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EFEITO DO CRUZAMENTO GENÉTICO (DORPER x SRD E SANTA INÊS x SRD) E DO TRATAMENTO NUTRICIONAL - IDADE DE ABATE SOBRE A COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E LIPÍDICA DOS CORTES LOMBO E PERNIL 1 EFEITO DO CRUZAMENTO GENÉTICO (DORPER x SRD E SANTA INÊS x SRD) E DO TRATAMENTO NUTRICIONAL - IDADE DE ABATE SOBRE A COMPOSIÇÃO CENTESIMAL E LIPÍDICA DOS CORTES LOMBO E PERNIL Messila Maciel da Costa FORTALEZA - CEARÁ 2005

EFEITO DO CRUZAMENTO GENÉTICO (DORPER x SRD E … · e do tratamento nutricional - idade de abate sobre a composiÇÃo centesimal e lipÍdica dos cortes lombo e pernil 1 ... do rebanho

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EFEITO DO CRUZAMENTO GENTICO (DORPER x SRD E SANTA INS x SRD) E DO TRATAMENTO NUTRICIONAL - IDADE DE ABATE SOBRE A COMPOSIO CENTESIMAL E LIPDICA DOS CORTES

LOMBO E PERNIL

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EFEITO DO CRUZAMENTO GENTICO (DORPER x SRD E SANTA INS x SRD) E DO TRATAMENTO NUTRICIONAL - IDADE DE ABATE

SOBRE A COMPOSIO CENTESIMAL E LIPDICA DOS CORTES LOMBO E PERNIL

Messila Maciel da Costa

FORTALEZA - CEAR

2005

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C874e Costa, Messila Maciel da Efeito do cruzamento gentico (Dorper x SRD e Santa Ins x SRD) e do tratamento nutricional idade de abate sobre a composio centesimal e lipdica dos cortes lombo e pernil / Messila Maciel da Costa

91 f. il. color. enc.

Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2005.

Orientador: Prof. Dr. Frederico Jos Beserra Co-orientador: Prof. Dr. Jos Maria dos Santos Filho rea de concentrao: Tecnologia de Alimentos

1. Cruzamento gentico 2. Plano nutricional 3. Idade de abate 4. Carne ovina - Composio lipdica I. Beserra, Frederico Jos II. Universidade Federal do Cear Mestrado em Tecnologia de Alimentos III. Ttulo

CDD 664 CDU 591.37

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SOBRE A COMPOSIO CENTESIMAL E LIPDICA DOS CORTES LOMBO E PERNIL

Messila Maciel da Costa

Dissertao submetida Coordenao do Curso de Ps-Graduao em Tecnologia de Alimentos como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Frederico Jos Beserra Co-orientador: Prof. Dr. Jos Maria dos Santos Filho

Fortaleza - CEAR 2005

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SOBRE A COMPOSIO CENTESIMAL E LIPDICA DOS CORTES LOMBO E PERNIL

BANCA EXAMINADORA

________________________________

Prof. Dr. Frederico Jos Beserra (Orientador) Universidade de Federal do Cear - UFC

________________________________

PROF. DR. JOS MARIA DOS SANTOS FILHO (CO-ORIENTADOR)

Universidade Estadual do Cear - UECE

________________________________

PROF. DR. EVERARDO LIMA MAIA

Universidade de Federal do Cear - UFC

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Dedico

Aos meus pais, irms e amigos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela oportunidade;

Aos meus pais, pelo amor incondicional e compreenso;

Aos meus familiares, pelo apoio nas horas difceis;

Ao meu orientador e amigo Prof. Dr. Frederico Jos Beserra (Fred), pelo empenho,

dedicao e acima de tudo, pela palavra amiga nos momentos de infortnio;

Ao Prof. Dr. Jos Maria dos Santos Filho (Z Filho), por ter me guiado Tecnologia

de Alimentos e pela co-orientao.

Ao Prof. Dr. Everardo Lima Maia, pela co-orientao e compreenso das anlises

qumicas;

Ao Prof. Dr. Davide Rondina, pela ajuda na anlise estatstica, pacincia e co-

orientao;

Prof. Dra. Selene Maia de Morais, por tornar possvel a anlise cromatogrfica e

pelo esclarecimento na interpretao dos grficos obtidos;

Ao Prof. Dr. Arturo Bernardo Selaive-Villaroel e seu orientando Vnius Buzzati

Falleiro (gacho), pelas meias carcaas e informaes cedidas;

A todo o corpo docente do Programa de Ps-graduao em Tecnologia de

Alimentos, pelos ensinamentos repassados;

Aos tcnicos e amigos do Laboratrio de Processamento de Carnes e Pescado da

UFC, Luiz Bitu e Roselcia Barroso, pessoas imprescindveis para a realizao

desse trabalho;

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Fundao Cearense de Amparo Pesquisa FUNCAP, pela bolsa a mim

concedida, tornando possvel a realizao desse trabalho;

Ao amigo Everaldo (Vev), pela ajuda e prestatividade constantes durante o

trabalho;

A amiga Maria Fontenele, pela imensa ajuda na fase de desossa e composio

centesimal;

s bolsistas do Fred, Raquel e Rafaela, por terem me ajudado a realizar algumas

etapas do experimento, que muitas vezes adentraram a noite;

A todos colegas de turma do mestrado, em especial Rose, Everaldo, katianne,

ngela, Alcilene, Joseane (Jose), Paolo e Edgar, companheiros de todas as horas,

inclusive de terrorismo.

Ao Secretrio do Mestrado, Paulo, pela amizade e por ser sempre alegre e

prestativo;

Ao Rafael Limaverde, pelo amor, carinho e compreenso;

queles cujos nomes no citei, mas que de alguma maneira tornaram este trabalho

possvel;

Por fim agradeo aos animais, valiosos objetos de estudo, pois sem os mesmos

seria impossvel a concretizao dessa e de muitas outras jornadas.

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SUMRIO

Pgina

RESUMO......................................................................................................................... i

ABSTRACT.....................................................................................................................

1 INTRODUO .............................................................................................................

II

01

2 REVISO DE LITERATURA........................................................................................ 04

2.1 Importncia da ovinocultura....................................................................................... 04

2.2 Distribuio mundial de ovinos.................................................................................. 12

2.3 Consumo de carne ovina........................................................................................... 14

2.4 Raas......................................................................................................................... 15

2.4.1 Santa Ins............................................................................................................... 15

2.4.2 Dorper..................................................................................................................... 17

2.4.3 Sem Raa Definida SRD...................................................................................... 19

2.5 Carcaa..................................................................................................................... 19

2.6 Composio tissular ou histolgica da carcaa......................................................... 19

2.7 Composio regional ou anatmica da carcaa........................................................ 24

2.8 Caractersticas da carne e fatores que a influenciam................................................ 26

2.9 Qualidade nutritiva da carne...................................................................................... 27

2.10 Qualidade da carne.................................................................................................. 27

2.11 Carne ovina............................................................................................................. 29

2.12 Composio centesimal da carne ovina.................................................................. 30

2.12.1 Umidade............................................................................................................... 31

2.12.2 Protenas.............................................................................................................. 31

2.12.3 Cinzas................................................................................................................... 32

2.12.4 Lipdios................................................................................................................. 32

2.12.5 Colesterol.............................................................................................................. 34

2.12.6 Colesterol da carne e influncia sobre os lipdios sricos humanos.................... 36

2.12.7 cidos graxos........................................................................................................ 37

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2.12.8 Modificao no perfil lipdico da carne.................................................................. 41

2.12.9 cidos graxos da carne e repercusses sobre a taxa de colesterol no plasma

humano.............................................................................................................. 42

3 OBJETIVOS ................................................................................................................. 45

3.1 Geral ......................................................................................................................... 45

3.2 Especficos .................................................................................................................. 45

4 METODOLOGIA .......................................................................................................... 46

4.1 rea experimental...................................................................................................... 46

4.2 Animais e manejo....................................................................................................... 46

4.3 Abate e obteno dos cortes..................................................................................... 47

4.4 Amostras.................................................................................................................... 48

4.5 Determinaes analticas........................................................................................... 48

4.5.1 Composio centesimal.......................................................................................... 48

4.5.1.1 Umidade............................................................................................................... 49

4.5.1.2 Protena................................................................................................................ 49

4.5.1.3 Gordura................................................................................................................ 49

4.5.1.4 Cinzas.................................................................................................................. 49

4.5.2 Extrao dos lipdios............................................................................................... 49

4.5.3 Determinao de Colesterol.................................................................................... 50

4.5.4 Obteno de steres metlicos a partir dos cidos graxos..................................... 52

4.5.5 Anlise Cromatogrfica........................................................................................... 53

4.5.6 Anlise estatstica................................................................................................... 54

5 RESULTADOS E DISCUSSO ................................................................................... 55

5.1 Composio centesimal............................................................................................. 55

5.2 Composio lipdica................................................................................................... 57

5.2.1 cidos graxos.......................................................................................................... 57

5.2.2 Colesterol................................................................................................................ 62

6 CONCLUSES............................................................................................................. 65

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7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................................ 66

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1 INTRODUO

A regio nordeste do Brasil possui uma rea total de 166,2 milhes de

hectares dos quais 95,2 milhes esto inseridos em uma zona semi-rida. Nesta

regio a pluviosidade mdia situa-se entre 250 a 700 mm por ano, apresentando-se

de forma irregular e com freqentes perodos de seca. Os solos so em geral rasos

e de baixa fertilidade natural. A vegetao predominante a caatinga, formada por

um extrato arbustivo-arbreo, s vezes denso, s vezes ralo, mas que de um modo

geral oferece uma reduzida quantidade de fitomassa pastvel (GUIMARES FILHO

et al., 2000). Estas caractersticas geogrficas dificultam a adaptao de algumas

espcies animais fazendo com que somente aqueles que possuam alta rusticidade e

fecundidade, pouca exigncia alimentar, e capacidade de aproveitar a vegetao

nativa e restos de culturas desprezados por outros animais, possam adaptar-se

naturalmente a esta rea (BESERRA, 1983). Mesmo com essas adversidades

climticas, o rebanho ovino nesta regio de 8.181.434 milhes de cabeas, o que

corresponde a 54,16% do efetivo brasileiro (ANUALPEC, 2003). A ovinocultura nesta

regio uma atividade de importncia econmica e social, sendo exercida para

produo de carne e pele (BARROS et al., 2003).

Apesar do reconhecido potencial ovino para produo de carne, a escassez

de carne ovina no mercado nacional aumentou significativamente, no perodo de

1992 a 2000, as exportaes brasileiras de ovinos vivos para abate, de carcaa de

cordeiros e de animais adultos (COUTO, 2001).

A produtividade dos rebanhos ovino-caprino nordestinos muito baixa,

principalmente quando criados em sistema tradicional, pois os tipos nativos no

possuem dupla aptido quando comparados com a maioria das raas exticas

criadas nas regies Centro e Sul do Brasil. Diversos estudos tm mostrado que o

melhoramento das condies ambientais de criao, principalmente o manejo, a

nutrio e a sanidade, tm resultado em considervel aumento dos ndices

produtivos dos animais. Entretanto, para que estas melhorias sejam mais eficientes

necessrio tambm mudanas no potencial gentico destes animais (SELAIVE e

FERNANDES, 2000). Portanto, priorizando-se o aumento da capacidade produtiva

do rebanho ovino Brasileiro, o cruzamento industrial torna-se prtica desejvel por

favorecer a conjugao das caractersticas desejveis de cada raa e pelo fato das

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crias apresentarem maior vigor hbrido na primeira gerao, expressando um

desempenho superior ao observado para a mdia paterna (NOTTER, 2000). Sabe-

se ainda que para cada raa existe um peso timo econmico de abate e o

cruzamento bastante utilizado para alcanar este peso com mais eficincia

(JARDIM, 2000).

No Estado do Cear as ofertas quali-quantitativas de carne e pele ovino-

caprinas esto aqum da demanda de mercado em razo das limitaes das

tcnicas empregadas de criao e pelo gentipo dos tipos raciais nativos. A curto

prazo, o cruzamento controlado das raas nativas com reprodutores de raas

exticas, apresenta-se como uma boa alternativa de melhoria do padro gentico do

rebanho, j que os descendentes teriam um potencial de produo de carne maior

(SELAIVE-VILLARROEL, 2000). O uso de raas especializadas, tais como Texel,

Hampshire Down, Sulffolk, Ile-de-France e mais recentemente o Dorper, oferecem

uma forma alternativa de aumentar a produo de carne no Nordeste, principalmente

atravs do cruzamento com animais deslanados sem raa definida (SRD)

predominante no rebanho nordestino (MACHADO et al., 1996).

Apesar da importncia econmica que este criatrio representa no mbito

regional, a utilizao da carne ovina, assim como a caprina, ainda destina-se

principalmente ao mercado local tendo pouca aceitao nas capitais e grandes

cidades nordestinas. Entretanto, nos ltimos anos tem-se observado um significativo

aumento no consumo de carne caprina e ovina devido, principalmente, s suas

propriedades dietticas e seu teor em gordura (MADRUGA, 1999).

Atualmente, alimentos reconhecidamente saudveis so bastante procurados

por uma grande parcela da populao mundial vida em prevenir alteraes

fisiolgicas como as cardiopatias, envelhecimento precoce, estresse, problemas

metablicos, etc., fatos que vm levando os cientistas de todo o mundo a estudar e

classificar os mais diversos tipos de alimentos, para que os mesmos possam ser

utilizados adequadamente, segundo as necessidades de cada consumidor

(SANTOS FILHO et al., 2002). Por isso, estudos visando conhecer a natureza da

carne de ovinos das principais raas e gentipos existentes no sistema produtivo

nordestino, considerando os efeitos de diversos fatores (dieta, idade e peso ao

abate, etc), fazem-se cada vez mais necessrios, uma vez que o domnio destas

informaes permitir um aproveitamento mais racional da carne ovina, alm de

diversificar a indstria alimentcia e, principalmente, melhorar a dieta da populao

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nordestina oferecendo-lhe um produto de melhor qualidade. Alm disso, deve-se

considerar a importncia dessas pesquisas no que concerne medicina preventiva e

economia nacional. Preventivamente, visto que a incluso da carne ovina na dieta

de pacientes que necessitem controlar o colesterol sangneo possa beneficiar aos

pacientes com doenas cardiovasculares e propensos a estas, e outras patologias

diretamente ligadas elevada taxa de colesterol sangneo. Tambm ser de

grande interesse para as clnicas de emagrecimento e pessoas interessadas em

alimentos saudveis. E economicamente, pois alimentos que no induzam ou

estimulem respostas negativas do organismo humano, obtm preos bem superiores

aos demais, em vrios mercados do mundo, notadamente naqueles cuja populao

possui um maior poder aquisitivo. O maior rendimento apresentado pelo produto

estimular o criador a aumentar o plantel dos ovinos no precisando de grandes

investimentos para isto devido rusticidade e adaptabilidade de algumas raas.

Alm disso, no Brasil so necessrias pesquisas que avaliem as melhores

condies de criao e cruzamento para obteno de cordeiros com maiores pesos

em menor espao de tempo, alto rendimento de carcaa e de qualidade superior, de

modo a atender as exigncias crescentes do mercado consumidor por qualidade,

levando-se em conta as variaes regionais (GARCIA et al., 2000). A composio e

a qualidade da carcaa bem como a qualidade diettica e sensorial da carne so

caractersticas importantes para se determinar a aceitao de novas raas e seus

cruzamentos, alm da aplicao de novos mtodos de manejo e sistemas de

produo animal (SAUDO et al.,1996).

Neste contexto, o presente estudo visou avaliar o efeito do cruzamento

gentico e do tratamento nutricional idade de abate sobre a composio

centesimal (umidade, protena, cinza e gordura) e lipdica (cidos graxos e

colesterol) dos cortes lombo e pernil de ovinos hbridos criados no Estado do Cear.

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2 REVISO DE LITERATURA

2.1 Importncia da ovinocultura

A explorao de ovinos deslanados encontra-se amplamente difundida em todo Nordeste brasileiro, os quais foram submetidos a sistema de criao extensiva

ao longo do tempo, mesmo assim, o rebanho tem aumentado o seu contingente

populacional, devido rusticidade e a capacidade de adaptao em condies semi-

ridas, caractersticas comuns s regies do polgono da seca. Nos trpicos os

ovinos so criados, principalmente, para produo de carne voltada para o consumo

humano, sendo a pele, a l, o leite e o esterco considerados funes

complementares (SANTANA, 2003). A produo mdia atual de carne ovina no

semi-rido Nordestino de 2,8kg/ha na caatinga nativa. Entretanto, pode alcanar

de 31,4kg/ha a 71,2kg/ha com o uso de tcnicas de manipulao da vegetao

nativa. A produtividade da caprina-ovinocultura de corte no Brasil ainda baixa. Uma

das razes est no regime de manejo, predominantemente extensivo, com alta

dependncia da vegetao nativa, utilizao de raas no especializadas, uso de

prticas rudimentares de manejo, assistncia tcnica deficitria, baixo nvel de

organizao e de gesto da unidade produtiva (VASCONCELOS e VIEIRA, 2003).

Na caatinga nativa, os ndices de desempenho animal so muitos baixos,

sendo necessrios 1,3 a 1,5ha para criar um ovino ou um caprino durante um ano,

com uma produo de peso vivo animal de 20kg/ha, e de 10 a 12ha para criar um

bovino, com produo de 8,0kg/ha (ARAJO FILHO, 1992). J na regio Centro-Sul

do Brasil, a produo de cordeiros para abate vem crescendo nos ltimos anos

devido ao sistema intensivo de acabamento de cordeiros em confinamento, baseado

em dietas com elevada concentrao energtica, diminuindo o tempo necessrio

para os animais atingirem o peso de abate e minimizando os problemas sanitrios

(CUNHA et al., 2003). O cordeiro, quando criado a campo, pode levar at 10 meses

para chegar ao peso de abate e no confinamento leva apenas 130 dias em mdia

(BARSANTE, 2003).

No I Workshop sobre caprinos e ovinos tropicais, realizado em Fortaleza-CE,

um grupo de produtores, tcnicos, pesquisadores, professores e empresrios da

rea, diagnosticaram as vrias ameaas que limitam o desenvolvimento da cadeia

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produtiva de caprinos e ovinos, citando-se entre elas as seguintes: insuficincia e

alto custo do capital financeiro; base educacional dos usurios de tecnologia

insuficiente; aes de marketing; comunicao e difuso precrias; comercializao,

processamento e armazenamento inapropriados; disperso organizativa dos

produtores de caprinos e ovinos; preconceito quanto ao consumo de alguns

produtos e sub-produtos; sucateamento da rea de pesquisa; falta de uma poltica

governamental para o setor; e a fragilidade da infra-estrutura produtiva que se

desestrutura facilmente com a adversidade climtica (MEDEIROS, 1998).

Embora apontada h muito tempo como uma carne alternativa de grande

potencial de consumo no Brasil, a carne ovina ainda no conseguiu ocupar a lacuna

deixada pela carne bovina. Seu mercado ainda no foi desbravado e as poucas

aes at agora realizadas no conseguiram manter uma regularidade de oferta,

capaz de impor tradio. Vivel de ser obtida a prazos e custos sensivelmente

inferiores aos da carne bovina e apresentando a vantagem de no ter a produo

condicionada aos preos do milho, como acontece com a carne suna e avcola, a

carne ovina poderia constituir-se em uma das mais acessveis fontes de protena

animal do pas (CAMBRA, 1997).

A produo e a comercializao da carne de ovinos no Brasil ainda no se

encontra organizada. Apresenta baixa oferta, sendo que, alm disso, a maioria dos

produtores no est conscientizado da necessidade de se produzir carne de boa

qualidade, levando ao mercado carcaas de animais com idade avanada, o que

vem contribuir para dificultar ainda mais o crescimento do consumo. Tem-se

comprovado o crescimento do consumo em algumas regies que abatem animais

jovens, com carcaas apresentadas ao consumidor em cortes especiais. Essas

caractersticas podem ser otimizadas pelo uso de sistemas adequados de

cruzamentos e de terminao. Desse modo, a prtica de terminao de ovinos em

confinamento, ou em pastagens de alta qualidade, possibilitaria disponibilizar ao

mercado consumidor um animal mais jovem com caractersticas de carcaa

favorveis, o que contribuiria com certeza para expanso do consumo. O sistema de

comercializao habitual, a exemplo do que ocorre em bovinos, feito em funo do

peso vivo, no sendo considerada deste modo qualidade da carcaa. Com isto

ocorre desestmulo pelo criador em produzir animais de melhor qualidade, o que

seria possvel com o abate de animais jovens (REIS et al., 2001).

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Para que o mercado interno possa crescer com firmeza, necessrio que o

produto tenha melhor apresentao e o consumidor seja esclarecido a respeito das

diversas categorias de carcaas e cortes crneos (JARDIM, 1983). Com a adoo

de tecnologias adequadas e prticas de manejo racionais (alimentao, profilaxia

etc), aliadas a um programa de melhoramento gentico dos plantis, o produtor

poder colocar no mercado, sem maiores dificuldades, a produo de leite, carne e

pele e obter razovel resultado financeiro. Em relao ovinocultura para carne, o

melhoramento gentico poderia se iniciar a partir do cruzamento das raas nativas

com raas exticas melhoradoras (VASCONCELOS e VIEIRA, 2003).

Atualmente, devido ao reconhecimento do potencial da ovinocultura

nordestina, voltou idia de melhorar a produtividade dos rebanhos regionais, desta

vez, com a seleo dentro de raas e/ou tipos nativos que j esto adaptados s

condies da regio semi-rida (SANTANA, 2003). A utilizao do cruzamento de

ovelhas adaptadas a uma regio com raas paternas especializadas para carne

uma alternativa para aumentar a eficincia dos sistemas produtivos, que necessitam

manter a oferta de um produto de qualidade ao longo do ano (OSRIO et al., 2002).

A utilizao do cruzamento de ovelhas de raas adaptadas a uma regio e

sistema de criao com carneiros de raas produtoras de carne utilizado para o

incremento da produo de carne. Os resultados desse cruzamento nem sempre

so os esperados e as perdas e transtornos oriundos de uma especulao

desordenada, na grande maioria, so irreversveis. O cruzamento vantajoso para

incrementar quantitativa e qualitativamente a produo de carne, tendo como

principais determinantes, fatores extrnsecos ao animal, como a alimentao ou

intrnsecos, como sexo, idade, raa e cruzamento. Cordeiros machos geralmente

pesam entre 5 a 12% mais do que as fmeas. E os cordeiros inteiros so 9% e 5%

mais pesados do que os castrados e cordeiras, respectivamente. H, contudo,

experimentos em que esse cruzamento no apresentou vantagens em relao a

animais procedentes de raas puras (OSRIO et al., 1996). Alm disso, o

cruzamento pode ser vivel em uma determinada idade e em outra no. Portanto, o

peso ou idade de abate timo econmico deve ser estudado em cada raa, ou

cruzamento, em funo do sexo, idade, alimentao etc. Alm do efeito isolado, dos

fatores intrnsecos e extrnsecos, existe a interao de um ou mais fator sobre a

produo de carne (OSRIO et al., 1991).

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Os elementos do complexo agroindustrial da ovino-caprinocultura so bem

diversificados, mas existe uma potencialidade de produo de produtos e

subprodutos pouco explorados, indo desde os alimentos convencionais, como: carne

e derivados, leite e derivados, vsceras e sangue; produtos oriundos da pele e plos;

smen; reprodutores e matrizes; e, subprodutos como: esterco, urina, ossos e

chifres. No que diz respeito participao no mercado mundial, a exportao de

carne ovina passou de 2,3 mil toneladas em 1992 para 14,7 mil toneladas em 2000,

representando um crescimento acima de 600%. A exportao de carne caprina

passou de US$ 833 em 1996 para US$ 17,1 mil em 2000, representando, tambm,

um crescimento bastante significativo (VASCONCELOS e VIEIRA, 2003).

Por mais paradoxal que parea, o Brasil exportador e importador de peles

caprinas e ovinas. Entre 1996 e 1999 foram exportados 35 milhes de dlares em

peles das duas espcies, ao passo que as importaes somaram 11,7 milhes de

dlares. Convm ressaltar que o material foi exportado em estgio de matria prima,

enquanto a quase totalidade das importaes eram peles em estgio mais adiantado

de processamento. As peles entregues aos curtumes so em sua maioria imprprias

para o processamento industrial, merc dos defeitos oriundos do manejo animal e

dos processos rudimentares de esfola, armazenamento e transporte (LEITE, 2003).

As peles so valorizadas pela maior elasticidade, resistncia e textura apresentada,

prestando-se, para um maior nmero de produtos nas indstrias de vesturio e de

calados (SEBRAE/RN, 2001). Embora boa parte das peles processadas seja

importada de pases da frica e da sia, a indstria de couro e calados que

trabalha a matria-prima de pequenos ruminantes est em franca expanso. Os

curtumes do Nordeste so uma prova inconteste desta situao, uma vez que esto

operando com cerca de cinqenta por cento de sua capacidade instalada (LEITE,

2003).

Apesar de existir vrias inferncias de que a pele do caprino ou ovino pode

chegar a valer at 30% do valor comercial da carne, atualmente, o que se v a

prtica de um preo quase que irrisrio ao produtor, todavia, com uma agregao de

valor considervel pelos atravessadores e curtumes (MEDEIROS, 1999).

Com a crescente demanda por produtos caprinos e ovinos, o crescente

nmero de empresrios dispostos a investir nessas atividades, a agroindstria

instalada e as tecnologias j disponibilizadas pela pesquisa, capazes de atender aos

diversos segmentos da cadeia produtiva, a ovinocultura brasileira ir se destacar no

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18

cenrio brasileiro como atividades de grande impacto scio-econmico

(VASCONCELOS e VIEIRA, 2003).

Nas reas mais secas dos sertes, historicamente, a ovino-caprinocultura

sempre desempenhou um papel importante na economia local e regional, e

constituiu uma das principais atividades da agricultura familiar. Em vrios estudos

das cadeias produtivas regional, esse segmento produtivo relegado a uma posio

marginal, quando no apontada como entrave ao desenvolvimento dos segmentos

produtivos do agronegcio nacional. Por no levar em considerao o papel social

desempenhado por este segmento produtivo diante das limitaes econmicas e

ambientais que a grande maioria dos produtores de caprinos e ovinos enfrenta, esse

raciocnio impede que se visualizem as oportunidades econmicas e as

possibilidades de insero da agricultura familiar num mercado cada vez mais

diversificado e complexo. Nos mdios e grandes centros urbanos, alm de

consumidores que compram unicamente preos, marcas, qualidade e convenincias,

existem os consumidores busca de produtos com elevada identidade cultural ou

politicamente corretos ou naturais ou com qualidades nutritivas e organolpticas

especficas. Nesse contexto, a pequena produo deve ser vista sob uma tica

diferente, buscando produtos adequados s exigncias dos consumidores finais,

mais diferenciados e, principalmente, pouco suscetveis a economias de escala

(HOLANDA JNIOR e SILVA, 2003).

Dentro das populaes de ovinos do Nordeste brasileiro, os deslanados

representam grande importncia social e econmica para os criadores da regio,

pois representam 38% do efetivo nacional. Sua explorao no Nordeste est em

rpida ascenso, face demanda crescente por carne de ovinos, que passou de um

simples produto de subsistncia para uma explorao com tendncia industrial,

incentivando o aumento da oferta de matria prima (SILVA e ARAJO, 2003). A

explorao de ovinos e caprinos nessa regio uma opo vivel e rentvel no

somente para pequenos e mdios produtores, mas tambm para grandes

pecuaristas, pois apresenta rpido retorno do capital investido. Alm disso, a regio

semi-rida nordestina tem vocao natural para o pastoreio e, em particular, para a

explorao da ovino-caprinocultura, onde alm da carne e pele, o leite tem alto valor

nutritivo e os derivados lcteos tm larga aceitao (SIQUEIRA, 1999).

As regies Nordeste, Sul e Sudeste se destacam atualmente pelo aumento da

produo de carne ovina, sendo utilizados cruzamentos industriais com raas

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especializadas para produo de carne. No entanto, mesmo nessas regies o

consumo ainda muito baixo, estando atrelado falta de hbito de consumo de

carne ovina. Todavia, isso pode ser contornvel quando houver no mercado um

produto de qualidade e com oferta durante todo o ano (OLIVEIRA et al., 2002b).

No Brasil, o aumento no consumo interno resultou em crescimento das

importaes de carne ovina. Para o abastecimento desse mercado o pas vem

importando ovinos vivos para abate, carcaas resfriadas ou congeladas e carne

desossada resfriada ou congelada, conforme Quadro 1 (SEBRAE/DF, 1998). Cerca

de 50% da carne importada do Uruguai, da Argentina e da Nova Zelndia. Este

dado permite auferir que existe um amplo mercado a ser conquistado, o que

depender fundamentalmente da organizao do setor. A duplicao da produo

de carne teria um mercado garantido no primeiro momento, pois viria apenas a

substituir as importaes que ora se verificam. No incio da dcada passada o Brasil

importava cerca de 2.000 toneladas de carne ovina por ano, nmero que foi

quadruplicado no ano passado. Vale ressaltar, tambm, que j existe um parque

industrial instalado, uma vez que no Nordeste foram implantados cerca de vinte

abatedouros-frigorficos, todos operando aqum de sua capacidade instalada

(LEITE, 2003; SIMPLCIO, 2001).

QUADRO 1 - Importaes brasileiras de carne de ovinos de 1992 a 2000

Anos Ovinos vivos (cabea) Carne de borrego (t) Carne de adulto (t)

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

119,5 2.180,8 4.628,9 1.630,9 5.732,0 8.674,1 5.179,4 4.056,1 6.245,9

163,9 309,9 823,5 444,0 325,4 520,6 530,4 231,7 278,6

2.075,9 3.702,6 4.694,5 3.869,3 5.715,1 4.961,2 6.148,3 4.343,5 8.216,4

Fonte: SEBRAE/DF (1998).

O alto potencial da demanda e o lento crescimento da produo determinam

que, no futuro, se no houver mudanas nos padres tradicionais de manejo, haver

uma defasagem cada vez mais crescente entre a produo para consumo e esta

mesma demanda, acarretando, fatalmente, presses de altas de preos. A anlise

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quantitativa da demanda total de carne caprina e ovina permite concluir que no

Nordeste do Brasil, h uma grande demanda potencial desses produtos (SOUZA

NETO, 1996).

A demanda por carnes de caprinos e ovinos, em cortes padronizados, bem

como por vsceras devidamente processadas, embaladas e comercializadas de

forma resfriada ou congelada, vem apresentando crescimento considervel nas

capitais do Nordeste e do Sudeste do Brasil. No mercado domstico a demanda vem

crescendo de forma mais significativa nas regies metropolitanas das grandes

cidades, reas habitadas pelo segmento populacional detentor de maior poder

aquisitivo. As perspectivas de ampliao e consolidao desse mercado so

promissoras, sobretudo, quando se considera as limitaes existentes na oferta do

produto com padronizao definida. Por outro lado, a cadeia produtiva da

caprinovinocultura mostra-se desarticulada, em razo de obstculos existentes em

todos os segmentos. A desorganizao dos produtores de caprinos e ovinos, a falta

de capacitao tecnolgica e gerencial dos produtores, as condies inadequadas

das instalaes existentes na maioria das propriedades, o baixo padro racial dos

rebanhos e a descapitalizao dos produtores, associado reduzida oferta de

forragem durante o perodo de estiagem e a predominncia do sistema de produo

extensivo so alguns dos fatores limitantes da oferta de animais padronizados para

o abate. Outros fatores limitantes afetam comercializao das carnes de caprinos e

ovinos, podendo-se destacar: O abate clandestino, que concorre deslealmente com

frigorficos industriais, a falta de padronizao de carcaas, em razo do baixo

padro racial dos rebanhos, a irregularidade do fornecimento de carne e derivados

ao mercado, a ausncia de promoo comercial e os elevados preos praticados no

mercado, impossibilitando a abertura de mercado e reduzindo a competitividade com

as carnes concorrentes (SEBRAE/RN, 2001).

Para o aproveitamento racional da carne ovina podem ser utilizadas

alternativas tecnolgicas como a estimulao eltrica de carcaas, novos mtodos

de resfriamento, maturao e amaciamento da carne. Na rea de produtos

derivados, a carne de ovino pode ser empregada juntamente com a carne bovina e

suna na elaborao de embutidos. Como produto principal, vivel a utilizao da

carne ovina para elaborao de presuntos, embutidos e defumados. Atualmente,

devido utilizao j consagrada do binmio freezer-forno de microondas e ao

desenvolvimento de embalagens flexveis e rgidas esterilizveis, a oferta de

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refeies prontas base de carne vem expandindo rapidamente e podem ser

oferecidas nas formas de refeies refrigeradas, congeladas e termoprocessadas.

Estes produtos visam atender aos anseios do consumidor moderno e podem ser

considerados uma alternativa de aproveitamento da carne de ovinos (ROA, 1993).

Apesar de ser evidente o potencial de aumento do consumo de carne caprina

e ovina, estatsticas apontam para um baixo nvel de consumo per capita por ano no

Nordeste e mais ainda, em todo o Brasil, em que pese ser hbito de consumo do

nordestino, consumir semanalmente carne caprina e ovina (MEDEIROS, 1999).

O consumo de qualquer produto influenciado por dois fatores principais: a

tradio e o preo, o primeiro (hbito de consumo) pode ser alterado em mdio

prazo, j o preo tem impacto imediato sobre o nvel de consumo, e influncia a

formao de novos hbitos, assim, espera-se que com a adoo de tcnicas mais

racionais de explorao que acarretar em um menor custo de produo com uma

conseqente reduo de preo ao consumidor, tenha-se um estimulo no consumo,

por outro lado, o aumento nesta demanda esbarrar no problema da baixa oferta

(SOUZA NETO, 1996).

Quanto comercializao de carnes caprina e ovina, BARRETO NETO

(1998), enfatiza que o principal cliente e o que mais cresce o setor

supermercadista, secundariamente, vem o mercado de hotis, restaurantes e

instituies, alm disso, os matadouros-frigorficos praticamente no vendem a

aougues pela penetrao macia de carnes clandestinas, porm, com o aumento

das fiscalizaes a tendncia futura que venham a participar deste mercado. Outro

aspecto bem peculiar da comercializao da carne a venda indireta por

"marchantes" ou atravessadores em feiras livres, e diretamente ao consumidor "de

porta em porta", prtica bastante utilizada no interior/pequenas cidades, o que

geralmente ocorre sem nenhum controle sobre a qualidade do produto

comercializado.

Os consumidores das carnes de caprinos e ovinos se caracterizam pelo alto

nvel de exigncia com a qualidade, uma vez que atendem a um pblico classe A e

B, que, muito bem informado, estar sempre atento qualidade do produto expressa

no processo de produo e embalagem. Porm o consumidor da regio Nordeste

continuar, por algum tempo, consumindo produto sem qualidade, comprado em

feiras e aougues do interior sem qualquer controle sanitrio, uma vez que esta a

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tradio local, que demandar muito esforo para mudar, atravs da conscientizao

da populao (SEBRAE/RN, 2001).

2.2 Distribuio mundial de ovinos

A ovino-caprinocultura uma atividade econmica explorada, praticamente,

em todos os continentes, estando presente em ecossistemas com os mais diversos

climas, solos e vegetao, com uma populao que ultrapassa a casa de um bilho

de cabeas. Entretanto, esta explorao apresenta expresso econmica em

poucos pases, j que, na maioria das naes onde explorada, a atividade

desenvolvida em sistemas extensivos e com baixo nvel de tecnologia (LEITE, 2003).

Segundo dados da FAO (2003), os pases em desenvolvimento detm

62,82% do efetivo mundial, estimado em aproximadamente um bilho de ovinos.

No obstante, dos dez maiores produtores mundiais de ovinos, seis so pases em

desenvolvimento: China (13,12%), ndia (5,57%), Iran (5,16%), Sudo (4,51%),

Paquisto (3,61%) e Turquia (2,79%).

Quanto ao rebanho ovino nacional, este constitudo de cerca de 15,5

milhes de cabeas, 1,48% em relao ao efetivo mundial e, 2,29% em relao ao

efetivo dos pases em desenvolvimento (FAO, 2003). Estimativas do ANUALPEC

(2003) registraram que o rebanho brasileiro concentra-se nas regies Nordeste e Sul

com 8.181.434 (54,16%) e 5.373.035 (35,57%), respectivamente, seguidas pelas

regies Centro-Oeste, Norte e Sudeste com 721.310 (4,77%), 437.466 (2,89%) e

393.587 (2,61%) cabeas, respectivamente. Os maiores efetivos situam-se nos

Estados do Rio Grande do Sul, Bahia, Cear e Piau com 4.645.596 (30,75%),

3.070.590 (20,32%), 1.688.224 (11,17%) e 1.466.596 (9,71%) cabeas,

respectivamente.

A regio Nordeste, detentora do maior rebanho brasileiro de caprinos e

ovinos, abrange uma rea total de 166,2 milhes de hectares, dos quais 95,2

milhes (57%) esto inseridos na zona semi-rida, onde cerca de 50% desses

rebanhos est localizado em propriedades com menos de 30ha (VASCONCELOS e

VIEIRA, 2003). Nesta regio a ovinocultura tem grande importncia scio-econmica

e est voltada para produo de carnes e peles, mas nos ltimos anos essa

atividade vem sofrendo transformaes no tocante a sua eficincia e produtividade,

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em virtude, principalmente, da globalizao do mercado (BARROS e

VASCONCELOS, 1998).

Nos ltimos 12 anos, o nmero de cabeas de ovinos no mundo vem

diminuindo em funo de vrios fatores, como por exemplo: a queda do preo da l

e o aparecimento da doena da vaca louca, principalmente na Europa (RIBEIRO e

RIBEIRO, 2003).

No Nordeste, os criadores so proprietrios de plantis pequenos e de vrias

raas. No Cear, por exemplo, 66 a 70% do rebanho constitudo por animais SRD

e o nmero de animais puros , geralmente, bastante reduzido, mas na raa Santa

Ins chega a 18% (QUESADAL et al., 2002). E o desfrute dos rebanhos caprino e

ovino do semi-rido nordestino, , em sua maioria, baixo, em conseqncia das altas

taxas de mortalidade pr e ps-desmame e da avanada idade ao abate. Esse baixo

desfrute creditado s deficincias nutricionais e sanitrias (ARAJO et al., 2003a).

A produo mundial de carne ovina situa-se em torno de 2,5 milhes de

toneladas, com exportaes mdias de 880 mil toneladas. Entretanto, no Brasil

ainda no existe uma estrutura slida para a comercializao dessa importante fonte

de protena animal, que possui potencial para minimizar a deficincia alimentar da

populao (MARTINS, 1997). O abate mundial de caprinos e ovinos no perodo de

1991 a 2000 cresceu 7,5%. A produo brasileira de peles de caprinos e de ovinos

deslanados, em 2000, foi de seis milhes de unidades, enquanto a de ovinos

lanados foi de 1,3 milhes de unidades. Este crescimento relata que o mercado de

carne tem se mostrado consumidor tanto no Brasil como no exterior, onde o abate

mundial de caprinos e ovinos, em 1998, foi de 516 milhes de cabeas. No exterior,

os principais produtores foram: China, ndia, Nova Zelndia e Austrlia. No

existindo um padro internacional generalizado para a participao no mercado de

carnes. Na Europa, a carne suna a mais consumida, enquanto, nos Estados

Unidos, a de frango. No Brasil e na Argentina, a carne bovina a preferida,

enquanto que, na Nova Zelndia, a carne ovina tem o maior consumo per capita do

mundo (SEBRAE/RN, 2001; VASCONCELOS e VIEIRA, 2003).

A busca de alternativas para a maior produtividade nesse segmento tem sido

uma preocupao permanente dos rgos pblicos ligados agropecuria (BRASIL,

1998). Entidades, como a EMBRAPA e o SEBRAE, tm tentado implantar

programas de qualificao para tornar esse segmento mais tecnificado. Entre estes

programas destaca-se o Programa Nacional de Pesquisa de Caprinos PN

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Caprinos - formulado pela EMBRAPA (BRASIL, 1981) e, mais recentemente, o

Programa para o Desenvolvimento Sustentvel da Ovinocaprinocultura na regio

Nordeste pelo Banco do Nordeste (BRASIL, 1999b), que visa toda a cadeia

produtiva, desde a escolha gentica dos reprodutores, passando pelos cuidados

com o manejo at o produto final.

2.3 Consumo de carne ovina

O consumo mundial de carne ovina muito varivel e est ligado a fatores

culturais, econmicos e religiosos. Os animais mais leves, por exemplo, so

preferidos em Portugal (8 kg), Itlia (9 kg), Espanha e Grcia (11 kg). J os de mdio

peso so preferidos na Blgica e Irlanda (21 kg), Holanda (23 kg) e Dinamarca (25

kg), e os de maior peso (entre 27 e 30 Kg) pelo Egito, Estados Unidos e Japo

(SAUDO et al., 1996).

Segundo SIMPLCIO (2001) o consumo de carne ovina e caprina, cresceu

muito nos ltimos anos, porm, segundo estimativas, as duas juntas ainda no

superam a quantia de 1,5kg/habitante/ano, quantidade muito pequena em

comparao ao consumo per capita no Brasil das carnes de bovinos (42kg), sunos

(12Kg) e aves (28 kg). Assim, existe um grande espao para a expanso do

consumo de carne ovina no mercado de carnes.

Fatores como hbito alimentar e poder aquisitivo exercem grande influncia

sobre o consumo da carne ovina. No entanto, alguns autores relatam que um dos

fatores mais preponderantes para a expanso e consolidao do mercado dessa

carne no Brasil a qualidade das carcaas produzidas, sendo fundamental a

padronizao das mesmas em funo de tamanho, percentual de msculos,

cobertura de gordura subcutnea e teor de gordura adequado ao mercado

(SIQUEIRA et al., 2001a). Visto que o mercado nacional abastecido,

principalmente, com carne ovina proveniente de animais velhos com baixa qualidade

de carcaa, o que exerce influncia inibitria sobre o seu consumo, gerando tabus

alimentares entre os consumidores. Vale ressaltar que a qualidade, no tocante

carne ovina, est relacionada a diversos fatores relativos ao animal, ao meio,

nutrio, ao manejo antes do abate e s condies de processamento e

conservao das carcaas aps o abate (SAUDO, 2002).

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No entanto, de acordo com CUNHA et al. (2000), o consumo de carne ovina

com qualidade superior proveniente do abate de animais jovens tem aumentado nos

ltimos anos. Contudo, o mercado para a carne com qualidade superior ainda tem

sido abastecido principalmente pelas importaes oriundas do Uruguai, Argentina e

Nova Zelndia (SIMPLCIO, 2001).

Descrevendo caractersticas inerentes aos hbitos de consumo de carne

ovina em diferentes pases europeus, SAUDO (2002) destacou que altas

eficincias tcnica e econmica na ovinocultura so necessrias para que a mesma

se consolide em mercados mais exigentes onde o consumo maior, porm j

estabilizado, e os custos de produo so elevados e as margens de lucro, menores.

E que, neste contexto, a produo de carne de qualidade deve ser prioridade. No

cenrio nacional, este fato deve ser considerado para que a ovinocultura brasileira

possa consolidar no apenas o seu espao no mercado interno, mas tambm em um

mercado externo marcado por intensa competitividade.

2.4 Raas

2.4.1 Santa Ins

A raa Santa Ins foi formada no Nordeste do Brasil e fruto, provavelmente,

do cruzamento alternado de animais das raas Bergamcia, Crioula e Morada Nova,

alm, em menor escala, da raa Somalis. um ovino deslanado de grande porte

que suporta bem o manejo extensivo com boa produtividade. As fmeas so timas

criadoras, com alta fertilidade e prolificidade. A presena de sangue de uma raa

leiteira tornou as ovelhas Santa Ins timas produtoras de leite e, em decorrncia,

excelentes mes, capazes de desmamar cordeiros muito saudveis com bom peso.

Apesar da influncia do sangue de uma raa europia, a Santa Ins manteve a

caracterstica de rusticidade herdada da raa Morada Nova (CARVALHO et al.,

2003; SANTANA, 2003). Porm NUNES et al. (1997), acreditam que a mesma pode

ser originria da frica. Esta conceituao se baseia nas caractersticas da raa,

como porte, tipo de cabea, orelhas e vestgios de l.

As fmeas so excelentes reprodutoras, gerando cordeiros vigorosos, com

freqentes partos duplos. Devido ao seu grande porte, apreciada por sua boa

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conformao crnica que confere aos cordeiros resultantes de cruzamentos ou

puros, assim como por sua qualidade de cria das fmeas puras. A raa

caracterizada por quatro pelagens: branca, chitada, vermelha ou marrom e preta

(Figura 1). E vem apresentando grande expanso populacional, estando presente

em todo o Nordeste, alguns estados do Sudeste do Brasil e j iniciando sua

caminhada pela Europa e sia (CICO, 2003).

Os animais da Raa Santa Ins apresentam maior velocidade de crescimento

em relao aos demais ovinos deslanados, atingindo 60Kg nas fmeas e 80Kg nos

machos (SOBRINHO, 1990). E ainda apresenta o maior potencial gentico para

ganhos de peso entre as raas da regio Nordeste do Brasil (SOUZA et al., 2003a).

A raa vem demonstrando ser muito promissora para a produo de carne, pois

apresentam precocidade, alto rendimento de carcaa e grande resistncia a

doenas ambientais (CORRADELLO, 1988).

No Nordeste do Brasil, os ovinos deslanados so utilizados para a produo

de carne e pele. Estes animais destacam-se, sobretudo, pela rusticidade, fator que

os faz obter bom desempenho mesmo no semi-rido. A raa Santa Ins apresenta

tamanho corporal superior s demais raas de ovinos deslanados, o que a faz

transpor as fronteiras nordestinas para outras regies do pas (ARAJO et al.,

2003b).

Em sistema intensivo, cordeiros Santa Ins tm desempenho e caractersticas

de carcaa inferiores s raas de corte, todavia a utilizao de carneiros dessas

raas, sobre ovelhas Santa Ins, pode melhorar o desempenho e as caractersticas

de carcaa, produzindo crias com maior potencial para ganho de peso, diminuindo o

tempo para o abate e o custo e produo (SANTOS et al., 2003).

Figura 1- Raa Santa Ins.

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2.4.2 Dorper

A Dorper uma raa ovina de corte desenvolvida na frica do Sul, atravs do

cruzamento do Dorset Horn com o Blackhead Persian (conhecida no Brasil por

Somalis) para ser explorada em regies semi-ridas e ridas. Durante a dcada de

1930 surgiram os primeiros cordeiros produtos deste cruzamento, que se

destacavam pelo rpido crescimento e pela qualidade e peso das suas carcaas;

sendo que alguns eram totalmente brancos e recebiam a denominao de Dorsian,

outros eram brancos com a cabea e pescoos pretos, sendo conhecidos como

Dorper. Posteriormente, a denominao de Dorper estendeu-se indiferentemente a

todos os produtos do aludido cruzamento, independentemente de serem totalmente

brancos ou brancos com cabea e pescoo pretos (Figura 2). A partir de 1946

iniciaram-se os trabalhos de melhoramento da raa (ARCOOVINOS, 2003).

A raa mostra adaptabilidade, resistncia, taxas excepcionais de reproduo

e crescimento (alcanando 36Kg em trs ou quatro meses) e alta habilidade

materna. A diferena na cor permite que o criador tenha a sua preferncia. Cerca de

85% dos criadores de Dorper, membros da Sociedade de Criadores da Raa Ovina

Dorper da frica do Sul, criam o Dorper de cabea preta. A raa Dorper ,

numericamente, a segunda raa mais criada na frica do Sul e se espalha por

muitos outros pases (BOI DE CORTE, 2003).

um ovino produtor de carne, entretanto, suas exigncias nutricionais no

so to altas. Esta raa tem uma estao reprodutiva longa, portanto, a

estacionalidade no um fator limitante para a produo. Um bom administrador

pode organizar o manejo na propriedade de modo que os cordeiros possam ser

produzidos durante todo o ano. A raa frtil e a porcentagem de ovelhas gestantes

aps uma estao de monta relativamente elevada. O intervalo entre partos pode

ser de oito meses. Sob condies de boas pastagens e manejo adequado, a ovelha

Dorper pode parir trs vezes em dois anos. Uma porcentagem de pario de 150%

pode ser alcanada em rebanhos bem criados e, em casos excepcionais, esta taxa

pode ser de 180%. Sob circunstncias extensivas, a porcentagem de pario de

100%. Em um rebanho que contm um grande nmero de borregas, a porcentagem

de pario ser em torno de 120%. Se for considerada uma taxa de pario de

150% (alta incidncia de parto gemelar) e um manejo que permita que a ovelha

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tenha trs partos em dois anos, uma ovelha Dorper poder produzir 2,25 cordeiros

em um ano.

O cordeiro Dorper cresce rapidamente e alcana um peso elevado no

desmame, o que uma caracterstica economicamente importante na produo de

ovino tipo carne. Isto assegura uma carcaa de qualidade elevada de

aproximadamente 16Kg. Este peso est associado com o potencial de crescimento

inerente do cordeiro Dorper e com a sua habilidade de pastar precocemente. bem

adaptado a uma variedade de condies climticas e de pastejo. Embora

desenvolvida para criaes extensivas, responde bem em condies intensivas de

produo. Sua pele coberta por uma mistura de plo e l. A pele grossa protege os

ovinos das condies climticas adversas e muito valorizada.

No Brasil a raa foi aceita em 1998 aps o incentivo do Dr. Mrio Silveira,

Secretrio do Planejamento da Paraba que via na caprinovinocultura uma das

solues para o semi-rido paraibano, onde foi institudo um projeto de Introduo e

Gentipos de Ovinos da Raa Dorper no Estado da Paraba. A raa tem atendido

uma variedade de condies de ambiente das regies tropicais e semitropicais, pela

excelente condio de adaptabilidade e vigor, aceitveis ndices de reproduo, boa

habilidade materna, altas taxas de crescimento e excelentes qualidades de carcaa

(CARVALHO et al., 2003).

A escolha de raas adequadas s condies ambientais locais um dos

fatores preponderantes para o sucesso de um sistema de criao economicamente

vivel (BARBOSA et al., 1995).

Figura 2- Raa Dorper.

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2.4.3 Sem Raa Definida - SRD

Considera-se SRD o tipo tnico resultante do acasalamento desordenado das

raas Morada Nova, Somalis Brasileira, Bergamcia Brasileira, Santa Ins e demais

raas e/ou tipos ovinos encontrados no Nordeste do Brasil. Os SRD representam o

maior efetivo do rebanho nordestino. Estes animais apresentam porte variado em

decorrncia de sua prpria formao, 30 a 60kg para fmeas e machos adultos,

respectivamente; cabea de tamanho e perfil variados; mochos ou com chifres; com

ou sem l pelo corpo e pelagem variada (SANTANA, 2003).

2.5 Carcaa

O art. 18 do Regulamento de Inspeo Industrial e Sanitria de Produtos de

Origem Animal (RIISPOA), define carcaa como sendo o animal abatido, formado

das massas musculares e ossos, desprovidos da cabea, mocots, cauda, couro,

rgos e vsceras torcicas e abdominais, tecnicamente preparado (BRASIL/MAPA,

1997)

Corresponde ao resultado final do crescimento e desenvolvimento que o

animal obteve enquanto vivo, por efeito de fatores genticos e nutricionais, podendo

ser avaliada de acordo com os padres da regio onde foi obtida (COLOMER-

ROCHER, 1987).

2.6 Composio tissular ou histolgica da carcaa

a analise direta dos tecidos e se baseia na dissecao completa de todos

os tecidos mediante a utilizao de bisturi, valorizando principalmente o tecido

muscular, tecido adiposo e o tecido sseo (ALMEIDA, 1990). A dissecao completa

o mtodo mais exato para avaliao de sua composio tecidual, mas por ser lento

e oneroso, tem-se usado parte representativa da carcaa (OSRIO, 1992).

Devido a importncia da composio tecidual na qualidade da carcaa,

relevante que se estimem as suas variaes nos cortes comerciais. O conhecimento

da quantidade e distribuio dos tecidos tais como a gordura e a carne, na carcaa,

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importante no somente para avaliar a capacidade de um animal produzir carne

mas tambm para que o seu mercado se torne mais eficiente (OWEN e NORMAN,

1977). Alm disso, a composio e a qualidade da carcaa so caractersticas de

igual importncia para determinar a aceitao de novas raas e seus cruzamentos

(SAINZ, 1996).

Segundo SAUDO (1980), a distribuio de tecidos na carcaa sofre

alterao com o aumento do peso do animal j que medida que ocorre este

incremento a proporo dos ossos diminui, a gordura aumenta e o contedo

muscular apresenta apenas uma pequena alterao que pode tender diminuio.

Sobre o desenvolvimento destes tecidos HAMMOND (1974), relata que o tecido

sseo mais precoce que o muscular e o adiposo o mais tardio dos trs. Na

composio bsica da carcaa, os tecidos muscular, sseo e adiposo no se

desenvolvem de forma isomtrica, posto que cada um ter impulso de crescimento

distinto em uma fase da vida do animal. A idade e o peso em que ocorrem a

acelerao ou desacelerao no desenvolvimento de cada tecido, dependem da

raa, do sexo e do nvel nutricional, entre outros fatores (FORREST et al., 1979).

Os msculos, inicialmente, e depois o tecido adiposo exercem grande

influncia na composio da carcaa, enquanto os ossos, em nenhum estgio, tm

papel dominante na determinao das quantidades relativas dos trs tecidos. O

tecido sseo apresenta maior impulso de crescimento em menor idade, enquanto o

tecido adiposo tem crescimento em idade mais avanada e o tecido muscular, em

idade intermediria (BERG et al., 1978; MLLER e PRIMO, 1986).

Tecidos muscular e sseo

O tecido muscular o tecido de maior valor na carcaa dos animais

produtores de carne enquanto que o sseo praticamente no apresenta valor

comercial. Como a grande maioria dos animais so criados em funo de produzir

carne para o homem, a maior nfase dada para a produo do tecido muscular e

aos efeitos que possam interagir para a maior produo desta (KAUFFMAN e

BREIDENSTEIN, 1996). A relao entre estes tecidos , contudo, uma caracterstica

de grande significado econmico. A quantidade do tecido muscular produzido para

uma determinada idade uma importante caracterstica nos animais produtores de

carne e uma vez que no pode ser biologicamente produzido sem um suporte

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sseo, a relao entre o peso muscular/ sseo oferece um ndice til para a seleo

dos graus de muscularidade da carcaa (ANOUST, 1989).

Msculo e osso esto intrinsecamente relacionados e este comportamento

uma caracterstica primria que por sua vez sofre influncia da forma do animal

(conformao) e do estgio de crescimento. Estes dois componentes podem

aumentar ou decrescer juntos, ou em direes opostas. Ambos podem ser afetados

pelo contedo em tecido adiposo e pela proporo de contedo visceral

(KAUFFMAN e BREIDENSTEIN, 1996).

A taxa de crescimento dos msculos individuais varivel. Os msculos

grandes, tais como os dos membros e do lombo, apresentam a maior taxa de

crescimento ps-natal e, em geral, considera-se que a variao no tamanho adulto

entre animais de uma mesma espcie devido s diferenas no nmero de clulas,

e no necessariamente ao tamanho corporal (SILVA et al., 2000).

A variao da distribuio do tecido muscular dentro da carcaa pode ser

considerada como de interesse comercial uma vez que, o consumidor se dispe a

pagar um melhor preo para uma maior quantidade de carne em determinados

cortes (WOLF, 1982).

FORREST et al. (1979), comentam que o grau de desenvolvimento muscular

tem grande influncia na percentagem do rendimento ao corte. Em geral, as

carcaas com um desenvolvimento muscular menor que o normal, tem uma menor

proporo de msculo com relao a de osso e um menor rendimento ao corte que

as carcaas mais musculosas.

Segundo MLLER (1980), a rea de olho de lombo isoladamente no

representa uma alta correlao com a proporo de msculo na carcaa, porm, se

utilizada em conjunto com outros parmetros, pode auxiliar na avaliao do grau de

rendimento dos cortes desossados na carcaa.

Em estudos de crescimento de ovelhas, JURY (1977), relatou os efeitos da

raa sobre a distribuio muscular em relao ao peso do msculo total. Este autor

encontrou um efeito significativo nos cortes de menor valor comercial como o

pescoo, trax e abdmen.

THOMAS et al. (1976), demonstrou que medida que se aumenta o peso de

abate, o percentual dos cortes nobres ou a poro comestvel da carcaa tende a

decrescer. Tal fato foi verificado por FIGUEIREDO (1989), demonstrando que as

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carcaas ovino-caprinas no Estado do Cear, geralmente, provm do abate de

animais com baixo peso e, por isso, apresentam baixa relao msculo/ osso.

Tecido adiposo

Atualmente, um dos aspectos importantes a se considerar no mercado de

carne o contedo de gordura em funo da sua correlao com problemas de

sade humana (MOTTA et al., 2001). A espessura da gordura est associada a

vrios fatores, entre eles, a raa do animal, sexo, regime alimentar, durao do

perodo alimentar e o peso de carcaa (SAINZ, 1996).

O crescimento do tecido adiposo acontece em duas fases. No animal jovem,

deposita-se muito pouca gordura, ficando o crescimento limitado a outros tecidos. No

entanto, em um determinado momento, a deposio de gordura toma grande

intensidade, sendo que essa fase varia com a raa (SILVA et al., 2000). O

crescimento da gordura comea relativamente devagar e aumenta quando os

animais entram na fase de acabamento. Sendo este um tecido de desenvolvimento

tardio comparado com msculo e ossos, com a seguinte ordem de deposio:

gordura interna, intermuscular, sub-cutnea e intramuscular (BERG e WALTERS,

1983; ALMEIDA, 1990).

A gordura influenciada principalmente pelo sistema de terminao, pelo

gentipo e pela razo idade/peso do animal. uma questo de fundamental

importncia, haja vista a averso do consumidor moderno pelo excesso de tecido

adiposo. Sua mensurao pode ser objetiva ou subjetiva. A avaliao subjetiva leva

em considerao a gordura de cobertura (MACEDO et al., 2000).

O teor de tecido adiposo na carcaa ovina fator determinante de sua

qualidade. A gordura , de todos os componentes da carcaa, aquele que apresenta

maiores variaes qualitativas e quantitativas e, assim, de acordo com as

preferncias dos consumidores de diferentes pases, pode ser um fator depreciativo

da carcaa (TEIXEIRA et al., 1992).

medida que aumenta a idade e o peso de abate dos animais, a espessura

de gordura se eleva (SENTS et al., 1982). Contudo a gordura possui um importante

papel quando se trata de analisar as inmeras funes que esta desempenha no

organismo bem como a influncia desta sobre a qualidade das carcaas (ALMEIDA,

1990).

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A gordura um dos depsitos energticos mais importantes no organismo

animal. Para animais que vivem em clima rido em que a gua um fator limitante,

constitui uma importante fonte de armazenamento de gua e para animais que

vivem em clima frio, a gordura reduz as perdas de calor, sendo importante para o

equilbrio e conforto trmico do animal (SAINZ, 1996). Outra importante funo da

gordura diz respeito a sua deposio entre as fibras musculares o que apontada

por muitos como responsvel pela maciez da carne (SAINZ, 1996;

SANTOS FILHO et al., 1997).

O tecido adiposo tem uma importncia considervel no que diz respeito

conformao, sendo responsvel pelo acabamento o que interfere na avaliao da

qualidade da carcaa produzida. Pode ser encontrada no organismo animal na

forma extracelular, intermuscular e intramuscular. A extracelular e intermuscular

localizam-se sob a pele e nos depsitos subcutneos e viscerais. Tanto a

extracelular como a intermuscular so facilmente apreciadas, j a intramuscular

apresenta-se na forma de finssimas fibras no tecido constituinte dos msculos. Esta

forma de gordura compe o marmoreio da carne, tambm conhecida como marbling

(NIINIVAARA e ANTILA, 1973; PARDI et al., 1993). O marmoreio ou marmorizao

reconhecido como o principal fator de classificao de carnes no sistema de

classificao americana. Sua importncia tambm reconhecida em outros vrios

sistemas de avaliao existentes no mundo (SAINZ, 1996).

O teor de protena na carcaa dos animais domsticos diminui com o

aumento da idade, enquanto a quantidade de lipdio aumenta. Logo, deve-se

procurar abater ovinos jovens, desde que apresentem pesos de carcaa compatveis

com a exigncia do consumidor (MACEDO et al., 2000).

O tecido adiposo constitui-se no componente de maior variao na carcaa

dos animais produtores de carne (OWEN e NORMAN, 1977), podendo variar de 5%

a 30%, dependendo do tipo, da raa, do manejo, da alimentao e da idade do

animal (LEVIE, 1967).

Segundo BOGGS e MERKEL (1988), a quantidade de gordura externa de

uma carcaa a caracterstica que mais influncia no rendimento. Para BRISKEY e

BRAY (1964), a quantidade de gordura um dos fatores que produzem maior

variao no valor comercial de uma carcaa j que por sua vez influncia na sua

maciez.

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OWEN e NORMAN (1978), considera que a quantidade de gordura desejada

em uma carcaa pode variar bastante de mercado para mercado, da ser essencial o

conhecimento da sua distribuio na mesma, para que se consiga um perfeito

entrosamento da cadeia de produo com as necessidades do mercado consumidor.

AZZARINE e PONZONI (1971), afirmam que a proporo de gordura na

carcaa maior nas fmeas que em machos castrados e maior nestes que em

machos inteiros.

Conforme SAINZ (1996), os ovinos tendem a acumular gordura na superfcie,

enquanto que os caprinos tendem a acumular na parte interna estando mais

associada ao corao e cavidade plvica, principalmente no omento e nos rins

(DEVENDRA e McLEROY, 1982).

2.7 Composio regional ou anatmica da carcaa

A composio regional consiste na separao da carcaa, dando origem a

peas de menor tamanho, a fim de proporcionar um melhor aproveitamento da

carcaa para utilizao culinria e facilitar sua comercializao (MARTINS et al.,

2001). Alm disso, a diviso da carcaa em cortes bem definidos como pescoo,

paleta, trax, lombo e perna pode facilitar o exame da distribuio de carne na

mesma (OWEN e NORMAN, 1977).

O estudo dessa composio realiza-se atravs da separao da carcaa do

animal em partes anatmicas, sendo esta diviso estabelecida por interesses

comerciais. Na teoria, as regies anatmicas separadas devem integrar grupos

musculares homogneos de similar qualidade e de idntica preparao culinria

(DELFA et al., 1991). Os cortes obtidos variam entre pases e dentro do mesmo

pas, de uma regio para outra, exceto a paleta e a perna que so, via de regra,

separadas quase que do mesmo modo em todos os lugares (OSRIO, 1996b).

A proporo de peas da carcaa, bem como a qualidade de sua carne,

podem ser utilizados para avaliao da mesma (ROQUE, 1998). Tal proporo

determinada pelo desenvolvimento de cada parte no animal, j que as peas de

desenvolvimento precoce (paleta, perna e pescoo nas fmeas) diminuem em

percentagem com o aumento do peso vivo e/ou peso de carcaa; e com as de

desenvolvimento tardio (costilhar e pescoo nos machos) ocorre o oposto. Porm

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este fato no desejvel, pois vai ocasionar uma diminuio da percentagem de

paleta e de perna que so peas de primeira categoria e um aumento de peso do

costilhar que tem valor comercial inferior (OSORIO et al., 1996b). Alm disso, a

quantidade de carne produzida por animal ou seu rendimento na carcaa de

fundamental importncia para o criador, pois quanto melhor for sua produo e

qualidade, maior ser o lucro obtido (SANTOS FILHO et al., 1997).

Conforme SANTOS e PREZ (2000), um sistema de cortes deve contemplar

alguns aspectos, como a composio fsica do produto oferecido (quantidades

relativas de msculo, gordura e osso), a versatilidade dos cortes obtidos e a

aplicabilidade ou facilidade de realizao do corte pelo operador que o realiza. O

conhecimento da proporo dos seus tecidos componentes influncia no

estabelecimento do seu valor comercial. Estas propores variam com a raa ou

sexo, provavelmente, devido ao seu estgio de maturidade (TAYLOR et al., 1989).

Os distintos msculos da carcaa ovina, pela sua estrutura particular,

localizao anatmica e qualidade, tm diferentes utilizaes e valores comerciais.

Sendo assim, importante avaliar o crescimento relativo dos cortes, pois ele pode

contribuir para a estimativa do peso de abate ideal (SANTOS, 1999). O crescimento

e desenvolvimento dos cortes comerciais so influenciados pelo gentipo e por isto

importante que sejam estudadas as associaes entre a composio regional e o

peso vivo e/ou de carcaa nas diversas raas, determinando o momento mais

propcio para abater estes animais (MARTINS et al., 2001). Para predizer a

composio regional, o peso de carcaa melhor estimador da composio regional

do que o peso vivo, e influenciado pela velocidade de crescimento, idade ao abate

e regime nutricional (OSRIO et al., 1996b). O uso da meia carcaa feito para

facilitar a medio e no afeta os resultados, pois no existem diferenas

significativas entre ambas as partes (HUIDOBRO e VILLAPADIERNA, 1992).

Assim como os msculos, os distintos cortes que compem a carcaa

possuem diferentes valores econmicos e a proporo dos mesmos constitui um

importante ndice para avaliao da qualidade comercial da carcaa (HUIDOBRO e

CAEQUE, 1993). Os tecidos que aumentam de peso em velocidade maior que o

peso corporal, no perodo ps-natal, so classificados como precoces e aqueles que

apresentam caractersticas contrrias so classificados como tardios (SILVA et al.,

2000). Economicamente, desejvel um maior rendimento da perna, em

comparao com os outros cortes, devido ao seu valor comercial (SANTOS, 1999).

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Mediante estudo no desenvolvimento diferencial dos msculos e grupos de

msculos das carcaas de ovinos, do efeito do sexo e da evoluo das

percentagens das diferentes peas anatmicas, pode-se estimar qual ser, do ponto

de vista econmico, o peso de abate apropriado dos animais, o qual permite sua

mxima valorizao (COLOMER-ROCHER et al., 1988).

No estado do Cear no se emprega nenhum sistema de classificao e

tipificao, e os cortes realizados no atendem nenhum padro pr-determinado que

vise melhorar a apresentao do produto e sua aceitao pelo consumidor.

2.8 Caractersticas da carne e fatores que a influenciam

Conforme BRASIL/MAPA (1997), no art. 14 do RIISPOA, define a carne de consumo como carne de aougue, entendendo-se por massas musculares

maturadas e demais tecidos que as acompanham, incluindo ou no a base ssea

correspondente, procedentes de animais abatidos sob inspeo veterinria. Onde as

vsceras, ou de modo mais amplo, os midos, tm seu emprego condicionado pelas

condies higinico-sanitrias e tecnolgicas. A carne um produto resultante das

transformaes contnuas do tecido muscular, possuindo quantidades variveis de

tecido conjuntivo e adiposo. Entretanto, no vlido o conceito de equivalncia

entre carne e tecido muscular, pois quando ingerimos carne estamos consumindo

quantidades de gordura e tecido conjuntivo, e ambos tm papel fundamental nas

caractersticas sensoriais (ASTIZ, 1992).

Em termos gerais, as carnes podem ser subdivididas em carnes vermelhas e

carnes brancas. Dentre as primeiras, so mais consumidas no pas as de bovinos,

sunos, ovinos e caprinos. O bfalo, dada, sua adaptao regio Norte e por fora

de sua produtividade em outras regies, vem ganhando terreno no consumo. A

carne de eqdeos no se enquadra dentre as habitualmente consumidas entre ns,

ainda que seja, de alguma forma, expressivo o seu abate para efeito de comrcio

internacional. A carne de coelho vai aos poucos se incorporando aos hbitos da

populao. As carnes chamadas brancas so as provenientes das aves

domsticas, com mais freqncia as de galinha e perus. O pescado constitui

tambm discreta fonte de protena animal em nosso meio. A caa, por sua vez,

dispe de menor expresso (PARDI et al., 1993).

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O sabor e o aroma da carne pode ser afetado pela espcie, idade, sexo, raa,

alimentao, manejo, operaes de abate e condies de armazenamento. O sabor

natural e caracterstico da carne de uma determinada espcie se desenvolve quando

o animal atinge sua maturidade, embora possa existir uma variao individual, que

normal, devido ao desenvolvimento fisiolgico. A idade que a maioria dos autores

consideram para o desenvolvimento do sabor caracterstico de doze meses para

ovinos e dezoito para bovinos. A idade tambm influi nas diferenas relativas a

intensidade deste sabor e aroma caracterstico. As diferenas em funo do sexo

aumentam diretamente com a idade. Entre os componentes j identificados como

responsveis pelo sabor e aroma caracterstico (doce-amargo) da carne de ovinos e

caprinos, so citados os cidos graxos com oito a dez tomos de carbono com

ramificaes laterais e o cido hircinico ou 4-metil-octanico (ROA, 1993).

2.9 Qualidade nutritiva da carne

A carne, em sentido amplo, constituiu alimento nobre para o homem, dada a

produo de energia, a funo plstica na formao de novos tecidos orgnicos e a

regulao dos processos fisiolgicos. Sua maior contribuio dieta, deve-se

qualidade de suas protenas, presena de cidos graxos essenciais e de vitaminas

do complexo B e, em menor proporo, ao seu contedo em determinados sais

minerais (PARDI et al., 1993).

Segundo OLIVEIRA (1993), a grande variao existente na composio

qumica da carne atribuda a vrios fatores, tais como o grupo muscular

amostrado, o grau de acabamento da carcaa e o tipo de regime alimentar. Alm

disso, a preparao da amostra deve ser padronizada, principalmente em relao

manipulao na retirada das aponeuroses e gorduras externas, homogeneizao e

triturao para garantir a representatividade da mesma.

2.10 Qualidade da carne

Quando se busca uma carne de qualidade, todos os segmentos da cadeia

produtiva so importantes e o descuido ou o desconhecimento dos fatores que

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influem na qualidade dessa carne podem comprometer todo o sistema. Hoje, com o

aumento da concorrncia dentro e entre pases, no adianta produzir mais a baixos

custos, mas, alm disso, deve-se produzir com qualidade.

A qualidade da carne tambm depende de um conjunto de fatores, seja ante

mortem (espcie, caractersticas genticas, sexo, idade, alimentao, manejo dos

animais, clima, e localizao anatmica do msculo) e/ou post mortem (estgio da

rigidez, propriedades associadas reteno de gua, gordura intramuscular, tecido

conjuntivo, propores dos feixes musculares e os erros analticos) influenciam

diretamente as propriedades fisico-qumicas e de composio centesimal da carne

(BRAGAGNOLO, 1997; MOONEY et al., 1998).

Quando se fala em qualidade de carne, deve-se considerar as caractersticas

visuais, sensoriais e nutricionais. Em outras palavras, o consumidor ao olhar a carne

deve se sentir atrado, mas essa manifestao favorvel deve permanecer quando

de seu consumo, com o atendimento s suas preferncias em termos de paladar. E

se ainda for uma carne com aspectos nutricionais atraentes, como baixos nveis de

colesterol, tanto melhor (RIBEIRO e RIBEIRO, 2003).

Os atributos de qualidade de carne relacionados com a aceitao do

consumidor no momento da aquisio so a cor e a aparncia que, normalmente,

esto associadas ao grau de frescor e idade de abate. Por outro lado, a perda de

peso por cozimento importante, por estar ligada ao rendimento da carne na coco

e a maciez, que junto com as caractersticas de sabor e suculncia, determinam a

aceitao global do corte. Essas caractersticas so dependentes do manejo

zootcnico (idade de abate, raa, sexo) e do manejo de abate, que podem

influenciar as reaes qumicas post mortem. A principal alterao bioqumica da

carne no post mortem o declnio do pH, que pode afetar cor, aparncia,

capacidade de reteno de gua, maciez e suculncia. Alm disso, o pH (24h post

mortem) est relacionado com a vida-de-prateleira da carne (SOUZA et al., 2003b).

Atualmente, a qualidade da carne, em um sentido mais amplo, pode ser

avaliada sob dez caractersticas: composio qumica, estrutura morfolgica,

propriedades fsicas, qualidades bioqumicas, contaminao microbiana,

propriedades sensoriais, valor nutritivo, propriedades tecnolgicas para o

processamento, qualidades higinicas e propriedades culinrias. A obteno

higinica da carne e de produtos derivados de alta qualidade depende

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fundamentalmente do animal a ser abatido, das tcnicas de abate e processamento,

e, do ambiente desde o abate at o produto final (ROA, 1993).

A maior parte da carne ovina ofertada no Brasil proveniente de animais que

tm baixa qualidade de carcaa. Esta qualidade est relacionada,

fundamentalmente, a diversos fatores relativos ao animal, ao meio, nutrio, entre

outros, havendo ainda, fatores relativos carcaa propriamente dita, como

comprimento do corpo, da perna e quantidade de gordura de cobertura, entre outros

(PREZ et al., 1998).

2.11 Carne ovina

A explorao ovina como fonte de alimento vem se intensificando com o

passar do tempo. O que antes se constitua em sistema de sobrevivncia familiar,

agora passa a ser um esquema de produo industrial que tem requerido uma

anlise mais consciente de suas aptides produtivas dentro de um contexto definido

(OSRIO et al., 1996b).

A carne um produto de destaque na alimentao humana. No entanto,

conforme VILA (1995), a produo de carne ovina reduzida quando comparada a

outras espcies, mas com grande potencial, necessitando de um trabalho

consistente, embasado em um programa de produo de carne com objetivos bem

definidos. Esse um campo frtil a ser explorado, contribuindo decisivamente para

solucionar problemas de abastecimento e diversificar a oferta de carnes no mercado.

Segundo BENITEZ (1996), existe um mercado potencial vido para a carne ovina

que, atualmente, no est sendo possvel atender na quantidade e qualidade

necessrias s exigncias. Infelizmente, ainda existe uma disparidade entre a

produo de carne e a demanda.

Dentre as carnes vermelhas, a ovina destaca-se por seu alto valor nutritivo.

Apesar de algumas peas apresentarem alto teor de gordura, a carne ovina no

entrecortada por gordura saturada como a carne bovina. Alm disso, ela macia

devido aos msculos relativamente pouco exercitados dos animais jovens. Assim, a

maior parte da gordura pode ser removida desta carne magra, antes do cozimento.

Uma poro de aproximadamente 85g de carne magra de carneiro assada, contem

cerca de 215cal, 20g de protena e 15g de gordura saturada, incluindo 80mg de

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colesterol. A carne ovina ainda, uma rica fonte de vitaminas do complexo B, ferro,

fsforo, clcio e potssio. Por ser facilmente digervel e raramente associada a

alergias alimentares, essa carne uma boa fonte de protena para pessoas de todas