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UNIVERSIDADE A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO / ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO Dissídio Coletivo Sandro Michael de Andrade Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · processual, tendo como finalidade inicial situar o dissídio coletivo como meio jurídico de solução dos conflitos coletivos resultantes

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UNIVERSIDADE A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO / ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU

EM DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Dissídio Coletivo

Sandro Michael de Andrade

Rio de Janeiro 2013

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SANDRO MICHAEL DE ANDRADE

Dissídio Coletivo

Apresentação do Trabalho de monografia à Universidade a Vez do Mestre como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação/Especialização Lato Sensu em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Professora Orientadora: Claudia Pisco

Rio de Janeiro 2013

3

Folha de aprovação

CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO EMDIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO

TRABALHO

TÍTULO DA MONOGRAFIA

Dissídio coletivo

ALUNO

Sandro Michael de Andrade (assinatura)

______________ __________________ AVALIAÇÃO

1. CONTEÚDO

Nota: ____ Conceito: _____

Avaliador (assinatura)

(Nome do professor avaliador)

FORMA

Nota: ____ Conceito: _____

Avaliador (assinatura)

(Nome do professor avaliador)

NOTA FINAL: ______ CONCEITO: _______

Rio de Janeiro, _____ de _____________ de 20 __

(assinatura)

(Nome do Coordenador do Curso)

4

AGARADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me proporcionar a oportunidade de poder realizar o presente curso de pós-graduação.

Aminha mãe e minha avó Arlete que sempre estiveram ao meu lado nos momentos mais difíceis.

5

DEDICATÓRIA

Oferto este trabalho ao meu avô Orlando Luis Michael (in memorian), o grande responsável por minha criação e formação profissional; aquele que sem dúvidas foi um pai e um grande amigo.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13

CAPÍTULO |I

CONFLITOS COLETIVOS DE TRABALHO .............................................................. 12

1.1 Considerações iniciais ............................................................................................... 12

1.2 Conceito .................................................................................................................... 14

1.3 Espécies de conflitos coletivos.................................................................................. 14

1.4 Forma de solução dos conflitos coletivos de trabalho .............................................. 14

1.4.1 Negociação coletiva .......................................................................................... 17

CAPÍTULO II

DISSÍDIO COLETIVO ................................................................................................... 19

2.1 Conceito .................................................................................................................... 19

2.2 Retrospecto histórico ................................................................................................. 20

2.3 Diferença entre dissídio individual e dissídio coletivo ............................................. 21

2.4 Classificação dos dissídios coletivos ....................................................................... 22

2.4.1 Dissídio coletivo de natureza econômica .......................................................... 23

2.4.2 Dissídio coletivo jurídico ou de direito ............................................................. 24

2.4.3 Dissídio coletivo revisional ou modificativo..................................................... 25

2.4.4 Dissídio coletivo de greve ................................................................................. 25

2.5 Natureza jurídica dos dissídios coletivos .................................................................. 26

2.6 Condições da ação ..................................................................................................... 27

2.6.1 Possibilidade jurídica do pedido........................................................................ 27

2.6.2 Legitimidade “ad causum” ................................................................................ 29

2.6.3 Ajuizamento do dissídio coletivo pelo sindicato ............................................... 29

2.6.4 Intervenção do Ministério Público .................................................................... 31

2.6.5 Interesse processual ........................................................................................... 32

2.7 Pressuposto processuais ............................................................................................ 32

2.7.1 Pressupostos subjetivos ..................................................................................... 33

2.7.1.1 Competência do órgão julgador ................................................................. 33

7

2.7.1.2 Legitimidade processual das partes ........................................................... 35

2.7.2 Pressupostos objetivos ....................................................................................... 36

2.7.2.1 Inexistência de litispendência .................................................................... 36

2.7.2.2 Negociação coletiva prévia ........................................................................ 36

2.7.2.3 Inexistência de norma coletiva em vigor ................................................... 36

2.7.2.4 Prazo para ajuizamento do dissídio coletivo ............................................. 37

2.7.2.5 Petição inicial............................................................................................. 37

CAPÍTULO III

ALTERAÇÕES SOBREVINDAS PELA EMENDA CONSTITUCIONAL N.

45/2004 ............................................................................................................................ 39

3.1 As limitações do poder da justiça do trabalho .......................................................... 39

3.2 A falta de previsão constitucional expressa para os dissídios coletivos

jurídicos ........................................................................................................................... 42

CAPÍTULO IV

O COMUM ACORDO ................................................................................................... 44

4.1 A exigência do comum acordo .................................................................................. 44

4.2 Função processual do comum acordo ....................................................................... 49

4.2.1 Condição da ação ou pressuposto processual .................................................... 49

4.3 Controvérsias a cerca da aplicação da inafastabilidade de jurisdição ....................... 49

CAPÍTULO V

A SENTENÇA NORMATIVA DE DISSÍDIO COLETIVO ......................................... 52

5.1 Conceito .................................................................................................................... 52

5.2 Cláusulas da sentença Normativa.............................................................................. 52

5.3 Natureza jurídica da sentença normativa de dissídio coletivo .................................. 53

5.4 Eficácia da sentença normativa ................................................................................. 54

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 57

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 59

8

ROL DE ABREVIATURAS

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CF Constituição Federal

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

EC Emenda Constitucional

IN Instrução Normativa

OJ Orientação Jurisprudencial

SDC Sessão de Dissídios Coletivos

STF Supremo Tribunal Federal

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

9

INTRODUÇÃO

Tema de relevante importância para direito coletivo, o presente trabalho monográfico

a ser apresentado tem como escopo o estudo do dissídio coletivo, ação judicial coletiva

destinada a solução dos conflitos coletivos de trabalho resultantes relação entre empregados e

empregadores no que se refere a questões de natureza econômica, jurídicas e a divergências

oriundas das relações de trabalho.

Por ser uma ação coletiva, por meio do qual são reguladas as relações de trabalho

conflitantes, buscar-se-á explorar a matéria no âmbito do direito constitucional, trabalhista e

processual, tendo como finalidade inicial situar o dissídio coletivo como meio jurídico de

solução dos conflitos coletivos resultantes das relações de trabalho.

Posteriormente será analisada a legislação constitucional, bem como a legislação

infraconstitucional em vigor, sob o prisma das alterações trazidas pela Emenda Constitucional

45/04. Em continuidade serão elencadas as controvérsias doutrinarias e jurisprudência a cerca

da constitucionalidade do § 2º do artigo 114.

Por fim trataremos da sentença normativa e a extensão da decisão judicial do dissídio

coletivo.

Contudo para melhor delimitar as questões que norteiam o dissídio coletivo, a

presente monografia será apresentada em 5 (cinco) capítulos interdependentes, de maneira

que possibilite um melhor entendimento do leitor.

O capítulo I tratará dos conflitos coletivos, observando seu conceito e

contextualização sociológica E espécies. Após, serão exploradas as formas de composição dos

conflitos preconizadas pela Constituição Federal nos parágrafos do Artigo 114 e os meios

possíveis de sua aplicação nas relações coletivas de trabalho.

Será também terá ênfase no presente capítulo ao estudo da negociação coletiva de

trabalho e do acordo coletivo de trabalho como formas lídimas de solução dos conflitos de

trabalho.

O capítulo II versará sobre a ação de dissídio coletivo no tocante a seu conceito, a

retrospecto histórico, a natureza jurídica, as espécies, aos requisitos necessários para ao

ajuizamento da ação, a competência da justiça do trabalho para sua apreciação e julgamento.

Outro fator a ser estudado serão as mudanças trazidas pela Emenda Constitucional

45/04, o qual se processará através de um comparativo entre o regime anterior e o atual,

10

O capítulo III objetiva demonstrar através do método comparativo a existência ou

não de contradição no texto da Constituição Federal de 1988, mediante verificação dos

dispositivos constitucionais relativos as relações de trabalho, que incentivam a negociação

coletiva como forma de autocomposição e os dispositivo constitucionais que estabelecem a

competência da justiça do trabalho para prestar a tutela jurisdicional em relação aos conflitos

coletivos de trabalho.

Para enfrentar a contradição entre os dispositivos constitucionais acima explicitados

se faz necessário um estudo a cerca da negociação coletiva, que embora não seja foco do

trabalho monográfico, neste capítulo é abordada como elemento de controvérsia em relação

ao dissídio coletivo.

Far-se-á assim o estudo mais amplo da negociação coletiva no que diz respeito a seu

conceito, princípios, espécies, amparo legal deste instituto e possibilidade de sua aplicação

como forma de solução dos conflitos coletivos de trabalho.

O capítulo IV analisará a constitucionalidade do requisito “comum acordo” como

requisito necessário para o ajuizamento da ação de dissídio coletivo, conforme previsão do

§2º do artigo 114 da CF de 1988, devido as divergências doutrinarias que circundam este

requisito, no que diz respeito a sua inserção processual como condição da ação ou pressuposto

processual.

Igualmente, verificaremos a possibilidade do comum acordo o constituir ofensa ao

princípio de inafastabilidade de jurisdição, resguardado pelo Artigo 5º, XXXV, também da

CF de 1988.

Com intuito de melhor avaliar a imprescindibilidade do requisito constitucional

“comum acordo”, para o ajuizamento do dissídio coletivo, ao longo do presente capitulo será

o requisito analisado no que concerne ao seu enquadramento jurídico, ou seja, quanto à

possibilidade de estar inserido como condição da ação ou pressuposto processual.

Este tópico será sustentado com base nos impasses existentes, através da

apresentação das posições doutrinarias e repercussão no âmbito da jurisprudência.

O capítulo V discutirá a sentença normativa como resultado final que dispõe a justiça

do trabalho para emanar através de suas decisões normas e fixar regras quanto às condições de

trabalho e remuneração do mesmo.

11

O poder normativo é assunto de manifesto interesse em face à identificação com o

tema proposto, no que se refere ao respeito das mudanças introduzidas com o advento da EC

45/04, no que diz respeito ao ajuizamento do dissídio coletivo.

Ao final do texto introdutório esclarecesse que o trabalho monográfico será

desenvolvido com base nos métodos bibliográficos, qualitativo e parcialmente exploratório,

tomando como fontes a legislação constitucional e infraconstitucional, a doutrina e a

jurisprudência.

12

CAPÍTULO I

1. CONFLITOS COLETIVOS DE TRABALHO

1.1 Considerações iniciais.

É cediço que a existência dos conflitos de sociais são inerentes ao convívio em

sociedade, no campo das relações de trabalho nem sempre as classes de empregado e

empregadores ocorrem dentro de um ambiente de consenso e harmonia.

No que tange as relações de trabalho normalmente os conflitos surgem pelo dissenso

entre pretensões ou descumprimento ou divergência na interpretação ou alcance de legislação

e normas vigentes a cerca da atividade desempenhada por uma das classes, seja ela obreira ou

patronal, o que produz perturbação e desnível para uma das partes.

Logo conflito coletivo de trabalho formaliza-se mediante uma relação de litígio

estabelecida entre uma coletividade homogênea de trabalhadores e uma empresa ou grupo de

empresas, que tem como matéria ou objeto próprio a confrontação de direitos ou interesses

comuns à categoria profissional.

Há de se ressaltar que os conflitos nas relações de trabalho podem também ter

origem quando uma das partes envolvidas postula a mudança de condições já existentes.

1.2 Conceito

Como forma inicial motivamos a abordagem do tema primeiramente com o estudo da

do vocábulo ‘conflito’, o qual tem suas origens do latim “conflicto”1 (impacto incerto do

combatente ou competição).

Quanto à visão sociológica, o interesse manifesta-se quanto às relações humanas,

corroborando para a formação dos grupos sociais, para a satisfação de suas necessidades.

Quando o interesse de determinada categoria profissional se opõe à resistência da categoria

econômica correspondente, surgem os denominados conflitos coletivos de trabalho.

1 CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa (Organizador). Direito coletivo do trabalho em debate. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 166.

13

Ainda sobre a conceituação sociológica a cerca dos conflitos coletivos faz-se mister

mencionar a citação de Arion Sayão Romita2 “o conflito coletivo de trabalho é espécie de

gênero conflito social”.

Diante os conceitos de ordem sociológica apresentados a cerca dos conflitos

coletivos de trabalho podemos dizer que de acordo com esta ótica este instituto têm sua

essência em critérios valorativos identificados, positivo ou negativo.

A definição de conflito como elemento positivo se dá no sentido de que o mesmo se

opera na institucionalização de situações geradoras de conflitos, em relação ao aspecto

negativo este é tido como um fator disfuncional das relações sociais.

As posições conflituosas, positiva e negativa, fazem parte da essência do Direito do

Trabalho e as posições divergentes entre capital e trabalho, estas são necessárias como razão

de ser da própria ciência.

Nos termos jurídicos trabalhistas conflito é toda posição controversa, antagônica

entre os representantes do capital e as forças do trabalho, existindo a controvérsia tem-se

como conseqüência os conflitos, que até são considerados elementos essenciais para o homem

dentro da realidade do convívio social.

Com fulcro na teoria da pretensão resistida, Cabanellas3 define conflito coletivo de trabalho como:

“conflito laboral é toda oposição ocasional de interesse, pretensão ou atitude entre um patrão ou vários empresários, de uma parte, e um ou mais trabalhadores. O seu serviço, por outro lado, sempre que se origine do trabalho e pretenda solução mais ou menos coativa sobre o setor oposto”.

Diante do que se expôs Amauri Mascaro do Nascimento4, o dissídio coletivo pode

ser conceituado como:

Um processo judicial de solução dos conflitos coletivos econômicos e jurídicos que no Brasil ganhou máxima expressão como um importante mecanismo de criação de normas e condições de trabalho por meio dos tribunais trabalhistas, que proferem sentenças denominadas normativas quando as partes que não se compuseram na negociação coletiva acionam a jurisdição.

O Direito do Trabalho estuda os conflitos e os classifica, tendo em vista os sujeitos

conflitantes, em duas espécies básicas: individuais, quando ocorrem entre um trabalhador ou

diversos trabalhadores, individualmente considerados, e o empregador; e coletivos, quando

2 O Poder normativo da Justiça do Trabalho: antinomias constitucionais. In;Revista LTr, p. 263 3 CABANELLAS, Guilhermo Torres. Diccionário jurídico Elemental. R. Editorial Heliasta, p. 95. 4 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual de Trabalho. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 631

14

alcança um grupo de trabalhadores e um ou vários empregadores e se refere a interesses gerais

do grupo.

1.3 Espécies de conflitos coletivos de trabalho

É notório que a existência de conflitos coletivos de trabalho decorre do

relacionamento cotidiano, porém quando instituído vem abranger classes ou certos grupos de

empregados e empregadores, objetivando discussão de matéria controversa de ordem geral.

Nessa acepção, não se pode definir grupo como uma simples reunião de empregados, havendo

necessidade de que subsista um vínculo intersubjetivo entre tais pessoas e atividade laboral

que desempenham, ou seja, uma uniformidade de sentimentos traduzida no interesse coletivo.

Quanto a sua finalidade, ou seja, quanto a sua destinação os conflitos coletivos de

trabalho podem ser econômicos ou de interesse e também jurídicos ou de direito.

Ocorrem os conflitos econômicos ou de interesse quando a controvérsia sobrevém

em torno das condições de trabalho, nesta a classe obreira almeja criação, modificação ou

extinção no que se refere as condições de trabalho.

Nos conflitos de trabalho jurídicos ou de direito, se processam no surgimento de

divergências no que se refere a aplicação ou interpretação de uma norma jurídica preexistente,

via de regra este conflito tem como base a não aceitação,obediência ou cumprimento de

norma pelo empregador. Contudo fato contrário pode ensejar a incidência dos conflitos

jurídicos.

1.4 Formas de solução dos conflitos coletivos de trabalho

Vê-se que por todo mundo os conflitos coletivos inerentes as relações de trabalho é

um fator de preocupação Estatal que se utiliza de técnicas para a solução de tais conflitos.

Destacam-se em todo mundo dois meios utilizados clássicos voltados que variam de

país para país, conforme a filosofia e cultura e as normas legais que regulam e disciplinam as

relações de trabalho. São classificados em autocomposição e heterocomposição.

Na autocomposição, as partes, depois de negociarem as bases da conciliação,

celebram uma convenção ou acordo coletivo de trabalho. Nesta forma de solução os conflitos

se resolvem quando há solução é dada pelas próprias partes conflitantes.

15

Na autocomposição há sacrifício do próprio interesse de um ou ambos litigantes. Daí

sua classificação unilateral ou bilateral, para estabelecer ônus comum ou só de uma parte,

consensualmente estabelecido5.

As formas autocompositivas de solução dos conflitos coletivos de trabalho são a

negociação, a mediação e a renúncia, sendo assim se encontram previstas no ordenamento

jurídico de países democráticos onde se prega a liberdade sindical e os sindicatos possuem

relevante papel nas negociações inerentes as relações de trabalho.

Através da heterocomposição impõem-se as partes envolvidas no conflito coletivo de

trabalho a solução que considerar mais adequada.

São desdobramentos da heterocomposição a arbitragem e a decisão judicial com a

intenção de se por um ponto final ao conflito;

Em relação à arbitragem, os litigantes espontaneamente, designam alguém de sua

confiança para solucionar o litígio, mediante o prévio compromisso de se submeterem ao

laudo ou decisão que, ao final, lhes for apresentado.

A decisão judicial nada mais é que a solução compulsória da controvérsia por meio

do poder estatal.

Parte da doutrina inclui a autodefesa como forma de solução de conflitos. A

autodefesa é o ato pelo qual uma das partes realiza sua própria defesa por si mesmo.

Quando autorizadas ou não proibidas pela legislação, a greve e o lockout são

exemplos de técnicas de autotutela, temas sobre os quais teceremos breve comentário a seguir.

Greve é admitida em nossa legislação como suspensão coletiva, temporária e

pacífica, total e parcial, de prestação pessoal de serviços do empregador. É considerada um

direito social dos trabalhadores, tratando-se de uma garantia fundamental6.

Lockout é o fechamento de uma ou várias empresas até que os trabalhadores tenham

aceitado a atitude que o trabalhador pretenda impor. Privados do trabalho e do salário, os

operários podem depois de certo tempo. O mecanismo é idêntico ao da greve, mas aqui é o

patrão que toma a iniciativa da prova de força7.

5 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p. 35 6 MARTINS, Sérgio Pinto, Direito do Trabalho. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 838, 839. 7 CARRION, Valentin. Comentário à Consolidação das Leis do Trabalho. 34 ed. São Paulo:Saraiva, 2009,p.553.

16

Necessário ao presente tema é mencionar a classificação dada por MARTINS

FILHO8 que formulou uma divisão das formas de solução dos conflitos coletivos de trabalho

que se processa em relação a sua natureza:

Formas voluntárias: onde o instrumento normativo das relações de trabalho é fruto de acordo das partes, resultado de negociação coletiva direta ou com intervenção de terceiros para obter a composição voluntária das partes.

Formas impositivas: quando o instrumento normativo estabelecendo as novas condições de trabalho advém da vontade de terceiro, que deverá ser acatada pelas partes.

Deste modo segundo a classificação atribuída pelo doutrinador encontram-se

englobadas como formas voluntárias de solução dos conflitos coletivos de trabalho a

negociação coletiva e a conciliação, assim como são formas impositivas a arbitragem,

facultativa ou obrigatória e a jurisdição estatal.

No Brasil com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil em

1988, foi instituído no ordenamento mento jurídico pátrio, no artigo 114, como formas de

solução dos conflitos coletivos no §1º a autocomposição e no § 2º a heterocomposição.

§ “1º Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros”.

§ “2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente”.

Verifica-se no §1º do artigo 114 da CRFB/88 a presença da autocomposição quando

legislador faz menção a convenção coletiva que é uma forma de solução de conflitos

composta pela mediação e conciliação.

A heterocomposição se faz presente na parte final do §1° quando este faz menção a

arbitragem e ao longo de todo texto do § 2º do artigo 114 da Constituição Federal.

No Brasil, mesmo com a possibilidade da utilização da autocomposição pelas partes

envolvidas no conflito coletivo de trabalho, devido à estrutura sindical nacional, instituída

pela Consolidação das Leis do trabalho, com base no Estado corporativista, ocorre a

predominância da heterocomposição como forma de solução para os conflitos coletivos de

trabalho.

8 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva, Processo Coletivo de Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009,p. 22, 23.

17

Contudo diante as divergências doutrinarias que envolvem a possibilidade da

autodefesa ser uma forma legítima de solução dos conflitos coletivos de trabalho, não é

afastada pela CRFB/88, que em seu artigo 9º admite a possibilidade de greve de forma ampla,

ao dizer que compete aos trabalhadores decidir sobre sua oportunidade e o interesse que deva

por meio dela defender.

É assim muito própria ao assunto, a previsão constitucional da autodefesa os

comentários tecidos por Raimundo Simão de Melo: ‘Indagamos, com efeito, se a greve

constitui mesmo meio autodefensivo, no sentido estrito do termo, ou seja, para possibilitar a

uma das partes, no caso o trabalhador, a fazer justiça com as próprias mãos9.

1.4.1 Negociação Coletiva

Antes de adentramos na abordagem do tema principal da monografia, para um

melhor entendimento de todo processo que envolve a solução dos conflitos coletivos de

trabalho através do dissídio coletivo, achamos imprescindível realizar de forma sumária o

estudo da negociação coletiva.

Temos como uma das definições doutrinárias de negociação coletiva o seguinte

entendimento: “é um processo cuja finalidade é, por meio de concessões recíprocas entre os

representantes do capital e do trabalho, a celebração de acordos ou convenções coletivas de

trabalho”10.

A CRFB/88 em seu texto atribuiu grande importância à negociação coletiva .

Os incisos VI, XIII e XIV do artigo 7o da Carta Magna prevêem de forma expressa a

mitigação dos direitos ali constantes por acerto coletivo, ligados diretamente ao valor do

salário e duração do trabalho que podem ser “flexibilizados”, desde que respeitadas as regras

constantes da CLT quanto à negociação coletiva.

O artigo 8o, inciso VI da CRFB/88 condiciona a participação sindical quando da

elaboração das normas coletivas. É bom que se registre, também que o artigo 7o, XXVI, da

CRFB/88 reconhece de forma expressa a validade dos acertos coletivos, inclusive como

direito fundamental subjetivo dos trabalhadores.

9 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p. 36. 10 HINS, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho. – São Paulo: Saraiva, 2005, p. 86.

18

Como resultado das negociações coletivas de trabalho o ordenamento jurídico abriga

as convenções e os acordos coletivos de trabalho. Estas devidamente disciplinadas pela

Consolidação das leis do trabalho.

Segundo o artigo 611 da CLT11, “convenção coletiva de trabalho é o acordo de

caráter normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas

e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas

representações, às relações individuais de trabalho”.

O caráter é normativo porque a convenção coletiva é lei entre as partes. Por se tratar

de um contrato, há também o caráter obrigacional das cláusulas e condições que estipulam

regras entre os sindicatos convenentes.

O parágrafo primeiro, do artigo 611 da CLT, dispõe que:

“é facultado aos sindicatos representativos de categorias profissionais celebrarem Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho”12.

Apesar de posições em contrário, entende-se que o dispositivo foi recepcionado pela

Constituição Federal de 1988, já que o artigo 7º, inciso XXVI da Lei Maior reconhece as

convenções e acordos coletivos de trabalho. Assim, quando o artigo 8º, inciso VI, determina

ser obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho, é certo

estar se referindo ao sindicato dos trabalhadores (categoria profissional).

O artigo 616, da CLT, determina que “os sindicatos representativos de categorias

econômicas ou profissionais e as empresas, inclusive as que não tenham representação

sindical, quando provocados, não podem recusar-se à negociação coletiva, que visa a

convenção ou o acordo coletivo de trabalho.

Registre-se, ainda, que nos termos do artigo 62013, da CLT, as condições

estabelecidas em convenção, quando mais favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em

acordo. Isto porque, sendo especial, em regra o acordo prevalece sobre a convenção.

11 Brasil. Consolidação da Leis do Trabalho. Artigo 611. 12 Ibdem. Artigo 611. 13 Ibdem. Artigo 611.

19

CAPÍTULO II

DISSÍDIO COLETIVO

2.1 Conceito

Segundo a norma culta a palavra dissídio tem o significado de cisão, dissensão,

desinteligência, na acepção jurídica dissídio é processo, ou seja, o meio de exercer uma ação

para compor a lide, podem ser individuais ou coletivos14.

Destina-se o dissídio coletivo à solução de conflitos coletivos de interesses nas

relações de trabalho. Enquanto o poder normativo é, genericamente, o poder de estabelecer

normas jurídicas o dissídio coletivo é um processo judicial de solução dos conflitos coletivos

econômicos e jurídicos.15

Pode-se denominar dissídio coletivo como processo coletivo do trabalho sendo este o

meio disposto em lei para a solução pelo Poder Judiciário dos conflitos coletivos de interesse

não solucionados diretamente pela via de arbitragem.16

O dissídio coletivo, pois, numa definição mais abrangente, é o processo por meio do

qual se discutem interesses abstratos e gerais, de pessoas indeterminadas.

Tem como finalidade criar, modificar ou extinguir condições gerais de trabalho, de

acordo com o princípio da discricionariedade, atendendo-se aos ditames da conveniência e da

oportunidade e respeitando-se os limites mínimo e máximo previstos em lei (CRFB/88, artigo

114,§ 2° e CLT, artigo 766).17

Amauri Mascaro Nascimento18 afirma que:

Dissídios coletivos são os em que se ventilam, imediatamente, interesses abstratos de grupo ou de categoria. Particularizam-se pelo seu objeto, a condição de trabalho genericamente considerada com caráter normativo, e pelas partes, que são pessoas indiscriminadas representadas em juízo pelos órgãos sindicais, salvo, exceções.

14 CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 709. 15 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.587. 16 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito processual do trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 791. 17 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p.70. 18Ibidem. p. 234.

20

Dissídio coletivo é, nas palavras de Carlos Henrique Bezerra Leite19:

[...] uma espécie de ação coletiva conferida a determinados entes coletivos, geralmente os sindicatos, para a defesa de interesses cujos titulares materiais não são pessoas individualmente consideradas, mas sim grupos ou categorias econômicas, profissionais ou diferenciadas, visando à criação ou interpretação de normas que irão incidir no âmbito dessas mesmas categorias.

2.2 Retrospecto histórico

Os dissídios coletivos tiveram sua origem no Estado corporativista e autoritário, que

repelia a negociação coletiva e considerava os sindicatos como órgão assistencialista.

No Brasil em 1932, por meio do Decreto-Lei 21.396, de 12 de maio, foi esboçado o

dissídio coletivo com a criação das Comissões Mistas de Conciliação, destinadas a resolver

conflitos coletivos de trabalho, tendo composição paritária, sendo presidida por um advogado

ou um funcionário público. Sua atuação não ia além da mediação. Recusada a arbitragem,

assumia o Ministério Público uma aparatosa inutilidade.

Dessa forma se estruturava a Justiça do Trabalho no Brasil, que se fazia sem

qualquer influência fascista. Tudo aconteceu antes de 1937, quando começou o ditatorial

Estado Novo.

A CF de 1937 atribuiu à Justiça do Trabalho a competência para dirimir os conflitos

oriundos das relações de trabalho, contudo proibiu expressamente a greve.

Já a Constituição Federal brasileira de 1946, artigo 123, atribuiu competência à

Justiça do Trabalho para conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre

empregados e empregadores.

O mesmo critério foi mantido pela Constituição Federal de 1967, artigo 134, § 1º, ao

declarar “que a lei especificará as hipóteses em que as decisões, nos dissídios coletivos,

poderão estabelecer normas e condições de trabalho.

A CRFB/88, no artigo 114, § 2º, modificou o dispositivo para declarar que,

recusando-se a qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos

sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e

condições, respeitadas as condições mínimas de proteção ao trabalho.

19 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 4 ed. São PAULO: LTr, 2006, p. 951

21

Tal poder passou a ser utilizado amplamente pelos tribunais do trabalho que criaram

precedentes em dissídios coletivos com a enumeração dos tipos de pleitos habitualmente

acolhidos ou indeferidos.

Com a EC 45/04 (Reforma do Poder Judiciário) houve modificações que serão

tratadas adiante, no terceiro capítulo.

2.3 Diferença entre dissídio individual e dissídio coletivo.

O dissídio coletivo destaca-se como forma heterônoma de solução de conflitos.

Dentre os meios de solução de conflitos oriundos das relações trabalhistas a Constituição

brasileira adotou a solução estatal para resolução de conflitos individuais e coletivos por meio

da atuação do Poder Judiciário.

Consiste o processo de dissídio coletivo em um meio que dirimirá os conflitos

coletivos do trabalho por meio de Poder Judiciário que decidirá a cerca de matéria

controvertida, onde são partes as classes laborais e patronais.

Os conflitos coletivos são resolvidos por via de ações judiciais, denominadas

dissídios coletivos e ajuizadas perante os Tribunais do Trabalho. Estas demandas dão solução

ao conflito com a aplicação do poder normativo, que nada mais é que a faculdade conferida

aos Tribunais do Trabalho para estabelecer normas e condições de trabalho para reger as

relações de trabalho controvertida, existentes entre trabalhadores e empregados representados.

O dissídio coletivo encontra-se previsto no artigo 856 da CLT e no artigo 114 da

CRFB/88, que trata da competência da Justiça do Trabalho, cuja redação foi alterada pela EC

45/04.

O dissídio individual é o processo no qual se discutem interesses e direitos concretos

e individuais de pessoas determinadas aplicando-se o direito preexistente, tendo como partes

os trabalhadores e empresas que são considerados de forma individual.

Portanto, caracteriza-se dissídio individual pela natureza do conflito,

independentemente do número de litigantes, ou seja, ainda que haja diversos reclamantes,

desde que as pretensões sejam pessoais e exclusivas, o dissídio individual será simples,

porém, por envolver mais de um autor, formando-se um litisconsórcio ativo, é denominado de

plúrimo.

22

Nas lições de Wagner Giglio20, o doutrinador nos ensina que dissídios individual e

coletivo distinguem-se em relação às partes e finalidades, conforme reprodução de texto a

seguir:

Em relação às Partes: “nos dissídios coletivos pelo menos uma das partes é uma coletividade (categoria profissional) composta de um número indeterminado e indeterminável de indivíduos, enquanto os conflitos individuais se estabelecem, sempre necessariamente, entre indivíduos determinados”. Em relação ao objeto: “nos conflitos coletivos discutem-se interesses abstratos das categorias profissionais e econômicas, ao passo que nos individuais o objeto de debate são interesses concretos de indivíduos”.

Em relação à Finalidade: “o objeto final ou finalidade do conflito coletivo consiste na criação, na modificação e na interpretação em tese de uma norma jurídica, enquanto nos conflitos individuais a meta e o objetivo visado é a composição através de aplicação ao caso concreto de norma jurídica preexistente”.

Martins Filho21 esclarece a cerca dos dissídios individual e coletivo:

No dissídio individual é exercida a jurisdição, ou seja, o poder de dizer o direito aplicado em espécie, levando-se em conta o princípio da legalidade, pelo qual não é permitido a imposição de qualquer obrigação senão em virtude da lei. Nos dissídios coletivos a justiça do trabalho exercita o poder normativo através da criação de norma jurídica nova, de acordo com o princípio da discricionariedade atendendo exclusivamente os ditames da conveniência e oportunidade, respeitando os limites mínimos e máximos previstos em lei.

2.4. Classificação dos dissídios coletivos

Conforme o artigo 220 do Regimento Interno do Tribunal Superior do Trabalho, os

dissídios coletivos classificam-se em:

a) econômicos;

b) jurídicos;

c) revisional:

d) de greve e:

e) originários.

Não se tem quanto aos dissídios coletivos uma classificação homogênea uma vez

que, as duas primeiras classificações referem-se ao prisma material e a três últimas ao formal,

podendo haver transvariação num enquadramento no mesmo dissídio22.

20GIGLIO, Wagner. Direito processual do trabalho.1ed.São Paulo: Saraiva. 2002 p. 381, 382. GIGLIO, Wagner. direito processual do trabalho.1ed.São Paulo: Saraiva. 2002 p. 381, 382. 21MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva, Processo Coletivo de Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 75. 22 Ibidem. p. 75.

23

2.4.1 Dissídio coletivo de natureza econômica

Também chamado de dissídio de interesses, é o processo destinado à instituição de

normas e condições de trabalho para regerem as relações entre empregados e empregadores

(criando, modificando, mantendo ou extinguindo direitos).

Logo esse tipo de dissídio coletivo tem como escopo a criação de novas normas para

regulamentação dos contratos individuais de trabalho, com obrigações de dar e fazer.

Neste o Tribunal não atua conforme os ditames legais, somente funciona como um

limite para a atuação do órgão julgador, que busca norteia sua decisão nos parâmetros da

equidade e da justiça.

Apenas os dissídios de natureza econômica foram objetos da EC. 45/0423. Por isso há

uma corrente minoritária entendendo que os dissídios de natureza jurídica estariam revogados.

Os conflitos considerados econômicos podem ser entendidos como aqueles em que

os trabalhadores buscam novas e também melhores condições de remuneração pela atividade

laboral desempenhada.

Nessa espécie de conflitos objetiva-se a criação ou obtenção de uma norma jurídica,

convenção ou sentença normativa, criando, extinguindo ou modificando uma situação de

trabalho na empresa24.

Os dissídios econômicos têm em mira a criação de novas condições de trabalho25.

O Brasil ainda é um dos únicos países do mundo que ainda adotam o dissídio

coletivo judicial de natureza econômica, como forma de solução dos conflitos de correntes

das relações de trabalho. Foi ampliada pela EC 45/04 no § 2° do artigo. 11426.

“Artigo 114 - Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: § 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente”.

23 MANNRICH, Nelson (Coordenador). O poder normativo e a exigência do comum acordo na justiça do trabalho: uma análise pautada no principio da proporcionalidade. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, Julho-Setembro, ano 33, 2007, p. 122. 24 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho: doutrina e prática forense, modelos de petições, recursos, sentenças e outros. São Paulo: Atlas, 2007, p. 604. 25 BARROS, Alice Monteiro de, Curso de direito do trabalho. São Paulo: Ltr, 2005, p. 1197. 26 BRASIL. Constituição federal. Brasília: Senado, 1988, artigo 114.

24

2.4.2 Dissídio coletivo jurídico ou de direito

São aqueles em há divergência ou aplicação ou interpretação de determinada norma

jurídica. Tem o fim principal de declarar o sentido ou alcance de uma norma jurídica

existente, que pode ser uma lei, uma convenção coletiva, um acordo coletivo, um contrato

coletivo, uma sentença normativa, um laudo arbitral ou um ato normativo qualquer.

Aduz Martins Filho27: Quando se tratar de uma lei formalmente considerada, esta,

para legitimar o ajuizamento do dissídio coletivo jurídico, precisa ser de aplicação particular

de determinada categoria profissional ou econômica, o que é um tanto quanto raro, v. g., a lei

dos portuários.

Esse entendimento, que não encontra respaldo na lei, foi incido firmado pelo

Tribunal Superior do Trabalho, por meio do seu Regimento Interno (art. 313, inciso II), o que

representa restrição prejudicial às categorias interessadas ou ao Ministério Público do

Trabalho, legitimado para tanto.

Amauri Mascaro do Nascimento28 nos ensinam que:

“os dissídios jurídicos nos ensinam a dirimir controvérsias sobre a interpretação de cláusulas de sentenças normativas, de instrumento de negociação coletiva, acordos ou convenções coletivas, de disposições legais particulares de categoria profissional ou econômica e de atos normativos”.

Diante as definições atribuídas ao dissídio coletivo jurídico verificamos que quando a

redação de uma determinada cláusula de sentença normativa que estiver pouco clara ou não

inteligível, gerando dúvidas quanto a sua aplicação quanto a cálculo de vantagens

econômicas, reajustes salarias, ou a cerca de um determinado benefício, pode ensejar o

ajuizamento de dissídio coletivo de direito, com o fim de buscar a exata interpretação da

aludida cláusula existente e não a instituição de nova condição ou benefício.

A lei também pode ser alvo de interpretação por meio de dissídio coletivo com

intuito de esclarecer o verdadeiro sentido e alcance da mesma, de forma a regular as relações

de trabalho de uma determinada categoria com exatidão.

27 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva, Processo Coletivo de Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 56. 28 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Processo coletivo do trabalho. . Ed 5. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 54, 55

25

2.4.3 O dissídio coletivo revisional ou modificativo

É uma espécie de dissídio coletivo econômico, que tem por fim modificar normas

preexistentes e condições de trabalho que se tornaram injustas e onerosas para uma das partes,

em ração de alterações circunstanciais imprevisíveis (art. 873 da CLT).

2.4.4 Dissídio coletivo de greve

O dissídio coletivo que busca uma declaração do tribunal competente sobre a

abusividade ou não de determinado movimento paredista.

Encontra-se previsto no artigo 9º da CRFB/88 e regulamentado na lei 7.783/89.

O dissídio de greve se subdivide em dissídio de natureza declaratória e mista. Se o

dissídio se seu objeto residir apenas na simples declaração de abuso ou não do movimento

paredista, terá apenas natureza declaratória. Porém se o tribunal além de julgar legitimo

movimento paredista também julgar procedentes os pedidos constantes na pauta de

reivindicações , o dissídio terá natureza mista.

A Sessão de Dissídio Coletivo do Tribunal Superior do Trabalho, através da OJ nº10

assenta que na greve que for reputada abusiva impossibilita o consentimento de qualquer

garantia aos grevistas, como a concessão de estabilidade provisória.

O dissídio coletivo originário ocorre quando se tratar da primeira data-base da

categoria, por inexistir norma coletiva anterior.

Há outras classificações, como a do professor Amauri Mascaro Nascimento, que a

faz em razão das partes envolvidas, do objeto, da instauração e do direito material que se quer

constituir29.

Preferimos data vênia, para efeito didático, uma classificação mais simples:

a) dissídio econômico ou de interesse, destinado à criação, manutenção, modificação

ou extinção de normas e condições de trabalho, abrangendo o originário e o revisional;

b) dissídio jurídico ou de direito, também chamado de declaratório ou interpretativo,

destinado à interpretação de uma norma jurídica trabalhista. O dissídio de greve, conforme o

29 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 601.

26

caso é, ao, mesmo tempo, declaratório (da abusividade ou não do movimento) e econômico ou

de interesse, no tocante à apreciação das reivindicações dos trabalhadores.

Arion Sayão Romita30 condena essa forma de classificação, sustentando que:

“Todo dissídio, em matéria de trabalho, quer individual quer coletivo, tem naturezas econômica, direta ou indiretamente. A classificação dos dissídios coletivos em dissídios de natureza jurídica e de natureza econômica deve ser afastada, por imprecisa, pois todo dissídio coletivo tem, ao mesmo tempo, natureza jurídica e econômica. Deve ser preferida a nomenclatura que distingue os dissídios de direito dos dissídios de interesses”.

José Augusto Rodrigues Pinto31, não concorda com esta classificação e manifesta que:

“tal classificação é redundante e ‘incompleta’ pelos seus critérios. O autor explica que a redundância se demonstra porque no Direito do Trabalho tudo gira em torno de um aspecto econômico, como razão da própria matéria, e incompleto porque “não exprime a propriedade de ramificação das classes nem expressa a realidade de precedência obrigatória, ou, em outro sentindo, de acessoriedade entre elas”.

Desse modo, o autor citado acima prefere classificar os dissídios coletivos em

originários ou primário que corresponderia ao dissídio de interesse, ou econômicos visando a

criação de normas; dissídio derivado ou secundário, com o objetivo de revisar ou interpretar

uma norma em concreto.

2.5. Natureza jurídica da ação de dissídio coletivo

A natureza jurídica de uma ação é determinada em face da espécie de provimento

jurisdicional que por meio dela se busca. A ação de dissídio coletivo, em regra, não tem

natureza condenatória (com exceção dos dias de paralisação, das multas, das custas e demais

despesas processuais).

Enquanto a ação constitutiva comum rege-se pelo princípio da legalidade, somente

criando, modificando ou extinguindo determinada relação jurídica, quando verificadas as

condições previstas na lei, a ação de dissídio coletivo de interesses, embora se assemelhe

àquela, inova na ordem jurídica, criando normas e condições de trabalho não previstas em lei,

daí sua natureza de ação dispositiva, própria somente dela, uma vez que apenas a sentença

normativa trabalhista tem a possibilitar de criar novas regras jurídicas para solucionar um

determinado conflito de interesse trabalhista.

30 ROMITA, Arion Sayão. O poder normativo da justiça do trabalho: a necessária reforma. In Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. Vol. 39. 2005, p.57, 88. 31 PINTO, José Augusto Rodrigues. Direito sindical e coletivo do trabalho. 2ed, p.378

27

2.6 Condições da Ação de Dissídio coletivo

As condições da ação de dissídio coletivo, são elencadas no artigo 267, VI, do CPC,

aplicado subsidiariamente a CLT. São condições da ação:

a) Possibilidade jurídica do pedido;

b) Legitimidade ad causum;

c) Interesse processual.

Para a propositura do dissídio coletivo faz-se necessário a cumulatividade das

condições acima expostas, ou seja, a ausência de uma delas é alvo de extinção do processo

judicial sem a resolução do mérito. A seguir faremos uma abordagem das condições da ação

voltadas especificamente para a propositura do dissídio coletivo.

2.6.1 Possibilidade Jurídica do Pedido

O instituto refere-se a viabilidade jurídica do pedido formulado judicialmente, desta

forma o pedido deve ter previsão no ordenamento jurídico, que deverá tutelar o direito

material que se postula.

Sobre a possibilidade jurídica do pedido, duas teorias procuram explicar tal

matéria:32

1ª) Teoria – Afirma ser impossível o pedido toda vez que a pretensão formulada não

estiver agasalhada na lei.

2ª) Teoria – Sustenta ser impossível o pedido somente quando houver vedação

expressa na lei a respeito da pretensão resistida.

No processo coletivo a possibilidade jurídica do pedido não pode estar ligada à

existência de previsão legal da pretensão do autor, materializada num direito objetivo,

instruindo norma jurídica nova, para disciplinar as relações laborais entre as partes em

conflito33.

32 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p.119. 33 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p.70.

28

Assim sendo, a previsão antecipada do direito refere-se ao direito instrumental, ou

seja, o próprio direito de ação coletiva previsto no artigo 114,§2º da Constituição Federal de

1966, disciplinada nos artigos 856 a 857 da CLT34.

Consta no artigo 61 § 1º CRFB/88, a vedação decorrente do princípio da reserva

legal aplicado a todas as categorias de servidores públicos, celetistas ou estatutários, da

administração direta ou indireta, ficando de fora apenas os empregados de empresas públicas,

das sociedades de economia mista e de qualquer outro ente público que explore atividade

econômica, pois estes são equiparados as empresas privadas.

A vedação constitucional refere-se a impossibilidade de concessão de aumento e

outras vantagens as categorias de servidores públicos, acima descritas, através de qualquer

outro meio senão uma lei formalmente votada pelo legislativo, mediante proposta de iniciativa

exclusiva dos chefes do executivo das três esferas de governo35.

O TST firmou entendimento por meio da OJ n.5 da SDC, a respeito do assunto, nos seguintes termos:

“DISSÍDIO COLETIVO CONTRA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. Aos servidores públicos não foi assegurado o direito ao reconhecimento de acordos e convenções coletivos de trabalho, pelo que, por conseguinte, Também, não lhes é facultada a via do dissídio coletivo,á falta de previsão legal”.

Sendo assim a Constituição Federal concedeu apenas ao servidor público o direito de

sindicalização e greve, artigo 37 incisos VI e VII, porém calou-se em relação a negociação

coletiva não amparando neste sentido este segmento laboral que compõe a maior categoria

quede trabalhadores de nosso país.

De tal modo que em relação a possibilidade de negociação coletiva pelos servidores

públicos, temos uma infreqüente hipótese de impossibilidade jurídica do pedido no âmbito do

dissídio coletivo.

Por fim concluímos que a Justiça do Trabalho não exerce o poder normativo em

matéria reservada a lei. Como exceção tem os dissídios coletivos econômicos e de greve a

Justiça do Trabalho pode determinar o cumprimento de legislação salarial vigente.

34 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 82, 83. 35 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p.120.

29

2.6.2 Legitimidade “ad causum”

É uma condição que diz respeito a titularidade do direito material que se postula.

Diferencia-se da legitimação como pressuposto processual, que é “ad processum”, esta se

referindo estritamente sobre a capacidade de se postular em juízo.

A titularidade no direito coletivo, quanto a postulação do direito material, é da

categoria profissional ou econômica. Nas palavras de Raimundo Simão de Melo36:

“categoria é o conjunto abstrato de trabalhadores ou empresas, razão porque a ação de dissídio coletivo é uma ação de categoria visando melhores condições de trabalho e remuneração, como regra, ou simplesmente uma regulamentação que pode não trazer qualquer vantagem aos trabalhadores, em relação ao instrumento anterior”.

Neste sentido o TST firmou entendimento que:

“ILEGITIMIDADE PASSIVA. Partes, na ação de dissídio coletivo, são as categorias profissionais ou econômicas em conflito, mas a representação legal destas é prerrogativa das entidades sindicais. Assim, a empresa ou empregado, singularmente, não tem legitimação para ajuizar ação rescisória para desconstituir sentença normativa”.

No que tange a titularidade de sindicatos patronais e empresas para postular em

dissídio coletivo de natureza econômica o TST não tem admitido a legitimidade dos mesmos

mediante entendimento que esta ação coletiva almeja melhores remuneração, de tal sorte que

estas partes carecem de legitimidade ad causum.

2.6.3 Ajuizamento do dissídio coletivo pelo sindicato

Para o pleno exercício da titularidade pelo sindicato como lídimo representante da

categoria na propositura do dissídio coletivo é necessário autorização, que deverá ser

conferida por assembléia geral convocada por esta entidade de classe nos termos do seu

estatuto social (artigo 8º, inciso III e 114,§2 º da Constituição Federal).

Portanto a categoria é a titular do direito, é assim imprescindível a autorização para

que sua entidade representativa, o sindicato, ajuíze a ação coletiva. Tal comentário encontra

devido amparo no artigo 859 da CLT:

“A representação dos sindicatos para instauração da instância fica subordinada à aprovação de assembléia, da qual participem os associados interessados na solução do dissídio coletivo, em primeira convocação, por maioria de 2/3 (dois terços) dos mesmos, ou, em segunda convocação, por 2/3 (dois terços) dos presentes”.

36 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p.120.

30

Em consonância com a CLT temos também a OJ n.9 da SDC do TST:

“A legitimidade da entidade sindical para a instauração da instância contra determinada empresa está condicionada à prévia autorização dos trabalhadores da suscitada diretamente envolvidos no conflito”.

A convocação da assembléia deverá ocorrer nos moldes do estatuto social da

entidade sindical, devendo o edital ser publicado em jornal de boa circulação, devendo

informar que a assembléia terá por objetivo específico autorizar o sindicato a levar a cabo a

negociação coletiva, podendo firmar acordo ou convenção coletiva ou instaurar dissídio

coletivo37.

Em relação a matéria pronunciou-se o TST através da OJ. 26 da SDC: “O edital de

convocação para a AGT deve ser publicado em jornal que circule em cada um dos municípios

componentes da base territorial”.

Com o advento da EC 45/04, inserido o requisito do “comum acordo” no texto do

artigo 114, § 2º, o número de ações de dissídio coletivo foi reduzido, desta forma a SDC do

TST passou a ser mais flexível quanto as demais exigências formais para a instauração da

instância. Uma das conseqüências foi não mais a exigência do cumprimento das formalidades

presentes no artigo 859 da CLT, no que concerne a participação de somente associados.

“Como é o sindicato a entidade de classe que representa toda categoria, é necessário

apenas que se façam presentes à assembléia membros da categoria afim de que possam

conferir autorizar ao sindicato para que o mesmo interponha dissídio coletivo”38.

O TST passou a não considerar inválidas as assembléias gerais para devida

autorização ao sindicato, com o quórum ínfimo, o único quórum que exige esta Corte como

requisito de validade da assembléia é o de 2/3 dos presentes em 2ª Convocação, para

instalação da assembléia.

A necessidade da assembléia era tida como requisito indispensável tanto para a

propositura do dissídio econômico quanto para o dissídio jurídico, entendimento revogado

pela OJ. n. 6 da SDC do TST:

“O dissídio coletivo de natureza jurídica não prescinde da autorização da categoria, reunida em assembléia para legitimar o sindicato próprio, nem da etapa negocial prévia para buscar solução de consenso”.

37 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 86. 38 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 89.

31

Com base no precedente do TST entende-se que a convocação de assembléia geral da

categoria para a propositura de dissídio coletivo jurídico não é necessária em face ao seu

objetivo que é busca apenas provocar o Tribunal quanto a interpretação de uma norma de

aplicação coletiva preexistente.

2.6.4 Intervenção do Ministério Público

O Ministério Público do Trabalho tem legitimidade, para interpor o dissídio coletivo

nos casos de paralisação do trabalho, pela greve, sem ajuizamento do correspondente dissídio

coletivo, neste contesto poderá instaurar a instância judicial, quando a defesa da ordem

jurídica ou o interesse público assim o exigir.

A intervenção do Ministério Público é autorizada pela Constituição Federal no artigo

114 § 3º, que foi inserido pela Emenda constitucional 45/2004.39

“§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito”.

A nova norma disposta no parágrafo em questão, além de elevar ao patamar

constitucional legitimidade do MPT para ajuizamento dos dissídios coletivos de greve,

expressamente a restringe às situações nas quais a greve se verifique em atividade essencial à

sociedade, com possibilidade de lesão ao interesse público.

Corroborando com a Constituição Federal a lei complementar N. 75/93, em seu

artigo 83 e inciso IX, estabelece que, ao Ministério Público do Trabalho, compete promover

ou participar da instrução e conciliação em dissídios decorrentes da paralisação de serviços de

qualquer natureza

A finalidade das normas, indubitavelmente, foi a de limitar a legitimidade do MPT às

ações coletivas de greve, quando estiver em jogo alguma das atividades acima descritas, se

coadunando com as atribuições impostas a tal entidade de proteção à sociedade e ao interesse

público.

Nesse particular, a doutrina, de modo unânime, defendeu o último posicionamento,

em virtude de a Carta Magna ter apenas consagrado a faculdade de ajuizamento de tal espécie

39 BRASIL. Constituição federal. Brasília: Senado, 1988, artigo 114.

32

de dissídio coletivo ao MPT, do que, indubitavelmente, não decorre a impossibilidade de as

partes a ajuizarem.

2.6.5 Interesse processual

É definido como o interesse de agir em juízo com intuito de postular direito violado.

O interesse de agir na ação coletiva encontra-se descrito no Artigo 873 da CLT:

“Art. 873 - Decorrido mais de 1 (um) ano de sua vigência, caberá revisão das decisões que fixarem condições de trabalho, quando se tiverem modificado as circunstâncias que as ditaram, de modo que tais condições se hajam tornado injustas ou inaplicáveis”.

O interesse processual é gerado por alterações nas condições de trabalho, criando-se

a necessidade da fixação de novas regras jurídicas para regular uma relação coletiva de

trabalho conflitante.

Martins Filho40 afiança que:

“O referido preceito consolidado fala em modificação das circunstâncias fáticas que tornem injustas as regras anteriores fixadas. A lesão seria, então, á justiça e não ao direito positivo, razão pela qual o interesse processual, numa ótica focada no prisma processual civil, existiria no processo coletivo quando a lesão ao direito natural a um salário digno e condições de trabalho condizentes com a dignidade do ser humano, na sua dimensão de trabalhador, impusesse a adequação do direito positivo a esse direito natural, mediante a criação de uma norma positiva para categoria”.

Assim, o interesse processual como condição da ação de dissídio coletivo está

consubstanciado41:

a) na necessidade de alteração das condições de trabalho;

b) no prévio exaurimento da negociação coletiva ou impossibilidade de recurso das partes à arbitragem.

2.7 Pressupostos processuais

Os pressupostos processuais constituem uma das causas de extinção do processo sem

resolução do mérito, conforme previsão do artigo 267, inciso IV do Código de Processo Civil.

Os pressupostos processuais podem ser divididos em subjetivos e objetivos

40 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 82. 41 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p.121, 122.

33

a) Pressupostos Subjetivos: nos pressupostos processuais subjetivos dizem respeito à

pessoa do juiz (jurisdição, competência, imparcialidade) e também das partes (capacidade

para esta em juízo).

b) Pressupostos Objetivos: referem-se à inexistência de fatos impeditivos (coisa

julgada e litispendência) e também a subordinação do procedimento as disposições legais

(petição apta, citação regular, procuração hábil).

2.7.1 Pressupostos Subjetivos

2.7.1.1 Competência do Órgão Julgador

1º) Em razão da matéria: quanto a matéria, somente poderá veicular questões

trabalhistas ,isto é, que suponham conflito entre empregador e trabalhador. Estão fora da

competência dos Tribunais do Trabalho a matéria administrativa e previdenciária.

2º) Em razão da pessoa: a competência fica restrita quando o suscitante for sindicato

de servidor estatutário e o servidor for ente público, dado pelo princípio da reserva lega para

aumento de vencimentos e concessão de vantagens, há impossibilidade jurídica do pedido em

relação a entes públicos42.

3º) Territorial e funcional: a competência funcional para processar e julgar os

dissídios coletivos é dos Tribunais Regionais ou, do Tribunal Superior do Trabalho quando a

área de abrangência do conflito ultrapassar a base territorial de competência de mais um TRT.

No que diz respeito a Justiça do Trabalho a extensão Territorial do conflito coletivo

é regulamentada no artigo 677 da CLT:

“A competência dos Tribunais Regionais determina-se pela forma indicada no artigo 651 e seus parágrafos e, nos casos de dissídio coletivo, no local onde este ocorrer”.

Neste sentido, compete aos Tribunais regionais resolver os dissídios cujos efeitos

sejam restritos sob sua jurisdição, exceção se faz em São Paulo que está dividido em duas

regiões O TR da 2ª Região (São Paulo) e o TRT da 5ª Região (Campinas).

No que concerne a competência territorial entre os dois Tribunais Regionais, para o

julgamento dos dissídios coletivos, essa é regulada pelo artigo 12da Lei 7520/86.

42 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 94.

34

“Compete exclusivamente ao Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região processar, conciliar e julgar os dissídios coletivos nos quais a decisão a ser proferida deva produzir efeitos em área territorial alcançada, em parte, pela jurisdição desse mesmo tribunal e, em parte, pela jurisdição do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região”.

Contudo, esta competência poderá ser prorrogada quando não argüida a

incompetência territorial do órgão regional pelo interessado, conforme adota a jurisprudência.

Quanto ao Tribunal Superior do Trabalho, a competência é da Sessão de Dissídios

Coletivos, que substitui as funções que eram anteriormente do Tribunal Pleno,conforme

dispõe o artigo 702, Inciso I, b) da CLT e artigo 2º da Lei7.701/86.

CLT:

“Art. 702 - Ao Tribunal Pleno compete:

I - em única instância: (Redação dada pela Lei nº 2.244, de 23.6.1954)

a) decidir sobre matéria constitucional, quando arguido, para invalidar lei ou ato do poder público; (Redação dada pela Lei nº 2.244, de 23.6.1954)”.

Lei 7701/86:

“Art. 2º - Compete à seção especializada em dissídios coletivos, ou seção normativa:

I - originariamente:

a) conciliar e julgar os dissídios coletivos que excedam a jurisdição dos Tribunais Regionais do Trabalho e estender ou rever suas próprias sentenças normativas, nos casos previstos em lei;

b) homologar as conciliações celebradas nos dissídios coletivos de que trata a alínea anterior;

c) julgar as ações rescisórias propostas contra suas sentenças normativas;

d) julgar os mandados de segurança contra os atos praticados pelo Presidente do Tribunal ou por qualquer dos Ministros integrantes da seção especializada em processo de dissídio coletivo; e

e) julgar os conflitos de competência entre Tribunais Regionais do Trabalho em processos de dissídio coletivo”.

O órgão de primeira instância da Justiça do Trabalho poderá atuar em sede de

dissídio coletivo excepcionalmente para instruir, mediante delegação do Presidente do TRT

atinente, dissídio municipal, caso o município esteja afastado, conforme possibilita o artigo

866 da CLT.

“Art. 866 - Quando o dissídio ocorrer fora da sede do Tribunal, poderá o presidente, se julgar conveniente, delegar à autoridade local as atribuições de que tratam os arts. 860 e 862. Nesse caso, não havendo conciliação, a autoridade delegada encaminhará o processo ao Tribunal, fazendo exposição circunstanciada dos fatos e indicando a solução que lhe parecer conveniente”.

35

2.7.1.2 Legitimidade processual das partes

A legitimidade como pressuposto processual é a capacidade de estar em juízo, que

pertence ordinariamente ao titular ao direito lesado. No entanto, no processo coletivo, o

sindicato é quem representa a categoria, excluindo a possibilidade dos empregados ajuizarem

uma ação coletiva em nome próprio. Desta forma o sindicato é o substituto processual,

pleiteando em nome próprio direito alheio43.

No dissídio Coletivo, em Juízo não é a categoria diretamente (o conjunto de

empregados), mas o sindicato que a representa (artigo 8, inciso III e 114 § 2º da CRFB/88;

artigo 857 CLT), no entretanto a Emenda Constitucional 45/2004 estabelece que as partes, ou

seja, sindicatos ou empresas, poderão de comum acordo, ajuizar o dissídio coletivo de

natureza econômica:

“Art. 857 - A representação para instaurar a instância em dissídio coletivo constitui prerrogativa das associações sindicais, excluídas as hipóteses aludidas no art. 856, quando ocorrer suspensão do trabalho”.

Como exceção ao artigo 857 da CLT apresenta-se a legitimidade do Ministério

Público do Trabalho para instaurar o dissídio coletivo de greve.

Outra possibilidade é o ajuizamento pelas federações de classe do dissídio coletivo,

quando não houver sindicato da categoria, conforme parágrafo único do artigo 857 da CLT:

§ único - Quando não houver sindicato representativo da categoria econômica ou profissional, poderá a representação ser instaurada pelas federações correspondentes e, na falta destas, pelas confederações respectivas, no âmbito de sua representação.

Nos casos de greve e que não haja sindicato organizado das categorias, poderá ser

eleita uma comissão pelos trabalhadores para representá-los no dissídio coletivo ante a Justiça

do trabalho, conforme dispõem os artigos 4º, §2º e 5º da lei 7783/89.“

Art. 4º .....

§ 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia geral dos trabalhadores interessados deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão de negociação.

Art. 5º A entidade sindical ou comissão especialmente eleita representará os interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho.”

43 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 102.

36

Porém os TRTs e o TST não mais podem receber o ajuizamento do dissídio coletivo

de greve, tendo em vista o artigo,8, inciso Ida CRFB/88 vedou a interferência do Estado na

organização sindical, entende-se assim por revogados os artigos 856 e 874 CLT.

2.7.2 Pressupostos Objetivos

2.7.2.1 Inexistência de Litispendência

A litispendência é um fato impeditivo da ação que se aplica ao processo coletivo,

com previsão no artigo 301,§ 1º e 3º do CPC, de tal forma que é vedado ao sindicato ingressar

com novo dissídio enquanto pender por julgamento anterior, exceto se referir a período

posterior, não se caracterizando a litispendência44.

2.7.2.2 Negociação coletiva prévia

A negociação coletiva é apresentada pelos doutrinadores como a forma preferencial

de solução dos conflitos coletivos, considerada a mais adequada e eficaz forma de solução

destes45.

Contudo optamos no presente trabalho monográfico em abordar o pressuposto

processual “negociação coletiva prévia” no capitulo 1, as fls. 16 do, que trata dos conflitos

coletivos, sendo assim julgamos não se fazer mais necessário a análise legal e doutrinária do

tema.

2.7.2.3 Inexistência de norma coletiva em vigor

A coisa julgada no processo coletivo do trabalho possui caráter temporário, valendo

pelo período de vigência registrado na norma coletiva (convenção ou acordo coletivo), tal

condição impossibilita que seja proferida nova decisão judicial, para as mesmas partes durante

este período.

Preceitua o artigo 873 da CLT que o prazo mínimo de vigência da norma coletiva é

de um ano. Desta forma caso exista norma ou acordo coletivo e sentença normativa em vigor,

44 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 124. 45 Ibidem. p. 124.

37

nenhum dos sindicatos quer da categoria de trabalhadores, quer de patronal não poderá ajuizar

o dissídio coletivo, caso o faça o Tribunal competente extinguirá o processo sem o julgamento

do mérito.

Entretanto o artigo 14, parágrafo único, inciso II da lei 7.783/89 prevê exceção:

“Art. 14 [....] Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença normativa não constitui abuso do exercício do direito de greve a paralisação que: II - seja motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho”.

Esta hipótese mostra-se muito restrita, pois nem toda a circunstância que altera e a

deteriora as condições de trabalho é nova e imprevista.

2.7.2.4 Prazo para ajuizamento do Dissídio Coletivo

O dissídio coletivo não está sujeito a prazo prescricional, pois não se supõe lesão a

qualquer direito preexistente, todavia deverá ser instaurado no prazo de 60 dias anteriores ao

termo do instrumento normativo que se quer renovar, para que o suficiente não perca a data

base, conforme o artigo 616 § 3º da CLT.

2.7.2.5 Petição inicial

A petição inicial no processo de dissídio coletivo é chamada de “representação”,

podendo ser ajuizada pelos sindicatos e excepcionalmente pela Ministério Público do

Trabalho em caso de greve através de petição escrita,dirigida ao Presidente do Tribunal

conforme previsão do artigo 856 da CLT.

Art. 856 - A instância será instaurada mediante representação escrita ao Presidente do Tribunal. Poderá ser também instaurada por iniciativa do presidente, ou, ainda, a requerimento da Procuradoria da Justiça do Trabalho, sempre que ocorrer suspensão do trabalho.

O artigo 858 da CLT estabelece alguns requisitos indispensáveis para a propositura

da representação.

1º Requisito – a designação e qualificação dos reclamantes e dos reclamados e a

natureza do estabelecimento ou serviço.

38

Para designar às partes litigantes a terminologia jurídica estabeleceu a nomenclatura

suscitante e suscitada, é também obrigatório constar da representação a categoria participantes

da lide.

2º Requisito – motivos do dissídio e as bases da conciliação.

Os motivos do dissídio são as razões fáticas (econômicas e sociais) da alteração da

norma ou convenção vigente para a categoria por meio da norma ou convenção vigente para

a categoria, por meio de nova norma coletiva. Já as bases de conciliação, refere-se a proposta

do sindicato obreiro das cláusulas que deseja instituir,ou seja, o rol reivindicatório da

categoria profissional a ser apreciado pelo Tribunal, que irá deferir ou não a sentença

normativa 46.

As propostas de natureza econômicas pleiteadas pelo sindicato devem ser

acompanhadas de estudos ou levantamentos econômicos que justifiquem a interposição do

dissídio coletivo.

Todas as postulações do dissídio coletivo devem estar pautadas de fundamentação

específica como dispõe o Precedente Normativo n. 37 do TST:

“Nos processos de dissídio coletivo só serão julgadas as cláusulas fundamentadas na representação, em caso de ação originária, ou no recurso”.

Ainda se pode mencionar como requisito os dos documentos que devem acompanhar

a representação, no intuito de fazer prova do preenchimento das condições da ação e dos

pressupostos judiciais, quais sejam47:

“edital de convocação da assembléia da categoria, ata da assembléia geral, lista de presença da assembléia geral, certidão da DRT, de fracasso na negociação coletiva ou documento similar que comprove a recusa expressa da categoria econômica em negociar, norma coletiva anterior nos casos de dissídio revisional, e procuração passada pelo presidente do suscitante ao advogado subscritor de representação”48.

46 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Processo coletivo do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 124. 47 Ibidem. p.132 .

39

CAPITULO III

3. ALTERAÇÕES SOBREVINDAS PELA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004

3.1 A Limitação do Poder da Justiça do trabalho

A CRFB/88 significou um grande avanço em valorizar a negociação coletiva como

forma de solução dos conflitos oriundos das relações de trabalho. Determinando ainda a

liberdade sindical em seu artigo 8º: “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses

coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”49, e

que “é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho”.50

Almejou o dispositivo legal mediante a participação dos sindicatos, buscar uma

solução para os conflitos de trabalho através da negociação entre as classes, que ao final

celebram uma convenção ou acordo coletivo, que estabelecerá regras aplicáveis às relações

individuais de trabalho da respectiva categoria no âmbito de sua representação, obedecida a

regra da unicidade sindical.

Com a promulgação da Emenda Constitucional 45/2004 a posição privilegiada da

negociação coletiva, ficou inerte, como principal maneira de formação dos conflitos coletivos

de trabalho. Nesse sentido, a Justiça laboral somente poderá ser ativada após o exaurimento

da via negocial. A decisão proferida para formar o litígio permanecerá respeitando as

disposições legais mínimas e as anteriormente convencionadas.

São conseqüências do resultado positivo o acordo coletivo de trabalho e a convenção coletiva de trabalho da autocomposição e ambos não sofreram mudança com a Emenda Constitucional 45/2004. Ao contrário, caso o entendimento seja o que haja exigência do comum acordo das partes para o ajuizamento do dissídio coletivo, poder-se-ia destacar que a Emenda Constitucional 45/2004 incentivou a negociação coletiva, visando à autocomposição51.

No que se refere ao dissídio coletivo com a EC 45/04 trouxe mudança significativa

em relação a possibilidade de ajuizamento desta ação coletiva; A CRFB/88 previa que o

dissídio coletivo poderia ser ajuizado por um dos litigantes para pleitear a solução conflitante 49BRASIL. Constituição federal. Brasília: Senado, 1988, artigo 8º, III. 50 Ibidem, artigo 8º, Iv. 51MANNRICH, Nelson (Coordenador). O poder normativo e a exigência do comum acordo na justiça do trabalho: uma análise pautada no principio da proporcionalidade. Revista de direito do trabalho, São Paulo, Julho-Setembro, ano 33, 2007, p. 123.

40

coletiva de trabalho mediante a instituição de regras trabalhistas. Com a alteração do texto

Constitucional, o a§ 2º do artigo 114 altero a forma de ajuizamento do dissídio coletivo o qual

será instaurado por ambas as partes os contendores de comum acordo.

A nova exigência processual tem gerado grandes controvérsias entre os estudiosos e

os operadores do Direito do Trabalho, tendo havido mesmo quem sustentasse, num primeiro

momento, a inconstitucionalidade do requisito, ao argumento de que a alteração traz um

pressuposto que representa ofensa ao princípio da inafastabilidade da jurisdição52.

Entretanto o poder normativo da Justiça do Trabalho, por não ser atividade

substancialmente jurisdicional (já que preordenada à criação de normas jurídicas), não está

abrangido pelo âmbito normativo do art. 5°, XXXV, da Constituição da República53.

Sendo assim, sua restrição pode ser levada a efeito por meio de reforma

constitucional, sem que seja violada a cláusula pétrea que estabelece o princípio da

inafastabilidade do Poder Judiciário. Sem dúvida a Emenda Constitucional n. 45 /2004 mudou

e muito a competência da Justiça do Trabalho, sobretudo acerca do poder normativo54.

A respeito dos efeitos da EC 45/04 no poder normativo, convém enaltecer que a

grande inovação do § 2º do artigo 114, o ‘comum acordo’ ao ajuizamento do dissídio coletivo

e que poder se tratar de condição da ação, o dissídio somente poderá ser instaurado se as

partes envolvidas concordarem.

Certo é que limitou a EC 45/04, limitou em muito o acesso a via judicial como forma

de solução conflitos coletivos quando definiu que,as partes somente podem recorrer ao “juízo

por vontade mútua”.

Ressalta-se ainda que a EC 45/04 manteve no texto constitucional originário o § 1º

do artigo 114, que estabelece a possibilidade das partes elegerem árbitros quando frustrada a

negociação coletiva, de comum acordo, a fim de auxiliar nas negociações e decidir o conflito,

podendo, quanto à arbitragem privada. É também este dispositivo um limitador do poder

normativo da Justiça do trabalho.

52 PERRUD, José Rogério. A necessidade de comum acordo para o ajuizamento de dissídio coletivo. Jus Navegandi, Teresina, ano 12, n. 1867, 11 ago. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11589>. Acesso em: 13 jun 2013. 53Ibidem. Acesso em: 13 jun 2013. 54 COSTA, Armando Casimiro. Publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, Revista LTr, legislação do trabalho. Ano 72, n. 5, maio, 2008, São Paulo, p. 4.

41

Outra alteração trazida pela Emenda Constitucional 45/2004 se fez no § 3º do Artigo 114.

§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.

Observa-se do exposto que as ações sobre o exercício do direito de greve, de dissídio

coletivo ou outras medidas judiciais, serão de competência da Justiça do Trabalho, não mais

apenas nos tribunais, como antes, mas agora, também, na primeira instância; que o poder

normativo somente poderá ser exercido quando instaurado o dissídio coletivo de natureza

econômica, de comum acordo, pelas partes envolvidas no conflito e que nos dissídios de

greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão ao interesse público, caberá ao

Ministério Público do Trabalho ajuizar o dissídio coletivo de trabalho55.

As discussões a cerca da limitação do Poder Normativo da Justiça do Trabalho

ensejam diversas discussões doutrinarias se formando sobre o tema algumas correntes:

1ª Corrente – Afirma que com a CRFB/88 de 1988 e EC 45/04 proveram a

declaração da erradicação do poder normativo da Justiça do trabalho.

Sustentam os defensores desta corrente que a Emenda Constitucional 45/2004 abou

por substituir as ações de ordem coletivas, dentre elas o dissídio coletivo pela arbitragem

pública. Defendem ainda que as mudanças trazidas ao Constituição Federal vedam a criação

de novas condições de trabalho e a concessão de reajustamento do salário.56

Para esses seguidores, abordando a respeito da redução do poder normativo pela

Emenda Constitucional n. 45/2004, notou-se que o referido poder, atribuído à Justiça do

Trabalho, restou de forma quantitativa reduzida e qualitativamente alterada, à proporção que:

a) Somente de comum acordo dissídio coletivo poderá ser ajuizado, o que faz das

cortes trabalhistas reais cortes de arbitragem, porém, uma vez eleito o árbitro, o procedimento

para a composição do litígio é o judicial e legalmente já definido, devendo sua decisão ser

respeitada pelas partes; e

b) Os únicos dissídios coletivos genuínos serão os propostos pelo Ministério

Público, nos casos de greve em serviços essenciais, comprometedores do interesse público57.

55MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. 2. Ed São Paulo: Ltr, 2011, p.121, 122. 56 PAIXÃO, Marco Antônio Coutinho (Organizador). Repositório autorizado de jurisprudência TST n. 08/95. Revista justiça do trabalho, São Paulo, outubro, ano 21, 2004, p. 11. 57 Ibidem. p. 11.

42

2ª Corrente – Para estes doutrinadores a mudança do texto constitucional parece

viável, à medida que se oferecendo contexto de valorização da formação dos conflitos

coletivos, de preferência diretamente pelas partes envolvidas, são as que melhor conhecem as

condições trabalhistas e a situação pela qual passa o setor produtivo em epígrafe.

A posição dos Tribunais Trabalhistas revela que há uma resistência a que tenha

ocorrido um esmaecimento do poder normativo desse ramo do Poder Judiciário, havendo

ainda um forte sentimento de preservação da prerrogativa de estabelecer condições de

trabalho por sentença normativa praticamente nos mesmos moldes em que ocorria no período

anterior à vigência da EC 45/0458.

Em contrapartida, os impasses na solução desses conflitos, levando à manutenção de

movimentos paredistas que comprometam a prestação de serviços imprescindíveis, têm a

válvula de escape da intervenção do Ministério Público, em defesa da sociedade prejudicada,

ajuizando o dissídio coletivo típico, tanto de natureza jurídica como de natureza econômica.59

3.2 A Falta de previsão Constitucional expressa para os Dissídios de Natureza Jurídica

Na atual redação do art. 114, §2º, da Constituição Federal, foi acrescentada a

expressão de natureza econômica, ao lado do termo dissídio coletivo, calando-se a Emenda

Constitucional 45/2004 quanto os dissídios coletivos de natureza jurídica.

A referida alteração fez com que muitos doutrinadores se levantassem para dizer que

estaria extinta a possibilidade de ajuizamento de dissídios de natureza jurídica.

Entretanto, não é esse o pensamento de alguns de outros, como Lopes: “Os dissídios

de índole jurídica têm por escopo a interpretação ou aplicação de normas preexistentes, as

quais se incluem dentre as chamadas típicas atividades jurisdicionais”60.

A rigor, ao atuarem na apreciação de um dissídio de natureza jurídica, as Cortes

Trabalhistas exercem atividade própria do Poder Judiciário, tal como ocorre, ainda que de

forma genérica, nos julgamentos das reclamações trabalhistas, ações civis públicas, mandados

de segurança, ações de cumprimento, e, bem assim, nas variadas ações coletivas que 58 PAIXÃO, Marco Antônio Coutinho (Organizador). Repositório autorizado de jurisprudência TST n. 08/95. Revista justiça do trabalho, São Paulo, outubro, ano 21, 2004, p. 11. 59 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual esquemático de direito e processo do trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 203. 60LOPES, Otavio Brito. A emenda constitucional N. 45 e o ministério público do trabalho. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes e FAVA, Marcos Neves. Justiça do Trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005. p. 376.377

43

Alterações advindas da Emenda N. 45/04 buscam a interpretação de norma jurídica atinente a

interesse meta individual, a exemplo dos mandados de segurança coletivos, ações civis

públicas, ações diretas de inconstitucionalidade, dentre outras.

Por conseguinte, não há necessidade de previsão expressa do dissídio de índole

jurídica no §2º, do art. 114, da C.F, tendo em vista que a sua possibilidade já se encontra

tacitamente inserida na competência genérica da Justiça do Trabalho, contida no mesmo art.

114, inciso I.

44

CAPITULO IV

4. O COMUM ACORDO NAS AÇÕES DISSÍDIO COLETIVO

4.1 A Exigência do comum acordo

Com a Emenda Constitucional n. 45/2004, o artigo 114 §2º, da Constituição federal

sofreu importante alteração quanto aos requisitos para o ajuizamento do dissídio coletivo:

Constituição Federal de 1988 Emenda Constitucional n.45/2004 Artigo 114..........

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiçado Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições convencionais e legais mínimas de proteção ao trabalho.

Artigo 114........

§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de “comum acordo”, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente.

Sem dúvida, a alteração sofrida no texto do artigo é a um dos pontos de mais

polêmicas e controvérsias refere-se a inserção do termo “comum acordo” como exigência

para o ajuizamento do dissídio coletivo.

No presente capitulo procuraremos abordar as interpretações doutrinarias sobre a

obrigatoriedade desta imposição legal, como condição “sine qua non”, e sua real

aplicabilidade dentro do processo de dissídio coletivo.

Divide-se a doutrina a cerca da obrigatoriedade da exigência do “comum acordo”

cujo os posicionamentos serão abordados a seguir:

1ª) Corrente – segmento minoritário denfende a idéia a idéia que a exigência do

comum acordo seria inconstitucional pois uma ofenderia o princípio constitucional da

inafastabilidade de jurisdição, corolário ao princípio do acesso à justiça, conforme presente

no artigo 5º, Inciso XXXV da CRFB/88.61

Para essa minoria as partes ficariam condicionadas a negociarem mesmo em

desvantagem por necessitarem do acordo para que seu conflito fosse analisado, sendo assim o

requisito tornaria esse artigo inconstitucional.

61 MANRICH, Nelson (coordenador). O repositório de jurisprudência autorizado pelo TST. Revista de Direito do Trabalho. São Paulo, julho-setembro, ano 33, 2007, p. 124.125

45

Como defensor desta corrente, José Alberto Couto Maciel62expressa sua opinião

sobre o acréscimo da expressão “comum acordo” ao texto constitucional:

“Há um equívoco flagrante, pois admite-se o ajuizamento da dissídio coletivo mediante comum acordo entre as partes. É claro que somente há dissídio quando inexiste acordo, pois o conflito decorre da inexistência da negociação. Tal entendimento da redação do novo artigo somente poderás ser entendido como um paradoxo, ou seja, não havendo acordo as partes concordam em brigar em juízo.

Comenta Luciana de Miguel Cardoso63:

“Essa alteração deve ser analisada sistematicamente com todo o texto constitucional. Percebe-se, assim, que se estaria afastando o conflito de uma tutela jurisdicional, por haver uma exigência na maior parte das vezes impossível de se satisfazer. Não se pode exigir do autor um requisito impraticável, sob pena de se estar cerceando seu direito de agir”.

Adriano Mesquita Dantas64argüi que:

“a imposição de bilateralidade no ajuizamento do dissídio coletivo viola frontalmente o art. 5º, inciso XXXV da Constituição da República” que prevê o princípio da indeclinabilidade ou inevitabilidade da jurisdição, segundo o qual a "lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça à direito". Entende-se que o termo “lei” foi aplicado em sentido amplo, englobando todas as espécies normativas previstas no artigo 59 da CF/88, quais sejam: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. Assim, ao contrário da tese defendida por determinada corrente doutrinária e jurisprudencial, o comando também é aplicável ao constituinte derivado”.

2ª) Corrente –Entende que a previsão constitucional do “comum acordo” não fere os

princípio constitucional da princípio constitucional da inafastabilidade de jurisdição e que sua

exigência se faz no sentido de privilegiar negociações coletivas, sendo que este deve ser

expresso e prévio.

Para a descrita corrente, a vontade do legislador foi no sentido de incluir a exigência

do comum acordo ao aforamento dos dissídios de natureza econômica, e essa atitude tem um

motivo de ser: a motivação às negociações coletivas65.

Na visão desta corrente doutrinaria o comum acordo é pressuposto processual de

constituição e desenvolvimento processual, sem o qual é impossível definir a relação jurídica

referente ao dissídio coletivo. Isso porque, os pressupostos processuais diferenciam-se das 62BRITO, José Tenório de (Coordenador). Revista consulex, Brasília,15 de dezembro de 2004, ano 8, 2004, p.27 63CARDOSO, Luciana de Miguel. Da exigência de comum acordo para a instauração dos dissídios coletivos frente ao princípio da inafastabilidade da jurisdição . Jus navegandi, Teresina, ano 11, n. 1348, 11 mar. 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9582>. Acesso em: 13 jun 2013. 64DANTAS, Adriano Mesquita. O dissídio coletivo após a Emenda Constitucional nº 45: a inconstitucionalidade da expressão "de comum acordo". Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1253, 6 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9260>. Acesso em: 15 jun 2013. 65 MANRICH, Nelson (coordenador). O repositório de jurisprudência autorizado pelo TST. Revis de Direito do Trabalho. São Paulo, julho-setembro, ano 33, 2007, p. 124.125

46

condições da ação à medida que tratam das exigências legais sem cujo atendimento o

processo, como relação jurídica, não se estabelece ou não evolui validamente, constituindo-se

em condições jurídicas para validade e eficácia da relação processual. Já as condições da ação

são exigências a notar, após se estabelecer a relação processual, com o propósito de o juiz

solucionar a lide.

Contudo, ao se abordar o pressuposto de formação da relação do processo, o dissídio

somente começará caso as partes, de comum acordo, desejarem. Inexistindo acordo, não

haverá ação66.

Segundo o esse segmento da doutrina o pressuposto comum acordo antecederá o

início do dissídio coletivo, devendo na peça de representação restar evidenciada de forma

clara a vontade das partes, suscitante e suscitado, no sentido de buscar de forma consensual a

prestação jurisdicional como forma de resolução do conflito coletivo de trabalho.

A jurisprudência a seguir reproduzida representa essa vertente interpretativa67:

EMENTA: CONFLITO COLETIVO DE TRABALHO – PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO – EMENDA CONSTITUCIONAL No. 45 - NOVA REDAÇÃO DO ART. 144 - INTELIGÊNCIA DA EXPRESSÃO " DE COMUM ACORDO" PARA O AJUIZAMENTO DO DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA. A Carta Magna, em seu art. 114, parágrafos 1o., 2o., e 3o., estabeleceu mudanças substanciais no poder normativo da Justiça do Trabalho, ao prescrever, de maneira clara e enxuta, que, frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros. [...]. A bilateralidade está no âmago das diversas possibilidades acenadas às partes. A celebração do acordo coletivo de trabalho ou da convenção coletiva de trabalho, a elaboração do laudo arbitral e a prolação da sentença normativa observarão sempre, pelo menos no seu sopro inicial e inercial, o mútuo consenso. No que tange ao dissídio coletivo de trabalho de índole econômica, a expressão "de comum acordo", utilizada pelo constituinte, não pode dar azo à que o intérprete faça tábua rasa de autêntico pressuposto da jurisdição coletiva. "Comum acordo", por mais que se repugne a fórmula adotada pela Constituição, significa manifestação ou declaração de vontade das partes envolvidas no conflito coletivo de trabalho. De conseguinte, trata-se de ato volitivo, bilateral ou multilateral, em determinada direção, para que produza certos resultados jurídicos, ordenados pela lei: arbitragem pública, via julgamento pelos Tribunais do Trabalho. Teleologicamente, o wishful thinking do legislador foi no sentido de rivilegiar a autonomia privada coletiva, outorgando cada vez mais importância e responsabilidade aos seres coletivos, principais atores na busca de um ponto de equilíbrio entre o capital e o trabalho, na perspectiva de uma sociedade pós-moderna, baseada na informação e nitidamente globalizada. [...]. Nesse contexto, as partes não têm do que reclamar, alcançados que ficam dois escopos imediatos: a) solução do conflito, por quem escolheram; b) impossibilidade de interposição de recurso. Por outro lado, existe uma faceta coerente e lógica, da qual fica difícil se afastar: não é crível que o Constituinte tenha alterado a redação do artigo em apreço,

66 MANRICH, Nelson (coordenador). O repositório de jurisprudência autorizado pelo TST. Revis de Direito do Trabalho. São Paulo, julho-setembro, ano 33, 2007, p. 124.125 67 BRASIL. Tribunal regional do trabalho 3ª Região – Sessão Especializada de Dissídios Coletivos. Processo DC n. 01426-2005-000-03-2006. Relator Juiz Luiz Otávio Linhares Renault. Julgado em 1º.06.2006 e publicado no DJMG em 15.06.2006, p. 5.

47

para, a final, nada mudar. Se tudo continuar como era anteriormente, a conclusão inexorável a que se chega é a de que a letra da lei maior não possui eficácia alguma. [...]. De resto, não há que se falar em violação ao art. 5o., inciso XXXV, da Constituição Federal, eis que inexiste, em sede de conflito coletivo, lesão ou ameaça de direito. O conflito coletivo de trabalho possui característica reivindicatória, no plano de lege ferenda. Normalmente, ele é deflagrado por determinada categoria profissional com o fito de obter melhores condições de trabalho. Portanto, na sua pureza, visa à normatização futura, isto é, à norma a ser construída. [...]. Quer me parecer, enfim, que as antinomias devem ser eliminadas, para a preservação do sistema, para valorização da unidade, que se desdobra em várias vertentes, pois a sociedade é sempre plural. Em se tratando, portanto, de competência anômala do Poder Judiciário, uma vez que não é sua função típica ditar normas jurídicas, não resta ulcerado o texto constitucional, à medida que institui pressuposto para o exercício do poder normativo.68

3ª) Corrente – Esta vertente defende que a alteração no § 2º do artigo 114 da

CRFB/88, trazida pela EC 45/04, ou seja a inserção do termo “comum acordo” no texto do

artigo em que nada mudou, no que se refere aos requisitos para o ajuizamento da ação de

dissídio, podendo este ser tácito. Esse posicionamento assevera que o mútuo consenso pode

ser aferido em momento posterior ao ajuizamento, ou seja, na resposta à pretensão deduzida

pelo ente suscitante.

Corroborando com a corrente doutrinaria aqui estudada, vimos como salutar abordar

o posicionamento de Marcio Ribeiro Valle, o qual nos parece ser muito adequado aos anseios

desta corrente69:

“O que está escrito, na mais real verdade, é que, recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é que será possível e viável o exercício da faculdade (não obrigação, não imposição) do comum acordo no ajuizamento. Mas em não sendo assim, quando as partes tentarem, por exemplo, entre si ou intermediadas pelo Ministério do Trabalho, a conciliação e não chegarem a bom termo, aí, nitidamente, não teremos hipótese de recusa à tentativa conciliatória, mas sim malogro da conciliação tentada, o que é diferente. Logo, respeitosamente, quer nos parecer que nessa hipótese em que se busca a conciliação, mas não se a consegue, certificado isso, é possível o ajuizamento, sem o comum acordo, do dissídio coletivo de natureza econômica, pena, aliás, de se eliminar o direito constitucional de ação previsto, como norma pétrea, no inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal”.

Raimundo Simão de Melo sustenta que70:

Interessante questão sobre o ajuizamento do Dissídio Coletivo de comum acordo diz respeito à forma de cumprimento dessa exigência. Quer dizer, dissídio de comum acordo significa petição inicial assinada conjuntamente pelas partes? Ou tal pode ocorrer na resposta do suscitado, de modo expresso ou tácito? A primeira alternativa é, em certos casos, de difícil e até mesmo impossível efetivação, pois no calor das

68 BRASIL. Tribunal regional do trabalho 3ª Região – Sessão Especializada de Dissídios Coletivos. Processo DC n. 01426-2005-000-03-2006. Relator Juiz Luiz Otávio Linhares Renault. Julgado em 1º.06.2006 e publicado no DJMG em 15.06.2006, p. 5. 69 VALLE, Marcio Ribeiro. Revista do TST, Brasília, vol. 71, nº 1, janeiro - abril 2005, p. 65. 70 MELO, Raimundo Simão de. Ajuizamento de dissídio coletivo. Disponível em: <http//:Ssdoc/PaginadaBiblioteca/revistadotst/Rev_72/Rev_2/tst72-2_dout9.pdf>. Acesso em: 24 jun 2013.

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discussões nas negociações coletivas malogradas os ânimos se acirram e as partes não querem ceder reciprocamente. A segunda alternativa parece estar mais de conformidade com os princípios que informam o Direito do Trabalho, como, neste sentido, é a tônica do art. 442 da CLT.

No que tange ao entendimento dos Tribunais do Trabalho, estas Cortes têm-se

inclinado a adoção desta corrente como fonte norteadora de suas as decisões:

DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA. Art. 114, Parágrafo 2º, CF. COMUM ACORDO NÃO SIGNIFICA, NECESSARIAMENTE, PETIÇÃO CONJUNTA. INTERPRETAÇÃOHISTÓRICA. Aplicação do princípio da inevitabilidade da jurisdição (art. 5º/XXXV/CF). Negociação infrutífera. Concordância tácita à atuação da jurisdição. Precedente desta E. SDC. Dissídio que é conhecido e julgado procedente em parte.104 AUSÊNCIA DE ANUÊNCIA PARA INSTALAÇÃO DE DISSÍDIO COLETIVO. COMPROVAÇÃO DE TRATATIVAS FRUSTRADAS. REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA ADMINISTRATIVA SEM ÊXITO DE ACORDO. INTRANSIGÊNCIA DO SUSCITADO EM NEGOCIAR. PRESSUPOSTO OBJETIVO PREENCHIDO. Sustenta o suscitado, preliminarmente, a impossibilidade de propositura da presente ação coletiva em função de não ter sido observada a anuência comum aos entes coletivos, consoante prescreve o § 2º do art. 114 da Constituição Federal, com a redação que lhe deu a Emenda n. 45. A negociação coletiva extrajudicial prévia frustrada (CF, art. 114, § 2º), conforme documentado no feito, bem como com a intervenção judicial, por ocasião da audiência dita administrativa, legitimam a instauração do dissídio, malgrado a alegação de ausência de anuência comum aduzida pelo suscitado. Mantivesse o sindicato patronal a sua postura intransigente de não negociar as cláusulas reivindicadas, bem como de não anuir com a instauração da presente ação coletiva, estaria o suscitante obstado no seu direito de recorrer à justiça e conseqüentemente de fazer valer o preceito insculpido no inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal, que determina que nenhuma lesão ou ameaça de direito poderá ser subtraída da apreciação do Poder Judiciário. Preliminar rejeitada por unanimidade.71

Faz-se mister salientar que apesar dos Tribunais Regionais penderem a adoção da 3ª

corrente o TST apresenta entendimento diferenciado, se posicionando no sentido de que o

“comum acordo” é pressuposto processual de exigibilidade e por isso faz-se imprescindível a

propositura do dissídio coletivo:

“COMUM ACORDO. DISSÍDIO COLETIVO DE NATUREZA ECONÔMICA. ARTIGO 114 § 2º DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AUSÊNCIA. CONSEQUÊNCIA. A Emenda Constitucional 45 de 8 de dezembro de 2004, trouxe mudanças significativas no âmbito dos dissídios coletivos. A alteração que vem suscitando maiores discussões diz respeito ao acréscimo da expressão ‘comum acordo’ ao § 2º do art. 114 da Constituição da República . o debate gira em torno do consenso entre suscitante e suscitado como pressuposto para o ajuizamento do dissídio coletivo. A jurisprudência desta Corte consagra o entendimento segundo o qual o comum acordo é exigido para se ajuizar dissídio jurídico de natureza econômica , conforme previsão no§ 2º do art. 114 da Constituição da República, constitui-se pressuposto processual cuja a inobservância acarreta a extinção do

71 BRASIL. Tribunal regional do trabalho 24ª Região. DC n. 129-2005-000-24-00. Redator designado Juiz João de Deus Gomes de Souza. Julgado em 19.10.2005 e publicado n DO-MS PJ em 10.11.2005, p. 27/29.

49

processo sem resolução do mérito, nos termos do in. VI do artigo 267 do CPC. Recurso Ordinário que se conhece e se nega provimento”.72

4.2 Função processual do comum acordo

4.2.1 Condição da Ação ou Pressuposto Processual

O comum acordo continua sendo objeto dos mais acirrados debates jurídicos por

parte da doutrina não só no sentido dos questionamentos que se formam em relação a

necessidade de sua exigência, quer também em relação a forma aplicação como condição da

ação ou pressuposto processual:

Segundo Pedro Carlos Sampaio Garcia73 o comum acordo é um pressuposto

processual:

“Na hipótese, não existe dissídio coletivo se não for ele provocado de comum acordo por ambas as partes. Prevê o novo preceito constitucional um pressuposto para que se estabeleça a relação jurídica inerente ao dissídio coletivo. Dissídio coletivo suscitado unilateralmente por uma das partes é processo inexistente. A outra parte é processo inexistente. A outra parte não é obrigada a comparecer e muito menos a obedecer qualquer decisão ali proferida, pois sentença proferida em processo inexistente”.

Nesse sentido pondera Raimundo Simão de Melo74.

“Ressalvando o devido respeito por manifestações contrárias, entendo que a

inexistência do comum acordo para ajuizamento do Dissídio econômico, como

indispensável à propositura da ação (art. 283, do CPC), significa mais um

pressuposto processual, o qual, não atendido, leva ao indeferimento da petição

inicial, depois de esgotado o prazo assinalado pelo juiz para o cumprimento de tal

providência (art. 284, CPC)”.

4.3 Controvérsias a cerca da aplicação da inafastabilidade de jurisdição ao “comum

acordo”.

Como foi demonstrado anteriormente a doutrina se divide quanto a possibilidade da

obrigatoriedade do “comum acordo” constituir ofensa ao princípio constitucional de

inafastabilidade de jurisdição.

72 TST RODC 244/2006.000.12-00, SDC, DJU 30.11.2007 73 GARCIA, Pedro Carlos Sampaio. O fim do poder normativo. In ANAMATRA. 74 MELO, Raimundo Simão de. Processo coletivo do trabalho. São Paulo: LTR. 2011, p. 94.

50

Vislumbra-se o estudo mais intenso do princípio constitucional supra e aprofundar as

questões referentes a possibilidade da alteração trazida pela EC. 45/04 ao § 2º do artigo114,

conflitar-se com corolário de livre acesso ao judiciário.

Dispõe o art. 5°, XXXV, CF/8875: “a lei não poderá excluir da apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a direito, consagrando o princípio do livre acesso à justiça,

também denominado de princípio da inafastabilidade da jurisdição e ainda de princípio do

livre acesso ao Judiciário”.

No que tange a interpretação deste princípio constitucional esta deve ser realizada de

maneira cuidadosa, pois visa permitir que o Poder Judiciário não fique impedido de analisar

determinadas matérias através de alguma norma constitucional.

Devido a inafastabilidade de jurisdição ser consagrada no texto constitucional como

direito fundamental e primar por não haver obstáculo ao acesso ao Judiciário, criou-se em

virtude da nova exigência constitucional de que os dissídios coletivos sejam instaurados

mediante comum acordo entre as partes, uma parcela da doutrina passou a questionar a

validade de referida regra frente ao princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional,

argumentando que a exigência fere de morte o direito de ação, afigurando-se, por conseguinte,

inconstitucional.

Como sustenta Edson Braz da Silva76: o princípio da inafastabilidade jurisdicional

aplica-se, como estabelece explicitamente o referido dispositivo, às ofensas ou ameaças a

Direito.

Na opinião de Andréa Presas Rocha77:

“Inexiste a alegada inconstitucionalidade proclamada, haja vista que o ajuizamento de dissídio de natureza econômica tem como efeito o exercício do denominado poder normativo pelos tribunais do trabalho, e esta atividade, como é cediço, nada tem de jurisdicional”.

Fazemos menção ao texto constante de parecer exarado por Rodrigo Janot Monteiro de Barros 78:

“Tampouco o art. 114, § 2°, da Constituição Federal viola o princípio da Inafastabilidade da jurisdição, pois o art. 5°, XXXV, da mesma Carta, determina que a “lei” não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, o

75 BRASIL. Constituição federal. Brasília: Senado, 1988, artigo 5º XXXV 76 SILVA. Edson Braz da Silva. Aspectos Processuais materiais do Dissídio Coletivo frente à Emenda Constitucional nº 54/2004. 77ROCHA, Andréa Presas. Dissídios coletivos: modificações introduzidas pela emenda constitucional nº 45/2004. Jus navigandi, Teresina, ano 10, n. 996, 24 mar. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8147>. Acesso em: 24 jun 2012. 78 Barros.Rodrigo Janot Monteiro de. Ministério Público Federal, Parecer nº 8069 / RJMB no ARE 687.639 / SP . Brasília, nov 2012.

51

que não obsta a própria Constituição, através do constituinte derivado, impor condições de acesso à jurisdição. Não se trata, portanto, de exclusão do acesso à jurisdição, mas de condição de procedibilidade específica da ação de dissídio coletivo.

52

CAPITULO V

5. A SENTENÇA NORMATIVA DE DISSÍDIO COLETIVO

5.1 Conceito

Tratando-se de dissídio coletivo de natureza econômica, a sentença normativa terá

natureza constitutiva, pois objetiva criar, constituir novas condições de trabalho. Já quando a

sentença normativa for proferida no bojo de um dissídio coletivo de natureza jurídica, tal

sentença terá natureza declaratória, uma vez que tem por objetivo tão somente interpretar a

norma já existente.

A decisão que põe fim ao dissídio coletivo de natureza econômica é chamada de

sentença normativa

A sentença normativa é a decisão proferida pelos Tribunais (Tribunal Regional do

Trabalho ou Tribunal Superior do Trabalho) ao julgarem um dissídio coletivo.

Conforme artigo 458, II do CPC e artigo 832 da CLT, a sentença normativa tem como

requisito a sua fundamentação. Esta fundamentação. Não tem relação com os preceitos legais

que lha dariam suporte, mas aos motivos de conveniência e oportunidade de deferimento das

cláusulas examinadas.

Isto porque, segundo ensina MARTINS FILHO.79

“As sentenças coletivas não se baseiam no princípio da legalidade (de aplicação da

lei existente), mas nos parâmetros próprios do ato discricionário (ligado a uma

vontade política), que são a oportunidade e conveniência de conceder determinada

vantagem adicional ao acervo trabalhista do empregado”.

5.2. Cláusulas da Sentença Normativa

As reclamações da categoria suscitante são deduzidas em juízo na forma de

cláusulas, LEITE80 exemplifica as cláusulas e condições que podem ser criadas mediante os

dissídios de natureza constitutiva:

79 MARTINS FILHO, IVES Granda da Silva, Processo Coletivo do Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p 956. LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 4 ed. São PAULO: LTr, 2006, p.

53

Econômicas: alusivas as vantagens salariais diretas impetradas pela categoria,

geralmente são relacionadas a salários, tais como fixação de piso salarial, salarial, reajustes e

abonos pecuniários;

Sociais: versam sobre garantias de emprego e vantagens laborais e econômicas

indiretas, como abono de faltas, a preservação do meio ambiente de trabalho, condições de

trabalho menos desgastantes;

Sindicais: dizem respeito às relações entre os sindicatos ou entre estes e as empresas

que figuram no dissídio coletivo. Geralmente regulamentam sobre contribuições assistenciais

a serem descontadas em folha, garantia dos dirigentes sindicais.

Obrigacionais: estabelecem muitas para a parte que descumprir as normas coletivas

dispostas na sentença.

5.3 Natureza Jurídica da Sentença Normativa de dissídio Coletivo

Há questionamentos quando a natureza jurídica da sentença normativa, se esta é uma

decisão de cunho legislativo ou jurisdicional.

Doutrinadores, como MARTINS81 fundamentam que: “ao julgar os dissídios coletivos a Justiça do Trabalho deverá observar as normas existentes no direito positivado, desta forma, estará exercendo o poder jurisdicional, uma vez que o Poder Judiciário não tem por natureza essa atividade. Entendem que o poder normativo da Justiça do Trabalho é espécie de juízo de equidade usado nas lacunas da lei ou da norma coletiva”.

O objetivo da sentença normativa é solucionar o conflito coletivo que lhe foi posto a

exame, mesmo que crie preceitos jurídicos que anteriormente não existiam, permanece como

um ato jurisdicional.

Sob outra ótica entende-se que ao exercer o poder normativo o Poder Judiciário está

diante de uma função atípica, praticando a função legiferante, pois são criadas novas

condições de trabalho, funcionando o Tribunal do Trabalho como legislador, criando o direito

para uma classe de trabalhadores, de forma geral é abstrata, como se fosse uma lei,

diferenciando-se da função jurisdicional, a qual aplica a lei ao caso concreto.

80 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 4 ed. São PAULO: LTr, 2006, p. 951. 81 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28 ed. São Paulo: Editora Atlas. 2008. P. 651,

54

Nesse sentido ensina MARTINS FILHO82.

“A sentença normativa, por inovar no mundo jurídico, instituindo condições de trabalho não previstas em lei, possui natureza dispositiva: em condenatória, nem declaratória, nem constitutiva. Não é fruto do exercício da Jurisdição, considerada como aplicação da lei a o caso concreto, mas constitui verdadeiro exercício do poder legiferante, impondo normas não contempladas até então pelo ordenamento jurídico”.

Devido aos questionamentos quanto a função legiferante ou jurisdicional atribuída ao

judiciário na sentença normativa, levantou-se argumentos sobre a constitucionalidade ou não

da exigência de comum acordo entre as partes e suscitou a indagação quanto a sua

necessidade para a propositura de dissídio coletivo.

5.4 Eficácia Normativa da Sentença

A decisão oriunda de dissídio coletivo tem efeito “erga omnes”, sendo caracterizada

pela indeterminação dos indivíduos a que a sentença vai ser aplicada. Desta forma, a sentença

normativa tem eficácia para o futuro, não tendo efeitos retroativos83.

No que pertine ainda aos efeitos da sentença normativa, insta salientar que por seros

“erga omnes”, já que, em regra, atingem a todos os organismos sindicais envolvidos no

dissídio coletivo, bem como todos os integrantes das categorias econômicas e profissionais,

associados ou não, repercutindo, portanto, nas relações individuais de trabalho. Contudo, nos

dissídios instaurados por empregador, os efeitos alcançarão apenas os trabalhadores da(s)

empresa(s) representados pelo sindicato, sejam associados ou não.

As normas e condições de trabalho fixadas alcançam os contratos de trabalho

vigentes na data da instauração do conflito e os que forem celebrados durante o período de

vigência da sentença, não integrando de forma definitiva os contratos individuais de

trabalho84.

O tempo de vigência é de um ano e poderá chegar a quatro anos, de acordo com

artigo 868, parágrafo único da CLT, não é admitido prazo de vigência indeterminado para

sentença normativa.

82 MARTINS FILHO, Ives Granda da Silva. Processo Coletivo do Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 200. 83 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho. 28 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008. P. 651. 84 ALMEIDA, Cleber Lúcio de Direito processual do trabalho. Belo Horizonte. Del Rey, 2006. p. 800.

55

Dispõe a súmula 277 do TST:

“As condições de trabalho alcançadas por força de sentença normativa vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma definitiva, os contratos”.

Os efeitos retroagem a data base da categoria quando ajuizado o dissídio no prazo

legal ou se o suscitante formulou protesto judicial assegurando a data-base. Nos demais casos

a sentença terá vigência somente a partir de sua publicação. O TST admite que a sentença

tenha seus efeitos retroagindo à data do ajuizamento do dissídio coletivo quando inexiste

norma coletiva anterior guarnecendo a categoria85.

A sentença normativa não tem carga condenatória, não comportando execução..

Já no que concerne à coisa julgada, a doutrina e a jurisprudência divergem, havendo

duas correntes:

1ª Corrente – sustenta que a sentença normativa somente faz coisa julgada formal,

uma vez que pode ser objeto de cumprimento antes do seu trânsito em julgado; após um ano

de vigência, a sentença poderá ser objeto de revisão, estando submetida à cláusula “rebus sic

stantibus”; a sentença normativa não comporta execução, mas ação de cumprimento; a

sentença normativa tem eficácia temporária. Esta é a corrente encampada pelo Tribunal

Superior do Trabalho.

2ª Corrente– considera que a sentença normativa faz coisa julgada formal e material.

O art. 2º, I, c da Lei nº. 7.701/98, admite o cabimento de ação rescisória em face de sentenças

normativas e daí restaria evidente que a atinente sentença produz coisa julgada material.

Por fim, insta também relembrar que, em caso de não cumprimento voluntário da

sentença normativa, caberá a propositura de ação de cumprimento e não de ação executiva,

uma vez que a sentença em questão não tem natureza condenatória. Pode ser proposta pelo

sindicato profissional ou pelos próprios trabalhadores interessados, e não há necessidade de se

aguardar o trânsito em julgado da sentença normativa para seu ajuizamento. O prazo

prescricional relativo à ação de cumprimento flui apenas a partir da data de seu trânsito em

julgado.

Porém no mês de maio de 2011, novo precedente normativo da SDC aprovado pelo

Pleno do Tribunal Superior do Trabalho permite que as sentenças normativas – decisões dos

Tribunais Regionais do Trabalho ou do TST no julgamento de dissídios coletivos, fixando

85 MARTINS FILHO, Ives Granda da Silva. Processo Coletivo do Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2009, p. 155.

56

cláusulas econômicas e sociais – vigorem por até quatro anos, até que surja novo diploma

(sentença normativa, acordo ou convenção coletiva de trabalho) regulando as condições de

trabalho da categoria86.

SENTENÇA NORMATIVA. DURAÇÃO. POSSIBILIDADE E LIMITES. A sentença normativa vigora, desde seu termo inicial até que sentença normativa, convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de trabalho superveniente produza sua revogação, expressa ou tácita, respeitado, porém

O objetivo do precedente é assegurar aos trabalhadores a manutenção das condições da

sentença normativa mesmo depois de vencido o prazo original (geralmente de um ano), e

assim preservar a estabilidade dos direitos ali previstos. “Isso evita que haja um vácuo

jurídico, quando termina a vigência de uma sentença normativa e a categoria ainda não

conseguiu criar outro instrumento”, explica o ministro Maurício Godinho Delgado, integrante

da SDC.

86 http://www.conjur.com.br/2011-mai-29/condicoes-sentenca-normativa-valem-quatro-anos-tst. Acesso em 29 jun 2013.

57

CONCLUSÃO

Por ser o dissídio coletivo, um importante instituto processual de relevante valor para

o processo do trabalho, por meio do qual são reguladas pelo Estado através da via judicial as

relações de trabalho conflitantes; ao longo do deste trabalho de monografia buscou-se analisar

o dissídio coletivo de forma ampla em relação a ordem social e jurídica.

No campo da ordem social o estudo do dissídio coletivo foi abordado como forma de

solução dos conflitos oriundos das relações de trabalho. Nesta linha de raciocínio para melhor

compreensão do tema foi dado ênfase inicialmente ao estudo dos conflitos coletivos de

trabalhos e as formas de solução.

No panorama das relações trabalhistas conflitantes vimos suas origens, conceituação e

também a inserção dissídio coletivo neste contexto como elemento de heterocomposição.

Logo o dissídio coletivo é meio legal de regulação dos conflitos coletivos de trabalho quando,

após esgotados todos os meios de autocomposição disponíveis.

Sobre a ordem jurídica, fonte precípua do trabalho monográfico, foram abordadas em

relação ao dissídio coletivo questões de relevante pertinência sobre a sua base histórica, os

elementos instituidores, previsão constitucional, controvérsia a cerca das alterações trazidas

pela Emenda Constitucional 45/2004, aplicação no direito processual e o poder normativo

atribuído a decisão judicial .

Em relação a base história do dissídio coletivo, foi aduzido que desde o ano de 1932

tal instituto processual já era previsto no ordenamento constitucional pátrio e que atualmente

o Brasil ainda é um dos únicos países do mundo que adota o dissídio de natureza econômica,

como forma de solução dos conflitos de interesse.

A Constituição Federal estabeleceu o dissídio coletivo como prerrogativa que dispõe o

Estado, como forma interventiva, que ainda se faz necessária uma vez que a maioria das

classes laborais não tem em seus sindicatos entidade s fortalecidas e com poder de

negociação. Todavia, há necessidade de se fortalecer as bases sindicais e atribuir às partes a

negociação coletiva sobre normas e condições de trabalho, mantendo-se o Poder Judiciário na

sua função genuína, que é a de interpretação de norma já existente.

Entretanto a Emenda Constitucional n. 45/2004, ao alterar o § 2º do art. 114 da

CRFB/88, trouxe grande controvérsias doutrinarias e jurisprudenciais ao limitar o Poder

58

Normativo da Justiça do Trabalho, uma vez que o dissídio coletivo de natureza econômica

que somente poderá ser proposto quando existir comum acordo entre as partes conflitantes.

A Emenda Constitucional n 45/2004 não limita o acesso à justiça. Segundo a grande

parte da doutrina a expressão comum acordo para o ajuizamento não condiciona a ação ao

acordo bilateral para seu inicio.

Contudo o TST adota uma posição mais conservadora condicionando a propositura do

dissídio coletivo de natureza econômica ao comum acordo.adotando como base de suas

decisões o disposto no art. 267, inciso IV, do CPC, de tal modo que se o dissídio for

suscitado sem o esgotamento da negociação prévia pelos entes interessados, será o processo

extinto pelo Tribunal do Trabalho sem resolução do mérito.

Porém já existe no Supremo Tribunal Federal quanto à desnecessidade do comum

acordo, quando houver concordância tácita, ainda existem duvidas quanto à

constitucionalidade desse requisito.

A nosso ver a retirada do texto constitucional desta expressão acabaria com as

dúvidas e controvérsias que pairam sobre a questão. Contudo seria prudente também alterar o

texto constitucional no sentido de proporcionar sustentação as formas autocompositivas, seja

a negociação e acordos coletivos, já privilegiadas na Constituição Federal.

Mais uma consideração que julgamos de suma importância em relação ao dissídio

coletivo de natureza econômica se faz quanto a interpretação do texto constitucional, deve ser

única, principalmente quanto ao ajuizamento de uma ação. Caso contrário, as dúvidas

existentes podem restringir o acesso à justiça, ferindo a Constituição Federal.

Ainda neste sentido enfatizamos que o livre acesso à justiça é uma cláusula pétrea,

sendo conhecida por todos. Portanto, qualquer expressão da lei que modifique ou dificulte a

utilização desse direito não pode ser mantida. Como ressaltado no presente trabalho essa não é

a questão nos dissídios coletivos.

No que tange a ao poder normativo atribuído a sentença da ação de dissídio coletivo

pode-se afirmar que por meio da denominada sentença normativa,os Tribunais do Trabalho

exercem a competência que lhes é atribuída pela CRFB/88, apresentando com fulcro na lei e

nas demais fontes do direito a solução dos conflitos coletivos de trabalho, fixando, , normas

gerais e abstratas de conduta.

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REFERÊNCIAS ALMEIDA, Cleber Lúcio de Direito processual do trabalho. Belo Horizonte. Del Rey, 2006.

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