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DAVID SALLES Por ITANA NOGUEIRA NUNES http://www.e-book.uefs.br http://www.linguagens.ufba.br https://issuu.com/e-book.br/docs/folhetim5 Uma publicação e-book.br Junho | 2018 FOLHETIM 5 Ano 3 | Número 5 5 E A TEORIA REGIONALISTA (CENAS LITERÁRIAS BAIANAS NOS SÉCULOS XIX E XX)

E A TEORIA REGIONALISTA FOLHETIM · 2020. 5. 29. · Professora Adjunta de Literatura Brasileira e de Língua Portuguesa da Universidade do Estado da Bahia (1994). Especialista em

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DAVID SALLES

PorITANA NOGUEIRA NUNES

http://www.e-book.uefs.brhttp://www.linguagens.ufba.br

https://issuu.com/e-book.br/docs/folhetim5

Uma publicaçãoe-book.br

Junho | 2018

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Ano 3 | Número 5

5 E A TEORIA REGIONALISTA (CENAS LITERÁRIAS

BAIANASNOS SÉCULOS XIX E XX)

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5 5 Folhetim é uma publicação semestralda e-book.br, destinadadaa disponibilizar um artigopor número nos seus sites

e na plataforma https://issuu.com.Por constituir um instrumentoacadêmico de largo alcance

na divulgação de textos,a editoria poderá selecionar textos

inéditos ou publicados,considerados de interesse.

Issuu.com é uma plataformacriada em Copenhagen, na Dinamarcae depois sediada nos Estados Unidos,

que publica milhares de livros,jornais e revistas de leitura gratuita.

Segundo a edição inglesa da Wikipedia,o site registra cerca de 100 milhões

de leitores mensais em todo o mundo.

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ISSN 2525-8591

CENAS LITERÁRIAS BAIANASNOS SÉCULOS XIX E XX

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5 5 Ano 3 | N. 5 | Jun. 2018

ISSN 2525-8591

CONSELHO EDITORIAL

Adriano Eysen (UNEB)Cid Seixas (UFBA / UEFS)

Dante Lucchesi (UFF)Flávia Aninger Rocha (UEFS)

Moanna Brito S. Fraga (UESB)Myriam Barbosa da Silva (UFBA)

Editor:Cid Seixas

Nossos sites:www.e-book.uefs.br/folhetim

www.linguagens.ufba.br/folhetimE-mail do editor:

[email protected]

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e-book.brEDITORA UNIVERSITÁRIA

DO LIVRO DIGITAL

Itana Nogueira Nunes

DAVID SALLESE A TEORIA REGIONALISTA

DAVID SALLESE A TEORIA REGIONALISTA

(CENAS LITERÁRIAS BAIANASNOS SÉCULOS XIX E XX)

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5 5 ITANA NOGUEIRA NUNESITANA NOGUEIRA NUNES ITANA NOGUEIRA NUNES

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ITANA NOGUEIRA NUNES ITANA NOGUEIRA NUNES

Professora Adjunta de Literatura Brasileira e deLíngua Portuguesa da Universidade do Estado daBahia (1994). Especialista em Estudos Literáriospela Universidade Estadual de Feira de Santana(1994), Mestra (1998) e Doutora (2004) em Letraspela Universidade Federal da Bahia. Coordenadorado Curso de Língua Inglesa e Literaturas da UNEB-UNEAD. Tem publicações em revistas nacionais einternacionais sobre temas de Literatura Brasileira,Crítica Literária e Tecnologias para a Educação. Foiainda, durante alguns anos, professora em outrasfaculdades da rede partricular de ensino.

ITANA NOGUEIRA NUNES ITANA NOGUEIRA NUNES

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SUMÁRIO

O crítico David Salles .................................... 9

Leituras críticas sobre Xavier Marques,Adonias Filho e Jorge Amado .................. 14

Saveiros no Mar Grande ...................... 15

O ficcionista Xavier Marques:um estudo da transição ornamental ...... 24

Romance e regionalismona saga do cacau ...................................... 28

Uma teoria regionalista ............................... 38

Cronologia .................................................. 49

Referências ............................................... 53

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David Salles: foto ilustrativa da coluna do autorno Jornal da Bahia.

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O CRÍTICO DAVID SALLES

Não tivesse sido tão precocemente recolhidodesta vida, ainda no auge da sua capacidade inte-lectual, o crítico e ficcionista baiano Jesus DavidSalles de Souza completaria 80 anos neste ano de2018.

Nascido em 1º de maio de 1938, em CastroAlves, no interior da Bahia, ainda adolescente veiopara a Salvador para estudar no Colégio da Bahia,posteriormente denominado Colégio Central, umdos centros educacionais de maior efervescênciacultural e artística dos idos dos anos 50 e 60 daBahia, onde conviveu e compartilhou ideias com osconhecidos Glauber Rocha e Paulo Gil Soares, en-tre outros importantes intelectuais da época.

A carreira de David Salles, apesar de relativa-mente curta (28 anos de atuação literária), deixou

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5 5 como legado um extraordinário testemunho doseventos culturais e artísticos das gerações de 60,70 e início dos anos 80 no século passado. Seusestudos críticos e teóricos trazem na sua essênciamuito do que se viu e se vivenciou naquele períodode tantas mudanças sociais, políticas, históricas eeconômicas tão expressivas para o Brasil.

Salles deixou registrada a sua vasta atuação nosassuntos da crítica literária em centenas de artigospublicados tanto em jornais locais como o Jornalda Bahia, o Diário de Notícias e A Tarde, quantoem outros jornais do Brasil, como O Estado deSão Paulo e o Minas Gerais Suplemento Literá-rio.

Além da sua ampla e preciosa produção acadê-mica, publicada também em livros, atuou ainda comoficcionista, poeta e contista, participando inclusivede uma coletânea de contos ao lado de autorescomo João Ubaldo Ribeiro, Sonia Coutinho eNoênio Spinola.

A sua contribuição ao longo do tempo em queescreveu crítica literária em jornais está na capaci-dade analítica com que estudou diversos temas danossa literatura, a exemplo do seu valoroso estudosobre o Regionalismo.

Alguns dos seus ensaios críticos foram tomadoscomo referência para o estudo da obra de XavierMarques (um dos ficcionistas mais representativosdo Regionalismo e da literatura praieira na Bahia)

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por autores consagrados como Alfredo Bosi, JoséAderaldo Castello, Massaud Moisés, AfrânioCoutinho, José Guilherme Merquior entre outroshistoriadores da literatura brasileira.

Eduardo Portella, conceituado crítico literário,também teceu elogios sobre a sua técnica narrativaque misturava traços de lirismo a pitadas de ironia.

Em verdade, conforme prova o seu largo em-preendimento na pesquisa sobre autores baianos,os ensaios de David Salles já compõem parte dahistória literária da Bahia, o que era, certamente,um dos seus principais objetivos como intelectualdas nossas letras, pois nosso autor não poupou es-forços e dedicação a alguns importantes temas eescritores que fizeram parte da cena cultural baiananos séculos XIX e XX.

Os seus estudos sobre Xavier Marques, JorgeAmado e Adonias Filho, por exemplo, nos dão umavisão ampla da sua sólida fundamentação teóricasobre o regionalismo (influenciada pela sua forma-ção sociológica), tanto em termos nacionais quantolocais, que é o caso do regionalismo de feiçãograpiúna, conhecido também como “Literatura doCacau”.

A partir do modelo do regionalismo grapiúna,depreendido principalmente das obras de ficção deAdonias Filho e de Jorge Amado, o crítico baianoretoma o projeto nacionalista de Alencar, antes paradiscutir as questões conceituais sobre o regionalis-

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5 5 mo, e depois para apontar a antiga questão da ten-são ambivalente entre imitação e originalidade noprojeto identitário da nação brasileira.

São muitas as aproximações teóricas entre asideias de David Salles e José de Alencar sobre aconstrução identitária do povo brasileiro. Alencar,a seu tempo, num espectro mais amplo, tratou inici-almente de buscar a afirmação dos valores regio-nais do seu povo através de uma forma de regiona-lismo sem fronteiras geográficas, para tanto, invari-avelmente oscilou entre o centro e a periferia, entrea dependência e a autogênese. David Salles vai in-dicar que a trajetória do projeto alencariano do sé-culo XIX, se estende por todo século XX, numa“crescente intensidade amalgamadora”, cada vezmais proximamente ligada à literatura. E, para Salles,é através da manifestação regionalista que a nossacultura irá transpor a sua condição periférica a umpasso cultural mais avançado, para assim atingir-mos um melhor nível de auto-reconhecimento.(Salles, 1971)

Os estudos e publicações de David Salles forampauta da minha tese de doutoramento David Salles:da crítica de rodapé à crítica universitária apre-sentada ao Programa de Pós-graduação em Letrase Linguística da Universidade Federal da Bahia eorientada pelo professor doutor Cid Seixas, a quemdevo, além do valoroso norteamento intelectual, a

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indicação do nome do crítico para o estudo. Comohomenagem aos 80 anos de nascimento do autorsurgiu este artigo que retoma o velho tema.

A pesquisa de fôlego intenso e aguçado sensocrítico deixada por David Salles ainda é campopouco explorado, não fazendo justiça ao volume,profundidade e cuidado de suas análises.

É, pois, solo fértil para interessados em conhe-cer melhor certos aspectos da literatura baiana edo regionalismo literário.

David Salles viajou muitas vezes para São Pau-lo na tentativa de encontrar o tratamento e a curapara a leucemia. Morreu em 17 de agosto de 1986,com 48 anos de idade, dos quais quase trinta foramdedicados à pesquisa, à ficção e à crítica literária.

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5 5 LEITURAS CRÍTICASSOBRE XAVIER MARQUES,

ADONIAS FILHOE JORGE AMADO

A partir das leituras de: Saveiros no Mar Gran-de: a continuidade do herói incorrupto segundoJorge Amado e Xavier Marques (1971), OFiccionista Xavier Marques: um estudo da“transição ornamental” (1977) e Romance eRegionalismo na Saga do Cacau (1982), do au-tor baiano David Salles, e da apresentação e sele-ção de algumas ideias que estes textos trazem à luzsobre os autores Xavier Marques, Adonias Filho eJorge Amado, e de forma mais ampla, sobre as-pectos da cultura nacional, apresentamos nesteensaio um mapeamento dos pontos de vista críticose do que podemos chamar de uma “teoriaregionalista” elaborada pelo nosso crítico.

A escolha destes três escritores para análise sedá pelo volume significativo de pesquisa realizada

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pelo crítico David Salles sobre estes representan-tes do regionalismo brasileiro, em especial sobreXavier Marques, que conferiu ao autor um desta-que em termos nacionais, e o levou a um reconhe-cimento nacional renomados da literatura brasileiracomo fonte de pesquisa sobre o romancista.

SAVEIROS NO MAR GRANDE (1971)

O primeiro destes ensaios, em ordem cronoló-gica, corresponde à dissertação de mestrado queDavid Salles apresentada ao Curso de CiênciasHumanas da Universidade Federal da Bahia emdezembro de 1971, cujo título original é Saveirosno Mar Grande, o homem do mar no Recôncavobaiano segundo Jorge Amado e Xavier Marques:um exemplo da continuidade literária do heróiincorrupto, orientado pelo professor Antônio deAssis Barros.

Apesar do explícito reconhecimento do caráterautônomo e independente da literatura, nesta pes-quisa, Salles parte do pressuposto de que a ficçãopode ser um excelente campo de trabalho para asociologia, apresentando, assim, os romances deXavier Marques (Jana e Joel, 1899) e Jorge Ama-do (Mar Morto, 1936), como fontes para este es-tudo de base socioliterária.

Ainda que reafirmasse as diferenças categóricasentre estes dois conhecimentos, a Literatura e a

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5 5 Sociologia, porque tivesse na sua formação ciênciade ambos, David Salles, apoiando-se nas teoriasde Antonio Candido a respeito da Sociologia daLiteratura, ainda recentes por aquela época (Lite-ratura e Sociedade, de 1967), elege dois meiosoperatórios para analisar os romances dos doisescritores baianos. O primeiro consiste em fazera descrição dos vários aspectos da sociedade re-fletidos nestas obras; o segundo, conduz a umaanálise da relação dos escritores com a naturezade suas produções e destas com a organizaçãoda sociedade.

O método de análise apresentado neste estudoestá voltado para a apreensão do texto em si. Oque irá reafirmar a tendência de Salles a aborda-gem imanente, forma de verificação literária que podeser detectada em grande parte dos seus escritostanto da crítica de rodapé (jornalística), quanto dacrítica acadêmica. Assim, nestas análises sãodesconsiderados quaisquer “conceitos pré-estabe-lecidos” sobre as obras ou autores em questão,apresentando apenas os referidos textos destes au-tores como objetos da análise.

Dois problemas, contudo, se apresentaram a talempresa num primeiro momento: em primeiro lugara mudança do aspecto geográfico social baiano,reduzido em alguns pontos quase que somente àhistória, imporia certa dificuldade à análise do ro-mance de Xavier Marques que é do século XIX;

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em segundo, a escassez de estudos sobre a vidasocioeconômica no recôncavo baiano, palco dosdois romances, à exceção da tese de Luiz de AguiarCosta Pinto, Recôncavo: laboratório de uma ex-periência humana, de 1958, o que também torna-ria a análise mais arriscada.

Embora enxergasse tais limitações, David Sallestoma como finalidade principal a extração dos as-pectos sociais das obras em si mesmas, se lançan-do num trabalho de reconstrução do sistema de vidado homem do mar do Recôncavo baiano:

O que então intentamos, tomando por baseas obras em si mesmas, foi um esforço de redu-zir à linguagem conceitual e objetiva – com apoionas lições da Ciência da Comunicação, sobrelinguagem e subjetividade – o material ficcionalde Mar Morto e Jana e Joel, a fim de retirartoda a carga afetiva que, nele, óbvia e necessa-riamente, pela própria natureza da criaçãoficcional, foi impregnado por Jorge Amado eXavier Marques. (Salles, 1971, p. 5)

A partir daí Salles elabora a reconstituição dosistema de vida dos saveiristas, canoeiros e pesca-dores do mar do Recôncavo tal como este se apre-senta nas obras, transcrevendo passagens inteirasdos romances para realizar tal descrição. Esta seconstitui a primeira parte do ensaio.

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5 5 Salles utiliza o termo “Recôncavo” para delimi-tar o alcance geográfico destes romances baseadona conceituação de Costa Pinto que o define como“a região que circunda a Baía de Todos os Santos”,sendo a “zona da pesca e saveiro” uma das suassub-áreas.

Na sequência do estudo, o autor irá analisar essesistema de vida e a posição de Marques e Amadoem relação a este sistema. Ou seja, analisa a vidadestes homens do mar em relação aos padrões so-ciais, econômicos e tecnológicos vigentes na socie-dade industrial e burguesa no Brasil, emergente des-de o século XIX, com vistas a atitude aprovadoradeste sistema observada nos autores de Mar Mor-to e Jana e Joel.

Com isso o autor irá defender a ideia de que taiscomunidades guardam ainda as características deuma sociedade primitiva, baseada na “solidarieda-de” não assimilando portanto a sociedade tecno-lógica ou de “serviço”, o que corresponde a dizerque as formas de sociedade apresentadas nos ro-mances foram idealizadas pelos dois romancistas.

Não obstante, não se percebe no autor uma pre-ocupação em verificar se este sistema de vida exis-te ou existiu na realidade. Afastando-se, assim, apossibilidade de ter sido este um estudo meramen-te sociológico. Entretanto, quis o autor saber por-que na visão de Xavier Marques e Jorge Amadoessa “realidade idealizada” é lírica e positivamente

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vista como válida social e culturalmente para os seuspersonagens, que se mostram livres dos conflitossociais.

Serviram de bases teóricas para a análise dosdois romances, além dos conceitos de Sociologiasobre “organização social” e “grupo social”, retira-dos principalmente dos textos de FlorestanFernandes (Sociologia, 1960) e Antônio Luís Ma-chado Neto (Teoria do Direito e Sociologia doConhecimento, 1965), os textos de RaymondWilliams (Cultura e Sociedade, 1969), de LucienGoldmann (Sociologia do Romance, 1967), deGeorg Lukács (La Theorie du Roman, 1963) e deAntonio Candido (Literatura e Sociedade, 1967e Tese e Antítese, 1964).

Retomando a tese defendida por Salles sobre ostatus concedido ao homem do mar e a valorizaçãoda sua permanência no mar, percebemos que taisconclusões estão relacionadas ao caráter gregárioe imobilista do grupo. Pois tanto para Marques,quanto para Amado, quem era do mar não traba-lhava na terra, devendo nele permanecer para quese perpetuasse essa tradição, o que representa umaatitude valorização do mar em relação à terra.

Analisando alguns aspectos estruturais deSaveiros no Mar Grande observa-se um estilo deescrita que se distingue, em determinados aspec-tos, dos outros trabalhos de cunho universitário doautor. Nele, a recorrência quase que total aos tex-

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5 5 tos de criação de Xavier Marques e Jorge Amado(que ocupam bem mais da metade do corpo doensaio) é a estratégia de comprovação do autor,tecendo através de fragmentos dos próprios textosliterários a sua escrita, não destacando nunca a lo-calização das citações, a não ser pelas aspas, cons-tantemente utilizadas dentro do seu próprio discur-so, como se vê no trecho a seguir:

Vivendo “sua infância de junto do mar”, cadafilho de saveirista, canoeiro ou pescador terá ofuturo “já traçado pelo destino do pai, do tio,dos companheiros, de todos os que o rodea-vam naquela beira de cais: seu destino era o mar”(Mar Morto, 49 e 51). E será projeto do pai(como é o de Guma), do tio (como o fora demestre Francisco para com Guma), etc., etc.,“conduzir a criança nas suas viagens, de cedolhe ensinar a manejar o barco” (Mar Morto, 220).(Salles, 1971, p. 21)

E num trecho seguinte também utilizado porSalles:

Os liames grupais e familiares estão presen-tes desde o primeiro instante da iniciação nosmistérios do mar: “agora o filho começava a an-dar, brincava de barcos que o velho Franciscofazia” (Mar Morto, 220). Ou desde a breve in-

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fância, quando “já estaria então acostumado comas velas, com as quilhas dos barcos, com as can-ções do mar e os apitos dos navios” e então élevada nas viagens para “de cedo lhe ensinar amanejar o barco” (Mar Morto, 210). No cais,os jogos infantis têm a mesma motivação, “con-tando aventuras de pesca, falando a língua es-tranha dos marítmos, fazendo apostas sobrecorridas de barcos” (Mar Morto, 50). E, alémdisso, há pouco tempo para aprendera ler e es-crever. Como Guma, “não levavam lá, ele e osdemais filhos de mestres de saveiros e canoeiros,mais que o tempo de soletrar uma carta e gara-tujar um bilhete” (Mar Morto, 50). [...] (Salles,1971, p. 25)

Um outro aspecto que chama a atenção é que,apesar de ser este um trabalho de abordagemmarcadamente sociológica, nele podem ser visua-lizadas as primeiras pistas para a fundamentaçãodas reflexões críticas literárias que reapareceriamnos seus estudos posteriores, O Ficcionista XavierMarques e Romance e Regionalismo na Saga doCacau.

Uma destas pistas é a observação do autor so-bre o caráter ambíguo do projeto ideológicoregionalista encontrado nestes romances no que serefere à tensão entre a tradição da vida na socieda-de “solidária” e a vida na sociedade de “serviço”

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5 5 onde está o progresso, tema que será retomado commaior fôlego no estudo desenvolvido em Romancee Regionalismo, de 1982; uma outra está relacio-nada à constatação da resistência da comunidadeou “nação” (como irá nomear a comunidadegrapiúna), à penetração do domínio cultural, con-servando sempre os seus valores grupais.

Entre outros temas tratados no estudo do autorestá a condição de inferioridade da mulher nestesistema de vida social, levando-a a aceitar, pelo to-tal envolvimento cultural, os padrões masculinos, aosquais ela deveria se acomodar em favor de um “ajus-tamento conjugal” pleno à noção de fidelidade epermanência no mar. Neste sistema, restavam àmulher pouquíssimas alternativas de sobrevivência.Não tendo um homem (do mar) como seu, estamulher dispunha de duas alternativas: prostituir-seou enfrentar o trabalho duro de doméstica, lavadei-ra ou cozinheira de algum estabelecimento. (Salles,1971)

Salles destaca, entretanto, no caso específico deMar Morto, uma abertura da perspectiva de as-censão social da mulher no grupo, representada atra-vés da figura de Lívia, mulher de Guma. Tal repre-sentação, porém, se configura uma exceção, poisLívia não pertencia, verdadeiramente àquele gruposocial, não devendo seguir, portanto, os padrõescomunitários prevalecentes. De todo modo, o au-tor constata, que a situação sexual da mulher, nes-

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tes romances é de total inferioridade e dependênciaem relação ao homem.

Conclui o autor que o “imobilismo social e pro-fissional” destes grupos, cujos “heróis ficcionalmenterecriados” (saveiristas, canoeiros e pescadores) sãoos principais representantes, leva a uma decadên-cia lenta e irreversível. Daí a recriação dos perso-nagens como heróis, que tentam até o fim a sobre-vivência do grupo e de todos os valores culturais aele inerentes.

Na segunda e última parte da dissertação, apósa exposição do sistema de vida dos “homens domar” do Recôncavo, são lançadas questões acercadas estruturas socioculturais apontando atitudessemelhantes em romances “díspares” como MarMorto (século XX) e Jana e Joel (século XIX),com autores igualmente “dispares” em estilo, épo-ca e cosmovisão.

Nos dois romances, apesar de tais disparidades,tem-se a mesma temática; a mesma defesa ou apro-vação ao sistema de vida dos homens do mar; anão valorização às mudanças culturais, sociais, eco-nômicas que levariam a um melhor padrão de vida;a ascensão na escala social não é almejada pelosheróis de ambos, que são igualmente incorruptíveis,conservadores e primitivos, não tendo, portanto, aintenção de mudar o mundo conforme o “modelode herói” que se conhece.

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5 5 O FICCIONISTA XAVIER MARQUES:UM ESTUDO DA ‘TRANSIÇÃO’ORNAMENTAL (1977)

O estudo intitulado “A Ficção Romântica naBahia”, desenvolvido por David Salles e apresen-tado ao Instituto de Letras da Universidade da Fe-deral Bahia para o concurso de professor titular deLiteratura Brasileira em 1985, representa um perí-odo de doze anos de pesquisa sobre o tema daficção na Bahia no século XIX.

O autor chama atenção para o caráter de des-coberta do estudo o que justifica a imprecisão nosbastidores da investigação e a possível existênciade lacunas.

Os anos desta exaustiva pesquisa iniciada em1969 não foram contínuos. Foram divididos em doisblocos: o primeiro que durou de 1969 a 1975 e osegundo que foi de 1981 a 1985 (período que co-incide com a sua ida aos Estados Unidos para de-senvolver atividades acadêmicas), o que revela quedurante praticamente toda a sua vida intelectualDavid Salles esteve dedicado à pesquisa literária.

O interesse primordial desta pesquisa, segundoo autor, seria o de fazer um relato histórico paratornar conhecidos os ficcionistas baianos do séculoXIX considerados narradores pertencentes ao es-tilo romântico, que tenham produzido até o ano de1880, recorte temporal da sua pesquisa.

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Um outro propósito seria a definição deste per-fil historiográfico de forma interpretativa com vistasa favorecer às análises da trajetória estética e cultu-ral da narrativa de ficção na Bahia.

A tese é composta por uma advertência crítica,que corresponde a um prólogo, uma introdução emais três capítulos: “Questões de Existência e Exer-cício”; “Os Primórdios Desajeitados” e “O Roman-tismo Pleno ou a Ficção dos Sentimentos Malfada-dos”. O capítulo conclusivo é assinalado com o tí-tulo de “O Risco dos Descompassos”.

Dois livros de David Salles comportam os re-sultados parciais desta pesquisa que são Primei-ras Manifestações da Ficção na Bahia (1973) eO Ficcionista Xavier Marques: um estudo datransição ornamental (1977). Além de livros, tam-bém outras publicações de caráter universitáriocomo o artigo publicado na Revista Universitas(Separata maio/dezembro de 1969) que traz comotítulo Xavier Marques: fatos pessoais (para umabiografia literária), onde registra fatos biográfi-cos de Xavier Marques, diversos deles, até aqueleépoca, desconhecidos ou divulgados de forma equi-vocada. Muitos dos dados apresentados por Sallessão escritos pelo próprio punho do escritor baiano,outros, coletados em noticiários de jornais da épo-ca, além dos depoimentos concedidos pela filha deXavier Marques, Rute Xavier Marques, que con-cedeu o material redigido pelo pai para que Salles

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5 5 complementasse a sua pesquisa. Alguns destes es-critos estavam registrados, segundo o autor, empedaços de papéis avulsos em uma agenda médicade 1904 “em letra miúda e um pouco tremida”.

A alusão a tais pesquisas, contudo, serve aqui,apenas para uma apresentação do livro O Ficci-onista Xavier Marques: um estudo da transiçãoornamental (1977), que é o segundo alvo para aanálise da pesquisa acadêmica de Salles.

Este livro é o texto revisto e corrigido publicadooriginalmente em 1974, como tese de concurso paraProfessor Assistente de Literatura Brasileira daUniversidade Federal da Bahia.

Este estudo de Salles sintetiza a natureza do pro-jeto estético e ideológico de Xavier Marques noperíodo de “transição” do final do século XIX parao modernismo. Iniciado em 1968, por sugestão docrítico Eugênio Gomes, mostra o romancista XavierMarques em sua própria época, inclusive no que serefere à sua visão de mundo e seu enfoque estético,visando buscar o ficcionista em si mesmo, assimcomo a obra em si, sinalizando a sua preferênciapelo método imanente para análise dos textos.

Desejando realizar um já iniciado estudo geralda trajetória literária da ficção na Bahia, David Sallesinforma que Xavier Marques foi o primeiro escritora integrar à cena ficcional a paisagem e os persona-gens da Bahia em romances e contos, sendo, por-tanto, fundador desta temática. Traz à cena a cida-

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de do Salvador e o Recôncavo, a vida praieira e ociclo da cana-de-açúcar, marcando o primeiro mo-mento significativo da narrativa na literatura baiana.

O livro está dividido em duas partes principais.A primeira realiza um estudo da estilística exclusi-vamente formal, observando o vocabulário orna-mental, castiço e erudito do autor; a técnica de com-posição frasal de matriz clássica; as inversões retó-ricas na sintaxe e a incidência reiterada e “saturante”das figuras de estilo. A segunda, uma abordagemcrítica do objeto em análise. Como lastro teóricopara tais análises apresenta as teorias de GeorgLukács e Lucien Goldmann. David Salles chama aatenção para o cuidado que teve durante o estudopara que não fosse contaminado pela vontade deanalisar o texto segundo a sua visão de mundo e oseu gosto literário que estavam situados num outroperíodo, fazendo valer apenas o que se revelava nahistoricidade dos textos do ficcionista. Não usouassim, nenhum aparato crítico em vigor na sua épo-ca, tomando o texto literário como realidade autô-noma.

O estudo aborda todos os livros de ficção deXavier Marques, à exceção de Pindorama, O Sar-gento Pedro e Terras Mortas. Nas palavras deSalles, este é “um texto crítico que busca primeiroexplicar e teorizar sobre o ficcionista, entendendo-o como expressão literária brasileira, para depoisentão relacioná-lo com os seus arquétipos”. Entre-

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5 5 tanto, nos adverte David Salles, que neste estudoesta última parte não foi contemplada.

Em suma, tem-se que, no montante de textosem que David Salles apresenta as suas teorias, nosé revelada a ambição do autor em conhecer a rea-lidade literária brasileira em seus aspectos regio-nais, ideológicos e sociais em diversos momentosda nossa história. Nestes textos, a aparição reitera-da de algumas opiniões críticas, mostra, de certomodo, uma consolidação evolutiva de seus argu-mentos que se formaram ao longo das exaustivaspesquisas realizadas no seu percurso crítico.

ROMANCE E REGIONALISMONA SAGA DO CACAU (1982)

Romance e Regionalismo na Saga do Cacaurepresenta a fase de maior amadurecimento deideias da crítica Sallesiana.

Ao lermos a tese de doutoramento em Literatu-ra Brasileira apresentada à Universidade de SãoPaulo em 1982, encontramos logo no início comoesclarecimento sobre os dois principais modelosteóricos que inspiraram tal trabalho, uma alusão aosescritores José de Alencar e Mário de Andrade,leituras que certamente aguçaram a natureza emi-nentemente crítica de David Salles, contribuindo nafertilização de ideias e norteando os caminhos aserem percorridos nos estudos sobre o regionalis-

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mo literário. Na nota que antecede o texto da teseinforma que:

O autor reconhece a presença nesta indaga-ção crítica daqueles que o precederam com omesmo propósito permanente. Em especial Joséde Alencar e Mário de Andrade. Pelas fontes,agradece a Jorge Amado e Adonias Filho,grapiúnas brasileiros. (Salles, 1982, p. 5)

Neste texto o autor retoma a saga da literaturagrapiúna em seus conceitos e articulações, tendocomo fontes literárias para a sua discussão os ro-mances Cacau (1933), Terras do Sem Fim (1943),São Jorge dos Ilhéus (1944) e Gabriela Cravo eCanela (1958), de Jorge Amado, e mais, CorpoVivo (1962), a novela Léguas da Promissão(1968) e As Velhas (1975) de Adonias Filho.

Considerando o regionalismo grapiúna como ummodelo plenamente satisfatório para o estudo damanifestação do regionalismo literário nacional,Salles discute neste texto o alcance deste fenôme-no que, desde o Romantismo, se instalou no textoliterário de forma mais acentuada, não somentena nossa como também em outras literaturas noBrasil.

Numa perspectiva histórica o mais remota pos-sível, Salles toma como momento da primeira apa-rição do fenômeno regionalista na nossa literatura a

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5 5 própria Carta de Pero Vaz de Caminha, em 1500.Naquele instante instaurava-se o regionalismo cap-tado através da representação literária das nossasbelezas e estranhezas, que já continha desde as suasprimeiras palavras um dos componentes básicos doregionalismo: a paisagem traduzida de forma afetiva.

Entretanto, adverte Salles, em termos concre-tos, o marco inicial do regionalismo brasileiro estásituado na segunda metade do século XX, com osurgimento de O Gaúcho (1870), de José deAlencar. A partir daí, tomando como base o textoficcional, tornou-se possível uma identificação dasintenções desta manifestação cultural e ideológicana nossa literatura.

Este estudo sobre o Regionalismo é apresenta-do em três partes, subdivididas em capítulos. A pri-meira parte, referindo-se ao regionalismo nacional,toma como ponto inicial os relatos da Carta de PeroVaz de Caminha ao Rei D. Manuel, pioneiros nadescrição da nossa paisagem e da nossa gente,mapeando em seguida os diversos projetosidentitários desenvolvidos no Brasil. Sinaliza tam-bém os problemas sócio-culturais que geraram ofenômeno regionalista.

A segunda parte discute, particularmente, o re-gionalismo pertencente à literatura grapiúna, nos seusconceitos, articulações, peculiaridades.

A terceira e última, apresentando um estudo maisespecífico da articulação romanesca dentro desta

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vertente regionalista, analisa a trama e o tempo,como recuperadores da “promessa edênica do ca-cau” existente na literatura regionalista grapiúna.

Confrontando o imenso volume de manifesta-ções regionalistas na literatura brasileira com a par-ca produção crítica sobre o tema existente no Bra-sil, Salles destaca a necessidade de se decifrar estefenômeno nas suas mais diversas formas de apari-ção. Utilizando este argumento, o crítico desenvol-ve um estudo amplo onde discute de forma bastan-te fundamentada (social, histórica e culturalmentefalando), questões relativas ao conceito, à evolu-ção e às formas de aparição do regionalismo nasobras de Jorge Amado e Adonias Filho, mais espe-cificamente aquelas sobre o ciclo do cacau.

Duas outras importantes bases teóricas utiliza-das por Salles para o exame desta manifestaçãoliterária foram Theodor Adorno e Lucien Goldmann,ambos como referenciais para a discussão dos as-pectos sociológicos da literatura regionalista.

As formulações são apresentadas ao longo doestudo de forma sistemática. Parte das causas queimpulsionaram a manifestação regionalista nos tex-tos literários, buscando mostrar que a essência destefenômeno dentro da própria literatura é de naturezacultural e ideológica, visando assim, a caracteriza-ção brasileira da imagem do outro enquanto sercultural, ocupante de um determinado espaço geo-gráfico.

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5 5 O regionalismo é concebido por Salles comoalgo que nasce da diferenciação cultural entre ospovos, da expressão do seu projeto ideológico atra-vés da literatura para afirmar os seus valores, assuas particularidades, e, principalmente, o reconhe-cimento de uma identidade cultural que se querengajada num contexto mais amplo.

Um outro objetivo de Salles ao desenvolver estaanálise foi a interpretação da intersecção do “literá-rio” como categoria e do “regionalista” como pro-jeto, nas citadas obras de Jorge Amado e AdoniasFilho.

Os capítulos do seu estudo são intitulados como:1) Proposição Crítica; 2) O Regionalismo comoProblema da Literatura Brasileira; 3) O Regionalis-mo do Cacau: a representação diferenciada do es-paço grapiúna e 4) A Articulação Romanesca doRegionalismo Grapiúna. Todos os títulos, portanto,tencionam traduzir quase plenamente os temas queaborda, justificando com eles a utilização das obrasde referência da saga do cacau para a sua análise.

A partir do modelo de regionalismo encenadopela literatura do cacau, David Salles apresenta aprosa ficcional como a principal forma de expres-são de um povo, tendo em vista ser a forma roma-nesca reconhecidamente mais apropriada para re-tratar a interrelação existente entre a mímesis e aHistória. No caso específico da historicidadegrapiúna é esta última quem confere o estatuto de

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regionalista aos textos de Jorge Amado e AdoniasFilho.

Entretanto para o crítico, o discurso grapiúna nãose subjulga à História factual enquanto modelo, poistrata de projetar à História “um sentido novo, umamímese não fotográfica, que adquire caráter míticosob a ótica oracular da narrativa”. (Salles, 1982, p.267)

Mesmo assim, afirma, os dois autores (JorgeAmado e Adonias Filho) nestas narrativas de fic-ção utilizadas para explicar o fenômeno regionalistanão exprimem nenhum tipo de radicalismo ou ten-tativa de reconstrução de mitos do paraíso. Man-têm a tensão entre dependência e hegemonia, semsaudosismo, mas tentando sempre redescobrir aautonomia do seu pensamento, apesar de se sabernascido, entretanto, colonizado. (Salles, 1982)

Salles observa ainda, na representação ficcionaldos textos analisados, uma consciência crítica davoz narrativa regionalista, que parece jamais terdesconhecido as implicações contidas nos elemen-tos civilizatórios do modelo ocidental e modernode sociedade que reage contra a absorção destasformas de dominação. Assim, se por um lado o re-gionalismo parece aceitar o progresso, por outrose defende das mudanças ideológicas através doseu próprio discurso. A “nação” (região), comochamam Amado e Adonias, resiste à penetração dodomínio cultural. Quer aproximar-se dos centros de

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5 5 produção e reconhecimento cultural, mas ao mes-mo tempo rejeita-os, reafirmando os seus valores,a sua caracterização diferenciada. Nas palavras dopróprio Salles:

O regionalismo literário – e é bem o caso doregionalismo do cacau – não visa a ser um pro-cedimento literário de inflexão revolucionária, deruptura. (...) Entendemos que ele é uma expres-são crítica de resistência, que procura avançar apartir dos processos de tradicionalização (ouaculturação) e de tensão insolvida. A isto nãopodem escapar, afinal, todas as realidades de-pendentes, subdesenvolvidas e até mesmo jo-vens. (Salles, 1982, p. 268)

Com essa reflexão Salles além de mostrar o ca-ráter essencialmente dialético do regionalismo, rea-firma ser este fenômeno um processo de manifesta-ção de “espaços” periféricos. Dialético, por manteruma tensão ambivalente, como afirma, entre a imi-tação e a originalidade, entre a dependência e aautogênese.

Para Salles, o caminho do projeto ideológicoregionalista demonstra a sua complexidade em talambiguidade, ao negar a atração pelos centros hege-mônicos que prenunciam o progresso (intenção suatambém) e ao mesmo tempo reafirmar uma inde-pendência cultural, uma identidade própria.

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Nesta pesquisa de Salles são retomadas as dis-cussões sobre aspectos do Regionalismo apresen-tadas numa fase anterior em sua pesquisa demestrado, o que indica uma linha mestra seguidadentro deste tema pelo autor. Tais estudos, se ana-lisados hoje numa perspectiva global, representamuma tentativa de teorização sobre o regionalismona literatura.

Lembremos, contudo, que o regionalismo lite-rário se apresenta em várias literaturas, especial-mente àquelas do chamado terceiro mundo. Estainformação adquire destaque nesta análise, por in-dicar a similaridade de causas que levaram a nossacultura a instituir tal modelo de manifestação, ou seja,a acompanhar a trajetória de literaturas de outrospaíses, mais destacadamente, os latino-americanos,de características histórico-culturais semelhantes àsnossas.

É preciso explicitar também, que ao tomar comoponto central para o estudo o regionalismo grapiúna,ou seja, ao propor o que podemos chamar de um“estudo de caso”, o autor tinha como pretensãoproduzir algumas conclusões que viessem servircomo argumentações compreensivas sobre o fenô-meno regionalista num sentido mais amplo. Paratanto, parte de reflexões sobre o conceito de regio-nalismo e das causas que levaram à sua manifesta-ção no texto de criação literária, para depois che-

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5 5 gar aos aclaramentos necessários ao fenômeno par-ticular observado na literatura grapiúna.

O autor deixa claro no seu discurso não ter in-tenção de realizar apenas um paralelo que descre-va um confronto entre a “realidade representada”na trama ficcional e a própria história ou o seu ca-ráter sociológico. Para Salles, a “realidade repre-sentada”, ou seja, o texto literário, vale por si só.Ademais, mostra conhecer e bem os ensinamentosde teóricos como Lucien Goldmann e TheodorAdorno, onde ambos apontam para a impossibili-dade de ser a literatura usada abusivamente comoobjeto de demonstração da história. Da mesma for-ma, para estes teóricos, os conceitos formuladossobre os temas não devem ser trazidos de fora paradentro da literatura, mas sim serem imanentes, fluí-rem dela.

Confirma-se assim, a necessidade de compre-endermos a obra literária na sua significação pró-pria, sem submissões à história factual.

As pretensões de Salles neste seu estudo, nãovisam uma compreensão completa do fenômeno emquestão. Por isso mesmo o autor adverte o leitorsobre as limitações normais a qualquer estudo pio-neiro e ainda também à complexidade do objetosob análise, esclarecendo a intenção de apenas au-xiliar na iluminação do tema, a despeito de faltarestudos especificamente regionalistas em língua por-tuguesa. Acrescenta que pelo caráter flutuante do

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tema regionalista, será ele, ainda por muito tempo,palco para infinitas controvérsias ou mesmo diver-gências de interpretações.

Ao final o autor concebe a existência da mani-festação regionalista como “o retrato honesto deuma cultura periférica e pouco profunda”, entretan-to, alerta:

É pela manifestação regionalista que essa cul-tura busca assimilar a cultura predominante etranspor a sua condição periférica a um passocultural mais avançado – onde ela própria atin-girá, e melhor, um nível de conhecimento commais poder de abstração e auto- reconhecimen-to. (Salles, 1982, p. 15)

Salles, enfim, parecia vislumbrar os rumos deuma literatura nacional que, por se encontrar emestado de total carência reflexiva sobre as suas pró-prias manifestações, não tivesse outro caminho aseguir senão, como vemos nos atuais estudos cul-turais, olhar para a sua própria imagem, com o in-tuito de compreender as suas diferenças culturais eaceitar a si mesma como diversa. Enfim, realizar umtrabalho de auto- reconhecimento da sua singulari-dade.

Para Salles, a via literária é certamente uma dasmelhores vias de compreensão do regionalismocomo sendo um problema comum aos povos colo-

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5 5 nizados. E, através deste regionalismo e da visadacom que Jorge amado e Adonias Filho acercaram-se dessa realidade cultural periférica, é que o autortece a sua reflexão sobre a condição da culturagrapiúna, como também de outras culturas de po-vos submissos.

Jorge Amado, que ao seu modo e em seu tempodefiniu tão perfeitamente o povo brasileiro, diz àrespeito da literatura “grapiúna”,

Foi violenta e bela essa saga de machos, essaconquista da terra [...] Da epopeia da conquista daterra surgiu a civilização do cacau e surgiu uma lite-ratura de cacau, com suas características próprias,com sua marca inconfundível, sua própria verdade.(Discurso de Jorge Amado na Academia de Letrasda Bahia, 1965)

UMA TEORIA REGIONALISTA

Há que se observar, antes de qualquer tentativade esclarecimento sobre o regionalismo brasileiro,a diferença maior que se pode apontar, em sentidomacro, entre o regionalismo de fundação, ou seja,aquele primeiro regionalismo contingencial, criadomais pela necessidade de formação de uma culturanacional e de libertação, em que a carência de umaliteratura independente era algo premente (o “terque ser”) e aquele regionalismo surgido da vontade

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de expressão do sentimento que habitava o íntimodo escritor brasileiro que tinha ao seu alcance umainfinidade de temas, tipos e costumes diferenciadospara transformar em matéria literária (o “quererser”). Entretanto, sabemos não ser esta dubiedadede intenções um mérito exclusivo do regionalismobrasileiro, mas algo perfeitamente comum a todasas manifestações regionalistas de outras culturastambém colonizadas.

Um segundo aspecto é a diferenciação existenteentre o regionalismo brasileiro de total alcanceterritorial e os diversos regionalismos demarcadosgeograficamente, que surgiram na sequênciaevolutiva literária regionalista.

Lúcia Miguel-Pereira, em Prosa de Ficção: de1870 a 1920, define como regionalista aquela lite-ratura

“cujo fim primordial for a fixação de tipos, cos-tumes e linguagens locais, cujo conteúdo perde-ria a significação sem esses elementos exterio-res, e que se passem em ambientes onde os há-bitos e estilos de vida se diferenciem dos queimprimem a civilização niveladora”. (MIGUEL-PEREIRA, 1973, p. 179)

Tomando esse conceito como parcialmentesatisfatório para definir esta manifestação que sur-giu, num primeiro momento, pela necessidade e, num

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5 5 outro seguinte, pela vontade de “ser” do homembrasileiro, tentaremos mapear algumas teorias quese fizeram reconhecer pelo valor impresso nos seusprogramas e que, atravessando as barreiras do tem-po, chegam aos dias de hoje como pontos cruciaispara as discussões sobre este tema tão amplo eproblemático da nossa cultura.

Sabe-se que a compreensão do regionalismobrasileiro e da sua evolução nas suas diversas for-mas de aparição em nossa literatura é, se não mais,tão importante quanto a compreensão do fenôme-no literário. E, apesar das diversas tentativas deentendimento encontradas nas obras de naturezaexploratória nestes últimos anos, ainda há, nesteterreno, muito a ser discutido.

Uma noção do problema pode ser dada, emprimeiro plano, pela grande dificuldade enfrentadaem se encontrar histórias dos regionalismos espaci-almente delimitados que apresentem um panoramacompleto e sistemático dos autores e das obraspertencentes àqueles espaços, isto sem falarmos naigual escassez de interpretações destes textos.

José de Alencar, criador do primeiro projeto deconstrução da nacionalidade brasileira, é respon-sável, como vimos, pelo que se pode chamar de“matriz do regionalismo brasileiro”.

O autor de O Guarani, transpondo a variedaderegional brasileira para a literatura, não funda umregionalismo geograficamente determinado. Alencar

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não empreendeu nenhuma forma de restriçãoterritorial. Tencionou, portanto, uma abrangênciatotal dos diversos aspectos das regiões do País, denorte a sul, fossem estas urbanas ou rurais.

Entretanto, com este mapeamento das diversasregiões e tipos brasileiros, o escritor cearense con-seguiu delinear um corpo literário regional que abriucaminho para o reconhecimento de uma diversida-de cultural, apontada mais tarde no Modernismo,principalmente por Mário de Andrade.

Com o surgimento do projeto marioandradeano,percebemos uma outra forma de se conceber o re-gionalismo enquanto meio de identificação da naci-onalidade brasileira. Mário, nesta outra etapa dainvestigação identitária, vai retematizar tais ideiasdistinguindo-as daquelas formuladas a partir dasnarrativas alencarianas de fundação surgidas no sé-culo XIX. Ao escrever num tempo diverso daqueleem que foi escrito Iracema, Mário de Andrade vaitrabalhar com outras interpretações. E, consideran-do que o projeto identitário de Alencar cumpriu seupapel em outra época, o autor de Macunaíma vaiafastar de vez a ideologia conciliatória das narrati-vas de fundação do século XIX.

Na década de 40 do último século, na confe-rência “O Movimento Modernista”, Mário deAndrade faz um balanço crítico do movimentovanguardista da década de 20, onde vai reafirmar adiversidade linguística do Brasil, demonstrando a

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5 5 sua grande preocupação com a importância da lín-gua como elemento principal para se pensar e sefazer literatura.

Pouco mais de uma década depois, o antropó-logo pernambucano Gilberto Freyre irá questionaro alcance da proposta marioandradeana e as for-mulações modernistas para uma língua nacional,reivindicando para a literatura uma “linguagem po-pular nordestina” na sua militância regionalista.

O empenho de Freyre em “descobrir o Brasil”,apreendê-lo em sua essência, foi, como para José deAlencar, uma tarefa com ares de início, de novidade.E, apesar de ter como fonte de inspiração para acriação do seu programa identitário os textos dopróprio Alencar, vai reclamar para si a responsabi-lidade pelo início do processo de reconhecimentoda nacionalidade brasileira, que segundo ele, até ametade do século XX não havia acontecido.

Como estes, diversos outros escritores e estu-diosos da cultura brasileira se empenharam em de-finir este caráter identitário do povo brasileiro, aoqual estão relacionadas questões de língua, de lin-guagem, de ideologia e de estilos desta literatura.Apesar disso, temos ainda nítida a necessidade denovas reflexões sobre as definições e os conceitosde regionalismo, por ser questão das mais impor-tantes e ainda hoje em aberto.

A busca de algo subjacente a isso, a que se podechamar de “intenção regionalista”, é uma das dis-

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cussões do crítico baiano David Salles pouco ounada revelada no âmbito da pesquisa das letras na-cionais.

Entretanto, há inegavelmente uma “teoriaregionalista” defendida por David Salles na sua teseRomance e Regionalismo na saga do Cacau. Porisso, baseados na compreensão do escritor baianodeste “fenômeno cultural e ideológico” que afirmaser o regionalismo, podemos sinalizar mais este olharsobre a trajetória imanente do regionalismo na lite-ratura brasileira.

Estava José de Alencar, de fato, detectandoa matéria cultural exclusivamente brasileira queemplastaria o projeto regionalista. Antes, român-tico; depois naturalista, “verista”, modernista...A evolução das formas literárias não modifica-ria, mas ampliaria o projeto, na essência daintencionalidade. Ou faria a correção do ânguloda trajetória ideológica. Ratifica-se, assim, comoo fazemos, possuir o regionalismo um lastro co-mum. Que se modificou, é verdade, conformesua específica trajetória como visada sobre, edos espaços periféricos; e não como evoluçãodas formas literárias. Alencar não se equivocaraquanto à gênese do regionalismo literário, aomenos. E pode-se dizer, sob enfoque duma óti-ca crítica atual, que ele teve intuição de qual fos-se a matriz do regionalismo como manifestação

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5 5 de espaços dessincrônicos. Por extensão: intui-ção dos modos verbalizadores da afirmaçãonacionalista. (Salles, 1982, p. 82)

Interessante destacar que temos aí a coincidên-cia dos projetos de conceituação do regionalismobrasileiro em Salles e Alencar. Os dois autores, ape-sar de atuarem em espaços temporais distintos, vis-lumbraram como geradoras deste fenômeno, razõesculturais e ideológicas situadas nos “espaçosdessincrônicos”. Afastam ambos, portanto, qualquertentativa de explicação do fenômeno regionalistacomo sendo uma evolução da “forma literária”, es-tando este exclusivamente em nível de conteúdo asua expressão na literatura.

Atente-se para o fato de que essas observaçõesacerca da origem da matriz regionalista e da suatransformação, tecidas por José de Alencar (séculoXIX) e David Salles (século XX), respondem ain-da de modo satisfatório às questões suscitadas noâmbito dos estudos culturais de hoje. Tais observa-ções, entendemos, abrem o caminho para uma maiorcompreensão deste fenômeno próprio das culturasperiféricas, que é o regionalismo.

Assim, a fundamentação de David Salles para asdiscussões sobre o tema do regionalismo está voltadaem suas bases para as formulações teóricas de Joséde Alencar, tendo desenvolvido largo estudo sobreo projeto de fundação nacional deste autor.

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A noção de progresso, que é inerente aos textosregionalistas grapiúnas tomados para o estudo,marca um paradoxo discutido por Salles: a ideia doavanço, do desenvolvimento sócio- cultural pode-ria levar a um predomínio dos padrões culturais doscentros hegemônicos e o projeto ideológicoregionalista perderia de vista muitas das causas ge-radoras de suas formulações, ou seja, os substratosque não tivessem sido socialmente atingidos pelopoder da homogeneização cultural.

Por outro lado, Salles ressalta o caráter “con-trapostamente” nacionalista do regionalismo, parausar os termos do próprio crítico: a capacidade decriação de uma história diferente da história socialconcretamente produzida. O que chamou de“historicidade pelo avesso”. Uma história virtualizadapelo discurso narrativo, ainda que com a clara cons-ciência de todos os perigos inerentes aos discursosregionalistas ou de quaisquer outras comunidadesperiféricas.

Neste ponto, apesar das reflexões de Salles so-bre o tema do “nacionalismo” serem de época an-terior à ênfase maior que têm alcançado os estudosculturais nos últimos anos, encontramos no seu tex-to algumas posições muitos próximas ao entendi-mento mais atual que se tem do discurso naciona-lista, do conceito de nação nas narrativas ficcionaise da ideia de progresso para os povos pós-colonialistas.

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5 5 Salles vê, entretanto, a construção cultural danacionalidade como uma forma social e textual quenão apaga as histórias específicas e significadosparticulares desses povos.

Na intenção de David Salles em consolidar algopróximo à uma teoria regionalista, além deste gran-de ensaio sobre o tema, o crítico baiano publicououtros textos na sua coluna do jornal A Tarde quecorroboram tal interesse: “Romance Ultra- históri-co” (12. maio 1979), “A Theobroma Periférica” (24.fev. 1980) e “Luares do Sertão” (31. ago. 1980).Além destes, também os textos “Para Ler Alencar”(15. jul.1979), “Alencar Relido Hoje” (05. maio.1979) e “O Homem detrás da Obra” (23. jun.1979), publicados no jornal O Estado de São Pau-lo complementam as informações sobre o projetoregionalista de Alencar e as suas próprias articula-ções teóricas sobre o tema. Ao final da sua tese dedoutoramento se pode ler o “Manifesto do NovoRegionalismo” de 25 de maio de 1978, seguido dosnomes dos 51 autores que representavam o movi-mento.

Assim, através do estudo interpretativo visto nasua tese depreende-se que, para Salles, a origemdo regionalismo, de um modo geral, está na dife-renciação cultural, potencializando-se a seguir emsua verbalização literária, em especial a romanes-ca, para afirmar “os valores, a maneira de ser e a

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prospecção do futuro de uma auto-reconhecidacultura periférica”. (Salles, 1982, p.83)

Julgando ser o modelo do regionalismo do ca-cau satisfatório para os demais pontos da análise,Davis Salles junta a esta definição algumas conclu-sões a respeito deste fenômeno na literatura. Sen-do assim, o crítico aponta o paradoxo principal en-contrado: já que a noção de progresso é aqui en-tendida como algo inerente a todos os exemplos deregionalismos grapiúnas apresentados, ahomogeneização cultural traria a morte do projetoideológico regionalista, eliminando assim o que de-tectou como “as causas geradoras da inflexãoregionalista”. (Salles, 1982, p. 84)

Sendo a formulação regionalista, como quisSalles, contrapostamente nacionalista em relaçãoaos padrões sociais dos centros hegemônicos, comosolução, ela vai tentar exercer um jogo combinatóriopretendendo aproximar-se dos centros de produ-ção e reconhecimento cultural, mas igualmente re-jeitando-os em virtude da afirmação dos seus valo-res, como vimos nos estudos dos romances MarMorto e Jana e Joel.

Este jogo combinatório ou conciliatório, aindaque não tenha sido verbalizado, pode ser apontadocomo a mesma proposta do projeto de Alencar paraa crise de identidade que acometia (persistindo atéos dias atuais), o povo brasileiro.

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5 5 Assim, a partir do que se chamou de “literaturado cacau”, David Salles também demonstra o seuprojeto regionalista, admitindo esta ambiguidadeentrevista nos discursos dos ficcionistas AdoniasFilho e Jorge Amado, percebendo nestes autores,o mesmo conflito visto na ficção regionalista român-tica de José de Alencar, no século XIX. Retoman-do a relação dialética entre o colonizador, ou seja,a civilização, e o colonizado, o atraso cultural.

Para o estudioso baiano, o regionalismo literá-rio, não tem como intenção ser um procedimentoliterário de tendência revolucionária, de ruptura, massim uma expressão crítica de resistência, que pro-cura avançar através de uma dialética da tradicio-nalização e da tensão insolvida, fato que se perce-be comum às realidades pós-colonialistas.

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1938 – Nasce Jesus David Sales de Souza, em 1ºde maio, na cidade de Castro Alves, na Bahia.

1956 – Frequenta os colégios Antônio Vieira eColégio Central da Bahia em Salvador, depoisde fazer o ginásio em Feira de Santana.

1956 – Publica no Jornal A Tarde o poema “Missado Galo”, em 22 de setembro de 1956.

1957 – Publica no jornal A Tarde “Poema semNome”, em 25 de julho de 1957.

1958 – Estreia no Jornal da Bahia como contista.1958 – Ingressa na Universidade da Bahia no Curso

de Direito.1959 e 1960 – Faz parte da redação da revista

Ângulos ao lado de Glauber Rocha e dirige oNúcleo de Publicações da Universidade Federalda Bahia.

1960 – Publica em 18 de setembro matéria noDiário de Notícias intitulada “Universidade,Biblioteca Pública e Inexistente”.

CRONOLOGIADE DAVID SALLES*

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5 5 1961 – Estreia em livro juntamente com João UbaldoRibeiro, Noênio Spínola e Sônia Coutinho numacoletânea de contos de autores baianos,Reunião, organizada por ele mesmo.

1962 – Publica A Traiçoeira Invenção da Noite,livro de contos.

1962 – Forma-se em Direito pela UniversidadeFederal da Bahia.

1962 – Viaja para Perugia, na Itália, onde faz ocurso de História Grega e Latina na Universidadepara Estrangeiros.

1963 – Obtém bolsa de estudos na Espanha ondepermanece até 1964.

1964 – Realiza em Lisboa a famosa entrevistapublicada na revista Manchete publicada sobreo importante encontro entre Juscelino Ku-bitschek e Carlos Lacerda, os quais, juntamentecom o ex-presidente João Goulart, formavam aFrente Ampla contra a ditadura e lutavam pelarápida volta do país à liberdade democrática.

1964 – Dirige o Centro Editorial Didático doDepartamento Cultural da Universidade Federalda Bahia.

1965 – Inicia as publicações dos seus artigos noJornal da Bahia que irão continuar até o ano de1968.

1967 – Inicia a pesquisa denominada A Trajetóriada Prosa de Ficção na Bahia, na UFBA.

1967 – Ingressa no Curso de Letras da Universi-dade Católica do Salvador e conclui em 1970.

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1968 – Escreve a Notícia Histórica da Univer-sidade Federal da Bahia.

1968 – Publica A Coragem pela Metade, novela.1970 – Passa a ensinar Literatura Brasileira na

Universidade Federal da Bahia.1971 – Obtém o título de Mestre em Ciências

Humanas pela Universidade Federal da Bahiacom a apresentação da dissertação Saveiros noMar Grande: a continuidade do herói incor-rupto segundo Jorge Amado e Xavier Mar-ques.

1971 e 1972 – Coordena os Cursos de EstudosBaianos da Universidade Federal da Bahia.

1972 – Retoma as publicações dos artigos no Jornalda Bahia que irão até 1973.

1973 – Publica Primeiras Manifestações da Fic-ção na Bahia, com o lançamento realizado noMuseu de Arte Sacra em 20 de junho de 1973.

1973-1975 – Dirige o Núcleo de Publicações daUFBA.

1977 – Publica O Ficcionista Xavier Marques:um estudo da transição ornamental.

1979 – Reedita o livro Primeiras Manifestaçõesda Ficção na Bahia.

1979 – Retoma em 10 de março deste ano apublicação de artigos, agora com a coluna“Crítica de Rodapé” no Jornal A Tarde, que irácontinuar pelos anos de 1980, 1981, 1983 e1984 (neste último ano passando a se chamar“Enfoque da Crítica”).

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5 5 1980 – Publica Do Ideal às Ilusões: alguns temasda evolução do Romantismo.

1980 – Ensina Literatura Brasileira na Universidadede Washington, de onde retorna em 1982, porocasião da morte de seu pai.

1983 – Defende em 04 de abril deste ano a suatese de doutoramento apresentada à Faculdadede Filosofia, Letras e Ciências Humanas daUniversidade de São Paulo intitulada Romancee Regionalismo na Saga do Cacau.

1984 – Encerra em 16 de dezembro a coluna“Enfoque da Crítica” no Jornal A Tarde.

1985 – Escreve a tese para o concurso de ProfessorTitular da Universidade Federal da Bahia, AFicção Romântica na Bahia.

1986 – Morre em 17 de agosto de 1986, em SãoPaulo, vítima de leucemia, descoberta em 1985,quando se encontrava em Portugal paraconclusão de uma pesquisa.

* Informações extraídas de documentos do acervodo escritor, na Biblioteca Central da Univer-sidade Federal da Bahia, e complementadas peloirmão de David, Sr. Sigismundo Salles.

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REFERÊNCIAS

AMADO, Jorge. Mar Morto. 19 ed. São Paulo:Martins Editora, 1965. 261 p.

MARQUES, Xavier. Jana e Joel. Salvador: LivrariaProgresso Editora, 1899. 100 p.

MIGUEL-PEREIRA, Lúcia. História da literaturabrasileira: prosa de ficção de 1870 a 1920. 3.ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.

SALLES, David. O Ficcionista Xavier Marques:um estudo da transição ornamental. Rio dejaneiro/Brasília: Civilização Brasileira/INL, 1977.223 p.

SALLES, David. Primeiras manifestações daficção na Bahia. 2. ed. rev. e aum. São Paulo/Brasília: Cultrix/INL, 1979.

SALLES, David. Romance e regionalismo nasaga do cacau. Tese de doutorado apresentadaà Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

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5 5 Humanas da Universidade de São Paulo. SãoPaulo, 1982. 414 p. Volume 2. (datiloscrito)

SALLES, David. Saveiros no mar grande.Dissertação de mestrado apresentada àCoordenação de Pós graduação em CiênciasHumanas da Universidade Federal da Bahia.Salvador, 1971. 77 p. (datiloscrito)

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EXPLICIT

David Salles e a Teoria Regionalista:Cenas Literárias Baianas nos Séculos XIXe XX constitui uma homenagem aos 80 anosde nascimento do crítico e retoma antigosestudos, visando a publicação do acervo detextos de e sobre David Salles.

Este volume 5 de Folhetim foi disponi-bilizado no formato 13 x 18,5 cm, em tipoTimes New Roman, corpo 12 x 14,7.

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DO LIVRO DIGITAL

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ETIM

5 5DAVID SALLESE A TEORIA REGIONALISTA

(CENAS LITERÁRIASBAIANAS

NOS SÉCULOS XIX E XX)

PorITANA NOGUEIRA NUNES

Uma publicaçãoe-book.br

Junho | 2018

Ano 3 | Número 5