1
5 | CADERNO DEZ! | SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 22/1/2008 MÚSICA Eletrorock jujuba: Drama Queen mistura Nelson Rodrigues, dor de cotovelo e batidas eletrônicas À beira de um ataque de nervos Maria Rosa, Natália e Pedro tocam juntos desde o final de 2006 RODRIGO SACOMAN | DIVULGAÇÃO MIRELA PORTUGAL [email protected] O clima é de cabaré. Luz baixa, roupas vermelhas, pérolas, rendas. Enquanto canta Eu sou noiva de ninguém?, a vocalista oferece com uma mão uma taça de Curacao Blue, e com a outra, um punhado de jujubas. É nesse limiar entre o doce, pesado e melodramático que transita a banda Drama Queen. Em todos os shows, a platéia ganha drinks, doces, performances teatrais e uma dose de ironia sobre a tendência feminina [ou universal] de fazer tragédia só para tudo ficar mais interessante. ”Os doces e bebidas são para aguçar os sentidos do público, fazer as pessoas se sentirem à vontade”, explica a baiana Natália Garcez, 22, vocalista. O outro microfone fica com a também baiana Maria Rosa Espinheira, 26, e as duas colocam nas letras as birras femininas, fazendo graça ou falando sério. A guitarra é do paulista Pedro Curvello, 24, e os samplers eletrônicos, do DJ e produtor musical carioca Phantasma, 30. Para reunir a banda pela primeira vez, foi preciso transformar a casa de Natália no Rio de Janeiro em um internato. Dessa sessão veio a primeira demo, não por acaso chamada O que os vizinhos vão pensar?, de 2006. O resultado foi um rock com batidas eletrônicas figurando no lugar do baixo e bateria, e muita vontade de experimentar. Efeitos, ruídos e frases soltas criam um ambiente no limite entre a música e locução, um som-cenário que te chama tanto a contemplar quanto a dançar. Depois da demo, a Drama seguiu tocando em bares, inferninhos ou em qualquer lugar em que coubesse o simples equipamento usado. Tão simples que já rendeu até confusão na contratação dos shows. A última foi na rave Universo Paralello. A organização demorou para decidir onde eles iam tocar. “Falaram pra gente que no palco alternativo não dava, porque somos banda. Depois resolveram que no de banda não rolava, porque somos dançantes. Amei a confusão“, lembra Natália. No final, tocaram no palco das bandas. O uso do amplificador foi o critério decisivo. FALE COM ELA – A Drama Queen foi imaginada num palco, daí abandonar o lado performático ser inconcebível. O texto era A Valsa Nº 6 e, entre os gritos de “Acho que sou menina! Acho que sou mulher“, escritos por Nelson Rodrigues, Natália e Maria, atrizes, tiveram o estalo de substituir a dramática valsa de Chopin mencionada no título da peça por uma trilha eletrônica sombria, com um VJ fazendo experimentações. A idéia deu certo e elas começaram a compor juntas e trocar letras pela internet, até que tinham material o suficiente para agregar Pedro e Phantasma. ”Decidimos usar nossas piadas internas e levá-las à sério”, conta Natália. A próxima ironia é uma versão funk de Toda Menina Baiana, produzida por Mauro Telefunksoul. A música está fora da demo O que os vizinhos..., mas deve ser incluída no CD prometido até o fim do ano. O álbum levará o nome do lema do grupo, Do Fofo ao Trash. Natália diz, mão direita ajeitando a tiara, a esquerda descansando um cigarro: “Estamos elegendo mascotes que sejam a síntese dessa filosofia. Já temos Michael Jackson e Macaulay Culkin e a lista aumenta”. VÁ LÁ: DRAMA QUEEN E REBECA MATA | 2/2 | 18 h | Cia da Pizza | Rio Vermelho | Grátis Comentário Quem é mais sentimental HEADPHONE 1 2 3 4 5 PIETRO LEAL, 27, vocalista e violinista da Pirigulino Babilaque. Começou a trabalhar com música aos 14 anos e de lá para cá cantou axé, pop e hoje toca MPB, sem interpretar papéis e fazendo o que gosta. NOVOS BAIANOS MISTÉRIO DO PLANETA Lidamos com a música de forma parecida, focando na poesia e sem se prender a rótulos. NOVOS BAIANOS ACABOU CHORARE Eu admiro muito o Galvão como compositor, a música é linda. CAETANO VELOSO NOSSO ESTRANHO AMOR Caetano sabe falar para as mulheres como ninguém. CHICO BUARQUE MEU GURI A música é feliz mas a letra é densa. Você se sente enganado, como a mãe a respeito do filho. LUIZ MELODIA FADAS Meu pai cantava e tocava essa música quando eu era pequeno. Quando tocamos com o Luiz Melodia, ele ficou muito feliz. SAULO KAINUMA | DIVULGAÇÃO “Sentem-se em frente ao palco, o espetáculo vai começar“, parecem dizer os primeiros segundos da demo. Os acordes são imagens de um pop sem medo, na maneira de cantar infantil, falada, e na profusão de referências. O som é uma colcha colorida de retalhos com fundo negro das batidas eletrônicas. Impossível não se lembrar da Cansei de Ser Sexy , com um jeitinho mais [surpresa!] teatral. O que os vizinhos... funciona tanto como trilha sonora em pistas de festinhas obscuras quanto para sentar e curtir a guitarra ácida que aparece, por vezes, redentora. Amor da vida te pega pelo riff-chiclete e pela letra para os momentos vulneráveis em que todo mundo é clichê, como o eu-lírico cheio de auto-crítica. Para dançar, para pensar nos amores e desamores, com bom humor e sem pretensão.

dramaqueen

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Comentário LUIZ MELODIA ambiente no limite entre a música e locução, um som-cenário que te chama tanto a contemplar quanto a dançar. Depois da demo, a Drama seguiu tocando em bares, inferninhos ou em qualquer lugar em que coubesse o simples equipamento usado. Tão simples ACABOU CHORARE PIETRO LEAL, 27, MISTÉRIO DO PLANETA Eu admiro muito o Galvão como compositor, a música é linda. Caetano sabe falar para as mulheres como ninguém. MEU GURI FADAS MIRELA PORTUGAL

Citation preview

Page 1: dramaqueen

5| CADERNO DEZ! |SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 22/1/2008

MÚSICA ❚ Eletrorock jujuba: Drama Queen mistura Nelson Rodrigues, dor de cotovelo e batidas eletrônicas

À beira de um ataque de nervos

Maria Rosa, Natália e Pedro tocam juntos desde o final de 2006

RODRIGO SACOMAN | DIVULGAÇÃO

MIRELA PORTUGALm p o r t u g a l @ g r u p o a t a rd e . c o m . b r

O clima é de cabaré. Luz baixa,roupas vermelhas, pérolas, rendas.Enquanto canta Eu sou noiva deninguém?, a vocalista oferece comuma mão uma taça de CuracaoBlue, e com a outra, um punhadode jujubas. É nesse limiar entre odoce, pesado e melodramático quetransita a banda Drama Queen. Emtodos os shows, a platéia ganhadrinks, doces, performancesteatrais e uma dose de ironia sobrea tendência feminina [ouuniversal] de fazer tragédia sópara tudo ficar mais interessante.

”Os doces e bebidas são paraaguçar os sentidos do público,fazer as pessoas se sentirem àvontade”, explica a baiana NatáliaGarcez, 22, vocalista. O outromicrofone fica com a tambémbaiana Maria Rosa Espinheira, 26,e as duas colocam nas letras asbirras femininas, fazendo graça oufalando sério. A guitarra é dopaulista Pedro Curvello, 24, e ossamplers eletrônicos, do DJ eprodutor musical cariocaPhantasma, 30.

Para reunir a banda pelaprimeira vez, foi precisotransformar a casa de Natália noRio de Janeiro em um internato.Dessa sessão veio a primeira demo,não por acaso chamada O que osvizinhos vão pensar?, de 2006.

O resultado foi um rock combatidas eletrônicas figurando nolugar do baixo e bateria, e muitavontade de experimentar. Efeitos,ruídos e frases soltas criam um

ambiente no limite entre a músicae locução, um som-cenário que techama tanto a contemplar quantoa dançar.

Depois da demo, a Dramaseguiu tocando em bares,inferninhos ou em qualquer lugarem que coubesse o simplesequipamento usado. Tão simples

que já rendeu até confusão nacontratação dos shows. A últimafoi na rave Universo Paralello. Aorganização demorou para decidironde eles iam tocar. “Falaram pragente que no palco alternativonão dava, porque somos banda.Depois resolveram que no debanda não rolava, porque somos

dançantes. Amei a confusão“,lembra Natália. No final, tocaramno palco das bandas. O uso doamplificador foi o critério decisivo.

FALE COM ELA – A Drama Queenfoi imaginada num palco, daíabandonar o lado performático serinconcebível. O texto era A ValsaNº 6 e, entre os gritos de “Achoque sou menina! Acho que soumulher“, escritos por NelsonRodrigues, Natália e Maria, atrizes,tiveram o estalo de substituir adramática valsa de Chopinmencionada no título da peça poruma trilha eletrônica sombria, comum VJ fazendo experimentações.

A idéia deu certo e elascomeçaram a compor juntas etrocar letras pela internet, até quetinham material o suficiente paraagregar Pedro e Phantasma.”Decidimos usar nossas piadasinternas e levá-las à sério”, contaNatália. A próxima ironia é umaversão funk de Toda MeninaBaiana, produzida por MauroTelefunksoul. A música está forada demo O que os vizinhos..., masdeve ser incluída no CD prometidoaté o fim do ano. O álbum levará onome do lema do grupo, Do Fofoao Trash. Natália diz, mão direitaajeitando a tiara, a esquerdadescansando um cigarro: “Estamoselegendo mascotes que sejam asíntese dessa filosofia. Já temosMichael Jackson e Macaulay Culkine a lista aumenta”.

VÁ LÁ: DRAMA QUEENE REBECA MATA | 2/2 | 18 h | Cia daPizza | Rio Vermelho | Grátis

ComentárioQuem é maissentimental

H E A D PH O N E

1 2 3 4 5PIETRO LEAL, 27,vocalista e violinista daPirigulino Babilaque.Começou a trabalhar commúsica aos 14 anos e de lápara cá cantou axé, pop ehoje toca MPB, seminterpretar papéis efazendo o que gosta.

NOVOSBAIANOSMISTÉRIO DOP L A N E TA

Lidamos com amúsica de formaparecida, focandona poesia e sem seprender a rótulos.

NOVOSBAIANOSACABOUCHORARE

Eu admiro muito oGalvão comocompositor, amúsica é linda.

C A E TA N OVELOSONOSSO ESTRANHOAMOR

Caetano sabe falarpara as mulherescomo ninguém.

CHICOBUARQUEMEU GURI

A música é felizmas a letra édensa. Você sesente enganado,como a mãe arespeito do filho.

LUIZ MELODIAFA D A S

Meu pai cantava etocava essa músicaquando eu erapequeno. Quandotocamos com oLuiz Melodia, eleficou muito feliz.

SAULO KAINUMA | DIVULGAÇÃO

“Sentem-se em frente aopalco, o espetáculo vaicomeçar“, parecem dizer osprimeiros segundos da demo.Os acordes são imagens de umpop sem medo, na maneira decantar infantil, falada, e naprofusão de referências. O somé uma colcha colorida deretalhos com fundo negro dasbatidas eletrônicas. Impossívelnão se lembrar da Cansei deSer Sexy, com um jeitinho mais[surpresa!] teatral.

O que os vizinhos...funciona tanto como trilhasonora em pistas de festinhasobscuras quanto para sentar ecurtir a guitarra ácida queaparece, por vezes, redentora.Amor da vida te pega peloriff-chiclete e pela letra para osmomentos vulneráveis em quetodo mundo é clichê, como oeu-lírico cheio de auto-crítica.Para dançar, para pensar nosamores e desamores, com bomhumor e sem pretensão.