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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LIBRAS: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOBRE A APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO EM CLASSES REGULARES. Por: MÁRCIA PIMENTEL DIAS MOREIRA Orientador Professora: Mary Sue RIO DE JANEIRO 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL E

INCLUSIVA

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LIBRAS: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOBRE A

APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO EM CLASSES

REGULARES.

Por: MÁRCIA PIMENTEL DIAS MOREIRA

Orientador

Professora: Mary Sue

RIO DE JANEIRO

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO – EDUCAÇÃO ESPECIAL E

INCLUSIVA

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LIBRAS: INSTRUMENTO DE INCLUSÃO SOBRE A

APRENDIZAGEM DO ALUNO SURDO EM CLASSES

REGULARES.

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre - Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Especial e Inclusiva. Por: Márcia Pimentel Dias Moreira.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a DEUS, autor da minha fé, por estar me fortalecendo em todos os momentos de minha vida.

Aos meus pais, meus irmãos e meu marido que sempre estiveram ao meu lado e souberam valorizar a importância da educação continuada em minha vida, para que eu possa construir novos conhecimentos e ser hoje uma pessoa melhor em minha sociedade.

À minha orientadora Mary Sue, pela orientação, e contribuições para a realização deste trabalho.

A todos os profissionais de educação especial e inclusiva que desempenham sua função com afeto e respeito a próximo, e fazem da intervenção educacional um ato de amor.

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EPÍGRAFE

“ A linguagem das mãos”

São tantas mãos que:

acariciam...

lutam...

desenham...

rezam...

levam...

trazem...

ensinam...

abraçam...

trabalham...

amamentam...

protegem...

escrevem...

digitam...

deletam...

abençoam...

libertam...

amam...

mãos, mãos... mãos, negras, mãos morenas, mãos indígenas, mãos brancas, pobres, ricas, feridas, envelhecidas, pequenas, calejadas... simplesmente mãos que FALAM na LINGUAGEM DE SINAIS.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia especialmente ao meu esposo, por sempre acreditar na minha capacidade profissional e galgar vitórias ao meu lado.

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RESUMO

Esta monografia está inserida em um contexto educacional, na

modalidade da Educação Especial e Inclusiva, enfatizando a Educação de

surdos. O estudo partiu do objetivo de investigação pedagógica, que busca

promover reflexões sobre a compreensão da filosofia da Escola Inclusiva e

Especial, bem como das concepções que envolvem as situações sociais e

escolares ligadas aos alunos surdos. Compreendemos que a tarefa inclusiva

em um ambiente escolar é um processo de luta e construção na socialização

de valores humanos, ampliando nossa capacidade de reflexão, descobrindo e

redescobrindo o que uni a alma, coração, mente e emoção. A visão amplificada

do educador especial e inclusivo estabelece vínculos e apontam que as

diferenças não tornam as pessoas melhores ou piores, apenas diferentes.

Através das intervenções deste profissional é possível perceber a influência do

professor sobre a dimensão afetiva educacional com os alunos no processo de

aprendizagem. Como o autor Oliver Sacks relata em sua escrita “Para

compreender a importância dessas descobertas, precisamos também de um

modo diferente de considerar os hemisférios na execução de tarefas

cognitivas”. ( Oliver Sacks 2010, p. 91), ou seja, descobrir o Eterno em nós.

Pois todo ser humano traz consigo um tesouro, uma experiência, uma história

de vida a ser descoberta, na qual, aprendemos a trabalhar com a troca,

respeito, amorosidade, esperança, resgatando valores e criando novas

expectativas para cada dia. Podemos então, ampliar a construção do olhar

especial e inclusivo em criar expectativas positivas e acreditar que podemos

contribuir de modo ímpar com a humanidade, desenvolvendo relações afetivas

na aprendizagem como uma grade meta de aprender a amar, sendo pleno em

todas as dimensões, olhando para o seu próprio cotidiano de um modo

inteiramente novo.

Palavras Chave: Afetividade, Relação, Vínculo, Aprendizagem, Inclusão,

Surdos, Libras, Classe Regular de Ensino, Professor.

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METODOLOGIA

Primeiramente selecionaremos as bases teóricas que venham contribuir,

desenvolver e fundamentar o tema pesquisado em questão. Buscaremos

ampliar a pesquisa de acordo com o aprofundamento bibliográfico, a fim de

ampliarmos as principais concepções envolvidas mediante a trajetória da

pesquisa.

A pesquisa será realizada por meio de bases teóricas, para que

possamos entender o método de ensino e as intervenções que vem sendo

aplicadas durante o processo de aprendizagem com os alunos surdos que

apresentam dificuldades e propor novos caminhos para o cotidiano escolar.

Com isso, podemos refletir melhor o instrumento de inclusão sobre a

aprendizagem do aluno surdo em classes regulares, no processo ensino

aprendizagem.

Destaco entre outros autores; SACKS (2010); ROCHA (2007);

VYGOTSKY (2007); LACERDA (1998); BRASIL, LEI Nº 9394 (1996); NOVAES

(2014); MAZZOTTA,( 2001), por suas falas objetivas relacionadas ao meu

tema. Estes autores abordam em suas escritas que precisamos ser

profissionais mais compromissados com a educação. Para ensinar, precisamos

primeiramente estar do lado de dentro em cada situação, amar a nossa

profissão, o nosso próximo e nunca esquecermos que estaremos formando

cidadãos que possam agir com mais criticidade, em seu meio social. Todos

estes valores estarão vivos na vida dos educandos a partir do momento que

nós educadores especiais e inclusivos saibamos lidar com a aprendizagem

humana nos seus estados normais e patológicos, ou seja, dificuldade de

aprendizagem. Precisamos ter este olhar diferenciado e reconhecer que o

problema do “outro” é nosso também.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9

CAPÍTULO I – O Surdo na história.................................................................. 11

CAPÍTULO II – Deficiência e Eficiência. A Importância do Diálogo em Libras:

Família, Sociedade, Escola, Alunos e Professores nas Relações

Interpessoais.................................................................................................... 20

CAPÍTULO III - O Papel do Educador Especial e Inclusivo no Processo da

Aprendizagem para Educação do Aluno Surdo................................................ 28

CONCLUSÃO ................................................................................................. 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................................................... 39

ÍNDICE ............................................................................................................ 42

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INTRODUÇÃO

Compreendemos que a Educação Especial vem passando por um longo

processo de transformação no Brasil. Antigamente, as crianças eram vistas

sem importância, cujas características e vontades próprias não eram

consideradas. Em meio às discussões e grandes lutas em nossa sociedade

para se trabalhar com o surdo, o Estado Brasileiro, cria órgãos voltados para o

atendimento de pessoas com necessidades especiais.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96 (LDB), A Educação

Especial é considerada como uma proposta para um novo modelo de

educação, centrada na criança de escola integradora e de sociedade que

acolhe e respeita as diferenças. “Sendo assim haverá, quando necessário,

serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às

peculiaridades da clientela de educação especial”.

A Declaração de Salamanca (1994) deu um forte impulso às questões

das diferenças e suas aceitações pela sociedade, capacitando as escolas para

atender as crianças, principalmente as que tenham necessidades educativas

especiais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, Lei nº 8.069/1990 diz

no Art. 54: É dever do estado assegurar à criança e ao adolescente:

Parágrafo IV: Atendimento em creches e pré-escolas as crianças de 0 a 6 anos

de Idade, ou seja, a Educação Infantil é um dever do estado e direito das

crianças e famílias. Essas leis trouxeram modificações para a Educação

Infantil, a partir da década de 90 ela passa a fazer parte da Educação e não

mais do assistencialismo. Hoje, educadores e pesquisadores, encaram a

vivência escolar como parte essencial desse processo na vida da criança.

Ao ingressar na Pós-Graduação para cursar Educação Especial e

Inclusiva, passei a entender que este profissional precisa reforçar a autoria e a

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autonomia dos indivíduos, facilitando o reconhecimento do sujeito como autor

da própria aprendizagem.

Entendemos que romper paradigmas é preciso, mesmo que seja uma

modificação muito grande no sistema e na educação. Devemos pensar

também que a aprendizagem deve ser significativa, com sentido para a vida da

criança.

A falta de clareza a respeito dos problemas de aprendizagem fazia com

que os alunos que apresentassem qualquer dificuldade fossem encaminhados

para profissionais de diversas áreas de atuação, sem uma resolução eficiente

dos problemas. Atualmente paradigmas esgotados perdem espaços para os

paradigmas inovadores no espaço educacional.

Os conhecimentos devem ser contextualizados, pois só a aprendizagem

significativa é assimilada por todos. Assim, os educadores especiais e

inclusivos, bem como os professores, devem valorizar nos indivíduos as suas

capacidades e habilidades próprias para que seja desenvolvida melhor a sua

aprendizagem.

Compreendemos, portanto, que os educadores especiais e inclusivos

precisam resgatar os valores como a solidariedade, a cooperação, o amor e o

respeito às diversidades. Para que esse resgate aconteça é necessário que o

olhar deste profissional tenha diferentes focos, mas que esses diversos focos

se integrem e dialoguem para o entendimento do todo.

Estas questões despertaram o meu interesse em pesquisar e entender

melhor, o comportamento entre alunos surdos e professores, e que relações

perpassam o cotidiano em sala de aula no convívio interpessoal entre ambos.

A ampliação no âmbito da educação especial e inclusiva nos mostra que

a aprendizagem acontece no sujeito e não fica restrita só na escola. Para

SACKS (2010, p. 78):

A “superfície” da língua de sinais pode parecer simples para um observador, como a dos gestos ou mímica, mas logo descobrimos que isso é uma ilusão, e o que parece tão simples é extraordinariamente complexo, constituindo em inúmeros padrões espaciais encaixados de forma tridimensional uns nos outros.

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Estes valores estarão vivos na vida dos educandos a partir do momento

que nós educadores especiais e inclusivos, saibamos reconhecer que o

problema do “outro” é nosso também.

CAPÍTULO I

O SURDO NA HISTÓRIA.

O signo mediador é incorporado à sua estrutura como uma parte

indispensável, na verdade a parte central do processo como um todo. Na

formação de conceitos esse signo é a palavra, que em princípio tem o

papel de meio na formação de um conceito e, posteriormente, torna-se o

seu símbolo. (VYGOTSKY, 1989, P. 48).

Segundo as pesquisas, a surdez provoca aos surdos uma redução ou

perda da capacidade para ouvir determinados sons. Existem vários fatores que

podem causar a surdez, apresentando tipos e graus diferentes de uma criança

para outra. Estas peculiaridades nas crianças surdas apontam mudanças que

comprometem o seu desenvolvimento linguístico e também na sala de aula.

A audição é um dos principais canais de informação do ser humano,

deve-se encará-la como um fator importante para a qualidade de vida das

pessoas. O sentido da audição também é responsável pela aquisição da

linguagem, que envolve o desenvolvimento do pensamento, memória e

raciocínio.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem mais de 120

milhões de pessoas surdas mundialmente, mostrando que as crianças nascem

surdas ou tornam-se surdas na juventude. Os fatores genéticos são um dos

fatores considerados como a causa de mais de 60% de surdez congênita.

A perda auditiva desde o nascimento da criança ou na juventude irá

inferir no seu processo de desenvolvimento. Na fase adulta, a surdez pode

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levar a pessoa ao isolamento, podendo deixa-la afastada das atividades

sociais. Os surdos são mais passíveis ás ameaças externas, ou seja, de

estarem em situações de perigo ao atravessarem as ruas ou estarem passando

por locais de violência, considerados como áreas de risco. Estas situações

cerceiam a sua capacidade de atuação independente e autônoma na

sociedade.

A humanidade, por muito tempo não se preocupou com as pessoas com

necessidades especiais, inclusive as surdas. Um longo processo de mudanças

possibilitou o surgimento de novas posturas sociais, permitindo várias

conquistas relevantes, facilitando a vida dessas pessoas, como o fato de

estudarem em escolas regulares, e de terem mais acesso aos meios de

transportes.

Entendemos que antes destas e outras conquistas importantes

acontecerem, as pessoas com necessidades especiais sofriam muitos

preconceitos e segregações na sociedade.

Na antiguidade, as pessoas com necessidades especiais, eram

abandonadas pelas famílias, internadas em hospícios e asilos ou até

eliminadas da sociedade. A sociedade colocava obstáculos à sua integração.

Durante a Idade Média, com a crença no sobrenatural, estas pessoas

eram consideradas como endemoniadas e eram exclusas socialmente, Ao final

da Idade Medieval, elas passaram a ter um tratamento assistencialista

promovido pelas organizações cristãs. No Renascimento, as pessoas com

necessidades especiais, eram julgadas como “doentes” e eram submetidas a

tratamentos e estudos clínicos, devido ao avanço científico da época.

Sabemos que em 1824, D. Pedro II foi precursor do atendimento

especial no Brasil, fundando o “Imperial Instituto dos Meninos Cegos”, no Rio

de Janeiro. O imperador ofereceu apoio ainda para fundação, em 1857, do o

“Imperial Instituto de Surdos-Mudos”, na mesma cidade, com a direção do

professor francês Hernest Huet, que era surdo. Este Instituto funcionou em

vários endereços, com outras denominações, até chegar ao atual “Instituto

Nacional d Educação de Surdos” (INES).

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Aos poucos surgiram as Organizações Não Governamentais (Ongs), no

Brasil, como a Sociedade Pestalozzi e a Associação de Assistência à criança

Defeituosa (AACD) e outras, impulsionado assim, a sociedade para que

começasse a pensar nas pessoas com necessidades especiais, não como

“doentes”, mas como pessoas capazes de serem iniciadas à educação escolar.

1.1 – OS ASPÉCTOS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS AO LONGO

DA HISTÓRIA.

A proposta da educação para os surdos era de que estes

desenvolvessem o seu pensamento, adquirindo conhecimentos para se

comunicarem com o mundo, Assim, buscava-se ensiná-los a falar e a

compreender a língua falada, sendo a fala considerada uma estratégia para

alcançar tais objetivos.

No início do século XVI, admitia-se que os surdos poderiam aprender

por meios de procedimentos pedagógicos, sem que houvesse interferências de

crenças sobrenaturais. Naquela época era comum manter-se em segredo, a

maneira como se educava os surdos.

As famílias nobres contratavam os serviços de professores preceptores

para educarem seus filhos surdos, a fim de que eles não se privassem da fala e

dos seus direitos na sociedade. Foi reconhecido como o primeiro professor de

surdos, o espanhol Pedro Ponce de Leon.

A maioria dos professores surdos ensinava através da leitura escrita, e

daí utilizava-se outros recursos para desenvolverem nos alunos surdos outros

tipos de habilidades, como a leitura labial e a articulação das palavras.

Concordamos junto a Vygotsky, (apud, CUNHA, 2007 p. 47), que o

diálogo é um conteúdo relevante na vida dos educandos, pois “cada palavra é

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uma generalização latente e, em termos psicológicos, é uma generalização,

que é um excelente ato verbal do pensamento”.

Nesta perspectiva, foram apresentadas nas propostas educacionais, as

formas de comunicação, o oralismo e o gestualismo.

Era conveniente que na pedagogia do surdo, antiga, fizessem com que

este sujeito aprendesse a língua da sociedade em que vivia. No início do

século XVIII, houve uma separação das formas oralistas e gestualistas.

A forma oralista obrigaria aos surdos a falarem e a se comportarem

como se fossem surdos. Neste sentido, a oralização foi imposta aos surdos

para que eles fossem aceitos na sociedade, deixando assim, a maioria dos

surdos fora do processo educativo e de integração social, ficando estes

marginalizados na vida societária. Por outro lado, a forma gestualista, buscava

facilitar a comunicação do surdo para o desenvolvimento de uma língua de

sinais, diferente da oralidade, porém eficaz para inclusão social destas pessoas

e ao conhecimento cultural.

Atualmente, o modelo de bilinguismo apresenta a Língua de Sinais

(LIBRAS), como a primeira língua do surdo e a Língua Portuguesa como a sua

segunda língua. A Língua de sinais é considerada como a primeira língua por

ser, neurologicamente mais fácil para o surdo. Nesse modelo de Bilinguismo

(LIBRAS e o português escrito), as duas línguas possuem o mesmo grau de

importância. O alfabeto datilológico ou manual é um sistema gestual em que

cada letra do alfabeto escrito, corresponde a uma configuração da mão e dos

dedos.

Entende-se por LIBRAS a Língua Brasileira de Sinais, uma língua de

dimensão espacial e corporal. A Língua de sinais não é universal, pois

apresenta variações de acordo com a linguagem falada de cada nação. No

Brasil, esta variação ocorre conforme o regionalismo, pelas diferenças culturais

e da linguagem falada nas regiões.

De acordo com (SACKS, 2010, p. 68):

Linguagem e pensamento, para nós, são sempre pessoais, nossas

elocuções nos expressam, e nossa fala interna também.

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Compreendemos que a Educação Especial brasileira deve expandir o

atendimento às crianças com necessidades especiais, inclusive as surdas,

criando adaptações curriculares, pedagógicas e estruturais, necessárias à

realização da educação, acompanhando o ritmo de vida das crianças.

1.2 – PROCESSOS EDUCACIONAIS E DE INCLUSÃO.

Entendemos que cabe então, aos profissionais de educação, a

promoção dos caminhos que possam possibilitar aos alunos surdos uma

inclusão social eficaz, na perspectiva de uma escola inclusiva, que não apenas

integre o indivíduo na escola, como acontece nas escolas especiais, mas que

dê a ele condições de interação e socialização com outros não especiais.

Deste modo, sabemos que as interações sociais, geradas na

convivência da escola inclusiva, são importantes para que todos os alunos,

juntos com a família e a escola possam ter uma boa relação social, interagindo

com afetividade e companheirismo, criando assim, um desenvolvimento

positivo na formação do caráter da criança.

Os estudos sobre a teoria de Vygotsky, apresenta o conceito de Zona de

desenvolvimento Proximal (ZDP), que relacionada com as atividades escolares,

apresenta um importante auxílio para o docente, levando-se em conta os

aspectos sócio-culturais existentes na escola. O professor torna-se um agente

mediador entre o aluno surdo e a cultura desenvolvida na escola com os alunos

sem necessidades especiais.

Neste sentido, segundo o manual dos professores do instituto Nacional

de educação de Surdos (INES), é incumbência do docente: falar de frente para

o aluno surdo, tornar o ambiente claro para que a luz reflita as expressões de

quem fala, diminuir a distância entre professor e aluno para que esse passe a

adquirir inteligibilidade da fala e proporcionar melhores condições acústicas na

sala de aula, evitando ruídos externos.

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As informações sonoras, melodia, ritmo e entonação devem ser bem

trabalhados, para que a comunicação com o surdo não ocasione a perda de

informações, dificultando a sua compreensão global.

Podemos inferir, dentro da perspectiva da ZDP, que os surdos ao

realizarem as tarefas escolares com a ajuda dos alunos auditivos e dos

professores, terão maiores chances de desenvolverem as suas capacidades de

comunicação e as suas habilidades. Por outro lado, os alunos ouvintes terão a

mesma oportunidade de aprenderem, adquirindo valores e princípios éticos, na

medida em que cooperam com os alunos com deficiência auditiva.

Para proporcionarmos a reflexão acerca do direito a educação citamos a

Lei 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da educação Nacional, a

qual apresenta no Capítulo V da educação especial o artigo 58:

Entende-se por educação especial, para efeitos desta lei, a

modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na

rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades

especiais. (BRASIL, 1996).

De acordo com mesmo Capítulo V, da LDB 9.394/96, o artigo 59

descreve que os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

necessidades especiais, conforme o inciso II

Professores com especialização adequada em nível médio ou

superior, para atendimento especializado. Bem como professores de

ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas

classes comuns. (BRASIL, 1996).

A importância do artigo 59 é a exigência de uma formação especializada

para os docentes, visando obter uma melhor capacitação para o trabalho com

os alunos com necessidades especiais.

Dessa maneira, ninguém pode jamais sentir, experimentar ou sofrer pelo

outro, porque assim somos, constituímos figura impar, dificultando a

comunicação interpessoal uns com os outros, o segredo de conviver. As

relações que envolvem alunos e professores, professores e pais, buscam

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examinar os fatores que dependem das relações humanas, em descobrir meios

para transformar contatos em convívios, através dos quais conviver é

aprender a dividir o mesmo espaço.

1.3 – A IMPORTÂNCIA DO EDUCADOR ESPECIAL E

INCLUSIVO.

Ao pesquisar as relações interpessoais, podemos destacar que à

medida que o educador interage com seus alunos, ele atende a todas as

diferenças, ou seja, os alunos passam a ter vez para estabelecer um vínculo

com o professor, fortalecendo, assim sua auto-estima.

A questão do “eu” é um processo de transformação. Por isso, o

professor precisa olhar o aluno como um todo e acreditar na capacidade

individual dele. Assim, quando algo essencial é oferecido para a criança, ela se

mostra, se descobre e busca com mais serenidade suas ideias.

Neste processo, o professor pode perceber que os alunos mostram

várias maneiras de comunicação, como falar, o comportamento, suas

expressões, ao desenhar, em sua escrita. Enfim, “tudo é leitura”, que nos leva

à construção de ideias, excita pensamentos, muda o mundo. É pertinente que o

professor mostre, aos seus alunos surdos, a diferença entre o dizer e o falar.

Segundo Vygotsky, a linguagem transforma os rumos de nossas

atividades e desenvolvimento e é responsável pela construção do sujeito ao

psicológico. Para ele, na ausência do outro, o homem não se constrói homem.

Quando se tem necessidade, aprende-se com prazer. Isto tem que estar dentro

de cada um para ser alcançado.

Esta concepção está relacionada em tudo o que a criança consegue

realizar sozinha e o que é capaz de aprender com a ajuda de uma pessoa mais

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experiente. A ZDP amplia o aprendizado e a estrutura cognitiva da criança,

trazendo mais segurança na escrita, reflexão e controle psicológico.

O signo mediador é incorporado à sua estrutura como uma parte indispensável, na verdade a parte central do processo como um todo. Na formação de conceitos esse signo é a palavra, que em princípio tem o papel de meio na formação de um conceito e, posteriormente, torna-se o seu símbolo.” (VYGOTSKY, 1989, P. 48).

.

Podemos afirmar que a escola é feita de pessoas. São elas que

produzem relações, e é isto que educa. A escola não é feita de produtos.

Portanto, o educador especial e inclusivo precisa gerir processos que venham

educar seus alunos a fazerem autodescobertas, terem visão de mundo, da

realidade e fiquem abertos para novas criações e possibilidades.

Citamos a Constituição Federal do Brasil, promulgada em 1988, Artigo

205, Inciso III – “atendimento educacional especializado aos portadores de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino (...) “ MAZZOTTA,

2001, p. 77).

A Lei 7.853 de 1989 estabelece “normas gerais para o pleno exercício

dos direitos individuais e sociais de pessoas portadoras de deficiência e sua

efetiva integração social” (MAZZOTTA, 2001, p.80). Esta Lei define como crime

recusar, suspender, adiar ou cancelar a matrícula de um aluno por causa de

sua deficiência, em qualquer curso ou nível de ensino, seja ele público ou

privado.

A função do educador especial e inclusivo não é instruir, mas educar,

formar. Mostrar para os seus alunos como esta realidade funciona no processo

educacional. O conhecimento sem construção moral não forma um cidadão

para a sociedade.

De acordo com os estudos de (MAZZOTTA, 2001, p. 104), podemos

inferir que historicamente vários tipos de expressões foram atribuídos às

pessoas no que se refere à educação especial, como educandos especiais,

pessoa portadora de deficiência e pessoas portadoras de características

especiais. Compreendemos que as expressões mencionadas, estão

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arraigadas de sentidos, propagados com discriminação pela sociedade e

trazem prejuízos nas conquistas de bens sociais, como a educação para os

alunos com necessidades especiais. Com relação aos surdos usava-se a

expressão: surdo-mudo na sociedade, porém sabemos que esta denominação

tornou-se equivocada para estes indivíduos que apresentam somente

deficiências auditivas.

O ensino é um procedimento pedagógico, em que a prática educacional

tem como objetivo maior, como instituição, lançar dentro do indivíduo as

capacidades que ele já tem, levando-o à auto realização de dentro para fora,

aproveitando o que é bom, útil e necessário à educação. A convivência com o

”outro” nos oportuniza a visualizar a nossa própria realidade perante a razão e

a sensibilidade transmitida.

Aprender a trabalhar juntos, reforça a situação entre alunos e

professores com um propósito educativo, refletindo sobre atitudes e valores

explorados por ambos no campo educacional. Afinal, segundo (SACKS, 2010,

p. 28):

Falamos não apenas para dizer a outras pessoas o que pensamos, mas para dizer a nós mesmos o que pensamos. A fala é uma parte

do pensamento.

De fato, conhecimento não é para ser guardado. Isso significa que pode

ser desconstruído e reconstruído sem aprisionar a mente dos alunos.

Conhecimento só passa a ter valor real quando passamos a construir juntos.

O ato de aprender foi, é, e sempre será a única forma de nos

relacionarmos com as pessoas. Compreendemos então, que a relação

inclusiva não se estabelece entre o educador especial e inclusivo e o

processo de aprendizagem, mas entre o educador e o sujeito deste processo.

A motivação está ligada às necessidades psicológicas dos alunos. Esta

necessidade cresce a partir das satisfações internas. Em suma, a concepção

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do professor expressa múltiplas maneiras para a qualidade das relações

interpessoais. A falta de morosidade entre ambos remete-se no olhar.

Atualmente, a qualidade de ensino espera cada vez mais

comprometimento da profissão docente. Com isso, teorias e práticas se unem

para uma melhor reflexão, entendimento e compreensão entre a escola e o

educador. Ensinamos aquilo que somos e naquilo que somos encontra-se

muito daquilo que ensinaremos para os nossos alunos.

CAPÍTULO II

DEFICIÊNCIA E EFICIÊNCIA. A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO EM LIBRAS: FAMÍLIA, SOCIEDADE, ESCOLA, ALUNOS E PROFESSORES NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS.

Para Vygotsky, a construção do pensamento e da linguagem é um meio

de enunciação, compreensão e comunicação social entre as pessoas. Os

estudos de Vygotsky sobre o aprendizado surgem da compreensão do homem

como um ser que se forma em contato com a sociedade. Para ele, o homem

modifica o ambiente e o ambiente o modifica. Esta interação que cada um

estabelece com o ambiente é relevante para socialização do indivíduo.

Em sua teoria, Vygotsky diz que, quando damos ou doamos um “pouco”

do que sabemos para o aluno, podemos ajudá-los nas dificuldades. A partir

desta afirmação, justifica a necessidade do “outro” , de interação social no

processo de ensino, permitindo, assim, o desenvolvimento mental da criança

com necessidade especial.

O educador especial e inclusivo deve fazer mediação entre os alunos,

estimulando o desenvolvimento psíquico de cada um. Pois estar junto é propor

aulas criativas que envolvam a capacidade dos educandos para que eles

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avencem e consigam discernir por si próprio o que está faltando para

aprimorarem o seu aprendizado. Tal como Vygotsky, (MORALES, 2006, p.161)

nos mostra uma visão holística perante o convívio escolar entre professor-

aluno na sala de aula.

Mas qualquer estilo de bom relacionamento nascerá ou crescerá, a partir de nossas próprias convicções sobre o que é ser professor e da tomada de consciência de uma maneira muito explícita do efeito real que tem sobre os alunos tudo o que fazemos... ou deixamos de fazer.

Esta avaliação sociointeracionista traz consigo características

mediadoras e dialógicas na educação. A forma como o educador especial e

inclusivo desempenha sua tarefa em sala de aula, vai registrando dedicação

na vida dos educandos. Com isso, podemos dizer que a aprendizagem é um

processo que passa por modificações para atender os objetivos educacionais.

Para trabalhar com educação especial e inclusiva, devemos escolher o

caminho, entender as necessidades do outro historicamente e organicamente

na sua complexidade e integrar para incluir.

A este respeito SACKS, (2010, p.40) diz

É evidente que, se uma pessoa aprendeu a língua de sinais como

primeira língua, seu cérebro/mente a fixará, e a usará pelo resto da

vida, ainda que a audição e a fala sejam plenamente disponíveis e

perfeitas. A língua de sinais, convenci-me então, era uma língua

fundamental do cérebro.

Outro eixo de suma importância nas relações são as primeiras

impressões tanto do educador inclusivo, quanto dos alunos, pois é com o

decorrer do tempo que podemos confirmar se a primeira impressão

corresponde ao que pensamos para um desenvolvimento educacional mais

qualificado.

Sabemos que o diálogo propicia o desenvolvimento, impulsiona o

potencial, é o caminho para a construção da autonomia. Neste sentido,

podemos refletir que o aluno junto à família, à escola, ao professor e os outros

alunos, buscam por uma educação, em que todos ensinam e aprendam ao

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mesmo tempo, compartilhando ideias e dividindo experiências através do

diálogo afetivo, de acordo com a necessidade de cada um.

A visão inclusiva deve está voltada, tanto ao aluno, quanto aos demais

inseridos no processo educacional, o gosto por aquilo que fazemos, já que “o

prazer é uma força motriz do aprendizado que leva a realização pessoal”. O

emocional e o racional são ações que devem ser usadas pelos sujeitos de

maneiras criativas dentro e fora da escola, capacitando assim, os alunos com

mais desempenhos no espaço escolar, explorando suas habilidades e

interesses.

2.1 - A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE FAMÍLIA E ESCOLA

NA FORMAÇÃO DO ALUNO SURDO.

Ao procurar compreender a importância da afetividade no processo

educativo, podemos dizer que fatos e acontecimentos vividos, em sala de aula,

serão experiências, sentimentos e lembranças que os alunos surdos guardarão

por toda sua vida. Por isso, a afetividade representa a realidade vivida de cada

aluno como, timidez, medo, conflitos, anseios e outros, que permeiam como

dificuldade da prática educacional.

Portanto, a escola, para as crianças surdas, é vista como um espaço de

apoio afetivo, onde ela interage com o ambiente que lhe proporciona condições

de desenvolvimento, resgatando identidade social e cultural.

Desta maneira, sabemos que a participação da família é relevante para

que o aluno avance nos estudos e desenvolva com mais qualidade e prazer o

processo ensino-aprendizagem, começando desde cedo ampliar suas

habilidades de argumentação.

Mediante há um olhar inclusivo, entendemos que não tendo as famílias

aliadas no processo ensino-aprendizagem, os educandos perdem o empenho

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pelos estudos. Mediante há tanta dificuldade nesta relação é que as escolas

estão mais abertas para receber as famílias, no espaço educacional. Esta

oportunidade facilita para que ambas possam caminhar juntas, porém em

diferentes oportunidades educacional. Desta forma, o equilíbrio emocional dos

alunos passam a ter um acompanhamento paralelo, dentro e fora da escola.

Mas, como bem afirma (SACKS, 2010, p: 67) “ O diálogo impulsiona a

linguagem, a mente, mas depois que esta é impulsionada, desenvolvemos um

novo poder, a “fala interna”, e esta é que é imprescindível para o nosso

desenvolvimento mais amplo, nosso pensamento”.

A fala interna para Vygotsky (2010), é uma fala quase sem palavras. Ela

não é o aspecto interior da fala externa, é uma função em si mesma. Enquanto

na fala externa o pensamento corporifica-se em palavras, na fala interna as

palavras morrem quando dão à luz o pensamento. A fala interna é, em grande

medida, pensamento em significados puros. Começamos pelo diálogo, pela

língua que é a externa social, mas depois, para pensar, para nos tornarmos

nós mesmos, temos de passar para um monólogo, para a fala intern.

Quando abrimos as portas do espaço escolar para as famílias, devemos

estar preparados para acolher crenças, comportamentos e valores diversos

que o “outro” traz para o nosso convívio. Parceria entre escola e famílias

favorece a socialização entre os aprendentes.

A relação interpessoal é um questionamento muito difícil, pois

observamos claramente que, um sempre espera algo da outro. Nada melhor,

que todos como, famílias, educador especial e inclusivo, alunos e outros

possam trabalhar de modo coletivo, estabelecendo relações de diálogo mútuo,

com seus espaços respeitados na fala aprendida e ação.

Para que o diálogo aconteça na vida dos alunos, família e escola devem

se colocar à disposição e se preocuparem com o processo de construção da

vida do aluno, proporcionando a ele, cada vez mais, responsabilidades sociais.

É através da cooperação, preparação e autoestima que estabelecemos novos

relacionamentos interpessoais.

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A língua de sinais explora plenamente as possibilidades sintáticas de

seu canal de expressão tetradimensional, assim como nos relata SACKS

(2010, p. 78) quando diz que

A “superfície” da língua de sinais pode parecer simples para um

observador, como a dos gestos ou mímicas, mas logo descobrimos

que isso é uma ilusão, e o que parece tão simples é extraordinário

complexo, consistindo em inúmeros padrões espaciais encaixados de

forma tridimensional uns aos outros.

O tratamento oferecido hoje em dia aos alunos surdos deve ser

repensado na prática pedagógica, pois à medida que o diagnóstico é realizado

com toda turma, podemos atribuir significados e sentidos às atividades

discentes, possibilitando, assim, um ensino mais efetivo.

2.2 - UM REALCIONAMENTO DE CONFIANÇA ENTRE O

EDUCADOR INCLUSIVO E O ALUNO SURDO.

O relacionamento na vida do ser humano, por sua vez, acontece dentro

de uma complexidade mais ampla, em que as emoções são transformadas em

sentimentos, um conteúdo básico para promover interações sócio afetivas no

processo educacional.

Percebemos que a linguagem tem grande influência educacional e pode

direcionar os alunos a seguirem vários rumos na educação, despertando

interesses mostrados através da mídia, que não surgiu para formar, mas

consegue ensinar o que deveria ser papel da escola. Educadores e educandos

trocam saberes em processos que são sempre transversais, mesmo que não

percebem, a partir do que leem, ouvem e o que fazem no espaço da troca

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coletiva. As maiores dificuldades de aprendizado enfrentadas no dia a dia

pelos alunos, ocorrem por falta de precisão e clareza do professor.

Entretanto, convier com as diferenças, é respeitar o “outro”,

autoconhecer , compreender as relações em todos os aspectos constitutivos

da pessoa. Nesse sentido, a sala de aula é para construir e compartilhar

conhecimentos, durante o processo de participação entre educador inclusivo e

alunos.

Ser surdo, nascer surdo, expõe o indivíduo a uma série de

possibilidades linguísticas e, portanto, a uma série de possibilidades

intelectuais e culturais que nós, outros, como falantes nativos num mundo de

falantes, não podemos sequer começar a imaginar.

Entendemos que os alunos surdos estão sempre em processo de

aprendizado, ou seja, aprendem apesar da falta de motivação, com os

exercícios, com as notas ruins, com o ambiente escolar e outros. Vivenciando

uma relação conflituosa nas escolas, o que fica para o aluno é o modelo

registrado durante o processo educacional. Essas relações pessoais,

interpessoais e sociais desvelam preocupações pedagógicas como relata

(SACKS, 2010, p.104)

A língua de sinais talvez tenha uma origem diferente da falada, pois

surge dos gestos, da representação emocional motora espontânea.

E, embora a língua de sinais seja totalmente formalizada e regida

pela gramática, ela é em grande medida icônica, conservando muitos

traços de suas origens representativas.

As relações, em si, trazem um movimento de idas e vindas, no

momento em que se concretizam dentro da escola. O educador inclusivo deve

refletir sempre sobre as relações interpessoais, principalmente pelos conflitos

atuais apresentados nas escolas. Podemos tornar esta tarefa mais acessível

aos alunos, a partir do momento que haja uma preocupação com a sua história

de vida, sua identidade, suas expectativas e até mesmo a suas dificuldades.

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Na medida em que ocorrem mudanças de ambas as partes, temos

repercussões significativas para o desenvolvimento da aprendizagem entre os

sujeitos inseridos nela. Sendo assim, comunicação e linguagem são

ingredientes básicos para a construção do conhecimento no espaço individual

e coletivo, conforme o rítmo de cada um.

De modo concreto, a palavra “aprender” é encarada, pelos alunos

surdos, como uma obrigação, algo imposto pelo profissional de educação

especial e inclusivo. É preciso que este profissional esteja aberto para uma

relação empática, atue como intermediário perante os conteúdos aplicados nas

atividades construtivistas e faça com que os alunos assimilem o que foi

apreendido. SACKS, (2010 p. 105 ) acredita que

A língua de sinais é para os surdos uma adaptação única a um outro

modo sensorial; mas é também, e igualmente, uma corporificação da

identidade pessoal e cultural dessas pessoas.

Sabemos que a construção de identidade do professor é constituída de

uma história de relações com os outros, sendo esta fundamental para o

cumprimento de novos desafios pedagógicos que ocorrem na escola.

Acreditamos que a construção do olhar especial e inclusivo requer

algumas reflexões como aprender ouvir para compreender.

2.3 - EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA E A SUA

CONTRIBUIÇÃO PARA O MUNDO EDUCACIONAL.

Percebemos que o estilo de prática docente, aplicada nas escolas,

define o que realmente o professor mediador deve educar para oferecer

mudanças, autonomia, trabalhando o lado positivo do aluno com abordagem

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global para a formação do cidadão consciente. Para tal, o planejamento

pedagógico não se restringe somente em atividades escolares com temas

selecionados, e sim, exercícios reflexivos, adequados para a produção criativa

dos alunos perante as atividades realizadas.

Precisamos verificar como o “outro” é importante para o

desenvolvimento no processo educacional. Compartilhar em conquista dos

objetivos propostos na escola, é, sem dúvida, seguir em direção ao

crescimento e introjetar novos valores ao que se propõe o currículo

educacional para inclusão.

O profissional de educação especial e inclusivo é compreendido como

pessoa quando constrói o processo de educação no coletivo, desenvolvendo

sentimentos e compromissos através das relações interpessoais mais amplas.

Compreendemos nos relatos de (SACKS, 2010, p. 103) que as crianças

surdas, em sua maioria, crescem estranhas na própria família.

Muitos pais de crianças surdas sentem-se impotentes diante de

tamanha barreira de comunicação com o filho, e a possibilidade de

uma barreira assim ser derrubada é um tributo à adaptabilidade tanto

dos pais como da criança.

O convívio social escolar é o melhor exemplo para praticarmos um

relacionamento construtivo. Além disso, passamos confiança e credibilidade ao

aluno. Os efeitos de mudanças são notados pelos alunos a partir do momento

que eles são aceitos. Demonstram esta questão com liberdade de expressão,

desenvolvendo, positivamente, na convivência com os demais alunos e

professor.

O ouvir o “outro” requer disciplina, recurso este que propicia confiança

para um relacionamento com eficácia. Saber ouvir é captar ativamente do

outro o que está sendo apresentado por trás da fala, ou seja, ouvir com o

coração o que o corpo está revelando. Não temos o hábito de captar durante

as relações interpessoais o que está envolvido na mensagem transmitida pelo

sujeito. É uma habilidade a ser aprendida, como educador inclusivo, colocar em

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prática o que não ocorre no dia a dia. Esses procedimentos essenciais trazem

aprimoramento profissional e precisam ser utilizados em toda prática

pedagógica.

O sistema avaliativo nas escolas precisa ser repensado e respeitado,

sendo este substituído por uma avaliação em que o aluno surdo seja

percebido em suas atitudes, qualidades, habilidades, competências e

desempenhos, fortalecendo o crescimento pessoal construtivo.

Os educadores especiais e inclusivos precisam resgatar os valores

como a solidariedade, a cooperação, o amor e o respeito às diversidades. Para

que esse resgate aconteça é necessário que o olhar do educador especial

tenha diferentes focos, mas que esses diversos focos se integrem e dialoguem

para o entendimento do todo.

Assim, os educadores especiais e inclusivos, bem como os professores,

devem valorizar nos indivíduos as suas capacidades e habilidades próprias

para que seja desenvolvida melhor a sua aprendizagem. O fato é que todos

são primordiais para uma relação afetiva construtiva entre professor e aluno.

De acordo com a proposta de (SACKS 2010, p. ) que

A língua não é apenas um esquema formal embora seja,

verdadeiramente, o mais maravilhoso de todos os esquemas formais,

e sim a mais exata expressão de nossos pensamentos, nossas

aspirações, nossa visão de mundo.

Devemos desenvolver atitudes de trabalhos coletivos, espírito crítico e

autonomia, com pensar global e atividades local., contribui e enriquece a

aprendizagem colaborativa.

CAPÍTULO III

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O PAPEL DO EDUCADOR ESPECIAL E INCLUSIVO NO PROCESSO DA APRENDIZAGEM PARA EDUCAÇÃO DO ALUNOO SURDO.

O educador especial e inclusiva, investiga as potencialidades no aluno

surdo e prepara as intervenções a partir dos acertos que ele apresenta. As

dificuldades de aprendizagem para Novaes, consiste em um obstáculo

epistemofílico, ou seja, falta de amor pelo conhecimento. Este obstáculo é

produzido no sujeito a partir do momento que este venha enfrentar qualquer

situação nova e, muito especialmente, se for de aprendizagem.

A escola ideal que acolhe toda uma diversidade é uma escola

desenvolvida, em nossos dias, por uma política educacional que procura a

prática do aprendizado em contato com as diferenças e os conceitos, como

socialização e trocas de experiências. Há alguns educadores que visam à

individualização, em razão da existência de uma diferença linguística e, de

outro, à integração, popularmente conhecida como inclusão.

A língua de sinais, para o aluno surdo, tem um valor importantíssimo. É

ela que possibilita seu relacionamento com o mundo surdo e com o ouvinte. A

educação é o mais importante instrumento de mudanças. Por intermédio dela,

ocorrem transformações elementares em nossa história e na sociedade, pois

ela traz consigo o cerne da humanidade, a comunicação, considerada como

ferramenta indissociável de qualquer cultura desenvolvida em torno do ser

humano.

Desta forma, a educação especial e inclusiva, está baseada no canal

comunicativo, de aprendizagem, ou seja, em sua língua, que se baseia em uma

cultura surda.

Compreendemos que devemos reformular o caminho que anda a

educação especial e inclusiva. Estamos em constante busca de aprendizado e

aplicando essas teorias e técnicas em nosso dia a dia. Debatemos,

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pesquisamos e passamos tais conhecimentos sem importarmos com a

estrutura humana, não física, mas, interior.

Novaes (2014, p. 86) relata que

Por esta perspectiva da individualização, é necessário que haja

ensino e currículos diferenciados, em classes e/ou escolas especiais,

visando, além de desenvolver corretamente o processo cognitivo

específico, propiciar o contato dos indivíduos surdos com seus pares,

de modo que isso promova o sentimento de identidade e de

autoestima.

Aprender a ter autonomia, a ser livre em suas decisões e ter desejo de

criar. Sermos companheiros, sensíveis em nossos desafios e exigir

transformações. Só assim seremos capazes de integrar e incluir os alunos

surdos, dentro de um olhar diferenciado à nossa prática.

Somos seres com eterno aprendizado. Aprendemos com nossas

experiências de vida. O senso crítico, a humildade, a serenidade, escutamos,

esperamos, olhamos atento a novas teorias e compreendemos a complexidade

que é a vida. A aprendizagem é a mola central do ser humano e ela que nos

remete aos 4 (quatros) pilares propostos pela UNESCO a partir do Século XXI,

como: O aprender a conhecer, fazer, conviver e ser.

Percebemos que a identidade e a cultura surda devem ser valorizadas a

partir da compreensão de que fazem parte de um processo social discursivo,

haja vista que são características distintas de um grupo social e cultural, entre

outros, no caso, de natureza ouvinte.

Portanto, preferência é um ato de escolha, que neste caso, cabe aos

pais/responsáveis e aos próprios alunos, quando civilmente capazes de o

exercer, visando ao processo de aprendizagem que desejarem.

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3.1- A CONSTRUÇÃO DO OLHAR INCLUSIVO

DIRECIONADO AOS QUATRO PILARES DA

EDUCAÇÃO.

Aprender a ter autonomia, a ser livre em suas decisões e ter desejo de

criar. Sermos companheiros, sensíveis em nossos desafios, exigir

transformações. Só assim seremos capazes de integrar os quatro pilares acima

relacionados.

Somos apenas transmissores de aprendizado-codificado. Não

procuramos ver as transformações internas no ser humano. Questionar, fazer

ouvir, sermos portadores de ousadia, olhar com outros olhos o que

pretendemos e buscar apoio, seria o quinto pilar, o mais importante, o de

“aprender a amar “.

Este pilar resgata o lugar do amor no dia a dia com uma postura ético-

político entre educadores e seres humanos, norteando aprendizagens novas e

mais significativas. É conhecido conhecimento na Educação da Nova Era, uma

visão interdisciplinar na visão de (NOVAES, 2014, p. 37) quando diz que

Incapacidade também não é contrário de deficiência. Pode até ser,

sob um recorte feito dentro de uma análise concreta, uma

consequência de uma deficiência, entretanto, não deve ser

considerada de uma forma generalizada, pois a incapacidade de um

sentido (visão, audição, por exemplo) não impede, necessariamente,

a capacidade de utilização de outro.

Cada uma faz uma ligação e tem significado transformador. Olhar o

curso de Educação Especial e Inclusiva como uma profissão do futuro . Ver a

importância desse profissional como gerador de transformações humanas.

Tecer uma rede de novas tecnologias, mas, não esquecendo o mais

importante: TECER O AMOR.

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Sabemos que inúmeras vezes fatores emocionais são tidos como

“problemas” para o avanço educacional dos alunos. Tais problemas podem

estar partindo do meio social em que o aluno convive, pois o mesmo acredita

que não é capaz de avançar na construção de sua aprendizagem.

Assim, ineficiente é entendido como aquele que não produz, e, portanto,

não é eficaz, pode ser tanto uma pessoa com deficiência como uma pessoa

sem deficiência, haja vista ser esta característica existente independentemente

desta situação, a deficiência.

Entendemos que a identidade e a cultura surda devem ser valorizadas a

partir da compreensão de que fazem parte de um processo social discursivo,

haja vista que são características distintivas de um grupo social e cultural,

dentre outros, no caso, de natureza ouvinte.

A palavra cultura, de origem etimológica latina, significa cuidado

dispensado à terra cultivada. Assim, podemos compreender a cultura surda

como o jeito do sujeito surdo entender o mundo e de modifica-lo a fim de torna-

lo acessível e habitável, ajustando-os com as suas percepções visuais, que

contribuem para a definição das identidades surdas e das almas das

comunidades surdas.

Partindo dessas concepções, podemos compreender a palavra cultura

como um processo de desenvolvimento histórico-social, que se dá por meio da

construção de uma linguagem de identidades próprias, em um determinado

espaço físico, por um determinado período, entre um grupo de indivíduos que

se interagem.

Por meio de discurso como” todos são iguais”, “todos são especiais”,

esta proposta visa à hegemonia do modelo da normatização na educação dos

indivíduos deficientes, por meio de uma única escola, com caráter inclusivo,

que possui capacidade de atender todos de uma forma indiscriminada. O que,

no início, era compreendido através do corpo, vai se enriquecendo na maneira

de se expressar, em que palavras e ideias se mostram, além do contato

corporal.

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3.2- A MISSÃO INSTITUCIONAL DO INES É A

PRODUÇÃO, O DESENVOLVIMENTO E A DIVULGAÇÃO

DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO

NA ÁREA DA SURDEZ.

O INES é um Centro de Referência Nacional de Surdez. Ligado

diretamente ao MEC que compreende o Centro de Referência Nacional, o

Colégio de Aplicação CAP e a faculdade. No centro de Referência, encontra-se

o Colégio de Aplicação, onde estudam os alunos surdos, desde a Educação

infantil até o Ensino Médio.

Compreendemos que a missão Institucional do INES, busca subsidiar a

Política Nacional de Educação objetivando a garantia do desenvolvimento

global do indivíduo surdo, em plena condição social, através do respeito às

diferenças.

O Projeto Político-Pedagógico do CAP/INES apresenta a proposta dos

princípios Sócio-Interacionistas para o processo ensino-aprendizagem. O

professor, mediador, tem um papel fundamental, considerando as etapas do

desenvolvimento infantil e a história de cada aluno surdo. A política adotada é a

Bilíngue (Português escrito e LIBRAS).

O INES atende crianças surdas com comprometimentos tais como,

surde-cego, surdo com paralisia cerebral, surdo com síndromes. Dependendo

do diagnóstico a criança será incluída nesta escola com as outras crianças

surdas.

Aprendemos que a maior dificuldade do surdo é a comunicação. Para

tal, a detecção precoce é necessária para que não se desenvolva uma surdez

severa na criança. O ideal é detectar a surdez na idade entre 0 a 6 meses de

idade. A partir desta intervenção precoce, a criança pode chegar aos 3 anos de

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idade com uma linguagem próxima a da criança não surda, devido às

condições de plasticidade do cérebro.

Segundo o pensamento de Vygotsky, os princípios Sócio-Interacionistas

apresentam três ideias desenvolvidas, que refletem nas atividades escolares:

A primeira é que o cérebro é um sistema aberto, de grande plasticidade,

cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da

espécie e do desenvolvimento individual.

A segunda apresenta que o homem transforma-se de biológico em

sócio-histórico, num processo em que a cultura é parte essencial da

constituição da natureza humana.

E a terceira ideia é que a relação do homem com o mundo não é uma

relação direta, e sim, uma relação mediada. Sendo os sistemas simbólicos os

elementos intermediários entre o sujeito e o mundo.

O INES não trabalha com a inclusão escolar, é um colégio de âmbito

Federal, de classe especial. Os casos de surdez leve ou moderada são

encaminhados para a rede regular de ensino.

As atividades escolares e a grade curricular da escola INES é a mesma

que atende as crianças ouvintes em escolas de rede regular. O planejamento é

criado em bases concretas, dentro da realidade de vidas das crianças surdas.

O ensino é trabalhado nesta instituição dentro do sistema seriado.

Entendemos que a língua materna é a língua falada pelos pais, como

por exemplo a língua portuguesa. A língua natural do surdo é a de LIBRAS,

porque vai ao encontro do seu sentido aguçado de visão e do espaço.

O Centro de Referência Nacional, na Área da surdez, do INES apresenta

assessoria técnica nas áreas de: prevenção à surdez, audiologia,

fonoaudiologia, orientação familiar, orientação para o trabalho e qualificação

profissional, artes plásticas, dança, biblioteca infantil, Língua de Sinais,

informática educativa, atendimento a múltipla deficiência sempre aliada a

surdez.

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O INES apoia o ensino e a pesquisa em busca de novas metodologias,

para a aplicação no ensino dos surdos e promove o atendimento à comunidade

e aos alunos para fonoaudiologia, psicologia e assistência social.

Compreendemos que muitas conquistas sociais, foram bem vindas até

os dias atuais, inclusive a educação escolar, em escolas especiais, para o

atendimento às pessoas com necessidades especiais.

Deste modo, entendemos que o ideal seria a conquista de uma escola

inclusiva, efetiva, que não somente integre estes alunos em classe regular,

mas que seja capaz de promover uma interação social entre eles, respeitando

todas as diversidades e criando as adaptações necessárias para receber estes

alunos.

Neste aspecto, acreditamos que as escolas especiais também deveriam

assumir o compromisso de prover meios e abrir espaços para possibilitar a

interação social das crianças especiais com as não especiais, preparando as

crianças especiais, desde cedo, para terem a oportunidade de conviverem com

alunos das classes regulares em outras escolas e com a sociedade.

Continuo acreditando na existência de educadores especiais e inclusivos

que fazem da educação um ato de amor e faça deste, um elemento básico na

vida dos educandos durante o processo educacional.

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CONCLUSÃO

Pude afirmar que como diz SACKS “a inclusão é um ingrediente básico

para a educação”, que enriquece a prática pedagógica e resgata a auto estima

dos alunos surdos. Por isso, é necessário que o educador especial e inclusivo

atribua estratégias durante o processo de ensino e aprendizagem com os seus

alunos especiais, contribuindo, assim, para um encontro rico entre ambos nas

relações interpessoais e livre expressão de sentimentos.

Sabemos que a afetividade possui aspectos indispensáveis como,

desejos, sentimentos e emoções para um desempenho significativo na vida dos

educandos e que problemas emocionais prejudicam na aprendizagem. Esses

elementos são resultados satisfatórios e que, segundo os estudos de

Vygotsky, a emoção se organiza no sistema nervoso central do cérebro,

causando manifestações corporais diversas na vida do indivíduo.

Minha proposta, nesta monografia, foi mostrar que integrar e incluir

alunos surdos nas relações educacionais exige um olhar cuidadoso do

educador especial e inclusivo referente às atitudes e descobertas dos alunos.

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As dificuldades podem ser superadas, a partir do momento que o aluno tem

um bom acompanhamento emocional durante o início do seu aprendizado. O

autor SACKS (2010, p. 25), nos faz refletir que:

É possível dar a um surdo, condições de ouvir pela leitura e de falar pela escrita, pois assim como diferentes sons são usados convencionalmente para significar coisas diferentes, também podem ter essa função as diversas figuras de objetos e palavras. Caracteres escritos e ideias podem ser conectados sem a intervenção de sons verdadeiros.

A palavra “relação” abre um leque de opções na vida educacional dos

alunos surdos. Por isso, precisamos contar não somente com o compromisso

dos professores para o sustento de convívio entre o “eu e o outro”, mas

também com o apoio familiar dos alunos surdos.

É preciso que haja um trabalho em conjunto com os envolvidos nesta

relação interpessoal, proporcionar atividades que resgatem valores perdidos

como, palestras voltadas a violência, respeito e ética, festas culturais, filmes

sobre convívio familiar e outros. Todos os fatores são importantes para garantir

uma educação de qualidade, já que a família tem grande influência na vida das

crianças.

Isto relata uma dedicação e preocupação por parte da escola com a

educação dos alunos surdos, já que existe muita falta de informação na vida

do ser humano.

A afetividade é um vínculo fundamental na vida do aluno. Promove

desempenhos, integridade psicológica e autonomia, atendendo às diferenças

apresentadas no cotidiano dos educandos. É importante que a criança tenha

um convívio social na escola que construa equilíbrio emocional, respeito e

conquistas. As relações agradáveis acontecem através da empatia.

É objetivo da escola é traçar planejamento educacional no coletivo,

inserindo as famílias, alunos, professores e equipe pedagógica, educadores

especiais e inclusivos através de festas culturais e outros.

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Assim, podemos destacar que os relacionamentos interpessoais são

trabalhados de maneira integrada na escola, procurando unir os envolvidos na

proposta educacional.

O bilinguismo para NOVAES(2014, p.47), traz como necessidade

fundamental a expressão do eu, quando diz que

A língua é considerada um meio para o desenvolvimento do ser em seu todo, capaz de propiciar a comunicação das pessoas surdas com as ouvintes, bem como os seus pares, além de desempenhar também o papel de suporte do desenvolvimento cognitivo.

Dessa maneira, é relevante ressaltar que os profissionais de educação

trabalhem com seus alunos surdos conteúdos e instrumentos para que os

mesmos possam refletir e construir seu próprio conhecimento. O papel da

escola é ajudar o “ser” que está em formação a viver, encarar a vida e se

posicionar

frente ao mundo, perante a realidade social que se apresenta como um grande

desafio.

Percebemos que a luta dos surdos para terem escolas específicas para

Comunidade Surda é de longa caminhada. Eles acreditam que através de um

ensino que atenda eficazmente suas necessidades linguísticas e culturais,

poderão se integrar e estar em condições de igualdade com os seus ouvintes,

o que refletirá, por exemplo, na conquista de uma política educacional que leve

em conta a realidade e tradição dos surdos no Brasil.

Na prática, a educação bilíngue é vivenciada de maneiras diferentes

pelas escolas. Há aquelas chamadas especiais, que possuem professores

especializados em ensinar e LIBRAS e que são exclusivas para alunos surdos.

Há aquelas chamadas regulares, ou comuns, que mesclam surdos e ouvintes

nas salas, ou que montam salas exclusivas para surdos, mas dentro do mesmo

ambiente escolar. Nessas instituições de ensino, a presença de intérpretes, das

salas de recursos ou de monitores auxilia o estudante surdo na rotina escolar.

A escola é um espaço de formação, onde os conceitos já aprendidos

pelos alunos são desafiados e aperfeiçoados pelos professores, causando

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instabilidades conceituais dos mesmos. Podemos destacar que esta relação

nos mostra o quanto à criança surda precisa aprender com mais liberdade de

pensamentos, e ter visão de mundo.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Lei n.º 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e

Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Ano CXXX, n.º 248,

p.27833-27841, 23 dez. 1996.

DECLARAÇÃO de Salamanca, Sobre os Princípios, Políticos e Práticos na

área das Necessidades Educativas Especiais. Espanha: Salamanca, 1994.

LACERDA, Cristina B.F. Um pouco da história das diferentes abordagens

na educação dos surdos. Campinas, São Paulo, 1998.

MAZZOTTA, Marcos J. S. Educação Especial no Brasil: História e políticas

públicas. São Paulo: Cortez, 2001. p. 77-80 Capítulo II.

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__________, M.J.S. Educação Especial no Brasil: História e políticas

públicas. São Paulo: Cortez, 2001. p.104 Capítulo III.

NOVAES, Edmarcius Carvalho. Surdos: educação, direito e cidadania. Rio de

Janeiro: Walk Ed, 2014, p .35-100.

ROCHA, Solange. O INES e a educação de surdos no Brasil: aspectos da

trajetória do Instituto Nacional de educação de Surdos em seu percurso de 150

anos. Rio de Janeiro: INES, 2007. Volome I.

SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo:

Campanha das Letras, 2010. p. 25-122.

VYGOTSKY, L.S. et al. A formação social da mente: o desenvolvimento dos

processos psicológicos superiores. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO .......................................................................................... 2

AGRADECIMENTO .......................................................................................... 3

EPÍGRAFE ........................................................................................................ 4

DEDICATÓRIA ................................................................................................. 5

RESUMO .......................................................................................................... 6

METODOLOGIA .............................................................................................. 7

SUMÁRIO ........................................................................................................ 8

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9

CAPÍTULO I

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O SURDO E NA HISTÓRIA ........................................................................... 11

1.1 – OS ASPÉCTOS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS AO LONGO DA

HISTÓRIA ............................................................................................ 13

1.2 – PROCESSOS EDUCACIONAIS E DE INCLUSÃO ............................ 15

1.3 – A IMPORTÂNCIA DO EDUCADOR ESPECIAL E INCLUSIVO ......... 17

CAPÍTULO II

DEFICIÊNCIA E EFICIÊNCIA. A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO EM LIBRAS: FAMÍLIA, SOCIEDADE, ESCOLA, ALUNOS E PROFESSORES NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS..................................................................... 21

2.1 – A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE FAMÍLIA E ESCOLA NA

FORMAÇÃO DO ALUNO SURDO ......................................................... 23

2.2 – UM RELACIONAMENTO DE CONFIANÇA ENTRE O EDUCADOR

INCLUSIVO E O ALUNO SURDO ......................................................... 25

2.3 – EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA E A SUAA CONTRIBUIÇÃO

PARA O MUNDO EDUCACIONAL ...................................................... 27

CAPÍTULO III

O PAPEL DO EDUCADOR ESPECIAL E INCLUSIVO NO PROCESSO DA APRENDIZAGEM PARA EDUCAÇÃO DO ALUNOO SURDO .................. 29

3.1 – A CONSTRUÇÃO DO OLHAR INCLUSIVO DIRECIONADO AOS

QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO .......................................................... 31

3.2 - A MISSÃO INSTITUCIONAL DO INES É A PRODUÇÃO, O

DESENVOLVIMENTO E A DIVULGAÇÃO DO CONHECIMENTO

CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO NA ÁREA DA SURDEZ ........................... 33

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CONCLUSÃO ................................................................................................ 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................... 39

ÍNDICE ........................................................................................................... 42