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1 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007. EDITORIAL A Angústia é o eixo temático dos trabalhos da APPOA, neste ano que se inicia. A Jornada de abertura, que acontece no dia 24 de março, dá início à discussão que irá nos acompanhar nos cartéis e eventos durante 2007. Ao longo da história da psicanálise, o conceito de angústia tem se mostrado central para o trabalho do psicanalista, passando por elaborações teóricas de diversas perspectivas que buscavam uma articulação com a clínica. Em seus primeiros escritos, Freud trabalha com a hipótese de que a angústia é ocasionada por uma quantidade excedente de libido, a qual man- tém-se acumulada por não ter sido descarregada através da ação. A tensão psíquica não utilizada provocaria um aumento de excitação e sua conse- qüente transformação no estado de afeto da angústia. Esta primeira teoria da angústia, baseada no ponto de vista econômico, acompanha Freud ao longo de vários anos. É somente em 1926, com “Inibição, sintoma e angústia”, que outra perspectiva é elaborada. Esta segunda teoria da angústia não contradiz a primeira, mas formula uma nova hipótese a partir de outro viés. Com ela, Freud passa a considerar o eu como única sede da angústia e, esta última, como um sinal de alarme que antecipa uma situação de perigo ao eu. Lacan dedicou um ano de seu seminário (1962-63) à Angústia, relen- do os textos freudianos e propondo modificações importantes no conceito. Se Freud propõe que a angústia é “sem objeto”, para diferenciá-la do medo cujo objeto é bem definido, Lacan afirma que “a angústia não é sem objeto”, pois seu surgimento se dá com o aparecimento do objeto a, causa de dese- jo. Por emergir na presença do objeto, a angústia é sinal da ausência da falta, indicando que esta falta suporte essencial à constituição do sujeito, pode vir a falhar ao não se constituir como um anteparo simbólico ao desejo do Outro. O tema é complexo e importante. Neste número do Correio, apresen- tamos textos que procuram contribuir com um debate que está iniciando. No âmbito da vida institucional, neste mês de março, acontece a As- sembléia dos membros da APPOA, ocasião de renovação nas instâncias diretivas, momento fundamental, pois;ao mesmo tempo, relançamento e abertura com relação ao laço e ao trabalho em exercício.

EDITORIAL A - APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre · 2016-12-03 · mostrado central para o trabalho do psicanalista, passando por elaborações ... LIVRO 2 DE LACAN

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1C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

EDITORIAL

A Angústia é o eixo temático dos trabalhos da APPOA, neste ano quese inicia. A Jornada de abertura, que acontece no dia 24 de março,dá início à discussão que irá nos acompanhar nos cartéis e eventos

durante 2007.Ao longo da história da psicanálise, o conceito de angústia tem se

mostrado central para o trabalho do psicanalista, passando por elaboraçõesteóricas de diversas perspectivas que buscavam uma articulação com a clínica.

Em seus primeiros escritos, Freud trabalha com a hipótese de que aangústia é ocasionada por uma quantidade excedente de libido, a qual man-tém-se acumulada por não ter sido descarregada através da ação. A tensãopsíquica não utilizada provocaria um aumento de excitação e sua conse-qüente transformação no estado de afeto da angústia. Esta primeira teoriada angústia, baseada no ponto de vista econômico, acompanha Freud aolongo de vários anos.

É somente em 1926, com “Inibição, sintoma e angústia”, que outraperspectiva é elaborada. Esta segunda teoria da angústia não contradiz aprimeira, mas formula uma nova hipótese a partir de outro viés. Com ela,Freud passa a considerar o eu como única sede da angústia e, esta última,como um sinal de alarme que antecipa uma situação de perigo ao eu.

Lacan dedicou um ano de seu seminário (1962-63) à Angústia, relen-do os textos freudianos e propondo modificações importantes no conceito.Se Freud propõe que a angústia é “sem objeto”, para diferenciá-la do medocujo objeto é bem definido, Lacan afirma que “a angústia não é sem objeto”,pois seu surgimento se dá com o aparecimento do objeto a, causa de dese-jo. Por emergir na presença do objeto, a angústia é sinal da ausência da falta,indicando que esta falta suporte essencial à constituição do sujeito, pode vir afalhar ao não se constituir como um anteparo simbólico ao desejo do Outro.

O tema é complexo e importante. Neste número do Correio, apresen-tamos textos que procuram contribuir com um debate que está iniciando.

No âmbito da vida institucional, neste mês de março, acontece a As-sembléia dos membros da APPOA, ocasião de renovação nas instânciasdiretivas, momento fundamental, pois;ao mesmo tempo, relançamento eabertura com relação ao laço e ao trabalho em exercício.

2 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

QUADRO DE ENSINO 2007EIXO DE TRABALHO DO ANO:

ENCONTROS DE ESTUDO DO SEMINÁRIO“A ANGÚSTIA” DE JACQUES LACAN

Reuniões sistemáticas de trabalho, que acontecerão ao longo do ano,para estudo do Seminário “A Angústia”. Esse estudo envolverá toda a institui-ção, inspirando também seus eventos.

Coordenação: Carmen Backes, Ligia Víctora e Robson de FreitasPereira.

Quintas-feiras, 21h, reuniões quinzenais, gratuitas e abertas aos inte-ressados.

SEMINÁRIOSA ANGÚSTIA, A CLÍNICA E O FIM DE ANÁLISE

Coordenação: Adão CostaSegunda-feira, 10h, mensal.

A TOPOLOGIA DAS ESTRUTURASCoordenação: Ligia VíctoraSexta-feira, 18h15min, quinzenal.

CLÍNICA DAS PATOLOGIAS CONTEMPORÂNEASCoordenação: Rosane RamalhoSegunda-feira, 21h, mensal.

CLINICANDOCoordenação: Ana CostaTerceiro sábado do mês, 10h, mensal.

CONCEITOS FUNDAMENTAISNA OBRA DE JACQUES LACAN: O QUE ÉPSICANALIZAR HOJE

Coordenação: Alfredo JerusalinskyQuarta-feira, 20h30min, quinzenal.

LÓGICA PARA COLORIRCoordenação: Ligia Víctora

3C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

Sexta-feira (10, 17 e 24 de agosto), 18h15min.

O DIVÃ E A TELACoordenação: Enéas de Souza e Robson de Freitas PereiraQuarta-feira, 19h30min, mensal.

O OLHAR EM PSICANÁLISE: A PULSÃO ESCÓPICA E SEUS DESTINOSCoordenação: Jaime Betts

TOPOLOGIA PARA COLORIRCoordenação: Ligia VíctoraSexta-feira (9, 16 e 23 de março), 18h15min.

A CLÍNICA DO CASO EM DEBATECoordenação: Adão CostaSábado, 13h30min, mensal, em Caxias do Sul.

A PSICOSSOMÁTICA NA INTERDISCIPLINA E TRANSDISCIPLINACoordenação: Jaime BettsSábado, 10h, mensal, em Novo Hamburgo.

FORMAÇÕES DO ANALISTACoordenação: Alfredo JerusalinskyBimensal, 12h, em Belém do Pará.

PROBLEMAS DE CLÍNICA: PSICANÁLISE E CIÊNCIA NO DISCURSOCONTEMPORÂNEO

Coordenação: Alfredo JerusalinskyMensal, em São Paulo.

PSICANÁLISE E INTERDISCIPLINACoordenação: Alfredo JerusalinskyMensal, em São Paulo (Lugar de Vida).

TEXTOS LACANIANOS - A TRANSFERÊNCIACoordenação: Adão CostaSábado, 15h30min, mensal, em Caxias do Sul.

4 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

GRUPOS TEMÁTICOSA CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

Coordenação: Carmen BackesSexta-feira,10h30min, quinzenal.

A ESTRUTURAÇÃO SUBJETIVA PRIMORDIAL E SUAS CONSEQÜÊNCIASCLÍNICAS PSICOSSOMÁTICAS NO ADULTO, NA FAMÍLIA E NO LAÇOCONJUGAL

Coordenação: Jaime BettsSegunda-feira, 19h30min, mensal.

A PSICANÁLISE NA ASSISTÊNCIA SOCIALCoordenação: Jaime BettsSegunda-feira, 19h, quinzenal.

AS FORMAÇÕES DO INCONSCIENTECoordenação: Gerson PinhoSexta-feira, 16h15min,quinzenal.

CLÍNICA PSICANALÍTICA - ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAISCoordenação: Carmen BackesSexta-feira, 14h30min, quinzenal.

ESTUDOS PSICANALÍTICOS SOBRE GRUPOSCoordenação: Jorge BroideSábado, 10h, mensal.

FREUD E LACAN: A CLÍNICA PSICANALÍTICA E O SUJEITO CONTEM-PORÂNEO

Coordenação: Maria Ângela Brasil e Eduardo Mendes RibeiroSexta-feira, 10h, quinzenal.

FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE FREUDIANACoordenação: Otávio Nunes e Rossana OlivaSexta-feira, 11h30min, quinzenal.

O INCONSCIENTE EM FREUD E EM LACANCoordenação: Maria Ângela Bulhões

5C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

Segunda-feira, 14h30min,quinzenal.

PSICANÁLISE DE CRIANÇAS - FUNDAMENTOS PSICANALÍTICOSCoordenação: Eda Tavares e Marta PedóSegunda-feira, 10h30min, quinzenal.

A CRIANÇA E A CLÍNICA PSICANALÍTICACoordenação: Izabel Dal Pont e Margareth MarttaSegunda e quarta sexta-feira do mês, 10h30min, em Caxias do Sul.

INTRODUÇÃO À LEITURA DE LACANCoordenação: Charles LangSábado, 10h, semanal, em Maceió.

INTRODUÇÃO À LEITURA DE LACANCoordenação: Charles LangSegunda e quarta quinta-feira do mês, 18h, quinzenal, em Maceió.

O SUJEITO NA ADOLESCÊNCIA E AS PULSÕES: A VOZ E O OLHARCoordenação: Ângela Becker e Ieda Prates da SilvaSábado, 10h, mensal, em Novo Hamburgo

PSICANÁLISE E PSICOPATOLOGIACoordenação: Charles LangSegunda e quarta-feira do mês,as 18h, quinzenal, em Maceió.

TEXTO E CLÍNICA EM PSICANÁLISECoordenação: Celina Lima, Karla Martins e Leonia TeixeiraSegunda, terça e quinta-feira, em Fortaleza.

GRUPOS TEXTUAISMOMENTO DE LER: Textos variados conforme o interesse do grupo

Coordenação: Maria Auxiliadora SudbrackSexta-feira, 15h, semanal.

SEMINÁRIO “O EU NA TEORIA E NA TÉCNICA DA PSICANÁLISE” -LIVRO 2 DE LACAN

6 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

Coordenação: Otávio Nunes e Rossana OlivaTerça quinta-feira do mês, 12h15min, mensal.

SEMINÁRIO XXIV DE LACAN - “O NÃO SABIDO QUE SABE DE UMAEQUIVOCAÇÃO” OU “O INSUCESSO DO INCONSCIENTE É O AMOR”

Coordenação: Maria Auxiliadora SudbrackQuinta-feira, 14h, quinzenal.

NÚCLEOS DE ESTUDONÚCLEO PASSAGENS

Responsáveis: Ana Costa, Edson Sousa e Lucia PereiraGrandes histórias na cultura: atividade a ser desenvolvida em conjuntocom o PPG de Letras (UFRGS) e com a Livraria Cultura. Última quin-ta-feira de cada mês, de abril a novembro.

NÚCLEO DAS PSICOSESSegunda-feira, 20h30min, reuniões mensaisResomsáveis: Ester Trevisan, Mário Corso, Nilson Sibemberg e RosaneRamalhoApresentações de Pacientes. Atividade em conjunto com o Cais Men-tal Centro

NÚCLEO DE PSICANÁLISE DE CRIANÇASSábado, 10h, reuniões mensaisResponsáveis: Alfredo Jerusalinsky, Eda Tavares, Ieda Prates, Ger-son Pinho, Marta Pedó e Simone Rickes

OFICINASAtividades a serem desenvolvidas aos sábados, em horários e datas a seremprevistas.

OFICINA DE TOPOLOGIACoordenação: Ligia VíctoraSábado, 10h, semestral.

7C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

EXERCÍCIOS CLÍNICOSDatas: 5/5, 25/8 e 27/11.

PRINCIPAIS EVENTOS DO ANO 2007ASSEMBLÉIA GERAL DA APPOAData: 23 de março, às 21hLocal: sede da APPOA

JORNADA DE ABERTURA: A ANGÚSTIAData: 24 de marçoLocal: Santander Cultural

RELENDO FREUD E CONVERSANDO SOBRE A APPOA: O ESTRANHOData: 25, 26 e 27 de maio.

CONGRESSO DA CONVERGÊNCIA LACANIANAData: 15, 16 e 17 de junhoLocal: Paris.

JORNADA DO PERCURSO VIIData: 14 e 15 de julho.

JORNADAS CLÍNICASData: 26, 27 e 28 de outubro.CICLO DE DEBATES NA LIVRARIA CULTURA“Grandes histórias na cultura”Data: última quinta do mês, em abril, maio, junho, agosto, setembro,outubro e novembro, às 20h, na Livraria Cultura.

PERCURSO DE ESCOLATURMA VIII3o semestre: Narcisismo e Identificação

TURMA IX1o semestre: Inconsciente

PERCURSO PSICANÁLISE DE CRIANÇASSeminário compartilhado com o Núcleo Sigmund Freud

TURMA II1o semestre: Metapsicologia do sujeito infantil e constituição subjetiva

8 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

JORNADA DE ABERTURA 2007 - ANGÚSTIAData: 24 de marçoLocal: Santander Cultural (Rua Siqueira Campos, 1125 - Porto Alegre - RS)

Vivemos tempos angustiantes. Constatação inegável embora não sejaexatamente uma novidade. Viver é muito perigoso, escreveu Guimarães Rosa.E isso, em qualquer tempo. O que parece ocorrer é que, em nossos dias, aangústia não nos dá trégua, comparecendo insistentemente.

A angústia é um afeto, é uma “dupla” falta – a ausência de toda ausên-cia significante possível, dizia Lacan. E acrescentava: ela não engana, écerteira. A psicanálise articula o conceito de angústia à sua prática clínica.Isto se construiu pela escuta das suas manifestações sintomáticas, ou seja,pela fala dos analisandos. Neste sentido, sabemos quanto temos que nosinterrogar sobre seus determinantes. Um dos caminhos seria explorar, até olimite, a transferência, o desejo e as vias de formação sintomática a fim deencontrar-se com o impossível anunciado por Freud e retomado por Lacan. Epara que isso ocorra é necessário ter uma concepção que permita trabalharséria e eficazmente; pois nossos tempos velozes e virtuais exigem respos-tas imediatas, em tempo real, on-line.

Simultaneamente, angústia é um conceito psicanalítico que dialogacom outras disciplinas que se ocupam do tema, mesmo que com outraspreocupações – como a medicina, a filosofia, a literatura, a religião. Pode-mos nos perguntar como outros saberes contribuem com a psicanálise e,reciprocamente, no que esta aporta a outras áreas do conhecimento. Comolidar com as síndromes, com os déficits, as fobias e as psicoses? Qualnosso diálogo com as pesquisas médico-psiquiátricas? Quando os trata-mentos combinados são os mais indicados?

Questões como estas fazem o cotidiano de nossa clínica. São de-mandas de alívio do sofrimento, de angústia que nos são endereçadas nosconsultórios e nos mais diversos locais em que um psicanalista é chamadoa responder desde seu lugar. Por isto, fazemos delas proposta de trabalhonesta Jornada de Abertura e para a qual convidamos a todos os interessa-dos.

9C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

PROGRAMA9h30min - Abertura: Lucia Serrano PereiraPontuações sobre a noção de angustia em Freud - Cristian Giles (Psica-nalista, APPOA, Ijuí)DebateA angústia na clínica cotidiana - Nilson Sibemberg (Psicanalista, APPOA,Porto Alegre)DebateIntervalo14h30minO esquema do espelho no Seminário da Angústia - Elaine Starosta Foguel(Psicanalista, APPOA, Salvador)DebateO afeto que se encerra - Robson de Freitas Pereira (Psicanalista, APPOA,Porto Alegre)Encerramento: Ligia Gomes VíctoraInscrições:

Informações e inscrições:- Sede da APPOA: Rua Faria Santos, 258 - Tel. (51) 33332140 ou 33337922- Horário de funcionamento da Secretaria da APPOA: de 2a a 5a, das 13h e30min às 21h e 30min; 6a, das 13h e 30min às 20h. - Inscrições mediante depósito bancário, para Banco Itaú, agência 0604,conta-corrente 32910-2. Neste caso, enviar, por fax, o comprovante de paga-mento devidamente preenchido, para a inscrição ser efetivada.- Estudantes de Graduação deverão apresentar comprovante de matrículaem curso superior.- Inscrições pelo site: www.appoa.com.br, após efetuar a inscrição, enviarpor fax ou por e-mail o comprovante de pagamento devidamente preenchido.- As vagas são limitadas.

CATEGORIAS ATÉ 16/03/2007 APÓS OU NO LOCALAssociados R$ 40,00 R$ 55,00Estudantes de Graduação R$ 50,00 R$ 65,00Profissionais R$ 60,00 R$ 75,00

10 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

SEMINÁRIO O DIVÃ E A TELA – CINEMA E PSICANÁLISECoordenação: Enéas Costa de Souza e Robson de Freitas Pereira

Periodicidade: mensal, quartas-feiras, 19h30minPROGRAMAÇÃO 2007

Abril, dia 18 - Os Pássaros , de Alfred HitchcockMaio, dia 16 - All that jazz ( O show deve continuar) – Bob FosseJunho, dia 13 - Morte em Veneza - Lucchino ViscontiJulho, dia 11 - O terceiro Homem - Carol ReedAgosto, dia 15 - Terra em Transe - Glauber RochaSetembro, dia 12 - Lost highway (A estrada perdida) – David LynchOutubro, dia 17 - Os infiltrados – Martin Scorcese

Observações: 1.Um texto de referência sobre cada filme agendado poderá ser consultadono Correio do mês correspondente. 2. Outros textos psicanalíticos e cinematográficos serão indicados no de-correr do seminário. Entretanto, temos como bibliografia básica o seminário“Angústia”, de Jacques Lacan. 3. Sessões especiais do seminário serão programadas ao longo do ano –vide a discussão do filme “Um dia muito especial”, de Ettore Scola, nestemês de março, dia 21, no Santander Cultural.

CARTELÃO – SEMINÁRIO A ANGÚSTIA

Convidamos todos os interessados para a primeira reunião do Cartelsobre o Seminário da Angústia, na quinta-feira, dia 15 de março, às 21h.

Este cartel se propõe à releitura e discussão do seminário A angústia,de J. Lacan (1962/63), tema de trabalho deste ano e, à preparação das Jor-nadas Clínicas de outubro. Em cada reunião haverá exposição e discussãode aulas do seminário, sob a responsabilidade de integrantes e convidados.

Neste primeiro encontro, Alfredo Jerusalinsky situará a angústia e suaatualidade. O cartel é aberto e ocorrerá quinzenalmente (datas a combinar).

11C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

Bibliografia básica (*):Jaques Lacan. O Seminário, livro X, A angústia.ed. Zahar;Sigmund Freud. Inibição, sintoma e angústia;Sigmund Freud. O estranho (Das Umheimlich).

Bibliografia complementar: Livre de compagnon – Seminaire Angoisse, ed. ALI/Paris;Moustapha Safouan. Lacanaiana I- Os Seminários de Jacques Lacan 1953-1963, Cia de Freud;Moustapha Safouan. Inibição, sintoma, angústia, ed. Papirus/SP;E.T.A. Hoffmann. O homem da areia. Ed. Rocco, 1986;Sören Kierkegaard. Angústia, Ediouro;

Anton Tchecov. Contos, Ediouro.

(*) a bibliografia será atualizada no decorrer do trabalho. Contribuições serãobem vindas.

CONVOCATÓRIA PARA ASSEMBLÉIA GERAL A Associação Psicanalítica de Porto Alegre está convocando seus

membros para a Assembléia Geral de renovação da Mesa Diretiva, que serárealizada no próximo dia 23 de março de 2006, às 19h30min, na sede, tendopor pauta: - Renovação da Mesa Diretiva - gestão 2007/2008 (trata-se da eleição emfunção da vacância e da renovação de um terço dos membros após o manda-to de dois anos, conforme prevê o estatuto).- Relatório moral e relatório financeiro relativos à gestão que se encerra.

Lembramos que estão aptos a votar os membros da APPOA queestejam com as mensalidades em dia. É importante que aqueles que nãopuderem estar presentes se façam representar por outro membro, através deprocuração. Contamos com a participação dos membros da APPOA paraeste importante momento de trabalho da instituição.

Mesa Diretiva

12 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

VII JORNADA BRASILEIRA DE CONVERGENCIA

As instituições componentes da Comissão de Enlace Local do Rio deJaneiro de CONVERGENCIA, Movimento Lacaniano para a PsicanáliseFreudiana, a saber:

Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro,Intersecção Psicanalítica do Brasil,Laço Analítico Escola de Psicanálise,Práxis Lacaniana Formação em Escola,nesse ato contando com a benvinda colaboração do Corpo Freudiano

do Rio de Janeiro, vêm CONVOCAR todas as demais instituições brasileirasde CONVERGENCIA para a VII JORNADA BRASILEIRA DECONVERGENCIA, que tem como temas:

a) “Inconsciente e presença do analista”, na fase aberta à participa-ção do público, dia 5 de maio, de 9h às 18h. b) “O que é publicar em Convergencia?”, na fase interna, restrita àsinstituições brasileiras de Convergencia, dia 6 de maio, de 13 às 18horas. A Jornada realizar-se-á, portanto, nos dias 5 e 6 de maio de 2007 no

Rio de Janeiro, (local ainda a ser definido) com organização das cinco insti-tuições relacionadas acima mas sob os auspícios da COMISSÃO DE EN-LACE REGIONAL DO BRASIL, que conta, além das cinco já citadas, comAPPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre, Colégio de Psicanáliseda Bahia e Maiêutica Florianópolis Instituição Psicanalítica.

As oito instituições da CER-BRASIL são, assim, CONVOCANTESdesta Jornada.

MUDANÇA DE TELEFONESimone Rickes informa seu novo número de celular: (51) 9653.5263

13C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

NOTÍCIAS

PSICANÁLISE E SAÚDE PÚBLICA

Não é de hoje a preocupação da psicanálise em se envolver com osassuntos da cultura e de outras áreas do conhecimento, vide o esforço deFreud em fazer essas articulações. Pensando nisso, a Comissão deAperiódicos propôs ao Correio o tema Psicanálise e Saúde Pública. A idéiaé de poder contar com textos de autores que já vem escrevendo sobre oassunto e também incentivar os psicanalistas e outros profissionais que tra-balham nessa área a escreverem sobre sua experiência. Tal como Freud eLacan, que nos ensinam a atentar aos significantes singulares da linguagemdos analisantes, propomos fazer o mesmo em relação ao tema. Ou seja,não se trata apenas de pensar a aplicação da psicanálise à saúde pública,mas principalmente de pensar os desafios e significantes que a experiênciana saúde pública traz aos psicanalistas e à psicanálise, na articulação entreestes campos. A interdisciplina, as especificidades clínicas, a prevenção,entre outros, são alguns dos tópicos que o trabalho em saúde mental nostraz, lembrando que as instituições públicas de assistência social, educa-ção, etc, também realizam ações em saúde.

Num trabalho conjunto da Comissão de Aperiódicos com a Comissãodo Correio, convidamos os interessados a escreverem sobre o assunto, deforma a fazer circular o tema e ampliar o debate.

Então, mãos à obra e atenção aos prazos: os artigos devem ser dirigi-dos à Comissão do Correio até 5 de abril.

Comissão de Aperiódicos

14 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007

SEÇÃO TEMÁTICA

ANGÚSTIA OU ALÉM DA MÁSCARAQUE O OUTRO VÊ.

Robson de Freitas Pereira

“Na antiga cidade grega de Pela, existe um mosaico com a imagem deDionísio cavalgando as costas de um tigre. Para o deus do teatro, o palco, assimcomo o chão que pisamos em vida, é o dorso instável de uma fera. O medo é umsentimento inseparável do comediante. Se um ator, numa fração de segundo, seder conta de quem está ali é ele , o mortal, e não o outro, o personagem imaterial,terá a alma exposta e correrá o risco de a qualquer momento ser abocanhado ecuspido pela besta imaginária... No fundo, está tudo contido na primeira fala, doprimeiro ato de Hamlet: quem está aí?”. 1

No primeiro ato de Hamlet, junto com a pergunta “who’s there?” háuma inversão de papéis: é o guarda que chega quem interpela asentinela; quando deveria acontecer justamente o contrário. Curiosa

inversão; pois é a sentinela que deveria fazer a advertência. O próprio Horáciose encarrega de desfazer o equívoco para que as coisas se coloquem emordem. E aí, a seqüência se faz corretamente: “- Alto! Quem vem lá? - Súdi-tos do rei da Dinamarca!”

Estas observações, assim como o parágrafo anterior do texto quenos serve de exergo, possibilitam uma aproximação com o tema da angús-tia, ou pelo menos com alguns de seus pressupostos.

O texto sobre o ator (ou comediante na sua acepção clássica,lembremo-nos da comédia dell’arte), pode muito bem nos servir de metáfora,tendo a mesma função daquela que Lacan emprega logo no início do seuseminário de 1962/63, a “Angústia”. O momento de angústia seria represen-tado pelo sujeito que diante de um louva-a-deus gigantesco, portaria umamáscara que ele não saberia qual é. Além disto, não sabe se a máscara que

1 “No dorso instável de um tigre”. Artigo de Fernanda Torres, publicado na Revista Piauí, nº 3.Dez de 2006.

15C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

ele porta será agradável ou não aos olhos da mantis religiosa. Assim, suasorte será decidida por uma máscara que ele desconhece a imagem, olhadapelo representante do Outro (Grande Outro). Uma “persona” desconhecidapara si mesmo e para o Outro. Isto não impede que se possa imaginar saberqual “persona” se tenta seduzir (ou atemorizar); pois, enfim sempre se en-contram formas de enfrentar o Outro. O que importa nesta cena é o fato denão saber, não controlar a imagem que o Outro está vendo. Isto sim, ameaçafazê-lo “perder a cabeça”.

Na epígrafe acima, Fernanda Torres nos apresenta uma versão do queseria o “pânico de cena”, stagefrigh, ou medo da cena: “o pânico de ser atrizvem da autoconsciência, do julgamento de si mesmo, da expectativa e dequalquer ruído que lembre o quão inútil é a nossa profissão”. Inútil porque sesustenta de um desejo, tão misterioso que o próprio Hamlet se perguntava:“Não é monstruoso que esse ator aí, por uma fábula, uma paixão fingida,possa forçar a alma a sentir o que ele quer, de tal forma que seu rostoempalidece e toda sua aparência se ajusta ao que ele pretende? E tudo issopor nada!”

A cogitação do Príncipe da Dinamarca atualiza uma questão inevitávelpara todo artista: “Mas, afinal, por que fui inventar isso pra mim? Por que nãosou engenheiro ou médico? Que sentido há em fingir que sou outro?”.

Um psicanalista se confronta com uma questão parecida: o que o levaa ser depositário dos sofrimentos alheios? A ser ouvinte de demandas queele nem suspeitava que existissem? Lacan formulou pergunta semelhante aseu auditório nas conhecidas “conferências nos EUA”. Acrescentando queele não gostaria de ouvir respostas prontas, tipo “sempre quis ajudar osoutros”. Estas não valem, ou pelo menos, não valem para nós psicanalistas.A psicanálise só se sustenta porque desde seu início, em seus conselhostécnicos Freud já dissolvia qualquer furor curandis. Não somos bela almaque possa apontar os desvios da humanidade, ou se propor como guardiã dequalquer norma suposta. Fazemos parte desta mesma comunidade que ten-tamos interpretar. Estamos no mundo, estamos “imundos”, inundados pelodiscurso que faz o laço social de nossos dias, por mais contraditório e com-

PEREIRA, R. F. Angústia ou além da máscara...

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SEÇÃO TEMÁTICA

plexo que ele seja. Hoje, nossa alusão à comunidade talvez esteja maisreferida a responsabilidade que temos com a transmissão da psicanálise;pois se um analista se autoriza de si mesmo, o lugar dos outros, dos parese da instituição está indicado. Longe de incentivar um individualismo ilimita-do, saber-se responsável pelo “si mesmo”, implica compartilhar “com algunsoutros” nossos impasses. Assim, a pergunta a respeito do porquê lutamosestá recolocada: “como escutamos?”. O que norteou nossas escolhas? Quemfala na análise? Discutir a angústia, estabelecer sua estrutura e leitura sin-gular que a psicanálise faz do conceito, a partir de sua experiência pode nosindicar algumas sendas/veredas.

Vamos acrescentar que a citação do primeiro ato de Hamlet tambémpossibilita outra cogitação: “quem vem lá?”, a advertência invertida e só de-pois corrigida nos leva a pensar na relação entre a demanda e o desejo, doiselementos essenciais na discussão da angústia; pois nela está incluída aquestão essencial para o sujeito: qual o desejo do Outro? O que me quer?Entre muitas questões, gostaríamos de ressaltar aqui a posição de enganonecessária para que um sujeito seja escutado. Não saber quem vem lá éuma posição essencial, reconhecer o espaço de desconhecimento é funda-mental e, acrescentemos com Shakespeare, que aquele que chega, comjusta razão, está se perguntando quem o espera na torre de vigia, qual seráseu turno na madrugada que aguarda o aparecimento do fantasma /espectrodo pai, de Hamlet.

Escrevemos “justa razão”, não para justificar qualquer posição sinto-mática. Mas para ressaltar que um indivíduo organizado por seu Sinthoma,do qual ele desconhece os fundamentos, mas sofre seus efeitos, sempretem suas razões, ratio que se expressa em palavras cheias de sentido quehá por bem receber. Sem fazer juízo moral. Esta é nossa tentativa de praticaruma ética que reconhece a angústia como um sinal que faz continente tantopara analista quanto para analisante; pois nesta transferência, o desejo doanalista vai guiar a cura. Assim, um detalhe faz diferença na questão doartista: nossa relação com a castração. Não é preciso fingir, se esforçar pararepresentar um outro frente ao olhar da platéia como faz o artista. Um psica-

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nalista empresta seu corpo, sua posição, seu setting sabendo que aqueleque o procura já está antecipando (inconscientemente) quem poderá encon-trar. A começar pelo reconhecimento de que inicialmente a busca está apon-tada para um alvo muito mais genérico do que se gostaria: a transferência écom uma psicanálise instalada na cultura. Será necessário um trabalho de“instalação” singular. Então, não será preciso fazer de conta; pois um analis-ta sabe que angústia não engana e reconhecer isto, realizar este reconheci-mento será a tarefa cotidiana deste percorrido. Não é preciso bancarmos os“experts”; pois quem não se engana erra. Ter sempre certeza é tentar desco-nhecer os limites, a castração simbólica, vivenciada em seu aspecto defalta, de insuficiência imaginária. Deixar-se enganar faz parte da construçãodesta “instalação”. O engano é fundamental para que a transferência se ins-tale. Lacan dizia que a transferência é o engano amoroso necessário paraque um sujeito possa decifrar-se. Além disto, respondendo a pergunta doque se poderia esperar de uma análise, Lacan afirmou que deve se esperar omelhor. O melhor, a melhor das expectativas, neste caso está relacionadaao exercício , a tentativa de realizar um “bem dizer”, um dizer que sem querero bem do outro, sem estabelecer distinção entre o bem e o mal (pois odesejo é desmedida); possa dar “uma chance à paz” (give peace a chance).Não a paz dos cemitérios, ou o silêncio do recalque, mas um apaziguamen-to que a palavra pode trazer, depois que a angústia foi nomeada.

TÓPICOS EM PAUTA E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

As linhas acima já descrevem alguns aspectos que o tema da angús-tia possibilita abordar:

1) Inserir a elaboração de Lacan na história da psicanálise francesa noinício dos anos 60 e as correspondentes conseqüências no mundo psicana-lítico que daí advieram. Este aspecto não será contemplado neste texto.

2) As transformações na clínica: é o analista que está em posição deobjeto e não de sujeito. Ele comanda a cura, mas não orienta a consciência.Uma conseqüência disto na transferência, ao se tomar a angústia como

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estrutural, é o fato de que uma clínica não poderá mais se sustentar nadivisão outrora tranqüila (se é que houve este tempo) entre contratransferênciapara o analista e transferência para o paciente. Trata-se de uma imparidadesubjetiva, como nos ensinou Lacan no seminário sobre “A transferência”. Oque a regra da livre associação sanciona não é a existência de dois indivídu-os fazendo o exercício de uma hermenêutica a respeito da vida de um deles(o paciente). Não estamos num jogo de xadrez, onde os dois sabem asregras e podem jogar “livremente”. No máximo, podemos tomar isto comouma metáfora (e como Aristóteles já dizia, metáforas/exemplos são sempreimprecisos), ou mais uma tentativa de controlar o que acontece na cenaanalítica. Desde que Freud produziu a idéia do inconsciente como “uma ou-tra cena”, estamos diante de uma divisão irreconciliável. Esta divisão dosujeito tem como conseqüência reavaliar a experiência de análise. Bem en-tendido: historicamente, a psicanálise nasceu da escuta do desejo da histé-rica, do reconhecimento de sua divisão. A experiência analítica mostrou queo que Freud nomeou - o sonho e as formações do inconsciente -, como estaeideren scene, implica uma relação com o significante que subverte qualquerposição de mestria que o analista poderia ter (vide o erro de Breuer). Nomáximo uma douta ignorância. Como conseqüência, uma análise seráconduzida, no melhor dos casos, como algo que está estruturado pelo dese-jo do analista .

3) Em termos conceituais: explorar o tema da angústia e do desejo doOutro como uma dimensão que ultrapassa o especular. Além disto, paraconceitualizar a falta, a angústia de castração como fundamental para osujeito, Lacan vai dizer que o que angustia um sujeito, ou o que ela sinalizaé a possibilidade da falta vir a faltar. Angústia é o sinal de que aquilo quegarante o limite ao desejo do Outro, o falo em sua dimensão simbólica, podefalhar em sua função. Para demonstrar esta condição Lacan vai se utilizar datopologia para recortar o objeto como causa do desejo e simultaneamentecomo um resto irredutível da divisão do sujeito. Este resto, impossível deapreender é o mesmo objeto da pulsão, o mesmo que a pulsão contorna erecorta do corpo do sujeito; seja ele seio, fezes, voz ou olhar. Assim a pulsão

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toma uma dimensão invocante na sua relação com Grande Outro (comopodemos ver no seminário de 62/63 na abordagem da mitologia judaica como shofar), ao mesmo tempo em que supera a dimensão especular para mos-trar a divisão que no jogo do espelho, no esquema que mostra a constituiçãodo narcisismo de cada sujeito, há um resto que faz com que ver e olharsejam duas dimensões da mesma operação. O que vemos é o que nos olha.O Outro nos olha, mas seu desejo está além e aquém de nosso corpo.Colocar o corpo como resposta ao desejo do Outro é um dos efeitos denossa forma de lidar com a angústia. Cuja estrutura é a mesma do fantasmafundamental. Sujeito barrado punção de a minúsculo. ($ <> a). A um outrodesejante eu me ofereço como objeto. Angústia é sinal desta estrutura. Sinalpara o outro, sinal da heterogeneidade de nossa relação com a linguagem.Angústia é um afeto, mas um afeto primordial que sinaliza o quanto pelalinguagem estamos todos a-fetados.

Assim, podemos retomar o que escrevemos no início deste texto: odesconhecimento de saber qual a imagem que mostramos ao Outro é umadas fontes de angústia; porém há que realizar a dimensão que ultrapassa apreocupação com a imagem para reconhecer e apreender que há um restona divisão do sujeito homólogo a uma falta no campo do Outro, que nenhumsignificante poderá cobrir. Não é mais necessário o sacrifício do corpo pró-prio, nem do outro; pois a falta do Outro não pode ser recoberta totalmente,nem aplacada em sua suposta demanda de totalidade. Já pagamos com“uma libra de carne” desde o início. Já perdemos o objeto muito antes de nosdarmos conta de sua distância. Lidamos com o objeto perdido para nossaformação. A máscara tem sua importância fundamental, mas para além delahá uma dimensão do desejo que ultrapassa a persona. Na transferência, oamado (eromenos) não sabe o que o outro vê nele, assim como o amante(erastés) não sabe o que o apaixona no amado. Este não saber é o avessoda impotência, é o reconhecimento da impossibilidade, de que no fundo tra-tam-se de duas posições distintas e irredutíveis a uma só (salvo na ilusão doapaixonamento). Aqui a função da palavra: há que se nomear o Outro paradarmos conta de sua parcialidade, do recorte de seus limites. Um esclareci-

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mento: nomear o Outro requer pensarmos na dimensão significante em todasua abrangência. Ela implica um ato de nominação, mas não só isto. Fosseassim, estaríamos na posição de Adão que foi autorizado pelo criador anomear as criaturas viventes sobre a face da Terra. A descoberta da Américateve esta face também (vide Todorov descrevendo a Conquista da América):Colombo, Cabral e outros puderam nomear e homenagear seus reis e santospadroeiros ao chegar ao “Novo mundo”. Desconheciam que antes deles ou-tros povos já tinham feito estas nomeações dos animais, das plantas e dosacidentes geográficos. Para uma tentativa de superar a posição adâmica, háque considerar que o campo do Outro é o campo da linguagem que se articu-la discursivamente, onde na atualidade articulam-se dimensões do corpo, donome, da natureza e das relações com o mundo – leia-se outros e Outro.Desta articulação complexa projeta-se nossa tentativa de elaboração da an-gústia e seus desdobramentos.

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A SEGURANÇA DA ANGÚSTIAEXISTÊNCIA E SEXUAÇÃO1

Osvaldo Arribas2

Bom dia a todos. Foi muito difícil preparar a fala de hoje, porque uma e outra vez retornei ao Seminário X – “A angústia”, que me parece um dos seminários

mais interessantes de Lacan, e às vezes bastante incômodo em distintospontos. Especialmente quando se faz a leitura do quadro de dupla entradaarmado por Lacan, e os distintos comentários que vai fazendo ao propordistintas questões, partindo do escalonamento em distintos níveis: inibição,sintoma e angústia.

Ontem tive uma dor de cabeça terrível, por quebrar minha cabeça comeste quadro, e sigo tendo, mas tomei uma Aspirina, o que me permitirá tratarde esclarecer-lhes o que eu pude esclarecer para mim mesmo trabalhando,a respeito de como pude chegar a entender ou armar uma certa leitura destequadro do Seminário X, “A angústia”.

Primeiro, um comentário sobre o título deste Seminário da Fundação:“A segurança da angústia. Existência e sexuação”.

O título nos agradou e me agradou porque, justamente, resulta umtanto equivocado e admite distintas leituras. Por um lado, pode-se dizer quereúne termos antitéticos, porque, a primeira vista, “a segurança” pareceriaser exatamente o contrário de “a angústia”, enquanto a angústia remete fun-damentalmente a falta de defesa, à Hilflosigkeit freudiana, ao desamparo, aestar sem os recursos necessários frente a algo que ameaça, seja do interi-or ou do exterior. Essa ameaça a respeito da qual a angústia é sinal, é

1 Trabalho do Seminário “La seguridad de la angustia ....”, ocorrido na Fundação do CampoLacaniano. Buenos Aires – 2004.2 Analista Membro da Escola Freudiana da Argentina e Co-fundador da Fundação do CampoLacaniano.

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sempre obscura e não clara e distinta. Não é uma ameaça que seja clara-mente distinguível. Não é tão clara e distinta como a ameaça que aparece nojá tradicional apólogo de Lacan – que está no início do Seminário X – “Aangústia” –, referido à “Mantis religiosa3.”

Neste apólogo, Lacan se põe frente a uma Mantis religiosa de tama-nho proporcional ao do homem, ou seja, de um tamanho monstruoso, emque ele tem uma máscara, uma máscara que não sabe qual é, o que repre-senta, e seu temor é que a Mantis religiosa possa confundi-lo com seupartenaire sexual – que, como sabem, não tem um final muito venturoso.Então, ele desconhece a máscara que carrega, tampouco pode vê-la refleti-da, ver seu reflexo no olho facetado da Mantis religiosa. Lacan apresentaeste apólogo a fim de ilustrar a angústia como produto da sensação do dese-jo do Outro.

Poderíamos dizer que neste apólogo trata-se, mais que de uma “sen-sação”, do terror mesmo. A angústia, em geral, apresenta-se em situaçõesmais moderadas e não tão extremas, ou não tão evidentes. Por sorte não háMantis religiosas gigantes andando por aí. A Mantis religiosa é o mesmobicho que em nosso domínio chamam “Louva-a-deus”. Chamam-no assimporque dizem que quando se pergunta a ele: “onde Deus está” ? , a Mantisreligiosa inclina-se para frente e com o rabo indica o céu.

O apólogo da Mantis religiosa apresenta o enfrentamento com umOutro que significa uma alteridade absoluta e radical. Não é o caso quandose está frente a um semelhante, onde sem dúvida também está em jogo umaalteridade, mas que não se apresenta sob estas formas nítidas e extremascomo o exemplo da Matis religiosa. Neste sentido, o apólogo da Mantis é umpesadelo e representa muito mais que uma simples sensação do desejo doOutro. É mais que uma sensação, e está mais próximo do horror que daangústia. Por isso, dizia que, em relação ao semelhante, a questão não seapresenta de uma maneira tão radical e extrema, senão antes como umacor, como algo que tinge uma situação.

3 N.T. Nome científico do Louva-a-deus, inseto carnívoro que se alimenta de outros insetos.

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Parece-me um apólogo mais referido ao medo, a um medo aterrorizante,ou ao pânico mais completo. A função do medo não se limita à relação comum perigo real. É o que mostra a fobia, os medos fóbicos, em que o medo aum animal ou a um bicho qualquer pode dar segurança ao sujeito, na medidaque limita o perigo e permite proteger-se contra tal perigo.

Recordo que com uma amiga, muito fóbica a gatos, íamos ao cinemano Sha, embora sempre cheio de gatos, mas ela era cinéfila e íamosfreqüentemente ao cinema, ela simplesmente sentava-se acima da poltrona,sempre via os filmes de cócoras na poltrona pelo pânico que um gato roças-se suas pernas.

Então, o fóbico começa a angustiar-se quando em análise começa aperder seus medos, à medida que perde seus medos começa a angustiar-se.

Por que? Porque à medida que perde seus medos perde segurança, asegurança que seus medos lhe davam. Por isto é habitual que após poucotempo do começo queiram deixar de analisar-se, porque se sentem pior queantes.

Qual é a segurança da angústia? Para começar pelo final, a seguran-ça da angústia é a segurança do que não engana. Lacan define a angústiajustamente como o que não engana. Obviamente, é uma segurança quenada quer, porque essa segurança que implica a angústia, enquanto nãoengana, significa a iminência do perigo. Neste sentido, a angústia é umagarantia: não engana. É também um sinal, no sentido mesmo do signo. Emfrancês, sinal e signo diz-se da mesma forma –signe – é um sinal que garan-te que se está em perigo, inclusive ainda que não se saiba de que perigo setrata. Também é uma garantia porque não se trata do significante, sempreequívoco, não se trata de nenhuma mensagem, senão do afeto por excelên-cia que é a angústia. Ou seja, o afeto completamente desamarrado dosignificante e que é sinal, em todo caso, da presença próxima do objetoúltimo – diz Lacan – o objeto último que é Das Ding, “A coisa”. É esta pre-sença a respeito da qual a angústia dá o sinal.

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Por isto que Lacan sublinha que “a angústia não é sem objeto”, por-que se trata deste objeto último. E sublinha, ao mesmo tempo, qual é aconseqüência lógica do mesmo, “que a angústia é sem causa, mas não semobjeto”. Sem causa porque, justamente, a presença de Das Ding implica atotal disfunção da causa. Neste sentido, o “sem causa” da angústia designaa falta da falta, outra das maneiras como Lacan nomeia a fonte da angústia.Ou seja, a falta da falta é a falta da função da falta.

Parece-me que, lendo o texto de Freud – “Inibição, sintoma e angús-tia” – já há um escalonamento, uma distinção de níveis entre as diferentesdificuldades que representam em uma análise a inibição, o sintoma e a an-gústia. Com o quadro do Seminário X – “A angústia” – que está quase noinício do Seminário, Lacan escreve este escalonamento e este fluxo, estedesnivelamento em que estão implicados a inibição, o sintoma e a angústia.Lacan o faz em relação a dois eixos, um é o eixo do movimento e o outro oeixo da dificuldade.

É uma gradação porque se trata, no ponto de onde nascem o queseria a abscissa e a ordenada, do menor movimento e do menor grau dedificuldade, até chegar ao máximo grau de dificuldade e ao máximo grau demovimento. Claro que precisamos verificar o que Lacan quer dizer com movi-mento e dificuldade.

Lacan parte de um lugar claro no texto de Freud, para colocar a inibi-ção no começo como o menor movimento. Freud indica que a inibição, emgeral, é justamente detenção, freada, um ponto de detenção relacionado aofuncionamento de uma função. Por outro lado, o ponto máximo de dificulda-de e de movimento é o que corresponde à angústia. O que vai levar-nos aperguntar o que significa isto, se uma das coisas que mais comumente seescuta é que a angústia paralisa, detém.

Em relação a ambos os termos está o sintoma, que aparece aí comoum ponto médio, um ponto de equilíbrio, se se quer, ou de média, entre omáximo da angústia e o mínimo da inibição.

Participante: inaudível ….Osvaldo Arribas: … sim, poderia ser, não tomei esta via mas é uma via

possível, tem a ver justamente com o problema da distância “correta”. O que

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me parece importante da média e extrema razão – em relação com o que euvou tratar de desenvolver –, é esta questão da distância. A distância é sem-pre justa, ou necessária, ou imprescindível, ou excessiva em relação aoobjeto. E a questão é que é um problema não mensurável e difícil de ajustar.Ai está todo o problema, porque se soubéssemos que a dois metros talcoisa, a três metros tal outra, seria bárbaro e muito prático, mas, justamen-te, não há padrão.

Então, o mínimo de movimento e de dificuldade, quer dizer, o pontoonde se localiza a inibição, é o que implica o máximo grau de funcionamentoda função da falta. É em relação a isto que, próximo ao final do Seminário X– “A angústia” – Lacan coloca no mesmo lugar da inibição o desejo.

Também há um nó, que é muito complicado, no Seminário XXV – “Omomento de concluir”, ao qual se referiu Anabel Salafia no ano passado,onde justamente se enodam, no mesmo laço, pulsão e inibição. A pulsão éexatamente a atividade, é o que tira da inibição, mas, ao mesmo tempo, nãohaveria nada a inibir se não houvesse a pulsão. Então, a inibição, no sentidofreudiano, é detenção de algo que deveria andar por si só, e, se a pulsão éuma força constante, na mesma medida, a inibição também é.

Quando coloco que é o máximo grau de função da falta, me refiro aque aí há uma falta que se articula em relação a Eros, uma falta que erotiza.Entre os exemplos que Freud dá e que Lacan recorda, está o problema docaminhar, mas também está a câimbra do escritor, em que a erotização dapluma como símbolo fálico impede o ato de escrever.

Aí já se trata de que há um desejo chocando com outro, com o qual ainibição não é nem repressão nem ausência de desejo. Não é que a falta nãofuncione, em todo caso trata-se de dois desejos que lutam para passar pelamesma porta, e os dois não cabem. Neste sentido, se produz um efeito defreada, de detenção ou de união.

Então, a inibição é detenção, freio, que bem pode ser preparação eimpulso para dar o salto, e se corresponde, em meu entendimento, com amáxima distância entre o Ideal e o objeto. É o que Lacan indica como umacondição para a análise e para a interpretação, que o analista deve manter amáxima distância entre o Ideal e o objeto.

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Esta detenção, este freio, não é repressão do desejo; é uma detenção– diz Lacan – produzida pela introdução, em uma função, de outro desejodiferente daquele que satisfaz a função. Neste sentido, se diria melhor que oque falta é a repressão de ao menos um dos dois, e que há demasiadosdesejos à porta. Aí se produz algo que tranca, que trava, detém ou freia.

São dois desejos que se trancam na mesma porta, um funciona comodefesa em relação ao outro. Não se trata todavia, neste nível da inibição, dosintoma, não se trata de repressão e retorno do reprimido

Em um dos livros que estive trabalhando – “Trauma, dolo e tempo” deNorberto Ferreyra – há um desenvolvimento onde justamente a questão quese coloca é porque a inibição não é interpretável, e só alcança um plano deinterpretabilidade quando alcança nível de sintoma. Ou seja, quando há re-pressão e retorno, coisa que não ocorre na inibição. O que atua contra ainibição é a pulsão, que conduzirá, como efeito e como resultado, tanto aoato quanto ao sintoma.

No outro extremo, encontra-se a angústia, no ponto de grau máximode dificuldade e do de grau máximo de movimento, que é o ponto de graumáximo de comunicação entre o sujeito e o Outro.

Lacan coloca na primeira aula a questão da comunicação, referindo-se a angústia, o que é raro, porque Lacan não costuma falar de comunicaçãosenão para criticar a teoria da comunicação, mas neste ponto fala de comu-nicação e referindo-se à angústia.

Parece-me que este ponto de máxima angústia, de máxima dificulda-de e de máximo movimento, é também o ponto de maior comunicação por-que se trata da desaparição da diferença que singulariza o sujeito. Nessadesaparição da diferença, o que prima é o comum e, neste sentido, o comu-nicável entre o sujeito e o Outro. Não há barreiras nesta comunicação para aangústia. Não há esta barreira que implica o significante, é por isso que Lacase detém em algum Seminário, não recordo em qual, no termo traduzidocomo “facilitação”, do “Projeto”, para indicar justamente que, se bem o

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significante implica, por um lado, uma facilitação, também implica um obstá-culo. Não é a comunicação lisa e plana que encontramos na angústia.

Nesta situação, neste extremo da angústia, a falta não funciona comotal, por isso se poderia dizer que a comunicação é plena. A comunicação seproduz no mesmo sentido dos vasos comunicantes: o que se enche de umlado passa imediatamente para o outro lado, e deste modo o que se produzé um excesso. A falta se derrama e se comunica, mas não funciona comotal, porque se não há articulação da falta – facilitação e obstáculo – transborda.

Neste sentido, Lacan começa a falar da comunicação da angústiacomo um fato da experiência, e propõe uma pergunta interessante, na se-gunda aula, a respeito da angústia do analista e a angústia do paciente.Lacan pergunta: “é a mesma ?” Pergunta se a angústia do paciente e a doanalista é a mesma, e a faz em relação com esta questão da comunicação.

E Lacan diz que é raro e chamativo, porque dentro da lógica das coi-sas, dentro desta lógica da comunicação da angústia, os analistas deveriamsufocar-se na angústia, transbordar de angústia. É uma idéia do senso co-mum. Quando os leigos tomam conhecimento que alguém é analista, emseguida lhe dizem: “Ai, coitado, como deve estar!!” As pessoas pensam queele é um recipiente no qual as pessoas atiram seus baldes de angústia, e eledepois vai ao aterro sanitário e faz o que pode. E mais, em alguns casos,com algumas pessoas, em geral com aqueles que recém começaram atrabalhar, efetivamente é o que acontece; ouve-se de uma pessoa que recémcomeçou a trabalhar e que diz que não pode atender mais de um ou dois pordia porque lhe resulta insuportável, não dá para mais. Isto também se escu-ta, às vezes mesclado ou diluído no discurso de alguns analistas

Recordo que há alguns anos houve um Congresso ou umas Jornadassob o título “A angústia na direção da cura”. É um título muito complicado,porque é um equívoco, se bem se pode entender o que se quis dizer, porquea angústia não dirige nada, a angústia é antes a total falta de direção, é umadesorientação completa, e, neste sentido, é o contrário de uma direção.

ARRIBAS, O. A segurança da angústia...

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Então, se a angústia não transborda aos analistas, não é porque nãose comunique, senão, em todo caso, porque há algo que lhe põe freio, e oque lhe põe freio é o desejo do analista, a função do desejo do analista.

Participante: InaudívelOsvaldo Arribas: …. Bom, sim, ninguém pode se atirar na piscina da

angústia para dizer algo, porque aí se afoga. Neste sentido, é sempre neces-sário certa distância que, em relação à angústia, vai permitir falar. Tem rela-ção com o enquadre do dispositivo, tem a ver com a abstinência do analista,que é o que dá lugar e distância ao analista para poder intervir e não se fundircom o paciente na angústia, o que seria um problema para o analista e parao paciente, porque para afogar-se basta a si mesmo.

Então, se a angústia não inunda os analistas é pela função do desejodo analista, que é o que está em jogo na direção da cura – o desejo doanalista – e não a angústia do analista. Com a angústia fará o que pode, masnunca deve dar sinal dela, porque é o desejo do analista que dirige a cura.Insisto, a angústia não dirige nada, é o contrário.

Neste sentido, a função do desejo do analista é o que trava a transbor-dante comunicação lisa e plana da angústia. Ou seja, o analista a freia, ainterroga, pergunta por que, tenta fazê-la falar e desse modo sair dessa co-municação plena que implica a angústia em seu excesso.

Poderia-se dizer que o analista se inibe, se abstém, que por um dese-jo de “Outra coisa” se inibe ou se abstém de entregar-se a este excessocomunicativo que implica a angústia. Também se poderia dizer que se defen-de com um desejo, na medida que desejo é defesa por definição.

No Seminário XI – “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”,quando Lacan desenvolve o relativo à transferência e a contra-transferência ediscute a posição de distintos analistas, toma um trabalho de Hans Sachs,que conclui que a transferência não é outra coisa senão uma defesa doanalista. Também é o que se pode ler num suposto diálogo de Freud e Breuer,em que Freud lhe diria que não crie problemas com a gravidez de Anna O.,

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que não se assuste: “É o desejo dela, não o teu!” Freud busca aliviar aangústia de Breuer. Neste sentido, bem se poderia pensar que toda a teoriada transferência é uma defesa do analista

E Lacan não diz o contrário, não diz que não é. O que faz é assinalara outra face do que implica esta concepção, e a outra face da transferênciacomo defesa do analista é, justamente, o desejo do analista. Aqui há umaarticulação muito importante entre desejo e defesa, o desejo como defesa. Esublinho, o desejo neste sentido é defesa por definição. Por quê?

Poderia-se partir da fórmula hegeliana que Lacan toma, a qual Lacandá absolutamente outro sentido. Está na segunda aula do Seminário, ondeLacan escreve em fórmulas o desejo em Hegel e o desejo em Lacan, falandodele mesmo em terceira pessoa. Porque o desejo é defesa?

Porque se o desejo é desejo do Outro, por definição, e partimos, aocontrário de Hegel – é o ponto central – de que o Outro não é umaautoconsciência senão, pelo contrário, inconsciência radical. O desejo é odesejo de desejo, e nunca o desejo do objeto de desejo do Outro, porque oobjeto de desejo do Outro, enquanto é inconsciência radical, o Outro não osabe e, por conseguinte, não o tem. Por isto Lacan diz que a diferença entreHegel e Lacan está em que, se o Outro é autoconsciência e sabe qual é seuobjeto de desejo, estamos antes frente a definição da angústia, e nunca dado desejo.

Em Hegel – que parte da autoconsciência –, o desejo fica reduzido aalcançar o objeto do que presumidamente se trataria no Outro, mas se odesejo é desejo de desejo – inconsciência radical – o objeto nunca é alcan-çado. O desejo do Outro é um rodeio através do qual o sujeito poderá procu-rar algo a respeito deste objeto, mas nunca o objeto.

A fórmula hegeliana em Lacan, enquanto o Outro é inconsciência radi-cal, significa que não há objeto de desejo, que há objeto “causa” de desejo,e que se trata da articulação de pequenos sinais sempre enganosos, ou bemde a postiços, como diz Lacan. Uma espécie de ortopedia do objeto frente afalta de objeto, da qual encarrega-se o fantasma

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Neste sentido, a angústia é o que não engana, ao contrário destessinais enganosos, destes simulacros de objeto que procura o fantasma. Aangústia não engana, mas tampouco orienta, e em sua total desorientaçãopermite a orientação do desejo do analista. Embora o sinal da angústia pos-sa orientar o desejo do analista na direção da cura, não é o mesmo que dizerque a angústia dirige algo.

“A angústia não engana” poderia querer dizer que a angústia diz averdade, toda a verdade, e seria assim se neste ponto ainda houvesse, nesteponto extremo, alguma verdade para comunicar Mas a verdade que se trataneste ponto de dificuldade máxima e máximo movimento não é mais que averdade da castração. E a verdade da castração não é nenhuma verdade. Averdade da castração está onde falta a verdade, é um buraco. É o que fazmeio dizer a verdade, ou que a verdade não se pode dizer toda.

Neste ponto, que se pode designar como a verdade da castração,trata-se do real de uma falta. Do real de uma falta que nenhuma verdade podepreencher, e que nenhuma verdade pode dizer.

Este ponto da angústia, de máximo movimento e de máxima dificulda-de, é o ponto radical de uma verdade que inexiste, mas no sentido maisradical do termo, que necessariamente inexiste. Verdade que, no nível desintoma, se reveste de uma certa inexistência, mas esta verdade que inexisteno sintoma pode alcançar existência pela via da interpretação, e é nestesentido que algo do sintoma pode se dissolver, mas não acontece o mesmocom esta inexistência radical da verdade no ponto máximo da angústia.

Esta verdade inexistente, qual é?Compreende-se que se é uma verdade inexistente, no sentido mais

radical do termo, somente é suposta, é uma verdade suposta, e a verdadesuposta é a mais simples, a que todos supomos: que o sujeito poderia oudeveria poder conhecer seu partenaire sexual. Todos esperamos conseguirnossa meia medalha, nossa meia laranja e reconhecê-la, conhecer e reco-nhecer nosso partenaire sexual, está é a verdade que todos supomos existire que, realmente, inexiste.

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Neste sentido, o que revela este ponto máximo de angústia? O que aangústia revela neste ponto de máxima comunicação, de encontro, do co-mum entre o outro e o sujeito, que faz ao objeto último, Das Ding, “A Coisa”,etc. Revela que esta verdade é impossível, que sua existência é impossível,ou que o desejo de saber essa verdade está absolutamente proibido, nostermos de “Totem e Tabu” ou do “complexo de Édipo”.

E dizer que se trata de uma verdade impossível, quer dizer que é umaverdade que inexiste necessariamente, e que aí se trata da real impossibili-dade de escrever a relação sexual. É neste ponto mais próximo entre averdade e o real, que a verdade e o real não se confundem em absoluto,senão que se distinguem absolutamente. Por isto é que não há verdade noreal, e é por isto que, salvo para Édipo, não há nenhum desejo de saber.Ninguém quer saber nada disso. Ninguém quer saber que esta verdade inexiste,porque se vive na suposição que existe. Não há nenhum desejo de saber, einclusive Édipo, no que anima esse desejo de saber, se arranca esse desejoarrancando seus olhos. Este se arrancar os olhos é “desejo de não ver”.

Lacan situa o desejo de não ver, o desejo como defesa, no plano dainibição, no lugar da inibição. O desejo é defesa enquanto é desejo de nãover, não de ver. Ou, desejo de não saber, como o situa já no segundo nível, noplano do sintoma, em relação à comoção ou emoção, segundo a tradução.Rodriguez Ponte prefere “comoção”. A mim me parece que poderia ser, peloque suporta de golpe, mas também é emoção pelo que implica de botar parafora.

Trata-se do “desejo de não ver” e do “desejo de não saber” na colunada inibição, no patamar da inibição e no do sintoma respectivamente. Nacoluna do sintoma, Lacan coloca o que nomeia como impedimento, onde doque se trata é disto mesmo, de impedir-se ver…

Participante: Inaudível …Osvaldo Arribas: …. Absolutamente, sim. Se a angústia de castração

se faz presente e alcança seu grau máximo ante a visão da castração da

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SEÇÃO TEMÁTICA

mãe, o que o sujeito deseja é “não ver”, e a tal ponto que, justamente, o quevai fazer, se acontece ver apesar de tudo, é alucinar o que não pode ver.

Retomando, o impedimento na coluna do sintoma, mas não ao níveldo sintoma, senão no da inibição, Lacan o define como a “queda na armadi-lha da captura narcísica”, na armadilha da própria imagem.

Então, esta armadilha, esta captura narcísica, esta armadilha que é acaptura pela própria imagem, tem duas faces: é salvação e condenação parao sujeito. Por quê ? Porque, por um lado, poder-se-ia dizer que o narcisismoimplica um limite ao investimento do objeto, pelo tema da reserva libidinal. Alibido tem um limite nesta passagem até o objeto, e esse limite assegurauma diferença irredutível entre o sujeito e o objeto, e neste sentido, funcionacomo um limite à comunicação.

Fala-se da comunicação como de dois vasos comunicantes, como nocaso da angústia, o investimento narcísico, a reserva libidinal, implica umlimite estrutural para esta comunicação. E este resíduo que fica do lado dosujeito, que resta como reserva libidinal, vai ser o suporte da articulaçãosignificante, ou seja, da articulação significante no plano simbólico, e então,também a articulação da castração como normatizador. É o que Lacan de-senvolve no “Estádio do espelho”. Esta reserva libidinal vai ser o que vaipermitir logo a articulação significante e, neste sentido, a articulação docomplexo de castração.

Agora, o impedimento como sintoma não é impedir-se algo. O impedi-mento como sintoma é justamente o contrário, é não poder impedir-se, é nãopoder impedir-se ver. É não poder impedir-se esta total travessia libidinal aoobjeto.

Lacan diz: “O impedimento é impotência para sustentar o desejo denão ver”, e seu correlato, ao nível de sintoma, é um fantasma de onipotência,que recobre a impotência para sustentar o desejo de não ver. Então, a impo-tência de sustentar o “desejo de não ver” implica um fantasma de onipotên-cia no nível do sintoma, fantasma de onipotência que, a cada passo, conde-na o sujeito à impotência.

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Participante: Inaudível …Osvaldo Arribas: … Se tem a ver com isto, com entrincheirar-se em

certo fantasma de onipotência que, de certa maneira, impede absolutamentetudo ao sujeito, da mesma maneira que querer dizer tudo tem como conse-qüência a impossibilidade de dizer algo.

No quadro, Lacan vai colocando questões diferentes. Primeiro traba-lha o quadro verticalmente, como colunas. Logo diz que é um quadro dedupla entrada, onde estão estes dois eixos, da dificuldade e o movimento, eonde, então, há patamares ou níveis, além das colunas.Quando diz que é de dupla entrada quer dizer que são duas questões arespeito dos cruzamentos. Ou seja, “sintoma e sintoma do sintoma”; “inibi-ção e inibição da inibição”; e “angústia e angústia da angústia”.

No outro eixo, sintoma e angústia dão passagem ao ato no patamardo sintoma; e na coluna, sintoma e angústia nos dá acting out, para dar um

ARRIBAS, O. A segurança da angústia...

SUJEITO (Angústia) + φ

EmbaraçoO que há de mais φConceito de angústia

Passagem ao atoFantasma de suicídioLuto impossívelSolta a mão e cai de cena

Acting-outSem causa, não sem objetoNão engana: Das DingO comum entre S e AComunicação da falta

INIBIÇÃO

InibiçãoDesejo de não verDefesaAto - Certeza

ComoçãoDesejo de não saberDesconhecimento

TurvaçãoCisão de aPerder o poderQueda de potência

SINTOMA

ImpedimentoNão poder impedir-seImpotência para sustentaro desejo de não ver

SintomaDúvidaFant de onipotência

Acting-outLutoPede uma mão para nãocair da cenaMostra

INIBIÇÃO

SINTOMA

SUJEITO(Angústia) + a

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SEÇÃO TEMÁTICA

exemplo de como o leio. Há distintas articulações em relação aos eixos.Na coluna da inibição: a emoção ou a comoção, segundo a tradução.

A comoção implica que algo do saber – recordem que neste ponto trata-sedo desejo de não saber – que algo do saber comove, golpeia, ataca estedesejo de não saber, quer dizer, comove o necessário desconhecimento emque se sustenta o sujeito

Na coluna da turvação, no último patamar, se revela que, ao contráriodo que muitos supõem, saber não é poder, se não queda de potência. Norbertojá se referiu ano passado a esta crença de que “saber é poder”, mas no nívelda turvação percebe-se que saber não é poder, senão ao contrário. Por quê?

Porque comovido ou vencido “o desejo de não saber” que se localizano plano da comoção – esta comoção que implica o golpe de um saber – aonível da turvação, o que o sujeito faz é ceder algo para sustentar o Ideal aqualquer preço. Cede algo, o a, para sustentar um Ideal perturbado, golpea-do por este saber que não deseja saber. Aí o sujeito paga um preço paraseguir sustentando este Ideal golpeado. Ideal que só se sustenta no não saber.

Então, o sujeito sustenta o poder do Ideal ao preço de uma queda depotência, ao preço de uma perda de poder, da mesma forma como na mas-sa, e se poderia dizer, em uma fórmula um pouco desagradável, que, aplastadoe atemorizado pela possível queda do Ideal, se caga todo.

Neste ponto da turvação, Lacan situa, quando se refere ao obsessivo,um ponto de cisão, onde o sujeito elege ceder algo para não perder tudo,como faz a lagartixa com seu rabo, ou o “cagado nas patas” com seu peque-no montinho de merda.

Na turvação trata-se de uma queda de poder, de uma perda de potên-cia onde o sujeito cede algo e produz “um menos”, se algo resta, para sus-tentar o Ideal. No outro extremo, no nível do embaraço, ao contrário, trata-sede algo “a mais” que, não por acaso, leva Lacan a recorrer ao termo espanholembarazo, quando se trata da barra, não da barra fecal da turvação, senãoda barra que implica o falo, a criança como falo, na mulher grávida.

Ao nível do embaraço, em lugar de haver algo a menos que o sujeitocede, há algo “a mais”, algo que o sujeito soma, mas que pode resultar

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incômodo. Neste caso, trata-se do máximo de dificuldade no patamar dainibição. Este máximo de dificuldade a respeito do embaraço é o que muitasvezes colore os embaraços de uma angústia passageira, também há àsvezes uma máxima felicidade, mas o que sempre se soma é uma angústiapassageira.

No eixo da dificuldade, se designa o maior e o menor compromisso dosujeito no significante como causa do gozo, o significante fálico; enquantoque o eixo do movimento designa o insignificantizável, o que o comprometecomo desejo, o resto que anima o sujeito na via do desejo, quer dizer, oobjeto a. Não é uma distinção radical. Isto se intrinca tal como o faz noquadro, ao modo do entrelaçamento pulsional. O sujeito se joga e se articulana tensão constante entre o a e o falo, entre o objeto e o significante.

Quando esta tensão não existe, tal como sucede na angústia, não háfunção da falta. Quando falamos de identificação, temos que distinguir aidentificação imaginária, como suposta completude, da identificação simbó-lica, que é incompletude radical. Quando nos referimos à identificação napsicose, nos referimos à identificação com o falo ou a identificação com oobjeto a Ou seja, onde a criança ou bem é o falo da mãe e a completa, ou acriança é nada para a mãe, um puro objeto, um pedaço de carne que elaacaba de expulsar, um puro resto. A psicose, neste sentido, é divisão com-pleta entre falo e objeto; enquanto na neurose “não há falo sem objeto, nemobjeto sem falo”.

Em ambos os casos de psicose, se a criança é o a, ou se é o falo,não há sujeito. Neste sentido, há sujeito na tensão que implica a existênciadestes dois termos articulados por uma negação discordante.

Por isto, quando se fala em de identificação ao falo na neurose, sesubentende, se supõe que esta identificação deixa sempre um resto. Ouseja, que essa identificação não é uma identidade, que há sempre uma dife-rença que funciona como resto, e que é sempre uma identificação falha. Éneste ponto que falo e a implicam esta tensão na qual se joga a existência,a existência do sujeito.

Lacan começa o Seminário X – “A angústia” – com o gráfico do dese-jo, e no Seminário XXI “Os não-tolos erram”, diz que o gráfico é estrutural-

ARRIBAS, O. A segurança da angústia...

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SEÇÃO TEMÁTICA

mente solidário do objeto a, no que implica a pulsão e seu percurso. Comrelação à angústia, diz que o lugar da angústia é exatamente o mesmo lugardo fantasma. O lugar da angústia é o lugar do fantasma. Ou seja, a angústiabrota no lugar onde o fantasma, que sustenta o desejo, cai, desmorona. Aangústia toma ou invade o lugar do fantasma – tensão e articulação entre faloe objeto –, no ponto onde o fantasma cai, vacila ou desmorona.

Neste sentido, o que é o fantasma?Poderia-se dizer que é a tela que se separa e se sustenta pela tensão

entre o ideal fálico e o objeto. Nesta máxima distância entre o ideal e oobjeto, se sustenta esta tela onde se desprende o fantasma, onde se montaesta Outra cena em que se sustenta o sujeito.

Então, que a angústia se produza no mesmo lugar do fantasma impli-ca a queda, o desmoronamento ou a perfuração desta tela, o que permiteassim a plena comunicação, através da janela, com o que está do outrolado, sem o véu ou a intermediação desta tela.

Na aula 3 do Seminário X – “A angústia”, Lacan toma a distinção quefaz Levi Strauss no “Pensamento selvagem”, entre a razão analítica e a razãodialética, e o faz para situar a “razão psicanalítica”. Lacan propõe três tem-pos em relação a estas três razões.

Com respeito à razão analítica, o que se trata é que “Há o mundo”; emrelação à razão dialética, trata-se da dimensão da cena, da montagem domundo na cena, onde as coisas se colocam seguindo as leis do significante.Em relação ao terceiro tempo, a razão psicanalítica, toma Hamlet para situaro que chama “a cena sobre a cena”. O que significa esta “a cena sobre acena?”

Implica o sujeito e o desejo na cena onde montamos o mundo, e éneste ponto que entra em jogo a razão psicanalítica.

Neste sentido, em relação ao acting out e a passagem ao ato, se aangústia é o desmoronamento da cena relacionada com o acting out, relaci-onada com a passagem ao ato, relacionada ao máximo movimento e aomáximo de dificuldade, este movimento e esta dificuldade estão em relaçãoà sustentação desta cena onde se sustenta o desejo e que na angústia

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desmorona. O que está em questão na passagem ao ato e no acting out éesta “cena sobre a cena” que desmorona na angústia.

Neste momento, Lacan diz: “O acting out é um chamado ao Outro”, echega a dizer inclusive que é um chamado à interpretação, diferente do sin-toma que não pede nenhuma porque o sintoma é gozo por definição. Lacandiz que “o acting out é um chamado ao Outro, em que se pede uma mão paradar lugar na cena a algo que não encontra seu lugar”, que não tem lugar nacena. Há algo na cena que não entra, e o acting out pede lugar para isto quenão encontra lugar na cena. Por isto Lacan comenta os casos de cleptoma-nia. Em geral, trata-se sempre do roubo, que se apresenta de uma maneirasintomática, mas este roubo denuncia “Outro” roubo, que é o roubo que osujeito sofreu ao não poder representar ou articular, ou montar na cena, istoque é seu desejo, seu próprio desejo.

Na passagem ao ato ocorre o contrário, em que – para seguir com ametáfora da mão – trata-se antes de soltar a mão, seja a que segura o outroou a que segura um.

Lacan fala da passagem ao ato, tanto quando Freud deixa cair a aná-lise da homossexual feminina, como quando Dora dá uma bofetada no se-nhor K, ou quando a homossexual feminina se atira nos trilhos do trem e sedeixa cair. Mas trata-se de um deixar ou um deixar-se cair fora da cena, desoltar a mão e deixar ou deixar-se cair?

É neste sentido que Lacan localiza, no ponto de passagem ao ato,um fantasma de suicídio em relação à impossibilidade de um luto, quer dizer,que o luto o façam os outros Há uma impossibilidade de luto na passagemao ato que, ao contrário, no acting out pede lugar. O luto, ao nível do actingout, pede lugar, pede um espaço em que possa fazer-se. Neste sentido, oluto é possibilidade de reconhecer que o sujeito existe na divisão definitivaentre o falo e a.

Por último e para terminar, comprei este livro ontem. Não tive tempopara trabalhá-lo, pude somente folhear. Recomendo porque me parece muitointeressante. É um livro de René Guitart e chama-se “Evidência e estranhe-za”. Trata-se de um matemático que trabalha ou trabalhou com Vappereau e

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SEÇÃO TEMÁTICA

com René Lew, e faz um desenvolvimento em que trabalha a verdade emDescartes e a verdade em Freud, e o que ambas implicam de distinção earticulação.

Algo mais. Em relação à angústia que não engana e que tem a ver,não com a verdade, senão com esta verdade que inexiste ao nível do sinto-ma, trata-se da dúvida, do sintoma da dúvida, que no ponto da inibição trans-forma-se em certeza.

Lacan define o ato como arrancar da angústia uma certeza. E a certe-za não é o mesmo que a verdade, antes é uma verdade que não se sabe, éalgo que se impõe como tal sem que o sujeito saiba porquê.

Neste sentido, ter uma certeza, desconhecendo sua razão, é maisinquietante e, em algum sentido, angustiante. A certeza do ato implica estadimensão, que não é a da certeza cartesiana. A certeza freudiana não é acerteza cartesiana. E tem relação, no desenvolvimento proposto por Guitart,com esta diferença entre a concepção do que faz a verdade ou o verdadeiro,como evidente em Descartes, e como sinistro e estranho em Freud.

Paro por aqui.

Tradução: Marcia Helena de Menezes RibeiroRevisão: Gerson Smiech Pinho

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A ATUALIDADE DA NOVILÍNGUA

Juliana de Miranda e Castro1

Visitamos o mundo construído por Orwell em 1984, onde não há lugarpara o sujeito, e assistimos ao extremo de sua desresponsabilização. O cenárioé sustentado pela linguagem: a estruturação da novilíngua, como instrumentopara extirpar o sujeito da enunciação. Seus princípios baseiam-se em dispositi-vos para se produzir a demissão subjetiva, cujo efeito são enunciados que valempor si mesmos. Essa reflexão, ao nos remeter ao apontado por Czermak (2004)sobre a proliferação de textos regulamentares nos tempos de hoje, sinalizandoum esvaecimento da dimensão do Outro, indica a atualidade do panorama des-crito por Orwell.

Criada para satisfazer às necessidades ideológicas do Ingsoc [socialismo inglês], a novilíngua objetivava impossibilitar formas de pensamento divergentes de seu princípio, ou seja, tornar qualquer pensa-

mento herético impensável. Confeccionada para fornecer a expressão exatada palavra, a definição dos significados era extremamente rigorosa, elididosos sentidos implícitos e ambigüidades, a fim de garantir um acesso direto esem equivocidade. Seu escopo era diminuir a extensão do pensamento atra-vés da contração do número de palavras ao mínimo. Atenuados por eufemis-mos, os significados eram o oposto do que diziam. Por exemplo, o Minipax,Ministério da Paz, fazia a guerra; a lealdade familiar era execrada, porémchamava-se o chefe de Grande Irmão. Seu teor ideológico derivava de suaestrutura e não de seu significado. Primava-se pela eufonia associada à pre-cisão de sentido. Eram palavras pronunciadas rapidamente, com a menor re-percussão possível na mente do falante, o qual articulava-as sem ser chamadoa refletir.

Com o número de palavras reduzido e sem a possibilidade de usá-lasimpropriamente, para uma pessoa que crescesse com a novilíngua, haveria

1Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tempo Freudiano Associação Psicanalítica

CASTRO, J. M. E. A atualidade da novilíngua.

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SEÇÃO DEBATES

crimes que estariam além da capacidade de cometê-los, pois seriamimpensáveis. A Revolução completar-se-ia quando a língua se tornasse per-feita. Não haveria então pensamento, pois ortodoxia significava não precisarpensar, o alvo era a extinção do trabalho subjetivo e o banimento daenunciação. A palavra virava pura prática fonatória de uso operatório e sesubjugava voluntariamente a enunciados apresentados como livres daenunciação, à voz unificada das consignas do Grande Irmão.

Essa posição pode ser aproximada da de Eichmann, cujo crime, se-gundo Arendt (2004), foi abdicar de sua capacidade de discernimento. Elecedeu de sua posição de sujeito, resignando-se à concordância com osenunciados aos quais se curvava, aliviado, assim, do mal-estar da incertezaintrínseca de pensar e de sustentar seu desejo. Os enunciados da ciênciapermitem desconhecer a dimensão da enunciação. Com efeito, foi a promo-ção de um enunciado cuja enunciação fora apagada o que possibilitou aosnazistas se servirem da ciência racial, legitimando um enunciado assassinoem nome de um programa científico de bem-estar social.

A busca desse enunciado sem enunciação está nos princípios danovilíngua, os quais se aproximam do ideal do sistema paranóico, que visa àabolição da diferença, em uma linguagem purificada de todo equívoco. Te-mos, nos procedimentos administrativos regulados, modos bem instaladosna vida pública que permitem, a cada um, substituível e inespecífico, o alívioda responsabilidade do ato próprio, como se fosse possível uma transparên-cia generalizada. Há, na proliferação de textos regulamentares, cuja lingua-gem administrativa tenta esvaecer a dimensão do Outro, sinais do fracassode uma lei simbólica que assegure ao sujeito uma relação pacífica com ooutro. Vivemos um totalitarismo quase imperceptível, soft, segundo Czermak(2004), sob o ideal de um grande texto universal que regularia um gozo pla-netariamente idêntico e fraternamente repartido. Temos, como conseqüênci-as disso, os movimentos totalitários e fanatismos, bastante atuais. São tex-tos imperativos e sem endereçamento, valem para todos e para cada um,entretanto, devem ser cumpridos de maneira absoluta.

Há um falar para não dizer, no qual a falsificação da verdade é um

41C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

instrumento natural – testemunhamos modificações da língua, como, porexemplo, crescimento negativo para camuflar ‘diminuição’ e reengenhariapara dissimular ‘demissão de pessoas’. O formal não é, portanto, inócuo.Sua essência é poder descrever um número específico de relações. Assisti-mos, no vaticínio de Orwell, a um mundo drasticamente higienizado da dife-rença, a qual retorna violentamente na voz imperativa do Grande Irmão. Abase dessa elisão da alteridade está no extremismo da construção danovilíngua. Esta restringe a quantidade e a qualidade das operações quepodem ser traçadas ou, indo mais adiante, que podem existir. Trata-se deextirpar o sujeito da enunciação em prol de puros enunciados. Na radicalidade,restringindo-se o que pode ser dito, controla-se o pensamento: o que nãotem palavras não pode ser concebido, pois o que não é nomeado não existe.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:ARENDT, H. – Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal.

Trad.: Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.CZERMAK, M. – A psicanálise é um trabalho de leitura. In: Tempo Freudiano – A

clínica psicanalítica e as novas formas do gozo. Rio de Janeiro: TempoFreudiano, 2004.

_________ – O fim do texto? In: Tempo Freudiano – A clínica psicanalítica e asnovas formas do gozo. Rio de Janeiro: Tempo Freudiano, 2004.

ORWELL, G. – 1984. Trad.: Wilson Velloso. São Paulo: Nacional, 2005.

CASTRO, J. M. E, A atualidade da novilíngua.

42 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

RESENHA

CENAS DA INFÂNCIA ATUAL: AFAMÍLIA, A ESCOLA E A CLÍNICA

GURSKI, Roselene; DALPIAZZ, Sonia; VERDI, Marce-lo Spalding. (Org.). Cenas da infância atual: a família,a escola e a clínica. Ijui; Universidade Regional doNoroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 2006.

Há cerca de, mais ou menos, 300 anos ainfância deixou de ser apenas o períododa vida cuja passagem deveria ser o mais

breve possível. Não somente pelo período de tem-po que ocuparia na vida de cada um, porém, princi-palmente, porque até aquele momento, não haviareconhecimento e nem compreensão de que alguma operação psíquica po-deria estar ali ocorrendo, muito menos a importância que teria para o futurosujeito e para o laço social. Não seria exagero dizer que a infância nãoexistia.

Nesses três séculos, felizmente, muita coisa mudou e muitos avan-ços, naturalmente, relativos à infância ocorreram. De qualquer forma temosque continuar avançando na compreensão desse momento constitutivo davida, do qual temos ainda muito que apreender. Saudemos então asobras que a um só tempo nos revelam novas facetas deste período ao mes-mo tempo em que permitem questionar nossas certezas. Período este queabarca não somente a infância, mas que diz respeito igualmente a todoinfantil da constituição do sujeito.

E neste sentido que se insere a recente publicação, Cenas da Infân-cia Atual: a família, a escola e a clínica (Editora Unijuí, 2006, resultado da IJornada da Clínica Maud Mannoni, de Porto Alegre, realizada em 2003.

Como é percebido o infantil hoje, que lugares ele ocupa no imagináriocoletivo e com que roupagens ele se apresenta?

Cena um: Maud Mannoni, expoente da psicanálise francesa, cujo nomeinspirou a clínica porto-alegrense, esteve e está para a infância na dupla

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RESENHA

vertente que questionou muito do que se sabia sobre a psicanálise infantil,ao mesmo tempo em que produziu novos saberes e interrogantes. Bastalembrar sua criação bastante difundida, a Escola Experimental de Bonneuil,da qual este livro traz referências e que apresentam com precisão, como aEscola se constituiu caracterizando esta experiência como um marco para apsicanálise com crianças.

Cena dois: As próprias cenas. Estas, contém os lugares por onde oinfantil circula como produtor de algumas outras cenas e igualmente sendoproduzidos por elas. Não são cenários. Ultrapassam esta dimensão e ser-vem de pilares para a ocorrência da experiência da infância, como a família,a escola, e o mundo.

Cena três: A família. Muitas são as opiniões que envolvem esta estru-tura tão necessariamente presente na vida humana. As transformações quenela ocorreram, mesmo que tenham sacudido suas bases tradicionais, nãoforam suficientes para diminuir sua consolidada importância. Neste sentidoos artigos que são temas deste livro, não negligenciaram os novos arranjosfamiliares, suas novas configurações e os efeitos decorrentes que esta rou-pagem nova trouxe a esta velha conhecida. Os textos questionam ainda, oque se pode esperar desta intrincada conjugação de amores e dissabores,sabendo-se que no tempo da infância incide de forma mais contundente asesperanças e as apostas dos adultos? Apostas estas, onde está depositadatoda a sorte de esperanças em uma tentativa de antecipação e garantiadeste investimento atual no futuro. Contudo, talvez seja essa posição que,paradoxalmente, deixe as famílias mais atônitas e perdidas, já que nadaestá garantido a priori.

Cena quatro. A Escola. Por muito tempo considerado o lugar de soci-alização por excelência, onde ocorreria a transição entre o ambiente familiar,mundo. Fonte de transmissão e conhecimento, a escola está, já há algumtempo, numa posição extremamente incômoda, possivelmente em decor-rência da expansão de demandas endereçadas a ela, como por exemplo,exercer a autoridade que os pais não mais conseguem mais desempenharfrente aos filhos. Mas não é só isto. Por muito tempo a Escola seguiu um

44 C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

RESENHA

modelo rígido de funcionamento seja pedagógico e/ou ideológico que lheassegurava uma situação muito peculiar e centralizadora. Isso lhe acarretouuma espécie de engessamento que lhe tirou mobilidade. As chamadas mu-danças sociais ocorreram em alta velocidade, dificultando a adequação àsnovas funções que a Escola deveria desempenhar. Inúmeras razões contri-buíram para isto, desde problemas de formação dos profissionais que nelatrabalham, até o efeito provocado pela própria realidade capitalista na qualestamos todos inseridos. Sendo assim, a educação é um negócio e deve serregido como tal? A ameaça deste novo paradigma desestabilizou sobrema-neira a posição que a Escola enquanto instância formadora de sujeitos ecidadãos, o que lhe conferiu uma posição extremamente frágil e delicada,não sabendo como lhe cabe agir e a que valores deve atender. A tradição nãoserve mais como modelo para transmissão de valores importantes para con-solidação subjetiva, e as alternativas propostas ainda necessitam de umcerto tempo para terem seus efeitos postos à prova. Que dispositivos seriamnecessários serem postos em prática hoje para acharmos uma justa medida?

Cena cinco. O mundo. A infância e seu entorno, nestes 300 anos,ampliou em muito suas perspectivas. Por um lado, sofreu as transformaçõespelas quais o mundo passava e por outro, transformou-o também. Estastransformações não ocorrem sem dificuldades. Neste processo, desdobrou-se perspectivas que podem privilegiar aspectos bastantes promissores. Umdeles é a criação de um mundo que se volta seu interesse para infância. Suaatenção principal deveria consistir em se permitir ser e/ou dar um suportepara que a aposta primordial possa existir nas suas melhores possibilida-des, uma vez que sabe-se que ela é decisiva para garantir que haja algumfuturo para o adolescente ou adulto, enquanto sujeitos. Embora, tenhamosque nos contentar em não saber nada antecipadamente sobre ele, o futuro eos cidadãos inseridos neles. Por outro lado, desdobraram-se também as-pectos não tão promissores. As crianças em geral, e a infância em particu-lar, são disputadas com uma avidez sem fim, provocando muita confusão ealguns malefícios também. Talvez o terreno da infância tenha que ser explo-rado com mais cuidado que tem sido até então para não interromper o fluxo

45C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

RESENHA

produtivo que as alterações dos olhares sobre a infância provocaram, e trans-formarem as crianças ou a infância em mais uma mercadoria corrente.

As preocupações presentes nesta publicação acertam no alvo. Afinal,não temos respostas prontas para muitas perguntas que concernem aosadultos, por que deveríamos ter para a infância?

Sabemos que muitos livros originam bons filmes e belas imagens.Neste caso, o contrário ocorreu. O livro Cenas da Infância foi originado atra-vés das imagens que a infância suscitou em seus autores. Propuseram apartir dai questões imprescindíveis a todos os que se ocupam e se preocu-pam com ela. Se o final do filme da infância será feliz, obviamente, nãopodemos garantir, mas podemos contar com belo início.

Boa leitura!

Otávio Augusto Winck Nunes e Rossana Stella Oliva.

C. da APPOA, Porto Alegre, n. 155, março 2007.

AGENDA

MARÇO – 2007

PRÓXIMO NÚMERO

Reunião da Comissão de Eventos

Dia Hora Local Atividade

05 e 12 Reunião da Comissão de Aperiódicos

Sede da APPOA

Reunião da Comissão da Revista

CLÍNICA, PESQUISA E INTERVENÇÃO

12 e 26 Reunião da Comissão do Correio

01,08, 1522 e 2908 e 22

19h30min

15h15min

Sede da APPOA

Sede da APPOA

Reunião da Mesa DiretivaSede da APPOA

Sede da APPOA

21h

8h30min

20h30min

02, 09, 16,26 e 30

Dia Hora Local Evento23 19h30min Sede da APPOA Assembléia Geral24 9h Santander Cultural Jornada de Abertura Angústia

Revista da APPOAe Correio da APPOAconecte-se com os temas e eventos

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Data: ______/_____/2007

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O MAIS NOVO LANÇAMENTODA APPOA:

REVISTA N°31: FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE

EDITORIALTEXTOS

Conceitos em psicanálise e fundação de um campo – Ana Costa

O equilibrium do desejo do analista – Siloé Rey

O infantil na transferência – Gerson Smiech Pinho

A transferência e o desejo do professor – Rosana de Souza Coelho

Sobre determinação – Maria Ângela Bulhões

Escrita da utopias: litoral, literal, lutoral – Edson Luiz André de Sousa

O texto que não cabe na página – Fernanda Pereira Breda

Notas da pulsão – Heloisa Helena Marcon

Afânise – Ligia Gomes Víctora

A agressividade nos limites da linguagem – Luís Fernando Lofrano deOliveira

Estranha vagância na língua – Marta Pedó

O que funda o sujeito – Carmen Backes

e n e a o t i l – Otávio Augusto Winck Nunes

RECORDAR, REPETIR, ELABORARSobre a significação psicológica da negação em francês –

J. Damourette e Ed. Pichon

ENTREVISTA

VARIAÇÕESA Psicanálise entre o peso e a leveza – Abrão Slavutzky

ANGÚSTIA

N° 155 – ANO XIV MARÇO – 2007

EXPEDIENTEÓrgão informativo da APPOA - Associação Psicanalítica de Porto Alegre

Rua Faria Santos, 258 CEP 90670-150 Porto Alegre - RSTel: (51) 3333 2140 - Fax: (51) 3333 7922

e-mail: [email protected] - home-page: www.appoa.com.brJornalista responsável: Jussara Porto - Reg. n0 3956

Impressão: Metrópole Indústria Gráfica Ltda.Av. Eng. Ludolfo Boehl, 729 CEP 91720-150 Porto Alegre - RS - Tel: (51) 3318 6355

Comissão do CorreioCoordenação: Gerson Smiech Pinho e Marcia Helena de Menezes Ribeiro

Integrantes: Ana Laura Giongo, Ana Paula Stahlschimidt, Fernanda Breda, HenrieteKaram, Liz Nunes Ramos, Márcio Mariath Belloc, Maria Cristina Poli, Marta Pedó,

Norton Cezar Dal Follo da Rosa Júnior, Robson de Freitas Pereira,Rosane Palacci Santos e Tatiana Guimarães Jacques

ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DE PORTO ALEGREGESTÃO 2005/2006

Presidência: Lucia Serrano Pereira1a Vice-Presidência: Ana Maria Medeiros da Costa

2a Vice-Presidência: Lúcia Alves Mees1a Secretária: Marieta Madeira Rodrigues

2a Secretária: Ana Laura Giongo e Lucy Fontoura1a Tesoureira: Maria Lúcia Müller Stein

2a Tesoureira: Ester TrevisanMESA DIRETIVA

Alfredo Néstor Jerusalinsky, Ângela Lângaro Becker, Carmen Backes,Edson Luiz André de Sousa, Ieda Prates da Silva, Ligia Gomes Víctora,

Maria Auxiliadora Pastor Sudbrack, Maria Ângela Cardaci Brasil,Maria Beatriz de Alencastro Kallfelz, Maria Cristina Poli, Nilson Sibemberg,

Otávio Augusto Winck Nunes, Robson de Freitas Pereira e Siloé Rey

Capa: Manuscrito de Freud (The Diary of Sigmund Freud 1929-1939. A chronicle of events in the last decade. London, Hogarth, 1992.)Criação da capa: Flávio Wild - Macchina

S U M Á R I O

EDITORIAL 1NOTÍCIAS 2SEÇÃO TEMÁTICA 14ANGÚSTIA OU ALÉM DA MÁSCARAQUE O OUTRO VÊRobson de Freitas Pereira 14A SEGURANÇA DA ANGÚSTIAEXISTÊNCIA E SEXUAÇÃOOsvaldo Arribas 21

SEÇÃO DEBATES 39A ATUALIDADE DA NOVILÍNGUAJuliana de Miranda e Castro 39

RESENHA 42CENAS DA INFÂNCIA ATUAL: A FAMÍLIA,A ESCOLA E A CLÍNICA 42

AGENDA 46