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EDITORIAL TAPETE VERMELHOacil.com.br › uploads › revista › MercadoemFoco-21...EDITORIAL Mercado em Foco é uma publicação da Associação Comercial e Industrial de Londrina

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  • EDITORIAL

    Mercado em Foco é uma publicação da Associação Comercial e Industrial de Londrina. Distribuição gratuita. Correspondências, inclusive reclamações e sugestões de reportagens, devem ser enviadas à sede da Associação ou pelo e-mail [email protected]

    DIRETORIA DA ACIL – GESTÃO 2014/2016

    Fundada em 5 de junho de 1937

    Rua Minas Gerais 297 – 1º andarEd. Palácio do ComércioLondrina (PR) – CEP 86010-905Telefone (43) 3374-3000Fax (43) 3374-3060E-mail [email protected]

    Valter Luiz OrsiPresidenteRogerio Pena ChinezeVice-PresidenteFabricio Massi SallaDiretor SecretárioAlexandra de Paula Yusiasu dos Santos2º Diretor SecretárioRodolfo Tramontini ZanluchiDiretor FinanceiroAngelo Pamplona da Costa

    2º Diretor FinanceiroFernando Mauricio de MoraesDiretor ComercialMarcus Vinicius GimenesDiretor IndustrialMarcia Regina Vieira Mocelin ManfrinDiretor de ServiçosClaudio Sergio TedeschiDiretor de Comércio InternacionalLuigi Carrer FilhoDiretor de Produtos

    Adelino Favoretto JuniorDiretor Institucional

    CONSELHO DELIBERATIVOAry SudanCarlos Alberto Dorotheu MascarenhasEduardo Yoshimura AjitaFlávio Montenegro BalanGeorge HiraiwaHerson Rodrigues Figueiredo Jr.

    José Augusto RapchamKatsumi Sergio OtaguiriLuiz Carlos I. AdatiNivaldo BenvenhoOswaldo PitolPaulo Fernando OzelameWilson Geraldo Cavina

    CONSELHO FISCAL

    TitularesAdoniro Prieto MathiasMarcus Vinicius Bossa GrassanoRafael de Giovanni Netto

    SuplentesCarlos Alberto de Souza FariaRafael LopesRogério Silvano da Silva

    Paulo BriguetCoordenaçãoSusan Naime e Vinicius BersiEdiçãoJosoé de CarvalhoFotografiaThiago MazzeiProjeto gráfico

    Diego Rigon MenãoSuperintendenteClaudia Motta PechinGerente ComercialBarbara Della LiberaAnalista de Marketing

    ColaboradoresFelipe Brandão

    Isabela NicastroMarco FeltrinMichelly MassaMuriel Amaral

    ImpressãoMidiografTiragem8 mil exemplares

    TAPETE VERMELHODiariamente os auditórios da ACIL recebem os mais diversos segmentos da sociedade: empresários, trabalhadores, professores, estudantes, políticos, artistas, intelectuais, religiosos, ativistas – numa palavra, cidadãos. Durante a ditadura, a ACIL acolheu em sua sede movimentos que lutavam pela democracia e contra o regime autoritário; já na democracia, foi a casa das grandes lutas contra a corrupção. Ao longo dos seus 77 anos, a Associação Comercial e Industrial de Londrina se transformou em um símbolo do debate livre e democrático em nossa cidade.A placa que fica na entrada da ACIL diz o seguinte: “Aqui são bem-vindos os que sonham em fazer. E que fazem o que sonham”. É por isso que a ACIL apoia decididamente os empreendedores de nossa cidade. Dos nossos 2.500 associados, cerca de 1.800 são micro ou pequenos empresários. E são justamente os pequenos – maiores geradores de empregos – que estamos defendendo ao simplificar a lei do EIV (estudo de impacto de vizinhança). É preciso lembrar: sem empreendimentos, não existe vizinhança.

    “Aqui são bem-vindos o que pensam a cidade. E que pensam na cidade.” Nós pensamos no futuro da cidade quando tentamos fazer de Londrina um lugar que receba bem os investidores. “Aqui são bem-vindos os que trabalham e amam. E os que amam o trabalho.” É por isso que estamos trabalhando para simplificar as leis dúbias que existem em nossa cidade e para ampliar a Sala do Empreendedor em Londrina. Lá o pequeno empresário, que ama trabalhar por nossa cidade, será recebido com tapete vermelho, assim como devem ser recebidos os médios e grandes investidores. Todos merecem respeito. Devemos, sim, estender o tapete vermelho aos empresários – e cuidar para que os mal-intencionados não o puxem.“Aqui são bem-vindos os que acreditam e lutam. E os que acreditam na luta.” Na ACIL, os lutadores que ajudam a desenvolver nossa cidade recebem cursos de capacitação gratuitos, serviços de consultoria e acesso ao crédito com juros mais baixos. Isso é acreditar na luta dos bons londrinenses.

    Poderíamos citar muitas outras ações, mas encerramos com mais esta mensagem aos visitantes do Palácio do Comércio: “Aqui são bem vindos os que fazem bem. E os que fazem o bem. Você está na ACIL. Você está no coração de Londrina. Sinta-se em casa”.

    Valter Luiz OrsiPresidente da ACIL

  • Agenda outubro 2014

    FINANÇAS GESTÃO DE RH DIVERSOSMARKETINGATENDIMENTO E VENDAS WEB

    • Apuraçãodoimposto,Categoriasespeciaisdetributação:diferimentototal,diferimentoparcial,isenção,imunidade,não-incidência,basedecálculoreduzida,suspensão,Operaçõescomprevisãolegal

    AssociadosdaACILR$ 195,00NãoassociadosR$ 250,00

    Assistente Financeiro: Formação e Atualização – 3ª EdiçãoThiago Terzoni24 e 25 de outubroDia 24 – 19h às 23h Dia 25 – 8h30 às 12h e das 13h às 17h30 • Contabilidadefinanceira• Finançascorporativas• Gestãodecustos• Classificaçãodecustos• Matemáticafinanceira• Funçõesdoprofissionalnaárea

    financeira• DemonstraçõesfinanceirasNãoassociadosR$ 300,00AssociadosACILR$ 250,00

    Como vender com qualidade no varejoSilvana Oliveira27 e 28 de outubro19h às 23h• Inovaçãoeatendimento–odesafiodo

    século• Oquemotivaocomportamentodo

    cliente?• Açõesestratégiasparafortalecera

    relaçãocomocliente• AimportânciadaVendaConsultiva• FasesdaVendaNãoassociadosR$ 152,00AssociadosACILR$ 76,00

    Saiba mais:[email protected] ou3374.3082 com Tatiane Goes:[email protected]

    Associação Comercial e Industrial de Londrina Rua Minas Gerais, 297, 1º andar, Londrina, PR

    Av. Saul Elkind, 1820 | Regional Nortewww.acil.com.br Curta

    ABRASEL NORTE DO PARANÁCURSO DE BOAS PRÁTICAS E HIGIENIZAÇÃO NAS MANIPULAÇÕES DE ALIMENTOS28,29e30deoutubro13h30às17h30Local:BlueTreePremiumAv.JuscelinoKubtischek,1356Informações:33270202Nãoassociados:R$100,00AssociadosACIL:R$70,00

    Atendimento que vendeSheila Dal Ry06 de outubro19h às 23h• Comoestáoatendimentodaminha

    empresa?• Técnicaseestratégiasdeatendimento• Passoapassodamelhoriadoseu

    atendimentoNãoassociadosR$ 65,00AssociadosACILR$ 32,00

    Técnicas de cobrança: como cobrar e receber dívidasBraz Ismael Vendramini06 a 08 de outubro19h às 23h• Relacionamentocréditoecobrança• Cartadecobrançacomotorna-losmais

    eficazes• Comoobtermaioresresultadosnas

    cobrançasdeclientesinadimplentesNãoassociadosR$173,00AssociadosACILR$ 86,00

    Venda valor e não preçoNatasha Bacci20 de outubro19h às 23h• Comoprovarquesuasoluçãovalemais

    doqueasdoconcorrente• Saiadoscomparativosdepreços• Aproveiteorelacionamentocomo

    clienteNãoassociadosR$ 65,00AssociadosACILR$ 32,00

    Intensivo Em ICMS Paraná – Teoria e Prática - 4ª EdiçãoRosângela Aparecida da Silveira21 e 22 de outubro19h às 23h• Fatogerador,Basedecálculo–

    determinação,Créditosdoimposto,Documentosfiscais,Identificaçãodoscamposdosdocumentosfiscais

    • Análisedeerrosnopreenchimentodosdocumentosfiscais

    • Escrituraçãofiscal(livrosfiscaisesuasfunções)

    • Análisedeescrituraçõeseidentificaçãodeerros

    Opinião do associado

    Cleise Erica dos Santos e Souza, gerente de uma das unidades da Bolivar Calçados: Tanto os novatos como os veteranos aproveitaram a experiência. Percebi mudanças na postura dos colaboradores menos experientes no dia seguinte ao curso. Já nós veteranos aproveitamos para refletir sobre pontos que acabam se perdendo no dia-a-dia. O curso in company foi fantástico porque todos os colaboradores se conhecem e se sentiram mais à vontade para contribuir com o treinamento. Além disso, só tratamos de questões que interessam à nossa empresa.

  • Associação Comercial e Industrial de Londrina 5

    RIGOR COM FEIRAS ITINERANTESFeirantes terão que comunicar órgãos fiscalizadores sobre evento ................................... 9

    INCENTIVO CULTURAL E ESPORTIVOEmpresários podem dar uma boa destinação aos impostos .................................................... 10

    NEGÓCIOSQuando o outsourcing vale a pena .................................... 14

    CONTRA O MALFEITOLei Anticorrupção responsabiliza empresas .................... 16

    EDUCAÇÃO CORPORATIVAEmpresas juniores e o desenvolvimento do espírito empreendedor ................................................... 18

    PERFILRoberto Alcântara e a arte de nascer de novo ....................... 30

    REPOSICIONAMENTO EMPRESARIALMudar para não morrer ......................................................... 32

    ARTIGOVocê precisa do seu cliente mais do que imagina ................. 34

    COLUNA DA ACILAML e ACIL, de mãos dadas por Londrina ............................ 41

    ÍNDICE

    22

    REPRESENTATIVIDADE POLÍTICAA importância de votar em candidatos comprometidos com os problemas da cidade

    26

    SOTAQUES DO COMÉRCIO Várias culturas formam a identidade do varejo

    38

    DESIGN ESTRATÉGICO Como desenhar o sucesso do seu empreendimento

    MÃOS UNIDASEntidades se dão as mãos e pedem eficiência

    6

  • 6

    PÉ VERMELHOMÃOS UNIDAS

    Por Paulo Briguet

    Ao completar 80 anos, Londrina olha para o seu passado e descobre que o futuro depende de uma palavra: união. Quando mil pessoas se deram as mãos e gritaram “Viva Londrina!”, na posse da diretoria da ACIL, a cidade percebeu estar vivendo um novo tempo. Tempo em que o “nós” está à frente do “eu”. Tempo em que as coisas que nos unem superam as coisas que nos separam. Tempo de paz e colaboração. Tempo de seguir o exemplo dos pioneiros londrinenses. Naquele instante, nascia o movimento Pé Vermelho Mãos Unidas – e esse espírito de união já está mudando a história da cidade. A propósito, impossível não mencionar também as palavras do arcebispo Dom Albano Cavallin e do pastor Messias Anacleto Rosa durante a posse da ACIL. Ambos subiram ao palco da solenidade juntos, o que levou o arcebispo emérito a dizer: “O mundo está

    VIVA A UNIÃO DE LONDRINA!Entidades locais buscam soluções para a cidade e se manifestam em defesa da livre iniciativa. É tempo de unir forças e construir uma sociedade de confiança, com base no respeito às leis e no valor do trabalho

    Para derrubar um reino, e muitos reinos, onde há desunião não são necessárias baterias, não são necessários canhões, não são necessários trabucos, não são necessárias balas nem pólvora. Basta uma pedra. Para derrubar um reino, e muitos reinos, onde falta união não são necessários homens, nem um homem, nem um braço, nem uma mão. Nós temos muito boas mãos, e o sabem muito bem nossos competidores; mas, se não tivermos união, nem eles haverão mister mãos para nós, nem a nós nos hão de valer as nossas.

    (Padre Antônio Vieira, 1662)

    mudando para melhor. Vocês repararam o que acaba de acontecer: um pastor evangélico servindo de apoio para um bispo católico idoso? São lições ecumênicas que ressaltam a importância da unidade no mundo”. Dom Albano foi aplaudido com grande entusiasmo. Acolhido da mesma forma, o pastor Messias pontuou sua bênção citando o salmo 133: “Ó quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união”. As mãos unidas por Londrina retumbaram em grande aplauso. E esse aplauso

    setembro de 2014 | www.acil.com.br

  • Associação Comercial e Industrial de Londrina 7

    A IDEIA É FAZER COM QUE CADA LONDRINENSE DÊ UM PRESENTE PARA A CIDADE NA FORMA DE UMA AÇÃO CONCRETA”

    ecoa até hoje na consciência dos londrinenses – levando-os a transformar o sentimento em ações concretas pelo bem da cidade. Em 1662, um padre jesuíta chamado Antônio Vieira fez um de seus magníficos sermões, que lhe valeram o título de “Imperador da Língua Portuguesa”. Trata-se do Sermão do Santíssimo Sacramento, também conhecido como Sermão da União. Na homilia, Vieira afirmava: “Toda a vida (ainda das coisas que não têm vida) não é mais que uma união. Uma união de pedras é edifício: uma união de tábuas é navio: uma união de homens é exército. E sem essa união, tudo perde o nome e mais o ser. O edifício sem união é ruína: o navio sem união é naufrágio: o exército sem união é despojo. Até o homem (cuja vida consiste na

    união de alma e corpo) com união é homem, sem união é cadáver. Oh! Deus! Oh! Homens! Que a vossa união vos há de conservar, e só a vossa desunião os pode perder”.

    Logo ao tomar posse, o primeiro ato do novo presidente da ACIL, Valter Luiz Orsi, foi chamar as entidades londrinenses para criar o movimento Pé Vermelho Mãos Unidas. “Com a união de todas as entidades, vamos criar um canal de comunicação para a cidade”, diz Orsi. “Cada pessoa e instituição poderá contribuir com a sua expertise para resolver as questões que nos afligem há tanto tempo. Não adianta ficar só reclamando do poder público. Temos, sim, que lutar pela eficiência da Prefeitura, mas ao mesmo tempo precisamos mostrar o que nós mesmos podemos realizar em prol de Londrina”, completa o presidente. A ideia é fazer com que cada londrinense

    dê um presente para a cidade na forma de uma ação concreta. “Vamos registrar todos os presentes que a população vai dar para Londrina e criar uma grande corrente do bem. É algo semelhante ao que dizia John Kennedy: não devemos perguntar o que a nossa cidade pode fazer por nós, mas o que nós podemos fazer por nossa cidade.”O primeiro teste para a união da sociedade civil aconteceu no final do mês de julho, quando dois promotores locais entraram com uma ação civil pública acusando oito cidadãos londrinenses de improbidade

    CANAL DE COMUNICAÇÃOE BANCO DE IDEIAS

    “ “Leis mal redigidas, confusas e dúbias devem ser modificadas pelo poder competente, e não utilizadas para engessar a sociedade.

    (Manifesto em Defesa de Londrina)

  • 8

    administrativa no caso da construção do City Shopping, na Rua Benjamin Constant, centro da cidade.Representantes de cinco entidades locais – ACIL, Sociedade Rural, Clube de Engenharia e Arquitetura, Secovi e Sinduscon – estudaram detalhadamente as 50 páginas do processo e, com a assessoria de uma equipe jurídica, escreveram o Manifesto em Defesa de Londrina, publicado na imprensa local. O texto critica o açodamento e os objetivos midiáticos na ação referente ao City Shopping. “Ao longo das últimas décadas, sempre apoiamos o Ministério Público nas ações que beneficiam a cidade. Neste caso específico, houve exagero e exposição desnecessária de pessoas que sempre atuaram em benefício da cidade”, observa Valter Orsi. O Manifesto em Defesa de Londrina foi, ao mesmo tempo, um divisor de águas na história e uma prova de que as instituições estão unidas em favor do desenvolvimento social, econômico e político da cidade. “Em uma sociedade democrática, não existem setores acima da crítica ou infalíveis”, diz o empresário Cláudio Tedeschi, diretor da ACIL. “Precisamos criar um ambiente favorável aos empreendimentos em Londrina. Nossa cidade não pode ficar conhecida como o local que afugenta e persegue os empresários e investidores.”Em nenhum momento, as entidades defenderam o desrespeito às leis ou a prática de atos ilícitos. Trata-se apenas de apontar dubiedades e contradições na legislação atual, que acabam por engessar a atividade empresarial e mesmo a administração pública na cidade. A presidente do Clube de Engenharia e Arquitetura de Londrina, Maria Clarice de Oliveira Rabelo Moreno, ressalta que a construção do City Shopping só trouxe benefícios à população. “Houve a troca de um lugar com uma edificação sem manutenção, sem valor histórico, sem uma arquitetura que pudesse ser valorizada, por uma construção moderna, uma loja que está revitalizando o centro,

    A questão dos EIVs (estudos de impacto de vizinhança) é outro debate que reforça a necessidade da união social para o desenvolvimento da cidade. A Prefeitura de Londrina elaborou um projeto, de inspiração liberal, para desburocratizar o EIV na cidade. Se a nova lei for aprovada pela Câmara, micro e pequenas empresas estarão dispensadas de elaborar o estudo – que, diga-se, é um serviço prestado por empresas privadas e custa caro. Consequência direta da união das entidades locais, o projeto que simplifica o EIV vai beneficiar pequenos investidores que geram renda e benefícios para as comunidades locais. “É preciso entender que sem empreendimentos, não existe vizinhança. O bem-estar da comunidade

    inibindo o ponto de prostituição e drogas que havia no local”, comenta a engenheira. “Certamente o benefício à população é grande! Os que são contrários à atual edificação já pensaram em perguntar aos londrinenses, especialmente aos moradores e usuários do centro, se eles prefeririam que ficasse como estava ou como está hoje?”Inúmeras construções de Londrina – inclusive prédios públicos – encontram-se hoje sem alvará. A engenheira Maria Clarice diz que é necessário ter razoabilidade quando se trata o assunto. “Imagine se mandássemos demolir 100% das construções sem alvará, que tenham sido edificadas corretamente ou não?” A resposta é simples: se o fundamentalismo jurídico prevalecer, pouca coisa sobraria em pé na cidade. O Ministério Público – instituição da maior importância para a sociedade democrática – precisa estar atento a essa realidade.

    SEM EMPREENDIMENTOS, NÃO HÁ VIZINHANÇA depende diretamente dos investimentos

    feitos pela iniciativa privada”, comenta Valter Orsi. Grandes empresas continuarão tendo que fazer o EIV – e respeitar as rigorosas legislações ambientais já existentes. Mas o estudo não precisará mais ser realizado pelo padeiro, o açougueiro, o mecânico, o dono de bazar... É uma questão de bom senso. Uma causa que une a sociedade. Virão outras. Viva Londrina!

    setembro de 2014 | www.acil.com.br

    “ “

    Diante das dificuldades e escândalos que mancharam no passado a nossa menina moça Londrina, o recado de Deus é este: ‘Eu criei e abençoei a ACIL e espero que ela e cada cidadão londrinense sejam eles mesmos uma benção de esperança para que, com entusiasmo cristão, a ACIL, lado a lado com o poder público, igrejas e entidades organizadas, possa escrever novos e inesquecíveis capítulos da história de Londrina. Amém!

    (Dom Albano Cavallin)

  • Associação Comercial e Industrial de Londrina 9

    MUDANÇAS NA LEI

    Por Susan Naime e Vinícius Bersi

    As feiras itinerantes que desejarem se instalar em Londrina terão que passar por avaliações mais rigorosas de agora em diante. No último mês, o prefeito Alexandre Kireeff sancionou o projeto 38/2014, de autoria do Legislativo, que altera a Lei nº 7.744/1999 e propõe novas regras para a concessão de alvarás de licença. A nova lei exige que os feirantes comuniquem o Procon, Ministério do Trabalho, Receita Estadual e Receita Federal sobre a realização do evento. Após o cumprimento de todas as exigências da lei, a Secretaria Municipal de Fazenda fica responsável pela emissão do alvará, a título precário, pelo prazo máximo de 30 dias. A pasta também será a responsável por fiscalizar as feiras. A obtenção do alvará dependerá ainda da apresentação de layout de ocupação do imóvel onde será realizado o evento, com divisória removível, acesso e corredores para a circulação dos clientes com largura mínima de quatro metros, lojas com diâmetro mínimo de três metros e estacionamento que atenda a legislação vigente. “Isso empodera a Secretaria da Fazenda e o poder público e garante o enfrentamento de feiras que não contribuem em nada para o desenvolvimento da nossa cidade. Muito pelo contrário. Elas são responsáveis pelo prejuízo ao comércio legalmente estabelecido, oferecem produtos sem qualidade e não recolhem impostos”, atenta o prefeito Alexandre Kireeff. O chefe do Executivo também aponta os benefícios das novas normas, que evitarão que os feirantes atuem à margem da legislação, vendendo produtos sem procedência. O objetivo é também inibir a sonegação de impostos e encargos trabalhistas que colocam os feirantes em vantagem desleal na concorrência com os comerciantes formalizados e sujeitos a todas exigências das leis trabalhistas e tributárias. “Nós vamos ter mecanismos mais rígidos de impedimento a esta instalação. A própria Secretaria da Fazenda mobilizada com as forças policiais poderá intervir de forma muito mais contundente. Utilizaremos todas as forças necessárias para impedir essa afronta à legislação londrinense.”

    MAIS RIGOR PARA FEIRAS ITINERANTES

    Feirantes terão que comunicar Procon, Ministério do Trabalho, Receita Estadual e Receita Federal sobre evento, além de comprovar origem das mercadorias comercializadas

    A presença de outros tipos de feiras já realizadas em Londrina não será alterada pelas novas regras. “As feiras estabelecidas em nossa cidade são muito bem-vindas e continuam protegidas e abrigadas pelo poder público municipal. Agora, essas feiras dos oportunistas que vêm à nossa cidade unicamente saquear Londrina vão ter um cenário bem mais complicado para se instalar por aqui”, reforça o prefeito.

    A união faz a forçaDurante a votação do projeto na Câmara de Vereadores os empresários que fazem parte da Associação do Comércio e Indústria da Região Norte de Londrina (Acirenor) argumentaram que o movimento no comércio local sofre queda de até 70% nas vendas durante a presença de feiras itinerantes na cidade. Os eventos também foram alvos de mobilização da ACIL, junto com empresários, órgãos e instituições envolvidas com o assunto. “Londrina deve ter normas e procedimentos porque precisamos respeitar não só os comerciantes londrinenses, mas também os consumidores. E com essa normativa, se existir feiras em Londrina, será respeitando o consumidor e os empresários. A ACIL recebeu reclamações de consumidores. Acredito que só gera desvantagem para a cidade”, afirma o presidente da ACIL, Valter Orsi.“Fizemos uma reunião com diversas instituições e formatamos um procedimento que nós vamos acompanhar e monitorar. Os empresários das regiões Sul e Norte já estão organizados e receberemos também na ACIL os comerciantes das regiões Leste e Oeste para que falemos todos a mesma língua. Sem respaldo jurídico, essas feiras não irão realizar eventos em Londrina. A ilegalidade traz isso, eles acreditam na impunidade. Por isso que nós, entidades organizadas, estaremos vigilantes para que essa situação não ocorra mais”, completa o presidente.

  • setembro de 2014 | www.acil.com.br10

    PARCERIA

    Por Felipe Brandão

    Os investimentos em ações de marketing cultural e de incentivo ao esporte são comuns dentro das empresas brasileiras há algumas décadas. É vantajoso porque não se restringe apenas a fins artísticos ou sociais, mas garante ainda um retorno em publicidade para as marcas que se propõem ao mecenato.No Brasil são várias as leis de incentivo à cultura e ao esporte que contemplam os dois setores, não só com relação à iniciativa privada, mas também como política pública. Uma das mais conhecidas é a Lei Federal nº 8.313/91, ou simplesmente Lei Rouanet – uma alusão ao diplomata Sérgio Paulo Rouanet, secretário de Cultura à época da criação da lei. Ela prevê que empresas e empresários possam destinar um percentual do imposto de renda para o patrocínio de eventos e ações culturais, de 6% para pessoas físicas e de 4% em se tratando de pessoas jurídicas.A primeira legislação específica deste tipo em Londrina foi a Lei Municipal nº 5.305/92, que autorizava a renúncia fiscal por parte do município de 5% do valor proveniente das receitas de IPTU ou ISS para investimento em projetos culturais. Uma alteração significativa foi feita em 2002, com a criação do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) e do Fundo Especial de Incentivo à Cultura (Feproc). Este fundo, capitalizado através de dotação orçamentária própria e doações e contribuições de

    organismos públicos e privados, permitia maior visibilidade do poder público municipal enquanto patrocinador dos projetos.“Na modalidade de mecenato que existia com a lei de 1992, não ficava clara a efetiva participação do município. Os produtores culturais, ao captarem impostos de pessoas físicas e jurídicas, entendiam que estes eram os patrocinadores, desvirtuando o sentido da renúncia fiscal promovida pelo município”, explica a secretária de Cultura de Londrina, Solange Batigliana. “A transformação de renúncia fiscal para fundo ajudou a endossar a visão de cultura como política pública.” Para Solange, a renúncia fiscal representou no Brasil e em Londrina um passo importante para aplicação de recursos em projetos culturais – mas era preciso ir além. “Existem inúmeros empresários da cidade que colaboram com o processo cultural sem utilizar leis de incentivo, fazendo patrocínio direto em uma proposta artística. Isso é importante porque faz com que você tenha outros recursos independentes dos recursos estatais. Com o recurso privado muitas vezes se tem mais facilidade, menos burocracia e mais liberdade de investimento”, completa.É o que pensa também Rubens Augusto, proprietário da rede de farmácias Vale Verde, com 33 lojas em Londrina e região. O empresário é adepto do investimento em ações culturais e esportivas, inclusive a partir de leis de incentivo de dedução do imposto. No entanto, ele acredita que a pouca adesão da classe empresarial aos benefícios das leis acontece, sobretudo, por

  • dois fatores: a falta de divulgação da legislação de incentivo e a burocracia excessiva. “Tudo o que se faz no Brasil é um pouco burocrático, ainda mais quando se trata do dia-a-dia de uma empresa. Por conta disso, é desanimador nos deparar com um pouco mais de burocracia quando se vai investir em um projeto cultural ou esportivo. É preciso facilitar, encurtar esse caminho”, analisa.O empresário do setor farmacêutico ressalta que projetos culturais e esportivos devem ser apresentados com toda clareza aos empresários. “É difícil investir às cegas em um projeto. Além disso, existe muita gente bem intencionada, mas que não tem planejamento, o que também é essencial.” Solange Batigliana concorda: “Muitas vezes o que acontece é que o empresário investe no projeto da pessoa, do artista que ele conhece. Nós aqui em Londrina precisamos romper essa barreira. É preciso haver a figura do produtor de cultura artística que possa trabalhar essa cultura também como negócio, como um campo de oportunidade”.O empresário Nivaldo Benvenho, proprietário da gráfica Midiograf e membro do Conselho Deliberativo da ACIL, conta que a participação em eventos culturais e esportivos está no DNA de sua empresa desde a fundação, em 1992. Como exemplos, ele cita o investimento em peças de teatro, corridas e no evento religioso Hallel, os quais foram patrocinados sempre com recursos da própria empresa, sem fazer uso de leis de dedução fiscal.Para Nivaldo, a baixa adesão da classe empresarial londrinense

    aos programas de incentivo à cultura tem uma explicação simples. “É preciso cruzar a legislação com o perfil econômico da cidade. Londrina não tem um perfil industrial, é uma cidade mais comercial e de serviço”, diz ele, que também aponta para um descompasso entre a quantidade de projetos e de investidores em potencial. “Antigamente Londrina era muito forte culturalmente porque tinha uma demanda atendida pelas empresas da época de forma equilibrada. Hoje em dia, vemos que os projetos culturais aumentaram, mas as empresas não.”

    Solange Batigliana: “Existem inúmeros empresários da cidade que colaboram com o processo

    cultural sem utilizar leis de incentivo, fazendo patrocínio

    direto em uma proposta artística. Com o recurso privado muitas

    vezes se tem mais facilidade, menos burocracia e mais

    liberdade de investimento”

    Associação Comercial e Industrial de Londrina 11

  • A QUESTÃO ESPORTIVAO presidente da Fundação de Esportes de Londrina (FEL), Márcio Correia, antevê um período de grandes avanços e oportunidades para o esporte enquanto política pública em Londrina, apesar dos empecilhos. Uma das ferramentas para isso, na visão dele, é o Fundo Especial de Incentivo a Projetos Esportivos (Feipe), existente desde 2002 e que contempla o fomento a diversas práticas esportivas, como xadrez, ginástica, futsal, vôlei, através de seis programas diferentes.Apenas nesse ano de 2014, foram liberados mais de 2 milhões de reais de verba para investir nos projetos aprovados pelo FEIPE, que terão 50% do orçamento financiado pela iniciativa pública. “Nossa leitura para o programa é aprofundar cada vez mais no que diz respeito ao atendimento das necessidades esportivas do município. Estamos buscando entender as necessidades do esporte londrinense e ‘jogar’ dentro do FEIPE. Isto é: atender à vocação esportiva da cidade e não o desejo de particulares”, endossa Correia.Correia acredita que o histórico negativo de investimentos em projetos esportivos em Londrina tem gerado certo receio na forma de olhar para esse segmento na cidade. Segundo ele, esta é uma das principais barreiras que a Fundação de Esportes pretende quebrar durante a atual gestão. “Vejo que falta credibilidade. Precisamos trabalhar essa credibilidade para atrair o empresariado. Depois dessa conquista, poderemos pensar em medidas como a criação de uma lei municipal de incentivo

    fiscal ou outras do gênero para fomentar o esporte como política pública”, considera.Como se sabe, Londrina não possui uma lei municipal específica de incentivo ao esporte. A mais conhecida no âmbito federal é a Lei nº 11.438/2006, que permite uma dedução fiscal de 1% em caso de pessoa jurídica e até 6% para pessoa física a partir do investimento em projetos esportivos. No âmbito estadual, a Lei 422/13 foi aprovada em novembro no ano passado e prevê que empresas paranaenses possam investir até 3% do valor do ICMS (Imposto sobre Operações Comerciais e de Circulação de Mercadorias) para apoiar atletas, federações e projetos esportivos. Embora já tenha sido aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Beto Richa, a lei ainda precisa ser regulamentada e aprovada mediante decreto para entrar em vigor.O vereador Douglas Carvalho Pereira, o Tio Douglas, vice-presidente da Comissão de Cultura, Educação e Desporto, acredita que Londrina tem negligenciado o seu potencial de talento esportivo. “Londrina é um celeiro de atletas talentosos, mas não destina verba alguma para o cultivo desses novos talentos, a não ser a verba já programada para o esporte em termos gerais. Por conta disso, é comum vermos atletas que cresceram e desenvolveram seu potencial aqui migrarem para outras cidades e estados, onde enxergam maior oportunidade de valorização”, lamenta.Douglas vê a necessidade de uma política de atração consistente para incentivar a participação da indústria e do comércio nesse setor, que a seu ver tem imenso potencial por aqui. “Temos

    Antigamente Londrina era muito forte culturalmente porque tinha uma demanda atendida pelas empresas da época de forma equilibrada. Hoje em dia, vemos que os projetos culturais aumentaram, mas as empresas não,

    Nivaldo Benvenho

    “É desanimador nos deparar com um pouco mais de burocracia quando se vai investir em um projeto cultural ou esportivo. É preciso facilitar, encurtar esse caminho,

    Rubens Augusto

    setembro de 2014 | www.acil.com.br12

  • Associação Comercial e Industrial de Londrina 13

    “HOJE EM DIA, VEMOS QUE OS PROJETOS CULTURAIS AUMENTARAM, MAS AS EMPRESAS NÃO”

    duas federações brasileiras em Londrina, a de taekwondo e a de ciclismo. Só a de taekwondo já conseguiu mais de 40 projetos aprovados em nível de governo federal, e no município não conseguiu nem quatro. Falta um planejamento e chamar as indústrias e o comércio para participar disso tudo”, afirma.Um exemplo do que diz o vereador são os jovens atletas londrinenses Leonardo Colomera, Caio de Oliveira Rosa, Iago Gentil Carani e Guilherme Rabelo, campeões nacionais de caiaque polo. Os rapazes treinam juntos em Londrina há oito anos e há cerca de um ano foram escalados para a Seleção Brasileira de Caiaque Polo – dos cinco atletas que formam a equipe, quatro deles são de Londrina. Prestes a disputar o Campeonato Mundial da modalidade, que acontecerá na cidade de Turry Harcourt, na França, eles se queixam da falta de apoio financeiro público e privado para custear a viagem à Europa, onde representarão o talento esportivo de Londrina e do Brasil.“É importante frisar que não estamos simplesmente solicitando um investimento, mas também oferecemos uma contrapartida em termos de publicidade, de mídia e até de marketing social e ambiental, dado o caráter inerente do nosso esporte”, ressalta Iago Carani. “O caiaque polo é uma modalidade esportiva que é cara, querendo ou não, e nós não temos patrocínio para custear equipamentos, viagens, que vêm sendo bancadas do nosso próprio bolso”, completa Guilherme Rabelo.

    Londrinenses que treinam juntos há oito anos foram escalados para a Seleção Brasileira de Caiaque Polo

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    NEGÓCIOS

    Por Vinícius Bersi

    O outsourcing e a terceirização têm significados parecidos. Os dois conceitos exprimem a ideia de delegar a outra companhia a responsabilidade sobre parte do processo produtivo desenvolvido por uma empresa. A diferença está na complexidade da atividade que vai ser terceirizada e na influência que o serviço contratado pode ter nos resultados. “A terceirização está mais relacionada a atividades que não exigem especialização e são tidas como gerais. É o caso de segurança, portaria, limpeza e o restaurante da empresa. Já o outsourcing tem a ver com a contratação de uma companhia parceira para atuar em áreas que podem ter impacto nos resultados do negócio diretamente, como RH, TI, compras, contabilidade e logística”, explica o consultor empresarial Wellington Moreira, da Caput Consultoria.

    As empresas recorrem ao outsourcing para fazer economia. A expectativa é que, ao delegar a uma especializada um determinado serviço, haja ganho de

    produtividade.O outsourcing e a terceirização também são opções para as empresas que querem perder menos tempo com atividades secundárias. O objetivo é concentrar energia no chamado core business, a parte central do negócio. Estamos acostumados a ver empresas que terceirizam o setor de RH, os serviços de manutenção e limpeza, mas há casos em que toda a produção é realizada por empresas parceiras. Alguns exemplos estão nos segmentos de confecção e calçados. Nesses casos, o core business é a marca. A direção da empresa prefere deixar a produção com as parceiras para focar em marketing. “As empresas que trabalham fortemente com marca, terceirizam totalmente o negócio por assim dizer. Eles não querem colocar energia na produção. Eles colocam energia no fortalecimento da marca”, aponta Wellington Moreira.Parcerias estratégicas também podem contribuir para o crescimento dos pequenos negócios. Muitas vezes é mais interessante usar o serviço que já foi desenvolvido por uma terceirizada que criar um novo processo dentro da companhia. “Só para

    desenvolver um conhecimento, uma companhia levaria de três a quatro anos para chegar num determinado nível, então por que não contratar alguém que já faz aquilo muito bem feito? Adquirir conhecimento com a velocidade que o mercado exige não é fácil”, destaca o consultor.O primeiro cuidado que uma empresa precisa tomar ao contratar um serviço de outsourcing é verificar se de fato a fornecedora é especializada no que se propõe a oferecer e se ela pode garantir aumento de produtividade. O segundo

    Priscila Pereima: Confecção de pijamas terceirizou alguns serviços para focar

    em criação e qualidade

  • passo é avaliar se o ganho em produtividade vai compensar o custo que a contratação da terceirizada vai representar. “Não é porque a empresa está terceirizando que a atividade vai ficar mais barata. Nem sempre! Se a empresa não tiver um controle de custo muito claro, talvez no final da história a produtividade fique menor por causa de um custo maior de produção ou de entrega do serviço sublocado”, alerta o consultor empresarial.

    Wellington Moreira: “Não é porque está terceirizando que a

    coisa vai ficar mais barata”

    A Sonhart, confecção que produz pijamas e tem sede em Londrina, está no mercado há 20 anos. Na última década de vida foram terceirizados os setores de monitoramento das câmeras de segurança, limpeza, lavagem de quadros e o restaurante da empresa. A última área a passar pelo processo de terceirização foi o departamento pessoal, que desde 2009 é administrado por uma parceira. A companhia optou por contratar empresas especializadas em alguns serviços para focar em qualidade e inovação. “Podemos gastar mais energia pensando em novas estampas ou em melhorar a tonalidade e o acabamento dos nossos produtos”, explica a analista de operações da Sonhart, Priscila Pereima. A direção não precisa se preocupar com mudanças na legislação e nem com a atualização dos sistemas de controle de frequência e da folha de pagamento. “Em vez de ficar correndo atrás da legislação ou do e-Social [sistema do governo federal que unifica informações fiscais, trabalhistas e previdenciárias] a gente foca no que é mais importante”, completa.Para garantir a eficiência e a regularidade do serviço contratado, a Sonhart fiscaliza o trabalho da empresa parceira de forma periódica. A analista de operação faz todo mês a conferência das folhas de pagamento. A cada quatro meses é realizada uma auditoria interna e uma vez por ano a Sonhart contrata uma outra empresa para a realização de uma auditoria externa. O objetivo é evitar o descumprimento de qualquer norma trabalhista. Vale lembrar que mesmo no outsourcing, a companhia que contratou a terceirizada responde na Justiça em caso de ações movidas por empregados.

    Mais criação e qualidade

  • CONTRA OMALFEITO

    LEI ANTI-CORRUPÇÃOPUNE EMPRESASPessoas jurídicas como associações, fundações e empresas precisam investir na conscientização de sócios, diretores e funcionários para evitar erros e punições

    Por Vinícius Bersi

    A corrupção é um vício bem conhecido da sociedade brasileira. De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), só em 2012, R$ 200 bilhões foram desviados dos cofres públicos no país. O valor supera a soma de tudo foi investido em saúde e educação, R$ 140 bilhões.

    Em Londrina, estima-se que só na gestão do ex-prefeito Antonio Belinati, cassado em 2002, tenham sido desviados R$ 186 milhões, dinheiro da venda de ações da Sercomtel Celular. O desvio era feito por meio de licitações fraudulentas, com origem na Autarquia Municipal do Ambiente (AMA), e na Companhia Municipal de Urbanização (Comurb).Nos últimos anos a legislação teve importantes avanços no combate à corrupção. Em 2009, foi sancionada a Lei da Transparência, que obriga municípios, estados e a União a divulgarem na internet informações detalhadas sobre a aplicação do dinheiro público. Desde 2012, depois de muita mobilização popular, a Lei da Ficha Limpa impede que políticos condenados por órgãos colegiados concorram a cargos eletivos.

    Em 2014, a sociedade brasileira ganha mais uma ferramenta para tentar estancar os dutos por onde escorre dinheiro que deveria ser transformado em investimento nas áreas de saúde, educação, infraestrutura, geração de emprego e renda. Começou a valer a Lei Anticorrupção, que criou a responsabilidade civil e administrativa para pessoas jurídicas como empresas, fundações e associações. Na prática, se um sócio, diretor ou empregado comete um ato de corrupção, a empresa é responsabilizada pelo crime junto com o agente.

    O representante da empresa que cometeu o ato responde ao processo penal e a companhia pode ser punida com multas pesadas que variam de 0,1 a 20% do faturamento. O valor pode chegar a R$ 60 milhões. A organização também pode ter as atividades suspensas e até ser fechada de forma definitiva. “A lei supre uma lacuna importante, ela não deixa mais a empresa livre de qualquer sanção”, explica o advogado da área empresarial, Gabriel Bertin.

    Outra novidade da lei é o acordo de leniência, um instrumento parecido com o da delação premiada, em que o criminoso que colabora com a investigação de um ou mais crimes pode ter a pena reduzida e até abolida. “A empresa ou qualquer outra pessoa jurídica que colaborar de forma efetiva com a investigação de um ato de corrupção, fornecendo informações relevantes durante o processo administrativo, pode ser isenta de algumas sanções, além de ter o valor da multa reduzido”, esclarece a advogada e conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Regiane Andreola Rigon.

    ComplianceCom a nova legislação, as empresas devem ficar ainda mais atentas à relação com o poder público. Sócios, diretores e empregados precisam ter clareza do que está autorizado e do que é proibido, no momento de, por exemplo, concorrer a uma licitação. “Muitas vezes é necessário criar um manual de conduta mesmo, com informações sobre o tipo de conversa que eu posso ter com o servidor público, que tipo de conversa eu não posso ter. Eu posso mandar um presente de Natal? Questões aparentemente banais precisam de uma regra”, aponta Gabriel Bertin.O investimento em cursos e treinamentos garante que os membros da diretoria e do staff tenham consciência dos cuidados exigidos na relação com as instituições e com os servidores. Além de estabelecer padrões de conduta, a empresa tem que criar mecanismos internos que permitam denúncias e a apuração de irregularidades, o chamado compliance. O termo tem origem do verbo to comply, que em inglês significa agir de acordo com a norma.

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  • “UMA CONDUTA PADRÃO VAI RESGUARDAR O ESTABELECIMENTO DE EQUÍVOCOS E PUNIÇÕES”

    Regiane Rigon: “A empresa ou qualquer outra pessoa jurídica que colaborar de forma efetiva com a investigação de um ato de corrupção pode ser isenta de algumas sanções, além de ter o valor da multa reduzido”

    O compliance já faz parte da rotina das empresas que atuam em setores regulados por agências nacionais como os serviços de telefonia, energia elétrica e bancos. É importante que o compliance seja adotado também por empresas menores. Além da Lei Anticorrupção, outras normas complexas deixam a empresa vulnerável. A criação de uma conduta padrão vai resguardar o estabelecimento de equívocos e punições.Junta-se à Lei Anticorrupção a Lei de Lavagem de Dinheiro, de 2012, que, dentre outras medidas, aumentou a lista de pessoas obrigadas a comunicar transações suspeitas às autoridades competentes. “Se eu tenho uma imobiliária, vendo um apartamento por R$ 500 mil e o cliente me paga com uma mala cheia de dinheiro, eu preciso perceber que isso é uma operação atípica e informar o Banco do Brasil”, exemplifica Bertin.

    Compliance contra a inadimplênciaNo mercado há 11 anos, a VB Timber, que exporta madeira para Europa, Estados Unidos e Ásia, tem um bom compliance desde a fundação. Sujeita a todas as normas que regulam o comércio internacional e às leis de proteção ambiental, a empresa decidiu contratar uma assessoria jurídica e bons despachantes aduaneiros para auxiliar no processo de exportação. “Muitas vezes as empresas querem economizar na contratação dos despachantes e acabam tendo dor de cabeça. Um despachante aduaneiro bem preparado custa caro”, conta Fausto Magalhães Ventura, diretor da empresa. Os despachantes são responsáveis por reunir toda a documentação exigida no processo como os certificados de origem e licenças do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA). Os advogados da consultoria jurídica fazem a análise das cartas de crédito, documentos que garantem o pagamento da empresa. “Sozinhos não teríamos condições de analisar todas as cartas e evitar calote”, completa o diretor.

    Gabriel Bertin: “A lei supre uma

    lacuna importante, ela não deixa mais a empresa livre de qualquer sanção”

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    EDUCAÇÃO CORPORATIVA

    Por Muriel Amaral

    Antes de sair da faculdade alguns alunos podem colocar em prática o conhecimento adquirido nos bancos de sala de aula. Tudo aquilo que foi apreendido depois de horas a fio de muita leitura pode sair do papel e servir de vivência e experiências sobre o exercício de várias profissões. Essas são algumas das propostas oferecidas pelas empresas juniores que oferecem soluções para diversos ramos como Administração, Economia, Ciências Agrárias e Computação. Criadas e desenvolvidas dentro de universidades, as empresas juniores se tornam um caminho próspero para o enriquecimento profissional. Nas empresas universitárias, tudo é realizado com visão empreendedora para o aprimoramento pessoal e profissional dos participantes. E quem ganha com isso não são apenas os universitários, mas toda a sociedade.A Universidade Estadual de Londrina (UEL) tem 14 empresas juniores em diversos cursos. Uma delas é a 3E-UEL, empresa júnior ligada ao curso da Engenharia Elétrica, que atua desde 2005. Além das consultorias prestadas na área e nas soluções de tecnologia de informação, a empresa mantém uma página no Facebook com dicas simples para o cidadão comum de como manter em melhores condições de uso e manutenção os aparelhos eletroeletrônicos.Uma equipe de empresa júnior é formada exclusivamente por alunos e orientada

    Conrado Braga: “É uma oportunidade importante para o crescimento pessoal

    e profissional, pois desenvolvemos questões de visão estratégica, de

    mercado e empreendedorismo”

    EMPREENDENDO DESDE CEDOEmpresas juniores são uma boa oportunidade para o desenvolvimento do espírito empreendedor

    setembro de 2014 | www.acil.com.br

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    por um professor responsável. A TCP Engenharia, empresa pertencente ao curso de Engenharia Civil da UEL, está atualmente sob o comando do presidente Conrado Braga, estudante do terceiro ano. A cada ano a empresa realiza de 10 a 15 projetos que visam melhorar a qualificação dos alunos com a proposta de cursos e palestras, além de atender às demandas da sociedade. “É uma oportunidade importante para o crescimento pessoal e profissional, pois desenvolvemos questões de visão estratégica, de mercado e empreendedorismo”, avalia Braga. Qualquer um pode solicitar os serviços da empresa júnior; basta entrar em contato e apresentar os pedidos. O cotidiano é muito semelhante ao de uma empresa de mercado: execução de projetos, organização de planejamentos e orçamentos. Uma de suas vantagens é que elas conseguem oferecer projetos por preços que não passam de 20% dos valores cobrados pelas empresas de mercado. Dentre os projetos que vão sair do papel pela TCP, está a Engenharia Solidária. A empresa elabora projetos arquitetônicos para entidades que prestam serviços filantrópicos ou assistência a pessoas carentes. O serviço não é cobrado. A instituição arca apenas com as despesas burocráticas, de documentação e com os impostos recolhidos.

    Palavra de quem entende O empresário Ary Sudan, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e conselheiro da ACIL, vê com bons olhos a participação de estudantes em empresas juniores. “É uma forma de preparar para o mercado de trabalho e ter experiências ainda na faculdade.” Ele sabe do que está falando, pois teve experiência junto a empresários, ONGs, poder público e outros setores da sociedade para a implantação do projeto de plano de coleta seletiva em Londrina. Na ocasião, Ary Sudan contou com a participação de uma empresa júnior de Administração para acompanhar as

    Associação Comercial e Industrial de Londrina

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    questões burocráticas e orçamentárias. “Foi uma experiência muito interessante em que fizemos parceria inclusive com a ACIL, rendeu bons frutos”, recorda.

    Além do profissional Quem participa de uma empresa júnior pode turbinar o currículo para enfrentar o mercado de trabalho, mas também pode agregar muitos valores à vida pessoal. Conrado Braga conseguiu superar limitações da própria personalidade quando entrou em uma empresa júnior de engenharia civil. “Tive que lidar com a timidez, desenvolver senso de liderança e aprender a socializar”, explica o presidente da TCP Engenharia-UEL. “Além disso, na empresa júnior podemos romper algumas dificuldades e estimular a convivência com os demais integrantes, como foi o meu caso”, completa. A experiência trouxe benefícios também para Raquel Gonçalvez, presidente da Business Consultoria, empresa júnior ligada ao curso Administração da UEL. “É muito visível o crescimento pessoal de cada um dos membros da empresa, bem como o amadurecimento e o desenvolvimento de habilidades pessoais”, garante. A Business Consultoria é a primeira empresa júnior do sul do País e há 23 anos contribui para a formação de estudantes do curso. Atualmente, tem 22 membros, mas esse quadro pode aumentar. “Vamos abrir mais vagas até o final do ano.” Os interessados devem passar por um processo seletivo, em que serão avaliados os estudantes mais

    capacitados.Ariane Saccon participou da diretoria da segunda gestão da Lex, empresa júnior de Direito da UEL. Da época em que foi integrante da empresa, em 2010, ela traz as habilidades que foram desenvolvidas

    para o aprimoramento pessoal e também profissional. “Terminei o curso de Direito no final de 2013 e, com certeza, posso afirmar que a empresa júnior instigou e aumentou meu interesse pelo ambiente econômico e empresarial, além de servir de estimulo para participação em processos seletivos para trainee de grandes empresas”, conta a jovem profissional.

    Londrina sedia evento da área Em breve, Londrina vai estar no foco das discussões sobre as perspectivas das empresas juniores. De 30 de outubro a 2 de novembro, a cidade recebe a 10ª edição do Paraná Júnior, evento realizado pela Federação das Empresas Juniores do Estado do Paraná (Fejepar).Segundo informações divulgadas pelo Movimento Empresa Jovem (MEJ), o Brasil tem cerca de 1.200 empresas universitárias vinculadas a mais de 200 instituições de nível superior. 27 mil estudantes estão envolvidos. Com 500 empresas, o Paraná é o terceiro estado do país em número de empresas juniores.A edição deste ano terá dois ramos de discussão. O primeiro é direcionado aos estudantes que estão encerrando as atividades dentro da empresa júnior; o segundo tem o objetivo de capacitar os universitários que ainda atuam nas empresas. De acordo com o coordenador geral da Paraná Júnior, Pedro Mantovani, a necessidade de debater o tema se torna evidente diante dos gargalos apresentados no diagnóstico realizado pela Fejepar. A entidade avalia oito itens. No ano passado, cinco deles apresentaram conceitos favoráveis e três apresentaram dificuldades de desenvolvimento; o ponto mais crítico foi a concepção de mercado. “O mercado se tornou um ponto crítico que poderá ser melhorado nos próximos anos, visando atender melhor o estudante que está indo para o mercado de trabalho e também o que está entrando na empresa júnior”, analisa Mantovani.

    Raquel Gonçalvez: “É muito visível o crescimento pessoal de cada um dos

    membros da empresa; o amadurecimento e o desenvolvimento de habilidades pessoais”

    Pedro Mantovani: “O mercado se tornou

    um ponto crítico que poderá ser melhorado

    nos próximos anos, visando atender melhor

    o estudante que está indo para o mercado

    de trabalho e também o que está entrando na

    empresa júnior”

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  • setembro de 2014 | www.acil.com.br22

    POLÍTICA

    Por Marco Feltrin

    Segunda maior cidade do Paraná, uma das maiores do interior do País, mais de 500 mil habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) acima dos R$ 10 bilhões. Mas, quando os números se referem à representatividade política, Londrina deixa a grandiosidade de lado e as contas não batem. Na Assembleia Legislativa do Paraná, apenas duas das 54 cadeiras estão ocupadas por londrinenses. Na Câmara dos Deputados, entre os 513 parlamentares há apenas três com carreira política desenvolvida na cidade.Com mais de 330 mil eleitores, ficam os questionamentos: onde vão parar estes votos? Por que cidades como Marechal Cândido Rondon, com cerca

    de 35 mil eleitores, têm o mesmo número de deputados estaduais que Londrina?Nas últimas eleições gerais, em 2010, cerca de 96 mil dos 227 mil votos válidos registrados na cidade para deputado federal foram para candidatos com domicílio eleitoral fora de Londrina, o que representa mais de 40% do total. Um exemplo vindo do último pleito ilustra bem a situação: o atual prefeito Alexandre Kireeff, então candidato a deputado federal, fez três vezes menos votos na cidade do que outro candidato baseado em Curitiba. Com o êxodo nas urnas, a segunda maior cidade do estado vira a quinta em número de deputados, atrás de Curitiba, Cascavel, Maringá e Ponta Grossa.No entanto, a situação não é recente.

    Analisando os últimos 16 anos ou quatro mandatos, percebe-se a dificuldade de Londrina em lançar novos nomes e reforçar a presença no Legislativo. Em apenas uma oportunidade a cidade conseguiu superar a marca de três deputados na Câmara: entre 2007 e 2008, antes de o então parlamentar Barbosa Neto ser eleito prefeito (cassado quatro anos depois).O quadro é muito semelhante na Assembleia. Londrina teve apenas dois deputados estaduais nas quatro últimas legislaturas. A exceção ocorreu entre 2003 e 2006, quando André Vargas, Barbosa Neto e Elza Correia representaram a cidade.Na opinião do cientista político Elve Cenci, doutor em Filosofia e professor da Universidade Estadual de Londrina

    ONDE FOI PARAR MEU VOTO?

  • Associação Comercial e Industrial de Londrina 23

    (UEL), a baixa representatividade política é resultado de uma soma de fatores, a começar pela carência de lideranças capazes de levar adiante os interesses da cidade. Segundo Cenci, ainda predominam os parlamentares ou candidatos identificados apenas com um projeto político pessoal.“Cada deputado tem um partido. Ao redor dele não surgem lideranças porque o apoiado hoje pode ser o adversário de amanhã. Muitos mantêm uma relação com prefeitos da região que se beneficiam com emendas em troca de apoio, desde que um não ocupe o espaço do outro. Assim, eles conseguem angariar votos suficientes para se manter no cargo”, analisa.A fragilidade dos partidos também contribui para o enfraquecimento

    da política local. Com mais de 30 legendas “à disposição” do eleitor, vira prioridade para os nanicos a concentração de todas as forças em apenas um nome, com objetivo de evitar o risco de ficar sem espaço no Legislativo. “Ninguém quer abrir mão disso. Aí fica difícil agregar lideranças ligadas a diversos partidos em torno de uma com condições de se eleger para representar a cidade. Mais uma vez o interesse de Londrina fica em segundo plano.”Com partidos incapazes de revelarem novas lideranças, muda também o perfil do candidato. A partir dos anos 60, mesmo em meio à ditadura militar, boa parte dos representantes políticos despontava de movimentos estudantis, da efervescência das universidades. Os novos nomes da atualidade

    são parentes ou apadrinhados de ‘caciques eleitorais’, que muitas vezes não nascem por amadurecimento ou formação política, mas sim pela projeção de quem já está no poder.“O ambiente escolar e universitário hoje é pouco propenso ao surgimento de lideranças. Não se discute mais política em um espaço que deveria ser rico de novas ideias. Movimentos estudantis, sindicatos, associações de bairro enfrentam muita dificuldade de lançar um nome e conseguir projeção. Também falta uma movimentação na sociedade civil. Não há uma articulação de forças para apostar em um candidato potencial. O que vemos são lideranças isoladas, que acabam enfraquecidas diante de quem já está no poder e tem um eleitorado formado”, compara o cientista político.

    Londrina carece de uma representatividade política à altura de sua importância. Lideranças locais insistem na importância de escolher candidatos comprometidos com a nossa cidade

  • setembro de 2014 | www.acil.com.br

    Osmar Alves: “As notícias negativas repercutem mal, geram um descrédito por parte do eleitor. Às vezes ele aposta em um nome e acaba se decepcionando”

    Valter Orsi: “Temos que pensar naquele nome que você pode

    encontrar no bairro, na cidade, com um contato próximo depois

    de eleito. Não naquele que vem só em época de eleição. Tem que ser

    cidadão nessa hora. Quem vota em candidatos de fora não tem

    moral para reivindicar e reclamar”

    Moacir Norberto Sgarioni: “Muitas pessoas que poderiam se tornar bons políticos e aumentar nossa

    representatividade não entram na disputa. Gente que constrói uma

    carreira de sucesso, tem bons ideais e princípios, prefere não se envolver

    porque a análise dos políticos na opinião pública está muito

    desgastada”.

    Pulverizaçãode votosA dificuldade em eleger deputados estaduais também pode ser explicada por um fenômeno cada vez mais frequente de quatro em quatro anos: o elevado número de vereadores que lançam o nome visando ascensão política e uma cadeira na Assembleia. Nas próximas eleições serão sete, mais de um terço dos representantes do Legislativo local. Há ainda um candidato a deputado federal.A última tentativa bem-sucedida de pular o trampolim entre os legislativos ocorreu em 2002, quando André Vargas e Elza Correia ascenderam da Câmara para a Assembleia Estadual. Nas últimas eleições, em 2010, seis buscaram o mesmo caminho. Com exceção

    do presidente da Câmara à época, que teve mais visibilidade ao ocupar o cargo de prefeito interinamente por conta da realização do “terceiro turno” para prefeito na cidade, os demais flutuaram entre 4 mil e 6 mil votos conquistados em Londrina, número muito abaixo do necessário para figurar entre os primeiros das coligações. O único deputado eleito de forma direta e o segundo representante da cidade, que acabou entrando como suplente, somaram mais de 25 mil votos dos londrinenses cada.Para Elve Cenci, falta articulação entre os vereadores para lançar menos nomes, o que resultaria em uma concentração maior de votos, elevando a chance de eleição e criando uma ponte direta entre o Legislativo municipal e o estadual. Mais uma vez, o interesse pessoal acaba prevalecendo. “Eles usam a estrutura de campanha pensando já na próxima eleição para vereador. Ocupam

    o espaço de rádio e televisão para fortalecer a imagem. Desta forma, daqui a dois anos, o eleitor ainda pode lembrar dele. Só que o efeito colateral é a diluição dos votos e esvaziamento da representatividade.”Se os cerca de 5 mil votos obtidos por um vereador são insuficientes para elegê-lo, servem para complementar a fatia de candidatos de outras regiões que estão na mesma coligação. “Nossos candidatos atuam como uma espécie de cabos eleitorais. O voto de Londrina fortalece a candidatura de nomes mais competitivos que já possuem uma base e estarão certamente entre os mais votados. No final das contas, eles trabalham como coadjuvantes dos deputados de outras regiões”, avalia Cenci, lembrando que Londrina também fica à margem nas escolhas para cargos maiores, como senador e governador.

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  • É hora de tomar posiçãoDiante da baixa representatividade política de Londrina no poder Legislativo estadual e no federal, entidades locais começam a se mobilizar para reverter o quadro. O principal objetivo é sensibilizar o eleitor sobre a importância do voto em candidatos próximos, para facilitar tanto a atração de recursos que impulsionam o desenvolvimento da cidade quanto a cobrança de postura e atitude dos representantes.“Temos que pensar naquele nome que você pode encontrar no bairro, na cidade, com um contato próximo depois de eleito. Não naquele que vem só em época de eleição. Tem que ser cidadão nessa hora. Quem vota em candidatos

    de fora não tem moral para reivindicar e reclamar. O instrumento que ele tinha para fazer a diferença acaba despachando para outra região”, exemplifica o presidente da ACIL, Valter Orsi.Um dos principais desafios para evitar a debandada de votos é resgatar a confiança em políticos locais, prejudicada por uma sucessão de escândalos de corrupção que fizeram a cidade ostentar a triste marca de ter quatro prefeitos no período reservado para apenas um mandato.“As notícias negativas repercutem mal, geram um descrédito por parte do eleitor. Às vezes ele aposta em um nome e acaba se decepcionando”, analisa o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Osmar Ceolin Alves. “Temos que resgatar em Londrina

    o amor à cidade, acreditar mais e, principalmente, saber escolher. Exigir uma plataforma de trabalho bem definida, ver o histórico político do candidato, ter uma análise mais criteriosa para tomar a decisão certa”.Na opinião do presidente da Sociedade Rural do Paraná, Moacir Norberto Sgarioni, a imagem política negativa cultivada em Londrina nos últimos anos também traz como reflexo a dificuldade no surgimento de novas lideranças. “Muitas pessoas que poderiam se tornar bons políticos e aumentar nossa representatividade não entram na disputa. Gente que constrói uma carreira de sucesso, tem bons ideais e princípios, prefere não se envolver porque a análise dos políticos na opinião pública está muito desgastada”.

  • OS SOTAQUESDO COMÉRCIOImigrantes de diferentes partes do globo criam a identidade multicultural do comércio e da prestação de serviços em Londrina

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    ETNIAS

    Por Michely Massa Mesmo sem sair de Londrina, é possível conhecer Espanha, Alemanha, Japão, Portugal, Itália, países árabes e tantos outros. Engana-se quem pensou no uso da internet. Às vezes, basta caminhar algumas quadras e um povo, uma história, uma cultura diferente pode estar ali à espera de quem queira vivenciá-la.Londrina é assim, formada pelo encontro dos diferentes. Uma pluralidade étnica presente desde o início e que ajudou a construir o que se denomina londrinense. “Além dos milhares de migrantes brasileiros, principalmente paulistas, mineiros e

    nordestinos, a cidade e região receberam também imigrantes de aproximadamente 40 etnias”, lembra o historiador Edson Holtz, do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica da Universidade Estadual de Londrina (CDPH-UEL).Essa diversidade é visível em todos os segmentos, inclusive no comércio. Alguns, abertos por imigrantes desde os primeiros anos de Londrina, trazem no comando a segunda ou mesmo a terceira geração da família. Outros são pontos montados por imigrantes que acabaram de descobrir a cidade. A revista Mercado em Foco foi até alguns desses comércios e, com um olhar mais atento, descobriu que o mundo está aqui.

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    Na Doceria Portuguesa, o confeiteiro João Carlos Lopes de Jesus, legítimo português,

    oferece como carro-chefe o pastel de Belém e uma variedade de receitas que

    levam gemas e açúcar

    Dona Tokiko e Tadamasa Ajimura: Quem mantém o Bazar Ajimura são as gerações dos

    clientes da época da fundação, em 1948, e 80% não são descendentes de japoneses

    Quem também se aventurou nos doces foi João Carlos Lopes de Jesus. Português e confeiteiro há 27 anos, ele chegou ao país por meio da brasileira Eliane de Oliveira. “Era 2004, nos conhecemos em Portugal, foi amor à primeira vista”, declara João. Eles decidiram morar no Brasil no final de 2008. Como a família dela é de Londrina, escolheram aqui.Para apresentar as iguarias da terrinha, em fevereiro de 2010, nasceu a Doceria Portuguesa. O carro-chefe é o pastel de Belém, também tem o doce de santa clara,

    bolos e uma variedade de receitas que levam gemas e açúcar. Mas o diferencial está no sotaque. O atendimento vem com a melodia de um legítimo português. Além de João, uma funcionária também é de Portugal.Seja qual for o motivo, o espaço tem atraído os conterrâneos. “Muitos portugueses moram aqui e dizem que meus doces são melhores do que os de Lisboa.” A ideia de João é ampliar as opções sempre com guloseimas típicas de Portugal, o que tem conquistado brasileiros e japoneses. “Os orientais gostam de doce”, observa João.

    De Portugal

    Provavelmente, os japoneses são os imigrantes mais fáceis de identificar. Os olhos puxados não negam. São aproximadamente 25 mil na região, incluindo os descendentes, o que coloca a colônia japonesa do Norte paranaense como a segunda maior do País. Mas há outros traços que marcam essa cultura, como a disciplina e a organização, fundamentais para que o comércio dê certo. Prova disso é que dois dos mais antigos da cidade são comandados por japoneses.A fachada simples na Rua Sergipe, com pintura antiga e sem nome aparente guarda uma riqueza em dedicação e sabedoria. É a dona Tokiko Ajimura, japonesa e fundadora do Bazar Ajimura. São 96 anos de história dessa senhora que se confundem com os 66 anos do negócio da família.Tudo começou com duas portas em 1948. Ofereciam aviamentos. A clientela aumentou e, em 1957, o bazar mudou para o espaço ao lado, onde está até hoje. Tokiko teve seis filhos, entre eles, Tadamasa Ajimura. Com 74 anos, ele é o responsável pela loja, juntamente com duas irmãs e a esposa Teresa.Mas, a palavra final por lá ainda é de dona Tokiko. “Ela vem trabalhar todo dia. Quando eu falo em fechar as portas, ela diz: ‘Quer virar vagabundo?’”, revela Tadamasa. Para ela, levantar todos os dias e seguir para o Ajimura é uma recomendação médica.Segundo Tadamasa, quem mantém o bazar são as gerações dos clientes da época da fundação e 80% não são descendentes de japoneses. “É a terceira, quarta geração de clientes fiéis. Lucro não dá muito. Mas não posso me desfazer da loja. Isso daqui é a vida da minha mãe.”

    Se o Bazar Ajimura continuará na família, não se sabe. “Meus filhos moram em São Paulo. Uma filha está aqui em Londrina, mas trabalha com o marido. Eles disseram que quando se aposentarem vão tomar conta. Não sei se eu vou aguentar até lá”, brinca Tadamasa. Outro exemplo é seo Shinzo Matsuco. Viúvo, 94 anos, vai todos os dias ao comércio da família, o restaurante Minato, que fica na Rua Belo Horizonte. O início foi na Rua Minas Gerais, em 1954, quando dona Fusako Matsuco, esposa de Shinzo, decidiu ter um restaurante de comida japonesa.Para escolher o nome, ela procurou uma vidente que indicou Minato. “Em japonês, significa porto, que é um lugar de bastante movimento, nunca fica parado. Deu certo”, explica Shinzo, que era fotógrafo. Pouco tempo depois, indicaram para eles um cozinheiro especialista em comida chinesa e o Minato passou a oferecer comida do Japão e da China. Segundo Shinzo, o restaurante se tornou o primeiro do Paraná a ter um cardápio chinês.Os seis filhos de Shinzo se formaram em áreas diferentes, mas o Minato falou mais alto e os quatro homens trabalham no restaurante. Um na administração e três na cozinha. As noras ajudam e uma das netas é responsável pelo caixa. Shinzo é descendente de japoneses, Fusako também era. Eles se conheceram em Londrina, casaram, e só depois souberam que os pais chegaram do Japão no mesmo navio. Destino? Talvez. Mas é certo que construíram um espaço que faz parte da história de Londrina.

    País irmão

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    Também na década de 1930, o alemão Otto Schultheiss montou a Padaria Otto. O comércio fechou, mas a tradição dos alemães e de seus descendentes trabalharem com pão continua. Um exemplo é a Panificadora e Confeitaria Central, a mais antiga do Norte do Paraná. O fundador, descendente de alemães, Osmar Kleber, chegou a Londrina ainda criança, em 1933. Veio do Rio Grande do Sul. Trabalhou na olaria do pai, a primeira da cidade, até descobrir a panificação. Passou por várias padarias e, em 1960, montou a própria loja, juntamente com a esposa Ernestina. Os dois morreram e os filhos Lauro e Valdemar assumiram os negócios.Com uma clientela diversificada, Lauro explica que o foco não era o público da colônia. “Em casa, primeiro aprendemos o alemão, para depois falar em português. Mas no comércio era diferente. Sempre trabalhamos para conquistar o cliente

    independentemente de sua origem.” Por isso, apesar de não possuir características alemãs, a Panificadora Central é reconhecida pela inovação e tradição em Londrina.É no caminho para Warta que se encontra a Strassberg Tortas Alemãs, um lugar capaz de levar os clientes a esquecer de que ainda é Brasil. A arquitetura, a decoração, o uniforme, tudo remete a Alemanha. Mas a maior atração aguça o paladar. As receitas tradicionais de tortas, biscoitos, salgados e pães atraem descendentes ou não.Quem plantou essa ideia foi dona Olga Strass, alemã, que se casou aqui em Londrina com, o também alemão, Carlos João Strass. O primeiro casamento da cidade, em 1932. Com saudades da terra natal, ela preparava os quitutes tradicionais para o filho Jorge. Em 1989, ele, a mãe e a esposa Jandira decidiram experimentar as receitas e oferecer às pessoas da comunidade. Nascia ali um restaurante e o que eles chamam de “cantinho da família Strass”.

    Assim como os japoneses, os árabes também são muito presentes no comércio de Londrina. As lojas populares, com toalhas expostas, roupas, enxoval completo, traz muito da cultura do Oriente Médio e remete aos mascates, aqueles vendedores de antigamente que, em sua maioria, eram árabes.Foi como mascate que Michel Dakkache começou os negócios em Londrina. Libanês, chegou ao Brasil com 25 anos e se casou com Salime, curitibana de família libanesa. No início da década de 1960, já possuíam um armarinho na cidade. Mas os negócios da família cresceriam em outro ramo.“Na época, não tinha isso de comida típica”, conta Carlos Elias Dakkache, filho de Michel. Então, eles abriram em 22 de maio de 1965 uma lanchonete especializada em pratos árabes, o Kiberama. Desde então, o restaurante na Rua Mato Grosso abriga um pedacinho das arábias. Nestes quase 50 anos, o espaço passou por quatro ampliações, e o balcão do dia da inauguração continua ali. A tradição árabe está na decoração e também no quibe cru, no charuto de repolho, no tabule, no carneiro e nas esfihas. Mas o

    Força árabecardápio agregou os costumes brasileiros. “Não somos exclusivos para árabes. Todos vêm aqui, principalmente japoneses. Eles gostam desse tipo de cultura porque são duas culturas fortes”, destaca Carlos.Michel morreu em 2001 e deixou o restaurante mais antigo da cidade para esposa e filhos. Dona Salime está lá todos os dias. “Vou fazer 80 anos, não tem como me desfazer, me afastar. Essa é a minha Jerusalém”, justifica a professora primária aposentada. Os netos também abraçaram o negócio da família. Talita Dakkache, 26 anos, se formou em gastronomia para atuar no restaurante. É a terceira geração no trabalho, tradição que, segundo o pai Carlos, se repete também entre os fregueses. “Aqui vem os filhos e até os netos dos primeiros clientes.” Outro árabe pioneiro de Londrina foi David Dequêch, primo de Michel. Ele montou, no início da década de 1930, juntamente com o alemão Alberto Koch, dois armazéns de secos e molhados, a Casa Comercial e a Casa Central, cujo cenário está reproduzido de forma permanente no Museu Histórico de Londrina.

    Pão alemão

    Jandira e Ingrid Strassberg: A caminho da Warta as tortas do restaurante Strassberg são uma boa pedida para quem gosta de

    um sabor alemão

    Salime e Carlos Elias Dakkache: No Kiberama, a tradição árabe

    já corre por três gerações

  • Outro país europeu com identidade em Londrina é a Espanha. No comércio, tem se destacado o restaurante O Espanhol. Fundado por espanhóis em 1982, foi comprado quatro anos depois pelo então garçom do local José Claro Ferreira, que decidiu manter as características ligadas ao nome.A camisa é vermelha e amarela. Na parede, quadro de toureiro. E na mesa, alimentos com nomes de cidades da Espanha à base de peixes e frutos do mar. “Começamos com a sardinha. Fizemos várias experiências e hoje temos quase trinta pratos com diferentes peixes”, destaca José.

    No restaurante Vitório Emanuelle II, o sotaque é outro: o italiano Alessandro Saba, da ilha de Sardenha, conheceu Cristina Carloto Gonçalves pela internet, em 2007. Foram dois anos de viagens até a mudança definitiva para Londrina. Em março de 2010, começaram o restaurante com a cara e os costumes da Itália.O nome remete ao primeiro rei do país, ilustrado na parede pelo artista, também italiano, Paolo Malteni, responsável por grande parte da decoração do espaço. Os adereços em madeira foram confeccionados pelo próprio Alessandro, com peroba rosa. No chão, uma galeria foi construída com réplicas das ruínas, de um fogão, um mosaico e uma rua romana. O banheiro, todo artesanal, também é atração no restaurante. No cardápio, 70 pratos preparados como na

    Itália. “Não misturamos os sabores. Massas e filés, por exemplo, vêm separados. Nada aqui é abrasileirado. Essa autenticidade é a nossa identidade”, explica Cristina. Característica que tem atraído e fidelizado italianos e descendentes, estimados em um terço da população norte paranaense, e brasileiros também.Entre os mais pedidos estão o Spaghetti alla Norma, o Carpaccio di polvo e o Tiramisu, um doce afrodisíaco. Os ingredientes são todos importados. Como na Itália não existe a figura do gerente, Cristina recepciona e encaminha as pessoas a lugares como Roma, Veneza, Imola. Fica a escolha do cliente. Isso é possível porque as mesas são identificadas dessa forma. “Aproxima mais do que os números, comum em restaurantes”, justifica.

    Quem tem boca...

    Mas o carro-chefe é a Paella Valenciana, uma combinação de arroz com filé de frango, carne de porco, marisco, lula e camarões. O prato deve ser encomendado com, pelo menos, 12 horas de antecedência. Em julho e agosto já é tradição o Festival do Camarão. Em outubro, o destaque é o Festival do Bacalhau.Um aquário fica na entrada, próximo ao painel com fotos de diversos artistas e personalidades que passaram por lá. Mas o gosto comum pelos peixes tornou os japoneses principais clientes: quase 70%.Em Londrina é assim: até Japão e Espanha fazem fronteira.

    El Toro

    O italiano Alessandro Saba e a brasileira Cristina Carloto Gonçalves inauguraram em

    2010 o restaurante Vitório Emanuelle II, com a cara e os costumes da Itália

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    PERFIL

    Por Paulo Briguet Certa vez, um sábio de Jerusalém chamado Nicodemos foi conversar com Jesus à noite, porque não queria ser visto pelos seus colegas do Templo. E Jesus lhe disse uma frase surpreendente: “Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo”. A passagem do Evangelho de São João é um bom começo para falar da trajetória do empresário Roberto Alcântara. Durante a vida, Roberto precisou se reinventar muitas vezes. O inovador é assim: ele precisa nascer de novo diante de cada desafio imposto pelas circunstâncias.

    “O impossível é aquilo que ninguém ainda tentou”, gosta de dizer Roberto Alcântara, proprietário da Angelus, empresa de Londrina, referência internacional em produtos tecnológicos inovadores. Roberto nasceu numa família humilde em Paranavaí. Morava numa região carente, sem infraestrutura. O profissional mais respeitado no local era o dr. Renê, um médico, que atendia às pessoas pobres, dirigia um carro bonito e frequentemente recebia frangos e perus como pagamento por suas consultas. Era a referência de pessoa bem-sucedida na região. Um dia, o menino Roberto perguntou: “Mãe, como é que eu

    faço pra ser doutor?” A mãe lhe deu a receita em uma frase: “É só estudar”. Então, não era impossível. Bastava tentar.Roberto seguiu o conselho materno. Foi sempre um dos melhores alunos da classe. Quando chegou a hora de fazer o vestibular, escolheu Odontologia na UEL. Foi aprovado. Na época, os cursos da Universidade de Londrina eram pagos. Por ser de uma família sem posses, Roberto conseguiu crédito educativo e não precisou arcar com as mensalidades. Porém, no meio do caminho, recebeu as listas de materiais para a faculdade e descobriu que Odontologia é um curso caro. Teria de trabalhar para fazer frente às

    A ARTE DE NASCER DE NOVO

    Roberto Alcântara, da Angelus Produtos Odontológicos, começou trabalhando em consultório sem janelas e hoje é uma referência internacional em inovação tecnológica. Vale a pena conhecer a história deste homem para quem “impossível é o que ninguém ainda tentou”

  • Associação Comercial e Industrial de Londrina 31

    “MÃE, COMO É QUE EU FAÇO PRA SER DOUTOR?”, PERGUNTOU O MENINO ROBERTO

    despesas. Ainda estudante, começou a atuar numa clínica popular de odontologia, na Rua Guaporé, procurando tratar (e não extrair) os dentes dos pacientes de classe menos favorecida da região. O consultório era uma salinha de três por quatro metros, sem janelas. Roberto usava uma velha cadeira de dentista, fabricada nos anos 50, coincidentemente a mesma época em que sua família migrara do interior da Bahia para o interior do Paraná, em busca de uma vida melhor.Roberto se formou em Odontologia em 1984. Por dez anos, trabalhou na clínica da Rua Guaporé, até construir um consultório de endodontia na Rua Goiás. “Eu estava mais do que feliz ali”, lembra. “Tinha meu consultório próprio, havia finalizado minha especialização, estava casado, tinha dois filhos – e a família ia bem, obrigado! Não precisava mudar nada.”

    Para ajudar uma amiga em dificuldadesMas o destino tinha outros planos para Roberto Alcântara. Necessário vos é nascer de novo. Em 1994, uma querida amiga sofreu um acidente de carro numa viagem a São Paulo e necessitou de tratamentos médicos especializados que consumiram todas as suas economias. Roberto decidiu ajudá-la. “No meu trabalho de dentista, eu fabricava alguns produtos de forma artesanal, utilizando moldes de silicone. Embalava esses produtos, dando-lhes uma aparência técnica, e doava a essa amiga, para que os vendesse de porta em porta. Era uma forma de ajudá-la naquele momento de dificuldade.”Em alguns meses, a venda do pino – chamado Nucleojet – fez tanto sucesso que a amiga estava ganhando mais dinheiro que o dentista. Roberto patenteou o produto e, durante os cinco anos seguintes, criou produtos odontológicos que traziam soluções ao dia-a-dia do dentista para vendê-los aos colegas. Nascia a empresa Angelus Produtos Odontológicos: mais uma prova de que as coisas mais importantes da vida são aquelas que fazemos sem esperar nada em troca.

    Essa foi a primeira fase de Roberto Alcântara como inovador. Mas a necessidade de nascer de novo logo apareceu. No ano 2000, ele quis desenvolver um pino odontológico feito de fibra de carbono. Para atingir tal objetivo, precisava do material utilizado na turbina de foguetes espaciais. Procurou o Centro de Tecnologia da Aeronáutica (CTA), em São José dos Campos. Foi uma longa viagem: dez horas dentro de Uno Mille sem ar condicionado, de terno e gravata. Quase mais quente que a turbina do foguete. Mas deu certo – e o produto foi desenvolvido.Eram tempos difíceis, em que o empresário não costumava ser bem-recebido nos centros de pesquisa e universidades. “Tinha que entrar pela porta dos fundos, e era apresentado como o ‘primo’ do pesquisador”, recorda o dono da Angelus. “Havia um clima de desconfiança e preconceito entre as universidades em relação aos objetivos dos empresários.”Em 2005, veio a Lei Federal da Inovação. Isso mudou o quadro. “Nas universidades, parei de entrar pela porta dos fundos e passei a entrar pela porta da frente. Nos centros de pesquisa, parei de ser ‘o primo do pesquisador’ e passei a ser recebido com pompas”. Mas todas as dificuldades serviram para Roberto compreender melhor como funciona a cabeça do pesquisador e conhecer as necessidades dos homens de ciência. “Hoje conheço o perfil de cada pesquisador, de cada instituição.”

    Toneladas e gramas de conhecimentoQuando descobriu que um produto americano usado em tratamento de canais era feito à base de cimento, procurou a Votorantim para desenvolver o MTA Angelus, medicamento hoje utilizado por dentistas em vários países. “Na hora de negociar o valor do produto, foi engraçado, porque o funcionário da Votorantim perguntou de quantas toneladas eu precisaria por mês. Eu expliquei que inicialmente precisaria de

    alguns gramas...”Hoje o MTA é um dos carros-chefes na linha de produtos da Angelus. Após a Lei da Inovação, começaram a surgir as parcerias, os protocolos, as fontes de financiamento para pesquisa. Em sua nova sede, no Parque Tecnológico Francisco Sciarra, a empresa contrata pesquisadores acadêmicos para trabalhar no desenvolvimento de produtos. Os doutores que Roberto admirava na infância agora são seus parceiros.Necessário vos é nascer de novo. Atualmente a Angelus vive uma fase de expansão, com vários negócios no plano internacional, uma equipe de pesquisadores atuando dentro da empresa e outros espalhados por várias instituições no Brasil. Vencedor por três vezes do Prêmio Finep de Inovação, Roberto Alcântara não para de nascer de novo a cada novo produto desenvolvido, testado e patenteado. Às vezes, pode ser uma ideia simples: como o jacarezinho colorido usado como “luva” para a injeção de anestesia em tratamentos de odontopediatria. Mas também podem ser produtos complexos, cuja pesquisa é financiada em joint-ventures com centros internacionais. Quando menino, em Paranavaí, para driblar a vontade de usufruir dos brinquedos dos parques ou das facilidades dos clubes sociais que não podia frequentar, construía em seu quintal, com a ajuda de amigos, carrosséis, mesa de pingue-pongue, mesa de sinuca e até um ensaio de uma roda gigante. “Sempre fui inquieto. Se há dificuldades, busco soluções. A inovação não é o caminho mais fácil, tem suas dores. Mas, quando se torna uma estratégia, você certamente transformará as dores em sabores.”Angelus é a hora em que o Anjo Gabriel anunciou a Maria que ela seria a mãe de Cristo. Uma hora mágica, em que a humanidade começou a nascer de novo para não mais ser a mesma.Ao adotar esse nome para sua empresa, Roberto Alcântara tinha em mente o mundo de possibilidades que se anunciou quando a sua mãe disse lá em Paranavaí, diante do menino que perguntava como é que fazia para ser doutor: “É só estudar”. E trabalhar. E nascer de novo.

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    REPOSICIONAMENTOEMPRESARIAL

    Por Isabela Nicastro

    “Ninguém sobrevive pela média. As empresas evoluem por serem excelentes em todo o setor que atuam.” São essas as palavras de José Augusto Rapcham, proprietário da Indústria de Refrigeração Londrinense, a Indrel. Para ele, assim como para grande parte dos empresários, o sucesso é o objetivo principal de um negócio. No entanto, na maioria das vezes, as empresas não possuem um crescimento regular e progressivo. Surgem situações inesperadas, que exigem dos proprietários mudanças gerais na administração e na estrutura. É preciso reinventar-se constantemente para evitar que as temidas crises determinem o fracasso.Há quem pense que quanto maior o tempo de uma empresa no mercado, mais fácil evitar que as grandes surpresas aconteçam. Elas surgem da mesma maneira. Contudo, as experiências dos proprietários e dos funcionários são cruciais para os

    processos de sobrevivência diante dessas situações. A Indrel é uma empresa familiar que atua há 48 anos no segmento de refrigeração médico-hospitalar, com uma carteira de clientes no mercado brasileiro, além de exportar para 79 países. Apesar de já ter se consolidado no ramo, ela se mantém constantemente em processo de reinvenção. “Temos surpresas todos os dias. Por isso, a gestão de uma empresa é uma tarefa complicada. As coisas mudam muito e você precisa estar sempre atento para se adequar a essas mudanças”, afirma Rapcham.No setor de refrigeração hospitalar, as alterações geralmente vêm do governo, que é quem financia o sistema de saúde. Dessa forma, as questões de definição dos produtos e as normas que as regem são sempre alteradas e é preciso que os administradores estejam preparados para as mudanças. Segundo o proprietário da Indrel, é necessário estudo e planejamento. Para ele, o que se deve fazer para evitar as crises

    Atsushi Yoshii, empresário: “A crise da inflação foi a pior

    para nós. Não há coisa pior para qualquer instituição,

    para qualquer assalariado. Ela traz uma incerteza

    generalizada e te impede de planejar o futuro”

    MUDAR PARA NÃO MORRERHá momentos em que as empresas precisam realizar mudanças e adequações para evitar a estagnação

    é transformar as mudança