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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira Lima QUANDO A PERCEPÇÃO CHEGA ÀS CONSOANTES: ESTÁGIO DOIS NO DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO Rio de Janeiro 2 0 semestre de 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA

Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira Lima

QUANDO A PERCEPÇÃO CHEGA ÀS CONSOANTES:

ESTÁGIO DOIS NO DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO

Rio de Janeiro

20 semestre de 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA

Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira Lima

QUANDO A PERCEPÇÃO CHEGA ÀS CONSOANTES:

ESTÁGIO DOIS NO DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO

Dissertação apresentada à Coordenação dos

Cursos de Pós-Graduação em Linguística da

Universidade Federal do Rio de Janeiro como

requisito para a conclusão de Mestrado em

Linguística.

Orientadora: Professora Aniela Improta

França

Co-orientadora: Professora Aline da Rocha

Gesualdi

Rio de Janeiro

20 semestre de 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA

Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira Lima

QUANDO A PERCEPÇÃO CHEGA ÀS CONSOANTES:

ESTÁGIO DOIS NO DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dr

a. ANIELA IMPROTA FRANÇA

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras

Profa. Dr

a. ALINE DA ROCHA GESUALDI

Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca

Profa. Dr

a. MYRIAN DE AZEVEDO FREITAS

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras

Profa. Dr

a. ALERIA CAVALCANTE LAGE

Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Letras

Aprovada em 14 de agosto de 2009

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LIMA, Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira

Quando a percepção chega às consoantes: Estágio Dois no

desenvolvimento linguístico / Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira

Lima – Rio de Janeiro, 2009.

xvi, 82 f: il.

Orientadora: Aniela Improta França; Co-Orientadora: Aline

da Rocha Gesualdi

Dissertação (Mestrado em Linguística) – UFRJ / Faculdade

de Letras / Departamento de Linguística, 2009.

Referências: 8 f.

1. Psicolinguística. 2. Aquisição de Linguagem. 3.

Linguística – Dissertação. I. FRANÇA, Aniela Improta (Orient.);

GESUALDI, Aline da Rocha (Co-Orient.). II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras. Departamento de

Linguística. III. Quando a percepção chega às consoantes: Estágio

Dois no desenvolvimento linguístico.

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Às crianças da mais tenra idade, por quem

tantos se interessam, porém, poucos avisam ao

mundo como suas mentes podem!

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AGRADECIMENTOS

Comecei a trabalhar ensinando. E não foi casualidade. Agradeço a meu pai, imigrante

Inglês no Brasil, e a meu sogro, por terem me colocado bem cedo neste caminho ao qual tanto

me afeiçoei. Lembro-me de que, desde pequena, já admirava a positividade de meu pai em

relação a seu ofício como professor de Inglês. Na minha família bilíngue, o Inglês era parte da

criação, e seu ensino era considerado missão.

Coincidentemente, aos 18 anos, fui convidada a participar de uma proposta

educacional de vanguarda nos anos 70, coordenada pelo ilustre educador brasileiro Lauro de

Oliveira Lima – fundador da escola Chave do Tamanho, que mudou o paradigma das escolas

experimentais. Lauro, pai de meu marido, me formou como professora sob o arcabouço do

Método Psicogenético. Com sua visão e bom-senso, me alertava para o fato de que a criança

não iria adquirir uma língua estrangeira se isto exigisse dela exaustivas repetições.

Com esse diferencial adquirido, fui eu a professora de Inglês dos alunos da Chave.

Ingênua, sem experiência profissional prévia e sem material especial para o ensino de uma

língua, conseguia manter as crianças interessadas em interagir comigo propondo brincadeiras

em Inglês.

Em pouco tempo, me tornei absolutamente convencida de que qualquer criança seria

capaz de adquirir outra língua sem discriminação. Porém, só falavam na língua estrangeira

quando útil, assim como as crianças da minha família: só falávamos em Inglês com o Vovô,

porque ele realmente não entendia Português. Achava estranho, também, o fato de crianças

não-vindas de famílias bilíngues como a minha terem dificuldades de aprender uma língua

estrangeira.

Agradeço ao Professor Lauro, especificamente, por ter me colocado cedo nesta

profissão, de modo que eu logo questionasse o que ela tem de mais essencial: as diferenças

entre o desenvolvimento de língua nativa e o de língua estrangeira. O que acontece com o

nosso cérebro que o modifica tão radicalmente depois da infância, a ponto de já não

conseguirmos adquirir uma língua da forma como adquirimos nossa língua-mãe? O que há de

tão especial durante os primeiros anos da infância? A FALA parece algo tão banal que poucos

a problematizam e se dedicam a desvendar as essências dessa cognição... Um médico lida

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com as doenças, e pouco se interessa pela normalidade. Quem diria que estas questões, que

sempre me fiz, começariam a ser desvendadas para mim, 30 anos mais tarde, com a minha

volta aos estudos neste Mestrado na UFRJ?

Mas este desejo de repaginar a minha prática didática estudando linguística e

neurociência da linguagem não foi trivial, especialmente para mim, há tantos anos afastada da

academia. Além disso, confesso que havia também algumas inconsistências na minha busca.

Desejava entender como se davam os fenômenos de desenvolvimento linguístico no cérebro,

mas tinha na bagagem uma vida praticando construtivismo e entendendo a linguagem como

produto do meio.

Para compreender a questão com seriedade, eu teria que encontrar uma orientadora

com vários saberes: que entendesse de biologia, de fisiologia, de neurociência e de linguagem.

Teria que ser um professor, um psicólogo; teria que ser tão especial a ponto de amar a ciência

sobre todas as coisas e querer fazer pela sua terra o que poucos fazem: ficar aqui. A maioria

dos cientistas se vai.

Custei, mas encontrei a pessoa: alguém que tem tudo isso e tem, ainda, absoluta

simplicidade e incondicional força de trabalho, ou seja, uma pessoa simplesmente apaixonada

pelo que faz. Transita da bravura à ternura com a paciência de um monge chinês. Está sempre

disponível para todos; sua aula é um filme, tem emoção no enredo!

Agradecer a Aniela Improta França, minha orientadora, é o mínimo que posso fazer

nestas páginas. A entrega foi mútua; Aniela logo percebeu o meu interesse pelo período da

pré-linguagem e imediatamente me acolheu. Nunca vou me esquecer do dia em que cheguei à

salinha para estudar e ela me presenteou com a palestra chave para o meu experimento:

Jacques Mehler, na IV De Lange Conference na RICE University, Texas, estava ali, inteirinha,

pronta para ser estudada.

Aniela foi incansável na busca da confecção do chupetógrafo, aparatus em cuja

concepção e manuseio tivemos que começar do zero. E, após sucessivas tentativas na COPPE,

Aniela trouxe a pessoa certa: a Professora Aline da Rocha Gesualdi, que abraçou o projeto

sem titubear. Aline, com a rapidez de uma expert em tecnologia, desenvolveu o aparelhinho

(chupetógrafo) que tanto atemorizou e fez “fugir” de nós alguns engenheiros elétricos nossos

vizinhos.

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Aline possibilitou que tudo acontecesse com carinho maternal e muita genialidade.

Ágil, silenciosa... mais carinhosa, impossível. Assim, tornou-se minha co-orientadora e

passou a nos honrar em mais uma parceria no nosso Laboratório de Acesso Sintático

(ACESIN).

Quantos “ACESINhos” amigos torceram por este experimento: Thiago, que, exímio e

detalhista, cuidava de mim para que minhas árvores não fossem devastadas, obrigada pelas

aulas de sintaxe! Assim que o experimento ficou definido, uma equipe emergencial de

trabalho surgiu espontaneamente. Alex, estudante de iniciação científica, foi um lorde inglês

durante o recrutamento dos bebês; cuidou sem descanso da tecnologia, divertiu-se muito com

a Marília nas manobras frenéticas dos objetos no teatrinho, foi o meu terceiro braço no

momento crucial dos resultados do teste! Obrigada, você abriu o experimento com uma

participação empolgante na JIC-2008 e o fechou com chave de ouro. Hermínia, Marília,

Marije, como eu iria me ver com tantos bebês e todo o entourage chegando a cada minuto se

vocês não aparecessem? Foi bom demais ter podido contar com vocês.

O chupetógrafo praticamente constitui-se num trabalho à parte, e foi preciso testar a

sua eficiência antes mesmo de o experimento se iniciar como um todo. Por essa fase de pré-

estreia do aparatus, gostaria de agradecer ao meu primeiro bebê voluntário, a Clarinha, e, é

claro, à sua mãe Jaqueline, que esteve sempre pronta para levar sua boneca ao nosso encontro.

Muito obrigada pela paciência e disponibilidade.

Preciso agradecer a cada professor de quem tive a honra de ter sido aluna ao longo do

curso: vocês foram importantes demais na construção dos meus novos paradigmas, com o

intenso equipamento em Linguística Gerativa. Obrigada, Professor Marcus Maia; obrigada,

Professora Miriam Lemle; obrigada, Professora Myrian Freitas; obrigada, Professor Celso

Novaes. Maravilhosa a oportunidade que foi o curso de Neurobiologia da Linguagem,

obrigada Professora Maira Fróes, Professora Cecília Hedin e Professora Monica Marins.

Outro curso com o qual fui agraciada aconteceu durante o nosso GT, um Professor como

Humberto Menezes é inesquecível; o mesmo posso dizer sobre a Professora Márcia Damaso,

e agradeço igualmente à Professora Christina Gomes.

Agradeço à Professora Kristine Stenzel, que prontamente me socorreu nas gravações

das frases de estimulação linguística em Inglês nativo.

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Agradeço à Professora Eva Fernandez, da Cuny University, NY, pelas sugestões e pelo

envio de inúmeros papers sobre bilinguismo.

Professora Aléria Laje, além de sábia, seu sorriso amigo nunca me abandonou. Na

“introdução”, me mostrou o caminho das pedras... Obrigada, viu?

Ainda pela faculdade, tive a alegria de conhecer pessoas lindas! Costumo enxergar as

pessoas de dentro para fora; por isso, aqui vou dizer das pessoas de almas lindas. Lindas por

“fazerem por onde” e por estarem sempre prontas a ajudar os alunos sem precedentes. Incrível

a Sra. Maria de Fátima Campelo, da secretaria da Pós-Graduação, tão trabalhadora quanto

compreensiva e acolhedora! Obrigada por sua atenção e dedicação.

A dupla dinâmica do estacionamento: que divertido é o moço Zé Carlos, aquele

senhorzinho que varre tudo cuidadosamente! Ele tem sempre um caso para contar, um na

chegada e outro na saída; eu entrava e saía da Letras me divertindo com ele.

Lembrar aqui da minha mãe é fácil; ela acompanha cada movimento dos meus

estudos, desde que eu era a “chorona” do jardim da infância. Minha mãe não podia se atrasar

na saída da escola, que eu caía no choro; até hoje ela confere as minhas notas. Sua força

espiritual nunca me faltou. Obrigada, mãe.

Agradeço aos meus dedicadíssimos companheiros de trabalho, Patrícia e Rodrigo, por

seu pulso firme e pela organização no dia-a-dia do Dice enquanto me ausentei para finalizar

este trabalho. Sem a confiança que tenho neles, jamais poderia ter me atrevido a fazer este

Mestrado.

Estou tentando que o amor fique para o final, mas não paro de pensar nele. Preciso

dizer do Ricardo, meu companheiro de todas as horas, lado a lado, a cada passo da minha

trajetória profissional e estudantil. Se eu podia ir ou se teria que desistir da ideia de me

distanciar um pouco do Dice e sair em busca de novos horizontes intelectuais, entender das

novidades na área da linguagem; afinal, queria muito saber sobre o cérebro das crianças com a

linguagem... do maridão não me faltou incentivo, pacientemente me apoiando. Até mesmo nas

horas da sua atividade favorita, deixava de assistir ao seu filme, mas não me deixava sem

atenção quando eu o fazia escutar textos interessantes. “Seu Gepeto”, saiba que adorei o palco

que você fez para mim e todas as coisas que você facilitou para que tudo acontecesse do jeito

que você sabe que eu gosto. Todos os mercados aos quais você foi para mim, os super copos

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de coca-cola que você buscava nas longas noites de estudo e todas as chupetas de mil tipos

que você buscou para testar o aparelho. Obrigada, Querido!

Aprendi, com esta pesquisa, que há profissionais na saúde e outros. Os outros não têm

tempo a perder com pesquisadores, não podem dar sequer um minuto de atenção; para esses,

time is money. Não fossem profissionais como a Dra. Simone Lopes e a Dra. Stéphanie Sapin-

Ligníeres, talvez eu não tivesse tido a oportunidade de realizar este experimento.

Admirável a disponibilidade e a boa vontade das mães dos bebês! A atitude voluntária

de vocês não se agradece, se reverencia.

Alice, Amilcar, Arthur, Bruna, Cecília, Felipa, Felipe, Flavia, João Pedro, Julia,

Manuela, Miguel, Noah, Theo, Thiare e Vicente, vocês já são gente antes de virarem gente!!!

Fico aliviada, como educadora, por ter conhecido famílias como as suas. Desejo a vocês muita

força de vontade para não interromper o desenvolvimento da Ciência e que cresçam fazendo

muitas perguntas, pois não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas!

Tenho esperança, e desejo intensamente, que os jovens – e aqui me reporto ao meu

filho Bruno, a quem tanto amo – não esperem que o mundo venha a mudá-los, mas que vocês

o mudem, pessoalmente. Os estudos estão sempre ao alcance de todos os cidadãos, e a

mudança é uma escolha individual, só nossa. Aproveitem enquanto suas sinapses estão

esbanjando riqueza.

Aos meus amigos – poucos, é bem verdade, sei que os andei trocando por este

investimento – quero agradecer pela paciência e pelos inúmeros incentivos que recebi por ter

voltado aos bancos da universidade.

Devo finalizar esta sessão agradecendo novamente à minha Professora Aniela.

Agradeço e nunca vou me esquecer de sua insistência e persistência comigo; devo,

literalmente, a você todos os aprendizados que vêm transformando os meus paradigmas

enquanto estive sob seu olhar atento e amigo. Vou sentir muitas saudades suas e do espaço

intelectual instigante que você cultiva.

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RESUMO

LIMA, Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira. Quando a percepção chega às consoantes:

Estágio Dois no desenvolvimento linguístico. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Faculdade de Letras, 2009. Dissertação de Mestrado em Linguística.

Quando um bebê começa a falar, por volta dos 12 meses, evidencia-se um output linguístico

que é ainda bem limitado pela própria condição motora do bebê. Como observadores,

perdemos então as fases encobertas do Mecanismo de Aquisição de Linguagem (Language

Acquisition Device – LAD) que prepara a circuitaria que dá suporte à fala. O problema é:

como monitorar a aquisição de linguagem na mente de um bebê que ainda não fala? Este

trabalho retrata o uso de duas técnicas de monitoração próprias para o período pré-fala,

correspondendo à primeira e à segunda fases do experimento. A primeira delas é o

chupetógrafo, que registra a frequência e a intensidade da sucção de bebês. Sabe-se que nos

bebês há uma ligação fisiológica entre a sucção e a atenção. Trata-se da sucção não-nutritiva

(SNN), que pode manifestar-se pela simples presença da chupeta ou mesmo espontaneamente.

Na SNN há aumento no ritmo e no volume de sucção proporcionalmente ao nível de interesse

e foco que o bebê dispensa a dado estímulo. Desta forma, buscou-se desenvolver um aparelho

que pode registrar com precisão a sucção em seus aspectos de frequência por segundo e

pressão, de forma que esses dados possam ser relacionados à estimulação linguística. A

segunda técnica utilizada foi a monitoração do olhar de bebês para objetos que ele reconhece

ou não. Os testes foram feitos com bebês de 3, 4, 5 e 6 meses, e os estímulos eram palavras e

não-palavras que designam objetos concretos mostrados para os bebês durante a primeira fase

do experimento e depois reconhecidos pelos bebês durante a segunda fase. Verificou-se que a

computação de arbitrariedade saussureana é mais operante nos bebês mais novos do que nos

mais velhos. Interpretou-se esse decréscimo como a entrada dos bebês mais velhos em uma

fase sintática de aquisição de linguagem em que há reinterpretação

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ABSTRACT

LIMA, Eloisa Maria Le Maitre de Oliveira. Quando a percepção chega às consoantes:

Estágio Dois no desenvolvimento linguístico. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Faculdade de Letras, 2009. Dissertação de Mestrado em Linguística.

As soon as an infant starts speaking, at about 12 months of age, there is evidence of a

linguistic output which is fairly limited due to the infant‟s very motor condition. As observers,

we cannot account for the covert phases of the Language Acquisition Device – LAD, which

prepares the neural circuitry supporting speech. The problem is: How to monitor language

acquisition in the brain of an infant who is yet to speak? This experiment is going to present

two monitoring techniques that suit the prior to speech period and that correspond to the first

and second phases of the experiment. The first of these monitoring techniques is the High-

Amplitude Sucking Paradigm – HASP, a pacifier which registers the frequency and intensity

of the baby‟s sucking. It is known that there is a physiological connection between sucking

and the baby‟s attention span. This non nutritive sucking (NNS) may occur at the simple

presence of the pacifier or even spontaneously. NNS produces an increase in the sucking

rhythm and volume which is proportional to the level of interest and focus that the baby

allocates to a certain stimulus. Thus, a device was developed to register the suction data

precisely in its aspects of frequency per second and pressure, in a way that the data could be

related to linguistic stimulation. The second technique was the monitoring of the baby‟s gaze

preference towards objects that it could recognize. The tests were done with 3, 4, 5 and 6

month-old babies and the stimuli were words and non words which refer to concrete objects

presented to the babies during the first phase of the experiment. These objects were then set to

be recognized by the babies in the second phase of the experiment.

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LISTA DE FIGURAS

FIG. DESCRIÇÃO PÁG.

1 Processo de neurulação ou formação do tubo neural, a partir do folheto

embrionário ectodérmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

27

2 Ultrassonografia do estágio final da neurulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3 Visão lateral do encéfalo de embrião humano de 6 mm, mostrando as flexuras . . 29

4 Neurônios e sinapses . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

5 Tipos de glia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

6 Direção do impulso nervoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

7 Sinapse . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

8 Bebê sendo preparado para uma sessão de exposição aos estímulos do

experimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

55

9 Bebê com chupeta olhando o vídeo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

10 Vídeo: bola; áudio: “A bola é bonita” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

11 Totalidade dos objetos correspondentes às não-palavras e às palavras do

experimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

58

12 Vídeo para estímulos em Português do tipo palavra: pato. Áudio: O cachorro

mordeu o pato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

58

13 Vídeo para estímulos em Português do tipo não-palavra: tupa. Áudio: O papai

viu a tupa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

58

14 Sequência de eventos do vídeo no segundo dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

15 Bebê fazendo o teste: dois objetos saindo simultaneamente pelas janelinhas da

direita e da esquerda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

62

16 Trecho incompleto da sequência de fotogramas logo depois de um voluntário

ouvir “tupa”, mostrando o olhar primeiramente para a direita, na direção do

objeto carro, e depois para a esquerda, na direção do objeto tupa . . . . . . . . . . . . .

63

17 Cabeça do bebê com etiqueta neon . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

18 Partes do chupetógrafo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

19 Forma de onda da variação da pressão do ar capturada pelo microfone: (a)

captura do sinal de fundo; (b) captura do sinal de um bebê em treinamento . . . . .

67

20 Esquema do olho humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

21 Quatro visões parciais: o triângulo de Kanizsa, o símbolo da Coca-Cola, um vaso

sanitário e uma cadeira; objetos facilmente reconhecíveis, embora mostrados

apenas parcialmente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

69

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁF. DESCRIÇÃO PÁG.

1 Percentagem de acertos por grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

2 Percentagem de acertos pelos grupos monolíngues x bilíngues . . . . . . . . . . . . 74

3 Percentagem de acertos por idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4 Percentagem de acerto – não-palavras monolíngues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

5 Percentagem de acerto – não-palavras bilíngues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

6 Percentagem de acerto – palavras monolíngues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

7 Percentagem de acerto – palavras bilíngues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

8 Histograma das sacadas – Português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

9 Histograma das sacadas – Inglês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

10 Histograma das sacadas – Tcheco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

11 Padrão de sucção dos 10 dias de exposição aos estímulos de um bebê

eliminado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

79

12 Padrão de sucção dos 10 dias de exposição aos estímulos de um bebê

mantido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

80

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LISTA DE TABELAS

TAB. DESCRIÇÃO PÁG.

1 Distribuição dos voluntários por sexo e por faixa etária . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

2 Distribuição dos estímulos palavras (P) e não-palavras (NP) por dia e por

posição sintática – GRUPOS 1 e 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

59

3 Grupos de bebês segundo a língua a que foram expostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

4 Distribuição dos estímulos palavras (P) e não-palavras (NP) por dia e por

posição sintática – GRUPOS 3 e 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

61

5 Previsão de impacto das variáveis intervenientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2 O DESENVOLVIMENTO CEREBRAL DO BEBÊ E A TEORIA DE

PRINCÍPIOS E PARÂMETROS DA GRAMÁTICA GERATIVA . . . . . . . . . . .

25

3 A PERCEPÇÃO DE LINGUAGEM NO PERÍODO PRÉ-FALA . . . . . . . . . . . . 42

4 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

4.1 VOLUNTÁRIOS, RECRUTAMENTO, CLASSIFICAÇÃO E CUIDADOS ÉTICOS . . . . . . . . . . . . . . 52

4.2 ESTÍMULOS E PROTOCOLO DE ESTIMULAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.3 MONITORAÇÃO DAS FASES DE EXPOSIÇÃO E DE TESTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

5 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

APÊNDICES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

A CARTA AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

C LISTA COMPLETA DOS ESTÍMULOS POR GRUPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

D FRASES EM PORTUGUÊS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

E FRASES EM INGLÊS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103

F LISTA DE VERBOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104

G DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E ESQUERDA DO

ANTEPARO – GRUPO 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

105

H DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E ESQUERDA DO

ANTEPARO – GRUPO 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

106

I DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E ESQUERDA DO

ANTEPARO – GRUPO 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

107

J DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E ESQUERDA DO

ANTEPARO – GRUPO 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

108

K PALAVRAS EM TCHECO UTILIZADAS NO TESTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

L TABELA EM EXCEL PARA REALIZAR A REGRA DE TRÊS E AUXILIAR NA ANÁLISE DOS

RESULTADOS DE CADA VOLUNTÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

110

M PADRÃO DE SUCÇÃO DOS 10 DIAS DE EXPOSIÇÃO DE CADA VOLUNTÁRIO AOS

ESTÍMULOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

111

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1 INTRODUÇÃO

“O cérebro do bebê é desenhado perfeitamente para o

que ele precisa fazer, ou seja, aprender sobre o mundo.”

(GOPNIK, 2009, p. 53)

Esta dissertação aborda a percepção de bebês em relação a consoantes, ainda durante

o período pré-fala. Inclui informações sobre outra cognição que se estabelece no bebê ainda

mais precocemente do que a percepção de consoantes: a percepção de vogais. Esta, já

amplamente estudada, marcaria o que se passa a chamar aqui de Estágio Um no

desenvolvimento linguístico pré-fala (MEHLER et al., 1988; 2006; MEHLER; DUPOUX,

1994; BONATTI et al., 2006; 2007). A percepção de consoantes e suas consequências

computacionais, foco deste trabalho, corresponderiam, então, ao Estágio Dois.

A hipótese principal que este estudo se propõe testar é a de que, bem antes do início

da fonação, talvez já a partir do terceiro mês de vida, os bebês já comecem a fazer o

pareamento entre representação fonológica e sentido: é a arbitrariedade saussureana. Se esta

hipótese for comprovada, poderemos prever que já nesse período pré-fala haverá

reconhecimento de objetos por parte de bebês ainda muito pequenos. Este trabalho objetiva

exatamente verificar a ocorrência desse reconhecimento através de uma tarefa semelhante à

nomeação, mas adaptada ao momento pré-fala, identificada na preferência do olhar do bebê

para o objeto correspondente à palavra que ele ouve.

Como segunda hipótese, este estudo aposta que os pareamentos de arbitrariedade

saussureana por bebês a partir de três meses podem ocorrer em até mais de uma língua, no

caso de o bebê ser exposto a Dados Linguísticos Primários (Primary Linguistic Data – PLD)

nessas línguas, independentemente de essa exposição ser segregada (uma sessão de exposição

a estímulos de uma língua e, a seguir, nova sessão de exposição a estímulos de outra língua)

ou misturada (estímulos das duas línguas misturados aleatoriamente em uma mesma sessão de

exposição). Ou seja, esta hipótese implica que o bebê se utilize de pistas acústicas para

separar uma língua da outra, como explicitado em Ramus, Nespor e Melher (1999), e que este

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procedimento lhe possibilite parear representações de forma e significado (arbitrariedade

saussureana) em duas línguas.

Este trabalho também pretende reportar sobre outra cognição essencial para o

processo de aquisição de linguagem pré-fala. Trata-se da cognição de quebra do fluxo

contínuo da fala em unidades discretas, as quais, de modo bastante simplificado, podemos

chamar de palavras. Essa cognição especial soluciona para o bebê o conhecido Problema da

Segmentação, o qual requer que se recrutem computações dos Estágios Um e Dois em prol de

sua solução, além de outros ingredientes relacionados ao ritmo da língua, a serem abordados

com maior profundidade no Capítulo 3.

Neste ponto, pode-se apenas situar o problema da segmentação ou discretização da

fala como um campo de estudos muito relevante, pois a fala na conversa não contém pausas

nem marcadores acústicos claros que sinalizem as fronteiras entre as palavras, o que torna um

mistério para os estudiosos a tarefa de discretização. Então, muitos autores vêm trabalhando

sobre o inventário de parâmetros que poderiam guiar os bebês nessa tarefa difícil. Alguns

parâmetros comumente elencados são: (i) o processamento de fronteiras que trazem

marcadores acústicos e fonológicos sutis; (ii) a interpretação de traços prosódicos tais como

pausas, aumento ou encurtamento de tempos e contornos entoacionais; (iii) o processamento

da frequência de sequências de fonemas, vis-à-vis os padrões fonotáticos da língua; e (iv) os

padrões de atribuição de acento tônico.

Bebês parecem ser sensíveis a pistas juncionais entre palavras, utilizando-se

de estatísticas aplicadas às frequências temporais e fonotáticas da língua a

que são expostos. Depois de estabelecerem a frequência para certo tipo de

fonotática silábica, os bebês podem inferir que uma dada sílaba que tem uma

fonotática estatisticamente infrequente não é na verdade uma sílaba, mas sim

uma junção entre duas palavras soando como uma sílaba de fonotática rara.

Por exemplo, como poderia um bebê que está exposto a dados primários do

Português resolver o Problema da Segmentação diante de um fragmento sem

pausas como comer pipoca: /komeXpipɔka/. De acordo com as contas de

frequência que o bebê vem efetuando, a sequência /Xp/ apresenta uma

frequência muito mais baixa do que as das outras sequências. Então, o bebê

pode inferir que ali há uma fronteira. Com esta técnica, os bebês vão enfim

montando os limites das palavras [...] (GOMES, 2009, p. 14).

Mesmo com as computações dos estágios Um e Dois a serviço do problema de

segmentação, a solução não surge de forma categórica e suscita erros esporádicos, como

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podemos observar no diálogo abaixo, travado entre a autora e Sophia, uma menina de três

anos e quatro meses:

Eloisa: Daí ela disse para a Princesa: „Sou fada madrinha e vim aqui para te

salvar‟.

Sophia: Tia, mas a madrinha veio salvar ela de sofá?

Eloisa: O quê, Sophia??

Sophia: Você falou que o sofá da madrinha veio voando pra salvar a

princesa?

Eloisa: Não, você não me entendeu, Sophia. Eu não disse „sofá da

madrinha‟. Falei: „Eu sou fada madrinha e vim aqui para te salvar‟.

(LIMA, 2008 – anotações de campo)

O diálogo revela não só o problema da segmentação perdurando na criança já

fluente, como também o ímpeto natural pela análise de todos os estímulos. Seguindo a teoria

já bem fundamentada de que a faculdade da linguagem trabalha com análise por síntese

(HALLE; STEVENS, 1964; LINDBLOM; MADDIESON, 1988; PHILIPS, 2002;

CHOUDHURY et al., 2006), poder-se-ia dizer que o que se passa na percepção é semelhante

ao que se passa na produção: um caminho que sempre vai da parte para o todo – do fonema

para a sílaba, da sílaba para a palavra:

Perceptualmente organizamos a fala como sendo feita de sons discretos e

unidades de alto-nível. Mas o processo de falar frequentemente obscurece as

fronteiras entre as unidades. Produzir fala é semelhante a alinhar um fila de

ovos de diferentes tipos, quebrá-los de forma que a fronteira de um se

superponha com a do próximo; depois, uma mexida geral para que se

obtenha uma faixa contínua de ovos. Por fim, cozinha-se tudo. A

compreensão é análoga ao problema de se entender quantos ovos havia

originalmente, exatamente onde estariam localizados e que tipo de ovos

seriam eles (TOWNSEND; BEVER, 2001, p. 160)1.

Para haver sintaxe, combinação de unidades linguísticas na percepção, é essencial

que a fala seja quebrada em unidades e depois remontada seguindo computações de dada

língua. Olhando a análise por síntese sob a perspectiva de um bebê recém-nascido, deitado

em seu berço e ouvindo fala ao seu redor, o problema da segmentação pode parecer

1 We perceptually organize speech as made up of discrete sounds and higher order units. But the process of

talking obscures the boundaries between units. Producing speech like taking an ordered lineup of different

kinds of eggs, breaking them so each overlaps with its neighbors, then scrambling them a bit so there is a

continuous egg belt and then cooking them. Comprehension is analogous to the problem of figuring out how

many eggs there were originally, exactly where they were located and what kind it was.

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incontornável, especialmente se se põe em perspectiva a tarefa colossal que é separar as

palavras em uma língua estrangeira da qual se é aprendiz.

Se existem microcognições ou computações de linguagem que são formadoras da

linguagem no indivíduo e embasam a fala, para estudá-las é necessário abordar essa

percepção ainda no período pré-fala. Com efeito, este tema, aparentemente complexo demais

para ser abordado, já o é há muitas décadas. A literatura especializada encontra indícios de

que há discriminação do sinal acústico da fala desde os primeiros dias de vida (EIMAS,

1974A; 1974b; 1974c; HUTTENLOCHER; SMILEY, 1987; MEHLER; DUPOUX, 1994;

BONATTI et al., 2006; 2007). O presente trabalho se inscreve justamente nesse campo e

trabalha com o desenvolvimento de estratégias não-invasivas de observação das ações

cognitivas que perfazem a preparação para a fala.

Observando-se a complexidade computacional de cada cognição que se desenvolve

durante a infância, é fácil perceber que a cognição de linguagem é uma das mais instigantes e

difíceis de serem investigadas. É instigante porque qualquer pessoa que tenha acompanhado o

desenvolvimento de um bebê sabe que a linguagem aparece aos saltos. O bebê vai do balbucio

à fala fluente em pouco mais de 24 meses.

Os bebês geralmente falam suas primeiras palavras entre sete e nove meses

(NELSON, 1973), embora, como indica o próprio tema do presente estudo, já entendam

palavras antes disso (HUTTENLOCHER; SMILEY, 1987). Por volta de um ano, já podem

chegar a um vocabulário de até 30 palavras. Aos dois anos, esse número, em média,

quintuplica, mas algumas crianças podem chegar a obter no segundo ano de vida vocabulário

quinze vezes maior do que no primeiro. A partir dos três e até os seis anos, as crianças

chegam a um vocabulário de 14.000 palavras. A média de aquisição é de 10 palavras/dia. Um

adulto ativo mantém um vocabulário de cerca de 40.000 palavras e pode empregá-las na fala

na velocidade de 150 palavras por minuto (RADFORD et al., 1999).

As primeiras manifestações vocálicas do bebê durante seus primeiros três meses são

moldadas pela própria fisiologia do aparelho fonador. Limitam-se ao choro e à emissão de

sons que indicam conforto ou desconforto. Normalmente, esses ruídos, produzidos com

mobilização do palato mole, são facilitados pela posição de reclínio em que frequentemente o

bebê é posicionado (BLOOM, 1994). Porém, além de produzirem esses ruídos, no que tange à

percepção, os bebês, desde que nascem, são muito atentos aos sons da fala emitidos por

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pessoas que estão à sua volta. Olham os movimentos labiais, escutam atentamente, aparentam

ser sensíveis a entonações e a vozes diferentes e pronunciam sílabas articuladas sem

referência externa (babbling). Demonstram reconhecer as vozes daqueles com quem mais se

relacionam, especialmente a voz materna (BOYSSON-BARDIES, 1999).

Por volta de nove meses, o babbling evolui e o bebê pode começar a pronunciar

sílabas e pequenas palavras ou partes de palavras – e, de fato, as pronuncia uma a uma, já com

alguma referência semântica. No início, uma sílaba pode significar uma palavra, e pode se

referir a algo específico ou a qualquer um indivíduo que pertença a um grupo semântico por

ele elencado.

/ma/ „mãe‟

/pa/ „papai‟

/bƆ/ „bola‟

/aw:aw/ „cachorro, gato, passarinho‟ (informante de 9 meses, in TAPIA-

POYATO, 1999, p. 571)

Depois de poucos meses, começa o período holofrástico, em que uma palavra

assume valor de proposição:

/agum/ „Quero água.‟

/pi/ „Fiz pipi.‟ (informante de 10 meses, in TAPIA-POYATO, 1999, p.

571)

A seguir, o bebê entra na fase telegráfica, a mais estudada. Nessa fase, há indícios da

emergência da sintaxe, pois há combinação de duas palavras e algumas elipses de elementos

da classe formal:

“olha bola”

“aqui carro”

“mama livro”

“faz castelo” (informante de 18 meses, in LEBEAUX, 2000, p. 154)

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Mas a respeito de qual bebê estamos falando aqui? Na realidade, de qualquer um, de

todos os bebês da espécie humana que falam uma das 6.500 línguas naturais do mundo. E, não

importa o tipo de língua natural adotado na comunidade linguística em que o bebê está

entrando – ergativo, acusativo, tonal, de acento, com ou sem declinações, com caso

transparente, com flexão, aglutinadora ou isolante –, o tempo de desenvolvimento de

linguagem será sempre equivalente, havendo variações ligadas a diferenças individuais, não

relacionadas às diferenças entre as línguas.

Ambientes linguisticamente mais ricos e cognitivamente estimulantes podem fazer

grande diferença na conta de palavras de um indivíduo em qualquer momento de sua vida,

aumentando sensivelmente a média do vocabulário total de uma criança a partir de três anos

até a fase adulta (WERKER, 1995). Porém, os itens de vocabulário adquiridos por bebês

menores de três anos e a progressão das estruturas sintáticas empregadas para combinar esses

itens não tendem a sofrer variação interindividual significativa dentro e fora da mesma

comunidade linguística (FENSON et al., 1994; RADFORD et al., 1999).

É, portanto, instigante o desenvolvimento da linguagem, mesmo sob o ponto de vista

de um só indivíduo, como também sua invariabilidade e infalibilidade no que tange à biologia

de toda a espécie2, como fica claro pelas observações de filósofos e cientistas a respeito do

inatismo desde há pelo menos 25 séculos, a exemplo de Platão, Descartes e Chomsky:

Menôn: Podes dizer-me, Sócrates, a virtude é coisa que se ensina? Ou não é

coisa que se ensina, mas que se adquire pelo exercício? Ou nem coisa que se

adquire pelo exercício nem coisa que se aprende, mas algo que advém aos

homens por natureza? [...]

Sócrates: Menon, teremos que reconhecer que, mesmo que alguém tenha

ensinado [matemática] ao escravo, ninguém ensinou a Pitágoras. Ele trouxe

esta virtude por sua própria natureza (PLATÃO, 1992, p. 54)3.

2 A infalibilidade do desenvolvimento da linguagem é a regra na espécie humana, assim como o andar bípede e a

visão binocular. Só não há linguagem em indivíduos nos casos de doenças genéticas raríssimas e de crianças

selvagens (feral children ou idiot savant), cujo contato com a língua foi de alguma forma interrompido durante

os primeiros anos de vida. Há também a surdez, que bloqueia o contato das crianças com as informações

linguísticas de suas comunidades (Dados Primários), mas, mesmo assim, não impede que as crianças

desenvolvam linguagem através de sinais, em lugar da oralização. 3 Platão, grande filósofo grego, nasceu em 427 a.C. e deixou cerca de trinta textos seminais sob a forma de

diálogos que têm seu professor Sócrates como personagem principal. A frase citada aparece no fim de um

episódio de Platão denominado Meno. Nele, Platão escreve sobre uma tentativa de Sócrates de mostrar ao

Principe Meno que existe conhecimento no homem sem que para isto precise haver ensinamento. Sócrates

interroga um jovem escravo de Meno e leva-o a solucionar um problema matemático. Utiliza a personagem do

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É uma coisa impressionante que não haja homens, nem mesmo os mais

insanos, tão embotados e estúpidos que não possam colocar as palavras

juntas de forma a traduzirem seus pensamentos. Ao contrário, não há outro

animal, a despeito de sua perfeição e boa situação, que possa fazer feito

semelhante. E este impedimento não se relaciona com o fato de que lhes

faltam órgãos, pois vemos que os corvos e os papagaios podem pronunciar

palavras tão bem quanto nós e, não obstante, não podem falar como nós, isto

é, não mostram que pensam o que estão dizendo. Por outro lado, até mesmo

os surdos-mudos de nascença, aqueles que não possuem os órgãos dos quais

se fazem uso para falar, e são, pelo menos neste respeito, equiparados a

animais, sempre inventam sinais que os fazem ser entendidos. E isto prova

que não é que animais tenham mais racionalidade do que nós, mas sim que

eles não têm nenhuma racionalidade, pois vemos que se precisa de muito

pouco para falar (DESCARTES, [1637]1960, p. 42)4.

A linguagem da criança cresce na mente assim como o sistema visual

desenvolve a capacidade para a visão binocular, ou como uma criança chega

à puberdade em um certo estágio de maturação. A aquisição de linguagem é

alguma coisa que acontece com a criança situada em um certo meio

ambiente, não é alguma coisa que a criança faz (CHOMSKY, 1994, p. 29)5.

Além de instigante, é também muito difícil estudar as cognições linguísticas pré-fala,

por outro lado, porque a cognição de linguagem em seu início é quase impenetrável: os bebês

não são os melhores informantes a respeito de suas cognições.

Mas como saberemos se o bebê pode reconhecer linguagem, sem falar nas

consoantes e vogais específicas que formam a fala? Um recém-nascido não

fala, nem meneia a cabeça, então como saberemos se ele sabe alguma coisa?

(YANG, 2006, p. 33)6.

escravo para comprovar que não havia nenhum ensinamento prévio e que a cognição do homem seria como

recordação de uma vida anterior. Portanto, para Platão as cognições seriam inatas. 4 For it is a very remarkable thing that there are no men, not even the insane, so dull and stupid that they cannot

put words together in a manner to convey their thoughts. On the contrary, there is no other animal however

perfect and fortunately situated it may be, that can do the same. And this is not because they lack the organs,

for we see that magpies and parrots can pronounce words as well as we can, and nevertheless cannot speak as

we do, that is, in showing that they think what they are saying. On the other hand, even those men born deaf

and dumb, lacking the organs which others make use of in speaking, and at least as badly off as the animals in

this respect, usually invent for themselves some signs by which they make themselves understood. And this

proves not merely animals have less reason than men but that they have none at all, for we see that very little

is needed to talk. 5 The child's language „grows in the mind‟ as the visual system develops the capacity for binocular vision, or as

the child undergoes puberty at a certain stage of maturation. Language acquisition is something that happens

to a child placed in a certain environment, not something that the child does. 6 But how do we know if the baby can recognize language, not to mention the specific consonants and vowels

that make up the speech? A newborn infant doesn‟t talk or even nod, so how do we know if she knows

anything?

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Sempre garantindo a preservação de padrões éticos na pesquisa científica e de todos

os direitos humanos desses pequenos seres, são, portanto, necessários esquemas investigativos

e protocolos especiais de pesquisa que revelem pistas sobre o desenvolvimento da linguagem

no período pré-fala.

Este estudo-dissertação utilizou dois desses protocolos para investigar a percepção de

consoantes por bebês em um momento pré-fala: (i) a monitoração da atenção através de um

aparelho, o chupetógrafo, que registra a intensidade e a frequência das sucções não-

nutricionais, ou seja, das sucções em chupeta (MEHLER; DUPOUX, 1994); (ii) a

monitoração do padrão sacádico e do foco do olhar, adaptação da técnica conhecida como

Monitoração do Olhar Preferencial (FANTZ, 1958; POLKA; WERKER, 1994).

O primeiro protocolo, que se utilizou do chupetógrafo, baseia-se nos achados já

consagrados de que sucção não-nutritiva (SNN) é um fenômeno inato nos bebês, tornando-se

totalmente competente ainda dentro do útero, desde as 28 semanas de idade (DE CASPER et

al., 1991; 1994), e de que há um aumento no ritmo e na pressão de sucção proporcionalmente

à atenção dirigida a coisas novas. Este método foi aqui empregado durante a fase de

exposição dos bebês aos estímulos do experimento, conduzido durante os dez dias de sessões

diárias. Nessas curtas sessões, de menos de cinco minutos diários, certo número de palavras-

chave aparecia inserido em uma das três posições sintáticas de sujeito, objeto e adjunto.

Houve também controle dos traços fonológicos dos objetos escolhidos, bem como do número

e da estrutura silábica desses nomes.

As frases foram apresentadas auditivamente para os bebês enquanto eles observavam

um vídeo em que o objeto designado pela palavra-chave em questão era mostrado ao bebê

pela pesquisadora. Por exemplo, o bebê ouvia a frase Chuta a bola. Simultaneamente, podia

observar um vídeo com a pesquisadora mostrando em primeiro plano uma bola de tecido

felpudo. O bebê ouvia a frase e via o vídeo simultaneamente, embora quem mostrava o objeto

não estivesse pronunciando a frase-estímulo. Na sessão seguinte, a palavra-chave bola já

poderia aparecer na posição de objeto ou na posição de adjunto. Ou seja, os estímulos

envolviam o problema da segmentação, pois estavam inseridos em frases articuladas em

ritmo natural. Enquanto estava exposto ao som e ao vídeo, o bebê era monitorado pelo

chupetógrafo . A máquina monitorava o nível de atenção e o limiar de habituação dos bebês

em relação a estímulos novos ou reiterados, em uma língua ou em duas.

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Quanto ao segundo protocolo, a monitoração do padrão sacádico e do foco do olhar,

técnica conhecida como Monitoração do Olhar Preferencial, foi utilizado no dia do teste (dia

seguinte à última sessão de exposição) para verificação do percentual de pareamentos de

arbitrariedade saussureana efetuados pelos bebês nas idades de três a seis meses. Esses

percentuais foram reconhecidos por índices de direção e de tempo de permanência do olhar.

O primeiro objetivo deste trabalho é contribuir com o saber sobre a percepção de

consoantes durante a fase bem inicial da aquisição de linguagem, que corresponde ao período

pré-fala. Um segundo objetivo é descobrir quais fatores podem apresentar impacto para o

pareamento de arbitrariedade saussuriana nos bebês nessa fase.

Para discutir este tema de processamento de linguagem pré-fala e os procedimentos

experimentais adotados nesta dissertação, foram delimitados cinco capítulos.

O presente capítulo, a “Introdução”, tem o propósito de expor a motivação e o

problema estudado, nossos objetivos, hipóteses e predições.

O Capítulo 2, “O desenvolvimento cerebral do bebê e a Teoria de Princípios e

Parâmetros”, oferece o embasamento biolinguístico, interdisciplinar e crítico, que perpassa

todo o trabalho.

O Capítulo 3, intitulado “A percepção de linguagem no período pré-fala”, reflete

sobre conceitos básicos da linguagem no cérebro, especialmente sobre como o problema da

segmentação das palavras se relaciona com a aquisição de linguagem, a diferença cognitiva

entre vogais e consoantes nesse período inicial e em período subsequente e a significação

cognitiva da operação arbitrariedade saussureana.

O Capítulo 4, “Materiais e métodos”, reporta em detalhes os estímulos, voluntários e

métodos do experimento.

No Capítulo 5, apresentam-se os “Resultados” e seus gráficos e tabelas.

“Conclusão e perspectivas de pesquisa” é o título do Capítulo 6, no qual são

relacionados os achados deste trabalho em perspectiva com os achados da área.

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25

2 O DESENVOLVIMENTO CEREBRAL DO BEBÊ E A TEORIA DE PRINCÍPIOS E

PARÂMETROS DA GRAMÁTICA GERATIVA

Até a segunda metade do século XX, o desenvolvimento do cérebro infantil e de sua

contraparte sensorial era tema científico pouquíssimo abordado (SLATER; LEWIS, 2001;

ASTINGTON et al., 1988). Não só as cognições dos bebês eram desprezadas, mas também a

volição e as reações sensórias de bebês, e especialmente de recém-nascidos, guardam triste

história de negligência por parte dos cuidadores e dos médicos, que, por vezes, nem usavam

anestésicos nos bebês em cirurgias, por negligenciarem o nível de dor que os bebês sentiam

(MCGRATH; UNRUH, 1987; DERBYSHIRE, 1999; EMDE, 1993).

Porém, a partir da década de 50 do século passado, com a Revolução Cognitivista7, e

muito mais intensamente a partir do início deste século XXI, o cérebro do bebê toma posição

central nos estudos científicos e se torna até tema de prestígio e de disputas acirradas entre

profissionais. No cerne destas pesquisas está o tema nature X nurture, como se entende nas

indagações a seguir:

Ao me colocar a vasta questão: o que faz com que o homem seja homem?

Verifico que há a sua cultura, por um lado, e seu genoma, por outro. Mas

quais são os limites genéticos que se impõem à cultura? Qual é o

componente genético? (MONOD, Jacques apud GARDNER, 1980, p. 27)8.

Há quem considere o homem e suas cognições produto da biologia da espécie

humana, estabelecido exclusivamente, ou em grande parte, pela herança genética (nature).

Outros acreditam que o homem seja moldado por seu meio social, desenvolvendo no seu

cérebro redes neurais generalizantes que interconectam formas diferentes de input e

promovem aprendizado (nurture).

7Revolução Cognitivista é o nome dado ao movimento intelectual da segunda metade do século XX que

culminou com o grupo de disciplinas conhecidas como Ciências Cognitivas, que congregam a prática de

profissionais da Psicologia, Biologia, Antropologia e Linguística e também novos expoentes nos campos da

Inteligência Artificial, Ciência Computacional e Neurociência. Essa revolução, em última análise, se

configurou em um ataque conjunto, multidisciplinar, ao Behaviorismo, escola de pensamento da Psicologia

Experimental que predominava na época e que tinha como proponente principal o psicólogo americano

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Skinner foi frontalmente combatido por Noam Chomsky em um dos

artigos mais citados em Linguística: A Review of B. F. Skinner's Verbal Behavior, publicado pela revista

Language, em 1957. Este artigo marca para muitos o início da Revolução Cognitivista. 8 I am asking myself the vast question „What makes man man?‟ it is clear that it is partially his genome and

partially his culture. But what are the genetic limits of culture? What is its genetic component?

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Apostamos aqui na superação dos radicalismos do início dessa revolução em prol de

Ciências Cognitivas que consigam coadunar teoria, previsões e conhecimento biológico em

um só corpo de saber. Assim, o presente estudo pretende reportar alguns conhecimentos

básicos sobre a biologia do cérebro infantil com os quais se poderia chegar à cognição de

linguagem, tendo um respaldo biolinguístico para o arcabouço teórico aqui escolhido – a

Teoria de Princípios e Parâmetros da Gramática Gerativa – e que será apresentado em detalhe

neste capítulo. Isto quer dizer que a versão científica assumida pelo presente trabalho é

multidisciplinar e se pauta, em resumo, pela crença de que o homem é mais do que seu

patrimônio genético e do que as informações e aprendizados extraídos de seu meio. O homem

é, fundamentalmente, nature e nurture – a interação regrada dos dois, como acreditam os

grandes autores da Neurociência da atualidade, de forma geral, e também, marcadamente, os

da Neurociência da Linguagem e da Biolinguística (HORNSTEIN, 2002; HAUSER;

CHOMSKY; FITCH, 2002; SHONKOFF; PHILLIPS, 2000; MARANTZ, 2005; MARCUS,

2004; POEPPEL, 2005; POEPPEL; EMBICK, 2005; MEHLER et al., 2008a; 2008b; 2008c).

Por exemplo, Mehler e colegas mencionam:

Acreditamos que um progresso verdadeiro será alcançado tão logo a

contenda apontada acima [envolvendo o debate nature x nurture] no que

tange às estratégias de pesquisa seja ultrapassada. Perder de vista a

singularidade da sintaxe é perigoso, assim como é perigoso negligenciar a

forma como os sinais são processados e representados pelos bebês recém-

nascidos. [...] Felizmente, a polaridade descrita acima já está diminuindo

(MEHLER et al., 2008c, p. 208)9.

Para se adotar a perspectiva biolinguística, uma providência essencial consiste em

avaliar se os pressupostos linguísticos são biologicamente compatíveis com o que já se sabe

da neurofisiologia humana. Uma breve exposição delineará aqui a formação dos tecidos

cerebrais e o funcionamento do sistema nervoso central no que tange ao desenvolvimento

cognitivo. Será também discutida a existência de Período Crítico e a forma de identificá-lo.

A ideia não é entrar a fundo na Biologia, mas apenas estabelecer um balizamento dos achados

de referência para que se possa verificar a compatibilidade deles com os pressupostos da

Teoria de Princípios e Parâmetros, que serão abordados em seguida. Este procedimento, um

tanto incomum em trabalhos de Linguística, parece fazer mais sentido do que divorciar uma

9 We believe that true progress will be accomplished once the above divide of research strategies is overcome.

Losing sight of the uniqueness of syntax is dangerous and so is neglecting how signals are processed and

represented by the very young infant. […] Fortunately the polarity described above is already diminishing.

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teoria de cognição linguística da sua óbvia localização canônica, que é o cérebro humano.

Mais do que isso, trata-se de entender como o cérebro do bebê, que não nasce sabendo de qual

língua se tornará falante nativo em dois anos, consegue se desenvolver a ponto de se

especializar para as cognições humanas, entre elas a complexa cognição de linguagem.

Tudo começa ainda antes do nascimento, nos poucos milímetros de tecido

embrionário que nida no endométrio materno. O Sistema Nervoso é uma das primeiras

estruturas que se formam, e isso é compreensível, pois ele controla todas as funções do

organismo, incluindo as vitais. É através dele que o homem percebe as informações do meio,

se lembra dessas informações e responde de maneira específica, interagindo assim com o

meio de forma precisa e altamente elaborada. Esse sistema complexo se desenvolve a partir

do tecido embrionário chamado ectoderma, que mais tarde se transformará na epiderme que

recobrirá todo o embrião (Figura 1).

Figura 1: Processo de neurulação ou formação do tubo neural, a partir do folheto embrionário ectodérmico

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O primeiro evento muito importante no desenvolvimento do Sistema Nervoso do

embrião acontece exatamente no décimo sexto dia: a neurulação ou o desenvolvimento do

tubo neural (Figura 1). A camada ectodérmica se espessa em sua linha média, e a placa neural

se forma, limitada nos dois lados pelas bordas da placa neural. Na sequência, ela sofre uma

invaginação, formando o sulco neural, que se aprofunda e funde seus bordos, constituindo

finalmente o tubo neural, responsável pela formação do Sistema Nervoso Central. Com a

fusão das pregas neurais, estas perdem contato com o ectoderma adjacente, que se funde na

periferia do disco embrionário, enquanto o tubo neural afunda, localizando-se logo abaixo.

O fechamento do tubo neural ocorre bidirecionalmente, iniciando-se na futura região

occipto-cervical, que se enche de líquido céfalo-raquidiano (LCR). O canal neural assim

recém-formado comunica-se diretamente com a cavidade amniótica ems suas duas

extremidades através de duas aberturas denominadas neuroporos (cranial e caudal).

O neuroporo cranial normalmente se fecha no vigésimo quarto dia de desenvolvimento

embrionário humano; e o neuroporo caudal, dois dias depois.

Na medida em que o tubo neural é formado, ocorre a diferenciação de uma

população especial de células na fronteira entre a placa neural e o ectoderma. As células da

crista neural se delaminam e migram, dispersando-se pelo disco embrionário e originando

uma enorme variedade de estruturas e tipos celulares, tanto neuronais como não-neuronais.

O Sistema Nervoso Periférico se forma a partir da Crista Neural (O‟RAHILLY; MULLER, 2001).

O processo de neurulação terminado pode ser visto na ultrassonografia fetal de alta

densidade apresentada na Figura 2:

Figura 2: Ultrassonografia no estágio final da neurulação

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Após a formação do tubo, ele se dilata em sua região anterior (cranial), dando origem

ao encéfalo primitivo ou arquencéfalo. Na região posterior ou caudal, não há qualquer

dilatação significativa, e o tubo dá origem à medula no adulto, que corresponde à medula

primitiva do embrião. A Figura 3 mostra esta diferenciação depois que acontecem as flexuras,

ou seja, dobras sofridas pelo tubo neural. A flexura cefálica ocorre ventralmente no nível do

mesencéfalo; e a flexura cervical, ventralmente entre o rombencéfalo e a medula espinhal

(HEPPER, 2001).

Figura 3: Visão lateral do encéfalo de embrião humano de 6 mm, mostrando as flexuras

O sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal) é composto por dois tipos

básicos de células: (i) o neurônio (Figura 4), eletricamente excitável; e (ii) a glia (Figura 5),

que se acreditava ter função exclusivamente de suporte estrutural e fisiológico ao neurônio.

Figura 4: Neurônios e sinapses

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Tipo Aparência Características e função

CÉLULA

EPENDIMÁRIA

Pequena e ovóide: secreta o líquido

cefalorraquidiano (LCR)

ASTRÓCITO

Formato de estrela, simétrica: funções de nutrição e

sustentação

CÉLULA MICROGLIAL

Pequena, de origem mesodérmica: função de defesa

CÉLULA

OLIGODENDROGLIAL

Assimétrica: forma a mielina ao redor dos axônios

no cérebro e na medula espinhal

CÉLULA DE

SCHWANN

Assimétrica: envolve os menos periféricos para

formar a mielina

Figura 5: Tipos de glia

Mas, no fim do século XX, descobriu-se que as principais funções das células da glia

são cuidar da defesa contra microrganismos e lesões de várias estirpes, produzindo reações

inflamatórias, como faz o sistema imunitário no restante do organismo; regular o suprimento

sanguíneo dos locais com maior atividade funcional; atuar como células-tronco em locais

específicos; capturar os aminoácidos excitatórios em excesso, prevenindo a ocorrência de

toxicidade sobre os neurônios; ajudar a posicionar os neurônios durante o desenvolvimento e

a orientar as fibras nervosas a achar os alvos certos. Mas, uma das mais importantes funções

da glia é produzir moléculas que modificam o crescimento dos dendritos e axônios. Além

disso, descobertas recentes no hipocampo e no cerebelo mostram que as glias participam

ativamente das transmissões sinápticas, regulando a liberação de neurotransmissores (LENT,

2006).

O neurônio é composto de corpo celular, núcleo e dendritos, que são as estruturas

pelas quais entra a informação eletroquímica, além do axônio e de terminais de onde sai essa

informação. Quando excitado, o neurônio se despolariza, e essa despolarização, cada vez que

ocorre, faz com que o estímulo elétrico se propague ao longo do axônio da célula. Os

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impulsos nervosos seguem através dos neurônios em sentido anterógrado, isto é, no sentido

dendrito–axônio (Figura 6).

Figura 6: Direção do impulso nervoso

O axônio, por sua vez, leva esse impulso aos dendritos do neurônio subsequente ou a

uma célula muscular. O axônio está envolvido por uma bainha, composta de um tipo de

gordura e de uma proteína básica, a mielina. Essa bainha, denominada bainha de mielina, atua

como isolante térmico e facilita a transmissão do impulso nervoso que trafega pelo axônio. Na

verdade, o impulso elétrico, chamado potencial de ação, não passa onde há mielina. Mas há

pequenos espaços desmielinizados ao longo do axônio; são os nódulos de Ranvier,

interrupções na bainha de mielina que expõem a membrana do neurônio para que o impulso

elétrico possa saltar de um espaço axonal para outro e trafegar pelo corpo do axônio com

pouca evasão de corrente. No fim do percurso, o impulso elétrico é levado até o final dos

prolongamentos do axônio. Na extremidade do axônio existem numerosas ramificações

axonais, que podem variar de cem a milhares de centenas em um só axônio (O‟RAHILLY,

MULLER, 2001).

Entre o axônio de um neurônio e o dendrito do outro existe um espaço, o ponto de

união entre esses neurônios, que é denominado sinapse (Figura 7). As sinapses são estruturas

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altamente especializadas que estabelecem a ligação funcional entre dois neurônios, sendo

essenciais para a modulação dos impulsos que ali seguem.

Figura 7: Sinapse

Existem dois tipos de sinapses: as sinapses elétricas e as químicas, mais lentas, que

perfazem a grande maioria dos casos. Nas sinapses elétricas, as células estabelecem íntimo

contato através de junções abertas ou do tipo gap que permitem o livre trânsito de íons de uma

membrana a outra; dessa maneira, o potencial de ação passa de uma célula para outra muito

mais rapidamente que na sinapse química, não podendo ser bloqueado. Ocorrem em músculos

lisos e cardíacos, onde a contração se dá por um todo em todos os sentidos.

Nas sinapses químicas, a transmissão do impulso nervoso de um neurônio para outro

se dá à custa de substâncias chamadas neurotransmissores: a histamina, a acetilcolina, a

adrenalina, etc. Os neurotransmissores são sintetizados pelos próprios neurônios e

armazenados dentro de vesículas que se concentram no terminal do axônio, e quando os

impulsos nervosos elétricos chegam a esses terminais os neurotransmissores são liberados,

através das vesículas sinápticas. Da membrana pré-sináptica, os neurotransmissores caem na

fenda sináptica, lá se difundem, indo até a membrana pós-sináptica, e se ligam,

reversivelmente, aos neuro-receptores, que promovem eventos elétricos. Desta forma, até a

membrana pré-sináptica, a transmissão é elétrica. Entre a membrana pré-sináptica e a pós-

sináptica, a transmissão é química. Cabe ressaltar que a árvore dendrítica de um neurônio

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pode receber diversas conexões sinápticas enquanto o axônio transmite o impulso de maneira

centralizada (GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2002).

O cérebro em desenvolvimento cresce em velocidade inimaginável. Os neurônios

chegam a se formar, em alguns momentos, na taxa de 250.000 por minuto. Entre a décima

sexta e a vigésima quarta semanas de gestação, o cérebro já possui virtualmente todas as

células nervosas que utilizará nos primeiros anos: algumas centenas de bilhões delas. Essas

células migram para a sua localização correta no cérebro. Alguns neurônios migram até sua

posição definitiva, como se deslizassem sobre a glia radial que os conduz; outros são guiados

por sinais químicos emitidos por moléculas de adesão, localizadas na membrana de neurônios

ou de glias (PINKER, 2000).

O número de sinapses, assim como o peso e a densidade do córtex, continua a crescer

rapidamente durante os primeiros anos de vida. Principalmente as conexões de longa distância

e os circuitos neurais especiais começam a ser bem cobertos por uma bainha de mielina10

que

especializa a transmissão elétrica. Essa construção frenética de tecido nervoso, quando posta

em funcionamento na vida intra-uterina e também durante os primeiros anos da vida da

criança, corresponde a um período de enorme plasticidade cognitiva, durante o qual o contato

do indivíduo com o meio ambiente lhe confere estarrecedora capacidade de aprendizagem,

não igualada por nenhum sistema artificial já implementado pelo homem.

Estimulado pelo mundo externo, o sistema nervoso pós-natal responde mais

à experiência sensória natural. As janelas de tempo existem quando os

circuitos cerebrais que subservem dada função são particularmente

receptivos a adquirir certos tipos de informação, ou até mesmo necessitam

daquele sinal instrutivo para a continuação de seu desenvolvimento normal

(HENSCH, 2004, p. 549)11

.

Algumas cognições, para se estabelecerem, necessitam ser mediadas por fases de

desenvolvimento neuronal excepcional, conhecidas como Período Crítico. O Período Crítico

10

No sistema nervoso há dois grandes tipos de células: o neurônio e a glia. A mielina é um revestimento de

origem glial que se forma no entorno dos axônios dos neurônios com função de acelerar a velocidade da

condução do impulso nervoso. A mielina funciona como verdadeira membrana condutora, pois contém uma

substância lipídica denominada esfingomielina que é excelente isolante, capaz de diminuir o fluxo iônico

através da membrana por cerca de 5.000 vezes, ao mesmo tempo que reduz a capacitância da membrana em

cerca de 50 vezes. As bainhas de mielina säo feitas e mantidas por um tipo de célula glial denominada

oligodendrócito. 11

Stimulated by the external world, the postnatal nervous system responds further to natural sensory experience.

Time windows exist when brain circuits that subserve a given function are particularly receptive to acquiring

certain kinds of information or even need that instructive signal for their continued normal development.

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de uma cognição, primeiramente observado por Konrad Lorenz (1958), é, portanto, uma

janela temporal fortemente delimitada pela genética do indivíduo, durante a qual a experiência

fornece as informações essenciais, conhecidas tecnicamente como Dados Primários. Os

Dados Primários guiam a especialização da circuitaria de forma que o sistema nervoso possa

estabelecer seu curso normal de desenvolvimento, definindo um nível ótimo de desempenho

com pequeno dispêndio de energia e tempo, e virtualmente sem erosão depois que essa janela

de oportunidades é fechada.

Primeiramente há a competição funcional entre inputs. A especificação

genética determina admiravelmente muito da estrutura básica e função do

sistema nervoso. Mas o meio ambiente e as características físicas do

indivíduo, cujo cérebro está nascendo, não podem ser codificados no

genoma. Para o funcionamento correto do sistema é necessário um processo

pelo qual os neurônios selecionem (ou mapeiem) o repertório de inputs de

um leque maior de possibilidades. Com efeito, a customização de circuitos

neuronais adequados a cada indivíduo é o propósito principal dos Períodos

Críticos (HENSCH, 2004, p. 550)12

.

Sistemas cognitivos como o da visão, o da audição e o da linguagem são entendidos

hoje como dependentes de Período Crítico, ou seja, desse grande crescimento neuronal em

dado momento do desenvolvimento precoce ao contato com o meio externo. O primeiro

estudo que balizou a área foi o de Hubel e Wiesel (1962; 1968), que testaram a visão de gatos

filhotes privados seletivamente da visão de um dos olhos, ou que só eram expostos a

determinada inclinação de linha nos dois primeiros meses de nascidos. Eles atestaram que

esses animais nunca mais conseguiam ver através do olho de cujo funcionamento eles haviam

sido privados, nem interpretar linhas com outro ângulo de inclinação. Essa e outras pesquisas

desses cientistas na área do Período Crítico lhes proporcionaram o Prêmio Nobel de Medicina

em 1981.

Mas qual seria a diferença entre habilidades como andar de bicicleta ou jogar video

game, que se podem aprender a qualquer momento da vida, e falar uma língua enquanto

língua nativa? Ou seja, em que aprendizado se poderia ter certeza de que o Período Crítico

está acontecendo? A resposta não é tão clara assim, pois andar de bicicleta e jogar video game

12

First is there is the functional competition between inputs. Genetic specification admirably determines much

of the basic structure and function of the nervous system. But, the environment and physical characteristics of

the individual into which the brain is born cannot be encoded in the genome. A process by which neurons

select their permanent repertoire of inputs (or maps) from a wider array of possibilities is required for proper

brain function. Indeed, the tailoring of neuronal circuits custom fitted to each individual is the main purpose

of critical periods.

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são habilidades cognitivo-motoras, que dependem de enorme gama de computações que

talvez tenham sido adquiridas através do sistema de Período Crítico. Além disso, ainda não se

testou, por exemplo, se jovens que não tenham sido expostos a video games na infância

jogariam tão bem quanto outros que tenham sido expostos; então, não se sabe se haveria uma

versão do tipo língua nativa para jogadores de video game. Sabe-se, porém, que o contato

precoce com um tipo específico de input determina o empenho neuronal de um ou mais

circuitos em dada computação13

. A magnitude e a permanência das mudanças anatômicas

modeladas por este input – desde a maior ou menor mobilidade das espinhas dendríticas até o

número de conexões estabelecidas entre neurônios – podem determinar a distinção entre a

verdadeira plasticidade neuronal, que acontece durante o Período Crítico, e os processos

gerais que levam à aprendizagem no adulto, ou seja, entre agir como nativo como ou não-

nativo para dada cognição (HENSCH, 2004).

Desta forma, também como acontece em relação às outras cognições da linguagem,

se os Dados Primários não se apresentarem ao indivíduo durante o Período Crítico, a

linguagem desse indivíduo pode nunca vir a se estabelecer em nível compatível com o dos

outros indivíduos, expostos normalmente à fala de uma comunidade. Os muitos estudos

atestando deficiências profundas de linguagem reforçam essa tese, em se considerando os

casos de falta de exposição à fala por crianças com surdez congênita, comparadas às que

adquiriram surdez depois do Período Crítico (SINGLETON; NEWPORT, 1994) ou por

crianças selvagens (CURTISS, 1977).

O caso relatado em Curtiss (1977; 1981) ficou célebre na literatura: o caso Genie.

Trata-se de uma menina achada aos 13 anos pelas autoridades americanas, após ter sido

totalmente privada de contato humano e de qualquer input linguístico até aquela data. Quando

Genie foi reconduzida a um meio social comum, dois fatos ressaltaram: (i) Genie tinha a

capacidade de aprender muitos itens lexicais, mostrando até sutilezas nocionais; apesar disso,

(ii) ela nunca conseguiu proficiência linguística para concatenar esses itens sintaticamente e

13

O cérebro humano utiliza os circuitos neuronais para computar ou processar informações (input) e para gerar

outras (output). Apesar da inevitável analogia com os computadores, é essencial ressalvar que o processo é

radicalmente diferente especialmente em dois itens cruciais: (i) o processamento cerebral consome

pouquíssima energia, e é muito mais poderoso do que o do computador. Por exemplo, a retina humana é capaz

de precessar dez imagens de um milhaps de pontos por segundo. Estandendo-se esse processamento da retina

para o volume do cérebro, que é 100.000 vezes maior do que a retina, pode-se estimar que um cérebro médio

tem a capacidade de processar 100 milhoes de MIPS (Million Instructions Per Second). Este poder de

processamento seria equivalente a 20.000 processadores de um computador core dois duo de 3 GHz; (ii) o

computador é bom em achar sequências de símbolos como palavras, contar itens selecionados, mas é

drasticamente pior do que o cérebro humano para falar, fazer reconhecimento visual, controlar acuidade

motora etc.

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para desenvolver fala além do nível telegráfico. Sua capacidade de expressão por meio da fala

era muito limitada (CURTISS, 1977; 1981).

No caso de Genie, assim como em crianças com surdez congênita, a linguagem não

se desenvolveu porque a criança não teve contato com os Dados Primários da língua materna

durante o período em que ela poderia ter desenvolvido linguagem e se tornado uma falante

nativa de Inglês. Por outro lado, Genie demonstrou ter desenvolvimento cognitivo normal.

Após curta exposição ao meio, ela conseguiu atingir o nível de se fazer entender

adequadamente sobre os fatos do presente, passado e futuro, sobre o mundo animado,

inanimado, físico e condicional. Entendia os objetos ao seu redor e sabia manipulá-los com

propriedade social. Além disso, seu resultado no teste de Q.I. foi normal.

Para algumas cognições, o Período Crítico começa durante a vida intra-uterina e se

estende até algum momento após o nascimento; para outras, esse período se inicia após o

nascimento. Com relação à cognição de linguagem, Lenneberg (1967) foi um dos teóricos

mais importantes; ele afirmou que a linguagem era parte biológica constitutiva dos seres

humanos como os sentidos da audição e da visão e, como tal, passava por período crítico que

moldava geneticamente seu desenvolvimento. Lenneberg identificava três momentos básicos

desse desenvolvimento:

O momento inicial: ocorre até os 2 ou 3 anos de idade. É o período considerado

ótimo para a aquisição da linguagem. Se houver qualquer lesão neurológica da Faculdade da

Linguagem em um indivíduo nessa faixa etária, as probabilidades de se reparar

completamente o que foi afetado são bastante altas.

O segundo momento apontado por Lenneberg se estende dos 3 anos até a puberdade.

Nesse período a Faculdade da Linguagem se mantém mais ou menos estável, podendo ainda

ser modificada e restaurada até o começo da puberdade. As probabilidades de uma aquisição

primária da linguagem à semelhança do período ótimo ainda são boas, mas a estratégia

adotada para a aquisição pode ser menos eficiente do que a empregada durante o período

inicial.

O terceiro momento se dá depois da puberdade. A aquisição linguística realizada

durante esse período não se dá como a de língua nativa; a estratégia de aquisição adotada será,

provavelmente, menos eficiente e mais limitada do que a ideal. As habilidades linguísticas

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básicas que não forem adquiridas até o começo da puberdade (com exceção da habilidade

articulatória) permaneceriam deficientes por toda a vida (LENNEBERG, 1967, p. 142).

Lenneberg demarcou que o fim do Período Crítico é coincidente com o segundo

momento; ou seja, após a adolescência, a aquisição de língua se torna bem mais difícil e,

reconhecidamente, nunca atinge o nível de língua nativa.

A razão para essa dificuldade já é conhecida. Durante os dois primeiros anos de vida

do bebê, o número de sinapses, e, portanto de conexões entre neurônios, cresce

vertiginosamente, a ponto de existirem 50% mais sinapses aos dois anos de idade do que

durante a vida adulta (GLEASON, 1993). Nesse momento prolífico, são então moldadas as

estruturas que subservem às computações especializadas para dado tipo de estímulos – por

exemplo, os fonemas e alofones do Inglês, e não os do Português.

A partir dos dois anos, começa um grande declínio no número de neurônios e

sinapses, conhecido como poda neuronal, que chega até os sete anos de vida da criança, em se

considerando certas regiões corticais. Também nessa fase de declínio, a taxa metabólica do

cérebro cai a níveis de cérebro adulto. Por essas razões, na Academia, e também no senso

comum, faz-se distinção entre o status de falante nativo e o de qualquer outro falante que

tenha adquirido a língua como língua estrangeira, conforme se comenta, por exemplo, em

Pinker:

Pode-se conjecturar que todas estas mudanças são responsáveis por um

declínio na habilidade de aprender uma língua durante a vida. A circuitaria

cerebral para aprender línguas é mais plástica na infância; as crianças

conseguem aprender ou relembrar línguas quando o hemisfério esquerdo está

danificado ou até mesmo quando ele é removido cirurgicamente (embora

neste caso não chegue a atingir a normalidade). Mas se um prejuízo

semelhante afetar um adulto, ele virá a ser acometido por afasia permanente

(Curtiss, 1989; Lenneberg, 1967). A maioria dos adultos nunca chega a falar

uma língua estrangeira fluentemente, especialmente em relação à fonologia.

Isto acaba resultando no sotaque de estrangeiro. O desenvolvimento dos

adultos frequentemente se fossiliza em padrões de erros que não podem ser

desfeitos por nenhum tipo de ensinamento (PINKER, 1995a, p. 140)14

.

14

One can conjecture that these changes are responsible for the decline in the ability to learn a language over

the lifespan. The language learning circuitry of the brain is more plastic in childhood; children learn or

recover language when the left hemisphere of the brain is damaged or even surgically removed (though not

quite at normal levels), but comparable damage in an adult usually leads to permanent aphasia (Curtiss,

1989; Lenneberg, 1967). Most adults never master a foreign language, especially the phonology, giving rise to

what we call a "foreign accent." Their development often fossilizes into permanent error patterns that no

teaching or correction can undo.

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38

A Linguística tem em suas mãos um objeto de estudo primoroso para entrar nessa

discussão. As línguas são muito iguais e muito diferentes ao mesmo tempo, e, desvendando os

algoritmos linguísticos, pode-se saber exatamente o que é igual e o que é diferente. Porém,

evidentemente, a Linguística seguiu padrões éticos, e, antes da década de 90 do século

passado, quando ainda não havia exames não-invasivos, não era permitido o aprofundamento

no córtex humano sadio. Mas isso não constituiu impedimento para pesquisas introspectivas,

que deram origem a muitas metáforas sobre a biologia da cognição de linguagem. A mais

importante delas é a metáfora da caixa de interruptores, que surgiu com a Teoria de

Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1981), a ser examinada e adotada como arcabouço no

presente estudo:

Podemos pensar no estado inicial da faculdade de linguagem como a fiação

fixa conectada a uma caixa de interruptores; a fiação são os princípios da

linguagem, e os interruptores são as opções a serem determinadas pela

experiência. Quando os interruptores estão posicionados de um modo, temos

o bantu; quando estão posicionados de outro modo, temos o japonês. Cada

uma das línguas humanas possíveis é identificada como uma colocação

particular das tomadas – uma fixação de parâmetros em terminologia

técnica. Se esta abordagem de pesquisa der certo, deveríamos poder

literalmente deduzir o bantu de uma escolha dos posicionamentos, o japonês

de outra e assim por diante por todas as línguas que seres humanos podem

adquirir. As condições empíricas em que se dá a aquisição de uma língua

requerem que os interruptores sejam posicionados com base na informação

muito limitada que está disponível para criança. Notem que pequenas

mudanças em posicionamento de interruptores podem conduzir a uma

grande variedade aparente em termos de output, pela proliferação dos efeitos

pelo sistema. Estas são as propriedades gerais da linguagem que qualquer

teoria genuína precisa captar de algum modo (CHOMSKY, 1998, p. 23)15

.

Diante dessa descrição metafórica, as perguntas são as mais diversas. Por exemplo, a

comparação com a caixa de interruptores é própria? Lendo a citação acima e comparando-a

com as descrições de Período Crítico feitas neste capítulo, facilmente se percebe que há

15

“We can think of the initial state of the faculty of language as a fixed network connected to a switch box; the

network is constituted of the principles of language, while the switches are the options to be determined by

experience. When the switches are set one way, we have Bantu; when they are set another way, we have

Japanese. Each possible human language is identified as a particular setting of the switches – a setting of

parameters, in technical terminology. If the research program succeeds, we should be able literally to deduce

Bantu from one choice of settings, Japanese from another, and so on through the languages that humans can

acquire. The empirical conditions of language acquisition require that the switches can be set on the basis of

the very limited information that is available to the child. Notice that small changes in switch settings can lead

to great apparent variety in output, as the effects proliferate through the system. These are the general

properties of language that any genuine theory must capture somehow.”

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diferença na precisão dos conceitos, favorecendo amplamente as descrições biológicas. Essa

diferença foi muito bem identificada recentemente como o problema do desencontro de

granularidade – The Granularity Mismatch Problem (POEPPEL; EMBICK, 2005). Um

objetivo da Linguística deve ser suplantar o problema do desencontro de granularidade em

prol de uma biolinguística de integração com as neurociências:

É flagrante a motivação para se investigar a fisiologia da linguagem instada

pela própria Teoria Gerativa, especialmente nas versões Minimalistas: a

clara explicitação das fronteiras do componente micromodular onde se dá a

computação de linguagem propriamente dita (narrow syntax, Chomsky,

2001) posiciona além do perímetro central de visibilidade um conjunto

variado de mecanismos de interface entre a computação gramatical

e sistemas de desempenho externos a ela, como memória, decodificação e

codificação da fonética e instruções motoras ao aparelho fonador. Já que se

assume que cada módulo linguístico, com seus traços mínimos primitivos,

interaja, de forma específica, com módulos externos à linguagem, com os

quais faz interface, o licenciamento destes traços, veículos da intensa

comunicação intermodular, passa a ser um campo de estudo imprescindível

para as ciências cognitivas, entre elas a própria linguística. Por isto, é

desejável conhecer os traços primitivos e entender como o cérebro os

computa de forma a gerar produtos legítimos nas interfaces. Existe, portanto,

um espaço legítimo para investigações linguísticas junto à neurociência, que,

usando a teoria linguística como guia, pode atingir níveis mais internos e

fisiológicos da cognição não diretamente transparentes na expressão do

desempenho. (FRANÇA, 2007, p. 152)

Ao se adotar aqui a Teoria de Princípios e Parâmetros, não se quer adotar sua

imprecisão, mas tão-somente apontar que, através desse poderoso arcabouço de estudo, que já

descreveu e explicou fenômenos linguísticos em centenas de línguas, se pode começar a

implementar a integração da Linguística com as Ciências Cognitivas atuais. Mas se afirmará

que, para que essa implementação possa realmente acontecer, a pergunta na qual se deve

focalizar é: Qual aspecto do input molda qual parte da circuitaria do bebê? Para isso, estudar

o desenvolvimento pré-fala parece ser essencial, especialmente se o protocolo de pesquisa

impõe controle do input, como é o caso do presente estudo.

De fato, em termos gerais, a Teoria de Princípios e Parâmetros da Gramática

Gerativa é compatível com as descrições da Biologia sobre o desenvolvimento do cérebro.

Essa teoria atesta que todo ser humano inevitavelmente falará, e que é parte de sua condição

biológica adquirir linguagem. Ela aposta que as crianças possuem, ao nascer, um mecanismo

biológico inato (Language Acquision Device – LAD) que as guia na compreensão e no

desenvolvimento neural dos princípios comuns a todas as línguas humanas. Esses princípios

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40

formam, portanto, um construto teórico muito importante para as Teorias Inatistas de

Desenvolvimento de Linguagem. No cérebro, haveria um módulo constituído de uma

variedade de submódulos, especificamente voltados para o desenvolvimento de linguagem.

Esses módulos juntos corresponderiam à Gramática Universal (GU), própria da espécie

humana. Os submódulos expressariam em princípios a carga genética da espécie para todas as

computações da faculdade da linguagem:

A GU consiste de um sistema de princípios altamente estruturado e restritivo

com certos parâmetros abertos a serem fixados através da experiência. À

medida que esses parâmetros são fixados, uma gramática é estabelecida, o

que podemos chamar de gramática nuclear (“core grammar”) (CHOMSKY,

1980, p. 38)16

.

Porém, há enorme diversidade linguística que não se pode explicar somente por

princípios geneticamente determinados. Este é o ponto em que a Teoria da Gramática

Universal se entrelaça à Teoria dos Princípios e Parâmetros (CHOMSKY, 1981; CHOMSKY;

LASNIK, 1993). De acordo com essa última teoria, a grande diversidade linguística existente

no mundo pode ser explicada por haver, além dos princípios comuns a todas as línguas, partes

do sistema que trazem opções limitadas para o desenvolvimento de circuitos neuronais que

interagem com informações provenientes dos Dados Linguísticos Primários17

.

Em resumo, a linguagem humana é moldada especificamente através de dois

mecanismos formais: (i) uma parte fixa, que é um conjunto finito de princípios estabelecidos

geneticamente e comuns a todas as línguas; e (ii) uma parte variável, ou seja, um conjunto

finito de parâmetros, com variação binária, que, ao ser fixado, determinará características

linguísticas que resultam na diversidade sintática entre línguas. A partir disso, quando um

falante fixa um valor paramétrico distinto do de outro falante, sua gramática exibirá uma

diferença correspondente. O estado linguístico final da fixação de parâmetros corresponde à

proficiência nativa de um falante em relação a dada língua natural.

16

“UG consists of a highly structured and restrictive system of principles with certain open parameters, to be

fixed by experience. As these parameters are fixed, a grammar is determined, what we may call a „core

grammar.” 17

Dados Linguísticos Primários (DLP) ou Primary Linguistic Data (PLD) são informações linguísticas bastante

assistemáticas a que o bebê é exposto de forma natural. Eles perfazem tudo que é dito ao redor da criança,

diretamente para ela e entre pessoas conversando ao lado dela. Toda essa informação linguística é

tecnicamente classificada como DLP, pois carrega as informações linguísticas primordiais de uma língua,

embora também corresponda, muitas vezes, a uma fonte de informações bastante confusas: pedaços de fala

truncada, hesitações e reformulações. Com os DLP, as crianças conseguem meios de construir a gramática de

sua língua alvo. Os DLP a que somos expostos são finitos, e mesmo assim conseguimos compreender e emitir

um número potencialmente infinito de sentenças.

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De acordo com Chomsky, uma criança nasce sabendo do que é feita a

linguagem e como ela é montada; ela está bem preparada para a tarefa de

aprender sua língua e sabe exatamente onde procurar pela evidência

relevante e, antes que você se dê conta, ela começa a formar sentenças e

histórias sofisticadas. Uma Gramática Universal inata não é mais novidade.

Não mais em nossos dias (YANG, 2006, p. 16)18

.

Desta forma, todas as línguas têm a mesma estrutura fundamental. Embora os bebês

não estejam preparados ao nascimento para falarem especificamente Ibibio, Inglês ou

Português, a GU possibilita que eles tirem das sentenças e palavras utilizadas em seu

ambiente linguístico informações não explicitamente ensinadas a eles e que fazem com que

produzam linguagem com padrões cada vez mais parecidos com os adotados pelos falantes da

comunidade linguística em que se inserem. A GU e sua interação com outras partes do

cérebro, mediante os Dados Linguísticos Primários, tornam as crianças falantes

irrepreensíveis de dada comunidade linguística ao final dos primeiros três anos de vida.

Em uma tentativa de contribuir para a reconfiguração do âmbito de pesquisas em

Princípios e Parâmetros, o próximo capítulo enfocará a delimitação de quais aspectos do input

podem estar ligados à operação linguística mais básica: a arbitrariedade saussureana do

signo.

18

“According to Chomsky, the child is born knowing what language is made of and how it is put together; she is

well prepared for the task of language learning and knows exactly where to look for the relevant evidence, and

before you know it, she starts making up complex sentences and fancy stories. An innate Universal Grammar

is not news. Not these days.” (YANG, 2006, p. 16)

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42

3 A PERCEPÇÃO DE LINGUAGEM NO PERÍODO PRÉ-FALA

O interesse pelo tema desta dissertação – a percepção de linguagem em um momento

pré-fala – surgiu a partir de leituras das pesquisas do cientista Jacques Mehler. Nascido em

1936 na Espanha e criado na Argentina, químico de formação básica e com PhD em

Psicologia, Mehler fez sua carreira à frente dos laboratórios de fala infantil mais relevantes da

França e dos Estados Unidos, sendo atualmente Professor da Scuola Internazionale Superiore

di Studi Avanzati (SISSA), em Trieste, na Itália. Ele é um dos muitos autores não-linguistas,

aliás, oriundo de tradição piagetiana, que se deixou envolver pela Revolução Cognitivista,

encabeçada por Noam Chomsky e outros autores da Gramática Gerativa.

Em What infants know, seu livro seminal, escrito em parceria com Dupoux, Mehler

(1994) coloca como objetivo entender quais aspectos das cognições humanas são inatos e

quais são aprendidos. O grande tema nature X nurture é assim explorado através do relato de

uma série de experimentos do autor e de outros cientistas sobre o comportamento de bebês

recém-nascidos. Através da metáfora do homunculus, uma espécie de robô que estaria contido

no homem, mas independente dele, tomando decisões e atuando sobre seu comportamento,

Mehler mostra, com humor, a necessidade de se procurar as causas reais do comportamento

inteligente no cérebro humano, já moldado para desenvolver as cognições humanas, dentre as

quais a da linguagem. Mehler compartilha das ideias inatistas de Chomsky:

Qualquer que seja a evidência que tenhamos, ela me parece sustentar a visão

de que a habilidade de adquirir e usar a linguagem é uma capacidade

específica da espécie humana, que há princípios muito profundos e restritos

que determinam a natureza da linguagem humana e estão enraizados no

caráter específico da mente humana (CHOMSKY, 1972, p. 102)19

.

Ora, se o senso comum julgar a capacidade intelectual da humanidade pelo foco

comportamentalista – ou seja, se o homem, ao ser estimulado, responde ao meio com o

produto de suas aprendizagens –, como não se questionar sobre cognições altamente

sofisticadas como a linguagem e como a habilidade de antecipar situações e adaptar-se a elas,

que se desenvolvem tão precocemente?

19

Whatever evidence we do have seems to me to support the view that the ability to acquire and use language is

a species-specific human capacity, that there are very deep and restrictive principles that determine the nature

of human language and are rooted in the specific character of the human mind.

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Apesar das críticas que faz ao baixo nível de detalhamento biológico dos princípios e

à não-especificação clara dos parâmetros – com as quais concorda a autora deste estudo –,

Mehler encontra no Inatismo defendido pela Gramática Gerativa (CHOMSKY, 1957; 1961) a

melhor argumentação para os fenômenos que ele observa há décadas em suas pesquisas.

Não há dúvida, para Mehler, de que, assim como a visão e a audição, que se

desenvolvem naturalmente nos bebês em fases específicas e identificáveis, a linguagem se

desenvolve muito rapidamente nos primeiros 30 meses de vida e assume as mesmas fases em

todos os bebês do mundo. Esta é a ideia inatista da Gramática Gerativa de que a linguagem,

assim como a visão e a audição, é uma cognição oriunda da especialização do cérebro

humano, que abriga ao nascimento – e, portanto, de forma inata – mecanismos específicos

para seu desenvolvimento. Os bebês nascem como ouvintes universais, ou seja, com a

capacidade de distinguir contrastes sonoros relevantes para quaisquer das possíveis línguas

naturais. Por outro lado, da parte dos estímulos, a construção coletiva das línguas naturais

colabora por incorporar princípios característicos que são únicos e refletem a própria natureza

do cérebro humano (WERKER; TEES, 1984; JUSCZYK, 1997a; 1997b).

Desta forma, sob a hipótese de que um bebê não vem ao mundo com o cérebro vazio,

como preconizava o Behaviorismo de Skinner (1957), tal qual uma tabula rasa à qual o

ambiente se encarregaria de impor as cognições e saberes, Mehler começa a desenvolver

estudos com recém-nascidos e bebês pequenos, ainda no período pré-fala, para buscar flagrar

suas cognições inatas.

Dentre outros aspectos do desenvolvimento cognitivo, Mehler estudou a percepção

das cores nos recém-nascidos, apresentando evidências de que, já no nascimento, os bebês

não somente detêm categorias de orientação perceptual, mas algumas destas têm status

privilegiado. Por exemplo, os recém-nascidos conseguem destacar figura de fundo e também

distinguem formas simétricas das assimétricas; isto é, o equipamento perceptual dos seres

humanos, espontaneamente, procura perceber e construir formas que possam ser processadas

(MEHLER; DUPOUX, 1994).

Segundo Mehler, essas tendências inatas estão nos recém-nascidos e só podem ser

detectadas por pesquisa especializada:

Experimentos conduzidos com recém-nascidos demandam grande sutileza.

Não é suficiente apenas olhar para os bebês e colocar a língua para fora para

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saber se eles são capazes de imitar expressões (MEHLER; DUPOUX, 1994,

p. 101)20

.

No âmbito das investigações de linguagem, seguindo o espírito da Teoria de

Princípios e Parâmetros, apresentada no Capítulo 2, que parece ser uma opção razoável diante

de sua compatibilidade com o substrato biológico já descrito, tem-se ainda que assumir a sua

implementação natural, pautada pela versão atual da Gramática Gerativa: o Minimalismo.

De acordo com o Minimalismo, os princípios figuram em um componente separado

das opções paramétricas. Os princípios seriam o mecanismo de aquisição de ordem genética,

e as opções paramétricas estariam dentro dos itens lexicais estocados momentaneamente na

numeração, que é uma espécie de área de trabalho onde os itens lexicais, com seus traços

formais, semânticos e fonológicos ficam estocados até o momento de entrarem na computação

de sintaxe.

Uma das inovações principais do Minimalismo é que os parâmetros, que determinam

a diversidade linguística e estão inclusos também nos itens lexicais, se relacionam a três

possibilidades de variação: (i) rol de categorias funcionais em cada língua; (ii) traços de cada

morfema funcional em cada língua; e (iii) força desses traços em cada língua. Podem-se citar,

como exemplos destes parâmetros, respectivamente, os seguintes fatos: em Japonês não há a

categoria funcional D, em Português há; em Karajá existe o traço [+ dual], mas em Português

não; em Chinês o sintagma QU- tem traço fraco determinando que a palavra QU- permaneça

in situ, ao lado do verbo que a selecionou, enquanto em Português o QU- é forte,

possibilitando movimento do sintagma para a posição Spec de CP, na periferia esquerda da

sentença.

Sendo na numeração as possibilidades de variação internas à palavra, a expectativa

para o desenvolvimento de linguagem é a de que a exposição aos Dados Primários

desencadeie o desenvolvimento de propriedades morfofonológicas das categorias funcionais

inseridas nas palavras e, ao mesmo tempo, essa exposição detone a fixação dos valores

paramétricos codificados nos verbetes das categorias funcionais C, Agr e D (WHITE, 2003).

20

Experiments on newborns require extreme finesse. It is not enough just to look at them and stick our tongues

out to know if they are able to imitate various expressions.

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45

Aceitar a Teoria de Princípios e Parâmetros como ela é, isto é, ligando o

desenvolvimento de linguagem à representação das categorias funcionais, significa indicar

como e em que momento os bebês dão conta e fazem sentido dessas categorias funcionais que

guiam o desenvolvimento de linguagem. Mas é inegociável o fato de que, primeiramente, os

bebês têm que se ocupar em superar o impasse do Problema de Segmentação, comumente

ligado a uma solução conhecida como phonological bootstrapping (MORGAN; DEMUTH,

1996a; 1996b).

A hipótese é a de que os bebês dão o pontapé inicial na aquisição lexical

através de uma análise puramente fonológica do input da fala, que lhes

permitiria descobrir as formas de palavras em uma língua (ou pelo menos

um número significante delas). Eles aprenderiam a mapear entre forma e

conceito em um segundo passo. De que pode consistir esta análise

puramente fonológica? Quatro fontes de informação foram identificadas

como passíveis de serem usadas pelos recém-nascidos ao tentar encontrar

palavras no fluxo contínuo da fala: regularidade distribucional, fonotática,

forma típica da palavra e pistas prosódicas (CHRISTOPHE, 1997, p. 588)21

.

Portanto, é marcada aqui a necessidade de reconfiguração de alguns conceitos

internos a essa teoria no que tange ao desenvolvimento de linguagem. Espera-se que este

trabalho possa dar um pequeno passo neste sentido, elencando ao final o que importou para os

bebês na operação de arbitrariedade saussureana em uma e em duas línguas – se é que eles

realmente conseguirão efetuar esta operação.

É necessário incluir uma breve fase durante o período pré-fala em que os bebês têm

de empreender ações semelhantes aos cachorros e gatos, aprendendo algumas palavras a partir

de sua forma fonológica e computando a seguir um pareamento dessas formas com seus

significados.

Depois de demarcar estes percalços teóricos a serem resolvidos, nota-se que os

maiores avanços que realmente subserviram ao conhecimento sobre como os bebês

reconhecem as fronteiras das palavras ocorreram quando se conseguiu superar a clássica

dicotomia tipológica entre línguas de ritmo silábico e línguas de ritmo acentual. Nesta

21

The hypothesis is, therefore, that babies may bootstrap lexical acquisition through a purely phonological

analysis of the speech input, that would allow them to discover the word forms of their language (or at least a

significant number of them). They would learn about the mapping between word forms and their meanings in a

second step. What may this purely phonological analysis consist of? Four sources of information have been

identified that could be used by infants when trying to find word forms in the continuous speech stream:

distributional regularity, phonotactics, typical word shape and prosodic boundary cues.

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dicotomia, o ritmo está vinculado a uma ideia temporal: em uma língua cujo ritmo é silábico,

o intervalo entre as sílabas tende a apresentar duração rigorosamente igual. Em línguas de

ritmo acentual, o acento é que é o elemento recorrente, que, neste caso, tende a aparecer em

intervalos de tempo com durações aproximadamente iguais:

[Nas unidades de ritmo acentual] uma única unidade rítmica de uma

sequência de unidades pode ser considerada o tipo regular ou normal. Já que

a sua duração é muito dependente da presença de um acento forte, mais do

que do número específico de suas sílabas, ela pode ser convenientemente

rotulada como unidade de RITMO ACENTUAL [...]

[Nas unidades de ritmo silábico] cada sílaba não acentuada tende a ser

drasticamente cortada, com um acento marcado em cada uma dessas sílabas;

esta proeminência recorrente de uma sílaba, embora as sílabas acentuadas

possam ser bem longas e fortes, gera um efeito „padronizado‟. Neste caso,

são as sílabas, em vez dos acentos, que tendem a vir em intervalos mais ou

menos recorrentes. Elas podem ser chamadas de unidade de RITMO

SILÁBICO (em contraste fonêmico com a unidade de ritmo acentual) (PIKE,

1945, p. 35)22

.

Duas décadas adiante, Abercrombie introduz a noção de isocronia, que traz maior

exatidão para a tipologia de Pike:

[Em línguas de ritmo silábico] a reocorrência periódica de movimento é

suprida por um processo de produção silábica: o peito pulsa, e assim as

sílabas reocorrem em intervalos de tempo iguais – são isócronas; em línguas

de ritmo acentual, a reocorrência periódica de movimento é suprida pelo

processo de produção de acento: o acento pulsa, e assim as sílabas

acentuadas são isócronas (ABERCROMBIE, 1967, p. 97)23

.

Como exemplo desta tipologia, tem-se que algumas línguas de ritmo acentual são

Inglês, Árabe e Russo, enquanto as de ritmo silábico são Espanhol, Italiano e Francês.

22

“[In stress-timed rhythm units] a single rhythm unit from such a sequence of units may be considered the

regular or normal type. Because its length is largely dependent upon the presence of one strong stress, rather

than upon the specific number of its syllables, it may be conveniently be labeled a STRESS-TIMED rhythm

unit (…)

[In syllable-timed rhythm units] each unstressed syllable is likely to be sharp cut, with a measured beat on

each one; this recurrent syllable prominence, even though the stressed syllables may be extra strong and extra

long, gives a „pattering‟ effect. In this case, it is the syllables, instead of the stresses, which tend to come at

more-or-less evenly recurrent intervals. The may be called SYLLABLE-TIMED rhythm unit (in phonemic

contrast to the stress-timed type).” (PIKE, 1945, p. 35) 23

In syllable-timed languages] the periodic recurrence of movement is supplied by syllable-producing process:

the chest pulses, and hence the syllables, recur at equal intervals of time – they are isochronous; and in stress-

timed languages, the periodic recurrence of movement is supplied by the stress-producing process: the stress

pulses, and hence, the stressed syllables are isochronous.” (ABERCROMBIE, 1967, p. 97)

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Quanto à percepção de ritmo nas línguas tonais, a solução mais completa aparece em

Chang (1992), que incrementa os modelos de tom desenvolvidos por Yip (1980; 1989) e

Duanmu (1990; 1994). Na classificação de Chang, a distinção entre sílaba e mora24

é o foco

principal. Ele apresenta um modelo em duas camadas (tiers) que seriam relevantes para a

percepção de tom: registro tonal e altura (pitch) tonal. O registro tonal, ligado à sílaba, é

especificado pelas cordas vocais esticadas. Já a altura tonal, ligada à mora, se relaciona com o

traço laringeal glote estendida. Essas duas camadas são independentes, mas se relacionam

entre si dentro da estrutura prosódica da palavra. Esses traços definem dois registros e duas

alturas, perfazendo quatro tipos de tons. Inserindo esta classificação na tipologia de ritmos,

passa-se a ter, além de línguas de ritmo acentual e línguas de ritmo silábico, as línguas de

ritmo moraico – dentre elas, Ticuna (Brasil), Mandarin (China), Tailandês (Tailândia), Yala

(Nigéria) e muitas outras.

Mas mesmo esta nova tipologia não é capaz de dar conta da diversidade das línguas

naturais. Para não irmos muito longe, em relação ao próprio Português do Brasil, há pouco

consenso quanto à tipologia de classificação rítmica. Nenhum trabalho apresentou evidências

acústicas de que haja intervalos isócronos a ponto de se poder classificar o Português como

língua de ritmo silábico ou de ritmo acentual.

Baseado na noção de isocronia, Cagliari (1981) primeiramente classifica o Português

do Brasil como língua de ritmo acentual. Porém, revê sua posição em Cagliari e Abaurre

(1986), observando idiossincrasias relativas a esta classificação. Nesse trabalho, os autores

verificaram que alguns falantes assumiam ritmo acentual em suas falas, enquanto outros

adotavam ritmo silábico ou, pelo menos, apresentavam flutuações rítmicas.

Um passo nesta classificação foi dado com Moraes e Leite (1989), utilizando como

corpus alguns enunciados do projeto Gramática do Português Falado. Partindo da hipótese

24

A mora (do Latim significando demora) é uma unidade de som que determina o peso da sílaba, que por sua vez

determina a acentuação ou duração em algumas línguas. A definição clássica veio de McCawley (1968): “A

mora é algo que na sílaba longa consiste de dois e na sílaba curta de um”. Uma sílaba contendo uma mora é

monomoraica (sílaba leve); duas, bimoraica (sílaba pesada); três moras, trimoraica (sílaba muito pesada). De

forma prática, o onset da sílaba, constituído de uma ou mais consoantes, não tem mora. O núcleo silábico

apresenta uma mora no caso de uma vogal curta; duas moras, no caso de uma vogal longa, de duas vogais

curtas ou de um ditongo; e três moras, no caso de ditongo alongado.

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48

de que o Português do Brasil seria uma língua de ritmo acentual, como queria Cagliari (1981),

a primeira etapa do trabalho foi a demarcação dos pés25

dos enunciados estudados:

Se o ritmo [do Português do Brasil] fosse puramente acentual, a duração

dos pés – curtos, médios ou longos – seria a mesma e, consequentemente, a

duração silábica maior nos curtos, neutra nos médios e menor nos longos. Se

o ritmo fosse puramente silábico, a duração silábica seria sempre a mesma, e

os pés curtos teriam a metade da duração dos médios, que, por sua vez,

teriam a metade dos longos. A duração dos pés seria proporcional ao seu

número de sílabas (MORAES; LEITE, 1989, p. 8-9).

Segundo os autores, para pesquisar mais profundamente seria preciso dividir os

enunciados em pés curtos (1 e 2 sílabas), pés médios (4 sílabas) e pés longos (8 e 10 sílabas).

Quando fizeram isso, verificaram que os pés curtos e alguns dos pés médios possuíam ritmo

acentual e os pés longos e alguns pés médios possuíam ritmo silábico, ou seja, para os autores,

o Português do Brasil seria mesmo uma língua de ritmo misto.

Posição semelhante é mais recentemente defendida em Tenani (2006). A autora

analisa uma gravação da leitura de enunciados e tem como hipótese a de que a queda da

primeira sílaba (haplologia) favoreceria o ritmo silábico, enquanto a queda somente da

primeira vogal (elisão) favoreceria o ritmo acentual. Apesar de os resultados de sua análise

indicarem que a haplologia predomina sobre a elisão, há ocorrência de ambas.

Com efeito, Dauer (1987) já previa a possibilidade de haver línguas de ritmo misto,

sugerindo que as diferenças rítmicas entre as línguas naturais estariam relacionadas a outros

fatores, como a estrutura silábica, a redução vocálica e a realização fonética do acento.

Mais recentemente, no fim da década de 90, Mehler começou a explorar as teorias

tipológicas de percepção, investigando o impacto delas em recém-nascidos, que atuariam

então como um filtro fundamental (MEHLER; DUPOUX, 1994). Qualquer que fosse a

distinção proposta como funcionalmente orgânica para falantes nativos, se se conseguisse

descrever esta distinção de forma correta, ela necessariamente também teria que ser a

25

O pé é uma unidade prosódica. Segundo a Fonologia Métrica, o acento é uma propriedade e tem caráter

relacional – não é um traço, mas uma proeminência que nasce da relação entre os elementos prosódicos. Este

nível prosódico teria suas unidades: primeiramente a sílaba, cujo pico é uma vogal; por sua vez, as sílabas

estão agrupadas em pés, e, finalmente, os pés se agrupam em palavras prosódicas. (Cf. NESPOR; VOGEL,

1986, para uma revisão ampla do assunto)

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descrição adequada para o método usado pelos recém-nascidos para enfrentar o

complicadíssimo Problema da Segmentação.

O pano de fundo instigante para aquele estudo era o de que, apesar da óbvia

existência de diferença prosódica entre línguas como Português, Italiano e Espanhol, por um

lado, e Inglês, Japonês e Alemão, por outro, várias décadas de estudos, desde 1940,

fracassaram em identificar com clareza as propriedades acústicas caracterizadoras dos

diferentes tipos rítmicos.

Ramus, Nespor e Mehler (1999) observam oito línguas tradicionalmente

consideradas como pertencentes aos três tipos rítmicos clássicos (acentual, silábico e moraico)

e concluem que os bebês aos dois meses são realmente capazes de perceber quando um

falante troca a língua em que estava falando. A propriedade que serve de guia para os bebês é

o ritmo, definido como a proporção em que a fala é ocupada por vogais. Ou seja, os bebês se

guiam pelo intervalo vocálico, grafado convencionalmente pelo símbolo %V, em contraste

com o intervalo consonantal, grafado ΔC. Se duas línguas têm ritmos perceptualmente

diferentes para os bebês, é porque o %V é grande. Se o bebê não detecta a mudança é porque

o %V é pequeno – como, por exemplo, entre Inglês e Holandês ou entre Espanhol e Italiano

(RAMUS; NESPOR; MEHLER, 1999; NAZZI; BERTONCINI; MEHLER, 1988).

Estes achados foram compatíveis com os três tipos clássicos de ritmo (acento, sílaba

e mora). Mas os autores consideram que oito línguas ainda não são suficientes para uma

generalização a favor dessa caracterização clássica dos tipos de ritmo. Eles acreditam que

outras línguas teriam que ser testadas antes de se acatar esta tipologia clássica como sendo

também perceptualmente coerente. Desta forma, a importância de Ramus, Nespor e Mehler

(1999) se fez sentir muito fortemente no sentido de lançar a hipótese de que há traços

vocálicos utilizados por bebês para discriminar grupos de línguas e que ainda não foram

propriamente identificados. Portanto, esses traços iriam além daqueles já descritos.

Além disso, a contribuição desses autores se fez também no sentido de verificar

experimentalmente que os agrupamentos feitos pelas crianças de línguas iguais e diferentes

não correspondem aos agrupamentos esperados e consistentes com a genealogia dessas

línguas. As aproximações que os bebês fazem seguem outros parâmetros. Em 2001, em

palestra oferecida à rede educacional Diffusion du Savoir de l'École Normale Supérieure,

Mehler cita o exemplo do Português do Brasil X Português europeu. Segundo o autor, bebês

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recém-nascidos percebem o Português do Brasil e o Português europeu como pertencentes a

grupos linguísticos diferentes. Nessa mesma palestra, Mehler explica ainda que nos recém-

nascidos só há percepção para a modulação de vogais. Nesta Dissertação de Mestrado, está se

identificando esse momento como Estágio Um pré-fala.

De fato, Levelt e van de Vijver (1998), estudando um grupo de 20 línguas,

encontram cinco grupos perceptualmente diferentes para os recém-nascidos e identificam

esses grupos com o grau crescente de complexidade silábica: três grupos são equivalentes aos

três tipos clássicos de ritmo; um quarto grupo, equivalente a um tipo entre o silábico e o

moraico; e um grupo caracterizado por seu tipo não marcado situado além da fronteira do tipo

moraico.

Além dos muitos estudos sobre a aquisição de bebês no período pré-fala, há muito

poucos estudos sobre a aquisição de consoantes nesse mesmo período, o que parece aumentar

a relevância do presente estudo. As consoantes são tipicamente estudadas no período de fala.

Note-se que, em termos de processamento de língua materna já adquirida, consoantes

e vogais têm papeis diferenciados. Enquanto as vogais tendem a trazer traços formais da

palavra, através tanto de traços segmentais como de traços suprassegmentais, os traços

segmentais das consoantes estão ligados, via de regra, ao processamento lexical.

É praticamente universal que as línguas têm mais consoantes do que vogais.

Consequentemente, as consoantes permitem maior diversidade e podem

codificar mais informações. Portanto elas são mais adequadas do que as

vogais para efetuar o armazenamento de um número maior de distinções

características do léxico (MEHLER et al., 2008c, p. 12)26

.

Toro, Shukla e Nespor (2008) mostram que, mesmo com as informações prosódicas

sutis vindas das vogais, o falante pode fazer generalizações importantes para a percepção bem

sucedida de sintaxe, enquanto que é possível, com as informações provindas das consoantes

fazer cálculos estatísticos de frequência e de probabilidade semântica para facilitar o processo

de acesso lexical que culmina com o efetivo pareamento entre som e semântica, que se dá a

partir da arbitrariedade saussureana do signo. Mas tudo isso funciona para casos de

26

Almost universally, languages have more consonants than vowels. Consequently consonants allow for more

greater diversity and can encode more information. Thus, they are more adequate than vowels to subserve the

storage of a large number of distinctions, characteristic of the lexicon.

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processamento de linguagem já adquirida, quando as informações contidas nas vogais são

reconhecidamente mais ligadas às categorias funcionais.

Em termos de aquisição de linguagem em bebês no período pré-fala, vogais e

consoantes têm outros atributos essenciais. A identidade das raízes depende em muito maior

grau das consoantes do que das vogais. A prova cabal disso está em todas as línguas

semíticas, em que as vogais não são grafadas e ainda assim é possível perceber as raízes.

Outras línguas, como Inglês, frequentemente fazem abreviações que eliminam as vogais dos

vocábulos: tkts, dpt, snz etc., respectivamente para ticket, department e sneeze. Portanto, o

componente semântico é em maior medida consonantal, e as consoantes são necessárias para

o bebê começar a representar no cérebro os objetos em seu entorno e assim entendê-los.

Nesta pesquisa, a previsão é a de que vogais e consoantes sirvam, em um primeiro

momento – aqui chamado de Estágio Um e Estágio Dois do período pré-fala –, para os

propósitos exclusivos de, respectivamente, localizar o tipo rítmico da língua e iniciar o

pareamento entre forma e conteúdo, que acontece segundo a arbitrariedade saussureana,

sendo as duas tarefas comprometidas com soluções para o problema da segmentação. Esses

dois estágios seriam logo ultrapassados quando pistas prosódicas são traduzidas em pistas

sintáticas. Os Estágios Um e Dois poderiam ter equivalência nas Fases da Fala que acontecem

alguns meses mais tarde: primeiramente o babbling e a Fase de Uma Palavra, e depois a Fase

Holofrástica e a Fase Telegráfica, com valor proposicional e estrutura sintática.

Os testes a serem apresentados a seguir, no Capítulo 4, põem à prova a percepção de

consoantes na difícil tarefa, quase impensável para recém-nascidos entre 3 e 6 meses, que é a

da computação da arbitrariedade saussureana do signo, ou seja, o pareamento primordial da

linguagem entre forma e significado.

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4 MATERIAIS E MÉTODOS

Serão aqui descritos dois testes comportamentais com bebês entre três e seis meses de

vida realizados em maio de 2009, nas dependências de um curso livre de Inglês para crianças,

o Dice English Course, localizado na cidade do Rio de Janeiro.

4.1 VOLUNTÁRIOS, RECRUTAMENTO, CLASSIFICAÇÃO E CUIDADOS ÉTICOS

Os voluntários recrutados para o experimento eram bebês com idades variando de

dois meses e vinte e três dias a seis meses e cinco dias de vida. Na condição de bebês, não

tinham voz própria, nem autonomia, não andavam e mal sustentavam erguidas as suas

cabecinhas. Não eram, por assim dizer, voluntários. Por isso, foi transferida à família a voz

para defendê-los em seus plenos direitos. À família foram prestadas irrestritas informações

sobre o teste e sobre a possibilidade que lhes era facultada de interrompê-lo a qualquer

momento, sem qualquer necessidade de prover explicações à pesquisadora. O detalhamento

sobre os procedimentos de adesão das famílias ao projeto é exposto nos Apêndices A e B,

sendo então possível avaliar o nível de dificuldade operacional do processo como um todo.

A localização e o recrutamento das famílias aconteceram através de intermediários

ligados a muitos bebês: dois pediatras e uma parteira cuidadora. Primeiramente, a orientadora

deste projeto, a Professora Aniela Improta França, providenciou uma carta (cf. Apêndice A) a

ser enviada aos referidos profissionais da área da Saúde explicando o projeto e pedindo sua

cooperação. Em seguida, os profissionais foram procurados pela pesquisadora para uma

conversa que aprofundou os esclarecimentos que se faziam necessários antes mesmo do

contato com eventuais famílias voluntárias. A idéia de estudar linguagem em um período pré-

fala poderia parecer, a princípio, estranha. Desta forma, nesse contato direto com os

profissionais intermediários, buscou-se que eles entendessem o projeto em seus detalhes e em

seus objetivos. Também se procurou esclarecer que este estudo não era do gênero aplicado, ou

seja, que ele se inscrevia como pesquisa básica. Ainda assim, eram comuns perguntas do tipo:

“Mas para que serve mesmo esta pesquisa?” A resposta oferecida era a de que não havia

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objetivo prático, já que a pesquisa básica procura o conhecimento pelo conhecimento. A não

ser que fossem posteriormente utilizados por alguém da área aplicada, os achados deste

estudo ficariam restritos à área básica.

Tendo recebido as explicações necessárias, a carta oficial da professora da UFRJ e

artigos científicos relacionados ao tema do desenvolvimento pré-fala, os citados três

profissionais, por fim, se comprometeram a ajudar no recrutamento dos bebês, após cerca de

três encontros com a pesquisadora.

De fato, esta estratégia de abordagem se provou eficiente, pois se obteve a adesão

voluntária de cerca de vinte famílias. O convite feito aos pais dos bebês por esses

intermediários, que são profissionais de sua confiança, rendeu credibilidade ao estudo.

Os intermediários então informaram à pesquisadora os números de telefones das famílias que

concordaram em conversar sobre a possibilidade de permitirem que seus bebês participassem

da pesquisa.

Tão logo o contato com as famílias era estabelecido, trabalhava-se no entendimento

perfeito do objetivo da pesquisa como condição básica para que um relacionamento se

iniciasse. Procurava-se, sobretudo, fazer com que os pais entendessem que o protocolo do

teste de forma alguma seria invasivo. Também se buscou conscientizar os responsáveis de que

o protocolo necessitaria de que os bebês fossem levados diariamente até o local do teste, por

onze dias, permanecendo lá de quinze a trinta minutos.

O experimento proporcionava flexibilidade de horário, segundo a possibilidade do

responsável. Mas, ainda assim, a etapa do contato inicial com o responsável foi bastante

demorada porque contava com uma decisão de adesão que deveria ser tomada em família.

Outro acerto nesse primeiro contato ocorreu em relação à organização da ida do

responsável até o local do teste. Algumas mães ainda não tinham recomeçado a dirigir depois

do parto, ou já tinham voltado a trabalhar e não podiam se comprometer a levar seus bebês em

dias consecutivos. Os problemas de transporte até o local do teste foram resolvidos um a um,

sendo sempre oferecida ao responsável a opção de transporte de ida e volta de táxi, por conta

da pesquisadora, ou ainda outros arranjos que fossem necessários para garantir que não

haveria interrupções no teste.

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Aos responsáveis que aceitavam que seus bebês participassem do teste era fornecido

o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (cf. Apêndice B), para que o analisassem com

calma e o trouxessem assinado, caso concordassem, antes do primeiro dia de experimento.

Os agendamentos para a ida diária ao local do teste eram feitos de véspera, conforme

a conveniência da família e a rotina do bebê. Poucas famílias podiam cumprir o que

combinavam em relação à agenda, mas se conseguiu, flexibilizando-se o horário, alta

assiduidade diária. Poucos bebês tiveram que ser desligados por irregularidades de

assiduidade, ou por terem adoecido ao longo do período de teste.

Foram aproveitados dezesseis voluntários, oito meninos e oito meninas, dentro da

faixa etária prevista para o experimento, organizados conforme a Tabela 1:

TABELA 1: DISTRIBUIÇÃO DOS VOLUNTÁRIOS POR SEXO E FAIXA ETÁRIA

FAIXA ETÁRIA 3 MESES 4 MESES 5 A 6 MESES

Número de meninos 3 3 2

Número de meninas 2 5 1

Todos os bebês participantes nasceram de gestação a termo – 36 semanas – e

deveriam aceitar sugar uma chupeta, tendo em vista que nesta primeira etapa do experimento,

a Fase de Exposição aos Estímulos, que durou dez dias, os bebês seriam monitorados pelo

chupetógrafo, instrumento de medida de interesse do bebê, desenvolvido para tal evento, (cf.

seção 4.3).

4.2 OS ESTÍMULOS E O PROTOCOLO DE ESTIMULAÇÃO

Durante os primeiros dez dias de experimento, Fase de Exposição aos Estímulos, os

bebês eram expostos auditivamente a sentenças simples (cf. Apêndices D e E) com, no

máximo, cinco palavras, entre as quais havia sempre uma palavra-chave em posição sintática

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de sujeito, de objeto ou de adjunto. Os verbos utilizados nos estímulos não foram repetidos, à

exceção do verbo ser.

Não havia realce prosódico para as palavras-chave na leitura das sentenças, as quais

eram pronunciadas com entonação bem viva e com andamento e articulação padrões.

Simultaneamente à estimulação auditiva, os bebês assistiam a um vídeo, em monitor de LCD

de 26 polegadas, posicionado a 30 cm do chão sobre uma mesa recoberta de tecido preto. O

bebê ficava sentado bem em frente ao monitor, como mostra a Figura 8.

Figura 8: Bebê sendo preparado para uma sessão de exposição aos estímulos do experimento

Um anteparo em madeira foi construído para delimitar o campo visual do bebê. As

medidas desse anteparo eram: 2,10 m de largura por 1,40 m de altura por 0,80 m de

profundidade. Esse limitador de espaço foi revestido também na cor preta para favorecer a

direção de foco à tarefa principal. A estrutura construída – fundo, teto e duas laterais –

possibilitou que houvesse espaços reservados atrás e aos lados do anteparo, fora da

visualização do bebê. Esse recurso foi empregado de forma que os auxiliares de pesquisa

pudessem controlar os aparelhos e eventos do experimento sem causar interferências visuais

eventuais e aleatórias na cena do experimento.

Foram utilizadas duas caixas acústicas para PC, posicionadas a cada lado da tela de

LCD e escondidas por baixo do tecido preto que recobria a mesa de sustentação do monitor,

para não serem vistas pelo bebê (Figura 8).

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O bebê, trazido à sala de experimento pelo responsável, era confortavelmente

acomodado em uma poltrona infantil. Trata-se de um produto especializado para a faixa etária

de dois a nove meses, feito de gel injetado, que envolve o bebê com sua estrutura anatômica,

oferecendo boa sustentação corporal e possibilitando fácil observação do vídeo. A luz do

ambiente era reduzida. O ambiente tinha temperatura condicionada e era silencioso.

Nesta primeira fase do experimento, uma câmera de vídeo filmava todo o teste.

Posicionada em um tripé ao lado da tela de LCD, a câmera era acionada assim que o bebê era

acomodado na cadeirinha, sendo mantida ligada durante toda a sessão de exposição do bebê

aos estímulos. Essa filmagem possibilitou controlar as eventualidades ocorridas com o bebê

antes, durante e logo após a apresentação dos estímulos.

Tão logo o bebê aceitasse a chupeta na boca, o aparelho de DVD era acionado por

controle remoto para reproduzir o filme que continha a estimulação linguística (Figura 9).

Simultaneamente, os controles de sucção produziam as informações a serem registradas,

como será abordado na seção 4.3.

Figura 9: Bebê com chupeta olhando o vídeo

No vídeo, com fundo igualmente preto, podia-se observar a pesquisadora em

segundo plano, mostrando, em primeiro plano, um objeto correspondente à palavra-chave da

frase-estímulo, como se pode observar na Figura 10. Simultaneamente, a frase-estímulo era

ouvida.

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Figura 10: Vídeo: bola – Áudio: A bola é bonita!

É importante ressaltar que, no vídeo, a pesquisadora não fazia movimentos labiais:

apenas mostrava os objetos. Portanto, os bebês tinham ainda diante de si a tarefa de

segmentação, conforme trata o Problema de Segmentação, com todas as dificuldades a ela

inerentes, e sem a ajuda dos movimentos labiais que poderiam oferecer informações

adicionais e amenizar a dificuldade da tarefa.

Foi utilizado igual número de palavras-chave do tipo palavra (P) e do tipo não-

palavra (NP). Estas últimas correspondiam a objetos inventados, especialmente construídos

para o experimento.

O emprego das não-palavras e dos respectivos objetos, especialmente construídos

para o experimento, visava garantir que, mesmo que os bebês fossem estimulados em casa,

também por palavras que eventualmente fossem iguais às do teste, haveria ainda não-palavras

que só seriam ouvidas e relacionadas aos objetos naquele ambiente do teste. Assim, as não-

palavras formaram o grupo-controle para o experimento.

Todos os objetos, os comercializados e os inventados, tinham tamanhos semelhantes

e eram feitos de plush – tecido leve, maleável e colorido. Na Figura 11, pode-se observar que

os objetos correspondentes às não-palavras (linha superior) foram confeccionados com

variação de cores, buscando um visual agradável e compatível com o de objetos infantis

consagrados (linha inferior), também empregados no experimento.

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Figura 11: Totalidade dos objetos correspondentes às não-palavras e às palavras do experimento

Abaixo encontram-se exemplos de duas cenas desses vídeos. A Figura 12 ilustra a

palavra-chave do tipo palavra (pato); a Figura 13, a palavra-chave do tipo não-palavra (tupa).

Figura 12: Vídeo em Português – palavra: pato Figura 13: Vídeo em Português – não-palavra: tupa

Áudio: “O cachorro mordeu o pato.” Áudio: “O papai viu a tupa.”

Obedeceu-se a um padrão de tamanho com o objetivo de obter proporcionalidade

entre todos os objetos que entraram em uso nas duas fases do experimento: durante o período

de estimulação linguística, através do vídeo, e ao vivo, no teste final.

O vídeo continha três repetições das frases em sequência. A cada dia da Fase de

Exposição aos Estímulos, nova palavra ou não-palavra era introduzida, até que no quinto dia

já se tinha um total das três palavras e três não-palavras com as quais se decidiu trabalhar. Do

sexto ao décimo dia não foram introduzidas novas palavras, apenas repetidas as que haviam

sido introduzidas nos dias anteriores. A cada dia dessa Fase, do primeiro ao quinto dia, as

palavras antigas já apresentadas eram reapresentadas, porém apareciam em contextos

sintáticos diferentes: ora sujeito, ora objeto, ora adjunto. Note-se também que os contextos

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sintáticos de apresentação de estímulos novos se restringiram a objeto e a sujeito. Não se

apresentou nenhuma palavra nova em posição de adjunto. A estrutura da exposição era

pseudo-aleatória (Tabela 2).

TABELA 2: DISTRIBUIÇÃO DOS ESTÍMULOS – GRUPOS 1 E 2

GRUPO 1

GRUPO 2 FASE DE EXPOSIÇÃO AOS ESTÍMULOS

FASE DE

TESTE

Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

SUJEITO NP1 NP2 P1

NP1

P2

NP2

NP3

P1

NP3

P2

NP1

P3

P2

P1

NP1

P1

P2

palavras soltas OBJETO NP2

NP1

P1

P2

NP2

NP3

NP1

NP2

P3

P3

NP1

NP2

NP3

NP3

NP2

P2

NP3

P1

NP1

ADJUNTO - -

NP1

NP2

P1 P2

NP2

P2

P3

P1

P1

NP1

NP2

P3

NP3

P3

Total de

estímulos 2 3 4 5 6 6 6 6 6 6 6

Distribuição dos estímulos palavras (P) e não-palavras (NP) por dia e por posição sintática. As palavras

sublinhadas correspondem às apresentações novas a cada dia.

Quanto aos detalhes do vídeo apresentado, organizados na linha do tempo na

Figura 14, o bebê ouvia primeiramente uma vinheta por 5.000 ms para chamar sua atenção

para a fonte dos estímulos. Essa vinheta era composta de um prefixo musical e da imagem de

um móbile ou de imagens caleidoscópicas, sempre com movimento, antecipando cada sessão

de exposição aos estímulos. Em seguida, cada frase era falada três vezes durante a

apresentação do vídeo. O tempo máximo de cada frase ser proferida era de 3.000 ms, e o

intervalo entre elas era sempre de 6.000 ms.

Figura 14: Sequência de eventos do vídeo no segundo dia

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Além da estratificação etária apresentada em 4.1 (Tabela 1), o teste apresentava outros

agrupamentos quanto à língua de estimulação, presentes em todas as faixas etárias, assim

como mostra a Tabela 3. A listagem completa de estímulos por grupo é apresentada no

Apêndice C.

TABELA 3: GRUPOS DE BEBÊS SEGUNDO A LÍNGUA A QUE FORAM EXPOSTOS

GRUPO 1 GRUPO 2 GRUPO 3 GRUPO 4

Estímulos em

Português Estímulos em Inglês

Estímulos em

Português e estímulos

em Inglês separados

Estímulos em

Português e estímulos

em Inglês misturados

Os estímulos dirigidos ao Grupo 1 – todas as frases em Português do Brasil

(Apêndice D) – já foram suficientemente detalhados até aqui. Abaixo, seguem especificações

dos estímulos dos outros grupos.

Os bebês do Grupo 2 foram estimulados com frases em Inglês americano (Apêndice

E). Esse grupo teve o mesmo número de estímulos do Grupo 1, construídos sob os mesmos

critérios sintáticos (Tabela 2).

O Grupo 3 de bebês foi estimulado pelo dobro das frases dos bebês dos Grupos 1 e 2,

já que para esse grupo havia estímulos em Inglês americano e em Português do Brasil,

apresentados separadamente: primeiramente sentenças em Português e depois em Inglês, ou

vice-versa, dependendo do dia. Para os bebês desse grupo, havia um curto intervalo entre as

exibições dos estímulos em uma e depois na outra língua. Não foram criadas frases inéditas

para os bebês do Grupo 3, tendo sido utilizadas as mesmas frases-estímulo construídas para os

grupos unilíngues.

O Grupo 4 contou com as mesmas frases do Grupo 3, no mesmo total de estímulos,

porém sem a separação por língua. Os bebês desse grupo escutavam os estímulos em ordem

pseudo-aleatória, sem intervalo – uma frase em Português e em seguida uma frase em Inglês.

Não foram criadas frases inéditas para os bebês do Grupo 4, tendo sido utilizadas as mesmas

frases elaboradas para os dois grupos unilíngues, conforme mostra a Tabela 4.

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TABELA 4: DISTRIBUIÇÃO DOS ESTÍMULOS – GRUPOS 3 E 4

GRUPO 3

GRUPO 4 FASE DE EXPOSIÇÃO AOS ESTÍMULOS

FASE DE

TESTE

Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

SUJEITO

(Português) NP1 NP2 P1

NP1

P2

NP2

NP3

P1

NP3

P2

NP1

P3

P2

NP1

P1

P2

NP2

palavras soltas

OBJETO

(Português)

NP2

NP1

P1

P2

NP2

NP3

NP1

P1

P3

P3

NP1

NP2

NP3

NP3

NP2

P2

NP3

P1

NP1

ADJUNTO

(Português)

- -

NP1

NP2

P1 P2

NP2

P2

P3

P1

P1

NP1

NP2

P3

NP3

P3

SUJEITO

(Inglês) NP1 NP2 P1

NP3

NP1

NP2

P1

NP3

P1

P3

P1

NP1

NP3

P2

NP2

P1

P3

OBJETO

(Inglês)

NP2 P1 NP3

NP2

P1

NP1

P2

P3

P2

NP2

NP3

NP2

P2

P3

NP1

P1

NP2

P2

NP3

ADJUNTO

(Inglês)

NP1

NP2

NP1

P2

NP3

P3

NP2

NP1

P2

P1

NP2

P3

NP3

NP1

Total de

estímulos 4 6 8 10 12 12 12 12 12 12 12

Distribuição dos estímulos palavras (P) e não-palavras (NP) por dia e por posição sintática. As palavras

sublinhadas correspondem às apresentações novas a cada dia.

Outro ponto muito importante a se relatar sobre a estimulação é o fato de os

estímulos terem sido controlados também quanto a aspectos fonotáticos e fonológicos. Tanto

as palavras quanto as não-palavras tinham o número máximo de duas sílabas CVCV em

Português e uma sílaba CVC em Inglês, por serem esses tamanhos e a fonotática mais

recorrentes em cada uma das línguas, respectivamente. Nenhuma palavra continha encontros

consonantais. As palavras na língua portuguesa foram bola, pato e casa, e as não-palavras

foram lila, tupa e maco. Na língua inglesa, foram cat, car e doll, e as não-palavras foram dob,

wug e tib. Tanto em Português quanto em Inglês, escolheram-se duas palavras começando por

oclusiva desvozeada (pato, casa; cat, car) e uma por oclusiva vozeada (bola, doll). O início

formado por oclusiva desvozeada tem sido relatado na literatura como facilitador. Tanto nos

estímulos de Inglês como nos de Português, havia uma palavra cuja segunda consoante

também é oclusiva desvozeada: uma consoante na segunda sílaba dos estímulos em Português

(pato) e outra na posição final dos estímulos em Inglês (cat). Entre os estímulos do Português,

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havia perfeito controle reverso entre palavra e não-palavra: pato, tupa. Esta condição pode ser

empregada como controle da não-palavra, pois era composta pelas mesmas oclusivas

desvozeadas e pelas mesmas vogais com inversão de sílaba. Os verbos utilizados na

construção das frases foram objetos de cuidado para não serem repetidos (Apêndice F).

No décimo primeiro dia de experimento (Fase do Teste), o bebê era colocado na

cadeira de espuma à frente do anteparo já descrito, funcionando dessa vez como um

palquinho. O ambiente do teste era bastante semelhante ao da Fase de Exposição aos

Estímulos, porém, no teste, o monitor não era utilizado e, portanto, não permanecia abaixo do

anteparo.

O anteparo foi também adaptado para a Fase do Teste. Uma luz fria foi instalada por

dentro do anteparo para iluminar os objetos sem ofuscar a visão do bebê, proporcionando

perfeita visibilidade. Duas janelas foram cortadas no fundo do anteparo, uma à esquerda e

outra à direita, de forma que, para o bebê olhar na direção de cada uma dessas janelas, ele

teria que virar a cabeça para a direita ou para a esquerda (Figura 15).

Figura 15: Bebê fazendo o teste: dois objetos saindo simultaneamente pelas janelinhas da direita e da esquerda

O bebê ouvia uma vinheta e em seguida duas execuções do nome de um objeto.

Imediatamente após a segunda execução do nome, as duas janelinhas se abriam

simultaneamente, e as mãos de dois assistentes, com luvas pretas, colocavam um objeto para

fora de cada janela: um dos objetos correspondia ao áudio executado, e o outro não

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correspondia. A disposição dos objetos nas janelas direita e esquerda do anteparo para cada

grupo é apresentada nos Apêndices G, H, I e J. O bebê podia olhar para qualquer um dos

lados e observar um objeto ou outro. O padrão de preferência do olhar será alvo de análise

neste experimento (cf. seção 4.3).

Duas câmeras de vídeo foram utilizadas durante o teste. Uma ficou posicionada por

trás do palco e, através de um orifício de aproximadamente 4 cm, filmou movimentos

oculares do bebê sem chamar a sua atenção. Desta forma, os olhares preferenciais do bebê

para cada um dos objetos puderam ser monitorados. Cada palavra ou não-palavra era

proferida duas vezes. Na segunda vez, dois objetos eram apresentados simultaneamente ao

bebê. Como mostra a Figura 16, uma análise quadro a quadro possibilitou que se chegasse à

certeza sobre a preferência do olhar do bebê.

Figura 16: Parte da sequência de fotogramas logo após um voluntário ouvir tupa, mostrando o olhar primeiro

para a direita, na direção do objeto carro, e depois para a esquerda, na direção do objeto tupa

A outra câmera ficou posicionada estrategicamente atrás do bebê, para que se

pudesse obter a visão total da cena e da situação do teste. O centro da cabeça do bebê foi

marcado com uma pequena etiqueta verde-neon, ou seja, fluorescente (Figura 17), de modo a

se obter mais uma informação para se avaliar a preferência do olhar do bebê, através da

visualização da localização da etiqueta, se mais para a direita ou para a esquerda.

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Figura 17: Cabeça do bebê com etiqueta néon

Independentemente do grupo a que o bebê pertencia (Grupo 1, 2, 3 ou 4), no dia do

teste se intercalava a exposição aos estímulos do experimento com estímulos-controle em

Tcheco. As palavras ditas nesse terceiro idioma (cf. Apêndice K) não haviam sido utilizadas

como estímulo ao bebê durante a Fase de Exposição aos Estímulos e, portanto, a reação a elas

deveria ser diferente da reação às outras palavras, se a referida Fase tivesse funcionado

realmente como exposição a Dados Linguísticos Primários.

4.3 MONITORAÇÃO DAS FASES DE EXPOSIÇÃO E DE TESTE

Este projeto, na sua parte tecnológica, obteve a parceria fundamental da Professora

Aline da Rocha Gesualdi e do seu Laboratório de Engenharia Elétrica do Centro Federal de

Educação Tecnológica Celso Sucow da Fonseca (CEFET/RJ). A Professora também atuou

como co-orientadora desta pesquisa-dissertação.

Foram desenvolvidos dois sistemas tecnológicos para monitorar cada uma das duas

fases do experimento: (i) o chupetógrafo ou HASP (high-amplitude sucking paradigm), capaz

de gravar os sinais produzidos pela sucção não-nutritiva (SNN) de bebês; (ii) o sistema de

monitoração do olhar preferencial.

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Em relação à Fase de Exposição aos Estímulos, utilizou-se um chupetógrafo para

monitorar a atenção que os bebês prestavam às frases-estímulos que continham as palavras-

chave cuja apreensão pelos bebês se intencionava medir. Essa escolha tecnológica foi feita

porque a literatura aponta resultados expressivos de pesquisas mostrando que, quando o bebê

recebe um estímulo novo (vê um objeto novo ou escuta um som novo), ele suga a chupeta

com entusiasmo. Porém, quando o estímulo já é conhecido, ele vai diminuindo o ritmo da

sucção até entrar em habituação (WOLFF, 1991; SIMPSON; SCHANLER; LAU, 2002;

GOLDFIELD; WOLF, 2004). Na habituação não há sucção, e comumente o bebê pega no

sono. A intensidade da sucção é diretamente proporcional à excitação. Desta forma, se o bebê

for sensível à mudança, o ritmo e a pressão da sucção aumentam.

Isto quer dizer que, através da monitoração da sucção, se pode perceber se, para o bebê,

dado estímulo é novo ou velho, ou melhor, diferente ou igual. Por meio desse mecanismo

revelador dos limites discriminatórios dos neonatais, pode-se entender muito a respeito do

processamento cognitivo desses bebês.

Ramus (2002), por exemplo, desenvolveu um trabalho divisor de águas, que se utilizou

de um chupetógrafo para o entendimento dos mecanismos de percepção de vogais em bebês

de um a cinco dias, mecanismos estes estudados de forma inconclusiva há mais de 40 anos.

Ramus (2002) mostra que, através da percepção de vogais, os recém-nascidos conseguiam

discriminar quando o experimentador alterava a língua de uma história que era contada a eles.

No presente experimento, foram feitas algumas alterações na técnica, para monitorar

a percepção das consoantes, que seriam percebidas por bebês um pouco mais velhos, na faixa

entre quatro e seis meses.

Na montagem original do chupetógrafo (MEHLER; DUPOUX, 1994; BONATTI et

al., 2006; 2007; MEHLER et al., 2006), a base da chupeta era conectada a uma das pontas de

uma mangueira fina, em cuja outra ponta se encaixava um sensor de pressão que enviava

pulsos elétricos para um computador que os processava (LUNDQVIST; HAFSTRÖM, 1999).

Após tratamento estatístico, o resultado era correlacionado ao estímulo.

Na versão utilizada neste experimento (GESUALDI, 2009), o chupetógrafo foi

aprimorado e desenvolvido por meio de uma técnica mais simples, capaz de registrar o sinal

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de sucção capturado através de um microfone que funciona como transdutor de pressão de ar,

ou conversor de energia mecânica em elétrica.

A chupeta era ligada a um tubo vinílico conectado ao computador. Nesse tubo havia

um diafragma que era movimentado de acordo com a pressão de ar oriunda das sucções. Sua

movimentação alterava a capacitância do circuito e criava uma saída elétrica variável.

Esse aparelho não é invasivo, pois não há qualquer contato do bebê com fontes

elétricas. Além disso, o tubo de vinil pode ser encaixado em qualquer chupeta. Desta forma,

utilizou-se, preferencialmente, a própria chupeta do bebê. A Figura 18 ilustra o equipamento

utilizado.

Figura 18: Partes do chupetógrafo: (a) furo realizado na chupeta do bebê; (b) tubo em PVC cristal e sua conexão

com a chupeta; (c) sensor para captura da pressão do ar e sua conexão com o tubo em PVC cristal; (d) bebê

utilizando o equipamento, mostrando que não há contato da criança com a eletrônica de detecção.

A captura do sinal de áudio foi realizada através do computador. A forma de onda da

variação da pressão do ar foi observada, conforme ilustra a Figura 19. O cálculo da frequência

de sucção deve ser realizado nesta forma de onda. Para tal, inicialmente, o ruído de aquisição

deve ser eliminado; para tanto, filtros digitais foram projetados de forma a eliminar as

frequências de batimento do sinal.

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(a)

(b)

Figura 19: Forma de onda da variação da pressão do ar capturada pelo microfone. (a) Captura do sinal de fundo.

(b) Captura do sinal de um bebê em treinamento.

Após a filtragem do sinal de pressão por um filtro FIR passa-baixas, utilizou-se a

distribuição tempo–frequência da Transformada de Fourier para medir a frequência de

sucção. Após o processamento dos sinais capturados, os resultados puderam ser

correlacionados aos estímulos.

Quanto à segunda parte do experimento, a Fase do Teste, esta se deu através da

aplicação da Técnica do Olhar Preferencial, que monitora a atenção do olhar. O sistema

visual humano (HVS) responde intensamente a alguns tipos de estímulos e de modo menos

intenso a outros. Esta técnica de monitoração leva em consideração o fato, já conhecido há

alguns séculos, de que a percepção visual que se tem do mundo, mais do que uma imagem

exata do meio físico do entorno, é uma construção feita pelo cérebro. Essa construção passa,

em grande parte, pela atenção visual dedicada ao que se observa. Por sua vez, a atenção visual

tem, entre outros, dois importantes subcomponentes funcionando em processamento cíclico:

(i) a cognição de o que olhamos, efetuada pela visão foveal (JAMES, 1981), conhecida como

via ventral ou via o que; e (ii) a cognição de para onde olhamos, efetuada pela visão

parafoveal ou periférica (HELMHOLTZ, 1925), conhecida como via dorsal ou via para onde.

Para se entender a cognição eminentemente foveal da via o que, é necessário saber

que a região ocular da fóvea, ou mancha amarela, é uma parte do olho humano localizada no

eixo óptico, na retina interna, onde se localiza a maior concentração de células fotorreceptoras

(Figura 20). É na fóvea que se projeta a imagem do objeto focalizado, e a imagem que nela se

forma tem grande nitidez. A retina, membrana que preenche a parede interna em volta do

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olho, recebe a luz focalizada pelo cristalino. A cognição que tem lugar na fóvea é coberta, ou

seja, não se tem noção do seu resultado ao observar o indivíduo de fora. A retina contém

fotorreceptores que transformam a luz em impulsos elétricos, que o cérebro pode interpretar

como imagens. Há dois tipos de receptores na retina: bastonetes, em número de

aproximadamente 120 milhões, e cones, em menor número, cerca de sete milhões. A mais alta

concentração de cones se encontra na área central da retina, chamada de mácula. Essa área,

responsável pela visão detalhada e precisa, se organiza em torno da fóvea.

Figura 20: Esquema do olho humano

Estes dois subcomponentes – via ventral ou via o que e via dorsal ou via para onde

– fariam parte do que se pode chamar atenção de baixo nível, ou seja, um processo bottom-up,

automático, involuntário, do qual se tem pouca consciência. Desde que foram estudados, estes

subcomponentes são considerados independentes e modulares. Mas é claro que, mesmo

dentro do nível atencional baixo, podem-se notar diferenças entre os dois componentes: a

visão parafoveal necessita de mais consciência ou atenção do que a ventral, já que a visão

parafoveal procura pelo objeto e requer movimentação voluntária dos olhos. Já a visão foveal

necessita de menos consciência ou atenção, pois a concentração dos fotorreceptores nos cones

localizados na fóvea faz com que a luz seja interpretada automaticamente dentro de ínfimos

milissegundos.

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Ao mesmo tempo, há na visão processos que são claramente top-down e dependentes

do acesso a conteúdos prontos e estocados na memória. Desse modo, o componente do nível

alto da visão deve ser pensado como um componente coberto, que não é facilmente detectado

pela observação externa.

Gibson (1941) e Kanizsa (1976) demonstram que esses processos atencionais de alto

nível impulsionam o indivíduo para o final do processo de reconhecimento de objetos através

do conhecimento prévio de imagens estocadas no cérebro, mesmo que a análise ou o

processamento bottom-up esteja ainda longe de terminar. A Figura 21 mostra exemplos de

imagens não inteiramente formadas, mas facilmente e imediatamente percebidas pelo

escaneamento visual através da atenção de alto nível.

Figura 21: Quatro visões parciais: o triângulo de Kanizsa, o símbolo da Coca-Cola, um vaso sanitário e uma

cadeira; objetos facilmente reconhecíveis embora mostrados apenas parcialmente.

Na verdade, na cognição de visão há perfeito equilíbrio entre o processamento

realizado a partir de traços primitivos (linhas, angulações, pontos de luz) e o conhecimento do

mundo, responsável por uma percepção saltatória, menos cuidadosa, mas que responde

melhor às pressões de tempo. Mais tecnicamente, o processo se dá para os humanos a partir

da percepção dos fótons refletidos dos objetos, que começam a derivar imagens que são

traduzidas em sinais multidimensionais. Esses sinais trafegam pelas vias da visão para cima e

para baixo, serialmente e em paralelo, sendo essa dinâmica sustentada por uma corrente de

processos químicos e elétricos, que acabam por ativar áreas de armazenamento, originando o

reconhecimento dos objetos e o planejamento da interação entre o homem e eles. Nesse

processo há, portanto, um sistema auto-sustentável de componentes de baixo e de alto níveis

atencionais em equilíbrio constante. Essa Lei Fundamental do Equilíbrio e da Economia,

objeto de estudos desde a Idade Média, é informalmente atribuída ao monge franciscano

inglês William Occkham (1285–1349), e por isso leva o seu nome, Navalha de Occkham

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(Occam‟s razor): A pluralidade não deve ser requisitada além da necessidade (Pluralitas non

est ponenda sine neccesitate). Grosso modo, esse preceito reducionista pode ser interpretado

como: A teoria mais simples que se adéqua aos fatos é sempre a mais próxima da realidade.

Ou seja, em se tratando de recursos cognitivos, o fio da navalha deve cortar todos aqueles

além dos estritamente necessários.

Na monitoração da preferência do olhar, o pesquisador deve perseguir unicamente o

movimento dos olhos, que pode ser visualizado externamente. Assim sendo, todo o trabalho

sob essa metodologia deve presumir que a atencionalidade está ligada à direção do foco

foveal, guiada pelas sacadas parafoviais. Para isso, desprezou-se o período de 400 ms iniciais

do início do olhar, enquanto o processamento foveal e o parafoveal, que iam se equilibrando,

podiam reconhecer ou rejeitar o objeto observado. O tempo de fixação e as sacadas foram

computadas a partir dos 400 ms. Levou-se em consideração o tempo de fixação comparado

entre a primeira e a segunda sacadas, depois de desprezado esse tempo inicial.

A monitoração do movimento foi feita de forma completamente não-invasiva, com

base nas imagens captadas por câmera de vídeo e analisadas quadro a quadro. Portanto, a

detecção do olhar preferencial foi realizada de forma manual. Todos os vídeos em que os

bebês apareciam de frente foram assistidos cuidadosamente. Cada vídeo foi recortado em oito

ou dezesseis minivídeos, dependendo do grupo a que cada bebê pertenceu. Cada minivídeo

continha a imagem tomada nos segundos de observação entre a pronúncia da palavra-alvo e a

vinheta audiovisual que antecedia a palavra-alvo seguinte. Esses vídeos tinham, em média,

6.000 ms de duração. Os vídeos recortados foram nomeados com o nome da palavra-alvo e a

posição (direita ou esquerda) em que o objeto relativo à palavra-alvo estava localizado – por

exemplo, Palavra2_Tupa_direita.mpg.

Na sequência, o pacote computacional Sony Vegas foi utilizado para visualizar os

vídeos por imagens, quadro a quadro. Cada minivídeo apresentava 30 quadros por segundo.

Portanto, passava-se quadro a quadro manualmente, a fim de se observar a direção do olhar do

bebê, se para a direita ou para a esquerda, em cada segundo do vídeo e em relação a cada uma

das 30 imagens. Uma simples regra de três convertia a quantidade de quadros em

milissegundos, como se pode ver no exemplo abaixo:

30 quadros 1.000 ms

1 quadro y ms

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y = 1.000/30 = 100/3 ms (duração em ms de 1 quadro do sinal de vídeo)

O cálculo para o olhar preferencial foi obtido com base no número de quadros em

que o bebê olhou fixamente para tal direção. Por exemplo, se o bebê passou 43 quadros

olhando para a direita, ele permaneceu 43*100/3 = 1.433,33 ms olhando para a direita. Os

quadros em que o bebê olhava para baixo, para trás ou para uma direção qualquer que não a

direção onde o objeto se encontrava foram descartados.

Uma tabela foi construída no programa Excel para realizar a regra de três e nos

auxiliar na análise dos resultados de cada voluntário (cf. Apêndice L). A tabela continha todas

as informações necessárias para construção dos gráficos e histogramas a serem apresentados

na seção Resultados.

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5 RESULTADOS

Os resultados a serem apreciados a seguir dizem respeito a vários aspectos testados

nos protocolos experimentais. Primeiramente, o Gráfico 1 mostra as percentagens de acerto

por grupos de voluntários. O Grupo 1 era composto por bebês estimulados durante os 10 dias

de exposição com sentenças em Português do Brasil. Para o Grupo 2, as sentenças foram

apresentadas em Inglês americano. Já os Grupos 3 e 4 ouviram Português e Inglês, tendo o

Grupo 3 ouvido as duas línguas separadamente e o Grupo 4 ouvido as sentenças misturadas

aleatoriamente. Chama-se de acerto o olhar preferencial do bebê para o objeto nomeado, após

desprezados os primeiros 400 ms dentro de um tempo máximo de 6.000 ms. Após os 400 ms,

a primeira olhada poderia ter sido dada para o lado certo ou para o errado. O que foi

computado como acerto foi a perseveração do olhar na direção do objeto certo.

Mas antes do Gráfico 1, apresenta-se a Tabela 5, como uma ajuda na interpretação dos

resultados entre os grupos. Foram elencados dois fatores antagônicos de influência para estes

resultados: um atrapalhador e um facilitador. O fator atrapalhador é o processamento da

prosódia.

Para retirar as palavras-chave das sentenças, os bebês tiveram que passar pelo percalço

de lidar com as pistas prosódicas como duração, acentuação e ritmo (cf. Capítulo 3). Os

grupos monolíngues tinham que fazer isto em relação a um só sistema linguístico, e por isso

lhes foi atribuído um só nível de negatividade. O Grupo 3 lidou com dois sistemas, e para ele

foram atribuídos dois níveis de negatividade. Ao Grupo 4, com dois sistemas misturados,

foram atribuídos três níveis de negatividade. O fator facilitador foi a atenção naturalmente

despendida a tudo que é novo. Este fator, aliás, é reconhecidamente um enorme facilitador da

cognição dos recém-nascidos.

O Grupo 1, que escutou estímulos do Português, certamente ouviu novidade em

relação às palavras-chave do tipo não-palavras. Mas as palavras-chave do tipo palavra podem

já ter sido faladas muitas vezes no entorno do bebê antes do teste ou mesmo durante os 10

dias da Fase de Exposição aos Estímulos, já que se estimulou o bebê com a mesma língua

falada pela sua comunidade. Então, foi atribuído aos bebês deste grupo um só nível de

positividade. Os outros três grupos tinham o Inglês, que certamente atraía maior

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atenção/concentração por ser uma língua não ouvida no entorno do bebê. Por isso, foram

atribuídos a eles dois ou três níveis de positividade.

TABELA 5: PREVISÃO DE IMPACTO DAS VARIÁVEIS INTERVENIENTES

GRUPOS ESTÍMULOS PROSÓDIA ATENÇÃO AO NOVO TOTAL

G1 Monolíngues

Português – + Ø

G2 Monolíngues

Inglês – + + +

G3 Bilíngues

separados – – + + Ø

G4 Bilíngues

misturados – – – + + –

Como se pode ver na Tabela 5, a predição quanto ao impacto das variáveis

intervenientes nas condições investigadas implica ligeira facilitação em relação ao Grupo 2 e

ligeiro prejuízo em relação ao Grupo 4.

GRÁFICO 1: PERCENTAGEM DE ACERTO POR GRUPO

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Ao se observar o Gráfico 1, percebe-se que as diferenças entre os grupos são

pequenas, mas, de qualquer forma, o Grupo 2, que recebeu estímulos monolíngues do Inglês,

apresentou o maior número de acertos; e o Grupo 4, alvo de estímulos bilíngues misturados, o

menor. A avaliação geral deste resultado é a de que os bebês, ainda neste ponto sem

discriminação de idade, conseguiram realizar as duas tarefas do experimento: segmentar a

sentença e reconhecer um objeto nomeado, tendo alcançado escores acima da linha da

probabilidade (50%).

O Gráfico 2 mostra o número de acertos consolidados segundo estímulos monolíngues

e bilíngues, ou seja, junta os Grupos 1 e 2 e os Grupos 3 e 4.

GRÁFICO 2: PERCENTAGEM DE ACERTO PELOS GRUPOS MONOLÍNGUES X BILÍNGUES

No Gráfico 2, novamente se pode verificar que o processamento das pistas

prosódicas tem algum custo para o sistema, e esse custo aumenta consideravelmente quando

se têm dois sistemas para processar. Essa diferença é também reforço para o fato de que a

tarefa de discriminação linguística está sendo feita: os bebês sabem quando estão lidando com

um ou com dois sistemas.

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GRÁFICO 3: PERCENTAGEM DE ACERTO POR IDADE

Este resultado é também bastante expressivo no sentido de que foram os bebês

menores os que mais acertaram. Embora a diferença não seja muito grande, o gráfico mostra a

tendência de acerto em direção aos bebês mais novos.

Se as pistas prosódicas e fonológicas desde o primeiro momento dessem acesso à

sintaxe da língua, seria bastante difícil explicar estes resultados. Neste trabalho, aventou-se a

hipótese, expressa até mesmo no título, de que há dois estágios de desenvolvimento de

linguagem que se sucedem no período pré-fala. O primeiro se relaciona com as vogais e com

o problema de segmentação. O segundo se relaciona com as consoantes e culmina com a

operação de arbitrariedade saussureana do signo. Em algum momento, possivelmente ainda

nesse período, a tarefa de parear forma e sentido, de reconhecer objetos, dá lugar às

concatenações propositivas, ou seja, à sintaxe. Isto acontece quando as mesmas pistas

prosódicas, que antes guiavam a segmentação, se ressignificam.

Gradação semelhante já foi exaustivamente descrita em relação aos primeiros

estágios da fonação (fase do balbucio e de uma palavra, seguida do período holofrástico e do

telegráfico). Esta interpretação que parece ser a adequada para estes resultados, ainda com a

informação de que a capacidade de representar coisas novas também é maior no recém-

nascido, assim como a sua sensibilidade para informações novas.

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GRÁFICO 4: NÃO-PALAVRAS MONOLÍNGUES GRÁFICO 5: NÃO-PALAVRAS BILÍNGUES

GRÁFICO 6: PALAVRAS MONOLÍNGUES GRÁFICO 7: PALAVRAS BILÍNGUES

A sequência dos Gráficos 4 a 7 organiza os percentuais de acerto por palavra, do tipo

palavra e não-palavra, monolíngue e bilíngue; salvo lila no gráfico bilíngue, todas as palavras

e não-palavras tiveram distribuição coerente entre os grupos contrastantes. Os histogramas

são gráficos que juntam eventos por grupo de ocorrência.

As não-palavras monolíngues foram os estímulos que geraram maior percentual de

acerto de reconhecimento. Mais uma vez, o fator preponderante pareceu ser o ineditismo da

forma do objeto e da sequência de fonemas. Os Grupos 1 e 2 de monolíngues reconheceram

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as não-palavras de forma equivalente nas duas línguas, com leve tendência favorecendo as

palavras em Inglês.

Interessante também é olhar o menor número de acertos em relação às palavras de

Português dos Grupos monolíngues e bilíngues, em contraste com as do Inglês. A língua

diferente da empregada pela comunidade parece atrair sempre maior atenção e retenção dos

bebês, neste primeiro momento. Esta é mais uma evidência de que não se está tratando aqui

ainda de percepção para sintaxe. Outros pontos interessantes são tupa e pato, opostos

perfeitos, que obtiveram praticamente 100% de reconhecimento. As oclusivas desvozeadas

tendem a ser representadas antes das vozeadas.

De forma geral, entre palavra e não-palavra, ganha a não-palavra; os bebês parearam

melhor a forma e o significado das não-palavras. Entre Português e Inglês, é Inglês; os bebês

parearam mais os itens em Inglês, língua diferente da da comunidade linguística em que eles

se inserem. Os Gráficos 8, 9 e 10 trazem os histogramas de sacadas por língua.

GRÁFICO 8: HISTOGRAMA DAS SACADAS – PORTUGUÊS

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GRÁFICO 9: HISTOGRAMA DAS SACADAS – INGLÊS

GRÁFICO 10: HISTOGRAMA DAS SACADAS – TCHECO

Os histogramas, como já referido, juntam eventos por grupo de ocorrência. Neste

caso, está se indicando o número de vezes em que um bebê encontrou o objeto que procurava

dando uma sacada, duas sacadas, três sacadas, até oito sacadas em 6.000 ms. Esta é a

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informação contida nas oito colunas dos gráficos. Olhando os três gráficos em conjunto, fica

patente que o Tcheco provocou nos bebês um número muito superior de sacadas. Este era o

resultado esperado, pois o Tcheco, grupo controle, não tinha sido apresentado aos bebês na

Fase de Exposição aos Estímulos. A procura e a perplexidade nos olhos dos bebês ao ouvir

Tcheco pode ser marcada pelo número exacerbado de sacadas.

Como já comentado nesta dissertação, o chupetógrafo especialmente desenhado

para este experimento é um mecanismo que possibilita a medida de atenção e engajamento do

bebê em tarefas cognitivas. Geralmente, a sucção é uma resposta ao estímulo novo. Baseando-

nos neste parâmetro, no décimo primeiro dia após o teste, houve a eliminação de quatro

bebês, por não terem apresentado comportamento de engajamento com o teste. Eles não se

mostravam interessados pelo teste e não lançavam um olhar ao qual se pudesse atribuir

direcionamento aos objetos estimulados.

Assim, como controle desta eliminação, fomos aos dados medidos pelo

chupetógrafo para validar o nível de atenção dos casos extremos. Os Gráficos 11 e 12 são

amostra do tipo de validação utilizada para eliminar o bebê cujo padrão de sucção é mostrado

no Gráfico 11 e para manter o bebê cujo padrão de sucção é mostrado no Gráfico 12.

GRÁFICO 11: PADRÃO DE SUCÇÃO DOS 10 DIAS DE EXPOSIÇÃO AOS ESTÍMULOS DE UM BEBÊ

ELIMINADO

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GRÁFICO 12: PADRÃO DE SUCÇÃO DOS 10 DIAS DE EXPOSIÇÃO AOS ESTÍMULOS DE UM BEBÊ

MANTIDO

Note-se que o bebê do Gráfico 12 manteve um padrão de sucção vigoroso em todos

os dias, exceto o último. Nos últimos dias, todos os bebês mantidos nos experimentos

(cf. Apêndice M) mostram decréscimo na sucção. Mais uma vez, aqui, o fator interesse pelo

novo se mostra. As repetições das palavras significavam algo enfadonho já no décimo dia.

Note-se que, no gráfico do bebê eliminado, este padrão não se estabelece. Há sinais

de interesse por todas as sessões, inclusive a primeira e a segunda, quando tudo era novo.

Portanto, este bebê, como realmente se verificou, não poderia ter consistência de resposta por

ocasião do teste, no décimo primeiro dia.

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6. CONCLUSÕES

A hipótese principal que este estudo se propôs testar era a de que, bem antes da

fonação, talvez já a partir do terceiro mês de vida, os bebês já estivessem fazendo o

pareamento entre representação fonológica e sentido: a arbitrariedade saussureana. Este

trabalho teve como ponto de partida muitos outros estudos que testaram a percepção de vogais

por recém-nascidos em tarefas de reconhecimento de trocas de língua. Bebês recém-nascidos

estão aptos a perceber pistas prosódicas provavelmente relacionadas ao ritmo definido como a

proporção em que a fala é ocupada por vogais, ou seja, pelo intervalo vocálico (RAMUS;

NESPOR; MEHLER, 1999; NAZZI; BERTONCINI; MEHLER, 1988; LEVELT; VAN DE

VIJVER, 1998). Com este parâmetro, e com outros ainda não completamente identificados,

recém-nascidos demonstram ser capazes de discriminar tipos de línguas.

Pensou-se aqui em testar bebês um pouco mais velhos, na faixa entre três e seis

meses, para verificar como e quando acontecia a percepção de consoantes e suas

consequências lexicais. Com a percepção das consoantes, os bebês poderiam representar

sequência fônicas correspondentes a raízes que seriam pareadas assim que a operação mais

básica da linguagem – relacionar forma com conteúdo, arbitrariedade saussureana – fosse

concebida por eles. Acreditava-se, por hipótese, que isto aconteceria muito cedo.

Se esta hipótese fosse comprovada, poderíamos prever que já no período pré-fala

poderia haver reconhecimento de objetos por parte de bebês ainda muito pequenos. Neste

trabalho se verificou isso, através de uma tarefa semelhante à nomeação, só que adaptada ao

momento pré-fala: a monitoração da preferência do olhar do bebê para o objeto certo.

Previu-se ainda que, se a hipótese principal estivesse correta, isto seria um reforço

para a ideia de que, durante este fugidio momento inicial em que os bebês fazem

arbitrariedade saussureana e se ocupam de entender as pistas para solucionar o problema de

segmentação, não há sintaxe. Os bebês provavelmente estão passando por um estágio

semelhante ao de vários outros animais, como cachorros e gatos, que também realizam esta

operação, embora com menos refinamento, pois não distinguem sotaques ou tipos de línguas,

mas concebem a operação de pareamento. Não vai aqui nenhuma indignidade associada a esta

comparação, somente a aposta de que os Estágios Um e Dois no período pré-fala se

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constituem em ferramentas importantes de manufatura de unidades sobre as quais o

Bootstrapping sintático possa ocorrer.

À parte estas considerações, a hipótese principal foi comprovada, já que foram

obtidos cerca de 70% de acertos (bebês olhando preferivelmente para o objeto

nomeado) dentro dos quatro grupos estudados e também por idade.

Baseando-se na tendência ao declínio dos acertos em relação aos bebês mais velhos,

acredita-se que possa estar havendo uma ressignificação de pistas prosódicas que, nos

Estágios Um e Dois do período pré-fala – correspondentes à percepção respectivamente das

vogais e das consoantes –, são provavelmente utilizadas para solucionar o problema da

segmentação e que passam a ser conectadas aos conteúdos proposicionais que os bebês

passariam a ter. Este é um plano para investigação futura, coerente com os achados desta

dissertação que pretendemos seguir a partir deste ponto.

Como segunda hipótese, este estudo apostou que os pareamentos de arbitrariedade

saussureana por bebês a partir de três meses podem ocorrer em até mais de uma língua, no

caso de o bebê ser exposto a Dados Linguísticos Primários (Primary Linguistic Data – PLD)

nessas línguas, independentemente de esta exposição ser segregada (uma sessão de exposição

a estímulos em uma língua e depois, outra sessão de exposição a estímulos em outra língua)

ou misturada (estímulos das duas línguas aleatoriamente misturados na mesma sessão de

exposição). Ou seja, esta hipótese implicaria que o bebê tenha se utilizado de pistas acústicas

para separar uma língua da outra, como explicitado em Ramus, Nespor e Melher (1999), e

para parear representações de forma e significado (arbitrariedade saussureana) em duas

línguas.

Não somente esta hipótese foi comprovada, como foi demonstrado que o fato

de os estímulos virem em outra língua diferente da do entorno do bebê funcionou

como facilitador atencional para o bebê. Nesta fase inicial, em que ainda não se

faz sintaxe e se trabalha nas fronteiras das palavras, pode-se montar dois sistemas

linguísticos preparando o terreno para a aquisição de sintaxe em duas línguas.

Com este conjunto de observações, é possível se organizar uma Tabela Estendida de

Desenvolvimento da Linguagem (Tabela 6) que acomode a Fase Pré-Fala e a Fase Produtiva,

incluindo a contribuição deste trabalho em demarcar a possibilidade de bebês praticarem a

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computação de pareamento de forma e sentido (arbitrariedade saussureana) já na Fase Pré-

Fala, antes de começarem a interpretar pistas sintáticas.

TABELA 6: TABELA ESTENDIDA DE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

As conclusões mais relevantes deste trabalho recaem no reforço à tese do inatismo.

Com apenas dez minutos de exposição ao dia e em um período de apenas dez dias, um bebê

que mal sustenta a cabecinha pode reconhecer palavras em dois idiomas a ele apresentadas no

interior de frases que são mudadas a cada dia. Não é truque não, é trabalho cognitivo sendo

esculpido no cérebro. Neurorreceptores estabelecendo sinapses novas e novos circuitos se

formando a cada minuto. Espera-se que o presente estudo sirva de base para que outros se

estabeleçam e reformulem critérios que cheguem a melhorar o nível da Educação infantil,

sobretudo no que tange à aquisição de outras línguas. O bom entendimento sobre o Período

Critico é, inegavelmente, essencial para a elaboração de qualquer prática pedagógica. Para

que determinadas cognições se estabeleçam, é necessário que se atente ao período de apogeu

do desenvolvimento neuronal, e a cognição de linguagem tem milhões dessas microcognições

atuando em prol do pleno funcionamento desta faculdade única nos homens.

É também importante não se perder a perspectiva macro de pesquisas como esta;

portanto, é bom se pensar sobre o papel do Educador. É essencial que ele saiba em que fase o

indivíduo vivencia o melhor momento cerebral para então poder traçar, com margens de

segurança, o seu plano de trabalho. Um adulto que busca aprender uma segunda língua será

sempre um falante estrangeiro dessa segunda língua. E o que é um adulto do ponto de vista

linguístico? É o individuo que já está com sua janela de oportunidades para a linguagem

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fechada. Atingir a maturidade linguística, digamos assim, não significa coisa boa para o

processo de aquisição de qualquer uma das 6.500 línguas naturais disponíveis no Planeta. Por

outro lado, estar imerso em um segundo (ou mais) idioma (s) é, para a criança, o ambiente

ideal para que aconteça a aquisição sólida e sem erosão de quantos idiomas ela for exposta. A

exposição aos dados primários constitui a matéria-prima básica para conduzir, sem perdas, os

itens estruturais durante a formação da circuitaria neuronal.

Os estudos sobre o funcionamento do cérebro humano tornam-se cada vez mais

relevantes para os Educadores. Agregar ao ensino e à aprendizagem condições para

aperfeiçoar o dispêndio de energia e tempo no que quer que seja o objeto de estudo é, sem

duvida, um salto qualitativo na carreira de professor.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – CARTA PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE LETRAS E ARTES

FACULDADE DE LETRAS Departamento de Linguística e Filologia

RJ, 10 de março de 2009

Caro profissional de saúde:

Estou orientando uma dissertação de mestrado da aluna Eloisa Le Maitre de Oliveira Lima sobre

a aquisição de consoantes por bebês de 3 até 5 meses. É uma pesquisa comportamental não invasiva

que vai se utilizar de um protocolo denominado HASP (high amplitude sucking procedure). O HASP

ou o Chupetógrafo é um aparelho que mede o ritmo e pressão da sucção de chupetas pelo bebê.

Queremos estudar a aquisição da percepção das consoantes por bebês de quatro a seis meses, faixa

etária exatamente subsequente àquela em que se reporta a percepção de vogais (Mehler; Dupoux,

1994). Nossa hipótese é a de que logo após dominarem o sistema de vogais da língua alvo os bebês

passam às consoantes e com elas começam a lidar com informações semânticas ou conceituais sobre

as palavras, já que com as consoantes chegam informação das raízes.

Para conseguirmos estudar isto, estamos adotando dois métodos: (i) o método da chupeta, já

mencionado (Mehler; Dupoux, 1994), e (ii) uma adaptação do método do olhar preferencial (Fantz R.

1958; POLKA; WERKER, 1994). Com o método da chupeta ou HASP (High-amplitude sucking

paradigm) – capaz de gravar os sinais produzidos por SNN. Trata-se de um mecanismo de montagem

simples, por meio do qual se pode registrar com precisão a sucção em seus aspectos de frequência por

segundo e pressão em jaule. O funcionamento deste mecanismo também não é complicado. Coloca-se

um bebê deitado em uma inclinação de 30 graus e a ele é oferecida uma chupeta. A base da chupeta é

conectada a uma das pontas de uma mangueira fina. Na outra ponta da mangueira se encaixa um

sensor de pressão, que já se encontra pronto no mercado, com saída USB. O sensor de pressão manda

pulsos elétricos via USB para um computador que os processa (Lundqvist, Hafström, 1999). Enquanto

a sucção e a direção do olhar da criança são monitorados o bebê ouve palavras e observa objetos

durante o teste. Após tratamento estatístico, o resultado é correlacionado ao estímulo. Não há nenhum

contato entre o bebê e o sensor elétrico e a câmera que monitora o olhar. A chupeta é a própria chupeta

que o bebê trouxe de sua casa. O teste dura 10 minutos e deverá ser administrado por durante 11 dias.

É possível oferecermos translados até o local do teste na Fonte da Saudade. Ofereceremos também

certificados de participação para cada bebê. Asseguramos que a identidade dos bebês será mantida em

sigilo na tese e em artigos.

Como é bastante difícil encontrarmos as crianças na faixa etária procurada, contamos com a

colaboração dos senhores, profissionais de saúde, na indicação de bebês que possam participar desta

pesquisa. Temos a certeza de que este estudo vai contribuir para o que se sabe sobre as etapas de

preparação perceptual que antecedem o período de aquisição de linguagem. Coloco-me à disposição

para esclarecer dúvidas sobre qualquer aspecto da pesquisa.

Atenciosamente,

Aniela Improta França

Coordenadora do Laboratório ACESIN (www.acesin.letras.ufrj.br)

Chefe do Departamento de Linguística / Faculdade de Letras

Membro do Programa Avançado de Neurociência / Faculdade de Medicina

Universidade Federal do Rio de Janeiro

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Universidade Federal do Rio de Janeiro Programa de Pós Graduação em Linguística

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título do Projeto: Percepção de consoantes em bebês no período pré-fala

Nome do voluntário: ___________________________________________________________________

Data do nascimento: __________________________

Nome do Responsável: ________________________R. G. do Responsável: __________________________

O seu filho(a) está sendo convidado(a) a participar do projeto de pesquisa de Mestrado de responsabilidade da

pesquisadora Eloisa Le Maitre Lima, sob a orientação da Professora Aniela Improta França e da Professora

Aline da Rocha Gesualdi. Será uma pesquisa que terá a duração de 11 dias mas o teste pode ser descontinuado

a qualquer momento de acordo com a vontade do bebê e de seus responsáveis, sem que nenhuma explicação

venha a ser pedida pela desistência.

Esta pesquisa está em alinhamento com muitos experimentos sobre a cognição de bebês recém-nascidos que

vêm sendo realizados desde o final da década de 90 nos Estados Unidos e na Europa com objetivo de entender

o desenvolvimento linguístico de bebês, ainda durante o período pré-fala. No nosso caso estamos focalizando na

percepção de consoantes.

Para acompanharmos este momento especial no desenvolvimento linguístico do seu filho(a) usaremos um

aparelho “chupetógrafo” desenvolvido pela professora Aline Gesualdi. Este aparelho é capaz de gravar os sinais

produzidos pela sucção da chupeta do seu bebê, em termos de frequência por segundo. Os resultados de

pesquisas semelhantes sobre a percepção de vogais demonstraram que ao receber um estímulo novo, o recém-

nascido suga a chupeta com entusiasmo. Porém, à medida que o som da vogal se torna conhecido a sucção

decresce até que o bebê entre no que se chama de habituação. Na habituação não há sucção e o bebê pode até

pegar no sono. Neste experimento usamos o aparelho para captar o momento em que o bebê começa a

perceber e diferenciar as consoantes.

Teremos primeiro a fase de apresentação de dados que deve transcorrer em 10 dias consecutivos. Nesta fase o

bebê ouve e vê estímulos em um monitor de TV enquanto as sucções na chupeta são medidas pelo aparelho. A

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100

segunda fase, que é o momento do teste em si, acontece no décimo primeiro dia. Cada uma das onze sessões

dura em média 3 minutos.

As chupetas utilizadas são lavadas e esterilizadas. O teste não promove nenhum risco para a saúde do bebê,

nem durante coleta dos sinais da sucção nem durante a exposição do bebê ao material em vídeo. O bebê ficará

acomodado em um assento apropriado ou poderá ficar no colo dos pais durante a coleta, em uma sala limpa,

arejada, com situação de sonoridade, temperatura e luminosidade agradáveis para a percepção desta faixa

etária.

A identidade dos bebês e a de seus pais serão protegidas. Fotos do teste serão usadas exclusivamente em

trabalhos científicos e no caso de as imagens terem sido cedidas pelos pais.

Agradecemos muito a sua adesão a este projeto!

Eu, __________________________________________________, RG nº _____________________ declaro ter

sido informado sobre o teste a ser realizado com o meu bebê, ________________________________________,

e concordo em que ele participe como voluntário no projeto de pesquisa Percepção de consoantes em bebês

no período pré-fala descrito acima.

Rio de Janeiro, _______ de _________________________ de ____________

______________________________________________________________

Eu, __________________________________________________, RG nº _____________________ declaro ter

sido informado sobre o teste a ser realizado com o meu bebê,

_________________________________________, e concordo em ceder as imagens do teste para publicação

em artigo científico desde que a minha identidade e a do bebê seja protegida.

Rio de Janeiro, _______ de _________________________ de ____________

______________________________________________________________

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101

APÊNDICE C – LISTA COMPLETA DOS ESTÍMULOS POR GRUPO

GRUPOS DIA 1 DIA 2 DIA 3 DIA 4 DIA 5 DIA 6 DIA 7 DIA 8 DIA 9 DIA 10

Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Segunda Terça Quarta Quinta

1

Português

lila S

tupa O

X3

lila O

tupa S

bola O

X3

lila A

tupa A

bola S

pato O

X3

lila S

tupa O

bola A

pato S

maco O

X3

lila O

tupa S

bola O

pato A

maco S

casa O

X3

Bola S

Tupa A

Casa O

Maco S

Pato A

Lila O

X3

tupa O

pato S

casa A

lila S

bola A

maco O

X3

casa S

bola A

lila A

maco O

tupa O

pato S

X3

pato O

tupa A

bola S

casa A

lila S

maco O

X3

bola O

pato S

maco A

tupa S

lila O

casa A

X3

2

Inglês

Dob S

Wug O

X3

Cat O

Wug S

Dob O

X3

Tib O

Wug A

Cat S

Dob A

X3

Car A

Wug O

Tib S

Dob S

Cat O

X3

Dob O

Car O

Tib A

Wug S

Cat S

Doll O

X3

Tib S

Doll O

Cat S

Wug A

Car A

Dob O

X3

Doll S

Tib O

Dob A

Cat S

Car A

Wug O

X3

Car O

Cat A

Dob S

Doll O

Wug A

Tib S

X3

Dob O

Car S

Doll A

Cat O

Wug S

Tib A

X3

Cat S

Dob A

Wug O

Doll S

Car A

Tib O

X3

3

Bilíngue

Português

lila S

tupa O

X3

lila O

tupa S

bola O

X3

lila A

tupa A

bola S

pato O

X3

lila S

bola A

pato S

maco O

casa A

X3

lila O

tupa S

bola O

pato A

maco S

casa O

X3

Bola S

Tupa A

Casa O

Maco S

Pato A

Lila O

X3

tupa O

pato S

casa A

lila S

bola A

maco O

X3

casa S

bola A

lila A

maco O

tupa O

pato S

X3

pato O

tupa A

bola S

casa A

lila S

maco O

X3

bola O

pato S

maco A

tupa S

lila O

casa A

X3

3

Bilíngue

Inglês

Dob S

Wug O

X3

Cat O

Wug S

Dob O

X3

Tib O

Wug A

Car S

Dob A

X3

Car A

Wug O

Tib S

Dob S

Cat O

X3

Dob O

Car O

Tib A

Wug S

Cat S

Doll O

X3

Tib S

Doll O

Cat S

Wug A

Car A

Dob O

X3

Doll S

Tib O

Dob A

Cat S

Car A

Wug O

X3

Car O

Cat A

Dob S

Doll O

Wug A

Tib S

X3

Dob O

Car S

Doll A

Cat O

Wug S

Tib A

X3

Cat S

Dob A

Wug O

Doll S

Car A

Tib O

X3

4

Inglês e

Português

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

randômico

X3

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102

APÊNDICE D – FRASES EM PORTUGUÊS

Dia 1 Lila – s A lila chegou! Dia 7 Tupa – o Pega a tupa.

Tupa – o Papai viu a tupa. Pato – s O pato pula.

Dia 2 Lila – o Mamãe quebrou a lila. Casa – a Fugiu lá prá casa.

Tupa – s A tupa foi embora. Lila – s A lila tem franjinha.

Bola – o Chuta a bola! Bola – a Tira o pé da bola.

Dia 3 Lila – a Põe a fita na lila! Maco – o A dinda lava o maco.

Tupa – a Fica com a tupa! Dia 8 Casa – s A casa era grande.

Bola – s A bola é bonita. Bola – a Ele brigou pela bola.

Pato – o Toma o pato. Lila – a Zazá tropeçou com a lila.

Dia 4 Lila – s A lila é linda! Maco – o João atirou o maco.

Tupa – o Cacá beijou a tupa! Tupa – o A titia agarrou a tupa.

Bola – a Senta na bola! Pato – s O Pato dormiu agora.

Pato – s O pato comeu tudo. Dia 9 Pato – o O cachorro mordeu o pato.

Maco – o A mamãe puxou o maco. Tupa – a Bum! Bati na tupa.

Dia 5 Lila – o Levei a lila. Bola – s A bola furou.

Tupa – s A tupa correu. Casa – a O Vovô mora na casa.

Bola – o Traz a bola. Lila – s A lila baba muito.

Pato – a Faz carinho no pato! Maco – o O neném cheira o maco.

Maco – s O maco é bonito. Dia 10 Bola – o Ela compra a bola.

Casa – o Olha a casa. Pato – s O pato está nadando.

Dia 6 Bola – s A bola rolou. Maco – a Passa remedinho no maco.

Tupa – a Deixa a chupeta na tupa. Tupa – s A tupa vem aí.

Casa – o Pinta a casa. Lila – o Ela ninou a lila.

Maco – s O maco tá triste. Casa – a Vai brincar com a casa.

Pato – a Caiu sopa no pato. Dia 11 TESTE

Lila – o Ele pegou a lila.

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APÊNDICE E – FRASES EM INGLÊS

Dia 1 Dob – s Dob is green. Dia 7 Doll – s The doll has hair.

Wug – o Mom pushes the wug. Tib – o Give me the tib.

Dia 2 Cat – o I want a cat. Dob – a Play with dob.

Wug – s The wug eats banana. Cat – s The cat prefers milk.

Dob – o Look at Dob. Car – a Draw on the car.

Dia 3 Tib – o I kicked the tib. Wug – o She hurries the wug.

Wug – a Put it near the wug. Dia 8 Car – o Dad locks the car.

Cat – s The cat is small. Cat – a Forget about the cat.

Dob – a He escaped from dob. Dob – s The dob likes rats.

Dia 4 Car – a Leave it in the car. Doll – o I don‟t have a doll.

Wug – o Bring the wug. Wug – a The candy is under the wug.

Tib – s Tib is far away! Tib – s The tib hurts the fly.

Dob – s Dob comes everyday. Dia 9 Dob – o Mom carried the dob.

Cat – o She hates the cat. Car – s This car is good.

Dia 5 Dob – o The girl has a dob. Doll – a Sleep beside the doll.

Car – o Dad needs the car. Cat – o Mary feeds the cat.

Tib – a Wash it with tib Wug – s The wug wears a belt.

Wug – s The Wug is crazy. Tib – a Walk with the tib.

Cat – s The cat is old. Dia 10 Cat – s The cat ate the bird.

Doll – o The baby fell with the doll. Dob – a He bought that for dob.

Dia 6 Tib – s Tib dances very well. Wug – o He wets wug.

Doll – o He broke the doll. Doll – s The doll sat down.

Cat – s The cat is happy. Car – a I go by car.

Wug – a It is on the wug. Tib – o The man repaired the tib.

Car – a Anna kept the car. Dia 11 TESTE

Dob – o Ted pulls the dob.

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APÊNDICE F – LISTA DE VERBOS

VERBOS EMPREGADOS NO TESTE

Verbos em Inglês Verbos em Português

Be Kick Agarrar Levar

Buy Leave Atirar Morar

Break Like Babar Morder

Carry Lock Bater Nadar

Come Look Beijar Ninar

Dance Need Brigar Olhar

Draw Play Brincar Passar

Eat Prefer Cair Pegar

Escape Push Chegar Pintar

Fall Pull Cheirar Pôr

Feed Put Chutar Pular

Forget Repair Comer Puxar

Give Sleep Comprar Quebrar

Go Sit Correr Ter

Hate Wet Deixar Tirar

Have Want Dormir Tomar

Hurry Wash Estar Trazer

Hurt Wear Fazer Tropeçar

Keep Ficar Ver

Fugir Vir

Furar Rolar

Ir Ser

Lavar Sentar

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APÊNDICE G – DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E

ESQUERDA DO ANTEPARO – GRUPO 1

VINHETA

MUSICAL: 2 SEG

AUDIO

(FALA)

MARIONETE DA

ESQUERDA

MARIONETE DA

DIREITA

Vinheta 1 [CASA] LILA

CASA

Correta

Vinheta 2 [PATO] PATO

correta

MACO

Vinheta 3 [MIC]

Tcheco

CASA LILA

Vinheta 4 [LILA] BOLA LILA

Correta

Vinheta 5 [MACO] MACO

correta

TUPA

Vinheta 6 [BOLA] PATO

BOLA

Correta

Vinheta 7 [TUPA] TUPA

correta

CASA

Vinheta 8 [KACHNA]

Tcheco

BOLA

PATO

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APÊNDICE H – DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E

ESQUERDA DO ANTEPARO – GRUPO 2

VINHETA

MUSICAL: 2 SEG

AUDIO

(FALA)

MARIONETE DA

ESQUERDA

MARIONETE DA

DIREITA

Vinheta 1 [DOLL] DOB

DOLL

Correta

Vinheta 2 [CAR] CAR

correta

TIB

Vinheta 3 [MIC]

Tcheco

DOLL DOB

Vinheta 4 [DOB] CAT DOB

Correta

Vinheta 5 [TIB] TIB

correta

WUG

Vinheta 6 [CAT] CAR

CAT

Correta

Vinheta 7 [WUG] WUG

correta

DOLL

Vinheta 8 [KACHNA]

Tcheco

CAT

PATO

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APÊNDICE I – DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E

ESQUERDA DO ANTEPARO – GRUPO 3

VINHETA

MUSICAL: 2 SEG

AUDIO

(FALA)

MARIONETE DA

ESQUERDA

MARIONETE DA

DIREITA

Vinheta 1 [CASA] LILA

CASA

Correta

Vinheta 2 [PATO] PATO

correta

MACO

Vinheta 3 [MIC]

Tcheco

CASA LILA

Vinheta 4 [LILA] BOLA LILA

Correta

Vinheta 5 [MACO] MACO

correta

TUPA

Vinheta 6 [BOLA] PATO

BOLA

Correta

Vinheta 7 [TUPA] TUPA

correta

CASA

Vinheta 8 [KACHNA]

Tcheco

BOLA

PATO

Vinheta 9 [DOLL] DOB

DOLL

Correta

Vinheta 10 [CAR] CAR

correta

TIB

Vinheta 11 [MIC]

Tcheco

DOLL DOB

Vinheta 12 [DOB] CAT DOB

Correta

Vinheta 13 [TIB] TIB

correta

WUG

Vinheta 14 [CAT] CAR

CAT

Correta

Vinheta 15 [WUG] WUG

correta

DOLL

Vinheta 16 [KACHNA]

Tcheco

CAT

PATO

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APÊNDICE J – DISPOSIÇÃO DE APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS NAS JANELAS DIREITA E

ESQUERDA DO ANTEPARO – GRUPO 4

VINHETA

MUSICAL: 2 SEG

AUDIO

(FALA)

MARIONETE DA

ESQUERDA

MARIONETE DA

DIREITA

Vinheta 1 [DOLL] DOB

DOLL

Correta

Vinheta 2 [CASA] LILA

CASA

Correta

Vinheta 3 [CAR] CAR

correta

TIB

Vinheta 4 [PATO] PATO

correta

MACO

Vinheta 5 [MIC]

Tcheco

DOLL DOB

Vinheta 6 [KACHNA]

Tcheco

BOLA PATO

Vinheta 7 [DOB] CAT DOB

Correta

Vinheta 8 [LILA] BOLA LILA

Correta

Vinheta 9 [TIB] TIB

correta

WUG

Vinheta 10 [MACO] MACO

correta

TUPA

Vinheta 11 [CAT] CAR

CAT

Correta

Vinheta 12 [BOLA] PATO

BOLA

Correta

Vinheta 13 [WUG] WUG

correta

DOLL

Vinheta 14 [TUPA] TUPA

correta

CASA

Vinheta 15 [KACHNA]

Tcheco

CAT

PATO

Vinheta 16 [MIC]

Tcheco

CASA

LILA

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APÊNDICE K – PALAVRAS EM TCHECO UTILIZADAS NO TESTE

Palavras em Tcheco

utilizadas no teste

Hoba

Lun

Mic

Kachna

Mure

Dum

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APÊNDICE L – TABELA EM EXCEL PARA REALIZAR A REGRA DE TRÊS E AUXILIAR NA

ANÁLISE DOS RESULTADOS DE CADA VOLUNTÁRIO

Nome: João Pedro

Grupo: 1 Data de Nasc.: 15/02/09 Data do Teste: 22/05/09

Idade: 3 meses, 7 dias

Acertos: 4 66,67%

Erros: 2 33,33%

1º olhar 2º olhar 3º olhar

SI FI SF FF Tempo

(ms) SI FI SF FF Tempo

(ms) SI FI SF FF Tempo

(ms)

1 D 0 0 4 1 3633,33 0,00 0,00

CASA E 0,00 0,00 0,00

2 D 0 0 2 14 2066,67 0,00 0,00

PATO E 0,00 2 15 5 9 2800,00 0,00

3 D 0,00 3 11 5 2 1700,00 0,00

MIC E 0 0 2 28 2533,33 0,00 0,00

4 D 0 26 1 18 333,33 0,00 0,00

LILA E 0,00 1 19 5 2 3433,33 0,00

5 D 0 0 0 17 166,67 0,00 0,00

MACO E 0,00 0 18 4 25 4233,33 0,00

6 D 0 0 0 28 533,33 0,00 0,00

BOLA E 0,00 1 6 4 28 3733,33 0,00

7 D 0 0 1 3 700,00 0,00 0,00

TUPA E 0,00 1 4 5 9 4166,67 0,00

8 D 0,00 1 1 4 13 3400,00 5 3 6 9 1200,00

KACHNA E 0 0 1 0 600,00 0,00 0,00

Legenda:

SI – Segundo Inicial FI – Número de Frames Inicial

SF – Segundo Final

FF – Frame Final Obs: Os pares D e E estão em vermelho e azul, ou vice-versa, para destacarem o objeto correto, quando em azul, e o objeto incorreto, quando em vermelho. As colunas com D e E, em vermelho, correspondem às palavras em Tcheco, nas quais não há acerto. É apenas a língua controle.

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APÊNDICE M – PADRÃO DE SUCÇÃO DOS 10 DIAS DE EXPOSIÇÃO DOS VOLUNTÁRIOS AOS

ESTÍMULOS

Voluntário 1

Voluntário 2

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