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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEDUC CAMPUS DE CAICÓ MARIA ROZIVANIA JALES DE ANDRADE EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de Jardim de Piranhas-RN CAICÓ-RN 2016

EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de ... · A educação no campo nada mais foi do que a expansão da escola urbana, quanto aos currículos, aos professores

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - DEDUC

CAMPUS DE CAICÓ

MARIA ROZIVANIA JALES DE ANDRADE

EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de

Jardim de Piranhas-RN

CAICÓ-RN

2016

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MARIA ROZIVANIA JALES DE ANDRADE

EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de Jardim de

Piranhas-RN

Monografia apresentada ao curso de pedagogia

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

UFRN, como requisito parcial à conclusão de

curso.

Orientador: Me. Djanni Martinho dos Santos

Sobrinho.

Caicó / RN

2016

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Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas – SISBI

Andrade, Maria Rozivania Jales de.

Educação no Campo: retrospectiva histórica no

município de Jardim de Piranhas-RN / Maria Rozivania

Jales de Andrade. - Caicó: UFRN, 2016.

50f: il.

Orientador: Ms. Djanní Martinho dos Santos Sobrinho.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Ensino Superior do Seridó.

Departamento de Educação.

1. Educação Rural. 2. Evasão. 3. Prática Pedagógica.

I.Santos Sobrinho, Djanní Martinho dos. II. Título.

RN/UF/BS-Caicó CDU 37.035

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EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de Jardim de

Piranhas-RN

Aprovada em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________

Prof. Me. Djanni Martinho dos Santos Sobrinho – Orientador Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CERES-DGC)

________________________________________________ Profª Dr. Christianne Medeiros Cavalcante - Examinadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CERES-DEDUC)

_______________________________________________ Prof. Ma. Suenyra Nobrega Soares - Examinadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CERES- DEDUC)

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Dedico este trabalho a minha filha, a minha

mãe, meu pai e meu esposo, que nunca

mediram esforços e sempre batalharam para

que eu não desistisse dos meus sonhos.

Dedico também a minha tia Helena (in

memoriam), que sempre me apoiou bastante

até o ultimo dia de sua vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter me dado forças durante essa

grande caminhada. Em seguida, a minha família, que sempre esteve ao meu lado,

dando todo o apoio necessário e não deixando que eu desistisse de prosseguir, por

mais difícil que fosse. A minha filha, presente divino, pois é por ela que sigo sempre

em frente.

Não poderia deixar de agradecer às professoras que participaram da

entrevista, contribuindo gradativamente para a realização deste trabalho. São elas:

Ivoneide dos Santos Bezerra; Maria de Fátima F. de Medeiros; Lúcia Medeiros Mariz

e Ivonete dos Santos Rezende, as quais me receberam muito bem, disponibilizando

alguns minutos do seu tempo. Quero agradecer também a pessoa de Maria José

Saraiva, que disponibilizou todos os dados necessários sobre as escolas rurais, bem

como, a diretora do Centro Municipal de Ensino Rural, Inédia Aurilene Dutra de

Araújo.

Agradeço ao meu orientador, Djanni, que me atendeu sempre, estando

presente quando precisei, participando ativamente da construção deste trabalho.

As minhas amigas e colegas de turma, em especial, Adriana, minha amiga e

comadre, que alegrou os nossos dias na faculdade, bem como, Joedna, Cinthia,

Vitória, Francineide, Patrícia e Solange, as quais levarei sempre em meu coração,

pois criamos laços puros e verdadeiros. Também a amiga Ana Paula, a quem eu

recorri, algumas vezes, e sem problema me ajudou.

Por fim agradecer a todos que direta ou indiretamente me apoiaram no

desenvolvimento deste trabalho.

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“A educação é um processo social, é

desenvolvimento. Não é a preparação para a

vida, é a própria vida”.

John Dewey

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RESUMO

A educação no campo nada mais foi do que a expansão da escola urbana, quanto

aos currículos, aos professores e a supervisão, dando oportunidade às crianças e

jovens que residem na zona rural de receber uma educação de qualidade na sua

área de pertencimento. A presente pesquisa monográfica tem como tema,

EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de Jardim de

Piranhas-RN e objetiva conhecer a realidade dessas escolas, compreendendo os

avanços na educação rural e os métodos utilizados para diminuir a evasão e

beneficiar os estudantes dessa área. Outro ponto debatido é conhecer o perfil dos

educadores que atuam na zona rural, buscando descobrir através dos seus relatos,

sua prática pedagógica. Para isso, utilizamos como metodologia a pesquisa

documental. Ela é de cunho qualitativo, fazendo uso de entrevista, através da qual,

constatamos algumas dificuldades enfrentadas pelas entrevistadas, durante sua

trajetória pedagógica. Os estudos realizados em várias fontes possibilitaram

entender como se desenvolveram as politicas de educação, principalmente, para a

escola rural. Para compreender melhor o assunto e aprimorar o trabalho, contamos

com a colaboração de autores como: Leite (1999), Barreiro (2010), Paiva (1987),

Vicente (2011), dentre outros. Ficou nítido que as escolas rurais avançaram

bastante, principalmente depois da criação do Centro de Ensino Rural professora

Maria Edite Batista, pois as educadoras passaram a ter um apoio pedagógico e

quanto à estrutura, passaram a ter energia elétrica, uma zeladora e água encanada,

algo que não existia antes de sua fundação.

Palavras - Chave: Educação Rural. Evasão. Prática Pedagógica.

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ABSTRACT

Education in the field was nothing more than the expansion of urban schools, the

curricula, teachers and supervision. Giving opportunity children and young people

living in rural areas to receive a quality education in their belonging area. This

monographic research is subject EDUCATION IN THE FIELD: historical retrospective

in the municipality of Piranhas-RN Garden, aims to know the reality of these schools,

including advances in rural education and the methods used to decrease evasion

and benefit the students of this area. Another point discussed is to know the profile of

the educators who work in the countryside, looking out through their accounts, their

practice. To use this as a methodology document research. It is a qualitative

approach, using interviews; we found some difficulties faced by them during their

educational trajectory. Studies in various sources enabled understand how

developed the education policies, especially for the rural school. To better

understand the subject and improve the work, we rely on the collaboration of authors

such as: Milk (1999), Barreiro (2010), Paiva (1987), Vicente (2011), among others. It

was clear that rural schools advanced significantly, especially after the creation of the

Rural Education Center teacher Maria Edite Batista, as educators now have a

pedagogical support and on the structure, now have electricity, one caretaker and

running water, something that did not exist before its foundation.

Key words: Rural Education. Evasion. Teaching Practice.

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LISTA DE ILUSTRAÇÃO

Figura 1: Unidade de Ensino Francisco Brás ................................................................................. 22

Figura 2: Unidade de Ensino José Calixto de Medeiros ................................................................. 23

Figura 3: Unidade de Ensino Antônio Amâncio da Silva ................................................................ 23

Figura 4: Centro Municipal de Ensino Rural de Jardim de Piranhas-RN .......................................... 30

Figura 5: aula de Língua Portuguesa (formando textos) ................................................................ 41

Figura 6: confecção de livros ....................................................................................................... 43

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: As escolas rurais do município de Jardim de Piranhas-RN ............................................ 21

Quadro 2: Nº de matriculas, aprovações e reprovações no período de 2002-2014 das escolas rurais

do município de Jardim de Piranhas-RN ...................................................................................... 31

Quadro 3: Nº de matriculas, evasão e transferência das escolas rurais de Jardim de Piranhas no

período entre 2000-2015. ........................................................................................................... 32

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 14

Capitulo I – Educação rural .......................................................................................................... 16

1.1 Trajetória histórica da educação rural no Brasil .................................................................. 16

1.2 A realidade das escolas rurais de Jardim de Piranhas- RN ................................................... 19

Capítulo II – Evasão escolar no meio rural.................................................................................... 25

2.1 Causas e consequências da evasão escolar no Brasil ........................................................... 25

2.2 A evasão escolar nas escolas rurais de Jardim de Piranhas-RN ............................................ 29

Capítulo III – Práticas Pedagógicas: o saber docente e a sua formação .......................................... 35

3.1 Concepções sobre prática pedagógica ................................................................................ 35

3.2 Conhecendo os sujeitos da nossa pesquisa ......................................................................... 38

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 45

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................................ 47

APÊNDICE A- Roteiro da entrevista realizada com a coordenadora das escolas rurais.....................50

APÊNDICE B- Roteiro da entrevista realizada com as professoras das escolas rurais.......................51

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INTRODUÇÃO

Na atualidade, o Brasil evidencia transformações significativas no âmbito da

educação. É sabido que essas transformações também afetaram a zona rural.

Assim, a escola rural surge com o papel fundamental de desenvolver este espaço.

O tema situa-se na área das ciências humanas. A escolha se deu por uma

inquietação em descobrir as mudanças ocorridas na educação no campo, dando

ênfase as escolas do munícipio de Jardim de Piranhas, localizado no interior do Rio

Grande do Norte.

A pesquisa teve como objetivo primordial conhecer a realidade dessas

escolas fazendo uma retrospectiva histórica. Além disso, buscamos também

compreender a educação rural no Brasil, identificar os motivos da evasão escolar e

entender como se dá a prática-pedagógica do professor em sala de aula.

Foi necessário o levantamento de dados através de entrevista com a

coordenadora das escolas rurais e algumas professoras do município citado. Isso

nos permitiu lançar o olhar para a prática desses profissionais em sala de aula,

através dos seus relatos e identificarmos os recursos didáticos e pedagógicos que

eles recebem do governo e como os mesmos fazem uso desses materiais.

. Utilizamos também a pesquisa bibliográfica e documental para responder a

essas inquietações. A pesquisa foi realizada em três escolas rurais do município de

Jardim de Piranhas-RN, sendo uma pesquisa qualitativa que teve grande relevância

para entender o contexto das escolas rurais e como acontece a educação no campo,

além de entender a educação como um processo que enriquece o ser humano,

mostrando a importância do meio rural.

Para a realização do mesmo, foram coletadas informações no Centro

Municipal de Educação Rural Professora Maria Edite Batista, tais como nº de

escolas rurais, nº de matrículas, nº de aprovados, reprovados e evadidos entre os

anos de 2000 a 2015.

A escola rural vem enfrentando alguns desafios, dentre os quais, podemos

citar a falta de estrutura adequada para o desenvolvimento de atividades externas, a

evasão escolar provocada pela migração do campo para cidade e por fim, os

avanços tecnológicos que chegam primeiro às cidades e, lentamente, estão

chegando às escolas rurais.

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Para alcançar os objetivos aqui propostos, o trabalho está organizado em três

capítulos. O primeiro capítulo tem como titulo: A educação rural, subdivididos em

dois tópicos- Trajetória Histórica da Educação Rural no Brasil, ele caracteriza o meio

rural, fazendo um recorte histórico na escola rural desde a república até a

atualidade; e A realidade das escolas rurais de Jardim de Piranhas- RN, nesse

tópico mostrará a realidade das escolas, para isso foi feito um levantamento de

todas as escolas e a caracterização daquelas onde a pesquisa foi realizada.

O segundo capítulo intitulado Evasão escolar no meio rural, é distribuído em

dois tópicos, o primeiro diz respeito a causas e consequências da evasão escolar no

Brasil, pois o mesmo faz uma caracterização geral acerca da evasão escolar no

país, mostrando a importância do planejamento e da prática reflexiva, como uns dos

métodos para diminuir o índice de evadidos. O segundo tópico, A evasão escolar

nas escolas rurais de Jardim de Piranhas-RN, irá mostrar a evasão escolar nas

escolas rurais do município de Jardim de Piranhas-RN, analisando-as desde o ano

2000 até 2015, identificando se o índice de evadidos diminuiu durante esses anos,

mostrando os avanços na educação, e as medidas tomadas pelo o poder politico

para tentar solucionar este problema.

O terceiro capítulo Práticas Pedagógicas: o saber docente e a sua formação,

trata das concepções sobre prática pedagógica, busca compreender o que é a

pratica pedagógica e o que ela envolve; e Conhecendo os sujeitos da nossa

pesquisa, nesse tópico falaremos dos professores entrevistados, bem como da sua

pratica pedagógica. E por fim, as considerações finais.

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Capítulo I – Educação rural

O referido capítulo visa caracterizar o meio rural, apresentando a escola rural,

numa perspectiva histórica. Baseando-se em diversos autores discutiremos sobre o

que caracteriza o espaço rural desde a República até a atualidade. Mostraremos

também a realidade das escolas rurais no município de Jardim de Piranhas-RN,

fazendo o levantamento de todas as escolas e caracterizando as que farão parte da

pesquisa.

1.1 Trajetória histórica da educação rural no Brasil

O meio rural, em alguns casos, está associado ao natural, ou seja, o homem

está em contato direto com o meio ambiente, é o que ocorre, por exemplo, quando é

o período de colheita e de plantação. No entanto, percebe-se que embora o trabalho

efetivado pelo homem rural seja realizado, com base nos valores já embutidos no

meio em que vive, essas formas de trabalho já estão se modificando. Uma dessas

mudanças são as inovações tecnológicas que surgem para adotar novas técnicas no

meio tradicional onde poderão acelerar novas formas de desenvolvimento rural.

Ao longo dos séculos, o significado do ensino no meio rural vem alternando-

se entre conceitos positivos e negativos que determinaram o contraponto entre a

valorização ou a depreciação desse espaço. O campo era considerado como o lugar

do atraso, do inculto, hoje ele tem um novo modelo pedagógico, permitindo que os

alunos residentes nessas áreas tenham um ensino de qualidade, sem precisar

deslocar-se para a cidade. Para compreender e entender esses conceitos faz-se

necessário um resgate histórico da educação rural no Brasil. A educação dirigida à

população rural brasileira passou por um conturbado processo histórico, econômico

e social.

Para Leite (1999, p.14),

A educação rural no Brasil, por motivos socioculturais, sempre foi relegada a planos inferiores tendo por retaguarda ideológica o elitismo acentuado do processo educacional aqui instalado pelos jesuítas e a interpretação político-ideológica da oligarquia agrária, conhecida popularmente na expressão: “gente da roça não carece de estudos. Isso é coisa de gente da cidade”.

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Assim, criou-se um imaginário de que, para viver na roça, não havia a

necessidade de ampliar os conhecimentos socializados pela escola. Nesse tempo, a

formação escolar já era ofertada às elites brasileiras. Fica nítido que história,

crenças, valores e experiências de homens e mulheres foram ignorados e

submetidos aos padrões de uma cultura elitista, que julgavam os camponeses como

uma parte excluída da sociedade.

O desenvolvimento da Educação rural1 reflete as necessidades que foram

surgindo em decorrência da própria população que ocupa esse espaço nos diversos

municípios do Brasil. Entre os períodos de 1930 e 1945, vários órgãos relacionados

à educação foram criados, e, eventualmente, iriam mudar a história da Educação

brasileira. Segundo Barreiro (2010), em 1938, o Decreto nº 580 criou o Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), "[...] com o objetivo de promover estudos

e centralizar informações acerca da educação nacional." (PAIVA, 1987, p.138).

Competia ao Inep financiar a construção de escolas destinadas ao ensino elementar,

conceder bolsas de estudos para o aperfeiçoamento de pessoal técnico relacionado

ao ensino primário.

Em Novembro de 1945, surgiu a UNESCO, que via na educação uma saída

para combater a pobreza, pois esta era capaz de elevar os níveis de condições de

vida das pessoas. Ela estimulava a realização de programas nacionais de educação

de adultos analfabetos. O seu empenho, não se restringiu somente à transmissão de

técnicas elementares da leitura e da escrita. Ela adotou como estratégia educacional

a Educação de Base, conhecida também como Educação Fundamental2. Outro

órgão criado, nos anos de 1950, foi o Fundo nacional do ensino primário (FNEP),

destinado a incentivar a difusão do ensino elementar.

Foi durante o Governo de Vargas (1951-1954), que a questão social passou a

compor o próprio plano de desenvolvimento, tendo como objetivo primordial

solucionar as demandas sociais por saúde, alimentação, transporte, dentre outros. O

1 Segundo Ribeiro (2012), a educação rural forma o trabalhador para o capital e deste para si, na

condição de classe, aceitando os modelos externos educacionais.

2 A Educação Fundamental foi proposta e patrocinada pela Unesco, enquanto a Educação de Base

tem origem predominante francesa, com vínculos cristãos. No Brasil e, em particular, em relação à

Campanha nacional de educação rural, a orientação pedagógica combinou essas duas formas de

educação, associada ao desenvolvimento de comunidade. Tal associação atende aos interesses de

governantes no sentido de manter sob o controle a organização popular desses grupos. (BRANDÃO,

1980, p.5).

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governo também promoveu a capacitação da agricultura apoiada na modernização

da produção rural, criando o Serviço social rural (SSR). Ele tinha como missão

promover o "[...] bem-estar social e melhoria do padrão de vida dos habitantes da

zona rural [...] (CALAZANS et al., 1979, p.31).

Em 1952, foi criada a Campanha nacional de educação rural (CNER) que

definia a Educação Fundamental como um processo de mudança cultural, um

reagente poderoso capaz de arrancar a inércia e da rotina populações inteiras. Essa

educação seria eficiente em função da "força renovadora de costumes, de práticas,

de padrão de vida, que vem das próprias forças que sempre existem em estado

latente em todas as comunidades, forças essas que se exploram com recursos

científicos de que se dispõe". (RCNER, 1954, v.1, p.11).

Foi no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), que surgiram vários

programas de educação de jovens e adultos, com destaque para o meio rural. Para

a política educacional, em 1956, esteve em discussão o projeto de Lei das Diretrizes

e Bases da Educação (LDB), iniciado em 1947 e aprovado somente em 1961. Em

1960, inicia-se uma mobilização da sociedade civil, momento em que os movimentos

de educação de adultos enfatizam a importância da difusão da cultura popular.

Diante de toda essa mobilização, surge o Movimento de Educação de Base (MEB),

que teve à frente o grande educador Paulo Freire.

O aumento da migração campo/cidade passou a constituir-se em

desequilíbrio, por causa do esvaziamento rural, causando uma grande concentração

populacional nas cidades. O motivo principal para este acontecimento é a não

qualificação profissional da população rural que chega às áreas citadinas. Diante

disso, a educação rural passou a ser vista como possibilidade de valorização de vida

no campo para minimizar o processo de migração.

É notável que a cidade mesmo com suas dificuldades, como, violência,

favelas, ainda é uma grande atração para a modernidade, por garantir o acesso a

uma vida facilitada pelos serviços de saúde, educação e transporte. Na busca de

uma vida melhor, com maiores oportunidades de emprego, as pessoas veem na

migração a solução para seus problemas. Nesse contexto, a educação no campo3

3 As diretrizes curriculares nacionais para a educação básica traz que educação no campo é uma

modalidade da educação que ocorre em espaços denominados rurais. Diz respeito a todo espaço

educativo que se dá em espaços da floresta, agropecuária, das minas e da agricultura e ultrapassa,

chegando também aos espaços pesqueiros, a população ribeirinha, caiçara e extrativista.

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surge como uma esperança.

De acordo com as Diretrizes curriculares nacionais da educação básica:

No que diz respeito ao direito à educação obrigatória a ser oferecida às populações rurais, a Câmara de Educação Básica manifestou-se pela Resolução CNE/CEB nº 1, de 3 de abril de 2002, que, ao tratar das Diretrizes Operacionais da Educação nas Escolas do Campo refere-se à construção de uma política específica e a necessidade de atender à diversidade das populações que residem no meio rural, de acordo com suas realidades [...]. As mesmas diretrizes pronunciam-se, expressamente, sobre a responsabilidade do poder público, dentro dos princípios do regime de colaboração, em proporcionar a Educação Infantil e o Ensino Fundamental nas comunidades rurais e dedicar especial atenção às condições de acesso ao Ensino Médio e à Educação Profissional de nível técnico. BRASIL (2013, p. 292).

Segundo Vicente (2011, p. 71), o governo criou programas para ajudar a

educação no campo brasileira, alguns deles são: o PRONERA, o PROCAMPO, e a

escola ativa4. No início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva foram aprovada as

Diretrizes operacionais. Durante os oito anos de mandato defendeu a escola rural,

dizendo que a mesma precisa possuir um calendário diferenciado, que o ensino

básico precisa ser ofertado lá onde o sujeito vive e mora. A educação rural é

chamada para se ajustar às políticas educacionais estabelecidas pelo projeto do

estado, entretanto, ainda há uma grande diferença na forma como as populações do

campo e da cidade são tratadas. Enquanto o setor urbano é tido como moderno e

desenvolvido, o setor rural ainda sofre com alguns problemas, dentre eles, a falta de

estrutura.

Nos últimos dez anos, foram fechados 32,5 mil unidades de ensino no

campo, de acordo com o levantamento da folha, com base em dados do senso

escolar. Tudo isso se faz pensar sobre o que ocorre nessas escolas. Portanto, faz-

se necessário conhecer a realidade dessas instituições e saber quais programas

elas possuem.

1.2 A realidade das escolas rurais de Jardim de Piranhas- RN

4 Programa criado pelo governo, ele é baseada na pedagogia ativa, onde os alunos são o centro do

processo educacional.

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Quando se lança o olhar para a história, percebe-se que, por muito tempo, a

escola situada no meio rural foi repleta de limitações e de improvisos, fato que fez

com que essa instituição fosse considerada por muitos como um mero local de

alfabetização. De acordo com os dados levantados pelo Censo Escolar de 2002, a

rede de ensino da educação básica da área rural corresponde a 107.432

estabelecimentos, que representam 50% das escolas do país.

O modelo com o qual os professores têm que lidar com alunos de diferentes

faixas etárias prevalece até os dias atuais. É uma realidade viva que sobrevive ao

tempo. Por isso não deve ser negada, mas, sim, contar com as dignas condições

físicas infraestruturas e de formação de seus professores, para o seu pleno

funcionamento. Nessa perspectiva, (FURTADO, 2004, p.61), diz:

No que se refere ao tipo de organização dessas escolas, o Censo Escolar 2002 mostrou que 64% daquelas que oferecem o ensino fundamental de 1ª a 4ª série tem, exclusivamente, turmas multisseriadas. Essas escolas atendem 1.751.201 alunos no Brasil, resultando em turmas com, aproximadamente, 27 alunos, que são atendidos, como já citados, por um único professor que ministra o conteúdo relativo às quatro séries iniciais do ensino fundamental. No Nordeste, as escolas multisseriadas atendem a 1.027.935 alunos, num total de 34.477 estabelecimentos, o que perfaz uma média de mais de 29 alunos por turma.

Além da estrutura física um pouco defasada, carregam como estigma o

elevado índice de evasão escolar. A verdade é que a maioria dos problemas

enfrentados por elas, não são de hoje, mas remetem a uma política educacional que

as relegaram ao segundo plano.

Diante desse cenário, esta investigação busca conhecer a realidade das

escolas rurais de Jardim de Piranhas- RN, bem como, o percurso percorrido pelos

educadores dessas instituições. Conhecer e aprender com as experiências

adquiridas ao longo da vida profissional. Como sabemos a formação é contínua, e

mostra-se como um processo que revela elementos da experiência.

Foi feita uma pesquisa para descobrir as mudanças ocorridas nessas escolas.

O município dispõe de 14 escolas rurais dispostas no quadro 1, abaixo:

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Quadro 1: As Escolas Rurais do município de Jardim de Piranhas-RN

Escola Ano de Criação Comunidade

Unidade de Ensino José Calixto de Medeiros

1969

Sítio Timbaubinha

Unidade de Ensino Pedro Alexandrino de Medeiros

1974 Sítio Cruz

Unidade de Ensino Elpídio Olegário dos Santos

1980 Sítio Catingueira

Unidade de Ensino Francisco Brás

1969 Sítio Piedade

Unidade de Ensino Manoel Florêncio Maia

1980 Sítio São Francisco

Unidade de Ensino Manoel Simplício Irmão

1981 Sítio Batalha

Unidade de Ensino Manoel Calixto Batista

1968 Sítio Juazeiro

Unidade de Ensino Manoel Félix Marinho

1970 Sítio Assembleia

Unidade de Ensino Antônio Amâncio da Silva

1980 Sítio Barra de Baixo

Unidade de Ensino Maria Donina Maia

1960 Sítio Panorama

Unidade de Ensino Antônio Augusto da S. Freire.

1972 Sítio Lagoa Rachada

Unidade de Ensino Joaquim Justino P. da Silva.

1976 Sítio Flores

Unidade de Ensino Tomás Pereira da Silva

1973 Sítio Cais

Unidade de Ensino Sebastião Pereira da Silva

1987 Sítio Santana

Fonte: Centro Municipal de Educação Rural Prof.ª Maria Edite Batista, 2016.

Mesmo sendo identificadas 14 unidades, optamos em desenvolver a pesquisa

em três, isso para que fosse feito uma análise mais aprofundada dessas escolas,

conhecendo o contexto onde estão inseridas. Outro motivo é o distanciamento delas

do perímetro urbano, então seria difícil ter acesso a todas elas, durante o

desenvolvimento do trabalho.

A primeira é a Unidade de Ensino Francisco Brás (figura 1), localizada no

Sítio Piedade, construída no ano de 1969, na administração do prefeito Geoci Vale

de Freitas. A escola recebeu esse nome em homenagem ao sobrinho do dono do

terreno, pela razão dele ter sido morto ao lado da escola. Antes de a escola ser

construída, as crianças da comunidade estudavam na casa do Sr. Francisco Brás,

depois na residência de Florêncio Maia que pagava a um professor para dar aulas a

seus filhos.

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Figura 1: Unidade de Ensino Francisco Brás

Fonte: Arquivo pessoal da professora (Ivoneide dos Santos Rezende)

A unidade começou a funcionar somente em 1972, com a Prof.ª Maria

Azevedo, com aproximadamente 35 alunos matriculados. Em 1983, Maria Ivonete da

Silva Régis que foi aluna da referida escola deu continuidade ao ensino com o que

ela aprendeu. Em 2009, passou a atender a alunos da Educação de Jovens e

Adultos (EJA). A partir de 2011, foi adotada a metodologia da Escola ativa. No ano

de 2012, ela tinha 19 alunos divididos no ensino infantil, no 1º segmento e do 1º e 2º

anos do Ensino Fundamental. Hoje a escola possui 16 alunos matriculados, sendo

11 no Ensino infantil e 05 no Ensino Fundamental. Nesse mesmo ano, a escola

beneficiava os alunos das comunidades Piedade, Caldeirão, Ferreiro, e

comunidades vizinhas. A professora tem formação em Pedagogia.

A segunda é a Unidade de Ensino José Calixto de Medeiros (figura 2),

localizada na comunidade Timbaubinha. A escola surgiu pelo fato da comunidade

ser bastante povoada no ano de 1969. Teresa, uma das primeiras professoras, dava

aulas em sua própria residência. Nesse mesmo ano, ela começou a ensinar na

Escola. Em 1999, ela passou por restauração, durante a gestão do Prefeito José

Henrique de Araújo. Em 2012, a unidade de ensino contava com a seguinte

estrutura: 02 salas de aulas, 01 cozinha, 02 banheiros e 01 pequeno corredor. Hoje,

ela continua com a mesma estrutura. No início, não existia merendeira e a comida

era feita pela Prof.ª Ana Maria, hoje, aposentada. Atualmente, a escola tem 25

alunos matriculados, sendo 03 no Ensino Infantil e 22 no Ensino Fundamental.

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Figura 2: Unidade de Ensino José Calixto de Medeiros

Fonte: arquivo pessoal da autora (2016)

A terceira é a Unidade de Ensino Antônio Amâncio da Silva (figura 3),

localizada na comunidade Barra de Baixo. A mesma foi construída no ano de 1980,

na administração do prefeito José Henrique de Araújo. O nome da escola foi

homenagem a um dos pioneiros da comunidade. O terreno da escola foi doado pelo

marido da neta de Antônio Amâncio.

Figura 3: Unidade de Ensino Antônio Amâncio da Silva

Fonte: Arquivo pessoal da autora, 2016.

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No primeiro ano de funcionamento, a escola teve um grande número de

alunos matriculados, divididos em séries da 1ª a 4ª. A primeira professora foi Cinézia

de Medeiros. Depois dela vieram diversas professoras, mas, infelizmente, a escola

acabou sendo fechada, pois não existia quem assumisse as salas de aulas. No ano

de 1989, Lúcia de Medeiros Mariz recebeu o convite da pessoa de Josidete Maia,

para reabrir a escola e assumir a função de docente. No início, ela não quis aceitar,

pois estudava em Jardim de Piranhas e seria difícil conciliar o trabalho e o estudo.

Segundo uma das professoras entrevistadas, naquele tempo não era fácil

ensinar na Zona Rural, pois havia muitos empecilhos, dentre eles, podemos

destacar a falta de merenda escolar e também de funcionários. Todas as tarefas

tinham que ser realizadas pela professora, até mesma a água para o consumo e

demais atividades.

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Capítulo II – Evasão escolar no meio rural

Este capítulo será dividido em dois tópicos: o primeiro fará uma

caracterização geral acerca da evasão escolar no Brasil, bem como, a importância

do planejamento e da prática reflexiva, como uns dos métodos para diminuir o índice

de evadidos. O segundo tópico enfocará a evasão escolar nas escolas rurais do

município de Jardim de Piranhas-RN, desde o ano 2000 até 2015, mostrando os

avanços na educação, e as medidas tomadas pelo poder politico para tentar

solucionar este problema.

2.1 Causas e consequências da evasão escolar no Brasil

A evasão escolar ocorre quando o aluno deixa de frequentar, ou seja,

abandona a escola. Os índices de evadidos vêm aumentando com o tempo, mas

sabemos que não é de hoje, pois no Brasil é um problema antigo. Segundo Freitag

(1980, p.61):

Dos 1000 alunos iniciais de 1960, somente 56 conseguiram alcançar o primeiro ano universitário em 1973. Isso significa taxas de evasão 44% no ano primário, 22% no segundo, 17% no terceiro. A elas se associam taxas de reprovação que entre 1967 e 1971 oscilavam em torno de 63,5%.

Com isso, fica nítida que a evasão escolar no Brasil é uma questão que tem

raízes históricas, e que, infelizmente, resiste até os dias atuais.

Muitos são os motivos da evasão escolar, dentre eles estão a necessidade de

trabalho do aluno para ajudar os pais, as condições de acesso e transporte, as quais

são precárias, e também, o abandono da escola por considerarem que a formação

que recebem não se dá de forma significativa para eles.

Não sabemos de quem é a culpa. Para Ferreira (2011, p. 2), as causas estão

interligadas a quatro segmentos. O primeiro é a escola, que, muitas vezes, não

cativa o aluno. Para reverter esse problema, acreditamos que é preciso professores

dinâmicos, responsáveis, criativos e que sejam capazes de inovar e transformar sua

sala de aula em um lugar atrativo e estimulador. O segundo é o aluno, que em

alguns casos, é desinteressado e indisciplinado. Os jovens acabam sendo

desmotivados pela baixa qualidade do ensino e muitos desistem dos estudos sem

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completar o curso secundário. O terceiro diz respeito ao desinteresse dos pais

sobre o destino dos seus filhos. E por fim, o problema social, pois na busca por

emprego, o aluno, às vezes, não pode trabalhar em horário contrário à aula.

Muitos autores apontam que as crianças e as famílias são responsáveis pelo

fracasso escolar, diferentemente deles Fukui (apud BRANDÃO et al., 1983, p.38)

ressalta a responsabilidade da escola, afirmando que "a evasão e repetência longe

está de ser fruto de características individuais dos alunos e suas famílias. Ao

contrário, refletem a forma como a escola recebe e exerce ação sobre os membros

destes diferentes segmentos da sociedade".

Segundo Almeida (1996), a evasão escolar é um problema que atinge todo o

Brasil, principalmente as famílias menos favorecidas, que, muitas vezes, não tem

condições de manterem seus filhos na escola. O mesmo autor comenta que o

programa Bolsa Escola5 surge como uma alternativa para diminuir essa evasão.

As vantagens do programa são evidentes. Nas cidades onde o programa é implantado, a escola transforma-se no centro da vida comunitária, envolvendo as famílias no desempenho escolar de seus filhos. A Bolsa-Escola reduz as desigualdades sociais, por meio da transferência direta de renda para setores excluídos da sociedade; aumenta o consumo da população carente; e, talvez o mais importante, atua como ação preventiva ao desvio precoce de crianças e jovens para o mercado de trabalho, contribuindo para ampliar a consciência de cidadania das populações que vivem a apartação social (ALMEIDA, 1996, p. 02).

Glewwe e Kassouf (2008) examinaram o impacto da Bolsa Família sobre o

progresso das crianças na escola. Oito anos de dados extraídos do censo escolar

(1998-2005) apontam que o programa reduziu as taxas de abandono escolar em

cerca de 0,5 ponto percentual, no caso de crianças do 1º ao 5º, e cerca de 0,4 ponto

percentual, no caso de crianças do 6º ao 9º.

De acordo com tais resultados, fica nítido que o programa Bolsa Família,

atrelado à obrigatoriedade de matrícula na escola, é efetivo, pelo menos para

aumentar o número de matrículas e reduzir o abandono escolar.

5 Programa que começou na década de 1990 com iniciativas anteriores de outras denominações e

expandiu-se a partir de 2002 sob o formato atual, prevê pagamentos mensais, em dinheiro, para

famílias pobres se seus filhos (com idades entre 6 e 15 anos) estiverem matriculados na escola.

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Outro programa criado pelo Governo Federal, em 2007, é o “caminho da

escola6”. Chegar à sala de aula não é tarefa fácil em algumas regiões brasileiras,

principalmente, na zona rural. Isso contribui muito para a desistência dos alunos.

Apenas no período entre 2011 e 2013, o governo disponibilizou transporte escolar

para quase dois milhões de crianças, dentre eles, ônibus, bicicletas e lanchas para

as crianças ribeirinhas. Os ônibus foram desenvolvidos, especialmente, para o

projeto, desenhados para circular em estradas de terra, capazes de enfrentar as

condições mais difíceis, como por exemplo, os atoleiros e buracos durante o período

de chuvas.

A evasão escolar não afeta somente o meio rural, mas também, os grandes

centros urbanos. Conhecendo as principais causas do afastamento dos alunos da

escola, fica nítido que algumas medidas precisam ser tomadas para amenizar os

problemas do abandono escolar. Deve-se cuidar e motivar o interesse pelo estudo.

É válido dizer que a evasão está relacionada não apenas à escola, mas também à

família, às políticas de governo e ao próprio aluno.

A evasão escolar é um assunto bastante discutido por professores e demais

profissionais da educação, como, diretores, coordenadores e secretários, mas o que

ocorre muitas vezes é a busca por culpados de tal fracasso.

A problemática da evasão escolar deve ser vista sob vários ângulos, tais

como.

sobre o aprendizado... sobre a eficácia dos docentes, sobre o serviço publico, sobre a igualdade das chances, sobre os recursos que o país deve investir em seu sistema educativo, sobre a crise, sobre os modos de vida e o trabalho na sociedade de amanha, sobre as formas de cidadania. (CHARLOT, 2000. p. 18).

Diante desta perspectiva, fica nítido que a evasão escolar precisa ser avaliada

por várias vertentes que apontem diversas causas e possíveis soluções.

O professor tem em mãos uma ferramenta importantíssima, para despertar o

interesse do educando, planejar uma aula dinâmica, estimulando a curiosidade, em

alguns casos pode impedir dele evadir-se. Para Freire (2006, p.22) “[...] ensinar não

é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua

6 O programa amplia e renova a frota de veículos escolares, garantindo transporte gratuito e

de qualidade para os estudantes das redes estaduais e municipais de Educação Básica

(creches, pré-escolas e ensino médio).

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construção”. Tardif, em sua obra, Saberes docentes e formação profissional

apresenta quatro saberes docentes necessários: saberes da formação profissional;

saberes da disciplina; saberes curriculares; e saberes experienciais. Sobre a

importância da pessoa do professor, ele enfatiza:

Ainda hoje, na maioria dos países, embora os professores ocupem a posição mais importante entre os agentes escolares, embora o papel deles seja tão importante quanto o da comunidade científica, no que se referem ao aspecto sociocultural, eles se encontram, com muita frequência, em último lugar na longa sequência dos mecanismos de decisão e das estruturas de poder que regem a vida escolar. Em suma, seu poder, não somente na vida dos estabelecimentos escolares, mas na organização e no desenvolvimento de seu próprio trabalho, é realmente muito reduzido. Entretanto, se quisermos que os professores sejam sujeitos do conhecimento, precisaremos dar-lhes tempo e espaço para que possam agir como atores autônomos de suas próprias práticas e como sujeitos competentes de sua própria profissão. (TARDIF, 2002, p. 243).

Educar não é tarefa fácil, exige muita dedicação e esforço, bem como, muitas

exigências. Para abraçar essa missão de educador, é preciso estar realmente

disposto a doar-se como pessoa responsável pela formação do outro, pois não há

educação sem doação, sem amor, tudo isso faz parte da formação do educador.

O professor é uma peça fundamental no processo de ensino-aprendizagem,

pois através da reflexão podem surgir ações significativas que proporcionem aos

estudantes avançarem em seu processo de aquisição do conhecimento. Sobre a

prática reflexiva, Perrenoud (2002, p. 43), afirma:

Sem dúvida, cada pessoa reflete de modo espontâneo sobre sua prática; porém, se esse questionamento não for metódico nem regular, não vai conduzir necessariamente a tomadas de consciência nem a mudanças. Todo professor iniciante reflete para garantir sua sobrevivência. Um ‘professor reflexivo’ não para de refletir a partir do momento em que consegue sobreviver na sala de aula, no momento em que consegue entender melhor sua tarefa e em que sua angústia diminui. Ele continua progredindo em sua profissão mesmo quando não passa por dificuldades e nem por situações de crise, por prazer ou porque não o pode evitar, pois a reflexão transformou-se em uma forma de identidade e de satisfação profissionais. Ele conquista métodos e ferramentas conceituais baseados em diversos saberes e , se for possível, conquista-os mediante interação com outros profissionais. Essa reflexão constrói novos conhecimentos, os quais, com certeza, são reinvestidos na ação. Um profissional reflexivo não se limita ao que aprendeu no período de formação inicial, nem ao que descobriu em seus primeiros anos de prática. Ele reexamina constantemente seus objetivos, seus procedimentos, suas evidências

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e seus saberes. Ele ingressa em um ciclo permanente de aperfeiçoamento, já que teoriza sua própria prática, seja consigo mesmo, seja com uma equipe pedagógica.

O professor reflexivo está sempre em busca de formas para envolver o aluno

de maneira atrativa, para que o educando não se sinta enfadonho e acabe

abandonando a escola.

A aprendizagem é contínua. É preciso estar à procura de novos

conhecimentos, registrar as aulas, avaliar as conquistas e derrotas, em busca de um

ensino de qualidade. Outro ponto importante e indispensável são os encontros sob a

direção de uma coordenadora, para discutirem sobre os registros realizados pelos

docentes.

2.2 A evasão escolar nas escolas rurais de Jardim de Piranhas-RN

A educação, na zona rural no município de Jardim de Piranhas-RN, vem se

transformando com o passar dos anos, depois da criação do Centro Municipal de

Educação Rural7 (figura 4). As professoras passaram a ter um apoio pedagógico,

pois segundo as educadoras entrevistadas, elas se sentem mais seguras, pois tem

planejamento quinzenal que é conduzido pelas coordenadoras, trabalhando,

especificamente, com os educadores do campo. Conta também com a participação

da diretora para discutir e encaminhar medidas administrativas.

7 Em 1999, a Secretaria Municipal de Educação percebeu que seria necessário organizar melhor as

escolas do campo nos aspectos administrativo-pedagógicas. Nesse sentido, seguindo as orientações da SECD, organizam-se as escolas em torno de um centro, uma vez que a falta de um quadro de administradores-diretores e coordenadores pedagógicos- dificultava o trabalho pedagógico. (AZEVEDO, 2006, p. 110)

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Figura 4: Centro Municipal de Ensino Rural de Jardim de Piranhas-RN

FONTE: Arquivo pessoal da autora, 2016.

As entrevistadas também contaram que antes do Centro, as escolas

funcionavam em situações precárias, não havia energia elétrica, nem abastecimento

de água e merenda escolar. Não existia um Projeto Politico Pedagógico (PPP)

específico para elas, nem eram disponibilizados materiais escolares para os alunos

e nem didático-pedagógico, para os professores. Após o centro, passou-se a

distribuir este tipo de material e as escolas passaram a possuir um PPP próprio.

Mas alguns problemas ainda persistem com a migração do campo para a

cidade. As escolas sofrem com a falta de alunos, isso acaba ocasionando o

fechamento de unidades de ensino. Em 2006, o município contava com 19

unidades. Hoje, o município possui apenas 14 em funcionamento. Outro ponto

negativo é a diminuição de matrículas, como podemos observar no quadro 2, a

seguir:

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Quadro 2: Nº de matrículas, aprovações e reprovações no período de 2002-2014 das escolas rurais do município de Jardim de Piranhas-RN

ANO MATRÍCULA APROVAÇÃO REPROVAÇÃO

2002

399 192 140

2003

322 174 100

2004

327 141 102

2005

333 168 100

2006

386 240 87

2007

403 305 17

2008

365 293 33

2009

284 218 61

2010

381 293 45

2011

387 305 44

2012

363 269 51

2013

430 229 61

2014

203 173 29

Fonte: Centro Municipal de Educação Rural Prof.ª Maria Edite Batista (2016) *Não estão inclusos abandono e transferências.

Como podemos observar, atualmente, as escolas têm um índice menor de

matrículas, se comparado com os anos anteriores. Segundo o quadro, em 2002, os

indicadores de reprovação eram muito altos. Diante disso, o município de Jardim de

Piranhas-RN enquadrou-se no Programa de melhoria da educação do Município,

coordenado pelo o CENPEC8, para tentar amenizar essa situação.

As estruturas das escolas rurais também são arcaicas, comparando com as

escolas urbanas, pois as salas permanecem as mesmas desde sua criação, faltando

espaços para as crianças brincarem e merendarem. Mesmo com toda esta

precariedade, a escola no campo não desaparece, uma vez que resiste ao descaso

do poder político. Ademais, o acompanhamento das escolas urbanas é mais direto,

pois o coordenador está presente, diariamente, o que não acontece no campo.

8 Centro de estudos e pesquisas em educação, cultura e ação comunitária.

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Atualmente, o município de Jardim de Piranhas vem conseguindo diminuir a

evasão escolar na zona rural, mesmo tendo um número menor de matrículas, haja

vista que que é notável a permanência desses durante o ano letivo, com presenças

constantes. Como podemos observar no quadro 3.

Quadro 3: Número de matriculas, evasão e transferência das escolas rurais de Jardim de Piranhas no período entre 2000-2015.

ANO MATRÍCULA EVASÃO TRANSFERÊNCIA

2000 507 54 64

2001 441 35 35

2002 399 22 43

2003 322 20 28

2004 285 31 11

2005 333 34 31

2006 386 40 45

2007 403 50 49

2008 365 24 30

2009 284 11 26

2010 381 20 49

2011 387 22 36

2012 363 37 31

2013 430 27 27

2014 203 4 29

2015 273 4 21

FONTE: Centro Municipal de Educação Rural Prof.ª Maria Edite Batista, 2016.

Como se podem observar, os índices de evasão diminuíram bastante nos

últimos anos. Segundo Azevedo (2006, p.11), em entrevista com professoras da

zona rural de Jardim de Piranhas “identificamos também que outro problema é a

distância entre a residência dos alunos e a escola, e como as crianças ainda são

pequenas, nem sempre estão dispostas a caminhar por distâncias maiores”. Uma

das medidas utilizadas para solucionar este problema foi conseguir através do

programa “Caminhos da Escola”, ônibus escolares para alunos da educação básica

que residem na zona rural, visando renovar a frota, dando segurança ao transporte

de estudantes.

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Outra medida tomada pelo prefeito foi conseguir através da Secretaria

Municipal de Educação os primeiros 64 microcomputadores para estudantes da

zona rural, dentro do Programa Nacional de Educação do Campo (Pronacampo) 9.

Inicialmente, foram atendidas as escolas: Elpídio Olegário dos Santos, no sítio

Catingueira, Sebastião Pereira, no sítio Santana, Antônio Augusto, no sítio Lagoa

Rachada, Manoel Félix Marinho, no sítio Assembleia e Manoel Florêncio Maia no

sítio São Francisco. A secretária de educação disse que a iniciativa de inclusão

digital será estendida para outras unidades do campo. Estamos na era digital, então

esta iniciativa rompe com o mecanicismo e ajuda a abrir espaço para novas práticas

que possibilitam a aprendizagem e constroem novos conhecimentos.

Sabe-se que em todos os segmentos da sociedade moderna, as tecnologias

são indispensáveis, a educação não poderia deixar de fazer uso de um instrumento

tão valioso, como o computador.

Para Lévy (2002. meio eletrônico):

Devido ao fato de que essas tecnologias intelectuais, sobretudo as memórias dinâmicas, são objetivadas em documentos numéricos (digitais) ou em softwares disponíveis em rede (ou de fácil reprodução e transferência), elas podem ser partilhadas entre um grande número de indivíduos, incrementando, assim, o potencial de inteligência coletiva dos grupos humanos. O saber-fluxo, o saber-transação de conhecimento, as novas tecnologias da inteligência individual e coletiva estão modificando profundamente os dados do problema da educação e da formação. O que deve ser aprendido não pode mais ser planejado, nem precisamente definido de maneira antecipada. Os percursos e os perfis de competência são, todos eles, singulares e está cada vez menos possível canalizar-se em programas ou currículos que sejam válidos para todo o mundo. Devemos construir novos modelos do espaço dos conhecimentos.

As TIC surgem como uma forma para permear e socializar a construção do

saber e a aquisição do conhecimento, mas elas têm seu lado preocupante em

relação ao processo de leitura e escrita. Cabe à escola ter o conhecimento de como

utilizar tais ferramentas para fortalecer a aprendizagem dos alunos. Para o campo é

um avanço, principalmente, para aqueles que não têm acesso à internet

diariamente, pois eles vão aprendendo a manusear o computador, ao mesmo tempo

que podem fazer pesquisas individuais ou em grupos, fortalecendo a relação entre

9 Programa que tem como objetivo atender escolas rurais com ações em quatro eixos: gestão e

práticas pedagógicas; formação de professores; educação de jovens e adultos; e educação profissional e tecnológica.

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os educandos.

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Capítulo III – Práticas Pedagógicas: o saber docente e a sua

formação

Neste capitulo apresentamos diferentes concepções acerca das práticas

docentes, compreendendo o que é, e o que a mesma envolve. Além disso,

caracterizaremos os sujeitos da nossa pesquisa, analisando suas práticas

cotidianas.

3.1 Concepções sobre prática pedagógica

Sabemos da importância da prática pedagógica do professor no processo de

ensino aprendizagem dos alunos. A maneira como ele expõe os conteúdos não deve

ser somente para preencher algo vazio, mas para valorizar os conceitos

pedagógicos, possibilitando que o educando construa significados e elabore seus

próprios conceitos.

A primeira e fundamental função do educador é contribuir na formação dos

seus alunos e prepará-los para vida futura, proporcionando a eles o ensino

necessário para eles desenvolverem suas competências e habilidades.

Contudo, inicialmente, faz-se necessário compreendermos o conceito de

prática pedagógica. Assim Caldeira e Zaidan (2010, p. 21) mencionam que:

A Prática Pedagógica é entendida como uma prática social complexa acontece em diferentes espaço/tempos da escola, no cotidiano de professores e alunos nela envolvidos e, de modo especial, na sala de aula, mediada pela interação professor--aluno-conhecimento. Nela estão imbricados, simultaneamente, elementos particulares e gerais. Os aspectos particulares dizem respeito: ao docente - sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas profissionais; aos demais profissionais da escola – suas experiências e formação e, também, suas ações segundo o posto profissional que ocupam; ao discente - sua idade, corporeidade e sua condição sociocultural; ao currículo; ao projeto político-pedagógico da escola; ao espaço escolar – suas condições materiais e organização; à comunidade em que a escola se insere e às condições locais.

Diante disso, fica claro que devem ser consideradas as relações e as

especificidades dos conhecimentos e dos sujeitos nos processos de ensino e de

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aprendizagem. Para os autores citados, o conceito de prática pedagógica utilizada

ultrapassa o esquema que articula três elementos que constituem a mesma

(conhecimento, professor e aluno).

O professor não é constituído apenas de saberes acadêmicos e pedagógicos,

mas também de elementos, que vão desde a experiência pessoal, concepções,

dentre outros, até os conhecimentos sociais e culturais. Nessas situações, o

professor é o agente transformador, tanto da sua prática, como também, da prática

escolar.

Fanfani (2007, p. 106) afirma:

Para compreender a lógica da prática pedagógica que se manifesta nesse complexo micromundo das inter-relações sociais que é a aula escolar, não basta tomar em conta as características e propriedades físicas dos atores (sua idade, gênero, níveis de escolaridade, condições de vida, etc.), as quais podem se medir como qualquer outro objeto do mundo físico, mas também é preciso tomar em conta suas qualidades simbólicas, que funcionam como propriedades diversas (por exemplo, as que distinguem um professor considerado ‘exigente’ de um professor ‘permissivo’) segundo as percepções dos alunos.

A prática pedagógica do professor se faz por meio da sua formação

acadêmica, de seus saberes e de suas experiências profissionais. O resultado

determinante é a relação que o educador estabelece entre suas bagagens

intelectuais com a realidade do dia-a-dia em sala de aula. Ela envolve algumas

variáveis que irão determinar as atitudes do educador. Caldeira e Zaidan (2010, p.

21) falam de alguns elementos que influenciam as práticas pedagógicas dos

professores, são eles: “sua experiência, sua corporeidade, sua formação, condições

de trabalho e escolhas profissionais”.

O professor está em contínuo processo de aprendizagem. Cabe a ele

adequar sua prática de acordo com a realidade da sua sala de aula. A educação

brasileira tem passado por uma verdadeira revolução e o educador precisa se

adequar a esta nova realidade, adaptando as suas práticas pedagógicas para o

novo aluno.

A expansão da educação básica realizada dessa forma sobrecarregará em grande medida os professores. Essas reformas acabarão por determinar uma reestruturação do trabalho docente, resultante da combinação de diferentes fatores que se farão

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presentes na gestão e na organização do trabalho escolar, tendo como corolário maior responsabilização dos professores e maior envolvimento da comunidade. (OLIVEIRA, 2004, p. 1.131).

Dessa forma, o trabalho docente vai muito além da sua formação. Ele precisa

repensar e flexibilizar suas ações diariamente. A mesma autora ainda afirma que:

A constatação de que as mudanças mais recentes na organização escolar apontam para uma maior flexibilidade, tanto nas estruturas curriculares quanto nos processos de avaliação, corrobora a ideia de que estamos diante de novos padrões de organização também do trabalho escolar, exigentes de novo perfil de trabalhadores docentes. Ocorre, porém, que esses novos modelos de organização escolar expressam muito mais um discurso sobre a prática do que a própria realidade, melhor dizendo, a distância entre o que é propugnado nos programas de reforma educacional e o que é de fato implementado nas escolas apresenta uma grande defasagem. Daí a importância de se chegar até o chão da escola para compreender as mudanças que de fato ocorrem no cotidiano docente. (OLIVEIRA, 2004, p. 1.139).

De acordo com o que foi destacado, fica claro que existe muito discurso sobre

as mudanças necessárias para a escola, mas há pouca ligação com a realidade

escolar.

É fundamental que o professor, em sua prática, considere a relação entre ele

e a instituição na qual trabalha. Quando o educador coloca seus pés no chão da

escola, ele deve levar em consideração as condições da mesma, compreendendo o

seu projeto politico pedagógico, bem como, as condições de materialidade e

espaços físicos. Isso se faz necessário, pois mesmo ele sendo o dirigente da sua

prática pedagógica, sua autonomia sempre deve ser relativizada.

Para ter uma boa prática pedagógica, o educador não pode abrir mão de um

bom planejamento. É preciso pensar no que vai fazer e o como fazer. O plano de

disciplina é um instrumento indispensável, nele deve conter a sistematização, ou

seja, a ação concreta do professor, os conhecimentos e os conteúdos que serão

desenvolvidos, os objetivos, bem como as técnicas e procedimentos de ensino.

Assim, o planejamento precisa ser bem elaborado e estruturado, pois desta

forma irá facilitar a aprendizagem do aluno e ação do professor, como também irá

desencadear novas aprendizagens. Antes de colocar em prática, é necessário

refletir se o mesmo é útil e significativo, já que ele precisa atender às necessidades

reais dos alunos.

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O bom trabalho é um trabalho que faz bem, isto é, que fazemos bem, de uma perspectiva técnica e política, e que se faz bem para nós e para aqueles com os quais trabalhamos, do ponto de vista estético e, principalmente, ético. Fazemos bem quando ensinamos o que é necessário ensinar, quando temos consciência do significado de nosso ensinamento no contexto social, quando procuramos conhecer aqueles com quem estamos envolvidos no processo, quando procuramos promover a construção da cidadania. Rios (2008, p.89)

Para que esse bom trabalho seja efetivado com êxito, é necessário um bom

planejamento, pois a aula não se faz somente com o professor, mas um conjunto

que inclui também os alunos, os conteúdos, o material didático, os recursos

tecnológicos, dentre outros.

3.2 Conhecendo os sujeitos da nossa pesquisa

É importante conhecer como os docentes refletem suas vivências em sala de

aula, pois ser professor é uma tarefa que requer muita dedicação, conhecendo a si

mesmo e o lugar a qual pertence. Para Zabala (1998, p.28) “é preciso insistir que

tudo quando fazemos em aula, por menos que seja, incide em maior ou menor grau

na formação de nossos alunos”, visto que a formação não é só vista como do

professor, mas também do aluno, pois sabemos que o trabalho realizado pelo

docente é válido para esses sujeitos.

O professor deve compreender que alfabetizar não é apenas ensinar a

decodificar códigos. É importante que haja relação entre o ensinado e o vivido. O

aluno precisa ser valorizado, ouvido. Silva (1991, p.74) afirma que:

O trabalho do professor se realiza na prática e não na pesquisa; portanto, ele deve observar e atender a evolução da criança, e não detectar através de ‘testes’, qual o nível de conceitualização em que ela se encontra. É possível fazer isso naturalmente através das propostas de classe. Entretanto, é fundamental que ele saiba quais os objetivos que norteiam a elaboração das atividades propostas aos alunos.

Sendo assim, o professor deve conscientizar-se da sua importância no

processo de alfabetização dos alunos, detectando através de testes a fase de

desenvolvimento de cada um.

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Nesse contexto, desenvolvemos a pesquisa com quatro professoras que

atuam na zona rural de Jardim de piranhas-RN, com o intuito de entender e

conhecer um pouco da sua prática docente. Duas delas são formadas no curso de

Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte; as

outras duas tem o magistério. Cada professor tem sua maneira de planejar e

executar suas aulas, assim como cada aluno tem sua maneira de fazer parte delas.

A primeira entrevistada foi a professora Lúcia, ela leciona na Unidade de

Ensino Antônio Amâncio da Silva. A mesma tem 29 anos de trabalho, todos na

mesma escola. Ela relata as dificuldades encontradas pelo caminho, muitas delas

por parte da gestão. Os materiais para trabalhar eram comprados por ela (papel,

álcool e giz). Outro problema enfrentado foi quando, certa vez, retiraram todas as

carteiras e quadro da sala para levarem para o estado da Paraíba, mas mesmo com

isso ela não desistiu e continuou lecionando, com todos os alunos sentados no chão.

Atualmente, ela não sofre mais com esse tipo de empecilho, pois segunda a

mesma está muito satisfeita com a atual administração, já que tudo se tornou mais

fácil, pelo fato da equipe pedagógica ser eficiente.

A segunda professora entrevistada é a Ivonete. Ela iniciou no ano de 1998,

quando fez o concurso público em Jardim de Piranhas-RN e foi aprovada, sendo

enquadrada como professora efetiva no quadro de funcionários municipais. Assim já

faz treze anos que ela leciona, sendo doze deles na Unidade de Ensino Antônio

Amâncio da Silva.

Ivonete relata que no início sentiu muita dificuldade porque foi lecionar em

uma turma multisseriada, e que, além de não ter experiência, não havia apoio

pedagógico que a orientasse, por esse motivo teve que procurar ajuda em outras

escolas, com professores e supervisores, para planejar suas aulas. Mas depois de

seis meses chegou à cidade um curso de capacitação para professores, o qual foi

de grande serventia para a melhoria da prática pedagógica da mesma.

Segundo a professora, diante das dificuldades existentes, o município

selecionou profissionais para atuarem como apoio pedagógico para as instituições

de ensino da zona rural, as quais deram grande suporte, orientando para

desenvolver melhor sua prática docente. Uma dessas dificuldades era quanto à

disponibilidade de materiais didáticos, os quais se teve que adquirir com recursos

próprios para poder trabalhar. Mas, atualmente, este problema não existe mais, pois

começaram a chegar recursos do governo federal para a compra desses materiais

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didáticos e de expediente, além de outros bens de consumo necessários ao

funcionamento da escola. Esses benefícios permitiram realizar várias atividades

didáticas.

Um ponto positivo citado pela entrevistada foi a implantação do programa

Escola Ativa, pois ele trouxe qualidade para o desempenho escolar nas turmas

multisseriadas das escolas no campo, com ações de apoio ao sistema municipal de

ensino, disponibilizando diversos recursos pedagógico e de gestão. Assim como a

professora Lúcia, Ivonete também fala que os governantes estão dando mais

importância e atenção à educação, mesmo tendo a consciência de que precisa

melhorar cada vez mais.

A terceira professora entrevistada é Ivoneide, a mesma leciona na Unidade de

Ensino Francisco Brás, há três anos. É formada em pedagogia pela a Universidade

Federal do Rio Grande do Norte.

Ela relata que não enfrenta dificuldades com os alunos, consegue executar

suas aulas tranquilamente. Sua turma é composta por uns 12 alunos, tem pouca

evasão escolar, os alunos são bastantes assíduos, assim como os pais.

Ela comenta que a escola não passou por reformas, mas que a implantação

do programa da Escola Ativa ajudou bastante na sua prática pedagógica, pois os

alunos gostam muito de ouvir historinhas e de manusear os livros.

A quarta entrevistada é a professora Maria de Fátima, ela leciona na Unidade

de Ensino José Calixto de Medeiros há nove anos, é formada em Pedagogia pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A mesma elencou alguns pontos positivos que contribuíram bastante para

aprendizagem dos alunos, dentre eles, estão a chegada da tecnologia, de muitos

livros infantis, bem como, material de jogos matemáticos. Como ponto negativo, ela

ressaltou a falta de espaço físico, pois até mesmo o lanche é realizado em sala de

aula, já que a escola não tem um refeitório, nem pátio para elas brincarem. Ela

enfrenta algumas dificuldades com os alunos, com relação à falta de ajuda dos pais

nas tarefas de casa das crianças.

A educadora falou que aprecia muito ensinar na zona rural e que até já

recebeu convite para trabalhar na cidade, mas optou por ficar onde estava. Disse

que gosta muito de seus alunos, e como a escola fica próxima à área urbana, ela

tem mais facilidade de acesso. Ela chega à escola de 6h30min e fica esperando os

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alunos chegarem, pois têm crianças de outras comunidades vizinhas e a aula só se

inicia às 7h.

Quanto às praticas pedagógicas utilizadas em sala de aula, a professora

Lúcia trabalha bastante com textos, alguns já prontos, outros ela vai formando junto

com os próprios alunos (figura 5). Ela utiliza o quadro para revisar com os alunos

maiores e escreve para que eles transcrevam para o caderno. Já os menores ela

escreve no caderno a tarefa e explica o conteúdo que será trabalhado, bem como, o

alfabeto e os números que ficam expostos na parede da sala de aula. Tem também

a hora da história, momento em que os alunos manuseiam os livros com muito

cuidado, sabem ouvir e alguns até recontam para toda a turma.

Figura 5: aula de Língua Portuguesa (formando textos)

Fonte: Arquivo pessoal da professora, 2015.

Nessa aula, a professora utilizou uma fábula, com várias tirinhas recortadas.

Ela distribuiu entre os alunos, pedindo que eles lessem, para, depois montarem a

fábula em um papel madeira. Segundo ela, esse tipo de atividade é comum e ajuda

bastante, pois as crianças vão assimilando e compreendendo a sequência lógica do

texto.

Percebe-se que ela busca sempre inovar, despertando o interesse do aluno,

mas sua aula não deixa de ser um pouco tradicional, muito embora na medida certa.

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Temos diversas maneiras de explorar o método pedagógico. Carbonell (2002, p.72-

73) afirma que:

A colaboração e cooperação, a investigação do meio e o trabalho de campo, a investigação-ação, o método cientifico, o construtivismo, os enfoques globalizados, o diálogo, a formulação e resolução de problemas relevantes, os grupos de discussão e reflexão, a narração de histórias cativantes ou a avaliação continua são metodologias de claro conteúdo inovador utilizadas em muitas escolas. Mas não se devem rechaçar outras fórmulas tradicionais, como a aula magistral bem dada, a leitura silenciosa e outras. A chave está em saber com que finalidade é utilizada, com que frequência e em que contexto; e, naturalmente, sua qualidade é básica, assim como o respeito aos outros métodos mencionados.

Assim, percebe-se que o método inovador abre espaço para a criança

participar das aulas e o professor deixa de ser o centro das atenções, mas não

podemos abrir mão de algumas fórmulas tradicionais, uma vez que elas são muito

válidas se soubermos utilizá-las.

A prática pedagógica da professora Ivonete também está voltada para o

aluno, assim como a primeira professora, ela utiliza bastante o quadro negro para

copiar as tarefas. Como os alunos já são maiores, todos conseguem acompanhar e

retirar do quadro. Ela sempre ouve o que os alunos têm a dizer, respeitando os seus

conhecimentos prévios.

É importante trabalhar os conteúdos de maneira que envolva os alunos, bem

como, considerar os conhecimentos que os mesmos trazem em sua bagagem.

Muitos dados comprovam que a aprendizagem melhora quando os professores dão atenção ao conhecimento e às crenças trazidas pelos alunos para a sala de aula, quando utilizam esse conhecimento como ponto de partida para a nova instrução e quando monitoram as mudanças de concepções dos alunos, à medida que a instrução evolui. (BRANSFORD; COCKING, 2007, p. 29).

Com isso, percebemos que o educador deve inserir novos conhecimentos,

unindo aqueles que eles já têm, mas essa junção precisa ser realizada de forma

significativa para o educando.

Quanto à sua prática pedagógica, a professora Ivoneide faz uso de diversos

recursos, dentre eles, textos, músicas e busca sempre inovar. Tem também a hora

da história, quando ela trabalha o livro, mostrando a capa e conversando com eles,

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questionando sobre o seu entendimento. Os alunos confeccionam o seu próprio livro

(figura 6). Faz uso de atividades de recorte e colagem, sempre atenta àquelas

crianças menores, que, às vezes, precisam de seu auxílio. Podemos perceber que a

professora faz uso da pedagogia inovadora, pois segundo Carbonell (2002), a

pedagogia inovadora é aquela mais racional, a qual dá espaço aos alunos para

falarem e participarem ativamente do seu processo de ensino-aprendizagem.

Figura 6: Confecção de livros

Fonte: Arquivo pessoal da professora, 2016.

Depois da contação da história, a professora solicitou que os alunos criassem

o seu próprio livro, então, foi utilizada uma sequência didática, a qual ela trabalhou

quase um mês. Mas no final o resultado foi gratificante.

Sobre a prática da professora Fátima, ela faz uso de vários recursos também,

como textos, jogos e outros. Deixa as crianças manusearem os livros e os jogos.

Sua aula está centrada no aluno, realizam atividades de recorte e colagem, pinturas

livres e programadas, dependendo do conteúdo trabalhado em sala de aula. Ela

também explora os espaços externos da escola, porém é pouco restrito, devido ao

sol escaldante e acesso de vários carros que passam muito próximo da escola.

Para Wallon (apud HORN, 2004, p. 18) a criança aprende em contato com o

meio, uma vez que o grupo social é indispensável para criança, com isso o professor

precisa organizar sua prática cotidiana junto aos alunos, pois elas necessitam de

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espaços para despertar a criatividade. Essas atividades de interatividade precisam

ser programadas e provedoras de desenvolvimento.

Observando os relatos das educadoras, percebemos que desafios e

dificuldades sempre irão existir, seja onde for, seja qual for a profissão, mas elas são

guerreiras que, apesar de todas as dificuldades apresentadas por elas mesmas, não

desistem e que pensam sempre na aprendizagem dos seus alunos. Todas elas

moram na zona urbana e algumas percorrem longas distâncias todos os dias, para

levar o conhecimento a essas crianças. É importante lembrar que

A formação assume uma posição de “inacabamento” vinculada à história de vida dos sujeitos em permanente processo de formação, que proporciona a preparação profissional. O processo de formação é multifacetado, plural, tem início e nunca tem fim. É inconcluso e autoformativo. (VEIGA, 2008, p.15).

O professor deve estar sempre à procura de novas aprendizagens, visto que

ele passa por um processo de descobertas e redescobertas, e de uma permanente

busca.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado foi de grande relevância para conhecermos como se

dá a educação no âmbito rural no município de Jardim de Piranhas-RN. Outro

aspecto debatido é a superação de dificuldades como a evasão escolar, como uma

condição necessária para a melhoria do ensino e implicação de políticas públicas, e

outras propostas para adequação das necessidades no campo.

No que concerne à pesquisa, através da análise das entrevistas, podemos

identificar um pouco da prática pedagógica das professoras entrevistadas. Isso

possibilitou entender que o professor precisa estar refletindo, diariamente, sobre sua

prática docente, sobre o seu processo de formação, sobre os conhecimentos

adquiridos e as aprendizagens como um elemento para melhoria da mesma.

Com relação às escolas rurais de Jardim de Piranhas, é preciso olhar para o

passado e detectar as mudanças ocorridas. Elas avançaram bastante, antes

funcionavam em situações bastante precárias, não tinham energia elétrica, nem

abastecimento de água, muito menos uma pessoa responsável pela higienização e

refeições dos alunos, no ambiente escolar. Este problema já foi solucionado, pois,

atualmente, apesar de pequenas, possuem energia, água e merendeira.

Quanto à formação dos professores, era defasada, pois muitos não tinham

nem o nível médio completo. Bastava saber ler e escrever para assumir uma sala de

aula, mas isso também foi solucionado, pois todos possuem uma formação.

Além disso, os professores passaram a ter um apoio pedagógico, como

também passou a se exigir uma formação mínima para a docência. Outro benefício

garantido foi o auxílio transporte para os educadores que lecionavam na zona rural e

moravam na cidade. Isso ajudou bastante, pois segundo uma professora

entrevistada, no início de sua docência, ganhava pouco e ficava somente com dez

reais, pois mais da metade do seu salário ía para o pagamento do frete de um carro,

para poder lecionar todos os dias.

É importante ressaltar que o trabalho do educador é árduo e cansativo, mas

não devemos desistir, precisamos lutar por uma educação de qualidade, garantindo

os direitos das crianças e jovens que residem na zona rural, para que esses não

precisem sair do seu lugar de pertencimento, para estudar em outros lugares.

É nítida que a valorização dos profissionais da profissão é algo fundamental

para garantia da qualidade de ensino. Para que essa conquista seja consumada é

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preciso se garantir melhores condições de trabalho, uma formação inicial e

continuada desses profissionais, remuneração digna, ingresso via concurso público,

planos de carreira, dentre outros.

Para a conclusão desse trabalho, fizeram-se necessárias muitas visitas ao

Centro de Ensino Rural, para a coleta de dados. Algumas horas de dedicação

também foram necessárias para olharmos e analisarmos alguns documentos, os

quais enriqueceram ainda mais essa pesquisa.

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APÊNDICE A- Roteiro da entrevista realizada com a coordenadora das escolas

rurais

EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de Jardim de

Piranhas-RN

1- De quantas escolas rurais o município de Jardim de Piranhas-RN dispõe?

2- Quantas escolas rurais foram fechadas desde 2000 até a atualidade?

3- Quais as causas que levaram ao seu fechamento?

4- Quais dificuldades essas escolas ainda enfrentam?

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APÊNDICE B- Roteiro da entrevista realizada com as professoras rurais

EDUCAÇÃO NO CAMPO: retrospectiva histórica no município de Jardim de

Piranhas-RN

1- Nome completo? Formação?

2- Quantos anos atuam na zona rural?

3- Quais dificuldades enfrentaram durante o tempo em que lecionam na zona

rural?

4- Quais pontos positivos elencariam?

5- Qual o perfil dos alunos que frequentam essas escolas?