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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
ALEXANDRE DOS SANTOS NEGRETTE
OS FILMES HOLLYWOODIANOS CONTEMPORÂNEOS DE SUPER-HERÓIS
Elementos estéticos e narrativos dos filmes de supe r-heróis na produção hollywoodiana de 1999 a 2009
SÃO PAULO 2010
1
ALEXANDRE DOS SANTOS NEGRETTE
OS FILMES HOLLYWOODIANOS CONTEMPORÂNEOS DE SUPER-HERÓIS
Elementos estéticos e narrativos dos filmes de supe r-heróis na produção hollywoodiana de 1999 a 2009
Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Antonio Vadico.
SÃO PAULO
2010
3
ALEXANDRE DOS SANTOS NEGRETTE
OS FILMES HOLLYWOODIANOS CONTEMPORÂNEOS
DE SUPER-HERÓIS Elementos estéticos e narrativos dos filmes de supe r-
heróis na produção hollywoodiana de 1999 a 2009
Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Luiz Antonio Vadico.
Aprovado em ----/----/----.
___________________________________
Prof. Dr. Luiz Antonio Vadico
___________________________________
Prof. Dr. Rogério Ferraraz
__________________________________
Prof. Dra. Solange Wajnman
4
Ao meu vô Chico (in memoriam),
pela transmissão de sua sabedoria.
Ao meu pai, por todo o apoio.
Ao amor da minha vida, Silvia,
pela atenção, carinho e paciência.
5
AGRADECIMENTOS
Ao meu amor, Silvia que verdadeiramente sempre me ouviu, me apoiou, me
entendeu e me mostrou o caminho mais sensato a seguir. Como nos ensina o
filósofo Sêneca: “Escolha para si um herói moral cuja vida, conversa e rosto
expressivo lhe agradem; e então imagine-o o tempo todo como seu protetor, seu
padrão ético. Todos nós precisamos de alguém cujo exemplo possa nortear nosso
caráter.” À minha heroína, ou melhor, super-heroína que está sempre por perto para
me resgatar, mesmo nos momentos mais difíceis e sem saída da trama.
Ao meu vô Chico, in memoriam, com quem aprendi e percebi que, com a
cabeça ativa e ocupada terei uma vida prolongada.
Ao meu pai, pela paciência e compreensão e total apoio, mesmo nos
momentos mais difíceis, pois sem estes fatores não chegaria até aqui. Recorro
novamente a Sêneca: “Valorize um homem de grande caráter e tenha-o sempre em
mente. Então, viva como se ele o estivesse observando e ordene todas as suas
ações como se ele as visse.” Mesmo que não pareça, aplico isto todos os dias, em
todos os momentos, principalmente, quando cometo meus erros.
À minha mãe, que sempre buscou fazer o melhor para mim e me ensinou a
entender que eu poderia alcançar meus maiores sonhos.
Ao meu querido irmão, Pituca, minhas sinceras desculpas, por não atendê-lo,
ou atendê-lo ao telefone de forma lacônica, por estar estudando sempre – e era
verdade. Além das boas e questionadoras conversas sobre cinema que sempre
tivemos.
À minha irmã, Evelyn, que deve imaginar que seu irmão só estuda, mas deve
saber aonde ele quer chegar.
Agradeço ao meu irmãozão Cesinha que, se não fosse inteligente e não tivesse
entrado na ESALQ, talvez eu não tivesse a oportunidade de ter iniciado esta
jornada.
À minha irmã, Carlinha, que mesmo cuidando do seu filho pequenino - não
tinha um ano, ainda, o belo Ramon – lembrava do irmão que estava estudando e
analisando filmes, na parte de cima da casa, concentrado, sozinho, porém feliz,
6
enquanto todos se divertiam lá embaixo, e trazia o almoço, a sobremesa, o
refrigerante!
Ao meu irmão Gi, que sempre me deu a oportunidade de ter conversas ótimas
sobre cinema.
Aos amigos que, nestes dois anos, me convidaram para comparecer em
diversos eventos sociais – aniversários, principalmente – e, que mesmo com todas
as minha negativas ainda lembram-se de mim. E aos que já desistiram, bem, eu
compreendo, sem rancores.
Ao meu orientador, prof. Vadico, que me escolheu como seu orientando e me
ajudou a encontrar o tema que me despertasse a vontade de abdicar da maior parte
dos meus fins de semana e horas de sono. Agradeço, também, sua dedicação e
atenção ao meu trabalho, pois sem isto talvez ele nunca chegaria ao fim.
Ao professor Rogério que trata os assuntos de forma leve, clara e precisa e
sempre esteve disposto a ouvir e debater as ideias surgidas durante minha
pesquisa.
À professora Maria Ignês que, sempre de forma carinhosa, demonstrou
atenção e disposição em auxiliar-me no que fosse preciso. Obrigado pelos livros e
recortes de jornal super-heroicos.
Ao professor Gelson que doava seu tempo para me fazer pensar e não cair em
armadilhas durante a pesquisa desta dissertação.
À professora Bernadette que incentiva, vibra e apóia seus mestrandos.
Ao Marcos, da secretaria do Mestrado, pela gentileza e atenção em me ajudar
na parte burocrática e que desde o primeiro dia já sabia o meu nome.
7
RESUMO
Esta pesquisa visa demonstrar, a partir da análise de filmes lançados nos EUA com
distribuição de empresas norte-americanas entre os anos de 1999 e 2009, que
contivessem em suas tramas personagens super-heroicos, a existência de
elementos comuns nos filmes de super-herói e a possibilidade do surgimento de um
gênero próprio e, ainda, reunir, organizar e refletir sobre este tema em um único
referencial, a fim de discutir e incluir novos olhares. Foram analisados os elementos
que compõem um personagem super-heroico, com base nos ensinamentos de Lois
Gresh e Robert Weinberg; o que de fato é um superpoder, como teorizaram Loeb e
Morris; o início, meio e fim da jornada do (super)herói de acordo com Joseph
Campbell e os personagens que se relacionam com o super-herói durante a trama.
Verificou-se a forma narrativa destas histórias e quais elementos essenciais
constituem um gênero cinematográfico, de acordo com as explicações de Jacques
Aumont e David Bordwell; a aplicação dos efeitos visuais, como forma de
incrementá-las, de acordo com os estudos de Umberto Eco e Christopher Knowles.
Estudou-se, ainda, diante de teóricos como Arlindo Machado, Renata Pallottini e,
novamente Umberto Eco, a proximidade da forma seriada e os filmes de super-
heróis e as semelhanças e diferenças entre gancho e elementos de continuação de
uma história.
Palavras-chave: Gêneros Cinematográficos. Formas Narrativas no Cinema. Cinema
hollywoodiano. Elementos Estéticos no Cinema. Filmes de Super-herói.
8
ABSTRACT
This research aims to demonstrate, from the analysis of films released in the U.S.
with distribution of U.S. companies between the years 1999 and 2009, that contain in
its plot super-heroic characters, the existence of common elements in superhero
movies and the possibility of the emergence a genre itself, and also to gather,
organize and reflect on this theme in a single framework in order to discuss and
include new perspectives. We analyzed the elements that make up a super-heroic
character, based on the teachings of Lois Gresh and Robert Weinberg; which in fact
is a superpower like theorized by Morris and Loeb; the beginning, middle and end of
the journey of (super) hero according to Joseph Campbell and the relationship with
the others characters in the plot. It was studied the narrative form of these stories
and which are the essential elements of a film genres, according to the explanations
of Jacques Aumont and David Bordwell; the application of visual effects, as a way to
enhance them, according to studies by Umberto Eco and Christopher Knowles. It
was studied, even in the face of such theorists as Arlindo Machado, Renata Pallottini
and again Umberto Eco, the proximity of the serial form and the films of superheroes
and the similarities and differences between continuity elements and hook up in a
story.
Keywords: Film Genres. Narrative Forms in Film. Hollywood Cinema. Aesthetic
Elements in Film. Superheroes Movies.
9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11
Capítulo 1. Os super-heróis de Hollywood e suas relações. ............................ 19
1.1. O que é um super-herói? ....................................................................... 19
1.1.1. O que são superpoderes? ............................................................... 19
1.1.2. O que é ato heroico? ....................................................................... 33
Tipo A – Heróis por contexto ..................................................................... 34
Tipo B – Heróis por escolha ....................................................................... 36
1.1.3. Identificação visual de um super-herói. ............................................ 38
1.1.4. O código de conduta de um super-herói. ......................................... 43
Lei n° 1 – Não matar. ............................. .................................................... 43
Lei n° 2 - Não auferir renda e/ou obter vantagem fi nanceira com seus atos
heroicos. .................................................................................................... 45
Lei n° 3 - Preocupação com a sociedade que o cerca. .............................. 47
1.2. Vilão e supervilão. .................................................................................. 49
1.3. O ponto fraco do super-herói. ................................................................ 52
1.4. Super-heróis, seus amigos e amores. .................................................... 54
Capítulo 2. Como Hollywood conta uma história de super-herói. ..................... 57
2.1. Elementos da narrativa clássica hollywoodiana. .................................... 57
2.2. Efeitos visuais. ....................................................................................... 72
2.3. Efeitos especiais “verossímeis e orgânicos”. ......................................... 77
2.4. O gênero Super-herói. ........................................................................... 83
Gênero Ação .............................................................................................. 86
Gênero Aventura ....................................................................................... 87
Gênero Ficção Científica ........................................................................... 88
Adaptação de história em quadrinhos ....................................................... 89
Capítulo 3. Super-heróis são eternos e suas histórias também. ...................... 93
3.1. Os elementos de continuidade dos Homens-Aranha e a jovialidade
eterna de Super-Homem para conquistar outros públicos. ........................... 93
Elemento A ................................................................................................ 94
Elemento B ................................................................................................ 96
Elemento C ................................................................................................ 98
10
Elemento D .............................................................................................. 100
Elemento E .............................................................................................. 110
Elemento F .............................................................................................. 110
Elementos de continuação vs. gancho .................................................... 108
Conclusão. ..................................................................................................... 119
Referências bibliográficas .............................................................................. 122
Webgrafia ....................................................................................................... 123
Referências filmográficas ............................................................................... 124
Anexos ........................................................................................................... 127
Bibliografia geral ........................................................................................ 127
Filmografia geral ......................................................................................... 132
Ficha técnica para análise dos filmes de super-heróis................................ 136
11
INTRODUÇÃO
Desde o início do projeto de Mestrado, os filmes de ficção científica me
chamavam atenção, fundamentalmente, por dois motivos: as abordagens
fantasiosas de suas tramas e a estética dos objetos futuristas apresentados nestas
obras. A partir destas inquietações iniciei minhas pesquisas sobre o tema, e estas
me levaram a importantes descobertas e, consequentemente, novas questões
surgiram e os trabalhos tomaram outros rumos. Por conta de uma destas
descobertas me deparei com um filme, lançado somente na televisão, chamado Exo-
Man (1977), de Richard Irving - cuja trama refere-se à história de um cientista,
Nicholas Conrad (David Ackroyd) que é baleado e, por conseqüência, fica
paraplégico. Após este incidente, Conrad constrói uma armadura (exoesqueleto) que
o capacitaria voltar a andar, além de protegê-lo de balas e lhe fornecer uma grande
força, capacitando-o a combater a criminalidade e proteger a sociedade em que
vive, ou seja, pessoas inocentes de uma cidade grande – e, a partir desta análise,
pude perceber uma importante semelhança deste com as histórias de super-heróis
que havia tido contato nos cinemas e nos quadrinhos.
A partir deste ponto, verifiquei o conteúdo das histórias dos filmes de super-
heróis e pude notar que estas tinham elementos em comum com a ficção científica.
Porém, ao observar as classificações de gêneros nas mídias analisadas (DVD)
destes filmes havia, ao menos, outros dois, ação e/ou aventura, que também eram
comuns em suas classificações.
Foi necessário, portanto, aprofundar os estudos no mundo da ficção científica,
desvendar e recolher informações para descobrir o que de fato aproximava os filmes
de super-heróis do gênero ficção científica e o que os afastavam. Ao entrar em
contato com teóricos de ficção científica, como Raul Fiker ou Lois Gresh e Robert
Weinberg1 pude observar as relações feitas por eles entre os super-heróis e a ficção
científica e suas explicações sobre as semelhanças entre estes dois temas e a
proximidade dos personagens destes dois “mundos”, suas origens, ambientes em
que a trama se desenvolve e, principalmente, a abordagem do tema mutação que se
1 Gresh e Weinberg discorrem de forma muito estreita ao pensamento de Fiker ao tratar dos aspectos científicos que envolvem o mundo dos super-heróis em GRESH, Lois H.; WEINMERG, Robert. A Ciência dos Super-heróis. Rio de Janeiro: Ediouro. 2005, p. 154.
12
relaciona diretamente com os super-heróis X-Men que tem em suas histórias
elementos da ficção científica descritos por estes teóricos, como podemos observar
na explicação de Fiker:
“As mutações podem ocorrer também por outras vias, como saltos evolucionários, por exemplo: de repente algumas crianças passam a ter poderes. (...) As relações entre os mutantes e os normais são sempre cheias de percalços e paranóia. Por incompreensão, preconceito e medo dos normais ou mesmo por reais intenções de supremacia dos mutantes, estes são perseguidos e obrigados a se organizar em esquemas clandestinos. Muitas histórias de mutantes são projeções dos problemas raciais dos EUA (...). São geralmente atributos de mutantes, e como tal, suspeitíssimos. Entre os poderes extra-sensoriais – teletransporte, telequinése, clarividência, pré-cognição e telepatia – esta última é a favorita da FC.”2
Ao verificar que outros teóricos abordavam esta proximidade entre os temas e
notar, paralelamente, que ainda assim os filmes de super-heróis não eram
classificados somente como ficção científica foi necessário direcionar os estudos a
fim de entender os elementos constantes nos gêneros de ação e aventura e
compreender o que há em comum nos filmes de super-heróis com estes gêneros e o
que faz destes filmes não serem adequados a apenas um destes três gêneros
cinematográficos citados.
O próximo passo foi analisar os filmes de super-heróis lançados desde o início
do cinema até os dias de hoje. Ao iniciar a busca por títulos de filmes que havia um
personagem super-heroico pude notar que o material seria vasto e complexo, pois
verifiquei que diversos destes filmes foram lançados apenas em televisão, VHS,
DVD e internet. Tendo isto em vista, direcionei a pesquisa aos filmes lançados nos
cinemas dos EUA e distribuídos por empresas norte-americanas intitulando-os aqui
de filmes hollywoodianos.
Ao delimitarmos o local e mídia de lançamento dos filmes pude perceber que
ainda teria um vasto material a ser trabalhado, pois cataloguei cerca de oitenta
filmes que tratam de um personagem super-heroico, ao longo da história do cinema
hollywoodiano, apesar de já poder identificar quais aspectos Hollywood inclui nestes
filmes que determinam um personagem ou um filme ao tratar de um super-herói.
2 FIKER, Raul. Ficção Científica – Ficção, Ciência ou uma Épica da Época? Porto Alegre: L&PM Editores Ltda., 1985, p. 69.
13
Com este material selecionado observei quais eram as características essenciais
constantes nos personagens super-heroicos. Ao chegar a um resultado primário
pude delimitar quais aspectos seriam observados nas próximas análises e que
poderiam ocorrer de maneira igual nestes filmes.
Escolhi subtrair filmes como os de animação, comédia, paródia ou que
contivessem personagens super-heroicos, mas que estes não tivessem aspectos
e/ou sentimentos humanos como, robôs, ciborgues ou mesmo animais, pois me
deixavam em dúvida se contribuiriam para a dissertação de forma objetiva.
Era ainda necessário restringir a época a ser tratada, pois a lista de filmes era
extensa e comportaria uma maior abordagem de assuntos e estudos necessários
para que satisfizessem a quantidade de obras reunidas, mas que não caberiam
nesta dissertação.
Tendo isto em vista, delimitamos a escolha, após estas exclusões, a partir do
ano de 1999, com o filme Matrix (1999), de Andy e Larry Wachowsky, pois pude
perceber que este poderia ser considerado um grande marco para o início de uma
evolução estética e narrativa que contribuiu para que as histórias de filmes de super-
heróis seguintes pudessem ser contadas de forma mais verossímeis que as
anteriores, tendo em vista os avanços tecnológicos observados a partir desta obra e
serão debatidos e analisados adiante.
Feito o recorte necessário, atingiu-se o número de vinte e quatro filmes: 1)
Matrix (1999), de Andy e Larry Wachowsky; 2) X-Men: O Filme (2000), de Bryan
Singer; 3) Corpo Fechado (2000), de M. Night Shyamalan; 4) Homem-Aranha
(2002), de Sam Raimi; 5) Demolidor (2003), de Mark Steven Johnson; 6) X-Men 2
(2003), de Bryan Singer; 7) Matrix Reloaded (2003), de Os Irmãos Wachowski; 8)
Hulk (2003), de Ang Lee; 9) A Liga Extraordinária (2003), de Stephen Norrington; 10)
Matrix Revolutions (2003), de Irmãos Wachowski; 11) Homem-Aranha 2 (2004), de
Sam Raimi; 12) Mulher-Gato (2004), de Pitof; 13) Elektra (2005), de Rob Bowman;
14) Batman Begins (2005), de Christopher Nolan; 15) Quarteto Fantástico (2005), de
Tim Story; 16) X-Men: O Confronto Final (2006), de Brett Ratner; 17) Superman – O
Retorno (2006), de Bryan Singer; 18) Homem-Aranha 3 (2007), de Sam Raimi; 19)
Quarteto Fantástico E O Surfista Prateado (2007), de Tim Story; 20) Homem de
Ferro (2008), de Jon Favreau; 21) O Incrível Hulk (2008), de Louis Leterrier; 22)
Hancock (2008), de Peter Berg; 23) Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008), de
14
Christopher Nolan; 24) Dragon Ball Evolution (2009), de James Wong; 25) X-Men –
Origens: Wolverine (2009), de Gavin Hood.
A partir desta definição pude iniciar uma pesquisa mais aprofundada sobre o
que os teóricos discorriam a respeito dos filmes de super-heróis em Hollywood. Ao
atingir este ponto não foi encontrado, até o presente momento, bibliografia no Brasil,
tanto de autores brasileiros quanto de estrangeiros, que discorresse sobre este tema
de forma exclusiva. Os assuntos tratados nos livros encontrados são pontuais e
referem-se aos super-heróis em diversos meios, mas não diretamente às obras
cinematográficas, como demonstraremos a seguir.
Na obra “Super-heróis e a filosofia”, com coordenação do professor americano
de filosofia William Irwin, os autores retratam os aspectos psicológicos das atitudes
dos super-heróis em diversos meios, como história em quadrinhos, desenhos
animados e filmes. Em outro livro, do redator e crítico de cinema André Morelli
intitulado “Super-heróis no cinema e nos longas-metragens da TV” é elaborada uma
catalogação da maioria dos filmes de super-herói em diversas mídias, trazendo
informações técnicas sobre eles e suas sinopses. Neste mesmo aspecto de
“catalogação” de filmes, havia o livro “Comic book movies” do escritor americano
David Hughes que trata de forma mais profunda dos aspectos técnicos,
desenvolvimento do projeto, produção, curiosidades e entrevistas com alguns
realizadores de filmes de super-heróis que foram adaptados das histórias em
quadrinhos e, novamente, não tratando exclusivamente de super-heróis nos
cinemas.
Os escritores americanos, citados anteriormente, Robert Weinberg e Lois
Gresh tratam, no livro “A ciência dos super-heróis”, de explicar se, e como os
superpoderes dos super-heróis seriam na realidade, analisando os personagens
super-heroicos em diversas mídias. Outra obra, do escritor e quadrinista americano
Christopher Knowles, intitulada “Nossos deuses são super-heróis: a história secreta
dos super-heróis das revistas em quadrinhos”, como o próprio título esclarece, trata
da relação entre a mitologia e os personagens super-heroicos das histórias em
quadrinhos.
De qualquer forma, chegar a este ponto foi importante, por dois motivos: em
primeiro lugar, perceber que o “desenho” do tema principal da dissertação estava
quase formado, ou seja, havia um campo aberto para pesquisar os filmes de super-
15
heróis nos cinemas de Hollywood; em segundo lugar, que havia certa falta de
direcionamento sobre o assunto, pois até o momento, não fora descoberto um
teórico ou um livro que tratasse exclusivamente sobre filmes de super-herói no
cinema hollywoodiano independentemente se estes tiveram sua origem nos
quadrinhos ou não.
Apesar disto, estas obras me proporcionaram a condição de delimitar conceitos
que julgava importante, reunindo informações e formatando os aspectos que os
teóricos percebiam na composição de um personagem super-heroico e o que
frequentemente ocorria em suas tramas.
A partir daí, iniciei uma definição mais precisa sobre o que faria um
personagem ser considerado super-herói, pois poderia agora cruzar os dados dos
teóricos com as análises dos filmes de super-heróis definidos anteriormente. E,
dentro desta discussão, Joseph Loeb e Tom Morris3 tiveram importante influência
neste trabalho, pois foi a partir de suas ideias em demonstrar aspectos fundamentais
de um personagem super-heroico que poderemos debater o que é um superpoder,
suas origens, qual sua função na vida do protagonista e dentro da trama.
Observaremos se, de fato, os super-heróis, além dos superpoderes, têm
fraquezas; como e por que elas ocorrem, se estas são secretas ou alguns
personagens da trama sabem e utilizam esta informação para combater o super-
herói ou mesmo protegê-lo de um ataque ao seu ponto mais vulnerável.
Verificaremos quais as diferenças entre um super-herói e personagens como:
superpoderoso; herói; vilão; supervilão; vigilante ou super vigilante. Além destes
personagens que podem aparecer nas tramas de super-heróis, verificaremos quais
as relações e suas conseqüências na vida do personagem principal e na trama de
forma geral.
Discorreremos sobre o visual do super-herói, sua importância e função para o
personagem e para a trama, baseados não somente nas informações dos teóricos
sobre o assunto, mas fundamentalmente nas observações e análises fílmicas
descrevendo cenas que possam esclarecer seu uso e funcionalidade na história.
3 LOEB, Joseph; MORRIS, Tom. Heróis e Super-heróis. In: IRWIN, William (coord.); MORRIS, Matt; MORRIS, Tom (coletânea). Super-heróis e a Filosofia. São Paulo: Madras Editora, 2006, pp. 23–32.
16
Analisaremos de que forma os super-heróis, em suas atitudes e/ou discursos,
seguem um código de conduta e quais regras são necessárias para que estes
comportamentos legitimem ou não suas ações perante a sociedade que os cercam.
Outro aspecto a ser discutido será a forma com que um personagem se
descobre um super-herói. Quais são suas motivações, quais foram os
acontecimentos que os levaram a decidir ser um super-herói ou mesmo, de acordo
com Joseph Campbell4, como este protagonista pode ser “jogado” em uma situação
que modifica sua vida e o faz decidir tornar-se um super-herói.
Além destas questões, que foram necessárias serem respondidas e definidas a
respeito dos elementos fundamentais que compõe um personagem super-heroico,
um outro aspecto a ser observado e questionado tomou forma e ganhou força
durante esta dissertação, ou seja, fez-se necessário saber se, os filmes de super-
heróis continham elementos comuns e sólidos para que se abrisse uma discussão
sobre uma nova categoria de gênero cinematográfico chamado “super-heróis”.5
Aprofundei os estudos em relação ao que teóricos refletiam sobre os elementos
fundamentais que compõem um gênero cinematográfico relacionando estas
reflexões ao que fora observado nos filmes. Partindo das ideias do teórico francês
Jacques Aumont6 que nos explica que, “as famosas “leis do gênero” só são válidas
dentro de um gênero e devem-se apenas ao peso do verossímil em vigor no
conjunto dos filmes realizados que pertencem a esse gênero”, pude estabelecer se
há nos filmes de super-heróis estas “leis” que servem ou podem ter servido de base
aos filmes espelhando-se no que fora produzido anteriormente. Seguindo este
raciocínio pude absorver as ideias do historiador e crítico de cinema inglês Ronald
Bergan7 que nos explica:
“Quando um filme é rotulado como faroeste, musical ou comédia romântica, isso cria no público expectativas em relação ao gênero ou tipo de filme que verá. Ainda que alguns aspectos variem dentro de
4 CAMPBELL, Joseph. Coleção o poder do mito – jornadas, edição especial. [DVD]. São Paulo: Log On Editora Multimídia, 2009. 4 DVDs, 474 m. 5 Incluindo-se neste “novo gênero” os filmes que foram retirados das análises mais aprofundadas para esta dissertação. Estas obras podem ser conferidas no final deste trabalho em Anexos: Filmografia geral. 6 AUMONT, Jacques e outros. A Estética do Filme – Cinema e Narração. Campinas: Papirus Editora, 2002, p. 147. 7BERGAN, Ronald. Guia Ilustrado Zahar Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2009, p. 115.
17
cada categoria, eles têm padrões reconhecíveis em termos de tema, época, ambientação e trama, além da iconografia e os tipos de personagens retratados. (...) além de servir de modelo para os roteiristas”
Diante destas informações, verifiquei os principais aspectos necessários para
analisar os filmes como um suposto “novo gênero cinematográfico”. Foi necessário,
como primeiro passo identificar quais formatos narrativos os filmes de super-heróis
se utilizam a fim de transmitir suas histórias aos espectadores. Além disto, verificar
se haviam aspectos que influenciam a forma de se contar estas histórias, sejam eles
estéticos por meio de efeitos visuais, ou mesmo, como forma de incrementar a trama
e transmitir maior verossimilhança e organicidade nas cenas dos filmes.
Após estas análises, houve a necessidade de comparar e confrontar os filmes
de super-herói, como um novo gênero, e pelo menos um filme correspondente aos
seguintes gêneros consagrados e/ou estabelecidos na indústria cinematográfica ou
literatura como: ação, aventura, ficção científica e “adaptações de histórias em
quadrinhos”8, pois estes foram os principais e mais representativos gêneros
encontrados nas qualificações dos filmes de super-heróis.
Estas comparações se fizeram fundamentais, pois em grande parcela dos
filmes foi observado a classificação de dois ou mais gêneros para uma mesma obra,
fortalecendo a ideia de que o gênero super-herói poderia ser mais consistente até o
presente momento. E serviu também, para que pudesse observar e discorrer sobre
os aspectos que fazem ser os filmes tratados aqui classificados destas formas bem
como, possíveis aspectos que podem fazê-los distantes destes gêneros
estabelecidos em todo o mundo.
Outra questão surgida foi o fato de os filmes de super-herói terem seu início,
nos cinemas, como curtas metragens (cerca de vinte minutos em média). Estas
tramas compunham um formato seriado que contavam em cada episódio,
apresentado semanalmente, um trecho de uma história maior que seria concluída
em cerca de dez episódios no total. Além disso, havia o fato de as histórias de
super-herói terem surgido nos quadrinhos e estes também se utilizavam da forma
seriada para compor toda a trama. Tendo em vista estas análises, pude observar e
8 Este termo pode ser observado no livro, citado anteriormente, “Comic Book Movies” e, também, no link: <http://boxofficemojo.com/genres/chart/?id=comicbookadaptation.htm>.
18
verificar se, os filmes de super-herói, principalmente a partir de 1999, carregavam
consigo esta herança de suas origens cinematográficas e das HQ´s.
Pude debater e discutir trazendo os ensinamentos de Umberto Eco e Arlindo
Machado sobre quais elementos da forma seriada os filmes de super-herói utilizam
agregando as reflexões de Renata Pallottini sobre o mesmo tema pude verificar se,
nas obras analisadas existem elementos que fazem com que a história seja
prolongada tornando um filme que, a princípio, parecia ser uma história fechada, ou
seja, com começo, meio e fim, em algo maior e mais amplo fornecendo
circunstâncias na trama que possibilitem a continuação do filme anterior.
19
Capítulo 1. Os super-heróis de Hollywood e suas rel ações
1.1. O que é um super-herói?
Considerando os filmes selecionados para esta dissertação extraímos os
elementos constantes e fundamentais que caracterizam, sem exceção9, os super-
heróis. Estes pontos de composição de personagens super-heroicos serão utilizados
para conceituar e diferenciar um super-herói de um herói, um superpoderoso, um
(super) vigilante ou um supervilão.
Observamos que, qualquer personagem super-heroico possui as seguintes
características: I) superpoderes; II) ato(s) heroico(s); III) fantasia, disfarce, uniforme,
vestimenta de identificação, entre outros; IV) código de conduta, ou seja, não matar,
não auferir renda e/ou obter vantagem financeira com seus atos heroicos e
preocupação com a sociedade que o cerca. Sendo assim, descreveremos e
analisaremos, nos itens a seguir, como cada um destes elementos ocorrem.
1.1.1. O que são superpoderes?
A palavra super-herói traz consigo um elemento indissociável do personagem,
ou seja, além deste realizar ato(s) heroico(s), tem consigo um poder sobre-humano,
algo além do que um humano poderia atingir ainda que com a utilização de uma
vantagem que potencialize suas habilidades.
Teremos de pensar, primeiramente, que os superpoderes observados nos
filmes analisados e escolhidos nesta dissertação, não necessariamente são
exclusivos dos super-heróis. O personagem que se torna “super”, na maioria das
vezes, não tem nada de especial e não foi escolhido “a dedo” para que o poder
recaísse sobre ele, a fim de tornar-se um defensor dos fracos e oprimidos. Em
9 Ao utilizarmos a expressão “sem exceção” nos referimos à questão de que todos os personagens dos filmes de super-heróis, inclusive os anteriores ao ano de 1999 contém estes seis elementos. Ou seja, se por ventura um destes itens não fizer parte de suas características ao mesmo tempo, o personagem não pode ser considerado um super-herói.
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muitos casos10, o protagonista torna-se superpoderoso por acidente. A partir daí,
escolhe quais caminhos terá de tomar, e o que terá de abdicar, em relação à sua
vida. O superpoder, nos filmes, é um fator essencial de transformação dos
personagens diferenciando-os dos outros, como um todo, tornando-os super-heróis
ou supervilões.
Os superpoderes têm origens variadas e quem os adquire obtém um poder que
nenhum humano comum jamais alcançaria. E, na trama, mesmo se uma pessoa
comum alcançasse, não saberia utilizá-lo de forma adequada, como o super-herói o
faz. O que ocorre é que esta vantagem, nas mãos de quem escolhe ser um super-
herói, sempre garante a vitória ao protagonista. Mesmo se, seu oponente tiver um
superpoder idêntico, ou superior, o bem vencerá o mal.
Notaremos a seguir que os filmes de super-heróis terão grande preocupação
em detalhar e/ou esclarecer ao espectador as origens dos superpoderes de seus
protagonistas fazendo com que, fatos pouco prováveis, ou mesmo impossíveis,
transmitam ao público uma idéia de que o que é apresentado seja plausível ou
aceitável dentro da trama.
A respeito desta necessidade de respaldo crível em relação aos superpoderes,
nos explica Lois Gresh e Robert Weinberg:
(...) as origens e os poderes da maioria dos mais importantes super-heróis dos gibis estão profundamente enraizados na ficção científica. Como a maioria da boa ficção-científica, as primeiras histórias dos super-heróis usavam descobertas e avanços científicos básicos (...). As origens de personagem como Super-Homem, Flash, Homem-Aranha, Hulk e muitas outras criações dos quadrinhos foram todas baseadas em fatos científicos (...). Muitos escritores e editores do campo das revistas em quadrinhos tinham fortes laços com a ficção científica, e muitos eram fãs do gênero bem antes de começarem a trabalhar para editoras de gibis. (GRESH; WEINBERG: 2005, p. 169).
E, tratando de origens, fica claro que o cinema transporta a essência das
tramas da ficção científica nas histórias levadas aos cinemas de Hollywood
fornecendo, também, uma grande diversidade de superpoderes. Isto se deve porque
grande parte dos filmes aqui tratados foram adaptados das histórias em quadrinhos
10 Homem-Aranha; Hulk; Mulher-Gato, entre outros.
21
de super-heróis e, estas, importaram diversos elementos dos livros de ficção
científica.
Por conta disto, dividimos os filmes em quatro grupos, de acordo com as
origens dos superpoderes dos super-heróis: a) nascem com esta vantagem e a
dominam por completo ou aprendem a lidar com o superpoder, de forma natural, à
medida que se desenvolvem; b) nascem com o superpoder e aperfeiçoarão suas
aptidões com treinamentos em escolas ou em grupos de superpoderosos; c)
superpoderes adquiridos acidentalmente ou por descoberta científica; d) pessoas
comuns ensinadas a utilizar poderes sobre-humanos oriundos de uma espécie de
força extraída de si mesmo ou do próprio meio-ambiente.
Grupo A
Os superpoderosos do grupo “a” são aqueles que, ao aparecerem na história,
como heróis, já utilizam seu(s) superpoder(es) de forma certeira e natural sem
cometer erros ou falta de domínio, atingindo o objetivo e o resultado imaginado pelo
personagem quando age como super-herói.
Em Superman – O Retorno, nos é mostrado, por uma lembrança de Clark Kent/
Super-Homem (Brandon Routh), a forma como ele foi descobrindo seus
superpoderes à medida que crescia, como correr a uma velocidade sobre-humana,
dar grandes saltos e flutuar. Porém, além de ser apenas uma “lembrança”, ao
cometer seus atos heróicos, ele, Super-homem já domina plenamente seus
superpoderes.
Nos é informado, também, que seus superpoderes são alimentados pela
energia solar. Super-homem pode voar a uma velocidade próxima à da luz; tem
força sobre-humana; não sofre nenhuma alteração física fora do planeta Terra. Tem
visão raio-X, super audição, seu corpo inteiro é à prova de balas e fogo; de seus
olhos saem uma espécie de raio laser com alto poder de destruição; seu sopro, além
de ser forte, pode congelar e resfriar o que estiver à sua frente por grandes
distâncias.
X-Men – Origens: Wolverine. O personagem Wolverine (Hugh Jackman)
descobre ainda criança que é um mutante, pois saem de cada uma de suas mãos
três ossos pontiagudos e, seu corpo, tem um alto poder regenerativo e, por conta
disto, atingiu uma idade física que não será alterada. Por conta destas qualidades de
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mutante, o exército americano realiza uma operação introduzindo em seus ossos um
composto chamado adamantium (mistura de metais e um elemento vindo do espaço
que o torna mais resistente que qualquer outro material existente na Terra). A super-
heróina Kayla hipnotiza quem encostar. Sua irmã Emma, tem o poder de modificar
sua pele transformando-a em pequenos diamantes e tornando-se resistente a tiros.
O super-herói Gombit, ao encostar em objetos, consegue transmitir alto poder de
impacto transformando cartas de baralho ou uma vara em poderosas armas. Estes
últimos três não têm suas origens esclarecidas no filme, mas sabemos que seus
superpoderes ocorrem por conta de serem mutantes.
Pudemos observar que, tanto Super-homem quanto Wolverine têm seus
superpoderes originados, alimentados ou ampliados, por elementos vindos do
espaço, como o Sol ou um composto extraterrestre, como se, a única esperança
possível de salvação da humanidade somente ocorreria oriunda de um lugar distante
do qual vivemos.
Grupo B
No segundo grupo, denominado “b”, reunimos os super-heróis que nasceram
com, ou desenvolveram, alguma espécie de superpoder de forma natural
aperfeiçoando-os com treinamentos realizados em grupos de superpoderosos ou
mesmo sozinhos, a fim de dominarem e saberem utilizar melhor suas aptidões11.
X-Men: O Filme, diz respeito a um grupo de mutantes comandados e educados
pelo professor Xavier (Patrick Stewart) em sua Escola de Mutantes. Sabemos que, a
personagem Vampira (Anna Paquin) descobriu, quando adolescente, que ao
encostar em alguém, este sofreria uma espécie de paralisia podendo levá-lo à morte.
Também nos é informado por sonhos do personagem Wolverine que este sofreu
algum tipo de operação traumática, mas esta informação nos é mostrada por cenas
muito rápidas em que não podemos identificar ao certo a origem de seus
superpoderes12.
Professor Xavier é telepata e tem o poder de comandar outras pessoas por
meio do pensamento. Dra. Jean Grey (Famke Jensen), tem poderes telepáticos e
11 Vale lembrar que, o personagem Wolverine do item “a” refere-se ao filme referente às suas origens - X-Men: Origens: Wolverine. 12 Trago neste grupo, novamente, o personagem Wolverine, pois neste filme (X-Men) ele não domina por completo seus superpoderes, utilizando-os, no início da trama, apenas para ganhar dinheiro como lutador em lugares clandestinos.
23
telecinéticos. Ciclope (James Marsden) dispara raios de alta intensidade e alto poder
destrutivo a partir de seus olhos que são controlados por uma espécie de óculos.
Tempestade (Halle Berry) é capaz de controlar ações climáticas do meio ambiente
em que está.
Em X-Men 2, além dos super-heróis descritos no primeiro filme, X-Men, outros
entraram na trama. São eles: Noturno (Alan Cumming), tem poder de se
teletransportar e estender seu dom a quem estiver em contato físico com ele.
Também nos é revelado outro superpoder de Prof. Xavier, capacidade de deixar as
pessoas ao seu redor imóveis e, ao mesmo tempo, estas não percebem que foram
paralisadas.
No terceiro filme, chamado X-Men - O Confronto Final, todos os personagens
do filme anterior, com exceção de Noturno, estão nesta trama e têm os mesmos
superpoderes descritos anteriormente. Únicas exceções são Tempestade que, além
de seus superpoderes anteriores pode voar e Jean Grey que tem seu superpoder
telecinético potencializado de forma quase ilimitada. Os novos super-heróis que
entraram nesta história são: Colossus (Daniel Cudmore), força sobre-humana e sua
pele se transforma em metal. Esta mudança pode se estender a quem ele encostar e
cria uma proteção contra tiros. Bobby ou Homem de Gelo (Shawn Ashmore), apesar
de fazer parte da escola de Mutantes e participar dos dois filmes anteriores aparece
pela primeira vez como super-herói e tem o superpoder de congelar objetos e
pessoas ao seu redor, água e até mesmo o ar produzindo paredes de gelo. Kitty
(Katie Stuart) tem o poder de desmaterializar-se e teletransportar-se. É capaz de, ao
encostar em outra pessoa, fazer com que seus poderes se estendam a esta. Fera ou
Dr. Henry ‘Hank’ McCoy (Kelsey Grammer), tem agilidade e força sobre-humana.
Anjo (Bem Foster) com asas gigantes tem o poder de voar como um pássaro.
Em Corpo Fechado, David Dunn (Bruce Willis) descobre ter uma força física
acima da média, após sair ileso de um acidente de trem em que somente ele
sobrevive. Além disto, descobre ter o dom de obter visões sobre o passado das
pessoas, ao encostá-las.
Hancock, o super-herói homônimo (Will Smith) tem diversos superpoderes
como, não envelhecer, regeneração de seu corpo, voar em alta velocidade, força
sobre-humana, resistência a tiros, super velocidade e poder de ficar fora da Terra
sem nenhum dano ao seu estado físico. É explicado na trama que seres como ele
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foram “feitos” em pares e, estes se atraem se, por ventura, se separarem.
Dependendo da cultura e da época foram considerados deuses ou anjos. Hoje, são
chamados de super-heróis.
Grupo C
O terceiro grupo, denominado “c”, diz respeito a seres comuns que por um
acaso da “vida”, ou da ciência, evoluíram e deixaram a condição anterior e se
descobriram com aptidões que um ser humano dificilmente experimentaria.
Dentro deste grupo, observamos dois aspectos interessantes. O primeiro, diz
respeito a seres humanos que adquirem características de animais, como nos filmes
Homem-Aranha, Mulher-Gato e Hulk. E, o segundo, os superpoderes têm
características semelhantes a “objetos” como radar, elástico, pedra, vidro, entre
outros. São eles: Demolidor, Quarteto Fantástico e Quarteto Fantástico E O Surfista
Prateado.
O primeiro filme do grupo “c” é Homem-Aranha. Peter Parker (Tobey Maguire)
é o protagonista que se transformará em Homem-Aranha após ser picado por uma
aranha geneticamente modificada. A origem de seu superpoder surgiu a partir do
momento em que, o Centro de Pesquisa Genética do Departamento de Ciências da
Universidade de Columbia mapeou, por cinco anos, o DNA de diversas aranhas.
Após isto, utilizaram um RNA sintético para criar um novo genoma que combina os
dados genéticos de três aranhas em quinze super-aranhas geneticamente
modificadas. E, foi uma destas aranhas que picou o protagonista ocasionando uma
espécie de evolução nos genes de Peter Parker. Como conseqüência, seu corpo
sofreu modificações que lhe deram características de uma aranha, como grandes
saltos, produção e lançamento de fios de aranha podendo saltar de prédio em prédio
com extrema agilidade; capacidade de construir teias gigantes; impulso que o
possibilita dar grandes saltos; poder de subir e escalar paredes e agarrar objetos
sem auxílio de equipamentos; super audição; agilidade e reflexo sobre-humanos
aproximando-se de um sentido de pré-cognição do perigo iminente.
Em sua continuação, no filme Homem-Aranha 2, além dos superpoderes da
trama anterior, o super-herói e suas teias estão mais fortes e resistentes, pois foi
observado em uma sequência desta história o super-herói parando um trem em
25
movimento apenas com a força de seus braços presos por alguns fios de sua teia
que estavam presas a alguns prédios que estavam ao redor do trilho do trem.
No último dos filmes, Homem-Aranha 3, surge um supervilão que, durante a
trama, transforma-se em super-herói. Seu nome é Duende Verde (James Franco) e
tem um equipamento que se assemelha a um skate, sem rodas, capaz de voar,
lançar mísseis, lança-chamas de grande potência e alcance; lança-esferas com
ganchos que, ao mesmo tempo, são bombas. Sua armadura é à prova de grandes
impactos e quedas suportando explosões de suas próprias bombas.
Em Demolidor, o super-herói homônimo (Ben Affleck) sofre, ainda criança, um
acidente que ocasionou queimaduras em seus olhos e deixando-o cego. Porém,
ainda no hospital, percebeu que seus sentidos auditivos se expandiram de forma
sobre-humana proporcionando, a ele, uma espécie de visão das formas e
movimentos dos objetos ao seu redor ocasionados pela repercussão do som.
No filme Hulk, o cientista David Banner (Paul Kersey), pai do protagonista,
desenvolveu um experimento e reuniu as seguintes características e conclusões:
água-viva (sistema imunológico e bioluminescência verde); migração induzida/base
genética para regeneração; endurecimento de tecido como mecanismo de defesa;
neutralização e resistência à toxinas, espécie-chave: lagarto. A partir daí, Banner
pai, criou um sistema imune reforçando a resposta celular e introduziu-a nele
mesmo. Algum tempo depois percebeu sinais de modificação genética em suas
células. Quando Bruce Banner era bebê e chorava muito (ou ficava irritado), o pai
percebeu que houve transmissão genética de seu experimento ao filho, pois, por
vezes, algumas manchas esverdeadas apareciam na pele do bebê e depois sumiam
quando este se acalmava. Bruce Banner cresceu, formou-se cientista e, ao tentar
consertar um problema em uma máquina de pesquisa de regeneração humana, ela
saiu de controle liberando nanomeds introduzindo com eficácia os efeitos
regenerativos auxiliado pela radiação gama “libertando o Hulk que havia dentro dele”
transmitido por seu pai, geneticamente.
E este “Hulk”13 surge quando o nível de estresse de Bruce alcança um patamar
elevado, fazendo-o crescer em altura, ter aumento considerável de massa muscular
e ganho de força física descomunal. Sua pele fica esverdeada, adquire o poder de
13 Em inglês, o termo hulk tem o significado de pessoa grande e pesada ou brutamontes.
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realizar saltos a longas distâncias e grandes alturas. Além de, ao ser atingido por
tiros, seu tamanho aumenta levemente absorvendo a energia das balas.
Na trama seguinte, O Incrível Hulk, o protagonista (Edward Norton) detém os
mesmos superpoderes do filme anterior, como agilidade e força sobre-humanas, e é
capaz de arremessar um tanque de guerra com as próprias mãos. Resistente ao
fogo, balas de metralhadora, tiros de canhão e a grandes impactos.
Em Mulher-Gato, a protagonista homônima (Halle Berry) sofre um acidente e
morre. Após um “sopro mágico” de um gato chamado Midnight, ela ressuscita e
adquire habilidades sobre-humanas, como super agilidade e super velocidade. Tem
o poder de subir e movimentar-se pelas paredes sem auxílio de equipamentos.
Capaz de realizar saltos a grandes distâncias; passar entre as grades de uma cela
de uma prisão de forma parecida a de um gato; audição, visão e olfatos aguçados e
reflexos instintivos sobre-humanos.
Quarteto Fantástico. Um acidente espacial, causado por uma nuvem cósmica
de ventos solares, atingiu Reed Richards (Ioan Gruffurd), Sue (Jessica Alba) e
Johnny Storm (Chris Evans) e Ben Grimm (Michael Chiklis) causando mudanças em
suas estruturas genéticas e fornecendo a eles capacidades sobre-humanas. Johnny
Storm/Tocha Humana emana fogo de seu corpo, tomando-o por completo, sem
sofrer nenhuma lesão, capacitando-o a lançar chamas e voar. Sue Storm/Mulher
Invisível torna-se invisível e produz um campo-de-força capaz de não permitir a
entrada ou saída de qualquer elemento dele, suportando, inclusive, altas
temperaturas. Reed Richards/Homem-Elástico tem o poder de esticar qualquer parte
de seu corpo a grandes distâncias e adentrar em um ambiente por pequenas frestas,
por conta da elasticidade de seu corpo. Pelo fato de ser elástico tem força para
imobilizar ou segurar pessoas e objetos fortes e/ou pesados. Ben Grimm/Coisa tem
aspecto de pedra e força sobre-humana podendo parar uma carreta com seu corpo
ou segurar um caminhão de bombeiros com as mãos.
No filme seguinte, Quarteto-Fantástico E O Surfista Prateado, após contato de
Tocha-Humana com o Surfista Prateado, o primeiro adquire o poder de trocar seu
superpoder com outro do grupo, ao encostar em qualquer um deles. E, neste filme,
surge um novo super-herói chamado Surfista Prateado (Doug Jones – corpo e
Lawrence Fishburn – voz) que tem o poder de converter matéria em energia e emitir
27
energia cósmica afetando qualquer matéria à sua volta ao estar em contato com sua
prancha.
Grupo D
A última divisão de grupo de superpoderes, nomeada “d”, diz respeito a
pessoas comuns que não nasceram com superpoderes ou não sofreram algum
acidente que despertasse esta vantagem, mas decidiram, por vontade própria, fazer
o bem e defender pessoas ou uma sociedade necessitada e desamparada. E, para
isto, buscaram conhecimento e foram ensinadas a construírem e/ou descobrirem
superpoderes, emanados de sua mente, seja pela astúcia, seja pela dedicação e
concentração que os transformassem em super-heróis, pois adquiriram vantagens
que um ser humano comum jamais atingiria.
A começar pelo filme Matrix, o superpoder ocorre a partir do momento em que
o protagonista Neo (Keanu Reeves) é apresentado a um mundo virtual, que ele
acreditava ser real. À medida que ele absorve técnicas de luta e compreende o
mundo que o cerca consegue desenvolver movimentos cada vez mais rápidos
quebrando as regras do programa da Matrix e executando movimentos além das
programadas pelo sistema. Ele torna-se apto a desviar de balas, pular a grandes
alturas e distâncias, obtém uma força sobre humana, como segurar um helicóptero
com as mãos e penetrar seu corpo dentro do corpo de outra “pessoa” e, no final do
filme, descobrimos que ele também é capaz de parar balas de revólver com o
pensamento e pode voar. Apesar disto, estes superpoderes só são obtidos quando
Neo entra na Matrix, ou seja, no mundo em que vivemos, mas um mundo artificial
controlado por máquinas.
Outros dois personagens podem ser vistos utilizando-se dos superpoderes na
Matrix. Da mesma forma que ocorre com Neo, Trinity (Carrie-Anne Moss) e Morfeu
(Lawrence Fishburne) adquirem poderes sobre-humanos ao entrarem no mundo
virtual. Trinity pula a grandes distâncias e tem uma velocidade ultra-rápida e
consegue, por conta do impulso, “voar” por alguns metros. Morfeu, além de extrema
habilidade em lutas, obtém uma força física e mental fora do comum conseguindo
limitar o efeito de drogas aplicados em seu corpo livrando-se deles em pouco tempo.
Em Matrix Reloaded, continuação do filme Matrix, os mesmos super-heróis do
filme anterior continuam com os mesmos superpoderes da história anterior.
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E, em Matrix Revolutions, último filme desta trama, não aparecem novos
personagens superpoderosos. Porém, Neo adquire superpoderes no mundo real,
como poder visualizar, com os olhos queimados (algo semelhante com o que ocorre
com o super-herói Demolidor), o Agente Smith (Hugo Weaving) e onde as máquinas
estão e adquire o poder de destruir sentinelas com o pensamento conquistado ao
alcançar “a força”, algo que nenhum humano conseguiria até então.
Matrix e Matrix Reloaded são exemplos incomuns de ocorrência de
superpoder, pois a rigor, ele funciona somente em um mundo fictício. Porém, sua
utilização tem conseqüências no mundo real, pois sabemos pela história que se um
personagem morrer no mundo virtual (Matrix) este também morrerá no mundo real,
pois, “a mente não se separa do corpo”. Em contrapartida, como descrito
anteriormente, Neo torna-se superpoderoso também no mundo real.
No filme Elektra, a super-heroína homônima (Jennifer Garner) tem o dom da
premonição e é capaz de ressuscitar uma pessoa. Estes superpoderes surgiram de
um treinamento chamado Kimagure que possibilita a seus mestres o poder de prever
cenas futuras e reviver os mortos controlando o tempo, a vida e a morte.
Em Batman Begins, o protagonista Batman/Bruce Wayne (Christian Bale)
utiliza-se de diversos artifícios potentes para que, em conjunto, transformem-no em
um personagem superpoderoso capaz de ser imbatível ao enfrentar seus oponentes
em batalhas decisivas. E, estes elementos que trabalham em conjunto e fazem do
personagem um superpoderoso são: habilidade de aparecer e desaparecer de um
ambiente sem ser notado; arreios de kevlar; arpéu magnético movido a combustível
com mono filamento que suporta um peso de até 160 kg; traje protetor para
infantaria avançada com material duplo de kevlar com juntas reforçadas, resistente a
cortes, tiros indiretos e a fogo, no valor de US$ 300.000 (trezentos mil dólares) por
unidade; capa produzida com um tecido de memória regularmente flexível e com
corrente elétrica fazendo as moléculas se realinharem e assumindo a forma de
qualquer estrutura rígida servindo, também, para amortecer quedas e sobrevoar
pequenas distâncias; dispositivo ou espécie de controle que tem a função de atrair
um número considerável de morcegos; mini-explosivos; carro-tanque com
capacidade de esmagar outros carros e lançar mísseis; lâminas nos antebraços
capazes de cortar espada; antenas e fones de ouvido em seu capacete capazes de
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lhe permitir ouvir sons internos, com clareza estando fora do ambiente; aparelho de
visão raio-x.
No filme seguinte, Batman – O Cavaleiro das Trevas, o super-herói nos mostra,
além de alguns poderes anteriores, novidades como, força acima da média, pois é
capaz de dobrar, com uma mão, o cano de um “rifle”; garras que cortam a lataria de
uma van; oxigênio e estabilizadores para saltar de grandes altitudes; lançadores de
explosivos; espécie de anzol criado pela CIA nos anos 1960 para resgatar pessoas
com o avião em movimento; roupa com placas de kevlar endurecidas sobre três
camadas de fibras embebidas em titânio; super moto com metralhadora e lança-
mísseis; capa que permite plainar por entre os prédios a uma distância maior que a
do filme anterior; visão raio-x embutida em seu capacete que desce na frente de
seus olhos como se fossem lentes de óculos.
Batman consegue aliar todos estes equipamentos a seu favor de forma
exclusiva, pois também treinou por anos com mestres de artes marciais e conheceu
o mundo do crime a fundo. E, outro trunfo favorável é o acesso aos aparelhos
utilizados por ele, pois Bruce Wayne é bilionário e pode produzir armas de combate
e defesa exclusivos e de acordo com suas necessidades. De acordo com Loeb e
Morris:
(...) é assim que obtemos nosso conceito de um super-herói. Um super-herói é um herói com poderes sobre-humanos, ou pelo menos habilidades sobre-humanas, que se desenvolveram a um nível super-humano. Isso coloca o Batman e o Arqueiro Verde na briga, onde eles devem estar. (LOEB; MORRIS, 2006, p. 26).
Além disso, poucas pessoas têm acesso aos objetos exclusivos que fazem de
Bruce Wayne/Batman possuir tais poderes sobre-humanos e, mesmo se estas
tivessem à sua disposição estes equipamentos, quantas delas teriam a destreza
necessária para utilizá-los de forma correta, como Bruce Wayne/Batman o faz?
Observamos em Batman Begins e na descrição dos superpoderes de Batman,
as diversas fases da vida do protagonista a respeito de seu treinamento, vida
criminosa e o desenvolvimento de equipamentos que pudessem auxiliá-lo a fim de
combater seus inimigos, de acordo com suas habilidades e necessidades pessoais,
ou seja, os poderes de Batman são exclusivos de Wayne.
Outro aspecto analisado no início de Batman – O Cavaleiro das Trevas, diz
respeito ao despreparo de pessoas que almejam agir como o super-herói. Dois
30
personagens surgem vestidos de homem-morcego, a fim de fazerem justiça com as
próprias mãos, munidos de metralhadora e rifle, em uma cena que ocorre dentro de
um estacionamento em que traficantes de drogas haviam marcado um encontro.
Porém, ao entrarem em confronto com um rottweiler ou com o supervilão, O
Espantalho (Cillian Murphy), os falsos Batman, por não terem a destreza e os
equipamentos do verdadeiro, acabam sucumbindo, ou nas mãos dos malfeitores ou,
até mesmo, por um cachorro. Tanto é que, após Batman prender o supervilão,
alguns traficantes e os dois falsos homens-morcego, um dos impostores pergunta a
Batman porque eles não podem ajudá-lo, ao que Batman responde que ele não
necessita de ajuda. Novamente o falso super-herói pergunta por que eles não
podem agir daquele jeito e qual a diferença entre eles e o verdadeiro. Batman, sem
hesitar e ironizando, responde que, para começar ele não usa almofada de hóquei
como armadura.
Além disto, Batman sempre carrega consigo os aparelhos necessários e
determinantes para derrotar o inimigo, prevendo as formas de ataque, obtendo êxito
em todas as suas batalhas, mesmo que, em alguns confrontos, seja surpreendido.
Porém, de forma astuciosa ele encontra maneiras de derrotar seu mais poderoso
oponente na batalha final.
Como nos explica Morris, esta vantagem de desenvolvimento de poderes a um
nível que um humano comum não alcançaria é fator determinante para
classificarmos o que é um superpoder:
Batman começou a vida como Bruce Wayne, e só depois se tornaria o Cavaleiro das Trevas. No entanto, essa segunda identidade não surgiu a partir de um trágico acidente que, misteriosamente, o despertou com superpoderes, como no caso de tantos super-heróis, mas sim de anos de esforço intencional e dolorosa transformação. Bruce Wayne trabalhou em um nível super-heroico cultivando suas qualidades humanas ao seu ponto máximo. Como resultado, ele se tornou o espécime perfeito, tanto mental quanto fisicamente, com um propósito: manter a promessa feita aos pais de dar o melhor de si para combater o crime à sua volta. Essa missão o consome a ponto de tornar suas atividades e experiências humanas normais mais difíceis, e algumas quase impossíveis. (MORRIS, 2006, p. 248).
Além de atingir qualidades humanas ao ponto máximo, Wayne tornar-se um
“espécime perfeito” não só pelo nível mental e físico que ele atingiu, mas quando
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estes dois aspectos são unidos aos equipamentos ultramodernos e exclusivos que
Bruce tem a seu dispor.
E, isto serve também para o super-herói Homem de Ferro, a ser discutido a
seguir, pois suas habilidades e superpoderes têm origem em suas criações
armamentistas de defesa e ataque tornando-o imbatível em seus confrontos finais.
No filme Homem de Ferro, Tony Stark (Robert Downey Jr.), constrói um mini
reator Ark a fim de gerar energia suficiente para que sua armadura lhe forneça o
potencial de defesa e ataque necessários nos combates por ele enfrentados e
desvie de seu coração estilhaços de metal ocasionados por um ataque terrorista no
Afeganistão. Ao vestir sua armadura, Tony Stark transforma-se no Homem de Ferro.
Ela foi construída para ser à prova de balas e fogo, com capacidade de lançar
chamas de grande alcance, lança mísseis, tem resistência a grandes impactos e
fornece ao super-herói força sobre-humana. Em seu capacete há uma tela que lhe
mostra as principais informações de ataque e defesa de sua armadura, orientando-o
a utilizar-se do maior potencial que “a origem” de seu superpoder pode lhe oferecer.
Assim como poderia ocorrer com o personagem Batman, no que diz respeito a
outras pessoas dificilmente saberem utilizar os aparelhos de combate do super-herói
com destreza, no filme Homem de Ferro, Obadiah Stane (Jeff Bridges) descobre
como montar uma armadura semelhante à criada por Tony Stark e manda sua
equipe construir uma proteção para seu corpo muito maior que a do super-herói.
Ocorre que, por mais próxima que a armadura criada pelo vilão tenha ficado, em
relação à do super-herói, somente Tony Stark conhece todas as vantagens e
desvantagens que seu projeto possui e utiliza-se disto para derrotar seu oponente.
Por mais que a tecnologia do supervilão seja idêntica, ou superior ao do super-herói,
não há garantia de vitória do primeiro.
Como explicado anteriormente, o superpoder não é algo inatingível, intocável e
exclusivo. Porém, esta vantagem é destinada a pouquíssimos personagens da trama
e restrito a um número ínfimo de pessoas que saberiam utilizar-se destes tais
superpoderes “acessíveis”. Geralmente, o superpoder é inatingível para as pessoas
comuns, pois o segredo sobre ele é muito bem guardado, mas também é facilmente
descoberto e frequentemente utilizado por um oponente que quer possuí-lo, a fim de
utilizá-lo em seu próprio benefício.
32
Tanto Bruce Wayne quanto Tony Stark têm algo muito peculiar em comum.
São bilionários e, simplesmente poderiam ignorar a sociedade em que vivem.
Apesar de o terem feito por trauma14 e necessidade15, respectivamente, utilizaram
sua astúcia e fortuna para desenvolver habilidades e superpoderes que os fizessem
imbatíveis, ou próximos disso, frente a seus oponentes. Batman, assim como o
Homem de Ferro, detém e utilizam de forma nobre seus superpoderes, pois eles
escolheram serem super-heróis ao observar e interagir com o mundo ao seu redor e
contribuir em favor da sociedade em que vivem.
No filme, Dragonball – Evolution há dois super-heróis na trama. O primeiro,
Goku, pode movimentar objetos por uma energia que sai de suas mãos. Tem
sensibilidade aos movimentos que ocorrem ao seu redor, como se eles estivessem
em câmera lenta; super velocidade; poder de flutuar; domínio do golpe chamado
Grou Sombrio que libera uma energia impactando a matéria que estiver em sua
direção. Mestre Kame (Roshi), força e velocidade nos movimentos sobre-humanos;
voa; cura pessoas gravemente feridas por meio de energia; poder de evocar o
grande encanto Ma Fu Ba (espécie de golpe do Grou Sombrio de maior potência). A
origem destes dois super-heróis vem de uma energia interior de cada um, intitulado
Ki e é desenvolvida por mestres que dominam esta técnica.
Um Grupo Misto
Deixamos o filme A Liga Extraordinária por último, pois ela é composta por
alguns personagens superpoderosos e cada um deles se encaixa em um dos grupos
acima. Os super-heróis são: Allan Quatermain (Sean Connery), tem o poder de ser
indestrutível, pois um feiticeiro o benzeu dizendo que a África jamais permitiria que
ele morresse. Ocorre que, este personagem “morre” no final da história e é
enterrado, mas há um elemento na cena final que levanta a suspeita de que o
personagem ressuscitará. Rodney Skinner ou Homem Invisível (Tony Curran) tem o
superpoder de ser permanentemente invisível, sendo que para aparecer tem de usar
14 Bruce Wayne viu seus pais serem assassinados, por um ladrão, na saída de uma casa de espetáculos. (Batman Begins). 15 Tony Stark foi aprisionado no Afeganistão, por guerrilheiros, dentro de uma caverna. Após três meses de cárcere, com auxílio de outro prisioneiro, conseguiu construir o primeiro protótipo do que seria a sua armadura e o símbolo maior do Homem de Ferro. Por conta disto, começou a dar mais atenção aos resultados que seus produtos armamentistas produziam em populações distantes a seus olhos.
33
roupa e passar um produto branco em seu rosto. Este superpoder tem sua origem
em um processo criado por um cientista; Mina Harker (Peta Wilson), apesar de ser
uma vampira e poder sugar o sangue da vítima até a morte tem como principais
superpoderes voar, escalar paredes sem a necessidade de equipamentos e
comandar morcegos auxiliando-a em seus atos heroicos; Dr. Henry Jekyll (Jason
Flemyng) ao tomar um elixir aumenta de tamanho, adquire ganho de massa
muscular e, consequentemente, força sobre-humana, transformando-se no
personagem Edward Hyde.
Concluindo os superpoderes
Pudemos observar que as raízes e as origens dos superpoderes estão
baseadas nas histórias de ficção científica e, posteriormente, nos quadrinhos e os
filmes de super-heróis utilizam-se destas fontes buscando aprimorar e atualizar
estas histórias, tendo como principal aliado as imagens em movimento.
Percebemos neste primeiro quesito de que forma os superpoderes ocorrem em
cada um dos super-heróis dos filmes aqui analisados e a quais grupos cada um
deles pertencem, tendo em vista que, uma parcela não nasceu com um superpoder
ou mesmo não o adquiriu tendo de, por sua força de vontade, buscar uma vantagem
por meio de treinamentos e desenvolvimento de algumas vantagens que pudessem
ser utilizadas no combate ao mal.
1.1.2. O que é ato heroico?
Os atos heroicos combinam diversos fatores. E, alguns deles são fundamentais
e constantes em todos os personagens para que possamos compreender de que
forma os super-heróis agem em suas histórias.
Eles salvam pessoas de um perigo iminente ou que já estão em situação
adversa arriscando sua própria vida a favor destas. É comum, também, o super-
herói arriscar-se por conta de um bem ou uma preocupação coletiva, como uma
cidade, um país, o planeta Terra e, por vezes até o universo. Estes atos de bravura e
a escolha de uma vida repleta de riscos em favorecimento do bem-estar da
sociedade que os cercam fazem destes personagens serem considerados grandes
heróis.
34
A grande diferença entre um herói comum e um super-herói está na utilização
de seus superpoderes em seus atos de heroísmo. Um herói, normalmente, arrisca-
se pelo benefício de outro em condições humanamente próximas a de qualquer ser
humano. Porém, um super-herói tem a vantagem de, ao adquirir um superpoder,
arriscar-se mais e poder realizar uma maior quantidade de atos heroicos que um ser
humano comum.
Outro aspecto que pudemos perceber é que o super-herói, à medida que seu
poder aumenta, seus desafios tornam-se maiores, tornando-se compatíveis com
seus superpoderes e dificultando a realização e conclusão de seus atos
(super)heroicos.
Joseph Campbell, em entrevista a Peter Donat16, esclarece que, apesar desta
carga ser aumentada, de acordo com o superpoder do super-herói, o protagonista
está preparado para a realização e conclusão de forma positiva dos atos heroicos
somando-se, também, à conveniência do meio ambiente em que o protagonista está,
favorecendo e auxiliando-o em relação aos percalços que surgem à medida que ele
os enfrenta; resolvendo os problemas, prontamente, de acordo com suas
habilidades.
De acordo com suas decisões em tornarem-se heróis e colaboradores do meio
em que vivem e baseado nas explicações de Campbell podemos definir que há dois
tipos de heróis: a) os que são “jogados” em uma situação e decidem realizar o bem;
b) os que escolhem serem heróis.
Esta divisão também está diretamente conectada ao surgimento dos
superpoderes descritos anteriormente. Da mesma forma que, alguns super-heróis
desenvolveram técnicas que lhes conferissem um ou alguns superpoderes, outros os
adquiriram de forma involuntária e não ignoraram esta mudança e, tampouco, as
utilizaram em benefício próprio prejudicando outrem.
Tipo A – Heróis por contexto
O tipo “a” refere-se a um grupo de personagens que até o momento da
aquisição de um superpoder não imaginaria sobrepor à sua vida cotidiana outra que
lhe ocupasse a maior parcela de seu tempo em benefício de uma pessoa ou uma
16 CAMPBELL, Joseph. Coleção O Poder do Mito – Jornadas, Edição Especial. [DVD]. São Paulo: Log On Editora Multimídia, 2009. 4 DVDs, 474 m. DISCO 1 – A SAGA DO HERÓI – PARTE 1.
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comunidade. São eles: Homem-Aranha, Hulk, Alan Quatermain, Hyde, Skinner,
Mina, Mulher-Gato, O Coisa, Tocha Humana, Mulher Invisível, Homem Elástico e
Surfista Prateado.
No filme Quarteto Fantástico, o super-herói Coisa está em uma ponte
lamentando-se pela transformação ocorrida em seu corpo e pela rejeição de sua
mulher por conta de sua nova aparência. Ao observar que um rapaz irá se atirar da
ponte, o super-herói tenta convencê-lo a não fazê-lo. Ao se deparar com aquela
criatura estranha, o rapaz recua assustado e caminha em direção à via de rodagem.
O Coisa tenta convencê-lo a voltar, pois é muito perigoso caminhar sobre uma fina
estrutura de metal onde carros passam por baixo. O rapaz se desequilibra e cai.
Carros desviam, mas um caminhão vem em sua direção. Ao ver que o veículo não
terá espaço para frear sem atingir o rapaz, Coisa se posta em frente ao caminhão
fazendo-o bater em seu corpo, parando-o. O rapaz é salvo, porém ocorre um
enorme engavetamento na pista. Tocha Humana, Mulher Invisível e Homem Elástico
aparecem, pois estavam em um taxi à procura de Ben (O Coisa), a poucos metros
do acidente. Ocorre uma explosão. Tocha Humana avista uma menina prestes a ser
atingida pelo fogo e abraça-a protegendo-a das chamas. Com o impacto da
explosão um caminhão de bombeiros que se dirigia ao acidente derrapa e parte dele
fica fora da ponte correndo sério risco de cair. Outra explosão ocorre e Mulher
Invisível contêm o fogo e os objetos que se deslocariam criando um campo de força
com as mãos. O Coisa segura o caminhão a fim de salvar os bombeiros e, quando
um deles se solta o Homem Elástico agarra-o esticando seu corpo. O Coisa traz o
caminhão de volta à ponte salvando o restante dos ocupantes. Os quatro são
ovacionados e, no noticiário, são intitulados de Quarteto Fantástico.
Até este momento nenhum dos super-heróis pensavam em realizar atos
heroicos, com ou sem a ajuda de seus superpoderes. Pensavam apenas descobrir a
cura para àquelas modificações genéticas ocorridas no espaço. Além do mais, os
atos relatados sobre a sequência do filme foram realizados de forma intuitiva e sem
domínio pleno de seus poderes. Os protagonistas estavam entendendo e
descobrindo seus potenciais e limitações quando se depararam com o acidente. E, o
mais nobre de toda a situação é que todos os quatro super-heróis agiram sem saber,
ao certo, se seus atos resultariam algum dano físico a eles. Eles, de forma natural,
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fizeram o que seus instintos comandaram, ou seja, viram pessoas em risco e agiram
de acordo com o que estava aos seus alcances.
E, assim, ocorre com o restante dos super-heróis deste grupo. Eles têm uma
vida comum que, de repente, é transformada ao adquirirem poderes sobre-humanos
e suas consciências não permitem agirem de outra forma, se não, para auxiliar o
próximo ou defender uma causa justa.
No filme Homem-Aranha 2, temos um exemplo em que o homem-comum fica
tentado a utilizar seus superpoderes em benefício próprio, e o faz. O chefe de Peter
Parker, na pizzaria, alerta-o ao fato de se ele (Peter) não entregar um pedido em um
determinado tempo será despedido. Ao se deparar com esta tarefa, o garoto sabe
que, com sua motoneta, não conseguirá realizar o pedido do chefe e, além de ter de
pagar pelas pizzas, perderá o emprego. Sua única solução é transformar-se em
Homem-Aranha. Ocorre que, Parker, não atinge seu objetivo, não entrega as pizzas
no horário e perde o emprego. Porém, como forma da trama compensar este ato de
egoísmo, o super-herói se redime.
Peter Parker está a caminho da peça de teatro em que, seu amor, Mary Jane
atua, mas ao avistar um carro de polícia perseguindo bandidos, Parker,
instintivamente, decide transformar-se no Homem-Aranha e captura os bandidos.
Peter/Homem-Aranha decidiram que, ajudar a polícia era mais importante que
assistir à peça de teatro, mesmo correndo o risco de magoar Mary Jane, se Parker
chegasse atrasado e não conseguisse entrar e é o que ocorre. O rapaz chega ao
teatro atrasado, o porteiro não o deixa entrar e Mary Jane frustra-se com Peter, pois
observa, durante a peça, que o lugar de seu amigo está vazio. Portanto, um ato
heroico pode ser algo que beneficia o outro ou o coletivo, mas também, poderá
afetar o herói de forma dolorosa ou traumatizante.
Tipo B – Heróis por escolha
O tipo “b” refere-se a um segundo grupo de personagens que conhecem seu
potencial, mas procuram desenvolvê-lo a um nível que as assegurem realizar seus
objetivos, com treinamentos ou pela própria experiência de vida, de forma que,
passo a passo, elas adquiram controle sobre suas aptidões e tornem-se um super-
herói. São eles: Neo, Trinity, Morfeu, Tempestade, Ciclope, professor Xavier,
Wolverine, Vampira, Jean Gray, Colossus, Noturno, Kitty/Shadowcat, Anjo, Homem-
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Gelo, Gambit, Emma, David Dunn, Demolidor, Elektra, Batman, Super-Homem,
Duende Verde, Homem de Ferro, Hancock, Goku e Mestre Roshi.
No filme Corpo Fechado, o personagem David Dunn sofre um acidente de trem.
No hospital é informado por um médico que todos os passageiros morreram e ele é
o único sobrevivente. Ao deixar a sala de exames, caminhando, percebe os olhares
incrédulos dos familiares das outras vítimas. Ao receber uma carta perguntando
quantos dias ele ficou doente, o protagonista não se recorda. Elijah Price (Samuel L.
Jackson), então, esclarece que o protagonista pode ser praticamente indestrutível,
ao contrário de Price que tem seus ossos muito frágeis e, como pode ocorrer nas
histórias em quadrinhos, um pode ser o oposto do outro. Além disso, o vilão instiga o
protagonista a descobrir quais poderes ele (David Dunn) tem. A partir daí, Dunn faz
um teste de levantamento de pesos, em casa, e percebe que suporta realizar o
exercício com toda a carga disponível adicionando quatro latas de tinta, como forma
complementar. Descobre também que, ao esbarrar em alguma pessoa, tem o poder
de identificar algum ato criminoso cometido por ela. Após isto, o super-herói segue
um criminoso que matou um casal e amarrou duas crianças dentro de casa. Ao
entrar no recinto, vê o corpo de um homem e percebe que este está morto. Caminha
pela casa e encontra as crianças e as desamarra. Após isto, depara-se com uma
mulher, também amarrada. De repente, o criminoso empurra David da sacada do
quarto fazendo-o cair na piscina. O super-herói consegue sair da água e voltar ao
quarto. Segura o bandido por trás, imobiliza-o e o faz desmaiar. Desamarra a
mulher, porém ela está morta.
Neste exemplo é interessante notar como, antes de realizar algum ato que
dependerá de seus poderes, Dunn procura saber a respeito de seus limites e
entender melhor de que forma suas aptidões funcionam antes de tomar alguma
atitude. Como Joseph Campbell nos explica, o personagem realiza seu ato heroico
de “maneira responsável e intencional. É a aventura de descobrir qual é o seu
destino, a sua natureza e a sua origem. E ele a empreende intencionalmente.”
(CAMPBELL, 2009).
Hancock é outro super-herói que devemos destacar, pois este, ao realizar seus
atos heroicos, no início da trama, prejudica outras pessoas e os cofres públicos de
sua cidade, pois causa danos enormes quando, por exemplo, captura bandidos em
fuga, destruindo o asfalto, placas de sinalização e carros de polícia. Em determinado
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momento da trama, ao salvar um relações públicas chamado Ray (Jason Bateman),
o protagonista é convencido por Ray a mudar suas atitudes fazendo com que as
pessoas apóiem seus atos. Mas, para isso, Hancock terá de considerar que, outras
pessoas estão à sua volta, há um meio ambiente, também à sua volta, que não pode
ser destruído e que, a partir dali, suas atitudes serão focadas no auxílio a outras
pessoas sem prejudicar o que está ao seu redor, seja sua cidade ou mesmo outros
cidadãos. E, como último requisito deverá utilizar um uniforme, a fim de que, as
pessoas saibam quem é o super-herói da cidade. Hancock, a contra gosto, aceita,
tendo que se adequar às novas regras de comportamento. No final da jornada, o
super-herói percebe quão melhor são suas atitudes a partir do momento em que
soube lidar com suas aptidões.
Este segundo exemplo, diz respeito não somente ao fato de o personagem ter
um foco direcionado à realização do bem, mas também de que forma ele pode fazer
com que as pessoas ao seu redor apóiem suas atitudes e, com isto ele se sinta
acolhido pela sociedade. Ao que tange a analise deste filme, Hancock tem em seu
âmago a vontade de ajudar o próximo, mas até certo momento da trama está
desorientado e rejeitado pela sociedade. A encontrar uma direção e perceber a
possibilidade de ser reconhecido pela sociedade sua vontade de fazer o bem
encontra o sentido pleno.
1.1.3. Identificação visual de um super-herói
Os super-heróis nos filmes analisados têm uma característica visual marcante,
a fim de fornecer, prontamente ao espectador, a identificação necessária para que o
público saiba que, quando aquela figura tornar a surgir, um ato heroico e/ou o
combate ao mal ocorrerá.
Há entre os super-heróis diversas finalidades na utilização de uma vestimenta
ou um objeto que o identifique como super-herói. Porém, na maioria dos casos, eles
agirão heroicamente utilizando-se de seus superpoderes quando estiverem e
puderem ser identificados como super-heróis podendo atuar de forma que, ao
identificarem-no, suas ações possam ser legitimadas por uma parte da sociedade e,
conseqüentemente, esta identificação seja um facilitador em suas próximas ações.
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Sendo assim, dividimos os super-heróis em três grupos, no que diz respeito à
sua aparência. No grupo “a”, eles utilizam uma espécie de roupa/acessório de
combate. No grupo “b”, utilizam uniformes, a fim de mostrarem uma unidade de um
grupo. E, no grupo “c”, utilizam alguma roupa como forma de disfarce sem que esta
influencie seus superpoderes (David Dunn, Homem-Aranha, Demolidor, Mulher-
Gato, Super-Homem).
Grupo A
Em relação a este grupo, podemos dividi-lo em dois aspectos. O primeiro diz
respeito à roupas/objetos que influenciam diretamente os superpoderes do super-
herói e incluímos aqui o Duende Verde, Surfista Prateado, Batman e Homem de
Ferro.
Nos filmes Homem-Aranha, Homem-Aranha 2 e parte de Homem-Aranha 3 há
um personagem chamado Duende Verde. É-nos mostrado, de que forma ele surgiu
e porque se tornou um supervilão. Após as tramas consolidarem esta figura como
um personagem maligno, no final do último filme, Harry, o filho do primeiro Duende
Verde transforma-se em um super-herói e auxilia o Homem-Aranha na batalha
contra os supervilões Venom e Homem-Areia. Mas, até o momento em que Duende
Verde avisa Homem-Aranha que ele está ali para ajudá-lo, podemos pensar que
está a caminho mais um supervilão a fim de derrotar o super-herói.
Este fato demonstra a importância de podermos identificar o super-herói
prontamente, apenas avistando algo que lhe é característico visualmente. Neste
exemplo, a trama nos oferece um fato surpreendente, ao descobrirmos que o vilão
decidiu tornar-se herói, porém assim como saberíamos identificar a aparição do
super-herói na trama, soubemos identificar um vilão apenas por seus trajes verdes e
sua prancha voadora.
Ao analisarmos outro super-herói, o Surfista Prateado, sabemos que seu
superpoder está diretamente conectado à sua prancha, como descrito anteriormente.
Este objeto além de fornecer-lhe elementos que o capacitem a combater o mal,
também modifica sua aparência, pois ao estar em contato físico com sua prancha a
coloração de seu corpo é alterada, de uma espécie de metal fosco e escuro, para
um aspecto de metal prateado, brilhante e reflexivo.
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Batman também depende de sua roupa, incluindo seu cinto de utilidades, para
combater os vilões de forma superior. Ocorre que, além disto, ele a utiliza a fim de
preservar a identidade de Bruce Wayne, dificultando o ataque dos vilões às pessoas
que ele tem apreço. De qualquer forma, nos é esclarecido em Batman Begins e
Batman – O Cavaleiro das Trevas que pessoas-chave no auxílio direto ou indireto,
em sua busca por justiça, sabem qual é a verdadeira identidade de super-herói,
como Alfred (Michael Cane), Rachel Dawes (Katie Holmes/Maggie Gyllenhaal) e
Lucius Fox (Morgan Freeman).
O segundo subgrupo está relacionado às vestimentas utilizadas como forma de
identificação, ou seja, a roupa não fornece ao super-herói um superpoder e/ou
protege sua verdadeira identidade. Neste caso, ela tem somente a função de
identificar ao espectador quem é o super-herói e quando ele agirá como tal. São
eles: Neo, Trinity, Morfeu, Professor Xavier, Noturno, Hulk, Mina Harker, Alan
Quatermain, Hyde, Skinner, Elektra, Hancock, Goku, Mestre Roshi e Wolverine (no
filme, X-Men: Origens – Wolverine).
A importância de identificação de um super-herói às pessoas que o cercam e,
também, ao espectador, pode ser observado no filme Hancock. Ray visita o super-
herói na prisão e mostra a ele um uniforme dentro de uma caixa. Hancock diz que
não vai usar aquilo. Ray afirma que vai. Hancock diz que prefere sair pelado a usar
um uniforme. Ray explica que este uniforme representa um propósito. Médicos,
policiais, bombeiros, todos utilizam um quando estão cumprindo sua função.
Representa a missão deles.
E a missão de um super-herói é defender e ajudar quem o cerca, sempre em
busca da justiça. O uniforme mostra à população quem é o super-herói e sedimenta,
aos poucos, suas atitudes e o que as pessoas podem esperar dele. Ray, como
relações públicas de Hancock, quer mostrar com o novo uniforme que o super-herói
terá também novas atitudes, ou seja, desempenhará seu papel na sociedade de
forma consciente e positiva, sem prejudicar pessoas inocentes ou o meio ambiente
em que vive.
Outro super-herói que devemos trazer a esta discussão é Hulk. Esta imagem
de um ser verde, fortíssimo e de calça jeans rasgada diz respeito à identificação do
espectador em relação aos acontecimentos da trama. Bruce Banner não atua
heroicamente pensando em tornar-se um monstro verde por escolha própria, como
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visto em “superpoderes”, e ser reconhecido pela sociedade como tal, mas sim para
que nós, público, saibamos que, ao avistarmos um ser gigante verde há um super-
herói em combate contra o mal. E, por conseqüência, a sociedade também
assimilará as ações de Hulk e julgará se ele de fato é benéfico à sociedade e, se
seus atos são mais benéficos do que prejudiciais enquanto super-herói.
Grupo B
No grupo “b” adequamos os super-heróis dos filmes X-Men, X-Men 2, X-Men: O
Confronto Final, Quarteto Fantástico e Quarteto Fantástico E O Surfista Prateado,
pois os protagonistas destas histórias “suspendem” suas identidades visuais iniciais,
a fim de informar ao público, por meio de um uniforme, uma identidade visual única
com o intuito de demonstrar que eles agirão também de forma única, unindo suas
forças e seus poderes para realizar seus atos heroicos e/ou combater o mal.
Nos três filmes dos X-Men, citados acima, as batalhas finais são vencidas a
partir do momento em que os super-heróis se unem e a trama nos transmite a ideia
de que um dos personagens do grupo, isoladamente, não teria chance de derrotar
ou impedir que o mal prevaleça.
O mesmo ocorre nos dois filmes do Quarteto Fantástico, pois a trama nos
mostra que, somente ao unirem suas forças, utilizando cada superpoder como
complemento do outro, é que o supervilão ou o grande mal pode ser afastado.
A característica fundamental do uniforme é demonstrar unidade em suas ações
e pensamentos, enquanto super-heróis e enquanto grupo, pois ao vestirem um traje
igual aos dos seus companheiros quer-se demonstrar que eles estão unidos, como
um time, e buscarão atingir um objetivo que levem todos do grupo à vitória deixando
de lado seus interesses pessoais dedicando-se duplamente a pensar no coletivo, ou
seja, na sociedade e no grupo de super-heróis.
Grupo C
O último grupo, denominado “c”, diz respeito aos super-heróis que se disfarçam
com uma roupa para que sua identidade secreta seja preservada e/ou a integridade
das pessoas que ele tem um maior apreço não seja ameaçada por um (super)vilão.
Diferentemente do grupo “a”, estas roupas não auxiliam ou influenciam as super
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habilidades dos super-heróis a seguir: David Dunn, Homem-Aranha, Demolidor,
Mulher-Gato e Super-Homem.
Apesar de todos os personagens deste grupo terem um disfarce, Super-
Homem, é um exemplo curioso, pois ao agir contra o mal ou salvar pessoa(s) em
perigo, tira seu disfarce e age como “ele mesmo”. Este super-herói disfarça-se como
um jornalista, chamado Clark Kent, com emprego, residência e documentos de um
cidadão comum. Suas atitudes e comportamentos são banais e comparando-as com
as do Super-Homem descartam quase que por completo, o risco de alguém
descobrir a verdadeira identidade do super-herói. Podemos observar, em um trecho
do filme Superman: O Retorno, a conversa de Lois Lane (Kate Bosworth) e Richard
White (James Marsden) sobre as semelhanças físicas entre Clark e o Super-
Homem. Após uma breve comparação, o casal se olha e gargalha percebendo que
seria improvável o atrapalhado Kent ser, ao mesmo tempo, o super-herói astuto e
imponente da cidade de Metropolis.
Super-Homem, com sua roupa azul e capa vermelha quer transmitir aos
cidadãos do mundo todo, na trama, e também aos espectadores, um significado de
segurança e alívio, pois esta imagem do super-herói representa, ou quer-se
construir, um aviso de que o personagem que poderia resolver a situação de perigo
está a postos para a realização de sua tarefa.
A aparência de cada super-herói tem uma finalidade. Verificamos que o motivo
e a utilidade principal para o uso de um uniforme ou elemento que caracterize seu
personagem, mesmo que este seja fundamental para seu superpoder, está
relacionado à sua apresentação, fixação de imagem e relação de sua imagem com
seus atos, tanto para a sociedade em que o super-herói está inserido quanto para
alertar e fazer com que o público identifique, de forma eficaz, atitudes esperadas nos
momentos em que o protagonista está em cena. De acordo com Morris:
Quando ele [super-herói] veste o uniforme, faz uma transição para um papel alternativo e, até certo ponto, uma identidade alternativa. (...) Para a maioria dos super-heróis, a roupa e a identidade que a acompanha são meios para um fim. São um cartão de visita e uma ferramenta – uma ameaça aos vilões, abalando-lhes a estrutura, e uma garantia para as pessoas de bem de que a ajuda chegou. (MORRIS, 2006, pp. 239, 240.)
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Portanto, seja pela busca de identificação visual do personagem, proteção de
sua real identidade ou de pessoas próximas a ele ou pelo fato de sua roupa ser
essencial ao funcionamento de seus superpoderes, os super-heróis buscam serem
reconhecidos visualmente a fim de atrelar sua imagem aos seus atos de heroísmo
tranqüilizando, de certa forma, quem observa uma situação de risco que pode ser
perigosa para uma ou mais pessoas.
1.1.4. O código de conduta de um super-herói
O código de conduta observado nos personagens super heroicos refere-se a
três “Leis” fundamentais: 1) não matar; 2) não auferir renda e/ou obter vantagem
financeira com seus atos heroicos; 3) preocupação com a sociedade que o cerca.
Lei n° 1 – Não matar
Em Batman Begins, há um diálogo entre Ducard (Liam Neeson) e Bruce Wayne
que situa o pensamento dos super-heróis no que diz respeito à matar seus
oponentes e/ou criminosos. Vejamos:
INT. SALA DO TRONO – DIA (...)
DUCARD Você se livrou do seu medo. Está pronto para liderá-los. Pronto para se tornar membro da Liga das Sombras. Mas antes, deve provar seu comprometimento com a justiça.
Um homem sem camisa é trazido por ninja encapuzado. Ducard oferece sua espada a Wayne para que ele execute o criminoso.
BRUCE WAYNE
Não. Eu não sou um carrasco.
DUCARD Sua compaixão é uma fraqueza da qual seus inimigos não compartilharão.
BRUCE WAYNE
Por isso ela é tão importante. É o que nos diferencia deles.
DUCARD
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Quer combater criminosos. Ele é um assassino.
BRUCE WAYNE Este homem devia ser julgado.
DUCARD Por quem? Burocratas corruptos? Os criminosos zombam das leis da sociedade. Você sabe muito bem.
(...) BRUCE WAYNE
Voltarei a Gotham e combaterei homens como este, mas não me tornarei um carrasco.
A começar pela Lei n° 1, não matar significa que os super-heróis escolhem
imobilizar um criminoso para que a polícia o prenda ou entregá-lo à polícia, ao invés
de julgar as atitudes de um malfeitor no ato em que o tem em suas mãos, ou mesmo
executar uma sentença conforme suas convicções.
Em Matrix, Neo enfrenta o Agente Smith (Hugo Weaving) e os Agentes Brown
(Paul Goddard) e Jones (Robert Taylor). Em um determinado ponto da batalha, Neo
entra no corpo do Agente Smith destruindo-o. Os outros dois agentes, ao
perceberem que não teriam chance de saírem vitoriosos em um combate contra o
super-herói saem correndo. Neo poderia ir atrás dos outros vilões e destruí-los,
porém decide voltar ao mundo real sem aniquilar seus outros inimigos, pois não
realiza seus atos por vingança e sim com um objetivo, sendo que, neste caminho
não está incluído a aniquilação de agentes para atingir o fim que deseja e, se o faz,
ocorre por legítima defesa.
Verificou-se que o super-herói não terá uma atitude brutal de forma gratuita.
Ele preferirá deixar que as autoridades apliquem a pena ao vilão. Mesmo se o
protagonista tiver algum sentimento ruim, em relação ao criminoso, que possa
favorecer um descontrole emocional a ponto de fazer o super-herói levantar a
hipótese de vingança, este terá a consciência que o direito de sentenciar qualquer
criminoso não lhe cabe.
Em Corpo Fechado, David Dunn estrangula um criminoso até este perder a
consciência. Neste ponto, o super-herói solta o malfeitor e, na trama, não fica claro
se ele morreu ou apenas está desacordado. Ocorre que, momentos antes, este vilão
empurrou Dunn da sacada da casa fazendo-o cair em uma piscina. O super-herói
conseguiu voltar para dentro da casa e imobilizar o criminoso. Aqui, podemos
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observar que, David poderia ter agredido seu oponente fazendo-o sofrer, mas
preferiu não agir por vingança e fez o que considerou correto, imobilizá-lo.
Em relação ao personagem Demolidor observamos que, no início do filme, este
super-herói é um vingador, mas, aos poucos, percebe que seus atos de vingança
fazem mal a ele e não resolvem a questão. Este personagem mata a sangue frio um
suposto estuprador atirando-o na linha do trem, momento antes do veículo passar.
Em outra situação, joga um vilão chamado Mercenário de uma grande altura. Por
sorte, o vilão não morre. Demolidor somente transforma-se em um super-herói
quando luta contra um mafioso chamado Wilson Fisk/O Rei do Crime (Michael
Clarke Duncan) e ao ter a possibilidade de aniquilar seu oponente, decide não matá-
lo, pois percebe que o melhor a fazer é deixar que a justiça julgue o vilão.
Observamos que, mortes ocasionadas direta ou indiretamente pelas ações dos
super-heróis ocorrem, porém, elas estão relacionadas a duas situações: morte
acidental e/ou legítima defesa.
No filme Homem-Aranha, Peter Parker está frente a frente com o bandido que
supostamente assassinou seu tio Ben. Contudo, o super-herói decide entender o
porquê de o criminoso ter feito o que fez. Peter controla sua raiva e decide não se
vingar, porém o bandido se desequilibra e cai de uma janela. Nesta cena, podemos
observar que, apesar da raiva, o sentimento de vingança foi controlado, mesmo que
o resultado tenha sido desastroso, pois ao observarmos Homem-Aranha prendendo
diversos bandidos, nas histórias seguintes podemos concluir que o super-herói
imobilizaria o vilão a fim de que a polícia o prendesse.
Mulher-Gato luta contra Laurel (Sharon Stone) que, após receber um golpe
certeiro da super-heroína, cai por uma janela. A protagonista, então, tenta resgatar a
vilã, porém sem sucesso. Esta cena mostra que, apesar de Mulher-Gato ter, por sua
culpa, matado Laurel, ela tentara fazer com que sua oponente não caísse janela
abaixo, pois seu objetivo era defender-se dos ataques da vilã e prendê-la e não
matá-la.
Lei n° 2 - Não auferir renda e/ou obter vantagem fi nanceira com seus atos heroicos
Em relação à Lei n° 2, o super-herói não aufere ren da e/ou obtém vantagem
financeira com seus atos heroicos. Seus atos são executados pelo compromisso de
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realizar o bem e combater o mal sem ser obrigado a fazer o que faz ou preocupar-se
com algum benefício posterior em forma de recompensa por desempenhar o papel
que escolheu.
Por conta disto, podemos dividir este item em dois aspectos. Os que trabalham
nos momentos em que não agem como super-heróis, como: David Dunn/“Security”
trabalha como segurança; Peter Parker/Homem-Aranha é fotografo e trabalhou
como entregador de pizza; Matt Murdock/Demolidor é advogado; Bruce
Wayne/Batman é proprietário de uma mega companhia; Clark Kent/Super-Homem
trabalha como jornalista; Tony Stark/Homem de Ferro é proprietário de uma mega
companhia; Mestre Roshi é professor de artes marciais. E, os que, ao terem de agir
como tal, abandonam suas carreiras a fim de cumprirem a tarefa à qual foram
“recrutados”, como: Thomas Anderson/Neo que abandona seu emprego em uma
multinacional; Os X-Men abdicam de seus empregos anteriores e decidem morar em
uma escola; Bruce Banner/Hulk não trabalha mais como cientista, fez trabalho
voluntário em florestas da América do Sul e trabalhou em uma fábrica de
refrigerantes no Brasil; os integrantes da Liga Extraordinária, a princípio trabalharão
para o governo britânico, porém, ao descobrirem a farsa decidem se juntar para
impedir que os planos do vilão sejam bem sucedidos; Patience Phillips/Mulher-Gato
foi demitida de seu emprego, após atrito com o chefe, pois sabia que a empresa
produzia um cosmético prejudicial às pessoas. Elektra Natchios/Elektra abandona
sua vida de matadora de aluguel e dedica-se a combater o mal; Quarteto Fantástico,
os super-heróis abandonam seus empregos na busca de tentarem encontrar a cura
de suas mutações genéticas; Hancock não é informada a origem de seu dinheiro,
porém sabemos que ele mora em um trailer e, por vezes dorme na rua; Goku é
estudante universitário e vivia com seu avô; X-Men: Origens, Wolverine trabalhava
como matador de aluguel para o exército americano, mas abandona sua função e,
após isto, trabalhou em uma madeireira.
Apesar disto, há um caso curioso que ocorre com o personagem Johnny
Storm/Tocha Humana nos dois filmes do Quarteto Fantástico. No primeiro longa, o
personagem surge em cena com um boneco do Coisa em suas mãos e mostra ao
outro super-herói o que “os caras do marketing” fizeram, ou seja, uma miniatura que
diz a frase “It´s clobbering time” ou “Tá na hora do pau!”. O Coisa olha para o
brinquedo pega-o e o esmaga na parede.
47
No segundo longa, Johnny entra no laboratório de Reed e diz a ele e à Sue que
os novos uniformes chegaram. Johnny mostra um macacão com logomarcas das
empresas Dodge, Dell, Ray-Ban, Nokia, Keebler, Coca-Cola, Crunch, Gillette, entre
outras, e pergunta aos dois o que eles acharam. Sue diz ao irmão que “não haverá
jeito de eles usarem este uniforme”.
Além de observarmos que os outros três integrantes do grupo não
compartilham a ideia de utilizarem anúncios em seus uniformes ou licenciarem seus
nomes e imagens para qualquer tipo de produto, observamos que em todas as
cenas em que Tocha-Humana realiza um ato heroico o super-herói veste o macacão
igual ao de seus companheiros, ou seja, sem anúncios. Além disto, no restante dos
filmes, não há atitude dos super-heróis que envolvam dinheiro.
De acordo com estas análises pudemos observar que este aspecto é o ponto
principal que diferencia os super-heróis de outros superpoderosos que agem
heroicamente, pois poderíamos trazer a este trabalho personagens, como Hell Boy
e/ou James Bond, por conta de algumas características, descritas anteriormente,
que compõem um super-herói. Porém, tanto Hell Boy quanto James Bond trabalham
para o governo, americano e britânico, respectivamente. Ou seja, suas atuações
heróicas, auxiliadas por seus superpoderes, têm como motivação principal a
obrigação de agir de forma heróica, pois é função essencial do trabalho que
desenvolvem em seus empregos.
Observemos a situação dos super-heróis da Liga Extraordinária. O governo
britânico convoca os super-heróis, por meio de uma pessoa chamada M (Richard
Roxburgh), para que impeçam que o vilão Fantom ataque os principais líderes
mundiais em Veneza evitando, assim, a I Guerra Mundial. Ao impedirem este
ataque, os super-heróis descobrem: a traição de um dos integrantes, que M e
Fantom são a mesma pessoa e, este vilão, reuniu o grupo para coletar amostras de
seus superpoderes, com a finalidade de reproduzi-los em escala criando exércitos
de superpoderosos. Ao descobrirem estes elementos, os super-heróis decidem
continuar juntos para impedir M de concluir seu plano.
Sendo assim, pudemos observar no filme que, ao saberem que o governo
britânico não estava envolvido em suas contratações e que o mundo corria perigo,
os super-heróis decidem agir sem almejar um lucro financeiro posterior. Eles focarão
suas atitudes no combate ao mal e tentarão impedir que uma guerra mundial ocorra.
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Lei n° 3 - Preocupação com a sociedade que o cerca
A Lei n° 3, diz respeito às preocupações do super-h erói em relação ao meio
ambiente em que vivem.
Há super-heróis que se preocupam com o que acontece não somente em seu
planeta, mas com o que ocorre fora dele, como o Quarteto Fantástico, Surfista
Prateado e Super-Homem.
As ações dos super-heróis de Matrix e A Liga Extraordinária ou Hulk, Mulher-
Gato, Homem de Ferro, Hancock, Goku e Mestre Roshi terão reflexos mundiais.
Os super-heróis de X-Men e a super-heroína Elektra preocupam-se com as
pessoas que vivem em seu país, os EUA.
Já David Dunn/”Security”, Homem-Aranha, Demolidor, Batman preocupam-se
com o que ocorre em suas respectivas cidades e às pessoas que estão situadas
nela, ou seja, seus “seus vizinhos”.
Apesar destas diferenças, estes super-heróis agem, em um âmbito espacial
maior ou menor, não por escolherem defender apenas uma cidade ou um país. Suas
escolhas são influenciadas por seus superpoderes e estão relacionadas com os
veículos que dispõem, pois estes dois fatores podem facilitar ou limitar o
deslocamento dos super-heróis, a fim de auxiliarem pessoas necessitadas em locais
distantes em relação à sua localização.
Super-Homem voa a uma velocidade próxima à da luz e tem o poder de sair da
Terra sem sofrer nenhuma complicação física no espaço. Os X-Men e o Quarteto
Fantástico têm uma espécie de avião que os possibilitam locomover-se para outros
países de forma ágil, além de Tocha Humana e O Surfista Prateado serem capazes
de voar a grandes velocidades. Nestes casos, os super-heróis têm condições de
locomoverem-se de forma ágil ou super ágil de um local a outro.
Já Homem-Aranha, apesar de seus diversos superpoderes, está limitado a agir
em Nova Iorque, pois apesar de ser ágil em sua locomoção não poderia se deslocar
a outra cidade ou país a tempo de salvar alguém em apuros.
O mesmo ocorre com Demolidor e Batman que atuam, respectivamente, em
Nova Iorque e Gotham City, pois não dispõem de veículos ou superpoderes que lhes
permitam deslocarem-se de uma cidade ou país a outros em curtíssimo espaço de
tempo.
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Com possibilidade de deslocarem-se, ou não, o espaço de atuação dos super-
heróis, nas tramas, ocorre de forma total ou parcial em metrópoles, sendo que: nove
vezes em Nova Iorque; três em Los Angeles; duas em São Francisco; duas em
Londres; uma ocorrência na Filadélfia, Chicago, Boston, Washington, Paris, Veneza,
Rio de Janeiro, Hong Kong ou Xangai. Além destas cidades reais, as histórias se
passam, por três vezes, em metrópoles fictícias (não nomeadas nos filmes) ou em
metrópoles fictícias nomeadas, como: Gotham City, em dois filmes; Metropolis ou
Paozu, uma ocorrência cada. Observamos também que, apesar das histórias
utilizarem frequentemente cidades grandes como espaço de atuação algumas
batalhas ocorrem em lugares isolados, como montanhas, desertos, mar, entre
outros.
Estas cidades são utilizadas como pano de fundo, em relação às atuações dos
super-heróis pelo fato da constância e amplitude dos problemas bem como de um
número maior de necessitados, se comparados a uma pacata cidade do interior ou
mesmo um lugar isolado. Super-Homem desapareceu por cinco anos. Enquanto isto,
a cidade ficou desamparada, pois não havia outro super-herói que pudesse suprir a
falta do Homem de Aço. Se, Super-Homem realizou atos heroicos em outros
lugares, não sabemos. O fato é, se o super-herói não tiver suas atuações ampliadas
e registradas, tanto sociedade quanto bandidos agirão de forma diferenciada ao
saber que o super-herói não protege os cidadãos daquele lugar. Ao ponto de, a
jornalista, Lois Lane escrever um artigo com a pergunta: “Porque não precisamos do
Super-Homem”. O protagonista transforma-se em um legítimo super-herói à medida
que seus atos de heroísmo alcancem um número tão elevado de atos heroicos que
um ser humano comum jamais pudesse alcançar, devido à sua falta de
superpoderes.
1.2 Vilão e supervilão
Os super-heróis estão alerta na maior parte do tempo e, na medida do
possível, ajudam pessoas em perigo e combatem pessoas más que procuram
beneficiar-se de forma ilícita, sem se preocuparem se, seus atos, prejudicarão uma
pessoa ou o planeta inteiro.
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Verificamos que existem três tipos de “bandidos”: “pequenos” criminosos que
os super-heróis facilmente capturam; “grande” criminoso ou ser superpoderoso ao
qual o protagonista terá dificuldade em combater, devido à astúcia e/ou superpoder
do vilão. Sendo assim, discorreremos sobre estes dois últimos e classificaremos um
personagem maléfico e astuto, porém desprovido de superpoder como vilão. E, um
malfeitor que tenha um poder sobre-humano como supervilão.
Estes personagens agem de forma egoísta e solitária, no que diz respeito ao
resultado, não se importando com as pessoas que o cercam, mesmo se estas
estiverem de acordo com seus planos e os auxiliarem na conclusão deles.
Nas tramas, os vilões têm aspectos semelhantes aos do super-herói, porém
com intenções opostas às do protagonista. É uma espécie de espelho da
moralidade. Se, de um lado, o super-herói dedica-se a utilizar seus superpoderes
para atos altruístas, o vilão utilizará sua astúcia e/ou superpoder para concluir um
plano maléfico que o beneficie.
Analisaremos os vilões dos filmes Batman Begins e Batman – O Cavaleiro das
Trevas. Estes sofrem de transtornos psicológicos graves e carregam consigo uma
dupla personalidade, assim como Batman. Porém, estes vilões escolhem utilizar
seus alter egos com o intuito de praticar o mal, em benefício próprio. Jonathan
Crane/Espantalho, Henri Ducard/Rha´s al Ghul, Coringa e Harvey Dent/Duas-Caras
atuam como criminosos enquanto estão com suas “máscaras” ou assumem uma
identidade fictícia para cumprir seus atos maléficos.
Em Cavaleiro das Trevas há um diálogo entre Coringa e Batman que
representa esta ideia. Vejamos:
INT. SALA DE INTERROGATÓRIO, DELEGACIA CENTRAL DE GOTHAM – NOITE (...)
BATMAN Você me queria. Aqui estou.
CORINGA
Eu queria ver o que você faria. E você não me decepcionou. Deixou cinco pessoas morrerem. Depois, deixou o Dent tomar seu lugar. Até para alguém como eu, é muita frieza.
BATMAN
Onde ela está?
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CORINGA Os idiotas da máfia querem você morto para tudo voltar ao que era. Mas eu sei a verdade. Não há volta. Você mudou as coisas. Para sempre.
BATMAN
Então, por que quer me matar?
CORINGA Eu não quero matar você. O que eu iria fazer sem você? Voltar a roubar mafiosos? Não, não. Não. Não... Você me completa.
BATMAN
Você é um rato que mata por dinheiro.
CORINGA Não fale como um tira. Você não é. Nem que quisesse ser. Para eles, você é só um louco... como eu.
Batman não nega esta comparação ou tenta rebatê-la, simplesmente a ignora.
Sabemos, em Batman Begins, que Bruce Wayne, ainda criança, sofre uma queda
em um buraco repleto de morcegos e, esta situação, traumatiza-o. E, em um outro
momento, mas ainda criança, o personagem assiste ao assassinato de seus pais por
um bandido. Sabemos também que o super-herói, conforme as histórias nos
demonstram, ainda carrega estes dois traumas e que eles o influenciam diretamente
em sua vida e em suas atitudes. Ou seja, os vilões de Batman não têm
superpoderes, mas são extremamente astutos, apesar de sofrerem alguns distúrbios
mentais e o super-herói consegue derrotá-los justamente por ter acesso aos seus
superpoderes e, digamos, manter-se mais centrado que seus oponentes.
Ao representarmos os supervilões foi observado que este espelho da
moralidade ocorre também nos filmes Homem-Aranha, Homem-Aranha 2 e Homem-
Aranha 3.
O super-herói, como observado anteriormente, sofre um incidente e adquire
superpoderes. Da mesma forma, todos os seus oponentes principais, Duende Verde,
Dr. Octopus, Homem-Areia e Venom adquirem superpoderes de forma incidental.
Porém, tanto Norman Osborn (Willem Dafoe), Dr. Otto (Alfred Molina), Flint Marko
(Thomas Haden Church) e Edward Brock (Topher Grace), antes de se
transformarem em um supervilão, tinham características de ganância e egoísmo,
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opostamente relacionadas com as de Peter Parker que são justamente o desapego
ao que é fútil e generosidade.
Sendo assim, após este breve panorama sobre vilão e supervilão, pudemos
observar que o principal motivo destes personagens existirem e serem
caracterizados no mesmo nível de poder do super-herói está relacionado à sua
função essencial para a trama fazendo com que o protagonista enfrente um
personagem tão ou mais poderoso que ele e, na batalha final, transmitir a
mensagem ao espectador de que o bem prevalece o mal.
1.3 O ponto fraco do super-herói
Apesar de os protagonistas serem personagens superpoderosos não são
infalíveis e o vilão naturalmente descobre o ponto fraco do super-herói. E, estas
fraquezas ocorrem de duas formas. Os protagonistas têm seus poderes
anulados/inutilizados ou seu ponto fraco diz respeito às ameaças que algum vilão
possa utilizar em relação aos amigos do super-herói ou qualquer outra pessoa que
corra perigo, por conta de uma situação em que o vilão a colocou.
Tratando-se de poderes anulados podemos destacar o personagem Super-
Homem que, ao entrar em contato com um cristal chamado kryptonita – fragmento
radioativo vindo de Krypton (planeta natal de Super-Homem) –, seus poderes
enfraquecem e, dependendo do tempo em que Super-Homem estiver próximo a ele,
pode levá-lo à morte. Mas, ao afastar-se da kryptonita a tempo e expor-se à luz
solar, suas energias e seus superpoderes voltam ao normal. Outra fraqueza,
observada no filme, diz respeito ao protagonista não ser capaz de utilizar sua visão
raio-X através do chumbo. Apesar de não analisarmos filmes anteriores ao ano de
1999, há uma cena no filme Superman III em que Lex Luthor arma um plano para
que uma caixa de chumbo com kryptonita seja entregue ao Super-Homem, a fim de
anular seus superpoderes. O plano ocorre da forma como o vilão planejou e o
protagonista, além de não identificar o que havia na caixa, sofre com os efeitos do
cristal.
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De qualquer forma, Lex Luthor (Kevin Spacey), em Superman: O Retorno, após
anular os superpoderes do protagonista com o auxílio da kryptonita, crava o cristal
na costela do super-herói que, por pouco, não morre.
Outro aspecto de inutilização de um superpoder pode ser observado no filme
X-Men. Magneto (Ian McKellen) entra em um vagão de trem a fim de capturar
Vampira. Este vilão tem o poder de manipular metal com a mente, deslocando
objetos feitos deste material, retorcendo-os e suspendendo-os. Ao Wolverine tentar
proteger e defender Vampira, Magneto suspende o super-herói, atira-o para um lado
fazendo com que o maior potencial de ataque de Wolverine (“ossos” de adamantium)
fosse o fator determinante que o fizesse perder esta batalha.
Observamos no item que tratou de atos heroicos, que os super-heróis fazem o
possível para não escolherem entre uma vida ou outra, ou seja, se duas ou mais
pessoas correm perigo em situações diferentes o protagonista tentará salvar os dois
grupos, mesmo que um dos lados seja de pessoas que ele conheça e goste. De
qualquer forma, os vilões sabem que uma das formas mais eficazes de atingir seu
maior adversário é afetando seus sentimentos. Vejamos em Homem-Aranha a
conversa entre Norman Osborn e o Duende Verde:
INT. APARTEMENTO DE NORMAN OSBORN – DIA
DUENDE VERDE (v.o.) O herói perspicaz não ataca nem o corpo nem a mente.
NORMAN OSBORN
Me diga como!
DUENDE VERDE (v.o.) O coração, Osborn! Atacamos primeiro o coração dele.
Ou em Homem-Aranha 2, em outro momento, quando Peter Parker fala
sozinho, como se estivesse dizendo as palavras abaixo para, seu amor, Mary Jane:
EXT. CAMPUS DA UNIVERSIDADE - DIA Peter Parker finge falar com Mary Jane ao telefone.
PETER PARKER Quero te contar a verdade. Aí vai: Eu sou o Homem-Aranha. Sinistro, não é? Já sabe por que não
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podemos ficar juntos. Se meus inimigos descobrissem sobre você... Se você se ferisse, eu nunca me perdoaria.
Tanto o vilão quanto o próprio super-herói sabem que ao atingir pessoas
queridas do super-herói ou colocá-lo em uma situação em que o protagonista deve
agir para salvar pessoas, o criminoso sabe que terá vantagem e desestabilizará o
super-herói fazendo com que os planos maquiavélicos do vilão tenham uma maior
chance de atingir o objetivo, pois entre deter o vilão e salvar pessoas, o protagonista
primará pela vida dos que estão em perigo.
1.4. Super-heróis, seus amigos e amores
Os relacionamentos dos super-heróis podem ser divididos em dois grupos. O
primeiro refere-se às pessoas que colaboram com as ações dos protagonistas.
Intitularemos estes, como amigos dos super-heróis.
Estes personagens auxiliam os super-heróis na conclusão de seu objetivo
maior, ou seja, derrotar o mal. Sem eles, o protagonista teria maior dificuldade em
realizar seus atos com sucesso na trama, mesmo tendo a grande vantagem de ser
superpoderoso. Os amigos auxiliam os super-heróis complementando suas atuações
com impulsos extras que facilitam ou tornam menos difícil a caminhada do super-
herói à vitória. Estes personagens não aparecem em todos os filmes. Tampouco são
superpoderosos, se o fossem também seriam super-heróis, como Harry Osborn -
que transforma-se em Duende Verde, primeiramente para o mal, posteriormente
para o bem - que auxiliou Homem-Aranha no combate aos supervilões Homem-Areia
e Venom.
Nos filmes Batman Begins e Batman – O Cavaleiro das Trevas, o super-herói é
auxiliado de forma direta por dois de seus principais amigos, Alfred Pineworth e
Lucius Fox. O primeiro é seu mordomo, conselheiro e protetor, pois conhece as
atividades de Batman, ajuda-o a encomendar as peças que compõe o traje do
super-herói e salva-o quando necessário, como, quando Batman sofre efeitos
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alucinógenos após um ataque do Espantalho, que joga uma droga potente no rosto
do protagonista. Batman escapa, mas telefona para que Alfred venha buscá-lo, pois
sabe que não conseguirá voltar para casa sozinho. Lucius Fox é um engenheiro que
criou e desenvolveu alguns aparelhos na empresa de Bruce Wayne, com a
finalidade de serem vendidos a exércitos. Por conta de sua destreza no
desenvolvimento de aparelhos ultramodernos, desenvolve, a pedido de Bruce
Wayne, acessórios que o permita atuar como Batman desenvolvendo aparelhos de
acordo com as necessidades e habilidades de Bruce.
O segundo grupo diz respeito às mocinhas. Ao contrário dos amigos que
sempre auxiliam o super-herói, as mocinhas podem ter duas funções na trama. Elas
atuam como amigas do super-herói, ou seja, auxiliando os protagonistas, da mesma
forma que os amigos do super-herói. Porém, sua função principal é, de forma não
intencional, colocar os super-heróis em situações difíceis, fazendo com que seu
objetivo maior, de derrotar o mal, seja dificultado, pois, por alguns instantes, ele
deixa de lado seu objetivo maior para salvar a donzela em perigo e, por conta disto,
correr o risco de “cair nas mãos” de seu grande oponente.
Nos filmes analisados há quatro personagens deste tipo: Mary Jane Watson
(Kirsten Dunst) em Homem-Aranha, Homem-Aranha 2 e Homem-Aranha 3; Betty
Ross (Jennifer Connelly/Liv Tyler) em Hulk e O Incrível Hulk, respectivamente;
Rachel Dawes (Katie Holmes/Maggie Gyllenhaal) em Batman Begins e Batman – O
Cavaleiro das Trevas, respectivamente; Lois Lane (Kate Bosworth) em Superman –
O Retorno; Mary (Charlize Theron) em Hancock.
As mocinhas têm outro aspecto fundamental na trama, o relacionamento
amoroso com o super-herói. Em todos os casos, o relacionamento entre eles é
conturbado e, por vezes, não mantém uma constância, pois isto dependerá dos
acontecimentos que ocorrerão nas histórias. E estes acontecimentos ocorrem pelo
fato de o protagonista ser um super-herói e sempre priorizar sua atenção às pessoas
necessitadas deixando em segundo plano o amor de sua vida.
O protagonista, geralmente, não envolve a mocinha em suas atividades
heróicas, porém ela está envolvida na batalha do super-herói contra o vilão, sabendo
ou não que o super-herói é também a pessoa que ela mais ama na vida.
No filme Hancock, o super-herói busca encontrar sua verdadeira origem.
Durante sua jornada, um personagem que se torna amigo do protagonista o ajuda a
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transformá-lo em um super-herói que as pessoas admirem por completo. Quando o
protagonista encontra a mulher de Ray (amigo do super-herói) uma atração entre
eles é despertada, até que, em um determinado momento, eles se beijam. Após este
fato, os dois conversam, discutem e a mocinha revela ao super-herói que eles eram
um casal e se conhecem há milhares de anos, mas ao ficarem próximos um do outro
eles perdem seus superpoderes.
Em outro momento da história, o super-herói leva um tiro e, como já estava há
algum tempo perto de Mary, a bala o fere. Após este fato, ele é levado ao hospital.
Paralelamente, um vilão que Hancock prendeu escapa da prisão e vai ao encontro
do super-herói, a fim de matá-lo. Durante a batalha, Mary, ao defender Hancock, é
ferida e quase morre. Somente ao afastar-se da mocinha, Hancock, aos poucos,
recupera seus superpoderes e, tanto ele quanto Mary, sobrevivem aos ataques.
Hancock, como herói, afasta-se de Mary a fim de retomar seus superpoderes e
poder ajudar os necessitados e, consequentemente, abrir mão de seu amor
tornando a relação entre Mary e Ray estável, como era antes de Hancock aparecer
na vida do casal.
Pudemos observar, portanto, que apesar de o super-herói e a mocinha se
amarem e terem como objetivo esta união, a trama os levará a caminhos opostos ou
repletos de escolhas e tensões, tornando esta união prejudicial aos dois.
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Capítulo 2. Como Hollywood conta uma história de su per-herói
Os filmes aqui analisados seguem regras, no que diz respeito ao formato
escolhido de nos contar uma história. Compartilham elementos fundamentais de
forma constante que pudemos observar ao longo das análises. Apesar das
particularidades e diferenças, eles utilizam técnicas narrativas que formatam o modo
de apresentação destas histórias ao espectador transformando os filmes de super-
heróis hollywoodianos em obras homogêneas, em diversos aspectos. E é sobre esta
homogeneidade que este capítulo tratará.
Os elementos observados nesses filmes são os seguintes: I) narrativa clássica
hollywoodiana; II) efeitos visuais como parte da trama; III) efeitos especiais
“verossímeis/orgânicos”.
2.1. Elementos da narrativa clássica hollywoodiana
Ao discorrermos sobre os modos narrativos de um filme de super-herói,
iniciaremos pelo aspecto mais homogêneo, percebido nas análises das histórias, a
narrativa clássica hollywoodiana.
Os filmes de super-herói utilizam esta forma estilística de contar uma história, a
fim de transmitir os principais aspectos da trama em um nível de percepção e
absorção, pelo receptor, próximo à sua totalidade.
De acordo com Jacques Aumont (2002, pp. 92-121), nos cinemas, este formato
de contar uma história faz com que o espectador tenha seu interesse despertado em
relação às cenas seguintes, às particularidades da trama e dos personagens. O
intuito é fazer com que os fatos e personagens principais apresentados criem raízes
na memória do público, com a finalidade de, quando houver um próximo contanto
com algo já mostrado, grande parte dos elementos venham à tona em sua memória.
Isto cabe, também, se houver um novo contato, em uma nova história, em um
próximo capítulo.
Há o interesse de que a história se apresente de forma clara e concisa, pois o
próximo passo na narrativa terá o dever de continuar a trama e esclarecer pontos
obscuros em relação ao que foram apresentados momentos antes.
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De forma eficaz, essa narrativa atualizou-se e adequou-se, passo a passo, às
novidades cinematográficas elaboradas ao longo de quase um século.
Analisaremos, portanto, algumas cenas do filme Matrix e acompanharemos a
maneira como esta trama se utiliza desta estrutura. Escolhemos esta obra pelo fato
de dar início à época que será retratada neste trabalho (de 1999 a 2009) e, por
conter em sua trama, todos os elementos que compõe os dados levantados na
pesquisa para se definir o que é um filme de super-herói, bem como os da narrativa
clássica hollywoodiana.
Tendo em vista estas informações, destacamos os pontos fundamentais
observados por Aumont sobre a narrativa clássica hollywoodiana que se
compatibilizam ao nosso tema. São eles: a) clareza; b) “passo a passo” da história;
c) conexão com a época tratada; d) informações da jornada: d.1) começo; d.2)
problemas; objetivo; d.3) conflitos com outros personagens e um final que deve
conter uma derrota ou vitória decisivas; d.4) fatos relevantes apresentados por três
vezes; d.5) antecipação de fatos que vêm a seguir e sua confirmação; d.6) dead line
(trata-se de um momento na história em que alguém recebe uma “notícia” de que
terá um prazo para atingir um objetivo ou concluir uma ação, caso contrário, haverá
uma definição geralmente ruim ou frustrante que acabará ou dificultará as
possibilidades de se atingir o objetivo) em algum momento da trama; d.7) clímax;
d.8) final plausível e coerente em relação ao todo apresentado.
Desde o início do filme Matrix, até os primeiros vinte minutos, sabemos que, o
protagonista chama-se Neo e que trabalha numa empresa de grande porte bem
conceituada no mercado, mas à noite e em suas horas vagas trabalha como hacker
e vende suas atividades ilícitas a outras pessoas. Sabemos que ele está sendo
observado, procurado e é o próximo alvo de dois personagens: Agente Smith e
Morpheus e que o segundo acredita que Neo possa ser “O Escolhido”. Aqui, temos o
primeiro ponto, apresentado acima, fundamental da narrativa clássica hollywoodiana,
pois ela se utiliza de organização e desenvolvimento lógico e claro, com doses de
surpresa, e pode ser observado do minuto treze ao dezoito do filme quando Neo
recebe, por encomenda, um telefone celular e descobre que Morpheus está do outro
lado da linha pedindo que ele siga suas instruções para escapar de três homens que
estão à sua procura. Em minutos, o protagonista que estava no trabalho é levado
dali a uma pequena sala de interrogatório, pois não conseguiu escapar. Aqui já há,
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logo nos primeiros minutos, elementos que fazem o público entrar no universo
fílmico à medida que a exibição avança e desperta no espectador a vontade de
querer saber o que acontecerá a partir dali.
Esta lógica, este passo a passo na condução da história, é o que faz o
espectador ir aos poucos se familiarizando e tornando-se cada vez mais íntimo da
trama e dos personagens. Com este tipo de estrutura se consegue transmitir as
informações necessárias e não deixar nenhuma dúvida ou confusão e ir, aos
poucos, sedimentando as características principais e mais importantes que
consolidam a história.
Em Matrix temos, logo no início, os personagens principais apresentados, suas
características, suas funções na história, seus objetivos estabelecidos e como se
darão as relações entre eles. Além de Neo, fomos apresentados ao Agente Smith:
espécie de agente secreto do governo que pretende capturar Morpheus e ameaça
Neo para ter sua colaboração; Morpheus: procurado pelos agentes do governo e
acusado de crimes, está à procura de Neo, pois acredita que ele é “O Escolhido”;
oferece a Neo a oportunidade de conhecer um outro mundo, o mundo real; Trinity:
trabalha com Morpheus e o auxiliou na busca a Neo, sabemos que ela também era
hacker e isto, na trama, é a motivação de empatia do protagonista pela
desconhecida, tem superpoderes, como voar ou correr de forma sobre-humana;
Matrix: temos a primeira explicação sobre ela.
O filme também está conectado à época em que é retratado. Apesar de ser um
filme em que partes da trama sejam ambientadas no futuro, em relação à época de
sua produção, percebemos logo no início, que alguns dos assuntos de destaque no
final do milênio passado foram levantados na história, como os computadores – por
conta do bug do milênio17 - e a internet – por conta das empresas virtuais cada vez
mais em voga na época. Neste período, diversas empresas surgiram na internet e
houve um crescimento expressivo de investimento nestas empresas, visando-se
novas formas de negócios. Além da representação de telefones como meio de “tele
17 Havia uma preocupação de que os computadores – por terem seus relógios ajustados a trabalharem apenas com duas casas decimais, em relação ao ano –, na virada de 1999 para 2000, entenderiam que o ano teria voltado a 1900 tumultuando diversos setores que continham seus dados no formato digital. Fonte: <video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1178025-7823-BUG+DO+MILENIO+PREOCUPA+O+MUNDO,00.html>.
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transporte da mente” ou envio de dados, com referência a um dos meios mais
populares pela qual a internet transmite seus dados. (AUMONT: 2002, p. 107).
Os filmes de super-heróis procuram de desenvolver histórias de simples
absorção e captação dos elementos. Com isto, eles alcançam o objetivo de atingir
um público mais amplo, desde crianças até os mais velhos que, por vezes, tiveram
algum contato com alguns destes super-heróis - em gibis ou seriados de televisão,
por exemplo - na sua infância ou adolescência.
O próximo passo a uma imersão mais profunda no universo fílmico do
espectador é a apresentação do grande problema que o protagonista irá enfrentar e
terá de resolver - sozinho ou com a ajuda de seus amigos.
Após sabermos das características mais importantes dos personagens que
movimentarão a história nos é fornecido novas informações sobre o que estes
personagens farão daqui para frente. (BORDWELL: 2005. pp. 279-286).
No filme Matrix há, em diversos momentos, informações que nos levam saber,
qual será o objetivo e as preocupações do protagonista. Mas, anteriormente a isto,
nos são dados elementos e macro questões que nos levarão a entender o porquê do
protagonista buscar alcançar o objetivo ou ter de enfrentar algumas pessoas ou
situações pelo caminho. Por exemplo, sabemos que: a) Neo procurava respostas; b)
a Matrix encontrou Neo; c) O que é a Matrix?; d) Morpheus diz a Neo que ele
encontrará a resposta, se quiser; e) Morpheus diz a Neo que mostrará o que ele
procura; f) Morpheus diz a Neo que ele é “O Escolhido”.
Em relação às macro questões, temos aqui a primeira explicação que o filme
nos fornece a respeito do que é a Matrix: aos 41´20´´, Morpheus explica a Neo que
os seres humanos criaram a Inteligência Artificial e ela, por conta própria, criou
outras máquinas. Após isto houve uma luta entre humanos e máquinas e elas
venceram. Por culpa dos humanos, a energia solar não conseguiu ultrapassar uma
camada espessa de nuvens e as máquinas, que dependiam de energia solar,
encontraram nos humanos a fonte de energia que necessitavam. Por conta disto, os
seres humanos servem, hoje, como fonte de energia e adormecem em casulos; as
máquinas criaram a Matrix, um mundo criado por computador para que o cérebro
das pessoas pudesse manter-se ativo.
A grande problemática do filme está posta. Verificaremos quais objetivos
principais o protagonista deverá atingir. Em 57´15´´, Morpheus explica a Neo que
61
todas as pessoas que lutaram contra os guardiões da Matrix morreram, mas onde os
outros falharam, ele vencerá. Aqui nos são dadas duas informações importantes: a
primeira diz respeito ao objetivo e a segunda sobre as condições que o protagonista
possui em alcançá-lo, ou seja, Neo irá combater os guardiões e terá condições de
vencer, pois Morpheus disse e Neo sabe que Morpheus tem uma visão maior das
dificuldades e escolhas que o protagonista terá de enfrentar, como acontecerá na
sequência. Neo pergunta por que ele vencerá a luta e Morpheus diz que Neo é mais
forte e rápido que os guardiões. Mas, isso só ocorrerá quando ele, Neo, estiver
pronto para o combate.
Após este discurso de Morpheus, já no final da jornada, Neo terá seu primeiro
combate. Em, 1h41´, Neo chega ao prédio em que Morpheus está preso e tentará
libertá-lo, mas para isso terá de enfrentar os guardiões (agentes). Primeiro, entra em
combate, com a ajuda de Trinity, e mata os seguranças da portaria, de forma rápida
e eficaz. Após isto, há um combate mais complexo, ainda no saguão do prédio,
contra uma espécie de equipe de policiais de elite. O número de combatentes
aumenta expressivamente em relação aos seguranças anteriores. Após o saguão ter
sido parcialmente destruído e os policiais terem sido mortos, Neo e Trinity sobem,
estourando o cabo do elevador, até o terraço. Neo enfrenta o primeiro agente,
consegue desviar das balas, mas leva dois tiros de raspão e cai. O Agente se
aproxima de Neo e aponta sua arma em direção ao protagonista. Trinity surpreende
o guardião e atira em sua cabeça, matando-o. Ela diz a Neo que nunca tinha visto
alguém se mexer tão rápido quanto os agentes.
A partir daqui, temos grande parte dos elementos necessários que nos fazem
crer que Neo está pronto para o combate com os outros agentes, como Morpheus
disse anteriormente.
Pudemos observar, a partir destas cenas, algumas funções da narrativa
clássica utilizadas com o intuito de produzir e oferecer elementos para que o público
os “colecione”, possa utilizá-los e, posteriormente, encaixá-los conforme a trama
avança. São, por vezes, elementos comuns e não necessariamente aqueles que
possam desvendar a macro questão ou um grande mistério. São as peças que se
encaixam umas noutras, naturalmente, sem que haja um esforço maior do
espectador e que colaboram na construção do sentido maior da história.
(BORDWELL: 2005, pp. 279-286).
62
Tratando-se da última questão em relação às informações da jornada pudemos
analisar em Matrix que há uma vitória decisiva no final e Neo atinge seu objetivo
maior que era descobrir se ele era “O Escolhido”. Afinal, ele atingiu os outros
objetivos, menores, porém importantes, como salvar seus companheiros e destruir
os agentes (guardiões) constatando, deste modo, quais eram suas habilidades e
superpoderes.
Bordwell (2005, p. 296) nos explica, ao citar a roteirista americana da primeira
metade do século XX, Frances Marion, que para o espectador assimilar detalhes
essenciais da história, o roteiro deve apresentar “todo e qualquer fato relevante três
vezes, porque o filme não será compreendido se o público não perceber as
premissas em que ela se baseia”. Ou seja, os fatos fundamentais que a história quer
fazer com que o espectador perceba devem ser firmados pela repetição, caso
contrário corre-se o risco de o espectador não compreender a trama de forma clara
ou mesmo não captar as mensagens principais por completo.
Em Matrix pudemos constatar em diversas passagens do filme como isto
ocorre e escolhemos alguns trechos, relatando-os a seguir, sobre um dos assuntos
mais importantes da trama que é saber se Neo é realmente “O Escolhido” fazendo
com que este termo tenha certas semelhanças e faça algumas referências a Jesus
Cristo. Vejamos: 1ª) 50´´: Trinity conversa com Cypher (personagem que trairá seus
colegas que combatem as máquinas criadoras da Matrix) e diz que Morpheus
acredita que Neo é “O Escolhido”. Ainda não sabemos de quem se trata. Na cena a
seguir vemos Neo dormindo; 2ª) 8´40´´: Choi (um cliente de Neo que havia
encomendado um mini compact disc com algum tipo de informação) ao receber o
mini compact disc diz a Neo: “Aleluia. Você é o meu salvador, cara. O meu Jesus
Cristo”; 3ª) 10´20´´: Neo está numa discoteca, encontra Trinity e quando descobre
que ela era uma hacker famosa diz: “Jesus!”; 4ª) 22´: Morpheus, ao telefone, fala
com Neo e diz: “Você é ‘O Escolhido’”; 5ª) 33´: Neo deixa a vida do mundo criado
pela Matrix, acorda e percebe que está no mundo real, numa espécie de casulo; 6ª)
34´: Uma máquina retira seu corpo do casulo e suspende-o até o teto que, ao se
abrir, emana uma luminosidade intensa; 7ª) 35´30´´: Neo pergunta a Morpheus se
está morto e este responde que Neo está longe disso; 8ª) 45´10´´: Morpheus diz:
INT. QUARTO DE NEO
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(...) MORPHEUS
Quando a Matrix foi construída havia um homem nascido nela que tinha a habilidade de mudar o que ele quisesse para refazer a Matrix a seu modo. Foi ele quem libertou o primeiro de nós e nos mostrou a verdade. Enquanto a Matrix existir a raça humana nunca será livre. Quando ele morreu, o Oráculo profetizou a sua volta e, que sua chegada coroaria a destruição da Matrix, o fim da guerra e a liberdade para nosso povo. E, por isso, nós passamos a vida fazendo buscas pela Matrix procurando por ele. Eu fiz o que fiz porque acredito que a busca terminou.
9ª) 1h2´30´´: Cypher conversa com Neo e pergunta se ele sabe por que está
ali, Neo balança a cabeça e diz que sim. Cypher diz: “Jesus! Que responsabilidade.
Você está aqui para salvar o mundo.”; 10ª) 1h14´: Oráculo pergunta a Neo se ele
acha que é “O Escolhido”.
Pudemos perceber que, durante a trama, é feita, por diversas vezes, citações e
referências a Jesus Cristo quando se fala sobre o protagonista Neo ser “O
Escolhido”.
Logo no início, há dois personagens conversando e, um deles, cita o nome de
Jesus e diz que eles devem matar Neo. Aqui, podemos entender que a trama faz
alusão à Judas Iscariotes, um dos apóstolos de Jesus Cristo que o traiu, entregando-
o por dinheiro. Como visto anteriormente, no trecho 6º, acima, o personagem Cypher
trai Neo e seus companheiros por uma vida de luxo e poder.
Outra referência observada ocorre em uma cena em que Neo é carregado e
erguido por uma máquina até o teto do recinto. Este local contém uma grande
quantidade de casulos e, dentro destes estão corpos de seres humanos que servem
de energia às máquinas. No momento em que o protagonista é suspenso, em
direção ao teto do recinto, este se abre e uma luz intensa, vinda do céu, surge.
Assim como ocorreu com Jesus Cristo, que após ter sido morto na cruz, teve
seu corpo levado a um túmulo e, após três dias ressuscitou. Em comparação, Neo
também deixa sua vida “terrena” para iniciar uma nova em “outro lugar”, como uma
espécie de ressurreição que é afirmada, momentos depois, quando Morpheus diz a
Neo que ele, a partir deste momento, está mais vivo do que nunca, mesmo após ter
deixado o mundo em que vivia para fazer parte de outro em que ele, Neo, terá a
possibilidade de salvar pessoas que quiserem conhecer um novo mundo.
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O que objetivamos demonstrar com estes exemplos, é o fato de o filme levantar
esta questão, cerca de dez vezes, utilizando frequentemente um “fato relevante”
para alertar o espectador, desde os primeiros cinquenta segundos de filme, de que
aquela informação era importante e fazia parte de um dos sentidos maiores da
história, ou seja, revelar que o personagem Neo era “O Escolhido”, o responsável
por salvar a humanidade de um mundo repleto de sofrimentos e apresentar um
mundo novo, pós-vida que poucas pessoas conhecem, como Jesus Cristo que teve
como função principal salvar a humanidade.
Outro aspecto necessário e que se funde a esses “fatos relevantes” diz respeito
aos fatos antecipatórios, ou seja, ao trazer um fato novo junto a uma afirmação
deve-se confirmá-la mais adiante, pois fará com que o espectador crie laços e
compreenda que algo faz a história caminhar de uma forma natural e coerente.
Pode-se observar, em Matrix, diversos trechos em que há uma ou algumas cenas
que alertam sobre um fato que poderá ocorrer no futuro e, mais à frente, este fato é
confirmado, como nesta descrição, a seguir, que ocorre em 1h06´50´´ do filme.
Morpheus diz que levará Neo para conhecer o Oráculo; 1h08´50´´: Neo pergunta a
Trinity se o Oráculo pode dizer quem ele realmente é; 1h09´35´´: Neo e Morpheus
conversam, no elevador, a caminho de conhecer o Oráculo; 1h12´15´´: Mulher
chama Neo para ver o Oráculo.
Aqui, além de ser citado, em menos de dez minutos, mais de três vezes, sobre
Neo conhecer o Oráculo, constatamos que a cada cena com esta informação havia a
próxima confirmando a anterior. Pode parecer banal, afinal eles estão a caminho do
Oráculo, mas supondo que um acidente acontecesse com Neo, no meio do caminho
ou mesmo quando os personagens chegassem ao destino e o Oráculo tivesse
morrido ou estivesse em outro lugar, poderia causar frustração no espectador e
deixá-lo alerta, a partir dali, em não tomar como importante novas expectativas que
possam ser confirmadas posteriormente.
Escolhemos esta sequência por tratar-se de confirmações próximas, mas há
outros exemplos na trama que percorrem dois terços do filme, como a traição do
personagem Cypher em relação ao grupo que defende a destruição da Matrix como
descreveremos a seguir: Em 50´´, na trama, Cypher diz a Trinity que eles devem
matar “O Escolhido”; 1h04´50 vemos Cypher jantar com o Agente Smith (guardião da
Matrix) e fazer acordo com ele para mudar sua vida na Matrix e torná-lo rico e
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importante, pois ele não ligava em saber que aquilo não era real, e em troca, deveria
entregar Morpheus; 1h08´: Cypher está na Matrix com seus companheiros e o
vemos jogar um celular, que serve de contato com o operador de telefone do mundo
real18, no lixo.
A partir de agora veremos a confirmação da traição que fora iniciada nos
cinquenta segundos de filme e termina em 1h25´50´´: Cypher atende ao telefone e
volta ao mundo real, na base onde os corpos de seus companheiros estão. O
telefone toca na Matrix, com a finalidade de trazer o restante do grupo de volta. Mas,
antes que isso ocorra, Cypher atira em Tank. Cypher assume o lugar do operador,
liga para Trinity e confessa sua traição.
Diante a destas descrições, é possível perceber a diferença na antecipação
das cenas seguintes, como o primeiro exemplo, e antecipação de cenas futuras,
como ocorre no segundo exemplo, pois se tivermos de modo exagerado
confirmações sucessivas do que foi anunciado o espectador perderá o interesse na
trama.
Neste segundo exemplo, esta técnica é utilizada para que se evitem surpresas
negativas, como as mencionadas no exemplo do Oráculo, anteriormente. Ou seja,
serve para que o espectador não seja frustrado ou confundido em relação aos dados
que ele coletou e espera utilizar em algum momento da história. (BORDWELL: 2005.
pp. 292-298).
Ao analisar os filmes foi observada a presença de outra técnica da narrativa
clássica hollywoodiana nas tramas dos filmes de super-herói. A cena descrita a
seguir foi retirada do filme Batman – O Cavaleiro das Trevas e refere-se ao elemento
chamado deadline, que pode ocorrer uma ou diversas vezes durante a história.
O ponto a ser observado é a maneira na qual o protagonista é posto em uma
situação em que terá um prazo e apenas uma chance para fazer escolhas e resolver
o problema.
O vilão Coringa está na sala de interrogatório. Comissário Gordon começa a
interrogá-lo e pergunta onde está Harvey Dent (promotor de justiça de Gotham City).
Coringa diz que, dependendo do horário ele poderá estar em um ou vários lugares.
18 Tank (Marcus Chong) é o responsável por enviar e trazer seus colegas da Matrix ao mundo real. Esta operação ocorre da seguinte forma: há um operador de telefone que fica em uma nave chamada “Nabucodonosor”. Além de outras funções, ele é responsável por encontrar uma linha disponível que conecta seus companheiros, mentalmente à Matrix.
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Comissário Gordon diz que vai pegar uma xícara de café e sai da sala. Batman
aparece atrás do vilão (anteriormente não o víamos, pois o ambiente estava à meia
luz). Batman bate em Coringa. Começam a conversar. Coringa acusa Batman de
deixar cinco pessoas morrerem. Continuam a conversar. Coringa diz a Batman que
suas personalidades são iguais. Batman se irrita e pergunta por Dent. A partir de
agora, reproduziremos os diálogos com a finalidade de transpor, com maior
fidelidade, o ambiente que compõe a cena e a exposição do deadline:
INT. SALA DE INTERROGATÓRIO, DELEGACIA CENTRAL DE GOTHAM – NOITE (...)
CORINGA Você tem várias regras e acha que vão salvá-lo.
Batman segura Coringa pelo colarinho e encosta Coringa contra a parede.
BATMAN Eu tenho uma regra.
CORINGA Então, é a que terá que quebrar para saber a verdade.
BATMAN
Qual é?
CORINGA O único jeito sensato de viver neste mundo é sem regras. E, hoje, você vai quebrar sua única regra.
BATMAN
Eu estou considerando.
CORINGA Faltam uns minutos. Terá que entrar no meu jogo se quiser salvar um deles.
BATMAN
Deles?
CORINGA Sabe, por algum tempo, eu pensei que fosse mesmo o Dent. O modo como se jogou atrás dela.
Batman joga o Coringa em cima da mesa. Coringa ri. Batman vai até a porta e a bloqueia com uma cadeira.
CORINGA
Ficou nervosinho.
Coringa senta em cima da mesa. Torce o pescoço estalando-o.
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CORINGA
Harvey sabe sobre você e a coelhinha dele?
Batman puxa Coringa pelos cabelos e bate a cabeça do vilão no vidro blindado da sala de interrogatório.
BATMAN
Onde eles estão?
CORINGA Matar é fazer uma escolha.
Coringa está no chão. Batman dá um soco no rosto do vilão.
BATMAN ONDE ELES ESTÃO?
CORINGA
Escolha entre uma vida ou outra. A do seu amigo, o promotor público, ou da sua recatada noivinha.
Batman dá outro soco em Coringa. Coringa gargalha.
CORINGA Você não tem nada, nada com o que me ameaçar. Nada a fazer com toda a sua força.
Batman pega Coringa pelo colarinho e o levanta.
CORINGA Não se preocupe, vou lhe dizer onde estão, os dois. E é aí que está, você vai ter que escolher. Ele está na Rua 52, 250 e ela está na avenida X, no Cicero.
Batman joga Coringa no chão e sai da sala.
INT. SALA DE OBSERVAÇÃO DA SALA DE INTERROGATÓRIO - CONTINUAÇÃO
COMISSÁRIO GORDON Vai atrás de qual?
BATMAN
Rachel.
INT. – ESTACIONAMENTO, DELEGACIA CENTRAL DE GOTHAM – NOITE Batman sobe em sua moto.
COMISSÁRIO GORDON
A GENTE SALVA O DENT.
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Este artifício tem a finalidade de deixar o espectador atento à trama, pois sabe-
se que, a partir deste momento o “relógio” está contra o super-herói e, se não atingir
a meta, o desfecho poderá ser trágico.
Voltando ao filme Matrix observaremos um artifício que leva a história ao fim,
mas sem fornecer todos os elementos para que ela termine definitivamente. A
descrição a seguir, trata do início do clímax, que carrega a parte de maior tensão da
trama, e “desenha” o conflito final. Saberemos se o objetivo poderá ser atingido ou
não e de que forma ele ocorrerá. E aqui, algumas questões pendentes, levantadas
durante a trama, começam a ser resolvidas e explicadas. Vejamos. O telefone de
uma estação de trem toca. Vemos um mendigo deitado no chão, bebendo, em um
canto da estação. Neo, Morpheus e Trinity chegam à cabine telefônica:
INT. ESTAÇÃO “EL” (MATRIX) – DIA (...)
NEO Você primeiro, Morpheus.
Morpheus agradece com aceno de cabeça e entra na cabine. Atende ao telefone e desaparece. O mendigo olha e parece não acreditar. Neo coloca o telefone no gancho.
TRINITY
Neo, eu quero te dizer uma coisa... mas tenho medo do que você possa entender.
O telefone TOCA.
TRINITY
Tudo que o Oráculo me disse tornou-se verdade.
O telefone TOCA.
TRINITY Tudo menos isto.
NEO
Menos o que?
O telefone TOCA por mais três vezes. Neo e Trinity se olham em silêncio. O trem chega à estação e vai embora. Agente Smith toma emprestado o corpo do mendigo e levanta-se. Trinity atende ao telefone. Agente Smith atira na cabine. Trinity consegue sair da Matrix e desaparecer, mas o telefone é destruído. Trinity acorda no mundo real. INT. NAVE
TRINITY
Neo.
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TANK
O que aconteceu?
TRINITY Um agente. Mande-me de volta.
TANK
Não posso.
INT. ESTAÇÃO “EL” (MATRIX) – DIA
Neo olha o telefone destruído. Agente Smith vai ao encontro de Neo.
AGENTE SMITH Sr. Anderson.
INT. NAVE Trinity observa a cena pelos códigos da Matrix.
TRINITY
Corra, Neo. Corra.
INT. ESTAÇÃO “EL” (MATRIX) – DIA
Neo está de costas para o agente e de frente para a escada de saída, vira-se. INT. NAVE
TRINITY
O que ele está fazendo?
MORPHEUS Começando a acreditar.
INT. ESTAÇÃO “EL” (MATRIX) – DIA
Neo e Agente Smith estão frente a frente, como num duelo western. Começa a luta. Um vai em direção ao outro atirando. Chocam-se no ar. Nenhum dos dois acerta os tiros. Caem e apontam suas armas na cabeça de seu oponente.
AGENTE SMITH
Está sem balas.
NEO Você também.
Os dois começam uma luta corporal.
AGENTE SMITH
Vou gostar de te ver morrer... Sr. Anderson.
A luta continua. Neo sangra pela boca na Matrix. E na vida real também.
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INT. NAVE
TRINITY
Jesus, ele o está matando.
Trinity limpa a boca de Neo.
INT. ESTAÇÃO “EL” (MATRIX) – DIA
Neo e Agente Smith lutam. Agente Smith joga Neo nos trilhos do trem. Pula nos trilhos e agarra Neo, por trás, pelo pescoço.
AGENTE SMITH
Está ouvindo, Sr. Anderson? É o som da inevitabilidade.
Um trem vem em direção aos dois.
AGENTE SMITH
É o som da sua morte. Adeus, Sr. Anderson.
NEO O meu nome... é Neo.
Neo salta e eleva os dois até o teto. Neo consegue se desvencilhar do Agente Smith. Agente Smith é arrastado pelo trem. Neo vai em direção à escadaria da estação e para. Trem FREA. Agente Smith sai de dentro do vagão, ileso. Neo sai correndo em direção às escadas. INT. NAVE
TRINITY
O que aconteceu?
TANK Não sei. Eu o perdi.
(...)
INT. HALL DO “HEART OF CHICAGO” HOTEL (MATRIX) – DIA Agente Smith dá um tiro no peito de Neo. Neo recua, mas não cai. Agente Smith atira mais vezes. Neo cai. Seu coração para no mundo real.
AGENTE SMITH
Verifiquem.
AGENTE Ele morreu.
AGENTE SMITH
Adeus, Sr. Anderson. (...)
Neo está imóvel na Matrix e no mundo real. Trinity se aproxima de Neo.
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INT. NAVE
TRINITY Neo, eu não estou mais com medo. O Oráculo disse que eu me apaixonaria e que o homem que eu amaria seria “O Escolhido”.
Neo continua imóvel.
TRINITY
Então, veja... você não pode estar morto. Não pode estar... porque eu te amo. Está me ouvindo? Eu te amo.
Trinity beija Neo na boca. Neo volta a respirar. Uma máquina, no mundo real, mostra que o coração de Neo voltou a bater. Neo abre os olhos na Matrix.
TRINITY
Agora, levante.
Como pudemos observar, essa sequência preparou o público para duas
questões fundamentais da trama. A primeira é que Neo e Trinity formarão um casal
e, se isso for verdade como o Oráculo previu, Neo é realmente “O Escolhido”,
cumprirá todas as metas pendentes e atingirá seu objetivo maior. Percebe-se que o
super-herói obteve certa vantagem na luta da estação de metrô, mas não definitiva.
Ao vermos Neo “morrer”, e “ressuscitar” em seguida, podemos concluir que isto não
ocorreu por acaso. A próxima questão a desvendar, não é mais saber se Neo
vencerá a luta contra o Agente Smith, mas sim, como. O clímax nos esclarece
pontos obscuros ou não resolvidos da trama, como o que o Oráculo disse a Trinity e,
ainda, nos forneceu elementos para que a história seja concluída com um desfecho
favorável ao super-herói.
Discorreremos, agora, sobre o último elemento importante da narrativa clássica
hollywoodiana encontrada nos filmes analisados e que coroa toda a estrutura
apresentada, a conclusão lógica de uma cadeia de eventos, o efeito final da causa
inicial. (BORDWELL: 2005. p. 283).
A partir do final do filme Matrix podemos compreender como esta conclusão
ocorre. Neo acorda na Matrix. Três agentes atiram nele. Neo para as balas, no ar,
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que vinham em sua direção. Tank vê a cena na Matrix19 e pergunta-se como Neo
parou as balas. Morpheus diz a ele que Neo é “O Escolhido”. Neo começa a ver a
Matrix por dados e não mais como imagens. O protagonista luta contra o Agente
Smith, mas agora seus reflexos e movimentos estão mais rápidos e ele não tem
dificuldade em defender-se. Neo vai de encontro ao Agente Smith e entra no corpo
do guardião. Isto faz com que o agente se desfaça em pedaços. Os outros agentes
se olham e correm para fugir de Neo.
Enquanto isso, a nave Nabucodonosor está sob o ataque dos vigilantes, no
mundo real, e Neo precisa atender ao telefone e voltar, mas Morpheus necessita
ativar um controle na nave com a finalidade de acionar um campo eletromagnético
fazendo com que os vigilantes (máquinas) parem de funcionar, mas se isso ocorrer
Neo não pode voltar ao mundo real.
Neo vai em direção ao telefone. Morpheus liga o campo magnético. As
máquinas vigilantes param de funcionar. Trinity está abraçada a Neo e ele acorda.
Eles se beijam.
Observamos nesta descrição das cenas de conclusão do filme Matrix o
esclarecimento das questões em aberto e, principalmente, a macro questão.
Soubemos, enfim, que: Neo era realmente “O Escolhido” e exterminou seu
arquiinimigo; Morpheus estava certo desde o princípio em acreditar que o destino do
super-herói era este. A questão das previsões feitas pelo Oráculo, em relação a Neo,
a Morpheus e a Trinity foram encerradas. Tendo como último grande esclarecimento,
no clímax da trama, que a mensagem do Oráculo em relação à Trinity era de que a
super-heroína se apaixonaria pelo Escolhido.
Os mecanismos analisados ocorrem nas tramas com o intuito de torná-las
claras, objetivas e interessantes, na tentativa de fazer com que se atinja um número
maior de espectadores e fazendo com que suas histórias tenham força de
penetração no mundo inteiro.
Esta é uma das mais importantes funções da narrativa clássica hollywoodiana,
fazer com que a história seja compreendida pelo maior número de espectadores
possível, em qualquer lugar, em qualquer cultura.
19 Em uma tela de computador de fundo preto cruzam uma grande quantidade de dados na cor verde. Alguns personagens do mundo real são capazes de observar estes dados e visualizá-los em imagens da Matrix.
73
2. 2. Efeitos visuais
Os efeitos visuais nos filmes de super-heróis funcionam como aporte narrativo.
Eles incrementam a história na tentativa de transmitir ao espectador maior
verossimilhança e um visual orgânico aos movimentos dos personagens, em relação
ao meio ambiente em que são apresentados e, em relação à interação entre as
personagens tentando traduzir, em imagens, algumas sensações experimentadas
por elas, como um tremor ou uma explosão.
Estes efeitos podem ser observados como um novo passo na evolução técnica
e narrativa que já é seguido, desde Matrix, e transformou-se em norma para outros
filmes (ECO, 1989, pp. 92-93).
No final de Matrix, Neo sai de uma cabine e voa, de forma verossímil e
orgânica. A partir deste filme, observamos que as próximas histórias de super-herói
nos cinemas buscaram mostrar em seus personagens, que tinham o poder de voar,
uma maneira de fazê-lo de forma similar ou, na tentativa de superar este efeito, com
mais mobilidade e cenas mais longas que a deste filme. De qualquer maneira,
observamos uma mudança no modo como víamos um super-herói voar, pois
anteriormente esta cena mostrava um “ser” mais estático e menos orgânico, em
filmes anteriores a 1999, como Super-Homem (1979), de Robert Donner.
Outro aspecto observado em Matrix, diz respeito a uma cena em que a
personagem Trinity está em uma sala escura e policiais a encurralam apontando
suas armas para a super-heroína e, de repente, ela fica suspensa no ar, parada. Ao
mesmo tempo, podemos observar a câmera se movimentar girando em torno do
ambiente proporcionando ao público observar a imagem estática de vários ângulos,
como se pudesse deslocar-se pelo ambiente em que o mundo dos personagens
estivesse interrompido no tempo e espaço, porém com a vantagem de o espectador
“se movimentar” pela cena proporcionando uma apreciação que, pelo aspecto da
forma estática do que é mostrado, só poderia ser acompanhada em uma foto ou um
desenho de HQ, com a vantagem de poder se deslocar pela figura, numa espécie de
imersão naquele ambiente, como Knowles nos explica:
Os quadrinhos têm um tipo profundamente íntimo de narrativa (...) tem uma magia especial, que afeta o cérebro de maneiras impossíveis para a prosa (...). Clive Barker observa que os quadrinhos acontecem no ritmo do próprio leitor, observando que
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uma história em quadrinhos “se desenvolve no seu ritmo pessoal, como um sonho ou pesadelo.” Os leitores controlam a linha do tempo visual de um modo que outras mídias teriam dificuldade para imitar, mesmo dispondo do recurso quadro-a-quadro dos vídeos e DVDs. Cada momento visual fica suspenso eternamente no tempo e no espaço da revista. Os fãs de quadrinhos controlam o fluxo dos acontecimentos, e assim cada momento pertence a eles. Nenhuma outra forma de arte pode fazer isso. É como se, por ler quadrinhos, você se tornasse uma espécie de divindade. O impulso está incorporado de maneira brilhante ao filme Matrix, com as seqüências de quadro congelado e de “ritmo das balas”. (KNOWLES: 2008: pp. 234).
Como observado acima, além dos aspectos de observação de uma figura
estática pelo espectador, esta cena, este efeito chamado “Bullet-time”, inaugurou
nos cinemas, algo semelhante ao que poderíamos realizar em aparelhos domésticos
de reprodução de vídeo, ou seja, parar a cena e observar melhor alguns detalhes,
com a vantagem de podermos apreciar a cena por outros ângulos.
Este efeito, conforme analisado por Geraldo de Lima, em sua dissertação de
Mestrado intitulada “Mundo paralelo virtual no cinema – Um estudo do espaço em
“Matrix””, é produzido por:
(...) uma câmera que circula em velocidade normal ao redor da cena de ação, que se passa em câmera lenta. As balas se movem devagar mostrando seu “rastro” no espaço. (...) os atores estão pendurado em cabos, encenando em fundo verde para depois ser aplicado um processo de chroma-key, que substitui o fundo verde por qualquer imagem digital (...). Em torno deles 120 câmeras fotográficas digitais e duas câmeras cinematográficas. As câmeras fotográficas capturam cada ângulo da ação, enquanto as duas câmeras de cinema capturam o começo e o fim da ação. (LIMA, 2009, pp. 101-103).
Outro aspecto observado nos filmes de super-heróis, como aporte narrativo são
os cortes rápidos, os ângulos diversos de uma mesma cena em movimento, muito
próximo ao observado em videoclipes.
Com estes efeitos, por vezes, não temos tempo de apreciar uma imagem, pois
os cortes e os movimentos narram e traduzem a sensação dos personagens em
relação ao que vivem e sentem naquele momento. Um voo, uma briga, uma situação
desconfortável, como um tremor no ambiente, tudo isto é transmitido ao espectador
em forma de imagem e tenta fornecer parte do que os personagens vivenciam na
75
tela na tentativa de fazer com que o espectador compartilhe destas ações, ao menos
visualmente.
Nos três filmes Homem-Aranha, subimos e descemos como em uma
montanha-russa ao vermos o super-herói deslocar-se de uma avenida a outra.
Vemos a câmera fazer movimentos no ar surpreendentes, como se estivéssemos
acompanhando bem de perto, os voos de super-heróis, como Homem de Ferro ou
Hancock. Visualizamos o impacto que a queda de Hulk causa no ambiente, como se
fizéssemos parte da trama, como espectadores ou até mesmo como se fossemos o
próprio super-herói.
Pelo fato de não termos tempo de apreciar cada detalhe, em contrapartida,
esta forma de narrativa tem o objetivo de fornecer e transmitir ao espectador a
sensação, em movimentos ágeis, de fazer parte da cena. Numa briga ou numa
explosão, as imagens são flashes dos momentos mais importantes do todo.
Juntamente com isto, o espectador é envolvido com os potentes aparelhos de
som das salas de cinemas causando maior interação às cenas, tornando-as mais
completas e estimulantes e, por vezes, fazendo-nos sentir realmente uma explosão
ou um impacto, por conta da vibração sonora que pode ser sentida fisicamente pelo
público, pelos sons graves emanados pela sala. Ou seja, estas duas combinações,
visual e sonora, aumentam a sensação de realidade e participação da plateia com a
trama, seus personagens e suas ações, parecendo nos dizer que sim, estivemos lá,
fizemos parte daquilo, como testemunhas privilegiadas por participar de situações
que poucos ou apenas um personagem da história pudesse experimentar, pois
temos a vantagem de a trama nos conduzir para os pequenos mundos de cada
personagem.
Além de mostrar ao espectador estas sensações, tiveram de elaborar formas
de transmitir o funcionamento dos superpoderes dos protagonistas nos ambientes
em que eles estão interagindo de forma orgânica e verossímil. Sendo assim, além de
mostrar o funcionamento das características de cada super-herói, preocuparam-se
em adequar estes efeitos nas suas devidas situações. Quando Hancock voa e está
bêbado, a imagem mostra o voo do super-herói de forma que sua trajetória seja
irregular e, por conseqüência disto, batendo em diversos objetos pelo caminho. Ao
ocorrer este fato, os choques do personagem com alguns elementos do meio
ambiente deverão parecer verossímeis.
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Batman tem uma capa que lhe confere poderes que permitam a ele plainar,
mas não voar. O super-herói percorre certo trecho de forma diferente de um super-
herói voando bêbado ou mesmo Homem de Ferro que tem propulsores nas solas
dos pés e mãos de sua armadura. Batman “voará”, também, de outra forma e seu
controle de voo será diferenciado e limitado, em relação aos outros dois.
Além disso, Bordwell (2005, p. 295), no que diz respeito à narrativa clássica,
analisa outro aspecto destas questões às quais o público assimilará com
naturalidade. É a questão da plausibilidade, por conta de suas experiências
anteriores, ou seja, o público já tem enraizado pelas mais diversas experiências
sobre aquele assunto e saberá como alguns aspectos do filme serão, pois se
tornaram ou estão se tornando um senso comum. E, mesmo se o espectador nunca
teve contato com aquele tipo de personagem, a própria trama encarrega-se de
mostrar-lhe como o protagonista agirá durante a história e o que se pode esperar
dele.
Outro aspecto destaca-se por uma maior preocupação em representar um
super-herói não só como mito, mas fundamentalmente, como um personagem mais
humano - quando estes têm aspectos físicos de um ser humano - aproximando-os
das pessoas reais, com problemas reais que estão na plateia, como uma busca de
identificação do espectador com o(s) protagonista(s) do filme.
Homem-Aranha tem os mesmos problemas de diversos adolescentes do
mundo inteiro. E, mesmo ao ingressar na universidade, como ocorre em Homem-
Aranha 2, enfrenta diversas situações que a maioria destes jovens vivem, como falta
de dinheiro; trabalho, faculdade, conciliação da vida profissional e estudos. Ou seja,
representa uma parcela da vida em que as pessoas saem de um mundo e
ingressam em outro e esta adaptação pode ser difícil e repleta de dúvidas,
questionamentos, erros, frustrações e equívocos, mas também repleta de
recompensas, conforme a mensagem do filme transmite, se as escolhas forem
éticas e se determinam um objetivo promissor para si. E, mesmo quando o
protagonista acreditar que está no caminho certo poderá sentir-se perseguido,
mesmo querendo fazer o bem, e haverá pessoas que irão lutar contra ele, como
ocorre com o editor do jornal, Clarim Diário, J. Jonah Jameson. Como nos explica
Sonia Luyten (1984, p. 84), a respeito das criações de Stan Lee, a personalidade de
77
seus super-heróis “parecem ser mais normais, isto é, amam, odeiam, têm seus
defeitinhos etc.”
Outro aspecto, que diz respeito à estética dos filmes de super-heróis, são os
uniformes. Como visto, no capítulo anterior, com algumas exceções, como Super-
Homem, estes são próximos do que se veste no dia a dia, sem distanciar-se do
mundo fantástico que cerca estas histórias, mas adequando-se à
contemporaneidade. Os X-Men ou o Quarteto Fantástico utilizam roupas “discretas”
que tem como base uma uniformidade de um grupo, mas sem causar estranheza ou
um ruído visual para a trama. Batman, apesar de utilizar uma roupa incomum,
considerando sua capa e seus chifres, tem um porque de usá-la, pois esta tem sua
função, como demonstrado anteriormente.
O único que parece se destacar, ainda de forma não atualizada, é Super-
Homem que, além de utilizar uma cueca com cinto, por cima da calça, usa uma capa
que não tem utilidade alguma no que diz respeito aos seus superpoderes.
Até mesmo o Homem-Aranha utiliza um disfarce excêntrico, porém na trama,
funciona como um símbolo, uma marca que o super-herói quer solidificar perante a
sociedade em que vive.
Estas adaptações e proximidades, do que ocorre e é mostrado na trama, em
relação à época de produção dos filmes, é chamado por Jacques Aumont (2002, p.
114) de “representação social” onde “o cinema é concebido como veículo das
representações que uma sociedade dá de si mesma.” Ou seja, a partir do momento
em que um filme de super-herói quer atrair, tanto o público jovem quanto o adulto,
deve-se mostrar nas telas referências visuais do que pode ser considerado um
super-herói, neste caso o que fora representado pelos quadrinhos, porém com
modificações, atualizando os personagens e o meio em que vivem em relação ao
que ocorre nos dias atuais da produção do filme.
2.3 Efeitos especiais “verossímeis e orgânicos”
As inovações tecnológicas, no campo cinematográfico, forneceram elementos
hoje suficientes para que se realizassem filmes de super-heróis compatíveis ao que
78
era encontrado nas HQ´s, onde boa parcela dos super-heróis surgiram, ou seja,
transmitir o que era desenhado nos quadrinhos aos filmes.
Essas tecnologias permitiram que, tanto protagonistas, supervilões e/ou
monstros pudessem fazer parte e interagir de forma adequada, orgânica e realista
ao mundo apresentado, de acordo com o que a trama necessitava, em relação aos
seus movimentos, ações e interações com o meio e outros personagens. Por conta
desta evolução tecnológica pudemos observar uma quantidade cada vez maior de
lançamentos de filmes de super-herói a partir da década de 1990.
Na década de 1940 foram três20 lançamentos. Na década de 1950, dois filmes
e, na de 1960, apenas um. Nos anos de 1970, houve dois lançamentos. Na década
de 1980, houve o maior número de lançamentos até então, oito. Já na década de
1990 estrearam dezoito longas metragens nos EUA, ou seja, quase a mesma
quantidade de filmes lançados nas seis décadas anteriores. A partir dos anos 2000,
até 2009, houve trinta e seis lançamentos, quase dobrando o número da década
anterior e, quase atingindo o mesmo número de lançamentos de filmes de super-
heróis em setenta anos, em apenas uma década.
Conforme as novas tecnologias foram se desenvolvendo, se aprimorando e
alcançando patamares em que muito do que se imagina em uma trama pôde ser
criado e mostrado em um filme, as histórias de super-heróis nos cinemas puderam
ser realizadas e lançadas de forma cada vez mais constante.
Como as origens destes personagens ocorreram nos quadrinhos – e as HQ´s
tinham a vantagem e capacidade de mostrar os superpoderes em imagens -
algumas histórias tiveram de aguardar mais de meio século para que se pudesse
atingir uma qualidade de efeitos especiais e mostrar nos cinemas o que os super-
heróis realizavam nos quadrinhos com a vantagem de incrementar a trama com
movimentos e sonorização.
Grande parte destes filmes são adaptações de super-heróis que estrearam nas
HQ´s. E, mesmo os que tiveram uma história contada pela primeira vez nos
20 Consideraremos como um único filme os curtas metragens produzidos em formato seriado com o mesmo título. São eles: As Aventuras do Capitão Marvel (1941), de John English e William Witney; Superman (1941), de Dave Fleischer; Superman (1948), de Spencer Gordon Bennet e Thomas Carr. E, desconsideraremos os filmes: Mandrake – O Mágico (1939), de Norman Deming e Sam Nelson; Batman (1943), de Lambert Hillyer; Capitão América (1944), de Elmer Clifton e John English e Batman (1949), de Spencer Gordon Bennet por seus protagonistas não apresentarem superpoderes nas tramas da década de 1940.
79
cinemas, como Neo, de Matrix, David Dunn, de Corpo Fechado e Hancock, de filme
homônimo, possuem superpoderes baseados nos personagens dos quadrinhos. Ou
seja, as produções tiveram frequência mais robusta a partir do momento em que os
realizadores perceberam e tiveram confiança que seus filmes pudessem mostrar os
“mesmos efeitos” que poderiam ser apreciados nas revistas e com um retorno de
público e bilheteria à altura de seus investimentos.
Comparando-se estas duas mídias, o público teria a vantagem de poder
apreciar as histórias em imagens em movimento mostrando o que os super-heróis
realizavam nos quadrinhos de forma próxima ao que poderia ser considerado real,
pois nas HQ´s, apesar da qualidade dos desenhos, estas imagens não deixariam de
serem desenhos. Porém, a partir destes desenvolvimentos tecnológicos, muito era
possível de ser realizado e agora, os super-heróis poderiam ser vistos como
personagens reais e seus superpoderes seriam mostrados de forma convincente ao
espectador.
No filme Demolidor, temos a oportunidade de “enxergar com os olhos do super-
herói”, conforme figura 1:
Figura 1. Elektra Natchios sob chuva. Visão de "rad ar" do super-herói Demolidor.
São-nos mostradas as imagens que o protagonista vê, por conta de seu senso
de radar. Como explicado anteriormente, em superpoderes, o Demolidor “enxerga”
as formas dos objetos ao seu redor por conta das vibrações sonoras à sua volta e
estas “formam imagens distorcidas” em seu cérebro, mas muito próximas à
realidade. Esta visão do Demolidor é transmitida ao espectador de forma que
acreditássemos que aquela era realmente a forma que o super-herói enxergava. E,
isto se deve ao cuidado técnico dos efeitos especiais que foram capazes de elaborar
80
imagens em movimento de um fundo preto com os objetos, ao redor do protagonista,
em uma cor azulada e com uma espécie de fumaça que determinava a forma do que
havia ao seu redor.
Uma das preocupações fundamentais, em relação aos efeitos especiais nos
filmes de super-herói, é a forma de realizar uma história que mostre uma parte do
que os quadrinhos fazem naturalmente, sem que estes efeitos sejam vistos de forma
inverossímil e inorgânica e, que certamente, desviaria o foco da trama causando
ruído pelo fato da limitação técnica. Este cuidado permite que, ao vermos nas telas
um super-herói como o Tocha Humana, ou seja, um homem em chamas que voa,
pareça algo próximo ao que seria se, um ser como este, existisse em nossa
realidade.
Figura 2. Tocha Humana em desenho de HQ.
Figura 3. Tocha Humana no filme Quarteto Fantástico .
No filme A Liga Extraordinária, há um super-herói chamado Skinner. Como
visto anteriormente, ele tem o poder de ser invisível. Ao apresentar-se aos seus
futuros colegas da Liga, ele faz brincadeiras, como bater em Alain Quatermain. Este,
porém, fica impressionado e pergunta a outro personagem que tipo de brincadeira é
81
aquela e, é explicado que Skinner tomou uma poção que o transformou em um ser
invisível. Porém, o fato que destacaremos nesta sequência ocorre quando o super-
herói veste sua roupa e passa no rosto um produto branco e vemos, aos poucos, a
pasta branca tomar a forma de seu rosto. O detalhamento é tão cuidadoso que, ao
Skinner virar-se de costas, vemos a forma do seu rosto por trás, como se víssemos
a parte de trás de uma máscara de baile, flutuando.
Figura 4. Rodney Skinner (O Homem Invisível).
Outro efeito que pudemos analisar é, novamente, o “Bullet-time” ou “a cena
congelada e em movimento” do filme Matrix. Após esta ocorrência, este efeito fora
utilizado em outros filmes de super-herói, em diversos contextos. No início do filme
X-Men 2, o professor Xavier paralisa todas as formas vivas de uma sala e somente
permite que ele e seus alunos continuem a se movimentar, com o intuito de
interromper um ato exibicionista de um aluno mutante em público. Ao compararmos
a cena de Matrix com esta, pudemos observar que neste podemos acompanhar a
cena por diversos ângulos, porém todos no ambiente estão congelados. Já em X-
Men, há pessoas congeladas e pessoas em movimento, ou seja, observarmos o
ambiente e as pessoas por outros ângulos, mas ao mesmo tempo estáticas e vemos
também pessoas caminharem e se moverem por entre os que estão paralisados.
Sendo assim, além de realizarem um efeito de um filme anterior, os realizadores
evoluíram-no permitindo com que fosse mostrado pessoas se movendo em uma
cena em que outras estão estáticas, de uma forma verossímil e orgânica.
De acordo com Jacques Aumont (2002, pp. 114-144), a partir do momento que
essas mudanças fizerem parte de uma concordância coletiva, um “discurso comum”,
ou seja, após alguns filmes e histórias sobre o mesmo assunto demonstrarem
82
constância de mudança para um determinado caminho, aquilo se tornará a regra
naquele mundo. O que deve ser seguido, a partir de agora, são estes aspectos
apresentados que alguns filmes solidificaram tornando-os fundamentais, no que diz
respeito à verossimilhança ficcional do filme e seu universo diegético.
Outra evolução foi observada, novamente em Matrix. A partir do momento em
que o filme, em sua cena final, mostra ao espectador o super-herói Neo voar de
forma diferente a observada em histórias anteriores, a partir dali os filmes de super-
herói, ao mostrarem personagens que voam buscaram ter a verossimilhança
diegética e “um voar” de forma tão ou mais orgânica que o protagonista de Matrix.
Em Homem-Aranha, apesar de o super-herói não voar, ele percorre por cima
de avenidas, entre prédios, pendurado por sua teia, de uma forma que faz um
movimento no ar para a esquerda e para a direta, para cima e para baixo com
leveza, verossimilhança e de forma orgânica.
Ao compararmos com o voo do super-herói Hancock, no início do filme, ele
percorre os céus de Los Angeles de uma forma que mistura o voo de Neo com os
movimentos do Homem-Aranha, ou seja, uniu-se o desenvolvimento tecnológico de
dois filmes anteriores para que este protagonista voasse de forma mais orgânica que
Neo.
Tocha Humana, do filme Quarteto Fantástico, tem uma forma visual de
locomoção mais complexa que os três anteriores. Além de ter a combinação do voo
de Neo, com a maleabilidade de movimentos no ar do Homem-Aranha e Hancock,
este super-herói torna-se apto a voar a partir do momento em que emana fogo de
seu corpo.
O que o público espera são imagens verossímeis dentro deste mundo, pois
havendo “falhas” ou falta de cuidados técnicos, principalmente visuais, tanto o filme
quanto a trama criarão uma espécie de véu ou um bloqueio que fará o espectador
direcionar seus esforços de compreensão da história para os aspectos que parecem
estar “fora de lugar” ou mal adaptados.
O espectador ao adquirir seu ingresso para assistir a um filme de super-herói
sabe que verá cenas inexistentes em nosso dia a dia. Porém, ao se deparar com um
super-herói voando ou soltando raios pelas mãos, deve ter a sensação de que, se
alguém ou algo pudesse realizar em nosso mundo o que é mostrado, estes fatos
seriam desta maneira ou muito próximo disso.
83
Esta forma de fazer parecer orgânica e real as atuações dos super-heróis diz
respeito também, à forma como a trama nos esclarece a origem dos super-heróis.
Como visto no Capítulo 1 os filmes buscam demonstrar como ocorreu o ganho de
superpoderes dos super-heróis e, se estes nos são mostrados, podemos
acompanhar a adaptação do protagonista a estas novas vantagens, cometendo
erros, evoluindo e nos informando passo a passo na história, como o super-herói se
relaciona com seus superpoderes, para que, quando chegar a hora de o super-herói
agir com maestria em suas batalhas sabermos que aqueles movimentos e reações
não surgiram de repente, mas sim com um conhecimento de si próprio durante um
período de adaptação.
As origens dos super-heróis são mostradas de forma “viva”, com detalhes que
só poderiam ser vistos nos quadrinhos pela grande facilidade que os desenhos
possuem naturalmente.
Sendo assim, pudemos observar, que os efeitos especiais trouxeram um ganho
importante para que se pudesse mostrar diversos efeitos inexistentes em nosso
mundo, mas principalmente efeitos existentes nos quadrinhos de forma verossímil,
orgânica e, por vezes mais interessante, pela vantagem do cinema mostrar imagens
em movimento e sonorizadas.
2.4. O gênero Super-herói
Os filmes de super-heróis analisados têm em seu conteúdo diversos elementos
em comum, como, por exemplo, o fato de o protagonista estar sempre por perto de
alguém que necessite de ajuda, pronto para salvar o dia ou talvez até o mundo.
Outro exemplo, são as cenas de luta ou combate, inevitáveis nestes filmes, pois não
se espera que um super-herói não tenha uma atitude heróica ou não combata o mal
com as próprias forças.
Observando estas informações percebemos que, de fato, há alguns elementos
importantes que podem ser encontrados nos filmes de super-herói. Alguns aspectos
semelhantes nestas obras podem ser reconhecidos pelo público de forma natural,
mas existem outros elementos que, por vezes, podem não ser tão facilmente
84
observados, como por exemplo, algumas das técnicas da narrativa clássica
hollywoodiana descritas anteriormente.
Nos filmes, estes elementos em comum têm como função de destaque obter
um resultado final, mais especificamente o de atingir o maior número de adeptos
àquela trama em virtude dos assuntos a serem abordados. (BORDWELL: 2005. pp.
280-293).
E, ao observar e reunir estes elementos pudemos delimitar e mapear quais são
as características fundamentais que contém e compõe um filme de super-herói e, a
partir daí, iniciarmos as análises fílmicas e extrair os pontos essenciais que compõe
esta dissertação.
Pontuaremos os aspectos constantes nestes filmes e, quando ocorrer alguma
exceção, discorreremos quando estas surgirem.
O aspecto “I”, diz respeito ao título original do filme, ou seja, este traz consigo
o(s) nome(s) do(s) super-herói(s) ou faz referência direta ao(s) protagonista(s).
Aspecto “II”, a trama refere-se ao personagem principal do filme, o super-herói.
Aspecto “III”, a trama do filme é ambientada em uma metrópole ou cidade grande.
Aspecto “IV”, ocorre uma batalha do bem contra o mal. Aspecto “V”, bem e/ou super-
herói vence no final da trama. Aspecto “VI”, os filmes terminam com elementos de
continuação, a fim de ter a possibilidade de continuação da história, em um próximo
episódio. Aspecto “VII”, utilização essencial de efeitos especiais de última geração,
em relação à época de produção do filme.
Com exceção dos filmes Matrix, Matrix Reloaded, Matrix Revolutions, todos os
filmes que serviram de base de pesquisa para esta dissertação contém em seu título
o nome do super-herói, do grupo de super-heróis ou referência direta a ele(s).
Em relação à referência direta podemos analisar o título original do filme Corpo
Fechado que em seu título original Unbreakable, em tradução livre, quer dizer
“inquebrável”. Este termo refere-se diretamente ao protagonista David Dunn que
descobre ao longo da trama um de seus superpoderes, ou seja, este personagem,
como descrito em capítulo anterior, resiste a graves acidentes. No filme, sabemos
que ele sobreviveu a um acidente de carro e, posteriormente, a um acidente de trem
em que somente ele sobreviveu e não fraturou nenhum osso ou mesmo teve
qualquer machucado.
85
Outro caso de referência direta diz respeito a Dragonball Evolution. A palavra
Dragonball, em português, pode ser traduzida como “Bola do Dragão” e, neste caso,
faz referência aos superpoderes dos super-heróis na trama.
Os únicos títulos de filmes que de fato não carregam o nome do super-herói ou
fazem referência direta a ele é a trilogia Matrix que se refere, em grande parte, ao
ambiente em que o super-herói atua.
O aspecto “II” diz respeito à trama dos filmes focarem diretamente à história
dos super-heróis. Podemos encontrar fatos sobre a origem deste personagem,
continuações de sua história ou mesmo filmes que tratam de fatos anteriores.
Porém, o protagonista e o foco principal da trama será o super-herói.
No aspecto “III”, em grande parte dos filmes, a trama é ambientada em uma
cidade grande ou metrópole. Os filmes que fogem à regra são dois: Elektra, pois as
batalhas ocorrem no campo ou em uma ilha - temos apenas uma sequência em
cidade grande quando Elektra pede ajuda a Stick, seu mestre. E, o segundo é
Dragonball Evolution, pois parte da jornada e a batalha final ocorrem em um deserto.
Neste filme temos um número maior de sequências que ocorrem em uma cidade
grande chamada Paozu.
Os aspectos “IV” e “V” podem ser considerados como elementos que
“caminham juntos”. Os filmes de super-herói contêm em suas histórias, finais em que
o super-herói vence o mal. Ao salientarmos o aspecto o bem vence o mal, diz
respeito a dois fatos: a) no filme X-Men 2, a super-heroína Jean Grey morre no final
da trama, pois cede sua vida com a finalidade de salvar seus companheiros. Porém,
Jean renasce e volta à ativa na trama seguinte, em X-Men: A Batalha Final. Aqui,
cabe observar que, a morte da super-heroína não interfere de maneira direta na
continuação dos filmes sobre os X-Men; b) no filme Homem-Aranha 3, outro super-
herói morre na batalha final ao ajudar o Homem-Aranha contra os super-vilões e
salvar Mary Jane. Neste caso, também é valido observar que, o super-herói morto
no final, chamado Duende Verde, não é o protagonista e, portanto, não interfere em
uma continuação da história principal, que é sobre o Homem-Aranha. De qualquer
forma, estas duas situações ocorrem com a finalidade de fazer com que o bem
vença o mal.
86
O aspecto “VI”, diz respeito a elementos de continuação incluídos no final da
trama com a finalidade de, se o filme gerar o retorno financeiro esperado pelos seus
realizadores, terá elementos que possibilitem a continuação da história anterior21.
E, por último, o aspecto “VII”, que diz respeito à forma como os filmes de super-
heróis utilizam os efeitos especiais, como uma das bases essenciais em suas
narrativas, pois como vimos, estes efeitos são fundamentais para que se demonstre
os superpoderes e algumas ações dos protagonistas e outros personagens. Estes
efeitos podem ser observados, ao analisarmos filmes anteriores ao ano de 1999,
como inverossímeis e, por vezes, rudimentares. Porém, vale esclarecer que à época
da produção destes filmes buscou-se utilizar as técnicas mais realistas, modernas e
próximas de uma verossimilhança com o universo super-heroico.
Ao analisarmos os episódios da série As Aventuras do Capitão Marvel,
podemos observar os cabos que seguram o super-herói quando este aparece
voando. Nove anos depois, estreou nos cinemas um episódio da série televisiva As
Aventuras do Superman (1951), de Spencer Gordon Bennet, chamado Atom Man vs.
Superman, em que não podemos mais observar cabos ou qualquer outro artifício
que pudesse distrair o espectador deste universo diegético. Portanto, alguns filmes
anteriores ao período analisado, podem ter alguns aspectos inferiores aos hoje
existentes, porém o que queremos demonstrar são as tentativas e melhorias que
ocorrem à medida que o tempo avança.
Ao elencarmos os pontos coincidentes entre os filmes de super-heróis,
observaremos os elementos principais que afastam os filmes de super-heróis de
outros gêneros, frequentemente adequados a eles: ação, aventura, ficção científica
e “comic book adaptation” ou em tradução livre, “adaptação de HQ”.
Em relação a estas comparações, devemos observar que os filmes de super-
heróis contém diversos elementos dos gêneros acima citados e verificamos que
estes são utilizados para orientar o público sobre o(s) tema(s) a ser(em) abordado(s)
na obra. Discorreremos sobre estes gêneros abordando apenas os aspectos
fundamentais que os supostamente os separam dos filmes de super-heróis.
21 Abordaremos este assunto (elementos de continuação) no próximo capítulo.
87
Gênero Ação
O gênero Ação, basicamente, tem como aspecto fundamental em suas tramas,
o fato de a história ser impulsionada conforme os fatos vindouros. Em grande parte
dos filmes de ação, o protagonista luta por sua sobrevivência e tem como maior
objetivo salvar-se de todos os conflitos que surgem em seu caminho, não
necessariamente sendo um herói e, também, não se tornando uma pessoa diferente
em relação àquela que iniciou a jornada. Além do fato de o protagonista não ter
aprendido algo ao longo de sua trajetória que o fizesse refletir e se tornar um ser
altruísta. Por vezes, ocorre de o personagem principal ser um criminoso ou um
sobrevivente dos acidentes e incidentes surgidos em seu caminho, como ocorre nos
filmes Kill Bill: Volume 1, (2003) e Kill Bill: Volume 2, (2004), de Quentin Tarantino
em que a protagonista, Beatrix Kiddo/A Noiva/Black Mamba (Uma Thurman),
enfrenta sua jornada tentando sobreviver e matando seus rivais com o objetivo de
vingar-se de seu ex-marido Bill/Snake Charmer (David Carradine).
Gênero Aventura
Tratando-se do gênero Aventura, os aspectos fundamentais que movem a
história dizem respeito à jornada do protagonista. Este inicia uma jornada,
normalmente distante de seu lugar de origem e/ou onde vive. Durante a jornada
enfrentará conflitos que gerarão dúvidas a respeito de si mesmo e ele terá de decidir
se deverá continuar ou não. Ao seguir em frente e ultrapassar os obstáculos chegará
a uma batalha final e, ao vencer, terá aprendido uma lição e seu modo de observar o
que ocorre ao seu redor será modificado de forma que o protagonista torne-se
diferente do que era no início da jornada.
Porém, existem, ao menos, três aspectos que diferencia os filmes de super-
heróis do gênero Aventura. O primeiro diz respeito ao protagonista que, pode ou não
ser um herói. Se for, não tem superpoderes. E, ainda assim, se tiver esta vantagem
a utilizará em benefício de seu trabalho. É por este fato que excluímos como super-
herói os personagens Hell Boy e James Bond. O primeiro tem todas as
características fundamentais que um super-herói deve ter, como descrito
anteriormente, menos uma: não auferir renda ou obter vantagem financeira com
seus atos super-heroicos, pois Hell Boy trabalha para o governo norte-americano. O
segundo, além de trabalhar para o governo britânico não utiliza uma vestimenta ou
algo que o identifique como um super-herói, afinal, James Bond, em mais de
88
quarenta filmes sobre o personagem, é um agente secreto e seria contraproducente
ser reconhecido.
O segundo aspecto diz respeito ao herói que, por vezes, ao longo de sua
jornada, luta contra o mal ou enfrenta os conflitos que surgem em seu caminho, com
o único objetivo de salvar-se e, não necessariamente, esta personagem está
preocupada em salvar pessoas e/ou sociedade em que vive. E, mesmo se esta for
sua preocupação, o herói não possui superpoderes. Ele, também, age
instintivamente e preocupa-se, de modo geral, em salvar seus amigos, como os
personagens Indiana Jones ou Lara Croft em seus quatro filmes.
O terceiro aspecto, diz respeito à continuação da trama. Aqui não há o
compromisso de a história fornecer elementos que direcionem a uma possível
continuação, como o filme King Kong (1933), de Merian C. Cooper e Ernest B.
Schoedsack que, após este primeiro filme, outros dois surgiram, King Kong (1976),
de John Guillermin e King Kong (2005), de Peter Jackson, porém como refilmagens.
Gênero Ficção Científica
Os filmes de super-herói se aproximam, também, do gênero Ficção Científica,
em um aspecto importante. A origem dos superpoderes. Ao pesquisarmos e
analisarmos os filmes de super-herói pudemos notar que, mais da metade das
tramas justificam os superpoderes dos super-heróis baseados na ciência, como
Hulk, Homem-Aranha, Batman Begins ou seres de outros planetas, como Superman
– O Retorno ou Dragonball Evolution.
Basicamente, as tramas dos filmes de ficção científica têm como argumento
principal, experiências, descobertas e acidentes de origem científica, como Jurassic
Park, Avatar (2009), de James Cameron, Planeta dos Macacos (1968), de Franklin J.
Schaffner ou seres originários de outros planetas que vêm à Terra com inúmeras
finalidades, como em Homens de Preto (1997), de Barry Sonenfeld. Estes
argumentos conduzem a história a alguns caminhos frequentes, ou seja, os fatos
podem causar a destruição do planeta ou de uma parcela da população. Mas há
casos em que estes incidentes ocorrem para o bem e ajudam os seres humanos em
diversos aspectos.
Se compararmos as tramas dos filmes de super-heróis, poderemos perceber
que estes argumentos da trama, descritos acima, estão contidos, também, nos
89
filmes de super-heróis. Porém, há diferenças que fazem de tramas com motivações
semelhantes se distanciarem em alguns aspectos.
O primeiro diz respeito aos filmes de ficção científica, assim como os de
aventura, não necessariamente, terem em suas histórias elementos de continuação
que possibilitem o prolongamento da trama, ou seja, o argumento principal, o fato
científico ou extraterrestre que move a trama, normalmente é controlado ou
exterminado. É natural que, em filmes de ficção científica, também surjam elementos
de continuação, ou até mesmo um gancho, onde é mostrado ao espectador que o
fato motor da história não fora eliminado/controlado por completo. Porém, não é
regra que isto ocorra.
Em segundo lugar, o protagonista do filme, via de regra, é um ser humano
comum, carente de superpoderes. É comum ocorrer com o personagem principal
uma transformação, ou seja, ele pode transformar-se em um herói ao longo da
jornada ou no final da história. De qualquer forma, este herói momentâneo voltará à
sua vida cotidiana e não se preocupará com o restante da humanidade após a
questão ser resolvida ou controlada. Neste caso, o que pode ocorrer é, se houver
uma continuação da história, o protagonista é chamado, pois somente ele saberá
resolver a questão, pois tem a técnica, mas que não está ligada a um poder sobre-
humano.
Adaptação de história em quadrinhos
Durante a pesquisa sobre os gêneros mais frequentes encontrados nos filmes
de super-heróis, nos deparamos com um termo que categorizava estes filmes, como
“Comic Book Adaptation”.
A princípio, parecia ser um termo adequado, afinal, grande parte da história dos
personagens dos filmes analisados tiveram seu início nas HQ´s. Porém, a primeira
inadequação a este termo foi que, nem todos os filmes de super-herói tiveram sua
história iniciada nos quadrinhos e, posteriormente, adaptadas para o cinema. Matrix,
Matrix Reloaded, Matrix Revolutions, Corpo Fechado e Hancock tiveram suas tramas
iniciadas em filmes.
A segunda inadequação diz respeito ao conteúdo das histórias. Além dos
super-heróis, outras tramas originadas nas HQ´s também foram adaptadas para que
sua história fosse transmitida nos cinemas. E, estes não contêm em sua trama
90
super-heróis e o conteúdo não necessariamente tem como base um mundo
fantástico. Recentes produções, que foram adaptadas das HQ´s demonstram que o
foco pode ser outro, como o filme 300 (2006), de Zack Snyder que conta a história
de soldados espartanos que lutaram contra o exército persa no ano 480 a.C. Este
filme fora adaptado da história em quadrinhos intitulada 300 de Esparta (1998), de
Frank Miller.
Outra produção que se distancia de filmes de super-heróis é Estrada Para
Perdição (2002), de Sam Mendes. Adaptado de HQ homônima criada em 1998 por
Max Allan Collins e Richard Piers Rayner, conta a história de um assassino que
trabalha para a máfia.
Uma terceira produção, recente, diz respeito ao filme V de Vingança (2005), de
James McTeigue. Adaptação da história em quadrinhos homônima criada por Alan
Moore e David Lloyd, em 1982, diz respeito sobre a história de um anarquista que
busca vingança contra o governo britânico.
Desta forma, pudemos observar que, ao tratarmos de filmes que são
adaptações de histórias em quadrinhos, não necessariamente observaremos uma
trama com conteúdo similar ou que tratem de assuntos próximos entre elas. Pelo
contrário, ao observarmos alguns filmes adaptados das HQ´s pudemos notar que
suas tramas podem conduzir o público a assuntos distantes uns dos outros
abordando temas diversos, como guerra, máfia, vingança ou até mesmo a vida de
uma pessoa comum e real, como o filme O Anti-Herói Americano (2003), de Shari
Springer Berman e Robert Pulcini que fora baseado em HQ homônima criada por
Harvey Pekar e Robert Crumb, em 1976.
Constatamos que os filmes de super-heróis estão sujeitos a unirem diversas
nomenclaturas, no que diz respeito a gênero. Observamos também que, grande
parcela dos filmes em geral transita entre diversos gêneros conhecidos e
solidificados, como policial, drama, suspense, comédia, entre outros. Pudemos
perceber que os filmes de super-herói não fogem à regra ao transitar por diversos
gêneros, mas, ao mesmo tempo, estes filmes contêm elementos comuns entre eles,
adequando-os a uma nova espécie de gênero cinematográfico. Ou seja, apesar
desta reunião de gêneros em um só filme, poderia se pensar sobre um gênero
chamado super-herói, de acordo com os elementos descritos acima.
91
Apesar de, o gênero indicado no filme não alterar o conteúdo da obra, pois a
partir do produto finalizado ocorrerá a classificação deste, com uma qualificação
“gênero super-herói” o público/espectador saberia de antemão o que esperar destes
filmes. Ao classificar uma trama, como gênero policial, o espectador cria uma
expectativa de que se deparará com assuntos abordados pelo filme que dizem
respeito a policiais, detetives, investigações, bandidos, um crime que deverá ser
desvendado ou um criminoso que deverá ser preso, perseguições, pistas.
Em um filme, cujo gênero seja super-herói, o espectador saberá que estará à
frente de uma obra, cuja história contém um herói com superpoderes que protegerá
pessoas ao seu redor e derrotará o mal no final da história. E, tudo isto com o auxílio
de efeitos especiais, como nos explica Bergan:
“Quando um filme é rotulado como faroeste, musical ou comédia romântica, isso cria no público expectativas em relação ao gênero ou tipo de filme que verá. Ainda que alguns aspectos variem dentro de cada categoria, eles têm padrões reconhecíveis em termos de tema, época, ambientação e trama, além da iconografia e os tipos de personagens retratados.” (BERGAN, 2009, p. 115).
Além disto, os produtores/realizadores de filmes que queiram abordar este
assunto teriam obras anteriores que pudessem servir de base de percepção dos
elementos principais que um filme de super-herói deve conter e, não apenas
baseando-se em HQ´s, a fim de saber o que de fato um filme de super-heróis deverá
abordar.
Um filme de super-herói pode ser classificado como ficção científica, aventura,
ação, quadrinhos, pois, cada um destes gêneros fornece elementos para a
composição dos filmes de super-herói. Porém, ao isolarmos estes gêneros, podemos
perceber que faltarão elementos ao adequarmos apenas um deles nos filmes
tratados nesta dissertação. Ao passo que, havendo um gênero denominado super-
herói, estas tentativas de adequações poderiam ser extintas, facilitando a
compreensão do espectador, em relação ao produto que irá consumir e norteando
os realizadores no que diz respeito aos aspectos fundamentais que deveriam estar
contidos em filmes de super-herói.
Como uma espécie de protocolo, que assegura a constância de elementos
fundamentais entre os filmes de super-heróis, estes demonstrariam ao público
92
consumidor suas características homogêneas fazendo com que o espectador
reconheça de forma objetiva, como ocorre frequentemente nos outros gêneros, que
os filmes de super-heróis também têm elementos em comum que fazem deles uma
nova categoria de filmes, sem deixar de reconhecer que suas histórias tomam
emprestadas características importantes da ficção científica, aventura, ação e HQ´s,
de forma a abrilhantar suas tramas.
A implementação de um novo gênero chamado “super-herói” teria a finalidade
de adequar os filmes de super-heróis em grupo de obras com características
próprias referentes ao seu universo diegético transformando-os em um produto
diferenciado de qualquer outro.
93
Capítulo 3. Super-heróis são eternos e suas históri as também
Analisaremos neste capítulo como os elementos de continuidade podem ser
considerados pontos-chaves na trama anterior e que farão as conexões necessárias,
entre um filme e seu sucessor, dando sequência à(s) história(s) do(s)
protagonista(s), seja ela em relação ao seu futuro, ou mesmo, ao passado do super-
herói, dependendo de qual questão, relativa a ele, ficou em aberto ou não foi
esgotada.
Discutiremos quais as principais diferenças e semelhanças entre os elementos
de continuação e o gancho e de que forma eles foram inseridos nos filmes a fim de
gerar novas histórias e episódios22 de super-heróis a partir do ano de 201023.
3.1. Os elementos de continuidade dos Homens-Aranha e a jovialidade
eterna de Super-Homem para conquistar outros públicos
Ao tratarmos dos elementos de continuidade que os filmes de super-heróis
carregam em suas tramas verificamos de que maneira eles são utilizados, ainda que
a obra lançada nos cinemas não tenha até o momento uma continuação24.
22 A partir do ano de 2011 já estão confirmados os lançamentos nos EUA dos seguintes filmes: Thor (6 de maio de 2011), de Kenneth Branagh; X-Men: First Class (3 de junho de 2011), de Matthew Vaughn; Lanterna Verde (17 de junho de 2011), de Martin Campbell; Capitão América: O Primeiro Vingador (22 de julho de 2011), de Joe Johnston; Os Vingadores (4 de maio de 2012), de Joss Whedon; Spider-Man Reboot (03 de julho de 2012), de Marc Webb; Batman 3 (20 de julho de 2012), de Christopher Nolan. Fonte: <http://boxofficemojo.com/genres/chart/?id=superhero.htm>. Acessado em 08 de junho de 2010. 23 No ano de 2010 estreou - até o depósito desta dissertação (5 de agosto de 2010) – apenas um filme de super-herói, no dia 7 de maio de 2010, Homem de Ferro 2 que, além de dar continuidade à história anterior, no final do filme é informado ao espectador a ocorrência de um “evento” no Novo México e, o diretor da S.H.I.E.L.D. (Superintendência Humana de Intervenção, Espionagem, Logística e Dissuasão – conforme legenda em português -, ou o original em inglês, Strategic Homeland Intervention, Enforcement and Logistics Division – em tradução livre, Divisão de Intervenção Estratégica da Pátria, Execução e Logística) , vai até o local conferir. Encontra um enorme buraco. Após isto, nos é mostrado o martelo do super-herói Thor que será lançado, no ano que vem, como visto em nota de rodapé anterior. 24 Apesar destes elementos de continuação terem sido encontrados nos filmes de super-heróis pesquisados (1999 a 2009), apenas Corpo Fechado, Demolidor, A Liga Extraordinária, Mulher-Gato, Hancock e Dragonball Evolution ainda não tiveram sua história inicial continuada.
94
Optamos por analisar os elementos de continuidade nas histórias dos filmes
Homem-Aranha, Homem-Aranha 2 e Homem-Aranha3, a fim de observarmos como
esta trilogia utiliza-se dos elementos em questão para dar continuidade às histórias
do protagonista. Devemos recordar que, grande parcela dos filmes tratados aqui
tiveram sua origem nas HQ´s e estas histórias têm, como formato principal, a forma
seriada a fim de conduzir o leitor a querer saber o que ocorrerá na(s) trama(s) do(s)
próximo(s) número(s) da(s) revista(s) em quadrinhos.
Outro fator que colabora com a introdução destes elementos está relacionado à
forma dos primeiros filmes de super-heróis nos cinemas, pois estes, como pudemos
verificar, continham, assim como as HQ´s, características da forma seriada. Estas
histórias não tinham, em seu formato, a característica de longa metragem. A
começar pelo filme Superman (1941-1943), no formato de desenho animado até
Superman and the Mole-Men, em 1951, pôde-se verificar que os filmes de super-
herói neste período de onze anos eram exibidos em capítulos, com cerca de dez a
cinquenta minutos cada.
Após estas observações, conferiremos, nos longas metragens do personagem
Homem-Aranha, de que forma os elementos de continuidade têm o trabalho de
contar uma ou várias histórias ao mesmo tempo, com o intuito de prolongá-las,
cativar, fidelizar e renovar seu público, adequando suas histórias à época e aos
temas que estão em voga no momento de sua produção.
Separamos, em elementos, as características da forma seriada que servem
como base aos filmes selecionados neste trabalho. São estes: a) a forma
fragmentada de apresentar a história; b) rememoração dos episódios ou filmes
anteriores quando houver sequência; c) forma de episódio dos filmes; d) evolução de
tempo por apenas um período na história do super-herói, personagem não
envelhece por um longo período; e) esclarecimento de período importante, no que
diz respeito ao surgimento do super-herói; f) elementos de continuidade e gancho no
final do filme, com a finalidade de continuação da trama. (MACHADO: 2000. p. 83).
Elemento A
A forma fragmentada pode ser percebida nos filmes do personagem Homem-
Aranha nos momentos descritos a seguir.
95
No primeiro filme, Homem-Aranha, temos iniciada a história do personagem
Duende Verde, que não é terminada, pois o personagem Norman Osborn, que se
transforma no supervilão, morre no final. Porém, seu filho Harry Osborn, amigo de
Peter Parker, promete, no enterro do pai, vingar a morte de seu progenitor e destruir
o Homem-Aranha.
Outro elemento não concluído diz respeito à personagem Mary Jane, por quem
Peter Parker é apaixonado. Durante boa parte da trama, ela não demonstra o
mesmo sentimento em relação a ele. Além disso, sabemos que Peter Parker faria o
possível para chamar sua atenção e namorá-la. Ocorre que, no final do episódio,
Mary Jane diz que ama Parker, nos fornecendo elementos de que a história poderá
ser continuada no próximo filme.
É-nos informado, também, que Peter Parker continuará a ser o Homem-
Aranha, não esgotando, numa única história, outros detalhes sobre o protagonista.
No segundo filme, Homem-Aranha 2, a história do Duende Verde é retomada
quando Harry descobre o esconderijo e os artefatos do vilão. Durante a trama, Peter
considera deixar de atuar como super-herói e o faz, mas uma conversa com sua tia
May faz o protagonista refletir e voltar a vestir seu traje de super-herói e defender a
cidade de Nova Iorque. Quanto a Mary Jane e Parker, neste momento, eles estão
namorando e ela pede a Peter que eles tentem ficar juntos.
Já no terceiro filme da série, Homem-Aranha 3, a história do Duende Verde é
finalizada, após ser estendida por três episódios. Peter Parker e sua namorada
continuam juntos e durante a trama quase ficam noivos. Surgem dois novos
supervilões, Homem Areia e Venom. Na trama nos é contada suas origens, nos são
mostrados seus superpoderes e, também, que o primeiro não fora extinto, apenas
sabemos que ele desaparece por entre os prédios de Nova Iorque, podendo surgir
em novo episódio.
Deste modo, pudemos perceber de que forma os três filmes do Homem-Aranha
utilizam a fragmentação de histórias para dar continuidade em dois ou mais filmes,
como no exemplo do supervilão Duende Verde que teve participação em todos os
episódios.
96
Elemento B
À medida que os filmes avançam, há um número maior de elementos que o
espectador deve “colecionar”, em relação às tramas anteriores. Como, nos filmes do
Homem-Aranha, os intervalos de lançamento foram de dois anos, entre o primeiro e
o segundo filmes e, de três anos entre o segundo e o terceiro filmes, estes fatos
poderiam fazer com que o espectador, demorasse a se lembrar dos aspectos mais
importantes da trama e, com isso, fazer com que a história ficasse isolada e
dispersa.
Tendo em vista esta preocupação introduziram-se, logo no início dos dois
últimos filmes e durante a aparição dos créditos iniciais, imagens que relembravam o
público do que ocorrera no(s) filme(s) anterior(es). Além disso, a cena inicial se
conectava à última do episódio passado como descreveremos a seguir.
Em Homem-Aranha 2, podemos observar, a partir dos 55´´ imagens que
contém: 1) Peter Parker sendo picado por uma aranha; 2) foto de Mary Jane; 3)
figura de Harry; 4) Peter Parker com o corpo musculoso; 5) Peter Parker vestido de
Aranha Humana na luta que lhe renderia US$ 3.000; 6) Peter Parker olhando para o
ladrão que ele, Parker, deixou escapar; 7) Peter junto a seu tio Ben que está morto,
no chão; 8) Peter Parker com a máscara de Homem-Aranha; 9) figura de Norman
sobreposta à do Duende Verde; 10) figura do Sr. Jameson; 11) Homem-Aranha e
Mary Jane se beijando; 12) Homem-Aranha resgatando Mary Jane; 13) Peter Parker
e sua tia May; 14) Norman morto em sua casa e Homem-Aranha com a máscara
rasgada olhando para Harry; 15) Peter Parker olhando para a lápide do tio Ben; 16)
Peter Parker saindo do cemitério.
Após esta primeira rememoração, há uma segunda que se conecta às últimas
cenas do filme anterior. Aos 3´, vemos duas imagens sobrepostas, Peter Parker
deixando o cemitério e um desenho de Mary Jane que se transforma em uma foto de
outdoor. Logo a seguir, Peter Parker diz:
EXT. RUA DE NOVA IORQUE – DIA (...)
PETER PARKER (v.o.) “Ela me olha todos os dias. Mary Jane Watson. Cara, se ela soubesse o que sinto por ela. Mas ela nunca pode saber. Escolhi essa vida de grande responsabilidade e ela nunca fará parte dela. Quem eu
97
sou? Sou o Homem-Aranha, com um trabalho. E sou Peter Parker e também tenho um trabalho.”
A penúltima cena do primeiro filme diz respeito ao beijo em que Mary Jane dá
em Peter Park e a última cena mostra o Homem-Aranha “pulando” de prédio em
prédio preso à sua teia.
Em Homem-Aranha 3, aos 55´´, temos, novamente, uma introdução parecida
com a do filme anterior, com imagens que contém: 1) Peter Parker; 2) Mary Jane; 3)
Harry; 4) Aranha picando a mão de Peter Parker; 5) Peter Parker se vê musculoso;
6) cena que mostra tio Ben e tia May; 7) cena em que Peter Parker equilibra a
bandeja com comida que voou das mãos de Mary Jane após ela escorregar; 8) Peter
Parker escalando a parede de um prédio; 9) a conversa que tio Ben e Peter Parker
tiveram no carro em que o primeiro diz a frase: “Um grande poder traz uma grande
responsabilidade.”; 10) Peter Parker deixando o ladrão escapar; 11) Peter Parker
vendo seu tio baleado no chão; 12) tia May consolando Peter Parker em relação à
morte de tio Ben; 13) Mary Jane beijando o Homem-Aranha; 14) Sr. Jameson; 15)
Norman e o Duende Verde; 16) Harry vendo sua, então namorada, Mary Jane
segurando a mão de Parker; 17) Duende Verde (Norman) sendo morto; 18) Homem-
Aranha com a máscara rasgada; 19) Harry e Parker no enterro de Norman; 20) Peter
Parker tirando a roupa e se transformando em Homem-Aranha; 21) Dr. Octopus; 22)
Homem-Aranha em cima do vagão do trem quando houve uma luta contra o Dr.
Octopus; 23) Homem-Aranha sem máscara segurando o trem com suas teias para
que ele não despencasse dos trilhos; 24) Harry com um punhal na mão apontado
para Homem-Aranha; 25) Homem-Aranha sem máscara e Mary Jane descobrindo
que ele é Peter Parker; 26) Dr. Octopus morrendo; 27) Harry mexendo nos
equipamentos de Duende Verde; 28) Homem-Aranha na teia com Mary Jane; 29)
Mary Jane vestida de noiva; 30) Mary Jane no apartamento de Peter Parker. Após
esta rememoração o filme parte para a seguinte cena. Aos 3´: Homem-Aranha salta
de prédio em prédio preso à sua teia.
EXT. RUAS DE NOVA IORQUE - DIA
PETER PARKER/HOMEM-ARANHA (v.o.)
Sou eu, Peter Parker, o amigo da vizinhança... vocês sabem. Mudei muito desde que uma aranha me mordeu. Na época, nada dava certo para mim. Agora...
98
Peter vê num telão imagens do Homem-Aranha. Crianças chegam próximo a Peter e apontam para o telão.
CRIANÇA
Legal! Olha, o Aranha!
CRIANÇAS Super legal!
PETER PARKER (v. o.) ...as pessoas gostam de mim. A cidade está segura e salva. E eu contribuí para isso. Meu tio Ben ficaria orgulhoso.
INSERT Jornais e revistas em uma banca de jornal. Homem-Aranha nas capas. “Manchetes” fazem elogios ao Homem-Aranha. Capa de revista com a foto do Homem-Aranha e manchete: “POR QUE NY AMA O ARANHA?”
Este mecanismo de rememoração além de servir para os espectadores
habituais da franquia serve como pequenas doses de informação a quem nunca
assistiu aos filmes anteriores e permite que estes acompanhem a continuação da
história sem muitas falhas de informação. (MACHADO: 2004. 02’35’’).
Elemento C
A próxima característica verificada diz respeito às “novidades” e as
semelhanças entre um episódio e outro e a manutenção da estrutura da história.
No primeiro filme, Homem-Aranha, nos são apresentados os seguintes
personagens de maior influência na trama: I) Peter Parker; II) Mary Jane; III) Harry
Osborn; IV) Norman Osborn; V) Tia May; VI) Tio Ben; VII) Homem-Aranha; VIII) Sr.
Jameson.
Os fatos principais são estes: a) por quem Peter Parker é apaixonado; b) como
e porque Peter Parker se transformou no Homem-Aranha; c) como e quais são as
atitudes do super-herói; d) o papel do Sr. Jameson; e) como Peter se tornou repórter
fotográfico do jornal “Clarim Diário”; f) como surge o supervilão Duende Verde e
quais são suas motivações criminosas; g) o relacionamento entre Homem-Aranha e
Mary Jane; h) a “morte” do Duende Verde e a “morte” de Norman Osborn; i) como
Peter Parker e Mary Jane se beijam pela primeira vez.
Em Homem-Aranha 2 podemos comparar o que mudou, o que foi mantido e o
que foi continuado, em relação ao primeiro episódio. Citaremos os personagens
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principais que fizeram parte do primeiro filme e estão contidos neste segundo, são
eles: I) Peter Parker; II) Mary Jane; III) Homem-Aranha; IV) Sr. Jameson; V) tia May;
VI) Harry. A seguir, temos os “personagens principais” (coadjuvantes) estreantes:
VII) prof. Dr. Connors; VIII) Dr. Otto Octavius/Octopus; IX) Sr. Ditkovich; X) Ursula.
Pontos-chave no filme: a) Peter Parker agora é entregador de pizza; b) Mary
Jane é modelo e atriz; c) o Homem-Aranha continua a salvar as pessoas; d) Peter
Parker ainda é o fotógrafo que faz as fotos do Homem-Aranha; e) Peter Parker agora
está na faculdade e mora em um pequeno apartamento; f) Harry agora comanda a
empresa do pai; g) Homem-Aranha salva a vida de Harry, mas Harry não perdoa o
super-herói por isso; h) surgimento do supervilão Dr. Octopus; i) Peter Parker decide
não ser mais o Homem-Aranha; j) Harry descobre que Peter Parker é o Homem-
Aranha; k) Mary Jane descobre que Peter Parker é o Homem-Aranha; l) Harry
descobre que seu pai era o Duende Verde; m) Mary Jane iria se casar, mas foge da
igreja, a fim de declarar seu amor à Peter Parker.
Em Homem-Aranha 3 temos os seguintes personagens que fizeram parte do
episódio 2: I) Homem-Aranha; II) Peter Parker; III) prof. Dr. Connors; IV) Mary Jane;
V) Harry; VI) Duende Verde; VII) tia May; VIII) Sr. Ditkovich; IX) Ursula. E, novos
personagens são apresentados: X) Flint Marko; XI) Capitão Stacy; XII) Gwen Stacy;
XIII) Edward Brock; XIV) Venom; XV) Homem Areia.
Os elementos de maior relevância na história são estes: a) Homem-Aranha é
querido por todos; b) Peter Parker continua na universidade, mas agora é o primeiro
da classe; c) Peter Parker namora Mary Jane e eles vão se casar; d) Mary Jane é
atriz de teatro; e) Harry se transformou no Duende Verde; f) Duende Verde e Peter
Parker lutam e Harry desmaia, Peter Parker salva, novamente, Harry; g) Harry perde
a memória de uma fase em sua vida e não lembra que Peter Parker é o Homem-
Aranha; h) sabemos como Flint torna-se o Homem Areia; i) há um novo fotógrafo,
Edward Brock contratado pelo jornal “Clarim Diário” para registrar as ações do
Homem-Aranha; j) Homem-Aranha enfrenta Homem Areia; k) polícia descobre que
Flint foi um dos responsáveis pela morte de tio Ben; l) um organismo preto e vivo
envolve o corpo do Homem-Aranha e o torna vingativo e egoísta; m) Harry recupera
a memória e ainda quer vingança; n) Peter se livra do organismo negro, mas este
toma conta de Edward Brock; o) Venom e Homem Areia se juntam para destruir o
Homem-Aranha; p) Homem-Aranha enfrenta Venom e Homem Areia, com a ajuda
100
de Duende Verde; q) Venom e Edward são destruídos; r) Homem-Aranha perdoa o
assassino de seu tio, Flint Marko; s) Harry morre; t) Homem Areia some.
Ao compararmos os elementos contidos nestes três filmes pudemos verificar
uma espécie de “espinha dorsal”, ou “tronco”, que permite histórias paralelas novas,
ou não, e também, que elas se desenvolvam, de certo modo, apesar do pouco
tempo em que o longa metragem dispõe, se comparado a um seriado televisivo. O
que deve ser percebido em relação a este aspecto é o fato de, apesar de uma trama
de super-herói nos cinemas terem, em média, 120 minutos, estas se dispõem e
atingem um objetivo de contar outras histórias, continuando-as em outros episódios
e não apenas focando a vida e as atitudes do super-herói.
Porém, ao mesmo tempo em que a trama busca dar continuidade a algumas
histórias paralelas, ela também busca introduzir ou retirar personagens, com a
finalidade de fornecer ao espectador a impressão de mudança, mas, ao mesmo
tempo mantendo uma estrutura fundamental e coerente em relação aos episódios
anteriores.
Estes aspectos, que podem parecer contraditórios e ambíguos, ocorrem
porque, em torno do super-herói orbitam alguns personagens que sempre estão
presentes em sua rotina diária. E, ocorre também, o surgimento de pessoas que
fizeram parte de um momento importante da vida dele, mas agora, existem apenas
em suas memórias, de forma benéfica ou traumática, mas que foram fundamentais
em algum momento da trama.
A “ilusão de mudança” serve para satisfazer o espectador de que a história
está viva e se movimenta. Porém, ao mesmo tempo, a trama mantém seus aspectos
fundamentais para que o público reconheça os antigos personagens e suas
principais características, fazendo com que os novos integrantes entrem na trama de
forma natural, fazendo o público cativo e o preparando para o novo episódio. (ECO:
1989. p. 123).
Elemento D
Outro fator interessante ocorreu quando se verificou que, conforme os anos
avançam, os cenários dos filmes são atualizados e as questões que envolvem a
trama são adequadas à sua época produção, ou seja, foi percebido que, os filmes de
super-herói refletem diversos aspectos sobre sua época de produção, pois
101
acompanham as evoluções e modificações ocorridas até aquele momento. Porém,
ao observarmos o super-herói e os personagens “frequentes” da trama, pode-se
dizer que eles envelhecem e amadurecem por um período, ou seja, as histórias de
super-heróis nos cinemas que tiveram continuações; que tiveram suas tramas
prolongadas e produzidas em episódios seguintes mostraram o período mais
interessante da vida do protagonista, o auge de sua “forma física” e/ou rumo à.
Umberto Eco conceitua esta estratégia, como “séries a loop”, ou seja, por razões
comerciais, a fim de dar continuidade à história, este mecanismo é utiliza como
forma prevenção de envelhecimento dos personagens fazendo com que,
principalmente o protagonista reviva momentos do passado ou seja estabilizado em
um período temporal específico. (ECO: 1989, p. 124).
Pudemos observar esta ocorrência, principalmente, em dois super-heróis,
Batman e Super-Homem25, por conta de suas histórias terem sido iniciadas nos
cinemas há quase setenta anos. O primeiro teve sua história contada sem conexões
com as anteriores e/ou com atores diferentes ao episódio pregresso, por sete vezes.
Em relação ao segundo, estes fatos ocorreram por seis vezes.
Vejamos uma das ocorrências no último filme do Super-Homem, Superman – O
Retorno. A história deste longa metragem diz respeito à continuação da trama
anterior, cinco anos após o último episódio – no tempo fictício da história -, como
poderemos observar na cena descrita a seguir. Em 19´50´´:
INT. CASA DE MARTHA – DIA
Clark assiste à televisão, sentado no sofá. Muda de canal diversas vezes. Notícias a respeito de guerras e desastres. Martha entra na sala e observa a janela de costas para Clark.
CLARK KENT Não se preocupe, eu a enterrei esta manhã. Mãe?
MARTHA KENT
Cinco anos. Se o seu pai fosse vivo, não deixaria você partir. Eu quase perdi a esperança. Pensei que nunca mais fosse ver você.
25 Isto ocorrerá, também, com o super-herói Homem-Aranha que tem estréia marcada para o dia 3/7/2012, nos E.U.A. e com título provisório Spider-Man Reboot (in 3D). Como visto em notas anteriores, isto ocorrerá, também, com Capitão América e X-Men. Estes três filmes, a princípio, terão suas tramas focadas no surgimento do super-herói, porém com novos atores como protagonista.
102
Clark levanta. Eles se abraçam.
MARTHA KENT Oh, Clark.
Eles se afastam um pouco, mas ainda estão bem próximos. Ela se recompõe e respira fundo.
MARTHA KENT
Encontrou o que estava procurando?
CLARK KENT Eu... pensei, esperava...
Clark se afasta.
CLARK KENT ... que pudesse ainda existir.
MARTHA KENT
Sua terra natal?
CLARK KENT Aquele lugar era um cemitério. Sou tudo o que restou.
Martha se aproxima de Clark e coloca a mão em seu ombro.
MARTHA KENT
Clark, o universo é um lugar enorme. Você não sabe quem está lá. E mesmo que você seja o último... você não está só.
CLARK KENT
Eu sei.
MONTAGEM A) Skyline de Metropolis de dia. INT. REDAÇÃO DO DIÁRIO DE METROPOLIS - DIA Pessoas saem do elevador. Entre elas uma HOMEM DE SOBRETUDO carrega duas malas e uma pasta. Uma PESSOA esbarra na mala.
PESSOA Cuidado!
HOMEM DE SOBRETUDO Desculpa.
Pessoa de sobretudo anda pela Redação e esbarra em mais três personagens até depositar as malas no chão, perto de uma mesa e derrubar uma máquina fotográfica. Antes de a máquina cair no chão Pessoa de sobretudo a pega no ar. JIMMY OLSEN percebe que sua máquina cairá e vira-se.
103
JIMMY OLSEN
Que ótimo... Quer tomar cuidado?
CLARK KENT Jimmy.
JIMMY OLSEN
Sr. Clark! Quero dizer, Kent! Sr. Kent!
Jimmy dá um abraço em Clark.
JIMMY OLSEN Bem vindo de volta! Oh, meu Deus! Ei, venha... Espere aí. Eu já volto.
Clark vira-se e observa a redação do jornal.
Ao observar a redação pudemos observar que há diversos computadores
atuais e contemporâneos ao ano de 2006 (ano de lançamento do filme) e, também,
aparelhos de televisão de plasma. Pois bem, se a história fictícia deste filme ocorre
cinco anos após a história do episódio anterior (Superman II – A Aventura Continua,
de 1981), podemos perceber que, ou o filme de 2006 está adiantado
tecnologicamente ou os personagens não envelhecem de forma natural, afinal se
passaram vinte e cinco anos – em nosso tempo -, desde o lançamento do segundo
episódio26.
Nos filmes de super-herói, assim como os protagonistas, os personagens que
orbitam o “universo” do super-herói, também não “envelhecem”, pois as histórias
tratam de um período e/ou da fase mais importante da vida dos protagonistas. Por
conta disso, pode-se dizer que ocorre nestes filmes um “tempo mascarado”. (ECO:
1989. p. 118).
O protagonista pode morrer, ressuscitar, namorar, casar, ter filhos; seus
amigos, colegas e inimigos idem. Porém, a história do super-herói será representada
pelos períodos “eternos” do protagonista, ou seja, o auge de suas conquistas; não
apresentando derrotas definitivas ou períodos de sua vida desinteressantes, como
observado no diálogo acima entre Clark Kent e sua mãe Martha. Ali, pudemos
conferir que, o período em que Super-Homem ficou longe da Terra, ou seja, por
cinco anos, não foi suficientemente interessante para que se produzisse um filme 26 Superman – O Retorno diz respeito à continuação da trama do filme Superman II – A Aventura Continua ignorando por completo os fatos ocorridos nas histórias dos filmes Superman III e Superman IV.
104
sobre um período da vida de um super-herói isolado que, principalmente, não
utilizaria seus superpoderes de forma a auxiliar outros seres vivos.
De qualquer forma, um dos objetivos observados nas tramas, diz respeito ao
fato de ela representar os super-heróis como personagens vigorosos, jovens e
repletos de energia, pois assim, o protagonista terá condições factíveis de enfrentar
os obstáculos que surgirem em seu caminho estando “disposto”, “pronto” para voltar
a contar sua história nos cinemas a um público que se renova, a outro que é cativo
e, aos que buscam, apenas, entretenimento. (ECO: 1989, p. 124).
Elemento E
Como observado anteriormente, a macro história de um super-herói,
necessariamente, “se repete” nos episódios seguintes, ou seja, ela deverá,
fundamentalmente, ter atitudes heróicas e combater o mal. A partir da apresentação
do protagonista, de sua vida e, de que forma ele reage, em relação ao meio
ambiente em que vive, a história caminha e nos apresenta novos elementos. Em
conjunto a isto, no inicio de cada novo episodio, fatos fundamentais sobre o
surgimento/origem do super-herói são, também, relembrados/rememorados ao
espectador que já conhece a(s) história(s) anterior(es) e, expõe ao público que entra
em contato pela primeira vez com a trama quais são as motivações do protagonista.
Tendo estes aspectos em vista, demonstraremos de que forma estes
esclarecimentos de um período importante ao surgimento de um super-herói
ocorrem. Analisando o filme Homem-Aranha observaremos quem é o protagonista e
por que o estudante adolescente, Peter Parker, tornou-se o Homem-Aranha,
transformado em um superpoderoso e transformando-se em um super-herói.
Em 06´30´´, Peter Parker está numa excursão da escola em visita ao Centro de
Pesquisa Genética do Departamento de Ciências da Universidade de Columbia. A
guia circula com os alunos e descreve as características de algumas espécies.
INT. CENTRO DE PESQUISA GENÉTICA DO DEP. CIÊNCIAS. UNIV. COLUMBIA – DIA (...)
GUIA
...usamos RNA sintético para criar um novo genoma que combina os dados genéticos de três aranhas nessas quinze superaranhas geneticamente modificadas.
105
Mary Jane olha os “aquários” de aranha.
MARY JANE Só há quatorze.
GUIA
Como disse?
MARY JANE Falta uma.
Guia dirige-se aos aquários de aranhas.
GUIA Oh.
INSERT Aranha azul e vermelha no meio de sua teia no alto do laboratório.
GUIA Deve estar sendo analisada.
O grupo continua a andar pelo laboratório. Mary Jane permanece olhando para
os aquários. Peter Parker a vê e pede para tirar fotos dela, para o jornal da escola.
Mary Jane diz que sim. Enquanto Peter Parker tira as fotos, a aranha que havia
sumido desce de sua teia em direção à Parker. Repousa na mão dele e caminha por
ela. Peter não percebe. A aranha para e pica a mão do protagonista. Ele dá um grito
de dor, balança a mão e a aranha cai no chão. Parker olha em direção à aranha e a
vê andar para debaixo de um móvel. Ele olha para sua mão e observa a picada.
Em 13´45´´: Peter chega em sua casa. Seus tios falam com ele, mas ele mal
responde e sobe para seu quarto. Sente-se mal, deita e dorme.
Em 17´50´´: Peter acorda. Põe os óculos e enxerga tudo embaçado. Olha-se
no espelho e percebe que está musculoso.
Em 20´25´´: Parker percebe que perdeu o ônibus da escola e corre atrás dele.
O ônibus não para. Peter bate na lateral do ônibus com a mão e percebe que a faixa
que estava grudada ali prende em seus dedos.
Em 22´: Mary Jane, no refeitório da escola, com a bandeja de comida nas
mãos, escorrega. Peter a segura, pega a bandeja no ar e os alimentos que estavam
sobre ela. Peter percebe que o garfo gruda em sua mão e, quando tenta puxá-lo, há
teias. Ao retirar o garfo, são lançadas, de seu pulso, uma maior quantidade de teias
106
em uma bandeja à frente. Peter puxa com força e a bandeja voa nas costas de um
colega de escola. Peter sai do refeitório arrastando a bandeja pelo chão.
Parker percebe que as coisas ao seu redor estão mais lentas. O colega de
escola quer brigar com ele, pelo ocorrido com a bandeja e dá um soco em Peter. Ele
desvia, pois o soco pareceu ser dado em câmera lenta. O colega de escola tenta
acertar Parker, mas ele desvia dos golpes e joga seu colega longe. Parker sai da
escola e vai para a rua.
Em um beco, nota que sua mão está com um aspecto aderente. Ele tenta subir
na lateral de um prédio e consegue. Após a descoberta sai pulando de prédio em
prédio até parar em um terraço, olhar para seu pulso e tentar de diversas maneiras
uma forma de lançar as teias. Consegue, mas de forma singela. Tenta a segunda
vez e consegue prender-se a uma grua. Peter agarra a teia e se joga. Atravessa a
rua preso à teia e bate num outdoor.
Em 32´15´´: Peter, em casa, olha anúncios em um jornal e lê um deles que
contém a seguinte mensagem: “GRANA? LUTADORES AMADORES US$ 3.000!
POR 3 MINUTOS NO RINGUE! PRECISA USAR FANTASIA.” Parker desenha
diversos trajes. Pensa em um símbolo. Desenha vários tipos de aranha. Chega ao
desenho final, o do Homem-Aranha que aparecerá no filme. Peter treina em seu
quarto o lançamento de teias.
Em 38´40´´: Antes de Parker entrar no ringue de luta o apresentador lhe
pergunta qual é o nome fantasia que ele utilizará.
INT. PALCO DA ARENA DE LUTA (...)
PETER PARKER A Aranha Humana.
APRESENTADOR DA LUTA
Aranha Humana? Não tinha nada melhor? Que horror.
Apresentador da luta pega o microfone.
APRESENTADOR DA LUTA A soma de US$ 3 mil dólares será paga ao aterrorizante, ao mortal, ao incrível Homem-Aranha.
PETER PARKER aparece com uma calça azul larga, camiseta vermelha de manga comprida com um desenho de uma aranha na teia, capuz vermelho, estilo ninja, e luvas parecidas com as de goleiro de futebol e volta a falar com o Homem no palco que está atrás de dele.
107
PETER PARKER
Sou o Aranha Humana!
HOMEM NO PALCO E daí? Entra logo.
PETER PARKER
Não! Ele errou meu nome.
HOMEM NO PALCO Vai logo, Mané.
Peter sobe no ringue.
PÚBLICO MATA! MATA!
Peter começa a luta apanhando, mas com um só golpe derruba o adversário.
JUIZ DA LUTA
Terminou! Terminou! O vencedor!
Juiz da luta levanta o braço de Peter Parker.
APRESENTADOR DA LUTA Senhoras e senhores, palmas para o novo campeão, o Homem-Aranha!
PÚBLICO
HOMEM-ARANHA! HOMEM-ARANHA!
Peter vai receber seu dinheiro e o pagador diz que só pagará US$ 100 (cem
dólares) porque Parker derrotou o oponente em dois minutos e não três. Parker diz
que precisa do dinheiro, mas o pagador retruca falando que não é problema dele.
Peter sai da sala. Um assaltante entra na sala, assalta o pagador e sai correndo em
direção ao elevador e à Peter. O pagador grita para que peguem o ladrão. Peter
deixa o ladrão entrar no elevador não o impedindo. O ladrão agradece Parker.
Pagador diz: “Podia deter o cara, e ele fugiu com meu dinheiro”. Peter Parker
retruca: “E quem disse que isso é problema meu?”
Peter está na rua esperando por seu tio que o pegaria naquele horário. De
repente, vê uma aglomeração e dirige-se a ela. Quando chega ao centro percebe
que é seu tio quem está no chão. Ao chegar perto do tio pergunta à policial.
EXT. RUA DE NOVA IORQUE – NOITE
108
PETER PARKER
Como foi?
POLICIAL Roubo de carro. Foi baleado. Chamamos os paramédicos. Já vão chegar.
Policial vira-se para as pessoas que estão em volta.
POLICIAL Afastem-se!
PETER PARKER
Tio Ben? Tio Ben. Tio Ben.
Tio Ben tem dificuldade em falar, mas está sorrindo.
TIO BEN Peter.
Peter Parker chora e dá a mão ao tio Ben.
PETER PARKER Eu estou aqui, tio Ben.
TIO BEN Peter.
Tio Ben morre.
Peter ouve a notícia que acharam o suspeito de ter atirado em seu tio e sai
correndo. Entra em um beco, tira a roupa e fica com a fantasia que estava por baixo.
Escala um prédio. Salta de um prédio ao outro e avista o carro do seu tio sendo
perseguido por policiais. Peter, com o auxílio das teias, começa a perseguir o carro
até alcançá-lo, subir no teto e furá-lo com as mãos. Segura a cabeça do bandido que
atira para cima. Parker desvia dos tiros e pula para cima de um caminhão que
estava ao lado. Metros à frente, o ladrão bate o carro, mas escapa e entra em um
prédio abandonado. Peter aparece e luta com o ladrão. Ao ser encurralado, o ladrão
diz:
INT. PRÉDIO ABANDONADO – NOITE (...)
LADRÃO Não me machuque. Me dê uma chance. Só uma chance!
109
PETER PARKER E o meu tio? Deu ma chance a ele? Deu? Responde!
Peter agarra o ladrão pelo colarinho e quando enxerga seu rosto reconhece o homem que deixara escapar. O ladrão ri e aponta a arma na cabeça de Peter. Peter dá um golpe no ladrão e desarma-o. O ladrão tropeça e cai pela janela. (...) INT. QUARTO DE PETER PARKER
Peter retira de uma caixa a roupa com o símbolo de aranha e um desenho do traje. INÍCIO DO FLASHBACK INT. CARRO DO TIO BEN – DIA Peter está no carro com seu tio Ben.
TIO BEN Um grande poder traz uma grande responsabilidade. Lembre-se disso, Pete. Lembre-se disso.
A partir deste momento, o espectador vê Peter combatendo diversos bandidos
e os prendendo nas teias. São mostrados depoimentos de pessoas na cidade de
Nova Iorque a respeito do homem mascarado que pratica estas ações heroicas. É
mostrado como, em diversos lugares e em diversas mídias, o nome “Homem-
Aranha” vai se solidificando.
Essa forma de explicar, sempre no primeiro episódio, tudo ou boa parte da vida
dos personagens apresentados e despertar o interesse do público, em querer
acompanhar “a vida” deles em novas histórias, tem como uma de suas bases
principais aspectos da narrativa clássica e, mais especificamente, a forma seriada,
pois têm-se o objetivo de oferecer ao espectador dados suficientes, no início de um
episódio, com o intuito de causar interesse no espectador e abrir espaço para que
haja uma trama complexa, que possa ser expandida por um longo período dentro e
fora daquele universo desenhado no capítulo inicial. (MACHADO: 2000. p. 89).
Elemento F
Com a preocupação em cativar o público, conquistar novos adeptos e manter
estes dois tipos de espectadores, incluindo-se aqui as diversas gerações que estes
filmes podem abranger, em uma mesma sala de cinema, há outro elemento que a
forma seriada utiliza para fidelização do público.
110
Trata-se da utilização de duas estratégias narrativas que podem ser intituladas
de: a) elementos de continuidade, utilizados durante ou no final de um episódio/filme
e b) gancho, ou seja, algo que interrompa uma ação, um fato que não fora
concluído, fundamentalmente no final de um episódio. Tanto o elemento “a” quanto o
elemento “b” carregam consigo o poder de transmitir a sensação ao público de
querer saber como, e se aquilo que não fora concluído ou fora interrompido será
resolvido no próximo episódio/filme. A partir desta separação, observaremos de que
forma ocorrem os elementos de continuação e/ou o gancho ao observarmos e
discutirmos suas diferenças e semelhanças.
Elementos de continuação vs. gancho
Este tópico diz respeito aos elementos importantes inseridos nas tramas de
filmes de super-herói que tem o poder de fazer com que as histórias “cheguem ao
fim”, porém alocando questões não concluídas, com o intuito de continuar esta trama
que foi encerrada, em parte, naquele episódio. São fatos e situações que a história
não conclui definitivamente deixando em aberto questões importantes para o todo da
trama, porém, não tão determinantes a ponto de causarem dúvidas no espectador
em relação ao término da história.
No primeiro filme, Homem-Aranha, ocorrem duas cenas finais que nos
fornecem dois elementos de continuação.
Primeiro elemento. Em 1h50´30´´, Harry e Peter Parker conversam no enterro
de Norman (pai de Harry).
EXT. CEMITÉRIO – DIA (...)
PETER Sei como é perder um pai.
HARRY Eu não o perdi. Ele foi tirado de mim. Um dia o Homem-Aranha me paga. Juro sobre o túmulo do meu pai, o Aranha me paga. Deus o abençoe, Peter. É a única família que eu tenho.
Peter e Harry se abraçam.
Podemos considerar esta primeira descrição, como um elemento importante
que ficou pendente no primeiro episódio. Com a promessa de Harry, descrita acima,
111
não há uma interrupção de um determinado fato que não conclua uma situação e,
também não há um fato concreto que poderíamos entender como uma continuação
certeira, pois o personagem diz que “um dia” se vingará do super-herói, ou seja, se
um dia houver um novo episódio, Harry poderá se vingar.
Podemos extrair como segundo elemento de continuação os seguintes fatos.
Em 1h51´40´´, Peter está diante do túmulo de seu tio Ben, no mesmo cemitério da
cena descrita anteriormente. Mary Jane se aproxima de Parker e eles se abraçam.
EXT. CEMITÉRIO – DIA (...)
MARY JANE
Deve sentir muita falta dele.
PETER PARKER Tem sido difícil sem ele.
MARY JANE
Há uma coisa que queria lhe dizer. Quando eu estava lá no alto achando que ia morrer, o tempo todo, eu só pensava numa pessoa. E não era quem eu pensava que seria. Era você, Pete. Eu só pensava: “Espero sobreviver a isso só para ver o rosto de Peter Parker mais uma vez.”
Mary Jane passa a mão no rosto de Peter.
PETER PARKER
Verdade? MARY JANE
Só existe um homem que sempre esteve ao meu lado que me faz sentir capaz de ser mais do que jamais imaginei. Que sou apenas eu. E que isso é bom. A verdade é que eu amo você. Amo tanto você, Peter.
Peter e Mary Jane se beijam.
PETER PARKER (v.o.)
Tudo que eu queria era dizer o quanto eu a amava.
PETER PARKER Eu não posso...
MARY JANE
Não pode o que?
PETER PARKER Contar tudo pra você. Há tanta coisa pra contar.
112
MARY JANE É. Há tanta coisa pra contar.
PETER PARKER
Quero que saiba que sempre vou estar do seu lado. E disposto a cuidar de você. Eu prometo. Vou ser sempre seu amigo.
MARY JANE
Só amigo Peter Parker?
PETER PARKER É tudo que posso oferecer.
Mary Jane chora. Peter se afasta. Mary Jane coloca a mão na boca como se, se lembrasse daquele beijo.
PETER PARKER (v.o.)
Seja o que for que a vida me reserva nunca vou esquecer estas palavras: “Um grande poder traz uma grande responsabilidade.” Esta é minha dádiva e minha maldição. Quem sou eu? Sou o Homem-Aranha.
Mesmo quando Peter Parker diz a Mary Jane que ele só poderá oferecer sua
amizade a ela, o público não crê que, após todos os percalços enfrentados pelo
protagonista durante a trama, ele desista de seu amor. Fica claro no diálogo que
Peter reage desta forma a fim de proteger sua amada e não pô-la em risco. Além
disto, a última frase do filme é do protagonista afirmando que ele, Peter Parker, é o
Homem-Aranha, ou seja, pode até ser que Peter não queira mais se envolver com
Mary Jane, porém, ele não deixará de ser o super-herói no qual se transformou.
Tendo isto em vista, o protagonista afirma que, fatos “menores” podem não serem
continuados, mas o principal da história, o super-herói, continuará vivo.
Em Homem-Aranha 2 há também dois elementos de continuação que fazem o
espectador supor um novo episódio. Estes estão diretamente ligados aos anteriores
e, comparando-os, pudemos notar que tratam dos mesmos aspectos, porém
evoluídos, sendo que o primeiro de forma mais ponderada e o segundo de maneira
mais intensa.
O primeiro elemento extraído de Homem-Aranha 2 ocorre em 1h55´15´´.
INT. APARTAMENTO DE HARRY
Harry segura um punhal e ouve uma risada.
113
HARRY
Quem é?
Norman aparece no reflexo do espelho.
NORMAN Filho... eu estou aqui.
HARRY Pai? Achei que você tinha...
NORMAN Não. Estou vivo dentro de você. Agora é sua vez. Você jurou que faria o Aranha pagar. Então, faça.
HARRY
Pete é meu melhor amigo.
NORMAN E eu sou seu pai. Você é fraco. Sempre foi e sempre será até assumir o controle. Já sabe a verdade sobre Peter. Seja forte, Harry. Vingue minha morte.
Harry balança a cabeça negativamente.
NORMAN
VINGUE MINHA MORTE!
Harry atira o punhal contra o espelho. O espelho se quebra. Harry percebe que há uma sala por trás do espelho e entra. Harry vê a máscara do Duende Verde e seus artefatos.
Este primeiro elemento tem o mesmo efeito da promessa de Harry, no filme
anterior, ao jurar vingança. Porém, se no primeiro episódio Harry poderia ter agido
pelo calor da situação – o enterro de seu pai – agora, Harry tem um chamado “real”
de Norman e, além disto, descobre o esconderijo onde seu pai guardava os artefatos
do Duende Verde. Aqui, temos um elemento de continuidade que une a vontade de
vingança de Harry com a possibilidade de ele tornar-se o supervilão.
O segundo elemento de continuação ocorre em 1h59´. Mary Jane foge da
igreja vestida de noiva e vai ao apartamento de Peter Parker.
INT. APARTAMENTO DE PETER PARKER - DIA
MARY JANE
Fiz o que eu devia fazer.
PETER PARKER Mary Jane.
114
MARY JANE Peter. Não posso viver sem você.
PETER PARKER Você não deveria estar aqui.
MARY JANE Sei que acha que não podemos ficar juntos. Mas, não respeita a decisão que eu quiser tomar? Sei que há riscos, mas quero enfrentá-los com você. Não podemos viver a vida pela metade sendo metade do que somos. Eu te amo. Por isto estou aqui, à sua porta. Sempre estive aqui, esperando.
Mary Jane acaricia o rosto de Peter.
MARY JANE Não é a hora de alguém salvar a sua vida? Diz alguma coisa.
PETER PARKER Obrigado, Mary Jane Watson.
Peter e Mary Jane se beijam. INSERT Sirene de carro de polícia TOCA na rua. Peter e Mary Jane ouvem e param de se beijar.
MARY JANE
Vá pegá-los, tigrão.
Peter Parker sorri e sai pela janela. EXT. RUAS DE NOVA IORQUE – DIA Homem-Aranha se locomove jogando suas teias por entre os prédios.
Da mesma forma que ocorre com o elemento de continuação de Harry,
analisamos aqui, um elo entre a última cena do primeiro episódio com esta cena final
de Mary Jane, no segundo. Neste caso, Mary Jane relembra o que fora discutido no
primeiro filme, mas agora ela decide que eles fiquem juntos. Além disto, este
elemento de continuação é consistente de forma suficiente para despertar no público
um querer saber como será o próximo episódio em relação ao super-herói ter uma
namorada.
115
No filme Homem-Aranha 3, seguindo a regra dos filmes anteriores, há dois
novos elementos de continuação.
Primeiro elemento. Em 2h06´, Homem Areia conta a Peter Parker como
ocorreu o assassinato de seu tio Ben. Parker perdoa Homem Areia e este sai de
cena voando pelo céu de Nova Iorque e desaparece por entre os prédios da cidade
nos fornecendo a sensação de que sua história poderá ser continuada.
Segundo elemento. Em 2h11´50´´, Mary Jane canta em um bar. Peter entra e
para em frente a ela. Mary Jane interrompe sua apresentação. Peter vai até a frente
do palco e estende a mão. Ela desce e eles se abraçam. Mary Jane chora e eles
dançam juntos, sem dizerem nada.
Neste terceiro episódio, o personagem Harry morre, ao ajudar e combater os
supervilões Homem Areia e Venom. Este fator morte, “encerra” uma possível
continuidade do personagem Harry, porém se os realizadores de Homem-Aranha
quisessem continuar a história, a partir de fatos principais do terceiro episódio,
teriam, ao menos dois elementos de continuidade, como descrito acima, para que se
pudesse levar adiante uma nova jornada do super-herói.
Porém, a história do Homem-Aranha será “reiniciada” (reboot, em inglês). Este
novo filme terá mudanças no elenco principal, diretores, entre outros. Analisando
este aspecto, observamos que os elementos de continuação não representam uma
afirmação de uma continuação ou, ao menos, um meio afirmativo que se busque
uma continuação. Estes elementos têm a função de assegurar a continuação de
uma história, mas sem a obrigação de concluir um fato ou aspecto deixado em
aberto e que possam ser continuados ou concluídos no próximo episódio.
Não há uma quebra ou interrupção de uma situação que não fora concluída,
neste caso este instrumento narrativo fornece a possibilidade de fatos apresentados
que darão sustentação a uma possível continuação.
Diferentemente dos elementos de continuação, o gancho, de acordo com
Renata Pallotini, interrompe uma ação ou uma cena importante suspendendo a
sequência de um determinado fato, com o intuito de, no próximo episódio, dar
continuidade a este elemento importante para a trama, naquele momento. Ao utilizar
esta técnica de interrupção, desperta curiosidade e inquietação no espectador e cria
expectativa, em relação às conclusões interrompidas, no final de cada episódio, com
a finalidade de fazer com que o público tenha interesse em acompanhar o
116
desenrolar do que lhe fora apresentado e interrompido, extinguindo a dúvida,
revelando o que era desconhecido, respondendo questões. (PALLOTTINI, 1998, p.
120-123).
Diante do exposto, ao adequarmos puramente os conceitos de gancho, nos
filmes de super-heróis, percebemos que, não necessariamente, eles estão contidos
nos finais da trama.
Esta “adequação pura” do conceito diz respeito ao que ocorria com os filmes de
super-heróis exibidos nos cinemas no início na década de 1940, desde o filme As
Aventuras do Capitão Marvel até o ano de 1951 com Superman and the Mole-Men.
Neste período, estes filmes exibiam um episódio de, aproximadamente vinte
minutos, em média, a cada semana e o final do capítulo coincidia com a cena do
início do capítulo seguinte, havendo apenas uma rememoração do que ocorrera
anteriormente e/ou uma breve explicação do macro objetivo da história.
Não foram encontrados, nos filmes analisados que tiveram mais de um
episódio produzido, uma cena interrompida em um momento importante e
fundamental da trama e que no próximo episódio a última cena fosse retomada na
cena inicial do episódio seguinte, como ocorria com os filmes descritos no parágrafo
anterior.
Em Matrix Reloaded, Batman Begins e Homem de Ferro, a cena final do
episódio está diretamente ligada à cena inicial, do episódio seguinte. Porém, ao
consideramos ganchos, apenas em um dos três filmes, a cena interrompida é
continuada a partir do mesmo instante. Além disso, há uma consideração: em Matrix
Reloaded, o episódio é encerrado com os personagens Neo e Bane/Agente Smith
(Ian Bliss), desacordados, em suas respectivas macas, conectados por sensores
que medem suas frequências cerebrais. No episódio seguinte, Matrix Revolutions,
há uma primeira cena em que os comandantes de Zion discutem estratégias em
relação ao ataque das máquinas, algo que, também, não fora concluído no episódio
anterior e, somente após esta primeira cena, ocorre a continuação da cena que
encerrou o episódio anterior, ou seja, Neo e Bane/Agente Smith desacordados.
Em Batman Begins, o sargento Gordon entrega a Batman uma carta de baralho
com a figura de um curinga; diz ao super-herói que há um novo criminoso na cidade
de Gotham e a única pista que a polícia tem sobre o vilão refere-se a esta carta.
Três anos depois, Batman – O Cavaleiro das Trevas, em sua primeira cena, é
117
mostrado a realização de um assalto a banco em que os criminosos utilizam
máscaras de palhaço. Ao final da ação, um dos assaltantes retira a máscara e revela
sua verdadeira identidade, neste ponto é apresentado ao espectador o personagem
Coringa. Apesar de, a trama dar sequência a um elemento de continuação do
episódio anterior, o que foi verificado é que na cena inicial do episódio seguinte a
trama não foi retomada a partir do momento em que Batman recebe a pista sobre
um novo vilão.
Em Homem de Ferro, a cena final mostra o empresário Tony Stark, em coletiva
de imprensa, revelando que ele é o Homem de Ferro. Dois anos após a estreia do
primeiro episódio é lançado Homem de Ferro 2. A cena inicial deste filme mostra um
homem, na Rússia, produzindo um reator Ark semelhante ao do super-herói e, em
determinado momento desta cena, é mostrado ao espectador uma televisão ligada
mostrando o anúncio da revelação de Tony Stark. Da mesma forma que em Batman,
a cena final é representada em outro local, na visão de outro personagem e, com o
intuito de apresentar um novo vilão ao espectador que, não influenciará, naquele
momento, a sequência do ato realizado pelo protagonista.
Os filmes de super-herói estudados aqui, quando tiveram mais de um episódio
lançado nos cinemas americanos, o fizeram com, no mínimo, cinco meses e meio de
diferença entre um filme e outro27 estendendo-se ao máximo de vinte e cinco anos
entre um episódio e outro28. Ao verificarmos, os filmes de super-heróis da década de
1940, o espaço temporal entre um episódio e outro era, em média, de uma semana,
pois ao final de cada episódio era anunciado que a continuação poderia ser vista na
próxima semana, nos cinemas.
Temos, portanto, dois elementos que afastam os filmes de super-heróis da
utilização do gancho em seus encerramentos nas tramas: I) a questão de os finais
dos filmes terminarem em uma determinada cena e a cena do filme seguinte não
corresponder à mesma situação, personagens e/ou local; b) o espaço temporal entre
um episódio e outro é longo em relação ao que ocorria na década de 1940.
Com estes dados pudemos verificar que, apesar de os filmes de super-heróis
indicarem, por seus elementos de continuação, diversos fatos que poderiam fazer a
27 Matrix Reloaded, segundo filme da série Matrix, estreou em 7 de maio de 2003, nos EUA e sua continuação, Matrix Revolutions, fora lançado em 27 de outubro de 2003. 28 Superman II - A Aventura Continua e Superman – O Retorno.
118
história ser continuada, ao mesmo tempo, não há um desapontamento se não
houver uma sequência do episódio anterior, pois nenhum macro objetivo, ou seja,
nenhum fato extremamente importante para a conclusão da história fora
interrompido bruscamente de forma a deixar o espectador com dúvidas a respeito da
grande conclusão. O que se verificou foram as inclusões de elementos de
continuação, como uma espécie de garantia de uma possível continuidade da trama,
ou seja, os elementos estão inseridos no final do filme, e se houver interesse dos
realizadores e, não somente o retorno financeiro esperado, para que se possa iniciar
a continuação do último episódio.
119
Conclusão
Com a finalidade de verificar a existência de elementos comuns nos filmes de
super-herói e a possibilidade de caracterização de um gênero próprio foi percorrido
um longo caminho de pesquisa e análise fílmica. A delimitação dos filmes abordados
foi feita de forma a abranger aqueles lançados nos Estados Unidos
(hollywoodianos), com personagens super-heroicos de aspectos físicos humanos –
interna e externamente – excluindo máquinas, ciborgues ou animais. Foram
excluídos, ainda, filmes que tratassem ou tivessem elementos característicos de
comédia e/ou paródia e os de animação. O período escolhido para pesquisa tem
início em 1999, com o filme Matrix, por observarmos que este estabeleceu um novo
parâmetro quanto a efeitos especiais verossímeis e orgânicos, em relação aos
superpoderes dos super-heróis. O estudo se estende até os filmes lançados em
2009, ano do início da elaboração do presente trabalho.
O fato de podermos aglutinar os principais elementos constantes nos filmes de
super-herói, refletir e discutir sobre eles, a fim de que pudéssemos organizar as
ideias e referências encontradas durante a pesquisa, incluir novas percepções e
estruturarmos em um único referencial as principais discussões dos elementos
constantes nestas obras foi o ponto fundamental e o objetivo principal que norteou e
impulsionou este trabalho. E, com isso, pude separar informações de outros teóricos
que discorriam não somente sobre os super-heróis nos cinemas, mas também em
outros meios e pude extrair e contextualizar apenas as informações fundamentais
para analisarmos as obras.
Definimos nesta dissertação as características encontradas nos personagens
super-heroicos e concluímos que estes devem ter superpoderes; agir heroicamente;
utilizar uma fantasia, disfarce, uniforme ou vestimenta de identificação; seguir um
“código de conduta” que contém três leis fundamentais: 1ª Lei - não matar; 2ª Lei -
não auferir renda e/ou obter vantagem financeira com seus atos heroicos; 3ª Lei -
preocupação com a sociedade que o cerca.
Comparamos os super-heróis com heróis e observamos que a diferença
principal entre um super-herói e um herói é o superpoder e, por vezes, enquanto o
herói age de forma heroica, em razão de seu trabalho, o super-herói age com
espontaneidade. Observamos a presença essencial nas tramas das figuras dos
120
vilões e/ou supervilões, as diferenças entre um e outro e verificamos seu papel em
ser o representante do maior desafio a ser enfrentado pelo super-herói.
Apontamos que entre os pontos fracos de um super-herói, destaca-se, o perigo
que podem correr as pessoas que o cercam e, não necessariamente um objeto e/ou
substância que o faça perder ou ter seu superpoder anulado.
Verificamos a presença recorrente de personagens que auxiliam o super-herói,
como os amigos mais próximos e a mocinha, por quem o super-herói é apaixonado.
Embora a mocinha possa auxiliar o super-herói é comum que por causa dela ele
tenha de enfrentar desafios maiores do que se ela não fizesse parte da trama.
Outros aspectos que pudemos extrair dos filmes de super-heróis são os
elementos fundamentais de narrativas utilizados para compor as tramas e o filme.
Observamos que alguns elementos da narrativa clássica estão presentes,
como clareza; “passo a passo” da história; conexão com a época tratada;
informações da jornada que deverá conter começo, problemas, objetivo, conflitos
com outros personagens e um final que deve conter uma derrota ou vitória decisivas,
fatos relevantes apresentados por três vezes, antecipação de fatos que vêm a seguir
e sua confirmação, dead line em algum momento da trama, clímax, final plausível e
coerente em relação ao todo apresentado. Estes elementos foram analisados em
cenas extraídas e descritas dos filmes Matrix e Superman – O Retorno.
Há, também, aspectos narrativos estéticos que auxiliam a forma de contar e
transmitir sensações conferidas pelos personagens nos filmes, de forma a
demonstrar visual e sonoramente os efeitos experimentados naquele meio ambiente
ficcional. Como conferido anteriormente, por vezes, ao ocorrer um impacto na cena,
a câmera poderá tremer, como uma espécie de simulação ou aproximação do que
ocorre na história.
Os efeitos visuais que compõem as tramas são fundamentais no que diz
respeito à transmissão aos espectadores de verossimilhança e organicidade nas
ações e aspectos visuais dos protagonistas em relação ao meio ambiente em que
são apresentados.
Com o auxílio dos efeitos especiais, pudemos observar que os filmes de super-
heróis a partir de 1999 atingem um patamar em que o que poderia ser observado
nas HQ´s pôde ser conferido nos filmes, por conta dos avanços tecnológicos.
121
Durante a pesquisa e produção desta dissertação nos deparamos com
questões que nos levaram a refletir se os filmes analisados contêm elementos
significativos e suficientes que poderiam compor e sustentar a ideia de um novo
gênero cinematográfico intitulado “super-herói”.
Confrontamos e comparamos as obras e seus elementos fundamentais com
gêneros cinematográficos que são utilizados na categorização dos filmes de super-
herói, como ação, aventura, ficção científica e história em quadrinhos. Ao reunir
estas informações concluímos que os elementos constantes nos filmes de super-
heróis são consistentes e suficientes para que se possa iniciar a verificação e novos
estudos sobre o surgimento de um gênero próprio chamado super-herói, pois estas
comparações serviram de base para notarmos que haviam elementos que não se
adequavam em nenhum dos gêneros acima citados.
Estas obras que poderiam caracterizar um novo gênero seriam compostas de
uma trama em que o bem vence o mal e deverá haver o resguardo da sociedade
(humanos). Estas situações teriam como suporte fundamental os efeitos especiais
que além de transmitir aos espectadores maior organicidade nas cenas auxiliam sua
narrativa.
Estariam presentes também alguns elementos da forma seriada, como a forma
fragmentada de apresentar a história, a rememoração dos episódios ou filmes
anteriores quando houver sequência, forma de episódio dos filmes, evolução de
tempo por apenas um período na história do super-herói, personagem não
envelhece por um longo período, esclarecimento de período importante - no que diz
respeito ao surgimento do super-herói - e gancho no final do filme.
Foi verificado outro aspecto narrativo interessante e constante quando estes
filmes tiveram uma continuação de episódio anterior. Tratam-se dos elementos de
continuação introduzidos nas cenas finais de cada trama, e que fornecem a
oportunidade da história avançar a partir de fatos não encerrados por completo. Este
termo “elementos de continuação” tem importância nesta dissertação, pois serviu
como base para podermos compará-lo e diferenciá-lo do termo “gancho” e suas
utilizações nos filmes de super-heróis.
Pudemos concluir que foram descobertos elementos consistentes para que se
hajam reflexões e debates sobre o surgimento e consolidação de um novo gênero
cinematográfico, o gênero “super-herói”.
122
Referência bibliográfica
AUMONT, Jacques e outros. A estética do filme – cinema e narração. Campinas:
Papirus Editora, 2002.
BERGAN, Ronald. Guia ilustrado Zahar cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora,
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BORDWELL, David. O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios
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LEVY, Shuki; WINNING, David. Turbo: Power Rangers 2. EUA / Japão, Saban
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MARTINSON, Leslie H. Batman – O Homem Morcego. EUA, Twentieth Century Fox
Film Corporation / William Dozier Productions / Greenlawn Productions, 1966,
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MAZIN, Craig. Super-Herói O Filme. EUA, Dimension Films, 2008, 85 min.
MITCHELL, Mike. Sky High Super Escola de Heróis. EUA, Walt Disney Pictures /
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PROYAS, Alex. Eu, Robô. EUA, Alemanha, Twentieth Century Fox Film
Corporation / Mediastream Vierte Film GmbH & Co. Vermarktungs KG /
Davis Entertainment / Laurence Mark Productions / Overbrook
Entertainment / Canlaws Productions, 2004, 114 min.
REITMAN, Ivan. Minha Super Ex-Namorada. EUA, S E Productions Inc. / New
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RUSSELL, Chuck. O Máskara. EUA, Dark Horse Entertainment / New Line
Cinema, 1994, 101 min.
SCHUMACHER, Joel. Batman Eternamente. EUA / Reino Unido, Warner Bros.
Pictures / PolyGram Filmed Entertainment, 1995, 122 min.
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PolyGram Filmed Entertainment, 1997, 125 min.
SHIN, Nelson. Transformers. EUA / Japão, Sunbow Productions / Marvel
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SHOLEM, Lee. Superman E Os Homens Toupeira. EUA, Lippert Pictures,
1951, 58 min.
SPICER, Bryan. Power Rangers: O Filme. EUA / Japão, Saban Entertainment /
Toei Company / Twentieth Century Fox Film Corporation, 1995, 96
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SZWARC, Jeannot. Supergirl. Reino Unido, Artistry Limited / Investors In
Industry PLC / Robert Fleming Leasing Limited / St. Michael Finance
Limited / Warner Bros. Pictures, 1984, 150 min.
TOWNSEND, Robert. O Homem Meteoro. EUA, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
/ Tinsel Townsend, 1993, 100 min.
USHER, Kinka. Heróis Muito Loucos. EUA, Universal Pictures / Golar
Productions / Dark Horse Entertainment, 1999, 121 min.
VERHOEVEN, Paul. Robocop. EUA, Orion Pictures Corporation, 1987, 103
min.
135
Ficha Técnica para análise dos filmes de super-heró is
Título, ano e título original:____________________________________________________________
Diretor:___________________________________________________________________________
Roteirista:_________________________________________________________________________
136
Tempo/duração:____________________________________________________________________
Gênero indicado na mídia analisada:____________________________________________________
Baseado em outra mídia? ( ) Sim ( )Não. Qual? Criadores:
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Mídia analisada do filme e ano de lançamento desta mídia:
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Distribuidora:______________________________________________________________________
Produção:_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Produtor(es): ______________________________________________________________________
Produtor(es) executivo(s):____________________________________________________________
Elenco principal (Nome do(s) personagem(ns) e nome do(s) artista(s)):_________________________
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Direção de fotografia:________________________________________________________________
Direção de arte:____________________________________________________________________
Efeitos especiais:___________________________________________________________________
Figurino:__________________________________________________________________________
Música:___________________________________________________________________________
Montagem:________________________________________________________________________
Sinopse da mídia analisada:
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137
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Quantidade de super-heróis no mesmo filme: (.. )1 ( )2 ( )3 ( ..)4 ( )5 ( )6(. .)7 ( )8 ( )9. (...) 10
ou mais? Especificar quantidade:_______________________________________________________
Nome do(s) super-herói(s) e outra(s) identidade(s) (se houver(em)):
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Ato(s) heroico(s) do super-herói no filme utilizando seus superpoderes. Comentários.
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Uniforme:_________________________________________________________________________
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138
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Símbolo:__________________________________________________________________________
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O super-herói mata no filme? ( ) Sim. ( ) Não. Comentários.
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O super-herói obtém vantagem financeira com seus atos heroicos? ( ) Sim. ( ) Não. Comentários.
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Preocupação com a sociedade. ( ) Regional ( ) Mundial ( ) Universal ( ) Outra (mocinha, amigos).
Comentários.
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Espaço de atuação do super-herói. ( ) Cidade ( ) Estado ( ) País ( ) Planeta Terra ( ) Universo (
) Outros. Comentar.
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Relações do super-herói na trama. ( ) Vilão ( ) Supervilão ( ) Amigos ( ) Mocinha ( )
Outros. Comentários.
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Vilão e/ou supervilão têm características ou superpoderes similares às do super-herói? ( ) Sim ( )
Não. Comentários.
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Fraqueza do super-herói é revelada no filme? ( ) Sim ( ) Não. Qual(is) é(são)? Comentários.
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Efeitos especiais inseridos na trama como forma de incrementação da história? ( ) Sim ( ) Não.
Análises.
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Efeitos especiais ou efeitos técnicos como auxílio narrativo? ( ) Sim ( ) Não. Análises.
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Efeitos especiais verossímeis e orgânicos nas cenas? ( ) Sim ( ) Não. Comentários.
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Apresentação do super-herói. Como ocorre?
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Origem do super-herói é mostrada no filme? ( ) Sim ( ) Não. Comentários.
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Origem do superpoder do super-herói é mostrada no filme? ( ) Sim ( ) Não. Se, sim, qual sua
origem? ( ) Natural ( ) Acidental ( ) Construído. Comentários.
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Qual(is) é(são) o(s) objetivo(s) do super-herói na trama? Comentar se há deadline(s).
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Final do filme. O que ocorre? Comentários.
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Gênero existente mais próximo do filme. ( ) Ação ( ) Aventura ( ) Ficção Científica ( ) Adaptação
de História em Quadrinhos ( ) Híbrido? De quais gêneros? Comentários.
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Quais elementos o filme apresenta?
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( ) Título original do filme faz referência direta ao super-herói ( ) Super-herói é o personagem
principal ( ) Trama é ambientada em uma metrópole e/ou cidade grande ( ) Existem elementos de
continuação ( ) Batalha do bem contra o mal ( ) Bem vence o mal
Características no filme da forma seriada.
( ) Estrutura fragmentada ( ) Inclusão, suspensão, retirada de personagens - quando houver
continuação do filme ( ) Eternização física do super-herói ( ) Gancho final ( ) Elementos de
Continuação ( ) Outros. Especificar quais outros elementos da forma seriada. Comentários sobre os
elementos encontrados.
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Outras observações:
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