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ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.5, n.3, p.127-148, novembro 2012 ISSN 1982-5153 127 O Conceito de Indução Finita na Compreensão de Estudantes de Um Curso de Matemática EDUARDO MACHADO DA SILVA 1 e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI 2 1 Faculdade de Tecnologia FATEC, Garça/SP, [email protected] 2 Departamento de Matemática, Centro de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, Paraná, [email protected] , [email protected] Resumo. Considerando trabalhos de Balacheff (1987 e 1988), Hanna (1989) e Palis (2001), abordamos neste artigo a análise de registros escritos de estudantes de um curso de Matemática em questões envolvendo indução finita. O objetivo foi investigar se esses estudantes compreenderiam a diferença entre indução empírica e indução finita, bem como esta última como demonstração formal. Desenvolvemos o trabalho à luz da engenharia didática e, após o confronto entre a análise a priori e a análise a posteriori, este apontou que alguns estudantes associam a indução finita com a indução empírica. Além disso, com o desenvolvimento da sequência didática, verificamos que outros estudantes passaram do nível do empirismo ingênuo para o nível do experimento de pensamento, ou seja, se encontram em um momento de transição entre as provas pragmáticas e as provas conceituais, consideradas por Balacheff (1988) e, realizando provas que provam, segundo Hanna (1989). Abstract. Considering Balacheff (1987 and 1988), Hanna (1989) and Palis (2001), in this article we analyze written records of mathematics undergraduate students in matters involving finite induction. The objective of this study was to investigate whether these students understand the difference between empirical induction and finite induction, the latter as well as formal demonstration. We developed the study in the perspective of didactic engineering and after the confrontation between the analyses a priori and a posteriori analysis, this indicated that some students still associate the finite induction with empirical induction. Moreover, with the development of didactic sequence, we found that other students have passed the level of naïve empiricism to the level of thought experiment, i.e, they are in a transition between the pragmatic proves and conceptual proves, considered by Balacheff (1988), and making proofs that prove. Palavras-chave: Educação Matemática, Demonstrações, Indução Finita,Ensino Superio Keywords: Mathematics Education, Demonstrations, Finite Induction, Higher Education. Introdução É comum verificar que estudantes de cursos de Matemática, ao demonstrarem proposições envolvendo o princípio de indução finita, utilizam como referência exemplos e/ou questões propostas e resolvidas em livros didáticos ou exercícios selecionados por professores. Dessa forma, a demonstração por indução finita seria caracterizada por um processo automático de aprendizagem no qual o objetivo do estudante é resolver questões com base em exemplos ou em exercícios resolvidos. Ao utilizarem deste método, estudantes ressaltam a inexistência de reflexão sobre o significado da proposição que estão provando e o interesse apenas em resolver o problema, fazendo uso dessa técnica como um algoritmo sem associá-la ao teorema de

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  • ALEXANDRIA Revista de Educao em Cincia e Tecnologia, v.5, n.3, p.127-148, novembro 2012 ISSN 1982-5153

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    O Conceito de Induo Finita na Compreenso de Estudantes

    de Um Curso de Matemtica

    EDUARDO MACHADO DA SILVA1 e ANGELA MARTA PEREIRA DAS

    DORES SAVIOLI2

    1 Faculdade de Tecnologia FATEC, Gara/SP, [email protected] 2 Departamento de Matemtica, Centro de Cincias Exatas, Universidade Estadual de Londrina

    (UEL), Londrina, Paran, [email protected], [email protected]

    Resumo. Considerando trabalhos de Balacheff (1987 e 1988), Hanna (1989) e Palis (2001), abordamos

    neste artigo a anlise de registros escritos de estudantes de um curso de Matemtica em questes

    envolvendo induo finita. O objetivo foi investigar se esses estudantes compreenderiam a diferena entre

    induo emprica e induo finita, bem como esta ltima como demonstrao formal. Desenvolvemos o

    trabalho luz da engenharia didtica e, aps o confronto entre a anlise a priori e a anlise a posteriori,

    este apontou que alguns estudantes associam a induo finita com a induo emprica. Alm disso, com o

    desenvolvimento da sequncia didtica, verificamos que outros estudantes passaram do nvel do

    empirismo ingnuo para o nvel do experimento de pensamento, ou seja, se encontram em um momento

    de transio entre as provas pragmticas e as provas conceituais, consideradas por Balacheff (1988) e,

    realizando provas que provam, segundo Hanna (1989).

    Abstract. Considering Balacheff (1987 and 1988), Hanna (1989) and Palis (2001), in this article we

    analyze written records of mathematics undergraduate students in matters involving finite induction. The

    objective of this study was to investigate whether these students understand the difference between

    empirical induction and finite induction, the latter as well as formal demonstration. We developed the

    study in the perspective of didactic engineering and after the confrontation between the analyses a priori

    and a posteriori analysis, this indicated that some students still associate the finite induction with

    empirical induction. Moreover, with the development of didactic sequence, we found that other students

    have passed the level of nave empiricism to the level of thought experiment, i.e, they are in a transition

    between the pragmatic proves and conceptual proves, considered by Balacheff (1988), and making proofs

    that prove.

    Palavras-chave: Educao Matemtica, Demonstraes, Induo Finita,Ensino Superio

    Keywords: Mathematics Education, Demonstrations, Finite Induction, Higher Education.

    Introduo

    comum verificar que estudantes de cursos de Matemtica, ao demonstrarem

    proposies envolvendo o princpio de induo finita, utilizam como referncia

    exemplos e/ou questes propostas e resolvidas em livros didticos ou exerccios

    selecionados por professores. Dessa forma, a demonstrao por induo finita seria

    caracterizada por um processo automtico de aprendizagem no qual o objetivo do

    estudante resolver questes com base em exemplos ou em exerccios resolvidos. Ao

    utilizarem deste mtodo, estudantes ressaltam a inexistncia de reflexo sobre o

    significado da proposio que esto provando e o interesse apenas em resolver o

    problema, fazendo uso dessa tcnica como um algoritmo sem associ-la ao teorema de

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    induo finita. Acreditamos ser importante abordar esse tema na formao de

    licenciados.

    Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho apresentar a anlise dos registros

    escritos de estudantes de um curso de Matemtica em questes de induo finita

    investigando se compreenderiam a diferena entre induo emprica e induo finita,

    bem como esta ltima como demonstrao formal.

    Considerando a induo finita como um tipo de demonstrao, buscamos em

    Hanna (1989) e Balacheff (1988) aportes a respeito de provas e demonstraes. Para

    Balacheff (1988) h dois tipos de prova: as provas pragmticas que consistem em aes

    ou mostraes e as provas conceituais que se caracterizam por formulaes de

    propriedades e as possveis relaes entre elas. As demonstraes seriam consideradas

    um tipo de prova conceitual e segundo esse autor as provas pragmticas seriam

    produzidas por pessoas que tomam como base fatos e aes. A comunicao de tais

    resultados se d por meio de exemplos onde o sujeito manifesta e apresenta suas ideias.

    As provas conceituais precisam de uma mudana de posio da pessoa que a realiza, j

    que sua atuao nessa perspectiva passa a ser de um terico. Para elaborao de uma

    demonstrao na perspectiva da prova conceitual, o terico precisa ter acesso a uma

    linguagem que se constitui como uma ferramenta intelectual, na qual se denomina como

    uma linguagem funcional. Nesse caso a linguagem no apenas um meio de descrever

    as operaes e aes. Para Balacheff (1987) o que tornam as provas pragmticas e

    conceituais diferentes so os tipos de raciocnios subjacentes e a natureza do

    conhecimento em questo.

    Balacheff (1988) admite a existncia de vrios nveis de provas pragmticas e

    provas conceituais que podem ser classificados em:

    - Empirismo Ingnuo: consiste em afirmar a verdade de uma proposio aps a

    verificao de alguns casos. considerado o primeiro passo no processo de

    generalizao;

    - Experimento Crucial: consiste em afirmar a verdade de uma proposio aps a

    verificao para um caso especial, no familiar;

    - Exemplo Genrico: consiste em afirmar a verdade de uma proposio aps a

    manipulao de alguns exemplos de modo a deix-los com uma caracterstica que

    representa uma classe de objetos;

    - Experimento de Pensamento: consiste em afirmar a verdade de uma proposio

    de forma genrica, porm baseada no estudo de alguns casos especficos.

  • ALEXANDRIA Revista de Educao em Cincia e Tecnologia, v.5, n.3, p.127-148, novembro 2012 ISSN 1982-5153

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    O autor destaca que as provas pragmticas situam-se no contexto do empirismo

    ingnuo e do experimento crucial e as provas conceituais so estabelecidas no plano do

    experimento de pensamento. As provas situadas no exemplo genrico caracterizam um

    momento de transio entre as provas pragmticas e as provas conceituais.

    Hanna (1989) apresenta as provas que provam e as que explicam destacando

    uma distino entre as mesmas. As provas que explicam procuram apresentar as ideias

    de maneira clara a fim de encadear um encaminhamento lgico para o desenvolvimento

    da demonstrao. A autora explicita essa diferena como: Uma demonstrao que

    prova mostra apenas que um teorema verdadeiro; uma demonstrao que explica

    tambm mostra por que ele verdadeiro. (HANNA, 1989, p. 46) Como consequncia

    pedaggica esta autora relata que as provas que explicam esto ao alcance dos

    estudantes, pois esto presentes nesse tipo de prova as ideias do cotidiano deles e so

    desafiados a encontrar argumentos que justifiquem os resultados.

    Procedimentos Metodolgicos e Experimentao

    Como procedimento metodolgico, luz da engenharia didtica, adotamos as

    seguintes etapas: anlises preliminares, anlises a priori, experimentao e anlise a

    posteriori e validao.

    Nas anlises preliminares o fenmeno que procuramos identificar foi a

    dificuldade que alguns estudantes de cursos de licenciatura em Matemtica possuam

    acerca do objeto matemtico induo finita. Palis (2001) observa que os estudantes

    apresentam dificuldades em redigir uma demonstrao usando a induo finita: a)

    analogia feita a partir do termo induo, apontando a necessidade de distinguir a palavra

    induo que est presente tanto na denominao de induo emprica quanto no mtodo

    de demonstrao por induo finita; b) necessidade de verificar os dois passos na

    induo finita; c) diversidade de ideias que permeiam o conceito de induo finita.

    Assim, desenvolver uma sequncia didtica abordando a induo finita e contemplando

    atividades envolvendo essas dificuldades, seria oportunizar aos estudantes uma reflexo

    a respeito do assunto.

    A partir da bibliografia bsica indicada nos planos de ensino das disciplinas

    (Elementos de Matemtica, lgebra A e Anlise) que contemplam o contedo induo

    finita, do curso de Matemtica ao qual pertencem os sujeitos da pesquisa, dos anos de

  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

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    2006, 2007 e 2008 foi possvel averiguar quais os livros que tratavam da induo finita,

    destacando-se entre eles as obras de Domingues e Iezzi (2003) e Gernimo e Franco

    (2002). Com relao ao primeiro, a induo finita tratada no captulo sobre os

    nmeros inteiros. A abordagem realizada a partir do princpio da boa ordenao sendo

    apresentados dois enunciados para o princpio de induo finita e os autores tratam o

    assunto induo finita apenas com o termo induo. No segundo livro a induo finita

    ocorre na sesso sobre mtodos dedutivos e a introduo se d pela discusso das

    proposies 41,:)( 2 nnNnnP primo e 2

    )1(...21,:)(

    nnnNnnP .

    A discusso que tais autores apresentam acerca dessas proposies utilizada com o

    intuito de diferenciar o mtodo indutivo do dedutivo.

    Construmos a sequncia didtica baseada em problemas de Watanabe (1986),

    Lopes (1999), Lima (2006) e Hefez (1993) com algumas adaptaes, e apresentando

    [...] a induo finita via axiomas de Peano, pois se acredita que esta forma

    facilita a compreenso da mesma e deixa clara para o estudante a estrutura do

    mtodo, isto , mostra a importncia das condies a e b para a concluso de

    que P(n) verdadeira para qualquer n natural (SAVIOLI, 2007, p. 45).

    Considerando N o conjunto dos nmeros naturais, os axiomas de Peano, segundo

    Lima (2006), so:

    a) existe uma funo N,N: s que associa a cada Nn um elemento

    N,)( ns chamado sucessor de n, que significa dizer todo nmero natural possui um

    nico sucessor, que tambm um nmero natural;

    b) a funo NN: s injetiva, ou seja, nmeros naturais diferentes possuem

    sucessores diferentes;

    c) existe um nico elemento 0 no conjunto N, tal que )(0 ns para todo N,n isto , 0

    o nico nmero natural que no sucessor de nenhum outro;

    d) Se um subconjunto X N tal que 0 N e s(X) X (isto , n X s(n) X),

    ento X = N. Isso significa dizer que se um conjunto de nmeros naturais contm o

    nmero 0 e, alm disso, contm o sucessor de cada um de seus elementos, ento esse

    conjunto coincide com N, isto , contm todos os nmeros naturais.

    A partir dos axiomas de Peano podemos enunciar o princpio de induo finita:

    Princpio de Induo Finita (Teorema): Seja P(n) uma proposio envolvendo um

    nmero natural n e suponha que:

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    a) P(0) verdadeira;

    b) k N, P(k) verdadeira P(k+1) verdadeira.

    Ento P(n) verdadeira para todo n N.

    Dem.

    Consideremos o seguinte subconjunto de N, A = {n N / P(n) verdadeira}.

    Observemos que 0 A, pois P(0) verdadeira e decorre do item a do teorema. Alm

    disso, para todo n A, P(n) verdadeira implica P(n+1) verdadeira, que deriva do item

    b do teorema, implicando que n+1 A. E, portanto, em decorrncia do axioma d,

    conclumos que A = N.

    Na anlise a priori, para cada questo, foram realizados comentrios justificando

    a escolha da mesma, as possveis solues e as provveis dificuldades que os estudantes

    apresentariam.

    O experimento foi realizado no primeiro semestre de 2009, em uma turma

    composta por 23 estudantes de um curso de licenciatura em Matemtica de uma

    universidade estadual paranaense. As atividades da sequncia didtica foram

    desenvolvidas nas aulas da disciplina Tpicos de Educao Matemtica II que

    oferecida para os estudantes da 3 srie. Esta escolha levou em considerao o fato de

    que eles haviam estudado nas disciplinas de Elementos de Matemtica e lgebra A, o

    conceito de induo finita. Foram realizadas quatro sesses, no sequenciais, com duas

    horas de durao e nem todos os estudantes participaram das etapas da sequncia. Para

    anlise escolhemos os registros escritos dos treze estudantes que participaram de todas

    as sesses. As atividades foram desenvolvidas em grupos de dois ou trs estudantes,

    mas os registros foram individuais e identificados pela sigla E1S2Q3 significando que a

    terceira questo da segunda sesso foi realizada pelo primeiro estudante da amostra.

    No estudo que deu origem ao artigo explicitamos a anlise a posteriori e a

    validao e comparamos com o que foi levantado na anlise a priori, bem como com os

    conceitos discutidos por Hanna (1989) e as classificaes apresentadas por Balacheff

    (1988). Aqui apresentaremos as questes da sequncia didtica, um resumo das anlises

    contemplando as concepes dos tericos que emergiram dos registros dos estudantes e

    a sistematizao dos dados obtidos, em cada sesso.

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    1 Sesso

    Questo 1 A sentena n N, n < 9.876.543.210 verdadeira? Por qu? Justifique sua resposta.

    Questo 2 verdade que n N, 412 nn um nmero primo? Por qu? Explique.

    O objetivo dessas questes era de que os estudantes apresentassem um

    contraexemplo para mostrar que tais afirmaes eram falsas. Confrontando as anlises,

    foi possvel notar que o tipo de prova apresentada por alguns estudantes ocorreu como

    previsto na anlise a priori, ou seja, utilizaram um contraexemplo para mostrar que as

    proposies eram falsas. Outros alunos justificaram mencionando o fato de N ser

    infinito, na primeira questo. Inferimos que esses estudantes utilizaram um experimento

    de pensamento que constitui um tipo de prova conceitual. Um estudante afirmou que a

    segunda proposio era verdadeira justificando que no encontrou um contraexemplo,

    realizando um tipo de prova pragmtica, o empirismo ingnuo.

    As provas dos estudantes referentes questo um so provas que explicam,

    porque as justificativas contemplam suas explicaes em particular. Na segunda

    questo, realizaram uma prova que prova, isto , o intuito deles consistiu em indicar o

    contraexemplo que mostrasse que a proposio era falsa. Espervamos que a soluo

    fosse apresentada aps algumas tentativas, isto , que a induo emprica seria utilizada

    para justificar a soluo dada pelos estudantes.

    Figura 1: soluo apresentada pelo estudante E1S1Q1

    Figura 2: soluo apresentada pelo estudante E5S1Q2

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    A maioria dos estudantes, como E1 e E5, admitiu a falsidade das questes um e

    dois e apresentou contraexemplos, o que no ocorreu com a questo trs.

    Questo 3 Ser que n N*, 1991 2 n no um quadrado perfeito? Justifique.

    O intuito dessa questo era de que os estudantes realizassem verificaes para

    encontrar um contraexemplo e mostrar que falsa. Porm, determinar-lo no era uma

    tarefa fcil. Parte deles no recordava a definio de quadrado perfeito e alguns a

    confundiram com a de trinmio quadrado perfeito. Os estudantes que responderam ser

    uma afirmao verdadeira e justificaram suas respostas substituindo n por alguns

    nmeros naturais, como por exemplo, n = 1, n = 2, a fim de testar se a proposio era

    verdadeira ou no, realizaram um tipo de prova pragmtica denominada de empirismo

    ingnuo. O estudante que respondeu ser falsa a proposio foi guiado pela sua intuio,

    isso porque no dispunha de tempo suficiente para realizar todas as suas hipteses e

    justificou que, em algum momento, seria possvel determinar a raiz quadrada de um

    nmero natural. A seguir temos o registro escrito desse estudante.

    Figura 3: soluo apresentada pelo estudante E12S1Q3

    Classificamos a resposta desse estudante como um experimento crucial que

    tambm um tipo de prova pragmtica. Essa questo era uma tentativa de forar os

    estudantes a utilizarem a induo emprica, porm no tivemos sucesso, pois optaram

    por seguir outros caminhos nas respostas e nenhum aluno acertou a questo. Temos que

    os estudantes esto preocupados em mostrar a validade ou no da proposio e isso

    caracteriza suas provas como provas que provam, pois no se preocupam em apresentar

    explicaes para indicar os procedimentos adotados.

    Questo 4 n N*, a soma dos n primeiros nmeros mpares dada por n2? Por qu? Justifique sua resposta.

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    O objetivo dessa questo era verificar se os estudantes lembrariam e utilizariam

    a induo finita para justificarem suas respostas, pois se trata de uma proposio

    verdadeira. A partir das anlises notamos que alguns estudantes utilizaram a induo

    finita para demonstrar a veracidade da proposio. Dessa forma, esses estudantes

    realizaram um experimento de pensamento, um tipo de prova conceitual, como E13.

    Figura 4: soluo apresentada pelo estudante E13S1Q4

    Os estudantes que justificaram suas respostas a partir de algumas verificaes

    como as de E5 apresentaram indcios da utilizao da induo emprica e promoveram

    um empirismo ingnuo, tipo de prova pragmtica.

    Figura 5: verificaes apresentadas pelo estudante E5S1Q4

    Para a resoluo desta questo houve tanto o emprego da induo finita quanto

    da induo emprica por parte dos estudantes e essa caracterstica indica que existe uma

    confuso em relao ao procedimento que deve ser adotado para encontrar a resposta

    desta questo, isso porque os estudantes empregam ambos os processos. A seguir temos

    o registro escrito do estudante E9, o qual no explicita alguns elementos caractersticos

    da induo, ou seja, que valendo para n = 1, considerando a hiptese de induo e

    valendo para n+1, teramos a afirmao verdadeira. Alm disso, ao tentar provar por

    induo finita que se tratava de uma afirmao falsa, utilizou a induo finita de

    maneira equivocada, caracterizando um experimento crucial.

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    Figura 6: soluo apresentada pelo estudante E9S1Q4

    Encontramos nas resolues dos estudantes as provas que provam, ou seja, o

    interesse dos estudantes consiste em encontrar uma soluo para o problema.

    Questo 5 A sentena n N*, 22 n a soma de dois nmeros primos verdadeira? Por qu? Justifique sua resposta.

    O objetivo dessa questo era verificar se os estudantes utilizariam a induo

    emprica para demonstrar a validade ou no da Conjectura de Goldbach. Confrontando

    as anlises temos que tanto os estudantes que responderam ser verdadeira quanto falsa

    justificaram a partir de manipulaes de casos especficos. Logo, ocorreu o emprego do

    empirismo ingnuo, tipo de prova pragmtica. Alm disso, realizaram provas que

    explicam, pois os estudantes que apostaram em alguma justificativa, tentaram explicar

    qual foi o procedimento utilizado. Destacamos o registro escrito do estudante E2 que

    utilizou a induo emprica.

    Figura 7: soluo apresentada pelo estudante E2S1Q5

    Questo 6 Para n N*, considere 17 nna . Os resultados obtidos so sempre

    divisveis por 3? Por qu? Explique.

    O objetivo dessa questo foi verificar se os estudantes utilizariam a induo

    finita para demonstrar que a proposio verdadeira. Comparando as anlises temos

    que apenas um dos estudantes provou que a afirmao verdadeira por meio da induo

    finita, entretanto a demonstrao ficou restrita aplicao de um modelo, um processo

    mecnico. Neste caso, o estudante tentou um tipo de prova conceitual, o experimento de

    pensamento.

  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

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    Os estudantes que justificaram suas respostas usando a induo emprica, isto ,

    que afirmaram se tratar de uma proposio verdadeira a partir de algumas verificaes

    realizaram um empirismo ingnuo, que um tipo de prova pragmtica. Novamente os

    estudantes confundiram a induo finita com a induo emprica, mostrando que existe

    confuso entre os mtodos indutivo e dedutivo.

    As provas que provam se encontram presentes, isso porque o interesse dos

    estudantes consistiu em apresentar uma soluo para o problema sem se preocupar em

    explicar qual(is) procedimentos foram utilizados.

    Inferimos que ao final da primeira sesso da sequncia didtica os estudantes

    conseguiram diferenciar as caractersticas que permeiam tanto o conceito de induo

    finita quanto o da induo emprica, porm continuaram utilizando a induo emprica

    como uma prova que pode ser empregada na Matemtica. Como exemplo, temos o

    registro escrito do estudante E2.

    Figura 8: soluo apresentada pelo estudante E2S1Q6

    A seguir apresentamos o Quadro I com a sistematizao da primeira sesso,

    destacando quantos estudantes realizaram os nveis e os tipos de prova.

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    Quadro I Dados obtidos da anlise da primeira sesso

    1 sesso Balacheff Hanna

    Q1 Experimento de pensamento (13) Provas que explicam

    Q2 Experimento de pensamento (12)

    Empirismo ingnuo (1)

    Provas que provam

    Q3 Empirismo ingnuo (12)

    Experimento crucial (1)

    Provas que provam

    Q4 Experimento de pensamento (10)

    Experimento crucial (1)

    Empirismo ingnuo (2)

    Provas que provam

    Q5 Sem resposta (5)

    Empirismo ingnuo (8)

    Provas que explicam

    Q6 Sem resposta (4)

    Experimento de pensamento (1)

    Empirismo ingnuo (8)

    Provas que provam

    2 Sesso

    Questo 1 Mostre que n N*, a soma dos n primeiros nmeros mpares dada por n

    2.

    Esta questo tinha como objetivo verificar se os estudantes utilizariam como

    estratgia a induo finita para demonstrar a validade da frmula. A maioria dos

    estudantes empregou este mtodo, porm, a partir das justificativas apresentadas

    encontramos erros de manipulaes de expresses algbricas. Dessa forma, os

    estudantes se aproximaram da prova conceitual denominada experimento de

    pensamento. Apenas um estudante afirmou que a proposio era verdadeira e justificou

    sua resposta apresentando alguns exemplos, realizando um empirismo ingnuo que

    considerado um tipo de prova pragmtica.

    Os estudantes apresentaram um tipo de prova denominado provas que provam,

    porque no foi possvel encontrar explicaes de como procederam para chegar at a

    concluso. Como exemplo, temos o registro escrito do estudante E3.

  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

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    Figura 9: soluo apresentada pelo estudante E3S2Q1

    Questo 2 Uma Progresso Aritmtica com primeiro termo a1 e razo r uma

    sequncia de nmeros cujo primeiro elemento a1 e tal que cada elemento, a partir

    do segundo, igual ao anterior mais a razo. Em smbolos, se n 2 ento

    raa nn 1 . Prove que o termo geral de uma Progresso Aritmtica dado por

    rnaan )1(1 .

    Esta questo refere-se frmula do termo geral de uma progresso aritmtica e o

    objetivo continua sendo analisar quais as estratgias que os estudantes utilizariam para

    provar a afirmao. Alguns justificaram suas respostas para essa questo por meio da

    induo emprica, caracterizando um empirismo ingnuo, tipo de prova pragmtica. Os

    demais estudantes tentaram aplicar a induo finita para justificar as respostas. Como

    neste caso o uso da induo finita ficou caracterizado como um processo mecnico,

    desenvolvido a partir de modelos conhecidos por eles, entendemos que tais estudantes

    esto prximos de realizarem um experimento de pensamento, um tipo de prova

    conceitual.

    As respostas dos estudantes apresentaram provas que provam, pois no

    encontramos a explicao deles de qual foi o procedimento para encontrarem uma

    soluo. A seguir, temos os registros escritos dos estudantes E4 e E12, os quais

    resolveram, respectivamente, por induo finita e de forma emprica.

    Figura10: soluo apresentada pelo estudante E4S2Q2

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    Figura 11: soluo apresentada pelo estudante E12S2Q2

    Questo 3 Aps a criao do mundo, em um mosteiro escondido na ndia, o

    Grande Criador colocou uma placa de bronze e nela fixou trs bastes cobertos de

    diamantes. Em um dos bastes, em ordem decrescente de tamanho, colocou 64

    discos de ouro. E assim disse aos monges: transfiram essa pilha de discos para outro basto, movendo, ininterruptamente, um disco de cada vez e nunca

    permitindo que um disco fique acima de um menor. Quando terminarem essa

    tarefa e os 64 discos estiverem em outro basto, este templo se reduzir a p e com

    um estrondo de troves o mundo acabar. Dizem os sbios que o mundo foi criado a 4 bilhes de anos aproximadamente e os

    monges, desde a criao, esto movendo os discos na razo de um disco por

    segundo. Ser que o mundo vai acabar?

    O problema da Torre de Hani foi proposto pelo matemtico francs Edouard

    Lucas (1842 1891) em 1883. O nome Torre de Hani foi inspirado na torre smbolo da cidade de Hani, no Vietn.

    1. Utilizando a Torre de Hani verifique quantos movimentos so necessrios para

    movimentar 1 disco? E dois discos?

    2. Com a Torre de Hani determine quantos movimentos so necessrios para

    mover 3 discos?

    3. possvel diminuir o nmero de movimentos realizados?

    4. Repita os procedimentos anteriores, considerando 4, 5, e 6 discos

    respectivamente.

    5. Organize uma tabela com o nmero de discos utilizados e o nmero mnimo de

    movimentos para transport-los de um basto para outro.

    Discos

    Movimentos

    6. Analisando a tabela que voc organizou, possvel relacionar a quantidade de

    discos com o nmero mnimo de movimentos para resolver o problema? Qual

    essa relao? Expresse-a por meio de uma frmula.

    O objetivo dessa questo era promover uma atividade experimental com os

    estudantes, para que na sesso seguinte eles pudessem identificar as diferenas entre a

    induo emprica e a induo finita. Consideramos que nesta etapa da atividade os

    estudantes realizaram um experimento genrico, que uma etapa de transio entre as

    provas pragmticas e as provas conceituais. Alm disso, tivemos as provas que

  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

    140

    explicam. A seguir temos o Quadro II, explicitando os nveis de prova obtidos nos

    registros escritos.

    Quadro II Dados obtidos da anlise da segunda sesso

    2 sesso Balacheff Hanna

    Q1 Empirismo ingnuo (1)

    Experimento de pensamento (12)

    Provas que provam

    Q2 Empirismo ingnuo (3)

    Experimento de pensamento (10)

    Provas que provam

    Q3 Exemplo genrico Provas que explicam

    3 Sesso

    Questo1 Em relao ao problema da Torre de Hani possvel construir um

    quadro indicando a quantidade de discos e o nmero mnimo de movimentos para

    mud-los de basto. Por exemplo:

    Discos (n) 1 2 3 4 5

    Movimentos

    (m)

    1 3 7 15 31

    Analisando a tabela anterior, possvel concluir que para um nmero n qualquer

    de discos temos que a quantidade de movimentos mnimos dada por: 12 nm .

    - Mostre que a frmula anterior verdadeira

    - Sabendo que, segundo os sbios, o mundo foi criado a 4 bilhes de anos e que h

    64 discos na Torre original e ainda que os sbios esto movendo os discos na razo

    de um disco por segundo responda: ser que o mundo ir acabar?

    O objetivo nesta sesso era analisar qual seria a abordagem dos estudantes com

    relao ao objeto de estudo, isto , a induo finita. A comparao entre as anlises a

    priori e a posteriori dessa questo apontam que alguns estudantes apresentaram como

    justificativa algumas substituies para mostrar que a frmula do nmero mnimo de

    movimentos necessrios para passar os discos de um basto para outro da torre de

    Hani verdadeira. Assim, esses estudantes se basearam na induo emprica,

    promovendo um empirismo ingnuo, tipo de prova pragmtica.

    Os estudantes que utilizaram a induo finita para justificarem suas respostas, o

    fizeram de modo mecnico, como E1 na figura 12. Conclumos que estes chegaram

    prximos a promover um experimento de pensamento, que classificado como um tipo

    de prova conceitual.

    A partir das respostas dos estudantes temos que eles apresentaram para esta

    questo uma prova que prova, isso porque, na anlise, no encontramos explicaes que

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    indicassem quais foram os procedimentos que eles utilizaram afim de chegarem at a

    concluso.

    Figura 12: soluo apresentada pelo estudante E1S3Q1

    A seguir temos o Quadro III referente anlise da terceira sesso.

    Quadro III Dados obtidos da anlise da terceira sesso

    3 sesso Balacheff Hanna

    No resolveram (1)

    Experimento de pensamento (9)

    Empirismo ingnuo (3)

    Provas que provam

    4 Sesso

    Questo 1 Mostre que proposio 2

    )1(321)(

    nnnnP verdadeira

    para n N*.

    Questo 2 Prove que 6

    )12)(1(...21 222

    nnnn , n N

    *.

    O objetivo destas questes era verificar se aps a abordagem da induo finita

    via axiomas de Peano os estudantes mudariam o tratamento com relao ao objeto de

    estudo, a induo finita.

    Antes de entregarmos as questes, apresentamos os axiomas de Peano e

    demonstramos o princpio de induo finita, concluindo com dois exemplos de como

    utilizar a induo finita. Desse modo, nesta etapa da sequncia didtica, mostramos que

    certas afirmaes na Matemtica no podem ser consideradas verdadeiras apenas por

    meio de observaes e apresentamos algumas ideias que diferenciam a prova por

    induo emprica da prova por induo finta.

  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

    142

    Outro objetivo em discutir os axiomas de Peano e o princpio de induo finita

    foi mostrar que a aplicao deste conceito composta por duas etapas onde a primeira

    delas chamada de base e a segunda constitui o passo indutivo. Alm disso, o intuito

    era deixar claro que para uma afirmao ser demonstrada utilizando a induo finita,

    ambas as etapas deveriam ser satisfeitas.

    Nos exemplos apresentados destacamos a importncia da verificao das duas

    propriedades que compem a demonstrao por induo finita e enfatizamos que ao

    final da demonstrao necessrio indicar que tal proposio verdadeira, devido ao

    princpio de induo finita. Ao final da apresentao espervamos que os estudantes

    comeassem a ver a demonstrao por induo finita como uma prova dedutiva e no

    como um mtodo emprico.

    As questes um e dois apresentadas ocorrem nos livros didticos analisados e

    nos demais livros que utilizamos para a sequncia didtica. Com relao estratgia

    adotada pelos estudantes temos que todos utilizaram a induo finita e quanto

    apresentao da demonstrao, os estudantes conseguiram desenvolver o raciocnio

    especificando quais hipteses estavam sendo verificadas.

    Como exemplo, destacamos a soluo apresentada por E8:

    Figura 13: soluo apresentada pelo estudante E8S4Q1

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    143

    As anlises a priori e a posteriori dessas questes evidenciaram uma

    caracterstica com relao s respostas dos estudantes. Todos resolveram as questes

    utilizando a induo finita, porm as justificativas continuaram incompletas, ou seja, as

    concluses so dadas da seguinte forma: como valem as propriedades a) e b) temos que

    a proposio verdadeira, no explicitando referncia ao princpio de induo finita.

    a partir de respostas semelhantes a essa que podemos concluir que os estudantes ainda

    utilizam a induo finita como um processo mecnico nas resolues. Contudo no

    podemos afirmar que eles esto errados, pois podem ter aprendido desse modo nos

    livros didticos ou nas disciplinas anteriores.

    Os estudantes mantiveram-se prximos de realizar um experimento de

    pensamento e, portanto, um tipo de prova conceitual. Acreditamos que as solues dos

    estudantes proporcionaram provas que provam, pois o objetivo deles consistiu em

    validar a proposio sem se preocupar em explicar quais os procedimentos adotados.

    Figura 14: soluo apresentada pelo estudante E1S4Q2

    Questo 3 Uma progresso Geomtrica com primeiro termo a1 e razo q (q 0 e q

    1) uma sequncia de nmeros cujo primeiro elemento a1 e tal que, cada elemento, a partir do segundo, igual ao anterior multiplicado pela razo. Em

    smbolos, se n 2 qaa nn .1 . Prove que a frmula do termo geral de uma

    Progresso Geomtrica 11. nn qaa .

    Essa questo pretendia observar a abordagem dos estudantes com relao

    induo finita. Sendo esta a ltima atividade da sequncia didtica, acreditvamos que

    utilizariam a induo finita para resolver a questo, porm nem todos o fizeram.

    As anlises das resolues dessa questo mostraram que alguns estudantes,

    como E5, verificaram casos particulares para a frmula da soma do termo geral de uma

    progresso geomtrica, caracterizando o empirismo ingnuo, tipo de prova pragmtica.

  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

    144

    Figura15: soluo apresentada pelo estudante E5S4Q3

    Os demais estudantes aplicaram a induo finita e continuaram apresentando as

    mesmas caractersticas que j levantamos neste trabalho, isto , a utilizao desse

    princpio fica restrita a aplicao de um mtodo. Dessa forma, se aproximaram de uma

    prova conceitual chamada de experimento de pensamento.

    Figura 16: soluo apresentada pelo estudante E3S4Q3

    Os estudantes utilizaram a induo finita com o objetivo de provar uma

    proposio e isso caracteriza um tipo de prova denominado prova que prova.

    O estudante E6 aplicou a induo emprica, como podemos observar a seguir:

    Figura 17: soluo apresentada pelo estudante E6S4Q3

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    A seguir apresentamos o Quadro IV com a sistematizao da anlise da sesso

    quatro.

    Quadro IV Dados obtidos da anlise da quarta sesso

    4 sesso Balacheff Hanna

    Q1 Experimento de pensamento (13) Provas que provam

    Q2 Experimento de pensamento (13) Provas que provam

    Q3 No resolveram (2)

    Empirismo ingnuo (4)

    Experimento de pensamento (7)

    Provas que provam

    Pelo Quadro IV, a maioria dos estudantes encontra-se em um nvel de

    experimento de pensamento, constituindo-se em uma prova conceitual, conferindo certo

    amadurecimento. Inferimos que este aconteceu por conta da discusso realizada a

    respeito da induo e dos axiomas de Peano entre as sesses trs e quatro. Contudo, o

    empirismo ingnuo aparece demasiado nas questes no to familiares aos estudantes

    (questes 2, 3, 4, 5 e 6 da primeira sesso-Quadro I).

    Os Quadros I, II, III e IV mostram que as provas que explicam, de Hanna,

    aparecem somente em S1Q1, S1Q5 e S2Q3, sendo que nesta ltima era esperado. Os

    dados apontaram que os sujeitos da pesquisa no estavam interessados nos porqus e

    queriam apenas demonstrar, pois as provas que provam aparecem na maioria das

    questes.

    Ao final da sequncia didtica, como era esperado, os estudantes utilizaram a

    induo finita de maneira mecnica. Contudo, aps a realizao da discusso sobre

    Peano, refletiram mais a respeito do que escreviam e houve uma mudana de provas

    pragmticas para provas conceituais, o que pode ser observado em resolues de

    questes semelhantes (como as de p.a. e p.g.) que passaram de empirismo ingnuo em

    alguns casos para todos os casos serem de experimento de pensamento. Alm disso,

    tivemos exemplo genuno passando para empirismo ingnuo e experimento de

    pensamento. Assim, houve uma dada aprendizagem dos estudantes em relao ao

    conceito de induo finita.

  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

    146

    Algumas consideraes

    O estudo que resultou neste artigo tinha por objetivo verificar se estudantes de

    um curso de Matemtica compreenderiam a diferena entre o mtodo de induo

    emprica e de induo finita, bem como esta ltima como uma demonstrao formal.

    Conclumos, aps as anlises, que a demonstrao de sentenas envolvendo o

    princpio de induo finita utilizada como um processo automtico por alguns

    estudantes, caracterizado quando o estudante no cita, em momento algum durante a

    demonstrao de uma dada proposio, o princpio de induo finita, ou seja, prova as

    duas propriedades do teorema sem relacion-las com o mesmo, desenvolvendo-as de

    modo independente. No questionam porque realizar aqueles procedimentos garante a

    demonstrao da questo. Como estudantes de matemtica e futuros professores,

    entendemos que deveriam realizar tais questionamentos.

    Outra concluso que as anlises apontaram que os sujeitos associam a induo

    finita induo emprica. Cremos que isso se deve ao fato do termo induo pertencer

    s duas nomenclaturas e parte dos livros didticos apresentarem o tema induo finita

    apenas como induo. A partir das respostas dos estudantes entendemos que a

    simplificao de linguagem pode atrapalhar os mesmos, pois alguns apenas notaram a

    validade de uma determinada proposio para casos particulares e aps isso

    generalizaram para qualquer valor de n.

    Quanto s atividades propostas na sequncia didtica temos que, mesmo

    expondo aos estudantes os axiomas de Peano e enfatizando que este princpio um

    mtodo dedutivo, as atividades realizadas em seguida, ou seja, na quarta sesso,

    apresentaram caractersticas semelhantes s verificadas nas atividades anteriores.

    Assim, determinados estudantes continuaram a interpretar a induo finita de maneira

    equivocada ou utilizando a induo emprica ao invs da induo finita.

    No entanto, mesmo mantendo essas caractersticas, houve mudana em relao

    apresentao da demonstrao. Isto , alguns estudantes expuseram de maneira mais

    organizada suas demonstraes. Portanto, a partir desse panorama conclumos que parte

    dos estudantes passou do nvel do empirismo ingnuo para o do exemplo genrico, este

    ltimo considerado por Balacheff (1988), um momento de transio entre as provas

    pragmticas e as provas conceituais.

  • ALEXANDRIA Revista de Educao em Cincia e Tecnologia, v.5, n.3, p.127-148, novembro 2012 ISSN 1982-5153

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    As provas que explicam, de Hanna (1989), aparecem, mas o destaque foi para as

    provas que provam, mostrando que os estudantes no procuram questionar as

    demonstraes que veem ou que fazem.

    Apesar dos resultados apontarem que no existiram muitas mudanas nas

    crenas dos estudantes, mesmo aps as atividades da sequncia didtica, cremos que

    houve, mesmo que mnima, uma compreenso e um amadurecimento em relao

    utilizao de induo finita como mtodo de demonstrao e sua diferenciao em

    relao induo emprica.

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  • EDUARDO MACHADO DA SILVA e ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI

    148

    EDUARDO MACHADO DA SILVA: Graduado em Licenciatura Plena em

    Matemtica pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis - IMESA (2001).

    Especialista em Matemtica com nfase Aplicao de Recursos Computacionais pela

    Universidade Estadual Paulista UNESP (2003). Mestre em Ensino de Cincias e

    Educao Matemtica pela Universidade Estadual de Londrina UEL (2010). Atualmente

    professor assistente da Faculdade de Tecnologia de Gara (FATEC) e do Colgio Santa

    Clara em Assis.

    ANGELA MARTA PEREIRA DAS DORES SAVIOLI: Bacharel em Matemtica

    pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (1990), mestre em

    Matemtica pela Universidade Estadual de Campinas (1993) e doutora em Matemtica

    pela Universidade de So Paulo (2000). professora associada da Universidade

    Estadual de Londrina. Tem experincia na rea de Matemtica, com nfase em lgebra

    No Comutativa. Atualmente atua no Programa de Mestrado em Ensino de Cincias e

    Educao Matemtica da UEL.

    Recebido: 03 de abril de 2012

    Revisado: 15 de agosto de 2012

    Aceito: 28 de agosto de 2012