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106 PRIMEIRO QUADRIMESTRE DE 2010 VERSÃO BRASILEIRA ANO XXVII e Seguros Gerênciade Entrevista com Gaspar Llabrés A atividade microsseguradora e suas singularidades Terceirização de serviços e política de riscos O mercado de seguros e os mercados financeiros Observatório de sinistros “A Gerência de Riscos, eixo básico de atuação do Sol Meliá” Um produto novo no mercado dos seguros Enfoque no mercado de seguros A incidência da titularização Mudança climática e perdas por furacões no México VP Risk Management do Sol Meliá FRANCISCO JAVIER GARAYOA ARRUTI AURELIO LÓPEZ-BARAJAS DE LA PUERTA FRANCISCO SEBASTIÁN CASTRO ENRIQUE DE ALBA E RICARDO ANDRADE

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Entrevista com Gaspar Llabrés

A atividade microsseguradora e suas singularidades

Terceirização de serviços e política de riscos

O mercado de seguros e os mercados financeiros

Observatório de sinistros

“A Gerência de Riscos, eixo básico de atuação do Sol Meliá”

Um produto novo no mercado dos seguros

Enfoque no mercado de seguros

A incidência da titularização

Mudança climática e perdas por furacões no México

VP Risk Management do Sol Meliá

FRANCISCO JAVIER GARAYOA ARRUTI

AURELIO LÓPEZ-BARAJAS DE LA PUERTA

FRANCISCO SEBASTIÁN CASTRO

ENRIQUE DE ALBA E RICARDO ANDRADE

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alUm ano crucial

Este ano de 2010 pode ser determinante para todos aqueles que acreditam em um mundo mais generoso e menos fatalista. A ocasião é certamente crucial.

Por mais que tenhamos a tendência de esquecê-lo, os desastres naturais e os fenômenos climatológicos adversos têm um comportamento cíclico. Entretanto, a concentração de catástrofes naturais ocorrida neste começo de ano, com os terremotos do Haiti, do Chile e seu posterior tsunami, o furacão extra-tropical Xynthia ou a mais próxima tempestade de neve que castigou a Catalunha, nos fazem estremecer frente a energia desencadeada, mas, acima de tudo, frente às tragédias humanas causadas e que comoveram o mundo inteiro.

Da perspectiva histórica haverá outros terremotos, furacões, inundações e secas que mudarão paisagens, derrubarão edifícios e infra-estruturas. Mas muito mais importante que a ajuda dada por Governos e instituições para paliar os danos causados por estas catástrofes naturais será o compromisso, e não somente o material, de todos aqueles que quando todo mundo foge do horror da catástrofe comparecem para ajudar a reconstruir as comunidades afetadas.

Estas tragédias fazem com que, frequentemente, caiamos na tristeza e no desespero; mas a recuperação é possível e necessária. Para poder enfrentar a profunda ferida aberta, temos que ser capazes de transformar estas catástrofes em uma oportunidade de utilizar a sua reconstrução como uma plataforma única para o desenvolvimento social e econômico das regiões devastadas; para tanto, devemos manter a esperança.

É assim que abriremos o número que você tem em suas mãos, com a entrevista de Gaspar Llabrés, Vice-presidente de Gerencia de Riscos e Seguros da rede hoteleira Sol Meliá, a maior companhia hoteleira de férias do mundo, que ocupa o terceiro lugar no ranking europeu e o décimo segundo em nível mundial, e que nos relata, a partir do conhecimento do negócio e o aprendizado da experiência adquirida desempenhando diversos cargos dentro dessa rede, chaves da gestão de riscos aplicada em uma época tão difícil para o turismo.

No primeiro dos três estudos incluídos neste número apresentamos as singularidades que o seu autor nos oferece sobre os microsseguros e a escassa justiça que o prefixo “micro” oferece a um setor que, hoje, proporciona cobertura seguradora a mais de 135 milhões de pessoas, cujo potencial estima-se em centenas de milhões e que cobre riscos básicos em um segmento muito significativo da população mundial, com baixas receitas, mas com um mínimo de capacidade de pagamento.

O segundo artigo trata da terceirização de serviços, um setor em contínuo crescimento, pela necessidade das empresas de enforcarem-se no seu negócio principal e subcontratar os serviços administrativos

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A Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado pelos seus autores, nem o fato de publicá-los implica conformidade ou identifi cação com os trabalhos expostos nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem autorização prévia do editor.

ou aqueles menos importantes para as empresas, reduzindo custos e ganhando em flexibilidade e competitividade. No artigo, o seu autor, consultor da Gerencia de Riscos e, até o ano passado, diretor de riscos e seguros do grupo Altadis, adverte, não obstante, dos possíveis riscos envolvidos por esta prática.

O último estudo expõe, da ótica de um destacado perito para o setor financeiro na Direção Geral de Concorrência da Comissão Européia, em Bruxelas, e Inspetor de Seguros do Estado na Espanha, a possibilidade de utilizar vias alternativas às atualmente utilizadas para a gestão de riscos e seu financiamento, analisando as especificações das estruturas de titularização utilizadas nas transações de seguros de vida.

Fecha a seção um relatório sobre o mercado segurador latino-americano que contém informação sobre o ano de 2008 e apresenta um avanço do primeiro semestre de 2009.

O Observatório de Sinistros, que constitui o habitual fechamento da revista, conclui com um trabalho elaborado desde o Instituto Nacional de Estatística e Geografia do México, no qual, na linha das catástrofes com as quais abrimos este editorial, seus autores analisam o impacto do aumento na frequência e intensidade dos furacões em um país como o México, que experimentou algumas das suas maiores perdas históricas devido a estes devastadores fenômenos meteorológicos.

Obrigada por nos acompanhar e, sobretudo, por manter a esperança.

DIRETOR: JOSÉ LUIS IBÁÑEZ GÖTZENS CHEFE DE REDAÇÃO: ANA SOJO GIL COORDENAÇÃO: MARÍA RODRIGO LÓPEZ CONSELHO DE REDAÇÃO: IRENE ALBARRÁN LOZANO, ALFREDO ARÁN IGLESIA, FRANCISCO ARENAS ROS, MONTSERRAT GUILLÉN ESTANY, ALEJANDRO IZUZQUIZA IBÁÑEZ DE ALDECOA, CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ, JORGE LUZZI, MIGUEL ÁNGEL MACÍAS, FRANCISCO MARTÍNEZ GARCÍA, IGNACIO MARTÍNEZ DE BAROJA Y RUÍZ DE OJEDA, FERNANDO MATA VERDEJO, EDUARDO PAVELEK ZAMORA, Mª TERESA PISERRA DE CASTRO, CÉSAR QUEVEDO SEISES, FRANÇOIS SETTEMBRINO.REALIZAÇÃO EDITORIAL: COMARK XXI CONSULTORES DE COMUNICACIÓN Y MARKETING

DESENHO GRÁFICO: ADRÍAN Y UREÑA

VERSÃO BRASILEIRA: FUNDACIÓN MAPFRE - DELEGAÇÃO BRASIL

DIREÇÃO: FÁTIMA LIMA

TRADUÇÃO: FIDELITY TRANSLATIONS

REVISÃO: ELIZABETH PINHEIRO PROJETO GRÁFICO ADAPTADO: bmEW PROPAGANDA DESIGNERS: FLÁVIO BARÃO E MIGUEL DALLACQUA JUNIOR

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FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

Paseo de Recoletos, 23.28004 Madrid (España)Tel.: +34 91 581 12 40. Fax: +34 91 581 84 09

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Notícias AGERS 105

Obs.: Versão brasileira traduzida, originalmente, da edição espanhola da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 1º Quadrimestre de 2010.

PRIMEIRO QUARIMESTRE 2010

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Livros 99

Relatório O mercado segurador latino-americanoCENTRO DE ESTUDOS FUNDACIÓN MAPFRE ......................................................... 71

Caderno Brasil

Alexandre Castanho - Rhodia Solventes ..................................................................108

Atualidade 6Atividades da IGREA. Apresentação do Estudo sobre o mercado segurador na Espanha. Cinco anos do incêndio da Torre Windsor. Terremoto no Chile. In memoriam de Ernesto Caballero Sánchez

Gaspar Llabrés, VP Risk Management do Sol Meliá“O Sol Meliá incorporou a Gerência de Riscos como um foco fundamental de atuação”

Entrevista 14

Estudos

A atividade microsseguradora e suas singularidades FRANCISCO MARTÍNEZ GARCÍA ............................................................................... 26 Incidência da terceirização e da quarterização de serviços na política de riscos da empresa: enfoque no mercado seguradorAURELIO LÓPEZ-BARAJAS DE LA PUERTA ............................................................. 38O mercado de seguros e os mercados financeiros FRANCISCO SEBASTIÁN CASTRO ............................................................................. 54

Agenda 2010 13

Observatório de sinistros

Análise do efeito da mudança climática sobre as perdas por furacões no MéxicoENRIQUE DE ALBA E RICARDO ANDRADE ............................................................... 82

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Entrevista com Gaspar Llabrés

A atividade microsseguradora e suas singularidades

Externalização de serviços e política de riscos

O setor segurador e os mercados financeiros

Observatório de sinistros

“A Gerência de Riscos, eixo básico de atuação do Sol Meliá”

Um produto novo no setor dos seguros

Enfoque no setor segurador

A incidência da titularização

Mudança climática e perdas por furacões no México

VP Risk Management do Sol Meliá

FRANCISCO JAVIER GARAYOA ARRUTI

AURELIO LÓPEZ-BARAJAS DE LA PUERTA

FRANCISCO SEBASTIÁN CASTRO

ENRIQUE DE ALBA E RICARDO ANDRADE

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LEGISLAÇÃONovidades

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ade Resolução do Parlamento Europeu, de 16 de

dezembro de 2008, sobre o projeto de Diretiva da Comissão pela qual são alterados determinados anexos da Diretiva 2006/48/CE do Parlamento Europeu e do Conselho referente às disposições técnicas relativas à gestão de riscos. DOUE número C E/15, de 24 de fevereiro de 2010.

Resolução de 31 de janeiro de 2010, da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensões, pela qual são apresentadas as quantias das indenizações por falecimento, lesões permanentes e incapacidade temporária que resultarão da aplicação durante 2010 do sistema para a avaliação dos danos e dos prejuízos causados às pessoas em acidentes de circulação. BOE número 31, de 5 de fevereiro de 2010.

Resolução de 4 de janeiro de 2010, da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensões, pela qual é publicado a taxa de juros máxima a ser utilizada no cálculo da provisão de seguros de vida, aplicável ao exercício de 2010. BOE número 4, de 5 de janeiro de 2010.

Resolução de 4 de janeiro de 2010, da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensões, pela qual é publicada a taxa de juros máxima a ser utilizada nos planos e fundos de pensões com relação às contingências em que seja definida a prestação e para as quais for garantida exclusivamente uma taxa de juros mínima ou determinada na capitalização dos aportes, aplicável ao exercício de 2010. BOE número 4, de 5 de janeiro de 2010.

Atividades da IGREA

No último dia 18 de fevereiro, a Iniciativa de Gerentes de Riscos Espanhóis Associados (IGREA) celebrou na sede social da WILLIS em Madri o Primeiro Encontro de Debates sobre LTA (Long Term Agreement) Contratos Plurianuais. O Encontro contou com a presença de uma representação de grande destaque das maiores empresas espanholas.

As exposições estiveram a cargo de Antonio González, representante da WILLIS, e José Ángel Yurritu, da SARE.

O debate centrou-se na análise, idoneidade, vantagens e desvantagens deste tipo de contratos para os segurados e os seguradores. Foi revisto o grau de utilização de LTA nas grandes empresas espanholas e a proatividade do mercado com relação a ele.

Os presentes ao Encontro, entre os quais estavam representantes de empresas como a Abengoa, Endesa, Iberdrola, Ferrovial, Telefónica e Uralita, participaram muito ativamente do debate e chegaram às seguintes conclusões:

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O nome LTA não é o mais adequado para designar este tipo de instrumentos.

Aporta estabilidade ao segurado e fidelização do cliente ao segurador.

Instrumento muito favorável para o trabalho do corretor e a gestão dos riscos em múltiplas ocasiões.A IGREA, entre outras

atividades, tem prevê celebrar mais Encontros neste este formato com o objeto de que os seus associados tenham contato direto com diferentes agentes do mercado para debater sobre temas de interesse para a Gerência de Riscos na Espanha. Os Encontros que a IGREA tem previsto desenvolver neste ato serão realizados em torno dos seguintes temas:

Melhores práticas na resolução de mercado.

Situação atual do mercado de garantia e crédito.

Posição do gerente de riscos na empresa e seu salário.

Mercado sobre gastos associados à implantação de programas corporativos.No passado dia 2 de

março, a IGREA celebrou a sua assembléia geral no hotel NH Madrid, onde foram acordados os seguintes pontos de interesse:

Constituição do Conselho Diretivo, em que foram eleitos: Rogelio Bautista Guardeño, representando a Abengoa;

Juan José Gil Sánchez, representando a Telefónica; Daniel San Millán del Río, representando a Ferrovial; Cristina Martínez García, representando a Campofrío; Vicente Martín Martín, representando a Endesa, e Cristina San Sebastián, representando a Iberdrola.Em 17 de março foi

celebrado o Conselho Diretivo com eleição de Javier Navas como diretor geral.

As empresas associadas à IGREA são as seguintes:

Abengoa, S.A.Bahía Bizkaia Electricidad S.L.Campofrío Food Group S.A.Cemex España S.A.Endesa S.A.Ferrovial S.A.Gas Natural SDG S.A.

General de Alquiler de Maquinaria (GAM) S.A.Grupo Empresarial SanJosé S.A.Grupo UralitaIberdrola S.A.Indra Sistemas S.A.Mondragón Soc. Coop.OHL S.A.Red EléctricaSacyr Vallehermosos S.A.Telefónica S.A.

Criação de um fórum de debate on-line para associados na página da IGREA. Já está em fucionamento o fórum de debate em tempo real de uso exclusivo dos membros da IGREA, onde os gerentes de risco poderão trocar experiências e opiniões sobre qualquer assunto atual que os preocupe.

APRESENTAÇÃO DO ‘ESTUDO SOBRE O MERCADO DE SEGUROS NA ESPANHA’

No passado dia 11 de março foi apresentado o Estudo sobre o mercado segurador na Espanha, conduzido por Pilar Blanco-Morales, professora de Direito Internacional Privado. Este extenso trabalho foi publicado pela Fundación de Estudos Financieros. Ccolaboraram em sua elaboração peritos da área acadêmicao, além de um amplo conselho assessor.

O estudo compreende uma análise econômica, jurídica e sociológica, e também fornece informação setorial do seguro. O escopo do trabalho é dividido em três partes, dedicadas respectivamente a identificar a importância do mercado de seguros na Espanha, a análise dos seguros de Vida e de não Vida. Está estruturado em dezessete capítulos, que

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trataram da estrutura do mercado até a fiscalização dos seguros, passando por múltiplos aspectos normativos, de regulamentação e supervisão que são necessários para compreender a situação atual.

A principal contribuição deste trabalho é uma lista de recomendações concretas elaboradas pelas equipes de trabalho e assessoria, direcionadas em parte às entidades seguradoras e em parte ao regulador e ao supervisor. As recomendações propõem soluções a problemas atuais e futuros, com a intenção de contribuir para a reflexão e crítica. Das conclusões cabe destacar preferencialmente duas. A primeira delas é a necessária preparação para adaptar-se aos requisitos de regulamentação do setor no marco doe Solvência II. A segunda insiste na necessidade de que o setor desenvolva e melhore os produtos e serviços no atual contexto econômico. Segundo a da diretora do estudo, no ato de apresentação, o diagnóstico obtido pelos peritos indica uma aparente contradição: a necessidade de abordar uma nova era da governança e da gestão dos riscos altamente

conservadora, frente a uma imperiosa necessidade de inovação, entendida como uma melhora da qualidade dos produtos segurados, o serviço e a capacidade de comunicar de forma clara e transparente aos consumidores toda a informação relacionada aos seu seguro. O resumo do decálogo de recomendações é o seguinte:

Deve-se aproveitar o Solvência II, já que supõe uma oportunidade de melhorar a gestão dos riscos.

É necessário colocar em prática novas políticas eficazes de bom governo e responsabilidade corporativa.

Deverá ser feita uma mudança na supervisão estática à dinâmica, de acordo com as tendências internacionais.

Impõe-se uma reforma da legislação referente à luta contra a lavagem de dinheiro

para melhorar a legislação vigente.

Apresentam-se novos cenários para a defesa da concorrência, diante dos quais as empresas e, em especial, as menores, deverão se adaptar.

Identificam-se numerosas tarefas pendentes relacionadas aos seguros de previdência, em especial em momentos da crise econômica, tanto do ponto de vista de criação de produtos adequados

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quanto fomentando a educação financeira da sociedade espanhola e estabelecendo os incentivos fiscais necessários.

Recomenda-se um esforço para paliar a instabilidade da fiscalização dos seguros de vida.

Os seguros de invalidez devem deixar de ser o item pendente nas empresas espanholas, com a finalidade de que se tornem o complemento indispensável do sistema público.

Deve-se melhorar a inovação nos seguros de saúde, entendendo que deve-se preservar os princípios básicos de universalidade e equidade no atendimento à saúde.

Conveniência de potencializar o Consórcio de Compensação de Seguros.O Estudo sobre o mercado

segurador na Espanha é uma análise que constituirá uma referencia fundamental do setor, e que aporta indícios claros sobre como afiançar a solidez da qual goza o seguro neste país. O ato de apresentação contou com a presença do diretor geral de Seguros, Ricardo Lozano, que interveio comentando amplamente as recomendações realizadas.

CINCO ANOS DO INCÊNDIO DA TORRE WINDSOR

Em fevereiro completaram-se cinco anos do incêndio da Torre Windsor, um dos arranha-céus mais emblemáticos de Madri. O incêndio, que não provocou vítimas, prolongou-se durante cerca de seis horas.

O caso continua aberto; penalmente encerrou-se nos juizados, porque não foram encontrados indícios de delito, mas civilmente a causa continua pendente de solução.

O processo de demolição dos restos do edifício, agravado pelo ambiente urbano onde se encontrava, foi exemplar e concluiu-se em um tempo inferior a seis meses, quatro antes do previsto (Revista Gerência de Riscos e Seguros, número 98). O sucesso da

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demolição fundamentou-se na integração de fatores como o plano de prevenção de riscos, o estudo técnico da execução inicial das obras, a profissionalismo dos trabalhos e a colaboração de todos os agentes envolvidos.

A Torre Windsor, obra do escritório de arquitetura Alas y Casariego, foi construída entre 1974 e 1979. Com 106 metros de altura e 32 andares, era o oitavo arranha-céu mais alto da cidade de Madri e um dos primeiros edifícios inteligentes. Devia o seu nome a uma famosa discoteca existente no térreo. A Comissão de Patrimônio queria outorgar um grau de proteção à área por ser a Torre Windsor, uma indicação da identidade da área de Azca.

O seu estilo arquitetônico era inspirado na moda dos anos 80, importadora dos grandes complexos norte-americanos de escritórios. Com seu valor arquitetônico e estético, também destacou-se por sua sólida estrutura com base em concreto armado, que permitiu que o edifício não fosse derrubado com as chamas.

Quando ocorreu o incêndio, o edifício faziam dois anos que estava em processo de reforma. Concretamente, estavam sendo realizados trabalhos para adequá-lo à atual norma de incêndios.

Após as primeiras especulações sobre a origem das chamas, o local do incêndio tornou-se um ponto de atração turística, mas depois de alguns dias o edifício começou a ser lembrado com nostalgia.

O uso futuro destes terrenos será comercial. O solar, com forma de polígono irregular de seis lados, foi adquirido por El Corte Inglés e sua equipe de arquitetos projetou nele, um arranha-céu de 103,7 metros de altura e 22 andares, já em fase de construção, cuja conclusão está prevista para o ano de 2011.

TERREMOTO NO CHILE

Durante a noite de 27 de fevereiro, um forte movimento sísmico afetou várias regiões do Chile. O terremoto, de 8,8 graus na escala Richter e com duração máxima de sete minutos, foi o mais longo e o segundo de maior intensidade registrado no país. O epicentro foi localizado no mar, a 150 km a noroeste de Concepción e a 48km de profundidade do córtex terrestre. O tremor

foi percebido em uma grande parte do Cone Sul, do Peru até Buenos Aires e São Paulo. As áreas mais afetadas foram as regiões chilenas de Valparaíso, Santiago, O´Higgins, Maule, Bío Bío e Auracanía, que concentram 80% da população do país (mais de 13 milhões de habitantes), deixando um número estimado de mais de dois milhões de feridos.

O Chile está localizado ao longo de uma área de grande insidência de sismos, conhecida como Cinturão de Fogo do Pacífico. O terremoto foi originado pelo choque tectônico entre a placa Sul-americana e a placa Nazca e a subducção desta última sob a placa continental. A energia acumulada pela subducção das placas já tinha sido liberada pelo norte, com o terremoto de Santiago em 1985, e pelo sul, com o de Valdivia em 1960, mas na região a costeira do centro-sul do Chile originou-se uma “lagoa sísmica” de onde se esperava que o “grande terremoto” liberasse a energia

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acumulada durante as últimas décadas. Os sismos são parte da história do Chile e formaram o seu relevo e geografia. A freqüência dos sismos como o ocorrido agora tem cerca de 60 anos e há 170 anos não se sucedia nenhuma destas características.

O terremoto gerou um alerta de tsunami para grande parte da costa do oceano Pacífico: um total de 53 países foram afetados, ainda que finalmente os efeitos tenham sido menores que o esperado e a altura da água somente tenha aumentado um metro nas costas do Havaí.

Depois do terremoto da madrugada do dia 28 de fevereiro, a terra não parou de tremer e espera-se que os movimentos durem mais três meses.

No dia seguinte ao desastre, fontes oficiais calcularam em meio milhão

o número de moradias destruídas e em pelo menos mais um milhão e meio o de danificadas pelo terremoto principal; em conseqüência das sucessivas réplicas, muitas delas ficarão totalmente destruídas. Os danos nas estruturas serão reparados em um período de três a quatro anos. As pontes e os portos foram as infra-estruturas mais danificadas. O setor mais afetado foi o da moradia, seguido do educacional e o de saúde. Passado mais de um mês da ocorrência do sismo, 500.000 crianças ainda não tinham retornado à escola no Chile. A metade dos edifícios escolares sofreu danos ou foi devastada.

As primeiras estimativas da repercussão econômica do terremoto nos cofres da economia chilena, informadas um dia depois do evento, calcularam o impacto derivado

dos trabalhos de reconstrução em 30.000 milhões de dólares, valor equivalente a 15% do PIB chileno.

Graças às eficazes medidas de prevenção e às campanhas e planos de educação e formação da população, o número de afetados foi menor em comparação com outros sismos similares. A população chilena tem uma “cultura de riscos” e vive com consciência coletiva de ameaça sísmica. Além disso, dado que no passado um terremoto devastou a capital do país, foram realizados programas de educação pública que prepararam a população para reagir em poucos segundos durante os tremores e para que conheçam os planos de evacuação e os locais seguros onde ficar durante os tremores secundários. A cordilheira próxima à costa foi o local escolhido por milhares de pessoas para se refugiar das constantes réplicas que começaram a ocorrer imediatamente após o terremoto. O número de pessoas deslocadaos provenientes das regiões de Maule e de Bío Bío, que escolheram os morros próximos a suas residências como refúgio foi estimado em mais de 500.000 pessoas.

Outras medidas preventivas que as autoridades chilenas adotaram para mitigar os riscos sísmicos do país são a construção de edificações que suportem os tremores e a proibição de autoconstruções de adobe.

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A Associação de Seguradores do Chile (AACH) comunicou que a indústria seguradora indenizará 8.000 milhões de dólares, 25% do valor das perdas totais.

Ao longo de 2010, o Chile modernizará e ampliará seus equipamentos de monitoramento e prevenção de sismos graças a um orçamento de 18 milhões de dólares, aprovado pelo Governo em 2009. O programa niciará com a instalação de 65 estações de última geração, capazes de detectar tremores muito pequenos, que serão retransmitidos via satélite em tempo real, e posteriormente serão montados 200 equipamentos para medir movimentos fortes. Outra parte do programa é o sistema de posicionamento global, formado por 140 estações ao longo da costa chilena, que vigiarão em tempo real.

No último dia 9 de março faleceu em Madri Ernesto Caballero Sánchez, figura emblemática do seguro.

Licenciado em Direito pela Universidad de Valladolid, Inspetor de Seguros desde 1945 e doutor honoris causa em Ciências do Seguro pela Universidad Pontifícia de Salamanca em 2006, uniu à sua extensa e fecunda vida profissional uma grande atividade docente e de pesquisa nos campos do direito do seguro, na sua vertente pública e privada, bem como no impulsionamento da prevenção e a Gerência de Riscos.

Ao longo de sua ampla carreira profissional ostentou cargos de relevância e responsabilidade na Direção Geral de Seguros e em diversas entidades do setor.

Fundador da MUSINI e primeiro conselheiro delegado da referida entidade, entre 1968 e 1978, trabalhou na incorporação de novas perspectivas gerenciais, favorecendo a implantação empresarial de políticas de Gerência de Riscos, de prevenção e de segurança, em geral, e em especial na sua aplicação à gestão dos seguros industriais e aos grandes riscos.

Autor de numerosas monografias, artigos e trabalhos de pesquisa, completou sua formação nas

‘IN MEMORIAM’ DE ERNESTO CABALLERO SÁNCHEZ

universidades de Paris e Roma, na Ecole Nationale d´Assurances e no Conservatoire de Arts et Metiers de Paris.

A sua trajetória intA sua trajetória internacional está vinculada à Associação Internacional de Direito de Seguros (AIDA) e à SEAIDA, da qual foi vice-presidente e secretário geral e impulsionador das suas atividades durante décadas.

Entusiasta colaborador da FUNDACION MAPFRE, referencia humana e profissional, deixa uma marca indelével entre aqueles que o conheceram.

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AGENDA 2010

CONGRESSOS E JORNADAS

JORNADA DATAS LOCAL EXPOSITORES

14 - 16 JUNHOCONFERÊNCIA ANUAL

17 - 18 JUNHO

17 - 19 JUNHO

CONGRESSO ANUAL

2º CONGRESSO GLOBAL

25 - 29 JULHO

7 - 9 SETEMBRO

8 - 10 NOVEMBRO

9 - 10 NOVEMBRO

XIII CONGRESSO

20º CONGRESSO CATIVAS

CONGRESSO ANUAL

MANCHESTER (REINO UNIDO)

2º CONGRESSO MUNDIAL DE RISCOS E SEGUROS FINANCEIROS

NOORDWIJCK (HOLANDA)

LISBOA (PORTUGAL)

SINGAPURA (SINGAPURA)

MUNIQUE (ALEMANHA)

ARIZONA (EUA)

PFÁFFIKOM (SUÍÇA)

AIRMIC

NARIM

BROKERS LINK

APRIA

DVS

TOWERS WATSON

SIRM

Age

nda

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entrevista

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TEXTO: ALICIA OLIVASFOTOS: ALBERTO CARRASCO

GASPAR

“O Sol Meliá incorporou a Gerência de

Riscos como um eixo

fundamental de atuação”.

LlabrésLlabrésVP RISK MANAGEMENT DO SOL MELIÁ

No Sol Meliá conseguiram que a se-

mente da Gerência de Riscos germine.

Um processo que não foi fácil, nem ime-

diato, “mas neste momento, graças ao

controle do risco, estamos mais prepara-

dos que outras empresas para enfrentar a

atual crise”, diz Gaspar Llabrés.

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entrevista

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Hierarquicamente, de quem depende a área de Gerência de Riscos no Sol Meliá?Hierarquicamente, o Risk Manage-

ment faz parte do Group Finance, mesmo que estejamos em constante coordenação e colaboração com outras áreas da empre-sa, como Legal & Compliance e, em con-creto, com o Departamento de Auditoria Interna, no qual mais nos apoiamos em matéria de controles e nas medidas a to-mar em cada caso concreto.

A Gerência de Riscos tem alguma característica especial de um grupo hoteleiro?Em primeiro lugar, gostaria de mati-

zar que o Sol Meliá não é uma compa-nhia que simplesmente vende quartos. Ajudamos milhões de pessoas a se des-locarem até os nossos estabelecimentos, os hospedamos, limpamos seus quartos, os alimentamos e lhes oferecemos la-zer, vendemos a eles unidades de tempo compartilhado. Também construímos e mantemos os nossos hotéis e suas insta-lações, compramos e vendemos instala-ções hoteleiras, parcelas, imóveis...

É impossível enumerar, agora, todas e cada uma das atividades realizadas no seio da companhia, mas em todas e em cada uma delas sempre, sempre, há uma margem de risco. A nossa atividade tu-rística é uma atividade de risco e isso não deve nos assustar; o que devemos fazer é aprender a gerir o risco. A isso dedi-camos, todos os membros da equipe, os nossos esforços.

CONSCIÊNCIA DO RISCO

Em linhas gerais, como é o modelo de Gerência de Riscos implantado no seu grupo?Em matéria de cobertura de seguros,

trabalhamos ativamente com diversos brokers, conforme sua especialização em determinado tipo de riscos ou nas diferen-tes áreas geográficas em que estão locali-zados esses riscos. Com isso obtemos uma assessoria mais precisa a cada momento e

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dependendo dos diferentes cenários que possam ocorrer. Isso, talvez, pode fazer a diferença com outros grupos empresariais, quer sejam ou não do nosso setor, já que não é habitual se trabalhar assim.

A Alta Direção do Sol Meliá está envolvida no estabelecimento dos objetivos e estratégias relacionadas à Gerência de Riscos?No Sol Meliá trabalha-se em um pa-

drão de consciência do risco e a Alta Direção, lógico, está muito envolvida nas estratégias e objetivos, e baseia suas decisões na informação objetiva que lhe fornece uma clara visão do risco.

Por exemplo, aos típicos 3 ‘C ’ da gestão de crise (Clientes – Caixa – Custos), o Sol Meliá incorporou a Gerência de Riscos como um foco fundamental de atuação da compa-nhia, foco liderado pela área de Legal & Compliance, em colaboração e har-monia com os demais responsáveis diretos do restante dos focos de atu-ação.Neste contexto, posso destacar vários fatores fundamentais na gestão do risco, como, por exemplo: a diver-sificação tanto em mercados emisso-res quanto em partners estratégicos; a exposição de risco-país, e o acompa-nhamento dos devedores e a sua aná-lise sistemática, um aspecto que há alguns anos estava adormecido e que agora, com a crise, foi reativado. Esta gestão permitiu uma sustentabilida-de das taxas de morosidade e insol-vências em níveis anteriores à atual crise e uma manutenção dos prazos de recebimento de dívida dentro dos parâmetros normais e completamente aceitáveis.

Mas se a Alta Direção não tivesse es-tado envolvida, tudo isto não teria che-gado a cristalizar. A Alta Direção impul-

sionou e liderou o controle do risco.

E o restante da organização, como participa do controle dos riscos?Principalmente nos hotéis, que re-

almente são os centros de negócio de uma empresa hotelaria, tem-se uma consciência clara da gestão de riscos. Todos os diretores e diferentes chefes de departamentos têm à sua disposição as normas, tanto em matéria de seguros quanto de créditos, para apoiar ou es-clarecer qualquer dúvida pontual.

Além disso, de nossa área corpora-tiva mantemos constante comunicação com eles, por meio de circulares sobre aqueles temas ou aspectos que muda-ram, e estamos sempre à sua disposição para novos riscos que possam surgir, buscar a forma de mitigá-los, evitá-los ou, se for o caso, contratar as cobertu-ras necessárias para cobri-los.

Indiscutivelmente, a rede comercial da organização está totalmente envol-vida e alinhada com Risk Management no que se refere aos novos clientes, no-vos destinos que possam surgir, a aná-lise da viabilidade de operações com eles e, se possível, o estabelecimento de políticas que lhes permita operar com crédito. Por exemplo, a Direção de Alianças Estratégicas / Joint Ven-tures mantém completa comunicação para analisar novos candidatos ou pos-síveis partners, cada vez que ocorre um novo relacionamento ou a possibilida-de de ocorrer.

MAPA DE RISCOS

Como é desenhado o mapa de riscos de um grupo formado por mais de 300 hotéis, localizados em 30 países de quatro continentes, e com 35.000 empregados?

O QUE

DEVEMOS FAZER

É APRENDER A

GERIR O RISCO”.

“NO SOL MELIÁ

TRABALHA-

SE EM UM

PADRÃO DE

CONSCIÊNCIA

DO RISCO E A

ALTA DIREÇÃO

ESTÁ MUITO

ENVOLVIDA NAS

ESTRATÉGIAS E

OBJETIVOS

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entrevista

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Não tem sido fácil. No marco de um cenário tão diversificado quanto o que temos, o esforço para poder reali-zá-lo não foi pequeno. Para isso con-tamos com a assessoria e colaboração de PwC, que realmente nos facilitou muito o processo, mas sem diminuir a sua dificuldade.

O desenvolvimento do nosso mapa de riscos foi realizado pelo Departa-mento de Auditoria Interna, no marco do Legal & Compliance. Depois des-te exercício, agora temos uma diretriz muito mais clara, porque identificamos aqueles riscos tanto por possibilidade de impacto quanto pela severidade que possam trazer nos diferentes campos do negócio, não somente no operacio-nal, mas também no estratégico, de re-putação, etc.

Este processo ocorrerá de novo de forma sistemática, pois há novos riscos que podem surgir e outros que podem desaparecer no tempo, dentro de um mercado que muda tanto e tão dinâmi-co quanto o atual.

Neste momento, quais são os riscos que mais o preocupam? As insolvências? A queda do número de turistas? Os fenômenos naturais, de especial incidência nas áreas de expansão?Todos eles, em maior ou menor

grau, dependendo do momento con-juntural, nos preocupam.

Os fenômenos naturais sempre nos preocuparão. Ainda que tenhamos al-guns anos sem incidências relevantes, não nos descuidamos. A cada ano re-alizamos, no mínimo uma vez, e se possível duas, formação direta nos hotéis de maior exposição, para todo o pessoal chave dos estabelecimentos, não somente os diretores, para que, à margem de que exista um procedi-

NOS HOTÉIS

EXISTE A

CONSCIÊNCIA

CLARA DA

GESTÃO DO

RISCO”. “AGORA

TEMOS UMA

‘DIRETRIZ’

MUITO MAIS

CLARA E O

PROCESSO

SERÁ REPETIDO

NOVAMENTE

DE FORMA

SISTEMÁTICA”.

mento escrito de plano de contingên-cia, estejam realmente preparados e sensibilizados. Nestes casos, contamos com a participação ativa dos diferentes brokers, tanto em nível global quanto local. Devemos seguir nesta linha para que o nível de conscientização atingi-do até hoje não caia. Neste momento estamos preparados e sensibilizados diate da possibilidade de ocorrência destes eventos, mas não devemos nos descuidar.

Sem dúvida, a queda do número de pernoites é um risco que temos con-templado, mas com o fortalecimento de nossas marcas, a qualidade do ser-viço e muitos outros trabalhos comer-ciais que são realizados, estamos ge-rindo este risco a todo o momento e muito especialmente dentro do marco socioeconômico atual.

É certo que agora, com a crise fi-nanceira, o risco que está mais na moda é o risco de insolvência, mesmo que com uma gestão dinâmica e pro-ativa este seja paliável e controlável. Muitas empresas de diversos setores que tinham esquecido este risco vol-taram a geri-lo de forma muito direta nos últimos tempos, especialmente se foram afetadas direta ou indiretamen-te por ele.

GESTÃO DO CRÉDITO COMERCIAL

Como se deve gerir o crédito comercial em uma empresa hoteleira?Apesar de algumas peculiaridades

próprias do setor hoteleiro, como a sua dispersão geográfica, diferentes ju-risdições, norma... há três pilares que não podem ser esquecidos na gestão do crédito comercial, que são a prevenção, a gestão e o recebimento.

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Em matéria de prevenção, devem-se realizar análises financeiras e de solvência dos clientes a crédito, antes da sua concessão, durante a vigência do acordo e muito especialmente para aqueles devedores que suponham uma maior exposição ao risco de crédito, quer seja por seu volume ou por sua baixa solvência financeira. A prevenção é a base de minimização antecipada de qualquer débito. Isto deve estar muito claro. Por isso, na nossa equipe estamos um pouco obcecados por prevenção.

Em matéria de gestão, deve-se rea-lizar um acompanhamento detalhado e mais preciso possível do cumprimen-to dos acordos, dos limites de crédito, prazos de recebimento e incidências pontuais que podem ocorrer, regis-trando e realizando uma análise de tendência, sempre levando em conta o rumo do mercado, que em muitas oca-siões é o que marca as práticas em cada um dos setores. Além disso, deve-se ter presente que o mercado é dinâmi-co, pelo qual é necessário ir adaptando os parâmetros de análise e tomada de decisões, conforme as características do mesmo.

Finalmente, a cobrança, quer seja amistosao ou judicial, é algo que não deve passar a um plano inferior. Dispor de capacidade de negociação e ajudar os devedores com dificuldades a enfren-tar as suas dívidas é papel fundamental do gestor, pois, o objetivo não é outro senão a recuperação da dívida. Com uma boa gestão nesta matéria obtêm-se resultados realmente surpreendentes. Muitos dos que jogam a toalha diante das dificuldades seriam surpreendidos perante o nível de recuperação das dí-vidas que são consideradas perdidas; pois, em muitas ocasiões, com acordos especiais, pode-se propiciar um marco no qual o devedor possa ter viabilidade

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de pagar novamente, sem que seja ne-cessário criar uma insolvência ou pro-cedimentos longos e custosos, que, às vezes, são menos efetivos.

Quais regras são seguidas no Sol Meliá para reduzir o risco de impacto de agências e tour operadores?As anteriormente mencionadas, às

quais se deve acrescentar o constante monitoramento das operações a crédi-to para poder nos antecipar, na medida do possível, a qualquer incidência.

Também realizamos operações de transferência de risco mediante opera-ções de titularização dos referidos ati-vos comerciais, e fazemos operações de factoring para a transferência de fisco de forma sistêmica, dependendo dos volumes de carteira, em cada linha de negócio.

Tampouco devemos esquecer que temos a sorte de contar com partners estratégicos, agências de viagem ou tour operadores, que nos oferecem uma grande colaboração, o que nos fa-cilita em grande parte, a gestão. Con-tar com bons partners não somente dá confiança, mas uma segurança muito mais elevada.

O setor hoteleiro espanhol aumentou nos últimos anos a sua presença em nível internacional, tanto no Caribe e na América Latina quanto no restante da Europa. Quais regiões tem agora o maior risco?Em diferente medida, cada região traz

consigo um risco diferente. Em minha opinião, não devemos baixar a guarda nos destinos expostos a riscos hidro-meteorológicos ou sísmicos, criando a consciência de que vivemos expostos a eles e dispondo de um plano de atuação e contingências; tudo isso reforçado pela formação.

“SEM DÚVIDA,

A QUEDA DO

NÚMERO DE

PERNOITES

É UM RISCO

QUE TEMOS

CONTEMPLADO”.

“AGORA,

COM A CRISE

FINANCEIRA, O

RISCO QUE ESTÁ

MAIS NA MODA

É O RISCO DAS

INSOLVÊNCIAS”.

RETENÇÃO E TRANSFERÊNCIA DO RISCO

Qual é a política de retenção e transferência do risco do Sol Meliá?Tanto na área de danos próprios

quanto de responsabilidade civil, te-mos a política de ter todos os nossos ativos cobertos, além disso, com li-mites elevados, pela característica do nosso negócio, para que possam nos oferecer cobertura de forma suficiente diante das possíveis eventualidades.

Quais linhas básicas compõem o seu programa de seguros?Contamos com vários programas.

De um lado, o chamado programa Eu-ropa, um programa não tradicional de coberturas, com um LTA (Long Term Agreement) de três anos. No entanto, o programa América / Caribe está dentro do marco tradicional, pela particularida-de das coberturas de desastres naturais. Depois temos apólices D&O, seguros para frotas de veículos e coberturas para o pessoal, de acordo com a legislação e normativa em cada jurisdição.

As condições ficaram mais rígidas ou aumentaram os prêmios para o mercado hoteleiro? Quais riscos têm agora pior aceitação?Para falar a verdade, não é assim no

nosso caso, pois a demonstrada gestão de riscos e a redução da sinistralidade obtida mediante a referida gestão nos favoreceu para que pudéssemos obter, inclusive, melhores condições que em exercícios anteriores. Os riscos que continuam tendo pior aceitação são os derivados do clima, tanto ‘hidro’ quanto sísmicos. Ainda que notemos que o mercado de resseguro, neste momento, tem novamente capacidade suficiente para eles.

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entrevista

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Então, você acredita que existe suficiente resposta no mercado segurador para cobrir riscos como as catástrofes naturais?Neste momento, sim. Onde o mer-

cado está sendo mais escrupuloso, hoje, é com os riscos financeiros e derivados de crédito, pela crise internacional que se desmoronou e pelas perdas acumu-ladas que sustentam.

O Sol Meliá conta com alguma companhia cativa?Não. O principal motivo é o de efi-

ciência de custos. Neste momento, conforme a última análise, realizada no início deste ano, fica mais em conta ter a referida diversificação de coberturas que a estruturação de uma companhia cativa. Mas isso não significa que no futuro, quando a conjuntura o propi-ciar, não se possa colocar em prática.

SINISTROS E PLANOS DE CONTINGÊNCIA

Por sorte, os hotéis do Sol Meliá na República Dominicana não foram afetados pelos terremotos do Haiti e, neste momento, a situação está voltando ao normal. Não obstante, qual lição se pode ter após um sinistro deste tipo?Uma catástrofe humanitária deste

porte não é positiva no marco das re-servas para o futuro, pelo impacto mo-ral que produz em qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade. Entretan-to, neste sentido, ser uma companhia responsável e solidária tem nos ajudado a reagir de forma imediata, implemen-tando um sistema pelo qual cada reserva para este destino gera diretamente uma ajuda aos afetados pela referida catástro-fe (4 euros por cada noite de estadia).

Não é mercantilismo, mas uma for-ma para não prejudicar os hotéis da área,

“TODAS AS

EMPRESAS

HOTELEIRAS

ASSEGURAM OS

SEUS ATIVOS E

VÃO ADQUIRINDO

CONSCIÊNCIA DA

NECESSIDADE

DA GESTÃO DOS

RISCOS”.

Em 1983, Gaspar Llabrés iniciava a sua carreira profissional na área de Operações do Sol Meliá, desempenhando diversas funções em diferentes hotéis e departamentos (Alojamento, Recepção, Auditoria, Créditos, Formação) dentro da rede hoteleira. Em 1996, foi nomeado diretor de Créditos do Grupo e desde 2008 ocupa o cargo de VP Risk Management.

Palestrante em “Finanças e Controle de Gestão”, dentro do MTA da Universidade das Ilhas Baleares (UIB), em 2000 Llabrés dirigiu o seminário “Estratégias de expansão de redes hoteleiras internacionais” na Câmara de Comércio de Mallorca, com foco na formação de diretores ativos. Sua atividade na área docente não acaba aqui, já que atualmente participa de seminários ministrados a executivos por escolas e empresas de formação em Créditos e Riscos.

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SOL MELIÁ: SOLVÊNCIA, INOVAÇÃO, RECONHECIMENTO E MUITAS COISAS MAIS

Também destaca a sua colaboração com o Dr. Onofre Martorell, na publicação de Cadeias hoteleiras – Top 10 e Growth sytrategies of hotel chains. Llabrés conta, ainda, com uma longa experiência no desenho de financiamentos estruturados sobre ativos comerciais e operações de titularização, e está presente em fóruns e exposições internacionais sobre o tema.

Fundada por Gabriel Escarrer Juliá, em 1956, o Sol Meliá é a maior companhia hotelaria de férias do mundo, além de ser líder do mercado espanhol, tanto na área de lazer quanto de negócio. Atualmente dispõe de mais de 300 hotéis espalhados em 30 países dos quatro continentes, e conta com um quadro de mais de 35.000 funcionários. As marcas com as quais comercializa os seus produtos são Gran Meliá, Meliá Hotels & Resorts, ME by Meliá, Innside, TRYP Hoteles, Sol Hoteles, Paradisus Resorts e Sol Meliá Vacation Club.

Além disso, foi a primeira companhia hotelaria espanhola a sair na bolsa de valores em 1996. Com mais de 50 anos de experiência hoteleira, o grupo iniciou em 2008 o seu novo plano estratégico, enfocando a sua atuação em cinco áreas estratégicas: Brand Equity, Conhecimento e Contato do Cliente, Desenvolvimento da Gestão de Ativos, Gestão do Talento e Potencialização da Responsabilidade e Sustentabilidade.

Poderia descrever as suas principais funções como VP Risk Management do Sol Meliá?

São múltiplas, mas destacaria o desenho das políticas de risco do grupo, a elaboração das normas de risco e sua implementação, e o acompanhamento da evolução dos diferentes riscos. Também cuido da tomada de decisões referente às coberturas e suas contratações e em relação ao crédito clientes, ou seja, do acompanhamento, estabelecimento de condições, monitoramento de solvência, incidências, estabelecimento de garantias etc. Estas são, em resumo, as minhas funções.

Qual foi o seu maior sucesso neste cargo?Acredito que o maior sucesso foi plantar uma

semente que, neste momento, já germinou, e criar

assim uma consciência da gestão do risco dentro do grupo. Não foi fácil, tampouco imediato, pois estes temas levam tempo para expandir, mas neste momento estamos em um nível de controle que nos posiciona em um bom lugar dentro da atual situação econômico-financeira vivida em nível mundial, e, graças ao controle do risco, estamos mais preparados que outras empresas para enfrentar a atual crise, com decisões baseadas em elementos objetivos e avaliação dos riscos envolvidos.

Grande parte de sua trajetória profissional foi desenvolvida no grupo hoteleiro. O que você mais gosta de fazer no Sol Meliá?

Não é uma coisa só, mas um conjunto de coisas o que lhe dá satisfação de poder fazer parte do Sol Meliá. Em primeiro lugar, hoje mais do que nunca, a sua solvência financeira, solvência demonstrada pela resistência à crise atual.

Outro fator é, sem dúvida, sua internacionalidade. A companhia está presente em mais de 30 países e isto, como profissional, lhe dá uma visão muito ampla do negócio. O Sol Meliá é uma rede inovadora, onde temos a possibilidade de inovar. É uma empresa que escuta as pessoas da organização e temos a oportunidade e a capacidade necessárias para inovar nas nossas especialidades.

Também contribui para o reconhecimento do Sol Meliá, especialmente por sua qualidade e serviço, com sete marcas hotelarias fortes e reconhecidas, ao qual se deve acrescentar a capacidade de expansão, inclusive nos momentos de crise, por esse reconhecimento do mercado.

Somos líderes em nossos valores: sociais, meio ambientais, culturais... Por exemplo, somos uma companhia com tanta diversidade que temos funcionários de mais de 90 nacionalidades e falamos com os nossos clientes em mais de 25 línguas diferentes.

Planejou já as suas férias de inverno? Terá como destino algum dos hotéis da rede?

Ainda não as planejei, mas sem dúvida o destino escolhido será um em que temos um hotel, o qual é muito provável, é onde ficaremos, pois estaremos como em nossa casa. A cultura de serviço é um dos nossos valores.

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“TANTO NA

ÁREA DE

DANOS

PRÓPRIOS

COMO DE

RC, TEMOS A

POLÍTICA DE

TER TODOS OS

NOSSOS ATIVOS

COBERTOS”.

“A VISÃO

GLOBAL DO

NEGÓCIO

FACILITA MUITO

O TRABALHO,

ESPECIALMENTE

NA

IDENTIFICAÇÃO

DE RISCOS”.

pois a hotelaria é o seu principal foco de sustentação e onde uma queda de negó-cio afetaria muito diretamente as pessoas que estão empregadas nos hotéis, no que se refere à continuidade dos seus postos de trabalho.

Qual é a importância dos planos de contingência do negócio? Agora são especialmente necessários com a atual conjuntura econômica?Os planos de cntingência são muito

importantes dentro da atual situação, e não somente na criação de mapa de ris-cos, mas também na adequada tomada de decisões, pondera-se de forma direta o plano de continuidade em cada negócio ou linha de negócio, tomando as ações necessárias em cada caso específico. Agora existe uma maior sensibilização pela sustentabilidade dos negócios.

De forma geral, como qualificaria a segurança no setor hoteleiro?Em maior ou menor grau, todas as

empresas hoteleiras asseguram os seus ativos, seus riscos e vão adquirindo cons-ciência da necessidade da gestão dos ris-cos, talvez com uma velocidade diferente entre umas e outras. Qualificaria dentro de um grau ‘muito aceitável’ o nível de gestão neste aspecto das diferentes em-presas hoteleiras européias e americanas, ainda que certamente muitas delas pu-dessem melhorar. Vejo o setor hoteleiro muito mais dinâmico e pro-ativo nesta matéria que outros setores.

CRIAR VALOR

No Sol Meliá todos mostram-se especialmente satisfeitos por ter obtido a certificação como primeira Companhia Hoteleira da Biosfera. A Gerência de Riscos contribuiu para conseguir este reconhecimento?

Sim, aportando a perspectiva finan-ceira e a assessoria para estes efeitos. Não obstante, os que desempenham um papel muito importante são os de-partamentos de Obras e Manutenção, e especialmente o Departamento de Sustentabilidade e Responsabilidade Social.

A certificação vem comprovar que o Sol Meliá cumpre determinados pa-drões. Temos 30 hotéis certificados e, em nível geral, a companhia contem-pla a Responsabilidade Social e Meio Ambiental em todos os seus processos internos. Além disso, por este reco-nhecimento, nos comprometemos a uma melhora continua nesta direção.

Você acredita que a Gerência de Riscos contribui para criar valor dentro das empresas?Claro que sim, principalmente para

aportar segurança, na prevenção ou na gestão da crise, ou no caso dos riscos de reputação. Também contribui para a criação e geração de confiança nos mercados, tanto de clientes quanto nos mercados financeiros. Em 2009, o barômetro de confiança em empre-sas espanholas (BCEE), realizado pela consultora Future Brand, nos reco-nheceu como a terceira empresa que proporciona mais confiança.

É vital conhecer a fundo o negócio da empresa para ser um bom gerente de riscos?A visão global do negócio facil i ta

muito o trabalho, especialmente na identif icação de riscos e seu possí-vel tratamento. Deve-se conhecer o risco.

Em poucas palavras, como será o gerente do futuro e que lugar ocupará na empresa?

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Embora seja um temor querer adivinhar o futuro, eu apostaria que o gerente ocupará um papel cada vez mais relevante dentro das organizações, e muito especialmente no que

tange a tomada de decisões. As corporações e as empresas, estão percebendo que o posto pode agregar um valor objetivo para tomar decisões de forma mais adequada e segura.

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estudos

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estudos

Os microsseguros surgiram no mercado segurador como produto novo, cuja primeira idéia é o enfoque social e o baixo valor das coberturas e prêmios, mas, além disso, os microsseguros incorporam outros elementos complexos, menos conhecidos, que derivam do segmento ao qual estão direcionados, o de menores receitas, que dificultam e limitam a im-plantação dos critérios convencionais da atividade seguradora, tanto em aspectos de riscos quanto nos estritamente operacionais, questionando a viabilidade de projetos sustentáveis economicamente.Os diferentes operadores e órgãos internacionais, comprometidos com o desenvolvimento dos microsseguros, realizam seus esforços na identi-ficação e avaliações dessas limitações e barreiras, para buscar fórmulas viáveis para superá-las, apoiando-se em iniciativas e desenvolvimentos inovadores que lhes permitam acessar um mercado potencial de 4.000 milhões de habitantes e 5.000 milhões de dólares de receitas por rendas anuais, respondendo com isso aos seus programas de Responsabilidade Social, ao mesmo tempo que a seus planos estratégicos de negócio.

FRANCISCO JAVIER GARAYOA ARRUTIDEA Ciências del Seguro – Universidad Pontifícia de Salamanca A atividade

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MICROSSEGURADORA e suas singularidades

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estudos

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QUAL É O SENTIDO DOS MICROSSEGUROS?

Esta pergunta nos leva a contemplar a clássi-ca dupla visão dos microsseguros, a do compro-misso social, que é o enfoque originário, e nos relaciona aos programas de Responsabilidade Social Corporativa, e a de dar uma resposta à demanda do mercado de baixas receitas, identi-ficado como o da base da pirâmide de riqueza, com traços mais próprios da atividade comer-cial seguradora. Ambos os enfoques nos levam ao mesmo objetivo, que não é senão o de aliviar as situações de vulnerabilidade dos mais pobres. Este duplo enfoque é representado, graficamen-te, com o modelo trazido por C. Churchill, que é o mais conhecido entre os estudiosos de mi-crosseguro. Assim, temos:

Figura 1. As duas faces dos microsseguros.Fonte: Churchill 2006.

Dependendo do enfoque, muda total-mente a aproximação à atividade microsse-guradora, subsidiada no seu enfoque social ou auto-sustentável na visão comercial, mas, como a realidade resiste aos desenvolvimen-tos teóricos reducionistas, as análises gerais partem dos fundamentos sociais e evoluem a enfoques de mercado, de modo a conviverem ambas as visões.

Outra diferenciação teórica é a que par-te da função do microsseguro, que pode ser “protetora”, stricto sensu, e que contemplaria a proteção pessoal e familiar, com produtos de vida e saúde, e a que é denominada “pro-dutiva”, baseada no apoio aos investimentos em atividades econômicas, com microssegu-ros patrimoniais, relacionados ao trabalho agrícola, pecuário ou de pequena empresa. Na prática, como no enfoque anterior, em ambos os casos o fundo é o mesmo, a prote-ção dos grupos de maior pobreza frente aos riscos aos quais estão expostos.

Tomemos, como referência de partida, uma das definições mais completas dos mi-crosseguros, e sobre as quais o consenso dos pesquisadores é maior. Trata-se da trazida pelo Grupo Consultivo de Ajuda aos Pobres

do Banco Mundial (CGAP)1, que define o microsseguro como “aquele que protege a população com baixas receitas diante dos perigos incertos, em troca do pagamento de prêmios, de forma regular, que são propor-cionais à probabilidade e ao custo do risco assumido”. (C. Churchill 2006).

1 Denominado atualmente, desde o ano de 2008, Microinsurance Network.

OS MICROSSEGUROS “PROTEGEM A POPULAÇÃO COM BAIXAS RECEITAS DIANTE DOS PERIGOS INCERTOS, EM TROCA DO PAGAMENTO DE PRÊMIOS, DE FORMA REGULAR, QUE SÃO PROPORCIONAIS À PROBABILIDADE E AO CUSTO DO RISCO ASSUMIDO”.

Proteção social para os

trabalhadores da economia informal

JANO: AS DUAS FACES DOS MICROSSEGUROS

Um mercado novo para

os seguradores

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Figura 2. O desafi o do equilíbrio nos microsseguros. Fonte: “Strategies for Sustainability”, Churchill, C. e Garand, D. (C. Churchill 2006).

Nesta definição contempla-se, como caráter diferente do microsseguro, a aten-ção ao segmento de baixas receitas, mas incorporando os prin-cípios básicos da ati-vidade seguradora tradicional, como a regularidade do paga-mento dos prêmios, a incerteza dos riscos e a proporcionalidade dos prêmios com o risco e os custos.

Conforme adentramos no estudo do mi-crosseguro, vemos que alguns aspectos desta definição são de difícil aplicação no segmento de baixas receitas, que, como falamos ante-riormente, condiciona tanto o produto quan-to a própria atividade, limitando a implan-tação dos princípios da atividade seguradora tradicional.

Para ilustrar esta afirmação basta mencio-nar, como condicionante chave, a necessária “acessibilidade” ao pagamento dos prêmios pelos membros do segmento de baixas recei-tas, que, em muitos casos, é dificilmente com-patível com o princípio de proporcionalidade entre os prêmios e o risco coberto, ou com a repercussão dos custos operacionais. (Leve-mos em conta que a sinistralidade e os cus-tos serão superiores aos de outros segmentos, dada a especial vulnerabilidade do coletivo, a complexidade e o custo de habilitar novos canais de distribuição, e os próprios custos, derivados de coberturas unitárias menores, entre outros).

Como vemos, a complexidade da atividade microsseguradora começa a ficar evidente. Já não se trata somente de seguros de baixas co-berturas e prêmios baixos, dada a identifica-ção de suas dificuldades e condicionantes, que supõem algumas autênticas barreiras a serem superadas pelos operadores tradicionais que desejam iniciar em microsseguro.

Uma visão dos condicionantes econômicos a

ser afrontada será a que plasmamos no chama-do “desafio dos microsseguros”, tratado por C. Churchill e Denis Garand, sobre as estratégias de sustentabilidade (C. Churchill 2006), que graficamente são representados na figura 2.

Como podemos observar, na figura 2 deve ocorrer esse equilíbrio entre as coberturas, a aces-sibilidade dos prêmios e os custos operacionais, algo nada fácil, como podemos ver.

Para alcançar o equilíbrio entre sustentabilidade econômica e acessibilidade não servem os esque-mas tradicionais da atividade seguradora, sendo imprescindível inovar, redesenhando os produtos típicos, reelaborando novos canais de comerciali-zação, simplificando os processos internos e, de-

Custos operacionais

Cobertura

BUSCANDO O EQUILÍBRIO: O DESAFIO DOS MICROSSEGUROS

Acessibilidade

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estudos

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finitivamente, adaptando-os ao mercado ao qual se pretende acessar. Nesta linha, como avanços, acrescentaremos algumas particularidades sobre o produto, a demanda e os canais de distribuição, incorporando finalmente alguns exemplos de me-didas de ajuste.

1. Problemas nas especificações técnicas do produtoPara que se possa avaliar adequadamente o

risco futuro assumido, e para que os atuários possam estabelecer os critérios e as quantifi-cações correspondentes, é necessário ter um conhecimento coletivo da sinistralidade e de outros aspectos sobre os quais, na maioria dos casos, não temos uma informação contrastada e confiável, sendo esta a primeira barreira com a qual nos deparamos.

Como complexidade acrescentada, deve-mos levar em consideração que o segmento de maior pobreza é caracterizado pela alta vola-tilidade na sinistralidade, a maior exposição à co-variação de riscos e a base econômica irre-gular e de tipo informal dos segurados.

Com as avaliações indicadas, já podemos ter uma idéia com relação à complexidade na determinação das especificações técnicas do produto, de modo que é necessário recorrer a fórmulas inovadoras e imaginárias, que apre-sentem soluções reais.

2. Dificuldades na identificação da demandaApresentam-se problemas relacionados à

identificação, acesso e resposta à demanda do produto, a qual não costuma estar formada com clareza.

Com relação a este ponto, deve-se indi-car que este segmento de população costuma apresentar resistências quanto à confiança no segurador, não entendendo em muitos casos os pontos fortes do produto.

A falta de cultura financeira, onde se desta-ca a relativa aos seguros, costuma levar a situ-ações nas quais não é formada uma demanda clara, não identificando positivamente o for-necedor do seguro, nem entendendo o sentido

do pagamento de prêmios por conta de bene-fícios futuros, por um sinistro incerto.

É imprescindível criar uma cultura de segu-ros, agregando conhecimento suficiente, com o custo econômico e de tempo correspondentes, obtendo, assim, um clima favorável para a ativi-dade microsseguradora. Se ao indicado acrescen-tamos que os contratos incorporam uma termi-nologia complexa de entender, para os quais na maioria dos casos precisam que alguém os ajude, dado o alto nível de analfabetismo, o problema fica mais difícil ainda.

Um aspecto característico, desta vez positivo, do enfoque de custos e de acesso é o da contrata-ção de grupo, por coletivos, própria dos microsse-guros, ainda que depois seja concretizado dentro dos ambientes de famílias, o qual supõe econo-mias de custos, bem como uma parcela linear para todos aqueles que têm a mesma cobertura.

Do ponto de vista da demanda, a contratação de grupo supõe que deverão ser identificadas estas agrupações ou coletivos, conhecer as suas neces-sidades e apresentar ofertas de produtos que res-pondam a elas, conforme suas prioridades.

3. Os canais de distribuiçãoÉ fundamental o desenvolvimento de certos

canais de distribuição funcionais, tanto do enfo-que de custos quanto operacional e aproximação com o segmento. Para tanto deve-se cumprir as

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seguintes características básicas, independente-mente do modelo a ser seguido:

a. A proximidade física ao segmento de baixos recursos.b. A confiança que deverão criar com relação aos referidos segmentos.c. Um nível de eficiência adequado, para que todo o processo seja realizado de forma ótima.

4. Exemplos de medidas de ajusteDescendo ao terreno operacional, e como

exemplo, podemos aplicar as seguintes medidas, com impacto nos custos:

1 – Limitação dos benefícios: Aqui pode haver diferentes variantes, como a oferta limitada aos seguros de vida de amortização de créditos, os limites anuais de indenizações, ou os de cobertura de serviços de saúde, entre outros.

2 – Enfoque de eficiência operacional: Neste ponto nos referimos àqueles aspectos que comportam um mínimo custo de contratação ou operacionalização administrativa, como nos casos de grupos cobertos automaticamente por pertencerem a órgãos públicos ou privados, como sindicatos ou cooperativas, e os que utilizam métodos de arrecadação de baixo custo, como os que estão deduzidos dos juros das economias nas instituições microfinanceiras.

3 – Modelos de distribuição ótimos. É conveniente contar com modelos de distribuição que não suponham um custo acrescentado, como podem ser a utilização do modelo sócio agente, os órgãos comuns e os acordos com grandes companhias que fornecem serviços.

Como complemento ao indicado e para evitar custos de sinistralidade, é importan-te desenvolver campanhas de prevenção que evitem os riscos, ou reduzam as possibilida-des de que ocorram (por exemplo, as campa-nhas de prevenção do HIV/SIDA).

Outra possibilidade de reduzir os custos é a negociação com os fornecedores de serviços finais, que é o caso típico dos seguros de saú-de, que chegam a estabelecer tarifas ajustadas com os serviços.

CComo conclusão, a soma da adição do risco e dos custos nos prêmios deverá nos dar essa parcela que se possa assumir, resul-tado do “equilíbrio”, que é a chave mestre do acesso ao mercado dos microsseguros, entendido como uma atividade com vocação de auto-sustentabilidade.

O SEGMENTO DE MAIOR POBREZA É CARACTERIZADO PELA ALTA VOLATILIDADE NA SINISTRALIDADE, A MAIOR EXPOSIÇÃO À CO-VARIAÇÃO DE RISCOS A BASE ECONÔMICA IRREGULAR E DO TIPO INFORMAL DOS SEGURADOS.

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COMO SE MANIFESTA A ATIVIDADE MICROSSEGURADORA?

Conforme nos aproximamos da atividade mi-crosseguradora real, vemos que os posicionamen-tos teóricos dos seguros tradicionais balançam, principalmente por que estamos diante de um mercado que se baseia, principalmente, em ope-radores informais, não regulados nem supervisio-nados, que supõe incerteza, tanto para os clientes quanto para a continuidade da própria atividade.

O panorama que se apresenta é pouco anima-dor, com uma grande parte dos operadores não regulados e sem controle por nenhum supervisor,

com escassos dados contrastados com relação a as-pectos tão sensíveis quanto a sinistralidade, com critérios de solidariedade frente aos de proporcio-nalidade, e exclusões mínimas e prêmios lineares nas contratações de grupos etc.

Para poder enfrentar esta realidade e configurar um mercado do microsseguro estável, com traços de continuidade, é fundamental o trabalho dos re-guladores nacionais, potencializando os aspectos que impulsionem seu desenvolvimento, a partir da própria realidade do seu mercado nacional.

O marco legal deve contemplar as singularidades necessárias para potencializar este ramo de atividade, atendendo a aspectos como as licenças de ativida-

Figura 3 – Estados do planejamento do

regulador.Fonte própria.

PARA CONFIGURAR UM MERCADO DO MICROSSEGURO QUE SEJA ESTÁVEL E QUE TENHA TRAÇOS DE CONTINUIDADE É FUNDAMENTAL O TRABALHO DOS REGULADORES NACIONAIS

COORDENAÇÃO DE APORTES DE

DOADORES

NORMATIVA QUE REGULE A ATIVIDADE MICROSSEGURADORA

Mercado Regulado Mercado não Regulado

Censo de operadores: formais e informais

PLANO DE INTEGRAÇÃO

POR FASES

Regulador

CONTROLE DE SUPERVISÃO

MEDIDAS FISCAIS FAVORÁVEIS E SUBVENÇÕES

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Figura 4 – Aportes dosoperadores aoprocesso deintegração.Fonte, desenvolvimentopróprio.

de das instituições microsseguradoras, os canais de distribuição, típicos e atípicos, os modelos simplifi-cados de contratos, a operação ágil e eficiente, e os processos de transformação da atividade informal à formal, tutelados desde o órgão supervisor, com o apoio e a iniciativa dos operadores formais, especial-mente as companhias de seguros de maior relevância (há exemplos nas iniciativas colocadas em funciona-mento em várias atuações dos reguladores, como na Índia, Peru, Brasil...).

Ilustramos graficamente o processo de trans-formação do modelo informal ao formal, fixando o papel fundamental do regulador e dos diferentes operadores, como se pode observar no gráfico da figura 3. (J. Garayoa, 2009).

Nesse gráfico se adverte como o processo de in-tegração parte da normativa que o regulador estabe-leça, com relação aos microsseguros, contemplan-

do suas singularidades. Esta normativa incorpora um plano de transformação na medida da realida-de do seu próprio mercado, atribuindo incentivos que compensem as dificuldades do processo, onde o supervisor, quem, além da sua incumbência de controle geral, tutele o referido plano.

No gráfico da figura 4 observa-se as atribui-ções, tanto dos operadores formais quanto dos in-formais, bem como o papel que o regulador deve desempenhar, sem esquecer o impulso integrador que deve partir dos operadores formais.

Vista a realidade que plasmamos, parece claro que a aposta pelo mercado dos microssegurado-res comporta, principalmente, uma importante mudança de mentalidade no mercado segurador formal, onde é imprescindível buscar alternativas possíveis que tornem compatível “a acessibilida-de com a sustentabilidade”, e o modelo “informal

CAPACIDADE DE RISCOS PROFISSIONALIZMO E TÉCNICA

INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

Operadores informais

Segmento de pobreza

Operadores formais

Demanda

MARCO LEGAL – REGULADOR

APROXIMAÇÃO CONHECIMENTO

CONFIANÇA

APROXIMAÇÃO DE INTEGRAÇÃO

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com o formal”, inovando nos canais de distribui-ção e nos modelos tecnológicos de baixo custo, estabelecendo mecanismos de avaliação e contro-le do risco suficientes e viáveis, e assumindo um componente de “renúncia” sobre as rentabilidades médias da atividade seguradora tradicional, em vista de critérios, tanto de responsabilidade social quanto, principalmente, de estratégias de negócio a médio e longo prazo, enquanto abrem vias de acesso a mercados emergentes com altos poten-ciais de crescimento, em volumes e margens.

Convém comentar que a sustentabilidade eco-nômica, em um primeiro momento, passará ne-cessariamente por possíveis subvenções parciais, daí a importância do trabalho de apoio das orga-nizações internacionais e das grandes multina-cionais do mercado segurador. Por conta disso é indispensável atingir um volume crítico que per-mita incorporar um nível de conhecimento e ex-periência a partir do qual sejam aplicáveis os crité-rios de riscos e as bases atuariais correspondentes, bem como o restante dos princípios da atividade seguradora convencional, com base na teoria dos grandes números.

Todo o processo evolutivo, ao qual fize-mos menção, requer um tempo, e assumi-lo

é a aposta interna que cada seguradora deve enfrentar, se deseja entrar no mercado de mi-crosseguro.

É ASSUMÍVEL, A PARTIR DO ENFOQUE SOCIAL E DE NEGÓCIO, A ATIVIDADE MICROSSEGURADORA?

Diante desta pergunta, podemos formular outras duas questões relacionadas:

1 – O que estamos colocando em jogo quando pensamos em abordar ou desatender a atividade microsseguradora?2 – Vale a pena, a partir do enfoque de responsabilidade social e de visão de negócio, ultrapassar as barreiras que surgem?A resposta, a tivemos da análise dos dados

que apresentamos a seguir, que dimensionam o que supõe, em números, o compromisso social de melhorar as situações de vulnera-bilidade do segmento de baixas receitas, bem como o potencial de negócio atribuído pelo referido mercado, relacionado diretamente às apresentações estratégicas de presença e quota de penetração a curto e médio prazo.

Figura 5 – Pirâmide de riqueza.Fonte: Elaborado com os dados do Relatório de Desenvolvimento Mundial das Nações Unidas 2005 (B.M. 2005).

4.000 milhões de hab.

RENDAS ANUAIS POPULAÇÃO HABITANTES

Mais de $ 20.000

De $ 1.500 a $ 20.000

Menos de $ 1.500

Nível 1

Níveis 2 e 3

Níveis 4

75 a 100 milhões de habitantes

1.500 a 1.750 milhões de hab.

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Como referências do potencial de merca-do, incorporamos o gráfico da pirâmide de riqueza da figura 5 (as rendas são calculadas em equivalência com a paridade dólar).

Analisando a estrutura de mercado, de acordo com o gráfico anterior, e sem levar em conta os extratos de pobreza extrema, próprios da atividade subsidiada, nos cen-traremos no mercado potencial com certos mínimos de capacidade de pagamento, indis-pensáveis para apresentações de autosusten-tabilidade.

A linha de indigência, ou pobreza extrema, somente se encaixaria nos microsseguros so-

Figura 6Fonte: Sobre os

dados da fi gura 3

(Adaptado de Microcare).

ciais ou mistos, concentrados, basicamente, na assistência à saúde, que terão um tratamento particular.

Com relação à quantificação do mercado po-tencial, podemos calculá-la em três milhões de pessoas, dado que temos reduzido de quatro bi-

O MERCADO POTENCIAL DOS MICROSSEGUROS PODE SER QUANTIFICADO EM 3.000 BILHÕES DE PESSOAS, UMA VEZ DESCONTADOS DO SEGMENTO TOTAL DE MENORES RECURSOS O 1 BILHÃO QUE VIVE ABAIXO DA LINHA DE INDIGÊNCIA.

Mercado de seguros tradicional

MERCADOS TRADICIONAIS E POTENCIAIS

Podem acessar Serviços Financeiros de Maior Nível- Clientes de Seguros Tradicionais

Segmento objetivo demicrofinanças e microsseguros

Pobres demais para acessar a microfinanças e seguros

Linha de Pobreza

Precisa assistência do Estado

Ricos

Não - pobre

Não - pobre vulnerável

Moderadamente pobre

Muito pobre

Indigente

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lhões do segmento total de menores recursos um bilhão que situamos na linha de indigência.2

Apesar das dificuldades enumeradas, não há dúvida que surge um mercado emergente, muito atrativo para as companhias de seguros nacionais e as grandes seguradoras multinacio-nais, quer seja por sua abrangência , com relação a pessoas, quer pelas receitas que proporciona (não esqueçamos a referência dos 5.000 milhões de dólares de receitas anuais).

Como dados significativos do mercado po-tencial incorporamos os seguintes:

1 – 50% da base da pirâmide de população estão localizadas na China e Índia, e a América Latina representa 10%.

2 – O nível de contratação de seguro da po-pulação, sobre a base da pirâmide, na África é de 1,3%, na Ásia 2,5%, e na América Latina 6,8% (Martínez, J. 2007). Diante destes dados e avaliações, a resposta de muitas companhias de

seguros tradicionais, partindo da divulgação do artigo Following the fortune at the bottom of the pyramid (Prahalad 2004), foi a o volume de projetos de pesquisa que adaptam seus modelos tradicionais, os produtos, os canais de distribui-ção, e inclusive a mudança de cultura institu-cional, para dar um novo enfoque à sua visão de negócio com relação ao segmento dos pobres. (Nesta mudança cultural convivem os aspectos sociais com os tradicionais de negócio).

Igualmente, os reguladores e supervisores de muitos países em desenvolvimento apoiaram pro-ativamente o nascimento de uma indústria de mi-crosseguros. Assim, temos os casos significativos da Índia, Peru e Colômbia e o processo colocado em andamento no Brasil, entre outros.

Nessa mesma linha, pode-se destacar a con-tribuição da Associação Internacional de Super-visores de Seguros (IAIS), que analisa os mo-delos para os quais deve-se ajustar a regulação do subsetor dos microsseguros, e dá pautas para criar um ambiente adequado que permita o de-senvolvimento da referida indústria (dependen-do da política reguladora de cada país, temos re-guladores mais ou menos intervencionistas em matéria de microsseguros, com diferentes res-postas de mercado).

Chegado a este ponto, vale a pena ressaltar o trabalho desenvolvido pelos órgãos internacio-nais, operadores singulares e doadores, em ma-téria de microsseguros, dos quais destacaremos os seguintes:1 – Fundo para a Inovação dos Microsseguros: Cria-se em 2008, dentro da OIT, com aportes econômi-cos da FUNDACIÓN Melinda e Bill Gates.2 – The Microinsurance Centre. Criado em 2000, a partir de uma iniciativa da Microsave-Africa, ofe-

2 Estes dados foram calculados sobre as referências do estudo do Centro de Microsseguros (Microinsurance Centre 2007).

O MERCADO DE MICROSSEGURO É MUITO ATRATIVO PARA AS COMPANHIAS DE SEGUROS NACIONAIS E AS GRANDES SEGURADORAS INTERNACIONAIS, TANTO PELA SUA ABRANGÊNCIA NO NÚMERO DE PESSOAS QUANTO PELAS RECEITAS QUE PROPORCIONA.

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rece formação em microsseguros e divulgação de experiências.3 – Microinsurance Network. É a atual denominação, desde 2008, do inicialmente chamado de Grupo de Trabalho sobre Microsseguros do Grupo Con-sultivo de Ajuda à População mais Pobre (CGAP), um dos primeiros agentes em escala mundial em microsseguros, que iniciou as suas atividades em 2003, do qual particiram o Banco Mundial e 60 contribuidores, seguradoras e outros interessados. Dele obtivemos a definição do microsseguro.4 – Fundação Munich RE. Estabelecida em 2005, participa ativamente do estudo e promoção dos microsseguros, destacando, entre suas atribuições, o trabalho de organização na Conferência Inter-nacional dos Microsseguros, de caráter anual.5 – Programa Mundial STEP. É um programa mundial estabelecido pelo Departamento de Se-gurança Social da OIT, dentro do qual são con-templados trabalhos de campo que são divulgados mediante o serviço on line Global Information

on Micro-Insurance (GIMI), onde participam de pesquisadores até agentes, doadores, órgãos de desenvolvimento e outros interessados na ativida-de microsseguradora.Como podemos notar, após esta breve análise, o mercado de microsseguro está em pleno desen-volvimento, com aspectos diferenciais em função dos diferentes ambientes geográficos e culturais, e com certos princípios comuns que partem da identificação certas necessidades sociais que de-vem ser atendidas. Além disso, há uma deman-da de produtos específicos de gestão do risco que deverá encontrar resposta, para um segmento al-tamente representativo na população mundial, e que neste momento, apenas pode ter acesso aos mecanismos mínimos para criar e preservar ri-queza, necessários para alcançar certas condições de vida dignas.

PÁGINAS DA WEB:

http://www.munichre-foundation.orghttp://www.ilo.org/microinsurancewww.microinsurance.orgwww.microinsurancefocus.orghttp://www.fasecolda.comhttp://www.worldbank.org

BIBLIOGRAFIA

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Churchill, C. (Ed. 2006). “Protecting the Poor. A Microinsurance compendium”. Editado por Craig Churchill. International Labour Office, CH-1211. Genebra. Suíça. ILO em associação com Munich Re Foundation 80791 Munich, Alemanha.

Garayoa, J. (2009), “Los microseguros como mecanismo de lucha frente a la pobreza: presente y futuro. (Un modelo de transformación)”. Centro de Documentação FUNDACIÓN MAPFRE.

Martínez, J.; González, A. e Restrepo, J. M. (Ed. 2007). “Microseguros o seguros populares: oportunidades de negocio que reducen la pobreza”. Revista Fasecolda, edição 121, ano 2007. Carreira 7 no 26-20, Bogotá, Colômbia.

Microinsurance Centre, (Ed. 2007).Toth, Jim; McCord, Michael J. e Liber, Dominic. Panorama de microsseguro, em documento

público de abril de 2007. PDF. “The Landsape of Microinsurance in the World´s 100 Poorest Countries”. Contato: Michael J. Mc. Cord, 1045 N. Lynndale Dr., Ste 2E Appleton, W154914. Acesso direto: http://www.microlinks.org/ev_debug.php?ID=19163_201&1D2=DO_TOPIC (Cons. 25/11/2009).

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estudos

A incidência da

de serviços na política de riscos das companhias: enfoque no setor segurador

Terceirização e da Quarterização

A terceirização e a quarterização de serviços é uma atividade a cada dia mais freqüente no mercado segurador. Este artigo descreve o con-texto destas práticas, suas vantagens e desvantagens, os principais países que as utilizam, o papel que devem desempenhar os gerentes de riscos e as soluções seguradoras existentes.

AURELIO LÓPEZ-BARAJAS DE LA PUERTAGEOSO Outsourcing & Offshoring Solutions

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CONTEXTO ATUAL DA TERCEIRIZAÇÃO E DA QUARTERIZAÇÃO DE SERVIÇOS

A globalização dos mercados, a in-ternacionalização das empresas e a difícil conjuntura econômica e finan-ceira que atravessa a maioria das em-presas são fatores que fazem com que se continue produzindo, no âmbito mundial, um processo de terceirização e quarterização na indústria que está se estendendo a todas as atividades de serviços.

Em sentido amplo, a terceirização e a quarterização são um processo que consis-te em que as empresas optam em contratar, geralmente, para os serviços não estratégicos das filiais ou de outras companhias, quer seja no mesmo país ou em outro diferente, em vez de produzi-los na matriz, principalmen-te por encontrar diversas vantagens compe-titivas, como custos mais baixos, infra-estru-turas melhor adaptadas, concentrar-se em sua atividade principal etc.

O quadro seguinte resume os cenários possíveis de localização e organização da prestação do serviço, de modo a conhecer melhor os termos empregados:

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estudos

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A união de terceirização e quarteriza-ção de serviços é um processo que pode gerar grandes oportunidades e novos desafios. O maior desafio é aumentar a competitividade, gerindo adequadamen-te os aspectos positivos do termo, mais próximos do crescimento, eficiência e qualidade. A quarterização de serviços é um modelo que tem registrado um rá-pido crescimento em diferentes setores econômicos a partir de, principalmente, um enfoque nearshore, ou seja, em uma região ou país próximo, que proporciona maior confiança e segurança às empresas. Atualmente, cerca de 60% dos processos de quarterização de serviços é realizado neste modelo nearshore.

Na Espanha, a quarterização de servi-ços é uma opção presente, fundamental-mente, nas áreas de call e contact centers e sistemas da informação. Setores como o financeiro (banco e seguros), teleco-municações, energético, empresas turís-ticas e serviços encabeçam a prestação dos seus serviços de atendimento desde plataformas localizadas, fundamental-mente, na América Latina (por motivo, principalmente, de custo e proximida-de). As empresas espanholas também iniciaram nos últimos tempos processos de terceirização com relação ao desen-

volvimento e manutenção de aplicações, bem como em outras atividades de uma alta carga administrativa.

A razão fundamental para empreender um processo de quarterização costuma ser a economia de custos, mas não é a única. Cada vez mais primam outros critérios, como a disponibilidade de profissionais com experiência, a estabilidade no traba-lho, infra-estruturas mais adequadas, o atrativo marco empresarial e fiscal etc.

Há três categorias distintas de quarteri-zação, de acordo com a distância geográfica existente entre a localização da empresa ma-triz e o local onde está quarterizada a execu-ção das tarefas. Neste sentido, fala-se de:

1. Onshore, no território nacional.2. Nearshore, em um território estrangeiro próximo.3. Offshore, em um território estrangeiro distante.

Os modelos nearshore prestados de regiões periféricas da Espanha, como Marrocos, minimizam o risco e agregam serviços competitivos e de qualidade, ao mesmo tempo que reduzem os custos e a fiscalização.

Apostar em um modelo de quarteriza-ção é uma decisão estratégica de qualquer companhia e o seu sucesso depende de:

A DESLOCAÇÃO DE SERVIÇOS É UM MODELO QUE TEM REGISTRADO UM RÁPIDO CRESCIMENTO EM DIFERENTES SETORES ECONÔMICOS

País de origem O serviço é prestado dentro da mesma empresa e no país de origem

O serviço é subcontratado de terceiros no país de origem

O serviço é subscontratado de um terceiro fornecedor de

serviços em outro país, quer seja uma empresa local ou uma fi lial estrangeira de outra empresa

multinacional

Outsourcing

O serviço é realizado por uma fi lial estrangeira em outro país

Intrafi rm ou captive offshoring

Em outro país: quarterização

Offshoring

QUATERIZAÇÃO E TERCEIRIZAÇÃOLocalização da prestação

do serviço

Organização da prestação do serviço

Internalizada Terceirizada

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1. Definir claramente o modelo de terceirização desejado, estudando o processo em todas as suas fases e decidir quais são susceptíveis de quarterizar.2. Combinar, adequadamente, as capacidades de nearshore e offshore.3. Analisar e elaborar um modelo flexível e orientado ao cliente, empregando um modelo de prestação de serviços distribuído, constituído por um front e um back-office. O front-office, principalmente, cuidará de gerir in situ as atividades de maior valor agregado para o negócio. O back-office é o que pode ser terceirizado e/ou quarterizado, já que enfocará as atividades susceptíveis de “industrialização” e que possam ser desenvolvidas por um terceiro, geralmente em centros de produção de menor custo, mesmo assegurando a qualidade e a produtividade do serviço.4. Complementar o modelo com ferramentas de controle que permitam dispor de informação clara e transparente do estado do projeto/serviço.5. Gerir o processo de mudança cultural e metodológica de forma adequada.

Converter o desafio que supõe a terceirização e a quarterização em uma oportunidade de negócio e de crescimen-to está nas mãos de cada companhia.

De fato, já são muitas as empresas do mercado segurador que se lançaram neste tipo de gestão organizacional, um fenômeno que tende a destacar também a vontade das companhias para enfoca-rem-se na sua atividade principal, dei-

xando para outras empresas as tarefas não estratégicas.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DA TERCEIRIZAÇÃO E QUARTERIZAÇÃO DE SERVIÇOS

As principais vantagens da externalização e/ou deslocação são as seguintes:

1. Economia de custos, por mão de obra e infra-estruturas materiais mais baratas.2. Maior eficiência e produtividade, obtendo economia de escala.3. Transformar custos fixos em variáveis, aumentando a flexibilidade da companhia.4. Acesso a uma nova metodologia e tecnologia, beneficiando-se da experiência do prestador de serviços, que pode oferecer assessoria especializada,

TRANSFORMAR O DESAFIO

QUE SUGERE TERCEIRIZAR E QUARTERIZAR

EM UMA OPORTUNIDADE

DE NEGÓCIO ESTÁ NAS

MÃOS DE CADA COMPANHIA

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facilitando a tomada de decisões. 5. Melhorar qualidade do serviço, ao profissionalizar a tarefa terceirizada.6. Melhorar a gestão do capital humano, tanto das pessoas que gerem a atividade principal quanto das contratadas para a função terceirizada.7. Enfocar-se e otimizar a sua atividade principal.8. Maior facilidade para desenvolver novos modelos de negócio, ao requerer menos infra-estruturas humanas e materiais fixas.9. Redução do volume de investimentos que a sociedade deve ter para iniciar uma nova atividade, já que o custo de desenvolvimento pode ser vinculado aos resultados da referida atividade, limitado ao risco de investimento perande um descumprimento das expectativas ou objetivos inicialmente previstos. 10. Redução do prazo necessário para o lançamento de uma nova atividade, ao facilitar a implantação de novos procedimentos e simplificar a obtenção dos recursos humanos e materiais necessários para a referida atividade.

Apesar do sucesso da maioria das operações de terceirização e quarteri-zação, não se deve perder de vista os riscos inerentes a este tipo de estra-tégias. Como toda operação estratégi-ca, as políticas de terceirização ou de quarterização também podem ter seus inconvenientes e as empresas devem ser conscientes disso antes de lan-çar-se a tais práticas. Por isso, devem analisar e avaliar estes riscos. Deste modo, os principais riscos podem ser de vários tipos:

1. A potencial conflitividade social, em conseqüência da possível redução de empregos na empresa matriz.2. A perda de controle ou do saber fazer (know how) das atividades terceirizadas ou quarterizadas. Este risco deve ser reduzido pela conservação de um nível de competência suficiente dentro da sua organização interna, para garantir que o prestador cumpra suas obrigações, mas também para mudar de prestador no caso de complicações, ou inclusive pensar em reintegrar essas atividades externas no caso de um fracasso.3. O grau de dependência nos prestadores externos. Pode ser um risco importante já que, no caso de uma forte dependência, pode alterar a relação entre a empresa e o prestador, mudando as relações de força entre os dois.

AS POLÍTICAS DE TERCEIRIZAÇÃO PODEM TER SEUS INCONVENIENTES, E AS COMPANHIAS DEVEM ESTAR CONSCIENTES DISSO ANTES DE LANÇAR-SE A TAIS PRÁTICAS

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4. A A imagem da empresa pode ficar prejudicasa por uma má prestação realizada pelos prestadores externos.5. A possibilidade de enfrentar riscos operacionais. Deve-se lembrar que o risco operacional é o risco de perdas resultante de uma inadequação ou dificuldade no que tange aos processos, das pessoas, dos sistemas internos ou de acontecimentos externos. É um risco que está principalmente controlado por contratos de serviços muito detalhados, os chamados service level agreements, que costumam ser objeto de coberturas seguradoras.6. Os problemas socioculturais e inclusive – às vezes – políticos, um risco que será ainda mais importante com as operações de quarterizaçãoo em países remotos, do tipo offshoring. Estes riscos podem ter impacto sobre os recursos humanos e a cultura da empresa.

Não obstante, e igual a outros seto-res que enfrentam uma dura concor-rência e a crise atual, o mercado segu-rador tem que reduzir seus custos de funcionamento e melhorar a qualida-de do seu serviço para sair da concor-rência e enfocar a busca constante de novos produtos e serviços. Por isso, terceirizar e quarterizar certas ativi-dades pode ser um bom método para obter vantagens, tanto para a empresa quanto para seus clientes, que pode-rão desfrutar de produtos e serviços a preços mais competitivos.

TIPOS DE SERVIÇOS MAIS FREQUENTES PARA TERCEIRIZAR NO MERCADO SEGURADOR

Em geral, tudo aquilo que pode ser realizado por um procedimento e automatizar pode ser objeto de terceirização.

A seguir detalha-se uma relação de atividades do mercado segurador que costumam ser objeto de terceirização e/ou quarterização:

1. Gestão de apólices e carteiras.2. Gestão de sinistros.3. Centros de emissão e recebimento de ligações (call e contact centers).4. Faturamento e pagamento de recibos e indenizações.5. Administração de contratos.6. Funções de suporte: serviços administrativos (gestão de arquivos, folhas de pagamento etc.) e informáticos (desenvolvimento e manutenção de aplicações).7. Venda de produtos (por Internet, telefone etc.), em especial todos os seguros de massas, como Vida, Saúde, Acidentes, Automóvel, Multirrisco Residencial...

Segundo dados da consultora Cap Gemini, 40% das seguradoras que atuam na Espanha recorreram ao outsourcing de infra-estruturas; 35% optou pela ter-ceirização das aplicações de contratação de apólices e gestão de sinistros; e 30% das empresas terceirizou a contabilidade e gestão de folhas de pagamento.

Mas, também é certo que, nem tudo pode ser terceirizado. O know-how não deve ser terceirizado. As empresas podem apostar no outsourcing para en-focarem em seu negócio crítico, ainda que o desenho dos produtos, as estra-

TERCEIRIZAR E QUARTERIZAR

CERTAS ATIVIDADES PODEM SER

UM BOM MÉTODO PARA

CONSEGUIR VANTAGENS, TANTO PARA A EMPRESA

QUANTO PARA SEUS CLIENTES

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tégias de crescimento, posicionamento e marketing sejam atividades chaves do negócio que devem ficar sempre nas mãos da companhia seguradora.

TERCEIRIZAÇÃO E QUARTERIZAÇÃO: EXPERIÊNCIAS NO MERCADO SEGURADOR

O fenômeno da terceirização e quar-terização no mercado segurador come-çou, principalmente, nos países anglo-saxões. Assim, algumas notícias sobre seguradoras que geriram processos des-te tipo são as seguintes:

A seguradora Aviva anunciou em 2004 a transferência de 2.500 vagas dos seus ser-viços prestados na Inglaterra e no Canadá (de call center, administrativos e de back-office) para a Índia, com o fim de “dar à companhia uma maior flexibilidade e ca-pacidade”. Em abril de 2007, Richard Har-vey, primeiro executivo da Aviva, disse que já tinham cerca de 7.000 trabalhadores na Índia. A vantagem deste país era que havia uma alta população que falava inglês, ge-rindo serviços pela metade do custo. Isto é uma vantagem competitiva para a Aviva e seus clientes, já que conseguiam melho-res serviços por um custo inferior. O caso da Aviva constituía uma quarterização de atividades na mesma companhia, já que os trabalhadores da Índia eram empregados da Aviva. Richard Harvey dizia: “(...) A ter-ceirização e a quarterização são fenômenos que continuarão acontecendo, a economia está globalizada, e se as empresas não pro-cessam seus dados onde for mais barato e dão aos seus cliente o melhor serviço, per-derão competitividade (...)”.

A corretora de seguros Willis também transferiu, principalmente a gestão de si-nistros, dos EUA e do Reino Unido para a Índia.

TERCEIRIZAR E QUARTERIZAR ATIVIDADES JÁ É UMA REALIDADE NA MAIORIA DAS GRANDES EMPRESAS DO MERCADO SEGURADOR

A seguradora alemã Allianz criou uma filial na Índia para gerir serviços relacio-nados às tecnologias da informação.

Por sua vez, a companhia Prudential PLC transferiu uma parte do seu call cen-ter a Bombay (Índia), demitindo 850 fun-cionários na Inglaterra. Posteriormente, no ano de 2007, a seguradora britânica anunciou a sua intenção de terceirizar cerca de 3.000 postos de trabalho com o objetivo de reduzir seus custos. A medida supunha que 1.750 postos de serviços de clientes e administração de reclamações no Reino Unido, além de mais 1.250 com que possuia em Bombay, seriam transfe-ridos para uma empresa subcontratada, com a qual fechou um acordo no valor de 722 milhões de libras (cerca de 1 bilhão de euros). A intenção da Prudential era reduzir custos em cerca de 60 milhões de libras (83,8 milhões de euros) ao ano, que seriam registrados no final de 2010.

A seguradora Royal & Sun Alliance anunciou em outubro de 2004 a trans-ferência à Índia de cerca de 1.100 fun-cionários durante os dois anos seguintes. Com o processo de quarterização previa obter uma economia de custos de cerca de 14 milhões de euros. Nessa data já ti-nha, aproximadamente, uma centena de trabalhadores na Índia.

Igualmente, a resseguradora suíça Swiss Re anunciou, no início de 2005, sua intenção de transferir para a Índia parte do seu departamento de contabili-dade, quarterizanso, nesse país asiático, as contas dos seus contratos padroniza-dos de responsabilidade civil e de outros ramos de Não Vida. Esta decisão signi-ficaria o corte de 160 empregos na Eu-ropa (meia centena na Suíça) durante os seguintes cinco anos.

Por sua vez, a companhia francesa Axa anunciou no início de 2005 a trans-ferência à Índia de 700 postos de traba-lho do seu quadro do Reino Unido, se-guindo os passos da Aviva. Mais tarde,

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a Axa Francia comunicou em setembro de 2006 a sua intenção de quaterizar 1.500 postos de trabalho (contact center e postos administrativos) ao Marrocos, um anúncio que fazia parte do plano da companhia “Ambition 2012” sobre seus projetos do futuro. A seguradora contava já com funcionários em Marro-cos, por intermédio de sua filial Direct Assurance, e em Bangalore (Índia), de modo que, para a Axa, o fenômeno da quarterização não era novo, somente era a primeira vez que afetava o merca-do francês.

Em janeiro de 2006, a seguradora suíça Zurich Financial Services assinou um acordo plurianual para que uma importante consultora gerisse parte dos processos de contabilidade e finanças em vários países.

Aon Francia, em janeiro de 2007, também preparava um plano de rees-truturação que supunha o fechamento de vários escritórios e a transferência de vários postos de trabalho à Romênia.

Ainda, em janeiro de 2007, a AIG Eu-rope tornou público um acordo de ter-ceirização de processos de negócio com duração de dez anos. Graças a este acor-

do, uma consultora desenvolveria a pla-taforma informática e prestaria suporte ao serviço de seguros da AIG Entrepe-neur, a unidade da AIG especializada em seguros gerais de pequenas e mé-dias empresas. O objeto era “maximizar a eficiência operacional e melhorar os serviços da seguradora, que seriam im-plementados em vários países europeus, começando pela França. Posteriormente seriam ampliados os da Itália, Espanha e Países Baixos, entre outros.”

No que se refere à Espanha, também há processos de terceirização e quarteri-zação. Por exemplo, os trabalhadores da Europ Assistance España anunciaram, em dezembro de 2006, a transferência de uma plataforma de atendimento tele-fônico à Argentina.

Também em 2006, a Groupama Es-paña e Xerox Global Services renova-ram por um período de cinco anos o contrato de serviços que mantinham na Espanha, e por meio do qual a Xerox se encarregaria da emissão e do envio das apólices aos seus segurados. Deste modo, os clientes da seguradora rece-bem nos seus domicílios os pacotes de boas-vindas, compostos pelas apólices e os diferentes elementos que compõem o seguro adquirido, personalizados e em cores. A Groupama declarou as van-tagens que a beneficiaram com a tercei-rização desta região.

Como se pode eduzir de todas estas experiências, as práticas de terceirização e de quarterização de atividades já são uma realidade na maioria das multina-cionais do mercado segurador.

Com relação ao mercado segurador espanhol, estas práticas organizacionais não tiveram, até esta data um impacto muito significativo, além do alinhamen-to de algumas políticas indicadas pela matriz de determinadas multinacionais seguradoras. Não obstante, em 2009 e no início de 2010 podem-se encontrar

ESTAS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS NÃO TIVERAM, ATÉ

ESTA DATA, UM IMPACTO MUITO SIGNIFICATIVO NO MERCADO SEGURADOR ESPANHOL.

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exemplos de seguradoras, corretores de seguros e empresas de peritagem e ava-liação que estão analisando com maior profundidade a subcontratação e possí-vel quarterização de determinados ser-viços como forma de otimizar os custos e ganhar competitividade, uma necessi-dade cada vez maior nos momentos de crise atuais e onde é mais fácil aumentar a conta de resultados mediante a redução de custos que pelo aumento das vendas ou a incorporação de novos clientes.

Neste sentido, já em outubro de 2007, a consultora Capgemini consta-tou que o mercado segurador espanhol apresentava um alto nível de maturida-de para quarterizar seus serviços. No mesmo sentido, declarou a consultora Everis, indicando em maio de 2009 que para os anos seguintes esperava-se um crescimento médio anual superior a 8% nos serviços terceirizáveis do setor segu-rador espanhol.

PRINCIPAIS PAÍSES PARA TERCEIRIZAR E QUARTERIZAR SERVIÇOS

A geografia da quarterização está mudando, segundo o estudo de 2009 Global Services Location Index (GSLI), da consultora norte-americana de pres-tígio AT Kearney. A Índia e a China continuam nos primeiros lugares entre os países para terceirizar, a Europa Cen-tral e o Leste perdem atrativo, e sobem os países do Sudeste asiático, Oriente Próximo e do Norte da África.

O estudo, que é elaborado desde 2004, analisa e classificam os 50 prin-cipais países do mundo para a locali-zação da terceirização de atividades, incluindo os serviços de Tecnologias da Informação (TI) e de apoio, contact centers e atividades administrativas. A pontuação de cada país é composta de

ÍNDIA A CHINA CONTINUAM SENDO OS PRIMEIROS PAÍSES PARA TERCEIRIZAR, ENQUANTO A EUROPA CENTRAL E O LESTE PERDERAM PARTE DO SEU PASSADO ATRATIVO

uma combinação ponderada das quali-ficações obtidas por 43 parâmetros, que são agrupados em três categorias: atra-tivo financeiro (principalmente custos e fiscalização), disponibilidade de pes-soas com qualificação para o trabalho e ambiente empresarial (infra-estruturas técnicas e apoio governamental).

O atrativo dos países da Europa Central e do Leste, entre eles Polônia, República Tcheca, Hungria e Eslová-quia, reduziu significativamente para as empresas da Europa Ocidental, de-vido a um rápido aumento dos custos impulsionado pela inflação salarial e apreciação do euro frente ao dólar. En-quanto isso, os países de baixo custo no Sudeste asiático e no Oriente Próximo tiveram avanços significativos, devido, fundamentalmente, à mão de obra qua-lificada. Deste modo, Vietnan, Egito e Jordânia classificaram-se, pela primeira vez, entre os 10 melhores países.

“Ainda que o custo continue sendo o fator principal na decisão de onde terceirizar, a qualificação profissional está ponderando cada vez mais, princi-palmente para as funções de maio va-lor agregado e onde pode haver escas-sez de recursos humanos nos países de origem”, segundo Norbert Jorek, sócio da AT Kearney e diretor gerente da em-presa Global Business Policy Council. “Consequentemente – acrescentou – os governos do mundo inteiro estão inves-tindo no capital humano exigido pela indústria da terceirização”.

A seguir, são apresentados os resulta-

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dos do estudo, em que se classificam os 50 primeiros países com mais atrativo para se terceirizar no âmbito mundial:

Os aspectos de maior destaque do es-tudo de 2009 são:

Oriente Próximo e norte da África surgem como uma região chave da quar-teirização, devido à sua numerosa popu-lação bem educada e sua proximidade com a Europa.

Além do Egito e da Jordânia, classifi-cados em sexto e nono lugares, respecti-vamente, Tunisia (17), Emirados Árabes Unidos (29) e Marrocos (30) estão entre

os países favoritos para quarterização. “O Oriente Próximo e os países do norte da África têm potencial para captar negócio na indústria da terceirização, devido a uma classe de trabalhadores formada e subempregada”, afirma Johan Gott, di-retor do estudo.

A África subsahariana também mostrou força: Ghana (15o lugar), Mauricio (25), Senegal (26) e África do Sul (39).

Os países da América Latina e Caribe continuam aproveitando a sua proximidade com os Estados

(OS NÚMEROS EM PARÊNTESES INDICAM A POSIÇÃO OBTIDA NO RANKING DE 2007 GSLI)

ÍNDICE DE LOCALIZAÇÃO DE SERVIÇOS GLOBAIS (GSLI) 2009

1. Índia (posição em 2007 GSLI: 1)2. China (2)3. Malásia (3)4. Tailândia (4)5. Indonésia (6)6. Egito (13)7. Filipinas (8)8. Chile (7)9. Jordânia (14)10. Vietnam (19)11. México (10)12. Brasil (5)13. Bulgária (9)14. Estados Unidos (Tier II)* (21)15. Ghana (27)16. Sri Lanka (29)17. Tunisia (26)18. Estônia (15)19. Romênia (33)20. Paquistão (30)21. Lituânia (28)22. Letônia (17)23. Costa Rica (34)24. Jamaica (32)25. Mauritânia (25)

26. Senegal (39)27. Argentina (23)28. Canadá (35)29. Emirados Árabes Unidos (20)30. Marrocos (36)31. Reino Unido (Tier II)* (42)32. República Tcheca (16)33. Rússia (37)34. Alemanha (Tier II)* (40)35. Singapura (11)36. Uruguai (22)37. Hungria (24)38. Polônia (18)39. África do Sul (31)40. Eslováquia (12)41. França (Tier II)* (48)42. Ucrânia (47)43. Panamá (41)44. Turquia (49)45. Espanha (43)46. Nova Zelândia (44)47. Austrália (45)48. Irlanda (50)49. Israel (38)50. Portugal (46)

ORIENTE PRÓXIMO

E O NORTE DA ÁFRICA SURGIRAM

ULTIMAMENTE COMO REGIÕES

CHAVES DA QUARTERIZAÇÃO

*(Tier II) Baseado no baixo custo das seguintes populações de cada país: San Antonio (EUA), Belfast (Reino Unido – Irlanda), Leipzig (Alemanha) e Marsella (França).

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Unidos como destinos nearshore. O Chile tem o melhor lugar entre os países da região, ocupando o oitavo lugar, em consequência de sua estabilidade política e de um ambiente empresarial favorável. Outros países bem classificados na região foram o México (11), o Brasil (12) e a Jamaica, que subiu 11 posições para classificar-se na 23o posição.

A Índia, a China e a Malásia continuam liderando o índice por uma ampla margem por uma combinação perfeita entre a formação das pessoas, as favoráveis infra-estruturas de trabalho e o baixo custo existente. Em particular, a Índia manteve-se na vanguarda da indústria da terceirização e, de fato, tornou-se um facilitador para o crescimento da indústria mediante a expansão das suas companhias em outros países.

Os Estados Unidos, representados pelo potencial onshoring de menor nível (“nível II”), com cidades como San Antonio, subiu à posição 14 da lista, principalmente devido aos benefícios da queda do dólar. O país é líder na categoria de qualificação profissional, desemprego e pressão política para criar empregos nesta indústria, e busca fomentar o emprego nas pequenas populações do interior. Observam-se tendências similares em países como o Reino Unido, a França e a Alemanha, que também melhoraram na classificação do índice GSLI de 2009.

Ainda que a crise financeira mundial tenha diminuído os movimentos de quarterização, a porcentagem de pessoal

A ÍNDIA, A CHINA E A MALÁSIA SE SITUAM NO TOPO GRAÇAS A UMA COMBINAÇÃO PERFEITA DE FORMAÇÃO DAS PESSOAS, BAIXOS CUSTOS E BOAS INFRA-ESTRUTURAS DE TRABALHO

quarterizado está aumentando sobre o total de empregos. Isto se deve ao fato da crise estar produzindo demissões nos países de origem, em vez de a reduzir custos, mas mantêm os trabalhadores quarterizados para continuar com o serviço. Além disso, em muitas ocasiões, as instalações das empresas quarterizadas, por serem mais novas, são mais eficientes que as infra-estruturas locais.

Estes são os resultados do estudo e escala global. Depois, cada país terá que avaliar a sua própria localização, língua e demais características para escolher a op-ção de quarterização mais adequada. Nes-te sentido, e no que se refere à Espanha, especialmente Marrocos está se tornando na solução mais adequada para terceirizar e/ou quarterizar, já que reúne as três ca-racterísticas fundamentais:

1. Economia de custos, por salários e infra-estruturas mais baratas.2. Mão de obra qualificada e especializada.3. Apoio governamental, com numerosas vantagens fiscais e ajudas à formação e criação de empresas.

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Adicionalmente, fatores como a proximidade geográfica e a semelhan-ça horária fazem com que Marrocos seja o destino nearshore ótimo para obter as vantagens propostas pela ter-ceirização e/ou quarterização.

COMO GERIR OS RISCOS TRAZIDOS PELA TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS

Como analisado, as razões para recorrer a estas práticas podem ser muito variadas, ainda que na maio-ria dos casos, a principal costuma ser a economia de custos. Mas já vi-mos que a terceirização pode supor também alguns riscos. Como fazer com que tais riscos desapareça e se tornem oportunidades? O principal caminho para isso é com a aplicação da cultura e política de prevenção que deve existir em todas as em-presas, bem como em todas as suas funções e unidades de negócio. Tal cultura e política de prevenção se-rão difíceis de desenvolver, de for-ma coerente e continuada, se não existe um departamento encarrega-do da gerência corporativa de riscos e seguros como uma área que parti-cipe do desenvolvimento da estra-tégia empresarial. Neste sentido, o referido departamento deve parti-cipar do desafio da organização na implantação de uma verdadeira es-tratégia, com objetivo de controlar e minimizar os riscos intrínsecos e colaterais da terceirização. Esta es-tratégia deverá definir, analisar e gerir numerosos aspectos relacio-nados, como os seguintes:

1. Definir e avaliar os objetivos, de curto a longo prazoEm primeiro lugar, a empresa tem

que definir e avaliar os objetivos que podem chegar a iniciar uma estraté-gia de terceirização e quarterização. Para tanto, deve-se fixar objetivos a curto, médio e longo prazos, como os seguintes:

Definir as motivações que levam a estas práticas e às ameaças existentes.

Fazer a análise econômica da atividade da empresa e contar os pontos fracos.

Definir as atividades principais do seu negócio e aquelas que podem ser subcontratadas.

Implantar esquemas para melhorar a qualidade de serviços e produtos em função da melhor relação qualidade-preço, dentro do modelo de negócio da empresa.

Implantar ações que maximizem a flexibilidade para ser mais operacional e reativo.

Implantar os esquemas organizacionais de acordo com os objetivos estratégicos e o plano de negócio da companhia.

A PROXIMIDADE GEOGRÁFICA E A SEMELHANÇA

HORÁRIA FAZEM COM QUE

MARROCOS SEJA O DESTINO

‘NEARSHORE’ ÓTIMO PARA A

ESPANHA

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A APLICAÇÃO DA CULTURA E A POLÍTICA DE PREVENÇÃO DA EMPRESA SÃO CHAVE PARA EVITAR OS RISCOS DE EXTERNALIZAR E DESLOCAR

2. Definir as atividades terceirizáveis e quaterizáveisA segunda fase seria determinar

quais são as atividades que podem ser terceirizadas e/ou quarterizadas. Neste sentido, deve-se:

Definir e avaliar as atividades que podem ser subcontratadas e avaliar a possível evolução futura das atividades a serem terceirizadas e quarterizadas.

Selecione o modelo ótimo de localização e organização da prestação do serviço para internalizar ou terceirizar a função, quer seja na própria empresa ou em outra externa, no país de origem ou no exterior.

Deve-se levar em conta, em relação ao mercado segurador, que nem todas as atividades seguradoras podem entrar nes-te tipo de práticas. Por exemplo, não se pode pensar em terceirizar e quarterizar, por completo, o serviço ao cliente, já que se perderia a comunicação direta com os clientes finais, algo impensável no mer-cado segurador. Não obstante, pode-se pensar na terceirização de parte do ser-viço ao cliente, por exemplo, um contact center que colete informações não estra-tégicas do relacionamento da companhia com o cliente.

3. Definir um plano de ação e de controleO plano de ação para realizar a

contratação do serviço a um terceiro deverá:

Definir um edital de condições muito detalhado, que explique, adequadamente, todas as atividades, procedimentos e necessidades.

Estudar as empresas potenciais prestadoras do serviço e lançar uma concorrência objetiva e transparente entre elas.

Analisar e negociar as ofertas recebidas.

Selecionar os melhores fornecedores provedores de serviços. O fornecedor deverá ser um aliado estratégico para o desenvolvimento do negócio, que baseie sua relação contratual na confiança mútua, a médio e longo prazos, para o alcance dos objetivos definidos.

Elaborar os modelos ótimos de contrato.

Desenhar a forma mais adequada em que será transferida a atividade.

Implantar métodos eficazes de acompanhamento e controle.

Nomear um ou mais representantes para acompanhar o bom desenvolvimento da parceria para ser o contato entre a seguradora e o(s) prestadores(s) do serviço.

Desenhar e implantar as coberturas seguradoras necessárias para cobrir os riscos ainda existentes, após a aplicação de todas as medidas de prevenção que tenham sido possíveis.

A correta gestão de todos estes itens incidirá, significativamente, no suces-so da terceirização e/ou quarterização dos serviços.

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SOLUÇÕES SEGURADORAS PARA O RISCO PROPORCIONADO PELA TERCEIRIZAÇÃO DE SERVIÇOS

Ainda que a política principal deva ser a aplicação da cultura de preven-ção e controle nas atividades subcon-tratadas, para nos garantir o sucesso da terceirização de serviços, há de-terminadas coberturas seguradas que podem nos ajudar a proteger o risco potencial. Tais coberturas, principal-mente, são as relacionadas às seguin-tes apólices:

Responsabilidade civil de empresa. Responsabilidade civil de

administradores e diretores. Risco político e cobertura de taxa

de câmbio. Interrupção na rede de

fornecimento. Interrupção de negócio e perda

de lucros. Riscos trabalhistas e de

arbitragem.

Os gerentes de riscos e seguros de-verão desenhar e gerir as coberturas seguradoras ótimas para proteger a em-presa das possíveis conseqüências da terceirização e quarterização de servi-ços. Neste sentido, deverão ser analisa-das também as coberturas seguradoras dos fornecedores de serviços, de forma a garantir suas responsabilidades. Do mesmo modo, os gerentes de riscos deverão cuidar da solvência, da qua-lidade e da confiabilidade das empre-sas prestadoras, bem como os centros prestadores de serviços se encontrem estrategicamente dispersos, para evi-tar o risco da concentração e possível queda do serviço, quer seja por riscos operacionais ou de outra natureza.

Na opinião de Ricardo Lozano, dire-tor geral de Seguros e Fundos de Pen-sões, as empresas devem ter uma “ade-quada gestão de riscos”, realizada pelo “pessoal operacionalmente indepen-dente, devidamente formado e compe-tente”. A adequada gestão de riscos não serve somente como “meio de proteção para as empresas”, mas “confere a elas, vantagem competitiva, fundamentando o seu crescimento, diminuindo os cus-tos de capital, possibilitando empreen-der novas oportunidades de negócio e, em definitivo, agregando valor”.

OS GERENTES DE RISCOS DEVERÃO

DESENHAR E GERIR

COBERTURAS SEGURADAS

ÓTIMAS PARA PROTEGER A

EMPRESA DOS RISCOS DE

TERCEIRIZAR OS SERVIÇOS

RESUMO E CONCLUSÕES

Os processos de terceirização e/ou quarterização já são uma realidade na maioria das empresas com atuação internacional, situação que também ocorre no mercado de seguro global. Com relação a indústria seguradora espanhola, o processo ainda é inci-

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piente, mas com um grande potencial de crescimento, tendo a oportunidade de aproveitar todas as vantagens envol-vidas, sem esquecer a necessária gestão do risco, que deve ser coordenada ou realizada por profissionais da gerência de riscos e seguros.

Neste sentido, as principais reco-mendações para o mercado segurador espanhol são as seguintes:

1. Aproveitar todas as vantagens que a terceirização e/ou quarterização pro-porciona, como têm feito outros países da região anglo-saxônica e da Euro-pa Ocidental. Como já analisamos, as principais vantagens são:

Economia de custos, devido a mão de obra e infra-estruturas materiais mais baratas.

Maior eficiência e produtividade, para conseguir economia de escala.

Converter custos fixos em variáveis para aumentar a flexibilidade da companhia.

Acesso a uma nova metodologia e tecnologia, beneficiando-se do prestador de serviços, que pode oferecer assessoria especializada, facilitando a tomada de decisões.

Melhorar a qualidade de serviço, ao profissionalizar a atividade terceirizada.

Melhorar a gestão do capital humano, tanto das empresas que gerem a atividade principal quanto das contratadas para a função terceirizada.

Enfocar e otimizar a sua atividade principal.

Maior facilidade para desenvolver novos modelos de negócio, ao requerer menos infra-estruturas humanas e materiais fixas.

Redução do volume de investimentos que a sociedade deverá realizar para iniciar uma nova

atividade, já que se pode vincular o custo de desenvolvimento aos resultados da referida atividade, limitando o risco de investimento diante do descumprimento das expectativas ou objetivos inicialmente previstos.

Redução do prazo necessário para o lançamento de uma nova atividade, ao facilitar a implantação de novos procedimentos e simplificar a obtenção dos recursos humanos e materiais necessários para a referida nova atividade.

2. Beneficiar-se da experiência ad-quirida por outras seguradoras quanto às funções a serem terceirizadas. Neste sen-tido, as principais são:

Gestão de apólices e carteiras. Gestão de sinistros. Centros de emissão e recebimento

de ligações (call e contact centers). Faturamento e pagamento de

recebimentos e indenizações. Administração de contratos. Funções de suporte: serviços

administrativos (gestão de arquivos, folhas de pagamento etc.) e informáticos (desenvolvimento e manutenção de aplicações).

OS PROCESSOS DE TERCEIRIZAR E QUARTERIZAR SERVIÇOS AINDA É INCIPIENTE NA INDÚSTRIA SEGURADORA ESPANHOLA, MAS TEM UM GRANDE POTENCIAL DE CRESCIMENTO.

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Venda de produtos (pela Internet, telefone etc.), em particular todos os seguros massificados como Vida, Saúde, Acidentes, Automóveis, Multirrisco, Residencial...

3. Gerir os riscos inerentes das ati-vidades subcontratadas por profissio-nais da gerência de riscos e seguros, encarregados de aplicar as políticas de prevenção e de desenhar as coberturas seguradas ótimas. Neste sentido, como também analisamos, deve-se:

Definir e aplicar uma completa es-tratégia para terceirizar e/ou quarterizar;

Desenhar e gerir as coberturas se-guradas ótimas.

4. Por último, e dada a falta de expe-riência de muitas empresas na Espanha, uma vez tomada a decisão de terceirizar e/ou quarterizar determinados serviços, é aconselhável fazê-lo em um dos se-guintes modelos:

Modelo onshore (no território nacional): neste modelo, a economia de custos é menos importante, mas a proximidade geográfica facilita a implantação do serviço a ser terceirizado.

Modelo nearshore (fora do território nacional, mas geograficamente próximo): é o modelo mais implantado nas atividades de terceirização e/ou quarterização, sendo uma solução intermediária onde provavelmente existe a combinação ótima entre as potenciais economias de custos e a proximidade física e cultural, que garante a maior porcentagem de sucesso.

Para a Espanha, Marrocos é prova-velmente a solução para quarterizar mais interessante, bem como avalia o estudo realizado pela AT Kearney, em 2009.

NA HORA DE TERCEIRIZAR OU

QUARTERIZAR SERVIÇOS, E DADA A INEXPERIÊNCIA

DE MUITAS EMPRESAS NA

ESPANHA, É ACONSELHÁVEL

OPTAR POR MODELOS

‘ONSHORE’ OU ‘NEARSHORE’

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A interelação entre o mercado segurador e os mercados financeiros é um fato sobre o qual há poucas dúvidas. Do ponto de vista da demanda, o mercado segurador é um dos campeões no investimento em todo tipo de ativos financeiros. Além disso, como ocorre em outros setores, um grande número de seguradoras busca investidores que contribuam para o desenvolvimento de sua atividade. Deste modo, captam fundos de origens muito diversas e mediante instrumentos muito variados, todos eles centralizados pela amálgama que, habitualmente, se conhece como “mercados financeiros”. A relação é cada vez mais freqüente na medida em que os mercados financeiros têm uma maior abrangência e são capazes de dar resposta às crescentes e mais variadas necessidades de canalização de recursos financeiros.

de segurosmercados

financeiros

O mercadoe os

FRANCISCO SEBASTIÁN CASTROAtuárioInspetor de Seguros do Estado

Os instrumentos financeiros permitem ao investidor a possibilidade de obter uma rentabilidade em troca de assu-

mir o risco do negócio em conjunto. Este risco é assumido totalmente pelos acionistas, e com certas limitações no caso dos credores. Junto a ambos os grupos, os investidores em instru-mentos híbridos, assumem também riscos da totalidade do negócio, ainda que de forma mais limitada que no caso dos acionistas, ainda que não tanto quanto os credores. Mas a caracterís-tica comum aos três grupos é que suportam os riscos correspondentes a todo o negócio. Se, por exemplo, uma empresa faz uma seleção de riscos

muito eficiente, que permite manter uma baixa sinistralidade, mas tem problemas com seus in-vestimentos, ou inclusive de outro tipo, como, por exemplo, fiscal, não existirá uma forma de desvincular um conceito do outro. Conseqüen-temente, tanto os acionistas quanto os credores se verão expostos à totalidade do negócio, e não somente aos resultados técnicos, financeiros ou outros que possam ser gerados. Outro exemplo de falta de dissociação de riscos poderia ser o caso de uma seguradora que possui uma carteira originada por ela, que gera certos rendimentos muito positivos, mas posteriormente adquire outra carteira que foi super valorizada. Então,

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os investidores em ações, bônus ou híbridos normalmente não poderão segregar uma parte do negócio de outra, e, portanto, ficarão expos-tos ao conjunto.

Ainda que a emissão de produtos financei-ros envolva certa transferência de riscos (fun-damentalmente financeiros), os mercados financeiros fornecem tradicionalmente uma forma de financiamento às seguradoras. Em troca, para a transferência dos riscos inerentes à atividade seguradora, a ferramenta mais co-mum é o resseguro. No mundo do seguro de Vida, a utilização do resseguro é menos cor-rente que no Não Vida, ainda que o resseguro também seja empregado em ocasiões para co-brir determinados riscos de Vida que possam ser excessivos para uma companhia.

A TITULARIZAÇÃO

Nos anos 70 foram iniciadas as primeiras emissões de notas de titularização, como mecanis-mo para financiar blocos de empréstimos hipote-cários. Portanto, a titularização nasceu como uma fórmula financeira que permitia a transformação de ativos não líquidos em outros que resultaram mais facilmente negociáveis. Sem prejuízo da grande evolução e diversidade atual das operações de titularização, o mundo hipotecário continua sendo o maior entre os que utilizam a titulari-zação. Além disso, a função de financiamento e transformação continua sendo na maioria dos ca-sos o atrativo principal destas operações.

Nos anos 80 começou a ser utilizado em gran-de proporção, outro tipo de ativos como sub-jacente às emissões, como no caso dos ativos de cartões de crédito. Posteriormente, o fantasma au-

mentou até o nível em que quase qualquer direito de recebimento é susceptível de ser titularizado. Inclusive foram realizadas titularizações de notas de titularização.

No mundo segurador, o desenvolvimento da titularização ocorre de forma paralela ao desen-volvimento dos mecanismos de transferência al-ternativa de riscos. As primeiras operações foram realizadas para a gestão de riscos catastróficos, como será visto mais adiante, e posteriormente foram estendidas a outros riscos.

O MERCADO DE SEGURADOS DIANTE DA TITULARIZAÇÃO

Os (re)seguradores desempenharam des-de o início um papel essencial no desenvol-vimento da titularização, mas, fundamental-mente, como investidores. Evidentemente, há dentro do setor formas de operar muito diversos e diferentes atores com diferentes estratégias de investimento. Portanto, é pos-sível encontrar empresas que não adquirem este tipo de ativos, ao mesmo tempo em que outras têm uma porcentagem significativa dos seus investimentos colocada em notas de ti-tularização. Esta heterogeneidade também é possível de ser observada em função do tipo principal de atividade da companhia, quando se tratar de Não Vida ou de Vida e/ou previ-dência. Geralmente, as empresas que mantêm obrigações a longo prazo e com necessidade de liquidez relativamente estável, são poten-ciais investidores neste tipo de ativos. Deste modo, as empresas que realizam atividades de Vida e economia são possíveis participantes, podendo colocar tanto os fundos correspon-dentes aos produtos baseados em diferenciais quanto os baseados em comissões.

A TITULARIZAÇÃO NASCEU NA DÉCADA DE 70, NO SÉCULO PASSADO, COMO UMA FÓRMULA FINANCEIRA QUE PERMITIA A TRANSFORMAÇÃO DE ATIVOS LÍQUIDOS EM OUTROS QUE SERIAM MAIS FÁCEIS DE NEGOCIAR.

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Também se observa um interesse heterogê-neo neste tipo de investimentos em função da área geográfica em que a empresa desenvolve as atividades. De forma geral, onde existe um mercado mais desenvolvido quanto ao volume de atividade de titularização observa-se tam-bém que as seguradoras participam de forma mais ativa como investidoras. Por exemplo, nos Estados Unidos ou no Reino Unido é pos-sível encontrar empresas que colocam mais de um quarto dos seus investimentos em notas de titularização.

Com o tamanho do mercado, a participação do mercado segurador e de previdência como investidor na titularização também pode ser observada em função da abrangência geográ-fica em que a companhia opera. Neste campo, o ambiente regulador desempenha um papel primordial: determinadas jurisdições não per-mitem ou limitam em grande parte a aquisição deste tipo de ativos pelas seguradoras. Eviden-temente, quanto mais flexível for a regulação, mais acessíveis serão estes investimentos aos seguradores e, portanto, será mais provável que os façam. Além disso, é importante levar em conta que a flexibilidade no ambiente regula-dor costuma afetar totalmente o setor financei-ro da jurisdição em questão de forma integral. Quanto maior for a flexibilidade reguladora para que os investidores adquiram este tipo de investimentos, normalmente também será para que os geradores dos riscos os titularizem, e vice-versa. Inclusive, é possível que partici-pantes externos surjam nos mercados que go-zam de tal flexibilidade para colocar as suas emissões. Sobre isso, é imprescindível destacar a potencial influência positiva que constitui o novo padrão regulador do Espaço Econômico Europeu sob a Diretiva Marco aprovada em abril de 2009, conhecida como Solvência II, que será comentada mais adiante.

Entretanto, a participação do setor de um modo mais ativo como geradores vem ocor-rendo mais recentemente. A utilização de es-truturas de titularização específicas do setor (re)ssegurador começou no final dos anos 90, como mecanismo para aumentar a capacidade

resseguradora de gestão de riscos catastróficos diante os denominados “bônus de catástrofe” ou CATs. Estes bônus são considerados titu-larizações de risco puros, já que seu objetivo fundamental é, geralmente, similar ao ressegu-ro não proporcional: no caso de que ocorra(m) o(s) acontecimento(s) previsto(s), será gerada uma perda que será assumida pelos investi-dores nos bônus. O valor da perda assumida pelos investidores depende, normalmente, da intensidade do evento coberto, pelo qual, em definitivo, o efeito é semelhante ao resseguro.

Os CATs deram origem a uma forma de ti-tularização que dá uma resposta aos problemas específicos do setor. Diferente de outras titula-rizações não seguradoras, o objetivo dos CATs não é especificamente captar financiamento, mas transferir riscos aos mercados financeiros. Isto é especialmente importante na cobertu-ra de riscos catastróficos, que está fortemente submetida aos ciclos e à capacidade dos res-seguradores. Deste modo, ainda que os CATs possam ser considerados à primeira vista como uma alternativa ao resseguro, na prática foram utilizados por seguradores e resseguradores para dar vazão a determinados riscos cuja (re-tro)cessão seria mais complicada.

Ainda que os CATs sejam empregados para titularizar riscos característicos do terreno Não Vida, sua utilização se estendeu também ao terreno de Vida. Neste campo, foram re-alizadas várias emissões pelos resseguradores que buscam titularizar o risco de mortalida-de catastrófica, como explicado mais adiante. Estas operações são muito menos freqüentes que as de Não Vida, principalmente devido ao menor tamanho do mercado e à não ha-bitual ocorrência recente de mortalidade que poderia ser considerada como catastrófica em áreas onde a população conta com cobertu-ras de falecimento. Junto a isso, também deve ser considerada a dificuldade de determinar a manifestação do risco, as possíveis ineficácias na transferência do risco e a relativa opaci-dade destas transações. Não obstante, deve-se considerar que todos estes aspectos também afetam os CATs.

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Ao abordar a titularização no seguro de Vida, é inevitável mencionar a operação frustrada so-bre risco de longevidade apresentada em 2004 pelo Banco Europeo de Inversiones e BNP. Esta transação tinha como objeto proporcionar co-bertura ao mercado britânico diante do risco de longevidade, e especialmente aos fornecedores de pensões. A operação é particularmente inte-ressante por dois motivos: por um lado, porque a estrutura seguida não é a habitual em titulari-zação, já que quem busca a cobertura não atuaria como gerador, mas como investidor. Por outro, os motivos que levaram ao fracasso da transação serviram de lição para futuras transações simi-lares quanto aos seus fins, como os swaps de longevidade que mais recentemente foram exe-cutados por algumas empresas.

Apesar do fracasso na operação de titulariza-ção comentada, não se pode deixar de conside-rar que no futuro pode-se chegar a executar ou-tras emissões sobre riscos de longevidade, dada a grande necessidade de alguns participantes de cobrir esse risco. Neste sentido, deve-se levar em conta também, como conceito substitutivo da titularização, os mencionados swaps de lon-gevidade que foram realizados recentemente.

Outro modelo específico de operações no setor segurador que tem sido desenvolvido a partir do final dos anos 90 são as titularizações do benefício potencial existente em uma cartei-ra de seguros de Vida. A estrutura nestas tran-sações é significativamente diferente dos bônus catastróficos, já que estas afetam fundamental-mente um ativo da companhia, que é o benefí-cio implícito. O ativo titularizado, aqui, pode ser o potencial benefício estimado existente em uma carteira já originada (value-in-force), ou inclusive pode incorporar o benefício futu-ro que possa ser gerado pelo negócio subscrito mais adiante (componente do appraisal value). Ainda que estas transações possam ter um com-ponente de transferência de riscos, seu objetivo principal é captar financiamento. Em função do grau de transferência de riscos gerado pela es-trutura e o ambiente regulador, é possível que o financiamento seja também computável como recursos próprios para efeitos de solvência.

Também são destacáveis, por seu volume, no terreno da titularização no seguro de Vida, outras transações como as titularizações de reservas XXX e AXXX. Estas transações sur-gem nos Estados Unidos como reposta ao tratamento regulador das provisões em segu-ros temporários a longo prazo que incluiam garantias dos prêmios futuros no caso de re-novação, e em seguros de Vida universal com garantias adicionais, respectivamente. Con-sidera-se que, em consequência das regula-ções mencionadas, supervaloriza-se o valor da provisão a ser constituída. A titularização neste ato permite reduzir o valor das provi-sões a serem constituídas mediante a cessão a um ressegurador offshore, que por sua vez, origina a titularização. Portanto, a finalidade deste tipo de transações é essencialmente re-guladora e sua abrangência é limitada às em-presas submetidas às regulações XXX y AXXX nos Estados Unidos.

Outras transações destacáveis na titula-rização do seguro de Vida são as de viaticals e liquidações de seguros de Vida (life settle-ments). As primeiras começaram a ser utili-zadas nos anos 80, a partir das apólices sobre

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a vida de pessoas doentes e principalmente infetadas pelo vírus da AIDS. Não obstante, a crescente acessibilidade aos tratamentos mé-dicos pelos doentes, ligado à má imagem des-te tipo de atividades, limitou profundamente o desenvolvimento destas operações. Da mes-ma forma que no caso das viaticals, as liqui-dações de seguros de Vida baseiam-se na arbi-tragem entre o valor de resgate das apólices de Vida e sua avaliação. Ao contrario, diferente das viaticals, estas transações não têm como matéria-prima apólices nas quais o segurado é uma pessoa doente, mas pessoas idosas.

Por último, é necessário mencionar outras titularizações, especificamente seguradoras, como as realizadas sobre os gastos de aquisi-ção de carteira e as de direitos de cobrança.

Mas a função do mercado (re)ssegurador na titularização não se limitou exclusivamen-te ao investimento e geração. Há um tipo de seguradores que também desempenharam um papel importante no desenvolvimento do mercado de titularização, que são os segura-dores de bônus. Ainda que atualmente a sua atividade tenha ficado nas entrelinhas, devido à forte sinistralidade experimentada e a perda de credibilidade (quedas de qualificação de crédito), é imprescindível avaliar a sua ativi-dade como garantidores subsidiários de nu-merosas transações. Ao outorgar tais garan-tias, os seguradores fornecem uma melhora de crédito que aumenta a eficiência financeira para o gerador e facilita a colocação das notas entre os investidores.

Por último, algumas companhias, princi-palmente resseguradoras, também realizam a estruturação deste tipo de operações. Para

tanto, costumam basear-se na sua própria experiência, aplicando-a a emissões próprias posteriores ou proporcionando serviços deste tipo a terceiros. Em certas ocasiões, os res-seguradores realizaram a função de acumular um conjunto de riscos para posteriormente distribuí-los na forma de notas de titulariza-ção. Observa-se aqui, portanto, um exemplo do modelo empresarial baseado na canalização e na distribuição de riscos (em contraposição aos modelos baseados no acúmulo de riscos) que com tanto esforço tratou de desenvol-ver nos últimos anos no mercado financeiro. Junto às atividades de estruturação, também é possível que os resseguradores proporcionem serviços financeiros adicionais fazendo uso da sua própria capacidade financeira, como, por exemplo, servindo de contrapartida em swaps implícitos na transação.

AS ESTRUTURAS NAS OPERAÇÕES DE TITULARIZAÇÃO DE SEGUROS DE VIDA

As estruturas de titularização utilizadas nas transações de seguros de Vida apresentam uma grande heterogeneidade. Isto se deve não so-mente à diversidade das transações em si, mas às diferentes necessidades apresentadas em função do gerador e o ambiente regulador em que a operação é desenvolvida. Geralmente, as transações que envolvem um forte compo-nente de financiamento têm mais semelhanças com as titularizações realizadas em outras áre-as do mercado financeiro. Entretanto, as titu-larizações de risco puro têm características que as tornam mais singulares. Em qualquer caso, aqui são expostos alguns dos elementos mais específicos das transações de seguros de Vida diate dos outros tipos de titularizações.

OS SEGURADORES DE BÔNUS, CUJA ATIVIDADE FICOU NAS ENTRELINHAS DEVIDO À FORTE SINISTRALIDADE EXPERIMENTADA E A PERDA DE CREDIBILIDADE, DESEMPENHARAM UM PAPEL IMPORTANTE NO DESENVOLVIMENTO DO MERCADO DE TITULARIZAÇÃO

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A estrutura característica de qualquer titula-rização tem como participantes vitais o gerador, o veículo emissor das notas (SPV1) e os investi-dores, que não difere das operações de titulari-zação seguradoras de Vida. Não obstante, nestas transações há características e funções específi-cas dos participantes, bem como de outros que fornecem serviços necessários na estrutura, que fazem com que as titularizações de Vida sejam especialmente singulares.

Outrossim, as estruturas empregadas no mer-cado segurador, têm, geralmente, os mesmos ele-mentos de melhora de crédito que os utilizados em outras operações, entre outras2:

- O emissor é um veículo com possibilidades remotas de falir.- Subordinação na cascata de pagamentos.- Super-colateralização.- Contas de reserva.- Garantias financeiras outorgadas por um terceiro ou wrapping.- Medidas encaminhadas para superar dificuldades limitadas e transitórias de liquidez.

Uma das características mais importantes do mercado segurador a ser levada em conta ao analisar suas titularizações, é a impossibilidade de renúncia das obrigações assumidas pelo segurador. As opera-ções de Vida envolvem um vínculo a longo prazo do qual o segurador não pode se livrar, salvo em ca-sos muito particulares. Geralmente não há impedi-mentos para que um segurador adote medidas para gerir os riscos, mas a regulamentação buscará evitar que com isso os segurados vejam frustrado o seu direito de receber os valores devidos pelo segurador no momento oportuno. Por isso as carteiras que servirem de base para qualquer tipo de operação de titularização normalmente não são transmitidas a nenhum outro interventor na operação. Assim, fica clara a diferença chave com relação a outras titulari-zações do mercado financeiro, onde existe a referida transmissão de ativos ou subrrogação em contratos pelo SPV interveniente. Nesse caso, considera-se que há uma “verdadeira venda”, com todas as im-plicações jurídicas, financeiras, operacionais, contá-beis e fiscais que isso envolve.

PREÇO DE EMISSÃO

DEVOLUÇÃO DO

EMPRÉSTIMO

NOTAS ESTRUTURADAS + RENDIMENTOS

GERADOR / SPONSOR

SPV INVESTIDORES

ADIANTAMENTO AO GERADOR

1SPV – Special Purpose Vehicle.2Leve-se em conta que alguns destes mecanismos foram tradicionalmente utilizados nas estruturas ainda que atualmente não estejam disponíveis, como, por exemplo, o wrapping.

Estrutura padrão de titularização se não há uma verdadeira venda de ativos ao SPV.

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A “verdadeira venda” realizada em outras titularizações do mercado financeiro substi-tui-se frequentemente no mercado segurador por um contrato de resseguro. Deste modo, é viável a transmissão dos riscos do gerador ao veículo emissor das notas. Deve-se levar em conta que a subscrição de riscos seguradores está em muitas jurisdições limitada a compa-nhias (re)sseguradoras, as quais são subme-tidas a uma série de requisitos reguladores. Que a cessão seja realizada sob a forma ju-rídica do resseguro, portanto, é às vezes um requisito indispensável tanto para o cedente quanto para o cessionário. Para o cedente, porque fazê-lo sob a forma do resseguro per-mite aplicar uma fórmula bem conhecida no setor e pelos reguladores. Assim, facilita-se para que a operação receba um tratamento re-gulador, confiável e fiscal conhecido e geral-mente favorável. Pelo cessionário, é possível que a operação tenha que adotar a forma de resseguro porque o ambiente regulador assim o determina, tratando-se de uma atividade que fica restringida àqueles que estão autori-zados a aceitar riscos (re)sseguradores.

A conseqüência imediata da utilização do resseguro na transação envolve uma mudança essencial na estrutura: o SPV, que habitual-mente é uma empresa não submetida a regu-lação (ou se é, o é de forma muito flexível), terá que adotar a forma jurídica de ressegura-dor. Isso envolve uma série de encargos regu-ladores que aumentam os custos e dificultam a operação do ponto de vista formal, mas em troca fornecem a segurança e vantagens regu-ladoras do resseguro. O tradicionalmente uti-lizado SPV será substituído, portanto, por um

SPRV (Special Purpose Reinsurance Vehicle), que realiza as mesmas funções de centraliza-ção dos fluxos e intermediação entre gerador e investidores, mas que é uma empresa sub-metida às regras do mercado segurador.

Em algumas operações, inclusive, é utiliza-do um duplo esquema de SPRV e SPV, onde o primeiro estabelece uma relação ressegura-dora com o gerador e o segundo uma relação não resseguradora com o primeiro. O objeti-vo fundamental desta complicação é explorar as vantagens para o gerador derivadas da ces-são em resseguro ao SPRV e ao mesmo tempo gozar da flexibilidade da utilização de um ve-ículo não submetido à regulação do mercado segurador (o SPV).

A ausência da “verdadeira venda” que men-cionamos anteriormente, impõe outra caracte-rística essencial das titularizações de seguros de Vida: a necessidade de estimar a evolução do ris-co subjacente na operação. Visto que os contratos de seguro e, conforme o caso, os investimentos que constituem o risco titularizado não podem ser transmitidos ao veículo emissor, a operação adotará, portanto, uma fórmula sintética. Mas, além disso, deve ser levado em conta as carac-terísticas próprias do risco titularizado. Trata-se, por exemplo, de uma operação de benefício im-plícito em uma carteira de apólices, deverá ser considerado como definido o referido benefí-cio. Diferentemente das titularizações do setor bancário, onde os fluxos que servem para pagar os investidores são determinados com certas re-gras relativamente simples na maioria dos casos (considere, por exemplo, os fluxos procedentes de um empréstimo hipotecário residencial ou de cartões de crédito), as regras que governam os fluxos das transações de Vida frequentemen-te não são tão evidentes. Por exemplo, em uma

UMA ESTRUTURA TÍPICA DE UMA TITULARIZAÇÃO QUALQUER TEM COMO PARTICIPANTES CHAVES O GERADOR, O VEÍCULO EMISSOR DAS NOTAS (SVP) E OS INVESTIDORES, QUE NÃO DIFERE DAS OPERAÇÕES DE TITULARIZAÇÃO SEGURADORAS DE VIDA

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titularização de benefício emergente será neces-sário determinar o referido benefício, que é rea-lizado frequentemente em função das previsões, em que o próprio gerador tem um elevado grau de descrença. No caso das transações de mor-talidade extrema, a determinação da ocorrência da referida mortalidade é também uma séria di-ficuldade, por exemplo, pelo atraso derivado da transmissão dos sinistros.

O caráter sintético destas operações, portan-to, vê-se reforçado pela necessidade de modelar o risco para poder, assim, determinar os fluxos que serão gerados pela transação. Os pagamen-tos ao veículo emissor e aos investidores não costumam ser realizados em função dos fluxos diretamente gerados pelas apólices, dado que estes estão misturados no grador junto a outros muitos (investimentos, fiscais, operacionais etc.) que podem não ser relevantes para a ope-ração. Portanto, o risco subjacente à operação é determinado, geralmente, por meio de algum tipo de modelação ou sua parametrização. Em função do resultado derivado da aplicação da fórmula ou dos parâmetros pré-definidos, co-meça-se a realizar certos pagamentos ou outros aos investidores.

Há uma grande heterogeneidade na forma como é executada a modelação ou parametri-zação do risco subjacente nas transações. Mas é destacável que frequentemente isso se baseie na experiência obtida nas emissões de CATs. Em qualquer caso, em conseqüência da modelação ou da utilização de parâmetros para delimitar o risco, é gerado tanto risco moral quanto de base. O primeiro é especialmente relevante da pers-pectiva dos investidores, já que a modelação ou parametrização pode introduzir certo grau de arbitrariedade favorável ao gerador. Não obs-

tante, também deve ser considerado que, em condições ordinárias, este se vê amortizado pelo fato de que o gerador tem um interesse de re-putação direto (ou inclusive financeiro) de que a operação se desenvolva adequadamente e os investidores recebam as quantias esperadas.

O risco de base afeta principalmente o ge-rador e se refere à possível ineficácia do meca-nismo de gestão de riscos aplicado: se os fluxos que tem que entregar/receber pela operação de titularização não são compensados adequada-mente (em termos de tempo e quantidade) com os valores que receber/entregar pela evolução do risco, é possível que surjam desvios negati-vos. Nesse caso, seria evidente que a cobertura aplicada não é adequada porque não existe si-metria entre a evolução do risco que se procura gerir e a ferramenta de gestão selecionada. Na medida em que os modelos que simulam a evo-lução do risco ou parâmetros que o delimitam são aproximações ao próprio risco e, portanto, não são exatos, a modelação ou parametrização gerará um risco de base para o gerador.

HÁ UMA GRANDE HETEROGENEIDADE NA FORMA EM QUE É EXECUTADA A MODELAÇÃO OU A PARAMETRIZAÇÃO DO RISCO SUBJACENTE NAS TRANSAÇÕES, MAS É DESTACÁVEL QUE, FREQUENTEMENTE, ISTO SE BASEIE NA EXPERIÊNCIA OBTIDA NAS EMISSÕES DE CATS.

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AS TITULARIZAÇÕES DO BENEFÍCIO IMPLÍCITO EM UMA CARTEIRA

As operações de titularização do benefício implícito em uma carteira têm características re-lativamente similares às titularizações típicas de outras áreas do setor financeiro, salvo pelo ativo a titularizar. Essencialmente, trata-se de operações de financiamento que podem chegar a ser con-figuradas com certo componente de transferên-cia de riscos. Assim sendo, é possível obter um tratamento regulador favorável que faz com que a operação seja duplamente oportuna, tornando-se, assim, mais atrativa.

Algumas operações de titularização, incluído de benefício implícito, que foram realizadas, são apresentadas na tabela abaixo.

Visto que se refere às operações de financia-mento, podem ser empregadas com fins muito diversos, da captação de liquidez por necessida-des operacionais até a obtenção de recursos para a expansão, passando, inclusive, por operações em que o ativo titularizado é adquirido utilizando os próprios fundos procedentes da titularização3.

As titularizações de benefício implícito são, portanto, titularizações de ativos, mas de um mui-to em particular, como é o benefício que aflorará de uma carteira de apólices de Vida/Previdência no futuro. Os dois problemas fundamentais na ti-tularização deste ativo derivam tanto da definição quanto da quantificação do benefício. Além dis-

3Veja, por exemplo, a titularização de Flac Holdings, realizada para adquirir o grupo Forethought Financial Services.

2001 American Skandia Vários2001 Prudential Embedded Value2002 CBC Ins Ver Vários2002 Amp Life Vários2002 Mony Embedded Value2003 Inc Money Markets XXX2003 Patrons Vários2003 Vita – Swiss Re Mortalidade2003 Potomac Trust Embedded Value2003 Patrons Mortalidade2003 Gracechurch Embedded Value2004 Inc Money Markets XXX2004 Potomac Trust XXX2004 Patrons Vários2004 Box Hill Embedded Value2004 Norwich Union Embedded Value2004 Flac Embedded Value2005 Orkney Holdings XXX2005 Inc Term Securities XXX2005 Orkney Capital XXX2005 Stingray Trust XXX2005 Potomac Trust XXX2005 Vita II – Swiss Re Mortalidade2005 Alps Capital II Embedded Value

Ano Veículo / Gerador Tipo de operação

2005 Queensgate Embedded Value2006 Shenandoah XXX2006 Timberlake Financial XXX2006 Ballantyne Re XXX2006 Inc Term Securities XXX2006 Inc Money Markets XXX2006 Tailwind Holdings Vários2006 Vita Capital III – Swiss Re Mortalidade2006 Osiris Capital – Axa Mortalidade2006 Tartan Capital Mortalidade2006 Rivermont AXXX2007 Inc Term Securities XXX2007 Liica Holdings XXX2007 River Lake Ins Co. XXX2007 Northwind Holdings Vários2007 Vita Capital III – Swiss Re Mortalidade2007 Avondale – Bank of Ireland Embedded Value2007 Portofi nos – Aegon Embedded Value2007 Metlife Embedded Value2007 Double Oak Capital AXXX2008 Sbli XXX2008 Nathan Mortalidade2008 Zest – Aegon Embedded Value2008 Pine Falls Axxx

Ano Veículo / Gerador Tipo de operação

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so, o problema se complica porque, normalmen-te, não somente se deseja determinar o benefício emergente em cada período, mas também o bene-fício futuro implícito na carteira.

Quanto à definição do benefício, foram apre-sentadas alternativas muito diversas nas transa-ções realizadas até o momento. Geralmente, as operações incluíram carteiras fechadas de con-tratos de seguro para a titularização do benefício emergente, que introduz uma maior incerteza de que exista também a possibilidade de incorpo-rar apólices futuras4. O benefício emergente em um determinado período é utilizado para deter-minar se procede ou não realizar pagamentos de cupons e/ou principal aos investidores nas notas de titularização. Se não existir benefício emer-gente, é possível que os investidores não rece-bam as quantias prometidas ou esperadas nesse momento, mas que deverão esperar a recupera-ção do nível de lucros necessário. A definição do lucro é um elemento essencial da transação, já que em função dela serão realizados certos pa-gamentos aos investidores. Além disso, o nível de transferência de riscos que efetivamente seja realizado dependerá, na maoria dasvezes, de tal definição.

Uma vez definido o lucro, será necessário calculá-lo periodicamente. O lucro emergente é normalmente modelado, com a utilização de um critério que é estabelecido nas condições da titula-rização. A modelação costuma partir das próprias magnitudes contábeis do gerador ou da documen-tação que deve ser enviada à autoridade de su-pervisão. Comumente, estes dados são alterados ligeiramente de acordo com algum critério pré-determinado nas condições da titularização. Em alguma ocasião, inclusive, chegou-se a modelar ad hoc, o lucro para a operação de titularização.

Semelhante ao que ocorre com outras opera-ções de titularização, não é estranho que sejam estabelecidas cláusulas restritivas da operação em função da garantia existente. No caso em ques-

tão, a garantia consiste no lucro futuro que per-maneça na carteira em questão. Sem o objetivo de discutir aqui os pormenores de tais cláusulas, é evidente que a estimativa das garantias vigen-tes a cada momento é realizada também através da modelação do lucro futuro e o seu desconto no momento da avaliação. Geralmente não há grandes divergências entre a estimativa do lucro emergente e a do lucro implícito na carteira, sal-vo pela necessidade de descontar que existe na avaliação desta última.

Nas transações realizadas desde a origem, no final dos anos noventa, até a atualidade, ob-serva-se uma grande heterogeneidade quanto às taxas de avanço que o gerador obtém sobre o ativo titularizado. Estas taxas oscilam en-tre 45% e 90%, aproximadamente, em função das características da estrutura. Alguns fato-res relevantes são, por exemplo, a existência de mecanismos de melhora de crédito, como a subordinação, as garantias de terceiros ou a retenção de uma parte do risco pelo gerador.

Do ponto de vista do possível cálculo do fi-nanciamento recebido como capital para efei-tos reguladores, não existe um padrão aplicável a todas as jurisdições. Mas, como regra geral, pode-se considerar que o financiamento rece-bido é semelhante ao capital híbrido na me-dida em que os pagamentos estão vinculados à existência do lucro na companhia. Portanto, é a existência de certa capacidade de absorver perdas, que torna possível o cálculo total ou parcial do financiamento recebido como capi-tal para efeitos de solvência em alguns ambien-tes reguladores.

Do ponto de vista da imagem nas demonstra-ções financeiras do geradorr, deverá ser levado em conta que o lucro emergente normalmente é um elemento que não costuma aparecer nas referidas demonstrações. Por isso, o financia-mento recebido habitualmente será computa-do como passivo do geador, dilatado o nível de alavancagem. Não obstante, deveriam ser leva-dos em conta os casos particulares, como, por exemplo, quando o ativo titularizado proceder de uma carteira adquirida previamente de um terceiro.

4Como é o caso da titularização realizada em 2007 pelo Bank of Ireland pelo veículo Avondale Securities

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A TITULARIZAÇÃO DE RISCO DE MORTALIDADE CATASTRÓFICA

Outro risco que serve de base para a titula-rização no mundo segurador é o de existência de desvios negativos na mortalidade fora do que, razoavelmente, pudesse ser esperado.

Estas transações baseiam-se nas operações que têm sido realizadas no mundo do seguro de Não Vida, por meio da titularização de riscos catastróficos. Trata-se, diferentemen-te das titularizações de lucro implícito que analisamos anteriormente, de titularizações puras de riscos seguradores. Neste caso, não se trata de trocar os fluxos futuros que cons-tituem um ativo por outros diferentes, mas que se busca uma verdadeira transmissão de riscos. Por isso, considera-se que estas são as autênticas operações alternativas à retroces-são em resseguro.

O objetivo do gerador neste caso é seme-lhante ao de adquirir resseguro não propor-cional que cubra o excesso de mortalidade so-bre um determinado padrão. Daí a utilização do adjetivo “catastrófica” para referir-nos à mortalidade coberta por estas operações. Por-tanto, trata-se de receber uma compensação no caso de que a mortalidade seja superior ao que poderia ser considerado como uma evolução razoavelmente negativa desta vari-ável. Se o ressegurador buscar alguma forma de cobrir-se pela fórmula de resseguro, terá, para tanto, que pagar um prêmio e esperar a compensação do ressegurador no caso da ma-nifestação do risco coberto.

Ainda que o gerador das titularizações de mortalidade catastrófica tenha habitualmente uma série de objetivos que também podem ser obtidos mediante o resseguro, pode-se consi-

derar que estas opções são alternativas ao res-seguro. Geralmente, foram resseguradores ou grandes seguradores os que fizerem uso destas estruturas para cobrir o risco em questão. É in-teressante que sejam os próprios ressegurado-res aqueles que o façam, já que assim, se traz à tona, a complementação apresentada pela titu-larização de riscos para o negócio ressegurador. E, adicionalmente, reafirma a necessidade de contar com um volume relativamente grande de riscos para que a titularização seja eficiente com relação ao resseguro tradicional.

Mas a característica que realmente marca a diferença nestas operações não é, realmente, sua finalidade nem seus usuários, mas a estru-tura empregada e as conseqüências que deri-vam dela, tal como é exposto a seguir.

Na dinâmica do resseguro, o cedente paga uma quantia pela transferência do risco e es-pera uma compensação no caso dele se mate-rializar. Na titularização, o esquema é o mes-mo, ainda que o prêmio seja pago ao emissor das notas de titularização (SPV/SPRV), que capta os fundos dos investidores. Este prê-mio serve para retribuir os investidores, que previamente entregaram os fundos corres-pondentes ao emissor. Desta forma, o emis-sor das notas já captou os fundos necessá-rios para serem entregues ao cedente no caso de ocorrer o evento coberto. Se suceder tal evento, os investidores perderão total ou parcialmente as quantias entregues, em fun-ção dos termos da garantia acordada. Caso contrário, o emissor das notas reembolsará aos investidores as quantias entregues com a retribuição acordada. O esquema superior mostra as relações entre os participantes ele-mentares na operação.

Deduze-se do esquema, que o SPV/SPRV manterá os fundos captados dos investido-res durante toda a vida da operação, até a

AS TITULARIZAÇÕES DE RISCO DE MORTALIDADE CATASTRÓFICA NÃO PRETENDEM TROCAR OS FLUXOS ATIVOS QUE CONSTITUEM UM ATIVO POR OUTROS DIFERENTES, MAS BUSCAM UMA VERDADEIRA TRANSMISSÃO DE RISCOS

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PREÇO DE EMISSÃO

NOTAS ESTRUTURADAS + RENDIMENTOS

GERADOR SPV INVESTIDORES

PAGAMENTOS CONTINGENTES NO CASO DE PERDA

PRÊMIOS DE RESSEGURO

Estrutura de titularização de riscos de mortalidade extrema.

sua amortização (quer seja por vencimento ao longo do período pré-determinado ou antecipadamente, por ocorrência do evento de mortalidade extrema que executa a ope-ração). Os referidos fundos serão investidos para reduzir o custo da transação, que pode ser feito diretamente pelo SPR/SPRV ou por meio de um derivado5. Portanto, por estes investimentos se introduzirá um elemento adicional de risco na operação, ou seja, o que deriva dos referidos investimentos. Geral-mente, este risco é mínimo, porque os inves-timentos são realizados em títulos de dívida pública de máxima qualidade. Além disso, podem ser estabelecidos mecanismos adicio-nais de proteção diante dos desajustes entre o rendimento dos investimentos e o custo

das notas não correspondentes ao diferencial de crédito. Uma política flexível de coloca-ção dos fundos pode significar o fracasso da operação, se as perdas em tais investimen-tos fazem com que os fundos com os quais o SPV/SPRV contam, não sejam suficientes para amortizar as notas ou cobrir o gerador, conforme corresponder.

A utilização de contratos de derivados nas estruturas de titulização expõe a operação ao risco de contrapartida. Tradicionalmente, este elemento vinha sendo desconsiderado dada a alta credibilidade das contrapartidas nos deri-vados. Não obstante, recentemente manifes-tou-se de forma muito virulenta em conseqü-ência da falência do banco norte-americano de investimento Lehman Brothers, que servia de contrapartida em vários derivados empregados em transações de riscos seguradores.

A NOVA SITUAÇÃO DO SOLVÊNCIA II FAVORECE A UTILIZAÇÃO DE MECANISMOS DE GESTÃO DE RISCOS DIFERENTES DO RESSEGURO, QUE NÃO SÃO CONTEMPLADOS EXPRESSAMENTE NO AMBIENTE DO SOLVÊNCIA I, COMO NO CASO DA TITULARIZAÇÃO.

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É certo que o risco de contrapartida que en-volvem os derivados implícitos nas transações de titularização não é exclusivo das titularizações de mortalidade catastrófica. Não obstante, isto é especialmente perigoso neste tipo de operações quando é utilizado um total return swap como mecanismo de investimento do SPV/SPRV. Isto se deve ao fato de que se tem um risco maior de per-der a totalidade dos fundos necessários para amor-tizar as notas ou cobrir o gerador que, quando se refere meramente a derivados que não envolvem movimentos do principal, como, por exemplo, os swaps de taxas de juros.

AS OPERAÇÕES DE TITULARIZAÇÃO NO MARCO REGULADOR DO SOLVÊNCIA II

Em abril de 2009 o Parlamento Europeu aprovou a diretiva sobre o seguro de Vida, o acesso à atividade do seguro e de resseguro e seu exercício, também conhecida como Sol-vência II6. Esta norma supõe uma forte atuali-zação das normas reguladoras das seguradoras, com uso de um enfoque “econômico” frente ao tradicional enfoque “jurídico” anterior. A norma em questão é uma Diretiva Marco, no sentido de que estabelece uma série de princí-pios que posteriormente deverão ser desenvol-vidos por outras normas mais concretas. Assim sendo, e sem prejuízo das particularidades que possam surgir em regras posteriores de desen-volvimento, o nova situação do Solvência II fa-vorece a utilização de mecanismos de gestão de riscos diferentes do resseguro, que não eram contemplados expressamente no caso do Sol-vência I, como é o caso da titularização.

Em primeiro lugar, deve-se levar em conta que a própria diretiva faz uma referência ex-pressa no artigo 105.6 às operações de titula-rização como mecanismo de gestão de riscos. Ainda que seja certo que a diretiva de ressegu-ro de 2005 já fazia referência aos SPVs que as-sumissem riscos resseguradores, até agora não havia sido considerado expressamente o meca-nismo de titularização como uma fórmula de transferência de riscos. Portanto, a simples re-

ferência do artigo 105 mencionado já constitui um passo à frente para a gestão de riscos no mercado segurador, por meio do mecanismo de titularização.

No caso do Solvência I, as operações de titularização com características de financia-mento podem ter um efeito no capital regula-dor ao ampliar a margem de solvência dispo-nível mediante a consideração total ou parcial da operação como capital híbrido7. Adicional-mente, pode-se também afetar o requerimento de margem de solvência, mas para tanto é ne-cessário que a operação seja estruturada como resseguro, o qual nem sempre ocorre. Observa-se, portanto, que, embora no caso do Solvên-cia I as operações de titularização não estejam proscritas, leva-se muito em conta a forma da

5Normalmente um total return swap.6A data de início de vigência prevista é 1o de novembro de 2012, de acordo com seu artigo de no. 3117Veja, por exemplo, o item 3 do artigo 27 da diretiva 2002/83/EC sobre o seguro de vida.

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estrutura em vez dos seus efeitos como meca-nismo de gestão de riscos. Como consequência deste enfoque “jurídico” ou formal, as estru-turas têm, frequentemente, complicações que podem ser consideradas desnecessárias para al-cançar os fins perseguidos.

No caso entorno dedo Solvência II prevalecem os critérios econômicos na hora de realizar avalia-ções e determinar o capital requerido e disponí-vel, diante das frente às considerações formais8. Isto significa implica que, ao determinar os requi-sitos de capital, provisões e outros elementos que a regulação impõe como mecanismo para facilitar a sobrevivência das empresasntidades e o cumpri-mento das suas obrigações, deveráão ser levados em conta, os efeitos razoavelmente previstos dos mecanismos de gestão de riscos, com indepen-denteência dea sua denominação ou estrutura.

Da perspectiva do capital requerido (SCR e MCR), os diversos módulos que constituem a de-nominada fórmula padrão serãose verão afetados pelas operações de titularização que realizarem. É evidente que em função das características da estrutura, os fluxos negativos derivados da mate-rialização de um risco, serão, se verão total ou parcialmente compensados pelos fluxos positivos que possam derivar da transação de titularização, e vice-versa. Portanto, dado que o requisito de ca-pital pretende apresentar os efeitos de um amplo leque de riscos, e na medida em que estes se virem alterados por um mecanismo de gestão de riscos, como a titularização, deverão ser considerados os seus efeitos. Tudo isso, independente com inde-pendência dae que a estrutura conternha opera-ções de resseguro implícitas ou não.

É essencial, ainda, leva em consideração, ta quque o cálculo dos efeitos de uma titularização sobre o capital requerido em Solvência II pode ser estimado também mediante a utilização dos modelos internos previstos nos artigos 110 e se-guintes da diretiva. Nesse caso, seria necessário modelizar a transação para incorporá-la ao meca-nismo de quantificação do capital, de acordo com as próprias estimativas da companhia sobre o fun-cionamento da operação.

Além do anterior, também é possível que as operações de titulização tenham incidência no ca-

pital regulador através do cálculo dos fundos pró-prios disponíveis. A dinâmica neste caso mantém uma grande analogia no fundo com o apresentado no Solvência I, mas agora, em vez de ser definido o capital em termos específicos9, a definição é feita em termos genéricos. O artigo 93 do Solvência II estabelece os critérios de:

- Disponibilidade (ou exigibilidade, conforme o caso) para a absorção de perdas total ou permanente- e, conforme o caso, para liquidação,- subordinando-se ao cumprimento das obrigações de seguro e resseguro.

Além disso, contemplam-se outros elementos adicionais, como:- Duração (definida ou indefinida, e suficiência).- Existência de incentivos ao reembolso.- Existência de gastos fixos obrigatórios.- Existência de agravos.

8Veja, por exemplo, os itens 33 e 37 do preâmbulo da diretiva.9Leve-se em consideração que a via fundamental, pela qual os fundos procedentes de algumas titularizações são calculados como capitais, por meio de sua consideração como “empréstimos subordinados” ou “valores de duração indeterminada”, tal como previsto no artigo 27.3 da diretiva de Vida ou no artigo 16.3 da diretiva de Não-Vida.

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Portanto, sob estes critérios genéricos po-deremos encontrar uma multidão de fórmulas e é impossível classificar as operações de titula-rização de forma geral. Será necessário analisar todas as características anteriores para deter-minar, em primeiro lugar, se podem ser classi-ficados como fundos próprios ou não. Em se-gundo lugar, se forem classificados como tais, seu enquadramento como fundos próprios de nível 1, 2 ou 3. Aprecia-se, portanto, novamen-te, que serão as próprias características da ope-ração as que determinarão em última instância o comportamento da transação de titularização para efeitos reguladores, e não sua classificação em categorias pré-definidas10.

A INCIDÊNCIA DA RECENTE CRISE DE CRÉDITO NAS TITULARIZAÇÕES DE VIDA

O desenvolvimento das operações de titu-larização tem experimentado um crescimento exponencial nas últimas décadas, no padrão geral de expansão dos mercados de crédito.

Isso facilitou, como não poderia deixar de ser, o desenvolvimento das titularizações de riscos em geral e as de Vida em particular.

As titularizações de riscos do seguro de Vida cresceram muito, desde o seu surgimento no final dos anos noventa até a atualidade. Mas, trata-se de um mercado recém criado, que ain-da não atingiu os níveis de outras titularizações seguradoras, como os bônus de catástrofe. O volume emitido é completamente desconside-rável, se comparado aos segmentos maiores do mundo da titularização, como as transações hi-potecárias ou as de cartão de crédito.

Em qualquer caso, o ritmo de crescimen-to do mercado, a diversidade das transações e as reiteradas emissões que alguns participan-tes realizaram, traz à tona, a crescente solidez desta atividade. E não só isso, é muito chama-tivo o relativamente bom comportamento do

10Sem prejuízo da consideração da lista do ar tigo 97 de Solvência II.

NOMINAL DAS EMISSÕES VIVAS

XXX/AXXX

USD bilhões

Embedded value Mortalidade Outros

Fonte: Sigma – Swiss Re

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estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 4 - 2 0 1 0

mercado durante os dois últimos anos. Ainda que seja certo que o ritmo de emissão viu-se ralentizado desde meados do ano de 2007, a todo momento foi possível realizar algumas emissões. Inclusive após a falência da Lehman Brothers e a conseqüente paralisação dos mer-cados creditícios foram executadas algumas transações.

Entre as emissões mais recentes é particu-larmente atrativa a realizada pela American International Group após receber ajudas do Governo dos Estados Unidos. Em janeiro de 2009, a AIG realizou uma venda privada, pelo valor nominal de 8.400 milhões de dólares, ba-seada em liquidações de seguros de Vida. Este valor foi empregado, parcialmente, para amor-tizar os auxílios públicos recebidos. Além dis-so, a AIG anunciou também a titularização do benefício implícito na sua carteira de Vida para acelerar a devolução dos referidos ajudas.

Um comportamento similar foi manifes-tado pela Aegon, que em outubro de 2009 realizou também uma emissão de embedded value pelo valor de 900 milhões de euros. Esta companhia também recebeu ajudas públicas, neste caso pela injeção de capital, noo valor de 3.000 milhões de euros. A titularização do benefício futuro permite, assim, contribuir para a obtenção de liquidez para reembolsar os auxílios recebidos.

Em ambos os casos, se traz à tona, como, in-clusive, em condições de instabilidade o mer-cado segurador pode realizar a titularização como mecanismo de financiamento utilizando um ativo que, de outro modo, não seria líqui-do. Trata-se, portanto, de exemplos relevantes sobre as possibilidades de gestão de riscos por meio da titularização.

Não obstante, os acontecimentos dos dois últimos anos também trouxeram à tona algu-mas fraquezas na atividade de titularização de Vida. Uma delas já foi comentada anterior-mente, ao analisar as emissões de mortalidade catastrófica: quando há fundos que devem ser investidos ou fluxos que são cobertos por meio de contratos com terceiros, surgem riscos adi-cionais para a operação.

Outra fraqueza substancial verificada é a utilização de garantias financeiras nas emissões (wrapping). Muitas emissões realizadas na área de Vida utilizavam como mecanismo de me-lhora de crédito, as garantias outorgadas por seguradores de bônus, o que proporcionava, ainda, uma qualificação de crédito mais alta à transação. Como qualquer outro produto res-segurador, estas garantias são úteis na medida em que for realizado o pagamento do segu-rador no caso de sinistro. Mas neste caso, os fiadores fracassaram estrepitosamente nisso: a maioria abandonou o negócio ou inclusive de-sapareceu. Em qualquer caso, a desconfiança generalizada atual neste tipo de garantias, jun-to à baixa qualificação de crédito dos fiadores, impede a utilização deste mecanismo.

O desaparecimento do recurso às garantias de terceiros dificulta, por um lado, a execu-ção de transações, visto que é mais complica-do atingir os máximos níveis de rating do que quando se contava com um fiador AAA. Isto pode ser inconveniente para os geradores de bônus de Vida, visto que, na ausência de um fiador, os investidores deverão prestar mais atenção aos riscos subjacentes neste tipo de operações. Dado que estes riscos são, freqüen-temente, de difícil compensação, é previsível que seja dificultado o acesso ao mercado aos geradores menos conhecidos.

Por último, é também oportuno destacar que a tendência a incrementar a complexidade das estruturas que vinha sendo observada nos últimos anos, previsivelmente, será reduzida. Se os investidores não contarem como o apoio de um fiador e tiverem que realizar uma análi-se mais profunda dos riscos implícitos na tran-sação, é razoável esperar que estruturas menos transparentes, sejam requeridas.

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informe

No exercício de 2008 e no primeiro semestre de 2009, os mercados

seguradores da América Latina continuaram mostrando sinais de força,

com aumentos nominais em moeda local na emissão de prêmios em todos os

países da região, salvo Porto Rico, no primeiro período analisado, e o Chile,

no segundo. Em 2008 foi registrado um crescimento médio de 16,9%

em volume de prêmios, enquanto nos primeiros seis meses de 2009 esse

aumento foi de 7,4%, com relação ao mesmo período do ano anterior.

O mercadoseguradorlatino-americano2 0 0 8 - 2 0 0 9

CENTRO DE ESTUDOSFUNDACIÓN MAPFRE

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

A CRISE INTERNACIONAL TEVE REFLEXOS NA REGIÃO LATINO-AMERICANA NA REDUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES, NA DIMINUIÇÃO DO INVESTIMENTO E NA

DESACELERAÇÃO DO CONSUMO PRIVADO

CENÁRIO MACROECONÔMICO1

O exercício de 2008 foi positivo para a eco-nomia da América Latina, embora os efeitos da crise financeira internacional, principalmente na última etapa do ano, tenham influenciado na moderação do seu crescimento. Segundo dados publicados pela CEPAL, o PIB da América La-tina e do Caribe cresceu 4,2% em 2008, 5,8% se comparado ao ano anterior.

Convêm destacar que depois de seis anos consecutivos de expansão econômica, ocorre-ram importantes avanços estruturais na região, tais como disciplina fiscal, com superávit pri-mários e um nível de dívida pública decrescen-te; inflação baixa e estável, com uma política monetária ortodoxa e um regime de taxas de câmbio flexíveis, e reformas que permitiram, às suas instituições e mercados financeiros, atrair capitais de países desenvolvidos com baixos prêmios de risco. Graças a estes avanços, pode-se afirmar que a América Latina encontra-se em melhor situação que no passado para enfrentar uma crise econômica como a atual.

Na moderação do crescimento econômico em 2008 influenciaram, além da crise financeira internacional, outros fatores difíceis de quanti-ficar, como a destruição de riqueza derivada da diminuição dos preços dos ativos e os efeitos da deterioração das expectativas sobre o inves-timento e o consumo privado. Pelo contrário, o consumo público teve um aumento, que está relacionado às políticas fiscais impulsionadas pelos governos para amortizar o efeito das cri-

ses. Em alguns casos, a redução das remessas de emigrantes repercutiu, significativamente, na evolução do consumo privado.

O impacto macroeconômico da crise na re-gião teve reflexos na redução das exportações, na diminuição do investimento e na desacelera-ção do consumo privado. Por sua vez, na queda do investimento influenciou a atenuação dos fluxos de investimento estrangeiro direto.

Na maioria dos países, e como reflexo da ati-vidade econômica, manteve-se o nível de gera-ção de emprego até o último trimestre de 2008, no qual foi observada uma considerável deterio-ração da situação de trabalho, que se prolongou no primeiro trimestre de 2009. A diminuição da taxa de ocupação nestes dois trimestres contras-ta com a melhora dos indicadores de trabalho do período de 2004-2008, nos quais a taxa de desemprego regional caiu de 11% para 7,4%.

A inflação, em 2008, aumentou até 8,4%, dois pontos acima da registrada em 2007 (6,4%), afe-tando todos os países da região. A inflação co-meçou a desacelerar de forma importante em se-tembro de 2008, após a brusca queda dos preços internacionais dos alimentos e dos combustíveis; para a referida desaceleração também contribuiu o negativo impacto da crise internacional na de-manda interna dos países da região.

Quanto à balança de bens e serviços, em 2008 podem ser observadas duas etapas claramente di-ferenciadas. Nos três primeiros trimestres, o co-mércio de bens aumentou significativamente em exportações e importações. As exportações aumen-taram em valor a uma taxa média de 26,5%, ainda que os volumes tenham tido uma expansão em um ritmo menor. O comportamento das importações trimestrais foi similar, já que aumentaram 28,5%

1Comentários baseados na publicação “Estudio económico de América Latina y el Caribe 2008-2009”, da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL).

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em média. Entretanto, a partir do quarto trimes-tre começaram a ser percebidos os efeitos da crise econômica internacional, e as exportações caíram 10,4%, em consequência da redução da demanda externa, que afetou tanto os volumes quanto os preços. O efeito de contração da demanda externa, como esperado, foi maior na América Central e no México, cujas economias são relativamente mais abertas e exportam uma grande parte dos seus bens aos Estados Unidos.

De acordo com as estimativas da CEPAL, o PIB dos países da América Latina e do Caribe terá uma contração de 1,8% em 2009, inter-rompendo seis anos consecutivos de expansão econômica. Este comportamento da economia deve ser situado em um contexto de crise glo-bal, que afetou a região de forma mais inten-sa no último trimestre de 2008 e no início de 2009. As repercussões da crise manifestaram-se principalmente em uma forte queda das expor-

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

O CRESCIMENTO MÉDIO DO VOLUME DE PRÊMIOS NA REGIÃO FICOU EM 16,9%, EM 2008, DOIS DÉCIMOS MENOS QUE EM 2007. POR SUB-REGIÕES, O CRESCIMENTO

MÉDIO DA AMÉRICA CENTRAL (10,8%) FOI LIGEIRAMENTE SUPERIOR AO DA AMÉRICA DO SUL (9,8%).

tações, na queda dos preços dos produtos bási-cos e nos termos de intercâmbio, e na perda de receitas procedentes das remessas de emigran-tes e do turismo. Não obstante, no segundo trimestre de 2009 começou a ser vislumbrada uma recuperação que foi generalizada na se-gunda metade do ano.

MERCADO SEGURADOR

Em 2008, os mercado seguradores da Amé-rica Latina continuaram mostrando sinais de força, com aumentos nominais e reais em mo-eda local na emissão de prêmios em todos os países, com exceção de Porto Rico, levando a um crescimento médio de 16,9%, dois décimos menos que em 2007. O crescimento médio real em moeda local ficou em 6,8%, frente a 11,4% do ano anterior. Ao contrário do ocorrido em 2007, o crescimento médio da América Central, 10,8%, foi ligeiramente superior ao da América do Sul (9,8%).

PAÍS NÃO VIDA VIDA TOTALArgentina 31,7 12,8 26,2

Bolívia 23,1 32,8 24,9

Brasil 16,7 15,2 16,0

Chile 13,5 5,8 8,8

Colômbia 10,4 43,5 19,4

Costa Rica 31,9 52,6 32,6

Equador 29,9 32,1 30,3

El Salvador 6,5 22,8 11,4

Guatemala 8,4 14,6 9,5

Honduras 12,5 20,1 14,3

México 6,4 10,0 8,4

Nicarágua 11,9 25,9 14,0

Panamá 30,0 21,7 27,5

Paraguai 22,6 40,8 24,0

Peru 6,7 1,8 16,7

Porto Rico 1,7 -9,4 0,6

República Dominicana 10,3 20,0 11,3

Uruguai 17,8 29,5 20,0

Venezuela 45,0 44,9 45,0

Total geral 18,5 13,9 16,9

% VARIAÇÃO VOLUME DE PRÊMIOS. 2008Crescimentos nominais em moeda local

Fonte: elaboração própria a partir da informação publicada pelo órgão supervisor de seguros de cada país.

Figura 1. Variação do volume de prêmios 2008 na América Latina.

Figura 2. América Latina. Prêmios per capita 2008.Fonte: elaboração própria a partir da informação publicada pelo órgão supervisor de seguros de cada país e pela CEPAL.

Porto Rico

Chile

Venezuela

Brasil

Panamá

Argentina

México

Uruguai

Costa Rica

Colômbia

Equador

República Dominicana

El Salvador

Peru

Honduras

Guatemala

Paraguai

Bolívia

Nicarágua

Prêmio per capita. Euros.

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Figura 3., América Latina. Penetração do seguro 2008.Fonte: elaboração própria a partir da informação publicada pelo órgão supervisor de seguros de cada país e pela CEPAL.

Porto Rico registra o prêmio per capita mais alto da região, com 1.625 €/hab., seguido do Chile (270 €/hab.), Venezuela (254 €/hab.), Bra-sil (186 €/hab.), Panamá (156 €/hab.), Argenti-na (130 €/hab.) e México (117 €/hab.). Bolívia e Nicarágua, com 13 €/hab., são os países com o prêmio per capita mais baixo.

Quanto à penetração do seguro (% prêmios / PIB), destaca novamente, de forma notável, o dado de Porto Rico, com 15,5%, seguido pelo Chile (3,9%), Panamá, Brasil e Venezuela (3,3%) e Argentina (2,3%).

O volume de prêmios da América Latina em euros ultrapassou 69.000 milhões em 2008, com um aumento nominal de 11% com relação a 2007. O segmento Não Vida mostrou um me-lhor comportamento que o ramo de Vida, ainda que uma menor expansão da atividade econômi-ca e a forte concorrência nos preços tenham tido reflexo na moderação do seu crescimento, que foi de 11,6%, índice muito similar ao de 2007 (12%). Por sua vez, a emissão de prêmios do

seguro de Vida foi de 25.000 milhões de euros, com uma variação positiva de 10% com relação ao ano anterior. Os países que experimentaram o maior crescimento no volume de prêmios em euros são Venezuela (36,3%), Paraguai (33,4%) e Uruguai (26,9%).

Como ocorreu no exercício anterior, a reava-liação experimentada pelo euro diante da maio-ria das divisas locais não favoreceu a conversão a euros das receitas por prêmios da região. Pelo contrário, apreciaram-se as moedas da Bolívia, do Paraguai e do Uruguai.

Porto Rico

Chile

Panamá

Brasil

Venezuela

Argentina

Costa Rica

Colômbia

El Salvador

Honduras

México

Nicarágua

Equador

Uruguai

República Dominicana

Bolívia

Peru

Guatemala

Paraguai

% Prêmios / PIB

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

País Não vida % Δ Vida % Δ Total % Δ

Argentina 3.810 14,9 1.343 -1,6 5.153 10,1

Bolívia 107 15,8 26 24,9 133 17,5

Brasil 13.113 16,1 12.405 14,7 25.518 15,4

Chile 1.819 15,6 2.704 7,7 4.522 10,7

Colômbia 2.351 7,7 1.136 40,0 3.487 16,4

Costa Rica 418 21,0 17 40,0 435 21,6

Equador 507 22,2 96 24,3 604 22,5

El Salvador 201 0,2 99 15,5 300 4,8

Guatemala 239 3,6 54 9,6 293 4,6

Honduras 142 5,3 49 12,4 192 7,0

México 6.956 -2,0 5.677 2,1 12.633 -0,2

Nicarágua 61 -0,6 12 11,8 73 1,2

Panamá 377 22,3 152 14,5 529 20,0

Paraguai 88 31,8 9 51,4 96 33,4

Peru 622 19,2 380 11,7 1.002 16,2

Porto Rico 5.850 -4,4 576 -14,7 6.426 -5,4

República Dominicana 391 -0,6 49 8,2 430 0,3

Uruguai 282 24,5 73 36,9 355 26,9

Venezuela 6.923 36,3 176 36,2 7.099 36,3

Total geral 44.247 11,6 25.032 10,0 69.279 11,0

Dados em milhões de euros. Crescimentos nominais em euros

VOLUME DE PRÊMIOS. 2008

Figura 4. América Latina. Volume de prêmios por país.Fonte: elaboração própria a partir da informação publicada pelo órgão supervisor de seguros de cada país.

A concentração do mercado diminuiu dois décimos em 2008, acumulando os sete maiores mercados seguradores da região, 93,6% dos prê-mios. O Brasil e o México continuam sendo os dois maiores mercados por volume de prêmios, passando a ocupar o terceiro lugar a Venezuela, na frente de Porto Rico. A Argentina, o Chile e a Colômbia mantêm-se em quinto, sexto e séti-mo lugares, respectivamente.

O ocorrido nos principais mercados segura-dores da região pode ser resumido nos seguin-tes aspectos:

Na Argentina observou-se uma significativa contração do ramo de Vida previsional, devido à transferência ao Estado dos seguros por In-

validez e Falecimento. Os seguros Não Vida continuam sendo os principais impulsores do desenvolvimento do mercado, destacando os aumentos dos ramos de Automóveis e de Aci-dentes de trabalho.

O produto Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) continuou sendo o principal alavanca-dor do crescimento do seguro de Vida no Brasil. Os ramos Não Vida experimentaram uma ace-leração na sua taxa de crescimento, que proce-deu principalmente do seguro de Automóveis, devido ao forte aumentoincremento nas vendas de veículos, e dos seguros de extensão de garan-tia vinculados à venda de aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos.

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O VOLUME DE PRÊMIOS NA AMÉRICA LATINA ULTRAPASSOU EM 2008 OS 69.000 MILHÕES DE EUROS, COM UM AUMENTO NOMINAL DE 1% COM RELAÇÃO A 2007.

O SEGMENTO NÃO VIDA MOSTROU UM MELHOR COMPORTAMENTO QUE O RAMO DE VIDA.

No Chile ocorreu uma desaceleração no cres-cimento dos seguros de Vida devido, principal-mente, à queda da demanda de Rendas Vitalícias, motivada pela incerteza sobre a possível evolução dos mercados financeiros, bem como a uma rela-tiva saturação do mercado dos seguros coletivos. Todos os ramos Não Vida, com a única exceção de Acidentes pessoais, experimentaram crescimentos no volume de prêmios.

Mais um ano as companhias de Vida foram as principais impulsionadoras do crescimento do mercado de seguros na Colômbia, em espe-cial o negócio de coletivos, devido ao aumento do número de cotaçoes e ao crescente nível de massificação deste tipo de seguros, e o de Ren-das Vitalícias, pela crescente demanda por parte dos aposentados. O crescimento dos seguros Não Vida procedeu, principalmente, dos ramos de Au-tomóveis, devido ao crescimento do número de veículos segurados e ao aumento das tarifas e Aci-dentes de trabalho.

No México, o seguro de Vida cresceu 10% (em moeda local), graças ao seu favorável tratamento fiscal e ao desenvolvimento do negócio de ban-ca-seguros. Os seguros de Pensões mantiveram a tendência de crescimento do exercício anterior, aumentando 21,2%. O segmento Não Vida foi influenciado pelo baixo crescimento do seguro de Automóveis, em conseqüência da queda nas vendas de veículos, e pela contração dos seguros de Danos, porque as apólices de seguros de uma grande corporação do país, emitidas em 2007, não serão renovadas até 2009.

A contração econômica que teve inícios em 2005, acabou afetando a indústria de seguros de Porto Rico. Os ramos de Vida registraram uma queda nominal de 9,4% e real de 16%, originado pela redução das melhoras sociais oferecidas pelas empresas aos seus emprega-dos e pela diminuição da capacidade de eco-nomia e confiança do consumidor, pelo efeito da crise econômica. Os prêmios dos seguros Miscelâneos (Property / Casualty) diminuí-ram,, devido à concorrência em preços e pela fraqueza da economia, e o ramo de Saúde, que concentra mais de três quartos dos prê-mios do segmento Não Vida, experimentou o maior crescimento do mercado graças às ven-das do produto Medicare.

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

Ramo 2007 2008 % Δ % parcelaVida 22.748 25.032 10,0 36,1

Vida individual e coletivo 19.505 21.603 10,8 31,2

Vida provisional e/ou pensões 3.243 3.429 5,7 5,0

Não vida 39.642 44.247 11,6 63,9Automóveis 15.008 17.151 14,3 24,8

Saúde 9.136 10.016 9,6 14,5

Incêndios e/ou linhas aliadas 3.846 3.854 0,2 5,6

Outros danos 4.983 5.685 14,1 8,2

Transportes 1.844 2.009 9,0 2,9

Responsabilidade civil 1.100 1.108 0,7 1,6

Acidentes pessoais 1.719 1.982 15,3 2,9

Crédito e/ou caução 760 947 24,5 1,4

Acidentes de trabalho 1.246 1.495 20,0 2,2

Total 62.390 69.279 11,0 100,0

Prêmios em milhões de euros

MERCADO SEGURADOR DA AMÉRICA LATINA 2007 – 2008PRÊMIOS POR RAMOS

Figura 5. América Latina. Volume de prêmios 2008 por ramos.Fonte: elaboração própria a partir da informação publicada pelo órgão supervisor de seguros de cada país.

As receitas do mercado segurador da Vene-zuela se originaram, principalmente, da contra-tação de apólices pelo setor público e do ajuste dos preços à inflação, que atingiu 31%. O seguro de Vida apenas acumula 2,5% dos prêmios, sen-do os ramos de Saúde e de Automóveis, os ver-dadeiros alavancadores do mercado.

Entre outros fatos relevantes que ocorreram em 2008, cabe destacar os seguintes:

Em dezembro de 2007 o órgão regulador do seguro publicou as regras do novo modelo de Resseguro no Brasil, mudando o monopólio do IRB Brasil Re, por um novo modelo de livre mercado. De acordo com o programado, a abertura do mercado de resseguro ocorreu em 17 de abril de 2008. Nos nove primeiros meses do ano, o IRB Brasil Re continuou concentrando aproximadamente 92% dos prêmios de resseguro do país.

Publicação da Lei Reguladora do Mercado de Seguros na Costa Rica, em julho de 2008. A referida Lei eliminou o monopólio estatal de seguros administrado pelo Instituto Nacional de Seguros (INS) durante 84 anos e oferece a possibilidade de que seguradoras nacionais e estrangeiras possam ofertar os seus produtos na Costa Rica.

A Lei estabelece a criação da Superinten-dência Geral de Seguros, encarregada de fis-calizar o cumprimento da Lei e da regulação que emitir o Conselho Nacional de Supervisão do Sistema Financeiro (CONASSIF). O INS é mantido como instituição seguradora estatal, mas deverá cumprir idênticos requisitos e re-gras que as demais seguradoras que se instala-rem no país.

Entre as companhias seguradora que tra-mitaram licenças para ter acesso ao mercado costa-riquense encontram-se a Aseguradora

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Mundial, de capital panamenho, a Alico, a nor-te-americana Pan American Life e a Seguros del Magisterio, de capital nacional.

Em novembro de 2008, o Congresso ar-gentino aprovou a reforma da Previdência Social, que elimina o sistema de capitaliza-ção individual, gerido por administradoras privadas e o transferiu a um sistema único integrado de distribuição e administração pública.

O microsseguro como instrumento financeiro destinado a melhorar as condições de vida das camadas mais desfavorecidas da população, tem sido objeto de interesse pelos poderes públicos de alguns países da região, produzindo-se algumas iniciativas legislativas destinadas a introduzir este produto no mercado e a favorecer o seu desenvolvimento.

Com relação aos movimentos empresariais realizados no exercício de 2008, merecem menção especial, por sua maior magnitude, a fusão do Itaú e do Unibanco, ambos do Brasil, formando o maior grupo financeiro privado da América Latina, e a aquisição da ING Seguros, a terceira maior seguradora do México, pelo grupo AXA.

No primeiro semestre de 2009, os mercados seguradores da América Latina2 continuarão mostrando sinais de força, com aumentos nomi-nais no volume de prêmios em moeda local em todos os países, exceto Chile (-12,3%). O Chile e El Salvador registraram quedas nos ramos Não

Vida, enquanto a Argentina, novamente o Chile e Porto Rico o fizeram no de Vida.

As receitas por prêmios expressos em euros foram de 35.774 milhões, com um aumento no-minal de 7,4% com relação ao mesmo período do ano anterior. Por sub-regiões, a América Central registra um maior aumento nominal, de 19,4%, diante de um crescimento de 7,3% da América do Sul. O mercado segurador mexicano apresen-ta uma taxa de variação nominal de 0,5%, Por-to Rico de 20,2% e a República Dominicana de 13,2%. A apreciação do dólar norteamericano e de outras moedas locais diante do euro neste pe-ríodo tem favorecido a conversão a euros das re-ceitas por prêmios de alguns países da região. Ao contrário, foram desvalorizadas perante o euro as moedas da Argentina, do Brasil, do Chile, da Colômbia, de Honduras, do México, do Para-guai e do Uruguai.

O maior aumento ocorreu no segmento Não Vida, 13,2%, graças ao bom comportamento dos ramos de Saúde, Incêndio e Acidentes de Traba-lho. O seguro de Automóveis teve uma evolução muito diferente em cada um dos países, com um crescimento de 0,7% para o conjunto da região. O seguro de Vida registrou uma queda de 2,4%, em conseqüência das menores receitas obtidas nos mercados seguradores da Argentina, do Chi-le, do México e de Porto Rico, e pela moderação dos crescimentos nos demais países. No caso da Argentina, a queda foi influenciada pela transfe-rência do sistema privado ao público dos seguros previsionais; no Chile, as Rendas Vitalícias re-gistraram uma queda de 29,5%; em Porto Rico, a evolução negativa do seguro de Vida está relacio-nada à situação econômica que a ilha atravessa; o seguro de Vida no México cresceu 9,6% em

A COSTA RICA ELIMINOU O MONOPÓLIO ESTATAL DE SEGUROS ADMINISTRADO PELO INS DURANTE 84 ANOS, ABRINDO A PORTA PARA QUE AS SEGURADORAS

NACIONAIS E INTERNACIONAIS OFEREÇAM SEUS PRODUTOS NO PAÍS.

2Não está incluída a Costa Rica por não dispor de dados.

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

moeda local, e sua queda se deve à depreciação do peso em relação ao euro.

Ao longo de 2009 ocorreram dois importantes acordos empresarias realizados pelos dois maio-res grupos seguradores da região, a holding Itaú Unibanco e a MAPFRE:

final de agosto, o Itaú Unibanco Holding e a Porto Seguro comunicaram a assinatura de um acordo em que ambas as companhias unificam as suas operações de seguros de Automóveis e de Residência.

O referido acordo será implementado mediante uma reorganização societária.

No final do ano, a MAPFRE e o Banco do Brasil anunciaram a assinatura de um acordo de intenções para negociar a constituição de uma aliança estratégica cujo objetivo consistirá no desenvolvimento conjunto dos negócios seguradores de ambos os grupos no mercado brasileiro dos negócios de Pessoas, Seguros Gerais e Automóveis.

País Não vida % Δ Vida % Δ Total % ΔBrasil 5.993 -7,3 6.175 0,6 12.168 -3,4

México 3.723 4,2 2.766 -4,0 6.489 0,5

Venezuela 4.583 57,8 117 50,7 4.699 57,6

Porto Rico 3.242 23,8 271 -10,3 3.513 20,2

Argentina* 2.372 22,1 486 -20,1 2.858 12,0

Chile 847 -4,3 1.191 -19,2 2.038 -13,6

Colômbia 1.204 6,2 523 13,3 1.727 8,3

Peru 397 36,2 211 19,0 608 29,7

Equador 318 24,6 53 34,2 371 25,9

Panamá 201 21,0 87 29,4 288 23,4

República Dominicana 198 9,4 32 44,0 231 13,2

Uruguai 141 24,6 44 51,1 186 30,1

Guatemala 135 19,0 30 22,7 164 19,6

El Salvador 100 9,0 58 38,1 158 18,2

Honduras 76 3,5 26 3,4 101 3,5

Bolívia 60 30,3 15 24,2 75 29,0

Paraguai* 53 22,3 5 16,3 58 21,7

Nicarágua 36 26,5 6 15,7 43 24,8

Total geral 23.679 13,2 12.096 -2,4 35.774 7,4

Dados em milhões de euros. Crescimentos nominais em euros.

VOLUME DE PRÊMIOS. JANEIRO – JUNHO 2009

Figura 6. América Latina. Volume de prêmios janeiro-junho de 2009 por país. (*) Estimado.Fonte: elaboração própria a partir da informação publicada pelo órgão supervisor de seguros de cada país.

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FichaBoletim de Incrição Fundação Mapfre

Eliminamos essa página? Não temos tradução da ficha.

Convocatoria de 75 Auxílios à Pesquisa: Seguros, Saúde, Prevenção e Meio Ambiente 2010

Para mais informações acesse o site www.fundacionmapfre.com.br.

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observatório de sinistros

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

MUDANÇA CLIMÁTICA

e f e i t odaMUDANÇA

CLIMÁTICA

Análise do

sobre as perdas por furacões ENRIQUE DE ALBAInstituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI)Universidade de Waterloo, Canadá

RICARDO ANDRADEInstituto Nacional de Estatística e Geografia (INEGI)

Nos últimos anos ocorreu um amplo

debate sobre a variação na frequüência

e na intensidade dos furacões devido à

mudança climática. Junto à variedade

de argumentos que surgiram nesta dis-

cussão, a informação disponível mostra

que enquanto no Atlântico Norte a

freqüência de furacões parece ter au-

mentado, no Pacífico Leste a freqüência

parece ter diminuído. Este fenômeno é

de extrema importância para o setor

segurador, principalmente em países

como o México, que estão expostos a

este tipo de catástrofes e que em anos

recentes experimentaram algumas das

suas maiores perdas históricas devido a

estes fenômenos. Os esquemas de trans-

ferência de risco são de grande utilidade

para enfrentar este tipo de catástrofes,

mas a sua complexidade torna difícil o

cálculo das perdas uma vez aplicados.

Os modelos de simulação são uma boa

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83G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

no México

alternativa para solucionar este prob-

lema e são adequados quando se requer

trabalhar com cenários hipotéticos.

Neste trabalho analisa-se o impacto

do incremento na freqüência e inten-

sidade dos furacões sobre uma carteira

segurada com um esquema de resseguro

complexo. O modelo de simulação uti-

lizado baseia-se em um modelo desen-

volvido a pedido do órgão regulador das

instituições de seguros no México, cujo

uso é obrigatório para o cálculo de reser-

vas de riscos catastróficos neste país.

A medição e transferência dos riscos constituem a essência do negócio dos

seguros. Daí que seja promovido o desenvolvimento de técni-cas quantitativas que permitam cumprir estes objetivos. Tais téc-nicas são de extrema importância para todos os participantes desta indústria: seguradores, ressegu-radores, reguladores, agências qualificadoras e consumidores finais. No caso de riscos catas-tróficos, a aplicação de técnicas quantitativas adquire uma rele-vância particular devido à mag-nitude das perdas potenciais,

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84

observatório de sinistros

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Woo (1999)1. Um evento catas-trófico forte (ou uma sequência deles) pode atingir perdas tão al-tas que se não se dispuser de uma reserva e capital suficientes, ou se não se contar com um resse-guro ou retrocessão adequados, a seguradora poderá ir à falência. Este fato teria graves conseqüên-cias para outros agentes econô-micos e para a sociedade.

O México é um país suscep-tível de sofrer perdas tanto por furacões quanto por terremotos. Os registros do Serviço Mete-orológico Nacional (SMN) do México indicam que de 1970 a 2008 este país foi afetado por uma média de 1.7 furacões ao ano. Neste artigo são considera-das as cinco categorias de furacão da escala Saffir-Simpson, mais uma categoria para tempestades tropicais, as quais estão definidas pela velocidade do vento, como indicado no quadro 1. A figura 1 mostra os furacões que im-pactaram o território mexicano no período mencionado. Nesse período, 30% dos casos em que o México foi afetado por um fu-racão a velocidade foi superior a 177 km/h (categoria 3 ou mais na escala Saffir-Simpson). Somen-te em 2005, um ano com muita atividade de ciclones no oceano

1Para o propósito deste trabalho, os riscos catastrófi cos são defi nidos como aqueles com baixa frequência e alto rigor.

O MÉXICO É UM PAÍS MUITO PASSÍVEL DE SOFRER PERDAS POR FURACÕES. OS REGISTROS DO SERVIÇO METEOROLÓGICO NACIONAL DO MÉXICO INDICAM QUE ESTE PAÍS REGISTROU ENTRE 1970 E 2006 UMA MÉDIA DE 1.6 FURACÕES POR ANO.

Categoria Velocidade do vento (km/h)

Tormenta tropical (TS) 61 a 118

Furacão categoria 1 (H1) 119 a 153

Furacão categoria 2 (H2) 154 a 177

Furacão categoria 3 (H3) 178 a 209

Furacão categoria 4 (H4) 210 a 249

Furacão categoria 5 (H5) Mais de 249

Quadro 1: Classifi cação dos furacões tropicais. Fonte: NOAA (EUA).

Atlântico, a Associação Mexi-cana de Instituições de Seguros (AMIS) estimou que as perdas ocasionadas pelos furacões Emi-ly, Stan e Wilma (figura 2) chega-ram a 2.282 milhões de dólares. Ainda mais, a AMIS inclui estes três furacões entre as dez catás-trofes mais caras na história do mercado segurador mexicano (quadro 2).

A medição correta do risco de uma sucessão de eventos catas-tróficos, e não somente um em particular, é algo imprescindível, especialmente em países expos-tos tanto a danos hidrometeo-rológicos relacionados a danos por terremoto, como os Estados Unidos, o Japão e o México. A geração deste tipo de eventos catastróficos e o dano ocasiona-

do são fenômenos muito com-plexos, para o qual é necessário recorrer ao apoio de peritos, tais como meteorologistas, engenhei-ros, atuários, financeiros e outros especialistas que possam ajudar a construir modelos que os repre-sentem de forma razoável. Em geral, os modelos desenvolvidos para estimar perdas catastróficas são baseados nas leis físicas da natureza que governam os fenô-menos que as originam. Com a representação matemática destes fenômenos, combinada com in-formação sobre os imóveis se-gurados (como valor e tipo de construção) e sobre os contratos de seguro e resseguro correspon-dentes, pode-se construir mo-delos de risco que forneçam às companhias seguradoras ampla informação sobre as perdas po-tenciais que poderão surgir. Cla-rk (2002) explica como é que os modelos computacionais podem ser utilizados para estimar perdas catastróficas, e inclusive indica os diferentes componentes des-tes modelos, bem como as etapas na sua construção e aplicação. Os referidos componentes estão pre-sentes no processo de modelação utilizado pela empresa Evoluci-ón de Riesgos Naturales (ERN), de onde se baseiam os modelos desenvolvidos neste trabalho. McNeil et al (2005) distinguem diferentes enfoques para a me-dição de riscos, entre eles o en-foque baseado na distribuição de perdas apresentas a seguir.

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(a) Furacões moderadosFigura 1: Furacões que impactaram o México entre 1970 e 2008.Fonte: SMN (Mex.).

(b) Furacões intensos

Figura 2: Trajetória dos furacões Emily, Stan e Wilma

Dada a magnitude das perdas potenciais dos riscos catastró-ficos, nestes seguros é comum que a mitigação do risco seja fei-ta pelo uso de diferentes tipos de resseguro tradicional (pro-porcional e não proporcional) e esquemas alternativos de trans-ferência de riscos (cat-bonds e similares), de Alba et al (2008). Para entender claramente a expo-sição da carteira e obter uma mi-tigação do risco efetiva do ponto de vista financeiro e regulador, é necessário realizar uma medição do risco adequada, com e sem transferências de risco. O resse-guro não proporcional pode re-duzir consideravelmente a fila da distribuição de perdas do ceden-te. Em condições de operação padrão, os seguradores utilizam varias “camadas” de resseguro não proporcional e estas podem ser combinadas com algum tipo de resseguro proporcional. A es-trutura de resseguro resultante não é fácil de analisar, Verlaak e Beirlant (2003), e fica ainda mais complicado se a distribuição de probabilidade de perdas não é co-nhecida analiticamente. De fato, na maior parte da literatura sobre otimização de resseguro parte-se do princípio de que a referida distribuição é conhecida.

TENDÊNCIAS NA ATIVIDADE DOS FURACÕES TROPICAIS

Nos últimos anos houve uma forte discussão sobre a existência de uma tendência crescente no número e intensidade dos fura-cões e tempestades tropicais devi-do à mudança climática. Em geral, os argumentos a favor da referida

Furacão Wilma 2005 1.752

Inundação em Tabasco 2007 700

Furacão Gilbert 1997 567

Terremoto na Cidade de México 1985 473

Furacão Isidore 2002 308

Furacão Emily 2005 302

Furacão Stan 2005 228

Furacão Kenna 2002 176

Furacão Julliette 2001 90

Furacão Pauline 1997 62

Quadro 2: Catástrofes mais custosas no México. Fonte: AMIS

Evento Ano Perdas (milhões de USD)

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tendência se baseiam no fenôme-no do aquecimento global e no fato de que os furacões requerem para sua formação uma superfície do mar quente, Emanuel (2005) e Agata (2007). Por sua vez, os argumentos contrários afirmam que as tendências observadas são fictícias devido ao subbregistro de furacões anteriores às épocas do monitoramento por satélites ou aviões, Landsea (2005); ou que o crescente poder destrutivo dos furacões é um efeito artificial que obedece mudanças na sociedade, Pielke (2005), ou simplesmente que, se existir alguma tendên-cia, esta é insignificante, Landsea et al (2006). Trenberth (2005) opina que o fator chave não é se existem tendências no número e trajetórias dos furacões, mas sa-ber como estão mudando. Aqui será analisado o impacto de um aumento potencial no número de furacões. Na figura 3 é apre-sentado o número de tempesta-

des tropicais e furacões ao ano no Leste do Oceano Pacífico e no Norte do Oceano Atlântico. Note-se que entre 1979 e 2007 (período entre as linhas trace-jadas verticais) houve um ligei-ro incremento na freqüência de furacões tropicais no Norte do Atlântico, enquanto que nesse mesmo período no Leste do Pa-cífico foi registrado um aumen-to até o início dos anos noventa e depois o número de furacões tropicais começou a cair.

A MEDIÇÃO CORRETA DO RISCO DE UMA OCORRÊNCIA DE EVENTOS CATASTRÓFICOS É ALGO IMPRESCINDÍVEL EM PAÍSES EXPOSTOS TANTO A DANOS HIDROMETEOROLÓGICOS QUANTO A DANOS POR TERREMOTO

Como parte desta discussão, alguns autores consideram que os furacões estão se tornando cada vez mais intensos. Em par-ticular, Knutson e Tuleya (2004) afirmam que sob condições de mudança climática é mais prová-vel a ocorrência de furacões mais intensos. Nesse mesmo sentido, Webster et al (2005) comentam que a proporção de furacões in-tensos (definidos daqui em dian-te como furacões com categoria 4 ou 5) foi incrementada nos úl-timos 30 anos, como mostrado no quadro 3. Alguns argumentos contra estas idéias foram dados por Kerr (2008).

Furacões tropicaisFuracões

Furacões tropicaisFuracões

Furacões tropicais por ano no Norte do Atlântico

Furacões tropicais por ano no Leste do Pacífi co

Freq

uênc

iaFr

equê

ncia

29 anos

29 anos

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A MEDIÇÃO CORRETA DO RISCO DE UMA SUCESSÃO DE EVENTOS CATASTRÓFICOS É ALGO IMPRESCINDÍVEL EM PAÍSES EXPOSTOS TANTO A DANOS HIDROMETEOROLÓGICOS QUANTO A DANOS POR TERREMOTO

Período

Oceano 1975-1989 1990-2004

Número Porcentagem Número Porcentagem

Norte do Atlântico 16 20 25 25

Leste do Pacífi co 36 25 49 35

Quadro 3: Mudança no número e porcentagem de furacões com categoria 4 e 5 entre os períodos de 1975-1989 e 1990-2004. Fonte: Webster et al (2005).

Mesmo que os furacões ti-vesem retornado mais freqüen-tes e intensos nos últimos anos, faltaria determinar se isto seria devido à mudança climática ou se simplesmente o efeito de va-riações multidecadais, Goldberd et al (2001). Esta complicada discussão está além dos objeti-vos deste trabalho, mas permi-te deixar claro que o mercado

segurador deve estar pendente de possíveis mudanças na ativi-dade ciclônica. Por este motivo, a análise apresentada considera um cenário base onde não se supõem tendências na atividade ciclônica, e diferentes cenários de mudança climática, onde se supõe que a freqüência ou in-tensidade dos furacões tropicais aumenta.

SIMULADOR DE PERDAS DE ERN

No México, o órgão regula-dor das instituições de seguros, a Comissão Nacional de Segu-ros e Finanças (CNSF), patroci-nou a construção de um modelo de perdas por furacões que de-verá ser utilizado para o cálculo dos prêmios de risco e a reserva catastrófica calcula-se de acordo com a Perda Máxima Provável (PML, pelas suas siglas em in-

glês). Os resultados deste mo-delo, desenvolvido pela empresa Evaluación de Riesgos Natu-rales (ERN), utilizam-se para garantir que as reservas compu-tadas sejam suficientes em con-formidade com a regulamenta-ção. O componente inicial deste modelo é a freqüência com que ocorrem os furacões, simulada com um Processo de Wiener que utiliza como semente as trajetórias registradas dos fura-cões. Então, para uma trajetória de furacão definida pelos pontos

, os pontos cor-respondentes à trajetória simu-lada são dados por:

Onde . A figura 4 mostra um exemplo de várias trajetórias simuladas que foram geradas ao perturbar a trajetória observada do furacão Wilma. O software de ERN gera o prêmio de risco e a PML, como mostra-do na figura 5.

Adicionalmente ao prêmio e à PML, o software de ERN gera informação com a qual podem ser realizadas simulações que permitem gerar dados que são úteis em diferentes aplicações. Com eles podem ser estimadas distribuições de perda, proba-bilidades de excedente e outros parâmetros de interesse para diferentes níveis potenciais de perda (ao ano e por ocorrência) que uma companhia poderia so-frer dada a sua carteira de expo-sições, Clark (2002). Há vários modelos de simulação comer-ciais (AIR, EQECAT, RMS) que

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fazem isto. O que se pretende mostrar aqui é como um mode-lo interno similar da companhia seguradora pode ser utilizado pelas companhias de seguros. Por conseguinte, conforme as recomendações de associações internacionais, como a Associa-ção Internacional de Superviso-res de Seguros (IAIS) e a Asso-ciação Internacional de Atuários (IAA), que promover o uso de modelos matemáticos e méto-dos de simulação, foi utilizada a informação de saída do software de ERN para construir um pro-grama que permita ao atuário gerar as distribuições de perda anual para uma carteira de segu-ros. O algoritmo inclui a possi-bilidade de simular, entre outras coisas, a ocorrência de um ou mais furacões em um ano, seu impacto na carteira segurada e o efeito de transferência do risco nos esquemas que misturam di-ferentes tipos de resseguros. As

distribuições de perdas são ob-tidas com informação dos fura-cões (como velocidade do ven-to, rádio ciclostrófico e pressão no olho do furacão), combinada com informação das caracterís-ticas de cada construção segu-rada e os efeitos locais produzi-

dos por determinados furacões sobre as mesmas. Isto envolve uma distribuição da proporção do dano para construção. As dis-tribuições individuais das pro-porções de perda de cada edifi-cação na carteira são acrescidas para obter a distribuição de toda a carteira2. Este processo aplica-se tantas vezes quanto houver furacões em um ano para obter um panorama geral das perdas totais anuais. São geradas tantas réplicas conforme a precisão re-querida na simulação.

O ÓRGÃO REGULADOR DAS INSTITUIÇÕES DE SEGUROS NO MÉXICO PATROCINARAM A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE PERDAS POR FURACÕES QUE DEVERÁ SER USADO PARA CALCULAR OS PRÊMIOS DE RISCO

Figura 4: Simulações geradas ao mover a trajetória observada do furacão Wilma.

Figura 5: Resultados da avaliação de risco hidrometeorológico em uma carteira com a utilização do software de ERN.

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O ‘SOFTWARE’ DE ERN PERMITE SIMULAR, ENTRE OUTROS, A OCORRÊNCIA DE UM OU MAIS FURACÕES EM UM ANO E O SEU IMPACTO NA CARTEIRA SEGURADORA

Entre 1979 e 2007 houve um ligeiro aumento na freqüência de furacões tropicais no Atlân-tico Norte; no Pacífico Leste cresceram até os anos 90 e de-pois começaram a cair.

MODELO INTERNO

A informação disponível per-mite analisar a intensidade e a trajetória dos furacões tropicais desde 1851 no Norte do Oceano Atlântico e desde 1949 no Leste do Oceano Pacífico. Entretanto, é importante mencionar que an-tes da década de setenta não eram realizados monitoramentos com satélites geoestacionários e que o

reconhecimento com aviões co-meçou na década de quarenta, de modo que a informação mais an-tiga é menos confiável e, portan-to, as comparações em períodos longos não são totalmente válidas. Dadas as características da infor-mação, é difícil para um segurador medir este tipo de riscos. Como a distribuição de perdas devido a furacões em uma carteira grande de riscos é geralmente desconhe-cida, é possível que a única forma de quantificar os riscos seja me-diante simulações.

Utilizou-se o algoritmo descri-to na seção anterior com os dados (dirfarçados) da carteira de uma seguradora mexicana. A carteira consiste em 26.000 construções. Esta companhia tem um sofisti-cado esquema de resseguro que combina resseguro proporcional e não proporcional. O esquema de resseguro não proporcional con-siste em cinco camadas e tem as características indicadas no quadro 4. Na coluna 5, “Papel” refere-se ao rate online cost do prêmio de resseguro em cada etapa, enquan-to que na coluna 6, “Reins” indica o número de reinstalações que o contrato de resseguro estabelece para cada camada. Adicionalmen-te, a seguradora conta com um contrato de resseguro quota-parte, com uma retenção de 10% para perdas inferiores ao deduzível de 7,5 milhões de dólares correspon-dente à primeira camada.

2Para uma descrição detalhada ver ERN (2007).

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Como um primeiro passo, utilizou-se somente os dados de saída de ERN para simular 150.000 anos de atividade ci-clónica. Para cada ano simulado considerou-se que um total de três furacões chegou ao Méxi-co3. A intensidade destes fu-racões não foi modelada espe-cificamente, motivo pelo qual ao longo de toda a simulação conservaram-se as proporções por categoria observadas histo-ricamente. O quadro 5 mostra algumas estatísticas das perdas brutas (sem resseguro) e das perdas líquidas de resseguro. A segunda linha mostra a perda líquida incluindo os custos do resseguro, enquanto que a ter-ceira linha mostra as perdas sem os custos de reinstalação. O ní-vel de retenção resultante para toda a carteira é apresentado na quarta linha. Supondo, dado o modelo de furacões, estes re-sultados mostram como um exercício de simulação relati-vamente simples pode fornecer informação muito valiosa que não pode ser obtida mediante procedimentos analíticos.

A metodologia utilizada no software de ERN para identifi-car e classificar os furacões que chegam ao México é baseada na categoria máxima registrada ao longo de toda a sua trajetó-ria. Isto significa que ainda que se busque modelar somente o dano ocasionado por furacões, inclui-se informação do dano causado por alguns furacões que chegaram ao México com categoria de tormenta tropical, mas que em algum momento da sua trajetória alcançaram a

categoria de furacão (escala Sa-ffir-Simpson). Para os fins aqui esperados considerou-se mais adequado elaborar uma clas-sificação conforme a categoria registrada no momento em que

MinUSD

Quartil 1USD

MédiaUSD

MédiaUSD

Quartil 3USD

MaxUSD

Perda bruta 0 42 720 8.087 5.381 1.189,000

Perda líquida 0 42 720 2.927 5.142 952,000

Perda líquida s/rest. 0 42 720 2.399 5.000 944,100

Retenção 5% 100% 100% 88% 100% 100%

Quadro 5: Simulação 1: Dados brutos de ERN (quantidades monetárias em milhares de dólares).

Camada Prioridade USD

Cobertura USD

Prêmio de restituição

USDPapel % Reins

1 7.500 7.500 1.586 21.1 2

2 15.000 15.000 1.890 12.6 2

3 30.000 30.000 2.268 7.6 1

4 60.000 40.000 1.548 3.9 1

5 100.000 130.000 2.574 2 1

Quadro 4: Esquema de resseguro não proporcional utilizado (quantias monetárias em milhares de dólares).

passaram pelo México. Para esta reclassificação utilizaram-se os registros da Administração Na-cional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NO-AA) sobre os furacões tropicais no

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Norte do Atlântico e no Les-te do Pacífico, de 1950 a 2007. Consideraram-se as cinco cate-gorias de furacão da escala Sa-ffir-Simpson mais uma catego-ria para tempestades tropicais, as quais serão definidas pela ve-locidade do vento, como indi-cado no quadro 1. Isto permitiu combinar o simulador de perdas de ERN com um modelo inde-pendente e não determinista de freqüência e intensidade dos furacões tropicais construído ad hoc. Esta nova classificação também envolveu uma mu-dança na distribuição das per-das ocasionadas pelos furacões tropicais com relação à suas

A METODOLOGIA UTILIZADA NO ‘SOFTWARE’ DE ERN PARA IDENTIFICAR E CLASSIFICAR OS FURACÕES QUE CHEGAM AO MÉXICO BASEIA-SE NA CATEGORIA MÁXIMA REGISTRADA AO LONGO DE TODA A SUA TRAJETÓRIA

categorias. A figura 6 mostra um comparativo das variações da perda esperada por catego-ria em ambas as classificações4. Nesta figura é notório que com a nova classificação tem-se uma maior diferenciação no nível de perdas por categoria.

Visto que de forma esque-mática como mostrado na fi-gura 7, o modelo interno é composto de alguns modelos probabilísticos para a freqüên-cia e a intensidade dos furacões tropicais, baseados na informa-ção da NOAA de 1950 a 2007, e um modelo probabilístico para as perdas ocasionadas por cada furacão, baseado no simulador

de ERN e na nova classificação. O procedimento geral consiste em simular 150.000 anos de ati-vidade ciclônica, nos quais para cada ano geraram-se aleatoria-mente, conforme os modelos de freqüência e intensidade, o número de ciclones tropicais e as categorias correspondentes. Depois, para cada ciclone tropi-cal simulam-se os danos ocasio-nados conforme a distribuição de perda atribuída e os contra-tos de resseguro em vigor.

CENÁRIOS

Nesta seção apresentam-se diferentes cenários de ativida-de ciclônica e as perdas que so-freria a carteira exposta de uma seguradora em cada um deles. Primeiro constitui-se um cená-rio base que representa a ativi-dade ciclônica observada entre 1950 e 2007. Depois são defini-dos alguns cenários alternativos

4Para cada furacão tropical registrado na base de dados de ERN tem-se uma distribuição de perdas em particular, de modo que se possa falar da variedade de valores da perda esperada por categoria.

Simulação:

Número de 1. ocorrências por ano

Intensidade de cada 2. furacão tropical

Perda por cada 3. furacão tropical

Perda anual da 4. seguradora

150,00 anos.5.

Dados da NOAA (furacões tropicais entre 1950 e 2007)

Modelo de frequência dos

furacões tropicais

Modelo de intensidade dos

furacões tropicais

Distribuições de perda de cada

ciclone tropical agrupadas por

categoria

Dados de saída de ERN (269 furacões tropicais + carteira de 26,000

construções)

Figura 7: Esquema de modelação utilizado

Categoria

Perd

a es

pera

da (

Milh

ões

de d

ólar

es)

Figura 6: Comparativo da distribuição de perdas esperadas por categoria em cada classifi cação.

Categoria

Perda esperada por categoria(Classifi cação de ERN)

Perda esperada por categoria(Classifi cação nova)

Perd

a es

pera

da (

Milh

ões

de d

ólar

es)

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de mudança climática (ECC) nos quais supõem-se aumentos na freqüência e na intensidade dos furacões tropicais com rela-ção ao cenário base. Ainda que haja um componente arbitrário na construção deste tipo de ce-nários, é necessário que sejam utilizados casos plausíveis, já que, caso contrário, o modelo e irreal e de pouca utilidade. De acordo com o Painel Intergo-vernamental de Mudança Cli-mática, o uso de períodos de referência de 30 anos na cons-trução de ECC permite captar mudanças observadas na média de alguns fenômenos meteoro-lógicos. Neste caso utilizaram-se dois períodos de 29 anos: de 1950 a 1978 e de 1979 a 2007.

1. Cenário baseA média de furacões tropi-

cais que abateram o México en-tre 1950 e 2007 é de 3,7 por ano (1,1 furacão pelo Atlântico e 2,6 furacões pelo Pacífico). Nesta análise o número de furacões e tempestades tropicais por ano foi gerado aleatoriamente como a soma de duas variáveis com

distribuição Poisson, correspon-dentes aos furacões tropicais do Norte do Atlântico e do Leste do Pacífico. A figura 8 mostra os histogramas do número ob-servado de furacões ao ano pro-venientes de cada oceano e as distribuições ajustadas: Poisson com média 1,15 e 2,58, respecti-vamente. A intensidade dos fura-cões tropicais foi modelada com uma distribuição multinomial com as seis categorias apresen-tadas no quadro 1. As estimati-vas de máxima verossimilhança da probabilidade de ocorrência de cada categoria correspondem às proporções observadas entre 1950 e 2007 (quadro 6).

O quadro 7 mostra os resul-tados da simulação ao combi-nar os modelos de freqüência e intensidade com os dados de ERN e o esquema de ressegu-ro descrito previamente. Estes resultados diferem conside-ravelmente dos mostrados no quadro 5 devido a que, como mencionado anteriormente, foram obtidos com uma meto-dologia diferente: em primeiro lugar, o cenário base foi cons-truído com uma classificação diferente dos furacões tropi-cais, o qual induz, como mos-tra a figura 6, uma mudança nas distribuições de perdas por cada categoria, e em segundo lugar, no cenário base a freqüência é dada por um modelo proba-bilístico no qual há em média 3,7 furacões por ano, enquanto que no modelo anterior tem-se um modelo determinista com 3 “furacões” por ano.

2. Cenários de mudança climática

Na figura 9 mostram-se as diferenças nas médias dos fu-racões tropicais (totais e que impactaram o México) entre os períodos 1950-1978 e 1979-2007. Observa-se que ainda que a freqüência de furacões tropi-cais totais tenha aumentado em ambos os oceanos, a freqüência dos impactos no Pacífico dimi-nuiu 23%. Como cenário de mudança climática para a fre-qüência (ECCF), considerou-se um incremento de 19% e 38% na média dos furacões tropi-cais que impactam o México do lado do Atlântico e do Pacífico, respectivamente (figura 10). O

Figura 8: Distribuições Poisson ajustadas aos dados do Atlântico e do Pacífi co

PARA CALCULAR AS PERDAS POR CENÁRIOS ALTERNATIVOS DE MUDANÇA CLIMÁTICA PARTE-SE DE CENÁRIOS BASES E DEPOIS SÃO DEFINIDOS OS CASOS COM MAIOR FREQUÊNCIA E INTENSIDADE DE ATIVIDADE CICLÔNICA

Furacões tropicais no Norte do Atlântico (1950 – 2007)

Furacões tropicais no Leste do Pacífi co (1950-2007)

Den

sida

de

Impactos de ciclone tropical por ano Impactos de ciclone tropical por ano

Den

sida

de

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93G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

quadro 8 mostra os resulta-dos da simulação utilizando o ECCF e os compara com os resultados do cenário base.

No que se refere à intensi-dade, é um pouco mais difícil estabelecer um incremento nas proporções observadas de um período a outro. Nos qua-dros 9 e 10 observa-se que no Atlântico Norte a proporção de furacões intensos praticamen-te se manteve igual em ambos

Oceano TS H1 H2 H3 H4 H5Atlântico Norte 51% 19% 4% 9% 9% 7%

Pacífi co Norte 55% 31% 8% 3% 3% 1%

Quadro 6: Porcentagem de ciclone tropicais de cada categoria que impactaram o México entre 1950 e 2007.

Quadro 7: Perdas simuladas no cenário base (quantidades monetárias em milhares de dólares).

Min Quartil 1 Média Media Quartil 3 Max

Perda bruta $ 0 $ 61 $ 1.136 $ 1.910 $ 8.236 $ 1.027.000

Perda líquida $ 0 $ 6 $ 114 $ 1.682 $ 853 $ 780.000

Perda líquida s/ rest. $ 0 $ 6 $ 114 $ 905 $ 750 $ 770.100

Retenção 0% 10% 10% 10% 10% 78%

Quadro 8: Comparativo de perdas entre o ECCF e o cenário base (quantidades monetárias em milhares de dólares).

Min Quartil 1 Mediana Média Quartil 3 Max

Perda bruta

Base

ECCF

(+/-%)

$0

$ 0

0%

$ 61

$ 259

238%

$ 1.136

$ 2.483

119%

$ 11.910

$ 15.330

29%

$ 8.236$ 12.800

55%

$ 1.027,000$ 1.285,000

25%

Perda

líquida

Base

ECCF

(+/-%)

$ 0

$ 0

0%

$ 6

$ 26

328%

$ 114

$ 248

119%

$ 1.682

$ 2.153

28%

$ 853$ 1.635

92%

$ 780,000$ 1.064,000

36%

Perda bruta

s/rest.

Base

ECCF

(+/-%)

$ 0

$ 0

0%

$ 6

$ 26

328%

$ 114

$ 248

119%

$ 905

$ 1.156

28%

$ 750$ 770

3%

$ 770,100$ 1.054,000

37%

Retenção

Base

ECCF

(+/-pp)

0%

0%

0,00

10%

10%

0,00

10%

10%

0,00

10%

11%

0,30

10%10%0,45

78%83%4,75

Figura 9: Mudança na freqüência média dos furacões tropicais entre os períodos 1950-1978 e 1979-2007.

Distribuição de furacões tropicais (Atlântico Norte)

Distribuição de furacões tropicais (Pacífi co Leste)

Den

sida

de

Den

sida

de

Incremeto na média=19% Incremeto na média=38%

Impactos de ciclone tropical por ano Impactos de ciclone tropical por ano

Figura 10: Distribuições Poisson utilizadas no cenário base e no ECCF.

Freq

üênc

iaFr

eqüê

ncia

Furacões tropicais por ano no Atlântico Norte

Furacões tropicais por ano no Pacífi co Leste

Período 1

Período 1

Período 2

Período 2TotalImpactosMédias

TotalImpactosMédias

Ano

Ano

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observatório de sinistros

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

Proporções por categoria no Atlântico NorteTotal Impactos

P1 P2 +/-pp P1 P2 +/-pp

TS 39% 45% 6,1 53% 48% -4.4

H1 22% 25% 2.1 19% 19% -0.1

H2 11% 9% -1.4 3% 6% 3.7

H3 15% 9% -6.5 8% 10% 1.3

H4 9% 9% -0.2 11% 6% -4.7

H5 4% 4% -0.1 6% 10% 4.1

Quadro 9: Mudanças na distribuição das intensidades dos furacões tropicais no Atlântico Norte.

Proporções por categoria no Pacífi co LesteTotal Impactos

P1 P2 +/-pp P1 P2 +/-pp

TS 52% 44% -7.8 61% 46% -15

H1 30% 19% -11.6 32% 29% -2.5

H2 6% 10% -3.9 1% 17% 15.7

H3 5% 10% -5.1 2% 5% 2.3

H4 6% 15% +9.2 2% 3% 0.7

H5 1% 2% -1.2 1% 0% -1.2

Quadro 10: Mudanças na distribuição das intensidades dos furacões tropicais no Pacífi co Leste.

A BAIXA FREQÜÊNCIA DE FURACÕES E A ESCASSA INFORMAÇÃO HISTÓRICA FIÁVEL DE QUE SE DISPÕE FAZ NECESSÁRIO QUE A ANÁLISE DESTES FENÔMENOS SEJA REALIZADA MEDIANTE SIMULAÇÕES

os períodos, enquanto que no Pacífico Leste a proporão de furacões intensos sim teve um incremento considerável. Não obstante, a proporção de fura-cões intensos que efetivamente castigaram o México (impactos) manteve-se relativamente cons-tante em ambos os casos. Cons-truíram-se diferentes cenários com mudanças na intensidade dos furacões tropicais. Primei-ro, ajustou-se uma distribuição de valores extremos à velocidade máxima observada dos furacões tropicais e conforme com esta distribuição obtiveram-se as proporções em cada categoria, as quais definiram o primeiro cenário de mudança climática para a intensidade (ECCI-1). A figura 1 contém alguns gráficos que mostram o ajuste da distri-

buição Pareto generalizada aos dados do Atlântico Norte e do Pacífico Leste.

Os gráficos inseridos são: o histograma com a densidade ajustada (abaixo à direita); o de cima à esquerda corresponde ao “P-P plot”; por sua vez, o de cima à direita é o “q-q plot”; e o de baixo à esquerda apresen-ta a velocidade do vento dos

furacões tropicais em função dos períodos de retorno. Os de cima indicam um bom ajuste e no histograma o ajuste é bom na fileira da distribuição, pelo qual foi usado como uma alter-nativa para gerar um cenário. O problema com este cenário é que a proporção de furacões intensos do Atlântico Norte é menor que no cenário base. Decidiu-se fazer uma alteração de tal modo que o incremento em pontos percentuais das pro-porções de furacões intensos fosse igual em ambos os ocea-nos (ECCI-2). Outra alterna-tiva para alterar as proporções do Atlântico Norte consistiu em fazer uma transferência de peso na distribuição de valores extremos ajustada, e obter as proporções em cada categoria a partir da distribuição resultante (ECCI-3). Este último proce-dimento reduz a proporção das

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velocidades que estão no cen-tro da distribuição e incremen-ta as dos extremos sem alterar a média. Deste modo, tem-se uma distribuição com a mesma média, mas mais rigorosa, Eec-khoudt et al (1996).

O quadro 11 mostra as pro-porções dos furacões tropicais por categoria em cada cenário e a diferença em pontos percen-tuais com relação às proporções do cenário base. As perdas oca-sionadas por um ciclone tro-pical em cada categoria variam

Figura 11: Gráfi cos do ajuste da distribuição Pareto generalizada às velocidades máximas observadas nos furacões tropicais. Saída do pacote Extremes Toolkit de R., Gilleland e Katz (2005).

Figura 11: Quadro 11: ECCI vs cenário base

(a) Atlântico Norte (b) Pacífi co Leste

TS H1 H2 H3 H4 H5

Cenário Base

Atlântico Pacífi co

51%55%

19%31%

4%8%

9%3%

9%3%

7%1%

ECC-1

Atlântico(+/-%)

Pacífi co(+/-%)

43%-7.2849%-5.49

21%1.1221%-9.45

11%6.6111%2.64

11%2.3110%6.56

9%-0.017%4.05

5%-2.752%1.69

ECCI-2

Atlântico(+/-%)

Pacífi co(+/-%)

49%-1.4449%-5.49

18%-1.4421%-9.45

3%-1.4411%2.64

8%-1.4410%6.56

13%4.057%4.05

9%1.692%1.69

ECCI-3

Atlântico(+/-%)

Pacífi co(+/-%)

49%-2.1749%-5.49

18%-0.9621%-.945

7%2.8811%2.64

7%-1.4810%6.56

10%1.17%4.05

8%0.642%1.69

consideravelmente segundo a distribuição de danos, pelo qual não é claro qual destes três ce-nários induz a uma maior quan-tidade de perdas em toda a car-teira, nem em qual magnitude serão aumentados com relação às perdas do cenário base.

Foram realizadas simulações de perdas correspondentes a cada um dos três ECCI, combi-nados com o cenário base para frequências. Os resultados são apresentados no quadro 12: as linhas que contém (+/-%) ou

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observatório de sinistros

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(+/-pp) mostram o aumento de cada cenário com relação ao cenário base, quer seja em porcentagem ou em pontos porcentuais. O ECCI-2 é o que induz o maior aumento nas per-das, seguido do ECCI-3. Cabe destacar que mesmo quando o ECCI-1 para o Atlântico Norte tem uma proporção menor de furacões intensos que o do ce-nário base, é registrado um au-mento considerável nas perdas.

Finalmente, para analisar o impacto de um aumento si-multâneo na freqüência e na intensidade dos furacões tro-picais criou-se outro cenário (ECC-FI), que considera o mo-delo de frequência do ECCF e o modelo de intensidade do ECCI-2. O quadro 13 mostra o resumo das perdas simuladas

Min Quartil 1 Média Média Quartil 3 Max

Perda bruta

BaseECCI 1(+/-%)ECCI 2(+/-%)ECCI 3(+/-%)

$0$00%$00%$ 00%

$ 61$ 9152%$ 9252%$ 9049%

$ 1.136$ 1.700

50%$ 1.778

56%$ 1.670

47%

$ 11.910$ 15.134

27%$ 17.036

43%$ 15.958

34%

$ 8.236$ 11.525

40%$ 12.846

56%$ 11.956

45%

$ 1.027,000$ 1.319,968

29%$ 1.237,688

21%$ 1.349,655

31%

Perda líquida

BaseECCI 1(+/-%)ECCI 2(+/-%)ECCI 3(+/-%)

$ 0$ 00%$00%$00%

$ 6$ 952%$ 952%$ 949%

$ 114$ 17050%

$ 17856%

$ 16747%

$ 1.682$ 2.162

29%$ 2.511

49%$ 2.341

39%

$ 853$ 1.421

67%$ 1.684

98%$ 1.506

77%

$ 780,000$ 1.100,584

41%$ 1.018,019

31%$ 1.123,610

44%

Perda líquida s/rest.

BaseECCI 1(+/-%)ECCI 2(+/-%)ECCI 3(+/-%)

$ 0$ 00%$ 00%$ 00%

$ 6$ 952%$ 952%$ 949%

$ 114$ 17050%

$ 17856%

$ 16747%

$ 905$ 1.171

29%$ 1.416

56%$ 1.306

44%

$ 750$ 752

0%$ 753

0%$ 752

0%

$ 770,100$ 1.090.718

42%$ 1.008,153

31%$ 1.113,744

45%

Retenção

BaseECCI 1(+/-%)ECCI 2(+/-%)ECCI 3(+/-%)

0%0%0,000%0,00%

0,00

10%10%0,0010%0,0010%0,00

10%10%0,0010%0,0010%0,00

10%11%0,1011%0,1311%0,11

10%10%0,0010%0,0510%0,00

78%83%5,3382%4,2083%5,20

Figura 12: Comparativo de perdas entre os ECCI e o cenário base (quantidades monetárias em milhões de dólares).

APRESENTAR CENÁRIOS DE MUDANÇA CLIMÁTICA NÃO É SIMPLES, MAS O SEU USO É CONVENIENTE DIANTE DA INCERTEZA SOBRE AS TENDÊNCIAS NOS EFEITOS CATASTRÓFICOS RELACIONADOS AO CLIMA

com este cenário. Cabe destacar que, ainda supondo aumentos na frequência e na intensidade dos furacões, a porcentagem de retenção até três quartos é so-mente de 10% do valor das per-das. Com isso, mostra-se a im-portância de avaliar a redução das perdas mediante a aplicação de um esquema de resseguro adequado.

Conclusões

A aplicação de modelos ma-temáticos e probabilísticos per-mite o estudo de fenômenos complexos com consequências potencialmente catastróficas, como os terremotos e os fu-racões, por meio do qual estas técnicas tornam-se uma ferra-menta de grande utilidade para o setor segurador. A baixa fre-quência deste tipo de eventos, junto à escassa informação his-tórica confiável da qual se dis-põe, torna necessário que a sua análise seja realizada mediante simulações. Neste trabalho foi mostrado, como uma adequada modelação em combinação com métodos de simulação permite um estudo detalhado das per-das, que uma seguradora pode-

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Figura 12: Quadro 13: Comparativo de perdas entre o ECC-FI e o cenário base (quantias monetárias em milhões de dólares).

A informação histórica sobre cenários relacionados à mudança climática é ainda escassa.

Min Quartil 1 Média Média Quartil 3 Max

Perda bruta Base $ 0 $ 61 $ 1.136 $ 11.910 $ 8.236 $ 1.027,000

ECCF $ 0 $ 400 $ 3.888 $ 21.770 $ 19.326 $ 1.197,047

(+/-%) 0% 561% 242% 83% 135% 17%

Perda líquida Base $0 $ 6 $ 114 $ 1.682 $ 853 $ 780,000

ECCF $0 $ 40 $ 389 $ 1.857 $ 2.753 $ 967,474

(+/-%) 0% 561% 242% 92% 223% 24%

Perda líquida s/rest. Base $ 0 $ 6 $ 114 $ 905 $ 750 $ 770,100

ECCF $ 0 $ 40 $ 389 $ 1.857 $ 833 $ 956,750

(+/-%) 0% 561% 242% 105% 11% 24%

Retenção Base 0% 10% 10% 10% 10% 78%

ECCF 0% 10% 10% 11% 11% 81%

(+/-%) 0,00 0,00 0,00 0,48 1,48 3,03

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observatório de sinistros

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rá ter, ao utilizar um esquema de transferência de riscos que combina resseguro proporcio-nal e não proporcional. Os mé-todos de simulação utilizados permitiram não somente o es-tudo da informação histórica, mas ilustram como podem ser alteradas as perdas da segura-dora diante de cenários de mu-dança climática. A apresentação de cenários de mudança climá-tica não é simples e requer que sejam estabelecidos diferentes casos que podem vir a ser ques-tionáveis. Entretanto, sua utili-zação é conveniente diante da incerteza sobre as tendências nos eventos catastróficos rela-cionados ao clima. À medida que se tenha maior informação história e mais confiável, pode-rão ser realizadas análise e exer-cício de simulação ainda mais precisos que levem a uma me-lhor compreensão das conseqü-ências deste tipo de eventos..

Referências:

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99G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

livro

s

Como gerenciar o risco corporativoFRANCISCO J. LÓPEZ LUBIÁN / PABLO GARCÍA ESTÉVEZMadri, WOLTERS KLUWER, 2010.389 páginasISBN: 978-84-87670-41-1

O livro trata dos riscos que os autores consideram

mais relevantes e são analisados do enfoque de um gestor de uma empresa não financeira.

No primeiro capítulo são analisados os componentes que determinam o sentido do risco na empresa e definidos o ponto de referência conceitual para a sua adequada gestão. No segundo capítulo é desenvolvida uma metodologia para identificar, quantificar e controlar os principais riscos associados a uma empresa não financeira, distinguido entre riscos operacionais, financeiros e de mercado. O terceiro capítulo é centrado nos fatores mais relevantes para gerenciar o risco financeiro, e no quarto é ampliado o enfoque sobre

o caso de um contexto multinacional.

No quinto capítulo é abordado o risco em empresas financeiras, que constituem um componente vital na geração de valor econômico sustentável com características diferenciadoras. Os três capítulos seguintes tratam sobre os riscos de mercado aos quais se vêm submetidas as instituições financeiras: mercados de divisas, de renda fixa e de renda variável.

Por último, no nono capítulo é desenvolvido o emprego de instrumentos derivados como elementos de cobertura de certos riscos.

Cada capítulo inclui uma bibliografia selecionada para que o leitor interessado possa consultar os fundamentos teóricos que são desenvolvidos no livro. Os casos que são descritos e analisados correspondem a situações reais, embora alguns tenham sido modificados para manterem a confidencialidade.

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100

livros

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Systemic risk in insurance: An analysis of insurance and fi nancial stability / Special report of The Geneva Association Systemic Risk Working GroupGinebra,THE GENEVA ASSOCIATION, 2010129 páginasDocumento eletrônicowww.genevaassociation.org/

A crise financeira evidenciou algumas

falhas no sistema de supervisão e supôs uma ocasião para debater sobre a necessidade de voltar a formular a regulação do sistema financeiro.

Este relatório examina o desempenho da indústria de seguros durante a crise, avalia a aplicação da proposta do Financial Stability Board sobre o risco sistêmico no setor de seguros e desenvolve as primeiras recomendações para enfrentar as atuais lacunas de regulamentação e para fortalecer a prática da Gestão de Riscos.

Esta obra não pretende discutir os critérios propostos para controlar o risco sistêmico. Pelo contrário, estes critérios são utilizados para explicar por que as atividades seguradoras apresentam muito menos risco sistêmico do que as atividades do sector bancário.

E, mais importantes para os fins regulamentares, mostram que o risco sistêmico não é percebido como inerente às empresas, mas sim das atividades de tais empresas.

Catástrofes de la naturaleza y grandes siniestros antropógenos en 2009: menos víctimas y reducción de los daños aseguradosSIGMA, nº 1/2010Swiss Re Economic Research & Consulting129 páginasDocumento eletrônico

Os últimos dados publicados pela

Compañía Suiza de Reaseguros, S.A. sobre catástrofes da natureza e sinistros antropogênicos em 2009 evidenciam que as catástrofes foram responsáveis por, aproximadamente, 15.000 vítimas e custaram às seguradoras mais de 26.000 milhões de dólares em 2009. A Ásia foi a região mais afetada quanto ao número de vítimas.

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101G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 0 5 - 2 0 1 0

Menos da metade das perdas econômicas de 2009 foram custeadas pelas seguradoras. Foi um ano moderado em relação aos anteriores: se sucederam 133 catástrofes naturais e 155 sinistros antropogênicos.

Nos últimos anos, a atenção voltou-se para os perigos primários (terremotos, furacões ou tempestades de inverno). Contudo, muitos outros fenômenos naturais, como os perigos secundários (inundações, secas, deslizamentos de terra), podem causar efeitos devastadores e grandes danos materiais. Em 2009, mais da metade dos danos naturais deveram-se a perigos secundários.

Com os resultados do relatório constata-se a necessidade de manter uma cobertura adequada para cobrir os danos de catástrofes da natureza e antropogênicos, que estão em ascensão há duas décadas.

Tendencias en seguros: respuestas ante la crisisDepartamento de InvestigaciónREED BUSINESS INFORMATION S.A. Unipersonal-INESE114 páginasDocumento eletrônico

As seguradoras centralizam as suas estratégias atuais

no cliente, precisam inovar perante um cliente que é cada vez mais exigente. E não só no preço, mas também com a porposta de produtos com vantagens competitivas e valor agregado que permitam que as empresas adquiram mais notoriedade e destaque sobre as demais ofertas seguradoras.

O estudo pretende responder questões tais como quais estratégias o setor segurador deve realizar para não diminuir o seu ritmo de crescimento, quais são as tendências em produtos ou como é possível aproveitar a atual conjuntura econômica para captar clientes.

Após analisar as questões anteriores, é necessário indicar que a atividade

seguradora é exercida em um ambiente econômico e social de mudanças, e que está estreitamente associada à evolução das novas tecnologias e à situação econômica de recessão. Por isso, as tendências que se vislumbram para o mercado de seguros nos próximos anos são os avanços derivados da aplicação da tecnologia que permitem um melhor conhecimento do cliente, as tendências surgidas em produtos de baixo custo, e todas aquelas inovações e serviços agregados, com ou sem custo adicional, adaptados à proteção das novas necessidades surgidas da situação econômica atual.

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102

livros

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Instituto de Ciencias del Seguro

Perspectivas y análisis económico de la futura reforma del sistema español de valoración del daño corporalLUÍS BERMÚDEZ I MORATA / MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZ / MIGUEL SANTOLINO PRIETOMadri. FUNDACIÓN MAPFRE, 2009Caderno nº 145139 páginasISBN 978-84-9844-188-8

Depois de mais de uma década de experiência

na aplicação do atual sistema de valorização das indenizações por danos pessoais ocasionados por acidentes de circulação, e por motivo da recente reforma da Lei de Responsabilidade Civil e Seguro na Circulação de Veículos Automotores, que aumentou as importâncias mínimas de cobertura do seguro obrigatório, seguindo as diretrizes apontadas pela quinta Diretiva (2005/14/CE), a partir de diferentes instituições concluiu-se que

é o momento de realizar uma revisão do sistema de baremo. Embora atualmente esteja em discussão e, portanto, exista pouca informação sobre as conclusões que estão sendo alcançadas, todas as partes envolvidas concordam em reconhecer que é o momento de afrontar reformas que adaptem o sistema de baremo à realidade social, sem alterar a sua estrutura atual, concebido como um sistema legal e taxado de indenização.

O trabalho aqui apresentado está dividido em duas partes. Na primeira, “Aspectos fundamentais da valorização de danos pessoais derivados de acidentes de circulação”, são apresentados os conceitos teóricos

que ajudarão o leitor a compreender a dinâmica do funcionamento do baremo na Espanha, comparando-o com os sistemas existentes em outros países do nosso meio, assim como obter uma idéia, mais concreta possível, sobre o estado da questão da reforma do sistema.

A segunda parte do trabalho, “Impacto econômico da modificação do sistema de avaliação de danos pessoais”, responde à necessidade de realizar exercícios práticos de avaliação dos possíveis cenários que a futura reforma do baremo possa definir. A partir da base de dados de uma carteira real de sinistros, são definidos os possíveis cenários da reforma do sistema de valorização, e a partir daqui se avalia se o impacto que a reforma pode significar sobre o total de indenizações a serem satisfeitas pelas seguradoras com as vítimas de acidentes de circulação.

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Investigaciones históricas sobre el seguro españolJERÒNIA PONS PONS Y Mª ÁNGELES PONS BRIAS (COORDENADORAS)Madri, FUNDACIÓN MAPFRE, 2010Caderno nº 146229 páginasISBN: 978-84-9844-190-1

O mercado segurador possui na atualidade

uma taxa de penetração de mais de 5% do PIB (índice de prêmios/PIB), com um grande potencial de crescimento nos próximos anos. Apesar disso, este setor não recebeu muita atenção nem da parte da história econômica nem da história da empresa. Para poder entender a atual composição do mercado e o ranking das empresas, é imprescindível conhecer a sua evolução, qual foi o peso das companhias estrangeiras na sua formação e desenvolvimento, ou as transformações produzidas na gestão e nas estratégias seguidas pelas empresas do setor, dentre outras questões. Com este livro estão reunidas uma série de contribuições novas que oferecem uma ampla e coerente visão sobre a evolução das companhias de seguro e do mercado na Espanha contemporânea. Desta obra participaram renomados professores de

diversas universidades da Grã Bretanha, da Itália e da Espanha.

No capítulo introdutório, suas coordenadoras, Jerònia Pons (Universidade de Sevilha) e Mª Ángeles Pons (Universidade de Valencia), realizam uma síntese das principais características das empresas e o mercado do seguro espanhol ao longo dos séculos XIX e XX, realizada a partir dos trabalhos publicados até o momento sobre o mercado, da própria pesquisa e das contribuições dos participantes nesta publicação.

O livro contém nove capítulos. Os primeiros referentes às empresas e

o mercado na primeira globalização do mercado de seguros, que se dá por finalizado a partir da I Guerra Mundial. Os capítulos seguintes correspondem à primeira metade do século XX.

Cabe destacar que até o momento nenhuma obra reuniu tantos especialistas para analisar a evolução histórica do seguro contemporâneo, um dos negócios mais dinâmicos do setor financeiro atual.

Fondos de aseguramiento agropecuario y rural: la experiencia mexicana en el mutualismo agropecuario y sus organizaciones superioresRAÚL OCTAVIO LASES ZAYASMadri, FUNDACIÓN MAPFRE, 2010Caderno nº 147203 páginasISBN: 978-84-9844-190

No México, durante os últimos 20 anos, se

vem gerindo uma experiência de sucesso de seguro agropecuário por meio das associações (mútuas), em grande parte integradas por

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pequenos e médios produtores do campo.

A sua permanente trajetória ascendente, em termos de volume de operações e de excelentes resultados técnicos, chamou a atenção de diversos órgãos internacionais (Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, CEPAL), que consideraram o caso dos Fundos de Garantía como uma experiência que deve ser estudada como um potencial acordo institucional e viável para ser imitada em outros países de receitas médias e baixas para levar o seguro agrícola até os produtores de pequena escala, dado que suas características autogerenciáveis são idôneas para fomentar a cultura do seguro.

A evolução histórica das operações dos Fundos de Seguro do México mostra um crescimento constante na sua cobertura de riscos agropecuários durante o período de estudo, entre 1990 e 2007, quando os Fundos representaram 51% de participação no mercado do seguro comercial agrícola (acima dos 2.000 milhões de dólares americanos). O número de Fundos, que em 2007 registraram operações, totalizou 277, a mesma quantidade de Fundos com contrato de resseguro.

O sucesso dos Fundos de Seguro se reflete, também, em seus resultados técnicos e financeiros. Seus índices históricos de sinistralidade são os mais baixos do mercado do México. Para o período 2003-2007, a sinistralidade foi de 40% no seguro agrícola e de 21% no seguro de gado.

A análise da sinistralidade dos Fundos – por tamanho, por localização regional e por outro tipo de segmentação – não refletiu uma diferenciação significativa, o que é relevante no momento de demonstrar a viabilidade e capacidade de adaptação dos Fundos de Seguro como figura mutualista, independente das suas adequação ou orientações heterogêneas.

A informação também revela que o serviço de resseguro prestado aos Fundos, por empresas públicas ou privadas, foi viável e rentável financeiramente.

Quanto à sua dimensão, uma das diversas formas pelas quais foi medido o tamanho dos Fundos foi de acordo com o parâmetro dado pelo volume de unidades físicas seguradas. Para isso, foram estabelecidos parâmetros de hectares e cabeças seguradas e determinou-se o número de Fundos por nível

Para o caso do seguro agrícola, o resultado mostra que o maior número de Fundos se concentra nos parâmetros de menor superfície.

Como parte do estudo, também é exposto um conjunto de propostas sobre ações estratégicas subsequentes que orientem a evolução futura do Programa de Fundos de Seguro, e o aproveitamento de novas áreas de oportunidade, como por exemplo: Fundo de Resseguro ou Fundo de Fundos, Seguros Conectados à Atividade Agropecuária, Patrimonial e Rural e Seguros de Vida Rural, dentre outros.

Em uma visão de médio prazo, a implementação destas ações estratégicas configuraria a contribuição dos Fundos de Seguro para o desenvolvimento futuro do seguro agropecuário do México.

Partindo dos antecedentes e características dos Fundos de Seguro do México, e revisando equivalências em experiências organizacionais dos produtores agropecuários de outros países da América Latina, deduz-se o grande potencial existente para imitar o caso mexicano em outros países da América Latina.

livros

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NOTÍCIAS

A Associação Espanhola de Gerência de Riscos e Segu-

ros (AGERS) celebrou na sede da Real Gran Peña de Madrid, nos últimos dias de dezembro de 2009, o ato de distinção à trajetó-ria profissional e a contribuição à Gerência de Riscos, que incidiu na figura do Sr. José Luis Martínez Olivares, diretor de seguros de El Corte Inglés. O ato, que contou com a presença de personalidades relevantes do mercado de seguros, foi emocionante... Do homena-geado destacou-se seu trabalho – sempre em equipe e em silêncio –, contribuindo pouco a pouco para estender a cultura da Gerência de Riscos e seus benefícios.

No decorrer de 2010, a AGERS, para atingir seus objetivos de infor-mação, dirigidos, basicamente, às atividades de representação, con-traste de experiências e formação entre os seus associados, desenvol-veu as seguintes atividades:

Em 18 de janeiro, o Foro da AGERS celebrou uma jornada so-bre ISO31000.

BALANÇO DAS ATIVIDADES NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2010

Devido ao sucesso registra-do nesta convocação, em 22 de fevereiro foi celebrada uma se-gunda edição, igualmente com lotação total.

Igualmente, durante os dias 26 e 27 de janeiro foi ministrado o curso sobre processo de regulação de em-prego ou pré-aposentadorias por meio das apólices de seguros.

Ato de reconhecimento a José Luis Martínez Olivares.

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Para obter mais informação consulte o site www.agers.esAGERS. Príncipe de Vergara, 86, 1º esc. 2º izq. 28006 Madri.

Tel. 91 562 84 25 Fax: 91 561 54 05. E-mail: [email protected].

OS MÁXIMOS RESPONSÁVEIS DA AGERS REPRESENTARAM A ASSOCIAÇÃO NA SEMANA

DO SEGURO E NO CONCURSO FORINVEST

No Comitê Diretivo cele-brado em 4 de fevereiro, foi nomeado a representante da AGERS na ALARYS, o Gon-zalo Fernández Isla, atual ge-rente de riscos da Fundación Universidad-Empresa na Re-gião de Múrcia.

Ignacio Martínez de Baroja, presidente da AGERS, apre-sentou em 16 de fevereiro, na qualidade de membro institu-cional do setor, os resultados do barômetro anual da ADE-COSE.

Também em fevereiro, en-tre os dias 23 e 25, foi minis-trado, na sede da AGERS, um curso sobre perda de lucros.

Gonzalo Iturmendi, secre-tário geral da AGERS, inter-veio em 25 de fevereiro no FORINVEST, concurso pio-neiro sobre o mundo das fi-nanças e de investimento que surgiu em 2008 como inicia-tiva da FERIAVALENCIA. Nessa ocasião, deu uma pales-

tra sobre a gestão de riscos e seguros em administrações e empresas do setor público.

A AGERS também partici-pou da XVII edição da Semana do Seguro, celebrada em Ma-dri de 2 a 4 de março. O presi-dente da AGERS, Ignacio Mar-tínez de Baroja, se pronunciou no ato de inauguração.

Em 17 de março, a AGERS celebrou um fórum sobre “Uma experiência prática de Gerência de Riscos”. Também em março, durante os dias 24 e 25, ministrou um seminário sobre construção e montagem. O objetivo deste curso é in-troduzir os participantes na Gerência de Risco, tanto em relação às medidas de preven-

ção quanto ao tratamento de sinistros.

A seguir, nos dias 26 e 27 de maio, a AGERS celebrará a XXI edição do seu congresso anual no hotel Eurobuilding, em Madri. Nesta data e neste mesmo local também está pre-vista a convocação da sua as-sembléia geral.

O resumo das atividades da AGERS no primeiro trimestre de 2010 encerra o calendário de formação previsto para o presente ano:

Seguro de crédito (14 e 15 de abril).

Análise e avaliação de riscos. Concluído com ERM/ISO31000 (5 e 6 de maio).

Gerência de riscos seguráveis e o seguro na empresa (9 e 10 de junho).

Plano de contingência do negócio (7 e 8 de julho).

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CURSO E-LEARNING DE GESTÃO TÉCNICA PERICIAL E SINISTROS DE DANOS PATRIMONIAIS

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A área de solventes ocupa uma posição estratégica no grupo de origem francesa - Rhodia - presente no Brasil há 91 anos - , ao responder por 35% do faturamento da empresa, na América Latina. A única planta da empresa neste segmento no mundo, com unidade instalada na cidade de Paulínia, no estado de São Paulo, aposta nos próximos anos, em investimentos na ampliação de linhas de produtos com fontes renováveis em substituição à matriz fóssil. A mudança atende à política de gerenciamento de risco e aos desafios de gestão impostos pelas exigências socioambientais e da política de sustentabilidade frente ao mercado globalizado.

ALEXANDRE CASTANHODIRETOR DE NEGÓCIOS SOLVENTES INTERMEDIÁRIOS E SOLVENTES DA RHODIA AMÉRICA LATINA

RhodiaRecursos renováveis

Solven

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ntes

Qual é a estrutura atual da área de negócios de solventes da Rhodia?

A fábrica de solventes fica instalada no mu-nicípio de Paulínia, no estado de São Paulo, e tem como mão-de-obra direta cerca de 100 pes-soas, além de outros funcionários que atuam de forma compartilhada com outras unidades, nos setores de manutenção, finanças, marketing e recursos humanos, entre outros. A Rhodia no Brasil tem mais 4 unidades e um número apro-ximado de 3,1 mil empregados, na América La-tina, incluindo a Argentina e Venezuela.

Como a crise econômica mundial refletiu na atuação da empresa, no mercado de solventes?

O setor de solventes é o maior negócio ex-portador da Rhodia, que representa metade da produção. No ano passado ficamos praticamen-te quatro meses sem vender nada na Europa e EUA. Já a outra metade vendida no Brasil, que está relacionada ao mercado de embalagem de alimentos, automotivo, de madeira, agroquími-co e de calçado, teve um desempenho diferen-ciado. No primeiro trimestre de 2009 houve um pouco de receio do mercado, com certa contra-ção nas vendas, e depois fluiu normalmente. Mas isso fez com que não conseguíssemos ul-trapassar em 2009, as negociações de 2008. O reflexo interno e externo resultou em 15% de queda. Agora as perspectivas são positivas.

A Rhodia anunciou no final do ano passado, que pretende investir, no prazo de quatro anos, cerca de US$ 200 milhões em suas plantas no Brasil. O que é previsto para o setor de solventes?

Hoje a área de negócios de solventes re-presenta 35% do faturamento da empresa, na América Latina, que é em torno de um total de 1 bilhão de euros anualmente. Só no Brasil é comercializada cerca de 150 mil to-neladas de solventes. No mínimo, a divisão do investimento para o setor será neste per-centual sobre o valor de faturamento. Mas outros projetos de investimentos da empresa também passam por nosso segmento, o que possibilita, que essa fatia possa ser maior. Um de nossos focos será o mais recente lançamento, que deverá ser ampliado ainda para a Europa e na Ásia, que é a linha Rhodia Augeo SL 191.

O que é o Rhodia Augeo SL 191?É uma das principais linhas de solventes

hoje da empresa, lançada no ano passado. É um tipo de solvente de evaporação lenta, derivado da glicerina, co-produto da fabricação do bio-diesel, que mantém propriedades técnicas favo-ráveis à maior produtividade e menor consumo no processo de fabricação de tintas e vernizes.

Pode-se dizer que esse lançamento integra a visão estratégica da empresa apresentada ao mercado, com foco em fontes renováveis?

Primeiramente, é necessário explicar que há dois tipos de solventes. Um vem direto do petróleo, composto pelos hidrocarbonetos, que causam poluição. Isso acontece porque o sol-vente evapora e entra em contato com a luz, e com outros poluentes, formando o ozônio. Essas substâncias fazem mal para a pele, para a respiração e envelhecem as pessoas, mais rapi-damente. Há outros tipos mais agressivos, que ultrapassam a parte da atmosfera baixa e des-troem a camada de ozônio. Com isso, se forma o chamado buraco de ozônio, que possibilita a passagem de raios ultravioletas, que causam cân-cer de pele. Já outros solventes são processados, ou seja, oxigenados, e são considerados “mais amigáveis” ao meio ambiente. Parte vem do eta-nol e outra de fonte petroquímica. Essa linha de solventes consegue substituir os tipos perigosos. Isso implica uma preocupação a longo prazo, com o funcionário que manipula e pode ina-lar essas substâncias, durante a produção, até o cliente. Todo o trabalho é focado na questão de segurança. As consequências podem ser drásti-cas, caso não houver esse cuidado.

Há quanto tempo a Rhodia já adota fontes menos agressivas ao meio ambiente?

A Rhodia usa o álcool na matriz de seus produtos, há cerca de 50 anos, só que veio ganhando relevância, com o passar dos anos, substituindo os solventes “ruins”. Para isso, desenvolveu tecnologia, com um modelo ma-temático, por exemplo, para a formulação de uma tinta para uma montadora, que já tem restrições a alguns produtos, porque são can-cerígenos ou atinge o sistema nervoso e a pele. Daí a fórmula é feita, com esses parâmetros, com diferentes soluções e custos.

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O que significa, de fato, a adoção da chamada química verde pelo setor de solventes. Quais são os resultados e desafios de implementação?

Aproximadamente 100% das linhas é clas-sificada como sustentável. Eu não gosto da denominação verde, porque o termo foi ba-nalizado, mas para ser sustentável, elencamos 12 conceitos (desde prevenção de desperdício a cuidado com impacto ambiental), divididos em três grupos - a maneira que se faz o produto químico, aquilo que ele gera de subproduto e o que traz de benefício e malefício para quem entra em contato. Caso não sejam atendidos esses critérios, não é adotado no mercado. Os nossos solventes se encaixam na maioria desses itens. Com isso, estamos aptos a ajudar o cliente a mudar as composições de seus produtos, se necessário. O objetivo não é só fazer marketing, mas algo que minimize os problemas decor-rentes de más composições. Por exemplo, re-formulamos colas, para que não continuassem a promover a possibilidade de doenças ocupa-cionais em algumas empresas. Além de prejudi-carem a saúde de trabalhadores, as substâncias provocavam ações trabalhistas em decorrência dos danos que causavam.

Como está estruturada a área de gerenciamento de riscos da área de solventes da Rhodia?

Há a gestão do risco industrial, logístico e do externo à fábrica. Isso significa a gestão de comportamento. Cada unidade é responsável pelo patrimônio físico e humano, e todos os procedimentos são relatados mensalmente pelas diretorias industriais, com interface com a vice-presidência corporativa no Brasil, que se remete à matriz, na França. No ambiente dos escritórios, por exemplo, são tomadas medidas básicas. Co-locamos espelhos nos cantos, para que as pessoas tenham maior visibilidade dos corredores, além de portas de vidros. Também promovemos ca-pacitações de direção defensiva aos funcionários. Com o pessoal da fábrica, além desse tipo de preocupação, temos as classificações de riscos. O mais grave é o crítico. Um exemplo de gerencia-mento é a identificação de vazamento de vapor quente. Há um sistema de travamento, que pode ser manual ou automático. No chamado risco um é identificada a possibilidade de ocorrer aci-dente, como a presença de uma rachadura. Com

“A RHODIA É O MAIOR USUÁRIO, NO PAÍS, DE ETANOL, COM FINALIDADE NÃO-COMBUSTÍVEL. AS USINAS QUE FORNECEM PARA A EMPRESA SÃO AUDITADAS, POR EQUIPES DA FRANÇA. SÃO AVALIADOS O SISTEMA DE PRODUÇÃO, O TRATAMENTO AOS FUNCIONÁRIOS. SE HOUVER A SUSPEITA DE TRABALHO ESCRAVO, O CONTRATO É SUSPENSO”.

isso, é providenciada a manutenção do equipa-mento. Criamos indicadores e metas. Avaliamos o registro de acidentes por milhares de horas trabalhadas. Não conseguimos chegar ao índice zero, porque enfrentamos o elemento humano, que é imprevisível.

Qual o investimento em seguro patrimonial e humano no setor de solventes?

Somos obrigados a registrar, pelo menos, uma visita de segurança a uma planta da Rho-dia, por mês, quando há vistoria e diálogo com as equipes, para minimizar a possibilidade de gerar problemas. Classificamos os acidentes em três categorias: sem afastamento, com o afastamento, que é o mais grave, e a que não houve o acidente, mas há potencialidade de ocorrer. Há cerca de 10 anos não há registros com afastamentos. Consi-deramos que dos operadores aos gerentes, todos têm sua responsabilidade na segurança. Não po-demos deixar acontecer, por exemplo, situações como vou narrar. Em uma ocasião, ao conversar com um caminhoneiro, ele me falou que estava há 12 horas dirigindo sem parar. Isso é inadmis-sível, por isso, cobramos também das empresas que nos prestam serviço, que se comprometam com a segurança.

Em sua análise, qual é o maior desafio quanto à manutenção da segurança?

O fator humano é o maior desafio. Às vezes, o indivíduo sabe que não pode fazer tal proces-so, mas executa, o que pode gerar incidentes, sendo que os mais comuns são torções e, às vezes, queimaduras. Por isso, é necessário que mantenhamos a comunicação, acompanha-mento e discussão de forma contínua. Isso tem de ser uma prática rotineira em qualquer setor da empresa e exige que trabalhemos, inclusive, com o lado emocional do funcionário.

Há incentivos para que os próprios funcionários possam contribuir para o gerenciamento de riscos?

A Rhodia promove uma premiação - Exce-lência Rhodia -, na qual os funcionários apresen-tam cerca de 70 projetos anualmente, por edição, que tiveram execução prática, com o intuito de que possam ser úteis nos processos de produção, visando a política de sustentabilidade. O interes-sante é que a maior parte se refere ao tema segu-

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HÁ CERCA DE 10 ANOS NÃO HÁ REGISTROS COM AFASTAMENTOS. CONSIDERAMOS QUE DOS OPERADORES AOS GERENTES, TODOS TÊM SUA RESPONSABILIDADE NA SEGURANÇA.

rança. Os trabalhos são julgados por um comitê técnico e, por muitas vezes, são incorporados, na gestão da empresa. Funcionários da área de solventes já chegaram a pegar as primeiras co-locações. Um deles criou uma ‘capinha’ para o manuseio da chave da bomba de água, para evitar acidentes com as mãos, e foi vencedor.

Em 2007 a Rhodia lançou o livro “Solventes Industriais - Seleção, Formulação e Aplicação”, desenvolvido por equipe de pesquisadores da empresa. Qual é a contribuição deste material?

A proposta é multiplicar o conhecimento acumulado pela empresa ao mercado. O con-teúdo foi desenvolvido por 14 funcionários, que cederam os direitos de arrecadação autoral sobre o livro para o Instituto Rhodia, voltado à área assistencial. Além da edição brasileira, foi produzida a edição em espanhol, e neste ano, será lançada a versão em inglês. Os exemplares também foram distribuídos para a maioria das universidades brasileiras.

Ao se associar ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2003, qual política rege a gestão da empresa hoje?

Primeiramente um estreitamento nas rela-ções com a comunidade. Em outro aspecto, um exemplo prático foi entrar no mercado de crédi-tos de carbono de Chicago, em 2006, de acordo com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Protocolo de Kyoto. A unidade de Paulínia submeteu o projeto à ONU, que foi aprovado. Além de nossa unidade, a planta na Coréia também ingressou no mercado.

Qual é o seu parecer sobre o projeto de implementação da futura norma ISO 26000 de responsabilidade social, prevista para este ano?

A Rhodia implementou a ISO 9000, logo quando foi criada, e o setor de solventes foi um dos primeiros negócios da empresa também a aderir à ISO 14000. Mas as certificações são consequências de um modelo de gestão. Ago-ra, estamos avaliando a forma como podemos participar futuramente da 26000. Acompanha-mos o tema, porque a Rhodia integra o fórum da Associação Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), que discute modelos de critérios

e padronização em conformidade com a Asso-ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Mas é importante destacar, que quando faze-mos um trabalho que visa provocar mudança no usuário final, com a conscientização sobre o uso de produtos perigosos (colas, tintas e defen-sivos agrícolas), estamos exercendo a prática de responsabilidade social. Hoje a Rhodia ao optar somente por projetos não-poluentes também está seguindo essa conduta. Isso representa mu-dança do paradigma empresarial.

Qual é a relação da Rhodia Solventes com seus fornecedores, dentro da política de sustentabilidade, adotada desde 2008?

Foi criado o conceito Rhodia Way, para atender a cadeia de stakeholders, que inclui os clientes, a comunidade que circunda as fábricas, os acionistas, os funcionários e os fornecedores. A comunidade se detecta problemas, reclama e tem uma atitude pró-ativa a que temos de dar retorno. Já para o fornecedor poder vender à Rhodia, é preciso obedecer critérios sustentá-veis. A Rhodia é o maior usuário, no país, de etanol, com finalidade não-combustível. As usi-nas que fornecem para a empresa são auditadas, por equipes da França. São avaliados o sistema de produção, o tratamento aos funcionários. Se houver a suspeita de trabalho escravo, o contra-to é suspenso. Não é possível aceitar a relação de negócios com uma empresa transportadora, por exemplo, que não atenda também todos os critérios de segurança.

Em sua análise, qual é o principal desafio do setor de solventes quanto à responsabilidade socioambiental?

Acredito que um dos principais desafios é contribuir com o desenvolvimento de uma legislação específica para o setor, que pratica-mente é inexistente. O setor de solventes levan-tou uma bandeira, dentro da Rhodia, quanto à importância da adoção da química verde. No começo, não éramos bem compreendidos e hoje, é o assunto do dia. É estratégico que haja a multiplicação da informação do que signifi-ca ser ‘sustentável’. Não podemos esperar que o governo vá fiscalizar e orientar uma pequena fábrica, por exemplo. Cabe às grandes empre-sas, como a Rhodia, tomar essas iniciativas, que interferem na cadeia de produção. Não existem receitas mirabolantes.

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