resposta (em particular a região do córtex pré-frontal inferior)

apresentavam baixa atividade no grupo que sofria de TDAH, sendo esta região

fortalecida pela prática de meditação, possibilitando desta forma, o

aprimoramento vários aspectos da atenção e consequentemente da

aprendizagem.

Neste sentido, MASCARO, 2008,

argumenta sobre a demonstração da existência,

pelos neurocientistas Moruzzi e Magoun, em

1949, da Formação Reticular Ativadora, uma rede

de neurônios que parece especificamente

adaptada, tanto no que diz respeito à sua

estrutura morfológica quanto no que se refere ao

seu funcionamento, para desempenho do papel

de regulador de estado do córtex cerebral,

alterando seu tônus e modulando os diferentes estados de atenção e

consciência. A excitação neural se espalha por essa estrutura gradualmente,

modulando toda a atividade do sistema nervoso central (SNC). Sua

estimulação na parte posterior do hipotálamo e estruturas subtalâmicas

adjacentes evoca uma resposta fisiológica que pode ser traduzida como um

alerta, gerando um acréscimo excitabilidade e aguçando a sensibilidade o que

torna o indivíduo mais susceptível aos estímulos externos.

Fonte: http://www.cerebromente.org.br/n15/tecnologia/sonoterapia.html

Figura 6 – Formação Reticular Ativadora

26

Segundo Lúria (apud MASCARO, 2008, p. 81), o sistema nervoso, do

ponto de vista funcional, dividi-se em três principais unidades, todas

igualmente necessárias para qualquer tipo de atividade mental:

i- regulação do tônus, vigília e estados mentais;

ii- obtenção, processamento e armazenamento da

informação e;

iii- programação, regulação e verificação da atividade mental.

Cada uma dessas unidades é hierárquica em estrutura e consiste

em, ao menos, três zonas corticais construídas uma sobre a outra:

primária, de projeção; secundária, de projeção/associação e; terciária de

sobreposição, constituindo os últimos sistemas corticais a se

desenvolverem no cérebro humano e estando responsáveis pelos

processos mentais superiores e mais complexos que requerem a

participação de diversas áreas corticais simultaneamente, sendo a

Formação Reticular Ativadora pertencente à primeira delas.

Segundo, MASCARO, 2008, o córtex cerebral e o Sistema

Ativador Reticular (SAR), parte integrante da Formação Reticular

Ativadora, modulam, um ao outro, de modo a manter o nível de

estimulação ideal. Neste caso, se estímulo que chega ao córtex torna-se

muito intenso, o SAR envia sinais inibitórios no sentido de reduzir a

excitação cortical, por outro lado, se o estímulo proveniente córtex é

muito fraco, o SAR envia sinais tônicos ao córtex, objetivando, com isso,

manter o tônus cortical no nível mais adequado possível. Deste modo,

por participar da regulação do tônus cortical, deduz-se que o SAR

desempenha um papel de alta relevância no processo fisiológico da

meditação e dos estados alterados da consciência.

27

Ainda segundo, MASCARO, 2008, pelo seu posicionamento, o

SAR funde-se com o sistema límbico, o qual é o principal responsável

pelo processamento emocional, formação da memória e aprendizagem.

Este também exerce um papel determinante em algumas alterações

sensoriais e de percepção relacionadas aos estados de euforia, de

consciência dual (observação de si mesmo), perda de consciência dos

limites corporais, sensação de flutuações corporais e experiências

visuais incomuns, regulação de respostas fisiológicas de relaxamento e

a chamada reação de ataque e fuga. A ação integrada entre o sistema

límbico e o SAR, na modulação dos estados de consciência e de

percepção, envolve, também, a participação do Sistema Nervoso

Central que funciona como uma espécie de regulador das funções vitais,

por meio do Sistema Nervoso Autônomo: Simpático – de ação rápida

relacionada ao estado de alerta fisiológico, onde toda a fisiologia se

prepara para ação, com aumento da respiração, dos batimentos

cardíacos, do consumo de oxigênio e da pressão arterial e

Parassimpático – de ação mais lenta, correspondente a resposta de

relaxamento, queda do consumo de oxigênio, diminuição da freqüência

cardíaca e da pressão arterial, com menor produção de adrenalina e

corticóides, o que é acompanhado por sensações de tranquilidade,

calma e serenidade.

Sabe-se que as atividades cerebrais podem ser monitoradas por

meio da eletroencefalografia (EEG). Assim, quando uma pessoa é

submetida a este exame, pode-se evidenciar um possível estado de

excitação ou stress, por meio de um aumento do perfil do tônus cortical,

marcado por uma maior produção de ondas betas, por outro lado, se a

pessoa apresenta um estado de relaxamento, este pode ser, também,

evidenciado pela diminuição das ondas e betas e o aumento das ondas

thetas, alphas e, dependendo do estado de relaxamento ou meditativo,

o aumento das ondas deltas ou gamas. Neste sentido, segundo, Lesh

(apud MASCARO, 2008, p. 94) o quadro a seguir, ilustra a relação entre

28

os estados meditativos subjetivos e os padrões de atividade elétrica

cortical:

Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos

TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS Nº de

Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)

0

• Começando a relaxar

• Dificuldade em acalmar a

mente

• Estado desatenção,

distração

• Um sentimento de “por

que estou fazendo isso?”

• Uma sensação de

aquietar-se, sossegar

• Beta contínuo, muitas vezes

com alguns disparos de

outras frequências

• Possível alpha intermitente

1

• Mente em estado

“nebuloso” ou “enevoado”

• Sentindo-se tonto ou

confuso

• Sentindo-se sob o efeito

de um anestésico

• Sensação ocasional de

náusea

• Mente repleta de afazeres

do dia a dia – quase como

evitando a tranquilidade

interior

• Beta algo reduzido, mas

ainda presente

• Alpha com maior magnitude,

mas intermitente

29

Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos (continuação) TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS

Nº de

Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)

1

• Sensação de energias

dispersas

• Sensação de adormecer

ou de ter sido retirado do

limiar do sono

• Beta algo reduzido, mas

ainda presente

• Alpha com maior magnitude,

mas intermitente

2

• Energias dispersas

começam a se reunir

• Começando a sentir calma

e relaxamento

• Flashes vívidos de

imagens não solicitadas

• Flashbacks de infância

• Imagens do passado

distante a imediato

• Atenção não muito

sustentada

• Uma sensação de estar

“entre estados”

• Estado de transição

• Beta reduzido

• Alpha com maior magnitude,

podendo ser contínuo

• Theta intermitente (baixa

frequência)

3

• Maior sentimento de

estabilidade

• Estado bem definido

• Sensações corporais de

flutuação, leveza ou

balanço

• Leve movimento rítmico

ocasional

• Beta marcadamente

reduzido

• Alpha contínuo

• Theta possivelmente mais

contínuo, com frequência

e/ou amplitude aumentadas

30

Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos (continuação)

TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS

Nº de

Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)

3

• Concentração facilitada e

fortalecida

• Imagens mais claras e em

maior quantidade

• Habilidade incrementada

para seguir visualização

conduzida

• Beta marcadamente

reduzido

• Alpha contínuo

• Theta possivelmente mais

contínuo,com frequência

e/ou amplitude aumentadas

4

• Percepção extremamente

clara da respiração,

batimentos cardíacos,

fluxo sanguíneo ou outras

sensações corporais

• Sensação de perda dos

limites corporais

• Sensação de membros

adormecidos

• Sensação de estar cheio

de ar

• Sensação de crescer

enormemente ou

contrariamente, tornar-se

muito pequeno

• Sensação de grande

leveza ou peso

• Alternando, algumas

vezes, entre a percepção

exterior e interior

• Beta marcadamente

reduzido

• Alpha contínuo

• Theta aumentado

31

Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos (continuação)

TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS

Nº de

Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)

5

• Estado de consciência

marcadamente lúcido

• Sensação de profunda

satisfação

• Estado de alerta, calma e

distanciamento intensos

• Sensação de desaparecer

do ambiente e/ou do

próprio corpo

• Visualização

extremamente vívida,

quando desejado

• Sensação de estado

alterado ausente das

descrições fornecidas nos

níveis anteriores, de 0 a 4

• Sensação de experiência

de pico, insight intuitivo ou

“sacada” do tipo “a-ha”

• Alta performance

• Pronunciado domínio sobre

beta – indo de uma ausência

completa de pensamentos a

pensamentos criativos

• Apha e Theta contínuos,

com alpha em freqüências

mais próximas das de Theta

6

• Nova forma de se sentir

• Insight intuitivo de velhos

problemas, como que

vistos de um nível de

maior percepção

• Síntese de opostos de

união superior

• Quatro padrões possíveis no

Mind Mirror:

a) Mente Desperta (beta, alpha,

theta, delta)

b) Meditação plena (alpha,

theta, delta)

32

Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos

TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS

Nº de

Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)

6

• Sensação de estar envolto

em luz

• Sensação de maior

consciência espiritual

• Sensação de “nada

importa”, a não ser existir,

ser

• Experiência de

contentamento

• Experiência de paz

indefinível

• Sensação de maior

conhecimento do universo

c) Atividade elétrica cerebral

muito baixa (indicando

possível saída do corpo)

d) Mente evoluída (padrão

circular incluindo beta, alpha,

theta e delta, porém sem

gargalos)

Fonte: MASCARO, 2008, p. 94 – modificado

33

CAPÍTULO III

MEDITAÇÃO E APRENDIZAGEM

A faculdade de trazer de volta

voluntariamente uma atenção divagadora,

muitas e muitas vezes é a própria raiz do

juízo, do caráter e da vontade

Willian James

3.1 – O processo meditativo

Tanto os processos meditativos quanto a definição de meditação ainda

são muito discutidos dentro dos meios científicos e acadêmicos. Segundo o

Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, meditar significa, entre outras

definições, pensar, refletir etc., porém, sabe-se que durante a prática de

meditação, notadamente na Meditação Transcendental (MT) o objetivo é

justamente o oposto, ou seja, evitar a corrente de pensamentos, deixando que

a mente foque apenas um objeto, símbolo ou mantra. Assim, durante a

meditação transcendental, o esforço executado pelo cérebro para se

concentrar em um único ponto torna-o mais ativo, ao contrário do senso

comum de que a meditação nada mais é do que um estado de repouso.

Neste sentido, GOLEMAN, 2014, compara o processo meditativo ao ato

de executar exercícios físicos para o fortalecimento dos músculos, uma vez

que, na meditação, particularmente, a do tipo transcendental, ocorre a

orientação para manutenção do foco em um mantra (tipo de som, palavra ou

34

até mesmo a própria respiração), quando, inevitavelmente, a mente começar a

divagar, o meditante a traz de volta ao seu ponto focal e mantém a atenção

neste ponto. Quando a mente voltar a divagar o retorno da atenção é

provocado. Sendo este procedimento realizado repetidamente ao longo da

prática da meditação. Assim, segundo o citado autor, neurocientistas da

Universidade Emory, em Atlanta, usaram imagens feitas por ressonância

magnética para estudar os cérebros de meditantes que passaram por esse

simples movimento da mente. Desta forma, esses cientistas constataram que

durante a divagação da mente, o cérebro ativa os circuitos mediais habituais.

No instante em que se percebe que a mente divagou, outra rede de atenção, a

de ênfase, entra em atividade. E quando se muda o foco para o mantra e o

mantém, os circuitos de controle cognitivo pré-frontais assumem o comando.

Com isso, como em qualquer exercício físico, quanto mais repetições são

feitas, mais forte fica o músculo, ou seja, analogamente, quanto mais se

pratica a meditação, fortalece-se, com isto, as regiões pré-frontais do cérebro,

desta forma os benefícios funcionais advindos desta estrutura são

naturalmente obtidos.

Como visto anteriormente, testes/exames com etroencefalografia vêm

demonstrando que a concentração, uma das etapas iniciais da prática

meditativa, é um processo cognitivo que requer treinamento e integração de

diferentes redes neurais. Desta forma, o aumento de atividade de ondas alpha,

theta e delta que refletem estados de relaxamento, atenção, criatividade etc, e

redução de ondas beta, que indicam estado de pensamentos conscientes,

ansiedade etc, durante a meditação transcendental, mostram que o cérebro se

encontra mais orientado internamente quando desta prática.

DAVIDSON & BEGLEY, 2013, descrevem uma investigação ocorrida na

Universidade Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, onde fora estudada a

atividade eletroencefalográfica de indivíduos que meditavam diariamente havia

mais de 20 anos e de um grupo-controle. Os autores observaram o surgimento

de ondas cerebrais amplas, do tipo gama (acima de 40 Hz), somente em

35

indivíduos que meditavam diariamente, mostrando grande concentração e

aumento de atividade neuronal. Adicionalmente, os autores também

constataram, em um abade voluntário, com mais de 10 mil horas de

meditação, um aumento da porção do córtex cerebral esquerdo, em relação às

outras 150 pessoas sem experiência de meditação, estudadas. O que,

segundo os referidos autores, tal padrão de excitabilidade sinaliza um bom

estado de espírito, ou seja, um "estilo emocional positivo". Por outro lado, as

pessoas mais infelizes e pessimistas apresentam o predomínio de atividades

no lado direito do córtex pré-frontal.

Contudo, no intuito de provar que as modificações neuronais

observadas nos indivíduos meditantes não eram inatas, os acima citados

autores, recrutaram voluntários entre funcionários de uma empresa de

biotecnologia, dividindo-os em dois grupos aleatórios. Metade formou um grupo

de controle, enquanto os 23 restantes receberam treinamento em meditação

com aulas de duas de duas a três horas semanais, complementadas por uma

hora diária de treino em casa. Assim, de acordo com as medições efetuadas

por eletroencefalografia (EEG), a atividade no lobo frontal daqueles que

participaram do curso de meditação deslocou-se da direita para a esquerda.

Isso refletiu no bem estar dos voluntários que relataram a diminuição dos

medos e um estado de espírito mais positivo. Entre os que não meditaram,

nenhum deslocamento no padrão das ondas cerebrais foi verificado. Conclui-

se, então que a meditação pode modificar, pra melhor, o padrão da atividade

cerebral de qualquer pessoa.

GOLEMAN, 1988, resume várias técnicas de meditação diferindo-as na

duração, no objeto, no método, usos de mantras etc. No entanto, os resultados

finais bem como os efeitos produzidos no cérebro são semelhantes, ou seja,

verifica-se com a prática e, mais efetivamente, com a meditação

transcendental, um aumento das atividades do córtex cingulado anterior, região

relacionada à atenção e à concentração; do córtex pré-frontal, ligado, dentre

outras funções, à realização de planejamento, pensamentos complexos e

36

comportamento social; do hipocampo, principal sede da memória. Sabe-se,

também, da influência da meditação nas funções do sistema límbico como

todo, regulando as emoções bem como diretamente no hipotálamo,

responsável pelo processo de relaxamento, decorrente da meditação, pela

regulagem do Sistema Nervoso Autônomo, com subsequente ativação do

sistema nervoso parassimpático, diminuindo a freqüência cardíaca, a taxa

respiratória e, consequentemente, a atividade do Cerúleo ou locus coeruleus,

resultando na diminuição da noradrenalina, regulação da produção de

hormônios ligados ao stress, tais como: hormônio adrenocorticotrófico (ACTH);

cortisol e arginina-vasopressina (AVP), proporcionando, desta forma, uma

situação muito favorável para consolidação da memória e do aprendizado.

Assim, segundo informa o sitio eletrônico da Sociedade Internacional de

Meditação Transcendental, foi estabelecido, em 2005, Comitê para Escolas

Livres de Estresse, em parceria com a Fundação David Lynch para Educação

Baseada na Consciência e Paz Mundial, uma organização internacional sem

fins lucrativos, que tem, dentre os propósitos, a implantação de um projeto de

prática de meditação transcendental para estudantes e professores, em

escolas públicas e particulares em todo o mundo bem como fornecer recursos

para universidades e instituições de pesquisa para avaliar os efeitos da

meditação transcendental na criatividade, inteligência, desempenho

acadêmico, Transtorno do Déficit de Atenção Hiperatividade (TDAH),

ansiedade, depressão, uso de substancias e outros distúrbios de

aprendizagem. Este programa consiste, basicamente, em ministrar duas

sessões de 10 a 15 minutos de meditação transcendental, baseada no

programa de Meditação Transcendental de Maharishi Mahesh Yogi, por ser

uma técnica simples e natural, comprovada cientificamente, por mais de 600

estudos controlados.

Neste sentido, no Brasil, tem-se implantada a prática da meditação

transcendental em diversas escolas da rede estadual, dentre estas, pode-se

citar as escolas: Bernardo Valadares de Vasconsellos, em Sete Lagoas (MG),

37

com 1.400 alunos que realizam todos os dias, o “Tempo de Silêncio”. Onde,

quem desejar pode aproveitar os 15 minutos para meditar. Quem não quiser,

pode apenas descansar; o CIEP Helio Pelegrino e o Colégio José Leite Lopes

(NAVE), ambos no Rio de Janeiro, onde os resultados da prática da meditação

transcendental pode ser melhor exemplificada por meio dos depoimentos dos

alunos R. C. (NAVE) e C.H.O (CIEP), dado ao sitio eletrônico da Secretaria

Estadual de Educação. Assim, para R. C. :

Existem algumas situações que se repetem em minha vida e que eu costumava lidar de uma mesma maneira. Hoje, com pouco tempo de Meditação, já posso notar que a minha atitude é diferente. E mudou para melhor. Eu já não ajo impulsivamente, me seguro mais. A Meditação para mim é o meu mantra, meu estilo de vida. É uma nova maneira de ver o mundo. E é uma amizade comigo mesma.

Já, para C. H. O., a prática da meditação transcendental, ao longo de

duas semanas, também surtiu efeito:

Eu sou um garoto muito estressado, mas ultimamente tenho ficado muito mais tranquilo, mais paciente com tudo e com todos. A Meditação ajuda mesmo a centrar e acredito que vá me trazer muitos benefícios futuramente. Vou aprender a ser uma pessoa mais calma, mais reservada e serena. Meditação é saúde física e mental, como comprovado cientificamente. Na verdade, eu não acreditava em nada disso, eu era ignorante nesse assunto. Mas como saber se é bom ou não se a gente nunca experimentou? Então eu resolvi experimentar e gostei. Aqui fica o meu conselho: faça Meditação. Ela vai transformar a sua vida.

3.2 – Neuroplasticidade e aprendizagem

Segundo LENT, 2013, Neuroplasticidade ou Plasticidade Neuronal,

como é mais amplamente conhecida, trata-se da propriedade do sistema

nervoso em promover alterações em sua função e/ou estruturas em respostas

as influências ambientais que o atingem. Essas alterações podem ser

extremas ou sutis. Por exemplo, do lado extremo, elas podem ser provenientes

de uma lesão traumática, cirúrgica ou congênita e podem levar a mudanças de

38

posição de setores funcionais com o redirecionamento de circuitos neurais,

que podem ser comprovadas por meio de técnicas de neuroimagens. Por outro

lado, um simples fato novo que é presenciado pode resultar em alterações

sinápticas moleculares capazes de possibilitar a memorização daquele

episódio por um longo tempo durante a vida. Em ambos os casos trata-se de

neuroplasticidade.

Neste sentido, em consonância com a definição anteriormente citada,

pode-se inferir que o processo educacional, tendo por conseguinte a

aprendizagem, em última análise, provoca a neuroplasticidade no aluno.

Sabe-se, atualmente, que tanto durante o desenvolvimento quanto na

vida adulta, a neuroplasticidade pode manifestar-se. Ainda, segundo LENT,

2013, a neuroplasticidade apresenta-se sob três maneiras distintas, a saber:

I) morfológica – mediante alterações nos axônios, nos dendritos e

nas sinapses;

II) funcional – mediante alterações na fisiologia neuronal e sináptica

e;

III) comportamental – mediante alterações relacionadas com

fenômenos de aprendizagem e memória. Esta última, por óbvio,

relacionada à educação.

Sabe-se que a intensidade de variação da plasticidade cerebral varia

com a idade do indivíduo. Segundo LENT, 2013, durante o desenvolvimento

ontogenético o sistema nervoso é mais plástico e tudo se molda a partir das

“informações” do genoma em conjunto com as influências exercidas pelo meio

ambiente. Neste sentido, a plasticidade ontogenética confunde-se com o

próprio desenvolvimento normal do indivíduo, devido à semelhança entre os

seus mecanismos. Por outro lado, na fase adulta a capacidade plástica do

39

cérebro diminui ou se modifica significativamente. Pode-se melhor observar os

tipos e características da neurorplasticidade cerebral no quatro a seguir:

Quadro 2: Tipos e Características da Neuroplasticidade

Segundo a IdadeSgundo a Mnifestação

Segundo o Alvo Segundo o Fenômeno ObservadoSegundo a Intensidade

Regeneração de fibras lesadas ForteBrotamento de fibras íntegras Forte

Dentrítica Ramificação e brotamento de espinhas ForteSináptica Sinaptogênese Forte

Funcional Neuronal Parâmetro de atividade neuronal ForteComportamental Sináptica ? ?Comportamental - Aprendizagem memória Forte

Regeneração de fibras lesadas no SNP ForteBrotamento de fibras íntegras Fraco

Dentrítica ? ?Sináptica Formação de novas sinápses ?

Funcional Sináptica Habituação, sensibilização, LTP, LTD e outras Forte

Comportamental - Aprendizagem memória Forte

Axônica

Plasticidade Ontogenética

Plasticidade Adulta

AxônicaMorfológica

Morfológica

Fonte: LENT, 2013, capítulo 6, p. 113

Desta forma, de acordo com o alvo de atuação, temos:

i) plasticidade axônica – ocorre com maior intensidade no período

chamado crítico, que varia entre 0 a 2 anos de idade (segundo a

maioria dos autores), sendo fundamental para o estabelecimento

de um desenvolvimento normal do Sistema Nervoso;

ii) plasticidade dendrítica – caracterizada por alterações no número,

no comprimento, na disposição espacial e na densidade das

espinhas dendríticas, constituídas, principalmente, de

micropetídeos privilegiados que concentram íons e pequenas

moléculas influentes na transmissão de informações entre os

neurônios nas fases iniciais de desenvolvimento do indivíduo;

40

iii) plasticidade somática – que pode ser entendida como a

capacidade de regular a proliferação ou a morte de células

nervosas. Neste sentido, somente o sistema nervoso central

embrionário é dotado de tal capacidade e ele não responde a

influências do meio externo;

iv) plasticidade sináptica – caracteriza-se por alterações nas

sinapses entre as células nervosas, uma espécie de “musculação

sináptica”, conforme postulado pela chamada lei de Hebb que

envolve um mecanismo de detecção de coincidências temporais

nas descargas neuronais, ou seja: se dois neurônios estão

simultaneamente ativos, suas conexões são reforçadas, caso

apenas um esteja ativado em dado momento, suas conexões são

enfraquecidas e adicionalmente;

v) plasticidade regenerativa – consiste no recrescimento de axônios

lesados. Sua ocorrência é maior no sistema nervoso periférico e é

facilitada pelas células não neurais que compõem o

microambiente dos tecidos. No sistema nervoso central,

entretanto, a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de

regeneração tem se constituído em um grande enigma da

neurobiologia. Ao contrário do sistema nervoso periférico, as

reações regenerativas do sistema nervoso central, se ocorrem, de

um modo geral, não conseguem garantir recuperação funcional,

embora existam regiões restritas do sistema nervoso central

adulto que mantêm capacidade proliferativa de neurônios que

degeneram.

Considerando-se a modificação cerebral – plasticidade – sob a

perspectiva de respostas a estímulos internos, a exemplo do que acontece no

processo de meditação, DAVISON & BEGLEY, 2013, descreve um

experimento científico que exemplifica essa propriedade de modificação do

41

cérebro em consequência dos pensamentos e intenções, incluindo alterações

de funções de algumas áreas cerebrais, fortalecimento ou enfraquecimento de

conexões entre diferentes regiões cerebrais, modificação do nível de atividade

em circuitos cerebrais específicos bem como modulação de substâncias

neuroquímicas. Trata-se do experimento denominado de “piano virtual”, onde

um grupo de cientista liderado por Álvaro Pascual-Leone, da Universidade de

Harvard, solicitou que a metade de um grupo de voluntários aprendesse tocar

uma música de acordes simples no teclado de um piano, utilizando os cinco

dedos da mão direita e que praticasse durante uma semana. Os cientistas,

então, realizaram exames de imagem cerebral para determinar se houve

modificação do tamanho da área do córtex motor responsável pelos

movimentos desses dedos e constataram que a prática no piano havia

expandido essa região.

Dando prosseguimento ao experimento, os cientistas pediram que a

outra metade do grupo de voluntários apenas imaginasse estar tocando as

mesmas notas, sem efetivamente usar as teclas. Posteriormente, mediram o

córtex motor para verificar se ele havia sofrido alguma modificação. E

descobriram que a região cerebral que controla os dedos da mão direita se

expandira nos pianistas virtuais de forma semelhante à constatada nos

voluntários que realmente tocaram o piano. Comprovando, deste modo, que

apenas o pensamento havia aumentado a área do córtex motor dedicada

àquela função específica.

Segundo MASCARO, 2009, tal processo é denominado ativação cortical

consciente. Desta forma, o treinamento destes grandes aglomerados de

neurônios torna-os mais ressonantes ou responsivos às demandas funcionais

corticais, integrando-se ao processamento cerebral como um todo, tendo como

resultado, em um espaço relativamente curto de tempo, uma maior clareza e

agilidade mental, maior equilíbrio emocional, com maior concentração e,

consequentemente, maior aprendizagem. Além disso, o aumento de atividades

neurofisiológicas remete, também, a plasticidade estrutural do cérebro, uma

42

vez que esses pontos de atividades corticais intensificados passam a funcionar

como pólos de atração para migração de dendritos e a consequente formação

de novas sinapses entre estes neurônios recém ativos e seus pares de regiões

vizinhas. Todo esse processo vai reconfigurar, de forma favorável, os arranjos

das atividades corticais, favorecendo a mudança dos padrões celebrais

estabelecidos, responsáveis pela percepção e consciência e, desta forma,

abrindo-se as portas para o caminho do autoconhecimento, autoregulação e

mudança.

Adicionalmente, sabe-se que, situações desafiadoras, ambientes:

complexos, agradáveis e divertidos, desempenham um papel extra na

capacidade do cérebro reconfigurar-se, estas condições podem servir de

estímulos para induzir o cérebro a autoreparação. Neste sentido, aprender

uma nova tarefa ou jogo que exija exercício mental, ler e refletir sobre um tema

de interesse, além de realizações de exercícios físicos, aumentam a produção

de endorfina, responsável pela sensação de bem estar bem como facilitam a

circulação sanguínea no cérebro, levando, com isso, mais oxigênio as áreas

menos irrigada, por conseguinte, aumentando a quantidade de conexões

neurais, melhorando a memória, a capacidade de aprendizagem e raciocínio.

(RELVAS, 2009).

43

CONCLUSÃO

Apreende-se, pelo exposto neste trabalho, que o cérebro, ao contrário

do que se acreditava há algum tempo atrás, apresenta plasticidade, variando

de características e intensidades, conforme a idade do indivíduo, grau de

comprometimento de suas estruturas, tipo e condições de estímulos,

provenientes de origem externa ou interna. Neste último caso, temos como

exemplo, a técnica da meditação transcendental. O exercício desta técnica

propicia modificações mensuráveis nas áreas ligadas ao córtex pré-frontal -

responsável pelos processos de planejamento, comportamento social,

pensamentos complexos -; sistema límbico/hipocampo – ligado às emoções,

memória e aprendizagem. Além de proporcionar um estado de maior

concentração e foco bem como uma diminuição da ansiedade e estresses,

promovendo com isto uma melhora global no processo cognitivo do praticante.

Considerando-se que o processo educacional corresponde, em última

análise, a uma prática social que tem, dentre seus principais objetivos, o de

promover a mudança do comportamento humano, pode-se então inferir que

não há como mudar esse comportamento sem mudar, de alguma forma, os

componentes cerebrais por meio da neuroplasticidade.

Sendo assim, abre-se uma importante janela de oportunidades, para

todos os profissionais de educação que, com isto, podem lançar mão de

modernas ferramentas e tecnologias “neuroeducacionais”, visando orientar e

fundamentar suas atividades pedagógicas em princípios científicos de

comprovada eficácia. Neste sentido, a conscientização destes profissionais

para as implicações da neurociência no processo de aprendizagem, tornasse

de suma importância.

44

Ressalta-se que, apesar das inúmeras provas científicas sobre os

benefícios da prática da meditação transcendental no campo da saúde

física/mental, a correlação desta com o processo de aprendizado ainda carece

de mais investigações e aprofundamento, tornando-se, por tanto, um tema

desafiante que vale a pena ser mais explorado no âmbito científico e

pedagógico, englobando, desta forma, outros saberes necessários, porém

ainda não amplamente presentes, ao currículo educacional voltado ao

atendimento das necessidades dos alunos desta nova era.

45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS

COSENZA, Ramon M.; GUERRA, Leonor. B. Neurociência e Educação. São

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

O CEREBRO E A APRENDIZAGEM 9

1.1 – Estrutura cerebral: arquitetura e aspectos funcionais 9

1.2 – O cérebro emocional: sistema límbico, memória e aprendizagem 13

CAPÍTULO II

NEUROCIÊNCIA DA MEDITAÇÃO 20

2.1 – Impulsos elétricos do cérebro e suas implicações 20

2.2 – O cérebro no controle do cérebro 24

CAPÍTULO III

MEDITAÇÃO E APRENDIZAGEM 33

3.1 – O processo meditativo 33

2.2 – Neuroplasticidade e aprendizagem 37

CONCLUSÃO 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45

ÍNDICE 48