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O TRABALHADOR PORTUÁRIO AVULSO 1. Conceito Como ensina Valentin Carrion 1 , trabalhador avulso é “o que presta serviços a inúmeras empresas, agrupado em entidade de classe, por intermédio desta e sem vínculo empregatício”. Complementa que caracterizam o trabalho avulso a intermediação do sindicato ou órgão específico de colocação de mão-de-obra, a curta duração dos serviços e a prevalência da forma de rateio para a remuneração. A Lei 8.212/1991 (Lei Orgânica da Seguridade Social) traz a seguinte definição: (...) quem presta, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, serviços de natureza urbana ou rural definidos no regulamento. Já o regulamento (Decreto 3.048/1999) diz que: Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas: (...) VI - como trabalhador avulso - aquele que, sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei nº 8.630, de 25 de fevereiro de 1993 , ou do sindicato da categoria, assim considerados: a) o trabalhador que exerce atividade portuária de capatazia, estiva, conferência e conserto de carga, vigilância de embarcação e bloco; b) o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvão e minério; 1 CARRION, Valentin. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho – Legislação Complementar e Jurisprudência. 28. edição. São Paulo: Saraiva, 2003. 1

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O TRABALHADOR PORTURIO AVULSO

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O TRABALHADOR PORTURIO AVULSO

1. Conceito

Como ensina Valentin Carrion, trabalhador avulso o que presta servios a inmeras empresas, agrupado em entidade de classe, por intermdio desta e sem vnculo empregatcio. Complementa que caracterizam o trabalho avulso a intermediao do sindicato ou rgo especfico de colocao de mo-de-obra, a curta durao dos servios e a prevalncia da forma de rateio para a remunerao. A Lei 8.212/1991 (Lei Orgnica da Seguridade Social) traz a seguinte definio:

(...) quem presta, a diversas empresas, sem vnculo empregatcio, servios de natureza urbana ou rural definidos no regulamento.

J o regulamento (Decreto 3.048/1999) diz que:

Art. 9 So segurados obrigatrios da previdncia social as seguintes pessoas fsicas:

(...)

VI - como trabalhador avulso - aquele que, sindicalizado ou no, presta servio de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vnculo empregatcio, com a intermediao obrigatria do rgo gestor de mo-de-obra, nos termos da Lei n 8.630, de 25 de fevereiro de 1993, ou do sindicato da categoria, assim considerados:

a) o trabalhador que exerce atividade porturia de capatazia, estiva, conferncia e conserto de carga, vigilncia de embarcao e bloco;

b) o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvo e minrio;

c) o trabalhador em alvarenga (embarcao para carga e descarga de navios);

d) o amarrador de embarcao;

e) o ensacador de caf, cacau, sal e similares;

f ) o trabalhador na indstria de extrao de sal;

g) o carregador de bagagem em porto;

h) o prtico de barra em porto;

i ) o guindasteiro; e

j ) o classificador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos;

(...)

Afirma Alice Monteiro de Barros, acertadamente, que o Regulamento invadiu a reserva legal ao impor a participao do sindicato. Esta questo, assinale-se, no relevante para o estudo do porturio, visto que, quanto a ele, tema da aula, a intermediao se d forosamente atravs do rgo gestor de mo-de-obra.

2. Disciplina legal

A disciplina legal da atividade porturia se iniciou na dcada de 30, atravs de uma srie de decretos e decretos-lei, tendo sido a atividade contemplada na CLT, arts. 254 a 292 e 544, VIII, cujo comando persistiu, mesmo sofrendo algumas alteraes, como as determinadas pela Lei 4.860/1965, at o advento da Lei 8.630, de 26 de agosto de 1993, hoje em vigor, que teve alguns de seus dispositivos regulamentados pelo Decreto 1.886, de 29 de abril de 1996, acrescendo-se os dispositivos da Lei 9.719, de 27 de novembro de 1998. A Constituio Federal de 1988, no art. 7, XXXIV, assegurou igualdade de direitos entre o trabalhador com vnculo permanente e o avulso.

A Lei 8.630, que ficou tambm conhecida como Lei de Modernizao dos Portos, tem por objetivo principal a reduo da interferncia estatal no setor, privilegiando um modelo privado que encerra uma maior flexibilidade na contratao de trabalhadores avulsos, no intuito de reduzir a tradicional fora corporativa das entidades sindicais, que se traduzia na manuteno do nmero de operrios envolvidos em cada atividade porturia, a despeito da utilizao de equipamentos tecnologicamente mais avanados, que permitiria sua reduo. A definio dessa quantidade passou a ser de responsabilidade dos operadores porturios, deixando de ser faculdade dos sindicatos. O art. 8, 1, define as operaes nas quais no imprescindvel a atuao de porturios:

Art.8 - Cabe aos operadores porturios a realizao das operaes porturias previstas nesta Lei.

1 dispensvel a interveno de operadores porturios nas operaes porturias:

I - que, por seus mtodos de manipulao, suas caractersticas de automao ou mecanizao, no requeiram a utilizao de mo-de-obra ou possam ser executadas exclusivamente pela prpria tripulao das embarcaes;

II - de embarcaes empregadas:

a) na execuo de obras de servios pblicos nas vias aquticas do Pas, seja diretamente pelos poderes pblicos, seja por intermdio de concessionrios ou empreiteiros;

b) no transporte de gneros de pequena lavoura e da pesca, para abastecer mercados de mbito municipal;

c) na navegao interior e auxiliar;

d) no transporte de mercadorias lquidas a granel;

e) no transporte de mercadorias slidas a granel, quando a carga ou descarga for feita por aparelhos mecnicos automticos, salvo quanto aos servios de rechego, quando necessrios.

III - relativas a movimentao de:

a) cargas em rea sobre (sic) controle militar, quando realizadas por pessoal militar ou vinculado organizao militar;

b) materiais pelos estaleiros de construo e reparao naval;

c) peas sobressalentes, material de bordo, mantimentos e abastecimento de embarcaes.

IV - relativas ao abastecimento de aguada, combustveis e lubrificantes navegao.

A administrao do fornecimento de mo-de-obra passou a ser dos OGMO (rgos de Gesto de Mo-de-Obra), a serem criados, com esta incumbncia, em cada porto organizado. Em havendo celebrao de contrato, acordo ou conveno coletiva entre trabalhadores e tomadores de servio, todavia, o instrumento preceder o rgo gestor, dispensando sua interveno nas relaes de trabalho.

Um efeito, inegavelmente salutar, da nova legislao, foi a descentralizao das decises relativas poltica porturia, o que permite o respeito s caractersticas especficas de cada porto, acarretando otimizao de seu uso, por meio da individualizao de solues concernentes forma de execuo das tarefas e s condies de trabalho.

Embora em um primeiro momento as alteraes paream ser contrrias aos interesses dos trabalhadores avulsos, j que redundam em menor ocupao, deve-se ter em mente fatores que tornam a equao mais complexa e com resposta diferente. Impe-se recordar que os custos por demais elevados, oriundos da natural acomodao por que passavam os avulsos, e da desatualizao tecnolgica dos portos, livres de concorrncia interna, alm de encarecerem as exportaes brasileiras, faziam com que muitas vezes fosse mais vivel economicamente a movimentao de cargas em pases limtrofes, com o que nenhum trabalhador nacional era aproveitado.

A Lei 9.719 regula a sistemtica da escala dos trabalhadores porturios avulsos pelo OGMO, inserindo normas de proteo ao labor nessa rea, merecendo destaque, entre essas, as que fixam a responsabilidade pelo recolhimento e pagamento dos direitos e encargos trabalhistas.

Podem ser acrescentadas s normas acima indicadas a Conveno 137 da OIT, que dispe a respeito das repercusses sociais dos novos mtodos de processamento de cargas nos portos e a Recomendao 145, bem assim, a ttulo de referncia, as Convenes 148 (sobre o ambiente de trabalho) e 152 (sobre a segurana, sade e higiene do trabalho porturio). Em conformidade com a Conveno 137 (de 1973, somente passando a integrar o ordenamento jurdico interno, contudo, em 1995), compete poltica nacional encorajar a garantia de um emprego permanente ou regular para os porturios, oferecendo-lhes prioridade na obteno de trabalho nos portos e adotando medidas que atenuem o impacto do desenvolvimento tecnolgico sobre o nmero de vagas para os operrios.

3. Modalidades

O trabalho porturio envolve as atividades de (arts. 26 e 57, 3, da Lei 8.630/1993):

I - Capatazia: a atividade de movimentao de mercadorias nas instalaes de uso pblico, compreendendo o recebimento, conferncia, transporte interno, abertura de volumes para a conferncia aduaneira, manipulao, arrumao e entrega, bem como o carregamento e descarga de embarcaes, quando efetuados por aparelhamento porturio;

II - Estiva: a atividade de movimentao de mercadorias nos conveses ou nos pores das embarcaes principais ou auxiliares, incluindo o transbordo, arrumao, peao e despeao, bem como o carregamento e a descarga das mesmas, quando realizados com equipamentos de bordo;

III - Conferncia de carga: a contagem de volumes, anotao de suas caractersticas, procedncia ou destino, verificao do estado das mercadorias, assistncia pesagem, conferncia do manifesto, e demais servios correlatos nas operaes de carregamento e descarga de embarcaes;

IV - Conserto de carga: o reparo e restaurao das embalagens de mercadorias, nas operaes de carregamento e descarga de embarcaes, reembalagem, marcao, remarcao, carimbagem, etiquetagem, abertura de volumes para vistoria e posterior recomposio;

V - Vigilncia de embarcaes: a atividade de fiscalizao da entrada e sada de pessoas a bordo das embarcaes atracadas ou fundeadas ao largo, bem como da movimentao de mercadorias nos portals, rampas, pores, conveses, plataformas e em outros locais da embarcao.

VI - Bloco: a atividade de limpeza e conservao de embarcaes mercantes e de seus tanques, incluindo batimento de ferrugem, pintura, reparos de pequena monta e servios correlatos.

Nos termos do art. 26, o trabalho porturio ser executado por trabalhadores com vnculo empregatcio sem termo determinado ou por avulsos, salientando-se que a contratao na primeira hiptese para os servios de estiva, conferncia de carga, conserto de carga e vigilncia de embarcaes ter de ser feita dentre os trabalhadores porturios avulsos registrados.

Dispe o art. 56 que as instalaes porturias de uso privativo devero manter, permanentemente, a proporo entre trabalhadores avulsos e com vnculo empregatcio existente poca de entrada em vigor da Lei.

O art. 57 determinava que em cinco anos a prestao de servios por trabalhadores porturios deveria priorizar a progressiva multifuncionalidade do trabalho, visando adequao aos modernos processos de manipulao de carga e maior produtividade.

4. Atribuies do OGMO

As atribuies do rgo gestor esto delineadas, basicamente, nos arts. 18 a 22 da Lei 8.630/1993:

Art.18 - Os operadores porturios devem constituir, em cada porto organizado, um rgo de gesto de mo-de-obra do trabalho porturio, tendo como finalidade:

I - administrar o fornecimento da mo-de-obra do trabalhador porturio e do trabalhador porturio avulso;

II - manter, com exclusividade, o cadastro do trabalhador porturio e o registro do trabalhador porturio avulso;

III - promover o treinamento e a habilitao profissional do trabalhador porturio, inscrevendo-o no cadastro;

IV - selecionar e registrar o trabalhador porturio avulso;

V - estabelecer o nmero de vagas, a forma e a periodicidade para acesso ao registro do trabalhador porturio avulso;

VI - expedir os documentos de identificao do trabalhador porturio;

VII - arrecadar e repassar, aos respectivos beneficirios, os valores devidos pelos operadores porturios, relativos remunerao do trabalhador porturio avulso e aos correspondentes encargos fiscais, sociais e previdencirios.

Pargrafo nico. No caso de vir a ser celebrado contrato, acordo, ou conveno coletiva de trabalho entre trabalhadores e tomadores de servios, este preceder o rgo gestor a que se refere o "caput" deste artigo e dispensar a sua interveno nas relaes entre capital e trabalho no porto.

Art.19 - Compete ao rgo de gesto de mo-de-obra do trabalho porturio avulso:

I - aplicar, quando couber, normas disciplinares previstas em lei, contrato, conveno ou acordo coletivo de trabalho, inclusive, no caso de transgresso disciplinar, as seguintes penalidades:

a) repreenso verbal ou por escrito;

b) suspenso do registro pelo perodo de dez a trinta dias;

c) cancelamento do registro.

II - promover a formao profissional e o treinamento multifuncional do trabalhador porturio, bem assim programas de realocao e de incentivo ao cancelamento do registro e de antecipao de aposentadoria;

III - arrecadar e repassar, aos respectivos beneficirios, contribuies destinadas a incentivar o cancelamento do registro e a aposentadoria voluntria;

IV - arrecadar as contribuies destinadas ao custeio do rgo;

V - zelar pelas normas de sade, higiene e segurana no trabalho porturio avulso;

VI - submeter Administrao do Porto e ao respectivo Conselho de Autoridade Porturia propostas que visem melhoria da operao porturia e valorizao econmica do porto.

1 O rgo no responde pelos prejuzos causados pelos trabalhadores porturios avulsos aos tomadores dos seus servios ou a terceiros.

2 O rgo responde, solidariamente com os operadores porturios, pela remunerao devida ao trabalhador porturio avulso.

3 O rgo pode exigir dos operadores porturios, para atender a requisio de trabalhadores porturios avulsos, prvia garantia dos respectivos pagamentos.

Art.20 - O exerccio das atribuies previstas nos artigos 18 e 19 desta Lei, pelo rgo de gesto de mo-de-obra do trabalho porturio avulso, no implica vnculo empregatcio com trabalhador porturio avulso.

Art.21 - O rgo de gesto de mo-de-obra pode ceder trabalhador porturio avulso em carter permanente, ao operador porturio.

Art.22 - A gesto da mo-de-obra do trabalho porturio avulso deve observar as normas do contrato, convenes ou acordo coletivo de trabalho.

A essas disposies se adicionam aquelas contidas na Lei 9.719/1998, entre as quais merecem destaque:

Art. 2 Para os fins previsto no art. 1 desta Lei:

I - cabe ao operador porturio recolher ao rgo gestor de mo-de-obra os valores devidos pelos servios executados, referentes remunerao por navio, acrescidos dos percentuais relativos a dcimo terceiro salrio, frias, Fundo de Garantia do Tempo de Servio - FGTS, encargos fiscais e previdencirios, no prazo de vinte e quatro horas da realizao do servio, para viabilizar o pagamento ao trabalhador porturio avulso;

II - cabe ao rgo gestor de mo-de-obra efetuar o pagamento da remunerao pelos servios executados e das parcelas referentes a dcimo terceiro salrio e frias, diretamente ao trabalhador porturio avulso.

1 O pagamento da remunerao pelos servios executados ser feito no prazo de quarenta e oito horas aps o trmino do servio.

2 Para efeito do disposto no inciso II, o rgo gestor de mo-de-obra depositar as parcelas referentes s frias e ao dcimo terceiro salrio, separada e respectivamente, em contas individuais vinculadas, a serem abertas e movimentadas s suas expensas, especialmente para este fim, em instituio bancria de sua livre escolha, sobre as quais devero incidir rendimentos mensais com base nos parmetros fixados para atualizao dos saldos dos depsitos de poupana.

3 Os depsitos a que refere o pargrafo anterior sero efetuados no dia 2 do ms seguinte ao da prestao do servio, prorrogado o prazo para o primeiro dia til subseqente se o vencimento cair em dia em que no haja expediente bancrio.

4 O operador porturio e o rgo gestor de mo-de-obra so solidariamente responsveis pelo pagamento dos encargos trabalhistas, das contribuies previdencirias e demais obrigaes, inclusive acessrias, devidas Seguridade Social, arrecadadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, vedada a invocao do benefcio de ordem.

5 Os prazos previstos neste artigo podem ser alterados mediante conveno coletiva firmada entre entidades sindicais representativas dos trabalhadores e operadores porturios, observado o prazo legal para recolhimento dos encargos fiscais, trabalhistas e previdencirios.

6 A liberao das parcelas referentes dcimo terceiro salrio e frias, depositadas nas contas individuais vinculadas, e o recolhimento do FGTS e dos encargos fiscais e previdencirios sero efetuados conforme regulamentao do Poder Executivo.

5. Jornada noturna

A Lei 7.002/1982 permite s administraes dos portos o estabelecimento, para servios de capatazia, de jornada noturna especial, com durao de seis horas e adicional de 50%. J o art. 4 da Lei 4.860/1965 dispe que, para o porturio, o horrio noturno o compreendido entre as 19:00 e as 07:00 h, sem reduo ficta.

6. Adicional de riscoQuando em rea de risco (incluindo-se insalubridade e periculosidade) o trabalhador tem jus a um adicional de 40%, proporcional ao tempo efetivo no servio que envolva a sujeio ao risco. Este adicional, em face de limitao contida na Lei 4.860/1965, no incide sobre as horas extras.

7. Competncia

Originalmente, a competncia da Justia do Trabalho no alcanava as relaes entre os trabalhadores avulsos e os OGMO, o que foi alterado desde 2000, com a introduo do inciso V no art. 652 da CLT.

CARRION, Valentin. Comentrios Consolidao das Leis do Trabalho Legislao Complementar e Jurisprudncia. 28. edio. So Paulo: Saraiva, 2003.