Educação Financeira para Inclusão Autônoma. Um Estudo de Caso

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    INTRODUÇÃO

    A ocorrência cada vez maior de crises financeiras atingindo diversos setores da

    economia decorre das contradições e complexidades da atual etapa imperialista do capitalismo

    financeiro globalizado. O consumismo e a expansão das oportunidades de crédito e

    financiamento mascaram algumas das contradições deste sistema. Em um cenário como este,

    de grandes instabilidades econômico-financeiras, é indispensável que os indivíduos busquem

    orientações para uma vida estável.

    Em meio a essa necessidade, surgem inúmeras iniciativas no âmbito da educaçãofinanceira com o propósito de conduzir o indivíduo à satisfação de seus desejos e

    necessidades a partir de um bom comportamento, adquirindo, assim, uma vida financeira

    saudável.

    Diante deste quadro de complexidades, tornam-se pertinentes alguns

    questionamentos. As iniciativas de educação financeira, consideradas tradicionais, são

    responsáveis pela manutenção da lógica de dominação da esfera financeira do capital e, desta

    forma, conduzem o indivíduo a uma inclusão financeira subordinada? Há possibilidade de seformular uma alternativa de educação financeira que vá além destes princípios e promova

    uma inclusão financeira autônoma? Já existem alternativas no âmbito da educação financeira

    que tratam de temas complexos do modo de funcionamento do sistema capitalista e, ainda,

    contribuam para o desenvolvimento, conscientização e emancipação pessoal?

    A partir de tais questões é possível formular a seguinte hipótese: Uma inclusão

    financeira autônoma somente é possível a partir de iniciativas de educação financeira que

    incorporem a crítica ao sistema, ou seja, delineie os principais atores envolvidos na lógicafinanceira do capital e seus respectivos interesses, propondo esclarecer as contradições e

    complexidades do sistema capitalista em sua fase atual.

    Desta forma, este estudo tem por objetivo geral mostrar uma alternativa de educação

    financeira voltada para inclusão financeira autônoma e crítica. Mais especificamente, deve ser

    entendida a adequação e pertinência da interpretação crítica fornecida pela economia política

    marxiana aos programas de educação financeira; a complexidade que envolve o tema do

    capital financeiro em termos de suas relações de poder e subordinação e, por fim, o estudo de

    caso do  Programa de Educação Financeira para Inclusão Socioeconômica Sustentável  –  

     PEFISS.

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     No primeiro capítulo, o estudo do funcionamento do sistema de crédito dentro da etapa

    atual do capitalismo, decorrente da crescente acumulação e concentração de capital a juros, é

    fundamental para o entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no

    capitalismo, causador de crises e contradições existentes em nossa sociedade. Nesta parte será

    mostrado, ainda, por que o movimento de concentração e centralização de capitais, iniciado

    no século XX, é fruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e

    cartéis, da expansão das Sociedades Anônimas –  SAs e da relação cada vez mais intrínseca

    entre o capital industrial e o capital bancário.

     No segundo capítulo, em um primeiro momento é feita uma breve caracterização das

    estratégias ortodoxas de educação financeira no Brasil e no mundo, assim como, as linhastradicionais de educação financeira.

    Em um segundo momento, apresenta-se uma alternativa de educação financeira, o 

     Programa de Educação para Inclusão Financeira Sócio-econômica Sustentável –  PEFISS .

    Esta iniciativa de educação não formal se distancia das abordagens tradicionais tanto por sua

    concepção teórico-metodológica crítica, quanto por seus conteúdos ministrados, e suas formas

    de avaliação.

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    1.  REFERENCIAL TEÓRICO

    O entendimento acerca do domínio global da lógica financeira do capital é

    fundamental para a análise da superficialidade teórica das linhas tradicionais de educação

    financeira, reforçando a importância de se discutir o funcionamento do sistema capitalista, em

    sua fase atual, de maneira crítica, sob a ótica da economia política marxiana.

    O estudo de Marx é fundamental para a compreensão de questões contemporâneas

    como, crises financeiras, especulação, volatilidade dos preços dos ativos, bem como o

    desenvolvimento do conceito de dinheiro, tendência à autonomização do valor e odetalhamento da idéia de valor e fetichismo1.

    A discussão envolvendo conflitos sociais, em escala nacional e mundial,

    acompanhados da nova concentração da riqueza, da maior centralização de capitais, do

     progresso técnico contínuo, da mecanização e das economias de escala, deve compor o campo

    teórico das iniciativas de educação financeira, pois evidenciam as contradições do dinheiro,

    sua circulação e posse.

     Na primeira seção, o estudo do funcionamento do sistema de crédito dentro da etapaatual do capitalismo, decorrente da crescente acumulação e concentração de capital a juros, é

    fundamental para o entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no

    capitalismo. Ou seja, segundo Marx, o dinheiro e o valor tendem a se libertar do plano da

    troca e da produção. Em conseqüência disto, a esfera autônoma do capital financeiro passa a

    valorizar-se independentemente do que ocorre na esfera real da economia, ou seja, a esfera

     produtiva, comprometendo sua capacidade de produção.

    A tendência de autonomia do capital traduz-se no chamado, capital fictício ou ilusório.É aquele que, ao ser emprestado, o dinheiro concentrado nos bancos se duplica em dinheiro e

    em títulos que representam direitos sobre dinheiro. Desse modo, a mesma soma de dinheiro

     pode dar origem a um grande número de títulos de crédito —  elementos do capital fictício.

    Daí nasce um dos aspectos mais destacados da economia capitalista, que “é a multiplicação

    ilusória da riqueza realmente existente, com base no capital portador de juros, por intermédio

    dos mecanismos monetários e financeiros”. (MARX, 1984, p.13).

     Na segunda seção, “o movimento de concentração e centralização de capital, iniciado

    1 GERMER, C. O Sistema de Crédito e o Capital Fictício em Marx, 1994 p.183

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    no século XX é fruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e

    cartéis, da expansão das Sociedades Anônimas –  SAs e da relação cada vez mais intrínseca

    entre o capital industrial e o capital bancário”. (HILFERDING, 1912, p.339).

    A reflexão sobre cada um destes fatos mostra a importância dos momentos históricos

    de formação e evolução da sociedade capitalista, tanto para compreender o desenvolvimento

    imperialista do capitalismo por todo o globo, como para refletir sobre as conseqüências

    negativas trazidas para a sociedade em geral, em especial aquelas de classe de renda inferior.

     Na terceira seção, destacam-se, também, os momentos importantes ao longo da

    história de formação dos regimes monetários do pós-guerra, além de alguns episódios

    especulativos característicos dos eufóricos ciclos econômicos. Dentro de uma visão

     panorâmica, finalizar com a etapa histórica é conveniente para entender a crise atual daeconomia capitalista globalizada e seus impactos.

    1.1. A perspectiva marxiana do capital portador de juros

    Discutir Marx é de suma importância diante do quadro atual de crises econômicas. A

    absurda ampliação do capital financeiro, principalmente de sua fração  fictícia ou ilusória, é a

     principal causa das crises especulativas, por causa dos derivativos acumulados em escala cadavez maior. A lógica de giro do capital portador de juros  mostra a tendência de

    autonomização do valor  do capital fictício.

     No capítulo 3, livro I de O Capital, Marx apresenta as três funções básicas do dinheiro

     –   medida de valor 2  (unidade de conta); meio de circulação3  (intermediário na troca de

    mercadorias4) e meio de entesouramento5. Esta última função divide-se na função de ‘tesouro

    abstrato’ –  somente guardar o dinheiro –  e, ‘fundo de reserva de meio de pagamento’, o qual

    será objeto desta análise.

    Deve-se notar que, na economia capitalista, o dinheiro não assume novas funções,assim como não assume uma nova natureza ou definição. Apenas se altera a

    2  Sendo todas as mercadorias, enquanto valores, trabalho humano objetivado e, portanto, sendo em si e para sicomensuráveis, elas podem medir seus valores, em comum, na mesma mercadoria específica e com isso transformar estaúltima em sua medida comum de valor, ou seja, em dinheiro (MARX, p.207).3  Como tais quantidades de ouro, elas se comparam e medem entre si e se desenvolve tecnicamente a necessidade derelacioná-las a um quantum fixado de ouro como sua unidade de medida (MARX, p.210).4 O processo de intercâmbio da mercadoria se completa, portanto, na seguinte mudança de forma:Mercadoria  —  Dinheiro  —  Mercadoria ( M —  D —  M). Segundo seu conteúdo material, o movimento é  M —  M , troca demercadoria por mercadoria, metabolismo do trabalho social, em cujo resultado o próprio processo se extingue. (MARX, p.217).

    5 Esta função, dentro de uma análise neoliberal  caberia, apenas, a função de ‘tesouro abstrato’. 

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    hierarquia das suas funções e surgem novas formas de dinheiro para realizá-las, doque é exemplo o uso de notas bancárias, em lugar do ouro, para realizar a função demeio de pagamento. Por outro lado, o conteúdo das suas funções pode alterar-se,como é o caso, em particular, do entesouramento, cuja fonte e papel se alteramsubstancialmente (GERMER, 1994, p.180).

    O entesouramento próprio do desenvolvimento da produção capitalista, o

    entesouramento exigido pelo processo de troca, é um fundo de reserva de que necessita o

    capitalista produtivo, quando ocorre à variação dos preços da mercadoria. Seu crescimento

    acompanha o desenvolvimento capitalista. Surge quando há a quebra temporal entre a compra

    e a venda ( M  —   D / D  —   M). Posso comprar antes de vender minha mercadoria, ou seja,

    necessito adquirir mercadorias a serem compradas no futuro. Se há dívida, há a necessidade

    de remunerar o capital emprestado pelo tempo que ele foi disponibilizado.As funções entesouramento e meio de pagamento já pressupõem o capital a juros. No

    entesouramento é a taxa de juros que determina a conversão de tesouro em dinheiro. Se há

    taxa de juros há capital a juros. A análise do capital a juros é fundamental para o

    entendimento de que há uma tendência a autonomização do valor no capitalismo. Ou seja,

    segundo Marx, o dinheiro e o valor tendem a se libertar do plano da troca e da produção.

    Passam a valorizar-se independentemente do que ocorre na esfera real da economia.

    Para Marx, o entesouramento no capitalismo, diferentemente do que ocorre na

    economia de circulação simples, consiste na soma global das reservas monetárias dos

    capitalistas, concentrada nos bancos como capital emprestável ou capital portador de juros.

    O capital real que visa mais dinheiro, tem maior autonomia (enquanto valor) porque

    assume a forma de mercadorias sem perder a finalidade de se valorizar (D –  M –  D’). Porém,

    o capital real não tem autonomia total enquanto valor: para se valorizar ele precisa assumir a

    forma de mercadorias. Portanto, só no capital a juros a autonomia será plena.

     No ciclo D –  D –  M –  D’  –  D’, tudo é capital. É imprescindível que, para o dinheiro e

    a mercadoria exercerem a função de capitais, sejam desembolsados como capital na compra

    de meios de produção (capitais industriais, por ex.). Se ao final do processo houver acréscimo

    de valor, tudo é capital; senão, nada será capital. Aqui o juro substantiva-se como forma

    autônoma de remuneração, ao contrário do que acontece com o capital real, que precisa

    transformar-se em mercadorias para depois voltar à forma genérica do dinheiro.

    Por acumulação financeira, entende-e a centralização em instituições especializadas

    de lucros industriais não reinvestidos e de rendas não consumidas, que têm porencargo valorizá-los sob a forma de aplicação em ativos financeiros  –   divisas,obrigações e ações  –   mantendo-os fora da produção de bens e serviços.(CHESNAIS, 2005, p.37).

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    Para Marx, o crédito aparece antes mesmo do sistema capitalista esteja instalado. Uma

    forma antiga de crédito é a usura. Este tipo de crédito diferencia-se do crédito moderno, no

    qual predomina o Sistema de Crédito correspondente à fase do domínio do capital industrial.Este sistema de crédito envolve bancos, crédito comercial entre capitalistas e todos os títulos

    de dívida.

    Em sua teoria, Marx define uma das funções do dinheiro como meio de realizar

     pagamentos diferidos, em contraste com os pagamentos à vista  —   função de meio de

    circulação do dinheiro o meio de pagamento. A forma geral e dominante do dinheiro, na

    economia capitalista desenvolvida, é o dinheiro de crédito, que se baseia na dominância da

    função de meio de pagamento. Ao lado do ouro circulam títulos de crédito que são as

    diferentes formas de existência do dinheiro de crédito, como notas bancárias, letras de

    câmbio, cheques, etc.

    A base do dinheiro de crédito é constituída pelo crédito comercial, que consiste nos

    créditos que os capitalistas industriais e/ou comerciais se concedem uns aos outros, através do

    deferimento dos pagamentos, no decorrer do processo de produção e comercialização. O

    conjunto dos títulos correspondentes a esses créditos pode ser representado pelas letras de

    câmbio (ou duplicatas, no Brasil). A letra de câmbio substitui o dinheiro em espécie e

    apresenta-se como a forma originária do dinheiro de crédito.

    A generalização do dinheiro de crédito decorre de uma das funções essenciais do

    crédito que é a de economizar meios de circulação. O crédito bancário forma-se por um

     processo independente do crédito comercial. O crédito bancário nasce como comércio de

    dinheiro, por isso também é denominado de crédito monetário. Desta forma, a economia

    capitalista conquistou uma relativa liberdade, isto é, uma margem mais ampla, para expandir-

    se sem se chocar com os limites impostos pela base metálica.

    O surgimento e a expansão do dinheiro de crédito apresentam-se como condição

    essencial de expansão do capitalismo, que não ocorreria na escala conhecida se permanecesse

    atada ao sistema monetário, ao crédito comercial e à base metálica comparativamente

    modesta.

    O sistema bancário combina duas funções básicas. Em primeiro lugar, a de executar as

    operações monetárias rotineiras dos capitalistas industriais e comerciais  —   pagamentos,

    cobranças, guarda dos fundos de reserva, etc. No que diz respeito a essa função, o capital

     bancário forma-se de modo semelhante ao capital comercial, isto é quando a parcela do

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    capital industrial necessário à realização das operações monetárias se destaca do capital-

    matriz, adquirindo autonomia funcional.

    A segunda função é a de administrar o capital monetário do conjunto dos capitalistas,

    englobando as frações temporariamente inativas dos capitalistas industriais e comerciais e o

    capital rentista, além de todas as demais frações de dinheiro existentes na economia, como,

     por exemplo, a forma-dinheiro do rendimento, sobretudo a parte da mais-valia destinada ao

    consumo capitalista, que se deposita nos bancos para ser gasta ao longo do tempo

     Nessa segunda função, o sistema bancário centraliza e redistribui o capital monetário

    agregado da economia, transformando-o em capital de empréstimo.

    Por um lado, a acumulação do capital industrial, que produz sucessivamente novas

     parcelas de capital monetário que se acrescentam à massa preexistente do capital monetário propriamente dito. Assim, o capital industrial, ao crescer, promove o crescimento do capital

    monetário.

    Por outro lado, o capital monetário autônomo previamente existente  —   o capital

    rentista  —  se acumula com base nos juros obtidos pelas suas aplicações correntes na esfera

    monetário-financeira, que são a sua razão de existir. Tais juros constituem parte do lucro

    obtido pelo capital industrial e resultam da sua divisão em juro e lucro empresarial.

    Assim, a acumulação do capital rentista depende, claramente, do movimento doslucros do capital industrial, na medida em que os juros constituem uma parcela destes.

    O lucro, como manifestação da mais-valia criada pelos trabalhadores é, em parte, apropriado

     pelos capitalistas financeiros.

    A parte do capital monetário que advém da acumulação do capital rentista é, sem

    dúvida, a que mais cresce. Daí nasce um dos aspectos mais destacados da economia

    capitalista, que “é a multiplicação ilusória da riqueza realmente existente, com base no capital

     portador de juros, por intermédio dos mecanismos monetários e financeiros”. (MARX, 1984, p.13).

    Conhecido como capital ‘fictício’ ou ‘ilusório’  é aquele que, ao ser emprestado, o

    dinheiro concentrado nos bancos se duplica em dinheiro e em títulos que representam direitos

    sobre dinheiro. Assim, um único valor monetário transformou-se aparentemente em dois

    valores, o que obviamente é impossível, pois só um deles, o dinheiro, é que constitui valor

    real.

    O capital fictício diferencia-se não somente do capital real —  isto é, capital produtivo

    e capital-mercadoria  — , como também do capital monetário, que não é capital real, mas é

    forma monetária do capital ou é simplesmente dinheiro o depósito que um capitalista faz no

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    seu banco, de capital monetário momentaneamente desocupado, duplica-se em dinheiro

    depositado no banco e título de crédito  —  certificado de depósito —  nas mãos do capitalista;

    Desse modo, a mesma soma de dinheiro pode dar origem a um grande número de títulos de

    crédito —  elementos do capital fictício.

    As características dessas transações revelam o fato de que o capital fictício também se

    distingue por possuir um movimento próprio, diferente do movimento do capital monetário e

    do capital real.

    O fetichismo inerente e imanente às formas de ser da produção capitalista seencontra efetivada de maneira cabal naquela do capital a juros, na medida em queaparece como capital em sua imediatidade como forma capital pura. Forma na qual ovalor se valoriza tendo por mediação apenas e tão-somente, aparentemente, atemporalidade estabelecida em nexos sociais contratuais. É um dinheiro que se fazmais dinheiro num intervalo de tempo determinado, sem nenhum elementointermediário que lhe seja exterior e estranho. (ALVES, 2009, p.03).

    Por exemplo, os títulos que dão direito a uma fração do rendimento são denominados

    ação. Seu preço é determinado pelo valor presente dos rendimentos futuros ou lucros incertos,

    o que as diferencia do capital portador de juros, não dependendo diretamente do valor do

    capital ativo. Dependente torna-se, então, do montante do lucro, sendo este variável e incerto

    e, ainda, da taxa de juros vigente que traz para o presente o valor do rendimento esperado.A variação do preço das ações não afeta diretamente o capital industrial ativo. O

    mesmo ocorre com o capital fictício. O dinheiro adiantado pelos acionistas se transforma

    irreversivelmente em capital industrial, Dá direito a um rendimento, mas este é incerto

    (depende do lucro e da taxa de juros). Após a venda das ações o dinheiro obtido não retorna

     para a empresa.

    As ações têm uma esfera própria de circulação e valorização, vejamos como funciona.

    Primeiramente observa-se a circulação ações são emitidas (A) e vendidas contra pagamento

    em $ (D); esse dinheiro se divide em duas partes: uma (d1) constitui o lucro do fundador (de

    direito do banco emissor, geralmente, corresponde apenas à transformação do capital produtor

    de lucros em capital que rende juros); a outra (D1) se transforma em capital produtivo: D = d1

    + D1.

    A circulação A  –  D2  –  A se desenrola num mercado próprio (Bolsa). Uma vez criada,

    a ação nada mais tem a ver com o giro real do capital industrial.

    Os conceitos estudados nesta seção são para esclarecer as contradições internas ao

    funcionamento da etapa financeira do capital, dentro do sistema de crédito. A autonomização

    do valor  do capital portador de juros ao deslocar-se numa esfera própria na forma de capital

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     fictício  é o principal aspecto que evidencia duas principais contradições presentes na atual

    etapa do modo de produção capitalista.

    O capital fictício é a forma mais avançada de capital e, suas contradições explicitam a

    origem e natureza da instabilidade sistêmica. Primeiro, porque é um capital ‘irreal’, ou seja,

     prescinde da dimensão material para seu processo de valorização. Contudo, de forma

    contraditória, esta autonomia é apenas relativa uma vez que, segundo Marx, o lócus  por

    excelência da mais valia e, portanto do próprio sistema capitalista, é a produção. Assim, o

    capital financeiro tende a minar a base mesma de sustentação sobre a qual se assenta

    Este é o caso da valorização especulativa dos derivativos que gerou a crise financeira

    atual, pois o capital fictício não tem condições de manter seu valor, é fetiche.

    1.2. A Expansão das Sociedades Anônimas –  SAs e a Formação dos Monopólios

    O estudo da expansão das Sociedades Anônimas –  SAs por Hilferding e Lênin mostra

    como o capital monopolista se desenvolve e a importância determinante do capital financeiro

     para viabilizar isso e, como, a partir disso, a dimensão financeira subordina a dimensão

     produtiva, reforçando aquilo que Marx previa.

    “O movimento de concentração e centralização de capital, iniciado no século XX éfruto da abolição da livre concorrência que dá lugar à formação de trustes e cartéis, da

    expansão das Sociedades Anônimas  –   SAs e da relação cada vez mais intrínseca entre o

    capital industrial e o capital bancário”. (HILFERDING, 1912, p.339).

    O imperialismo europeu do final do século XIX é, portanto, um aprofundamento dos

    mecanismos de exploração que já funcionavam desde o século XVI, sob o nome de

    colonialismo.

    O capitalismo, chegado à sua fase imperialista, conduz à beira da socializaçãointegral da produção; ela arrasta os capitalistas, seja como for, independente de suavontade e sem que eles tenham consciência disso, para uma nova ordem social,intermédia entre a livre concorrência e a socialização integral. (LÊNIN, 1985, p.25)

    A expansão das SAs é fundamental para se compreender o desenvolvimento capitalista

    na medida em que se considera a separação entre a propriedade e a gestão, ou seja,

    consideram-se os proprietários capitalistas como capitalistas de dinheiro.

    O capitalista convertido em acionista está liberado da função empresarial. Sua nova

    função, a de acionista, passa a arriscar apenas uma soma que ele mesmo determina, não sendo

    responsável por mais do que essa soma. Diferentemente do capitalista industrial, o acionista

    tem apenas direito a apenas uma parte do lucro, mas pode recuperar o capital investido

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    rapidamente como, por exemplo, vendendo em um mercado próprio, como a Bolsa de

    Valores, pois as ações são a riqueza na forma mais líquida.

    Conseqüentemente, o capital do acionista investido na SA passa a se comportar como

    capital monetário, ou seja, a juros. É a existência de um mercado organizado que dá ao capital

    do acionista o caráter de capital a juros. Dividendos tomam a forma de juros, mesmo

    incorporando lucro e juros.

    Há a concessão ao capitalista individual (que detêm o controle acionário) de um

    enorme poder de disposição sobre o capital e o trabalho alheio. Através do controle acionário

    é possível controlar um capital muito superior àquele que foi aportado.

    Portanto, as SAs são, de um lado, instrumentos fantásticos de centralização por

     potencializarem as capacidades produtivas e, de outro, instrumentos que convertem lucro em juros, evidenciando a tendência de autonomização do valor. “O processo de concentração do

    desenvolvimento industrial apresenta-se como característica importante do sistema

    capitalista” (Lênin, 1985, p.16).

     Na fase inicial das SAs, no contexto tecnológico e científico da II Revolução

    Industrial, a composição de seu capital se dava através da adesão direta de capitais individuais

    que, separadamente, compravam ações de grandes empresas, pois eram pequenos demais para

    desempenhar isoladamente a função industrial.Já com o desenvolvimento do sistema bancário a situação é diferente, pois os capitais

    individuais já se encontram reunidos nos bancos, estando estes encarregados da mediação

    entre os pequenos capitais e as SAs. São eles que vendem fundos de ações aos seus clientes,

    sendo que, atualmente, somente grandes investidores costumam ir à Bolsa. “Esta

    transformação de uma massa de modestos intermediários em um punhado de monopolistas

    constitui um dos processos essenciais da transformação do capitalismo em imperialismo

    capitalista” (LÊNIN, 1985, p.30). Em sua relação com as empresas familiares, os bancos geralmente concedem crédito

    de pagamento (liquidez, capital de giro, duplicatas) porque as empresas desse tipo só podem

     pagar tais empréstimos através de seus lucros.

    Já na relação com as SAs, os bancos coordenam a subscrição de ações adiantando

    capitais as SAs, realizando o levantamento das cotas e oferecendo as ações aos clientes. A

    capacidade de obtenção de crédito das SAs junto aos bancos é muito maior, pois eles podem

    ser pagos não apenas com o lucro advindo da produção, mas também pela emissão de novas

    ações.

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    É grande o interesse dos bancos nisso, pois é uma atividade que lhes dá o lucro do

    fundador. Os bancos também costumam adiantar crédito de capital (e não apenas capital de

    circulação) as SAs com mais freqüência, já que, nesse caso, há maior segurança de

    recebimento, pois as SAs têm mais opções de capitalização: lucros correntes e novas emissões

    que dão lucro ao próprio banco. Os bancos também podem investir em ações ao invés de

    apenas intermediar sua venda. Tornam-se agentes ativos no mercado de capitais. Com isso,

    nasce um interesse duradouro do capital bancário pelo capital industrial (capital financeiro).

    Deste modo, não é tão clara hoje em dia a diferenciação entre empresários produtivos e

    financeiros, pois os bancos passam a ser representados nos conselhos fiscais e diretorias das

    SAs e, ainda, fiscalizam as SAs.

    Dadas a superioridade no tocante à capacidade de crédito e acumulação, as SAsgeralmente obtêm lucros muito maiores que as empresas individuais. A totalidade dos lucros

    não precisa ser distribuída entre os acionistas (dividendos), necessariamente. O acionista se

    comporta como capitalista do dinheiro; nesse sentido um dividendo levemente superior à taxa

    de juros já o satisfaz. Ou seja, as SAs geralmente retêm parte dos lucros e criam reservas para

    o futuro.

    Portanto, num contexto de acirramento da concorrência ou recessão, as SAs podem

    fixar preços abaixo dos custos de produção e, mesmo assim, distribuir dividendos iguais oulevemente inferiores à taxa de juros. Vê-se aqui mais uma maneira pela qual as SAs

     promovem a centralização de capital: na guerra de preços eliminam concorrentes menores.

    À concentração da produção nessas organizações, determinando o fim da livre

    concorrência, segundo Lenin é o que caracteriza a atual etapa do modo de produção capitalista

    como monopolista ou imperialista. As integrações e fusões atuam sob a forma de trustes ou

    cartéis.

    Lênin (1985, p. 22) divide em três fases a história de formação e evolução dosmonopólios.

    A primeira fase, entre os anos de 1860 a 1880, corresponde à etapa da livre

    concorrência e do livre comércio; os oligopólios já estão se formando, mas ainda são

    embriões. Os processos de industrialização de nações como Alemanha, da França e dos EUA

    foram beneficiados pelo avanço da importação de bens de capital ingleses a baixos preços.

    Como a técnica era a da I Revolução Industrial, era fácil promover a implantação de setores

    industriais copiando os processos produtivos ingleses (a contratação de operários

    especializados ingleses  –  homens práticos  –  garantia a cópia dos processos). Característica

    importante para justificar a evolução crescente na formação de oligopólios.

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     Na segunda fase, dos anos 1880 até a crise de 1900-03, os cartéis são transitórios. A

    grande depressão de 1870 é a primeira crise marcada por superprodução e deflação da história

    do capitalismo. Nessa fase há grande desenvolvimento dos cartéis, pois estes são meios que

    evitam que a queda de preços (e de lucros) se prolongue.

    A integração elimina as diferenças de conjuntura e assegura, também, à empresa

    integrada uma taxa de lucro mais estável. A integração elimina o intermediário.

    Possibilita aperfeiçoamentos técnicos e, por conseguinte, a obtenção de lucros

    suplementares por confronto com os da empresa não-integrada. (HILFERDING,

    1985, p. 286-287).

     Na terceira e última fase, a partir de 1903, os cartéis já apresentam maior estabilidadee seu número avança significativamente. Tornam-se uma das bases de toda a vida econômica.

    O capitalismo se transforma em imperialismo. Eles estabelecem entre si acordos sobre as

    condições de venda, as trocas etc. Repartem os mercados entre si, determinam a quantidade

    dos produtos a fabricar, fixam os preços e repartem os lucros entre as diversas empresas. Na

    Alemanha, por exemplo, os 250 cartéis existentes em 1896 passam para 385 em 1905. Estas

    12 mil empresas integradas consomem mais da metade do vapor e da eletricidade; Já nos

    EUA o número de cartéis era 185 em 1900 e 250 em 1907, reunindo cerca de 25% dasempresas.

    Até aqui vimos que, na economia capitalista, a propriedade do capital é financiada

     pela emissão de ativos financeiros. Os mercados financeiros que criam e negociam esses

    ativos são, portanto, elementos centrais na operação das economias capitalistas. A

    autonomização de seu valor na esfera financeira caracteriza o capital fictício, compromete os

    investimentos em novos ativos de capital e, assim, os mercados financeiros dominam o ritmo

    de crescimento e o potencial de emprego das economias capitalistas.A expansão das SAs, nas palavras de Hilferding e Lênin, é fundamental para se

    compreender o desenvolvimento imperialista na medida em que se considera a fusão do

    capital financeiro com o capital produtivo, reforçando o que Marx previa.

    A seção a seguir analisará o funcionamento da etapa financeira do capital globalizado

    destacando os interesses do mercado e do Estado. Com o objetivo de mostrar como o processo

    de desregulamentação bancária, ocorrida ao longo dos últimos anos dentro do Regime Dólar-

    Wall Street (RDWS), contribuiu para perpetuar o domínio da esfera financeira sobre a esfera

     produtiva.

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    1.3.A Globalização Financeira –  O Regime Dólar-Wall Street (RDWS) 

    O tema da globalização financeira, da instabilidade e das crises do mercado de

    capitais, estudados nesta seção, serve para mostrar como se caracteriza e evoluem tais

    fenômenos, sob a perspectiva da economia política. Seu objetivo é demonstrar que a atual

    etapa do modo de produção capitalista potencializa e explicita todas as contradições presentes

    na análise de Marx, Hilferding e Lênin. Tais desenvolvimentos são fundamentais para uma

     proposta crítica de educação financeira voltada para a autonomia.

    Globalização financeira é o processo de integração dos mercados financeiros locais -tais como os mercados de empréstimos e financiamentos, de títulos públicos e

     privados, monetário, cambial, seguros, etc. - aos mercados internacionais. No limiteos mercados nacionais operariam apenas como uma expressão local de um grandemercado financeiro global. (PRADO, 2001, p.47).

    O fenômeno da integração não trata apenas do crescimento de transações financeiras

    com o exterior, mas na integração dos mercados financeiros nacionais na formação de um

    mercado financeiro internacional. Este processo de integração dos mercados financeiros locais

    só tornou-se possível, de forma sistemática e organizada, a partir do Regime Dólar-Wall

    Street (RDWS).

     Na análise da globalização financeira, merece destaque o papel dos mercados e do

    Estado, no qual se desenvolve o processo de autonomia da esfera financeira e seu domínio

    sobre a esfera produtiva.

    Entre os serviços financeiros6 que têm crescido aceleradamente nas últimas décadas

    temos as atividades bancárias internacionais, as operações com moedas e o mercado de

    derivativos. Desde a Crise do Petróleo em 1973 observou-se um rápido crescimento da

    atividade bancária com euromoeda, estimulada pela grande demanda por empréstimos dos países importadores de petróleo. O número de bancos, especialmente os norte-americanos,

    com filiais no exterior também cresceu rapidamente desde essa década.

    Com a crise da dívida na década de 1980 a expansão dos bancos através da abertura de

    filiais no exterior desacelerou-se, para retomar um processo de crescimento acelerado na

    década de 1990. Esta última década foi marcada não apenas por um grande crescimento da

    6 Um estudo recente do Grupo dos Dez, definiu serviços financeiros como as atividades dos Bancos Comerciais,

    Bancos de Investimentos, Seguro, Gestão de Ativos. A estes podemos acrescentar as atividades do mercadofinanceiro internacional associadas a diversificação de risco (inclusive mercados câmbial e de derivativos),desenvolvimento e vendas de produtos financeiros, garantia de transações (custódias, confirmação de contratosetc). (PRADO, 2001, p. 36).

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    internacionalização de empresas financeiras, mas também de um elevado nível de fusões e

    aquisições dessas firmas nos principais países industrializados. Nesse sentido, o número de

    firmas bancárias caiu em todos os países durante a década e a concentração da atividade

     bancária, medida como percentagem dos depósitos bancários controlados pelos grandes

     bancos, cresceu continuamente7.

    A globalização financeira, no entanto, tem sido fonte de grande instabilidade. O

    crescimento dos fluxos financeiros internacionais e a desregulamentação dos serviços

    financeiros internacionalmente vêm sendo acompanhados por crises cuja freqüência vem

    aumentando na última década. (PRADO, 2007, p. 55).

    Isto não ocorre por acaso. O colapso do sistema monetário internacional criado na

    conferência monetária de Bretton-Woods em 1944, e a ordem internacional que surgiu nadécada de 1970 em substituição a este sistema, explica em grande parte esta instabilidade.

    O sistema de Bretton-Woods foi negociado para reorganizar as relações econômicas e

    internacionais depois da 2ª Guerra, com objetivo de evitar a repetição da grande instabilidade

    monetária que acompanhou as tentativas de recriação do Padrão Ouro no período entre

    guerras; o dólar seria a moeda de referência do sistema, e deveria ser trocado pelo Tesouro

     Norte-Americano à taxa de câmbio fixa; as outras moedas deveriam manter-se com regime de

    taxas de câmbio fixas, mas ajustáveis, com relação ao dólar; seriam controlados movimentosespeculativos na conta de capital; O FMI seria a organização internacional responsável por

    supervisionar a operação do novo sistema monetário.

    O Sistema de Bretton-Woods, combinado com a política keynesiana empreendida

     pelos países da Europa Ocidental e os EUA, viabilizou que os países industrializados tivessem

    entre 1948 e 1971 as maiores taxas de crescimento econômico registradas na história

    econômica contemporânea. (PRADO, 2001).

    Entretanto na segunda metade da década de 1960 este sistema já dava mostras de crise.Por um lado, as políticas macroeconômicas de promoção do pleno emprego começaram a

     pressionar o nível de preço de forma mais significativa que seus efeitos sobre a taxa de

    desemprego.

    Uma explicação para este fenômeno seria a desaceleração da taxa de crescimento da

     produtividade, associada ao esgotamento das oportunidades abertas com a tecnologia da

    época, baseadas no uso intensivo de equipamentos eletro-mecânicos, em rendimentos

    crescentes de escala e na organização fordista da produção. Entretanto, tal fato, associado as

    7 Ver Group of Ten, 2000,p.3

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     políticas monetárias expansivas dos países industrializados, e em especial aos elevados

    déficits da Balança de Pagamentos norte-americanas, pressionavam não apenas a inflação

    mundial, mas a taxa de câmbio dólar-ouro.

    A década de 1970 foi marcada por uma crise financeira no início da década, pela

     primeira crise do petróleo em 1973, e pela crise gerada pela elevação da Taxa de Juros nos

    EUA a partir de 1979, nos governos Regan e Carter, o que acarretou mudanças profundas na

     política econômica da maioria dos países do mundo.

    Inicialmente, essas transformações ocorreram nos países desenvolvidos, com o

    abandono das taxas de câmbio fixa e a progressiva liberalização no movimento de capitais de

    curto prazo.

    Em um segundo momento, sob a pressão da negociação da crise da dívida externa, os países em desenvolvimento foram também obrigados a realizar profundas mudanças na suas

     políticas econômicas e reavaliar suas estratégias de desenvolvimento.

    Em um terceiro momento os países socialistas da Europa Oriental, em uma revolução

    comparável com as ocorridas após a Primeira Guerra Mundial, reverteram em alguns poucos

    anos a economia de seus países, até então totalmente centralizadas e, na maioria dos casos,

    completamente estatizadas, em um capitalismo desorganizado e selvagem.

    O quarto movimento foi a desvalorização do peso mexicano em 1994-95, que marca a primeira crise de nova geração latino-americana, isto é, a primeira crise latino-americana pós-

    Plano Brady. Posteriormente, as economias desenvolvimentistas da Ásia oriental entraram em

    crise, encerrando um longo ciclo de crescimento acelerado.

    Em um quinto e dramático movimento, em maio de 1998, a Rússia mergulhada no

    caos político e na corrupção crescente desvaloriza o rublo, marcando a primeira crise

    financeira pós-socialista. Finalmente, a crise alcança a América Latina com a desvalorização

    do Real e a pressão crescente sobre o regime de taxa de câmbio fixa argentina.Com a crescente instabilidade internacional, a partir da década de 1970, nas

    universidades, nos governos e nas organizações internacionais, começaram a ascender, em

    substituição aos economistas keynesianos, partidários das novas correntes liberais que

    sustentavam a necessidade da redução do estado para a um nível similar ao período anterior a

    Segunda Guerra Mundial, com liberdade de movimento de capitais, aliada a uma rápida

    desregulamentação e confiança no papel do mercado, mesmo em atividades antes exclusivas

    do setor público.

    O argumento apresentado era de que os avanços tecnológicos e organizacionais,

    depois da difusão da microinformática na década de 1980, levaram a erosão dos obstáculos

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    geográficos, ideológicos e políticos às transações internacionais e a ação das firmas

    transnacionais.

    Essas novas forças, que estes economistas chamavam de globalização, levariam a um

    crescimento mais rápido, principalmente dos países mais pobres, permitindo a convergência

    nos níveis de renda e dos padrões de consumo, no mundo todo. Neste caso, política

    econômica seria ainda relevante, mas apenas na medida em que regimes dirigistas resistiam a

    uma rápida e ampla liberalização e desregulamentação das atividades domésticas que lhes

    facultasse o aproveitamento das novas oportunidades.

     Nesse contexto, a globalização financeira, que como vimos foi consequência de um

    conjunto de acontecimentos históricos, foi considerada através dessa interpretação, por um

    lado, como produto inevitável das transformações econômicas e tecnológicas recentes, e poroutro lado, como altamente desejável para os mercados e instituições financeiras.

    Pode-se, portanto, concluir que o funcionamento do sistema capitalista em sua fase

    atual é produto de uma assimetria de poder e dominação existente na lógica financeira do

    capital.

    Portanto, o capital financeiro assume o controle do Estado hegemônico norte-

    americano. Ao reformular o sistema financeiro internacional de acordo com a lógica do

    capital financeiro, generaliza pelo conjunto do sistema um regime permissivo edesregulamentado para as instituições financeiras. Dá plena liberdade para que elas atuem

    Como é dever do Estado estabelecer regras de regulação, vê-se, desta forma, subordinado à

    dominação financeira do capital.

    A idéia geral consiste em mostrar que dentro da lógica do capital financeiro, a

    tendência de autonomização do seu valor frente à esfera produtiva leva ao colapso.

    Historicamente, isto se manifestou através da expansão das SAs e formação de monopólios,

     presentes nas palavras de Lênin e Hilferding. Nesse período, já havia uma crescente importância do capital financeiro perante o

    capital produtivo, porém, ainda havia algum tipo de regulamentação que freava este

    desenvolvimento. Ao passo que os mercados foram sendo cada vez mais desregulamentados,

    a superioridade do capital financeiro tornou-se inevitável. A globalização financeira nada

    mais é que a etapa atual orientada pelas regras do RDWS, potencializando e legitimando a

    acumulação de capital fictício.

    Ao mesmo tempo em que a primeira década do novo milênio chega ao fim, grande

     parte da população do mundo sofre com desemprego e capacidade ociosa. A produção foi

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     paralisada por causa da violenta crise financeira vivida nos países mais ricos do mundo e que

    interrompeu a atividade econômica em todo o planeta.

    Recontar a história de formação do sistema capitalista ajuda a entender a magnitude

    das implicações desta etapa madura e contraditória. Porém, a regulação e segmentação dos

    mercados de capitais não são suficientes para garantir a solidez e eficiência do sistema

    financeiro num contexto de crises.

    Uma forma de amenizar as desigualdades sociais a partir de um entendimento acerca

    dos conceitos e produtos financeiro dá-se através da promoção de iniciativas de educação

    financeira. Sejam elas públicas ou privadas, as iniciativas de educação financeira devem

    contribuir para a autonomia das decisões individuais e coletivas, envolvendo a correta gestão

    dos gastos e receitas, o entendimento crítico do funcionamento do sistema capitalista em suaetapa atual e, ainda, contribuir para a emancipação social e política a partir de métodos

    interdisciplinares de ensino.

    Para tanto, o próximo capítulo tem por objetivo mostrar ao leitor como e porque

    nasceram as iniciativas de educação financeira no Brasil e no mundo, destacando algumas

    linhas tradicionais no tratamento do tema.

    E, ainda, será apresentada uma iniciativa inovadora de educação financeira, que

     propõe uma educação crítica e autônoma, considerando o contexto atual de funcionamento domodo de produção capitalista e suas contradições.

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    II –  A EDUCAÇÃO FINANCEIRA

    A educação financeira é um tema com crescente interesse por parte da sociedade não

    só pela importância que as decisões financeiras têm ao longo da vida, mas também devido ao

    atual cenário de crise econômico-financeira, afirma Pinheiro (2008).

    A partir do quadro das Estratégias de Educação Financeira proposto pela OCDE8 em

    vários países, inclusive no Brasil, inúmeras ações voltadas para a educação financeira têm se

    desenvolvido. Órgãos governamentais, instituições financeiras (bancárias ou não) e, até

    mesmo, iniciativas particulares estão cada vez mais mobilizados em disseminar a educaçãofinanceira à sociedade em geral.

     Na primeira parte deste capítulo, é feita uma breve caracterização das estratégias

    ortodoxas de educação financeira no Brasil e no mundo, assim como, as linhas tradicionais de

    educação financeira. Na segunda parte, será apresentada uma perspectiva alternativa de

    educação financeira, o  Programa de Educação para Inclusão Financeira Sócio-econômica

    Sustentável  –   PEFISS . Esta iniciativa de educação não formal se distancia das abordagens

    tradicionais tanto por sua concepção teórico-metodológica crítica, quanto por seus conteúdosministrados, e suas formas de avaliação.

    O objetivo principal é demonstrar que, diferentemente das abordagens tradicionais, tal

    iniciativa permite compreender da maneira mais aprofundada e crítica a dinâmica de

    funcionamento da economia, em particular do capital financeiro. Além disto, o programa

    apresenta outra faceta inédita ao articular a sustentabilidade financeira também à sua

    dimensão ambiental, contribuindo, assim, para a conscientização, desenvolvimento e

    emancipação pessoal.

    2.1. A Educação Financeira: características e linhas tradicionais

    A globalização, o desenvolvimento tecnológico e alterações regulatórias e

    institucionais de caráter neoliberal, são as principais forças que produziram mudanças

    fundamentais nas relações econômicas e sociopolíticas mundiais nas últimas décadas, levando

     países desenvolvidos a reduzirem o escopo e o dispêndio de seus programas de seguridade

    8 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fundada em 1960 então como OCEE(Organização para Cooperação Econômica Européia).

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    social, ou seja, houve o rompimento do paradigma paternalista do Estado. (SAVOIA, et. al.,

    2007).

    Até meados da década de 90, o ambiente de inflação crônica então existente no Brasil,

    dificultava o planejamento adequado das finanças das famílias brasileiras, uma vez que era

    difícil conciliar os constantes acréscimos nos preços com seus ganhos. Essa situação colocava

    à margem do sistema financeiro parcela significativa da sociedade brasileira, cujos recursos

    não eram suficientes para atender às exigências das instituições financeiras quanto à obtenção

    de crédito e à realização de investimentos. (SANTOS, 2009).

    O acesso aos serviços financeiros, afirma Pinheiro (2008), tornou-se condição

    necessária para a vida econômica e social dos indivíduos. Todavia, na maioria dos países, em

    especial no Brasil, há uma relevante parcela da sociedade que enfrenta dificuldades emacessar e utilizar de maneira adequada os produtos dessa natureza.

    A educação financeira sempre foi importante aos consumidores, para auxiliá-los aorçar e gerir a sua renda, a poupar e investir, e a evitar que se tornem vítimas defraudes. No entanto, sua crescente relevância nos últimos anos vem ocorrendo emdecorrência do desenvolvimento dos mercados financeiros, e das mudançasdemográficas, econômicas e políticas. (OCDE, 2004, p.223)

    Tais mudanças econômicas, sociais e tecnológicas dos últimos anos têm apontado para

    a urgência em implementar ações com o objetivo de educar financeiramente a população no

    Brasil e no mundo.

     Na área legislativa, a aprovação da Estratégia Nacional de Educação Financeira

    (ENEF), foi um ponto onde se constata que, é agora, e pouco a pouco, o Brasil esta dando a

    devida importância para a educação financeira. Instituída pelo Decreto Nº 7.397 de 22 de

    dezembro de 2010, possui a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e

    contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro

    nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores.

    Objetivando fomentar a cultura de educação financeira no país; ampliar o nível decompreensão do cidadão para efetuar escolhas conscientes relativas à administraçãode seus recursos e contribuir para a eficiência e solidez dos mercados financeiro, decapitais, de seguros, de previdência e de capitalização (Site Vida e Dinheiro)

    É através da Educação Financeira que consumidores e investidores aperfeiçoam sua

    compreensão dos produtos financeiros e também desenvolvem habilidades e segurança para

    se tornarem mais conscientes dos riscos e oportunidades financeiras, para fazerem suas

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    escolhas e para saberem onde buscar ajuda, melhorando assim a relação com suas finanças

    (Site Vida e Dinheiro9).

    Segundo a OCDE10, educação financeira é o processo pelo qual agentes financeiros

    melhoram sua compreensão de produtos e de conceitos financeiros, mediante informação,

    instrução e aconselhamento direto, o que promove a habilidade e a confiança necessárias para

    que os indivíduos se tornem mais conscientes dos riscos e das oportunidades financeiras, para

    que façam escolhas fundamentadas e para que saibam onde podem encontrar ajuda.

    O quadro a seguir contempla os princípios e recomendações propostos pela OCDE no

    âmbito da educação financeira.

    Princípios e recomendações de educação financeira

    1. A educação financeira deve ser promovida de uma forma justa e sem vieses, ou seja, o desenvolvimento dascompetências financeiras dos indivíduos precisa ser embasado em informações e instruções apropriadas, livresde interesses particulares.2. Os programas de educação financeira devem focar as prioridades de cada país, isto é, se adequarem àrealidade nacional, podendo incluir, em seu conteúdo, aspectos básicos de um planejamento financeiro, como asdecisões de poupança, de endividamento, de contratação de seguros, bem como conceitos elementares dematemática e economia. Os indivíduos que estão para se aposentar devem estar cientes da necessidade deavaliar a situação de seus planos de pensão, necessitando agir apropriadamente para defender seus interesses.3. O processo de educação financeira deve ser considerado, pelos órgãos administrativos e legais de um país,como um instrumento para o crescimento e a estabilidade econômica, sendo necessário que se busquecomplementar o papel exercido pela regulamentação do sistema financeiro e pelas leis de proteção ao

    consumidor.4. O envolvimento das instituições financeiras no processo de educação financeira deve ser estimulado, de talforma que a adotem como parte integrante de suas práticas de relacionamento com seus clientes, provendoinformações financeiras que estimulem a compreensão de suas decisões, principalmente nos negócios de longo

     prazo e naqueles que comprometam expressivamente a renda atual e futura de seus consumidores.5. A educação financeira deve ser um processo contínuo, acompanhando a evolução dos mercados e a crescentecomplexidade das informações que os caracterizam.6. Por meio da mídia, devem ser veiculadas campanhas nacionais de estímulo à compreensão dos indivíduosquanto à necessidade de buscarem a capacitação financeira, bem como o conhecimento dos riscos envolvidosnas suas decisões. Além disso, precisam ser criados sites específicos, oferecendo informações gratuitas e deutilidade pública.7. A educação financeira deve começar na escola. É recomendável que as pessoas se insiram no processo

     precocemente.

    8. As instituições financeiras devem ser incentivadas a certificar que os clientes leiam e compreendam todas asinformações disponibilizadas, especificamente, quando forem relacionadas aos negócios de longo prazo, ou aosserviços financeiros, com conseqüências relevantes.9. Os programas de educação financeira devem focar, particularmente, aspectos importantes do planejamentofinanceiro pessoal, como a poupança e a aposentadoria, o endividamento e a contratação de seguros.10. Os programas devem ser orientados para a construção da competência financeira, adequando-se a gruposespecíficos, e elaborados da forma mais personalizada possível.

    Fonte: OCDE, 2005.

    9 Disponível em http://www.vidaedinheiro.gov.br10 Pinheiro, R. P. Educação financeira e previdenciária, a nova fronteira dos fundos de pensão. Artigo publicadono Livro “Fundos de Pensão e Mercado de Capitais”. Lançado pelo Instituto San Tiago Dantas de Direito eEconomia e Editora Peixoto Neto, em set/2008 na cidade de São Paulo-SP.

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    Os princípios e recomendações da OCDE para a educação financeira no Brasil estão

    disponíveis no site ‘vida e dinheiro’11, do governo federal, já citado neste capítulo. Nele

    encontra-se presente o plano diretor da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) e

    seus anexos, como instrumento política nacional de incentivo às práticas de educação

    financeira.

    Capitaneadas pela OCDE, propostas de Estratégias nacionais sobre o tema, estão

    sendo desenvolvidas em vários países. O discurso dominante é de que na atualidade os

    indivíduos precisam dominar certas habilidades que lhes permitam tomar decisões financeiras

    acertadas, controlando suas finanças pessoais e alcançando assim seu bem estar . (PINHEIRO

    2008).

    Logo, a principal dificuldade do indivíduo é planejar adequadamente suas ações delongo prazo; é preciso poupar por conta própria para a aposentadoria, reavaliar as decisões

    sobre a compra de sua casa própria, e dos bens duráveis, bem como entender as novas

    modalidades de crédito e dominar a tecnologia disponível para a realização das transações

    financeiras básicas. (SAVOIA, 2007).

    Se, de um lado, a educação financeira pode ajudar as pessoas a tomarem melhores

    decisões sobre seu dinheiro, por outro lado, a ausência de conhecimento básico de finanças

    expõe os cidadãos a ações de pessoas mal intencionadas. Adicionalmente, a falta deinformação consistente leva o indivíduo a agir de forma financeiramente irresponsável, seja

     por não estar preparado para enfrentar situações de dificuldades financeiras, seja por assumir

    compromissos superiores à sua capacidade financeira, levando a um aumento dos níveis de

    inadimplência. (SANTOS, 2009).

    A educação financeira tornou-se uma preocupação crescente em diversos países,gerando um aprofundamento nos estudos sobre o tema. Embora haja críticas quanto

    à abrangência dos programas e seus resultados, principalmente entre a populaçãoadulta, é inegável a importância do desenvolvimento de ações planejadas dehabilitação da população. (SAVOIA, J. ET. AL., 2007, p.1123)

    Para agravar esse quadro, a população, despreparada para dimensionar o volume de

    comprometimento do seu orçamento, avança com ímpeto ao crédito fácil e, endividada, busca

    caminhos para restaurar o seu equilíbrio. O crescimento desorientado do crédito produz a

    inadimplência. A partir daí, os empréstimos são interrompidos e a economia reduz a sua

    atividade. Como conseqüência dessas ações, surge um círculo vicioso de expansão e retração

    do crescimento.

    11 Disponível em http://www.vidaedinheiro.gov.br

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    Portanto, “a educação financeira é entendida como um processo de transmissão de

    conhecimentos para que os indivíduos possam tomar decisões fundamentadas e seguras,

    melhorando o gerenciamento de suas finanças pessoais”. (SAVOIA, ET. AL., 2007, p.1122).

    Já, para significativa parcela da sociedade, a educação financeira revela-se um

    instrumento necessário para preparar essas pessoas para os desafios do complexo mundo

    financeiro que hoje se apresenta. Diante da diversidade de ofertas inerentes ao estágio atual

    dos mercados e da crescente inclusão de pessoas com maior capacidade financeira, é

    necessário um esforço para que essas pessoas ampliem cada vez mais suas informações sobre

    gestão do dinheiro, de modo a permitir o planejamento e a tomada de decisões adequada às

    suas reais necessidades. (SANTOS, 2009).

    Desse modo, a educação financeira pode ser definida como a habilidade que osindivíduos apresentam de fazer escolhas adequadas ao administrar suas finanças

     pessoais durante o ciclo de sua vida. Usuários desse tipo de produto, quandodevidamente instruídos, têm a capacidade lidar com as questões financeiras docotidiano e as imprevistas, avaliar o impacto das decisões para a sua vida e a de suafamília, compreender seus direitos e suas responsabilidades e ter o conhecimento defontes confiáveis de consulta. (PINHEIRO, 2008, p.2)

    Diante deste quadro, exemplificaremos algumas iniciativas tradicionais de educação

    financeira, destacando seus objetivos e propostas.A primeira iniciativa no campo da educação financeira, o  Programa de Educação

     Financeira da BM&F-BOVESPA e TV Cultura, trata-se de uma ação pioneira no país em prol

    da popularização dos conceitos de economia, finanças pessoais e tipos de investimento a

     partir da televisão.

    Sua proposta é fazer com que os ensinamentos já contemplados nos programaseducacionais da BM&F BOVESPA possam, agora, atingir uma parcela ainda maiorda população brasileira por se tratar de um veículo de comunicação de massa. O

     programa oferece um conteúdo didático, de linguagem fácil e enfoque bemhumorado.12 

    Esse conhecimento deve permitir que os clientes tenham visão integrada das suas

    decisões de crédito, poupança, investimento e consumo, o que deve ser compatível com a sua

    realidade financeira.

    “Os programas de educação financeira devem ajudar os consumidores de produtos e

    serviços financeiros a encontrar soluções adequadas às suas necessidades e, ao mesmo tempo,

    a ampliar a compreensão sobre os riscos inerentes a esse mercado”. (OCDE, 2005).12 Disponível em http://www.bmfbovespa.com.br/pt-br/educacional/iniciativas/tv-educação-

    financeira.aspx?idioma=pt-br

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    Outra iniciativa de educação financeira, também considerada tradicional, é o

     Programa de Educação Financeira do Banco Central . Destinado à sociedade brasileira em

    geral, com foco nos clientes e usuários dos produtos e serviços financeiros, seu compromisso

    é manter o sistema sólido e eficiente “o Banco Central busca atingir três dimensões: cognitiva,

    atitudinal e comportamental. [...] além de incentivar o hábito de poupança, estimular a

    responsabilidade no uso do crédito e promover mudanças de comportamentos com base nas

     boas práticas de finanças pessoais”. 

    Com informação, formação e orientação claras, as pessoas adquirem os valores e ascompetências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e dosriscos a elas associados e, então, façam escolhas bem embasadas, saibam onde

     procurar ajuda e adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, a

    Educação Financeira é um processo que contribui de modo consistente para aformação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro.13 

     No âmbito das iniciativas particulares de educação financeira, tem destaque o DSOP –  

     Educação Financeira. Idealizado pelo educador e terapeuta financeiro, Reinaldo Domingos, o

    DSOP fornece ferramentas e produtos financeiros aos consumidores, empresas e clientes

     bancários com o propósito de conduzi-los a um comportamento correto no planejamento das

    finanças pessoais para realização de seus sonhos e objetivos.

    A Educação Financeira hoje se mostra muito maior que apenas um termo da moda,sendo uma necessidade para todos os consumidores, para isso a DSOP EducaçãoFinanceira desenvolveu materiais que possibilitam a inserção do tema nos maisdiversos setores da sociedade. São produtos para escolas, empresas, famílias,governo, entre outros, que mudam a forma com que as pessoas lidam com odinheiro14.

    A utilização da metodologia ‘diagnosticar, sonhar, orçar e poupar’ o  DSOP  –  

     Educação Financeira  entende que a educação financeira de qualidade tem que ser

    responsável pela mudança comportamental de se adequar ao sistema no planejamento das

    finanças pessoais. O conhecimento nessa área traz muitos benefícios à sociedade como umtodo e, desta forma, as pessoas aprendem que o mais importante é atingir objetivos e, que o

    dinheiro, é apenas um meio para se conseguir. “Educação financeira é do ramo das ciências

    humanas, que lidam diretamente com o comportamento e costumes, gerando o hábito correto

    de como administrar o dinheiro”. (DSOP).

    Através de diversos tipos de produtos e pacotes –  livros, cursos e palestras –  o DSOP –  

     Educação Financeira preocupa-se com a saúde financeira dos indivíduos e empresas. Dentre

    as principais lições, gastar menos do que ganha, saber investir e como comprar com13 Disponível em http://www.bcb.goc.br/?BECEDFIN14 Disponível em http://www.dsop.com.br/educacao-financeira

    http://www.dsop.com.br/educacao-financeirahttp://www.dsop.com.br/educacao-financeira

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    consciência, o  DSOP  –   Educação Financeira  acredita que só é possível educar

    financeiramente a partir de experiências individuais, como é o caso do seu presidente e

    consultor, Reinaldo Domingos. Segundo ele, sua experiência aos 12 anos, ao realizar sua

     primeira conquista comprando uma bicicleta, foi após ter planejado sua poupança consciente

    de seus ganhos. “Foi priorizando seus sonhos e sabendo exatamente quanto custavam e

    quanto deveria poupar para alcançá-los, que aprendeu a ter o dinheiro como aliado, usando-o

    com responsabilidade e foco na satisfação pessoal e familiar”. 

    À guisa de conclusão, pode-se afirmar que não obstante tais iniciativas, representativas

    da visão hegemônica da educação financeira, ao se apresentarem como instrumentos para

    mudança de comportamento, verifica-se que, tratam tão somente de conhecimentos

    transmitidos com o objetivo de adequar o comportamento individual às condiçõesestabelecidas. Isto é, estimular a adoção de atitudes compatíveis com a lógica do

    funcionamento do sistema financeiro.

    Em síntese, capacitam os indivíduos a ter um “bom comportamento” para lidar com

    um sistema econômico e financeiro cujo modo de operação de suas instituições e regras de

    funcionamento são pré-determinadas e não sujeitas à crítica, senão de forma meramente

    superficial. Tratam-se de abordagens orientadas, portanto a promover a inclusão financeira de

    forma subordinada.

    2.2. Programa de Educação Financeira para Inclusão Sócio Econômica Sustentável -

    PEFISS

    A partir do exposto na seção anterior, torna-se evidente a necessidade de promover

    alternativas de educação financeira que atuem no sentido de uma educação libertadora. É

    assim que o Programa de Educação Financeira para Inclusão Socioeconômica Sustentável  –  PEFISS atua, no sentido de promover o desenvolvimento e emancipação pessoal de maneira

    consciente. A seguir, será mostrada a concepção do referido programa, bem como seus

    objetivos e metodologias, a fim de mostrar o tratamento crítico do programa ao tema da

    educação financeira15.

    2.2.1. Justificativa

    15 Os fragmentos apresentados a seguir foram extraídos da versão original do PEFISS, 2013, enviada à PROEX.

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    ` A guisa de justificativa são apresentados abaixo alguns fatos estilizados que, em

    diferentes níveis analíticos, retratam o quadro atual da realidade social que demonstra a

    necessidade do programa.

    Em nível internacional, o processo de transnacionalização capitalista (“globalização”) com

    as seguintes características essenciais:

      Elevação extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais;

      Acirramento da concorrência nos mercados internacionais;

      Maior integração entre os sistemas econômicos nacionais;

      Liberalização e desregulamentação dos mercados nacionais;

    Como resultado verifica-se que, em dimensão produtiva, o surgimento de novos

     produtos e novas oportunidades (e custos), o acirramento da concorrência por novosmercados, a elevação dos gastos em P&D; e o encurtamento do ciclo de vida dos produtos.

     No âmbito comercial, ocorre a elevação das pressões liberalizantes, mas também do

     protecionismo.

     Na dimensão financeira, a forte instabilidade monetário-financeira, com alta

    volatilidade das taxas de câmbio e de juros e elevada capacidade de propagação com forte

    impacto sobre o sistema financeiro nacional, finanças públicas e capacidade de gerenciamento

    da economia. Destacando um aspecto positivo: a redução do custo (spreads) e a alongamentodos prazos de intermediação financeira.

    O imperativo da sustentabilidade fica explícito no capítulo 36 da AGENDA 21, par.04:

    O ensino, inclusive o ensino formal, a consciência pública e o treinamento devem serreconhecidos como um processo pelo qual os seres humanos e as sociedades podemdesenvolver plenamente suas potencialidades. O ensino tem fundamental importânciana promoção do desenvolvimento sustentável e para aumentar a capacidade do povo

     para abordar questões de meio ambiente e desenvolvimento. Assim como o ensinoformal, o ensino informal é indispensável para modificar a atitude das pessoas, para queestas tenham capacidade de avaliar os problemas do desenvolvimento sustentável eabordá-los. Para ser eficaz, o ensino sobre meio ambiente e desenvolvimento deveabordar a dinâmica do desenvolvimento do meio físico/biológico e do socioeconômicoe do desenvolvimento humano (que pode incluir o espiritual), deve integrar-se em todasas disciplinas e empregar métodos formais e informais e meios efetivos decomunicação.

    Em nível nacional houve aumento, diversidade e complexidade dos produtos/serviços

    financeiros e previdenciários; crescimento econômico (a partir de 2003), com inclusão social

    (parcial e imperfeita): elevação do emprego formal; elevação do nível de renda, consumo e ao

    acesso ao crédito no caso dos segmentos até então excluídos; reorientação e desenvolvimento de

    negócios direcionados para a “nova classe média”.

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    Os resultados da 5ª   Pesquisa de Orçamento Familiar  –  POF realizada pelo  Instituto

     Brasileiro de Geografia e Estatística  –   IBGE entre os anos de 2008-2009, na categoria

     Avaliação do grau de dificuldade para chegar ao fim do mês com o rendimento, afirma que

    ‘Cerca de 75% das famílias brasileiras referiram dificuldades e somente 25% fizeram

    referência a facilidades’. (POF 2008-2009, p. 80). As dívidas entre cheque pré-datado, cartão

    de crédito, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguros são os maiores

    vilões, ‘apresentando leve alta após sete meses consecutivos de queda, alcançando 58,8% em

     janeiro de 2012, ante 58,6% em dezembro de 2011’ (PEIC, 2012).

    Assim como, alcance e abrangência limitados dos métodos tradicionais de educação

    financeira.

    2.2.2. Objetivos

    O objetivo geral do PEFISS é contribuir para a conscientização, desenvolvimento e

    emancipação pessoal, exercício da cidadania para inclusão econômica e financeira a partir da

    adoção de atitudes (saber  – ser) sustentáveis.

    O objetivo específico do programa é contribuir para a formação, no campo econômico-

    financeiro e ambiental, de competências transversais sociais, comportamentais e técnicasorientadas para o desenvolvimento pessoal, familiar e coletivo de forma a orientá-los rumo ao

    desenvolvimento sustentável.

    Trata-se, portanto de dominar linguagem, compreender fenômenos, enfrentar situações-

     problemas, construir argumentação e elaborar propostas a partir dos conhecimentos apresentados

    em cada módulo do programa. Os conhecimentos são de natureza quantitativa (dados e

    informações mensuráveis) e qualitativa (os conceitos, definições, relações, etc.) e abrangem não

    só a perspectiva meramente técnica e (e.g. matemática-financeira), mas também um arcabouçoteórico-metodológico mínimo necessário ao desenvolvimento, de forma crítica, das capacidades

    cognitivas, reflexivas e criativas (abrangendo conceitos e significados de história econômica geral,

    economia política, política monetária e política fiscal, desenvolvimento sustentável e educação

    ambiental).

    A partir dos conhecimentos adquiridos são desenvolvidas as habilidades básicas

    necessárias à mudança para um comportamento sustentável a partir do saber-fazer planejamento

    orçamentário. A peça orçamentária operacionaliza as habilidades de identificar variáveis,

    compreender fenômenos relevantes, correlacionar informações, analisar situações- problema,

    sintetizar, julgar e decidir.

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    “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda

    numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão. (Freire, 2011, pag. 80)

    A crença de Paulo Freire no potencial humano de constante aprendizado e busca de

    soluções para seus problemas norteia o pensamento pedagógico desta proposta, que conta com

    a iniciativa dos alunos para buscar as aulas oferecidas, trazer dados de sua realidade objetiva

     para análise e buscar o desenvolvimento de suas próprias competências, saberes e habilidades,

    em uma constante reinvenção do indivíduo.

    Segundo Paulo Freire, “[...] a inclusão do ser humano, sua inserção num permanente

    movimento de procura [...]” (2003, p. 14) é o que o impulsiona a um permanente estado de

    formação, mais do que puramente treinamento. Parece que o mercado de trabalho e o mercado

    de consumo ditam as regras sob as quais a sociedade deve viver. Esta proposta quer colocar-se contra este aparente fatalismo oferecendo instrumentos através dos quais seja possível

    repensar suas atitudes em relação ao consumo, crédito uso dos recursos naturais, etc.

    Em Adorno a ideia de emancipação se coloca de forma a complementar a noção de

    autonomia em Paulo Freire, porém com um foco mais político. Adorno (2000, p. 169) trata do

    tema dizendo que “a exigência de emancipação parece ser evidente numa democracia”. Ao

    mesmo tempo em que diz que “a democracia repousa na formação da vontade de cada um”.

    Com esta preocupação focada na capacidade de atuação político-social de um cidadão quedetém informações e ferramentas para determinar seu próprio futuro e intervir no seu contexto

    sócio político nosso projeto se insere.

     Nesta mesma direção se coloca a educação matemática crítica pela qual o ensino não

    deve ser processar sem que esteja articulado com da realidade objetiva de estudantes e

     professores, nem tampouco dos fatores históricos, socioeconômicos e ambientais que a

    determinam. Neste sentido, de acordo com Skovsmose (2000), a educação tradicional, na qual

    a execução de exercícios apenas para a fixação do conhecimento ensinado previamente pelo professor, esvaziada de qualquer espírito investigativo e questionador , impede o

    desenvolvimento da capacidade crítica e transformadoras da sociedade.

    Vê-se que a Educação Matemática Crítica tem profunda relação com a Pedagogia de PauloFreire. Também nas duas se pretende promover a consciência do que está sendo aprendido

     pelos educandos, e na Educação Matemática Crítica isso é ainda mais importante. Na EducaçãoMatemática Crítica, os conteúdos não são considerados neutros, livres de amarras e contextosque propiciaram o seu surgimento. Quando o professor os ensina não levando em conta tudo oque esse conhecimento representa, está se comportando como um mero reprodutor desse

    conhecimento, que não foi desenvolvido por ele, cuja história não conhece. Os alunos, semsaberem de tudo que pode estar envolvido no conteúdo aprendido acabam por deixar-seformatar pela matemática na qual estão inseridos, tomando suas decisões em sociedade demaneira condicionada e não crítica. (SOARES, 2008, p. 64) 

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    O terceiro referencial teórico empregado refere-se ao tema do desenvolvimento sustentável,

    conforme estabelecido pelos documentos  Educação para um futuro sustentável: uma visãotransdiciplinar para ações compartilhadas,  produzido pela Conferência Internacional sobre

    Meio Ambiente e Conscientização Pública para a Sustentabilidade da Organização das

     Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e  Agenda 21 em seu

    Capítulo 36: Promoção do Ensino, da conscientização e do Treinamento.

    Entorno da questão ambiental é possível distinguir duas perspectivas antagônicas

    diametralmente opostas. Por um lado, no caso das classes e/ou frações de classe com maior

     poder, a degradação ambiental é tratada como sendo de natureza técnica e seus riscos e

    impactos como um problema comum a todos, isto é cujos custos são igualmente distribuídos

     pelo conjunto da sociedade. Neste caso, os instrumentos de mercado seriam os mais eficientes

     para proteger o meio-ambiente, dado o progresso tecnológico e o suposto consenso político

    quanto ao imperativo de “economizar o planeta” (razão utilitária). 

    Por outro lado, do ponto de vista dos movimentos sociais a degradação do meio

    ambiente é indissociável da problemática que envolve a desigualdade social. Assim sendo,

    seus impactos e riscos se concentram nas classes ou frações de classe subordinadas, com

    menor poder e, portanto escassa capacidade de enfrentar com chance de sucesso tais

    impactos.

    A degradação ambiental e seus efeitos não são “democráticos”, em outras palavras a

     justiça ambiental depende da justiça social. Para tanto, a luta em defesa do meio ambiente

    exige o respeito e a garantia de condições de vida dignas a partir do enfrentamento da

    segregação socioterritorial e da desigualdade ambiental vinculadas ao movimento permanente

    de expansão dos mercados. Esta é a perspectiva com a qual o presente programa se identifica

    e se propõe a adotar como referência, como sugerido pela noção de desenvolvimento

    sustentável de Jacobi (2003, p. 07):

    O desenvolvimento sustentável somente pode ser entendido como um processo noqual, de um lado, as restrições mais relevantes estão relacionadas com a exploraçãodos recursos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e o marco institucional.De outro, o crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos, notadamente osrelacionados com a equidade, o uso de recursos  –   em particular da energia  –   e ageração de resíduos e contaminantes. Além disso, a ênfase no desenvolvimento devefixar-se na superação dos déficits sociais, nas necessidades básicas e na alteração de

     padrões de consumo, principalmente nos países desenvolvidos, para poder manter eaumentar os recursos-base, sobretudo os agrícolas, energéticos, bióticos, minerais, are água.

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    2.2.4. Metodologia

    Projeto possui três eixos estruturantes, quais sejam:

     Noções básicas aplicadas de história e economia; Educação financeira sustentável

    (compreensão, organização das receitas e despesas pessoais/familiares através do orçamento,

     planejamento, prudência, prevenção, controles e ajustes. Noções sobre desenvolvimento

    sustentável e meio-ambiente;

    Considerando que as atividades de extensão devem não só levar a universidade até a

    comunidade, mas também levar a comunidade à universidade, os encontros serão realizados

    no Campus Dom Bosco. Tanto a divulgação, quanto as inscrições serão efetuadas diretamente junto aos parceiros estabelecidos.

    O oferecimento do programa envolve a realização de um encontro semanal, com

    duração entre três e quatro horas, para turmas com, no máximo, 50 alunos. Cada turma tem

    dois ciclos de trabalho de três meses cada. O primeiro, de caráter presencial, além das aulas

    expositivas e interativas, envolve também atividades diversas, tais como: apresentação de

    vídeos, vivências, dinâmicas de grupo, debates, apresentação de vídeos, simulações, palestras

    abertas, etc. No segundo ciclo, não presencial, os participantes devem elaborar e gerenciar

    orçamentos mensais a partir dos quais se pode avaliar (através reuniões de acompanhamento

    quinzenais), em que medida são (ou não) aplicados os conhecimentos adquiridos no primeiro

    ciclo. O desempenho é avaliado segundo a assiduidade e participação ativa nas aulas e

    atividades desenvolvidas.

    O programa contou com a participação voluntária de seis alunos do curso de graduação

    em ciências econômica da UFSJ distribuídos, em duplas, pelos três módulos na etapa presencial, etrabalhando conjuntamente, na etapa não presencial. Os encontros semanais com os participantes,

    durante os três módulos presenciais, foram estruturados em três tipos de atividades: (i) parte

    expositiva, ministrada por um dos extensionistas; (ii) atividade em sala, conduzida por outro

    extensionista; e, proposta de atividade extra-sala. Exemplo desta estrutura pode ser observado a

    seguir:

     Na parte expositiva, os determinantes das decisões de gasto consumo, nos

    determinantes das decisões de aplicação de capital: liquidez (o que é), risco, rentabilidade,

    expectativas e aspectos comportamentais; Orçamento familiar como lidar com consumo e

    aplicação.

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     Nas atividades em sala, são realizados estudos de caso, depoimentos com experiências

     pessoais, sobre decisões de consumo e aplicação tomadas e seus resultados; Debate.

     Nas atividades extra-sala, o acompanhamento da economia do dia-a-dia (experiência

     pessoal, TV, mídia impressa, internet), identificar e trazer material de promoção ao consumo e

    aplicações de dinheiro atraentes e seus níveis de risco. O orçamento consiste em elaborar

     proposta de planejamento de gastos mensal, atentando para as despesas do grupo familiar e as

    despesas individuais dos membros do grupo. Organizar e as faturas de cartão de crédito,

    recibos de contas de energia, água, telefone etc. entre outros gastos, bem como, as entradas de

    salários, aluguéis e outras fontes de rendimento.

    2.2.5. Detalhamento do Público-alvo

    O público-alvo apto a integrar o programa compõe-se de jovens (a partir faixa etária

    de dezesseis anos de idade) e adultos, cujas famílias possuem renda de até quatro salários

    mínimos (R$ 2.488). É a partir desta idade que, de modo geral, se situa a maioria da chamada

     população economicamente ativa (PEA).

    Em segundo lugar, o segmento padece de extrema vulnerabilidade e suscetibilidade a

    estímulos orientados para adoção acrítica de um perfil de consumo insustentável, seja do ponto de vista financeiro, seja da perspectiva socioambiental.

    Em terceiro lugar, tal público dispõe, ao menos em princípio, de base prévia de

    conhecimentos elementares e experiências de vida necessárias ao programa.

    Desta forma, o público alvo compõe-se de:

    Público alvo Público atingido

    Escola Estadual Dr. Garcia de Lima

    São Gonçalo do Rio das Mortes Pequeno

    Associação de Moradores do Alto das Mercês, em São João del-Rei

    Quilombos Palmital e Jaguará, na cidade de Nazareno

    Associações de Produtores Rurais Senhora das Dores e Vargem dosCochos em Barbacena (Comunidades da zona rural de São João del-Rei) 

    80

    20

    20

    30

    50

    Fonte: PEFISS, 2013

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    2.2.6. Acompanhamento e avaliação

    O acompanhamento do PEFISS realiza-se através da avaliação, ao final de cada uma

    das etapas de oferecimento ao público, das atividades propostas e da assiduidade dos

     participantes. As diversas etapas deverão ser avaliadas de acordo com suas próprias

    especificidades, por exemplo: no ato das inscrições serão mapeadas as expectativas do

     público, no decorrer das aulas e vivências a forma de avaliação coletiva através de seminários

     poderá verificar a compreensão e aplicação dos conteúdos ministrados, na conclusão do

     programa um questionário de avaliação indicará a qualidade e adequação do programa.

    2.2.7. Resultados

    O programa teve inicio em maio de 2011 a partir de parceria firmada junto à   Escola

    Estadual Dr. Garcia de Lima com o cadastramento de cerca de duzentos interessados dentre os

    quais cinquenta foram sorteados para participar desta primeira edição. Foram criadas duas turmas

    (com vinte e cinco participantes em cada uma delas), com aulas ministradas às quartas-feiras, para

    os estudantes com disponibilidade de horário no período vespertino, e aos sábados, para os

    estudantes sem possibilidade de frequentar as aulas diurnas. Em 2012, por um lado, o PEFISS ampliou seu escopo de atuação através da elevação do

    número de participantes, no âmbito da parceria já estabelecida com a Escola Estadual Dr. Garcia

    de Lima, passando para duas turmas com cinquenta inscritos cada. Além disso, nova parceria foi

    firmada junto a Escola Estadual Ministro Gabriel Passos com a abertura de uma turma com

    quinze estudantes inscritos.

    Ainda no ano de 2012, o  PEFISS agrega mais uma área disciplinar do saber: o Teatro,

    decorrente da parceria com o Núcleo de Arte e Sustentabilidade –  NAST . O  NAST é derivadodos ‘grupos de estudo’ reali