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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO EDVONETE SOUZA DE ALENCAR CONHECIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE DE PROFESSORES DO 5.º ANO DE UMA ESCOLA COM BOM DESEMPENHO EM MATEMÁTICA: O CASO DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS. SÃO PAULO 2012

Edvonete Alencar

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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO EDVONETE SOUZA DE ALENCAR

CONHECIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE DE PROFESSORES DO 5.º ANO DE UMA ESCOLA COM BOM DESEMPENHO EM

MATEMÁTICA: O CASO DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS.

SÃO PAULO 2012

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

EDVONETE SOUZA DE ALENCAR

CONHECIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE DE PROFESSORES DO 5.º ANO DE UMA ESCOLA COM BOM DESEMPENHO EM

MATEMÁTICA: O CASO DAS ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS. Dissertação apresentada como exigência parcial à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo –Uniban, para obtenção do título de Mestre em Educação Matemática, sob orientação da professora Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva.

SÃO PAULO 2012

Alencar, Edvonete Souza de Conhecimento Profissional Docente de professores do 5.º ano de

uma escola com bom desempenho em Matemática: o caso das estruturas multiplicativas./ Edvonete Souza de Alencar. São Paulo [s.n.], 2012.

Dissertação de Mestrado para a obtenção do título de Mestre em Educação Matemática. Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo.

Orientadora: Profa. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva.

1. Educação Matemática 2. Formação de Professores 3. Campo Multiplicativo

Banca Examinadora

Profa. Dra. Angélica da Fontoura Garcia Silva (Presidente – Orientador)

_______________________________________

Profa. Dra. Rute Elizabete de Souza Rosa Borba (1.º titular externo – UFPE)

Profa. Dra. Aparecida Rodrigues Silva Duarte (1.º titular interno – Uniban)

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura: _____________________________________ Local e Data: ___________________________________

Dedico

A DEUS, pela força e saúde.

Aos meus PAIS e meus IRMÃOS, companheiros de

vida.

AGRADECIMENTOS

A DEUS, que colocou no momento adequado as pessoas certas no meu

caminho, proporcionando-me perseverança e saúde.

À minha FAMÍLIA, pelo apoio durante todo o percurso de minha vida.

À PROFª. DRª. TÂNIA MARIA MENDONÇA CAMPOS, pelo seu empenho em

proporcionar um ensino de qualidade.

A CAPES – BOLSA PROSUP, pela oportunidade aprimorar meus estudos.

À PROFª. DRA. ANGÉLICA DA FONTOURA GARCIA E SILVA, minha querida

orientadora, pela sua dedicação e ensinamentos durante toda a pesquisa, pois sem

o seu empenho esta realização não seria possível. Muito obrigada!

À PROFª. DRA. RUTE ELIZABETE DE SOUZA ROSA BORBA e à PROFª. DRA.

APARECIDA RODRIGUES SILVA DUARTE, pela colaboração e incentivo aos meus

estudos.

Aos PROFESSORES do PROGRAMA DE MESTRADO ACADÊMICO EM EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA, de modo especial aos PROFESSORES DO GRUPO.

À formação de professores e àqueles com quem tive o privilégio de cursar

suas disciplinas: PROF. DR. RUY CÉSAR PIETROPAOLO, PROFª. DRA. MARIA HELENA

PALMA DE OLIVEIRA, PROFª. DRA. ROSANA NOGUEIRA LIMA, PROF. DR. VINCENZO

BONGIOVANNI e PROF. DR. LUIZ GONZAGA XAVIER BARROS.

À ESCOLA, que concedeu permissão para a realização deste estudo, assim

como sua equipe gestora e professores participantes da pesquisa.

Aos meus companheiros de estudo, ETIENNE LAUTENSCHLAGER, GILENO

NASCIMENTO e SANCREY RODRIGUES ALVES, aos quais denominei carinhosamente

“grupo dos nomes estranhos”, amigos que promoveram momentos felizes.

Aos demais colegas presentes nessa etapa, em especial RAQUEL FACTORI

CANOVA, ROSANGELA ANDO, TULA ROCHA, WELLERSON QUINTANEIRO, MAURILIO

VALENTIM, e a tantos outros que direta ou indiretamente me ajudaram nesta

conquista.

A todos, muito obrigada!

O mestre aparece-nos hoje não mais com a sua velha aparência de transmissor de conhecimentos imóveis, mas como um artista e como um homem, criando largamente com tudo que houver de preclaro na sua inteligência, de puro no seu sentimento e nobre na sua atividade. Um conhecimento completo da história da vida, a sensibilidade para os fenômenos de cada época; a compreensão simpática da natureza humana, com todo o seu heroísmo de virtudes e vícios, a capacidade de amar largamente o passado, sem se curvar a ele, de perceber o presente, tanto quanto é possível vê-lo de perto, sem oferecer, no entanto, como uma era definitiva, e, entre um e outro, ter essa alegria no futuro que se espera sempre como um bem maior. Um mestre que se tenha formado de tal modo que nunca palpite nele o temor quando, conscientemente enfrentando a infância, considere que vai tocar no elemento primordial da vida, que vai atuar sobre princípios fundamentais sagrados, “vivos”, que vai tocar a substância mesma da criação. Um mestre que se sinta irmanado às crianças que lhe são entregues como um simples homem, que já foi criança, a uma simples criança, que será um homem. Um mestre que tenha provado o gosto da vida, intensamente; não que esteja existindo, apenas, dentro da função de ensinar, um mestre que transmita dos discípulos não o sabor que os lábios sentiram, mas o desejo comovido e elevado de tocar com sua boca essa bebida e distinguir-lhe o duplo ressabio de eternidade e impermanência (CECÍLIA MEIRELES).

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar o conhecimento profissional docente de

professores que ensinam Matemática no 5.º ano do Ensino Fundamental, cujos

alunos se destacaram no Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de São

Paulo (Saresp). Trata-se de pesquisa de campo que envolve um grupo de cinco

professores de uma escola da rede pública de São Paulo. A coleta de dados incluiu

a aplicação de um questionário e entrevistas semiestruturadas com a equipe gestora

e com os professores, além da observação em sala de aula e protocolos das tarefas

realizadas pelos alunos. Teoricamente, esta investigação fundamenta-se tanto em

teorias que discutem questões relacionadas à formação de professores como em

estudos que investigam questões didáticas sobre a multiplicação e divisão de

números naturais. Quanto ao primeiro enfoque, apoiou-se em estudos de Schön

(1987), Shulman (1986) e Tardif e Raymond (2000). Em relação às questões

didáticas, associadas ao objeto matemático, utilizou-se a Teoria dos Campos

Conceituais de Vergnaud (1990). De modo geral, a análise dos dados permitiu

identificar que o grupo de professores da escola investigada trabalha de forma

coletiva. Entretanto, observou-se que não eram frequentes discussões e reflexões

do corpo docente sobre os processos de ensino e aprendizagem da matemática.

Podemos também concluir que as dificuldades relativas à prática docente foram

influenciadas pela falta de domínio dos professores a respeito do conteúdo

matemático. Esta pesquisa indica a necessidade de se rediscutirem as formas de se

tratar o Campo Conceitual Multiplicativo nos cursos de formação inicial e continuada

de professores.

Palavras-chave: Educação Matemática, Formação de Professores, Campo Multiplicativo e Ensino-aprendizagem

ABSTRACT

This study aims to analyze the professional knowledge of teachers who teach Math

in the 5th year of elementary school, whose students stood out in System of

Evaluation of Educational Achievement of São Paulo (Saresp). It is field reserch that

involves a group of five teachers at a public school in São Paulo. Data collection

included a questionnaire and semi structured interviews with the tasks performed by

students. Theoretically, this reserch is based both on theories that discuss issues

related to teacher training and in studies investigating questions about teaching

multiplication and division of natural numbers. The first approach, was based on

studies of Schön (1987), Shulman (1986) and Tardif and Raymond (2000).

Regarding educational issues associated with the mathematical object, we used

the Theory of Conceptual Fields Vergnaud (1990). Overall, the data analysis of

identified that the group of school teachers work collectively invested. However, it

was observed that there were not frequent discussions and considerations of

the faculty on the teaching and learning of Mathematics. We can also conclude

that the difficulties in teaching practice were influenced by the lack of knowledge of

teachers about the mathematical content. This research indicates the need to

revisit the ways to treat the multiplicative conceptual field in initial training course and

continuing education.

Keywords: Mathematics Education, Teacher Training, Field Multiplicative and Teaching-Learning

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Gráfico teses e dissertações em Educação Matemática ................................ 21

Figura 2 Gráfico dissertações e teses envolvendo Formação de Professores .......... 22

Figura 3 Exemplo I – Atividade do Ler e Escrever – Campo Multiplicativo ................. 37

Figura 4 Exemplo II de Atividade do Ler e Escrever – Campo Multiplicativo ............. 40

Figura 5 Relações entre habilidades, conteúdos e competências ............................... 43

Figura 6 Exemplo de questão múltipla escolha ............................................................... 48

Figura 7 Exemplo de questão aberta do Saresp – Campo Multiplicativo .................... 49

Figura 8 Esquema I do referido problema ........................................................................ 65

Figura 9 Esquema I do referido problema ........................................................................ 66

Figura 10 Diagrama Invariantes Operatórios, Conhecimento Consciente explicitante,

explícito e formalizado .......................................................................................................... 69

Figura 11 Respostas dos alunos ....................................................................................... 70

Figura 12 Exemplo I da triáde S, I, R ............................................................................... 71

Figura 13 Quatro problemas elementares das estruturas multiplicativas................... 74

Figura 14 Resolução dos alunos fictícios exemplo cálculo numérico .......................... 78

Figura 15 Respostas do aluno fictício .............................................................................. 79

Figura 16 Esquema do Cálculo Relacional I .................................................................... 79

Figura 17 Esquema do Cálculo relacional II ...................................................................... 80

Figura 18 Exemplo de atividade do professor B ............................................................ 139

Figura 19 Respostas dos alunos do professor B ........................................................... 140

Figura 20 Exemplo de Atividades do Professor B ......................................................... 141

Figura 21 Respostas dos alunos ...................................................................................... 141

Figura 22 Exemplo de atividade do professor B ........................................................... 142

Figura 23 Respostas dos alunos do professor ............................................................... 142

Figura 24 Exemplo de atividade do professor B ............................................................ 143

Figura 25 Respostas dos alunos do professor B ........................................................... 144

Figura 26 Exemplo de atividade do professor E ............................................................ 145

Figura 27 Resolução do aluno da atividade de porcentagem ..................................... 146

Figura 28 Exemplo de atividade do professor E ............................................................ 146

Figura 29 Respostas dos alunos do professor E ........................................................... 147

Figura 30 Respostas do aluno 1 do professor E ........................................................... 147

Figura 31 Respostas do aluno do professor E ............................................................... 148

Figura 32 Resolução do professor E questão 2.3 ......................................................... 149

Figura 33 Foto da aula anterior aluno1 ........................................................................... 150

Figura 34 Foto da aula anterior aluno 2 .......................................................................... 150

Figura 35 Atividade do Ler e Escrever 15 A Porcentagem .......................................... 152

Figura 36 Atividade do Ler e Escrever 15 B ................................................................... 153

Figura 37 Atividade do Ler e Escrever 15 C ................................................................... 155

Figura 38 Atividade complementar e resposta do aluno 1 ........................................... 157

Figura 39 Atividade complementar e resposta do aluno 2 ........................................... 157

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Competências do Sujeito ................................................................................. 47

Quadro 2- Os saberes dos Professores ............................................................................ 54

Quadro 3 Esquema da primeira e segunda forma .......................................................... 66

Quadro 4 - Proporção - Escola de Altos Estudos - CAPES ........................................... 67

Quadro 5- Exemplos de Problemas do Campo Multiplicativo ....................................... 76

Quadro 6 Exemplo de Teorema em ação ......................................................................... 77

Quadro 7 Esquema de cálculo Relacional I ..................................................................... 79

Quadro 8 Descrição das Etapas da Pesquisa ................................................................. 95

Quadro 9 Questão com situação geral .............................................................................. 96

Quadro 10 Questão envolvendo situação de porcentagem........................................... 98

Quadro 11 Questão envolvendo situação de divisão ..................................................... 99

Quadro 12 Questão envolvendo situação de multiplicação ......................................... 100

Quadro 13 Questão envolvendo situação de proporcionalidade. ............................... 102

Quadro 14 - As respostas dos Questionários - Perfil dos Professores ...................... 107

LISTA DE ABREVIATURAS

DE Diretoria de Ensino

HTPC Horário de Trabalho Pedagógico coletivo

IDESP Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação

OFA Ocupante de Função Atividade

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PC Professor Coordenador

PIC Programa Intensivo de Ciclo

SAEB Sistema de Avaliação e Educação Básica

SARESP Sistema de Avaliação e Rendimento do Estado de São Paulo

SAI Sistema Integrado de Avaliação

SEE/ SP Secretaria do Estado da Educação de São Paulo

TRI Teoria da Resposta ao Item

UE Unidade Escolar

ZDP Zona de Desenvolvimento Proximal

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

APRESENTAÇÃO: CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA ........................................... 17

1.1 ANTECEDENTES E MOTIVAÇÕES DO ESTUDO ............................................................. 17

1.2 ESCOLHA DO SEGMENTO DE ESTUDO ....................................................................... 20

1.3 QUESTÃO DE PESQUISA .......................................................................................... 24

1.4 METODOLOGIA UTILIZADA ...................................................................................... 24

1.5 SOBRE NOSSA FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................... 26

1.6 BREVE DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS ........................................................................ 27

CAPÍTULO 2

ENSINAR MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS: NOVAS DEMANDAS ................. 29

2.1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN) .................................................... 29

2.2 PROPOSTA CURRICULAR DO ESTADO DE SÃO PAULO............................................... 32

2.2.1 Programa Ler e Escrever ........................................................................... 34

2.3 SARESP ................................................................................................................ 41

. ................................................................................................................................. 45

CAPÍTULO 3

REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: FORMAÇÃO DE

PROFESSORES E CAMPO CONCEITUAL MULTIPLICATIVO .............................. 51

3.1FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CONHECIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE ................ 51

3.1.1 Fundamentação teórica: Formação de Professores e Conhecimento

Profissional Docente ........................................................................................... 51

3.1.2 Estudos anteriores: Conhecimento Profissional docente ........................... 58

3.2 CAMPO CONCEITUAL MULTIPLICATIVO .................................................................... 61

3.2.1 Fundamentação teórica: objeto matemático .............................................. 61

3.2.2.1 Campo conceitual ................................................................................... 73

3.2.2.2 O Campo Conceitual Multiplicativo ......................................................... 73

3.2.3 Cálculo relacional e numérico .................................................................... 76

3.2.1 ESTUDOS ANTERIORES: CAMPO CONCEITUAL MULTIPLICATIVO .............................. 80

CAPÍTULO 4

OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA .................................. 92

4.1 NOSSA PESQUISA: UM ESTUDO DE CASO ................................................................. 92

4.2 BREVE DESCRIÇÃO DAS ETAPAS DA PESQUISA ....................................................... 94

4.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS .................................................................... 96

4.3.1 Questionário – Protocolo de Pesquisa ...................................................... 96

4.3.2 Entrevistas semiestruturadas ................................................................... 103

4.3.3 OBSERVAÇÃO DA ESCOLA ................................................................................. 104

4.3.3.1 Nas atividades dos docentes ................................................................ 104

4.3.3.2 Na sala de aula ..................................................................................... 104

CAPÍTULO 5

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................ 106

5.1 PERFIL PROFISSIONAL DOCENTE ........................................................................... 106

5.2 A RELAÇÃO DOS DOCENTES COM A MATEMÁTICA ................................................... 109

5.2.1 A relação dos docentes investigados com a Matemática na Educação

Básica ............................................................................................................... 109

5.2.2 A relação dos docentes investigados com a Matemática na formação inicial

.......................................................................................................................... 111

5.2.3 A relação dos docentes investigados com a Matemática no discurso sobre

a própria pratica ................................................................................................ 112

5.3 CONHECIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE .............................................................. 117

5.3.1 Quanto às possíveis recomendações pedagógicas dos professores

envolvidos ......................................................................................................... 118

5.3.2 Quanto à situação-problema envolvendo porcentagem ........................... 120

5.3.3 Quanto às situações envolvendo operações de multiplicação e divisão.. 125

5.3.4 Quanto à situação-problema envolvendo proporcionalidade ................... 129

5.4 QUANTO AO TRABALHO DO GRUPO DA ESCOLA ...................................................... 133

5. 5 QUANTO ÀS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELOS PROFESSORES ............................. 139

5.6 QUANTO ÀS OBSERVAÇÕES EM SALA DE AULA ....................................................... 149

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS ................................... 160

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 165

APÊNDICE A

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

COM PROFESSOR ..................................................................................................... I

APÊNDICE B

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA

COM DIRETOR ........................................................................................................... II

APÊNDICE C

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

COM COORDENADOR PEDAGÓGICO .................................................................. IV

ANEXO A

DADOS DE PROFICIÊNCIA MÉDIA EM MATEMÁTICA DA PROVA SARESP ...... V

ANEXO B

MODELO DE AVALIAÇÃO APLICADA MENSALMENTE ...................................... VI

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CAPÍTULO 1

APRESENTAÇÃO: CONFIGURAÇÃO DA PESQUISA

Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes (PAULO FREIRE).

Neste capítulo expomos os antecedentes e as motivações que nos levaram à

elaboração deste estudo, apresentamos a justificativa, a questão de pesquisa e os

objetivos, assim como a metodologia utilizada e o resumo dos principais autores

selecionados para a fundamentação teórica e descrição dos capítulos.

O presente estudo insere-se na linha de pesquisa “Formação de Professores

que Ensinam Matemática” do Programa de Pós-Graduação em Educação

Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban).

1.1 Antecedentes e motivações do estudo

Primeiramente, recordo momentos que me fizeram1 percorrer este caminho

e me levaram a dedicar ao ensino e à pesquisa. Começo minhas memórias na ação

de início de meu ofício. Cursei o Ensino Médio no Centro de Formação e

Aperfeiçoamento do Magistério (Cefam), passando pelas disciplinas do currículo

comum nos dois primeiros anos do curso. Observei durante esse curso que o

conhecimento matemático não era aprofundado, e, apesar de essa instituição

dispor de um programa diferenciado com uma proposta considerada inovadora, a

concepção dos professores de Matemática, em especial, tinha como foco os

procedimentos e proposição de lista de exercícios, além de utilizar como principal

método de ensino as aulas expositivas.

Todavia, nos últimos anos de formação para o Magistério, realizei a

disciplina de Metodologia de Matemática. Tal componente curricular nos

proporcionava, como futuros professores, a reflexão sobre novos modos de

1 Vale ressaltar que esse subitem do capítulo será escrito na primeira pessoa do singular por se tratar

de minha experiência pessoal, porém os demais capítulos serão redigidos na terceira pessoa. Tal fato

se deve por considerar que este estudo é realizado em interface com diversos atores e estudos.

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ensinar e entender os conteúdos matemáticos voltados ao Ensino Fundamental I.2

Eram realizados muitos estudos, e teóricos como Kamii, por exemplo, nos

permitiam espaços de reflexão sobre o pensamento do aluno. Tal material nos

forneceu a possibilidade de experimentar jogos como estratégia de ensino. Lembro

ainda que em algumas aulas experimentávamos na prática o trabalho com as

quatro operações, utilizando fichas ou mesmo material dourado. Assim, em todo o

meu percurso pelo centro de formação continuei a apreciar tudo o que envolvia

esta área de conhecimento, mas minhas experiências até então não eram tão

próximas daquela que Fiorentini (1995) denominava de Construtivista.3

Assim sendo, como professora, iniciei minha carreira no município de Biritiba-

Mirim, uma escola rural com sala multisseriada. Nesse momento, é importante

ressaltar que eu tinha a plena convicção, provavelmente potencializada em minha

formação inicial, de que para ser um bom professor de Matemática era suficiente

saber Matemática. Afinal, como toda formação que obtive até então, partia do

pressuposto de que o ensino de conceitos matemáticos deveria refletir o espírito da

Matemática. Hoje considero que o conhecimento precisa ser mais amplo na

perspectiva dos estudos de Shulman (1986), o qual relata que, para compor o

Conhecimento Profissional Docente, é necessário que o professor tenha não

somente o Conhecimento do Conteúdo, como também o Conhecimento Curricular e

Didático.

Entretanto, a prática foi diferente, pois os alunos que encontrei tinham

múltiplas dificuldades, e, naquele instante, me deparei com a situação no sentido

de adequar todo o conhecimento adquirido naqueles anos de graduação para

ensinar de modo eficiente e proporcionar melhores condições de vida àqueles que

pouco possuíam.

Senti, naquele momento, que, apesar das muitas teorias que aprendi, ainda

me faltava algo que as poucas experiências por mim vivenciadas em sala de aula

não permitiam solucionar. Meus questionamentos sempre me levavam a refletir

2 Segundo dados do Conselho Nacional de Educação, Ensino Fundamental I é a modalidade de

ensino de 1.º ao 5.º ano do Ensino Fundamental, também denominado anos iniciais do Ensino

Fundamental.

3 Para Fiorentini (1995), a Tendência Construtivista tem como concepção o interacionismo que é

influenciado pela epistemologia genética piagetiana.

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formas de como proporcionar um melhor ensino aos meus alunos. Por

conseguinte, ficou evidente a necessidade de formação permanente. Formação

esta que observo nos estudos de Schön (1987) sobre o processo de reflexão-

ação-reflexão, demonstrando que o professor sempre está a se formar.

Nessa mesma época iniciei um curso de graduação em Pedagogia, no qual

havia somente a disciplina de Metodologia de Matemática, que demonstrava a

aplicabilidade e a didática de atividades para os anos iniciais do Ensino

Fundamental, não abrangendo o conhecimento específico da disciplina. Entretanto,

mesmo em Metodologia, notava a angústia de algumas colegas por não

entenderem o conteúdo, ou mesmo resistirem a aceitar as indicações propostas.

Observei que muitas delas encontravam dificuldades quando eram solicitadas a

elaborar aulas diferenciadas sobre temáticas ligadas à Matemática.

Contudo, analisando minha trajetória, observo que minhas concepções

acerca do currículo de Matemática foram se alterando ao longo do tempo. Assim,

em vez de uma concepção que privilegiava o tecnicismo4 e principalmente o

empírico ativista5 no ensino da Matemática, defendo hoje os pressupostos muito

próximos aos que Piaget em seus estudos denomina de Construtivista.

Quanto ao ensino, trabalhando atualmente como professora em uma

escola do Estado de São Paulo, deparo com reuniões de professores com as

mesmas indagações do tempo quando era estudante do Magistério. Os anos

passaram, porém alguns aspectos não se modificaram, pois vejo ainda a existência

de alunos com muitas dificuldades na disciplina de Matemática, principalmente na

resolução de problemas.

Quanto à aprendizagem, observando os alunos da escola em que trabalho,

eles se acostumaram com o tratamento mais procedimental. Noto, então, certa falta

de autonomia desses alunos, que às vezes até solicitam ao professor que indique

qual a operação que resolverá o problema, apresentando a questão “é de mais ou

menos?”. Percebo ainda que, mesmo com toda a orientação contida nos

4 Para Fiorentini (1995), a tendência tecnicista é fundamentada no funcionalismo, formalismo

moderno e tácnico, cujo objetivo é preparar o aluno para a sociedade.

5 Para Fiorentini (1995), a tendência empírico-ativista tem como concepção uma Matemática com

pedagogia ativa contrária à escola clássica tradicional.

20

documentos oficiais Ler e Escrever,6 muitos dos meus colegas sentem a

necessidade de iniciar cada tema pelos procedimentos para só depois

apresentarem as atividades propostas no Caderno Ler e Escrever.

Hoje observo que existe certa dificuldade na implementação de propostas

para os anos iniciais nas escolas paulistas, e, portanto, considero fundamental

analisar o Conhecimento Profissional Docente dos professores que lecionam para

os primeiros anos do Ensino Fundamental nesse processo de mudança curricular.

Diante dos aspectos explicitados, minha primeira motivação foi de caráter

pessoal, no entanto algumas pesquisas indicam a necessidade e importância de tal

estudo.

1.2 Escolha do segmento de estudo

Escolhemos como segmento de estudo os professores que lecionam para os

anos iniciais porque, segundo Fiorentini, existem poucas pesquisas direcionadas a

este público (2002, p. 143).

Para comprovar o que afirma o autor, analisamos a revista Zetétike com o

intuito de verificar os estudos elaborados na área de Educação Matemática dos anos

de 1998 a 2008. Assim sendo, podemos notar que dos trabalhos publicados apenas

73 das 2.101 dissertações ou teses examinadas referiam-se à pesquisa centrada

nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Tal fato pode ser comprovado no gráfico a

seguir:

6 A nova proposta do Currículo é denominada Ler e Escrever. Ela propõe uma organização nos

conteúdos e planejamento destes de modo construtivo. Compreendendo ações de formação

profissional, acompanhamento institucional e conteúdo didático para professores e alunos de forma

integrada à rede pública estadual de ensino. Dados retirados do Decreto 54.553/2009.

21

TOTAL DE DISSERTAÇÕES E TESES ANALISADAS: 2.101

96,53%

3,47%

TESES E DISSERTAÇÕES EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Educacao Matemática

Educação Matemática naEducação Infantil e nos anosiniciais do Ensino Fundamental

Figura 1: Gráfico teses e dissertações em Educação Matemática Fonte: Revista Zetétike 1998-2008.

Esses dados nos levam a observar que tal relação equivale a 73 do total

das publicações realizadas nos anos de 1998 a 2008, o que vem reafirmar o que

Fiorentini indicava em 2002: “a pesquisa nesta área ainda é pouco explorada” (p.

143).

Para uma melhor compreensão sobre o que vem sendo estudado,

procuramos analisar essas 73 publicações e classificá-las segundo o foco de nossa

investigação. O gráfico seguinte apresenta tais publicações por temática:

22

24

49

Dissertações e Teses envolvendo Formação de Professores

formação de professores

outros temas

Figura 2: Gráfico dissertações e teses envolvendo Formação de Professores

Fonte: Revista Zetétike 1998-2008.

Verificamos também que, desse total, 32,88% se referem à formação de

professores.7 Analisando mais profundamente, observamos ainda que 14 deles

dizem respeito ao Conhecimento Profissional Docente direcionados principalmente

para o 2.º ano e 3.º ano do Ensino Fundamental.

Evidenciamos que seria significativo um estudo que explanasse sobre o

Conhecimento Profissional Docente, em especial que envolvesse as estruturas

multiplicativas, pois concluímos que existem poucos estudos nessa área.

Além disso, na análise dos relatórios do Sistema de Avaliação e Rendimento

do Estado de São Paulo 2008/2009(Saresp), identificamos que as questões com

menor número de acerto pelos alunos são compostas das que envolvem o raciocínio

com as estruturas multiplicativas.

Como nos exames do Saresp os anos iniciais avaliados são os 3.º e 5.º anos,

propusemos estudar os 5.º anos em razão de comporem o ano final desta primeira

7 Classificamos como Formação de Professores trabalhos que trataram de formação inicial, formação

continuada e práticas pedagógicas.

23

modalidade do ensino, além de que os Relatórios do Saresp e do Índice de

Desenvolvimento Escolar do Estado de São Paulo (Idesp) utilizam os resultados

deste respectivo ano.

Para tanto, escolhemos uma escola que tivesse como perfil sair de uma

situação desfavorável no tocante ao desempenho da disciplina de Matemática para

uma situação de excelente desempenho entre as demais dos referidos anos de 2008

e 2009. A escola selecionada refere-se a uma unidade educacional pública e

estadual situada na cidade de Mogi das Cruzes, que atende alunos de 1.º a 5.º ano

– ciclo I, a qual designaremos por Escola A. Esta escola apresentou, no ano de

2008, um índice baixo nos resultados do Saresp e, como consequência, no Idesp.8

Esse índice é obtido em um intervalo de 0 a 10. A Escola A avaliou 151 alunos e

atingiu o índice de 3,1788. Já no ano de 2009 a mesma escola avaliou 159 alunos e

atingiu o índice de 7,4580, que representou o quinto melhor resultado do Estado de

São Paulo.

Escolhemos a quinta melhor escola por tratar-se da unidade escolar que

obteve, entre as demais, melhor índice de desenvolvimento de um ano para o outro.

Portanto, consideramos que se trata de um caso que pode ser investigado,

pois sua pontuação foi maior que o dobro do ano anterior, o que nos estimula a

procurar compreender os fatores que influenciaram tal mudança.

Portanto, esta pesquisa, de cunho qualitativo, caracteriza-se como um estudo

de caso, quando tomamos como suporte teórico as definições de Merriam (1988),

apud André (2008), para o estudo de caso qualitativo: Particularidade, Descrição e

Heurística, que serão descritas detalhadamente no Capítulo 4.

8 Na avaliação de qualidade das escolas feita pelo Idesp consideram-se dois critérios

complementares: o desempenho dos alunos nos exames do Saresp e o fluxo escolar. O Idesp tem o

papel de dialogar com a escola, fornecendo um diagnóstico de sua qualidade, apontando os pontos

em que precisa melhorar e sinalizando sua evolução ano a ano. Seus índices estão em escala 0 a 10

em escala de proficiência a serem atingidas por todas as instituições públicas estaduais (IDESP,

2011).

24

1.3 Questão de pesquisa

Para desenvolver este estudo, tivemos como fundamento a seguinte questão

de pesquisa:

“Quais são os Conhecimentos Profissionais Docentes dos professores

que ensinam Matemática para alunos do 5.º ano do Ensino Fundamental

de uma escola em que os alunos se destacaram na avaliação de

Matemática do Saresp de 2009?”

Como questões secundárias que nos auxiliaram a responder a questão

central temos:

Qual o perfil profissional dos educadores desta instituição?

Qual a relação pessoal dos docentes com a Matemática?

Como foi a Matemática na formação inicial e continuada?

Como é o desenvolvimento da prática docente desses professores?

Quais ações esses professores desenvolveram para o excelente desempenho

do Saresp?

Quais são as atividades e estratégias desenvolvidas por estes professores

para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos?

1.4 Metodologia utilizada

Para alcançar o objetivo desta dissertação, fizemos uma pesquisa de campo,

entrevistas, questionários, estudos de experiências e relatos profissionais com

professores do 5.º ano da respectiva escola selecionada, além de entrevista com

coordenador e diretor da unidade escolar.

Para a coleta de dados, realizamos um questionário, entrevistas com cinco

docentes da unidade escolar, observação da prática de alguns desses professores e

exemplares de atividades elaboradas pelos docentes, além da rotina semanal e

planejamento da escola.

25

Para o questionário elaboramos perguntas que permitissem verificar a análise

de algumas das questões que, segundo relatório de Matemática do Saresp 2009,

foram consideradas difíceis pelos alunos que realizaram a prova. Tais itens foram

apresentados aos docentes como se resolvidos por alunos fictícios do 5.º ano, com a

finalidade de investigar o conhecimento pedagógico do conteúdo.

A segunda proposta para a coleta de dados – a entrevista – permitiu-nos

identificar o perfil docente e retomar as discussões sobre os casos apresentados.

Além disso, para compor uma melhor investigação, propusemos entrevistas

com o diretor e o coordenador pedagógico sobre o funcionamento da escola e

aspectos de formação e ensino aprendizagem dos alunos.

No tocante aos casos apresentados, fundamentamo-nos em Shulman (1986,

p. 207-208, apud Mizukami, 2004, p. 10):

Um caso educativo é uma forma de comunicação que coloca intenção e acaso no contexto de uma experiência vivida e refletida [...] Aprende-se a partir do deliberar reflexivamente sobre as relações entre os elementos de um caso. Assim, um caso educacional combina, pelo menos, quatro atributos ou funções: intenção, possibilidade, julgamento e reflexão. Estas são funções que explicam ou delineiam o poder educativo dos casos para aprendizagem (tradução de MIZUKAMI).

Portanto, acreditamos que a descrição de um caso pode proporcionar espaço

para a reflexão sobre as práticas educativas do grupo de professores investigados,

além de favorecer a discussão sobre o Conhecimento Profissional Docente.

Para alcançar o objetivo pretendido e responder nosso problema de

pesquisa utilizaremos as pesquisas bibliográficas, documental e de campo.

Inicialmente, investigamos os teóricos que poderiam fundamentar este estudo. Na

pesquisa documental analisamos atas de Horário de Trabalho Pedagógico

Coletivo9 (HTPC), planilhas de rotina e portfólios de professores. Na pesquisa de

campo, observamos a rotina da escola, acompanhamos uma aula de alguns dos

professores com o intuito de conseguir mais dados sobre o desenvolvimento do

9 Conforme Comunicado Cenp, s/n, de 29.01.2008, DOE 30.01.2008: A Hora de Trabalho Pedagógico

Coletivo (HTPC) se caracteriza fundamentalmente como espaço de formação continuada dos educadores.

26

processo de ensino e aprendizagem dos alunos, além de solicitar aos docentes o

modelo de atividade utilizado em suas aulas.

1.5 Sobre nossa fundamentação teórica

A fundamentação teórica que forneceu subsídios para nossa análise versa

sobre as temáticas ligadas à formação de professores, em especial sobre o

Conhecimento Profissional Docente. Estudamos autores como Shulman (1986), e

seus estudos discutem sobre os conhecimentos necessários para o exercício da

docência, o processo em que os conhecimentos são aprendidos ao longo dos anos

de formação e exercício docente. O autor pesquisou sobre os aspectos históricos

dos conhecimentos exigidos para esta prática.

Por outro lado, reportarmo-nos às pesquisas de Schön (1991), que estudou

a respeito de um conjunto de competências marcadas pela prática da reflexão em

diferentes níveis de reflexão compondo o Conhecimento na ação, a Reflexão na

ação e a Reflexão sobre a ação. O autor relaciona tais competências ao saber

profissional.

Zeichner (1993) menciona que os professores são considerados como

mediadores e produtores de conhecimento educacional, e acrescenta que os

professores, por vivenciarem situações escolares, oferecem dados importantes para

a produção do conhecimento. Ele cita cinco ações: as que envolvem o

planejamento, reestruturação dos currículos da humanidade, professor pesquisador,

os autoestudos e a pesquisa participativa para a formação de uma sociedade mais

justa e humana.

E, para acrescentar, Ponte (1998) diferencia Desenvolvimento Profissional

Docente de Formação. Este cita, em seus estudos, que o Desenvolvimento

Profissional Docente é a formação que vai além de cursos, atividades e projetos,

envolve ainda trocas de experiências, leitura, reflexões, e por isso ela é formada de

dentro para fora, permitindo o desenvolvimento de potencialidades. Este autor

considera que a teoria e a prática estão interligadas, ou seja, compreende o global

da formação docente.

27

E, complementando, temos Tardif e Raymond (2000), que relatam que os

saberes ligados ao trabalho são temporais, ou seja, são produzidos de acordo com a

vivência profissional. Por meio de suas pesquisas, os autores elaboram um quadro

que relaciona os saberes do profissional com os lugares de atuação do professor,

instrumentos e experiências vividas.

E, para finalizar, Ball e Bass (2003) trazem suas contribuições para a análise

dos nossos dados identificando o que o professor precisa saber para ensinar

Matemática. Dentre as muitas observações feitas pelos autores, pode-se evidenciar

a importante relação entre o conhecimento matemático do professor e os demais

conhecimentos necessários para o exercício da docência.

Quanto ao Campo Conceitual Multiplicativo, apoiamo-nos em Vergnaud

(1991). Seus estudos a respeito da Teoria dos Campos Conceituais nos permitem

observar a relação entre as concepções dos professores sobre o objeto matemático

e o conhecimento pedagógico do conteúdo, ou seja, sobre as concepções que os

alunos trazem para a aprendizagem da temática aqui estudada. Vergnaud defende

que as competências e as concepções dos alunos são desenvolvidas ao longo do

tempo, por meio de situações e experiências vividas no seu cotidiano, e que utilizam

dos conhecimentos já adquiridos para solucionar problemas.

1.6 Breve descrição dos capítulos

Para apresentar esta pesquisa organizamos a dissertação em seis capítulos:

Capítulo 1 – Abordamos os aspectos de apresentação e configuração da

pesquisa, relatando as motivações, a relação da história pessoal com estudo

proposto e a questão de pesquisa, assim como breve comentário sobre a

metodologia utilizada e o embasamento teórico .

Capítulo 2 – Apresentamos os documentos oficiais que envolvem a temática

aspectos do Campo Conceitual Multiplicativo, entre eles: os Parâmetros Curriculares

Nacionais (PCN); Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Programa Ler e

Escrever e Saresp.

28

Capítulo 3 – Abordamos a revisão de literatura com a explicação de cada

estudo analisado e dos referenciais teóricos que deram embasamento à pesquisa.

Entre os principais: Shulman (1986), Tardif e Raymond (2000), Vergnaud (1988,

1990, 1991, 2007, 2009, 2010, 2011), entre outros. Este capítulo está organizado em

dois blocos: Conhecimento profissional docente e Objeto Matemático.

Capítulo 4 – Detalhamos a metodologia utilizada na pesquisa, seus

objetivos e suas principais características. Inicialmente abordamos as características

do estudo de caso de acordo por Merriam (1988) e apresentamos as etapas de sua

realização.

Capitulo 5 – Analisamos os dados da pesquisa e seus detalhes de acordo

com os teóricos citados. Este capítulo explanou sobre a apresentação e análise dos

dados da pesquisa e foi organizado em seis blocos: Perfil profissional docente; A

relação dos docentes com a Matemática; Conhecimento profissional docente; O

trabalho do grupo da Escola; A observação em sala de aula dos docentes

pesquisados e as atividades recolhidas.

Ao final da investigação, respondemos nossa questão de pesquisa e

apresentamos nossas considerações finais e futuras para a perspectiva deste

estudo.

29

CAPÍTULO 2

ENSINAR MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS: NOVAS DEMANDAS

Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo (JOSÉ SARAMAGO).

Este capítulo relata sobre as orientações contidas nos documentos oficiais

dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), Proposta Curricular do Estado de

São Paulo, Programa Ler e Escrever e Sistema de Avaliação e Rendimento do

Estado de São Paulo (Saresp) acerca do objeto matemático aqui investigado: o

Campo Conceitual Multiplicativo.

2.1 Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

Os PCN foram criados em 1997 após a nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação 9.394/1996 (LDB), com o intuito de ser um referencial educacional às

novas exigências previstas em lei, permitindo ao professor:

[...] auxiliá-lo na execução de seu trabalho, compartilhando seu esforço diário de fazer com que as crianças dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade [...] Nesse sentido, o propósito do Ministério da Educação e do Desporto, ao consolidar os Parâmetros, é apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres (BRASIL, 1997, p. 5).

Esse material foi organizado de acordo com os objetivos gerais do Ensino

Fundamental e as respectivas áreas de ensino. Além disso, o referencial foi

desenvolvido por ciclos de Ensino 1.º ciclo (1.ª e 2.ª séries), 2.º ciclo (3.ª e 4.ª

séries), 3.º ciclo (5.ª e 6.ª séries) e 4.º ciclo (7.ª e 8.ª séries). Por conseguinte,

editaram-se na modalidade estudada dez volumes de 1.ª a 4.ª séries com as

seguintes temáticas: Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais, Língua

Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História e Geografia, Arte, Educação

Física, Apresentação dos Temas transversais e Ética, Meio Ambiente e Saúde,

Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Analisaremos aqui os PCN de Matemática

que nos dá subsídios para o 1.º e 2.º ciclos.

Os PCN de Matemática descrevem as finalidades do ensino de Matemática

na Escola Básica e procedem a uma discussão mais aprofundada sobre seu ensino

30

nesse nível de escolarização. O documento visa, fundamentalmente, à construção

da cidadania e tece considerações sobre como a Matemática pode favorecê-la.

Quando se refere ao papel a ser desempenhado pela Matemática no currículo,

destaca, por exemplo, a questão da cidadania e o foco na capacidade dos alunos

na medida em que as aulas deste componente curricular explorem:

[...] metodologias que priorizem a criação de estratégias, a comprovação, a justificativa, a argumentação, o espírito crítico, e favoreçam a criatividade, o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal e a autonomia advinda do desenvolvimento da confiança na própria capacidade de conhecer e enfrentar desafios (BRASIL, 1997, p. 26).

Portanto, os conteúdos e objetivos a serem direcionados em cada ciclo são

observados segundo tais diretrizes:

Do ponto de vista metodológico, os PCN consideram que os conceitos matemáticos devem ser “abordados mediante a exploração de problemas, ou seja, o ponto de partida da atividade matemática é a situação-problema e não a definição. Ao colocar o foco na resolução de problemas, o que se defende é uma proposta que poderia ser resumida nos seguintes princípios: o ponto de partida é o problema e não a definição, o problema só é um problema se o aluno for levado a interpretar, aproximações sucessivas ao conceito são construídas para resolver um certo tipo de problema, o aluno não constrói um conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido em um campo de problemas, a resolução do problema é uma orientação para a aprendizagem pois proporciona contexto (BRASIL, 1997, p. 32-33).

Esse documento aborda, além do recurso da resolução de problemas,

sobre o recurso da História da Matemática, da Tecnologia da Informação e dos

Jogos para o ensino e aprendizagem de Matemática.

Os PCN orientam ainda que é fundamental que o professor identifique as

principais características, métodos e aplicações da Matemática, assim como leve

em consideração as experiências de vida dos alunos e tenha clareza sobre as suas

concepções da disciplina. É necessário, portanto, que o docente conheça “os

obstáculos envolvidos no processo de construção de conceitos”, pois estes são “de

grande utilidade para que o professor compreenda melhor alguns aspectos da

aprendizagem dos alunos” (p. 30).

Reiteramos que, nesta pesquisa, tomamos como objeto matemático de

estudo o Campo Conceitual Multiplicativo, e por esta razão iremos destacar os

principais conteúdos e explicações contidas nos PCN.

31

O documento nos diz sobre os conteúdos desenvolvidos em cada bloco,

sendo: Números e operações, Espaço e forma, Grandezas e Medidas e Tratamento

da informação. No bloco Números e operações refere-se que:

Com relação às operações, o trabalho a ser realizado se concentrará na compreensão dos diferentes significados de cada uma delas, nas relações existentes entre elas e no estudo reflexivo do cálculo, contemplando diferentes tipos – exato e aproximado, mental e escrito (BRASIL, 1997, p. 39).

Os principais conteúdos que envolvem o Campo multiplicativo nos

diferentes blocos são:

Observação de critérios que define uma classificação de números [...] e de regras usadas em seriações (mais 1, mais 2, dobro, metade). Contagem em escalas ascendentes e descendentes de um em um, de dois em dois, de cinco em cinco, de dez em dez, etc., a partir de qualquer número dado. Utilização de sinais convencionais (+, -, x, : ) para as escritas das operações. Cálculo de multiplicação e divisão por estratégias pessoais. Utilização da decomposição das escritas numéricas para a realização do cálculo mental exato e aproximado. Análise, interpretação, formulação e resolução de situações-problema, compreendendo diferentes significados das operações envolvendo números naturais e racionais. Utilização de estimativas para avaliar a adequação de um resultado e uso a calculadora para desenvolvimento de estratégias de verificação e controle de cálculos. Observação de que os números naturais podem ser expressos na forma fracionária. Relação entre representações fracionaria e decimal de um mesmo número racional. Reconhecimento do uso da porcentagem em contexto diário. Cálculo simples de porcentagem. Ampliação e redução de figuras planas pelo uso de malhas. Utilização do sistema monetário brasileiro em situações-problema. Cálculo de perímetro e de área de figuras desenhadas em malhas quadriculadas e comparação de perímetros e áreas de duas figuras sem uso de fórmulas (BRASIL, 1997, p. 50- 52).

Quanto aos conteúdos atitudinais, o documento divulga como principais: o

incentivo ao estudo da disciplina de Matemática, a curiosidade em questionar,

estudar e buscar diferentes estratégias e a valorização e sensibilidade na resolução

dos problemas cotidianos.

De maneira especial, na resolução de problemas, o conteúdo de

proporcionalidade merece destaque:

Um olhar mais atento para nossa sociedade mostra a necessidade de acrescentar a esses conteúdos aqueles que permitam ao cidadão “tratar” as informações que recebe cotidianamente, [...] A proporcionalidade, por exemplo, está presente na resolução de problemas multiplicativos, nos

32

estudos de porcentagem, de semelhança de figuras, na matemática financeira, na análise de tabelas, gráficos e funções. O fato de que vários aspectos do cotidiano funcionam de acordo com leis de proporcionalidade evidencia que o raciocínio proporcional é útil na interpretação de fenômenos do mundo real. Ele está ligado à inferência e à predição e envolve métodos de pensamento qualitativos e quantitativos (Essa resposta faz sentido? Ela deveria ser maior ou menor?). Para raciocinar com proporções é preciso abordar os problemas de vários pontos de vista e também identificar situações em que o que está em jogo é a não proporcionalidade (BRASIL, 1997, p. 38).

Nesse mesmo documento, considera-se que alunos que estão na faixa de

9 ou 10 anos devem, por meio da resolução de problemas, construir novos

conceitos, como o da proporcionalidade.

O referencial dá orientações didáticas aos professores destacando pontos

pertinentes do ensino e aprendizagem. Este relata que os procedimentos ligados ao

ensino da multiplicação estão associados ao uso da adição quando esta ocorre

com parcelas iguais. Portanto, é observada a importância de saber o papel do

multiplicando e do multiplicador para que não ocorram erros de “tomar um pelo

outro” (p. 71). Para que aconteça uma aprendizagem significativa, o PCN assevera

que o professor deve proporcionar a resolução de diferentes situações-problema

que componham multiplicação comparativa, comparação entre razões:

proporcionalidade, configuração retangular e combinatória.

2.2 Proposta Curricular do Estado de São Paulo

A Proposta Curricular do Estado de São Paulo foi criada em 2008 com o

intuito de “contribuir no processo para a melhoria na qualidade do Sistema de

Ensino, principalmente no tocante às metas estabelecidas por esta Secretaria em

agosto de 2007” (p. 3). Metas estas que incluem a Implantação do Programa Ler e

Escrever, com capacitação de supervisores, diretores, professores coordenadores

e do Programa Bolsa Formação Escola Pública Universidade na Escola; elaboração

de guias de planejamento e materiais didáticos; revisão do Sistema de Avaliação

Saresp; e melhoria na escolha dos materiais didáticos e planejamento do ensino.

A Proposta Curricular do Estado de São Paulo prevê que o professor deve

ser o mediador no processo de ensino, e para isso ele deverá possuir uma

concepção do conhecimento matemático como em constante renovação, conhecer

os procedimentos para o ensino e a didática da Matemática formal para a

33

Matemática escolar. O material é composto por objetivos gerais dados ao ciclo e

habilidades direcionadas a cada ano.

Assim, analisando o currículo estadual de São Paulo para o ciclo I,

observamos que ele se orientou no PCN (p.13), focando também a resolução de

problemas e a proporcionalidade, indicando como objetivo:

Resolver situações-problema a partir da interpretação de enunciados orais e escritos, desenvolvendo procedimentos para planejar, executar e checar soluções (formular hipóteses, fazer tentativas ou simulações), para comunicar resultados e compará-los com outros, validando ou não os procedimentos e as soluções encontradas (SÃO PAULO, 2008, p. 24).

Esse mesmo objetivo também está presente nas orientações curriculares

para o Estado de São Paulo descrito pela habilidade: “Resolver problemas que

envolvem o uso da porcentagem no contexto diário, como 10%, 20%, 25%, 50%”

(SÃO PAULO, 2008, p. 27).

Quanto aos demais conteúdos que compõem o campo multiplicativo,

observamos as seguintes habilidades:

1.ª série:

Contar em escalas ascendentes e descendentes de um a um, de dois em dois, de cinco em cinco, de dez em dez etc.

2.ª série:

Contar em escalas ascendentes e descendentes a partir de qualquer número dado.

Interpretar e resolver a situações, compreendendo significados da multiplicação, utilizando estratégias pessoais.

Calcular resultados de multiplicação, por meio de estratégias pessoais.

Construir fatos básicos da multiplicação (por 2, por 3, por 4, por 5) a partir de situações-problema, para constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo.

Interpretar e resolver situações-problema, compreendendo significados da divisão, utilizando estratégias pessoais.

3.ª série:

Interpretar e resolver situações-problema, compreendendo diferentes significados das operações envolvendo números naturais.

Construir fatos básicos da multiplicação (por 6, por 7, por 8, por 9) a partir de situações-problema para constituição de um repertório a ser utilizado no cálculo.

Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos que envolvem a multiplicação.

Utilizar a decomposição para escritas numéricas de cálculos que envolvem a divisão.

34

Calcular o resultado de operações com os números naturais por meio de estratégias pessoais e pelo uso de técnicas operatórias convencionais.

Calcular o perímetro e a área das figuras planas.

4.ª série

Explorar diferentes significados das frações em situações-problema: parte-todo, quociente e razão.

Escrever e comparar números racionais de uso frequente, nas representações fracionária e decimal.

Identificar e produzir frações equivalentes.

Compreender diferentes significados das operações envolvendo números naturais.

Resolver multiplicações e divisões com números naturais por meio de estratégias pessoais e do uso de técnicas operatórias convencionais.

Ampliar e reduzir figuras planas.

Calcular área de retângulos ou quadrados.

Utilizar a noção de probabilidade em situações-problema simples (SÃO PAULO, 2008, p. 25-28).

Portanto, nota-se que tais conteúdos são de grande importância para a

formação do aluno, pois permitem que ele compreenda as ações do cotidiano e

consiga resolver problemas de ordem prática, possibilitando que ele adquira mais

autonomia ao tratar de temáticas ligadas à Matemática.

2.2.1 Programa Ler e Escrever

A Secretaria do Governo do Estado de São Paulo, no ano de 2007, criou o

programa Ler e Escrever. Tal ação foi implantada por etapas em todo o Estado de

São Paulo, e se constituiu em um novo programa de currículo em torno de

expectativas de aprendizagem para cada ciclo.10 Esse Programa foi criado com o

objetivo de estabelecer uma organização dos conteúdos, acompanhamento

institucional e formação dos profissionais em todo o Estado (SÃO PAULO, 2007).

Para isso, foram elaborados cadernos de atividades para os alunos e professores

de cada ano-série, além de um grande investimento de acervo literário para todas

as escolas. Segundo dados do relatório do Ler e Escrever – 2010, elaborado pela

Fundação de Desenvolvimento em Educação (FDE), são descritos todos os

10

No governo do Estado de São Paulo os ciclos se dividem em ciclo I (1.ª a 4.ª séries), ciclo II (5.ª a

8.ª séries) e Ciclo III (1.º ao 3.º ano do Ensino Médio), cada ciclo com suas expectativas de

aprendizagem.

35

materiais distribuídos para as escolas estaduais. De acordo com esse relatório,

verifica-se que este programa foi implantado na capital do Estado de São Paulo em

2007, nas cidades da Grande São Paulo em 2008, e em 2009, nas diretorias do

Interior e Litoral.

Ressaltamos que o Programa Ler e Escrever organizou Guias de

Planejamento e Orientações Didáticas, assim como o caderno do aluno para cada

respectivo ano. O Guia de Planejamento e Orientações Didáticas é um referencial

que contém as expectativas de aprendizagem, proporcionando o auxílio de

situações didáticas para favorecimento do ensino de qualidade. Compõe-se de

organização do tempo didático, com projetos e sequências didáticas. O documento

ainda propõe que :

[...] [o] material foi elaborado seguindo a concepção de que ensinar Matemática é criar situações didáticas que contribuem para os alunos colocarem em jogo os conhecimentos adquiridos, descobrindo que esses nem sempre são suficientes para resolver as situações propostas e, portanto, há a necessidade de buscar novas estratégias e ideias com a exposição das suas próprias hipóteses, da escuta de outras opiniões, do encontro de ideias, o que promove um novo patamar de conhecimento (SÃO PAULO, 2008, p. 7).

Verificamos que o professor deve ser o mediador das hipóteses dos

alunos, promovendo intervenções que ampliem o instinto investigativo deles. Para

que isso ocorra, os alunos devem notar a importância e o sentido da atividade, de

modo que é preciso que o discente possa:

Explicar os procedimentos pessoais que utilizaram para solucionar os problemas, de forma que os colegas possam entender.

Desenvolver uma argumentação que justifique suas escolhas (por exemplo, para solucionar um problema, a organização de um número, a representação do deslocamento de uma pessoa ou objeto do espaço etc.).

Saber ouvir a argumentação de um colega e as explicações do professor para manter ou não a sua opinião (SÃO PAULO, 2008, p. 8).

O Guia de Planejamento e Orientações Didáticas foi organizado de acordo

com os blocos de conteúdo: números e operações – resoluções de problemas

(aditivos e multiplicativos), espaço e forma, grandezas e medidas, de modo que seus

conteúdos sejam identificados e contextualizados socialmente. Cada atividade

possui título, objetivos, planejamento, encaminhamento e algumas situações contêm

orientações e sugestões complementares e os pontos mais importantes a serem

36

discutidos. Esse Guia apresenta ainda, no início de cada Material do Professor, as

expectativas de aprendizagem para o ano e ciclo de Língua Portuguesa e

Matemática, orientações quanto a avaliação de aprendizagem e modelos de

sondagens de números e problemas envolvendo os campos aditivos e

multiplicativos, com suas respectivas planilhas de observação para cada sondagem,

e sugestões para organização da rotina semanal. Estas informações estão

disponíveis no Guia de Planejamento e Orientação do 5.º Ano (2010, p. 26-32).

Com o intuito de exemplificar quais são os tipos de atividades propostas

pelo material, selecionamos duas do campo multiplicativo, uma solicitando aos

alunos que completem o problema, criando uma pergunta, e a outra contendo

diferentes técnicas operatórias para resolução de divisões.

37

Figura 3: Exemplo I – Atividade do Ler e Escrever – Campo Multiplicativo Fonte: São Paulo (Estado), Secretaria de Educação (2008).

38

39

40

Figura 4: Exemplo II de Atividade do Ler e Escrever – Campo Multiplicativo

Fonte: São Paulo (Estado), Secretaria de Educação (2008)

41

Notamos ainda que o Material deixa claro que a proposta trata de sugestões

e encaminhamentos didáticos, dando flexibilidade aos professores para

“reorganizarem, recriarem a partir do levantamento do conhecimento do aluno” (p.

9). Ressalta ainda a importância de se trabalharem diferentes blocos de conteúdo na

semana, a fim de que o aluno perceba as relações entre os assuntos abordados na

disciplina.

Nessas considerações, enfatiza-se essencialmente nossa crença sobre a

necessidade de que o processo de formação de professores acompanhe tais

mudanças, segundo a Nova Proposta Curricular, e ofereça condições para a

implementação dos currículos propostos.

O professor deve ter uma formação voltada para a resolução de suas

dúvidas pessoais sobre o conteúdo matemático e a respeito de como desenvolver o

conteúdo com os alunos. É importante observar que o professor necessita identificar

a dificuldade dos alunos, elaborar proposta de intervenção por meio da análise dos

erros e acertos. Por isso, acreditamos ser fundamental o trabalho colaborativo na

escola, em que os professores, em discussões conjuntas, analisem e reflitam sobre

sua prática pedagógica, verificando o que deu certo, o que falhou, o que pode

modificar, pois considera-se que estes espaços poderão favorecer a construção de

conhecimentos essenciais para a prática docente.

2.3 Saresp

Segundo alguns dados11 da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo

(SEE/SP), o Saresp foi criado em 1996 com o intuito de ser um sistema de avaliação

do rendimento dos alunos do Ensino Fundamental e Médio. De acordo com essa

mesma secretaria, pretende-se com essa ação reestruturar o currículo, propiciar a

melhoria na formação continuada dos professores e a participação da comunidade

neste processo de transformação. Esse sistema de avaliação é censitário, pois

trabalha com todas as escolas da rede estadual, e não com pequenas amostragens.

Ele utiliza os Parâmetros de Avaliação que indicam os conteúdos e as habilidades a

serem dominadas pelos alunos.

11

Informações obtidas no site da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo (SEE/SP)

disponível em: <http://SARESP.fde.sp.gov.br/2009>. Acesso em: maio 2010.

42

Segundo os autores do Projeto:

Houve então a necessidade de se diagnosticar criticamente a existência dos muitos currículos, implícitos ou não, praticados nas escolas da rede estadual, e de se tomar uma firme decisão em favor do estabelecimento de um currículo mínimo e comum a todas as escolas, de forma explícita, para todo o sistema, em cujo contorno e definição deveriam estar configuradas e indicadas as bases dos conhecimentos e das competências e habilidades a serem efetivamente desenvolvidas pelos alunos na escola e, com elas, a indicação das expectativas de aprendizagem para cada série/ano e ciclo, possíveis de serem avaliadas ao fim de cada um deles, com transparência e eficácia (São Paulo, 2008, p. 8).

O Saresp utiliza a mesma escala de proficiência do SAEB e Prova Brasil,12 o

que facilita a comparação entre os resultados, porém a definição dos números dos

pontos de escala é arbitrária e é construída pelo Teoria de Resposta ao Item13 (TRI),

que é a aplicação de um método estatístico da análise dos resultados.

Cabe salientar que a partir de 2008 foram implementadas as questões

abertas na avaliação de Matemática, a fim de observarem as diferentes estruturas e

estratégias dos alunos nas resoluções matemáticas.

Esse sistema de avaliação utiliza matrizes de referências como meio de

organizar as estruturas básicas de conhecimento em cada ano escolar. As matrizes

são instrumentos que, segundo seus elaboradores, devem ser utilizados pelo

professor para acompanhar o desenvolvimento do aluno, pois possuem “poder de

sinalização das estruturas básicas de conhecimentos a serem construídas por

crianças e jovens por meio dos diferentes componentes curriculares em cada etapa

da escolaridade básica” (SÃO PAULO, 2008, p. 11).

Segundo as Matrizes de Referência para a avaliação do Saresp 2008,

“Matrizes de referência para a avaliação”, a prova de Matemática é composta por

três aspectos fundamentais: conteúdos, habilidades e competências, descrita pela

imagem a seguir:

12

Sistema de Avaliação de Educação Básica (SAEB) e Prova Brasil é realizado a cada dois anos no

território nacional. É composta por questões de Língua Portuguesa e Matemática, além de

questionários socioeconômicos aos alunos e comunidade escolar. Informações disponíveis em:

<http://provabrasil.inep.gov.br/>. Acesso em: fev. 2012.

13 Segundo Andrade, Tavares e Valle (2000), a Teoria de Resposta ao Item oferece possibilidades de,

por meio de modelos matemáticos, se observarem traços latentes. Essa metodologia propõe formas

de representar a relação entre a probabilidade de um indivíduo dar uma certa resposta a um item, seu

traço latente e os parâmetros dos itens.

43

Figura 5: Relações entre habilidades, conteúdos e competências

Fonte: São Paulo (Estado), Matrizes de Referência do Saresp (2008).

Assim, os três aspectos fundamentais da matriz referem-se:

[...] a verificação de conteúdos disciplinares, por intermédio da utilização de habilidades, graças às quais se poderá inferir o grau de proficiência das competências cognitivas desenvolvidas pelos alunos em seu processo de escolarização. A avaliação de competências, por intermédio destes dois indicadores (habilidades associadas a conteúdos em uma situação de prova) justifica-se pelo compromisso assumido no currículo, em fase de implementação, das escolas públicas do Estado de São Paulo. Trata-se do propósito de caracterizar a missão da escola, entendida como um lugar e um tempo em que competências fundamentais ao conhecimento humano são aprendidas e valorizadas. Essas competências expressam a função emancipadora da escola, ao assumir que dominar competências é uma forma de garantir que houve aprendizagem efetiva dos alunos (SÃO PAULO, 2008, p. 12).

Quanto às habilidades, o documento “Matrizes de referência para a avaliação”

do Saresp 2008 indica que: “as habilidades possibilitam inferir, pela Escala de

Proficiência adotada, o nível em que os alunos dominam as competências

cognitivas, avaliadas relativamente aos conteúdos das disciplinas” (SÃO PAULO,

2008, p. 13).

O documento aponta que as competências são “modalidades que

representam diferentes formas ou caminhos de se conhecer” (SÃO PAULO, 2008, p.

44

14) uma mesma atividade ou situação-problema. Elas são classificadas em

competências: para observar, realizar e compreender.

As competências para observar, segundo as Matrizes de Referência para a

Avaliação do Saresp 2008, são baseadas nos estudos de Piaget, quanto aos

“esquemas presentativos e representativos”, ou seja, o aluno nesta etapa deverá ser

capaz de ler as informações dadas na avaliação, interpretar e registrar informações,

observar, identificar, descrever, localizar, diferenciar, constatar reconhecer, indicar,

estabelecer correspondência e constatações, e apontar os aspectos solicitados entre

outras habilidades.

As competências para realizar são, segundo as Matrizes de Referência para a

Avaliação do Saresp 2008, “as capacidades de o aluno realizar os procedimentos

necessários às suas tomadas de decisões em relação as questões ou tarefas

propostas na prova” (SÃO PAULO, 2008, p. 18). Portanto, o discente precisará

saber classificar, interpretar, compor, decompor, calcular, fazer antecipações entre

outras habilidades. Com isso, o aluno deverá não somente identificar qual

procedimento deverá ser utilizado na situação-problema, mas fazê-lo de modo

adequado.

As competências para compreender, segundo as Matrizes de Referência da

Avaliação do Saresp, são esquemas operatórios conscientes que permitem o aluno

realizar estratégias diferentes das competências anteriores, o que possibilita a

realização de cálculos mentais avançados, atingindo o raciocínio hipotético dedutivo.

Verificamos que as habilidades dessas competências são: aplicar relações

conhecidas em situações novas, deduzir utilizando a lógica, elaborar hipótese,

criticar, analisar e julgar situações, entre outras.

Apresentaremos a seguir as Matrizes de Referência para a Avaliação do

Saresp de Matemática do 5.º ano do Ensino Fundamental:

COMPETÊNCIAS DO SUJEITO

OBJETOS DO CONHECIMENTO (CONTEÚDOS)

GRUPO I Competências para

observar

GRUPO II Competências para realizar

GRUPO III Competências para

compreender

H01 – Identificar a localização de números naturais na reta numérica.

H02 – Relacionar a escrita numérica às regras do sistema posicional de numeração.

H12 – Resolver problemas que envolvam a adição ou a subtração, em situaçõesrelacionadas

45

Tema 1 – Números,

operações, funções

aos seus diversos significados.

H03 – Escrever um número natural pela sua decomposição em forma polinomial.

H10 – Calcular o resultado de uma adição ou subtração de números naturais.

.

H13 – Resolver problemas que envolvam a multiplicação e a divisão, especialmente em situações relacionadas à comparação entre razões e a configuração retangular.

H04 – Identificar diferentes representações de um mesmo número racional.

H11 – Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão de números naturais.

H14 – Resolver problemas que utilizam a escrita decimal de cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro.

H05 – Identificar a localização de números racionais representados na forma decimal da reta numérica.

H15 – Resolver problemas com números racionais expressos na forma decimal que envolvem diferentes significados da adição ou subtração.

H06 – Identificar fração como representação que pode estar associada a diferentes significados (parte/todo, quociente, razão).

H16 – Resolver problemas que envolvam noções de porcentagem (25%, 50%,100%).

H07 – Identificar a fração decimal correspondente a um número decimal dado e vice-versa. H08 – Identificar sequências numéricas.

H09 – Identificar e localizar na reta números naturais escritos com três e quatro dígitos.

H17 – Descrever a localização e a movimentação de pessoas ou objetos no espaço, em diversas representações gráficas, dando informações sobre pontos de referência e utilizando o vocabulário de posição (direita/esquerda, acima/abaixo, entre, em frente/atrás).

46

Tema 2 – Espaço e

forma

H18 – Identificar formas geométricas tridimensionais como esfera, cone, cilindro, cubo, pirâmide, paralelepípedo ou, formas bidimensionais como: quadrado, triângulo, retângulo e círculo sem o uso obrigatório da terminologia convencional.

H19 – Identificar semelhanças e diferenças entre polígonos, usando critérios como número de lados, número de ângulos, eixos de simetria e rigidez, sem o uso obrigatório da terminologia convencional.

H20 – Identificar a ampliação ou redução de uma dada figura plana.

Tema 3 – Grandezas e

medidas

H21 – Identificar horas e minutos, por meio da leitura de relógios digitais e de ponteiro.

H23 – Estimar a medida de grandezas utilizando unidades de medida convencionais ou não.

H26 – Resolver problemas significativos utilizando unidades de medida padronizadas como Km/m/cm/mm, Kg/g/mg,l/ml.

H22 – Reconhecer unidades de medida usuais de comprimento, de superfície, de capacidade, de tempo e de temperatura.

H24 – Efetuar cálculos que envolvam valores de cédulas e moedas em situações de compra e venda.

H27 – Resolver problemas que envolvam o cálculo do perímetro de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.

H25 – Estabelecer relações entre unidades de medida de tempo.

H28 – Resolver problemas que envolvam o cálculo ou estimativa de áreas de figuras planas, desenhadas em malhas quadriculadas.

Tema 4 – Tratamento da

informação

H29 – Ler e/ou interpretar informações e dados apresentados em tabelas e construir tabelas.

H30 – Ler e/ou interpretar informações e dados apresentados em

47

gráficos e construir gráficos (particularmente gráficos de colunas).

Quadro 1: Competências do Sujeito

Fonte: São Paulo (2008).

Observamos que no 5.º ano são elaborados itens envolvendo 30 habilidades,

divididas em quatro temas: Números, Operações e Funções; Espaço e Forma;

Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação. Além disso, são divididos em

três grupos: competências para observar, para realizar e para compreender. Cabe

evidenciar que, destas habilidades, oito avaliam o Campo Conceitual Multiplicativo.

No tocante à aplicação da avaliação, ela é realizada por professores externos

(de outras unidades escolares estaduais). Para o monitoramento e

acompanhamento, a comissão organizadora da prova propõe que cada escola

indique um fiscal externo e da comunidade escolar (pais de alunos). Para orientar a

divulgação, aplicação e correção são divulgados os seguintes documentos: Agenda

de Trabalho, Manual de Orientação, Manual Aplicação, Manual de redação, Manual

de Operações Logística, Manual do Fiscal e Manual do Sistema Integrado de

Avaliação (SAI).

Segundo dados retirados do site do Saresp, os Instrumentos de Controle14 do

Saresp são: Plano de Aplicação das Provas, Carta de Apresentação do Fiscal, Carta

de Apresentação do Aplicador, Lista de Presença dos Alunos por Turma, Termo de

Compromisso do Aplicador, Formulário de Controle da Aplicação, Formulário do

Fiscal – Verificação das Atividades, Relatório de Observação dos Pais, Planilha de

Controle e Recebimento de Materiais e Relatório de Ocorrências da Aplicação,

elaborados pela Diretoria de Ensino, SAI on-line.

Quanto aos anos iniciais, observa-se que esta avaliação é aplicada nos 3.º

anos e 5.º anos do Ensino Fundamental. Os cadernos de prova do 3.º ano são

compostos por 17 questões abertas de Matemática, com dois cadernos

diferenciados para cada período (Manhã e Tarde). Estes cadernos possuem folha de

resposta, que é preenchida pelos responsáveis da correção desta avaliação.

14

São os elementos que asseguram a fidedignidade dessa avaliação externa.

48

Para os 5.º anos são elaborados 26 tipos diferentes de cadernos com 3

blocos com 8 questões, totalizando 24 questões de múltipla escolha. Para análise

amostral por ano é elaborado um caderno com questões abertas. Cabe ressaltar

que, para os alunos com necessidades especiais, é oferecida a versão da prova em

Braile, por ano e área. Este caderno de questões acompanha folha de resposta,

preenchida pelos alunos.

A correção das questões objetivas e provas abertas de Matemática é

efetuada por instituição contratada. Após a correção, a Secretaria de Educação do

Estado de São Paulo elabora boletins personalizados por escola e relatório com

amostra externa das questões apresentadas na avaliação.

O Saresp elabora ainda um questionário aos pais e alunos, com 40 questões,

que são encaminhadas à escola e respondidas em folha de gabarito, e outro

questionário direcionado aos professores com 122 questões respondidas no sistema

on-line. A prova, assim como os questionários, são confeccionados por empresa

privada contratada pela Instituição Governamental.

Ressaltamos que, para análise do desempenho, somente é considerado o

ano final do ciclo (5.º ano) para o cálculo do índice de proficiência. Com isso, nos

delimitamos a estudar as características deste ano e iremos exemplificar duas

questões do campo multiplicativo que fizeram parte do Saresp 2009 e do Relatório

desta avaliação em 2009 e 2010.

O primeiro exemplo apresentado é uma situação de múltipla escolha.

Figura 6: Exemplo de questão múltipla escolha

Fonte – São Paulo (Estado), Secretaria da Educação (2009).

49

Esta questão envolve a Habilidade 13, que propõe a resolução de uma

situação-problema com comparações entre razões e configuração retangular, e

verifica a competência para compreender. Segundo dados do Relatório do Saresp

2009: “Na resolução do problema proposto o aluno deve demonstrar a compreensão

do conceito de multiplicação no sentido da configuração retangular ou considerar a

disposição descrita e contar os alunos” (p. 87).

Quanto à resolução dos alunos, observamos que 63,5% deles acertaram a

situação dada, porém identificamos um percentual de 28% para o item a,

considerado alto, o que nos indica provavelmente a falta de compreensão da

descrição do problema.

O segundo exemplo a seguir é de uma questão aberta.

Figura 7: Exemplo de questão aberta do Saresp – Campo Multiplicativo

Fonte: São Paulo (Estado), Secretaria de Educação.

50

Percebemos que a questão aberta avalia a Habilidade 16, que concerne à

resolução de problemas envolvendo a noção de porcentagem e verifica a

competência para compreender. Podemos identificar que, para a análise das

respostas, se redigiu um comentário para cada uma delas.

Ressalta-se que as situações apresentadas são apenas uma mera

exemplificação desta avaliação.

51

CAPÍTULO 3

REVISÃO DE LITERATURA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:

FORMAÇÃO DE PROFESSORES E CAMPO CONCEITUAL

MULTIPLICATIVO

Mas na profissão, além de amar tem de saber. E o saber leva tempo pra crescer.

As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada veem [...] O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido! (RUBEM ALVES.)

Neste capítulo apresentamos a revisão de literatura composta de

dissertações, teses e artigos que discutem o tema. Tal pesquisa foi feita com base

no levantamento realizado por Marisol Vieira Melo divulgado na Revista Zetétike e

em outras fontes. Além disso, expomos a fundamentação teórica utilizada para

análise dos dados. Estes estão organizados em duas partes: Conhecimento

Profissional Docente e Campo Multiplicativo.

3.1 Formação de Professores e Conhecimento Profissional Docente

Este tópico apresenta a fundamentação teórica e a revisão de literatura sobre

a formação docente.

3.1.1 Fundamentação teórica: Formação de Professores e Conhecimento

Profissional Docente

Quanto aos aspectos relacionados à Formação de Professores e do

Conhecimento Profissional Docente, fundamentamo-nos inicialmente em Schön

(1987). O autor discute a ideia de reflexão sobre a prática docente e propõe o que se

deve refletir nos contextos ricos e complexos da prática, identificando o que o

profissional já conhece, como e qual a melhor forma de observação e reflexão sobre

a prática docente.

Para o autor, a reflexão vai muito além do que da pratica em sala de aula, as

experiências e tomadas de decisões utilizando a reflexão–ação permitem que se crie

um novo conhecimento e aptidão.

52

Outros autores potencializaram seus estudos sobre as vertentes do

Desenvolvimento Profissional Docente, como estudo de Ponte (1998). O autor,

nessa investigação, diferencia Formação de Desenvolvimento Profissional. Afirma

que a Formação está diretamente ligada a cursos, acontece de fora para dentro, age

sempre no que o professor necessita e é visto de modo fragmentado, partindo da

teoria e que ajuda no enriquecimento curricular do professor, proporcionando o

desenvolvimento profissional. O Desenvolvimento Profissional Docente, por sua vez,

vai muito além do conhecimento desenvolvido por meio da participação em cursos, é

construído mediante as trocas de ideias, leituras, reflexões; o conhecimento

acontece de dentro para fora e visa suas ações nas potencialidades, assumindo

uma visão global do processo de desenvolvimento e fazendo a conexão entre teoria

e prática por intermédio do trabalho no coletivo.

Para o autor, o professor sempre deve estar aprendendo. O docente deve

vivenciar quatro tipos de formação: especialidade, cultural e social, educacional e a

prática. Além disso, ainda segundo o autor, o docente deve saber agir em situações

de grande pressão psicológica, saber colocar-se nas situações de ensino e

aprendizagem, ter identidade profissional, que esta realcionada a cultura

profissional.(PONTE, 1998)Ponte (2008) ainda relata um pouco do histórico das

formações, e afirma que no início dos anos 80, o termo utilizado para a formação de

professores era sinônimo de “reciclagem”. Chama a atenção para o surgimento da

pesquisa do tipo investigação–ação, que surge da dificuldade concreta de investigar

a prática. Ressalta ainda sobre as principais oportunidades de formação para os

professores como: círculos de estudo, oficinas de formação, projetos de

investigação–ação, participação em projetos de investigação, mestrado, doutorado e

estudos de formação individual.

No tocante ao Conhecimento Profissional Docente, não podemos deixar de

utilizar como fundamento Shulman (1986). O autor relata várias categorias de

Conhecimento (específico, pedagógico, currículo, dos alunos e de suas

características, contextos educacionais, fins, valores e propósitos educacionais).

Em sua pesquisa, Shulman (1986) inicialmente apresenta o histórico sobre

as exigências apresentadas em exames de qualificação para o trabalho docente.

53

O autor enfatiza a três Categorias de Conhecimento que os professores

necessitam para serem bons profissionais:

conhecer o conteúdo do qual deveriam ter domínio pleno a fim de

ensinar, que seria o Conhecimento Empírico ou Filosófico;

Conhecimento Pedagógico do Conteúdo que explicita como o

professor transmite os conteúdos e quais estratégias utiliza para que o

aluno aprenda, ou seja, a experiência prática; e o

Conhecimento Curricular, que são as especificações e detalhes

sobre o currículo proposto, ou seja, as razões morais e éticas .

Sobre a necessidade de se considerarem as três vertentes do conteúdo

proposto por Shulman, Mizukami (2004) assevera que “Embora o conhecimento do

conteúdo específico seja necessário ao ensino, o domínio de tal conhecimento, por

si só, não garante que o mesmo seja ensinado e aprendido com sucesso”

(MIZUKAMI, 2004, p.5).

A autora relata, apoiada em Shulman, que o professor deve encontrar

diferentes estratégias para desenvolver os conhecimentos com seus alunos. Para

tanto, é necessário que os docentes conheçam a área a ser ensinada e como fazer

os alunos compreenderem o ensinado. Mizukami (2004) chama atenção para o fato

de que Shulman não evidencia a experiência, que é fator importante para o

processo de raciocínio pedagógico, embora sendo uma condição necessária mas

não suficiente para o conhecimento do professor.

Mizukami (2004) acrescenta ainda o que considerado como pensamento do

professor:“[...]processos tais como percepção, reflexão, resolução de problemas,

tomada de decisão, relacionamentos entre ideias construção de significados”.

(MIZUKAMI, 2004, p. 206).

A autora indica dois pontos em comum: sobre como o conhecimento é

adquirido e usado pelo professor e sobre como o processo de construção desse

conhecimento e das circunstâncias afetam tanto a aquisição quanto o seu uso. Além

disso, ela considera importantes as crenças e teorias pessoais dos professores

(MIZUKAMI, 2004, p. 206).

54

Mizukami (2004, p. 209) observa ainda a importância da pesquisa

colaborativa fundamentada em Clark (1996, p. 194), que faz com que os professores

mudem o pensamento e as ações sobre sua prática. No entanto, este tipo de

incentivo deve ser cauteloso, pois cada teoria da colaboração tem seu foco, metas e

objetivos.

Quanto ao processo de raciocínio pedagógico, fundamentada Wilson;

Shulman; Richert,( 1987); Shulman, (1987) a autora ressalta que existem seis

processos comuns aos processos de ensinar e aprender: compreensão,

transformação, intuição, avaliação, reflexão e nova compreensão (MIZUKAMI, 2004,

p. 8).

Ainda relacionados aos saberes específicos da atividade docente, não

podemos deixar de indicar os estudos de Tardif e Raymond (2000). Os autores

complementam as pesquisas aqui apresentadas, uma vez que, para Tardif e

Raymond (2000), há uma relação importante entre os saberes e o tempo. Para os

autores, os saberes ligados ao trabalho são temporais e produzidos no decorrer da

vida e de acordo com cada ocupação. Tardif e Raymond (2000) apresentam um

quadro de saberes docentes que veremos a seguir. Esse estudo dá a ideia de

pluralismo do saber profissional relacionando-o com lugares de atuação docente,

instrumentos de trabalho e experiência do trabalho.

Quadro 2- Os saberes dos Professores

Fonte: Tardif e Raymond, 2000.

55

Conforme podemos observar, para Tardif e Raymond (2000) parte do que

os profissionais docentes sabem sobre o ensino, sobre o papel do professor e dos

processos de ensinar e aprender está diretamente ligada à história de vida e às

experiências que estes tiveram como alunos.

Para Tardif e Raymond:

Os saberes profissionais dos professores parecem ser, portanto, plurais, compósitos, heterogêneos, pois trazem à tona, no próprio exercício do trabalho, conhecimentos e manifestações do saber – fazer e do saber – ser bastante diversificados, provenientes de fontes variadas, as quais podemos supor que sejam também de natureza diferente (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 206).

Observamos que os saberes são produzidos pela socialização, que estas

relações estruturam a personalidade e as relações com os outros. Assim como a

vida familiar, as experiências escolares influenciam a postura da pessoa em relação

ao ensino, e, ademais, a formação inicial permite identificar os aspectos que

influenciam o ensinar e aprender.

Outro aspecto interessante é que os saberes segundo os autores se formam

nos três a cinco primeiros anos de carreira. Inicialmente, há nesses anos um

“choque com real”, é nesse instante que ocorre o desenvolvimento profissional, ou

seja, “a transição da vida de estudante para a vida mais exigente do trabalho”

(TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 206).

Ainda sobre o Conhecimento Profissional Docente, quando o objeto de

estudo é a Matemática, nos reportamos a Ball e Bass (2003). A autora traz suas

contribuições para o entendimento do pensamento matemático e as resoluções dos

alunos, e nos ajuda a compreender a relação entre o conhecimento e as práticas

pedagógicas dos professores.

Ball e Bass (2003) sustenta que é possível avaliar a qualidade do

conhecimento matemático do professor quando lhes damos voz. A autora procura

identificar os conhecimentos do professor sobre o assunto e como o aluno pensa,

como o aluno busca para resolver diferentes situações de raciocínio lógico

matemático e como o professor entende essas diferentes resoluções e faz uso para

a sua prática pedagógica.

56

A autora conclui que o professor precisa saber o que pode realizar com os

alunos e compreender as estratégias de resolução destes para obter uma melhor

prática pedagógica.

Ball e Bass (2003) parte da seguinte questão “Qual Matemática o professor

precisa saber para ensinar efetivamente?”. E em seus estudos verifica que muitos

professores, diante de conteúdos que não conhecem, acabam rejeitando o que não

lhe é familiar. A autora conclui, assim, que o conhecimento do professor afeta

estudantes em suas aprendizagens. A autora relata que é necessário que os

professores saibam conteúdos e atividades que os alunos gostem, identifiquem

quais tópicos as crianças se interessam ou têm dificuldade. Com isso, o professor,

segundo as ideias de Ball e Bass, deve saber antecipar o raciocínio matemático do

aluno, como ele pensa e como este pode fazer para utilizar estratégias para

entendimento do aluno. Por conseguinte, “o professor precisa saber olhar seus

estudantes no horizonte da Matemática” (BALL E BASS, 2003, p. 13).

No tocante à formação de professores em um contexto de reforma

curricular, apoiaremos nossa investigação nos estudos de Zeichner (1993). O autor

considera que os professores são mediadores e produtores de conhecimento

educacional. Portanto, por vivenciarem situações escolares os professores,

oferecem dados importantes para a produção do conhecimento, conhecimento este

que muitas vezes os professores não se dão conta que os têm. O autor cita cinco

ações que envolvem estes conhecimentos: o planejamento, que é o momento de

estruturação das aprendizagens; a reestruturação dos currículos da humanidade;

professor pesquisador; os auto-estudos; e a pesquisa participativa para a formação

de uma sociedade mais justa e humana.

Zeichner (1993) chama a atenção para a relação da prática pedagógica com

a teoria. Para o autor: “A prática de todo professor é o resultado de uma ou outra

teoria, quer ela seja reconhecida quer não. Os professores estão sempre a teorizar”

(ZEICHNER, 1993, p. 21).

Por essa razão, o educador segue sempre uma teoria, mesmo que

inconscientemente, pois envolve aspectos da história de vida, condições de trabalho

e no que acredita.

57

Para isso, iremos utilizar os estudos de Fiorentini (1995) nos quais

caracteriza e descreve tendências educacionais, suas crenças, finalidades e

concepções de ensino e aprendizagem.

Podemos verificar que, segundo Fiorentini, a Tendência Formalista Clássica

tem como concepção matemática um modelo euclidiano em que ocorre a

sistematização lógica do conhecimento matemático, utilizando elementos primitivos,

como: definições, axiomas, postulados, além de teorema e corolários. Quanto à

crença de como se dá o conhecimento matemático, obtenção, produção e

descoberta, vê-se que professores que apresentam essa tendência partem de

elementos primitivos e definições, para depois explicarem os exercícios de

aplicação, o que alguns popularmente chamam de base teórica. Esta tendência

utiliza excessivamente livros e lousa e o ensino é centrado no professor, transmissor

e expositor do conteúdo.

Para Fiorentini (1995), a Tendência Empírico-Ativista tem como concepção

matemática uma pedagogia ativa que é contra a escola clássica tradicional, sendo

importante para esta aprender a aprender. Sua finalidade é desenvolver a

criatividade e as potencialidades, assim como interesses individuais, nos quais os

membros tenham respeito mútuo para com as individualidades. As concepções de

ensino envolvem um currículo organizado a partir dos interesses dos alunos e

atendem ao seu desenvolvimento psicobiológico, atividades em grupo, e utilização

de material concreto. Nesta concepção, acredita-se que os alunos aprendem

fazendo pesquisas, descobertas, estudos, resoluções de problemas e experimentos.

Para o mesmo autor, a Tendência Formalista Moderna tem como

concepção matemática o Movimento da Matemática Moderna, sendo seus principais

propósitos unificar os três campos fundamentais da Matemática, ou seja, dar mais

ênfase aos aspectos estruturais e lógicos da Matemática e refletir o espírito da

Matemática. A finalidade e os valores atribuídos ao ensino são enfatizados com a

dimensão formativa para os diferentes aspectos. No tocante à concepção de ensino,

este é autoritário e centrado no professor que expõe a aula na lousa.

Fiorentini (1995) relata que a Tendência Tecnicista e suas variações têm

como concepção matemática o modelo de racionalização do sistema de produção

capitalista, que é fundamentado no funcionalismo, formalismo moderno e técnica. A

58

finalidade e valores atribuídos ao ensino é preparar e integrar o aluno na sociedade,

tornando-o habilitado ao sistema, desenvolvendo habilidades e atitudes

computacionais e manipulativas, capacitando o aluno para a resolução de exercícios

ou problemas-padrão. A concepção de ensino ocorre por meio de instrução

programada; o ensino é feito mediante planejamento, organização e controle do

processo de ensino – a aprendizagem e os exercícios não são fundamentados.

Para Fiorentini, a Tendência Construtivista é influenciado pela epistemologia

genética piagetiana, que passou a influir e contribuir para o ensino da Matemática. A

finalidade e valores ao ensino são de natureza formativa e os conteúdos são meios

para a construção das estruturas da inteligência. Assim, o aluno aprende a

aprender e desenvolve portanto o pensamento lógico formal. Quanto à concepção

de ensino, esta propõe que o aluno veja, manipule, produza significados, as ações,

faça comparações, desenhe, erre, corrija e construa a partir do erro. A concepção de

aprendizagem é a formação das estruturas de modo interacionista, pela abstração

reflexiva com relação entre os objetos, ações e ideias.

3.1.2 Estudos anteriores: Conhecimento Profissional docente

Selecionamos algumas dissertações e teses que ajudaram a fundamentar a

analise de dados, estas especificamente foram tomadas da pesquisa realizada por

Marisol Vieira Melo publicada na Revista Zetetiké e outros bancos de dados.

Inicialmente, nos apoiamos nas teses que discutiram questões relacionadas à

formação de professores. Selecionamos duas que se apoiaram em Shulman (1986).

Esses estudos - Curi (2004) e Garcia Silva (2007) - analisaram a formação inicial de

professores que lecionavam para os anos iniciais do Ensino Fundamental. As duas

autoras consideram, fundamentadas em Shulman (1986), que o domínio do

conhecimento do conteúdo é de grande importância nos processos de

aprendizagem docente, porém observaram que tal fato não vem ocorrendo.

Curi (2004) pesquisou sobre “Formação de Professores Polivalentes: uma

análise de conhecimentos para ensinar Matemática e de crenças e atitudes que

interferem na constituição desses conhecimentos. O objetivo de seu estudo era

investigar o conhecimento matemático de professores em uma instituição

59

especializada em macro avaliação, no entanto dirigiu-se para uma investigação e

encaminhamento dos conhecimentos para ensinar a disciplina e de quais crenças e

atitudes estes professores possuem. Os procedimentos metodológicos utilizados

foram uma pesquisa documental dos currículos e legislações vigentes, com o

objetivo de investigar como se dava a formação dos professores pesquisados ao

longo de sua história. Além disso, foi realizado a analise de manuais didáticos,

grades e ementas o que permitiu uma observação geral dessas formações. Ao final

realizou-se uma pesquisa de campo com professoras que participavam da formação

universitária do Estado nos anos de 2001 e 2002, no qual desenvolveu-se

entrevistas semiestruturadas com 12 docentes, observou-se o portfólio, as narrativas

sobre o tempo de estudante das mesmas, os relatórios de atividades realizadas

com alunos e as reflexões sobre os textos apresentados. A autora aponta que

grande parte dos professores entrevistados em sua pesquisa sustentou que em sua

formação inicial, para exercer o magistério, não se enfatizou a discussão sobre os

conteúdos matemáticos trabalhados por eles (p. 107). Em seu trabalho, concluiu-se

que houve, nas ultimas duas décadas, muitos estudos que envolviam a temática

formação de professores e esta mudança está relacionada com a mudança de

papeis executados pelo docente. A autora relata que, quanto às características do

professor, acredita-se que seu conhecimento é dinâmico e sofre influencia de sua

formação pré-profissional. Quanto aos conhecimentos do professor, considera-os

essenciais para ensinar a Matemática, entre eles, os objetos de ensino, articulações

e tratamento didático, conhecimento sobre a resolução de habilidade sobre a

resolução de problemas. Quanto às influencias de crenças e concepções e de

atitudes relacionadas ao conhecimento do professor para ensinar Matemática,

observa que eles já vivenciaram muitas experiências que os influenciam

significativamente. Curi (2004) identifica também que as escolas de formação

necessitam trabalhar com as crenças dos futuros profissionais da educação para

que isto não venha a se tornar um obstáculo no desenvolvimento e na qualidade da

formação.

Estes resultados foram confirmados em outras pesquisas, como os de Garcia

Silva (2007), por exemplo. O seu estudo foi intitulado “O desafio do desenvolvimento

profissional docente: Análise da formação continuada de grupo de professores das

series iniciais do Ensino Fundamental tendo como objeto de discurso o processo de

60

ensino e aprendizagem das frações”. Como metodologia realizou-se uma formação

na própria escola investigada com todos os professores que lecionavam frações nos

anos iniciais. Tal formação ocorreu em 16 sessões de 4 horas cada, no qual houve

avaliação diagnostica, desenvolvimento de oficinas utilizando-se de metodologias

diversificadas, elaboração e aplicação sequencia de atividades pelos professores

participantes e, ao término, foram realizadas duas entrevistas uma ao final e outra

após um ano de intervenção. Dessa forma, a autora procurou analisar fatores que

poderiam interferir no desenvolvimento profissional de professores que lecionavam

para os anos iniciais do Ensino Fundamental, analisando os dados coletados, antes,

durante e depois do processo formativo. Garcia Silva (2007) assevera:

A primeira conclusão a que chegamos é que os saberes desenvolvidos na formação inicial dos professores investigados foram insuficientes para que estes se sentissem em condições de garantir a aprendizagem de seus alunos. Parece-nos que esses professores estavam insatisfeitos com o grau de profundidade do trabalho que desenvolveram até então (GARCIA SILVA, 2007, p. 271).

Portanto, notamos que as duas pesquisas abordadas são convergentes,

pois identificaram a necessidade de os docentes terem uma formação adequada

para desenvolver um bom trabalho com seus alunos.

Além disso, outro estudo que nos auxiliou na análise de dados foi o de

Canova (2006) “Crença, concepção e competência dos professores do 1º e 2º ciclos

do ensino fundamental com relação à fração”, o objetivo desta pesquisa foi

identificar e analisar as crenças, concepções e competências dos professores que

atuavam no 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental com relação ao conceito de

fração. A coleta de dados foi realizada com um instrumento investigativo composto

por 29 questões subdivididas em quatro partes: perfil, crenças, concepções e

competências dos 51 docentes analisados. O estudo realizou-se em três escolas

municipais de Osasco. Em um segundo momento, realizou-se entrevistas com 10%

dos professores participantes. A autora identificou como resultado, que as crenças

dos professores não são influenciadas pela sua prática docente, o que não é

verdade para as concepções. Observou ainda a necessidade de ampliar o campo

conceitual desses professores com relação ao objeto fração. Notou-se nesta

pesquisa que a dificuldade do docente influencia a concepção que os alunos tem

sobre o conteúdo. Concluiu também que, apesar destes educadores possuírem

61

concepções errôneas, elas foram adquiridas pelas suas experiências e acabaram

influenciando em sua competência. Quanto às frações, o significado parte todo foi o

que obteve maior índice de acerto.

3.2 Campo Conceitual Multiplicativo

Neste item relataremos a fundamentação teórica e a revisão de literatura que

envolvem o Campo Conceitual Multiplicativo

3.2.1 Fundamentação teórica: objeto matemático

Para discutir os aspectos relativos ao conceito de proporcionalidade

utilizaremos os estudos de Behr , Lesh e Post (1988), assim como o de Vergnaud

(1988,1990,1991,2007, 2009, 2010, 2011).

Behr, Lesh e Post (1988) discutem conceitos sobre o raciocínio proporcional

relacionando-os diretamente aos conceitos algébricos, pois entendem que estes

auxiliam na resolução de proporção simples e sua importância para o

desenvolvimento e entendimento matemático dos alunos. Os autores definem

raciocínio proporcional como:

[...] uma forma de raciocínio matemático que envolve o sentido de covariância e múltiplas comparações, assim como a aptidão para reunir e processar mentalmente diversos conjuntos de informação. O raciocínio proporcional está relacionado com inferência e predição e envolve o pensamento qualitativo e quantitativo (BEHR et al., 1988, p. 1).

Os autores definem aspectos do objeto proporcionalidade e acrescentam

que tal conceito envolve o pensamento sobre as relações holísticas entre as

expressões racionais, por meio da representação de taxas, razão, quociente e

fração. Portanto, este conteúdo, segundo os autores, tem estreita relação com a

álgebra no tocante às relações de equivalência, variáveis e transformações (BEHR

et al., 1988, p. 1).

Behr, Lesh e Post (1988) argumentam que a ideia de proporcionalidade é

bastante complexa, e que não se trata apenas de aplicação de procedimentos. Os

autores afirmam que alguns alunos, para solucionarem questões de

proporcionalidade, utilizam-se do método cruzado com incógnita x, mas suas

pesquisas apontam que este método não é eficaz para o entendimento dos alunos, o

que proporciona a não resolução da questão matemática proposta. Apontam ainda

que este método, muitas vezes, é utilizado mecanicamente, o que não favorece o

62

desenvolvimento do raciocínio proporcional. Comentam ainda que, para o

desenvolvimento do raciocínio proporcional, é necessário que:

[...] os primeiros estágios do desenvolvimento da compreensão do raciocínio proporcional, as estratégias aditivas serem frequentemente usadas para responder as tarefas em que deveriam ser usadas relações multiplicativas (BEHR et. al., 1988, p. 14).

Sustentam também que a transferência e as relações deste conhecimento

ocorrem de modo natural, e que este é dominado por pequenas classes de

problemas que vão sendo aprimorado e ampliado a uma posição mais complexa.

Acreditamos que idéias como as de Behr et. al. nos permite refletir sobre

como os alunos podem solucionar as situações-problema que envolvem a

proporcionalidade e conhecer quais as relações matemáticas que envolvem esse

conceito.

Quanto a fundamentação das estruturas multiplicativas, nos apoiamos nos

estudos de Vergnaud (1988, 1990, 1991, 2007, 2009, 2010, 2011), do qual

comentamos a seguir os conceitos que envolvem a Teoria dos Campos Conceituais

e especificamos o campo multiplicativo.

Segundo Vergnaud (1990) a Teoria dos Campos Conceituais é cognitivista.

Para o autor seu estudo pretende ser um marco, uma vez que apresenta “[...] alguns

princípios de base para o estudo do desenvolvimento e da aprendizagem de

competências complexas, especialmente as que se referem às ciências e as

técnicas”. (VERGNAUD,1990, p.133)

O autor acrescenta ainda que trata-se de uma teoria fundamentalmente

psicológica:

[...] ou melhor, a conceitualização do real, para localizar e estudar as semelhanças e diferenças entre conhecimentos do ponto de vista do conteúdo conceitual. Esta teoria também pode analisar a relação entre os conceitos quanto ao conhecimento explícito e invariantes operacionais implícitos, na realização do sujeito em uma situação, a teoria também faz a relação explícita entre significante e significado”(VERGNAUD,1990, p.133)

O autor foi aluno de Piaget e relata, em uma palestra realizada no dia 25 de

agosto de 2010 em São Paulo, na Universidade Bandeirante de São Paulo, “que

ficou muito impressionado com o trabalho de Piaget sobre crianças e sobre a

63

análise de suas conquistas, por exemplo no domínio da conservação, as

quantidades discretas e continuas”. Nesta conferência, relata que o seu outro

inspirador foi Vygotsky, pois este discute o papel da linguagem e da forma

simbólica.

Vergnaud, nesse mesmo evento, chamou a atenção do público para o fato de

que normalmente considera-se que as teorias de Piaget e Vygostsky são

antagônicas, todavia ele considera que mesmo havendo alguns pontos de

contradição, tais teorias também são convergentes. Para o autor:

[...] Piaget, sim, interessava-se principalmente pela atividade do sujeito com o mundo material, a interação sujeito-objeto. Enquanto que Vygotsky se interessava principalmente com a interação da criança com o adulto [.,.] (VERGNAUD- Transcrição nossa da palestra realizada no dia 25-08-11)

Entretanto, tais características não são consideradas por Vergnaud (2011) como

uma contradição. Para o autor, elas são complementares, ou seja, as duas teorias

estudam a construção do conhecimento por meio da interação do sujeito. Afirma

ainda que:

[...] o que faltou para todos os dois, então, foi uma análise do desenvolvimento do conhecimento especifico do conteúdo conceitual. Na verdade, a didática da matemática, da física, da biologia, da história. O

conteúdo é muito importante. (VERGNAUD, 2011).

Cabe ressaltar que a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud analisa o

desenvolvimento do conhecimento, com foco específico no conteúdo. O autor, nessa

mesma palestra, discute ainda a importância da Zona de Desenvolvimento Proximal

(ZDP) definida por Vygotsky. Para Vergnaud (2011), esse conceito possibilita refletir

sobre a relação professor-aluno, uma vez que a ZDP permite observar o que “a

criança pode fazer com a ajuda do adulto que não poderia fazer sozinha”.

Para Vergnaud, essa é uma “boa definição”, mas não “é suficiente”. Segundo

o autor “é necessário também ter um plano de conteúdos a serem ensinados”

(VERGNAUD, 2011). Seus estudos apontam para o fato de que a relação entre o

aluno, professor e objeto, no caso, o conhecimento, não é a mesma durante toda a

vida. Segundo Vergnaud (2011) “existe uma variação muito grande [do

conhecimento de crianças com idades] entre os 5 aos 13 anos e poucos

64

pesquisadores se interessaram por estudar este aspecto, nem mesmo Piaget e

Vygostky” (VERGNAUD, 2011).

Vergnaud (1990, 2007, 201015) afirma ainda, com base nos estudos de

Piaget, que suas pesquisas procuram compreender as influências das situações na

formação do conhecimento. O autor reitera, assim como Piaget, que o conhecimento

é uma adaptação e que a análise de como se dá a organização das atividades, a

que o autor denomina esquema, pode nos dar pistas sobre tal adaptação.

Portanto, para esse autor, o desenvolvimento da aprendizagem nas crianças

ocorre com a necessidade de propor atividades que contenham o desafio ideal para

que os estudantes fiquem instigados a resolver o solicitado.

Vergnaud (1990) destaca que o conhecimento deve considerar corretamente

a adaptação, ou seja, a ação do sujeito. Assim, pode-se distinguir classe de

situações dominadas ou em que o aluno possui seu repertório em um dado

momento e classes de situações para o qual o sujeito não dispõe de todos os

subsídios necessários para o conhecimento, exigindo tempo e reflexão.

Assim sendo, observamos, por meio da análise dos estudos de Vergnaud

(1990, 2010, 2011), a importância dada ao esquema. Para o autor é no processo de

adaptação e acomodação para o desenvolvimento do conhecimento que ocorrem os

esquemas. Este é definido como:

[...] a organização invariante da conduta para uma classe de situações dadas. É nos esquemas onde se deve investigar os conhecimentos em ação do sujeito, e decidir , os elementos cognitivos que permitam a ação do sujeito ser operatória (VERGNAUD, 1990, p.134)

O esquema deve, portanto, segundo Vergnaud (2007, p.291), conter uma

totalidade dinâmica funcional, uma função que toma seus valores de entrada e de

saída incorporando tempo e suas dimensões e uma organização invariante para

uma situação. Cabe ressaltar que este é composto por quatro categorias: o objetivo;

como a atividade é gerada; os invariantes operatórios representados pelo teorema

em ação e o conhecimento em ação, as antecipações ou inferências [grifo nosso].

15

Curso de Altos Estudos – CAPES realizado em 05, 06, 11, 12 e 13 de agosto de 2010- na UNIBAN

– SP por Gerard Vergnaud.

65

Além disso, seus estudos afirmam ainda que existe, uma variedade de

registros desses esquemas: perceptivo gestual (esporte, dança etc.), técnicas

intelectuais (utilização de diversos instrumentos, músicas etc.), enunciação do

diálogo ( argumentação, retórica etc.), interação social ( conflito , cooperação etc.) e

pensamento ( sequencia, analógica etc.).

Assim sendo, o esquema têm uma importância central nos estudos do autor.

Vergnaud (2010) esclarece que “o esquema, assim como a adaptação, está em uma

classe de situações, este possui um valor universal para todas pertencentes a

mesma classe”.. O autor retoma ainda aos estudos de Piaget que relaciona o

esquema com o conceito, relatando a necessidade de promover novas situações

aos alunos para que estes desenvolvam novos conhecimentos.

Para exemplificar, indicamos, a seguir, dois exemplos e esquemas

diferenciados para a resolução de situações envolvendo o Campo Conceitual

multiplicativo, foco do nosso estudo:

1º exemplo:

“Tenho 3 pacotes de iogurte . Há 4 iogurtes em cada pacote . Quantos

iogurtes eu tenho?” ( VERGNAUD, 2009, p.239)

Para resolver tal situação o autor apresenta dois esquemas:

Figura 8 - Esquema I do referido problema

Fonte : VERGNAUD (2009,p.239)

66

Figura 09 Esquema I do referido problema Fonte : VERGNAUD (2009,p.239)

Tais esquemas estão, segundo o autor, ligados a duas formulações:

X iogurtes 3 pacotes x iogurtes 4 iogurtes

4 iogurtes 1 pacote 3 pacotes 1 pacote Quadro 3 Esquema da primeira e segunda forma

Fonte VERGNAUD,( 2009, p.245)

2 º exemplo:

Iogurtes /pacotes X4 À quantidade de 3 pacotes

Primeira forma 4 iogurtes

3 X

Segunda forma

Iogurtes /pacotes X 4

4 iogurtes

X 3

X iogurtes 3 iogurtes

Primeira Formulação Segunda Formulação

Fonte

67

“É preciso 120 kg de trigo para produzir 100 kg farinha. Quanto de farinha

podemos produzir com 972 toneladas de trigo?16 ( VERGNAUD, 2010)

1º esquema: escolha da operação divisão de 972.000 dividido por 120.

Vergnaud (2010) explica que o primeiro esquema busca relação entre os

valores, esta solução poderá ser usada para calcular o tanto de farinha, utilizando-

se o teorema em ação : f(k.120) = k.f(120)

2º esquema: execução do algoritmo da divisão

O autor ressalta que no segundo esquema compreende a resolução da

divisão utilizando-se os procedimentos convencionais. Vergnaud (2010)

acrescenta ainda que “a divisão é uma atividade complexa”, pois envolve

todas as operações.

Vergnaud indica ainda um 3º esquema de raciocínio para o mesmo problema,

utilizando-se a quarta proporcional.

120 100 a b

972000 c

1 a⁄c=r bxr

2 b⁄a=r cxk

3 bxc⁄a

Quadro 4 - Proporção - Escola de Altos Estudos - CAPES Fonte : Vergnaud (2010)

Isto posto, observamos, ao analisar os diversos estudos de Vergnaud

(1990,1991, 2007, 2009, 2010 e 2011), que existem várias formas de organização

da atividade para uma dada situação e que algumas destas, contribuem mais para

desenvolvimento do raciocínio do que outros. Cabe ressaltar que essas diferentes

organizações em uma classe de situação é o que Vergnaud chama de

Conceitualização.

16

Exemplo retirado dos slides realizados na Escola de Altos Estudos 2010.

68

Na Escola de altos estudos realizada em 2010 o autor definiu

conceitualização como “a construção, percepção e relação dos objetos e

propriedades que estão no mundo”. Notamos assim, que a conceitualização ocorre

por meio de situação determinada e planejada.

O autor relaciona ainda o conhecimento e a situação. Para Vergnaud (2010)

“o conhecimento se desenvolve quando ocorre uma ação em uma situação”.

Observamos ainda que na conceitualização existe a interferência de expressões

verbais e simbólicas que podem contribuir nesse desenvolvimento.

Quanto à relação entre esquema e situação observamos que desde a década

de 90 o autor destaca a aproximação entre esses dois conceitos. Para Vergnaud

(1990) tal fato permite pensar que a “formação de conceitos matemáticos conduz a

considerar um conceito como um conjunto de invariantes utilizadas na ação” (

Vergnaud, 1990, p.139). O autor relata e identifica o papel da análise do investigador

como de fundamental importância para a compreensão do conceito, uma vez que:

[...] a operacionalidade de um conceito deve ser experimentada por meio de situações variadas, e o investigador deve analisar uma grande variedade de condutas e de esquemas para compreender o que consiste, do ponto de vista cognitivo, tal conceito (VERGNAUD, 1990, p.139)

Para Vergnaud (1990) a definição do conceito considera:“o conjunto de

situações que constituem a referencia de suas propriedades, e o conjunto dos

esquemas postos em jogo para os sujeitos nessas situações “(VERGNAUD, 1990,

p.139)

Sobre a formação do conceito ou conceitualização. Vergnaud reafirma, em

2011,, que é constituído pelo esquema que, por sua vez, é composto por invariantes,

teorema em ação e conceito em ação.

Assim sendo, como um das ideias fundamentais da teoria de Vergnaud é o

conceito de esquema, acreditamos ser de fundamental importância retomá-las. Para

Vergnaud (2007, p. 299) os invariantes operatórios são a evidencia de como os

conhecimentos se formam, utilizando-se os conhecimentos explícitos e um

subconjunto de conhecimentos explicitantes, mas para isso é necessário relações do

objeto com o sujeito. Vergnaud (2007) utiliza a figura a seguir para representar tais

ideias:

69

Figura 10- Diagrama Invariantes Operatórios, Conhecimento Consciente explicitante, explícito

e formalizado

Fonte:VERGNAUD (2007, p.299)

Portanto, o teorema em ação é definido pelo autor como:

[...] relações matemáticas que são levadas em consideração pelos estudantes quando eles escolhem uma operação ou sequencia de operações para resolver um problema. [...] são teoremas no sentido convencional do termo, por que a maioria deles não são explícitos. Eles estão subjacentes aos comportamentos dos estudantes e seu âmbito de validade é normalmente menor que o âmbito dos teoremas. Eles podem mesmo serem errados. Contudo um teorema em ação pode ser considerado como tendo aplicação apenas num conjunto de problemas.(VERGNAUD, 1988, p.144)

Para melhor entendimento utilizaremos o exemplo já relatado anteriormente

sobre a quantidade de farinha citado pelo autor no respectivo evento. O autor

exemplifica que “o teorema em ação é aquele que vai além do conceito em ação”,

pois sabemos que podemos multiplicar o resultado da divisão 972.000 : 120 por 100.

Cabe ressaltar que, como afirma Vergnaud, “o aluno ao solucionar o problema da

Farinha escolhe determinada operação para resolvê-la.” ( VERGNAUD, 2010).

Para ampliar a compreensão da definição do Teorema em Ação

apresentamos alguns exemplos citados pelo autor com resoluções de alunos

fictícios.

70

“Claudia quer comprar 4 carrinhos plásticos. Eles custam 5 doláres cada.

Quanto ela precisa ter para pagar?” (VERGNAUD, 1988, p.144)

Resoluções dos alunos:

ALUNO 1 ALUNO 2

ALUNO 3

Figura 11 - Respostas dos alunos

Fonte: Acervo `Pessoal

Observamos que três alunos fictícios selecionam diferentes meios para

solucionar a situação problema proposta, alguns resolveram utilizando o algoritmo

outro a representação figural. Notamos assim que sua resolução esta diretamente

ligada ao modo como os esquemas de raciocínio do aluno se desenvolvem.

Quanto ao conceito em ação Vergnaud (1990) afirma que:

Estes conceitos são raramente explicitados pelos alunos, ainda que construíram para si na ação: são os conceitos-em-ato, ou categorias em ação. O tipo lógico de conceitos-em-ação é diferente do tipo de lógica do teorema em ação: são funções proposicionais. A relação entre funções proposionais e proposições é uma relação dialética: não há funções proposicionais e proposições não funções proposicionais sem proposições. Da mesma maneira conceito-em-ação e teorema-em-ação se constroem em estreita relação.”(VERGNAUD,1990, 138)

71

Portanto, o conceito em ação se constitui, juntamente com o teorema em

ação, necessitando um do outro mutuamente.

Vergnaud (2011) classifica o conhecimento como estando subdividido pela

forma operatória e pela forma predicativa, a primeira são as ações desencadeadas

em uma dada situação, exemplo, solução das atividades em uma situação problema.

Quanto à segunda forma, o autor relata que se trata da expressão lingüística sendo

expressa pelos enunciados, exemplo, os enunciados das situações-problema.

Todas as reflexões anteriores remete o autor à idéia de que o conceito é

formado pela tríade:

[...] de três conjuntos : C (S,I,R), S : conjunto de situações que dão sentido ao conceito (a referencia), I: Conjunto de invariantes sobre os quais as respostas da operacionalidade dos esquemas (o significado) e R: (conjunto das formas linguísticas e não linguísticas que permitem representar simbolicamente o conceito, suas propriedades, as situações e os procedimentos de tratamento ( o significante). (VERGNAUD, 1990, p.139)

Podemos observar nos dois exemplos a seguir, no qual a situação- problema

apresentada seria S situação da realidade do aluno e o I e o R seriam as

representações dadas ao problema abordado, especificamente significado e

significante. No segundo exemplo apresentamos uma situação específica do Campo

Conceitual Multiplicativo, foco do nosso estudo.

O Exemplo 1, abordado no livro “Repensando a Adição e Subtração:

contribuições das Teorias dos Campos Conceituais” retrata a representação dos

Números Naturais.

. Figura 12 - Exemplo I da triáde S, I, R Fonte: MAGINA, CAMPOS, NUNES E GITIRANA- ( 2008, p.9)

72

As autoras do livro explicam o exemplo relatando que “os dois signos

representam a mesma ideia (um significado) do número cinco” ( MAGINA, CAMPOS,

NUNES E GITIRANA, 2008, p.5) e indicam que o 5 e V como sendo R, o

significante representando o mesmo valor cinco que seria o I – significado e as

cartas representadas seriam o S - situação da realidade: “Quantas cartas estão

representadas abaixo?”.

Um segundo exemplo, agora envolvendo o Campo Conceitual Multiplicativo é

relatado por Vergnaud utilizando a seguinte situação:

“Pedro tem R$ 12,00 e quer comprar pacotes de bala a R$ 4,00 o pacote.

Quantos pacotes ele poderá comprar?” (VERGNAUD, 2009, p.240)

12 reais ou R$ 12

4reais ou R$ 4 4reais ou R$ 4 4reais ou R$ 4

Consideramos que a situação problema apresentada refere-se a S (situações

que dão sentido ao conceito), os algarismos identificando as notas do sistema

monetário referem-se ao R (significante), pois representam os valores apresentados

e as diferentes escritas indicando o sistema monetário “4 reais e R$4” referem-se o I

(significado).

Este exemplo nos permite observar que o funcionamento das operações com

a prática automatizam-se. Vergnaud (1990) acrescenta que :

Automatização é claramente uma das manifestações mais viáveis da personagem invariante da organização da ação. Mas uma serie de decisões conscientes pode também ser objeto de uma organização invariante para uma classe de situações dadas. Além disso, a automação não impede que o sujeito mantenha o controle de condições em que esta operação é apropriada ou não (VERGNAUD, 1990, p.135).

73

Com este exemplo notamos que os esquemas são “algoritmos e objetos dos

mesmos”. Assim, o autor cita que “os esquemas são frequentemente eficazes, mas

nem sempre efetivos”. Observamos que estas situações promovem a mudança e

adaptação dos esquemas utilizados.(1990,p.135)

3.2.2.1 Campo conceitual

Já em 1982, Vergnaud relata em seus estudos que “as crianças constroem

um campo conceitual através da vida diária e na escola” (p.43) e, portanto, o

entendimento deste campo conceitual permite conhecer sobre “quais estruturas e

classes de problemas são mais facilmente entendidos pelos alunos” (p.43)

Segundo Vergnaud os campos conceituais estão fortemente ligados às

situações. Para o autor um campo conceitual é definido por meio de um conjunto de

situações, que segundo seus estudos apresentam uma vantagem, ou seja tal:

“[...] abordagem através de situações permite gerar uma classificação que é baseada no cognitivo, analise de tarefas e procedimentos que podem ser postos em jogo [...] (VERGNAUD, 1990, p.140)

Cabe ressaltar que segundo o autor existem vários campos conceituais: o

aditivo, o multiplicativo, o da eletricidade, o da mecânica, o da lógica das classes, o

da geometria projetiva e euclidiana, dentre outros.

Nesta pesquisa, como já citado anteriormente, estudaremos o campo

conceitual multiplicativo.

3.2.2.2 O Campo Conceitual Multiplicativo

Reiteramos que o campo conceitual é formado por “um conjunto de situações,

cuja apropriação requer o domínio de vários conceitos de naturezas diferentes”

(VERGNAUD, 1988, p.141)

Especificamente, o campo conceitual multiplicativo é formado por situações

que requerem uma multiplicação, uma divisão ou mesmo a combinação de ambas.

Estão entre estas situações os problemas simples e os de múltiplas proporções.

Lembramos que vários conceitos matemáticos necessitam do domínio dessas

74

operações. Ressaltamos que os principais conceitos que envolvem as estruturas

multiplicativas são: magnitude, escalar, relação e proporção, função e variável,

função linear – bilinear e não linear, coeficiente constante, número racional, análises

dimensional, espaço vetorial e combinação linear, dependência e independência.

Note-se que as estruturas aditivas diferem-se das estruturas multiplicativas,

pois “as relações de base mais simples não são ternárias são quaternárias, porque

os problemas mais simples de multiplicação e divisão implicam na proporção simples

de duas variáveis uma em relação à outra” (VERGNAUD , 1990, p.144).

Vergnaud (2010) relata que as estruturas multiplicativas baseiam-se na

“proporcionalidade simples, na proporcionalidade dupla e múltiplas”, nos diz ainda

que situações envolvendo esta estrutura são complexas para os alunos.

Com isso, verificamos a importância de apresentar aos alunos as quatro

classes de problemas elementares do campo multiplicativo

Proporcionalidade Simples

Multiplicação

l a

b ?

Partição Quota

l ? l a

b C ? c

Quarta Proporcional

a c

b ?

Figura 13 - Quatro problemas elementares das estruturas multiplicativas

Fonte : VERGNAUD ( 2007 p. 22)

Neste sentido, Vergnaud (1997) apresenta exemplos desses problemas:

75

Exemplos por Vergnaud (1997)

A multiplicação Josie compra 4 bolos . O preço de um bolo é de 7

francos. Quanto deve pagar?

Bolos Francos

1 7

4 ?

multiplicação

A divisão- partição

(busca de um valor ou

objeto)

Arthur pagou 30 francos para 6 ágatas azul. Qual é

o preço de uma ágata?

ágatas francos

1 ?

6 30

Divisão - partição

A divisão de quotas (o n°

de pesquisas unidade ou

objetos)

Bernard quer comprar ágatas. Ele tem 40 milhões

de francos. O custo por ágata é 5 milhões de reais .

Quanto ele pode comprar?

ágatas Francos

1 5

? 40

Divisão - quotação

O quarto proporcional Marie - Helene pagou 72 francos para 12 ovos de

chocolate. Sua prima Sófhie quer comprar 18.

Quanto será que vai pagar?

76

Ovos de chocolate Francos

12 72

18 ?

Proporção

Quadro 5- Exemplos de Problemas do Campo Multiplicativo

Fonte : VERGNAUD (1997) apud SILVA (2010, p.85)

3.2.3 Cálculo relacional e numérico

Reiteramos que no campo conceitual aditivo, Vergnaud (1990) relata que se

trata do “conjunto de situações que requerem uma adição ou subtração, ou a

combinação das duas operações [...].”(p.139). Em muitos artigos, palestras e textos

sobre esse campo conceitual o autor explana sobre os cálculos: relacional e

numérico. Tentaremos relacionar esses conceitos ao campo conceitual

multiplicativo, já que Vergnaud (1982) considera “essencial distinguir dois tipos de

cálculo – relacional e o numérico, para que possamos interpretar o comportamento

das crianças que se defrontam com problemas aritméticos elementares” (p.43).

No cálculo numérico estão inseridas as quatro operações elementares

(adição, subtração, multiplicação e divisão) e mesmo representações em que os

alunos utilizem para contagem e solução do problema dado, e no cálculo relacional

,estão relacionadas as operações de pensamento para resolver determinada

situação-problema.(VERGNAUD,1982)

Vergnaud (2009, p.32) acrescenta ainda que: “o calculo relacional consiste

em simples constatações que podemos fazer sobre a realidade. Frequentemente

elas também não são constatáveis e devem ser inferidas ou aceitas “. O autor nos

diz que este cálculo se aplica a todos os tipos de relação: binária, ternária,

quaternária.

Além disso, estas relações podem ser apresentadas por teoremas e

inferências, que podem ser consideradas hipóteses observadas no cotidiano que o

auxiliem os alunos na solução da situação problema proposta. Vergnaud (1982 )

nomeia essas hipóteses de teorema em ação.

77

No campo conceitual aditivo possuímos uma variedade de artigos e livros que

exemplificam a diferença entre cálculo relacional e o numérico. Selecionamos o

exemplo dado por Magina et. al. 2008 em seu livro “Repensando a Adição e a

Subtração: contribuições das teorias dos Campos Conceituais de Vergnaud”, p. 24,

representada a seguir:

Problema Diagrama e Cálculo Relacional

Cálculo Numérico

Carlos tinha 7 reais e ganhou de sua avó 4 reais. Quanto ele tem agora?

7

Aplicar uma transformação positiva direta ao estado inicial

ADIÇÃO 7+4=11

Quadro 6 Exemplo de Teorema em ação

Fonte : MAGINA, CAMPOS, NUNES E GITIRANA ( 2008, p.24)

Como nesta pesquisa estamos estudando o Campo Conceitual Multiplicativo,

apresentamos os exemplos anteriores com a finalidade de compreender melhor a

diferença entre o cálculo numérico e relacional. Para exemplificar tais cálculos no

campo multiplicativo, apresentamos alguns exemplos com a resposta de alunos

fictícios:

Uma doceria vende 6 doces por 5 dólares ao invés de 1 dólar por doce. João

quer 24 doces para sua festa. Quanto ele terá que pagar? (VERGNAUD,1988,

p.144).

Podemos encontrar os seguintes cálculos numéricos realizados por alunos

fictício:

+ 4

78

Aluno 1

Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4

Figura 14 Resolução dos alunos fictícios exemplo cálculo numérico

Fonte: Acervo Pessoal

Observamos que na resolução acima o aluno apresenta quatro modos de

resolução. Dois utilizando operações, um utilizando a representação por desenho

com possível esquema de contagem e um utilizando uma tabela.

“Um grupo de 50 pessoas vão passar 28 dias de férias no campo. Eles

precisam comprar uma quantidade de açúcar suficiente. Eles leram que a média de

consumo de açúcar por semana para 10 pessoas é de 3,5 Kg.Quanto de açúcar eles

precisam comprar?”(VERGNAUD, 1988, p.145)

Aluno 1

79

Figura 15- Respostas do aluno fictício

Fonte: Acervo Pessoal

Notamos que para solucionar a situação proposta o aluno deverá ter o

conhecimento temporal ao saber a quantidade de dias da semana e realizar uma

relação com os dados apresentados no problema. Vê-se, portanto, que o aluno para

chegar `a solução do mesmo necessita de várias correlações entre os seus

conhecimentos, demonstrando hipóteses do que poderá ser realizado. Verificamos

estas hipóteses quando o aluno faz a representação em desenho e a partir daí

consolida o cálculo.

Cálculo relacional do 1º exemplo:

Doces Dinheiro

6 5

24 ?

Quadro 7 Esquema de cálculo Relacional I

Fonte : VERGNAUD (1988, p.146)

Figura 16 Esquema do Cálculo Relacional I

6 doces 5 doláres

24 doces

X4 X4

20 doláres

80

Fonte : VERGNAUD (1988, p.146)

Cálculo relacional do 2º exemplo:

Figura 17 Esquema do cálculo relacional II

Fonte: Adaptado de VERGNAUD (1988,p. 147)

Acreditamos que estes exemplos vêm esclarecer o que compõe os

respectivos problemas do campo multiplicativo.

Portanto, com a análise das respostas dos professores juntamente aos

aspectos históricos das tendências educacionais pela qual estes profissionais

vivenciaram e foram de certo modo por eles influenciados será possível identificar e

justificar as suas práticas profissionais.

Depois do relato destas pesquisas e da fundamentação teórica conclui-se e

fundamenta-se a importância de tal estudo para a ampliação dos aspectos do

conhecimento profissional docente, que será verificado no estudo de caso com um

grupo de professores que contribuíram para análise do conhecimento profissional

docente em uma escola bem-sucedida.

3.2.1 Estudos anteriores: Campo Conceitual Multiplicativo

No tocante ao objeto matemático, observamos que há grande diversidade

de direcionamentos, ou seja, encontramos em nossa revisão de literatura desde a

construção do número, geometria, linguagem matemática, frações, campo

10 pessoas 3,5 Kg de açúcar

X 5

50 pessoas

3,5 Kg de açúcar

3,5 kg de açúcar

3,5 Kg de açúcar

3,5 Kg de açúcar

3,5 Kg de açúcar

X 5

17, 5 kg de açúcar

X 4

+

17, 5 kg de açúcar

17, 5 kg de açúcar

17, 5 kg de açúcar

17, 5 kg de açúcar

70 Kg

+

1 semana

2 semanas

7 dias

3 semanas

4 semanas

14 dias

21 dias

28 dias

81

multiplicativo e outros temas. Todavia, vale ressaltar que não deparamos nessas

dissertações ou teses, trabalhos considerando o objeto matemático

“proporcionalidade”. Assim sendo, trataremos de um assunto ainda pouco estudado

na última década (proporcionalidade). No entanto, não podemos deixar de lembrar

que se trata de um tema de fundamental importância para o ensino e aprendizagem

em Matemática.

Dos trabalhos descritos apresentaremos quatro pesquisas, as quais

consideramos ter aderência com o tema proposto neste estudo: Campo Conceitual

Multiplicativo.

Nunrberg (2008) realizou um estudo com a temática “Tabuada: significados

e sentidos produzidos pelos professores das Séries iniciais do Ensino Fundamental”.

Em sua pesquisa procurou “verificar o lugar que a tabuada ocupa na estrutura da

atividade de ensino e aprendizagem, bem como suas implicações no processo de

apropriação conceitual” (NUMBERG, 2008, p. 6). A pesquisadora utilizou-se de

entrevistas semiestruturadas com doze professores da rede publica de Ludgero. Seu

estudo concluiu que a tabuada se manifesta como ação pedagógica, que há um

tempo destinado a seu ensino, que este segue uma sequência escolar, sendo

indispensável seu conhecimento para o procedimento algoritmo da multiplicação e

divisão. Além disso, o estudo aponta que, na maioria das vezes, os procedimentos

realizados pelos professores são recursos didáticos, exercícios escritos e

verbalização.

Analisa, ainda, quais fatores positivos e negativos relativos à tabuada e os

processos de ensino e aprendizagem da Matemática são indicados pelos docentes

analisados. O fator positivo relacionou-se à sua utilização e praticidade. Segundo os

professores, a utilização da tabuada poderia favorecer uma maior agilidade na

resolução das situações-problema. Quanto ao fator negativo, a autora chama a

atenção para as lembranças dos docentes, posto que eram negativas as

experiências destes professores quando eram alunos.

Para ampliação da nossa revisão, selecionamos um estudo sobre a divisão.

Soares (2007) realizou sua pesquisa intitulada “O ensino desenvolvimental e a

aprendizagem de Matemática na 1ª fase do Ensino Fundamental”, cujo objetivo foi

investigar como organizar o ensino de Matemática para que ocorra melhor

82

aprendizagem dos alunos. A metodologia utilizada foi a aplicação da teoria

desenvolvimental aplicada por uma professora à sua classe. A autora identificou as

dificuldades de alunos das 3.ª e 4.ª séries do Ensino Fundamental com a

Matemática, quando desenvolvem a divisão com números naturais. A finalidade

desse estudo foi propor e implementar as etapas de um Ensino Desenvolvimental

para aprendizagem de um objeto de conhecimento da Matemática. Sua base teórica

apoiou-se nos estudos de Davydov, fundamentado no método dialético do ensino

com a mediação do aluno com o objeto de aprendizagem. Concluiu que, com a

utilização do procedimento Desenvolvimental houve uma melhora da aprendizagem,

o aluno entendeu o conceito nuclear da divisão de modo significativo. Verificou

também que as dificuldades não estão ligadas às estruturas físicas, materiais ou

socioeconômicas dos alunos, mas surgem de múltiplos fatores, sendo um deles o

modo como a Matemática vem sendo ensinada aos alunos. Essa pesquisa permitiu,

segundo Soares (2007), que o professor refletisse sobre sua prática pedagógica,

principalmente diante de tantas dificuldades como salas superlotadas, indisciplina

dos alunos, falta de preparo e tempo dos professores para que estudem e se

preparem para a mudança. A autora relata que :“Fica difícil ensinar a pensar

quando não se sabe pensar. Isso ocorre por fatores ligados a própria formação do

professor do professor ele mesmo é fruto de um ensino tradicional”(SOARES, 2007,

p.102)

Outras dissertações colaboram com nosso estudo, como a de Rodrigues

(2006), que pesquisou sobre a resolução de problemas em aulas de Matemática

para alunos de 1.ª a 4.ª séries do Ensino Fundamental e de como atuam seus

professores. Sua pesquisa foi intitulada “Resolução de problemas em aulas de

Matemática para alunos de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental e atuação dos

professores”. O objetivo desse estudo foi verificar e contribuir para o

aperfeiçoamento de ações de formação de professores, no qual se utilizou da

reflexão sobre a prática docente. A metodologia adotada foi a análise da gravação

dos alunos durante o processo de ensino e aprendizagem, entrevistas com

professores e intervenções em reuniões de HTPC. A finalidade foi possibilitar aos

profissionais envolvidos a reflexão sobre o ensino a fim de constatar se tal ação

favoreceu a modificação das suas concepções sobre as práticas. Nesse processo,

observou-se principalmente se o educador permitia ao aluno explanar suas ideias.

83

O estudo concluiu que as professoras têm suas concepções de ensino e

aprendizagem focadas no aluno, que as reuniões de HTPC (Horário de Trabalho

Pedagógico Coletivo) são um importante espaço de formação continuada, mas não

são a principal causa para que ocorra uma mudança efetiva. Observou-se ainda

que, para que os profissionais mudem sua prática, é preciso proporcionar condições

para tal mudança, fazendo surgir, então, a necessidade de promover momentos de

reflexão sobre a prática docente. Notou-se ainda que, no tocante à resolução de

problemas, os professores acreditavam que para ser resolvida a situação-problema

deveriam ser utilizados os algoritmos, e que estes eram usados para testar a

aprendizagem sobre os conteúdos matemáticos abordados. Assim sendo, concluiu-

se que as situações-problema não eram vistas, pelos professores investigados,

como uma metodologia de ensino. Essa questão sugere um descompasso entre o

discurso e a prática dos sujeitos de pesquisa. Portanto, a autora relata que a

reflexão sobre a pratica, deve ser essencial na formação de professores.

Araújo (2003) investigou “A passagem da 4ª para 5ª série: o que pensam

professores dessas series sobre os conteúdos essenciais de Matemática”. O

objetivo dessa pesquisa foi investigar que conteúdos de Matemática da 4ª serie

consideram essenciais nessa série e por quê? Como os avaliam? E de que modo os

professores da 5ª série no início do ano avalia seus alunos que precisam de reforço

nos conteúdos e que conteúdos são considerados essenciais. A autora pesquisou

dois professores da referida série e coletou os dados em quatro momentos

diferentes, o primeiro conversa com os professores da referida serie sobre quais

conteúdos são essenciais na visão desses participantes, no segundo momento

aplicou uma prova aos alunos no inicio do ano letivo, no terceiro momento

entrevistou a professoras, no quarto momento solicitou que cada professora

elaborasse uma avaliação contendo os conteúdos essenciais, no qual a

pesquisadora aplicou as respectivas provas em cada serie.

Nesse estudo, evidencia-se que os professores diferenciam os valores que

atribuem aos conteúdos matemáticos que ensinam e o modo em que os avaliam.

Conclui-se que o professor de 4.ª série se importa sempre como o aluno pensou e

resolveu a questão. Entretanto, alguns exercícios das avaliações propostas levam o

aluno a responder mecanicamente, o que caracteriza que este profissional valoriza e

dá ênfase à resolução de problemas com foco nas operações. Os testes e as provas

84

continuam sendo o principal instrumento utilizado pelos professores para medir o

conhecimento. Quanto aos conteúdos considerados essenciais pelos professores,

foram citados a resolução com foco nas operações, a composição de formas

geométricas, representação de uma porcentagem em uma figura, entre outros.

Observa-se ainda que a autora percebeu que existe insegurança dos professores no

domínio do conteúdo matemático.

Localizamos em outro banco de dados uma pesquisa desenvolvida em 1997

por Canoas, que nos traz contribuições significativas. Seu estudo foi intitulado “O

campo conceitual multiplicativo na perspectiva do professor das séries iniciais (1ª a

4ª série), cujo objetivo foi investigar quais as representações do professor das séries

iniciais do Ensino Fundamental no campo multiplicativo. A coleta de dados foi

realizada em dois momentos, o primeiro com a aplicação de teste inicial e

desenvolvimento de uma oficina com duração de 4 horas e o segundo momento foi

aplicado testes em três partes a primeira voltada à interpretação de uma situação

problema pré-estabelecida, a segunda na interpretação dos problemas e a terceira

centrada na competência algorítmica. A autora realizou o teste com 44 professores

de escola pública e estudantes no ultimo ano do curso de magistério,sendo que 28

participaram da primeira fase e 16 da segunda fase. Cabe ressaltar que nesse

estudo foi realizada uma pesquisa sobre os livros didáticos mais utilizados e

solicitados no mercado editorial, cujo objetivo foi identificar aspectos que

influenciassem na pratica pedagógica dos professores. A autora analisou ainda

dados do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) de 1993 , verificando

que 63,2% dos professores utilizam os livros didáticos . Houve a indicação de sete

livros, entre eles está o “Mundo Mágico: Matemática”17, da Editora Ática. Ela

classifica os livros em 5 categorias e identifica exemplos que ocorriam. As

categorias na qual a autora classificou foi “Continuidade sim, descontinuidade não”,

“Se divido reparto em partes iguais (associação a ideia equitativa da divisão)”,

“Multiplicar números racionais, o que significa?”, “Divisão de números racionais o

que significa?” e “Problemas com problemas”. Identificou-se que todos os livros

analisados possuíam pequenos erros que de certo modo poderiam influenciar

erroneamente os professores. Porém o importante é a leitura e reflexão sobre os

materiais didáticos utilizados.

17

Este livro foi indicado por um professor na entrevista e será comentado no Capítulo 5

85

Canôas (1997) obteve como resultado de sua pesquisa que as

representações dos professores são referencias para os alunos no desenvolvimento

do conceito matemático. A autora analisou os professores no campo psicológico e

observou que os professores não conseguem dar significado ao resto da divisão,

percebeu-se que os discursos dos docentes estão relacionados com a forma de

como ensinar e não ao que se quer ensinar, possuindo assim dificuldade de

contextualizar um problema, apresentando ainda dificuldade na escrita decimal e

ideias centradas no campo aditivo. Quanto ao conhecimento matemático, em seu

estudo, ela verificou que os educadores possuem imprecisão ao elaborar as

situações-problema e persistem na operação incorreta. Quanto à analise

profissional, houve a utilização dos modelos e exemplos de regras que aparecem

nos livros didáticos. Cabe ressaltar que a principal ferramenta do professor é a

maneira como este interage com o conteúdo, com isso o livro didático é um

complemento do processo de ensino e aprendizagem. Portanto, há a necessidade

do professor dominar o conteúdo para ensinar. Assim a autora acredita que as

formações continuadas devem ser modificadas.

Com o intuito de ampliar nosso conhecimento sobre o conteúdo matemático

proporcionalidade, e por encontrarmos poucas dissertações que a relatassem,

pesquisamos no acervo bibliográfico de outras instituições e descobrimos a

dissertação de Floriani18 (2004) que, apesar de seu estudo ter como público-alvo o

Ensino Fundamental (6.º ao 9.º anos) e o Ensino Médio, traz dados significativos que

nos ajudaram na pesquisa.

Floriani (2004) apresenta as várias estratégias que os alunos do Ensino

Fundamental e Médio adotam para resolver problemas multiplicativos. Sua pesquisa

é intitulada “Resolução de problemas de proporcionalidade: um estudo com alunos

do Ensino Fundamental e Médio”. O autor analisa as estratégias utilizadas pelo

estudante para resolver problemas que envolvem proporcionalidade. O objetivo

desse estudo foi descrever e caracterizar as várias estratégias que estudantes do

ensino fundamental e médio utilizam para resolver problemas multiplicativos que

envolvem conceito de proporcionalidade. O estudo foi realizado com 82 alunos de

uma escola privada, na cidade de Itajaí – SC, com faixa etária de 12 a 17 anos.

18

Esta pesquisa nos forneceu subsídios para o aprofundamento do nosso trabalho.

86

Esses alunos resolveram nove situações-problema envolvendo conceitos

multiplicativos.

O autor utiliza como referenciais teóricos os estudos de Vergnaud sobre os

campos aditivos e multiplicativos, além de Behr, Lesh e Post. Como conclusão, o

autor identificou que, “em vários problemas os alunos muitas vezes não conseguem

reconhecer a proporcionalidade como uma relação multiplicativa, por outro lado,

houve a tentativa no sentido de utilizar relações aditivas para resolver estes

problemas” (FLORIANI, 2004, p. 5).

Continuando nossa revisão de literatura, observamos em outros bancos de

dados que, em 2010, foram defendidos três trabalhos que tratavam de questões

relacionadas ao ensino e aprendizagem do Campo Multiplicativo. Tais estudos

também envolvem o mesmo segmento da nossa investigação, ou seja, os anos

iniciais do Ensino Fundamental. Por se tratar de pesquisas que utilizaremos em

nossa análise, consideramos importante apresentá-las.

Starepravo (2010) pesquisou sobre “A multiplicação na escola fundamental I:

Análise de uma proposta de ensino”. O seu objetivo foi propor uma metodologia de

ensino da multiplicação fundamentada no construtivismo, Segundo as ideias de

Piaget. Como instrumento para coleta de dados, a autora promoveu uma

intervenção durante um semestre, contendo 21 aulas, em uma turma da 3.ª série, no

município de Curitiba. O foco do trabalho foi a multiplicação e divisão. A

multiplicação foi utilizada em problemas de proporcionalidade simples e a divisão em

algumas situações como operação inversa da multiplicação. As aulas foram

gravadas em vídeo e anotações de diário de pesquisa.

A autora fez observações interessantes quanto aos resultados do

desempenho de seus alunos. Segundo Starepravo (2010) houve:

[...] uma interação de qualidade construtiva, uma vez que a intervenção teve efeito de aperfeiçoamento sobre os sujeitos envolvidos. Verificamos a substituição progressiva de estratégias de contagem por estratégias de cálculo, aquisição de competências aritméticas e interações entre as crianças (STAREPRAVO, 2010, p. 9).

Starepravo (2010) aponta também para uma série de mudanças no que se

refere à relação dos estudantes com o conteúdo matemático, ou seja, os alunos

87

mudaram suas atitudes quanto “à relação com a Matemática, forma de tratar os

problemas apresentados, comunicação e expressão em sala de aula”. A autora

ainda chama a atenção para o fato de sua pesquisa mostrar a relevância do erro, e

sua utilização como estratégia didática. Afirma ainda que, em seu estudo, a

avaliação foi essencial nos processos de ensino e de aprendizagem.

Sobre essa temática, a dissertação de Silva (2010) nos apresenta dados

interessantes. A autora estuda as estruturas multiplicativas nos guias e orientações

curriculares no Ler e Escrever, documento-base para o currículo das escolas

estaduais. Silva sustenta que tais orientações apresentam como base a teoria dos

campos conceituais de Vergnaud (1991), relatando sobre a proporcionalidade neste

foco. O objetivo almejado foi realizar um estudo diagnóstico das estruturas

multiplicativas nas séries iniciais da Educação Básica a partir do Programa Ler e

Escrever da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Silva (2010) desenvolveu uma pesquisa com alunos da 3.ª série do Ensino

Fundamental da rede pública do Estado de São Paulo. Realizou uma sondagem

inicial utilizando-se do Guia de Orientações do Programa Ler e Escrever, e

diagnosticou algumas dificuldades dos alunos na resolução de problemas

envolvendo as estruturas multiplicativas. A partir desse diagnóstico foi elaborada

uma sequência de atividades para intervenção, utilizando o software ClicMat. Em

seguida, a autora e a professora da sala fizeram a intervenção. Depois de um mês,

procedeu-se a uma nova sondagem, contendo problemas de Combinatória,

Configuração retangular, Proporcionalidade e Comparação e por meio dessa

interação pôde-se notar que, apesar do desenvolvimento de algumas ideias do

raciocínio multiplicativo, os estudantes ainda demonstravam encontrar muitas

dificuldades quanto à compreensão de situações envolvendo a proporcionalidade e

melhor desempenho nas soluções que envolviam combinatória. Notou-se ainda que

nem todos os alunos indicavam a operação necessária para a resolução do

problema. A autora relatou que, a forma como Gerard Vergnaud descreveu, sobre as

estruturas multiplicativas podem auxiliar na ação pedagógica dos professores, assim

como no desenvolvimento do discurso oral da Matemática, que é uma das

atividades, assim como o calculo mental e a utilização de software multimídia, que

possibilitam conhecer as dificuldades e desenvolver o raciocínio do aluno.

88

Analisamos ainda estudos como os de Miranda (2009) intitulado

“Pensamento proporcional: uma metanálise qualitativa de dissertações”, cujo

objetivo foi fazer uma síntese das investigações que focalizam as expressões

matemáticas geradas (ou reflexos da) manifestação e desenvolvimento do

pensamento proporcional. A coleta de dados foi realizada com um estudo

documental das dissertações de mestrado do estado de São Paulo que visam

melhorar o pensamento proporcional. Foram feitos fichamentos e análise dos

documentos. Em seu estudo, a autora define a proporcionalidade de acordo com a

pesquisa de Behr, Lesh e Post (1988), acrescentando que estes sugerem que

problemas de razões e proporções sejam iniciados pelos alunos utilizando-se a

multiplicação e divisão. Considerando ainda que as ideias referentes à

proporcionalidade são consideradas fundamentais em todas as disciplinas.

A autora relata que, para o conteúdo ser considerado essencial, são

necessários os seguintes aspectos: ter valor de excelência, ou seja, ser importante

para utilizar este conhecimento nas ações escolares e cotidianas, relacionar o

conhecimento prévio dos alunos ao conhecimento matemático e realizar uma

sequência de atividades e ideias matemáticas do decorrer das séries (MIRANDA,

2009, p. 24-25).

Miranda indica ainda uma importante relação presente na

proporcionalidade, ou seja, ela se apresenta como elo entre a aritmética, o

pensamento algébrico e geométrico. Seu estudo chama a atenção para o fato de

que documentos curriculares de orientação federal, como Parâmetros Curriculares

Nacionais – PCN (1997), sugerem o trabalho desta natureza a partir do 2.º ciclo, ou

seja, 3.ª e 4.ª séries ou 4.º e 5.º anos do Ensino Fundamental, no qual relacionam o

ensino de proporcionalidade às ideias de multiplicação e divisão.

No ano de 2011, identificamos o estudo de Rocha, cuja a temática envolve a

“Formação docente e o ensino de problemas combinatórios: diversos olhares,

diferentes conhecimentos”, no qual a autora analisou quais eram os conhecimentos

que os professores do Ensino Fundamental e Médio possuíam sobre a análise

combinatória e quais eram os aspectos de seu ensino. Para realizar a pesquisa,

elaborou-se um estudo piloto que permitiu adequar os tipos de problemas de

combinatória, houve a aplicação de entrevistas semiestruturadas com professores

89

do setor público e privado do Recife, no qual inicialmente pensou-se em um estudo

mais abrangente composto por 24 professores, mas devido a inviabilidade do grande

números de dados, decidiu-se realizar o estudo com 6 professores, sendo 2 dos

anos iniciais do Ensino Fundamental, 2 dos anos finais do Ensino Fundamental e 2

do Ensino Médio. Os professores responderam questões que envolviam o objeto

matemático da análise combinatória, analisaram os procedimentos dos alunos e as

formas de ensino para solucionar as dificuldades. As entrevistas foram gravadas em

áudio identificando o perfil profissional desses docentes como: experiência de

trabalho, tipo de instituição que lecionam e formação inicial e continuada.

Rocha (2011) obteve como resultado que os professores veêm a

necessidade de pré-requisitos para o ensino de combinatória. Identifica ainda que

mesmo diante das formações os professores apresentam dificuldade em diferenciar

os problemas de arranjo e combinação. Expõe que os professores dos anos iniciais

identificam como problema a interpretação do enunciado. Além disso, quanto à

correção das estratégias do aluno, os docentes demonstram falta de conhecimento

dessas diferentes resoluções. Evidencia que as diferentes estratégias são

escolhidas pelos educadores de acordo com o nível de dificuldade do problema e o

ano de escolaridade do aluno. Portanto, a autora indica que neste item é

demonstrada a relação de suas experiências de formação e pratica docente. Conclui

ainda que é preciso maior conhecimento dos professores sobre esse objeto de

ensino, assim como as diferentes estratégias de solução, para que ocorra um melhor

desenvolvimento do raciocínio combinatório.

Para complementar nosso estudo, pesquisamos alguns artigos, e pelo fato de

terem sido utilizados em nossa análise de dados, reputamos essencial apresentá-

los.

Borba, Selva, Luna, Silva e Ferreira (2008), no artigo “Sondando o

conhecimento de professoras sobre o desenvolvimento conceitual multiplicativo”,

relatam sobre uma pesquisa realizada na Rede Pública de Recife com dez

professoras de 3.ª e 4.ª séries, com o intuito de investigar quais eram as concepções

de professores das séries iniciais quanto aos problemas do campo multiplicativo. As

autoras verificaram quais eram as questões, na concepção das professoras,

consideradas mais difíceis e fáceis para resolução dos alunos, investigando os

90

possíveis erros, semelhanças e diferenças entre as questões e possíveis

intervenções.

Borba et al. (2008) ressaltam:

Assim, se as diferenças entre o raciocínio aditivo e multiplicativo, bem como as especificidades de cada um destes campos, forem desconhecidas por parte de professores das séries iniciais e de formadores destes professores, os alunos deste ensino poderão desenvolver concepções equivocadas ou,

no mínimo, limitadas a respeito das operações de multiplicação e divisão (BORBA et al., 2008, p. 2).

Concluiu-se que estudos como este propiciam a reflexão sobre a formação

docente, porque indicam como professores analisam as produções matemáticas dos

alunos. Em seus estudos “as professoras entrevistadas apontaram como mais

difíceis problemas que a literatura da área também aponta como sendo os de maior

dificuldade, o que evidencia que as mesmas reconhecem as estruturas de maior

dificuldade de compreensão.” (p.12).

Portanto, os autores observaram que o estudo dos erros dos alunos podem

ajudar os professores a identificar suas dificuldades e a procurar meios para auxiliá-

los.

Em outro artigo, Leitão, Borba e Monteiro (2008), sob o título “A relevância

do saber matemático na ação cidadã: o campo dos números decimais”, discutem a

importância dos conteúdos matemáticos, em especial, os números decimais. Este

estudo foi elaborado com alunos que frequentavam o EJA ( Educação de Jovens e

Adultos ) por Silva & Monteiro (2000); Fantinato (2004) e Silva & Borba (2006).

Estes autores discutem o vínculo da Matemática com a cidadania, especificamente

quando trata dos números decimais. Enfatizam ainda a necessidade de desenvolver

os conteúdos com os números decimais por lidar com diversos contextos do

cotidiano. Afirmam que “grande parte das noções e habilidades matemáticas que

frequentemente utilizam no dia a dia, já dominam, razoavelmente bem” [...]

(2008,p.2), e chamam a atenção para o fato de os números decimais estarem

presentes nas ações sociais e por isso tendem a ser facilmente aprendidos pelos

estudantes.

Como conclusão, a comunicação aborda a importância de capacitar o

professor para desenvolver os conhecimentos dos educandos, de modo que seja

garantido que os estudantes construam os conhecimentos. Verifica-se que se deve

91

promover nos alunos o desenvolvimento do espírito matemático, registro escrito, a

diversidade de resoluções e representações, a estimativa, o palpite e o

fortalecimento da auto-estima .

Campos (2011) realizou uma Conferência Paralela na XIII Conferência

Interamericana de Educação Matemática – CIAEM. com a temática “Sobre o ensino

e aprendizagem de frações”. A apresentação teve por objetivo analisar o nível de

compreensão dos alunos e a ação dos professores no Ensino Fundamental I quando

consideram situações-problema que envolvam quociente e parte todo, além de

comparar esses resultados com pesquisas realizadas em outros países, promover

tarefas que possam ser desenvolvidas em sala de aula e oferecer aos docentes

elementos para trabalhar o conceito de frações.

A pesquisa foi realizada em 37 alunos do 4º e 5º ano em uma escola publica

da cidade de São Paulo e duas professoras de cada respectivo ano escolar.

Realizou-se uma intervenção de uma hora e meia com as professoras, para

explicação dos objetivos e procedimentos da pesquisa. Nas salas de aula foram

realizadas três sessões para compreender o nível de análise dos alunos nos

problemas propostos. O desenvolvimento da tarefa desse estudo foi embasado na

pesquisa de Vergnaud (1983, 1998, 2001) e em outros estudiosos que realizaram

suas pesquisas direcionadas aos números racionais, entre eles Kieren (1975),

Ohlsson (1988) e outros.

Campos (2011) relata ainda que “as situações de parte-todo, são muito

usadas no ensino de fração no Brasil”. Observamos que as práticas mais utilizadas

em sala de aula pelos professores são de “dividir uma área em partes iguais, a

nomear a fração como o número de partes pintadas sobre o número total de

partes”(p.2).

A autora observou que uma mudança metodológica pode auxiliar os alunos

na compreensão e desenvolvimento do conceito de fração envolvendo o quociente.

Evidenciamos que os teóricos e pesquisas abordados neste capítulo darão

base a este trabalho e esperamos que os aspectos citados tenham ampliado o

repertório e contribuído para o entendimento da pesquisa.

92

CAPÍTULO 4

OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

O vento é sempre o mesmo, mas sua resposta é diferente em cada folha. Somente a árvore seca fica imóvel entre borboletas e pássaros. (Cecília Meireles)

Para atender aos objetivos deste trabalho e responder nossa questão de

pesquisa optamos pelo estudo de caso, tendo em vista a singularidade da escola

selecionada em relação à maioria das escolas da Rede Estadual de Ensino de São

Paulo quando considerada a proficiência matemática dos alunos, mas, sobretudo a

evolução dos resultados na avaliação estadual- SARESP.

Nossa finalidade é a identificar quais são os conhecimentos dos professores

que ensinam Matemática para alunos do 5º ano do Ensino Fundamental em uma

escola que os alunos se destacaram na avaliação de Matemática do SARESP de

2009.

4.1 Nossa Pesquisa: um estudo de caso

Após a definição do objeto de pesquisa e do levantamento das perguntas

norteadoras, foi necessário pensar qual seria a escola investigada.

Para a escolha da escola, verificamos os resultados do SARESP de 2009 no

qual procuramos analisar, quais as escolas se destacaram com com maior índice.

Nesse levantamento procuramos quais instituições de ensino haviam superado o

índice de proficiência do ano anterior. Nesse momento, escolhemos a quinta melhor

escola classificada entre todas as escolas estaduais de São Paulo. Os índices de

proficiência em Matemática da escola escolhida em 2008 foi de 3,1788 e em 2009

de 7,4580, em uma escala que vai de 0 a 10.

Portanto, consideramos que esta pesquisa pode ser classificada como um

estudo de caso, pois analisando os aspectos da escola, verificamos que segundo

André (2008) fundamentado em Merriam (1988) há três características que podemos

observar na Unidade Escolar escolhida, ou seja, a:

93

“Particularidade... focaliza uma situação, um programa, um fenômeno particular. O caso em si tem importância, seja pelo que revela sobre o fenômeno, seja pelo que representa. E por esse tipo de estudo adequado para investigar problemas práticos, questões que emergem do dia a dia” (MERRIAM , 1988 p.14-15 apud ANDRE ,2008, p. 17, grifo nosso).

Consideramos um caso particular já que a Escola A, teve uma excelente

média no SARESP de 2009, conseguindo obter mais que o dobro da nota do ano

anterior. Essa instituição escolar foi considerada a quinta melhor escola do Estado

de São Paulo.

Outra característica apontada por André (2008) é a descrição. Segundo a

autora:

“Descrição significa que o produto final de um estudo de caso é descrição densa do fenômeno em estudo... O estudo de caso engloba um grande número de variáveis e retrata suas interações ao longo do tempo”(MERRIAM, 1988 p.14-15 apud ANDRE, 2008, p.18, grifo nosso).

Entre as variáveis analisadas estarão a utilização de recursos pedagógicos

diversificados, a formação continuada do HTPC, a preparação dos professores e

alunos para o SARESP, a metodologia utilizada pelos professores durante o

desenvolvimento de suas aulas, dentre outras.

Outra característica também observada nesse estudo é a Heurística. Segundo

André (2008):

“Heurística significa que os estudos de caso iluminam a compreensão do leitor sobre o fenômeno estudado. Podem revelar a descoberta de novos significados, estender a experiência do leitor ou conferir o já conhecido”.(MERRIAM1988, p.14-15 apud ANDRE, 2008, p 18, grifo nosso)

A pesquisa na Escola A permitiu ampliar e confirmar as descobertas de outros

estudos, assim como contribuir para um maior entendimento da relação entre

Conhecimento Profissional Docente e o bom desempenho dos alunos.

Assim sendo, analisar o Conhecimento Profissional Docente dos professores

da Escola A torna-se relevante, já que consideramos o trabalho do professor de

fundamental importância no processo de ensino e aprendizagem.

.

94

4.2 Breve Descrição das Etapas da Pesquisa

Assim, para atingir os objetivos propostos, desenvolvemos uma investigação

de cunho qualitativo que foi dividida em cinco partes. A primeira foi de pesquisa

bibliográfica, na qual procuramos levantar referências para nosso estudo. A segunda

parte envolveu a análise dos relatórios oficiais do estado de São Paulo para que

efetivássemos a escolha da escola- Escola A. Na terceira parte elaboramos os

instrumentos de coleta de dados para a realização da pesquisa de campo.

Assim sendo, a partir da pesquisa documental, da análise dos níveis de

proficiência em Matemática, escolhemos a escola e desenvolvemos os instrumentos

de investigação para partir para a pesquisa de campo e posterior análise de dados.

A coleta de dados foi feita, como pode ser observado no Quadro 01, pelos

seguintes instrumentos: questionários, entrevistas, recolhimento das atividades de

alunos e observação em sala de aula com anotações no diário de notas da

pesquisadora.

O questionário apresentado neste capítulo foi elaborado com o propósito de

obter prévias informações sobre concepções dos professores que trabalham com os

5º anos da Escola A sobre a Matemática e seu ensino. Nesse questionário

procuramos indagar os docentes como analisam as produções dos alunos e as

estratégias que sugerem para auxiliá-los em suas dificuldades.

Os Roteiros de entrevista, que se encontram nos Apêndice A, B e C (p.I –

IV), tiveram como objetivo caracterizar o perfil dos docentes e da equipe gestora da

escola, assim como investigar a relação desses docentes com a Matemática e seu

Conhecimento Profissional Docente. As atividades de observação complementaram

a pesquisa, para vivenciarmos o cotidiano escolar destes professores.

As duas últimas etapas foram subsidiadas pelos resultados encontrados nas

Etapas 1,2 e 3.

Na Etapa 4, fizemos inicialmente o contato com a escola, expondo os

motivos da pesquisa para a Direção da unidade escolar. Esta solicitou que

pedíssemos a Diretoria de Ensino autorização para realização da mesma. Após

algumas semanas obtivemos resposta positiva.

Com isso, realizamos a pesquisa de campo, na qual, em visitas a escola

aplicamos o questionário, fizemos as entrevistas, observamos as salas de aula e

conversamos com os diversos atores envolvidos neste estudo.

95

Finalizando, a Etapa 5 - análise dos dados- foi desenvolvida por triangulação,

organizadas em o Perfil do Professo;o seu Discurso e a sua Prática.

Assim sendo, a pesquisa dividiu-se em etapas, conforme se pode observar

no quadro, que segue:

Etapa 1 Pesquisa Bibliográficas

Busca de referências para o desenvolvimento da investigação:

análise de estudos que versam sobre o Conhecimento Profissional

Docente.

Etapa 2 Escolha da Escola

Análise dos índices de desempenho na disciplina de Matemática

das escolas da região de Mogi das Cruzes que realizaram a

avaliação do SARESP em 2008 e 2009.

Etapa 3 Preparo da Pesquisa de Campo

a) Criação dos instrumentos de pesquisa.

- Questionário

- Roteiro da entrevista semi-estruturada: Professor, PC e Diretor

(Apêndice A p.I , B p.II e C p.IV)

Etapa 4 Pesquisa de Campo

a) Entrega do questionário

b) Realização das entrevistas

c) Recolhimento das atividades das docentes

d) Observações em sala de aula

Etapa 5 Análise

Discussão dos dados coletados na Etapa 4

Apresentação dos resultados e conclusão da pesquisa.

Quadro 8 Descrição das Etapas da Pesquisa Fonte: Acervo Pessoal

Com isso, verificamos que a organização e preparação das etapas para a

pesquisa proporcionaram uma melhor clareza e desenvolvimento da mesma, para

que pudéssemos atingir o objetivo de identificar quais são os conhecimentos dos

96

professores que ensinam Matemática para alunos do 5º ano do Ensino

Fundamental em uma escola que obteve excelente proficiência nesta disciplina.

4.3 Instrumentos de coleta de dados

Faremos a seguir a descrição dos instrumentos de coleta de dados: o

protocolo do questionário, o roteiro das entrevistas semiestruturadas, e o roteiro de

observação da Escola.

4.3.1 Questionário – Protocolo de Pesquisa

Nosso questionário se estruturou em duas partes: a primeira composta de

uma situação fictícia mais geral. Nela há um relato de uma professora que trabalha

com uma sala com dificuldades de aprendizagem e pede auxílio. A segunda parte é

composta por casos em que simulamos respostas de alunos para situações

envolvendo o Campo Conceitual Multiplicativo.

Quanto à primeira parte, elaboramos uma questão com o objetivo de

identificar quais as estratégias os professores indicariam para solucionar o problema

proposto, no caso uma sala com dificuldades em resolver situações-problema com

números naturais e seus cálculos envolvendo papel e lápis.

1- Leia as reflexões de uma professora e ajude-a com uma solução didática.

“Minha escola na última Reunião de HTPC decidiu fazer uma avaliação unificada

simulando o SARESP. Ficou decidido que seriam elaboradas as questões

utilizando as matrizes de referência do SARESP para 4ª série/ 5º ano Ensino

Fundamental. Fiquei muito preocupada com tal situação, pois a realidade de minha

sala está bem aquém do que será solicitado. Minha sala tem 30 alunos, destes 20

alunos no ano anterior frequentavam a sala do PIC 3ª série e os outros 10 foram

reprovados no ano anterior. Em Língua Portuguesa, apesar das diversas

dificuldades, acredito que o mínimo do solicitado será atendido. Porém em

Matemática as habilidades que envolvem a resolução de problemas e cálculos

envolvendo as quatro operações não estão satisfatórias, segundo as matrizes

solicitadas. Enfim, não sei por onde começar meu trabalho. Quero ajudar meus

alunos à atingir as expectativas propostas para as salas 4ª série /5º ano.”.

Quadro 9 Questão com situação geral

Fonte: Acervo Pessoal

97

Aluno 1

Nesta questão os professores deveriam analisar a situação e dar sugestões

possíveis às atividades e intervenções. Assim sendo, por meio da análise das

estratégias e dos encaminhamentos propostos pelos professores observaríamos

suas estratégias de ensino, pois esperávamos que, por meio dos depoimentos

pudéssemos observar, mesmo que implicitamente, suas atitudes profissionais diante

de uma problemática apresentada.

Na segunda parte foram apresentadas algumas situações em que alunos

fictícios responderam de diferentes maneiras. A ideia para elaborar tal instrumento

de pesquisa partiu da análise dos estudos de Ball e Bass (2003), no qual ela aborda

sobre “Qual Matemática o professor precisa saber para ensinar efetivamente?”. A

autora traz situações-problema que envolvem diferentes estratégias de resolução, e

evidência que o professor deve desenvolver diferentes abordagens em seu trabalho

no ensino de Matemática e deve demonstrar como utiliza essas estratégias para

resolução de problemas no seu ensino. Cabe ressaltarmos que as situações

exploradas são as operações de multiplicação e subtração, além dos polígonos e

números decimais. As questões 2.1, 2.2 e 2.3 foram retiradas do Relatório do

SARESP 2008 e 2009 nas quais os alunos obtiveram maior dificuldade e a questão

2.4 que foi retirada do Guia de Planejamento e Orientação dos Professores do 4º

ano, material da rede pública de ensino.

2- Analise as questões abaixo. Tratam-se de itens do SARESP e apresentamos algumas resoluções de alunos fictícios.

2.1- H16 – resolver problemas envolvendo noções de porcentagem ( 25%, 50%, 75%, 100%)

No período da manhã da escola “Aprendendo Sempre” estudam 400 alunos, dos quais 25% têm menos de 10 anos. O número de alunos dessa escola com

10 ou mais anos de idade é?

98

A) Explicite aspectos que podem indicar o grau de compreensão de cada um deles

sobre a resolução da operação indicada.

B) Dê sugestões para a aprendizagem nos diferentes casos: qual seria sua

intervenção?

Quadro 10 Questão envolvendo situação de porcentagem

Fonte: Acervo Pessoal

Selecionamos a resolução do Aluno1 (divisão) e do Aluno 2 (multiplicação),

por que demonstra duas operações que normalmente são utilizadas para resolução

da porcentagem. Estudos como o de Behr et. al. (1988) apontam que existe uma

supervalorização da determinação do “x” incógnito, o que caracteriza a tendência a

utilizarmos o método cruzado, que é composto por três termos e uma incógnita, no

qual no encontro dos termos se multiplica, isola-se o “x” e divide-se pelo outro termo.

Com isso,o aluno 1 utilizou erroneamente os dados que foram apresentados

pelo problema, utilizando-se de uma divisão para a calcular 25%.19 Podemos

observar ainda que, ao realizar a divisão, o aluno erra, uma vez que efetua a divisão

por 5 ao invés de 25. Relativamente a essa solução, vale observar que ela nos dá

pistas de que o estudante provavelmente domina os procedimentos para efetuar a

divisão com divisor na ordem da unidade.

O aluno 2 também se utiliza dos dados contidos no enunciado, mas para

resolução apresenta a multiplicação que demonstra realizar de forma parcialmente

19 Segundo Behr et al. (1988,p.21) é “uma forma de pensamento matemático que envolve um senso

de covariação e de comparações múltiplas, bem como a capacidade de armazenar e processar mentalmente diversos conjuntos da informação”.

Aluno 2 Aluno 3

99

correta, mostrando apenas equivocar-se na multiplicação de 5 unidades x 4

centenas, que é igual a 20 centenas; neste caso, o aluno pode ter esquecido de

indicar o algarismo 2 ao lado do zero. Esse aluno realiza a segunda parcela da

multiplicação corretamente, mas, como cometeu o erro anterior, erra o resultado,

que lhe promoveria metade da solução. Esse aluno parece que domina a

multiplicação por dezena, mas sua resolução não nos permite inferir se resolveu só

a primeira parte do procedimento.

A escolha da resolução do Aluno 3, decorreu por mostrar uma estratégia diferente.

Inferimos que o aluno sabe que para saber 75% é necessário subtrair 25% de 100%,

no caso, o todo. E assim realiza sucessivamente 4 subtrações porque sabe que 4

vezes 100 é igual a 400.

Questão 2.2

H11- Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão de números naturais.

O resultado da divisão 9165 ÷ 13 é

A) Explicite aspectos que podem indicar o grau de compreensão de cada um deles

sobre a resolução da operação indicada.

B)Dê sugestões para a aprendizagem nos diferentes casos: qual seria sua

intervenção?

Quadro 11 Questão envolvendo situação de divisão

Fonte : Acervo Pessoal

Escolhemos a primeira estratégia -Aluno1-, por tratar-se de uma resolução em

que o estudante não representa o algarismo zero no quociente da divisão,

Aluno 2 Aluno 1

100

demonstrando dificuldade na compreensão das regras do Sistema de Numeral

Decimal em situação de utilização do algoritmo da divisão.

O aluno 2 acerta a questão e realiza a divisão corretamente utilizando a

resolução procedimental adequada. Este demonstra dominar o algoritmo da divisão

e as regras do Sistema de Numeração Decimal.

Na questão a seguir o objetivo foi o de identificar como o professor avalia a

resolução da operação multiplicação resolvida por dois alunos por meio de um

algoritmo convencional.

2.3 H11 – Calcular o resultado de uma multiplicação ou divisão dos números

naturais.

A professora de Eduardo escreveu no quadro a operação abaixo.

326 x 40

Ele foi o primeiro da turma a resolver e acertar.

Eduardo e seu amigo encontraram como resultado

A) Explicite aspectos que podem indicar o grau de compreensão de cada um deles

sobre a resolução da operação indicada.

B) Dê sugestões para a aprendizagem nos diferentes casos: qual seria sua

intervenção.

Quadro 12 Questão envolvendo situação de multiplicação

Fonte: Acervo Pessoal

Analisando a resolução do aluno 1 observamos que este respondeu de forma

correta. Percebemos o seu domínio da multiplicação e da adição, além de possuir

conhecimento do Sistema de Numeração Decimal.

Aluno 1 Aluno 2

101

Sabendo-se que 4 maças custam RS 2,50. Quanto Julia pagará por 16 maças?

O aluno 2 apresenta domínio da adição, porém, ao realizar a multiplicação

acerta o cálculo da multiplicação com o 0 (zero) na primeira parcela. Ao realizar a

multiplicação com o 4, este o faz corretamente 4 x 6 = 24, deixando o quatro e

passando o 2 para a dezena. Na próxima etapa, 2 x 4 = 8, este soma

adequadamente o 2 dando 10, mas o aluno se esquece de passar 1 para a centena,

no qual ocorre o primeiro erro. Este, ao calcular 3 x 4, novamente erra e acredita ser

11. Deste modo, percebemos que o aluno, apesar de conhecer a adição, ainda está

em processo de construção do campo multiplicativo.

A questão a seguir foi retirada da dissertação “Um estudo das estruturas

multiplicativas nos Guias de Planejamento e Orientações Didática do Programa Ler

e Escrever” da Sandra Regina Firmino da Silva (2010). A autora realizou a pesquisa

da situação problema no Caderno do aluno e Guia de Planejamento do professor

do 4º ano. Silva (2010) destaca a dificuldade dos alunos em realizar operações que

contemplam proporcionalidade simples. Nosso objetivo com a indicação da questão

foi identificar como os professores analisavam as dificuldades dos alunos e como a

utilizavam para realizar suas intervenções, em um problema de proporcionalidade

simples. Procuramos, enfim, observar quais são os conhecimentos dos professores

sobre esse assunto.

2.4. H13- Resolver problemas que envolvam a multiplicação e a divisão,

especialmente em situações relacionadas à comparação entre razões e a

configuração retangular.

Aluno 1 AAAAAAAlu

noallualuno

Aluno 2

102

A) Explicite aspectos que podem indicar o grau de compreensão de cada um deles

sobre a resolução da operação indicada.

B)Dê sugestões para a aprendizagem nos diferentes casos: qual seria sua

intervenção?

Quadro 13 Questão envolvendo situação de proporcionalidade.

Fonte: Acervo Pessoal

Ao analisar a questão acima podemos notar que ela não trata de uma

situação-problema convencional, posto que possui um enunciado que propõe a

relação proporcional de 4 maçãs com o valor de R$ 2,50, o que comumente é

apresentado nos livros didáticos e outras matérias pedagógicas como valor unitário,

ou seja, é dado normalmente o valor de uma maçã para se calcularem as dezesseis.

Para melhor análise das respostas dos professores iremos observar como os

alunos solucionaram a situação-problema.

O aluno 1 erra, pois este acredita que o valor da proporcionalidade inicia-se

na unidade. Assim, este entende que R$2,50 é o valor de uma maçã. Podemos

inferir que este aluno se utiliza de experiências anteriores que propuseram o valor

unitário para solucionar a questão. Entretanto notamos que se pode considerar de

certo modo um avanço quando este usa a multiplicação para resolução, em vez de

solucionar por parcelas iguais, mas este não percebe que o valor da situação-

problema se refere a quatro maçãs, e não a uma.

O aluno 2 acerta a questão proposta e utiliza o algoritmo que, segundo os

estudos de Vergnaud (2001), como operatório realiza a adição por parcelas iguais.

Este fato é relatado por Vergnaud (1988) no “teorema em ação quando o estudante

escolhe uma determinada operação ou sequencia de operações para resolução do

problema”.(p.144) Percebemos que este aluno entendeu que 4 maçãs custam R$

2,50 e por isso juntou quatro grupos de quatro para obter as dezesseis.

Quanto à análise do conteúdo, Vergnaud (1982) distingue dois tipos de

cálculo: o numérico no qual o autor refere-se “as operações comuns de adição,

subtração, multiplicação e divisão” p.(33), e o relacional, que compõem “as

operações do pensamento que são necessárias para que haja a manipulação das

relações envolvidas na situação” (p.33). Notamos que as resoluções de alunos

fictícios apresentadas aos professores, tratam-se de exemplos do cálculo numérico,

103

pois apesar de utilizarem estratégias diferentes, estes utilizam operações para sua

resolução.

4.3.2 Entrevistas semiestruturadas

Depois da escolha da escola passamos a pensar na organização das

entrevistas semiestrututadas e quem seriam nossos entrevistados, se apenas os

professores do 5º ano ou também a equipe técnica. Optamos por organizar o roteiro

para os professores do 5º ano e para o Diretor e Coordenador Pedagógico. A ideia

era que os entrevistados aprofundassem as reflexões observadas em seus

depoimentos. Nossa intenção foi a de permitir, nessa interlocução, a abertura para

novos questionamentos de acordo com o que os docentes fossem relatando.

Portanto, estas foram elaboradas com o intuito de verificar o Perfil do

professor e de aprofundar a discussão dos casos apresentados nas questões 2.1

(porcentagem) e 2.4 (proporcionalidade).

As entrevistas foram compostas por 18 questões para os professores e 14

questões para as entrevistas do diretor e coordenador pedagógico. As principais

questões abordadas na entrevista com o professor foram: qual o tempo de

magistério, qual a formação inicial, curso que realizou, qual série leciona, qual a

jornada de horas de trabalho, se acumula cargos, como foi sua trajetória com o

ensino da Matemática como aluno, como são suas aulas em Matemática e como foi

a preparação da escola para a prova SARESP.

Na entrevista da equipe gestora as principais perguntas foram: há quanto

tempo é diretor ou coordenador na escola, se a equipe estava completa do referido

ano analisado, como é o acompanhamento das atividades, como é atribuição das

salas, quantos professores efetivos e contratados a escola tem, como é o HTPC,

que assuntos são tratados e a que se deu o excelente resultado do SARESP em

2009. O objetivo principal foi observar como é a equipe gestora e qual sua

colaboração para que ocorra um bom desempenho dos alunos na disciplina de

Matemática.

104

4.3.3 Observação da Escola

4.3.3.1 Nas atividades dos docentes

Solicitamos para os professores pesquisados que entregassem algumas

atividades de Matemática que foram apresentadas aos alunos, estas serão

apresentadas e analisadas no Capitulo 5, na página 139 a 149. O objetivo deste

instrumento de pesquisa é analisar qual tipo de atividade é proposta e como os

alunos a solucionam.

Além disso, observamos as rotinas semanais de planejamento dos

professores, no qual são elaboradas de acordo com a proposta do Ler e Escrever.

Notamos que aparecem todos os dias o ensino de Língua Portuguesa e de

Matemática.

Pedimos também ao coordenador, cópia do simulado do SARESP que era

aplicado mensalmente aos alunos de 5º ano desta escola, que está no Anexo B p.

IV. Notamos que este simulado é citado pelos professores em seus depoimentos na

entrevista. Temos com este instrumento o intuito de observarmos como os alunos

eram preparados para avaliação externa.

4.3.3.2 Na sala de aula

Para coleta dos dados, observamos também, duas aulas de Matemática da

referida escola com professores diferentes (A e D). Cabe destacar que estes

docentes foram previamente avisados e a observação da sala de aula ocorreu,

somente nas classes em que o professor autorizou nossa presença. O objetivo de tal

ação foi vivenciar um pouco mais o cotidiano dos sujeitos envolvidos.

A primeira turma observada na qual tem como regente o professor A, a

atividade teve como objeto de conteúdo problemas que envolviam porcentagem.

Inicialmente propôs aos alunos a construção de gráficos da sala, explicando aos

mesmos a função da porcentagem e seu calculo procedimental, depois realizaram

as atividades sugeridas nessa temática no caderno do Ler e Escrever. Para finalizar

o docente distribuiu panfletos e solicitou que cada dupla de alunos escolhessem 3

produtos e dessem desconto de 25 %. Alguns alunos demonstram dificuldade,

porém ficaram interessados no assunto da aula.

105

A segunda turma observada teve como regente o professor D, que escreveu

na lousa algumas operações de multiplicações com os dois fatores envolvendo dois

ou mais algarismos. O professor D inicialmente solicitou que os estudantes

resolvessem as operações no caderno. Após isso o docente pediu aos alunos que

realizassem as operações na lousa. Nesse momento, observou-se que o professor

explicou individualmente às dúvidas apresentadas pelos estudantes.

Com isso, verificamos a importância de tais instrumentos de coleta de dados

para caracterizar, identificar e responder os aspectos e objetivos já citados.

No próximo capítulo, apresentaremos e analisaremos os dados obtidos nesta

pesquisa.

106

CAPÍTULO 5

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer

coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram.

Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta

da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar,

verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe (JEAN PIAGET).

Este capítulo apresentará a análise de dados do Questionário, das

entrevistas, atividades recolhidas e nossa observação realizada com cinco docentes

do 5.º ano do Ensino Fundamental e equipe gestora. Os dados relativos ao

questionário e entrevista estão organizados em blocos: Perfil profissional docente, a

relação dos docentes com a Matemática, Conhecimento profissional docente e o

Trabalho do Grupo da Escola. Para o exame da prática docente apresentaremos e

verificaremos as atividades recolhidas e nossas anotações relativas à observação.

5.1 Perfil profissional docente

Para descrever o perfil dos professores, selecionamos os dados apresentados

no quadro a seguir, os quais foram obtidos durante a entrevista concedida por todos

os docentes, bem como as principais informações. Observando os dados,

verificamos que os profissionais pesquisados possuem grande experiência docente.

Entre eles, o professor com menos tempo trabalha há 14 anos no Magistério, e o

com maior tempo de carreira afirmou que leciona há 26 anos.

Assim, observamos que, em média do tempo de serviço, os professores

pesquisados possuem 20,4 anos de Magistério. Constatamos, portanto, que alguns

estão em final de carreira e que possivelmente têm uma diversidade de experiências

pessoais e profissionais, o que, segundo Tardif e Raymond (2000), poderia ser um

fator favorável ao desenvolvimento profissional, posto que, segundo o autor, estes

docentes:

[...] não se limitam a conteúdos bem circunscritos que dependeriam de um conhecimento especializado. Eles abrangem uma grande diversidade de objetos, de questões, de problemas que estão todos relacionados com seu trabalho. Além disso, não correspondem, ou pelo menos muito pouco, aos conhecimentos teóricos obtidos na universidade e produzidos pela pesquisa na área da Educação: para os professores de profissão, a experiência de trabalho parece ser a fonte privilegiada de seu saber-ensinar (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 213).

107

Prof. Tempo

que

leciona.

(anos)

Horário de

trabalho

(h/semanal)

Formação

inicial

Ano Pública Graduação Formação

Continuada

Ano que

lecionou

Cargo Gosta de

Matemáti

ca

Experiê

ncia

quando

aluno

na U

E

ou

tra

UE

20

sim

não

sim

não

cu

rsan

do

sim

não

Qu

ais

Efe

tiva

OF

A21

sim

não

po

sit

iva

neg

ati

va

A 26 34 0 Magistério 1983 X X X Sempre 5.º

ano

X X X

B 25 34 0 Magistério 1984 X X X 4.º e 5.º

anos

X X X

C 17 34 0 Magistério 1983 X X X Oferecido

pela D.E22

Todos os

anos

X X X

D 14 34 0 Magistério 1995 X X X Todos os

anos

X X X

E 20 34 0 Magistério 1988 X X X Artes Todos os

anos,

geralmente

5.º ano

X X X

Quadro 14: As respostas dos questionários – Perfil dos professores

Fonte: Acervo pessoal.

20

UE refere-se à Unidade Escolar.

21 OFA refere-se à Ocupante de Função Atividade.

22 DE refere-se à Diretoria de Ensino.

108

Analisando um pouco mais os resultados, é possível verificar que, quando

perguntamos sobre a primeira formação, em unanimidade, todos os professores

entrevistados informaram que seu primeiro curso foi o Normal em Nível Médio,

antigo Magistério.

Quanto ao local de formação, um docente indicou ter estudado em escola

particular e os outros, em escolas estaduais na mesma cidade em que lecionam. E

todos os professores afirmaram ainda ter ou estar cursando Pedagogia.

No tocante à experiência, observamos que há uma diversidade de vivência

entre os docentes, uma vez que eles disseram que já trabalharam em outras

instituições em anos anteriores. Todas públicas, algumas em escolas estaduais,

outras em redes municipais.

Quanto à formação continuada, somente dois dos cinco professores relataram

ter realizado em sua trajetória docente outros cursos de formação em serviço, um

deles foi promovido pela Secretaria do Governo Estadual de São Paulo e outro

realizado em Universidade privada.

Notamos que dois professores são efetivos na rede estadual e três são

Ocupante de Função Atividade (OFA)23 na mesma rede de ensino. Cabe ressaltar

que, dos três docentes contratados, dois estavam na escola no ano de desempenho

significativo. Além disso, verificamos que todos os professores têm experiência em

todos os anos, pois lecionaram para todos eles, porém três desses professores têm

maior experiência com o 5º ano, dado que, segundo suas informações, lecionam

para esses segmentos há mais tempo.

Quanto à jornada de trabalho, observamos que todos os professores têm

jornada ampliada24 com as horas de reforço. Dois dos professores deixaram claro

23

De acordo com a Lei n.º 500/1974, OFA – Ocupante de Função Atividade são os funcionários públicos admitidos em caráter temporário.

24 Instituída pela Resolução n.º 86, de 19 de dezembro de 2007, art. 3.º. Os docentes, regentes de

classe de 1.ª a 4.ª série do Ciclo I do Ensino Fundamental, envolvidos no Programa, farão jus à atribuição de mais 4 (quatro) horas semanais, destinadas ao trabalho de planejamento e capacitação para os projetos. No caso da nossa pesquisa, a jornada dos professores citados foi ampliada com aulas de reforço.

109

que não gostariam de lecionar para as turmas de reforço, mas se sentiram

pressionados pelos administradores da Unidade Escolar.

5.2 A relação dos docentes com a Matemática

Neste item apresentaremos a relação que os docentes investigados possuem

com a Matemática em sua formação quando estudantes e como profissionais da

educação.

5.2.1 A relação dos docentes investigados com a Matemática na Educação

Básica

Uma das questões pesquisadas durante as entrevistas foi sobre a relação dos

professores participantes da pesquisa com a Matemática. Consideramos tal temática

fundamental, pois concordamos com estudos como os de Tardif e Raymond (2000)

que mostram uma relação muito forte entre a prática docente e toda a história de

vida do professor, em especial, com as primeiras vivências escolares. Os autores

afirmam que na trajetória pré-profissional:

[...] uma boa parte do que os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida, principalmente de sua socialização enquanto alunos [...] Essa imersão se expressa em toda uma bagagem de conhecimentos anteriores, de crenças, de representações e de certezas sobre a prática docente. Ora, o que se sabe hoje é que esse legado da socialização escolar permanece forte e estável através do tempo. Na América do Norte, percebe-se que a maioria dos dispositivos de formação inicial dos professores não consegue mudá-los nem abalá-los. Os alunos passam através da formação inicial para o Magistério sem modificar substancialmente suas crenças anteriores sobre o ensino. E, tão logo começam a trabalhar como professores, sobretudo no contexto de urgência e de adaptação intensa que vivem quando começam a ensinar, são essas mesmas crenças e maneiras de fazer que reativam para solucionar seus problemas profissionais (TARDIF e RAYMOND, 2000, p. 217-218).

Os autores chamam a atenção para o fato de que os professores são

influenciados por suas experiências pessoais. Assim, procuramos investigar a

relação que os sujeitos da pesquisa tiveram com a Matemática durante a Educação

Básica. Apresentamos a seguir o relato do professor C:

110

A Matemática ela foi muito tradicional lembro assim pouca coisa mas na época da escola [as atividades eram], continha, arma continha, a parte de divisão era mais difícil para estar entendendo (PROFESSOR C).

Quando solicitamos um relato da relação pessoal de cada docente com a

disciplina Matemática, observamos que somente três professores afirmaram gostar

da disciplina; desses, um chamou a atenção para o fato de sentir necessidade de

melhorar sua prática quando leciona:

A Matemática sinceramente eu não gosto muito não. Eu faço o que dá, a gente ensina, mas não é minha matéria predileta (PROFESSOR A).

[...] da Matemática eu não gostava, eu nunca gostei de Matemática [...] quando era criança nunca gostei nem entendia. Sempre gostei mais de Português, Matemática nunca foi meu forte. Por isso mesmo por não gostar da Matemática [...] eu tinha nota [...] eu estudava sempre tive boas notas, mas não gostava mesmo. Então quando eu comecei dar aula eu peguei e vi que eu não queria para os meus alunos, aquilo que aconteceu comigo. Então eu comecei a dar importância maior para Matemática, mostrando para eles que a Matemática não é esse bicho de sete cabeças (PROFESSOR B).

Eu gosto de Matemática. Gosto, mas ainda sinto que preciso melhorar muito essa parte também (PROFESSOR C).

Eu tinha um pouco de dificuldade, mas foi bom porque eu fui gostando um pouco, não que eu adore Matemática mas [...] gosto, tem que gostar faz parte (PROFESSOR D).

Eu sempre gostei de Matemática, só no Ensino Médio que entrou Física que o professor realmente não ensinava [...] parei até de estudar por causa disso, depois voltei novamente e fiz de novo o primeiro colegial (PROFESSOR E).

Percebemos nos relatos dos professores que dizem não gostar da disciplina,

e mesmo daqueles que gostam, indícios de algumas dificuldades quanto ao

entendimento do conteúdo matemático. Isso nos parece preocupante, uma vez que

estudos como os de Shulman (1986) indicam que o domínio do conteúdo é de

extrema importância para o desenvolvimento das práticas docentes.

111

5.2.2 A relação dos docentes investigados com a Matemática na formação

inicial

Para representar a relação entre a Matemática e a docência, solicitamos

também que os professores relatassem sobre sua formação inicial. Procuramos

investigar como era o ensino da disciplina no nível médio Normal, com o intuito de

identificar quais experiências vivenciaram durante a formação inicial. A seguir,

apresentamos o relato desses professores:

No Magistério a gente não tinha Matemática (PROFESSOR A).

Bom, no Ensino Médio eu fiz o primeiro ano que foi o básico, lá na

[instituição R25

], eu era péssima, era uma coisa assim eu me destacava

tinha ótimas notas em outras matérias e Matemática era aquilo na casca. E

depois que eu fui para o Magistério, que era mais voltado de 1.ª a 4.ª série e

depois para Educação Infantil, então era outra coisa, eram as noções de

Matemática (PROFESSOR B).

A Matemática ela foi [...] muito tradicional [...] No Magistério também a formação durante o Magistério deixou a desejar à parte de Matemática a gente via outras matérias, mais a parte de Matemática era estatística, a gente trabalhava muito com calculadora, mas [...] deixou a desejar. E agora a Pedagogia eu percebo que lendo a gente falha muito na sala de aula com os materiais concretos muitas vezes a gente não tem [...] como trabalhar o material concreto por conta de muitas vezes não ter o material na escola.Muitas vezes tem o material na escola e a gente não tem o tempo de estar manuseando e trocando as experiências com outros que têm outras experiências com os materiais concretos que eu acredito que ajude muito na aprendizagem dos alunos. Então eu acho que a gente começa a estudar, a gente começa a comparar a nossa atitude na sala de aula com aluno junto com a teoria. Eu gosto de Matemática. Gosto, mas ainda sinto que preciso melhorar muito essa parte também (PROFESSOR C).

Quando eu era criança [...] no primário eu tive uma ótima professora de 1.ª a 4.ª [...] depois no ginásio que foi dificultando e já mudou para o Magistério com professor homem [...] pegava mais no pé de algumas matérias, [...] em Matemática algumas partes que para gente era difícil (PROFESSOR D).

Podemos observar que os professores relatam que em suas experiências

escolares o ensino de Matemática foi pouco desenvolvido ou não abordado. Essa

situação fica evidenciada ao analisar os relatos dos professores A, B e D.

Analisando o relato do professor C, observamos que este vivenciou um

ensino tradicional, como mencionado: “continha, arma continha, da parte de divisão

era mais difícil”. Tal depoimento se aproxima do que Fiorentini (1995, p. 5-6) chama

25

Identificamos a instituição que o professor indicou como R para preservar sua identidade.

112

de Tendência Formalista Clássica, no entanto esse professor demonstrou interesse

em aperfeiçoar-se em seus conhecimentos.

Outro aspecto relevante diz respeito à influência de tal vivência com a prática

pedagógica docente. Estudos como de Tardif e Raymond (2000, p. 218) apontam

que muitas vezes as ações pedagógicas vivenciadas pelo professor tendem a ser

praticadas com seus alunos.

Quanto ao Conhecimento Profissional Docente, pesquisas como as de

Shulman (1986, p. 9) apontam a necessidade do conhecimento específico do objeto

de ensino para o desenvolvimento de uma boa prática pedagógica. Assim,

professores como A, B, C e D podem encontrar dificuldades no desenvolvimento de

seu trabalho.

Observamos ainda que estes profissionais, por terem dificuldade quando

alunos de Matemática e no entendimento de alguns conteúdos desta disciplina,

tendem a confrontar-se com alguns obstáculos na elaboração de atividades para

seus alunos.

5.2.3 A relação dos docentes investigados com a Matemática no discurso

sobre a própria pratica

No tocante à relação dos professores com a Matemática no âmbito do

desenvolvimento da atividade docente, observamos uma relação muito forte entre a

sua formação e o meio como desenvolvem o trabalho em sala de aula.

Quando questionamos os professores sobre como encaminhavam suas aulas

de Matemática, obtivemos as seguintes respostas:

Tem coisas que você tem que fazer na prática se não eles não entendem. Eu acho que a criançada hoje em dia vem muito imatura [...] na quarta muito (referindo-se ao quinto ano). Eles chegam na escola com 6 anos que é a idade de uma Emei eles vêm para escola pensando que vão continuar tendo brincadeiras e [...] vão ficar mais tempo em sala de aula. Quando chegam na quarta série [quinto ano], é até complicado, tem criança que tem dificuldade na Matemática, nas quatro operações e fica difícil avançar [referindo-se ao conteúdos]. A gente tenta fazer um tipo de joguinho, alguma coisa dentro da multiplicação, da divisão, o básico mesmo para você tentar fazer alguma coisa porque é difícil (PROFESSOR A).

[...] desde o primeiro dia de aula. Eu acredito que não seja só aqui mas em todas as escolas [...] você já ouve [...] preparação do SARESP e o Ler e

113

Escrever [material de apoio ao professor] que você tem que trabalhar em cima dele, que não é só de Língua Portuguesa, é de Matemática também [...] então desde o primeiro momento, o primeiro dia de aula, e a gente já está focado nisso (PROFESSOR B).

Eu estou trabalhando Ler e Escrever que tem uma parte de Matemática, mas eu trabalho o tradicional. Sou tradicional tento mesclar em alguma coisa assim com geometria. Estão [os alunos] recortando, moldando, montando os planificados na parte de geometria. E tento trabalhar em grupo com eles na hora de fazer os desafios auxiliar com o aluno que sabe mais. O livro didático ele também é tradicional, muito tradicional. Ele não vem com muitas alternativas para gente trabalhar diferente [de modo diferente] (PROFESSOR C).

[...] eu pesquiso [...] estudo o livro procuro ver a sala como é que está [...] Às vezes tem o livro Mundo Mágico [livro didático], um outro livro meu [...] mas é tudo ligado na Matemática na área da atualização (PROFESSOR D).

[...] eu procuro diversificar bastante, principalmente Matemática dou umas aulas que tenham bastantes desafios, com atividades diferentes para que eles pensem [referindo-se aos alunos] (PROFESSOR E).

Diante do relato dos professores verificamos algumas das preocupações

destes profissionais, seja pelo estudo para a preparação das aulas (professor D),

pelo atendimento à demanda (professor B), seja pela diversificação de

procedimentos metodológicos (professores A, C e E). Da preocupação com o

encaminhamento das aulas observamos uma predominância com a participação

ativa do aluno, uma vez que o professor A demonstra refletir sobre a importância da

utilização de materiais manipulativos e afirma adotar jogos como uma estratégia

incentivadora para o ensino. Já o professor C, mesmo se declarando como

“tradicional”, utiliza da geometria como meio de uma perspectiva inovadora, realiza

uma crítica ao livro didático, que para ele não apresenta diversidade de atividades

adequadas à nova proposta, mas acredita no trabalho em grupo .

O professor E expõe uma metodologia centrada na Tendência Construtivista,

como citado por Fiorentini (1995, p. 5-18), que diferencia as práticas metodológicas

de cada tendência, quando diz propor momentos e atividades com desafios para que

os alunos pensem e solucionem o que lhes foi proposto.

Notamos nos relatos dos professores que eles tentam diversificar suas

práticas para promover o desenvolvimento e entendimento do conteúdo pelo aluno,

o que podemos relacionar com as ideias de Vergnaud (1991), ao citar a busca de

situações significativas para formação de um conceito.

114

Todavia, observamos alguns indícios de que a prática docente de alguns

desses profissionais têm como foco o procedimento como o professor E, que afirma

“ser tradicional” e o professor D que se vale de materiais que focam o trabalho

procedimental. Este último, por exemplo, ao relatar que pesquisa muito no

planejamento de suas aulas, indica o livro Mundo mágico de Matemática como o

mais utilizado. Sobre tal obra, estudos como os de Canôas (1997)26 observaram o

foco do material no procedimento e que ele apresenta algumas limitações. Como

exemplo, a autora sustenta que há uma associação à ideia de divisão dos números

naturais de modo equitativo, ou seja, permite reforçar “para o professor que dividir

significa apenas repartir uma dada quantidade em partes iguais” (p. 33). Além disso,

é observado pela autora que o livro didático leva o professor ao entendimento

fragmentado dos números racionais, causando uma dificuldade no entendimento

deste conteúdo em sua totalidade.

Portanto, parece aqui haver indícios do que nos dizem Tardif e Raymond

(2000, p. 218), ou seja, observamos nos relatos dos docentes que alguns deles

vivenciaram metodologias com foco nos procedimentos quando estudantes e como

profissionais tendem a reproduzi-las.

Cabe observar ainda que o depoimento do professor A pode nos exemplificar

o que Zeichner (1993) identificou como “teorizar”:

A prática de todo professor é resultado de uma ou outra teoria, quer ela seja reconhecida quer não. Os professores estão sempre a teorizar, à medida que são confrontados com vários problemas pedagógicos... (ZEICHNER, 1993, p. 21).

Notamos que o docente, ao refletir sobre a necessidade que seus alunos têm

de manipular objetos durante as aulas de Matemática, está “a teorizar” sobre as

dificuldades encontradas pelos estudantes.

Assim, o professor desenvolve sua prática pedagógica sem que se dê conta,

muitas vezes, de que por trás de seu trabalho existe uma pesquisa, e estas ações

envolvem o que ele viveu, condições de trabalho e em que acredita.

26

Canôas (1997) realizou um estudo dos livros didáticos mais solicitados no mercado editorial, com o intuito de identificar os aspectos que influenciam o uso deste material na prática pedagógica do docente.

115

O relato do coordenador pedagógico amplia nossa leitura da prática docente.

Procuramos questioná-lo como realiza o acompanhamento das atividades dos

professores da escola que coordena. O educador afirma que:

[...] se faz de duas maneiras [...] A primeira delas tem envolvido justamente o planejamento em si. Eles têm duas horas junto comigo em que eles planejam as atividades, elaboram a sua rotina passa por mim eu faço algumas orientações, algumas vezes eu até coloco uns bilhetinhos nas rotinas deles e depois disso sempre que possível eu tô em sala de aula [...] Nós fazemos o quadro de rotinas (COORDENADOR PEDAGÓGICO).

Ao observarmos como o coordenador pedagógico acompanha o rendimento

dos alunos da escola, podemos dizer que ele se utiliza dos portfólios, e, quando

perguntado sobre estes, relata que os professores, em geral, o compõem com

atividades e sondagens de Língua Portuguesa. Afirma que somente um dos

professores faz a sondagem de Matemática.

Outro dado que nos poderia fornecer pistas sobre a relação entre os

processos de ensino e de aprendizagem foi quando perguntamos aos professores

quais seriam os conteúdos que os alunos têm mais facilidade e dificuldade. Dos

depoimentos gravados destacamos os seguintes:

Eles gostam de desafios... quando vêm com as alternativas. Eles fazem do ladinho para achar. E quando você dá o desafio [...] vai entrar fora as quatro operações, tem [...] hora, tempo, peso, medida [...] principalmente esses desafios quando você está na preparação do SARESP que todo mês tem prova que a gente faz. [...] seria o que é ruim para mim também, que é os números decimais aqueles que têm 0, [...] transformar em fração... Comparação entre os decimais. (PROFESSOR A). [...] eles gostam muito de divisão. Eles adoram divisão [...] E eles gostam também das situações-problema, aquelas que envolvem trajeto, ou localização [...] combinações eles gostam também. [...] as dificuldades são frações [...] uma parte da fração, porque por exemplo se você pede para eles uma coisa que eles gostam de fração é eles identificarem por exemplo quanto que é

3⁄5 de 30 [...] isso eles gostam,

mas é mais assim nesta parte mesmo. Eles gostavam muito de expressões numéricas, [...] Eu acho que porcentagem é um pouquinho difícil para eles entenderem, mas eu não sei por que eu vou começar agora (PROFESSOR B). Então eu percebo que eles gostam de geometria [...] e eu trabalhei números decimais eles gostaram. Inclusive eu fiquei surpresa porque eu achei que a maioria fosse sofrer mais, mas não foi o contrário. E agora que eu estou começando a trabalhar a porcentagem. [...] vamos dizer assim de tudo um pouquinho. Tem aquele aluno que tem mais dificuldade na leitura então ele tem um certo bloqueio para ta interpretando os problemas (PROFESSOR C).

116

O que os alunos mais gostam: Divisão, tabuada. E que os alunos têm mais dificuldade: Adição, subtração, multiplicação dependendo da sala. (Entrevistador) Isso em uma conta isolada ou numa situação-problema como que funciona? Em situação-problema e às vezes uma conta isolada. Tudo depende da sala. Tem sala que vai que é uma beleza. Têm outras que você pega e a criança tem a dificuldade da tabuada até do dois (PROFESSOR D). O que os alunos mais gostam [...] eu acho que todos porque geralmente envolve todas as operações [...] conforme você vai trabalhando você vai vendo que é uma sala muito boa. O que os alunos têm mais dificuldade: Eu comecei a introduzir geometria porque geralmente eles não têm, então a questão de usar régua, eles não têm costume de usar régua, eles fazem tudo à mão, e agora eu comecei a introduzir a geometria pelo menos as noções para eles saberem como usar (PROFESSOR E).

O professor A em seu relato demonstra que seus alunos encontram

dificuldades quando precisam fazer comparação das frações e decimais. O mesmo

tema foi apontado pelo professor B quando desenvolvido “de modo não

convencional em diferentes situações”, acrescentando ainda que acredita que os

alunos poderão encontrar dificuldade na porcentagem também. Quanto à

aprendizagem, pesquisas recentes desenvolvidas no Brasil (CANOVA, 2006;

GARCIA SILVA, 2007; CAMPOS, 2011; entre outros) mostram que os alunos têm

pouco domínio desse conceito, fato observado em diferentes avaliações de larga

escala.27

O professor C surpreende-se com a facilidade com que os alunos aprenderam

os números decimais. Pesquisadores como Carraher (1988), Silva e Borba (2006),

Leitão et al. (2008) apontam que o sistema de numeração decimal está presente em

diversas situações cotidianas e promovem a facilidade na compreensão e domínio

deste assunto, pois utilizam conhecimentos prévios vivenciados em sua prática.

Quanto ao professor D, a análise de seu depoimento nos leva a crer que o

foco do seu trabalho envolve essencialmente conteúdos procedimentais, visto que

27

No Saresp de 2008, por exemplo, apenas 15% dos alunos concluintes do Ensino Fundamental (alunos de 13 anos) acertaram questões que envolviam o significado de parte-todo da fração. Esse resultado é pouco satisfatório, tendo em vista que este é o significado mais trabalhado em sala de aula. Segundo pesquisa realizada por Campos (2011), resultado semelhante foi observado na mesma avaliação edição Saresp de 2010, em que apenas 17,4% desse mesmo nível de ensino acertou questões que envolviam equivalência de fração.

117

todas as preferências e dificuldades relatadas pelo docente dizem respeito às quatro

operações. Assim, podemos inferir que, nesse aspecto, possivelmente o professor D

sofre influência da Tendência Formalista Clássica, como classifica Fiorentini (1995,

p. 5). Tais indícios aqui observados foram confirmados na entrevista concedida pelo

coordenador pedagógico da escola. Nela, o responsável pela discussão pedagógica

afirma:

[...] os professores, no que se refere ao ensino de Matemática, [...] ainda estão no ensino tradicional, [...] percebemos neste estudo que nós fizemos que ainda hoje os professores estão com uma didática da Matemática no tradicional numerais, o ponto principal é o algoritmo e elas precisam ainda saber trabalhar com os conhecimentos dos alunos sobre a Matemática e sobre os caminhos que eles percorrem para solucionar as situações-problema que elas colocam para eles e entender um pouquinho também o olhar do que é uma situação-problema [...] (COORDENADOR PEDAGÓGICO).

Todavia, há no depoimento do coordenador pedagógico indícios da relação

entre as práticas docentes e a falta de reflexão, o que pode ser um dificultador para

o Desenvolvimento Profissional Docente. O profissional assevera que o foco da

formação em serviço não tem sido a Matemática:

[...] a própria estrutura do programa que o Estado traz é muito voltada para questão da alfabetização, tanto é que nas capacitações nós vemos muito o ensino de língua e linguagem em detrimento do ensino de Matemática. [...] (COORDENADOR PEDAGÓGICO).

5.3 Conhecimento profissional docente

As questões analisadas nesta etapa estão propostas no questionário

destinado aos professores, assim como a retomada de alguns trechos da entrevista

na análise das questões envolvendo ideias gerais sobre os processos de ensino e

aprendizagem, compreendendo as operações com números naturais e os que

versavam a respeito de porcentagem e proporcionalidade. Nossa apresentação e

análise de dados foram organizadas considerando a ordem das questões contidas

no protocolo.

118

5.3.1 Quanto às possíveis recomendações pedagógicas dos professores

envolvidos

A Questão 1 foi apresentada no Capítulo 4 (p. 96). Propusemos aos

professores uma situação-problema para que os docentes analisassem e

indicassem possíveis estratégias de ensino. Apresentamos uma situação hipotética,

na qual os professores em uma reunião de HTPC decidem realizar uma avaliação

unificada contendo as habilidades do Saresp para o 5.º ano do Ensino Fundamental.

A professora fictícia fica muito preocupada, pois seus alunos possuem muitas

dificuldades, principalmente quanto à disciplina de Matemática, e solicita auxílio para

que ela possa ajudar seus alunos a atingirem as expectativas do Saresp.

Os professores investigados apresentaram as seguintes proposições:

Faria uma prova diagnóstica para saber qual o ponto que eu deveria partir. Faria um ditado de numerais. Desafios do campo multiplicativo/aditivo (e) subtração (PROFESSOR A). Usaria os recursos pedagógicos (lúdicos) como: jogos de trilha, ábaco, material dourado, tangram etc. Sempre formando duplas ou grupos, estimulando a cooperação e mesmo a competição (PROFESSOR B). Partir daquilo que o aluno já sabe. Trabalhar com equipes, colocando alunos com mais conhecimento [aprendizagem], com aqueles com dificuldade com atividades diversificadas e materiais concretos (PROFESSOR C). Começaria do zero fazendo uma avaliação com a sala para ver o que eles

sabem, assim eu começaria ver por onde eu iria começar e com recursos

(PROFESSOR D).

Propor atividades para saber o que sabem: Propor desafios com grau que possam pensar e resolver. Analisar com eles as variadas formas de resolução. Estimulá-los a registrar os resultados e refletir no processo de resolução (PROFESSOR E).

Reiteramos que o objetivo desta questão foi identificar quais as estratégias os

professores utilizam para solucionar uma situação em que os alunos demonstram

encontrar dificuldade.

Examinando as respostas dos professores, observamos que quatro deles

verificam a necessidade de realizar uma avaliação diagnóstica para analisar as

dificuldades dos alunos e assim reformular sua prática. Estes sugerem como

atividades: ditado dos numerais, desafios com campo multiplicativo e aditivo,

atividades com material concreto, análise das várias formas de resolução e registro

delas.

119

Percebemos que os professores estão em consonância com o que nos diz

Vergnaud (1990):

[...] a operacionalidade de um conceito deve ser experimentada por meio de situações variadas, e o investigador deve analisar uma grande variedade de condutas e de esquemas para compreender o que consiste, do ponto de vista cognitivo, tal conceito (VERGNAUD, 1990, p. 139).

Esse autor aponta que o conhecimento está organizado em diferentes

situações, conceitos, estruturas que se desenvolvem por meio de diferentes ações

de experiência, maturidade e aprendizagem. No caso, as diferentes estratégias que

os professores declaram como boas foram citadas: ditado numérico, pensar sobre

os vários meios de resoluções e registros, além de desafios para reflexão dos

alunos. O uso do diagnóstico para o desenvolvimento da aprendizagem vem

reafirmar a preocupação dos docentes, assim como nos afirma Vergnaud (1991).

Observamos ainda que os sujeitos investigados sugerem práticas a que estão

acostumados a realizar com seus alunos, visto que a avaliação diagnóstica –

sondagem é uma das atividades propostas pelo Projeto Ler e Escrever, citados no

Guia de Planejamento e Orientação Didática (2010, p. 26-32). Assim, consideramos

ser possível inferir que os professores fazem uso de suas experiências para resolver

outras situações que lhe parecem semelhantes, citado por Tardif e Raymond (2000).

Para essa mesma questão, outro professor declara que modificaria as

estratégias de aprendizagem sem realização de um diagnóstico. Sugere como

atividade jogo da trilha, ábaco, material dourado, tangram, entre outras, e formação

de duplas produtivas. Notamos que, apesar de esta proposta diferenciar-se das

demais por não realizar um diagnóstico, vemos que o professor tem preocupação

com a diversidade de atividades conforme citada pelas pesquisas de Vergnaud

(1991). Indica ainda a formação de duplas produtivas, que é outra estratégia muito

utilizada na alfabetização, que, se bem aplicada, pode trazer grandes benefícios

para a aprendizagem. Evidenciamos neste caso mais uma relação das indicações

apresentadas com as experiências vividas (mesmo que em outras disciplinas) para

auxiliar no ensino e aprendizagem dos alunos. Isso nos reporta novamente aos

estudos de Tardif e Raymond (2000).

120

5.3.2 Quanto à situação-problema envolvendo porcentagem

A Questão 2 apresentada no Capítulo 4 (p. 97-102) é formada por situações

com subitens retirados do Relatório do Saresp 2008-2009 e Guia de Planejamento

do Programa Ler e Escrever, no qual o procedimento elaborado para a coleta dos

dados foi diferenciado. Utilizamos a ideia de que alunos fictícios apresentaram

possíveis resoluções à situação proposta e solicitamos que os sujeitos investigados

as analisassem.

A Questão 2.1 apresentada na p. 97 foi apresentada aos alunos da rede

estadual na prova Saresp 2008, e seu índice de acerto foi de 24%, considerado

muito baixo. Essa foi uma das questões retomadas na entrevista para melhor análise

e compreensão dos dados.

Reiteramos que o objetivo desta questão foi verificar como o professor

analisava os conhecimentos dos alunos em relação à porcentagem, como avaliava,

como entendia o conteúdo e quais estratégias de intervenção indicava.

Esta questão apresenta a habilidade 16 do Saresp, que trabalha uma

situação-problema envolvendo noções de porcentagem. Escolhemos esta questão

pela dificuldade de resolução dos alunos. Assim como indica o relatório do Saresp

(2008, p. 70), este item não contém o enunciado convencional, pois exige uma

compreensão de que o solicitado não é a porcentagem indicada no texto, mas a

porcentagem complementar. A situação apresentada foi:

“No período da manhã da Escola – Aprendendo Sempre estudam 400 alunos, dos

quais 25% são com menos de 10 anos. O número de alunos desta escola com 10 ou

mais anos de idade é?”

Apresentamos três resoluções: duas envolvendo operações consideradas

convencionais para a resolução do problema, uma de divisão e outra de

multiplicação, porém incompletas e com resultado errôneo, e a terceira resposta

contendo uma solução adequada e diferente.

Após a análise da solução dos alunos fictícios os professores apresentaram

as seguintes considerações:

121

Que os alunos não assimilaram o conteúdo e observo que é necessário trabalhar com os passos da divisão para ver de onde vêm essas dificuldades (PROFESSOR A).

Assimilou a 2.ª parte do processo [referindo-se ao aluno 1]. Assimilou a 1.ª parte do processo [referindo-se ao aluno 2]. O terceiro se baseou no termo menos 400-25 (referindo-se ao fato do 3 aluno recorrer a subtração sucessiva) (PROFESSOR B). O que chegou mais próximo foi o 1.º caso [aluno 1], porém não fez corretamente a conta. Não assimilou o conteúdo proposto [referindo-se ao aluno 2 e 3] (PROFESSOR C). O aluno ele já conhece a tabuada para fazer o problema [referindo-se ao aluno1]. O aluno ele já usou a porcentagem 25% para chegar na conta ele não soube fazer a conta [referindo-se ao aluno 2]. Ele (referindo-se ao aluno) tem que dar base nos números decimais jogos dominó e material didático [referindo-se ao aluno 3] (PROFESSOR D). O aluno assimilou a 2.ª parte do processo [referindo-se ao aluno1]. O aluno assimilou a 1.ª parte do processo [referindo-se ao aluno 2]. Ele usou o conceito “menos” para resolver a situação 400-25 [referindo-se ao aluno 3] (PROFESSOR E).

Ao examinar as primeiras respostas dos professores sobre o que os alunos

compreenderam observando a resolução apresentada, constatamos que alguns dos

professores utilizam-se do procedimento convencional28 para resolução da

porcentagem, entretanto a maioria demonstra não compreender plenamente esse

conceito . Percebemos que suas indagações se justificam pelo uso do procedimento

para explicar como o aluno resolve tal situação.

Notamos ainda que outros professores têm dificuldades de analisar as

resoluções dos alunos, o que de certo modo nos faz inferir que estes possuem

dúvidas quanto a outros modos de resolução desta situação-problema. Ressaltamos

que certa dificuldade no conteúdo ou no conhecimento e identificação de outras

soluções impede a reflexão sobre como o aluno resolve suas produções e de como

auxiliá-los no desenvolvimento da aprendizagem. Os estudos de Shulman (1986)

indicam a importância do conhecimento específico do conteúdo, que compõe um

dos itens necessários ao Conhecimento Profissional Docente.

Novamente aqui temos mais alguns indícios de que possivelmente as

respostas destes professores se justificam pelo que aprenderam no decorrer de sua

vida, o que nos remete ao que indicam Tardif e Raymond (2000). Entretanto,

28

Estes professores tendem a utilizar a ideia de parte-todo para calcular o valor de uma porcentagem, ou seja, multiplicar pelo índice e dividir o produto obtido por 100.

122

acreditamos que propostas de análises como esta, inspiradas nos estudos de Ball e

Bass (2003), permitem que o professor reflita sobre como o aluno soluciona as

diferentes situações-problema. Consideramos que esse tipo de análise possibilita ao

profissional uma inserção no mundo da pesquisa. Sobre isso Magina et al. (2008)

comentam:

É nesta hora que percebemos a importância fundamental da atitude de pesquisador que assume o professor. É ele que percebe o teorema ou relações por trás da ação do aluno e, a partir daí, pode propor novas situações problema, possibilitando a expansão do aluno (MAGINA et al., 2008, p. 16).

Para uma melhor compreensão, retomamos a questão na entrevista, e

pedimos aos professores que explicassem como ensinam esse tema, com o objetivo

de perceber quais os conhecimentos dos professores sobre o conteúdo e qual

estratégia eles utilizam para resolução e ensino. Isso permitiria entender melhor as

indicações que os sujeitos entrevistados relatam no questionário.

Podemos analisar abaixo as respostas dos professores:

Eu faço assim, eu pego uma televisão, vamos assim dizer, o que eu consulto ali é o básico mesmo, ou seja, o tradicional, nada de diferente e eles pegaram. Por exemplo eu tenho uma televisão que custa 600 reais e tenho desconto de 20% para quem vai pagar à vista. Então eu disse a eles: vocês vão pegar esses 600 reais multiplicar por 20. É o básico o que a gente aprendeu na escola. O que eu aprendi na escola. E aí o que deu a gente vai estar deduzindo vai fazer uma subtração [...] é o valor que eu vou estar pagando pela TV. Eu coloquei na lousa eles foram lá fizeram. Propus outros exercícios. No meu modo de ver é o mais fácil (PROFESSOR A).

Agora eu nem sei (cochichou) [...] nós multiplicamos [...] Primeiro seria a multiplicação e o segundo a divisão, mas aí agora (PROFESSOR B).

Bom, teria que pegar aqui, trabalhar sempre o 100% no caso [...] Na verdade o 1.º caso e 2.º caso eles chegaram próximo porque trabalhou a divisão e multiplicação. Está mais o último eu desconsiderei porque ele subtraiu. Eu explicaria [...] Pegaria um valor, um valor que ficaria destacado no problema e multiplicaria por 100 e se fosse o caso cortaria o zero e ficaria com o resultado, dividiria por 100, multiplicaria por 100 primeiro, depois dividiria (PROFESSOR C).

[...] eu ia passar um exemplo para ele e a ação como é que faz, passo a passo da porcentagem [...] também tratando que a porcentagem trata de saber a tabuada (PROFESSOR D).

Primeiro antes de entrar na porcentagem acho muito importante eles terem a noção dos termos da operação. Que é muito difícil eles chegarem da quarta série usando esses termos, então eu sempre tento assim, quando eu estou explicando eu já utilizo. Ah! É de mais, não tem outra palavra. A adição. Então os meus alunos eles já estão bem acostumados com estes termos. Agora em relação a porcentagem eu leio o enunciado vou tirando palavras-chave e que eles têm que ler por um processo de partes que eles não podem fazer tudo ao mesmo tempo, que eles têm que ler parte por

123

parte e irem interpretando para depois resolvendo. E a tabela da porcentagem os dois números multiplicados divididos por 100 (PROFESSOR E).

Observamos que o discurso utilizado por alguns professores para justificarem

suas práticas foi inconsistente, e isto reafirma que estes possuem dificuldades no

entendimento do conteúdo e por consequência no ensino deste tema para os

alunos. Shulman (1986, p. 9) relata que o conhecimento específico do conteúdo é

um dos aspectos necessários para o desenvolvimento do conhecimento profissional

docente.

Nesse contexto, foi possível observarmos que o professor A utiliza de

situações cotidianas no ensino de porcentagem ao relatar o exemplo de compra e

juros destas. Podemos verificar que a contextualização dos conteúdos com

situações do dia a dia promove a melhoria da aprendizagem, como nos apontam

outros estudos como o de Carraher (1988), Leitão et al. (2008), entre outros.

Além disso, de modo especial enfatiza-se o depoimento do professor A,

quando este relata que usa os mesmos métodos que aprendeu na escola quando

estudante para ensinar seus alunos; isto novamente nos faz lembrar das ideias de

Tardif e Raymond (2000).

O excerto a seguir mostra tais evidências: “É o básico o que a gente aprendeu

na escola. [relato sobre porcentagem] O que eu aprendi na escola” (PROFESSOR

A).

Outro aspecto evidenciado é a utilização das expressões “passo a passo” da

porcentagem, e “termos da operação”, que nos permite inferir que provavelmente o

foco das suas aulas sobre porcentagem está no algoritmo.

Consideramos que, assim como foi comprovado no estudo de Nürnberg

(2008), o professor D acredita ser necessário o domínio da tabuada para a resolução

da divisão e multiplicação. Nürnberg (2008) analisou um grupo de professores, os

quais também indicaram ser indispensável o conhecimento da tabuada para o

procedimento do algoritmo da multiplicação e divisão.

Notamos ainda que o professor E utilizou-se da interpretação das situações-

problema como meio de intervenção para que os alunos compreendessem o que

124

lhes é solicitado no enunciado da atividade e percebessem qual operação deveriam

utilizar para solucionar o que lhes foi proposto. Estes aspectos também apareceram

no artigo elaborado por Borba et al. (2008).

Percebemos que as respostas dos professores ao item 2.1b, no qual estes

indicam sugestões para a aprendizagem para os diferentes alunos e suas possíveis

intervenções, vêm complementar as primeiras análises acima. A seguir, podemos

observar a questão e as respostas dos professores quando pedimos sugestões de

intervenção para a aprendizagem nos diferentes casos:

É necessário voltar para diagnosticar os problemas (voltar com os passos da Matemática na divisão) (PROFESSOR A). Rever conceitos, trabalhar com duplas produtivas, apresentar informativos de lojas e etc. (PROFESSOR B). Apresentar outras situações com dados de porcentagem (notícias, jornal de supermercado etc.) (PROFESSOR C). Começaria do zero para ver o que o aluno sabe o quê (PROFESSOR D). Retomar os conceitos Trabalhar com duplas produtivas Utilizar de material concreto, jogos, panfletos (PROFESSOR E).

As respostas dos professores confirmam as primeiras análises, uma vez que

alguns docentes indicam como sugestão a retomada de conceitos da operação

divisão, o que mostra que estes utilizam como base suas práticas no procedimento.

Além disso, notamos que dois docentes sugerem novamente as duplas produtivas e

dois professores propõem atividades com material do cotidiano dos alunos como

jornal, revistas, panfleto etc. Este fato remete-nos aos estudos de Vergnaud (1991),

pois os professores buscam diferentes situações para que o aluno desenvolva e

compreenda o conteúdo proposto.

Notamos ainda que os professores buscam compreender as estratégias de

resoluções que os alunos realizam e tentam propor atividades que os estimulem na

construção do conhecimento. Este fato nos lembra o Teorema em ação citado por

Vergnaud (1991), ou seja, o olhar do professor para as correlações matemáticas que

os alunos estabelecem para resolver uma dada situação-problema.

125

Observamos que, apesar das dificuldades apresentadas por alguns dos

professores, eles buscam estratégias para desenvolver um bom ensino aos seus

alunos. Notamos que os professores procuram entender as estratégias de resolução

dos alunos e tentam propor atividades estimulantes ao seu desenvolvimento.

Identificamos que, apesar de as práticas docentes dessa unidade escolar estarem

ligadas ao algoritmo e de estes utilizarem práticas de suas experiências como aluno,

evidenciamos que existe a procura por atividades que se assemelhem ao cotidiano.

Portanto, esses professores procuram estabelecer uma relação entre o conteúdo

procedimental e o uso em seu dia a dia.

5.3.3 Quanto às situações envolvendo operações de multiplicação e divisão

Nas Questões 2.2 e 2.3 apresentamos aos professores problemáticas que

permitissem analisar situações em que fossem avaliados os procedimentos de

cálculo com papel e lápis. Aqui também nossa intenção era avaliar a compreensão

do docente sobre como se dão os processos de ensino e de aprendizagem dos

algoritmos da multiplicação e divisão.

De modo especial, elaboramos a questão e a produção dos alunos de forma

que pudéssemos ver como o professor avaliava a resolução da operação – divisão –

apresentada por dois alunos. Destaca-se que esta questão foi retirada do Relatório

do Saresp 2009 e obteve índice 38% de acerto pelos estudantes.

No item 2.2 do Capítulo 4 p.99 pretendíamos avaliar a habilidade 11 do

Saresp, no qual é proposto o cálculo de um resultado de uma multiplicação ou

divisão de números naturais. Foi apresentada uma questão em que se pedia o

cálculo do quociente 9165 ÷ 13. Solicitamos que o professor explicitasse aspectos

que poderiam indicar o grau de compreensão de dois alunos ao resolver a operação.

Foram apresentadas as respostas de dois alunos fictícios: um contendo a solução

da divisão e da subtração do resto de modo adequado, porém com equívoco na

representação da dezena do quociente, e outro que soluciona o procedimento da

divisão corretamente.

Para essa questão a análise dos professores foi a seguinte:

126

Observa-se que o 1.º aluno não conseguiu absorver o conteúdo – os passos da divisão [referindo-se ao algoritmo da divisão] onde na divisão há necessidade de colocar um 0 no resultado – produto [referindo-se ao quociente] (PROFESSOR A). O segundo entendeu processo da divisão usando o recurso de que quando você abaixa 2 números deve-se lançar o zero no quociente (PROFESSOR B). O aluno 1 não tem conhecimento da tabuada e se perdeu na subtração (PROFESSOR C). O aluno ele teve um raciocínio lógico ele soube a tabuada [referindo-se ao aluno 1]. O aluno ele soube fazer a conta com a tabuada ele também fez a prova real o método para fazer a conta exata [referindo-se ao aluno 2] (PROFESSOR D). Se encontra no processo, porém falta compreender que quando se desce um número e não dá para dividir, acrescenta-se o zero no quociente [referindo-se ao aluno 1]. Compreendeu o processo [referindo-se ao aluno2] (PROFESSOR E).

Observamos que alguns professores dominam o algoritmo da divisão.

Todavia, verificamos que os docentes nem sempre se utilizam corretamente do

vocabulário matemático para justificar os procedimentos dos estudantes, o que nos

remete aos estudos de Shulman (1986) sobre o conhecimento específico do

conteúdo.

Isso nos permite inferir que possivelmente este deve ser um tema mais

explorado por esse grupo de professores. Assim, observamos mais uma indicação

de que as práticas docentes estão próximas ao descrito como as metodologias da

Tendência Formalista Clássica (FIORENTINI, 1995, p. 5), porém identificamos o

interesse desses docentes em entender as estratégias usadas para resolução da

divisão.

Notamos nos depoimentos que esses professores justificam seus relatos do

uso do algoritmo, principalmente quanto ao uso da tabuada. Tal relação também foi

observada nos estudos de Nürnberg (2008). A autora identificou a necessidade do

domínio da tabuada para o ensino das operações da multiplicação e divisão.

Para complementar as análises acima, os professores sugeriram como

possíveis intervenções:

A intervenção seria no campo da observação. O aluno deverá observar se necessário fazer a prova real onde ele verá de imediato o valor [...] chegará a conclusão que é necessário arrumar – desde que ele tenha absorvido todos os passos da divisão (PROFESSOR A).

127

Quanto ao 1.º, ele está caminhando para o entendimento do processo, usou corretamente o recurso da subtração, abaixou os dois números precisos (6 e 5), porém faltou lançar o zero no quociente. Sugestão – utilizar como recurso a prova real, possibilitando assim que o próprio aluno venha a perceber que o resultado foi diferente, fazendo com que ele retorne a operação inicial (PROFESSOR B). Na divisão o aluno poderá fazer a prova real (PROFESSOR C). Mostraria que sem saber a tabuada e prova real sem fazer ele não chegaria no resultado. Fazendo o processo de número por número caminhando para resposta correta de uma divisão (PROFESSOR D). Usar a prova real como recurso, de forma que o aluno, ao verificar a diferença dos resultados, reflita e busque alternativas para solucionar o problema. O professor poderá dar dicas (PROFESSOR E).

Observamos, pelos relatos dos professores, que eles, em unanimidade,

utilizariam a prova real,29 pois acreditam ser uma maneira de o aluno comprovar que

o resultado está correto, usando-se a operação inversa. Isso nos remete, mais uma

vez, à ideia do Teorema em ação de Vergnaud (1991) ao relatar que os alunos

empregam diferentes estratégias para comprovar suas respostas.

Para verificar, confirmar ou refutar as observações acima propusemos aos

sujeitos entrevistados que analisassem uma outra questão muito próxima da

anterior.

No item 2.3 do Capítulo 4 p. 100 pretendíamos avaliar a habilidade 11 do

Saresp, em que se propõe o cálculo de um resultado de uma multiplicação ou

divisão de números naturais. Foi apresentada uma questão em que se solicitava o

cálculo de 326 x 40. Novamente pedimos que os professores explicitassem aspectos

que poderiam indicar o grau de compreensão de dois alunos ao resolver a operação.

Foram expostas as respostas de dois alunos fictícios: uma contendo a solução da

multiplicação correta e outra com erros na resolução procedimental.

O objetivo deste item foi identificar como o professor avaliou a resolução da

operação multiplicação feita por dois alunos.

29

Segundo Affreixo (1871, p. 18), provas são operações feitas de modo diferente das primeiras, nos certificamos dos seus resultados, ou nos advertem de seus erros.

128

Evidenciamos que a questão foi retirada do Relatório do Saresp 2009 e

obteve índice de 53,9% de acerto pelos alunos.

Obtivemos como respostas dos professores as seguintes observações:

O 2.º aluno ainda não consegue resolver desafios no campo multiplicativo. Já o 1.º aluno resolve obtendo o resultado certo, porém ainda não adquiriu o mecanismo/processo correto (PROFESSOR A). O primeiro aluno compreendeu totalmente o processo da multiplicação. Quanto ao segundo, ele não utilizou-se do recurso de subir os números (PROFESSOR B). No primeiro caso o aluno dominou o raciocínio da conta e no 2.º caso, além do aluno não dominar a tabuada, se perdeu na soma dos números (PROFESSOR C). O primeiro compreendeu o processo da conta [referindo-se ao aluno 1]. O aluno desce o zero multiplica o 4 por 6 e a soma o fator incluiu a conta [referindo-se ao aluno2] (PROFESSOR D). O aluno compreende o processo [referindo-se ao aluno 1]. Deduzo que 2.º aluno desce o zero, multiplica o 4 por 6 e pelo 2, porém soma os fatores e inclui na conta (PROFESSOR E).

Cabe ressaltar que a referida questão é comumente encontrada nos

materiais didáticos e nos permite analisar uma situação resolvida no procedimento

de cálculo papel e lápis.

Analisando tais depoimentos, podemos inferir mais uma vez que os

professores envolvidos pareciam mais à vontade ao emitirem opinião sobre o

processo de ensino dos algoritmos. Percebemos o uso de expressões dos

professores como “recurso”, “mecanismo” e “processo”, o que indica sua

familiaridade com os aspectos procedimentais de resolução, familiaridade esta que

compõe os saberes pré-profissionais definidos no quadro de saberes de Tardif

(2000).

Identificamos que estes docentes pareceram instigados a entender as

resoluções dos alunos, o que Ball e Bass (2003) afirmam ser essencial no

desenvolvimento do conhecimento. Além disso, evidenciamos que dominam o

procedimento da multiplicação, o que Shulman (1986) indica sobre o conhecimento

específico.

Para complementar a análise, sugerimos a questão 2.3 B na qual pedimos

aos docentes que dessem sugestões de atividades para as dificuldades

encontradas.

129

Bingo e material confeccionado pelos alunos (PROFESSOR A). Eu explicaria pelo método do “0 para fora” (PROFESSOR B). No primeiro caso eu orientaria o zero fora da conta e no segundo caso faria a conta junto com o aluno passo a passo (PROFESSOR C). Eu usaria a multiplicação por número com zero para fora ou número por número desde unidade, dezena e centena e milhar, todo processo de multiplicação (PROFESSOR D). Explicaria pelo método para fora, ou pela multiplicação por CDU (PROFESSOR E).

Percebemos mais uma vez por parte dos docentes investigados a indicação

de uma diversidade de contextos e situações. Eles sugerem bingos, uso de material

concreto, outros meios de resolução como o “zero para fora”,30 ou seja, inferimos

que estes, em situação de sala de aula, promovem diferentes situações significativas

para que o aluno desenvolva sua compreensão sobre o conteúdo.

Quanto ao “zero para fora”, dois professores acreditam que este

procedimento é apresentado como uma alternativa para facilitar a resolução da

operação.

Identificamos que os docentes buscam diferentes estratégias em situação de

ensino do algoritmo. Além disso, percebemos a falta de entendimento conceitual por

parte dos sujeitos envolvidos neste estudo, visto que não houve a indicação de

atividades que desenvolvessem o valor posicional.

5.3.4 Quanto à situação-problema envolvendo proporcionalidade

Apresentamos em seguida, aos professores, uma questão cuja finalidade era

retomar a reflexão sobre o desenvolvimento do raciocínio do campo multiplicativo e

ampliar nossas análises. Escolhemos uma questão que pertencia ao Guia de

Orientações do Programa Ler e Escrever do 4.º ano.

Este item apresentado no Capítulo 4 na p. 101 -102 envolve uma situação do

cálculo de uma proporcionalidade simples e avalia a habilidade 13 do Saresp, que

propõe o cálculo de multiplicação e divisão em situações de comparação entre

razões e configuração retangular. O enunciado apresentado foi:

30

Trata-se da simplificação procedimental da operação.

130

“Sabendo-se que 4 maçãs custam RS 2,50, quanto Julia pagará por 16 maçãs?”

Propusemos duas resoluções de alunos fictícios: uma contendo resolução por

multiplicação, porém com entendimento equivocado do enunciado, e uma correta

com resolução por meio da adição de parcelas iguais.

Ao examinarmos as respostas dos professores, verificamos que os três

professores consideram correta somente a adição por parcelas iguais:

A primeira criança não conseguiu resolver a questão, pois não conseguiu assimilar o conteúdo – utilizou as propriedades associativas, comutativa etc. (PROFESSOR A). O 2.º chegou ao resultado esperado, não utilizando-se do recurso que seria dividir 2,50 por 4 e multiplicar o resultado por 16. O 1.º não leu com atenção, o que gerou a incompreensão do que foi pedido, ele entendeu que teria que multiplicar 2,50 por 16 (PROFESSOR B). O 1.º caso não obteve o resultado positivo, mas no 2.º caso não usou a multiplicação, porém fez corretamente o resultado – raciocínio lógico (PROFESSOR C). [o primeiro aluno] Não conseguiu compreender a conta. [o segundo aluno] Ele chegou no resultado no objetivo dado a ele (PROFESSOR D). [o primeiro aluno] Embora multiplicasse por 16, não compreendeu que 2,50 era o preço das 4 maçãs juntas. [o segundo aluno] Chegou ao resultado, mesmo não fazendo a divisão, pois seria um recurso desnecessário (PROFESSOR E).

Percebemos nos relatos apresentados pelos professores a tendência de

aceitar melhor a proposta do aluno que considerou o valor de 4 maçãs como

unitário, pois este resolveu por meio da multiplicação.

Notamos ainda que o procedimento utilizado pelo aluno fictício 2 seria o mais

indicado para resolver o problema, visto que descobrir o valor unitário e depois o

total seria muito mais complexo do que a estratégia do cálculo proporcional utilizada

pelo estudante em questão.

Retomamos na entrevista alguns aspectos da questão analisada para

complementar os dados anteriores:

Sim, eu consideraria certo [o aluno 2] mas eu mostraria ao segundo aluno [...] que dependendo de [...] na vida, no dia a dia, muita gente não vai aceitar isso aqui. Por exemplo, [...] quando você vai fazer um concurso, [...] então eles te cobram uma coisa, você vai considerar isso está certo ótimo,

131

só que na hora que o rapaz está fazendo um teste para o concurso ou numa firma consideraria porque ele usou uma outra saída (PROFESSOR A). Ficou constrangida e não respondeu (PROFESSOR B). O segundo aluno aqui eu consideraria certo (PROFESSOR C). O da multiplicação está correto (PROFESSOR D). Ok, Mesmo considerando que o aluno que resolveu pela adição estava com o resultado o correto? (entrevistadora) . É porque aqui ele foi na tabuada, passo a passo e na adição ele foi direto, ele já somou tudo e por o método da multiplicação ele não chegaria no resultado ideal mais no próximo (PROFESSOR D). Eu consideraria o segundo certo porque ele chegou ao resultado. Mas o professor deveria fazer um trabalho para questionar como ele chegou a esse resultado e mostrar a ele outro jeito mais prático (PROFESSOR E).

Pela análise dos depoimentos conclui-se que dois professores demonstram

necessidade de maior intervenção do conceito da multiplicação e um professor não

mostrou preocupação com a exatidão da resposta, mas pelo procedimento utilizado

pelo aluno na resolução.

A fragilidade nos argumentos da resposta do docente em relação ao

conhecimento proporcionalidade pode ser observada pelo fato de o professor D

considerar a resolução por parcelas iguais inadequada. Neste relato, “este daqui foi

direto [...] já somou tudo”, ele julga a resposta da multiplicação adequada às suas

expectativas, mesmo apresentando resultado incorreto.

Outro aspecto a ser ressaltado é o fato de um dos professores ter ficado

constrangido e não ter respondido a questão. Ao que tudo indica, o professor pode

não possuir conhecimento do conteúdo. Isso nos leva a refletir sobre a inter-relação

entre o Conhecimento do Conteúdo e as demais vertentes citadas por Shulman

(1986) para a formação do Conhecimento Profissional Docente (conteúdo didático,

específico e curricular).

Constatamos que três professores aceitam a resposta pela adição de

parcelas iguais, porém dois deles colocam a necessidade de ampliação dos

conceitos para os alunos da multiplicação e da divisão. Podemos inferir pelos relatos

dos professores que, apesar de aceitarem respostas distintas, tendem a centralizar o

ensino nos procedimentos. Encontramos também estes dados em pesquisas

realizadas por Rodrigues (2006) e Araújo (2003), que identificam que, apesar de os

professores reconhecerem as diferentes estratégias de resoluções dos estudantes,

estes tendem a valorizar a resolução de problemas por meio das operações.

132

Percebemos que o professor E contradiz seus depoimentos, e afirma

inicialmente que a divisão seria desnecessária e que o aluno resolveu corretamente.

Todavia, em seguida, sugere que o professor apresente ao aluno um “jeito mais

prático”, sem identificá-lo.

Com base no que foi verificado, entendemos que a história de vida

profissional provavelmente influenciou o docente em suas análises. Nesse sentido,

vemos que estes professores vivenciaram experiências positivas com o uso do

algoritmo, seja como estudantes ou professores, e essas práticas os estimularam a

utilizá-las em suas ações docentes.

Portanto, podemos inferir que esses profissionais, ao utilizarem dessas

práticas focadas no procedimento com seus alunos e obterem estes bons

resultados, são estimulados a retornar a praticar as mesmas ações educativas.

Schön (1983), em seus estudos, relata a importância de oferecer momentos

para reflexão da e sobre a prática, e para isso é preciso colocar situações

desafiadoras para que os professores reflitam e modifiquem suas ações educativas

com os alunos.

Notamos que as questões aqui apresentadas permitiram aos professores o

desafio de entender como são as estratégias dos alunos, os conhecimentos por ele

mobilizados e como fazer para auxiliá-los na aprendizagem.

Quando perguntamos aos professores sobre possibilidades de intervenção,

obtivemos como respostas:

Levar os alunos a terem conhecimento da tabuada/ como bingo/ sorteio (com formação de grupo = quanto é 2 x 9 = sorteio) material todo confeccionado pelo aluno (PROFESSOR A).

Sugestão Leitura e sugestão por etapas (PROFESSOR B).

Trabalharia com material concreto, ou até mesmo desenhos (maçãs) (PROFESSOR C).

1.ª Eu usaria o processo na conta passo a passo todo multiplicação e divisão. Para ele ler reler o enunciado do problema (PROFESSOR D). Reler o enunciado, resolvendo por partes ou no concreto (PROFESSOR E).

A partir das sugestões dadas pelos professores, inferimos que estes tentam,

cada um a seu modo, buscar meios para solucionar as dificuldades dos alunos, o

que, segundo Vergnaud (2001), promove a formação de um conceito, no caso, a

133

proporcionalidade. Notamos que as sugestões dos docentes possuem pouca

precisão específica, e verificamos este fato em dados obtidos em outras pesquisas

anteriores como as de Borba et. al (2008). As autoras consideram que, além de não

ficar clara nas entrevistas a relação das dificuldades com as atividades sugeridas, o

material concreto aparece como:

[...] algo meio “mágico” para resolver as dificuldades em Matemática. Assim, o uso do material, sem análise do tipo de intervenção que vai ser realizada, não parece ser uma resposta que esclareça e mobilize novas propostas de trabalho em sala de aula (BORBA et al., 2008, p. 10).

Observamos que os professores participantes justificam seus discursos nas

escolhas para o processo de ensino e aprendizagem de proporcionalidade de modo

frágil, pois entram em contradição em seus depoimentos. Quanto aos

conhecimentos matemáticos, percebemos dúvidas e dificuldades dos docentes, o

que causa um maior obstáculo no entendimento das produções dos alunos e nas

possíveis atividades para auxiliá-los. Notamos que a relação entre as concepções

reais dos educadores e a prática pedagógica é muito complexa. Cabe destacar que

os docentes têm a preocupação com o ensino procedimental das quatro operações

e que alguns deles aceitam outros modos de resolução. Observamos que há um

grande envolvimento dos participantes da pesquisa com fatos de sua vida escolar.

5.4 Quanto ao trabalho do grupo da escola

Outro ponto a ser considerado é a importância que os professores colocam no

trabalho conjunto realizado na escola, ou ao que eles mesmos chamam de “troca de

experiências”. Tal fato pode ser observado no depoimento dos professores B, C, E:

Então tanto a atividade um professor passando para o outro (PROFESSOR B).

[...] como trabalhar o material concreto por conta de muitas vezes não ter o material na escola ou muitas vezes tem o material na escola e a gente não tem o tempo de estar manuseando e trocando as experiências com outros que têm outras experiências com os materiais concretos que eu acredito que ajude muito na aprendizagem dos alunos (PROFESSOR C).

A Matemática nós começamos a trabalhar sempre uma passando para outra... (PROFESSOR E).

Observamos ainda que o profissional responsável pela gestão da escola

também acredita no trabalho conjunto realizado na escola:

134

No trabalho desenvolvido em equipe pelos professores, e acho que as provas mensais nos mesmos moldes do SARESP e com troca de professores [...] a utilização das aulas ao sábado onde foram as reposições dos dias de suspensão de aula por causa da H1N1 para reforço escolar e a utilização do programa Ler e Escrever (DIRETOR).

Nesse momento, percebemos que há, por parte do grupo, um

comprometimento grande com o trabalho conjunto, e esse aspecto parece ser um

indício de um dos fatores que permitem aos alunos dessa escola se saírem bem nas

avaliações externas. Há um compromisso do grupo de educadores com tal ação

educativa.

Analisando os depoimentos dos professores e equipe gestora, percebemos

que os profissionais valorizam os momentos de interação. Estudos como os de

Zeichner (1993) indicam que a colaboração proporciona aos professores mudança

nos seus pensamentos e ações sobre sua prática. Assim como Clark (1996, p. 194-

195), citado por Mizukami (2004), discute a relevância de momentos de reflexão

coletiva, mencionando que “a colaboração [...] é algo que poderia trazer benefícios

aos professores e pesquisadores”. Os autores afirmam que esta ação permite que

os professores modifiquem suas práticas, porém chama a atenção para o fato de

que a pesquisa colaborativa deve possuir objetivos adequados. Assim, afigura-se-

nos preocupante observar que a rede pública estadual não vem demonstrando

interesse em favorecer a discussão sobre temas ligados aos processos de ensino e

aprendizagem em Matemática.

Como nosso intuito era mapear os espaços destinados à discussão

pedagógica e verificar a proporção em que os temas ligados à Matemática haviam

sido discutidos, solicitamos aos professores que relatassem sobre o Horário de

Tempo Pedagógico Coletivo (HTPC) e se os assuntos nele tratados eram referentes

à disciplina de Matemática.

Verificamos que as respostas foram divergentes; três professores relataram

conter assuntos referentes à disciplina e dois disseram não haver formação quanto à

Matemática, mas assuntos destinados ao ensino da Língua Portuguesa. Reiteramos

os aspectos de formação citados por Ponte (1998, p. 12), o qual discute a

importância de incentivar o estudo para os profissionais docentes. Nesse caso,

135

podemos supor, diante das divergências das respostas dadas pelos professores,

que essa formação destinada ao ensino da Matemática acontece raramente.

Entretanto, o coordenador pedagógico aponta algumas temáticas que,

segundo seu depoimento, foram discutidas nos HTPC:

A maneira de ensinar Matemática as didáticas mais antigas e a didática atual do ensino da Matemática e, além disso, nós usamos alguns temas como por exemplo o ensino da adição trabalhamos também como trabalhar as situações-problema em sala de aula. Foram as duas pautas que nós trabalhamos em HTPC (COORDENADOR PEDAGÓGICO).

Tais observações são confirmadas nos depoimentos dos docentes:

A gente faz tudo na lousa. Faço tudo na lousa. Faço às vezes mimeografada, mas ultimamente eles têm feito na lousa, eles têm copiado (PROFESSOR A). Bom, o livro didático é o que eu menos uso. O que eu uso é o Ler e Escrever que precisa tá dentro dele. Mas é mais o recurso é a lousa e jogos também, nós procuramos então esses são os recursos mais utilizados (PROFESSOR B). O material dourado e algumas situações que eu tiro mimeografada e até mesmo do material dourado. Mas o material dourado foi na verdade mais no primeiro semestre. E as figuras geométricas também que não deixam de ser o material concreto que tem no Livro do Ler e Escrever, para trabalhar tanto nome quanto como face, arestas, para estar explorando esses materiais também por conta até da situação do SARESP (PROFESSOR C). [...] fora o livro, tem joguinho. [...] É tem aqueles material dourado tem passo a passo deles e aí vai. Tem até com letras (PROFESSOR D). Eu trago bastante atividades xerocopiadas com tabelas, com gráficos, com malha, então para eles estarem recortando ontem mesmo nós fizemos, os sólidos que tinha no livro do Ler e Escrever, eu pedi para eles recortarem, deixei eles pintarem, montaram e agora nós vamos trabalhar em cima das vértices, arestas, lados porque eles necessitam também do concreto para trabalhar. Então eles adoram desafio é uma coisa que eles adoram (PROFESSOR E).

Observamos que os docentes, apesar de utilizarem práticas que inicialmente

são vistas como tradicionais, preocupam-se com o ensino e aprendizagem dos

alunos, quando propõem materiais de manipulação para solução e entendimento

das atividades propostas, jogos, uso de tabelas e situações-problema em materiais

xerocopiados, além de proporcionar a construção destes materiais. Essa diversidade

nos remete ao estudo de Vergnaud (1991) quando relata a importância de diferentes

situações significativas para que ocorra a aprendizagem.

136

Concluímos a entrevista com o relato dos professores sobre quais ações

foram realizadas pela equipe escolar para atingirem as metas do Saresp. Em

síntese, os professores relataram aspectos relevantes que proporcionaram uma

excelente proficiência nesta avaliação externa. Segue o depoimento dos

professores:

Então a gente trabalha muito assim... pesquisa muito em cima do que já foi feito, você passa na lousa. Se você pegar o caderno você vai ver tem bastante coisa com questões de opções e todo mês a gente faz provinhas do simulado do Saresp tanto de português como de matemática. A gente chama na lousa. A gente tenta recuperar é que este ano as crianças estão bem defasadas em aprendizagem (PROFESSOR A).

[...] fizemos um levantamento no HTPC, que foi totalmente voltado para o Saresp. Então, tanto a atividade uma professora passando pro outro e nós ficamos bem em cima de tudo isso (PROFESSOR B).

Assim uma coisa boa que tá acontecendo aqui [...] Que todo mês a gente aplica uma prova do Saresp. Todos os meses tanto de Língua Portuguesa quanto de Matemática e é muito bom, porque a gente, a gente revê aquilo que o aluno está errando, mais trabalha com gráfico, com tabela, muita interpretação, a prova do SARESP, ela é todinha interpretação, e isso tá facilitando muito eu percebo que os alunos que têm mais dificuldade tão evoluindo mais na aprendizagem neste ponto. Então está ajudando bastante (PROFESSOR C). [...] pegaram bastante na produção de texto que é o que exige bastante e na multiplicação, na área da porcentagem, divisão, probleminha, desafio (PROFESSOR D). A Matemática nós começamos a trabalhar sempre uma passando para outra, mas nós estamos tentando dar todo conteúdo necessário para que eles possam conhecer, ter a base para poder resolver, por que eu falei para você da outra vez, essa questão que o livro do Ler e Escrever ele entra já com fração, com números decimais e eles vêm para quarta série e é muito difícil eles já terem essa noção. Então é um trabalho contínuo que a gente tem que estar trabalhando conteúdo para poder eles estarem tendo pelo menos o conhecimento para resolver a situação que foi exposta (PROFESSOR E).

Observamos nos professores entrevistados que em suas práticas

pedagógicas estes utilizam uma diversidade de atividades e recursos. Notamos que

as práticas de ensino centram-se na organização de atividades que possibilitem o

treino das habilidades do Saresp. Podemos notar isto nos exemplos de atividades

apresentados nos modelos de avaliações aplicadas mensalmente, que se encontram

no Anexo B (p.VI). Acreditamos que, segundo as entrevistas e questionários

analisados, estas atividades fizeram com que a escola e os alunos obtivessem um

excelente desempenho nessa avaliação externa.

137

Cabe ressaltar que existem nos depoimentos outros aspectos que

proporcionaram um desempenho na avaliação externa acima do observado em

outras instituições do mesmo Estado. Foi observado que os professores da escola

pesquisam nos relatórios e avaliações dos anos anteriores do Saresp, que realizam

recuperação paralela e contínua dos alunos com dificuldade, que trabalham

coletivamente favorecendo a troca de experiências e atividades que obtiveram

sucesso. Procuram ainda retomar questões em que observam as maiores

dificuldades dos estudantes, trabalham com a interpretação do enunciado e com o

procedimento das quatro operações, elaboram atividades preparatórias – o que os

professores chamam de “dar base” para resolução das atividades do Ler e Escrever.

Percebemos também que o uso do material Ler e Escrever pode também ter

favorecido discussões e encaminhamentos diferenciados nas atividades de sala de

aula.

Finalmente, observamos com a análise do perfil profissional dos docentes

participantes de nossa pesquisa que se trata de profissionais que estão em final de

carreira e que, portanto, possuem uma diversidade de experiências como

estudantes e educadores voltadas para as diversas tendências citadas por Fiorentini

(1995). Todavia, podemos inferir que os professores utilizam muitas vezes dessas

experiências para ensinar seus alunos da mesma forma que aprenderam, conforme

citado por Tardif e Raymond (2000), e tendem a procurar meios significativos para

suas aulas. Verificamos que alguns professores demonstram que em seu histórico

de vida não foram estimulados a gostar de Matemática e, portanto, este fato pode

causar certa dificuldade na disciplina, o que nos remete ao estudo de Shulman

(1986) ao relatar a necessidade do domínio de conteúdo para ter uma boa prática

docente.

Quanto à formação, constatamos que os professores possuem como

formação inicial e principal o Magistério e a graduação em Pedagogia. Verificamos

que somente dois dos professores pesquisados realizam formações continuadas

oferecidas pela Secretaria do Governo Estadual de São Paulo e universidade

privada. Percebemos ainda que as formações em HTPC são voltadas para o ensino

de Língua Portuguesa e abrangem pouco o ensino de Matemática. Por conseguinte,

notamos que a formação continuada destes professores é deficitária. No entanto,

inferimos que há uma formação continuada, que não é representada na forma de

138

curso. Trata-se das atividades destes profissionais quando pesquisam, estudam o

Programa Ler e Escrever e as questões da avaliação externa. Destacamos aí a

importância de um material de apoio ao docente bem elaborado. Entretanto, vale

ressaltar que o material por si só não é garantia de um excelente resultado, visto que

um bom conhecimento do conteúdo específico poderia potencializar o seu uso.

Quanto ao conhecimento profissional docente dos sujeitos desta pesquisa

identificamos em relação aos estudos de Shulman (1986) que eles possuem vasta

experiência – conhecimento didático – e identificam os conteúdos e conhecem os

documentos oficiais apropriados para o ano em que lecionam – conhecimento

curricular. Todavia, sabemos que o conhecimento curricular vai muito além dessa

identificação, o que nos parece preocupante, uma vez que é por meio da relação

com o conhecimento do conteúdo que o conhecimento curricular se efetiva.

Notamos a dificuldade demonstrada pelos professores no tocante ao conhecimento

específico do conteúdo – campo conceitual multiplicativo.

Quanto aos estudos de Tardif e Raymond (2000), identificamos que os

professores se utilizam de suas experiências anteriores profissionais e pessoais no

desenvolvimento de suas atividades.

Nesse sentido, Schön (1987) é identificado quando os docentes realizam a

reflexão sobre e na prática. Observamos ainda que estes docentes utilizam uma

diversidade de metodologias e trabalham colaborativamente, o que nos remete à

ideia de Zeichner (1993).

As ideias de Ball e Bass (2003) aparecem quando os docentes buscam

entender as estratégias de resolução dos alunos e tentam auxiliá-los de diversas

maneiras.

Notamos que os professores buscam alternativas para um ensino de

qualidade diversificando conteúdos e atividades. Acreditam ainda no trabalho em

grupo, pois assim realizam trocas de experiências de forma a garantir a

aprendizagem.

139

5. 5 Quanto às atividades desenvolvidas pelos professores

Para complementar nossa investigação, pedimos também aos professores

que apresentassem atividades de alguns alunos. Nosso objetivo era verificar quais

tipos de tarefas os sujeitos investigados propõem aos estudantes, como corrigem e

analisam suas produções matemáticas. Solicitamos a todos os docentes algumas

atividades desenvolvidas em sala. Todavia, somente dois professores (B e E) deram

a devolutiva.

No instrumento apresentado pelo professor B, verificamos quatro situações-

problema envolvendo o campo conceitual aditivo, das quais duas dissertativas e

duas contendo alternativas. Observamos ainda que três destas questões foram

retiradas das avaliações externas do Saresp 2008.

A primeira situação-problema procurava verificar a compreensão dos alunos a

respeito do sistema de numeração decimal e realizar cálculos mentais, a qual

apresentamos a seguir:

Figura 18: Exemplo de atividade do professor B

Notamos que os alunos responderam corretamente, distribuindo as fichas

numéricas em cada caixa por meio dos seguintes registros:

140

Figura 1910: Respostas dos alunos do professor B

A segunda situação-problema envolvia a ideia de encontrar a diferença em

uma situação contextualizada, mas para isso os alunos teriam que realizar uma

adição ou subtração:

141

Figura 20: Exemplo de Atividades do Professor B

Fonte: São Paulo (Estado), Relatório do Saresp (2008).

Trata-se de uma questão apresentada no Relatório do Saresp 2008, cujo

objetivo foi desenvolver a habilidade “H-12 – Resolver problemas envolvendo adição

ou subtração relacionados aos seus diversos significados”, e obteve índice de acerto

de 65% dos alunos nesta avaliação externa.

Analisamos as respostas dos alunos na atividade e verificamos que estes

responderam adequadamente e realizaram a operação, sendo que os quatro alunos

resolveram pela subtração, mas um deles utilizou a adição para confirmar a

resposta, como podemos observar nas imagens a seguir:

Figura 21: Respostas dos alunos

142

A terceira questão pretendia avaliar se o estudante compreende a ideia de

multiplicação utilizando o sistema monetário:

Figura 22: Exemplo de atividade do professor B

Fonte: São Paulo (Estado), Relatório do Saresp (2008).

Esta questão também foi apresentada no Relatório do Saresp de 2008, cujo

objetivo foi desenvolver a habilidade “H14 – Resolver problemas utilizando a escrita

decimal de cédulas e moedas do sistema monetário brasileiro”, e obteve índice de

47% de acerto dos alunos nesta avaliação externa.

Observamos que os alunos responderam corretamente e todos realizaram a

operação da multiplicação para solucionar o que foi proposto:

Figura 23: Respostas dos alunos do professor

Notamos também que todos os alunos resolveram utilizando a operação

multiplicação, o que, analisando os depoimentos anteriores dos professores,

podemos inferir que a prática no ensino do algoritmo é mais acentuada.

143

A quarta situação proposta aborda o conteúdo unidade de medidas e

números decimais. Pretendia avaliar se o aluno resolve problemas do campo aditivo

utilizando o raciocínio lógico dedutivo e como elaborar situações envolvendo essa

mesma ideia:

Figura 24: Exemplo de atividade do professor B

Fonte: São Paulo (Estado), Relatório do Saresp (2008).

Trata-se de uma questão abordada no Relatório do Saresp 2008, cujo

objetivo foi desenvolver a habilidade “H-23 – Estimar a medida de grandezas

utilizando a unidade de medidas convencionais ou não”. Esta situação obteve

índice de 54% de acerto dos alunos na avaliação externa.

Observamos que, apesar de o professor utilizar o mesmo enunciado

apresentado no Saresp, ele modificou a estratégia para o trabalho com os alunos,

solicitando que eles criassem a situação-problema de acordo com os diálogos dados

e respondessem. Houve uma diversidade de enunciados e respostas:

144

Figura 25: Respostas dos alunos do professor B

Identificamos que a proposta de atividade do professor foi significativa, uma

vez que permitiu ao aluno criar, por meio de um contexto, sua própria situação-

problema. Observamos a diversidade de questões elaboradas pelos estudantes.

Este tipo de tarefa também é orientado pelo Guia de Planejamento e Orientação

(2010, p. 271-273). Notamos ainda que os alunos parecem ter o hábito de resolver

questões desse tipo, pois três estudantes elaboraram questões fechadas, como o

que é normalmente proposto pela avaliação externa Saresp.

Quanto à correção, notamos que o professor considera as diferentes

soluções. Observamos que os docentes pesquisam nos relatórios do Saresp

situações interessantes.

Podemos destacar que esta é uma atividade que permite o desenvolvimento

do enunciado do problema, fazendo uso dos dados sugeridos. O docente fornece

uma atividade rica aos alunos, pois estes poderão elaborar o enunciado de

diferentes maneiras e envolvendo diferentes operações.

145

Um outro instrumento foi disponibilizado pelo professor E envolvia duas

situações-problema e vários exercícios de fixação compostos por propostas de

multiplicação e divisão com operações para armar e efetuar.

Quanto à primeira situação-problema, observamos que envolve cálculo de

porcentagem utilizando a representação de uma tabela:

Figura 116: Exemplo de atividade do professor E

Trata-se de uma situação ligada ao cotidiano, cuja resolução é apresentada

em tabela. Notamos que os valores são indicados nos desenhos, assim como o

desconto a ser calculado está proposto na tabela. Observamos ainda que a

resolução do aluno a seguir é feita pela multiplicação e divisão.

146

Figura 27: Resolução do aluno da atividade de porcentagem

A segunda situação-problema trata do conteúdo unidade de medida de

tempo, no qual o aluno terá que calcular a duração da viagem:

Figura 28: Exemplo de atividade do professor E

Notamos que para solucionar o problema eles se utilizam de diferentes

representações: desenho e cálculo numérico. Observamos que o Aluno 1 usa a

imagem a fim de contar a quantidade de horas para realizar a viagem. O aluno 2

efetua a operação de subtração para solucionar o problema. Verificamos nesse

momento o emprego de diferentes representações:

Aluno 1 Aluno 2

147

Figura 29: Respostas dos alunos do professor E

As outras duas atividades apresentadas pelo professor E envolviam

operações de multiplicação e divisão para que o aluno armasse e efetuasse. Os

alunos analisados demonstraram conhecer o procedimento da multiplicação e

divisão:

Aluno 1

Figura 30: Respostas do aluno 1 do professor E

Aluno 2

148

Figura 31: Respostas do aluno do professor E

Identificamos que todos os alunos acertaram todas as operações, com

exceção de um aluno que errou na multiplicação e por consequência na adição final.

Quanto à correção, notamos que este professor considerou diferentes

soluções para a resolução. Percebemos a preocupação do docente de registrar à

caneta os erros cometidos pelo estudante.

Notamos que os professores (B e E) tiveram a preocupação de elaborar

questões e pesquisar em diferentes materiais livros e relatórios do Saresp. Vimos

que eles apresentam aos estudantes uma variedade de atividades, desde as que

envolvem mais os procedimentos até outras que exploram situações-problema

diversificadas.

Se retomarmos os relatos anteriores do professor B, verificaremos que,

apesar de possuir dificuldade no conteúdo, ele apresenta uma preocupação em

propor aos seus alunos situações-problema que envolvem aspectos do cotidiano.

Observamos também indicações de que o professor conhece as orientações

curriculares, uma vez que as atividades propostas (elaboração de enunciados de

problemas) estão presentes do documento de apoio – Guia de Planejamento e

Orientação do 5.º ano (2010, p. 271-273). Portanto, o docente tenta adequar as suas

práticas à utilização do Caderno Ler e Escrever.

149

Ao mesmo tempo, se observarmos os depoimentos do professor E, vemos

que ele apresentou maior número de estratégias de investigação das resoluções dos

alunos. Podemos observar a seguir este fato, quando o docente tenta resolver a

questão 2.3 indicada no Capítulo 5, na p.126:

Entretanto, o professor E propõe aos alunos situações-problema e a fixação

do procedimento das operações. A mesma preocupação aparece também em outros

estudos como os de Nürnberg (2008). Identificamos que os professores neste

estudo acreditavam que deveriam ensinar com as quatro operações para depois

resolver as situações-problemas. Notamos pelas atividades concedidas que os

alunos realizam as diferentes situações dadas, não apresentando dificuldades.

Ressaltamos que as diferentes atividades permitem que os alunos

compreendam as quatro operações e resolvam por diferentes estratégias as

situações-problema.

5.6 Quanto às observações em sala de aula

Observamos três aulas de 50 minutos de Matemática em duas turmas, dos

professores A e D, sendo duas aulas na primeira turma e uma aula na segunda

turma. Reiteramos que estes docentes foram selecionados por consentirem a

realização da observação.

A primeira classe observada foi a do professor A, que realizou uma sequência

de atividades sobre porcentagem, com o intuito de que os alunos compreendessem

aplicações de porcentagem e as possibilidades de cálculo.

Figura 12: Resolução do professor E questão 2.3

150

Inicialmente, observamos os cadernos dos alunos, verificando que na aula

anterior o professor havia começado o assunto porcentagem. Notamos que a

proposta inicial foi utilizar o número de alunos presentes na sala naquele dia, como

contexto para problematização de situações envolvendo o tema porcentagem. O

encaminhamento desta proposta pode ser visto a seguir:

Figura 33: Foto da aula anterior aluno1

Figura 34 - Foto da aula anterior aluno 2

Observamos que o docente se preocupa com a elaboração de atividades

contextualizadas e propõe um contexto de sala de aula na situação dada, o que é

um aspecto positivo para o desenvolvimento do ensino e aprendizagem. No entanto,

o professor equivoca-se na escolha de uma atividade introdutória, pois no seu

151

encaminhamento utilizou-se de um procedimento que não é indicado para alunos

desse nível de ensino. Provavelmente, fez uso do mesmo procedimento que havia

aprendido no final do Ensino Fundamental. O depoimento do professor A, a seguir,

sobre a questão de porcentagem comprova nossa assertiva:

Eu faço assim, eu pego uma televisão vamos assim dizer o que eu consulto ali é o básico mesmo, ou seja, o tradicional, nada de diferente e eles pegaram. Por exemplo, eu tenho uma televisão que custa 600 reais e tenho desconto de 20% para quem vai pagar à vista. Então eu disse a eles vocês vão pegar esses 600 reais multiplicar por 20. E divido por 100. É o básico o que a gente aprendeu na escola. O que eu aprendi na escola. E o que deu a gente vai estar deduzindo, vai fazer uma subtração daí é o valor que eu vou estar pagando pela TV (PROFESSOR A).

Identificamos com o relato do professor o que o estudo de Tardif e Raymond

(2000) relata sobre a utilização de experiências de quando estudante para o

desenvolvimento de suas aulas como educador.

Behr et al. (1988) vêm complementar com seu estudo, relatando que:

Todas as pessoas que resolvem um problema sobre proporções não usam necessariamente o raciocínio proporcional. De fato, podem observar-se relações numéricas simples (se A é três vezes B, X deve ser três vezes D) ou usar um algoritmo como o do produto cruzado. Para resolver proporções do tipo [...], ensina-se frequentemente aos alunos o uso do método do produto cruzado [...] contudo a investigação e a experiência mostraram consistentemente que este método é (a) mal compreendido pelos alunos [...] e é frequentemente usado pelos alunos mais para evitar o raciocínio proporcional do que para o facilitar (BEHR et al., 1988, p. 94).

O autor vem reafirmar que práticas como estas são normalmente realizadas,

porém não são adequadas para o entendimento e aprendizagem das situações que

envolvem o pensamento proporcional.

Quanto ao encaminhamento da aula, percebemos ainda que os alunos

estavam sentados em duplas produtivas. O professor utilizava o sistema de

monitoria com os estudantes com dificuldade, ou seja, eles interagiam com os

alunos monitores que os auxiliavam nas possíveis dúvidas. Na sala de aula não

havia cartazes de números ou mesmo tabuada. Os alunos possuíam tabuadas

individuais no caderno tanto de multiplicação como a tabuada de divisão.

O professor, como continuação da aula do dia anterior, solicitou que os alunos

abrissem o livro nas atividades 15 A. Podemos observar a seguir:

152

Figura 35: Atividade do Ler e Escrever 15 A Porcentagem

Fonte: São Paulo (Estado) Secretaria de Educação (2008).

Nesta atividade foram lidas as diferentes manchetes pelos alunos em voz alta.

Logo em seguida, o professor solicitou que eles identificassem e circulassem o

símbolo de porcentagem. O professor perguntou à sala o que significava o símbolo e

qual era o nome dele. Muitos alunos logo falaram porcentagem, outros lembraram

da aula anterior. Outros alunos disseram que porcentagem “tem a ver com cem”.

Depois disso, o professor leu a atividade 15 B:

153

Figura 36: Atividade do Ler e Escrever 15 B

Fonte: São Paulo (Estado) Secretaria de Educação (2008).

Observamos que o texto explica que a porcentagem se encontra nas diversas

situações do cotidiano e apresenta uma folha quadriculada para que os alunos

calculem uma situação-problema envolvendo essa representação, assim como na

atividade seguinte, que permite que o aluno pense em porcentagem utilizando-se da

representação parte-todo.

A atividade 15 C anuncia algumas situações-problema:

154

155

Figura 37: Atividade do Ler e Escrever 15 C

Fonte: São Paulo (Estado) Secretaria de Educação (2008)

156

O professor leu cada situação e deu alguns minutos para resolução.

Essas situações permitiram que cada aluno calculasse e desenvolvesse a seu

modo.

Ao analisar o Guia de Planejamento e Orientação do Professor, material do

Programa Ler e Escrever do Estado de São Paulo (2010, p. 285-290), obtemos

informações detalhadas da atividade. Segundo tais orientações, essa atividade tem

por objetivo “Resolver problemas que envolvem o uso da porcentagem no contexto

diário” (p. 285), além de indicar como o professor pode planejar, encaminhar a

atividade e organizar a turma, quais questionamentos podem ser feitos aos alunos e

quais temáticas podem ser discutidas na roda de conversa, assim como dá dicas do

que o aluno deve refletir e aprender. No caso,

[...] o objetivo é que os alunos, para chegarem ao cálculo de 25%, estabeleçam a relação com a porcentagem conhecida 50% pois certamente muitos deles têm a informação de que esta corresponde à metade. Portanto, para se encontrar 25% será preciso dividir um dado valor por 4

(SÃO PAULO, 2010, p. 290).

Cabe ressaltar que, se por um lado a introdução dada pelo professor envolve

situações do ambiente escolar, por outro, nos causa preocupação, pois o docente

propôs o uso de um algoritmo que não seria o recomendado para esse nível de

ensino.

O Guia de Orientação e Planejamento orienta que o professor deve ter como

encaminhamento “a discussão com os alunos do conceito de porcentagem para que

eles possam resolver problemas que envolvam este conceito em situações do

contexto diário” (p. 267). As atividades propostas pelo mesmo documento indicam a

necessidade de iniciar o trabalho pela compreensão da ideia de parte de relação a

100. Percebemos que o professor tenta apresentar uma situação envolvendo um

problema real – contexto da sala de aula –, no entanto, para calcular o valor da

porcentagem, não se utiliza de um recurso mais simples, por exemplo, partir do

significado da expressão “por cento”, como indicado em documentos oficiais:

Em relação ao cálculo de porcentagem nos dois primeiros ciclos, alguns recursos mais simples e evidentes para as crianças podem ser explorados, deixando para os ciclos posteriores a apresentação de técnicas convencionais. Partindo de um trabalho em que o aluno compreenda o significado da expressão “dez por cento”, ele pode, por exemplo, calcular

157

35% de 120, achando 10% de 120 (12), 5% de 120 (metade de 12) e adicionando as parcelas: 12 + 12 + 12 + 6 = 42 ( BRASIL, 1997, p. 81).

Para finalizar, o professor distribuiu panfletos de supermercado a cada dupla

de estudantes e solicitou que cada aluno escolhesse três produtos e que desse 25%

de desconto a estes.

Figura 38: Atividade complementar e resposta do aluno 1

Figura 39: Atividade complementar e resposta do aluno 2

158

A sequência de atividades desenvolvida pelo professor tentou proporcionar

aos alunos o que nos estudos de Vergnaud (1990) se apresenta como Teorema –

ação, ou seja, são as relações que o aluno estabelece para escolher uma estratégia

e solucionar o problema.

Consideramos, portanto, que o uso do material Ler e Escrever é um dos

fatores que influenciam o encaminhamento dado pelo professor, assim como a

complementação de atividades contextualizadas que também deve ser considerada

um fator significativo.

Notamos também a presença de diversas estratégias de resolução de

situações propostas.

A segunda turma observada foi a do professor D, que propôs exercícios de

multiplicações com dois algarismos. Verificamos que as operações foram passadas

na lousa para estes realizarem-nas primeiramente no caderno. Notamos que o

professor se sentou e não procedeu a possíveis intervenções. Os alunos não

fizeram perguntas ao professor, resolvendo a atividade cada um em seu lugar.

Passado algum tempo, o suficiente para que os alunos solucionassem os

exercícios no caderno, o professor solicitou que alguns alunos realizassem as

operações na lousa.

Observamos que alguns alunos adoravam colaborar com a atividade e que

outros se sentiam constrangidos ao serem chamados para participar da resolução

das operações dadas inicialmente.

A correção das operações foi feita na lousa, e verificamos que o professor,

quando o aluno errava, chamava outro estudante para resolver a operação, e

solicitava o caderno do aluno que havia cometido algum erro. Em seguida, ele

corrigia e explicava individualmente a resolução da operação. Percebemos que

poucos alunos erravam o procedimento solicitado para resolução.

Diante da atividade proposta por esse professor, notamos que houve

preocupação com a orientação individual dos estudantes, buscando auxiliá-los no

desenvolvimento da aprendizagem.

159

Percebemos que o professor possui a preocupação com os alunos que erram

e com os que estão em desenvolvimento do procedimento das operações dadas.

Em nossa observação, pudemos verificar que ambos os professores, com

diferentes metodologias, obtiveram um número considerável de resultados positivos.

Identificamos também que, apesar do uso de um discurso tradicional, esses

professores buscam, a seu modo, estar em consonância com a nova proposta.

160

CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS

A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo (NELSON MANDELA).

Chegar a esta etapa do trabalho nos fez relembrar com grande satisfação o

caminho percorrido durante esses dois anos e alguns meses, das emoções, anseios

e boas perspectivas em realizar o presente estudo.

Esta pesquisa foi guiada com o intuito de descobrir: “Quais são os

conhecimentos dos professores que ensinam Matemática para alunos do 5.º ano do

Ensino Fundamental de uma escola em que os alunos se destacaram na avaliação

de matemática do SARESP de 2009?”.

Para realizá-lo pesquisamos inicialmente referências bibliográficas que

fundamentassem nosso estudo e realizamos análise dos relatórios do Saresp do

Estado de São Paulo para selecionar a escola a ser pesquisada. Em seguida,

elaboramos um questionário que foi respondido pelos participantes desta pesquisa e

os protocolos que serviriam para realização das entrevistas com os professores,

coordenador pedagógico e diretor. Além disso, recolhemos atividades dos docentes

aplicadas aos alunos e realizamos a observação de algumas aulas desses docentes.

Pensamos em indagações secundárias para auxiliarem nossa análise, as

quais apresentamos e comentamos a seguir. Para responder a questão principal

procuramos inicialmente analisar o perfil profissional dos educadores da instituição

investigada. Os sujeitos de nossa pesquisa eram profissionais experientes, pois

possuem de 26 a 14 anos de tempo de magistério e formação inicial no Curso

Normal, modalidade no Ensino Médio, antigo Magistério. Destes profissionais, três

possuíam nível Superior no Curso de Pedagogia, e dois estavam cursando a referida

graduação. Verificamos que, quanto ao cargo, dois são efetivos e três contratados.

Ressaltamos que destes, dois estavam no ano de excelente avaliação. Além disso,

todos os professores possuíam jornada completa (34 horas/aula semanais).

161

Procuramos, em seguida, verificar a relação desses docentes com a Matemática na

Educação Básica. Observamos que três professores relataram gostar de

Matemática, e outro docente chamou a atenção para melhorias quanto ao

conhecimento neste aspecto de ensino. Analisando o depoimento dos sujeitos

investigados, verificamos que eles encontravam dificuldades no entendimento do

conteúdo, principalmente quanto a situações que envolvem o campo conceitual

multiplicativo.

Evidenciamos ainda, por meio dos questionários e entrevistas realizados, que

todos os participantes obtiveram experiências negativas em suas histórias pessoais,

mas percebemos que estes não se deixaram abater por esses fatos, tornando-se

profissionais que buscam, a seu modo, as melhores práticas docentes para o

desenvolvimento do conhecimento.

Em seguida, procuramos verificar como foi a relação desses professores com

a Matemática na formação inicial. Quanto aos depoimentos, observamos que os

sujeitos investigados vivenciaram experiências negativas. Todavia, gostam da

disciplina, reconhecem sua importância e procuram buscar estratégias que

beneficiem as aprendizagens dos alunos, por exemplo, no relato do professor B: “Eu

não quero para meu aluno o que aconteceu comigo”. Tal experiência parece que se

tornou um incentivo para as atividades profissionais desse professor.

Uma outra questão importante está relacionada à forma como nossos sujeitos

desenvolviam suas aulas. Nossos dados evidenciaram que os professores focam

seu trabalho nos procedimentos. Deste modo, quando os questionamos sobre as

resoluções efetuadas pelos alunos, não apresentaram explicações consistentes,

preferindo argumentar exclusivamente pelo procedimento utilizado para a resolução

das operações. Portanto, o discurso desses profissionais contrapõe à sua prática,

visto que, analisando os relatos com as atividades propostas e a observação em

sala, estes professores acreditam serem tradicionais. No entanto, demonstram

preocupação com a aprendizagem dos alunos. Por outro lado, observamos uma

grande preocupação com o trabalho nas situações contextualizadas, pesquisas em

diversos materiais, como Guia de Planejamento e Orientação do Ler e Escrever,

utilização de jogos, materiais concretos, panfletos e outros, a fim de realizarem um

ensino de qualidade.

162

Vemos, ainda, a preocupação com o desenvolvimento da aprendizagem com

intuito de desenvolver habilidades que são avaliadas pelo Saresp.

Esses profissionais também consideram as orientações contidas no Programa

Ler e Escrever. Com isso, notamos que as dificuldades encontradas no

entendimento de conteúdos específicos, como foi o caso da porcentagem, podem

prejudicar a compreensão que esses professores têm do material de apoio. Assim, a

falta de conhecimento do conteúdo não permite ao professor compreender as

orientações do material de apoio.

Salientamos que a referida escola poderia ter obtido resultados muito mais

significativos se os professores tivessem um domínio conceitual e pedagógico mais

aprofundado.

Os professores acreditam no trabalho coletivo, pois há relatos de experiência

e ideias de atividades, o que permite uma formação docente. Esses momentos

colaborativos nesta instituição ocorrem nas reuniões de HTPC. Entretanto, há

evidências de que os momentos de formação no âmbito escolar (HTPC) não

preveem muitas discussões e reflexões sobre a Matemática. Vale ressaltar que

observamos, no depoimento do coordenador pedagógico, quase que uma queixa ou

denúncia sobre a falta equilíbrio entre discussões sobre os processos de ensino e

aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática. No entanto, consideramos que o

estudo e pesquisa em diferentes materiais e das questões das avaliações externas

compõem uma modalidade de formação fundamental para o desenvolvimento

profissional dos docentes envolvidos nesta pesquisa.

Uma outra indagação nos perseguiu: Quais são as atividades e estratégias

desenvolvidas pelos sujeitos desta pesquisa? Observamos que os professores da

escola investigada sentem a necessidade de realizar a correção das atividades

propostas, como meio de ajudar aos alunos no processo de ensino e aprendizagem.

Identificamos que os sujeitos da pesquisa justificam-se e tendem a elaborar

atividades que desenvolvam o conteúdo procedimental, porém indicam a

necessidade de relacionar o procedimento com situações contextualizadas. Outro

ponto considerado importante, que possivelmente favorece os bons resultados

alcançados pela escola, foi o uso, por parte dos professores, de duplas produtivas e

de sistema de monitoria como recurso de ensino.

163

Portanto, consideramos que as principais influências que resultaram em um

excelente desempenho na avaliação externa foram as seguintes: os professores

entrevistados reconhecem em seus discursos a importância do trabalho com

situações contextualizadas; procuram situações envolvendo contexto real, todavia a

falta de conhecimento específico sobre o conteúdo limita tal encaminhamento.

Observamos ainda que os docentes valorizam um ensino com práticas pedagógicas

que utilizam uma diversidade recursos e atividades, veem a necessidade de busca

por orientações do Programa Ler e Escrever, trabalham coletivamente trocando

atividades, experiências e realizando com os alunos as duplas produtivas e sistemas

de monitorias, e oferecem ainda a recuperação paralela e contínua dos alunos com

dificuldade.

Diante do exposto, passamos à nossa questão principal, ou seja, “Quais são

os conhecimentos dos professores que ensinam Matemática para alunos do 5.º ano

do Ensino Fundamental de uma escola em que os alunos se destacaram na

avaliação de matemática do Saresp de 2009?”.

Quanto ao conhecimento específico, os professores demonstram dificuldade

ao analisar produções de alunos que envolviam tanto situações problema do campo

conceitual multiplicativo quanto a resolução de operações nesse mesmo campo.

Acreditamos que a causa pode estar ligada a uma formação inicial e continuada

deficitária.

Analisando esse resultado sob o ponto de vista de Shulman (1986) e de Ball e

Bass et al. (2003), a ausência de domínio desse conteúdo específico implicaria igual

ausência de conhecimentos para o seu ensino. Assim sendo, observamos que os

docentes pesquisados desenvolvem recursos metodológicos interessantes. Todavia,

a ausência de conhecimentos sobre o campo conceitual multiplicativo implica

também o desconhecimento de como intervir em situação de ensino da temática.

Além disso, limita as possibilidades de seleção e organização de atividades,

por exemplo, um professor que não conhece as diferentes representações da

porcentagem encontra dificuldades, como observamos nesta pesquisa, em

selecionar ou elaborar atividades que envolvam essa ideia, limitando, assim, as

possibilidades de entendimento dos estudantes, pelo qual o docente é, a nosso ver,

o principal responsável.

164

Assim como Tardif (2000), neste estudo, notamos a relação existente entre os

saberes e o tempo, e como estes são produzidos no decorrer da vida e utilizados em

suas práticas pessoais e docentes.

Cabe salientar que todas as explanações indicadas neste texto nos permitem

responder à questão problema que direcionou este estudo. E todas estas

observações nos fazem refletir sobre a necessidade de modificações tanto na

formação inicial como na continuada desses docentes. Notamos que as pesquisas

educacionais necessitam de mais trabalhos que investiguem possíveis processos

formativos que possibilitem ao professor a construção do conhecimento sobre o

campo conceitual multiplicativo.

Como reflexão desta pesquisa, escolhemos um trecho do livro A criança, a

matemática e o número, escrito por Gerard Vergnaud, a quem nos referenciamos

neste trabalho. Nele, o autor exprime a importância que tem para o ensino o

conhecimento profissional docente considerando sua necessidade para a

compreensão do aluno:

Os conhecimentos que essa criança adquire devem ser construídos por ela em relação direta com as operações que ela, criança, é capaz de fazer sobre a realidade, com as relações que é capaz de discernir, de compor e de transformar com os conceitos que ela progressivamente constrói. Isso não quer dizer de modo algum, que o papel do professor deva ser negligenciado, mas o valor no professor reside justamente na sua capacidade de estimular e utilizar essa atividade da criança. Toda a formação do professor, todo o seu esforço, devem procurar lhe dar um maior conhecimento sobre a criança e permitir-lhe ajustar permanentemente as modalidades de sua ação pedagógica... Esse conhecimento não pode ser um simples conhecimento geral da inteligência e do comportamento da criança. Trata-se de um conhecimento aprofundado do conteúdo a ser ensinado e das relações desse conteúdo com a atividade possível da criança (VERGNAUD, 2009, p. 15).

Finalizando, espera-se que este estudo de caso possa contribuir para a

ampliação do debate em torno de questões que envolvam a formação de

professores, em especial, aqueles relativos ao conhecimento profissional docente.

Indicamos como perspectiva futuros estudos que comparem as escolas que partiram

de desempenhos excelentes em determinado ano e que obtiveram avanço ou não

nas avaliações posteriores, assim como a necessidade de observarmos as práticas

de sala de aula de escolas bem-sucedidas como meio de entendermos o processo

de ensino e aprendizagem.

165

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––––––. Decreto 54.553, de 15 de julho de 2009. Institui o Programa de Integração Estado/Município para o desenvolvimento de ações educacionais nas escolas das redes públicas municipais, autorizando a Secretaria da Educação a representar o Estado de São Paulo na celebração de convênios com a Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE e municípios paulistas, tendo por objeto a implementação do aludido programa. São Paulo: [s.n.], 2009a.

––––––. Relatório do Saresp. Governo do Estado de São Paulo. São Paulo, 2009b.

––––––. Relatório do Ler e Escrever. FDE – Fundação e Desenvolvimento Educacional. São Paulo, 2010a.

––––––. Relatório do Saresp. FDE – Fundação de Desenvolvimento Educacional. São Paulo, 2010.

SARESP. Disponível em: <www.edunet.sp.gov.br>. Acesso em: maio 2010.

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SOARES, F. C. C. O ensino desenvolvimental e a aprendizagem de matemática na primeira fase do ensino fundamental. 2007. Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Góias, Goiânia.

169

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ZEICHNER, K. Formação reflexiva de professores: ideia e prática. Lisboa: Educa, 1993.

i

APÊNDICE A

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

COM PROFESSOR

Sexo:

Tempo de Magistério:

Formação:

Qual sua formação inicial?

Instituição:

Ano de conclusão:

Você fez outros cursos depois da formação inicial?

Já lecionou em outras instituições em anos anteriores?

Quais séries já lecionou?

Qual sua jornada na escola?

Você trabalha em outras escolas?

Conte como foi sua relação com a Matemática no Ensino Fundamental, Ensino

Médio, no Curso do Magistério, Pedagogia ou Cefam.

Comente sua relação profissional com a disciplina Matemática.

Como são suas aulas da disciplina de Matemática?

Qual o conteúdo matemático seus alunos mais gostam? E em que eles encontram

mais dificuldade?

Nos HTPCs são tratados temas que discutam questões relacionadas ao ensino e

aprendizagem da (assuntos de) Matemática? Quais?

Explique como você resolveria tais situações-problema citados no questionário,

como seria sua explicação para o aluno, qual processo seria utilizado. Você

consideraria diferentes respostas?

Quais os recursos você utiliza em suas aulas de Matemática?

Do ponto de vista dos processos de ensino e aprendizagem, tudo o que aconteceu

na escola no último ano (HTPC, sala dos professores, outras reuniões etc.), você

considera que houve algum reflexo no resultado apresentado pela escola?

ii

APÊNDICE B

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMI ESTRUTURADA

COM DIRETOR

Há quanto tempo você é diretor? E há quanto tempo você está na gestão desta

unidade escolar?

A equipe gestora estava completa em 2009?

Como você faz o acompanhamento das aprendizagens dos alunos de sua escola?

Você acompanha os horários coletivos? Com que periodicidade?

Na escola há quantos professores efetivos? Quantos professores ocupam função

atividade?

Como se dá a escolha das aulas dos quintos anos (antiga quarta série)?

São sempre os mesmos professores que lecionam para quarta série?

A que a senhora atribui o bom desempenho de sua escola na Prova Saresp no ano

de 2009?

Há momentos em que a equipe gestora se reúne para discutir e planejar

acompanhamento das aprendizagens dos alunos? Em caso afirmativo, cite alguns

dos encaminhamentos propostos?

No HTPC são tratados assuntos de Matemática? Quais?

Há preparação para o Saresp Matemática?

Quais a propostas de preparação para o Saresp para professores? E para (com) os

alunos? Como acontece?

Como a equipe gestora auxilia para um bom rendimento no Saresp?

Como foi o dia do Saresp na escola?

a- em 2009

iii

b- em 2010

Do ponto de vista dos processos de ensino e aprendizagem, tudo o que aconteceu

na escola no ano de 2009, último ano (HTPC, sala dos professores, outras reuniões,

etc.), você considera que houve algum reflexo no resultado apresentado pela

escola? E em 2010, quais foram as ações que você considera que pode influenciar

diretamente no resultado do Saresp? Qual será, na sua opinião, o resultado deste

ano? Vocês conseguirão atingir as metas?

iv

APÊNDICE C

ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

COM COORDENADOR PEDAGÓGICO

Há quanto tempo você é coordenador pedagógico desta escola?

A que você atribui o bom desempenho da escola em 2009 no Saresp de

Matemática? Como?

Você planeja o acompanhamento do trabalho dos professores na sala de aula?

Como é E por quê?

Você acompanha as aprendizagens dos alunos?

Como são elaboradas as pautas para o HTPC? Envolvem quais assuntos?

Há no HTPC tempo destinado a discussão e planejamento das propostas atividades

de Matemática que serão trabalhadas em sala de aula?

Os professores desta escola possuem uma rotina de trabalho com Matemática?

Como se dá o acompanhamento?

Qual a relação entre os conhecimentos matemáticos apresentados pelos alunos e as

mudanças? Há espaço para discussão das mudanças propostas?

O HTPC é de 1 hora diária ou duas?

Você percebe dificuldade dos professores na aplicabilidade ou entendimento de

algum conteúdo matemático? Quais?

Há preparação para o Saresp Matemática com os alunos? Como acontece?

Como a equipe gestora auxilia para um bom rendimento no Saresp?

Como foi o dia do Saresp na escola?

Do ponto de vista dos processos de ensino e aprendizagem, tudo o que aconteceu

na escola no último ano (HTPC, sala dos professores, outras reuniões etc.), você

considera que houve algum reflexo no resultado apresentado pela escola E em

2010, quais foram as ações que você considera que pode influenciar diretamente no

resultado do Saresp? Qual será, na sua opinião, o resultado deste ano, vocês

conseguirão atingir as metas?

v

ANEXO A

DADOS DE PROFICIÊNCIA MÉDIA EM MATEMÁTICA DA

PROVA SARESP

São Paulo, Resultado por escola do Saresp (2009)

vi

ANEXO B

MODELO DE AVALIAÇÃO APLICADA MENSALMENTE

MATEMÁTICA

01. Indique, dentre as opções abaixo, aquela que apresenta todas as afirmações corretas:

(A) 12 é múltiplo de 2, de 3 e de 9. (B) 2, 3 e 7 são divisores de 7. (C) 2, 3 e 6 são divisores de 12. (D) 12 é múltiplo de 24 e de 39. 02. Luís tem uma coleção de bolinhas de gude. Ontem ele ganhou 24 bolinhas

novas de seu primo e ficou com 150 bolinhas. Desse modo, podemos afirmar que, antes de ganhar esse presente do primo, Luís tinha:

(A) 124 bolinhas (B) 125 bolinhas (C) 126 bolinhas (D) 174 bolinhas

03. O resultado de 3 – 1,124 é:

(A) 2,124 (B) 1,876 (C) 2,976 (D) 2,986

04. Assinale a alternativa em que os dois sólidos geométricos representados só têm superfícies planas:

(A) (B)

(C) (D)

05. Vovô Paulo mediu a altura da parede da sala. Indique a alternativa que

mostra um resultado possível dessa medição: (A) 3 metros (B) 50 centímetros (C) 86 metros (D) 99 centímetros

06. Juliana dividirá duas barras de chocolate igualmente entre seus três filhos. A fração da barra de chocolate que cada filho receberá é:

vii

(A) 3/2 (B) 2/3 (C) 1/2 (D) 1/3 07.Todos os anos, desde 1924, no dia 31 de dezembro acontece a tradicional

Corrida de São Silvestre. Seu percurso total é de 15 quilômetros. Um atleta que completar o percurso terá corrido:

(A) 150 m. (B) 1 500 m. (C) 15 000 m. (D) 150 000 m.

08. Renata recebeu uma encomenda de 250 ovos de chocolate. Já fabricou 114.

Para determinar quantos ovos ela precisa fabricar para completar essa

encomenda deve-se fazer a operação:

(A) 250 - 114 (B) 250 + 114 (C) 250 × 114 (D) 250 ÷ 114

09. Marta alugou dois DVDs de 90 minutos cada. Quanto tempo Marta vai levar para assistir aos dois DVDs?

(A) 1 hora e meia. (B) 2 horas. (C) 3 horas. (D) 4 horas e meia.

10. Um jornal de grande circulação publicou um gráfico com resultados de uma pesquisa realizada a cada cinco anos sobre a quantidade de navios que derramaram óleo em cada um desses anos.

viii

O repórter do jornal deu a seguinte notícia: De acordo com esse gráfico, a quantidade total de navios que derramou óleo, provocando desastre ecológico foi de

(A) 140 (B) 110 (C) 85 (D) 40

11. Fazendo a decomposição do número 572, temos:

(A) 5 x 100 + 7 x 10 + 2 (B) 7 x 100 + 5 x 10 + 2

(C) 5 x 10 + 7 + 2 (D) 5 x 1000 + 7 x 100 + 2

12. Em uma parede da cozinha, há 15 fileiras de 10 azulejos e em outra há 13

fileiras de 10 azulejos. Quantos azulejos há nessa cozinha?

(A) 100 (B) 130 (C) 150 (D) 280

13. Uma escola recebeu 150 caixas de lápis de cor. Os alunos que estudam no

período da manhã ficaram com 50% das caixas de lápis de cor recebidos.

Quantas caixas de lápis representa essa porcentagem?

(A) 60 (B) 65 (C) 70 (D) 75

14. Quantos retângulos formam a caixa ao lado?

(A) 3 (B) 4 (C) 6 (D) 8

15. Uma mamadeira contém 250 ml de leite. Com 1 litro de leite, quantas

mamadeiras podem ser preparadas?

(A) 8 (B) 6 (C) 5 (D) 4

ix

16. Por causa da queda de uma ponte, uma rodovia ficou interditada durante 2

meses. Durante quantas semanas a rodovia ficou interditada?

(A) 4 semanas. (B) 6 semanas. (C) 8 semanas. (D) 10 semanas.

17. Observe a conversa entre estes quatro amigos:

Assinale a alternativa que mostra corretamente as alturas dos quatro amigos.

Luís Frederico João Paulo

(A) 1,59 m 1,42 m 1,52 m 1,39 m (B) 1,45 m 1,56 m 1,39 m 1,28 m

(C) 1,59 m 1,42 m 1,49 m 1,39 m (D) 1,61 m 1,56 m 1,42 m 1,27 m

x

18. Observe a reta a seguir:

O número 537 está localizado no ponto

(A) P. (B) Q. (C) S. (D) T.

19. Uma latinha de refrigerante contém 300 mililitros. Felipe consome

semanalmente 9 latinhas. Desse modo, em uma semana Felipe consome:

(A) 12 litros. (B) 5,4 litros. (C) 3,3 litros. (D) 2,7

20. Bete tem muitas moedas em sua carteira e quer pagar uma compra de R$

15,00 usando moedas. Ela tem oito moedas de R$ 0,25 e vai usá-las para pagar

a compra. Bete ainda precisa de uma quantidade de moedas de R$ 0,50 igual a

(A) 30. (B) 26. (C) 20. (D) 18.

21. A mãe de Tomás deixou um bilhete com os horários que ele deveria

cumprir pela manhã.

xi

Em relação ao bilhete, é correto dizer que Tomás deve

(A) almoçar ao meio dia e quinze.

(B) fazer lição de casa quando faltarem quinze minutos para o meio dia.

(C) tomar banho e arrumar-se às onze horas e quinze minutos.

(D) tomar café da manhã às sete horas.

22.Carlos e Marisa usaram a balança da sala de Educação Física, mas Carlos

se esqueceu de tirar a mochila das costas. Mesmo assim, é possível saber o

seu peso e o de Marisa. Observe o visor da balança em cada caso.

O peso de Marisa é

(A) 29 kg.

(B) 32 kg.

(C) 35 kg.

(D) 37 kg.

23. O número natural que correspondente a 6 unidades de milhar mais 3

centenas mais 5 unidades é:

(A) 60 305. (B) 6 305. (C) 6 035. (D) 635.

xii

24. Ricardo tem dois aquários em seu quarto. Cada um tem 2 peixes vermelhos

e 3 amarelos. O total de peixes que Ricardo tem é

(A) 12. (B) 10. (C) 7. (D) 5.

25. Veja abaixo a planta de uma casa. Considerando que cada quadradinho tem a

mesma medida, o perímetro dessa planta é de

(A) 42 m. (B) 40 m. (C) 36 m. (D) 33 m.

São Paulo, Relatório do Saresp (2007, 2008, 2009)