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EDUCAÇÃO DE INDÍGENAS SURDOS NO BRASIL NAS PESQUISAS ACADÊMICAS Bruno Roberto Nantes Araujo 1 Alexandra Ayach Anache 2 RESUMO: Com a grande população indígena que o estado de Mato Grosso do Sul possui, sendo considerado o segundo maior estado do Brasil em número de habitantes indígenas e pelo interesse sobre a educação de surdos, suscitou à preocupação sobre a educação dos indígenas com surdez em escolas comuns e bilíngues no estado. O objetivo desta pesquisa é identificar as pesquisas brasileiras que abordam o trabalho dos tradutores e intérpretes de Língua de Sinais que atuam com os estudantes indígenas surdos inseridos em escola regular. A metodologia escolhida para essa pesquisa foi de caráter exploratório e de análise documental. Serão utilizadas para essa finalidade as produções de teses, dissertações, artigos científicos disponibilizados no portal da CAPES, além do mais pesquisaremos os livros e capítulos de livros sobre o tema em referência. O levantamento foi realizado no período de março a junho de 2017, a análise de conteúdo do conjunto dessas produções permitiu afirmar que existem poucos trabalhos que se referem ao Tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e sobre estudantes indígenas surdos. Desenvolvida no curso de Mestrado em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação – PPGEdu/MS da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Objetivou realizar buscas no Estado do Conhecimento aqui apresentado, aproximações ao objeto de estudo da dissertação de Mestrado em Educação: “Os desafios dos tradutores e intérpretes de Língua de Sinais com estudantes indígenas surdos na escola”, desenvolvida na linha de pesquisa “Educação e Trabalho”. Palavras-chave: Educação de Surdos; Língua de Sinais; Indígenas surdos; Língua Brasileira de Sinais. 1 INTRODUÇÃO Este artigo é resultado de buscas pelo qual entendemos o Estado da Arte, segundo Ferreira (2002) é definida como de caráter bibliográfico, com o desafio de mapear e 1 Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Fundação Universidade de Mato Grosso do Sul – EEPGdu/ UFMS. E-mail: [email protected] 2 Professora Titular do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:[email protected] Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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EDUCAÇÃO DE INDÍGENAS SURDOS NO BRASIL NAS PESQUISAS ACADÊMICAS

Bruno Roberto Nantes Araujo1 Alexandra Ayach Anache2

RESUMO: Com a grande população indígena que o estado de Mato Grosso do Sul possui, sendo considerado o segundo maior estado do Brasil em número de habitantes indígenas e pelo interesse sobre a educação de surdos, suscitou à preocupação sobre a educação dos indígenas com surdez em escolas comuns e bilíngues no estado. O objetivo desta pesquisa é identificar as pesquisas brasileiras que abordam o trabalho dos tradutores e intérpretes de Língua de Sinais que atuam com os estudantes indígenas surdos inseridos em escola regular. A metodologia escolhida para essa pesquisa foi de caráter exploratório e de análise documental. Serão utilizadas para essa finalidade as produções de teses, dissertações, artigos científicos disponibilizados no portal da CAPES, além do mais pesquisaremos os livros e capítulos de livros sobre o tema em referência. O levantamento foi realizado no período de março a junho de 2017, a análise de conteúdo do conjunto dessas produções permitiu afirmar que existem poucos trabalhos que se referem ao Tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e sobre estudantes indígenas surdos. Desenvolvida no curso de Mestrado em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação – PPGEdu/MS da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Objetivou realizar buscas no Estado do Conhecimento aqui apresentado, aproximações ao objeto de estudo da dissertação de Mestrado em Educação: “Os desafios dos tradutores e intérpretes de Língua de Sinais com estudantes indígenas surdos na escola”, desenvolvida na linha de pesquisa “Educação e Trabalho”. Palavras-chave: Educação de Surdos; Língua de Sinais; Indígenas surdos; Língua Brasileira de Sinais.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo é resultado de buscas pelo qual entendemos o Estado da Arte, segundo

Ferreira (2002) é definida como de caráter bibliográfico, com o desafio de mapear e

1 Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Fundação Universidade de Mato Grosso do Sul – EEPGdu/ UFMS. E-mail: [email protected] 2 Professora Titular do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail:[email protected]

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discutir certas produções científicas conforme um determinado tema de pesquisa.

Realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Educação - Curso de Mestrado, da

Universidade de Mato Grosso do Sul da linha de pesquisa: Educação e Trabalho, a fim de

obter maiores aproximações com o objeto de estudo da pesquisa de Mestrado intitulada

“Os desafios dos tradutores e intérpretes de Língua de Sinais com estudantes indígenas

surdos na escola”.

O principal objetivo dessa investigação é a identificação de produções científicas

voltadas a este tema, embora sabendo que a educação dos surdos atualmente esteja ainda

em crescente ascensão nos estudos e nas pesquisas, pretendemos observar ainda a escassez

de materiais pertinentes a este tema. Principalmente quando nos referimos à temática:

tradutores e intérpretes de Língua de Sinais e estudantes indígenas surdos, dando assim

mais visibilidade e importância de novos estudos para esta vertente. Nesta oportunidade

optamos primeiramente realizar o estado do conhecimento a fim de mapear as produções

referentes ao assunto, o que possibilita uma visão mais ampla dos movimentos atuais a

cerca do objeto de pesquisa pretendida, além de fornecer um mapeamento das ideias já

existentes nos dando mais segurança sobre as fontes de estudos.

Esta pesquisa segundo suas finalidades será de caráter exploratório onde é

realizada em propostas de pesquisa em que há pouco conhecimento acumulado por parte

da comunidade científica, ou quando não existem elementos ou dados suficientes para o

pesquisador. Este, conforme Marconi e Lakatos (2003) visa tornar determinado fenômeno

mais familiar e ajuda o pesquisador a construir hipóteses, o pesquisador faz levantamento

bibliográfico, sondagem e observação; e quanto aos meios de caráter bibliográfico, sendo

um estudo desenvolvido com base no levantamento de material publicado em livros,

revistas, jornais, redes eletrônicas também segundo Marconi e Lakatos (2003).

Esse é o primeiro passo de quase todas as pesquisas, sendo que algumas são

desenvolvidas exclusivamente por esse meio. Os levantamentos serão organizados da

seguinte maneira, dados coletados pela plataforma digital da CAPES – Coordenação de

Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior vinculada ao MEC - Ministério da

Educação e através de outras plataformas digitais encontradas na internet. O recorte da

busca de dados far-se-á no espaço de vinte anos, sendo do ano de 1997 até 2017.

Entendemos que somente a partir do ano de 2002 com o reconhecimento legal da Língua

Brasileira de Sinais – Libras, a segunda língua oficial do país Brasil através da Lei de

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número 10.436 que as pesquisas foram ganhando mais notoriedade no meio científico.

Compreende-se que esta pesquisa bibliográfica foram consideradas as obras que foram

concluídas e publicadas nestes repositórios de teses e dissertações citados acima.

Para tanto, depois de feito as análises e os mapeamentos, seguidamente

construiremos quadros para exposição e análise dos resultados encontrados, comumente

para estas pesquisas iremos procurar nos sites supracitados através de palavras - chave.

Compreende-se que as leituras mais apuradas e aprofundadas feitas aqui nesta coleta de

dados se darão no decorrer da elaboração da dissertação do mestrado. Ressaltamos que o

estudo ainda não teve um aprofundamento necessário, pois se encontra nas primeiras

etapas, no momento das explorações iniciais da temática.

Esforços especiais precisam ser feitos para promover o acesso e a permanência de

pessoas com deficiência nas escolas, como já discutido há décadas no surgimento de

propostas, programas e projetos dedicados a uma educação inclusiva e a uma busca da

escola para todos através de Conferências Mundiais, como aconteceu em junho de 1994

com a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994, p. 11):

6. A tendência da política social das passadas duas décadas tem consistido em promover a integração, a participação e o combate à exclusão. Inclusão e participação são essenciais à dignidade e ao desfrute e exercício dos direitos humanos. No campo da educação, estas concepções refletem-se no desenvolvimento de estratégias que procuram alcançar uma genuína igualdade de oportunidades.

Essas preocupações também foram discutidas no cenário político educacional

brasileiro como foi o caso da elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (Lei nº 9.394/1996) quando destaca sobre a Educação Especial:

Art. 58º. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. § 1º. Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º. O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular.§ 3º. A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. (BRASIL, 1996, p. 21).

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Contudo, essa não é a única ação da política para a inclusão, houve também a

implementação da Lei nº 10.098/2000 e da Lei nº 13.146/2015 que discorrem sobre a

acessibilidade geral da pessoa com deficiência, além das específicas no âmbito educacional

como a Política Nacional para a Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

(2008) e o Plano Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014), entre outras, onde todas têm

o propósito de nortear ações e estratégias para fomentar a educação inclusiva. (BRASIL,

2000, 2008, 2014, 2015).

Considerado como pertencente às categorias de deficiências, o sujeito surdo

também tem direito às políticas públicas inclusivas em termos gerais tais quais as

mencionadas acima, além de legislações específicas como a Lei nº 10.436/2002 que

legitima a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como língua oficial brasileira e o Decreto nº

5.626/2005 que regulamenta a lei anteriormente referida e discorre sobre uma série de

providências no aspecto da inclusão social e educacional do surdo. (BRASIL, 2002, 2005).

A necessidade de toda essa especificidade em termos de políticas públicas para o

sujeito surdo advém de sua peculiar manifestação de diferença cultural e modalidade

linguística.

Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. (BRASIL, 2005, p. 1).

Essa experiência visual marcada com veemência através do uso da Língua de

Sinais é uma das manifestações da própria cultura surda. Sobre a cultura surda, Strobel

(2008, p. 24) a define como a maneira de o sujeito surdo compreender e reagir no mundo

para “torná-lo acessível e habitável ajustando-o com as suas percepções visuais, que

contribuem para a definição das identidades surdas [...]. Isso significa que abrange a

língua, as ideias, as crenças, os costumes, e os hábitos do povo surdo”.

Quadros (2004), explica que os surdos têm características culturais que marcam

seu jeito de ver, sentir e se relacionar com o mundo, e a cultura do povo surdo é visual, ela

traduz-se de forma visual. Que tem o direito de e a possibilidade de apropriar-se da língua

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brasileira de sinais e da língua portuguesa, de modo garantir seu desenvolvimento bem

como garantir seu trânsito em diferentes contextos sociais e culturais.

A pesquisadora surda Gládis Perlin (1998) diz que a identidade surda se constitui

no interior da cultura surda e que está em situação de dependência do outro surdo. Diz

ainda diz que as identidades surdas são multifacetadas, fragmentadas e em constante

mudança. Continua dizendo que a identidade surda perpassa essencialmente pelas

experiências visuais, e sendo a Língua de Sinais um meio de comunicação e expressão na

modalidade visual, logo, ela contribui fundamentalmente com a construção da identidade e

da cultura surda, pois permite a transmissão de ideias e de pensamentos da comunidade

surda.

Para Gesser (2009) essencialmente sobre a Língua Brasileira de Sinais, mais

conhecida como Libras, trata-se da Língua materna dos surdos brasileiros, constituída de

maneira natural e espontânea por eles, dotada de todos os níveis linguísticos e com

gramática própria, onde se pode estabelecer comunicação em qualquer que seja a

circunstância. Reconhecendo, portanto, que o surdo apresenta particularidades, o setor

educacional precisa também observar essas especificidades no ato educativo, respeitando e

valorizando a sua diferença, para assim, promover, de fato, a sua inclusão. Dessa maneira,

uma das ações que corrobora com esta inclusão é a inserção do tradutor/intérprete de

Libras, assim como estabelece o Decreto nº 5.626/2005.

Quadros (2004, p. 27) define o tradutor/intérprete de Língua de Sinais como:

[...] o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol. Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal.

A formação desta categoria de profissionais perpassa pelo aprendizado de

métodos e técnicas de tradução e interpretação, e, basicamente, pela aquisição e domínio

da Língua de Sinais. Existem dois seguimentos de formação para essa categoria: uma, de

acordo com a Lei nº 12.319/2010, que estabelece formação de tradutor/intérprete em nível

técnico; e outra em nível superior, como afirma o Decreto nº 5.626/2005 quando impõe a

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implantação do curso de Letras-Libras bacharelado justamente para a formação de

tradutores/intérpretes. Sua regulamentação no Brasil se deu através da Lei nº 12.319/2010,

em seu artigo segundo, quando afirma que o “tradutor e intérprete terá competência para

realizar interpretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência

em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa”. (BRASIL, 2010, p. 1).

Sabe-se que o sistema de ensino em vigor no país estende-se à população

indígena, obviamente que com as devidas adaptações, tal qual menciona a Lei nº

6.001/1973, sobre o Estatuto do Índio, em seu artigo quadragésimo oitavo. Dessa maneira,

as línguas faladas nas escolas indígenas são de acordo com as etnias de cada região.

(BRASIL, 1973).

O Censo Demográfico (2010), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,

diz que são mais que oitocentos e dezessete mil indígenas no país, representando trezentos

e cinco diferentes etnias e duzentas e setenta e quatro línguas indígenas aproximadamente,

sendo uma destas etnias a Terena que, de acordo com o Programa Povos Indígenas do

Brasil, do Instituto Socioambiental (2004), vive nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso

do Sul e São Paulo, onde somam mais de vinte e cinco mil indígenas. O segundo Estado

com o maior número de população indígena é o Mato Grosso do Sul, e a maioria de povos

da etnia Terena.

Segundo o Estatuto do Índio da Lei 6.001 de 19 de dezembro de 1973, em seu

Art. 49 “a alfabetização dos índios far-se-á na língua do grupo a que pertençam, e em

português, salvaguardo o uso da primeira”. Sob essa ótica surgiu às indagações sobre a

questão dos estudantes indígenas surdos, como andam as pesquisas e trabalhos científicos

relacionados à temática na educação de indígenas surdos no Brasil, como ou se, as políticas

públicas educacionais inclusivas tem precedido para o atendimento especializado para eles.

Abriu-se, então, um parêntese sobre a questão da atuação dos profissionais

tradutores/intérpretes de Língua de Sinais de escolas que atendem estudantes indígenas

surdos, especialmente os não indígenas, pois seu papel e suas ações neste caso ultrapassam

o quesito da tradução e interpretação somente entre duas línguas e vão além das

especificidades do surdo apenas.

Sabe-se que o sistema de ensino em vigor no país estende-se à população

indígena, obviamente que com as devidas adaptações, tal qual menciona a Lei nº

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6.001/1973, sobre o Estatuto do Índio, em seu artigo quadragésimo oitavo. Dessa maneira,

as línguas faladas nas escolas indígenas são de acordo com as etnias de cada região.

(BRASIL, 1973). Isso pelo Estatuto, em escolas indígenas, mas e os indígenas que estão

inseridos em escolas de Ensino Comum na zona urbana? Os Indígenas surdos que estão

matriculados em escolas comuns do ensino básico e médio em zonas urbanas? Fica esta

indagação. Embora a vertente da pesquisa explane sobre o indígena, o foco principal da

pesquisa é o profissional que irá fazer a intermediação neste processo de aprendizagem

desses estudantes. Para tanto, pretende-se investigar a atuação dos tradutores/interpretes de

Língua de Sinais que atuam em escolas de ensino básico e Médio de Aquidauana,

Anastácio e Campo Grande.

O Censo Demográfico (2010), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,

diz que são mais que oitocentos e dezessete mil indígenas no país, representando trezentos

e cinco diferentes etnias e duzentas e setenta e quatro línguas indígenas aproximadamente,

sendo uma destas etnias a Terena que, de acordo com o Programa Povos Indígenas do

Brasil, do Instituto Sócioambiental (2004), vive nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso

do Sul e São Paulo, onde somam mais de vinte e cinco mil indígenas.

A etnia de interesse exclusivo da pretensa pesquisa trata-se da Terena localizada

apenas na região de Aquidauana, estado de Mato Grosso do Sul.

Com uma população estimada em 16 mil pessoas em 2001, os Terena, povo de

língua Aruák, vivem atualmente em um território descontínuo, fragmentado em pequenas

“ilhas” cercadas por fazendas e espalhadas por sete municípios sul-mato-grossenses:

Miranda, Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Sidrolândia, Nioaque e Rochedo.

(INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2004). Sobre a origem dos povos Terena, o Instituto

Socioambiental (2004) ainda contribui:

Últimos remanescentes da nação Guaná no Brasil, os Terena falam uma língua Aruák e possuem características culturais essencialmente chaquenhas (de povos provenientes da região do Chaco). O domínio dos grupos de língua Aruák entre os diversos povos indígenas do Chaco, todos caçadores e coletores, deveu-se ao fato daqueles grupos serem, de longa data, predominantemente agricultores – e sobre esta base econômica se organizarem socialmente em grupos locais (aldeias) mais populosos, expansionistas e guerreiros.

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Logo, a língua falada nas escolas indígenas da região de Aquidauana corresponde

a Língua Terena, o Aruák, e, de acordo com Secretaria Municipal de Educação de

Aquidauana, nestas escolas se encontram matriculados alunos surdos que contam com a

mediação do tradutor/intérprete de Libras não indígena (SIC).

Vilhalva (2012) ainda menciona sobre as Línguas de Sinais indígenas, praticadas

pelos índios surdos existentes em diversas comunidades indígenas do país, onde cada uma

delas traz consigo características culturais e linguísticas variadas. Outra situação que o

tradutor/intérprete de Libras não indígena certamente encontrará na sua atuação em escolas

indígenas é o impacto cultural. Além dos costumes e dos hábitos diferentes, ele poderá

observar o comportamento dos próprios indígenas quanto à deficiência em si.

Conforme Bruno (2012), em sua pesquisa referente à surdez nas aldeias indígenas

de comunidades guaranis tradicionais da região de Dourados, o surdo indígena não é

reconhecido pela comunidade como pertencente a ela. Diante de toda a constatação acima

dita e tendo em vista a existência de estudantes indígenas surdos matriculados nas escolas

pertencentes aos municípios de Aquidauana, Anastácio e Campo Grande que contam com

a mediação de tradutores /intérpretes de Língua de Sinais não indígenas, torna-se

necessária uma investigação mais apurada no que concerne à atuação destes profissionais

diante do processo educativo desses alunos, com o intuito de analisar quais são e como são

estabelecidas as estratégias de mediação entre línguas e culturas, bem como se estas

estratégias são favoráveis para o processo de ensino e aprendizagem. Com isso pretende-se

investigar através de uma pesquisa qualitativa, de característica empírica com

questionários e através de entrevista comum grupo focal de tradutores/intérpretes de Libras

desta região que atuam com indígenas surdos nas escolas comuns e/ou bilíngues. Em

termos de atuação do profissional tradutor/intérprete, Quadros (2004, p. 27-28) afirma:

É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol, a Língua de Sinais Americana e fazer a interpretação para a Língua Brasileira de Sinais ou vice-versa. [...] Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégicas e técnicas de tradução e interpretação.

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A pretensa pesquisa se torna relevante justamente por conta da necessidade de se

investigar estas estratégias, de forma sistemática e aprofundada, com intuito de se

possibilitar a elaboração de um registro científico, e até mesmo de suscitar a

(re)estruturação e (re)adequação curricular de uma possível formação específica, de modo

a contribuir com o preparo apropriado de profissionais tradutores/intérpretes de Libras não

indígenas para atuarem com estudantes indígenas surdos, beneficiando assim, tanto estes

próprios profissionais como, especialmente, os alunos surdos indígenas.

Todavia, o principal objetivo dessa investigação é a identificação de produções

científicas voltadas a este tema, embora sabendo que a educação dos surdos atualmente

esteja ainda em crescente ascensão nos estudos e nas pesquisas, pretendemos observar

ainda a escassez de materiais pertinentes a este tema. Principalmente quando nos referimos

à temática: tradutores e intérpretes de Língua de Sinais e estudantes indígenas surdos,

dando assim mais visibilidade e importância de novos estudos para esta vertente.

Nesta oportunidade optamos primeiramente realizar o estado do conhecimento a

fim de mapear as produções referentes ao assunto, o que possibilita uma visão mais ampla

dos movimentos atuais a cerca do objeto de pesquisa pretendida, além de fornecer um

mapeamento das ideias já existentes nos dando mais segurança sobre as fontes de estudos.

2 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O objetivo da pesquisa no portal foi levantar produções na área da Pós-

Graduação, para isso, foi através do portal de periódicos da CAPES e em outros portais

como exemplo, a plataforma digital do Google na internet foram feitas as pesquisas através

do espaço de busca com a palavra-chave “Indígena Surdo”. Alguns trabalhos entre teses e

dissertações foram encontrados, porém apenas sete trabalhos realmente mantinham

equivalência referente ao tema, a partir das palavras-chave indicadas pelo pesquisador, o

portal realiza uma filtragem mais detalhada das produções o que facilita mais a busca.

Para tanto foram encontrados para esta pesquisa sete produções, depois de lido os

temas e os resumos indicamos ser pertinente apresentar no quadro abaixo apenas os

resultados de pesquisas onde os estudos voltam especificamente para o estudo e pesquisa

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ao indígena surdo, que ao todo se resumiram em trabalhos como estão destacados

conforme a tabela abaixo:

TABELA COM RESULTADOS ENCONTRADOS:

Tipo/Instituição

Ano

Título

Autor

Grau

UFSC 2008 Cultura Surda e Educação Escolar Kaingang

Giroletti, Marisa Fátima Padilha

Dissertação

UFSC 2009 Mapeamento das Línguas de Sinais Emergentes: um estudo sobre as

comunidades linguísticas indígenas de Mato Grosso do Sul"

Vilhalva, Shirley

Dissertação

UEPA 2009 Educação de Surdos no contexto Amazônico: um estudo da variação

linguística na Libras

Katia do Socorro Carvalho

Lima

Dissertação

UFGD

2011

A constituição do sujeito surdo da cultura Guarani-Kaiowá: os

processos próprios de interação e comunicação na família e na escola

Luciana Lopes Coelho

Dissertação

UNESP

2014

Sinalizando com os Terena: um estudo do uso da Libras e de sinais

nativos por indígenas surdos

Sumaio Priscilla Alyne

Dissertação

UFGD

2014 Formação de professores para o

Atendimento Educacional Especializado em escolas indígenas

João Henrique da

Silva

Dissertação

UFG

2016

A situação de comunicação dos Akwe-Xerente surdos

Euder Barretos Arrais

Dissertação

Ao analisar as pesquisas encontradas, percebemos que ambas são pesquisas

exploratórias, investigativas se referindo à educação dos indígenas surdos. Contudo, se

tratam de estudos em regiões diferentes do país: na região centro-oeste pelos programas de

Pós-Graduação das universidades federais da Grande Dourados na cidade de Dourados em

Mato Grosso do Sul e na de Goiás na cidade de Goiânia foi encontrado o maior número de

produções sobre a temática. Os trabalhos encontrados nesta região foram dos autores,

Coelho (2011), Silva ( 2014), Arrais (2016), observando os anos das publicações nota-se

obras bastante recentes e o interesse por este assunto foi devido a grande quantidade de

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povos indígenas nesta região. Vale salientar que as etnias pesquisadas nestes trabalhos

foram os Guarani- Kaiowá e os Akwe-Xerente.

A segunda região que obteve mais publicações nesta temática foi a região sul do

país através das pesquisadoras Girolleti (2008) e Vilhalva (2009), estas pioneiras nas

pesquisas nesta área. A pesquisa de Girolleti (2008) por sua vez analisou os indígenas

surdos de uma região em Santa Catarina, da etnia Kaingang pesquisou numa escola

inclusiva os sinais que estes estudantes indígenas surdos utilizavam entre eles percebendo

fortemente as influências culturais desta etnia. Já conforme a pesquisa de Vilhalva (2009)

realizou um mapeamento das etnias presentes nas regiões do estado de Mato Grosso do

Sul, pesquisou nas aldeias onde havia a existência de indígenas surdos, estes das etnias

Guarani-kaiowá e Terena, além de registrar alguns sinais emergentes.

A pesquisa aconteceu no espaço territorial da Terra Indígena de Dourados, nas aldeias Jaquapirú e Bororo. Conforme Pedrozo, Ferraz e Hall (2008)45 a área de Jaquapirú é habitada em sua maioria por Guarani, sendo que os Terenas também estão presentes. A área Bororo, por sua vez, é habitada por maioria Kaiowá. Entretanto, devido à proximidade com a área urbana, a comunidade indígena aprendeu o Português. VILHALVA (2009,p.24)

Observou-se nos estudos que os indígenas em sua grande maioria conhecem a

Língua Brasileira de Sinais, pois aprenderam em escolas urbanas ou em escolas bilíngues

indígenas. Entretanto, nem todos indígenas das aldeias conhecem a língua de sinais, fica

restrito apenas na comunicação nas famílias e entre outros. O trabalho de Vilhalva (2009)

foi um interlocutor e atuou como banco de dados para o trabalho de Sumaio (2014), podem

observar algumas citações por ela feitas no teor de sua produção.

Na pesquisa de Sumaio (2014) realizou viagens até o estado de Mato Grosso do

Sul em uma aldeia indígena situada no município de Miranda, onde pode observar a

cultura, os costumes , a língua terena oralizada e a língua de sinais pelos terenas surdos, o

qual foi o objetivo central do trabalho. Também a pesquisadora Vilhalva (2009) também

observou as línguas de sinais indígenas do Estado de Mato Grosso do Sul, porém ela

realizou viagens por regiões do estado para mapear os indígenas surdos distribuídos em

várias etnias, registrou os sinais de cada uma e, por conseguinte alguns sinais emergentes

construídos pelos indígenas surdos.

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As duas pesquisadoras são linguistas, investigaram em suma a língua de sinais dos

indígenas surdos no território do estado de Mato Grosso do Sul, onde se situa a segunda

maior população indígena do país. Contudo, em ambas as dissertações as considerações

finais deixam entender uma possível continuação e aprofundamento da pesquisa para o

doutorado. Em ambas as pesquisas, falam-se muito sobre sinais familiares ou caseiros e/ou

até mesmo o termo utilizado por Vilhalva (2009) de sinais emergentes. Os primeiros

contatos comunicativos de fato são com seus familiares, e a partir destes primeiros contatos

são construídos ou estabelecidos os primeiros “sinais” para interagirem. Isso imprime os

rituais de cada etnia, os costumes, a cultura em si. Para entender um pouco sobre os sinais

caseiros, segundo TEIXEIRA; CERQUEIRA (2014, p.3) explica:

Há surdos que nascem em famílias ouvintes. Em geral, são cerca de noventa e cinco, o que acaba por comprometer o processo de aquisição da linguagem desses sujeitos durante a infância. De modo geral, passam pelo período do balbucio oral e manual, porém não recebem nem input da língua oral por causa do déficit auditivo nem input visual porque os pais desconhecem qualquer língua de sinais. Com o tempo e conforme as necessidades, a comunicação entre mãe e filho, por exemplo, vai sendo construída: a criança vê vozes, procurando interpretar os gestos fono-articulatórios da mãe e esta, por sua vez, ouvi mãos, tentando compreender os gestos manuais do filho.

Estes gestos produzidos são compreendidos dentro do contexto social que vivem e

são associados entre os familiares para construir a ponte comunicacional entre eles, como

que uma “emergência” para a comunicação são sinais em processo de desenvolvimento.

Compreendendo as leituras dos resumos dos trabalhos podemos observar o grande

predomínio desses sinais caseiros e emergentes dentre os indígenas surdos e o grande

desafio na aquisição da língua de sinais dentre eles.

Na obra de Barretos (2016) uma investigação bastante recente sob a investigação

os indígenas surdos da etnia Akwe - Xerente na região do estado do Tocantins, também

com a preocupação de registrar onde estão e quais são as maneiras de comunicação em

língua de sinais. Seu interesse por este tema foi desde a sua inserção no mestrado tendo

contato com o próprio programa de pós-graduação com ações voltadas à educação de

indígenas, depois de participar de algumas reuniões com representantes indígenas começou

seu interesse comais afinco. Sua pesquisa foi a partir de investigações bibliográficas entre

teses e dissertações até sua pesquisa in loco, de observação. Em suas considerações finais

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deixou a preocupação na educação desses indígenas surdos que alguns não adquiriram a

língua de sinais urbana- a Libras, como ele coloca. Sobre a atuação de um professor surdo

estar na escola para esta função, dos sinais emergentes entre os indígenas surdos Akwe-

Xerente do qual indaga-se sobre um possível registro delas e finaliza que seu trabalho

ainda não poderia terminar ali, pois não conseguiu por diversos fatores alcançar todas as

aldeias.

Outra dissertação encontrada também interessante sobre indígena surdo foi o

“Cultura Surda e Educação Escolar Kaingang” por GIROLLETI (2008); do qual também

se baseia sobre a ótica da linguagem entre uma etnia a Kaingang, situada na Aldeia Sede,

no município de Ipuaçu, oeste de Santa Catarina. A autora utilizou-se da pesquisa-ação,

participando de um projeto dentro de uma escola indígena da comunidade para observar os

sinais eventualmente utilizados pelos estudantes indígenas surdos Kaingang. Por mais que

conhecessem a Língua brasileira de sinais ainda continuavam utilizando a Língua caseira

ou emergente que criaram entre eles. Segundo o resultado de suas considerações finais a

autora ressalta a importância dos sinais emergentes criados pela comunidade, que são

inerentes à cultura do povo. Também descreve da importância do registro desses sinais,

embora tenham a Língua Brasileira de Sinais como língua de instrução, a língua de sinais

emergente era de grande valor cultural aos estudantes indígenas surdos desta etnia.

Assim como os trabalhos citados anteriormente, cada qual com interesse de uma

etnia específica e regiões diferentes, mas preocupados com a educação desses indígenas

surdos espalhados pelo território brasileiro até mesmo não sendo vistos e atendidos pela

sociedade como deveria ser. Todos fazem uma varredura histórica e cultural das etnias

investigadas, bem como as particularidades legais, culturais e históricas do surdo.

2.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este relatório foi constituído com o objetivo de coletar produções científicas – teses

e dissertações relacionados ao objetivo de pesquisa a ser estudado na para a dissertação de

mestrado. A busca nos portais digitais evidenciou que são poucos trabalhos ainda

encontrados a respeito do Indígena surdo e que mostra uma lacuna na qual podemos

colocar nosso objeto. Cabe ressaltar a preocupação em todas as pesquisas encontradas

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sobre esses estudantes indígenas surdos dos quais ainda faltam tanta assistência e

atendimento adequado, pois ainda é pouco difundida e desconhecida. Existem várias tribos

indígenas espalhadas pelo território brasileiro, cada qual com sua cultura e tradição onde

surdos podem estar escondidos ou não, com ou até sem acesso à educação. Essa

especificidade na educação de indígenas surdos começam a emanar questionamentos sobre

quem seria os profissionais, sua formação, quais os atendimentos específicos assim como

discutido na pesquisa de SILVA (2014). Vimos também em todas as pesquisas o registro

de sinais emergentes que os indígenas surdos utilizam para comunicação nas aldeias e

bem como trazidas no convívio social. Sinais estes, criados através de associações entre os

indígenas surdos e seus familiares, sobretudo inerentes as suas culturas indígenas. A

importância desses indivíduos aprenderem a Língua Brasileira de Sinais para a construção

de sua identidade enquanto pessoa surda.

É nesse aspecto que nossa proposta de investigação se mostra pertinente, pois

contribuirá para os estudos relacionados à educação dos indígenas surdos inseridos nas

escolas nas regiões de Aquidauana, Anastácio e Campo Grande do estado de Mato Grosso

do Sul, estes sendo atendidos por tradutores / intérpretes de língua de sinais. Ao mesmo

tempo trará novas contribuições para este profissional que atua com estes estudantes

indígenas surdos. Reforçamos, porém, que esta foi apenas a primeira etapa de nossa

aproximação com as produções levantadas.

Com isso podemos reconhecer que este relatório pode auxiliar quanto à evidência

da necessidade de investigar sobre a formação desses profissionais que atuam diretamente

na interpretação em língua de sinais com esses estudantes indígenas surdos nas escolas,

quais serão os caminhos dos quais devemos percorrer para este sentido. Pois os trabalhos

pesquisados não especificam em si sobre a formação deles, mas consideram suas ações na

prática enquanto instrumento de acessibilidade comunicacional. Desse modo as produções

aqui expostas foram arquivadas em banco de dados da pesquisa a ser desenvolvida e,

posteriormente, serão lidas para auxílio e suporte teórico de nossos estudos. Pretende-se

ainda, realizar novo levantamento nos portais, pois algumas pesquisas ainda continuam

sendo concluídas e assim haverá possibilidades de coletar novas contribuições para o nosso

objeto.

3 REFERÊNCIAS

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FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denomidadas “Estado da Arte”. Revista Educação & Sociedade. Vol.23 no.79 Campinas Aug. 2002. Disponível em : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302002000300013 Acesso em : 10/02/17

MARCONI, Maria de Andrade;LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo-SP. Editora Atlas S.A., 5ª edição, 2003.

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VILHALVA, Shirley. Mapeamento das línguas de sinais emergentes: um estudo sobre as comunidades linguísticas Indígenas de Mato Grosso do Sul. 2009. Dissertação (Mestrado – Centro de Comunicação e Expressão) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, SC, 2009.

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