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1 ELEMENTOS DE FILOSOFIA MORAL James Rachels TRADUÇÃOF. J. AZEVEDO GONÇALVES REVISÃO CIENTÍFICA: DESIDÉRIO MURCHO SOCIEDADE PORTUGUESA DE FILOSOFIA Editora Gradiva 1.ª Edição: Janeiro de 2004 Depósito legal n.° 203 318/2003

Elementos de filosofia moral

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Page 1: Elementos de filosofia moral

1

ELEMENTOS DE FILOSOFIA MORAL

James Rachels

TRADUÇÃOF. J. AZEVEDO GONÇALVES

REVISÃO CIENTÍFICA: DESIDÉRIO MURCHO

SOCIEDADE PORTUGUESA DE FILOSOFIA

Editora Gradiva

1.ª Edição: Janeiro de 2004 Depósito legal n.° 203 318/2003

Page 2: Elementos de filosofia moral

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Título original inglês:

The Elements of Moral Philosophy(c) The McGraw-Hill Companies, Inc., 2003

Edição portuguesa: (c) Gradiva - Publicações,L.íta,2004

Todos os direitos reservadosTradução: F. J. Azevedo Gonçalves

Revisão científica: Desidério Murcho

Revisão do texto: Soares dos Reis

Capa: pintura: Omnia Vanitas, William Dyce (1806-1864)

Design gráfico: Armando Lopes

Fotocomposição: GradivaImpressão e acabamento: Tipografia Guerra/Viseu

Reservados os direitos para a língua portuguesa por: Gradiva - Publicações, Lda

Rua Almeida e Sousa, 21, r/c, esq. -1399-041 Lisboa

Telefs. 21 397 40 67/8 - 21 39713 57 - 21 395 34 70Fax 21 395 34 71

- Email: [email protected]:

http://www.gradiva.pt

Page 3: Elementos de filosofia moral

3

Colecção coordenada por DESIDÉRIO MURCHO E GUILHERME VALENTE

Com o apoio científico do CENTRO PARA o ENSINO DA FILOSOFIA

(Sociedade Portuguesa de Filosofia)

Gradiva

Editor: Guilherme Valente

Page 4: Elementos de filosofia moral

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Indice

Prefácio 9

Sobre a quarta edição (americana) 11

1. O que é a moralidade? 12

1.1 O problema da definição 12

1.2 Primeiro exemplo: a bebé Teresa 12

1.3 Segundo exemplo: Jodie e Mary 16

1.4 Terceiro exemplo: Tracy Latimer 23

1.5 Razão e imparcialidade 27

1.6 A concepção mínima de moralidade 31

2. O desafio do relativismo cultural 33

2.1 Culturas diferentes têm códigos morais diferentes 33

2.2 Relativismo cultural 35

2.3 O argumento das diferenças culturais 37

2.4 As consequências de levar a sério o relativismo cultural 40

2.5 Por que razão há menos diferenças do que parece 45

2.7 A avaliação de práticas culturais indesejáveis 47

2.8 O que se pode aprender com o relativismo cultural 51

3. O subjectivismo em ética 55

3.1 A ideia de base do subjectivismo ético 55

3.2 A evolução da teoria 57

Page 5: Elementos de filosofia moral

5

3.3 A primeira fase: o subjectivismo simples 58

3.4 A segunda fase: emotivismo 61

3.5 Existirão factos morais? 65

3.6 Haverá provas em ética? 68

3.7 A questão da homossexualidade 71

4. Dependerá a moralidade da religião? 77

4.1 A suposta ligação entre moralidade e religião 77

4.2 A teoria dos mandamentos divinos 80

4.3 A teoria da lei natural 84

4.4 Religião e questões morais particulares 90

5. Egoísmo psicológico 97

5.1 Será o altruísmo possível? 97

5.2 A estratégia de reinterpretação de motivos 99

5.3 Dois argumentos a favor do egoísmo psicológico 103

5.4 Esclarecer algumas confusões 107

5.5 O erro mais grave do egoísmo psicológico 110

6. Egoísmo ético 115

6.1 Teremos o dever de ajudar pessoas que morrem à fome? 115

6.2 Três argumentos a favor do egoísmo ético 119

6.3 Três argumentos contra o egoísmo ético 127

7- A abordagem utilitarista 135

Page 6: Elementos de filosofia moral

6

7.1 A revolução na ética 135

7.2 Primeiro exemplo: eutanásia 139

7.3 Segundo exemplo: os animais não-humanos 143

8- O debate sobre o utilitarismo 151

8.1 A versão clássica da teoria 151

8.2 Será a felicidade a única coisa que importa? 153

8.3 As consequências são a única coisa que importa? 155

8.4 Deveremos ter toda a gente igualmente em conta? 160

8.5 A defesa do utilitarismo 162

9. Haverá regras morais absolutas? 171

9.1 Harry Truman e Elizabeth Anscombe 171

9.2 O imperativo categórico 175

9.3 Regras absolutas e o dever de não mentir 178

9.4 Conflitos entre regras 182

9.5 Outro olhar sobre a ideia fundamental de Kant 184

10. Kant e o respeito pelas pessoas 189

10.1 A ideia de dignidade humana 189

10.2 Retribuição e utilidade na teoria da punição 193

10.3 O retributivismo de Kant 196

11. A ideia de contrato social 203

11.1 O argumento de Hobbes 203

Page 7: Elementos de filosofia moral

7

11.2 O dilema do prisioneiro 209

11.3 Algumas vantagens da teoria contratualista da moral 214

11.4 O problema da desobediência civil 218

11.5 Dificuldades da teoria 222

12. O feminismo e a ética dos afectos 227

12.1 Pensam os homens e mulheres de maneira diferente sobre a ética? 227

12.2 Implicações para o juízo moral 237

12.3 Implicações para a teoria ética 242

13. A ética das virtudes 245

13.1 A ética das virtudes e a ética da acção correcta 245

13.2 As virtudes 248

13.3 Algumas vantagens da ética das virtudes 261

13.4 O problema da incompletude 263

14. Como seria uma teoria moral satisfatória? 269

14.1 Moralidade sem húbris 269

14.2 Tratar as pessoas como merecem e outros motivos 273

14.3 Utilitarismo de estratégias múltiplas 277

14.4 A comunidade moral 281

14.5 Justiça e equidade 283

14.6 Conclusão 285

Sugestões de leitura 287

Page 8: Elementos de filosofia moral

8

Notas sobre fontes 299

Indice analítico 307

Page 9: Elementos de filosofia moral

9

Prefácio

Sócrates, um dos primeiros e melhores filósofos morais, afirmou que a ética trata de

"umassunto de grande importância: saber como devemos viver". Este livro é uma

introdução àfilosofia moral, concebida neste sentido lato.O tema é, naturalmente,

demasiado vasto para ser abrangido num pequeno livro, peloquetem de haver uma

maneira de decidir o que incluir e o que deixar de fora. Fui guiado peloseguinte

pensamento: Imagine-se alguém que nada sabe a respeito do tema, mas desejaperder

uma modesta porção de tempo a aprender. Quais são as primeiras coisas, e as

maisimportantes, que essa pessoa precisa de aprender? Este livro é a minha resposta a

essa pergunta. Não tento abranger todos os temas desta área; nem mesmo tento dizer

tudoquanto poderia ser dito sobre os temas tratados. Tento, isso sim, discutir as ideias

maisimportantes que um principiante deve enfrentar.Os capítulos foram escritos de

modo a poderem ser lidos independentemente uns dos outros- são, com efeito, ensaios

díspares sobre tópicos diferentes. Assim, alguém interessado no egoísmo ético pode ir

directamente ao sexto capítulo e encontrar aí uma introduçãoindependente a essa

teoria. Quando lidos em sequência, no entanto, os capítulos contam uma história mais

ou menos contínua. O primeiro capítulo apresenta uma"concepção mínima" do que é a

moral; os capítulos do meio abrangem as mais importantesteorias gerais da ética (com

algumas digressões, quando adequadas); e o capítulo final apresenta a minha própria

perspectiva sobre como seria uma teoria moral satisfatória.O objectivo do livro não é

oferecer um relato arrumado e unificado da "verdade" sobre ostemas em discussão.

Isso seria uma forma pobre de apresentar o tema. A filosofia não é como a física. Na

física há um vasto corpo de verdade estabelecida, que nenhum físicocompetente

disputaria e que os principiantes têm de aprender pacientemente a dominar.

(Osprofessores de Física raramente pedem aos alunos para tomarem decisões quanto

Page 10: Elementos de filosofia moral

10

às leisdatermodinâmica.) Há, é claro, desacordos entre os físicos e controvérsias por

resolver, mas estas decorrem geralmente sobre o pano de fundo de um acordo

substancial. Na filosofia,pelo contrário, tudo é controverso - ou quase tudo. Filósofos

"competentes" discordamaté mesmo sobre questões fundamentais. Uma boa

introdução não tenta ocultar esse factoalgo embaraçoso.Encontra-se aqui, portanto,

uma panorâmica de ideias, teorias e argumentos opostos. Asminhas próprias

perspectivas influenciam inevitavelmente a apresentação. Não tenteiesconder o facto

de achar algumas das ideais apresentadas mais apelativas que outras, e é óbvio que

um filósofo com uma avaliação diferente poderia apresentar ideias diferentes deoutra

forma. Mas tentei apresentar as teorias opostas de forma justa, e quando apoiei

ourejeitei uma delas tentei dar alguma razão para a aceitar ou rejeitar. A filosofia,

como aprópria moralidade, é primeiro que tudo um exercício de racionalidade - as

ideias quedevem prevalecer são as que tiverem as melhores razões do seu lado. Se

este livro for bemsucedido, o leitor ou leitora aprenderá o suficiente para poder

começar a avaliar, por si, paraque lado pende a balança da razão.

Page 11: Elementos de filosofia moral

11

Sobre a quarta edição (americana)

Os leitores familiarizados com a edição anterior deste livro podem querer saber o que

foialterado. Não há capítulos novos, mas há algumas secções novas; e todos os

capítulos foramcorrigidos de uma maneira ou outra, pela remoção de coisas menos

felizes e pela adição declarificações. Alguns dos exemplos perderam actualidade, pelo

que foram actualizadosousubstituídos. No capítulo l, há nova informação sobre o caso

Tracy Latimer; há também umasecção nova sobre o caso recente das gémeas

siamesas. Em vários outros capítulosacrescentei material ilustrativo. Acrescentei

material novo ao capítulo sobre regras moraisabsolutas. No capítulo 14, há uma secção

nova que desenvolve de forma mais completa"como seria uma teoria moral

satisfatória".Howard Pospesel fez muitas sugestões que me ajudaram imenso; é um

prazer agradecer-lhe.Um muito obrigado também para Monica Eckman da MacGraw-

Hill, uma redactora admirável.

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Capítulo 1

O que é a moralidade?

Não estamos a discutir um tema sem importância, mas sim como devemos viver.

SÓCRATES, A República, de Platão (ca. 390 a. C.)

1.1 O problema da definição

A filosofia moral é a tentativa de ganhar uma compreensão sistemática da natureza

damoralidade e do que esta requer de nós - ou, nas palavras de Sócrates, de "como

devemosviver", e porquê. Seria útil se pudéssemos começar com uma definição simples

eincontroversa de moralidade, mas isso é impossível. Há muitas teorias rivais, cada

umaexpondo uma concepção diferente do que significa viver moralmente, e qualquer

definiçãoque vá além da formulação simples de Sócrates é susceptível de ofender uma

ou outradessas teorias.Isto deve colocar-nos de sobreaviso, mas não temos de ficar

paralisados. Neste capítulo voudescrever a "concepção mínima" de moralidade.

Como o nome sugere, a concepção mínimaé um núcleo que qualquer teoria

moral deveria aceitar, pelo menos como ponto de partida. Vamos começar por

examinar algumas controvérsias morais recentes, todas relacionadas com

crianças deficientes. Ascaracterísticas da concepção mínima emergirão da nossa

consideração destes exemplos.

1.2 Primeiro exemplo: a bebé Teresa

Theresa Ann Campo Pearson, conhecida publicamente como "Bebé Teresa", é uma

criançacom anencefalia nascida na Florida em 1992. A anencefalia é uma das mais

gravesdeformidades congénitas. Os bebés anencefálicos são por vezes referidos como

"bebés semcérebro", e isto dá basicamente ideia do problema, mas não é uma imagem

inteiramentecorrecta. Partes importantes do encéfalo - cérebro e cerebelo - estão em

falta, bem comoo topo do crânio. Estes bebés têm, no entanto, o tronco cerebral e por

isso as funções autónomas como a respiração e os batimentos cardíacos são possíveis.

Nos EUA, a maiorparte dos casos de anencefalia são detectados durante a gravidez e

abortados. Dos não abortados, metade nascem mortos. Cerca de trezentos em cada

ano nascem vivos e em geralmorrem em poucos dias.A história da bebé Teresa nada

teria de notável não fosse o pedido invulgar feito pelos seuspais. Sabendo que a bebé

não poderia viver por muito tempo e, mesmo que pudessesobreviver, nunca iria ter

Page 13: Elementos de filosofia moral

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uma vida consciente, os pais da bebé Teresa ofereceramos seusórgãos para

transplante. Pensaram que os seus rins, fígado, coração, pulmões e olhosdeveriam ir

para crianças que pudessem beneficiar deles. Os médicos acharam uma boaideia. Pelo

menos duas mil crianças em cada ano necessitam de transplantes e nuncaháórgãos

disponíveis suficientes. Mas os órgãos não foram retirados, porque na Florida a leinão

permite a remoção de órgãos até o dador estar morto. Quando nove dias depois, a

bebé Teresa morreu, era demasiado tarde para as outras crianças- osórgãos não

podiam ser transplantados por se terem deteriorado excessivamente.

As histórias dos jornais sobre a bebé Teresa suscitaram uma onda de debates

públicos.Teriasido correcto remover os órgãos da criança, causando-lhe dessa forma

morte imediata, para ajudar outras crianças? Vários eticistas profissionais - pessoas

empregadas poruniversidades, hospitais, e escolas de direito, cujo trabalho consiste em

pensarnestas coisas- foram solicitados pela imprensa para comentar o tema.

Surpreendentemente, poucosconcordaram com os pais e os médicos. Apelaram, ao

invés, para princípios filosóficosconsagrados para se oporem à remoção dos órgãos.

"Parece simplesmente demasiadohorrível usar pessoas como meio para os objectivos

de outras pessoas", afirmou um desses peritos.

Outro explicou: "É imoral matar para salvar. É imoral matar a pessoa A para salvar a

pessoa B.

" Um terceiro acrescentou: "O que os pais estão realmente a pedir é: matem este bebé

moribundo para que os seus órgãos possam ser usados por outra pessoa. Bom, isso

éde facto uma proposta horrenda."Era realmente horrendo? As opiniões dividiram-se.

Os eticistas pensavam que sim, enquantoos pais da bebé e os médicos pensavam que

não. Mas não estamos apenas interessados noque as pessoas pensam. Queremos

conhecer a verdade da questão. Teriam os pais razãoounão, de facto, ao oferecerem os

órgãos da bebé para transplante? Se queremos descobrir a verdade temos de

perguntar que razões, ou argumentos, podem ser concedidos a cadaumadas partes. O

que poderá dizer-se para justificar o pedido dos pais ou para justificar a ideiade que o

pedido estava errado? O argumento do benefício. A sugestão dos pais baseava-se na

ideia de que, uma vez queTeresa ia morrer em breve, os seus órgãos de nada lhe

serviam. As outras crianças, noentanto, poderiam beneficiar deles. Assim, o raciocínio

parece ter sido o seguinte: Se podemos beneficiar alguém sem fazer mal a outra

pessoa,devemos fazê-lo. Transplantar os órgãos beneficia as outras crianças sem

prejudicar abebé Teresa. Logo, devemos transplantar os órgãos.Será isto correcto?

Nem todos os argumentos são sólidos; por isso, não queremos apenassaber que

Page 14: Elementos de filosofia moral

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argumentos podem ser aduzidos em defesa de uma dada posição, mas também

seesses argumentos são bons. Em geral, um argumento é sólido se as suas premissas

são verdadeiras e a conclusão resulta logicamente delas. Neste caso, poderíamos

interrogar-nos sobre a proposição segundo a qual Teresa não seria prejudicada. Afinal

de contas, elamorreria; isso não é mau para ela? Mas, se reflectirmos, parece claro que

nestascircunstâncias trágicas os pais tinham razão - estar viva não lhe servia de nada.

Estarvivosó é um benefício quando permite a alguém realizar actividades e ter

pensamentos,sentimentos, e relações com outras pessoas- por outras palavras, se

permite a alguém ter uma vida. Na ausência destas condições, a mera existência

biológica não tem valor algum.Por isso, mesmo que Teresa pudesse continuar viva por

mais alguns dias, isso nada lhe trariade bom. (Podemos imaginar circunstâncias nas

quais outras pessoas beneficiariam emmante-la viva, mas isso não é o mesmo que ser

ela a beneficiar disso.) O argumento do benefício fornece, pois, uma poderosa razão

para o transplante dos órgãos. Quais são os argumentos do lado contrário?O

argumento de que as pessoas não devem ser usadas como meios. Os eticistas que

se opuseram aos transplantes usaram dois argumentos. O primeiro baseava-se na

ideiade que éerrado usar pessoas como meio para os fins de outras pessoas. Retirar os

órgãos de Teresateria sido usá-la em benefício de outras crianças; portanto, não se

deve fazê-lo. Será esteumargumento sólido? A ideia de que não devemos "usar"

pessoas é obviamente apelativa, mas trata-se de uma noção vaga que tem de ser

esclarecida. O que significa ao certo? "Usar pessoas" implica geralmente violar a sua

autonomia - a capacidade de decidirem por simesmas como viver as suas próprias

vidas, segundo os seus próprios desejos e valores. Aautonomia de uma pessoa pode

ser violada por meio de manipulação, impostura ou fraude.Por exemplo, posso fingir

ser amigo de alguém, quando na verdade estou apenas interessadoem conhecer a sua

irmã; ou posso mentir a alguém para conseguir um empréstimo; ou possotentar

convencer alguém de que gostará de assistir a um concerto noutra cidade,

quandoquero apenas que me leve até lá. Em todos estes casos estou a manipular

alguém de modoaobter algo para mim próprio. A autonomia é igualmente violada

quando as pessoas sãoforçadas a fazer coisas contra a sua vontade. Isto explica por

que razão é errado "usarpessoas"; é errado porque a impostura, a coerção e o engano

são errados. Retirar os órgãos à bebé Teresa não envolveria engano, impostura ou

coerção. Será queestaríamos a "usá-la" num outro sentido moralmente significativo?

Iríamos, é claro, usarosseus órgãos em benefício de outra pessoa. Mas fazemos isso

sempre que realizamos umtransplante. Neste caso, no entanto, iríamos fazê-lo sem a

Page 15: Elementos de filosofia moral

15

sua permissão. Esse facto tornaria o acto errado? Se estivéssemos a fazê-lo "contra" os

seus desejos, isso poderia justificar anossa oposição; seria uma violação da sua

autonomia. Mas a bebé Teresa não é um ser autónomo: não tem desejos e é incapaz

de tomar quaisquer decisões.Quando as pessoas são incapazes de tomar decisões, e

outros têm que o fazer em seu lugar,podem adoptar duas linhas de orientação

razoáveis. Primeiro, podemos perguntar-nos: O que serviria melhor os seus interesses?

Se aplicarmos este padrão à bebé Teresa, parece nãohaver objecções a que lhe

retiremos os órgãos, pois, como já vimos, seja qual for a nossadecisão, os seus

interesses não serão afectados. Ela, de qualquer maneira, morrerá em breve. A

segunda linha de orientação apela para as preferências da própria pessoa.

Poderíamosperguntar: Se pudesse dizer-nos o que quer, que diria ela? Este tipo de

pensamento éfrequentemente útil quando lidamos com pessoas que sabemos terem

preferências mas sãoincapazes de exprimi-las (por exemplo, um paciente em coma que

assinou um testamento).Só que, infelizmente, a bebé Teresa não tem preferências

sobre coisa alguma e nunca terá.Não podemos, por isso, obter dela qualquer

orientação, nem mesmo na nossa imaginação. Aconclusão é que ficamos na

contingência de fazer o que consideramos melhor.O argumento do erro de matar. Os

eticistas recorreram igualmente ao princípio de que éerrado matar uma pessoa para

salvar outra. Retirar os órgãos de Teresa seria matá-la parasalvar outros, afirmaram

eles; por isso, retirar os órgãos seria errado.Será este argumento sólido? A proibição

de matar é certamente uma das regras morais maisimportantes. No entanto, poucas

pessoas pensam que matar é sempre errado - a maioriadas pessoas pensa que

algumas excepções são por vezes justificadas. Á questão é, pois,saber se retirar os

órgãos da bebé Teresa deveria ser encarado como uma excepção à regra.Há muitas

razões a favor desta ideia, sendo a mais importante que ela morrerá de

qualquermaneira, independentemente do que fizermos, ao passo que retirar-lhe os

órgãos permitiriapelo menos fazer algum bem a outros bebés. Qualquer pessoa que

aceite isto tomará comofalsa a primeira premissa do argumento. Em geral é errado

matar uma pessoa para salvaroutra, mas isso nem sempre é assim.Mas há outra

possibilidade. Talvez a melhor maneira de entender toda a situação fosseencarar desde

logo a bebé Teresa como morta. Se isto parece insensato, recorde-seque a"morte

cerebral" é hoje amplamente aceite como critério para declarar as pessoaslegalmente

mortas. Quando o critério da morte cerebral foi proposto pela primeira vez, houve

resistências baseadas naideia de que alguém pode estar cerebralmente morto mas

muita coisa continua a funcionarno seu interior - com assistência mecânica o coração

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pode continuar a bater, pode-secontinuar a respirar, e assim por adiante. Mas a morte

cerebral foi por fim aceite e aspessoas acostumaram-se a encará-la como "verdadeira"

morte. Isto foi sensato porquequando o cérebro pára de funcionar deixa de haver

esperança de vida consciente.As anencefalias não satisfazem os requisitos técnicos da

morte cerebral tal como éactualmente definida; mas talvez a definição devesse ser

reelaborada para as incluir. Afinal de contas, os anencefálicos também não têm

perspectivas de vida consciente, pela razãoprofunda de que não têm cérebro ou

cerebelo. Se a definição de morte cerebral fossereformulada para incluir os

anencefálicos, acabaríamos por nos acostumar à ideia de queestes infelizes bebés são

nado-mortos e deixaríamos, por isso, de encarar a extracção dosseus órgãos como

uma forma de os matar. O argumento baseado na ideia de que matar é errado seria

então contestável.Parece pois, no todo, que o argumento a favor do transplante dos

órgãos da bebé Teresa é mais forte do que estes argumentos contra o transplante.

1.3 Segundo exemplo: Jodie e Mary

Em Agosto de 2000, uma jovem de Gozo, uma ilha junto de Malta, descobriu que

estavagrávida de gémeos siameses. Sabendo que as instalações de saúde de Gozo não

estavamequipadas para lidar com as complicações de um tal nascimento, ela e o

marido forampara oHospital St. Mary, em Manchester, Inglaterra, para fazer aí o parto

das bebés.

As crianças,conhecidas como Mary e Jodie, estavam ligadas pelo baixo abdómen. As

suas espinhas dorsais encontravam-se fundidas, epartilhavam um coração e um par de

pulmões. Jodie, a mais forte, fornecia sangue à suairmã.Ninguém sabe quantos pares

de gémeos siameses nascem por ano.

São raros, embora onascimento recente de três pares no Oregon tenha suscitado a

ideia de que o seu númeroestá a crescer. ("Os Estados Unidos têm um excelente

serviço de saúde mas os registos sãomuito pobres", afirmou um médico.) As causas do

fenómeno não são bem conhecidas, massabemos com certeza que os gémeos siameses

são uma variante de gémeos idênticos.

Quando o conjunto de células (o "pré-embrião") se divide, três a oito dias após

afertilização, surgem os gémeos idênticos; quando a divisão se arrasa mais alguns

dias, podeficar incompleta e os gémeos podem ficar ligados.Alguns pares de gémeos

siameses não têm problemas. Chegam à idade adulta e por vezescasam e têm os seus

próprios filhos. Mas o panorama apresentava-se algo cinzento paraMary e Jodie. Os

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médicos afirmaram que, sem intervenção, morreriam dentro de seis meses.A única

esperança era uma operação para separá-las. Isto salvaria Jodie, mas Mary morreria de

imediato.

Os pais, católicos devotos, não permitiram a operação baseando-se na ideia de que

issoanteciparia a morte de Mary. "Pensamos que a natureza deve seguir o seu

curso",afirmaramos pais. "Se é a vontade de Deus que as crianças não sobrevivam,

assim seja.

" O hospital,convencido da sua obrigação de fazer os possíveis para salvar pelo menos

uma das crianças,solicitou permissão aos tribunais para separar as bebés contra o

desejo dos pais. Ostribunaisconcederam permissão, e a 6 de Novembro a operação foi

realizada. Tal como se esperava,Jodie sobreviveu e Mary morreu. Ao meditar neste

caso, devemos separar a questão de quem deveria tomar a decisão daquestão de qual

deve ser a decisão. Podemos pensar, por exemplo, que a decisão devia caber aos pais,

caso em que nosoporemos à intromissão dos tribunais. Mas continua em aberto a

questão independente de saber qual seria para os pais (ou qualquer outra pessoa) a

escolha mais sensata.Vamosconcentrar-nos nesta última questão: Nas circunstâncias

descritas, seria correcto ou errado separar as gémeas? O argumento de que devem ser

salvas tantas vidas quanto possível. O argumento óbvio a favor da separação das

gémeas é que podemos escolher entre salvar um bebé ou deixarambos morrer.

Não é claramente melhor salvar um deles? Este argumento é tão atraente que muitas

pessoas concluirão, sem mais, que isto resolve o problema. No auge da

controvérsiasobre o caso, quando os jornais estavam cheios de histórias acerca de

Jodie e Mary, o Ladies Home Journal encomendou uma sondagem para descobrir o que

os americanospensavam. A sondagem mostrou que 78% aprovava a operação. As

pessoas estavamobviamente persuadidas pela ideia de que devemos salvar tantos

bebés quanto possível. Noentanto, os pais de Jodie e Mary pensavam que há um

argumento ainda mais forte doladocontrário.O argumento da santidade da vida

humana.

Os pais amavam as duas filhas e pensavam queseria errado sacrificar uma delas para

salvar a outra. Naturalmente, não eram os únicos adefender esta perspectiva. A ideia

de que toda a vida humana tem valor, independentementeda idade, raça, classe social

ou deficiência, está no centro da tradição moral ocidental. Éespecialmente enfatizada

em obras religiosas. Na ética tradicional, a proibição de matar sereshumanos inocentes

é tida como absoluta. Não importa se o assassinato visa servir umpropósito meritório;

Page 18: Elementos de filosofia moral

18

simplesmente não pode fazer-se. Mary é um ser humano inocente, nãopodendo por

isso ser morta.

Será este argumento sólido? Por uma razão surpreendente, os juizes que avaliaram o

casoem tribunal pensaram que não. Negaram a pertinência do argumento tradicional

neste caso.

O juiz Robert Walker afirmou que a realização da operação não mataria Mary. Ela

seriasimplesmente separada da irmã e depois "morreria, não por ser intencionalmente

morta, masporque o seu próprio corpo não pode manter a sua vida". Por outras

palavras, a causa da sua morte não seria a operação mas a sua própria debilidade. Os

médicos parecem terfavorecido também esta perspectiva. Quando a operação foi

finalmente realizada,executaram todos os procedimentos para tentarem manter Mary

viva - "concedendo-lhetodas as possibilidades" - mesmo sabendo da inutilidade do

esforço. O argumento do juiz pode parecer um pouco sofístico. Poderíamos pensar,

seguramente, que pouco importa dizer que a morte da Mary é causada pela operação

ou pela debilidade do seu corpo.

De qualquer das maneiras ela vai morrer, e a sua morte acontecerá mais cedodo que

se não tivesse sido separada da irmã.Há, no entanto, uma objecção mais natural ao

argumento da santidade da vida que nãodepende de um argumento tão forçado.

Podemos responder que não é sempre errado matarseres humanos inocentes. Em

situações raras pode mesmo ser correcto. Em particular se:

a) o ser humano inocente não tem futuro por estar condenado a morrer em

breveindependentemente do que façamos;

b) o ser humano inocente não quer continuar a viver,talvez por estar tão-pouco

desenvolvido mentalmente que não pode de todo ter desejos;

c) se matar o ser humano inocente permitir salvar a vida de outros, que podem

desenvolver-se e ter uma vida boa e plena - nestas circunstâncias, pouco frequentes,

pode justificar-se matar um inocente. E claro que muitos moralistas, sobretudo os

pensadores religiosos, não se deixarão convencer. No entanto, esta é uma linha de

pensamento que muitas pessoas podem achar persuasiva

1.4 Terceiro exemplo: Tracy LatimerTracy Latimer, uma menina de doze anos vítima de paralisia cerebral, foi morta pelo pai em1993. Tracy vivia com a família numa quinta de uma pradaria de Saskatchewan, no Canadá.Numa manhã de domingo, enquanto a mulher e os filhos estavam na missa, Robert Latimerpôs Tracy na cabina da sua carrinha de caixa aberta e asfixiou-a com o fumo do esc

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ape. Naaltura da morte, Tracy pesava menos de dezoito quilos; diz -se que tinha "um nívelmentalidêntico ao de um bebé de três meses". A senhora Latimer afirmou ter ficado aliviada porencontrar Tracy morta ao chegar a casa, e acrescentou que "não tinha coragem" paraofazer.O senhor Latimer foi julgado por homicídio, mas o juiz e os jurados não quiseram tratá-locom demasiada dureza. O júri considerou-o apenas culpado de homicídio de segundo grau erecomendou ao juiz para ignorar a sentença obrigatória de vinte e cinco anos de prisão. Ojuiz concordou e sentenciou Latimer a um ano de cadeia, seguido de um ano de prisãodomiciliária na sua quinta. No entanto, o Supremo Tribunal do Canadá revogou a sentença eordenou a imposição da sentença obrigatória. Robert Latimer está ainda detido, cumprindouma pena de vinte e cinco anos.Questões legais à parte, será que o senhor Latimer fez algo de errado? Este caso envolvemuitas das questões que já vimos nos outros casos. Um argumento contra o senhor Latimeré que a vida de Tracy tinha valor moral, não tendo ele por isso o direito de a matar. Em suadefesa pode responder-se que a situação de Tracy era tão catastrófica que ela não tinhaquaisquer perspectivas de uma "vida" em qualquer sentido além do puramente biológico. Asua existência estava reduzida a nada mais do que sofrimento sem sentido, pelo quematá-lafoi um acto de misericórdia. Considerando estes argumentos, parece que talvez o senhorLatimer tenha agido de forma defensável. Houve, no entanto, outros argumentos avançadospelos seus críticos.23O argumento contra a discriminação dos deficientes.Quando Robert Latimer foi sentenciado com tolerância pelo tribunal, muitos deficientesencararam o facto como um insulto. O presidente de Saskatoon Voice of People withDisabilities, que sofre de esclerose múltipla, afirmou: "Ninguém tem o direito de decidir se aminha vida tem um valor inferior a outra. Essa é a grande questão." Tracy foi mortapor serdeficiente, afirmou, e isso é inadmissível. As pessoas deficientes deveriam ser tão respeitadase ter tantos direitos como qualquer outra pessoa.Que podemos dizer disto? A discriminação contra qualquer grupo de pessoas é,naturalmente, um assunto sério. E inaceitável porque implica tratar algumas pessoas deforma diferente de outras, quando não há diferenças relevantes entre elas para o justificar.Exemplos correntes envolvem situações como a discriminação no local de trabalho.Suponha-se que se recusa um trabalho a uma pessoa cega simplesmente porque o patrão nãogosta da ideia de empregar alguém incapaz de ver. Isto não é diferente de recusar empregaralguém por ser negro ou judeu. Para sublinhar o quanto isto é ofensivo, poderíamosperguntar por que razão essa pessoa é tratada de forma diferente. É menos capaz de fazer otrabalho? É mais estúpida ou menos diligente? Merece menos o emprego? É menos capaz de beneficiar da circunstância de estar empregada? Se não há qualquer boa razão para a excluir,então é simplesmente arbitrário tratá-la desta forma.Mas há algumas circunstâncias nas quais pode justificar-se tratar os deficientes deformadiferente. Por exemplo, ninguém iria defender seriamente que uma pessoa cega deveria serempregada como controladora de tráfego aéreo. Uma vez que podemos explicar facilmentepor que motivo isto não é desejável, a "discriminação" não é arbitrária e não é uma violaçãodos direitos da pessoa deficiente.Devemos pensar na morte de Tracy Latimer como um caso de discriminação de deficientes?O senhor Latimer24argumentou que a paralisia cerebral de Tracy não era a questão. "As pessoas andam adizerque isto é uma questão relacionada com deficiência", afirmou, "mas estão enganadas. Isto diz respeito a tortura. Para Tracy, tratava-se de uma questão de mutilação e tortura".Antesda sua morte, Tracy fora submetida a uma importante e delicada intervenção cirúrgica àscostas, ancas e pernas, e havia ainda mais cirurgias planeadas. "Tendo em contaacombinação de um tubo para alimentação, varetas nas costas, a perna cortada e bamba eainda as chagas causadas

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pela permanência na cama", afirmou o pai, "como podem aspessoas dizer que ela era uma menina feliz"? No julgamento, três dos médicos de Tracyderam o seu testemunho sobre a dificuldade de controlar as suas dores. O senhorLatimernegou, por isso, que ela tenha sido morta por causa da paralisia cerebral; foi morta por causada dor e por não haver esperança para ela.O argumento da derrapagem. Isto conduz naturalmente a outro argumento. Quando oSupremo Tribunal do Canadá confirmou a sentença de Robert Latimer, Tracy Walters,directora da Associação Canadense de Centros para Uma Vida Independente, afirmou-se"agradavelmente surpreendida" pela decisão. "Teria sido na verdade uma bola de neve e umabrir de portas a outras pessoas para decidirem quem vive e quem morre", afirmou. Outros defensores dos deficientes fizeram eco desta ideia. Podemos compreender RobertLatimer, afirmaram alguns, podemos até ser tentados a pensar que Tracy está melhor morta.No entanto, é perigoso pensar desta forma. Se aceitarmos qualquer tipo de morte piedosa,iremos dar a uma "derrapagem" inevitável, e no final toda a vida terá perdido o seuvalor.Onde devemos pois traçar a fronteira? Se a vida de Tracy Latimer não merece ser protegida,o que dizer então de outros deficientes? Que dizer dos velhos, doentes e outros membros"inúteis" da sociedade? Neste25contexto, refere-se frequentemente os nazis, que queriam "purificar a raça", e a implicação éque se não queremos acabar como eles, é melhor não darmos os perigosos primeiros passos.Tem-se usado "argumento da derrapagem" do mesmo género em relação a todo o tipo dequestões. O aborto, a fertilização in vitro (FIV) e, mais recentemente, a clonagem, foramcriticados por causa daquilo a que podem conduzir. Uma vez que estes argumentosenvolvem especulações sobre o futuro, são manifestamente difíceis de avaliar. Por vezes,épossível verificar, em retrospectiva, que as preocupações eram infundadas. Isto aconteceucom a FIV. Quando, em 1978, nasceu Louise Brown, a primeira "bebé proveta", houveumasérie de previsões medonhas sobre o que o futuro poderia reservar para ela, a sua família e asociedade como um todo. Mas nada de mau aconteceu e a FIV tornou-se um procedimentorotineiro usado para ajudar milhares de casais a ter filhos.Quando o futuro é desconhecido, pode, no entanto, ser difícil determinar se um argumentodeste tipo é sólido. Por outro lado, pessoas razoáveis podem discordar sobre o que poderiaacontecer se a morte piedosa fosse aceite em casos como o de Tracy Latimer. Istodáorigem a um tipo de impasse frustrante: os desacordos quanto aos méritos da argumentaçãopodem depender simplesmente das inclinações prévias dos interlocutores - os inclinadosadefender o senhor Latimer podem pensar que as previsões são irrealistas, enquanto os predispostos a condená-lo insistem na sensatez das previsões.Vale a pena notar, no entanto, que este tipo de argumento é atreito a usos abusivos. Se nãoconcordamos com alguma coisa, mas não temos qualquer argumento bom contra ela,podemos sempre fazer uma previsão sobre as suas possíveis consequências; por maisimplausível que a previsão seja, ninguém pode provar que esteja errada. Este método pode ser utilizado para contestar quase tudo. Essa26é a razão pela qual os argumentos deste tipo devem ser abordados com cuidado.1.5 Razão e imparcialidadeO que se pode aprender com tudo isto sobre a natureza da moral? Para começar, podemostomar nota de dois aspectos principais: primeiro, os juízos morais têm de se apoiarem boasrazões; segundo, a moral implica a consideração imparcial dos interesses de cada indivíduo.Raciocínio moral. Os casos da bebé Teresa, Jodie e Mary e Tracy Latimer, bem comomuitos outros que serão discutidos neste livro, podem despertar sentimentos fortes. Estessentimentos são frequentemente sinal de seriedade moral

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