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ELEMENTOS DO ESTUDO E DA INTERPRETAO PIANISTICA
Uma reviso sobre trabalho mental, dinmica, ritmo, retrica, planejamento de estudo, tcnica, pedalizao,
articulao e estilo na prtica pianstica.
Cndida Borges
O presente trabalho uma coleo de resenhas de textos importantes da literatura pianstica. A ver:
Trabalho Mental
Anlise do captulo MENTAL PRACTICING do livro: KOCHETVISKY, George. The Art of Piano Playing.
A execuo de uma obra deve ser o resultado de um grande domnio tcnico, e sobretudo
mental da pea. O pianista deve ser conhecedor de todas as suas complexidades e as t-la dominado
antes de tocar em pblico a obra. A estrutura mental da composio formada pela compreenso da
sua forma, estruturas harmnicas e polifnicas, relaes mtricas e rtmicas, desenho meldico,
fraseado, articulao, qualidade da sonoridade e dinmica desejadas. As questes tcnicas e do
movimento tambm precisam ser consideradas, assim como os tipos de toque e dedilhado. A
compreenso da pea progressiva, reservando a algum desses elementos a possibilidade de serem
mudados ao longo do trabalho, como o dedilhado e o tipo de interpretao.
Primeiros contatos com a msica: Devemos tocar a pea desde o primeiro instante sem erros. Condicionamos nossas mente e
musculatura aos reflexos certos, economizando tempo com correes a movimentos incorretos.
Para tocar uma pea correta desde o princpio, devemos:
analisar a obra e claramente compreender todos os seus elementos.
tocar somente num andamento que permita o controle de todos os movimentos; adquirir a
atitude de olhar e pensar adiante, antecipando cada nota e seu movimento correspondente; controlar os
resultados pela escuta constante.
no nos preocuparmos em tocar um grande trecho de difcil compreenso e controle da
realizao. A extenso dessas sees deve ser determinada pela capacidade de cada um: quanto
menor o desenvolvimento tcnico e musical, menores as sees de trabalho devem ser.
Se a estrutura musical da obra for muito complicada, alguns ou todos os seus elementos
devem ser extrados e trabalhados em separado, especialmente a questo rtmica.
Ritmo - Se um padro rtmico for difcil de ser compreendido, trabalhe-o separadamente. Primeiro, marque o ritmo de cada mo separadamente. Depois, toque este trecho com uma das mos
enquanto marca o tempo com a outra mo. Ento, se a coordenao rtmica das duas partes for muito
difcil, marque esses padres simultaneamente com ambas as mos, at que o ritmo seja
completamente sentido e dominado organicamente.
Vozes Cada voz deve ser compreendida claramente e praticada separadamente,
especialmente em msicas polifnicas. Ento combine 2 a 2 vozes, variando, depois de 3 a 3 vozes.
Dedilhado A escolha do dedilhado deve levar em considerao o andamento da pea.
Trabalho Mental - O trabalho mental necessrio no somente no princpio do trabalho de uma obra. Sempre que surgir uma dificuldade, preciso parar de tocar e tentar um claro quadro da
dificuldade. O primeiro passo para superar uma dificuldade perceber (ouvir) que algo no est bem; o
segundo passo descobrir a sua causa para elaborar como super-la.
Leitura Mental - Toda a composio estudada deve ser lida mentalmente de tempo em tempo. Assim, podemos reavivar claramente o quadro acstico que desejamos da pea, e nos
estimulamos a venc-la tecnicamente. Alm disso, percebemos melhor os sinais escritos na obra, que
podem passar desapercebidos durante a execuo, e registramos visualmente a pgina impressa.
Busoni j nos alertou que esquecemos facilmente o sentido musical durante o trabalho mecnico. A
leitura silenciosa nos ajuda a dar unidade s notas em linhas musicais. Depois de compreender as
coneces e sucesses lgicas da obra, pode-se dar velocidade ao texto, para toc-lo to rpido
quanto for necessrio.
Concentrao e observao durante o estudo - Enquanto estuda, o pianista deve estar totalmente absorto em sua atividade, ou seja, completamente concentrado. Sempre devem ser
observadas as questes: posio da mo, forma do movimento, dedilhado, qualidades musicais e etc.
Ter o controle de todas essas questes depende do seu desenvolvimento. A inobservncia dessas
questes pode condicionar movimentos prejudiciais.
Escuta minuciosa O pianista deve aprender a ouvir a menor diferena na qualidade do
fraseado e da dinmica; imprecises rtmicas e tcnicas; melhores respostas do seu instrumento.
Transcender a razo As questes racionais e calculadas do piano devem ser transcendidas. As melhores gradaes de intensidade, de ritmo (aggica), e outros elementos da
performance so incalculveis e devem ser sentidos como nuances da expresso musical e inspirao.
O domnio tcnico do piano considera concepes imaginativas, baseadas em metforas e simbolismos
no-verbais.
O estudante de piano deve saber no s como tocar, mas como pensar musicalmente, e
organizar seu processo de estudo. Isso se refere seqncia do repertrio, o tempo dado a cada parte
do trabalho, assim como as caractersticas detalhadas de todos os problemas encontrados. A melhor
indicao de progresso o estudo independente do aluno.
Planejamento do estudo
Anlise do captulo do livro:
R. Gerig Famous Pianists and their technique
Resumindo a didtica de Leschetizky:
Seja ideal e pense idealmente. Se voc acredita ter alguma virtude, ter uma chance.
Ele no possua nenhum mtodo de estudo em especial, e achava ruim ter algum. Cada
um acha o seu prprio mtodo se ouvindo.
Se tivesse algum, seria a delineao mental da msica em acordes, como grupos de
notas. Isso criaria um quadro mental da pea, que deveria ser estudado ao mesmo tempo que
moldando a mo de acordo com o quadro, antes de se tocar as teclas. O princpio que no se deve
tocar uma nota sem pensar, visualizar e at mesmo dizer a nota seguinte.
Sua principal habilidade era a de fazer seus alunos projetarem seus valores musicais ao
tocarem, de ouvir a si mesmos e aplicar total concentrao aos seus trabalhos. Possua um princpio
que era a respirao, delicadeza do toque e preciso no ritmo; o resto era um tratamento individual de
acordo com o talento de cada um.
O maior dos ensinamentos a observao. O estudante deve ir a muitos concertos e
observar o que se deve e no se deve fazer.
Dizia que o melhor dos estudos pode ser feito fora do piano, ouvindo a voz interna que
canta. Percebeu que o relaxamento muscular na prtica pianstica como a respirao profunda para o
cantor.
A base dos seus princpios era a concentrao. A repetio desconcentrada no resolve
os problemas com o tempo. As qualidades essenciais para um bom trabalho so:
1. Compreenso absolutamente clara dos principais pontos a serem estudados na
msica; clara percepo de onde esto as dificuldades e o meio de super-las; realizao mental
desses trs fatores antes de tocar.
2. Decida o que deve fazer primeiro e como; depois toque, pare e ento pense se
tocou como queria. Se tiver certeza disso, siga em frente, na certeza de que seu crebro est no
comando dos seus dedos.
Rosina Lhevinne baseava-se em conscientizar o aluno no humor ideal da obra, que deveria
ser representado atravs de um som bonito e uma tcnica adequada. O controle das vrias nuances de
uma pea deve ser imaginado, sentido e fazer-se reconhecer pelo ouvinte. Ela no permitia que seus
alunos ouvissem uma gravao durante o trabalho, para que suas caractersticas pessoais no fossem
sacrificadas pela mmica.
Horowitz no acreditava na prtica mecnica, mas na preciso e no controle do som. Para
ele, tcnica e mecnica estavam associadas, e ilustrava dizendo que o 5 dedo se fortaleceria no
momento que o aluno descobrisse que ele precisava cantar em determinado trecho. Este o
tratamento expressivo da tcnica, baseado na idia precisa do que se tocar e na capacidade adequada
para execut-lo. Sua maneira pessoal de estudar a seguinte: primeiro toca toda a obra para ter a
conscincia do seu significado e da sua estrutura (viso horizontal). Depois, s a toca em sees,
passagens e detalhes a serem trabalhados, um a cada dia, em rduo trabalho concentrado. Acha que
um aluno deveria conhecer seus pontos fortes e suas limitaes para no ter falsas expectativas de
rpida superao, nem para esforar-se por uma obrigao interna. Entretanto, dedicava-se tambm
prtica da tcnica pura, e passava por perodos de refazimento desta. Aps grandes perodos sem
tocar, em reflexo, estabelecia novas rotinas de estudo com descanso, reflexo, exerccio, etc., para
no se sentir perdido. Comeava seus estudos dirios com exerccios por ele inventados,
vagarosamente, cada dia numa tonalidade. Depois trabalhava seu repertrio em sees, e dedicava de
2 a 3 h por semana para ler novas msicas.
Bonpensiere e sua teoria da Ideo-Cintica pregam que o movimento mecnico deve ser
resultado de uma realizao da cintica muscular de uma concepo mental, que deve existir para
satisfazer uma exigncia esttica e estilstica. Suas palavras ilustram: A cada dificuldade obstinada, pare de tocar e comece a pensar novamente. (...) Eu imagino a ao como se ela j tivesse sido
executada, e ela se realiza sem que eu faa qualquer esforo. Segundo ele, para se ter a autoridade de alcanar a verdadeira liberao (release = independncia, liberdade, etc) preciso ter
pesquisado a prtica psicolgica, onde cada um dos seus movimentos seja a livre realizao cintica da
sua idealizao.