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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE INSOLVÊNCIA CIVIL GABRIEL JOÃO FERNANDES BECKER ITAJAÍ - SC, novembro de 2010. DECLARAÇÃO “DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”. ITAJAÍ (SC), 16 de novembro de 2010. ___________________________________________ Professor Orientador: MSc Fernanda Sell de Souto Goulart UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE INSOLVÊNCIA CIVIL

GABRIEL JOÃO FERNANDES BECKER

ITAJAÍ - SC, novembro de 2010.

DECLARAÇÃO

“DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA PUBLICA EXAMINADORA”.

ITAJAÍ (SC), 16 de novembro de 2010.

___________________________________________ Professor Orientador: MSc Fernanda Sell de Souto Goulart

UNIVALI – Campus Itajaí-SC

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJURPS CAMPUS ITAJAÍ CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – NPJ SETOR DE MONOGRAFIAS

EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE INSOLVÊNCIA CIVIL

GABRIEL JOÃO FERNANDES BECKER

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc Fernanda Sell de Souto Goulart

ITAJAÍ - SC, novembro de 2010

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AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar eu agradeço ao Deus que me deu forças sem as quais eu poderia estar

seguindo qualquer estrada da vida que me conduzisse a distância do ensino.

A minha esposa amada, que me conhece como eu sou, me aceita e me ajuda a mudar. Eu te amo

Karina e não imagino a minha vida sem você.

A minha orientadora e professora MSc Fernanda Sell de Souto Goulart, que acreditou em minha

capacidade de conduzir esse trabalho, corrigindo os meus erros de percurso, muito obrigado

professora Fernanda.

A minha mãe, que sempre deu o seu sangue para que os seus filhos tivessem um ensino de

qualidade, que comprou todas as brigas para que eu pudesse estar aqui, este é um fruto do seu

trabalho mãe, te amo.

Aos meus sogros e meus pastores, Pastor João Motta e Pastora Mari Neusa, sem o apoio

incondicional de vocês esta faculdade não teria sido realidade, muito obrigado e que Deus

abençoe.

Ao final, aos meus amigos e colegas de faculdade, André Kunz, Lucas Fernandes Martins,

Lucas Soares de Lima e Rafael de Barros Dias, por estarem sempre presentes e me ajudarem

nessa caminhada de conhecimento.

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DEDICATÓRIA

Dedico minha monografia a minha mãe Maria Aparecida Fernandes, por todo o suor derramado

para que eu pudesse estudar nas melhores escolas e concluir o ensino superior. Muito

obrigado por não me deixar desistir. Eu te amo muito.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí , 16 de novembro de 2010

Gabriel João Fernandes Becker Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Gabriel João Fernandes Becker,

sob o título Efeitos Da Sentença Declaratória De Insolvência Civil, foi submetida

em 22 de novembro de 2010 à banca examinadora composta pelos seguintes

professores: Fernanda Sell de Souto Goulart (orientadora e Presidente da Banca)

e Aparecida Correia da Silva (examinadora), e aprovada com a nota [ ].

Itajaí - SC, 22 de novembro de 2010

MSc Fernanda Sell de Souto Goulart Orientador e Presidente da Banca

Antonio José Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que [o] Autor[a] considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Execução

[...] conjunto de medidas com que o Estado invade o patrimônio do obrigado e

dele extrai o bem ou bens necessários à satisfação do direito do credor;

independentemente da vontade daquele ou mesmo contrariamente a ela.1

Execução Coletiva

Trata-se, porém, de um juízo universal, com características peculiares, marcados

pelos pressupostos básicos da situação patrimonial deficitária do devedor e da

disputa geral de todos os credores num só processo.2

Fraude à Execução

[...] é um vício muito mais grave, que não atinge apenas os interesses dos

credores, afetando diretamente a autoridade a autoridade do Estado concretizada

no exercício jurisdicional. Seu reconhecimento depende da existência de uma

ação contemporânea ao ato de diminuição patrimonial.3

Inadimplemento

Este é um conceito absoluto, empregado para designar a ausência de

cumprimento de uma obrigação, acompanhado da definitiva impossibilidade de

cumpri-la ou da inutilidade da prestação.4

Insolvência Civil

[...] insuficiência dos bens expropriáveis no patrimônio excutido para atender os

créditos exigíveis, [...].5

1 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. 4: 2ª. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros Editores Ltda, 2004, p. 49

2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 22. ed. rev. e atual. – São Paulo: Universidade de Direito, 2004, p. 73

3 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3 : Execução / Luiz Guilherme Marioni, Sérgio Cruz Arenhart – São Paulo : Editora Revista

dos Tribunais, 2007, p. 260

4 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil, 2004, p. 169

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Penhora

A penhora é procedimento de segregação dos bens que efetivamente se

sujeitarão à execução, respondendo pela dívida inadimplida.6

Processo

O processo é a relação jurídica trilateral, que envolve como sujeitos o juiz e as

partes. Aquele representa o Estado, no exercício da função jurisdicional, e

estas(as partes), como titulares dos interesses em conflito, ficam submetidas ao

poder judicante do primeiro, para alcançar-se a composição do litígio7.

Responsabilidade Patrimonial

[...] o patrimônio do devedor é a garantia comum de seus credores, presente, com

outras palavras, no art. 591 do Código de Processo Civil.8

Título Executivo:

Título executivo é um ato ou fato jurídico indicado em lei como portador do efeito

de tornar adequada a tutela executiva em relação ao preciso direito de tornar

adequada a tutela executiva em relação ao preciso direito a que se refere.9

5 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 11. ed. rev., atual. e ampl. da 8.ª edição do livro Manual do Processo de Execução - São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2007, p. 761

6 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil. 2007, p. 251

7 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 2004, p. 73

8 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 2004, p. 321

9 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 2004, p. 169

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SUMÁRIO RESUMO ............................................................................................... X

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 11

CAPÍTULO 1 ........................................................................................ 13

DA EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ........................ 13

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................................... 13 1.2.1 PROCESSO DE EXECUÇÃO:.............................................................................. 17 1.2.2 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA: ......................................................................... 19 1.3 REQUISITOS: ................................................................................................. 20 1.3.1 INADIMPLEMENTO DO DEVEDOR ....................................................................... 21 1.3.2 TÍTULO EXECUTIVO: ........................................................................................ 22 1.3.2.1 Títulos Executivos Judiciais:............................................................................ 24 1.3.2.2 Títulos Executivos Extrajudiciais: .................................................................... 25 1.4 DOS PRINCÍPIOS: ......................................................................................... 26 1.4.1 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA: ............................................................................. 27 1.4.2 PRINCÍPIO DA PATRIMONIALIDADE:................................................................... 27 1.4.3 PRINCÍPIO DO EXATO ADIMPLEMENTO: ............................................................. 28 1.4.4 PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE: ...................................................................... 28 1.4.5 PRINCÍPIO DO MENOR SACRIFÍCIO DO EXECUTADO:........................................... 29 1.5 DA LEGITIMIDADE DAS PARTES: ............................................................... 29 1.5.1 LEGITIMIDADE ATIVA:...................................................................................... 30 1.5.2 LEGITIMIDADE PASSIVA: .................................................................................. 32 CAPÍTULO 2 ........................................................................................ 34

INSOLVÊNCIA CIVIL .......................................................................... 34

2.1 INSOLVÊNCIA CIVIL: .................................................................................... 34 2.1.1 INSOLVÊNCIA REAL:........................................................................................ 35 2.1.2 INSOLVÊNCIA PRESUMIDA: .............................................................................. 35 2.2 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL : ....................................................... 36 2.2.1 BENS SUJEITOS À EXECUÇÃO: ........................................................................ 38 2.2.2 BENS NÃO SUJEITOS À EXECUÇÃO: ................................................................. 38 2.2.3 BENS DE TERCEIROS SUJEITOS A PENHORA: .................................................... 40 2.3 FRAUDE CONTRA CREDORES E FRAUDE À EXECUÇÃO: ...................... 41 2.3.1 FRAUDE CONTRA O CREDOR: .......................................................................... 41 2.3.2 FRAUDE À EXECUÇÃO: .................................................................................... 42 2.3.2.1 Fraude do Credor: ............................................................................................. 44 2.4 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE:. 45 2.4.1 LEGITIMIDADE NA INSOLVÊNCIA CIVIL: .............................................................. 47 2.4.1.1 Requerimento de declaração de insolvência formulada pelo devedor ou seu espólio: .......................................................................................................................... 48 2.4.1.2 Requerimento de declaração de insolvência formulado pelo credor: ........... 48

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2.4.2 PAGAMENTO DOS CREDORES: ......................................................................... 50 2.4.3 EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: .......................................................................... 52 2.4.4 SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO CONCURSAL: ......................................................... 53 2.4.5 EXTINÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO COLETIVA:........................................... 54 CAPÍTULO 3 ........................................................................................ 55

EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA CIVIL .................. 55

3.1 DECLARAÇÃO JUDICIAL DE INSOLVÊNCIA: ............................................. 55 3.1.1 VENCIMENTO ANTECIPADO DE TODAS AS DÍVIDAS DO DEVEDOR:......................... 58 3.1.2 PERDA DO DIREITO DE ADMINISTRAR OS BENS E DA CAPACIDADE PROCESSUAL: .. 59 3.1.3 ATRAÇÃO DAS EXECUÇÕES SINGULARES: ......................................................... 60 3.1.4 ARRECADAÇÃO DE TODOS OS BENS DO DEVEDOR: ............................................ 61 3.1.5 VERIFICAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS: ............................................... 62 3.1.5.1 Credores retardatários: ..................................................................................... 64 3.1.6 PENSÃO PARA O INSOLVENTE: ......................................................................... 65 3.1.7 ADMINISTRADOR DA MASSA: ........................................................................... 66 3.2 ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS: ............................................................. 67 3.2.1 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA: ................................................................... 68 3.2.2 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA: ...................................... 69 3.2.3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL: .............................................. 72 3.2.4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ: ................................................................. 74

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 76

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ............................................ 78

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RESUMO

Este trabalho concentrou-se na investigação dos elementos

caracterizadores da Insolvência Civil, referente aos efeitos da Sentença

Declaratória de Insolvência Civil. Isto em face deste instituto visar à satisfação dos

créditos do credor, originados das obrigações do devedor, bem como resguardar

os direitos dos credores no caso de uma possível fraude praticada pelo devedor

insolvente. Graças à imposição estatal, o credor pode ter seu crédito satisfeito

mesmo em caso de fraudes praticada pelo devedor, cujo resultado pode ser a sua

declaração de insolvência. Torna-se extremamente relevante identificar os efeitos

da Sentença Declaratória de Insolvência Civil, bem como os pressupostos para

sua decretação. Nesse contexto, o Estado desempenha um papel fundamental,

qual seja: resguardar os direitos do credor, mediante a imposição de medidas

restritivas de direito ao devedor, que perdurarão até o fim de suas obrigações.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto analisar os efeitos

da sentença declaratória de insolvência civil, mais especificamente os requisitos

para sua decretação e os efeitos sobre a vida civil do devedor.

O seu objetivo é elucidar a possibilidade de sua decretação,

seja pela simples insuficiência de bens do devedor para a satisfação de suas

obrigações, seja pela prática de fraude, mediante a disposição dos bens do

devedor, visando a insatisfação da execução.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando dos

institutos da execução e do cumprimento de sentença, no que tange aos

pressupostos e aos requisitos para sua utilização na busca da tutela jurisdicional

pleiteado pelo credor. Abordou-se ainda os princípios que permeiam os

procedimentos executórios e a legitimidade das partes.

No Capítulo 2, tratando da insolvência civil e da

responsabilidade patrimonial do devedor, objetivando uma melhor

contextualização da pesquisa, abordando a fraude e suas conseqüências. Na

seqüência, analisou-se pormenorizadamente a execução por quantia certo contra

devedor insolvente, suas características e seus requisitos, para ao final estudar a

extinção dos processos executórios e/ou das obrigações do devedor.

No Capítulo 3, tratando de discorrer especificamente acerca

dos efeitos da sentença declaratória de insolvência civil, elucidando os

procedimentos adotados após a sua decretação, as conseqüências ao controle

patrimonial do devedor, bem como aos efeitos das medidas restritivas de direito

aplicadas sobre o devedor. Para tanto, apresenta-se ainda a exposição e análise

de alguns julgados, demonstrando a uniformidade e algumas peculiaridades dos

Tribunais da região sul do país, bem como do Superior Tribunal de Justiça

brasileiro.

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12

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre os efeitos da declaração de insolvência civil.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

O devedor sofre conseqüências pela venda ou alienação de

seus bens a terceiros durante o processo de execução que pode levar o devedor

a insolvência.

O terceiro adquirente responde pela aquisição de bens de

devedor antes ou durante o procedimento executório.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação10 foi utilizado o Método Indutivo11, na Fase de Tratamento de

Dados o Método Cartesiano12, e, o Relatório dos Resultados expresso na

presente Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente13, da Categoria14, do Conceito Operacional15 e da

Pesquisa Bibliográfica16.

10 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da

Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

11 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz.

Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 104.

12 Sobre as quatro regras do Método Cartesiano (evidência, dividir, ordenar e avaliar) veja LEITE, Eduardo de oliveira. A monografia jurídica. 5 ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 22-26.

13 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para a atividade

intelectual, especialmente para uma pesquisa.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 62.

14 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e

Metodologia da pesquisa jurídica. p. 31.

15 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. p. 45.

16 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia

da pesquisa jurídica. p. 239.

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13

CAPÍTULO 1

DA EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO

A evolução dos institutos do Direito Processual Civil teve

como o enfoque principal a garantia da melhor funcionalidade da prestação

jurisdicional, dando maior grau de importância para a instrumentalidade e a

efetividade dos processos.17

No princípio da evolução dos procedimentos executórios,

com origens no Direito Romanista, só era possível chegar à prestação

jurisdicional após a definição do direito do credor por meio de sentença. Somente

esta autorizava a intromissão do credor no patrimônio do devedor, com o efetivo

exercício de uma nova ação, a actio iudicati18, por meio da qual se avançava para

uma nova fase processual, a via executiva. Esse sistema judiciário era dominado

por uma configuração privatística, uma ordem judiciária com cunho privado.19

Com o passar do tempo, já na era cristã, o Império Romano

passou a se afastar da ordem judiciária de cunho privada e, sob a denominação

da extraordinária cognitio20, instituiu uma Justiça Pública, tal como se vê no Poder

Judiciário dos povos civilizados.21

Mesmo assim, a dicotomia actio22 e actio iudicati não

desapareceu, dando origem a remédios processuais que acabavam por permitir

17 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e

Tutela de Urgência. 41.ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 6

18 Actio iudicati significa “ação de coisa julgada”.

19 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 8

20 Extraordinária cognitio significa “processo extraordinário”.

21 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 9

22 Actio significa “ação”.

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14

decisões e providencias executivas aplicáveis de imediato pelo pretor23, com

objetivo de garantir uma maior efetividade na execução do devedor.

Com a queda do Império Romano as práticas judiciárias

passaram a sofrer choques com outras culturas, ao ponto do surgimento da

execução privada, que era realizada pela própria força do credor sobre o

patrimônio do devedor, sem depender do prévio beneplácito judicial. Neste caso,

cabia ao devedor buscar a tutela jurisdicional caso discordasse dos atos

executivos privados, em uma total inversão em face das tradições civilizadas dos

romanos.24

Deste choque cultural surgiu a conciliação entre os dois

métodos, com a abolição da figura da execução privada, ao passo que a

realização do direito do credor somente ocorreria mediante a prévio acerto

judicial, bem como foi eliminada a duplicidade das ações, passando o

cumprimento de sentença não mais sujeitar-se à abertura de um novo juízo.25

Com o final da Idade Média, o incremento de intercâmbio

comercial originou os títulos de crédito, para os quais se exigia uma tutela judicial

mais especifica e prática que o processo comum de cognição, o que possibilitou o

ressurgimento da actio iudicati romana, permitindo uma atividade judicial

puramente executiva. Para tanto, adotou-se um mecanismo que condicionava ao

título de crédito a força de uma sentença, com a criação da executio parata26.

Durante vários séculos existiram duas formas executivas: a

executio per officium iudicis27, para as sentenças condenatórias, e a actio iudicati,

para os títulos de crédito. No caso da execução de um título judicial, não cabia ao

devedor praticamente nenhuma defesa, mediante a indiscutibilidade da res

23 Praetor significa “agente detentor do imperium”.

24 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 9

25 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 10

26 Executio parata significa “execução aparelhada”, pronta para ser operada.

27 Executio per officium iudicis significa “execução por oficio do juiz”.

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iudicata28. Já para o título extrajudicial era necessário garantir uma discussão

mais ampla, visto que não possuía a autoridade de coisa julgada.29

Nos primórdios do Século XIX, com a criação do Código de

Napoleão, foi tomada a iniciativa de unificar a execução, já que o volume de

execuções de títulos de crédito eram muito mais numerosas que as execuções de

sentença, esta unificação se deu pela prevalência do procedimento próprio dos

títulos extrajudiciais.30

Este novo procedimento, que implicava no retorno da falta

de funcionalidade e elevação de custos tanto para as partes como para a

prestação jurisdicional, ocasionou a ampliação das leis processuais, com a

criação de ações executivas lato sensu31, que permitiam num só procedimento

completar-se acertamento do direito controvertido e alcançar o cumprimento

forçado da prestação devida.

Assim como a reação contemporânea contra o sistema de

cumprimento de sentença por meio da actio iudicati, o legislador brasileiro

procedeu profundas reformas em seu Código de Processo Civil, buscando abolir

por completo os vestígios da indesejável dualidade de processos, que culminou

com a abolição da ação autônoma de execução de sentença com a reforma da

execução por quantia certa, constante na Lei nº. 11.232, de 22 de dezembro de

2005.32

A exemplo, com a condenação ao cumprimento de sentença

de obrigação por quantia certa, o juiz assinará na sentença o prazo para que

devedor realize a prestação devida. Ultrapassado este prazo sem o pagamento

voluntário, a relação processual seguira com a expedição de mandado de

penhora e avaliação para preparar a expropriação dos bens necessários à

satisfação do credor, conforme o texto legal do art. 475-J do Código de Processo

Civil - CPC.

28 Res iudicata significa “coisa julgada”.

29 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 10

30 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 10

31 Lato sensu significa “especializante”.

32 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 12

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1.2 CONCEITO DE EXECUÇÃO E CUMPRIMENTO DE SENTENÇA:

O processo executório não se trata de pretensão resistida

entre as partes, uma vez que a afirmação de direito do credor é formalmente

reconhecida em lei, sendo dispensada qualquer indagação a respeito do direito e

da sua relação jurídica com o devedor, cabendo a autoridade jurisdicional apenas

lhe efetivar a execução.33

Conforme ensinou Araken de Assis34 sobre a eficácia da

execução:

A força executiva “retira o valor que esta no patrimônio do demandado ou dos demandados, e põe-no no patrimônio do demandante”. Ela é imediata (eficácia), quando a incursão na esfera jurídica do réu mira valor identificado, que lá se encontra de maneira já reconhecida como ilegítima no pronunciamento judicial, e, portanto dispensa novo processo; e deferida (efeito),quando a penetração executiva atinge a esfera patrimonial e jurídica legitima do executado, o que acarreta a necessidade de controlar de maneira plena a atuação do meio executório.Em outras palavras: na ação que nasce com força executiva(eficácia imediata), o ato de cumprimento recairá sobre bem que integra o patrimônio do vencedor (v.g, na ação de despejo a posse, senão o domínio mesmo, pertence ao locador); na ação que nasce com simples efeito executivo (eficácia mediata ou diferida), ato executivo recairá sobre bem integrante do patrimônio do... vencido.

Com o advento da Lei nº. 11.232, de 22 de dezembro de

2005, que trouxe uma nova regulamentação a execução dos títulos extrajudiciais,

e da Lei nº. 11.382, de 06 de dezembro de 2006, que transformou a execução por

título judicial em simples cumprimento de sentença, alterando alguns artigos do

CPC, estão previstas duas vias de execução forçada singular no moderno

processo civil brasileiro, senão vejamos:

a) o processo de execução dos títulos extrajudiciais

enumerados no art. 585, que se sujeita aos procedimentos do CPC. 33 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil: Execução e Processo Cautelar. 11.ª ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2007,

p. 9

34 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 87

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b) o cumprimento forçado das sentenças condenatórias, e

outras que a lei atribui força igual (arts. 475-I e 475-J do CPC);

Com o advento da Lei 11.232/2005 foi a simplificada fase

inicial do procedimento executivo dos títulos judiciais, com a eliminação da

nomeação de bens a penhora, avaliação feita pelo próprio oficial de justiça,

simplificação na intimação da penhora, entre outros, que abrange não apenas as

execuções em Cumprimento de Sentença, mas ao procedimento executivo dos

demais títulos executivos.

1.2.1 Processo de Execução:

O Processo de Execução esta regulado no Livro II, Do

Processo de Execução, em seus títulos e capítulos, compreendidos entre os art.

566 e 794 do CPC.

Ensina Marcus Vinicius Rios Gonçalves35 acerca do direito

pleiteado pelo credor com o exercício da execução:

Na execução, o autor não busca um provimento jurisdicional que atenda aos seus anseios. Não se pede que o juiz, por meio de sentença, julgue se o pedido do autor é procedente ou improcedente. Não há portanto sentença de mérito, isto é, sentença que julga o pedido.

Seu exercício desenvolve-se por meio de atos consistentes

em medidas coativas aplicadas pelo Estado com objetivo de transformar a

situação de fato existente entre as partes na situação ordenada pelo título

executivo.36

35 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil: Execução e Processo Cautelar. Vol. 3: 3. ed. – São Paulo: Saraiva,

2010, p. 22

36 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processo Civil. Vol. 3: 21. ed. atual.; v. 1: 22. ed. rev. e atual.; v. 2: 20. ed. rev. / por Aracê

Moacyr Amaral Santos. São Paulo: Saraiva 2003, p. 221/222

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Assim, a execução visa satisfazer os direitos representados

por títulos executivos extrajudiciais, com a tomada de providências que

assegurem ao seu direito o requisito de certeza.37

Este procedimento não analisa o mérito da relação entre o

devedor e o credor, mas somente a satisfação da norma jurídica e reconhecida no

título executivo, sem a necessidade de um processo de conhecimento.

Uma vez que o devedor desobedece o preceito normativo e

viola o direito subjetivo do credor surge a obrigação do Estado agir, através dos

órgãos adequados, para restaurar a ordem jurídica violada, por meio da aplicação

de uma sanção no plano patrimonial do devedor.38

Para a satisfação do crédito do credor o Estado se serve de

duas formas de sanção: a coação, por meio de instrumentos intimidativos tais

como multa e prisão; a sub-rogação, pela qual o Estado atua como substituto do

devedor inadimplente para dar satisfação ao credor.

Existem vários tipos de pretensão executória, quais sejam,

as baseadas em títulos, tanto judiciais quanto extrajudiciais.

As execuções são divididas pelo CPC em: a) Execução para

entrega de coisa certa (art. 621) ou incerta (art. 629); b) Execução das obrigações

de fazer (art. 632 a 638) e não fazer (art. 642 e 643); c) Execução por quantia

certa contra devedor solvente ou insolvente (art. 646 e segs.); e) Execução da

Prestação Alimentícia (art. 732 e segs.).

Em qualquer caso, a principal característica do processo de

execução é à efetivação da sanção a que se acha submetido o devedor. Não se

cuida nesse processo esclarecer situação litigiosa, mas apenas realizar a

prestação a que tem direito o credor.

37 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 22

38 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 125

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1.2.2 Cumprimento de Sentença:

As sentenças podem trazer em si toda a eficácia esperada

do provimento jurisprudencial, dispensando atos ulteriores para satisfazer o

juízo.39

Conforme anteriormente exposto, a Lei 11.232/2005 alterou

a sistemática da execução dos títulos judiciais de obrigação de pagamento de

quantias, trazendo a execução de sentença condenatória eficaz dentro do próprio

processo em que foi proferida.40 Já a Lei 11.382/2006 transformou a execução por

título judicial em cumprimento de sentença.41

Desta forma, o cumprimento forçado das sentenças

condenatórias, e outras a que a lei atribui igual força encontram-se devidamente

reguladas no Livro I entre os arts. 461 e 475 do CPC42.

Dentre as sentenças cíveis, encontram-se aquelas que não

se limitam a definir a situação jurídica entre as partes, mas determinam a

prestação a ser cumprida em favo do titular de um direito subjetivo ofendido,

sendo conhecidas como sentenças condenatórias.

Para efeito do cumprimento das sentenças condenatórias,

dispõe o art. 475-I que deverão ser observados os arts. 461 e 461-A, no tocante

às obrigações de fazer e não fazer e obrigações de entrega de coisa certa, todos

do CPC. Já as obrigações por quantia certa se encontram reguladas de acordo

com os termos dos arts. 475-I a 475-J do CPC.

A redação do art. 475-N do CPC alargou a força executiva

das sentenças para além dos tradicionais julgados de condenação, acolhendo

correntes doutrinárias e jurisprudenciais que já reconheciam a possibilidade de

instaurar execução por quantia certa com base em sentenças declaratórias,

39 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 25.

40 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, volume 2: Processo de Execução. 8.ª ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2006, p. 281.

41 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil. 2007, p. VII

42 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 2

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rompendo com a clássica tripartição das sentenças, onde era reconhecida

somente as sentenças condenatórias a eficácia de título executivo. 43

O caráter de ação dado ao cumprimento de sentença, que

se confere a execução, é recusado por uma boa parte da doutrina, conforme

ressaltou Moacyr Amaral dos Santos44, no que concerne à execução baseada em

título executivo judicial, por considerarem uma fase do procedimento instaurado

pela ação condenatória.45

1.3 REQUISITOS:

A busca da satisfação das pretensões de direito material do

credor em face do devedor submetem-se, tanto no processo de execução como

no cumprimento da sentença, a regras sobre pressupostos processuais e

condições da ação.

Humberto Theodoro Júnior46 atribui ao Estado o direito de

praticar a execução forçada:

“O direito de praticar a execução forçada, no entanto, é exclusivo do Estado. Ao credor cabe apenas a faculdade de requerer a atuação estatal, o que se cumpre por via do direito de ação.”

Desta forma a relação processual precisa ser reconhecida

como válida desde o seu estabelecimento até o provimento executivo final, com o

reconhecimento da capacidade das partes; da representação por advogados

(ressalvado o art. 9.º da Lei 9.099/95); da competência do juízo; da regularidade

da petição inicial; do interesse processual e da possibilidade jurídica do pedido47.

Para a execução forçada prevalecem todas as condições

genéricas, mas a aferição delas se torna mais prática porque a lei somente admite

43 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 25.

44 Moacyr Amaral Santos cita os doutrinadores Gabriel de Rezende Filho, Fraga, Costa Carvalho, mencionando a existência de outros.

45 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processo Civil. 2003, p. 219.

46 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 154.

47 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil. 2006, p. 51.

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esse tipo de processo quando o devedor possua título e obrigação nele

documentada já exigível48.

Tratam-se do inadimplemento do devedor (art. 580 a 582),

correspondente a situação de fato e do título executivo (art. 475-N e 585),

resguardado pelo tradicional princípio nulla executio sine titulo.49

Nestes requisitos residem a manifestação in executivis dos

dois elementos indicadores do interesse de agir, uma vez que sem o

inadimplemento do devedor nenhuma tutela jurisdicional teria razão de ser e sem

título executivo a tutela executiva não é adequada.50

1.3.1 Inadimplemento do Devedor

Antes de ser dado inicio ao procedimento executório

necessário se faz a verificar o inadimplemento do devedor. É inadimplente o

devedor que não satisfaz espontaneamente o direito reconhecido por sentença ou

em obrigação a que a lei atribuir à eficácia do título executivo, conforme o art. 580

do CPC:51

A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo.

Sem a presença da figura do inadimplemento do devedor,

não temos configurado o interesse de agir do credor, o que impossibilita o inicio

da execução, conforme asseverou Moacyr Amaral Santos52:

[...], “o credor não poderá iniciar a execução ou nela prosseguir, se o devedor cumprir a obrigação” (Cód. Proc. Civil, art. 581). Se iniciá-la, apesar de cumprida a obrigação, o credor portar-se-á como litigante de má-fé e estará sujeito a responder por perdas e danos (Cód. Proc. Civil, art. 16). [...]

48 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p 154.

49 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 9. ed. rev., atual. e ampl. da 8.ª edição do livro Manual do Processo de Execução - São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2005. 2v, p. 133.

50 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 2004, p. 76.

51 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 16. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 21.

52 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processo Civil. 2003, p. 220.

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Outra característica importante que deve ser observada é

que o inadimplemento do devedor esta associado a exigibilidade da prestação,

uma vez que não existe descumprimento da prestação antes do vencimento do

débito.

Esta regra tem como exceção a figura da execução

provisória, em matéria de sentença, já que só se pode falar em inadimplemento

após o transito em julgado e a liquidação da condenação, nos casos em que for

necessária. No caso de títulos extrajudiciais, não se tratando de obrigação a vista,

o inadimplemento se dá após a ultrapassagem do termo ou a verificação da

condição suspensiva.53

Para o devedor evitar a figura do inadimplemento, deverá

cumprir a prestação exatamente como a define o título executivo, caso o contrario

caberá ao credor recusá-la e dar curso ao processo executivo.

Temos ainda, na definição do artigo 582 do CPC, no caso

em que as partes têm obrigações recíprocas, que o cumprimento de uma delas

não pode ser exigido enquanto não implementada a obrigação da outra.

Este caso possibilita ao executado exonerar-se da

obrigação, depositando em juízo a prestação ou a coisa. Neste caso o juiz

suspendera a execução, não permitindo que o credor receba sem cumprir com

sua contraprestação.54

Já em caso do adimplemento do devedor, sua demonstração

deverá ser feita em embargos ou em impugnação ao cumprimento de sentença, a

serem apreciadas e decididas nos próprios autos.

1.3.2 Título Executivo:

O título executivo consiste no documento que legitima a

execução ao mesmo tempo em que qualifica o credor. Nele está a representação

53 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 122.

54 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil. 2006, p. 71

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de um ato jurídico e sua eficácia de atribuir ao credor o direito de promover a

execução contra o devedor.55

Humberto Theodoro Júnior56 observa em sua obra o grande

número de entendimentos doutrinários do conceito e da natureza do título

executivo:

[...]. Para Liebman, é ele um elemento constitutivo da ação de execução forçada; para zanzuchi é uma condição do exercício da mesma ação; para Carnelutti, é a prova legal do crédito; para Furno e Couture, é o pressuposto da execução forçada; para Rocco é apenas o pressuposto de fato da mesma execução etc.

Em todo caso, é necessário que o título executivo

compreenda o ato, negócio jurídico privilegiado pela força executiva, ou a

obrigação esteja devidamente documentado, com maior ou menor solenidade,

assegurando a certeza da execução.57

Dada a variedade de documentos revestidos da condição de

título executivo, já observou Araken de Assis58 em sua obra a condição

documental típica de credito dos títulos executivos:

Considerando a diversidade de documentos ungidos à condição de título, a origem discrepante e a heterogênea estabilidade de cada um, já se atribui caráter ilusório do título executivo. Porém, não há dúvidas de que constitui a “representação documental típica do crédito”, exigível nessas espécies de ações executivas.

Embora exista uma grande variedade de títulos executivos

reconhecidos pelo sistema jurídico brasileiro, seu caráter estritamente obrigatório

e a necessidade de obedecer aos pressupostos de validade foram ressaltados por

Hernani Fidelis dos Santos59:

A execução não pode ser instaurada sem título, ou com título defeituoso, para que o direito se discuta em grau de embargos,

55 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processo Civil. 2003, p. 225.

56 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p 154.

57 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 23.

58 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2005. 2v, p. 137.

59 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil. 2007, p. 9.

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como se fossem este contestação e a execução processo de conhecimento.

Esta linha doutrinária foi consolidada em nosso CPC, ao

anotar em seu artigo 618, I que é nula toda a execução: ”se o título executivo

extrajudicial não corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (art. 586)”.

Desta forma um título executivo tem de estar revestido de

certeza e liquidez, uma vez que sem o conhecimento da obrigação em todos os

seus elementos constitutivos é impossível escolher a espécie adequada de

execução, bem como direcioná-la ao bem devido, nem dimensionar a contrição

judicial a ser imposta ao patrimônio do obrigado.60

Assim sendo, o título executivo legitima a execução, sendo

suficiente e necessário para a interposição da mesma, uma vez que a lei

reconhece a desnecessidade de questionamento acerca da existência do débito

ou da legitimidade da sanção veiculada ao título.61

1.3.2.1 Títulos Executivos Judiciais:

Os títulos executivos judiciais são provimentos jurisdicionais

que contêm e definem as obrigações do devedor de prestar algo ao credor. O

ordenamento jurídico brasileiro confere a esses provimentos a eficácia de

autorizar a utilização de atos executórios em caso de inadimplemento do

devedor.62

São os provimentos civis(decisão, sentença e acórdão) que,

em principio, executam-se nós próprios autos em que se originaram, dispensando

nova citação, comprometendo o órgão judiciário com a efetivação das suas

própria resoluções.63

Os Títulos Executivos Judiciais estão previstos no artigo

475-N do CPC, abaixo transcrito:

60 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. . 2004, p. 207.

61 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil. 2006, p. 52.

62 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil. 2006, p. 55.

63 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 156

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“São títulos executivos judiciais:

I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia:

II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;

III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo;

IV – a sentença arbitral;

V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;

VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

VII – o formal e a certidão partilha, exclusiva em relação exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.”

Após a fase de conhecimento, dá-se inicio a fase de

cumprimento de sentença, por força do título executivo judicial, que terminará com

a satisfação do crédito do credor ou com a extinção das obrigações do devedor.

1.3.2.2 Títulos Executivos Extrajudiciais:

Os títulos extrajudiciais são aqueles que gozam de um grau

de certeza tal que justifique o risco de promover uma execução sem um prévio, e

muitas vezes longo, processo de conhecimento.64

São Títulos Executivos Extrajudiciais os arrolados no artigo

585 do CPC, a saber:

“I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

64 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 59.

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II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;

III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida;

IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;

V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio;

VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial;

VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;

VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva;”

São ainda Títulos Executivos Extrajudiciais os oriundos de

país estrangeiros, desde que não tenham que depender de homologação do

Supremo Tribunal Federal para serem executados, uma vez que cumpram com os

requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua celebração, e que

indiquem o Brasil como o lugar de cumprimento da obrigação.

1.4 DOS PRINCÍPIOS:

Em conseqüência do caráter jurisdicional da execução, lhe

são aplicados todos os princípios processuais aplicados aos processos cíveis de

maneira geral, encontramos princípios peculiares a execução, que buscam

garantir a efetiva satisfação do crédito.

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1.4.1 Princípio da Autonomia:

Por constituir se um ente à parte das funções de cognição e

cautelar, tendo função própria executiva, se ostenta a autonomia da execução,

compreendida no seu sentido funcional.65

Muito embora este princípio tenha sido aplicado aos

processos de execução durante muitos anos, com o advento da Lei nº. 11.232, de

22 de dezembro de 2005, falamos da independência do processo de execução

apenas quando fundada em título extrajudicial, sentença arbitral, estrangeira ou

penal condenatória.66

Isso porque no caso do Cumprimento de Sentença, a

execução passa a ser considerada e efetivamente apenas uma mera fase do

processo antecedente, agindo como um conjunto unitário, o que descaracteriza a

sua autonomia.

1.4.2 Princípio da Patrimonialidade:

Conforme o que preceitua o artigo 591 do CPC, o devedor

responde, para cumprimento de suas obrigações com todos os seus bens

presente e futuros, salvo restrições estabelecidas por lei.

Araken de Assis67 ressalta em sua obra Manual da

Execução a responsabilidade patrimonial do devedor: “De ordinário, à execução

contemporânea atribui exclusivo caráter real. Visa a execução, segundo muitos,

ao patrimônio do executado.”

Com base neste princípio, a execução contemporânea visa

efetivamente o patrimônio do executado, e não a pessoa do devedor, como forma

de compeli-lo a cumprir as obrigações.68

65 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 98

66 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 11.

67 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 101

68 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 11

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1.4.3 Princípio do Exato Adimplemento:

Conforme reza o art. 612 do CPC, a expropriação, meio

executório, se realiza com único objetivo de satisfazer o credor. Toda execução

deve ser específica, favorecendo a realização do crédito.69

Uma vez que fracassem todas as medidas de coerção para

a execução especifica, fica autorizada a sua conversão em perdas e danos,

conforme os parágrafos 4º e 5º do art. 461 do CPC, a requerimento do credor, ou

quando for impossível a tutela especifica ou equivalente.70

Neste ínterim, o principio do exato adimplemento proíbe que

a execução se estenda além daquilo que seja suficiente para o cumprimento da

obrigação, cabendo a juiz indeferir a ampliação da penhora quando verificar que

os bens constritos são suficientes para a garantia do débito e suspenderá a

arrematação quando verificar que os bens alienados já são suficientes.71

1.4.4 Princípio da Disponibilidade:

Nos processos de execução, ao contrario do processo de

conhecimento, a desistência pode ser feita a qualquer tempo, desde que não

tenho sido embargada. Uma vez que a execução faz-se no interesse do credor,

cabe a ele avaliar se tal interesse persiste ou não.72

O art. 569 do CPC versa sobre os casos de haver embargos

de devedor, caso em que serão extintos embargos que versarem apenas sobre

questões processuais, devendo o credor arcar com as custas e honorários

advocatícios, sendo que nos demais casos a extinção dependerá da concordância

do embargante.

Asseverou Araken de Assis73, se a desistência do credor

ocorrer antes do oferecimento de embargos, o exeqüente responderá pelos

69 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 101

70 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 13

71 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 12

72 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 12

73 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 103

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honorários advocatícios se o executado constituiu advogado para nomear bens a

penhora74 ou oferecer exceção de pré-executividade75

A desistência do credor pode abranger toda a execução ou

apenas algumas medidas executivas, com a penhora sobre determinado bem.

1.4.5 Princípio do Menor Sacrifício do Executado:

Ao lado da preocupação com a efetividade da execução em

prol do credor, deve-se buscar sempre o caminho menos oneroso para o devedor.

Esta norma esta expressa no art. 620 do CPC:

Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor.

O disposto no artigo é um desdobramento do princípio da

proporcionalidade, que permeia todos os ramos direito, no qual sempre que

houver o sacrifício de um direito em prol de outro, esta oneração deve respeitar os

limites do estritamente necessário.76

Uma vez que o objetivo da execução é a satisfação do

credor, havendo vários meios equivalente para alcançá-la, deverá o juiz dar

preferência a que cause menos ônus para o devedor.77

1.5 DA LEGITIMIDADE DAS PARTES:

O estudo da legitimação das partes interessa ao presente

trabalho uma vez que define quem tem a capacidade de conduzir o processo, ou

seja, quem pode ser o verdadeiro titular, ativo ou passivo, do objeto litigioso, e

não quem é o titular.78

74 3.ª T. do STJ, AgResp 460.209-RJ, 07.04.2003, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJU 15.05.2003, p. 227.

75 3.ª T. do STJ, Resp. 493.518-SP, 30.06.2003, Rel. Min. Felix Fisher, DJU 30.06.2003, p. 296

76 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil. 2006, p. 145

77 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 14

78 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 381

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Na relação jurídica processual executiva encontramos a

presença de, ao menos, três sujeitos, que são o Estado-juiz, no exercício da

jurisdição; o exeqüente, em busca da satisfação de seu crédito; o executado, que

suporta os atos constritivos da execução forçada, bem como exerce o seu direito

de defesa.

No trato da legitimidade na execução, a doutrina majoritária

define a legitimidade(ativa ou passiva) originária e derivada(ou superveniente),

ordinária ou extraordinária, porém tais categorias não são exclusivas do processo

de execução nem tampouco da atividade jurisdicional executiva, aplicando-se a

todas as áreas do processo civil.79

Para garantir o objetivo da execução e o princípio do devido

processo legal, a execução necessita ter partes legitimas, tanto no pólo ativo

como no pólo passivo da demanda, cumprindo a condição de legimatio ad

causan.80

São nomenclaturas tradicionalmente utilizadas para

denominar as partes ativas e passivas na execução forçada as de exeqüente e

executado, de modo que essas nomenclaturas também são muito utilizadas na

linguagem doutrinária e forense.81

Em regra, são legitimados para execução aqueles que

figuram no título como credor e devedor, conforme o que se depreende dos arts.

566,I, e 568, I, do CPC.82

1.5.1 Legitimidade Ativa:

A legitimidade ativa das partes da execução esta definida

pelos artigos 566 e 567 do CPC.

No artigo 566 do CPC temos a definição legitimidade ordinária, preceituada pelo seu inciso I, regra geral da legitimidade ativa no

79 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2006, p. 102

80 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro, 2003, p. 15.

81 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 166

82 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 25

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processo executório, cuja condição de credor é determinada pelo título executivo,

ao ponto de deter a legitimidade ativa originária83.

Nesta condição de credor, a legitimação das partes será

extraída do próprio conteúdo do titulo, tanto judicial como extrajudicial, idéia

reforçada por Humberto Theodoro Junior84, em sua obra:

Assim, no título judicial, credor ou exeqüente será o vencedor da causa, como apontado na sentença. E, no título extrajudicial, será a pessoa em favor de quem se contraiu a obrigação.

Já no inciso II do artigo supracitado, encontramos a

legitimidade ativa extraordinária, na pessoa do Ministério Público, muito embora

não conste como credor do título executivo, ele pode propor a execução, por força

de expressa previsão legal.85

A legitimidade ativa nos processos de execução está

subordinada aos princípios gerais que fundamentam o processo de

conhecimento, conforme determinado pelo artigo 598 do CPC, de forma que o

credor, além de ser parte legitima para figurar no processo executório, deverá ser

capaz, bem como outorgar mandado a advogado.86

No artigo 567 do CPC temos a especificação da

legitimidade derivada ou superveniente, correspondente as situações formadas

posteriormente à criação do título, tais como sucessão tanto mortis causa com

inter vivos87.

Essa situação superveniente à criação do título somente

ocorre quando algum acontecimento externo coloca uma pessoa na condição de

parte legítima para figurar no lugar do exeqüente.88

83 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, volume 2, 2006, p. 103

84 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 166

85 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, volume 2, 2006, p. 103

86 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 167

87 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 164

88 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. 2004, p. 71

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Consoante o artigo 567 do CPC, são legitimados

supervenientes para promover a execução ou nela prosseguir:

a) o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor,

sempre que, por morte deste, lhe for transmitido o direito resultante do título

executivo;

b) o cessionário, quando o direito resultante do título

executivo lhe foi transferido por ato entre vivos;

c) o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou

convencional.

Estes substituem o credor em caso de impedimento civil,

dando prosseguimento ao processo de execução, até a satisfação dos créditos ou

extinção das obrigações do devedor.

1.5.2 Legitimidade Passiva:

O primeiro legitimado passivo para a execução é o devedor,

parte contra quem deverá ser proposta a execução, devidamente reconhecido

como tal no título executivo.89

Essa idéia e fortalecida pelo estudo de Moacir Amaral dos

Santos90, em sua obra Primeiras Linhas de Direito Processo Civil:

“Legitimação passiva, na execução, é a qualidade da pessoa contra a qual se pode promover a execução. Assim, consiste o problema em saber quem tem a qualidade para ser executado. Isto é, contra quem se pode promover a execução.”

O rol de legitimados para figurarem como sujeito passivo no

processo de execução, conforme o artigo 568 do CPC é:

a) devedor, reconhecido como tal no título executivo;

89 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil. 2007, p. 64/65

90 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras Linhas de Direito Processo Civil. 2003

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b) o espólio, os herdeiros ou sucessores do devedor;

c) o novo devedor, que assumiu, com o consentimento do

credor, a obrigação resultante do título executivo;

d) o fiador judicial;

e) o responsável tributário, assim defendido na legislação

própria.

Desta forma, a relação processual é totalmente autônoma,

sendo a legitimidade passiva preestabelecida pela lei processual, definida pelo

título executivo, ainda que suscetível de embargos do devedor.91

Terminado a fase de definição da Execução e Cumprimento

de Sentença, abordadas neste 1º Capítulo, passaremos para a análise da

responsabilidade patrimonial do devedor, assunto a ser abordado no 2º Capítulo.

91 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil. 2007, p. 65

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CAPÍTULO 2

INSOLVÊNCIA CIVIL

2.1 INSOLVÊNCIA CIVIL:

A insolvência é compreendida como insuficiência dos bens

expropriáveis no patrimônio excutido para atender os créditos exigíveis, conforme

podemos extrair do art. 748 do CPC: “Dá-se a insolvência toda vez que as dívidas

excederem à importância dos bens do devedor.”

Uma vez configurada, a insolvência acarreta em limitações

recíprocas aos credores do devedor. A satisfação cabal de todos é impossível,

conduzindo a duas características fundamentais do processo executivo, que tem

objetivo de equacioná-lo: a universalização objetiva da penhora, sujeitando todos

os bens do executado; a universalização subjetiva, que se materializa no

chamamento de todos os credores, para o fim de harmonizar seus créditos ao

déficit patrimonial.92

A abrangência total do patrimônio possui exceções em dois

sentidos. Do ponto de vista objetivo, os bens impenhoráveis não podem ser

alcançados pela arrecadação. Do ângulo subjetivo, a Fazenda Pública não

participa de concursos, exceto entre pessoas jurídicas de direito público,

conforme o art. 187 do CNT, de forma que não poderá ser igualada aos demais

credores na fase de verificação e qualificação dos créditos.93

A insolvência civil guarda algumas semelhanças com a

falência. Em ambos os procedimentos abre-se o concurso universal de credores,

que partilharão o produto da liquidação de bens do devedor, respeitada a ordem

de preferência. No entanto, a insolvência só ocorre sobre o devedor civil e a

falência ocorre somente sobre o devedor comerciante. 92 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 807

93 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 807

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Para que seja reconhecida a insolvência do devedor é

necessário que as dívidas ultrapassem a integralidade dos bens dos seus bens,

que o passivo seja menor que o ativo. Esta é mais uma diferença com o processo

de falência, não bastando apenas que o devedor não tenha pagado na data

aprazada, dívida representada por título executivo superior a quarenta salários-

mínimos, ou praticou atos de falência.94

2.1.1 Insolvência Real:

A insolvência real esta prevista no art. 748 do CPC,

dispondo que "Dá-se a insolvência toda vez que as dívidas excederem à

importância dos bens do devedor."

Extrai-se da obra de Ernane Fidélis dos Santos95:

Em princípio, ocorre a insolvência sempre que as dívidas excederem a importância dos bens do devedor(art. 748). Diz-se, neste caso, que a insolvência é real.

Isto se evidencia no balanço do ativo, que compreende

todos os bens arrecadados, e o passivo, composto das dívidas exigíveis. Não

inferem neste caso o simples inadimplemento de obrigação, sendo necessário

demonstrar que o passivo excede o ativo.96

2.1.2 Insolvência Presumida:

O art. 759, I, do CPC, assevera que se presumirá a

insolvência quando “o devedor não possuir outros bens livres e desembaraçados

para nomear à penhora”.

Para tanto, a insolvência será presumida quando o devedor

não possuir bens livres e desembargados, hipótese em que, por exemplo, já

estarão arrestados, penhorados ou gravados com garantia real.97

94 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 210

95 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil. 2007, p. 231

96 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 812

97 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil. 2007, p. 231

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A exigência de que outros bens existam não significa que

este outro bem há de satisfazer o crédito. A instauração da execução coletiva

pressupõe a possibilidade de os credores concorrentes lograrem satisfação

parcial dos seus créditos, uma vez que, inexistindo quaisquer bens será

inexistente, seja coletiva ou singular a execução.98

2.2 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL :

A responsabilidade patrimonial implica na sujeição do

patrimônio de uma determinada pessoa ao cumprimento de uma obrigação. Seu

instituto permite que o Estado, em caso de inadimplemento, possa invadir o

patrimônio do devedor à força, para retirar todos os bens que bastem para a

satisfação do credito do credor.99

Neste ínterim, o legislador ressaltou a responsabilidade do

devedor perante sua obrigação, consubstanciado no art. 591 “O devedor

responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens

presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.”

Trata-se de um caráter pessoal do devedor, inerente a

obrigação assumida, conforme as palavras de Ernani Fidélis dos Santos100: a

obrigação do devedor é pessoal, mas a responsabilidade é sempre patrimonial.

O caráter satisfatório dos bens do devedor foi ressaltado por

Araken de Assis101 em sua obra:

Do ponto de vista da execução, ou os bens representam o objeto final do processo, quando correspondem ao objeto da prestação prevista no título, ou eles constituem seu objeto instrumental, quer dizer, o modo operativo dos meios executórios para atingir aquele bem devido ao credor.

98 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 812

99 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 72

100 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil.2007, p. 68

101 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 202

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Doravante, a responsabilidade patrimonial do devedor é uma

garantia subjetiva do título executivo, conforme ilustrou Luiz Rodrigues

Wambier102:

O título executivo estabelece as três posições subjetivas fundamentais na execução: (I) confere ao órgão judicial função executiva (poder-dever de agredir o patrimônio do devedor para satisfazer o direito do credor); (II) confere ao credor o poder (ação) de exigir a realização de tais medidas constritivas pelo órgão judicial; e (III) em correspondência às duas primeiras posições, submete o devedor à responsabilidade executiva ou patrimonial.

Desta forma é o patrimônio do devedor, ou de alguém que

tenha assumido a responsabilidade por ele que deve ser atingido pela penhora,

nunca o de terceiros estranhos à obrigação ou à responsabilidade.103

O devedor que assume uma obrigação deve adimpli-la da

forma convencionada, de forma a extingui-la. Assim não haverá responsabilidade,

o que implicaria na invasão do patrimônio do devedor, por meio de execução

forçada. Mas caso o devedor não cumpra com sua obrigação, tornando-se

inadimplente, nasce à responsabilidade, cuja garantia é o patrimônio geral do

devedor.104

Desta forma, estão sujeitos à responsabilidade pela dívida,

até o seu limite, todos os bens do devedor existentes no momento da execução

e/ou adquiridos posteriormente, conforme o art. 591 do CPC: “O devedor

responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens

presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei”,105 ressalvados os

bens não sujeitos a penhora(v.g., art. 648, 649 e 650) e os bens de terceiros que

podem estar sujeitos à execução.106

102 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, volume 2: Processo de Execução. 9.ª ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2007, p. 121

103 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 303

104 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 73

105 O art. 391 do CC – 02 reza: “Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor”.

106 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3 : Execução / Luiz Guilherme Marioni, Sérgio Cruz Arenhart – São Paulo : Editora

Revista dos Tribunais, 2007, p. 253

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2.2.1 Bens Sujeitos à Execução:

A responsabilidade prioritária para satisfação do débito é do

devedor, por força do art. 591 do CPC, que sujeita todos os seus bens presentes

e futuros à execução.107

Trata-se do “princípio da realidade da execução”, segundo o

qual destaca que a execução civil recai apenas sobre o patrimônio do executado,

de forma que todos os bens do devedor, e somente eles, respondem por suas

obrigações.108

Os bens futuros, que não existiam ainda no patrimônio do

devedor quando a obrigação foi contraída, também são abrangidos pela

execução.

Não obstante esta regra, a agressão ao patrimônio do

devedor ocorrera até onde seja necessário para a satisfação do direito do credor

e apenas enquanto tal agressão representar alguma utilidade prática par o fim

colimado pela execução forçada.109

2.2.2 Bens Não Sujeitos à Execução:

Por razões de ordem política, social ou humanitária, a lei

exclui da responsabilidade patrimonial do devedor alguns bens específicos,

absolutamente ou relativamente impenhoráveis.110

Conforme nos ensinou Humberto Teodoro Junior111 acerca

dos bens impenhoráveis:

Não obstante a regra de que são penhoráveis os bens alienáveis ou negociáveis do devedor, o certo é que, por razões de outra ordem que não apenas econômica, há, na lei que regula a execução por quantia certa, a enumeração de bens que, mesmo sendo disponíveis por sua natureza, não se consideram,

107 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 74

108 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 122

109 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 314

110 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 122

111 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 2007, p. 303

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entretanto, passíveis de penhora, muito embora, ordinariamente, o devedor tenha o poder de aliená-los livremente e de, por iniciativa própria, convertê-los em numerário, quando bem lhe aprouver.

O Código de Processo Civil enumera os bens impenhoráveis

no art. 649: I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não

sujeitos à execução; II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que

guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que

ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de

vida; III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,

salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários,

remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as

quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do

devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de

profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo; V - os livros, as

máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis

necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; VI - o seguro de vida; VII

- os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem

penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que

trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições

privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; X

- até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em

caderneta de poupança; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos,

nos termos da lei, por partido político.

Com o advento da Lei nº. 8.009/90, que trata do bem de

família, foi ampliado o rol de bens impenhoráveis. Ela tornou impenhorável o

imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, não podendo

responder por qualquer dívida civil, comercial, fiscal, previdenciário e ou de outra

natureza, salvo em hipóteses previstas em lei.112

A Lei nº. 11.382/06 alterou o rol do art. 649, com intuito de

eliminar ou mitigar os abusos e distorções no mecanismo da impenhorabilidade,

112 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 77

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observado na nova redação do inciso II, que excluiu da impenhorabilidade os

bens de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns

correspondentes a um médio padrão de vida do devedor. Esse critério também é

observado no inciso III, que declara a penhorabilidade dos vestuários de elevado

valor.113

2.2.3 Bens de Terceiros Sujeitos a Penhora:

Em casos específicos, a lei processual estende a

responsabilidade patrimonial pelas dívidas do devedor bens de terceiros que

guardam relação com o débito executado, limitados a certos bens, ou atingindo

todo o seu patrimônio.114

Essa constrição estatal só deve prevalecer nos casos em

que os bens o devedor não são suficiente para a satisfação do credor. Nesta

senda, haverá uma dissociação entre debito e responsabilidade, uma vez que os

terceiros não são devedores, mas respondem com seu patrimônio pelo

cumprimento da obrigação.115

Essa categoria esta descrita no art. 592 do CPC que estão

sujeitos a execução os bens: “I - do sucessor a título singular, tratando-se de

execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória; II - do sócio, nos

termos da lei; III - do devedor, quando em poder de terceiros; IV - do cônjuge, nos

casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem

pela dívida; V - alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução”.

Conforme o inciso V do art. 592, o terceiro responde pelos

bens comprovadamente alienados ou gravados em fraude à execução, desde que

o terceiro adquirente tivesse conhecimento da execução ou de demanda capaz de

levar o devedor a insolvência, comprovando a má-fé que vicia o negócio jurídico.

113 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 124

114 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3. 2007, p. 257

115 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 78

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2.3 FRAUDE CONTRA CREDORES E FRAUDE À EXECUÇÃO:

Dado ao fato que a execução pecuniária se faz por meio da

arrecadação de bens, em princípio do patrimônio do devedor, existe um potencial

risco de a execução ser frustrada por atos de alienação ou oneração de bens

pertencentes ao patrimônio do devedor.116

São duas as formas comuns de fraude que o devedor pode

perpetrar para furtar-se ao cumprimento de suas obrigações: a contra o credor e a

execução. A primeira é de direito material, constituindo uma modalidade de

defeito dos negócios jurídicos, tratada a partir do art. 158 do Código Civil - CC. A

segunda é ato atentatório à dignidade pública. Somente nesta é que observamos

uma ofensa ao Poder Judiciário, em face do processo em curso.117

A existência da fraude contra credores e da fraude a

execução deve-se a busca de um equilíbrio entre a proteção aos credores e o

prosseguimento da vida do devedor, obrigando o ordenamento jurídico a fixar

condições de validade e eficácia do negócio jurídico praticado pelo executado e

estabelecer situações em que se presumem prejuízos aos credores com a

conseqüente invalidade ou ineficácia do negócio diante da execução.118

2.3.1 Fraude Contra o Credor:

Haverá fraude contra credores quando houver ato capaz de

diminuir ou onerar o patrimônio do devedor, desfalcando-o ou eliminando a

garantia das dívidas, praticado por devedor insolvente, ou que por ele reduza-se a

insolvência.119

Tais atos são praticados de forma a prejudicar os credores,

conforme ensinou Luiz Rodrigues Wambier120 em sua obra:

116 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3. 2007, p. 259

117 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 82

118 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3. 2007, p. 259

119 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 83

120 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 128

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Fraude contra credores consiste em ato de disposição de bens orientados pela vontade e consciência de prejudicar credores, na medida que provoca a insolvência do disponente, diminuindo o seu patrimônio de forma a impedir a satisfação do crédito (CC/2002, art. 158 a 165).

Já Luiz Guilherme Marinoni121 assevera que:

A fraude contra credores é instituto de direito material, representando defeito jurídico que importa alienação ou oneração patrimonial, praticada por quem esta na condição de insolvência – criada por fato anterior ou pelo próprio negócio jurídico – em prejuízo dos seus credores.

São dois os elementos que caracterizam a fraude contra

credores: um objetivo(eventus dammi), com a existência de dano aos credores e

um subjetivo(consilium fraude), derivado do propósito de fraudar os créditos por

meio de negócios jurídicos com a ciência do terceiro beneficiado.

É ônus do autor da ação pauliana demonstrar a existência

de tais requisitos, não podendo ser presumida a sua existência. O efeito principal

da ação pauliana é de permitir que a execução recaia sobre os bens fraudulentos

alienados, apesar destes se encontrarem no patrimônio do terceiro adquirente.

2.3.2 Fraude à Execução:

A fraude à execução é um vicio mais grave que a fraude ao

credor, uma vez que não atinge apenas os interesses dos credores, mas afeta

diretamente a autoridade do Estado no exercício jurisdicional. Havendo uma ação

judicial em andamento, o interesse na manutenção do patrimônio do executado

não é apenas do credor, mas também da jurisdição, cuja atividade atua sobre

este conjunto de bens.122

A fraude à execução pressupõe e existência de um

processo, conforme podemos extrair do art. 593 do CPC: “Considera-se em

fraude de execução a alienação ou oneração de bens: I - quando sobre eles

121 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3. 2007, p. 259

122 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3. 2007, p. 260

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pender ação fundada em direito real; II - quando, ao tempo da alienação ou

oneração, corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à insolvência; III -

nos demais casos expressos em lei.”

No inciso I do art. 593 a fraude independe da caracterização

do estado de insolvência do devedor, uma vez que a alienação ou oneração diz a

respeito de um bem determinado, sobre o qual já exista ação fundada em direito

real. Neste caso, o devedor vende um bem já oferecido como garantia de direito

real.123

Este não é o caso do inciso II do art. 593, que parte do

pressuposto que o devedor que aliena ou onera seus bens, ciente de demanda

capaz de reduzi-lo a insolvência, age de má-fé, com intuito de fraudar a execução,

sem a necessidade de se comprovar a sua intenção fraudulenta.

Desta forma, o devedor que dilapidar o seu patrimônio,

tendo conhecimento da ação, esta praticando fraude à execução. Cabe ressaltar

que o entendimento jurisprudencial aponta que a fraude só ocorrerá a partir da

citação do executado, salvo se a execução for de título judicial.

No caso da execução de título judicial, não é necessária a

citação do devedor, tratando-se de mais uma fase processual, motivo pelo qual o

devedor não pode alegar desconhecimento da demanda capaz de levá-lo a

insolvência, uma vez que já respondia pelo processo de conhecimento.

O lapso temporal entre a interposição da ação de execução

e a citação do devedor permite a este, tomando conhecimento do processo

anteriormente a sua citação, desfazer-se de seus bens, o que não caracterizaria

fraude à execução, muito embora estivesse revestido de suas características.

Outrossim, embora seja desnecessária a intenção

fraudulenta, há clara orientação na jurisprudencial (especialmente do Superior

Tribunal de Justiça) no sentido de reputar a também imprescindível ciência do

adquirente da demanda fundada em direito real ou capaz de reduzir o devedor à

123 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3. 2007, p. 261

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insolvência. Estabelece-se assim a presunção absoluta da ciência do adquirente,

sendo ônus do credor provar que o adquirente sabia da existência da ação.124

Para sanar esta falha processual, a Lei nº. 11.382/2006

introduziu o art. 615 – A no CPC, permitindo ao exeqüente, no momento da

distribuição da ação, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução,

com identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no

registro de imóveis ou de outros bens sujeitos a penhora ou arresto.125

Desta forma, a alienação ou oneração feita após a

averbação dos bens é automaticamente considerada fraude à execução, ineficaz

perante o credor, trazendo ao contexto da lide executória o terceiro adquirente,

que passa a ter responsabilidade patrimonial pela obrigação do devedor.

Pode ainda ser equiparada aos casos de fraude à execução

a situação de alienação de bem penhorado ou sujeito a outra medida constritiva.

Porém, esta assimilação é indevida, uma vez que alienação de bem penhorado

não se sujeita ao regime da fraude à execução, nem a seus requisitos.126

2.3.2.1 Fraude do Credor:

Uma vez que a certidão do art. 615-A esta vinculada a

execução de título extrajudicial, no ato da distribuição, sendo aplicada por

analogia para outros procedimentos de execução ou processos cujo direito

almejado demanda à penhora, o credor pode gravar bens do devedor em

execução de títulos extrajudiciais prescritos, possibilitando uma nova modalidade

de fraude à execução, praticada pelo exeqüente.

Tal aberração jurídica surge da falta de legislação especifica,

uma vez que o lapso temporal entre a distribuição da ação e o despacho inicial,

no qual o juiz poderia extinguir o processo de oficio pela falta de pressupostos

processuais, permite ao credor, incumbido de má-fé, averbar bens com intuito de

forçar o devedor a cumprir uma obrigação prescrita.

124 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 130

125 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 85

126 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil, Vol. 3. 2007, p. 262

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2.4 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR INSOLVENTE:

O novo Código de Processo Civil instituiu o concurso

universal de credores com feição de verdadeira falência civil, sob o nome de

“execução por quantia certa contra o devedor insolvente”.

Trata-se de execução coletiva, que busca a satisfação de

todos os credores, conforme ensinou Luiz Rodrigues Wambier127 em sua obra:

A execução por quantia certa contra devedor insolvente é o processo executivo destinado a, dentro do possível, satisfazer em igualdade de condições os credores do devedor não empresário(pessoa física ou jurídica) que deixa de ter, em sua esfera de responsabilidade patrimonial, bens suficientes por suas dívidas(art. 748).

A semelhança da execução por quantia certa contra devedor

insolvente com a falência esta caracterizada na execução coletiva e universal.128

Trata-se de um juízo universal, marcado pela situação

patrimonial deficitária do devedor e da disputa geral de todos os credores em um

só processo, destinado a, dentro do possível, satisfazer em igualdade de

condições todos os credores do devedor.129

A execução por quantia certa contra devedor insolvente é

processo autônomo, de caráter principal. Antes do processo executivo

propriamente dito, o juízo analisa a situação do devedor, proferindo sentença

judicial, a qual submeterá o devedor a um novo regime jurídico.130

Este procedimento apresenta as seguintes características

gerais:

I – será excutida a totalidade dos bens integrantes da

responsabilidade patrimonial do devedor, tantos os bens presentes e futuros do

127 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 415

128 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 123.

129 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 478

130 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 347

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patrimônio do devedor, excluídos os absolutamente impenhoráveis e acrescidos

os de terceiros responsáveis;

II – busca-se a expropriação de bens para a satisfação dos

direitos do credores, em igualdade de medidas;

III – quando a declaração de insolvência não é requerida

pelo próprio devedor ou seu espólio, é imprescindível a apresentação de título

executivo judicial ou extra judicial;

IV – o estado econômico da insolvência(art. 748 do CPC) é

indispensável para a declaração judicial autorizadora da execução universal.

As fases procedimentais são as seguintes: 1) fase

postulatória e instrutória até a decretação da insolvência; 2) fase de habilitação e

arrecadação de créditos; 4) fase da liquidação da massa e pagamento dos

credores131

Denota-se que a primeira fase, na qual ficará constatada se

o devedor é insolvente tem caráter cognitivo, conforme ensinou Marcos Vinicius

Rios Gonçalves132:

A primeira fase da execução contra devedor insolvente tem caráter cognitivo, e não executivo. Não são praticados, nesta fase, atos executivos, mas de conhecimento, destinados a comprovar se o devedor está ou não em situação de insolvência, que será presumida, nas hipóteses do art. 750 do CPC.

A execução contra devedor insolvente é um processo

autônomo, de caráter principal. Será precedida de sentença judicial, que

reconhecerá o estado fático de insolvência e submeterá o devedor a novo regime

jurídico, com a declaração judicial de insolvência. Assim, antes do processo

131 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 130

132 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 210

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executivo propriamente dito, ocorre processo de cognição, destinado a verificar a

situação patrimonial do devedor.133

Esta dupla dimensão, objetiva e subjetiva, permite uma

forma peculiar de execução, de caráter coletivo, na qual vigora o pars conditio

creditorum134. Não é feita em beneficio de um credor, mas da universalidade de

credores, abrangendo todo o patrimônio do devedor, que em razão da

insolvência, será destinado ao pagamento dos credores, respeitando as forças e

as preferências de crédito.135

2.4.1 Legitimidade na Insolvência Civil:

São legítimos para requerer a declaração judicial de

insolvência:

I – o devedor ou seu espólio, através do inventariante,

conforme arts. 753, II e III, e 759 do CPC;

II – o credor, munido de titulo executivo judicial ou

extrajudicial, consubstanciado nos arts. 753, I, e 754 do CPC.

Para requerer a insolvência, o credor deve ser quirografário,

ou seja, não ter preferência sobre bens que excluam o crédito de concurso.

Sendo credor privilegiado, ou fará a execução individualmente, ou abrirá mão do

privilégio, instaurando o concurso de credores.136

O juiz não pode decretar de ofício a insolvência, para

instaurar o processo executivo, uma vez que está subordinado ao princípio da

demanda. Desta forma, a insolvência dependerá da iniciativa da parte

legitimada.137

133 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 415

134 Pars Conditio Creditorum expressão em latim que significa “condição igual de credito”.

135 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 209

136 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 127.

137 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 824

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2.4.1.1 Requerimento de declaração de insolvência formulada pelo

devedor ou seu espólio:

Quando a declaração de insolvência é pleiteada pelo próprio

devedor ou seu espólio, há procedimento de jurisdição voluntária, sem a

existência do contraditório. Reconhecendo o juiz a insolvência proferirá sentença

com natureza, recorribilidade e eficácia idênticas às que se teriam se a

declaração fosse requerida pelo credor.138

A vantagem prática do pedido de auto-insolvência é a de se

obstar as execuções individuais que poderiam protelar a liquidação geral do

patrimônio, facilitando-se as providências processuais e respectivos encargos

pela reunião em processo único de todas as execuções. O devedor pode ainda

beneficiar-se da extinção das obrigações.139

O devedor, na petição inicial, conforme estabelecido no art.

760, I a III do CPC, devera apresentar: a relação nominal de todos os credores,

com indicação do domicilio de cada um, bem como a natureza e a importância

dos respectivos créditos; individualização de todos os bens, com estimativa de

valor de cada um; relatório do estado patrimonial, com exposição das causas que

determinam a insolvência.140

Muito embora o pedido de declaração de insolvência é mera

faculdade do devedor, e não dever. Desta forma, mesmo que tenha conhecimento

de sua situação patrimonial negativa, não lhe importará nenhuma sansão abster-

se de requerer a manifestação judicial.

2.4.1.2 Requerimento de declaração de insolvência formulado pelo credor:

O art. 754 do CPC, parte inicial, assevera que “O credor

requererá a declaração de insolvência”. Este dispositivo reforça a idéia de que a

demanda compete à parte legítima, o credor.

138 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 348

139 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 127

140 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 348

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Ocorre que o art. 753, I do CPC, segundo o qual apenas o

credor quirografário possui legitimidade para requerer a insolvência, assistindo ao

credor privilegiado o direito de abdicar da sua preleção e investir-se na condição

de credor quirografário.141

Esta regra não é absoluta, conforme ensinou Marcos

Vinicius Rios Gonçalves142 em sua obra:

Esta declaração de insolvência pode ser requerida pelo credor quirografário, munido de título executivo não adimplido oportunamente, ou pelo próprio devedor ou seu espólio. O preferencial não pode requerer a insolvência, salvo se renunciar o seu privilégio. O credor, munido de título executivo, judicial ou extrajudicial poderá optar por ajuizar execução contra devedor solvente, ainda que esteja caracterizada a situação fática da insolvência.

Ainda, tal regra também não se aplica a Fazenda Pública,

favorecida por privilégio quase absoluto, por ser impedida de renunciar às regalias

do seu crédito.143

O credor instituirá a peça inicial de requerimento da

declaração da insolvência com título executivo líquido, certo e exigível, conforme

preceitua os arts. 754 c/c o art. 586, ambos do CPC. Deverá também narrar os

fatos pelos quais reputa estar caracterizado o estado econômico de insolvência

ou os elementos indiciários que levem a esse resultado.144

Por não ser a insolvência civil incidente da execução

singular, mas processo autônomo e diverso é inadmissível exigir que o credor

primeiro promova a execução singular para comprovar a existência de bens livres

a penhorar e só depois promova a execução coletiva. A falta de bens é presunção

141 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 825

142 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 210

143 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 825

144 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 348

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de insolvência, mas nunca requisito ou pressuposto obrigatório da declaração de

insolvência no regime do CPC.145

Conforme determina o art. 755 do CPC, o devedor será

citado para em 10 dias, opor embargos ao pedido de insolvência, podendo alegar,

entre outras matérias de defesa(art. 756, I), que seu ativo é superior ao

passivo(art. 756, II).

2.4.2 Pagamento dos credores:

Compete ao administrador apurar o ativo da massa,

promovendo a alienação dos bens arrecadados, com prévia anuência do juiz da

causa, conforme o art. 766, IV, do CPC.146

Não há uma oportunidade predeterminada em que o

procedimento da execução coletiva atingirá a fase satisfativa. Esta ocorre após a

aprovação do quadro geral, já constando a porcentagem a favor de cada

credor.147

A arrematação é ato de administração da massa, que não

subordina à resolução das questões jurídicas a serem solucionadas no curso do

processo. Somente a hasta pública dependerá da autorização do juiz.

Todavia, não havendo razões especiais, deve-se aguardar o

julgamento do quadro geral de credores, porque é nessa fase que se enseja a

oportunidade ao devedor de compor com os credores habilitados para negociar

um plano de pagamento, evitando a alienação forçada do patrimônio

arrecadado.148

Caso os bens não estejam alienados judicialmente, sua

hasta ocorrerá após a sentença de verificação e classificação dos créditos,

conforme o art. 773 do CPC. Abatendo-se do montante apuradas as custas

145 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 488

146 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 510

147 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 893

148 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 510

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processuais, remuneração do administrador e demais despesas da massa fazem-

se os pagamentos aos credores, na ordem da preferência legal.149

A realização da hasta pública ocorre em observância aos

arts. 686 a 707 do CPC.

Cumpre ressaltar que a execução coletiva só admite a

transferência forçada como forma de satisfação dos créditos, conforme já ensinou

Humberto Theodoro Junior150 em sua obra:

O fim último da execução concursal é a satisfação, quando possível, dos direitos dos credores. Diferentemente da execução singular, que admite meios indiretos de satisfação(adjudicação de imóveis ou usufruto de empresas), a execução coletiva só conhece a transferência forçada como meio de obter os recursos para ultimar seus objetivos .

Uma vez existindo numerário disponível, o juiz liberará as

importâncias, segundo a ordem de classificação dos créditos. Desta forma,

caberá ao administrador efetuar os pagamentos através de cheques nominais.

Tampouco, se obsta a expedição de deprecado ou de mandado de levantamento,

dirigindo à instituição financeira depositária dos recursos da massa.151

Desta forma é desnecessário aguardar a liquidação de todo

ativo, uma vez que, havendo dinheiro disponível, seja qual for a origem, cumpre

pagar os credores, sempre observada a gradação dos seus créditos.

Não sendo possível o pagamento de todos os credores, o

devedor permanecerá obrigado pelo saldo, pelo qual responderão todos os bens

penhoráveis adquiridos até que lhe seja declarada a extinção das obrigações,

conforme os art. 774 e 775 do CPC. O produto dessa nova alienação será

distribuído, observando-se a ordem legal dos credores.152

149 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 352

150 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 510

151 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 894

152 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 353

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2.4.3 Extinção das obrigações:

A execução por quantia certa contra devedor insolvente é

um caso de autêntica falência civil, culminando com a extinção das obrigações,

ainda que não inteiramente satisfeitas.153

Conforme o art. 777 do CPC, a prescrição, interrompida com

o ajuizamento da ação executória coletiva recomeça com o transito em julgado da

sentença que encerrar o processo de insolvência. Segundo o art. 778, as

obrigações do insolvente se extinguem em cinco anos, contados da data do

encerramento.154

Ademais, esses prazos são variados, dizendo respeito à

natureza do título de cada credor e decorrem de disposição do direito material.155

Por força ainda do art. 778, tal extinção abrange todos os

créditos, inclusive os que poderiam ter participado do concurso, mas nele não

foram incluídos.

Ressaltou os efeitos da prescrição absoluta Vicente Greco

Filho156 em sua obra:

Decorridos cinco anos do transito em julgado da sentença que declarou encerrada a insolvência, consideram-se extintas todas as obrigações anteriores do devedor, ainda que não habilitadas no processo(art. 778).

Este prazo é decadencial, ou seja, fatal, não admitindo nem

suspensão nem interrupção, preterindo qualquer outro prazo mais longo previsto

de maneira específica de crédito de algum concorrente à execução.157

Ultrapassado o prazo de cinco anos, pode o devedor fazer o

requerimento da extinção das obrigações, o juiz mandara publicar edital, com

prazo de trinta dias, conforme o art. 779 do CPC, abrindo oportunidade para 153 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 510

154 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 894

155 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 510

156 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 139

157 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 510

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qualquer credor de opor-se à extinção, alegando que o prazo não se completou

ou que o devedor adquiriu bens que podem ser arrecadados, por força dos arts.

779 e 780 do CPC.158

Ouvindo o devedor no prazo de dez dias, o juiz proferia a

sentença. Se houver a necessidade de provas, o juiz designará audiência de

instrução e julgamento, conforme o art. 781.159

Transitada em julgado a sentença que declara extinta as

obrigações, será publicada por edital, ficando o devedor habilitado a todos os atos

da vida civil, por força do art. 782 do CPC.

2.4.4 Suspensão da execução concursal:

A suspensão da execução concursal ocorrerá em três

oportunidades diferentes, todas caracterizadas pela paralisação momentânea do

processo, com a possibilidade de reinício posterior do respectivo curso.160

A primeira ocorre da convenção entre devedor e credores

para estabelecimento de um plano de pagamento, por força do art. 783 do CPC.

Esta suspensão perdura até o cumprimento do plano de pagamento.

A segunda causa surge após a liquidação da massa, quando

o produto da realização do ativo não é suficiente para solução integral dos

créditos concorrentes, dada a possibilidade de reabertura da execução caso o

devedor venha adquirir novos bens penhoráveis, conforme determina os arts. 775

e 776 do CPC.

No art. 791 do CPC esta prevista a terceira causa da

suspensão, pela não localização de bens penhoráveis, remetendo os autos para o

arquivo, sem que haja extinção da execução coletiva, até que sejam localizados

os bens.161

158 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 353

159 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 139

160 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 511

161 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 213

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Com a remessa dos autos ao arquivo devido a localização

de bens, não ocorre prescrição intercorrente, que pressupõe inércia do credor.

Essa ocorrerá somente no caso do credor não realizar as diligências no sentido

de encontrar bens penhoráveis.162

Determinada a suspensão, não serão praticados quaisquer

atos no processo, a não ser aqueles urgentes, na forma do art. 793 do CPC.

2.4.5 Extinção do processo de execução coletiva:

Haverá autêntica extinção do concurso de credores nas

seguintes hipóteses: a) o devedor cumpriu a recuperação, mediante ao acordo

firmado com os credores por força do art. 783 do CPC; b) nenhum credor se

habilitou na insolvência voluntária; c) o executado logrou amplo sucesso nos

embargos opostos a execução; d) o executado obteve provimento no recurso

interposto contra a decisão declaratória de insolvência; e) liquidado o ativo, se

apurou o pagamento integral dos credores.163

Qualquer que seja a causa do término do processo de

insolvência haverá sempre uma sentença de encerramento, cujo trânsito em

julgado funcionará como marco de reinício do curso das prescrições e como ponto

de partida do prazo de extinção das obrigações do insolvente.164

Existe também a hipótese do credor renunciar ao débito, de

forma que não exista mais nada a executar.165

Finda a analise da responsabilidade patrimonial do devedor,

passaremos agora abordar os efeitos da sentença declaratória de insolvência

civil, objetivo principal desta monografia, que será abordado no 3º Capítulo.

162 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 215

163 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 895

164 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 511

165 GONÇALVES, Marcos Vinicius Rios, Novo Curso de Direito Processual Civil. 2010, p. 215

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CAPÍTULO 3

EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA CIVIL

3.1 DECLARAÇÃO JUDICIAL DE INSOLVÊNCIA:

Passa-se aqui a análise quanto aos efeitos da sentença

declaratória de insolvência civil e de suas conseqüências para o devedor e credor.

Uma vez acolhido os pedidos do credor ou do próprio

devedor ou de seu espólio, o juiz proferirá sentença, encerrando a fase preliminar

ou de cognição do processo de insolvência, dando inicio a execução coletiva.166

Conforme ensinou Vicente Greco Filho167 em sua obra:

A sentença que declara a insolvência é de natureza constitutiva, por que altera relações jurídicas, a situação do de vedor em relação aos seus bens e a situação dos próprios bens.

A eficácia principal do provimento que inaugura a execução

coletiva repousa nos efeitos declaratórios da sentença que declara à insolvência

do devedor. Em plano secundário, porém discernível, as demais forças produzem

efeitos, alguns constitutivos e outros que refogem ao tríplice gabarito

condenatório, declaratório e constitutivo. 168

Sua obrigatoriedade para o inicio do procedimento da

execução coletiva foi ressaltado por Humberto Theodoro Junior169 em sua obra:

Desde que a execução coletiva não pode ser instaurada sem a sentença declaratória da insolvência, exerce ela, além da função de encerrar a fase vestibular do processo, a importantíssima eficácia de produzir a “execução por concurso universal”. Pois é

166 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 500

167 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 127

168 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 847

169 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 500

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com ela que se iniciam os autos executivos propriamente ditos, representados pela apreensão de bens para preparar a transferência forçada e a satisfação dos direitos dos credores.

Por força da sentença de insolvência, o devedor perde a

administração e a disponibilidade dos seus bens, bem como os credores perdem

os privilégios decorrentes de penhoras anteriores e são arrastadas pela força

atrativa do concurso universal.170

Conforme ensinou José Frederico Marques171 em sua obra:

O juiz decide para poder executar, uma vez que o processo de insolvência civil tem por fim fazer o devedor responder, coativamente, com seu patrimônio, por intermédio da execução forçada, para satisfazer a pretensão de seus diversos credores.

Os efeitos da sentença podem ser divididos em efeitos de

direito material e efeitos de direito processual.

São efeitos de direitos materiais:

I – o vencimento antecipado de todas as dívidas do devedor,

conforme art. 751, I, do CPC;

II – provoca a perda do direito de administrar os bens e

deles dispor até a liquidação total da massa, consubstanciado no art. 752 do

CPC;

III – impõe a arrecadação de todos os bens integrantes da

esfera de responsabilidade patrimonial do devedor, presentes e futuros, que

passam a constituir uma universalidade, de nominada a massa do insolvente,

conforme determina o art. 751, II, do CPC;

IV – dá inicio a execução coletiva, determinando a

convocação de todos os credores para que apresentem, no prazo de vinte dias, a

170 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 500

171 MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil, 9. ed. Campinas – SP: Millennium Editora Ltda., 2003, p. 279

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declaração do crédito, acompanhado do respectivo título, conforme art. 751, III, do

CPC;

V – torna ineficazes as penhoras realizadas em execuções

singulares contra o devedor, bem como atrai para o juízo todas estas execuções,

conforme o art. 612, parte inicial e art. 762, § 1º do CPC.

São efeitos de direito processual:

I – a arrecadação de todos os bens do devedor suscetíveis a

penhora, quer atuais, quer adquiridos no percurso do processo e até que sejam

extintas as obrigações;

II – a execução, por concurso universal de credores;

III – a nomeação de administrador, que passa a representar

a massa ativa e passivamente e terá a incumbência de liquidá-la, exercendo suas

atribuições sob a direção e a superintendência do juiz;

Com a decretação da insolvência, não serão suspendidas

nem atraídas ações ordinárias em curso contra o devedor. Se ao final destas

restar produzido título executivo o credor poderá se habilitará posteriormente. Não

se suspendem as ações personalíssimas, que a respeito de sua natureza

executiva, referem-se a bens que estejam excluídos dos concursos, a exemplo da

ação de busca e apreensão decorrente de alienação fiduciária. Essas ações,

desde que de conteúdo patrimonial, terão o prosseguimento com o

administrador.172

Com a declaração de insolvência, o devedor perde a

capacidade e efetuar todos os atos da vida civil, observado no que concerne à

administração de seu patrimônio, que passa a ser de responsabilidade do

administrador.

Esta perda de capacidade limita-se a negócios envolvendo

compra e venda de bens, uma vez que os bens existentes são garantias do juízo,

172 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 127

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bem como os bens que porventura sejam adquiridos futuramente, atraídos pela

universalidade da execução concursal, passam a integrar a massa.

Ademais, o art. 782 do CPC determina que o devedor, após

a extinção de todas as obrigações, voltara a gozar do direito de praticar todos os

atos da vida civil.

3.1.1 Vencimento antecipado de todas as dívidas do Devedor:

Conforme preceitua o art. 751, I, do CPC, a declaração de

insolvência do devedor produz “o vencimento antecipado de todas as suas

dívidas.”.

Esta medida tom por objetivo colocar todos os possíveis

credores concorrentes em pé de igualdade, franqueando-lhes, mesmo àqueles

cujos títulos ainda não venceram, o efetivo ingresso no concurso, assegurando a

cada qual sua cota no patrimônio arrecadável.173

O vencimento antecipado apresenta algumas

particularidades174:

I – Deságio das obrigações vincendas, de forma que a

antecipação do vencimento não compreende os juros correspondentes ao tempo

ainda não decorrido, conforme o art. 1.426 do Código Civil - CC. Isso não abrange

a aplicação dos juros legais a massa patrimonial, uma vez que a partir da

declaração da insolvência, passará a comportar tais valores;

II – Suspensão da fluência dos juros, uma vez que por

analogia do art. 124 da Lei 11.101/2005, contra a massa não correm juros, ainda

que estipulados, se o ativo não bastar para o pagamento do principal.

III – Estabilização do valor das dívidas em moeda

estrangeira, pela qual se convertem os créditos em moeda estrangeira na moeda

nacional pelo câmbio da decisão judicial, por analogia do art. 77 da Lei

11.101/2005; 173 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 857

174 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 857

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IV – Compensação das dívidas do insolvente. O art. 122 da

Lei 11.101/2005 autoriza que as dívidas do devedor, vencidas até o dia da

declaração, sejam compensadas. Feita a compensação, cabe a o credor se

habilitar caso haja algum saldo devedor;

V – Correção monetária dos créditos. Pela Lei 6.899/81,

todos os créditos se reajustam pelos índices oficiais a partir do vencimento,

antecipado ou não.

Finda a arrematação e satisfeito o pagamento dos credores,

extingue-se a execução, bem como as obrigações do devedor, dando fim aos

efeitos da declaração de insolvência civil. Caso o ativo não supere o passivo, será

suspensa a execução coletiva, não correndo juros estipulados contra massa

restante, por analogia do art. 124 da Lei 11.101/2005.

3.1.2 Perda do direito de administrar os bens e da capacidade processual:

Por força da sentença de insolvência, o devedor perde a

administração e disponibilidade dos seus bens, que passam a ser garantia do

credito dos credores até a extinção da execução coletiva.175

Conforme disposto no art. 752 do CPC “declarada a

insolvência, o devedor perde o direito de administrar os seus bens e de dispor

deles, até a liquidação total da massa”.

Com a declaração de insolvência, o devedor passa a ocupar

uma posição singular, na qual se encontra subtraído do direito de administrar os

seus bens. Cria-se, assim, um ente despersonalizado do ponto de vista civil,

representado em juízo pelo administrador.176

Trata-se de uma restrição relativa da capacidade civil do

devedor, mas não se equivale a uma perda completa da capacidade processual,

que dura até a extinção das obrigações, conforme o art. 782 do CPC.

175 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 500

176 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 853

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Todavia, dos atos judiciais da execução concursal, o

devedor participa, como sujeito processual, pelo que pode opinar, requerer ou

oferecer impugnação no tocante aos atos do administrador praticados por meio do

processo. Pode o devedor também reclamar ao juiz, no que tange a atos

extraprocessuais.177

O veto do art. 782 do CPC não pode ser levado ao pé da

letra, uma vez que o devedor poderá exercer profissão, atuar na execução

coletiva, bem como praticar varias atividades e negócios, de natureza econômica

ou não, que se mostram licitas na pendência do processo.178

A extinção das obrigações implica também a reabilitação do

devedor, o qual recupera por esse modo a faculdade de praticar todos os atos da

vida civil, que lhe havia sido retirado pela sentença declaratória de sua

insolvência.179

3.1.3 Atração das execuções singulares:

Por efeito da declaração de insolvência, as ações

executórias singulares pendentes são atraídas a execução coletiva. Excetuam-se

a execução fiscal, por força do art. 29 da Lei nº. 6.830/1980, e as causa aludidas

no art. 76, caput, da Lei nº. 11.101/2005, a exemplo da execução de alimentos.180

Cumpre ressaltar que ocorre a suspensão de todas as

execuções individuais pendentes contra o insolvente, para a convergência de

todos os credores munidos de título executivo ao juízo da insolvência.181

Impõe notar a indiferença dos coobrigados solventes, que

não se envolvem com a execução coletiva, nem sua obrigação se sujeitará à

moeda do concurso. Entre tais coobrigados se situam os fiadores, os avalistas e

177 MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil., 2003, p. 306

178 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 861

179 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. . 2004, p. 813

180 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 854

181 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. . 2004, p. 810

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os devedores solidários, que respondem individualmente com seus próprios bens

as obrigações que lhes importam por conta do devedor principal(insolvente).182

Desta forma, prosseguirão normalmente as execuções

singulares movidas contra os coobrigados, ante o advento da insolvência, de

forma que, existindo litisconsórcio passivo com o insolvente, haverá extinção

apenas quanto a este.

3.1.4 Arrecadação de todos os bens do devedor:

A arrecadação dos bens penhoráveis do devedor, efeito

imediato da sentença declaratória de insolvência, ocorrerá na segunda fase do

processo de insolvência civil, sendo que os bens que vierem depois desse

momento ou aqueles que por algum motivo não haviam sido inicialmente

arrecadados serão suscetíveis de arrecadação a qualquer tempo.183

Essa arrecadação imediata de todos os bens do devedor

esta estabelecida no art. 751, II do CPC.

A arrecadação compartilha a natureza da penhora, sendo

que uma das únicas discrepâncias entre os dois procedimentos reside na

universalidade da arrecadação, que atinge todos os bens penhoráveis presentes

e futuros.184

Com a arrecadação, os bens passam a custodia do

administrador, perdendo o devedor o direito de dispor deles, tal como ocorre na

penhora.185

A captação da totalidade do patrimônio do insolvente, pela

arrecadação total é que dá a essa execução o caráter de universal. Feita

arrecadação forma-se a massa patrimonial a ser expropriada para a satisfação

dos credores.186

182 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 855

183 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. . 2004, p. 810

184 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 852

185 MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil., 2003, p. 304

186 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. . 2004, p. 811

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Devido ao caráter universal da execução, o devedor

responde por fraude em caso de alienação ou oneração de um ou mais de seus

bens, com ou sem penhora anterior ao ajuizamento da execução coletiva, durante

a pendência da fase inicial da execução por quantia certa contra devedor

insolvente.187

3.1.5 Verificação e classificação dos créditos:

A execução coletiva contempla uma fase de verificação dos

créditos, em princípios havidos como concursais, e isto abrange a aferição da

qualidade de sujeito ativo, a existência, a classificação e a gradação das

preferências entre os privilegiados.188

Todos os credores do devedor insolvente devem concorrer

na execução coletiva, declarando os seus créditos e suas preferências no prazo

de vinte dias contados do edital a que se refere o art. 761, II, do CPC.189

Decorrido o prazo de vinte dias, o escrivão colocará as

habilitações em ordem alfabética, autuado-as em separado. Cada uma delas

constituirá incidente em relação à execução universal, conforme o art. 768, caput,

primeira parte, do CPC. Seus autos ficarão em apenso aos autos principais.190

Mister observar que a habilitação deve ocorrer na forma

própria das petições iniciais, sendo indispensável a observância dos requisitos do

art. 282 do CPC.191

Feita autuação das habilitações, o escrivão providenciará a

intimação de todos os credores, para no prazo de vinte dias, que lhes é comum,

alegarem as suas preferências ou apresentarem suas impugnações aos créditos

declarados, que poderão versar sobre nulidade, simulação, fraude ou falsidade de

dívidas e contratos, conforme o art. 768 do CPC.192

187 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 852

188 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 873

189 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 506

190 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 352

191 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 874

192 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 506

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O crédito isento de impugnações e o que se livrou incólume

do controle do juiz se torna indiscutível na própria execução, uma vez operada a

preclusão.193

A classificação dos créditos habilitados far-se-á, finalmente,

segundo os critérios de privilégios previstos no Código Civil, definidos pelos arts.

955 a 965, depois de observado os preconizados pela legislação trabalhista e

tributária.194

Desta forma, a ordem dos créditos no concurso civil é a

seguinte: a) créditos extraconcursais, conforme o art. 84 da Lei 11.101/2005; b)

créditos concursais, segundo o art. 83 da Lei 11.101/2005, ambos aplicados por

analogia.195

São créditos extraconcursais:

I - remunerações devidas ao administrador judicial e seus

auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de

acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da

insolvência;

II - quantias fornecidas à massa pelos credores;

III - despesas com arrecadação, administração, realização

do ativo, bem como custas do processo de execução;

IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que

a massa tenha sido vencida, bem como obrigações resultantes de atos jurídicos

válidos praticados e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a

decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida pelos créditos

concursais;

A ordem dos créditos concursais, segundo os incisos do art.

83 da lei supracitada é o seguinte:

193 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 876

194 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 506

195 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 881

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I – crédito trabalhista, até o limite de cento e cinqüenta

salários mínimos, ressalvada a cessão de terceiros, hipótese em que passa a

quirografário, e crédito decorrente de acidente de trabalho;

II – o titular de crédito com garantia real, até o limite do bem

gravado;

III – as pessoas de direito público titulares de créditos

tributários, na ordem do art. 187, parágrafo único do CTN;

IV – o titular de crédito dotado de privilégio especial;

V – o titular de créditos dotados de privilégio geral;

VI – o titular de créditos quirografários;

VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por

infração das leis penais ou administrativas, inclusive multas tributárias;

VIII – os créditos subordinados.

Organizado o quadro geral de credores, dele se dará vista

em cartório, pelo prazo de dez dias, a todos os interessados, conforme o art. 771

do CPC. A seguir, profere-se a sentença, de cunho declaratório, que encerra a

fase de concurso de credores.196

3.1.5.1 Credores retardatários:

Os credores devem fazer suas habilitações no prazo legal,

com título executivo, sob pena de não ser admitido ao rateio, ainda que gozem de

direito real de preferência ou de algum privilégio especial.197

O credor retardatário poderá acionar a massa antes do

rateio final, visando cobrar aquilo que lhe é devido, conforme lhe assegura o art.

784 do CPC.198

196 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 352

197 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 507

198 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 352

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Para tanto deverá o credor proceder por meio de ação

direta, contra a massa, para obter o reconhecimento do direito de prelação ou de

cota proporcional ao seu crédito. Essa pretensão será pleiteada em processo à

parte, fora da execução, observado o procedimento comum, de maneira a não

suspender nem prejudicar a marcha do concurso.199

Uma vez que perdeu o prazo de habilitação, o credor

retardatário não figura como parte na execução coletiva, disputando em

desvantagem o dividendo. Esta posição o impede de impugnar os créditos

habilitados, pendendo ou não a ação direta.200

Transitada em julgado a sentença de procedência da ação

direta antes do rateio, o retardatário terá assegurada sua pretensão na massa,

inclusive a prelação que lhe conferir a natureza jurídica do seu crédito.201

3.1.6 Pensão para o insolvente:

O devedor que caio em insolvência sem culpa sua pode

requerer ao juiz que se lhe pague, com os recursos da massa, pensão.202

Sobre o pedido do devedor, o juiz ouvirá os credores

concorrentes e proferirá, em seguida, decisão, concedendo ou não a pensão,

conforme o art. 785 do CPC.

Trata-se de regalia semelhante à do art. 38 da antiga Lei

Falimentar, Lei 7.661/1945, cujos pressupostos são:203

I – a ausência de culpa do devedor pela insolvência;

II – a capacidade da massa de comportar o pensionamento;

Sua duração vai até a alienação dos bens arrecadados.204

199 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 507

200 ASSIS, Araken de. Manual da Execução. 2007, p. 886

201 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 507

202 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 353

203 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 515

204 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 2007, p. 515

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3.1.7 Administrador da Massa:

Na sentença de declaração da insolvência, o juiz deve

nomear um administrador, conforme podemos extrair do art. 761, I do CPC, que

deverá ser nomeado entre os maiores credores, mas por se tratar de ato de

administração, poderá ser designado administrador que não seja credor, a

exemplo do que ocorre em processos de falência.205

Conforme ensinou Vicente Greco Filho206, a nomeação do

administrador não fica restrita ao maior credor da execução, senão vejamos:

Na sentença que declarar insolvência o juiz nomeará um administrador da massa dentre os maiores credores(art. 761,I). No caso de insolvência requerida pelo credor, pode o juiz não ter idéia da situação patrimonial geral do devedor, de modo que a nomeação recaia sobre o próprio requerente. A verificação posterior de que não é um dos maiores credores não invalida a nomeação. Se nenhum credor puder aceitar a nomeação, o juiz nomeará pessoa idônea de sua confiança(por analogia ao art. 60, § 2º, da antiga Lei de Falências).

Trata-se de um auxiliar do juízo, que responderá pelos atos

de gestão da massa, sob superintendência e direção do magistrado.

Feita a nomeação na sentença, o escrivão intimará o

administrador para, em 24 horas, assinar o termo de compromisso de

desempenhar adequadamente o cargo, conforme o dispositivo do art. 764 do

CPC. Deverá apresentar nesta ocasião sua declaração de crédito, regra não

absoluta, uma vez que se o administrador for o requerente da execução coletiva,

seu título já instrui o requerimento. Caso não apresente sua declaração na

ocasião da assinatura, deverá fazê-la no prazo concedido aos demais credores,

consubstanciado art. 765 do CPC.207

O administrador tem a incumbência de:

205 SANTOS, Ernane Fídelis dos, Manual de Direito Processual Civil. 2007, p. 237

206 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 133

207 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 351

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I – arrecadar todos os bens do devedor, adotando todas as

medidas judiciais necessárias. Cumpre ao administrador promover a arrecadação

de todos os bens do devedor, onde quer que estejam requerendo para esse fim

todas as medidas judiciais necessárias, conforme o art. 766, I, do CPC. São

arrecadáveis todos os bens penhoráveis;

II – representar a massa em juízo; praticar os atos

necessários à conservação dos direitos e ações do devedor, bem como promover

a cobrança de créditos que este possua; alienar em praça ou leilão, com prévia

autorização do juízo, com base no art. 766, II, do CPC;208

III - promover a cobrança dos créditos do insolvente, com o

que concorrerá para o enriquecimento da massa, consubstanciado no inciso III do

art. 766 do CPC209;

IV – alienar em praça ou leilão dos bens da massa, com

autorização judicial, para conversão dos bens em dinheiro e pagamento dos

credores conforme o art. 766, IV, do CPC210;

Cumpre também ao administrador da massa a escolha do

leiloeiro, conforme observado pelo art. 706 do CPC; a venda em praça será

requerida ao juiz pelo administrador.211

3.2 ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS:

O procedimento de execução por quantia certa contra

devedor insolvente não encontra grandes divergências jurisprudenciais, que se

limita a algumas características peculiares quanto ao estudado tema, motivo pelo

qual se traz à baila entendimentos de diferentes tribunais do País.

208 WAMBIER, Luiz Rodrigues, Curso Avançado de Processo Civil, 2007, p. 351

209 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. . 2004, p. 811

210 GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 2003, p. 135

211 MARQUES, José Frederico. Manual de Direito Processual Civil., 2003, p. 305

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3.2.1 Superior Tribunal de Justiça:

O Superior Tribunal de Justiça mantém a declaração de

insolvência do devedor em casos de constatada fraude à execução, conforme

podemos constatar no acórdão abaixo212:

PROCESSUAL CIVIL. FRAUDE À EXECUÇÃO. REQUISITOS. CITAÇÃO VÁLIDA EM AÇÃO CAUTELAR. INSOLVÊNCIA RECONHECIDA. 1. Para configurar a fraude à execução, é necessário que a alienação do bem tenha se dado após ocorrida citação válida, não importando o tipo de ação proposta - se cautelar, cognitiva ou executória. 2. Hipótese em que a insolvência do devedor já fora reconhecida no bojo do acórdão estadual recorrido, que afirma, textualmente, tratar-se de matéria incontroversa nos autos aquela relativa à inexistência de bens penhoráveis em nome do devedor. 3. Agravo regimental provido para dar provimento ao recurso especial.

Já na questão dos requisitos para a declaração da

insolvência civil, o Superior Tribunal de Justiça tem decidido que é desnecessária

a comprovação da pluralidade de credores, uma vez que a mesma é

conseqüência da execução coletiva, senão vejamos213:

PROCESSO CIVIL. INSOLVÊNCIA CIVIL. PROVA DA PLURALIDADE DE CREDORES. DESNECESSIDADE. RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. DISSÍDIO NÃO COMPROVADO. - Não se exige que o quirografário comprove a existência da pluralidade de credores para que possa vir a juízo requerer a insolvência civil do devedor. O concurso de credores é a conseqüência da insolvência civil, e não sua causa, com bem denota o art. 751, CPC, ao afirmar que “a declaração da insolvência do devedor produz (...) a execução por concurso universal dos seus credores”. - Não se conhece do recurso especial, pela divergência, quando não comprovado o dissídio jurisprudencial nos moldes legal e regimental. Recurso Especial não conhecido.

212 AgRg nos EDcl no REsp 649139/SP, nº. 2004/0041192-0, Rel. João Otávio de Noronha, Quarta Turma, j. 23.02.2010

213 REsp 875982 / RJ, 2006/0137205-5, Rel.: Nancy Andrighi, Terceira Turma, j. 02.12.2008

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Aponta também o Superior Tribunal de Justiça sobre a

possibilidade da declaração de insolvência civil em execução singular suspensa

por falta de bens executáveis, conforme acórdão colecionado214:

PROCESSO CIVIL - DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA - EXECUÇÃO SUSPENSA POR AUSÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS - MESMO TÍTULO - POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO – CPC, Arts. 750 e 753 - É lícita e juridicamente possível, a declaração de insolvência do devedor que não possui bens suscetíveis de penhora. A insolvência pode ser requerida e declarada nos próprios autos da execução suspensa à míngua de bens penhoráveis (CPC, Arts. 750 e 753). - Face à evidente permissão legal do Art. 753 do Código Buzaid, a declaração de insolvência é juridicamente possível mesmo quando fundada em título que embase execução singular suspensa por ausência de bens penhoráveis.

Como podemos observar, as decisões do Superior Tribunal

de Justiça apontam para uma maior instrumentalidade dos processos de

execução, tendência que vem sendo adotada pelos tribunais estaduais,

possibilitando uma maior satisfação do direito do credor, observada a ampla

defesa e o princípio do contraditório.

3.2.2 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA:

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina tem confirmado as

sentenças de 1º grau, declarando a insolvência civil dos devedores que não

conseguem descaracterizar seu déficit patrimonial, conforme o julgado215:

APELAÇÃO CÍVEL. INSOLVÊNCIA CIVIL REQUERIDA POR CREDOR. AÇÃO EXTINTA, NA ORIGEM, SEM A RESOLUÇÃO DO MÉRITO, POR FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE PROVA DA EXISTÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS E DE QUE NÃO HÁ OUTROS CREDORES. IRRELEVÂNCIA. QUESTÕES QUE NÃO SÃO NECESSÁRIAS AO EXAME DO PLEITO DE INSOLVÊNCIA. DISCUSSÃO QUE TERÁ LUGAR EM FASE POSTERIOR. PRETENSÃO DO CREDOR QUE SE JUSTIFICA TAMBÉM PARA EFEITOS DE

214 REsp 616163 / MG, nº. 2003/0219612-0, Rel.: Humberto Gomes de Barros, Terceira Turma, j. 03.04.2010

215 Apelação Cível n. 2004.023925-4, Rel.: Jânio Machado, Câmara Especial Temporária de Direito Civil, j: 30/10/2009

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BENS FUTUROS. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DESTA CASA. CAUSA QUE SE ENCONTRA "MADURA". ARTIGO 758 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. APLICAÇÃO DA REGRA ENCONTRADA NO § 3º DO ARTIGO 515 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CERTIDÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA, NOS AUTOS DA EXECUÇÃO, INFORMANDO QUE NÃO LOCALIZOU OUTROS BENS PENHORÁVEIS EM NOME DO DEVEDOR. PRESUNÇÃO DE INSOLVÊNCIA QUE RECAI EM SEU DESFAVOR. ARTIGO 750, INCISO I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. ÔNUS DE DEMONSTRAR A CONDIÇÃO DE SOLVENTE QUE LHE INCUMBIA, NOS TERMOS DO ARTIGO 756, INCISO II, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PROVA QUE SE FAZ POR MEIO DA EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS OU DO DEPÓSITO DOS VALORES RECLAMADOS NA EXECUÇÃO. ARTIGO 757 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. DEVEDOR QUE NÃO CONSEGUIU DESCONSTITUIR A PRESUNÇÃO LEGAL, O QUE ACARRETA A DECLARAÇÃO DE INSOLVÊNCIA. DETERMINAÇÃO DAS PROVIDÊNCIAS DO ARTIGO 761 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO PROVIDO. 1. O credor não precisa comprovar a existência de bens arrecadáveis em nome do devedor e de outros credores para ter interesse legítimo na declaração de insolvência civil. 2. O tribunal pode, desde logo, julgar a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e o processo estiver em condições de imediato julgamento. 3. Uma vez certificada pelo meirinho, nos autos da ação de execução, a ausência de patrimônio constritável, presume-se a insolvência do devedor (inciso I do artigo 750 do Código de Processo Civil), a quem incumbe o ônus de desconstituí-la. Se não o faz, pela exibição de documentos ou por intermédio do depósito do crédito reclamado na execução (artigo 757 do Código de Processo Civil), a declaração da insolvência civil é a providência que se impõe.

Neste caso específico, mesmo sem a efetiva comprovação

do credor da falta de bens do devedor, no processo em questão o oficial de justiça

certificou a ausência dos mesmos, o que possibilitou ao Tribunal de Justiça de

Santa Catarina julgar o processo pela maturidade da questão, bem como a

ausência de defesa do devedor.

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Entre julgados interessantes extraídos do banco de dados

do Tribunal de Justiça de Santa Catarina está um que julga procedente um pedido

de auto-insolvência, mesmo sem um dos requisitos obrigatórios deste

procedimento, qual seja, a descrição detalhada dos créditos dos credores, senão

vejamos no acórdão abaixo216:

APELAÇÃO CÍVEL - INSOLVÊNCIA CIVIL - EXTINÇÃO DO FEITO SEM EXAME DE MÉRITO - DESCRIÇÃO DOS CRÉDITOS NÃO EFETUADA PELA AUTORA - IRRELEVÂNCIA - IDENTIFICAÇÃO DE NÚMERO CONSIDERÁVEL DE CREDORES - INICIAL RECEBIDA. Não obstante o art. 760 do CPC descreva como item necessário ao ajuizamento do pedido de auto-insolvência a descrição dos credores e seus respectivos créditos, não é caso de indeferimento da inicial a ausência do detalhamento pormenorizado dessas dívidas, notadamente se o devedor trouxe aos autos significativo rol de credores, para dar a dimensão do seu débito. Além disso, conforme preceitua os arts. 761 e 768 do mesmo diploma legal, o reconhecimento da insolvência implicará em expedição de edital e todos os credores, inclusive os não arrolados na peça vestibular, poderão habilitar-se nos créditos da massa.

Conforme podemos observar, o Tribunal de Justiça de Santa

Catarina tem uma posição clara acerca da comprovação da fraude à execução,

que pode levar o devedor ao estado de insolvência civil, conforme podemos

observar neste julgado217:

DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. LOCAÇÃO. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL ANTERIOR À CITAÇÃO. FRAUDE À EXECUÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA. PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL. MÁ-FÉ. AFERIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. EXAME DE MATÉRIA FÁTICA. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO IMPROVIDO. 1. "Não é possível a declaração de fraude à execução sem a existência de demanda anterior com citação válida" (EREsp 259.890/SP, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, Corte Especial, DJ 13/9/04). 2. "A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial" (Súmula 7/STJ). 3. Agravo regimental improvido (AgRg no Ag 1158490/RJ,

216 Apelação Cível n. 2005.020632-2, Rel: Salete Silva Sommariva, Terceira Câmara de Direito Civil , j. 19/03/2008

217 TJSC, AgRg no Ag 1158490/RJ, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Quinta Turma, j. 2.3.2010

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rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima (1128), Quinta Turma, j. 2.3.2010).

De outra turma julgadora se abstrai218:

EXECUÇÃO. FRAUDE RECONHECIDA EM PRIMEIRO GRAU. AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPROVAÇÃO DOCUMENTAL DE QUE A VENDA DO IMÓVEL OCORREU ANTES DA CITAÇÃO NO PROCESSO EXECUTIVO. INTERLOCUTÓRIA REFORMADA. O instrumento particular de compra e venda sem o reconhecimento de firma das assinaturas dos contratantes põe dúvida quanto à data em que realizada a venda do imóvel, porém a informação do vendedor prestada na declaração de imposto de renda do referido exercício dando conta de que a venda foi realizada na data indicada no instrumento, demonstra a realização da venda naquele momento, ainda que a escritura pública de compra e venda e respectivo registro imobiliário tenham sido realizados posteriormente.

3.2.3 Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Diferentemente, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

tem tomado a postura de indeferir uma execução coletiva, em fase inicial, diante

da falta de comprovação do estado de insolvência do devedor, conforme se extrai

do julgado abaixo219:

APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE INSOLVÊNCIA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERESSE PROCESSUAL. PLURALIDADE DE CREDORES. O processo de insolvência abrange duas fases distintas, quais sejam, a de conhecimento e a executiva. Dessa forma, a instituição do concurso de credores ocorrerá após a declaração de insolvência do devedor, que autoriza a execução coletiva. Hipótese dos autos em que o processo encontra-se no estágio pré-concursal, razão pela qual a inexistência de pluralidade de credores não obsta o deferimento do pedido de insolvência ajuizado por um único credor, sendo suficiente, para tanto, que as dividas excedam a importância dos bens, consoante a regra do art. 748 do CPC. JULGAMENTO COM BASE NO ART. 515, § 3º, DO CPC. Hipótese dos autos em que a

218 TJSC, Agravo de Instrumento n. 2009.002864-1, Rel: Des. Jorge Schaefer Martins, Segunda Câmara de Direito Comercial. j. 24.05.2010

219 TJRS, Apelação Cível, nº. 70026750604 , Rel: Tasso Caubi Soares Delabary, Nona Câmara Cível, j. 17.06.2009

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credora se limitou a afirmar que o réu não possui bens suficientes para adimplir o seu débito. Entretanto, nenhum elemento de prova acompanhou a inicial a fim de demonstrar a situação deficitária do devedor. Considerando que não há nenhum elemento evidenciando a situação de insolvabilidade do devedor, impõe a improcedência do pedido de insolvência, cabendo ao credor adotar as medidas de cobranças ou execução à satisfação de seu crédito. DERAM PROVIMENTO AO APELO E, NOS TERMOS DO ART. 515, § 3º, DO CPC, JULGARAM IMPROCEDENTE O PEDIDO. UNÂNIME.

Segundo o presente julgado, o Tribunal de Justiça do Rio

Grande do Sul entende que é dever do credor indicar em sua inicial a insuficiência

dos bens do devedor, bem como o número de credores, ao ponte que, não

cumprida estes pressupostos ocorrerá o indeferimento da inicial.

Já diante de casos de fraude à execução, o Tribunal de

Justiça do Rio Grande do Sul tem reconhecido a insolvência do devedor,

conforme julgado abaixo citado220:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PENHORA. FRAUDE À EXECUÇÃO. ALIENAÇÃO DO BEM APÓS O AJUIZAMENTO DA AÇÃO DE CONHECIMENTO QUE LEVA O DEVEDOR À INSOLVÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 593, INC. II, DO CPC. RECURSO PROVIDO.

Em casos diversos, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do

Sul mantém a mesma linha de entendimento, senão vejamos221:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO não ESPECIFICADO. EMBARGOS DE TERCEIRO. POSSE DO EMBARGANTE DEMONSTRADA. PRESSUPOSTOS DA FRAUDE À EXECUÇÃO NÃO COMPROVADOS. ALIENAÇÃO LEVADA A EFEITO ANTES DA EXECUÇÃO, SOMADO À AUSÊNCIA DE PROVA DE QUE A VENDA TENHA SIDO CAPAZ DE REDUZIR O DEVEDOR À INSOLVÊNCIA. Na esteira da melhor interpretação do art. 593 do Código de Processo Civil, não basta

220 TJRS, Agravo de Instrumento, nº. 70038968616, Rel: Otávio Augusto de Freitas Barcellos, Décima Quinta Câmara Cível, j. 13.10.2010

221 TJRS, Apelação Cível, nº. 70038344461, Rel: Pedro Celso Dal Prá, Décima Oitava Câmara Cível, j. 31.09.2010

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que a alienação feita pelo devedor tenha ocorrido quando já pendente a demanda (fato inocorrente no caso), pois é necessário, também, que ela tenha sido capaz, no momento da celebração do negócio jurídico dito fraudulento, de reduzi-lo à insolvência. Ônus de provar a insolvência do qual o credor não se desincumbiu. RECURSO DESPROVIDO. UNÂNIME.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul reconhece a

extinção das obrigações em uma execução coletiva suspensa por mais de cinco

anos, conforme podemos observar222:

APELAÇÃO CÍVEL. INSOLVÊNCIA CIVIL. INEXISTÊNCIA DE BENS ARRECADÁVEIS. EXECUÇÃO COLETIVA. EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DA INSOLVENTE. ART. 778 DO CPC. Decorrido mais de cinco anos da decisão que encerrou o processo de insolvência, mostra-se acertada a declaração de extinção das obrigações, em virtude de pedido do devedor, nos termos do art. 778 do CPC, nos próprios autos, sem falar em afronta ao art. 463 do CPC. Negaram provimento. Unânime.

3.2.4 Tribunal de Justiça do Paraná:

Conforme amplamente demonstrado neste trabalho, o

Tribunal de Justiça do Paraná tem reconhecido a insolvência do devedor que não

possui bens o suficiente para satisfazer suas dívidas, em conformidade com o

entendimento de outros tribunais, senão vejamos223:

EMBARGOS À EXECUÇÃO. INSOLVÊNCIA. DESNECESSIDADE, PARA A SUA DECLARAÇÃO, DA EXISTÊNCIA DE BENS PENHORÁVEIS NO PRESENTE. HONORÁRIOS DE ADVOGADO. MAJORAÇÃO. PRIMEIRA APELAÇÃO NÃO PROVIDA. SEGUNDA APELAÇÃO PROVIDA EM PARTE.

222 TJRS, Apelação Cível, nº. 70016616427, Rel.: Mario Rocha Lopes Filho, Décima Oitava Câmara Cível, j. 21.03.2007

223 TJPR - 17ª C.Cível - AC 0481394-3 - Ponta Grossa - Rel.: Juiz Subst. 2º G. Albino Jacomel Guerios - Unânime - J. 16.07.2008

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O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná reconhece os

requisitos da fraude à execução, impondo ao devedor os efeitos da insolvência,

conforme podemos observar no julgado abaixo transcrito224:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. FRAUDE A EXECUÇÃO. CARACTERIZADA. VENDA DE BEM IMÓVEL. INSOLVÊNCIA. Para que se caracterize a fraude a execução, necessário que ao tempo da alienação do bem, não restem ao devedor outros bens suficientes para a garantia de seus credores. Agravo de Instrumento provido.

Em casos contrários, não observada a má-fé do negocio

jurídico, incabível a configuração da fraude, conforme podemos observar225:

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. FRAUDE À EXECUÇÃO DECLARADA NOS AUTOS DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. REQUISITOS PARA A CONFIGURAÇÃO DA FRAUDE À EXECUÇÃO. INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR NÃO COMPROVADA PELA EXEQUENTE. ART. 333, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. DISPENSA PELO ADQUIRENTE DAS CERTIDÕES DE FEITOS AJUIZADOS QUE NÃO CONFIGURA MÁ-FÉ. 1. Para se configurar a fraude à execução, indispensável a presença de ação em andamento, insolvência do devedor e registro da penhora ou prova da má-fé do adquirente, provas não produzidas pela Exequente. 2. A dispensa pelo Adquirente das certidões de feitos ajuizados não configura sua má-fé na aquisição do imóvel. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

Desta forma o Superior Tribunal de Justiça cumpre com sua

função de zelar pela uniformidade da interpretação jurisprudencial, não trazendo

nenhum novo entendimento ale daquele já seguido pelos demais tribunais já

apontados.

224 TJPR - 16ª C.Cível - AI 0672448-1 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Des. Paulo Cezar Bellio - Unânime - J. 04.08.2010

225 TJPR - 11ª C.Cível - AC 0684687-9 - Foro Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Vilma Régia Ramos de Rezende - Unânime - J.

22.09.2010

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Trabalho Monográfico teve como escopo

discorrer sobre os efeitos da sentença declaratória de insolvência civil, em

especial, os efeitos sofridos pelo devedor.

O objetivo almejado foi a identificação dos elementos

caracterizadores da Insolvência Civil, bem como a conseqüência sobre o

patrimônio do devedor. Dividiu-se o trabalho, para tanto, em três capítulos.

Desta forma, no primeiro capítulo tratou-se dos

apontamentos referentes a execução e ao cumprimento de sentença, destacando-

se a evolução histórica dos procedimentos executórios. Isto porque a sociedade,

sempre buscou uma melhor funcionalidade da prestação jurisdicional. Foram

abordados também elementos importantíssimos dos procedimentos executórios,

como a definição de títulos executivos judiciais e extrajudiciais, a configuração do

inadimplemento do devedor, os princípios basilares dos processos de execução e

a definição da legitimidade das partes atinentes ao procedimento executório.

No segundo capítulo foram abordadas as características da

insolvência civil. Posto isto, destacou-se responsabilidade patrimonial do devedor,

bem como as suas repercussões no ramo do direito civil e processual civil. Outro

item importante abordado foi da responsabilidade do terceiro adquirente. Tratou-

se, ainda, da execução por quantia certa de devedor insolvente, que institui a

execução coletiva, com a decretação da sentença declaratória de insolvência civil

do devedor. Foram abordados ainda a satisfação dos créditos dos credores, a

extinção dos processos de execução e das obrigações dos devedores.

Finalizou-se o Trabalho com o terceiro capítulo, voltando-se

ao cerne da pesquisa: os efeitos da sentença declaratória de insolvência civil.

Para tanto, identificaram-se as conseqüências da sentença, que só pode ser

decretada com a comprovação de dois requisitos: demonstrar que o patrimônio do

devedor é insuficiente para garantir suas dívidas; apresentar o rol de credores.

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Destes dos requisitos, a demonstração da insuficiência patrimonial do devedor é a

mais importante e totalmente indispensável, segundo o entendimento

jurisprudencial. Foi tratado também dos efeitos de direito material e de direito

processual, das conseqüências diretas sofridas pelo devedor, bem como da

possibilidade do devedor ser sustentado pela massa patrimonial até o fim da

penhora. Ao final, foi feita uma acolhida de julgados dos Tribunais de Justiça do

Paraná, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, do Tribunal de Justiça de

Santa Catarina e ao final do Superior Tribunal de Justiça, pelos quais

constatamos que não existem grandes divergências jurisprudenciais.

As hipóteses levantadas no início deste trabalho

monográfico restaram confirmadas:

O devedor sofre conseqüências pela venda ou alienação de

seus bens a terceiros durante o processo de execução que pode levar o devedor

a insolvência, uma vez que comprovada a fraude à execução poderá o juiz

decretar a insolvência civil do devedor, sendo que a análise da pesquisa limitou-

se a esfera civil e processual civil.

O terceiro adquirente responde pela aquisição de bens de

devedor antes ou durante o procedimento executório somente se for comprovada

a sua má-fé, configurada pelo inequívoco conhecimento do terceiro da demanda

capaz de levar o devedor a insolvência.

Muito embora o tema abordado não se apresente polêmico,

o instituto da insolvência civil é de grande relevância no meio jurídico, configurada

pelas limitações impostas ao devedor, bem como pela arrecadação dos bens

penhoráveis sob a administração de um administrador judicial, e a conseqüente

extinção das obrigações de todas as partes envolvidas, satisfeitos os créditos ou

extinta as obrigações.

Outro detalhe é que a decretação de insolvência civil não é

um procedimento muito habitual no sistema judiciário brasileiro, muito embora

existam muitas pessoas com dívidas maiores que seu patrimônio, provenientes de

inúmeros credores, que facilmente resultaria em uma execução coletiva.

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