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A mulher do campo representa para o Semiárido: a dignidade, a simplicidade e a força de quem sonha todos os dias com uma vida melhor. Apresentamos Maria Gizélia Ferreira moradora da Comunidade Travessia município de Itabí que fica a aproximadamente 100 km da capital Aracaju. Mãe de sete filhos (dois homens e cinco mulheres) casada com Seu Ataide desde os dezesseis anos de idade, a vida de Dona Gizélia não foi muito diferente da realidade das mulheres do sertão de cinqüenta anos atrás, casar-se, criar filhos, cuidar dos afazeres domésticos sem a oportunidade de freqüentar escola, vivendo as amarguras de uma sociedade culturalmente machista e ainda convivendo com a dificuldade da escassez de água: “Tirava lama de tanque no braço” nos conta. Aprendeu a fazer o seu nome com sua mãe que também ensinou os outros cinco irmãos, o fato de não poder ir para escola não tirou dessa mulher a vontade de aprender e de buscar conhecimentos, lutando e relutando contra opressão que sofria enquanto mulher naquela época e que infelizmente até hoje ainda assombra o universo feminino, Dona Gizélia não esmoreceu, decidiu ver o mundo além dos arredores da sua casa. Primeiros passos rumo a emancipação Aos 48 anos de idade a história de Dona Gizélia começou a tomar um rumo diferente, ela entrou para a organização de base de comunidade através da Paróquia do município, um trabalho desenvolvido junto à pastoral, nesse mesmo período participava das Romarias da Luta da Terra e foi uma das fundadoras da Festa da Colheita. Daí por diante não saiu mais dos movimentos sociais, logo após entrou para o Sindicato de Trabalhadores Rurais do município de Itabí. Sergipe Ano 6 | nº 92 | março | 2012 Itabí- Sergipe Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Dona da primeira cisterna construída em Sergipe é exemplo de luta pela igualdade de gênero. 1 Dona Gizélia e sua cisterna (trazida pelo MOC em convênio com a Diaconia). Na propriedade ela tem criatório de ovelhas, galinhas de capoeira e porcos.

Dona da primeira cisterna construída em Sergipe é exemplo de luta pela igualdade de gênero

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A mulher do campo representa para o Semiárido: a dignidade, a simplicidade e a força de quem sonha todos os dias com uma vida melhor. Apresentamos Maria Gizélia Ferreira moradora da Comunidade Travessia município de Itabí que fica a aproximadamente 100 km da capital Aracaju.

Mãe de sete filhos (dois homens e cinco mulheres) casada com Seu Ataide desde os dezesseis anos de idade, a vida de Dona Gizélia não foi muito diferente da realidade das mulheres do sertão de cinqüenta anos atrás, casar-se, criar filhos, cuidar dos afazeres domésticos sem a oportunidade de freqüentar escola, vivendo as amarguras de uma sociedade culturalmente machista e ainda convivendo com a dificuldade da escassez de água: “Tirava lama de tanque no braço” nos conta.

Aprendeu a fazer o seu nome com sua mãe que também ensinou os outros cinco irmãos, o fato de não poder ir para escola não tirou dessa mulher a vontade de aprender e de buscar conhecimentos, lutando e relutando contra opressão que sofria enquanto mulher naquela época e que infelizmente até hoje ainda assombra o universo feminino, Dona Gizélia não esmoreceu, decidiu ver o mundo além dos

arredores da sua casa.

Primeiros passos rumo a

emancipação

Aos 48 anos de idade a história de Dona Gizélia começou a tomar um rumo diferente, ela entrou para a organização de base de comunidade através da Paróquia do município, um trabalho desenvolvido junto à pastoral, nesse mesmo período participava das Romarias da Luta da Terra e foi uma das fundadoras da Festa da Colheita. Daí por diante não saiu mais dos movimentos sociais, logo após entrou para o Sindicato de Trabalhadores Rurais do município de Itabí.

Sergipe

Ano 6 | nº 92 | março | 2012Itabí- Sergipe

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Dona da primeira cisterna construída em Sergipe é exemplo de luta pela igualdade de gênero.

1

Dona Gizélia e sua cisterna (trazida pelo MOC em convênio com aDiaconia).

Na propriedade ela tem criatório de ovelhas, galinhas de capoeira e porcos.

Em 1995 vieram às primeiras conversas de construção do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC) nas quais ela já se fazia presente, nesse mesmo período iniciava-se a formação de grupos de mulheres com o objetivo de melhorar as relações de gênero naquela região. A primeira grande ação do grupo foi à realização de um mutirão para aquisição de documentos de identificação de todas as mulheres daquele território, foram mais de 3000 pessoas beneficiadas, sendo assim dava-se inicio a luta pela igualdade de gênero naquele lugar.

E desde então Dona Gizélia nunca mais parou, sempre participando de vários momentos de formação como: seminários, encontros, capacitações e conferências que serviram para que a cada dia crescesse em seu peito a vontade de ir mais longe: “Tem que ter força, coragem e tomar a decisão, se impor, enquanto eu puder me mexer eu vou me mexer” essa é uma das mensagens que ela nos deixa.

Em 2000 chegou ao Semiárido as cisternas de placa trazidas pela MOC- Movimento das Organizações Comunitárias em convênio com a Diaconia, dona Gizélia recebeu uma das primeiras cisternas da comunidade Travessia. E em 2002 a ASA- Articulação do Semiárido Brasileiro inicia os trabalhos com as cisternas de água para beber e ela entra para a comissão municipal com o objetivo de contribuir para que outras famílias fossem inseridas no programa.

O Programa Um Milhão de Cisterna trouxe além de autonomia, a esperança de mudar o curso de uma história tão sofrida provocada também pela falta de água: “Quem andou no sertão a 10 anos e anda hoje pode notar a grande diferença, antes as casas eram lambidas, não tinha um pé de pau sequer, hoje tem fruteiras, hortas, é outra coisa” nos fala Dona Gizélia.

Agricultora de mão cheia, hoje se orgulha em dizer que a caminhada é valida e junto com suas filhas, filhos e esposo ela trabalha na sua roça, com o pensamento voltado para agroecologia ela faz o cultivo de hortas, arvores frutíferas e cria animais de pequeno porte como: a galinha de capoeira que é o seu forte, ovelhas e porcos, além de ter entre suas atividades enquanto militante: a coordenação do CDJBC na gestão 2012 a 2014, a Pastoral do Idoso do município de Itabí, a Comissão Municipal da ASA, a Associação Comunitária do Povoado Mata Grande e adjacências, o Sindicato Rural de Itabí.

O que é importante lembrar é que por onde ela anda carrega como bandeira a luta pela igualdade de gênero, lutando pelo seu e pelo espaço das mulheres na sociedade, contribuindo para um Semiárido mais justo e igualitário. “A mulher precisa saber que ela pode, ela é quem tem que começar a se valorizar e daí por diante fazer a diferença” Dona Gizélia.

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Lutar pela igualdade de gênero é sinônimo de coragem e resistência (Gizélia e seu esposo Ataide).

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