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1 PAULO FREIRE – PEDAGOGIA DO OPRIMIDO Capítulo 2 - A concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão. Seus pressupostos, sua crítica Quanto mais analisamos as relações educador-educandos, na escola, em qualquer de seus níveis, (ou fora dela), parece que mais nos podemos convencer de que estas relações apresentam um caráter especial e marcante – o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras. Narração de conteúdos que, por isto mesmo, tendem a petrificar-se ou a fazer-se algo quase morto, sejam valores ou dimensões concretas da realidade. Narração ou dissertação que implica num sujeito – o narrador – e em objetos pacientes, ouvintes – os educandos. Há uma quase enfermidade da narração. A tônica da educação é preponderantemente esta – narrar, sempre narrar. Falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo, realmente, a suprema inquietação desta educação. A sua irrefreada ânsia. Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é "encher” os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. A palavra, nestas dissertações, se esvazia da dimensão concreta que devia ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante. Dai que seja mais som que significação e, assim, melhor seria não dizê-la. Por isto mesmo é que uma das características desta educação dissertadora é a “sonoridade” da palavra e não sua força transformadora. Quatro vezes quatro, dezesseis; Pará, capital Belém, que o educando fixa, memoriza, repete, sem perceber o que realmente significa quatro vezes quatro. O que verdadeiramente significa capital, na afirmação, Pará, capital Belém. Belém para o Pará e Pará para o Brasil. A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão. Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador o depositante. Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-

EDUCAÇÃO BANCÁRIA

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1PAULO FREIRE PEDAGOGIA DO OPRIMIDOCaptulo2- A concepobanc!"a#$ae$ucaoco%o"n&t!u%ento$aop!e&&o'Seus pressupostos, sua crticaQuanto mais analisamos as relaes educador-educandos, na escola, em qualquer de seus nveis, (ou foradela), parece que mais nos podemos convencer de que estas relaes apresentam um carter especial e marcante ode serem relaes fundamentalmente narradoras, dissertadoras.Narrao de contedos que, por isto mesmo, tendem a petrificar-se ou a fa!er-se al"o quase morto, se#amvalores ou dimenses concretas da realidade. Narrao ou dissertao que implica num su#eito o narrador e emo$#etos pacientes, ouvintes os educandos.% uma quase enfermidade da narrao. & t'nica da educao ( preponderantemente esta narrar, semprenarrar.)alar da realidade como al"o parado, esttico, compartimentado e $em comportado, quando no falar oudissertar so$real"ocompletamenteal*eio+e,peri-nciae,istencial dos educandos vemsendo, realmente, asuprema inquietao desta educao. & sua irrefreada .nsia. Nela, o educador aparece como seu indiscutvel a"ente,como o seu real su#eito, cu#a tarefa indeclinvel ( /enc*er0 os educandos dos contedos de sua narrao. 1ontedosquesoretal*osdarealidadedesconectadosdatotalidadeemqueseen"endrameemcu#aviso"an*ariamsi"nificao. & palavra, nestas dissertaes, se esva!ia da dimenso concreta que devia ter ou se transforma em palavraoca, em ver$osidade alienada e alienante. 2ai que se#a mais som que si"nificao e, assim, mel*or seria no di!--la.3or isto mesmo ( que uma das caractersticas desta educao dissertadora ( a 4sonoridade0 da palavra enosua fora transformadora.Quatrovezes quatro, dezesseis; Par, capital Belm, que oeducandofi,a,memori!a, repete, sem perce$er o que realmente si"nifica quatro ve!es quatro.5 que verdadeiramente si"nifica capital, na afirmao, 3ar, capital 6el(m. 6el(m para o 3ar e 3ar parao 6rasil.& narrao, de que o educador ( o su#eito, condu! os educandos + memori!ao mec.nica do contedonarrado. 7ais ainda, a narrao os transforma em 4vasil*as0, em recipientes a serem 4enc*idos0 pelo educador.Quanto mais v 4enc*endo0 os recipientes com seus 4dep8sitos0, tanto mel*or educador ser.Quanto mais sedei,em docilmente 4enc*er0, tanto mel*ores educandos sero.2esta maneira, a educao se torna um ato de depositar, em que os educandos so os depositrios e oeducador o depositante.9mlu"ar de comunicar-se, o educador fa! 4comunicados0 e dep8sitos que os educandos, merasincid-ncias, rece$em pacientemente, memori!am e repetem. 9is a a concepo 4$ancria0 da educao, em que anicamar"emdeaoqueseofereceaoseducandos(aderece$eremosdep8sitos, "uard-losearquiv-los.7ar"empara seremcolecionadores ou fic*adores das coisas que arquivam. No fundo, por(m, os "randesarquivados soos *omens, nesta (na mel*or das *ip8teses) equivocada concepo4$ancria0 da educao.&rquivados, porque, fora da $usca, fora da pr,is, os *omens no podem ser. 9ducador e educandos se arquivam namedida em que, nesta destorcida viso da educao, no * criatividade, no * transformao, no * sa$er. ()e*"&te &abe! na "n+eno, na !e"n+eno, na bu&ca "n-u"eta, "%pac"ente, pe!%anente, -ue o& .o%en& /a0e% no%un$o, co% o %un$o e co% o& out!o&. 6usca esperanosa tam$(m.Na viso 4$ancria0 da educao, o 4sa$er0 ( uma doao dos que se #ul"am s$ios aos que #ul"am nadasa$er. 2oao que se funda numa das manifestaes instrumentais da ideolo"ia da opresso a a$soluti!ao dai"nor.ncia, que constitui o que c*amamos de alienao da i"nor.ncia, se"undo a qual esta se encontra sempre nooutro.5 educador, que aliena a i"nor.ncia, se mant(m em posies fi,as, invariveis. :er sempre o que sa$e,enquanto os educandos sero sempre os que no sa$em. &ri"ide! destas posies ne"a a educao e ocon*ecimento como processos de $usca.5 educador se pe frente aos educandos como sua antinomia necessria. ;econ*ece, na a$soluti!ao dai"nor.nciadaquelesara!odesuae,ist-ncia. 5seducandos, alienados, porsuave!, +maneiradoescravona2dial(tica *e"eliana, recon*ecem em sua i"nor.ncia a ra!o da e,ist-ncia do educador, mas no c*e"am, nem sequerao modo do escravo naquela dial(tica, a desco$rir-se educadores do educador.Na verdade, como mais adiante discutiremos, a ra!o de ser da educao li$ertadora est no seu impulsoinicial conciliador. 2a que tal forma de educao implique na superao da contradio educador-educandos, detal maneira que se faam am$os, simultaneamente, educadores e educandos.Na concepo 4$ancria0 que estamos criticando, para a qual a educao ( o ato de depositar, de transferir,detransmitir valores econ*ecimentos, noseverificanempodeverificar-seestasuperao. 3elocontrrio,refletindoasociedadeopressora, sendodimensoda4culturadosil-ncio0, a4educao04$ancria0mant(meestimula a contradio. 2ai, ento, que nelaini$ir o poderdecriar, deatuar. 7as,ao fa!eristo,ao o$staculi!araatuaodos *omens,comosu#eitos de sua ao, como seres de opo, frustra-os.Quando, por(m, por um motivo qualquer, os *omens se sentem proi$idos de atuar, quando se desco$remincapa!es de usar suas faculdades, sofrem. 9ste sofrimento prov(m 4do fato de se *aver pertur$ado o equil$rio*umano0 ()romm). 7as, o no poder atuar, que provoca o sofrimento, provoca tam$(m aos *omens o sentimentode recusa + sua impot-ncia. Bentam, ento, 4resta$elecer a sua capacidade de atuar0 ()romm).3ode, por(m, fa!--loC 9 comoC0, per"unta )romm. 4?m modo, responde, ( su$meter-se a uma pessoa ou a um"rupo que ten*a poder e identificar-se com eles. 3or esta participao sim$8lica na vida de outra pessoa, o *omemtem a iluso de que atua, quando, em realidade, no fa! mais que su$meter-se aos que atuam e converter-se emparte deles0.Balve! possamos encontrar nos oprimidos este tipo de reao nas manifestaes populistas. :uaidentificaocomliderescarismticos, atrav(sdequemsepossamsentir atuantese, portanto, nousodesuapot-ncia, $em como a sua re$eldia, quando de sua emerso ao processo *ist8rico, esto envolvidas por este mpetode $usca de atuao de sua pot-ncia.3ara as elites dominadoras, esta re$eldia, que ( ameaa a elas, tem o seu rem(dio em mais dominao narepresso feita em nome, inclusive, da li$erdade e no esta$elecimento da ordem e da pa! social. 3a! social que, nofundo, no ( outra seno a pa! privada dos dominadores.3or isto mesmo que podem considerar lo"icamente, do seu ponto de vista um a$surdot1e violence ofa stri2e *& 3or2ers and (can) call upon t1e state in t1e same *reat1 to use violence in puttin$ do3n t1e stri2e."& educao como prtica da dominao, que vem sendo o$#eto desta critica, mantendo a in"enuidade doseducandos, o que pretende, em seu marco ideol8"ico, (nem sempre perce$ido por muitos dos que a reali!am) (indoutrin-los no sentido de sua acomodao ao mundo da opresso.&odenunci-la, noesperamosqueaselitesdominadorasrenunciem+suaprtica. :eriademasiadoin"-nuo esper-lo.Nosso o$#etivo ( c*amar a ateno dos verdadeiros *umanistas para o fato de que eles no podem, na$usca da li$ertao, servir-se da concepo 4$ancria0, so$ pena de se contradi!erem em sua $usca.&ssimcomotam$(mnopodeesta concepotornar-se le"adoda sociedadeopressora+ sociedaderevolucionria.&sociedade revolucionria que manten*a a prtica da educao /$ancria0 ou se equivocou nestamanuteno ou se dei,ou /morder0 pela desconfiana e pela descrena nos *omens. 9m qualquer das *ip8teses,estar ameaada pelo espectro da reao.2isto, infeli!mente, parece que nemsempre estoconvencidos os que se inquietampela causa dali$ertao. > que, envolvidos pelo clima "erador da concepo 4$ancria/ e sofrendo sua influ-ncia, no c*e"am aperce$er o seu si"nificado ou a sua fora desumani!adora.3arado,almente, ento, usam o mesmo instrumento alienador, num esforo que pretendem li$ertador. 9 *at(osque, usandoomesmoinstrumentoalienador, c*amamaosquediver"emdestaprticadein"-nuosouson*adores, quando - no de reacionrios.5 que nos parece indiscutvel ( que, se pretendemos a li$ertao dos *omens, no. 3odemos comear poralien-los ou mant--los alienados. & li$ertao aut-ntica, que ( a *umani!ao em processo, no ( uma coisa que sedeposita nos *omens. No ( uma palavra a mais, oca, mitificante. > pr,is, que implica na ao e na refle,o dos*omens so$re o mundo para transform -lo.9,atamente porque no podemos aceitar a concepo mec.nica da consci-ncia, que a v- como al"o va!io aser enc*ido, um dos fundamentos implcitos na viso 4$ancria0 criticada, ( que no podemos aceitar, tam$(m, quea ao li$ertadora se sirva das mesmas armas da dominao, isto (, da propa"anda, dos slo"ans, dos 4dep8sitos0.& educao que se impe aos que verdadeiramente se comprometem com a li$ertao no pode fundar-senuma compreenso dos *omens como seres 4va!ios0 a quem o mundo 4enc*a0 de contedos= no pode $asear-se6numa consci-ncia especiali!ada, mecanicistamente compartimentada, mas nos *omens como 4corpos conscientes0e na consci-ncia como consci-ncia intencionada ao mundo. No pode ser a do dep8sito de contedos, mas a dapro$lemati!ao dos *omens em suas relaes com o mundo.&o contrrio da 4$ancria0, a educao pro$lemati!adora, respondendo + ess-ncia do ser da consci-ncia,que ( sua intencionalidade, ne"a os comunicados e e,ist-ncia + comunicao.@dentifica-secomopr8priodaconsci-nciaque(sempreser consci-nciade, noapenas quandoseintenciona a o$#etos mas tam$(m quando se volta so$re si mesma, no que Aaspers c*ama de 4ciso0. 1iso em quea consci-ncia ( consci-ncia de consci-ncia.Neste sentido, a educao li$ertadora, pro$lemati!adora, # no pode ser o ato de depositar, ou de narrar, oude transferir, ou de transmitir 4con*ecimentos0 e valores aos educandos, meros pacientes, + maneira da educao4$ancria0, mas um ato co"noscente. 1omo situao "nosiol8"ica, em que o o$#eto co"noscvel, em lu"ar de ser ot(rminodoatoco"noscentedeumsu#eito, (omediati!adordesu#eitosco"noscentes, educador, deumlado,educandos, de outro, a educao pro$lemati!adora coloca, desde lo"o, a e,i"-ncia da superao da contradioeducador-educandos. :em esta, no ( possvel a relao dial8"ica,indispensvel + co"nosci$ilidade dossu#eitos co"noscentes, em torno do mesmo o$#eto co"noscvel.5anta"onismo entre as duas concepes, uma, a 4$ancria0, que serve + dominao= outra, apro$lemati!adora, que serve + li$ertao, toma corpoe,atamente a. 9nquantoa primeira, necessariamente,mant(m a contradio educador-educandos, a se"unda reali!a a superao.3ara manter a contradio, a concepo 4$ancria0 ne"a a dialo"icidade como ess-ncia da educao e sefa!antidial8"ica= parareali!ar asuperao, aeducaopro$lemati!adorasituao"nosiol8"icaafirmaadialo"icidade e se fa! dial8"ica.NIN%U&M EDUCA NIN%U&M, NIN%U&M EDUCA A SI MESMO, OS 'OMENS SE EDUCAM ENTRESI, MEDIATIZADOS PELO MUNDO9mverdade, noseriapossvel +educaopro$lemati!adora, querompecomosesquemasverticaiscaractersticosdaeducao$ancria, reali!ar-secomoprticadali$erdade, semsuperaracontradioentreoeducador e os educandos. 1omo tam$(m no l*e seria possvel fa!--lo fora do dilo"o.> atrav(s deste que se opera a superao de que resulta um termo novo< no mais educador do educandodo educador, mas educador-educando com educando-educador.2estamaneira, oeducador#no(oqueapenaseduca, masoque, enquantoeduca, (educado, emdilo"o com o educando que, ao ser educado, tam$(m educa. &m$os, assim, se tornamsu#eitos do processo em que crescem #untos e em que os 4ar"umentos de autoridade0 #, no valem. 9mque, para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as li$erdades e no contra elas.A a"ora nin"u(m educa nin"u(m, como tampouco nin"u(m se educa a si mesmo< os *omens se educam emcomun*o, mediati!adospelomundo. 7ediati!adospeloso$#etosco"noscveisque, naprtica4$ancria0, sopossudos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos passivos.9sta prtica, que a tudo dicotomi!a, distin"ue, na ao do educador, dois momentos. 5 primeiro, em queele, na sua $i$lioteca ou no seu la$orat8rio, e,erce um ato co"noscente frente ao o$#eto co"noscvel, enquanto seprepara para suas aulas. 5 se"undo, em que, frente aos educandos, narra ou disserta a respeito do o$#eto so$re oqual e,erceu o seu ato co"noscente.5 papel que ca$e a estes, como salientamos nas p"inas precedentes, ( apenas o de arquivarem a narraoou os dep8sitos que l*es fa! o educador. 2esta forma, em nome da 4preservao da cultura e do con*ecimento0,no * con*ecimento, nem cultura verdadeiros.Nopode*aver con*ecimentopoisoseducandosnosoc*amadosacon*ecer, mas amemori!ar ocontedo narrado pelo educador. No reali!am nen*um ato co"noscitivo, uma ve! que o o$#eto que deveria serpostocomoincid-nciadeseuatoco"noscente(possedoeducadorenomediati!adordarefle,ocriticadeam$os.&prticapro$lemati!adora, pelocontrrio, nodistin"ueestes momentosnoquefa!er doeducador-educando.No ( su#eito co"noscente em um, e su#eito narrador do contedo con*ecido em outro. > sempre um su#eitoco"noscente, quer quando se prepara, quer quando se encontra dialo"icamente com os educandos.75 o$#eto co"noscvel, de que o educador $ancrio se apropria, dei,a de ser, para ele, uma propriedade sua,para ser a incid-ncia da refle,o sua e dos educandos.2este modo, o educador pro$lemati!ador refa!, constantemente, seu ato co"noscente, na co"nosci$ilidadedos educandos.9stes, emlu"ar de seremrecipientesd8ceis dedep8sitos,so a"ora investi"adores crticos,emdilo"o com o educador, investi"ador crtico, tam$(m.Namedida emque o educadorapresenta aoseducandos,comoo$#etodesua 4admirao0,ocontedo,qualquer que ele se#a, do estudo a ser feito, 4re-admira0 a 4admirao0 que antes fe!, na 4admirao0 que fa!em oseducandos.3elo fato mesmo de esta prtica educativa constituir-se em uma situao "nosiol8"ica, o papel do educadorpro$lemati!ador ( proporcionar, com os educandos, as condies em que se d- a superao do con*ecimento nonvel da 4do,a0 pelo verdadeiro con*ecimento, o que se d, no nvel do 4lo"os0.&ssim ( que, enquanto a prtica $ancria, como enfati!amos, implica numa esp(cie de anestesia, ini$indo opoder criador doseducandos, aeducaopro$lemati!adora, decarter autenticamenterefle,ivo, implicanumconstante ato de desvelamento da realidade. & primeira pretende manter a imerso= a se"unda, pelo contrrio, $uscaa emerso das consci-ncias, de que resulte sua insero crtica na realidade.Quanto mais se pro$lemati!am os educandos, como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirodesafiados. Bo mais desafiados, quanto mais o$ri"ados a responder ao desafio.2esafiados, compreendemodesafionapr8priaaodecapt-lo. 7as, precisamenteporquecaptamodesafio como um pro$lema em suas cone,es com outros, num plano de totalidade e no como al"o petrificado, acompreenso resultante tende a tornar-se crescentemente crtica, por isto, cada ve! mais desalienada.&trav(sdela, queprovocanovascompreensesdenovosdesafios, quevosur"indonoprocessodaresposta, se vo recon*ecendo, mais e mais, como compromisso. &ssim ( que se d, orecon*ecimento que en"a#a.& educaocomoprticadali$erdade, aocontrrionaquelaque(prticadadominao, implicanane"ao do *omem a$strato, isolado, solto, desli"ado do mundo, assim tam$(m na ne"ao do mundo como umarealidade ausente dos *omens.& refle,o que prope, por ser aut-ntica, no ( so$re este *omem a$strao nem so$re este mundo sem*omem,mas so$re os *omens em suas relaes com o mundo.;elaes em que consci-ncia e mundo se dosimultaneamente. No * uma consci-ncia antes e um mundo depois e vice-versa.4& consci-ncia e o mundo,di! :artre,se do ao mesmo tempo< e,terior por ess-ncia + consci-ncia, omundo (, por ess-ncia, relativo a ela0.3or isto ( que, certa ve!, num dos 4crculos de cultura0. do tra$al*o que se reali!a no 1*ile, um campon-sa quem a concepo $ancria classificaria de 4i"norante a$soluto0, declarou,enquanto discutia,atrav(s de uma4codificao0, o conceito antropol8"ico de cultura< 42escu$ro a"ora que no * mundo sem *omem.9 quando o educador l*e disse< 4&dmitamos, a$surdamente, que todos os *omens do mundo morressem,mas ficasse a terra, ficassem as rvores, os pssaros, os animais, os rios, o mar, as estrelas, no seria tudo istomundoC04NoD respondeu enftico, faltaria quem dissesse< @sto ( mundo0. 5 campon-s quis di!er, e,atamente, quefaltaria a consci-ncia do mundo que, necessariamente, implica no mundo da consci-ncia.Na verdade, no * eu que se constitua sem um no-eu. 3or sua ve!, o no-eu constituinte do eu se constituina constituio do eu constitudo. 2esta forma, o mundo constituinte da consci-ncia se torna mundo daconsci-ncia, um perce$ido o$#etivo seu, ao qual se intenciona. 2a, a afirmao de :artre, anteriormente citada