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1 Em busca dos remédios para tanta ruína”: Epidemia de Sarampo na Capitania do Grão-Pará (1748-1750) A Capitania do Grão-Pará foi grassada por diferentes epidemias durante os setecentos, dentre elas “uma rigorosa epidemia de Sarampo”. A mortalidade ocasionada por uma epidemia não apenas tem influências na dinâmica populacional de uma região, mas também repercute sobre as esferas sociais, econômicas e políticas de uma determinada sociedade. Entre ações de quarentena e isolamento demandadas pelo governo local busca-se remediar o alastrar do surto. Reclamações, pedidos de socorro e imagens de ruína e pobreza da Capitania são, frequentemente, salientadas nas cartas escritas pelo governador e vereadores à Corte portuguesa. Mas, também missas, procissões públicas e cortejos penitentes estão entre as iniciativas da Câmara do Grão-Pará. Uma sociedade complexa, com distintas esferas administrativas, costurava diferentes ações para enfrentar os percalços do “sarampo”, as quais possuíam uma lógica própria no espaço e no tempo em que se encontravam. Nesse sentido, este trabalho busca analisar quais foram as principais linhas de ações e estratégias tomadas pelas esferas de poder coloniais e metropolitanas voltadas para a incidência do contágio de Sarampo (1748-1750) na Capitania do Grão-Pará, atentando para as suas múltiplas facetas. Palavraschave: Epidemia de Sarampo; Autoridades; Corte Portuguesa; Grão-Pará; Século XVIII.

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Em busca dos “remédios para tanta ruína”: Epidemia de Sarampo na

Capitania do Grão-Pará (1748-1750)

A Capitania do Grão-Pará foi grassada por diferentes epidemias durante os setecentos,

dentre elas “uma rigorosa epidemia de Sarampo”. A mortalidade ocasionada por uma epidemia não

apenas tem influências na dinâmica populacional de uma região, mas também repercute sobre as

esferas sociais, econômicas e políticas de uma determinada sociedade. Entre ações de quarentena e

isolamento demandadas pelo governo local busca-se remediar o alastrar do surto. Reclamações,

pedidos de socorro e imagens de ruína e pobreza da Capitania são, frequentemente, salientadas nas

cartas escritas pelo governador e vereadores à Corte portuguesa. Mas, também missas, procissões

públicas e cortejos penitentes estão entre as iniciativas da Câmara do Grão-Pará. Uma sociedade

complexa, com distintas esferas administrativas, costurava diferentes ações para enfrentar os

percalços do “sarampo”, as quais possuíam uma lógica própria no espaço e no tempo em que se

encontravam. Nesse sentido, este trabalho busca analisar quais foram as principais linhas de ações e

estratégias tomadas pelas esferas de poder coloniais e metropolitanas voltadas para a incidência do

contágio de Sarampo (1748-1750) na Capitania do Grão-Pará, atentando para as suas múltiplas

facetas.

Palavras–chave: Epidemia de Sarampo; Autoridades; Corte Portuguesa; Grão-Pará; Século XVIII.

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INTRODUÇÃO

Cercada por caudalosos rios e igarapés, o aportar de embarcações nas cercanias da cidade de

Belém constituía em imagem rotineira no passado colonial2. Pela própria geografia hídrica da

região, as rotas fluviais possuíam um papel de suma importância para a mobilidade de pessoas e

para o escoamento de mercadorias. Além do que, eram o principal elo de comunicação entre a

cidade de Belém e as demais localidades do Estado do Maranhão e Grão-Pará3. Assim, entre esse ir

e vir de embarcações que atravessavam os rios amazônicos, em meados de 1748 mais um

contingente de moradores aportava em canoas no entorno de Belém. Retornavam da coleta das

chamadas “Drogas do Sertão”4, acompanhados de muitos índios. No entanto, carregavam consigo

também elementos invisíveis aos olhos, porém responsáveis por danosos efeitos: agentes

patológicos de um “novo mal” que se iniciava na capitania do Grão-Pará5. Era a epidemia de

Sarampo que abarcava na Capitania.

Segundo a “Memória dos mais terríveis contágios de bexigas e sarampo d´este Estado desde

o ano de 1720 por diante”, escrita pelo Tenente Coronel Theodózio Constantino de Chermont6, a

epidemia causou tão grande estrago em todo o Estado que mereceu ser chamada de “sarampo

grande”. “Grande” não apenas em comparação aos surtos anteriores de sarampo, mas pela força e

forma traumática com que ceifou vidas.

A epidemia de sarampo (1748-1750) assim ia tomando espaço nos relatos feitos pela

administração colonial, bem como por aqueles que vivenciaram ou “ouviram” falar de tempos tão

funestos. Os abalos causados pela epidemia na sociedade da Capitania do Grão-Pará foi tema

central em muitas correspondências enviadas por moradores e administradores para a Corte

portuguesa. A tônica mais evidenciada nessas missivas era a expressiva mortalidade gerada pelo

surto epidêmico. No entanto, uma mortalidade bem delineada: a maioria dos mortos pelo sarampo

eram índios.

2 Atualmente ainda se faz presente uma grande movimentação de embarcações entrecortando os rios da região amazônica. 3 Em 1751, o Estado do Maranhão e Grão-Pará passa a ser chamado de Estado do Grão-Pará e Maranhão, com sede em Belém e não mais em São Luís. Compreendia as capitanias do Grão-Pará, Maranhão e Piauí. Esse estudo se debruçará sobre a capitania do Grão- Pará. Levando-se em consideração o desmembramento da Capitania do Rio Negro em Carta Régia de 03 de março de 1755. SAMPAIO, Patrícia. Administração Colonial e Legislação Indigenista na Amazônia Portuguesa. In: PRIORE, M. D; GOMES; F (orgs). Os Senhores dos Rios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003, p.123-124. 4 As drogas do sertão consistiam nos gêneros como cacau, canela, salsaparrilha, cravo, anil, baunilha, copaíba, breu, andiroba e casca preciosa. Cf: MENEZES, Maria de Nazaré Angelo. O Sistema Agrário do vale do Tocantins Colonial: Agricultura para o consumo e para exportação. Projeto História, São Paulo, 1999. 5 Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013,CX.31, D.2910 6 Memória transcrita por Alexandre Rodrigues Ferreira em seu Diário da viagem filosófica pela capitania de São José do Rio Negro (1781). .CHERMONT, Teodósio Constantino de. Memória dos mais temíveis contágios de bexigas e sarampo d’este Estado desde o ano de 1720 por diante. Revista Trimensal do Instituto Histórico, Geográfico e

Etnográfico do Brasil, Rio de Janeiro, t.48, p.1, p.28-30, 1885.

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Sobre extensas linhas tracejadas, os representantes da Coroa na capitania relatavam sobre os

principais desdobramentos da elevada mortalidade indígena para o Grão-Pará.7 Destacavam os

abalos na economia da região, pois faltavam “braços” para colherem os frutos e beneficiarem as

lavouras, não se tinha mão de obra o suficiente para extração das Drogas do sertão. A diminuição da

principal força de trabalho na região também afetava diretamente o sustento e o cotidiano dos

moradores. Fome, medo, viagens que não partiram entre os rios amazônicos, moradores sitiados

emergiam dos relatos sobre a epidemia. Essas, entre tantas outras, eram cenas desenhadas nas

missivas enviadas ao governo metropolitano.8

Este trabalho trata das múltiplas ações e estratégias9 ensejadas pelas autoridades locais e

metropolitanas para solucionar os problemas ocasionados pela epidemia de sarampo (1748-1750) na

Capitania. Trata-se de perceber como essas ações foram gestadas a partir das demandas que iam

sendo tensionadas pela elevada mortalidade indígena na região. Nesse sentido, também trilharemos

o esforço de compreender como essas demandas foram representadas pelos agentes coloniais em

suas correspondências com a Coroa e em que medida elas definiram as soluções ensejadas pela

Corte para sanar os problemas acarretados pela epidemia na região.

Desta forma, entendemos os diferentes sujeitos que compunham as diversas instâncias de

poder no Estado colonial enquanto agentes capazes de fazer escolhas e tomar decisões10 e que, no

desenvolvimento de um acontecimento traumático e mórbido, como a incidência de uma epidemia,

acionaram diferentes mecanismos e estratégias a fim de contornar os inúmeros problemas

decorridos da mesma. É a partir dessa complexa teia de relações e tramas estabelecidas entre

diferentes instâncias do Estado colonial que analisaremos nas próximas linhas como os agentes

administrativos, dos lados do Atlântico, lidaram com os problemas ensejados pela epidemia de

sarampo na capitania do Grão-Pará.

7 Refiro-me a Capitania do Grão-Pará. Ao longo do trabalho também poderei utilizar Grão-Pará para me referir ao Estado, nesse caso, se fará a devida referência. 8 Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013,CX.31, D.2910; Carta dos oficiais da Câmara da cidade de Belém do Pará para o rei D. João V, em 30 de maio de 1749. AHU_ACL_CU_013,CX.31, D.2917. Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 13 de agosto de1750. AHU_ACL_CU_013,CX.31, D.2982. 9 Para Barth, as ações dos agentes sociais são frutos de suas escolhas e de suas estratégias, as quais são tomadas de acordo com os recursos que possuem. Essas ações e estratégias são permeadas pelas incertezas e imprevisibilidades contidas nas relações entre os indivíduos na sociedade. Ainda segundo o antropólogo, a sociedade é formada por sistemas sociais que são, em grande medida, fraturados por incoerências e fragmentos.. Desta forma, o comportamento social não é resultante de uma obediência rígida e mecânica a um sistema de normas pré-estabelecido. Cf: BARTH, Fredrik. Process and form in social life. Vol.1, London: Routlegde & Kegan Paul, 1981, p. 34 apud MONTEIRO, Lívia Nascimento. Entre escolhas e incertezas: A utilização da abordagem micro-analítica na História Social. Anais do II

Colóquio do LAHES: Micro História e os caminhos da História Social, 2008. 10 Cf: BARTH, Fredrik. “or um maior naturalismo na conceptualização das sociedades. IN: BARTH,F. e LASK, T. (Org). O Guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro, Contra Capa Livraria. 2000. p. 167 -186.

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Sobre os lastimosos efeitos da Epidemia de Sarampo (1748-1750)

Antes de analisarmos quais eram os principais desdobramentos da epidemia de sarampo,

apresentados pelas autoridades locais e de que forma apresentavam, é necessário que se faça

algumas ressalvas a respeito da relação direta que se tece entre mortalidade indígena e surtos

epidêmicos, sem maiores problematizações, para não incorrermos em análises generalizantes.

As aldeias constituíam-se em espaços privilegiados para a disseminação de doenças, pois

nessas localidades inúmeros nativos entravam em contato com europeus e africanos, contaminando-

se com agentes patológicos alienígenas.11 Não à toa, é que alguns relatos contemporâneos ao surto

de sarampo chegaram a afirmar que “não houve tapuia, ou quem dele tivesse sangue, que não

padecesse da força deste contágio”.12Apesar do tom de exagero empregado na afirmativa, ela nos

dá alguns indícios dos efeitos nefastos da epidemia nos índios, os quais eram considerados menos

resistentes ao surto.

Alguns estudos acerca do impacto populacional das doenças sobre os índios, no período pós

conquista, salientam o fator de imunodeficiência genética desses grupos como elemento primordial

para a depopulação ocasionada pelas epidemias. Segundo alguns autores, os índios eram incapazes

de desenvolver uma resposta imune eficiente quando expostos a agentes infecciosos estranhos.13

Essa maior suscetibilidade dos índios às doenças poderia ser explicada a partir de uma reduzida

diversidade genética dos mesmos, resultante de longos períodos de isolamento de outros grupos

humanos e ausência de animais domésticos entre os nativos.14

No entanto, a hipótese de uma maior suscetibilidade dos índios em relação às doenças não é

consenso entre os pesquisadores. Outros fatores tais como o estado nutricional da população bem

como a sua organização social e cultural, devem ser igualmente levados em consideração para a

compreensão da grande mortalidade indígena durante a ocorrência de surtos epidêmicos.15 Deve- se

destacar ainda, que se por um lado as doenças tiveram papel importante na queda demográfica dos

índios, fatores como escravidão, trabalho e migração forçados, além do uso da violência, tiveram 11 RAMINELLI, Ronald. Depopulação na Amazônia Colonial. XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais.

Anais. Belo Horizonte: ABEP, 1988, p. 362. CROSBY, Alfred. Conquistador y pestilencia: the first New World pandemic and the fall of the great Indian empires. The Hispanic American Historical Review, Durham, v.47, n.3, p.321-337. 1967. 12Biblioteca Nacional de Portugal. Noticia verdadeyra do terrivel contagio, que desde Outubro de 1748. ate o mez de Mayo de 1749. tem reduzido a notavel consternaçaõ todos os Certões, terras, e Cidade de Bellém, e Graõ Pará, extrahida das mais fidedignas memorias / [Manuel Ferreira Leonardo] 13 GURGEL, Cristina Brandt Friedrich Martin. Índios, jesuítas e bandeirantes: medicinas e doenças no Brasil dos

séculos XVI e XVII. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências Médicas ,Universidade Estadual de Campinas ,Campinas. 2009, p. 31. CROSBY, Alfred. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa, 900-1900. Trad. José Augusto Ribeiro, Carlos Afonso Malferrari, São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 14 GURGEL, Cristina Brandt Friedrich Martin, op cit, p. 31. 15 COIMBRA, Jr, Carlos. O Sarampo entre sociedades indígenas brasileiras e algumas considerações sobre a prática da saúde pública entre estas populações. In: Cadernos de Saúde Pública, vol. 3, no 1, Rio de Janeiro, Jan/Mar, 1987, p. 22.

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consequências negativas no quadro populacional desses grupos.16Apesar do sarampo não ter sido o

único fator de decréscimo populacional indígena, certamente também contribuiu de maneira

importante para esse quadro.

Feitas as ressalvas, agora podemos descortinar quais eram as principais consequências

apontadas pela administração local, em decorrência da ausência de “braços” atribuída ao sarampo.

“O deplorável estado da Capitania”

Em diferentes missivas enviadas à Metrópole a respeito da epidemia de sarampo, as

autoridades coloniais descreviam que a capitania encontrava-se em “ruína e decadência”, as quais

eram resultantes da elevada mortalidade indígena causada pela doença. Destacavam as

consequências da “ausência de braços” nas atividades produtivas da região, na mobilidade dos

moradores e também os possíveis abalos na rendas reais da Coroa portuguesa.

Um dos principais reflexos da falta de “braços”, devido à epidemia, seria sentido no

desenvolvimento das atividades de extração das Drogas do Sertão. Gorjão informava que os

moradores da capitania não dispunham de braços para executar a extração dos produtos da floresta.

Além da ausência de força de trabalho para a coleta dos frutos, 17 acrescenta-se, ainda, que os

moradores não sabiam se locomover pelos rios até o Sertão, o que também lhes impedia de

aproveitar a safra dos gêneros.18

Os indígenas possuíam suma importância na extração dos gêneros, pois eram eles que

detinham o conhecimento acerca dos produtos das florestas, das rotas que deveriam seguir para

alcançá-los, os períodos de maior safra, os métodos para beneficiá-los, além do que, eram os índios

que guiavam as canoas pelos rios adentro, a mão-de-obra que garantia a alimentação dos chefes das

expedições de coleta e lhes proporcionavam proteção contra outro grupos indígenas que

manifestassem resistência a presença dos mesmos.19

O provedor da Fazenda Real na capitania dava conta ao Ministro da Fazenda e Ultramar,

Diogo de Mendonça Corte Real, que além dos moradores não disporem de índios para os serviços

16 LIVI-BACCI, Massimo, The population of Mainas, UpperAmazon, in the XVIII Century. comunicação apresentada no X Congresso da Associação de Demografia Histórica (ADEH), Albacete- Espanha, 2013.p. 9; RAMINELLI, Ronald. Depopulação na Amazônia Colonial. XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais. 17 É importante destacar que enquanto produtos como o cravo e a salsa destinavam-se, sobretudo, ao comércio internacional, uma parte das atividades de coleta estava voltada para o mercado interno. O breu é utilizado para calafetar canoas; parte da produção de andiroba e copaíba era transformada em óleos consumidos internamente, tanto para os cuidados do corpo quanto para iluminação. Nesse sentido ver: COELHO, Mauro Cezar. Do Sertão para o Mar.

Um estudo sobre a experiência portuguesa na América, a partir da Colônia: o caso do Diretório dos Índios

(1751-1798), p. 239-240. 18 Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013, Cx. 31, D. 2910. 19 COELHO, Mauro. Do Sertão para o Mar Um estudo sobre a experiência portuguesa na América, a partir da

colônia: o caso do Diretório dos Índios (1751-1798), op. cit, p. 99.

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de extração das drogas e de suas lavouras, a carência dessa mão-de-obra ainda interferia na

mobilidade desses sujeitos. Pois, para se locomoverem até a cidade, devido à falta de índios para

remarem as canoas, os moradores se reuniam com alguns vizinhos e todos dividiam a mesma

embarcação, com os poucos servos que ainda possuíam.20

A carência da principal força de trabalho na região também poderia significar riscos à

própria subsistência dos moradores. Pois, ainda de acordo com Gorjão, os moradores não sabiam

beneficiar as suas terras, nem mesmo para “manterem seu sustento ordinário”.21

O governador Mendonça Gorjão alertava que a penúria em que o Estado se encontrava não

afetava apenas a produção e subsistência dos moradores, mas também poderia significar abalos

diretos nas rendas reais. Alegava o governador que a diminuição de braços indígenas poderia

acarretar consequências diretas no rendimento dos dízimos,22 pois “estes eram pagos com os

gêneros que produziam os moradores, sejam nas suas fazendas, engenhos ou dos Sertões”. 23

Desta forma, para além da desorganização nas atividades produtivas na capitania e também

de subsistência dos moradores, apontadas nos registros à Coroa, a epidemia também poderia

prejudicar diretamente os rendimentos da Fazenda Real. Outra faceta do surto era igualmente

destacada nos relatos que tratavam do “Sarampo Grande. A epidemia se fazia sentir nos lares dos

moradores. No rastro das mortes, em função do sarampo, se tinha a possível escassez e carestia de

alimentos e muitos cotidianos alterados. Todas essas questões não passaram despercebidas dos

registros das autoridades locais ao governo metropolitano. Informavam à Coroa sobre “tão infeliz

perturbação”, sobre a qual esperavam os socorros de “Vossa majestade”. Entretanto, não

solicitavam ajuda apenas ao plano terreal, assim como os demais moradores da Capitania,

clamavam também pela intervenção divina sobre “tanta ruína”.24

20 Ofício do provedor da Fazenda Real da capitania do Pará, Matias da Costa e Sousa, para o secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, em 12 de dezembro de 1751. AHU_ACL_CU_013_, Cx.32, D. 3073 21 Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013, Cx. 31, D. 2910. 22 A arrecadação dos dízimos no Estado do Maranhão e Grão-Pará- assim como em outras possessões coloniais- era uma das principais fontes de rendimento da Coroa Portuguesa. A cobrança dos dízimos era feita por meio de particulares, os contratadores, os quais arrematavam em leilões o direito de arrecadarem os impostos para a Coroa por um determinado período. Os arrematadores tinham até três anos para repassarem os devidos valores à Metrópole. Cf: CHAMBOULEYRON, R. I. ; NEVES NETO, R. M. . "Isenção odiosa". Os jesuítas, a Coroa, os dízimos e seus arrematadores na Amazônia colonial (séculos XVII e XVIII). Histórica (São Paulo. Online), v. 37, p. 1-9, 2009. VASCONCELOS, Diogo Pereira Ribeiro de. Breve descrição geográfica, física e política da capitania de Minas

Gerais. Estudo crítico por Carla Maria Junho Anastasia; transcrição e pesquisa histórica por Carla Maria Junho Anastasia e Marcelo Cândido da Silva. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais, 1994, p. 106. 23 Idem 24 Biblioteca Nacional de Portugal. Noticia verdadeyra do terrivel contagio, que desde Outubro de 1748. ate o mez de Mayo de 1749. tem reduzido a notavel consternaçaõ todos os Certões, terras, e Cidade de Bellém, e Graõ Pará, extrahida das mais fidedignas memorias / [Manuel Ferreira Leonardo]

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“Uma geral calamidade: os remédios para tanta ruína”

A Capitania sofria com a força dos males acarretados pela dolorosa epidemia de

sarampo, as quais faziam corpo e alma clamar por socorro. Imagens de indivíduos sendo

acometidos por nódoas e bolhas que lhes desfiguravam a face, com ataques de vômitos e diarreias

de sangue que “pagavam a morte o seu tributo”25 são realçadas nos relatos sobre o contágio de

sarampo. O surgimento de epidemias causavam os mais diferentes sentimentos, dentre os quais se

destacam os episódios de medo e pânico, que transcorriam entre a esfera individual e coletiva.26

Cenas que expressavam tais angústias e medos puderam ser avistadas na cidade de Belém. Essas

experiências traumáticas foram também propulsoras para que se tomassem algumas medidas com o

objetivo de apaziguar as dores do corpo- e também da alma.

Em busca de formas para conter a ocorrência do contágio, ações que iam desde a esfera do

sagrado, com rezas, penitências e sermões, passando por práticas de controle e de isolamento

populacional, até medidas que diziam respeito ao mundo do trabalho na capitania foram

contingenciadas pelo Estado colonial. Ações que foram empreendidas de forma complexa e

multifacetada, as quais foram tecidas diferentes relações sociais, econômicas e políticas no rastro

das mesmas. Sobre essas múltiplas nuances é que iremos nos debruçar a seguir.

Dos sofrimentos do corpo aos clamores públicos

A Capitania sofria com a força dos males acarretados pela dolorosa epidemia de sarampo, as

quais faziam corpo e alma clamar por socorro. Os primeiros sintomas atribuídos ao contágio,

segundo as descrições do governador Gorjão, se davam, primeiramente, a partir de: “(...) uma exasperação de sangue, que resultava em febre, e pela cútis de todo o corpo umas nódoas vermelhas e roxas em que se levantavam umas borbulhas à imitação de Sarampão, de que restabelecidos/ ao parecer/ em poucos dias passados, quinze ou vinte eram acometidos de muita variedade de queixas todas asquerosas, porém as mais ordinárias e perceptíveis, era diarreias de sangue e vômitos com tão arrebatada veemência, que muita quantidade dos pacientes com os primeiros jactos se lhes terminava a vida (...)”27

O Governador aponta em sua narrativa, primeiramente, para a presença de febres e destaca

os elementos sintomáticos mais visuais, como as nódoas e bolhas espalhadas pelo corpo. Essas

25 Biblioteca Nacional de Portugal. Noticia verdadeyra do terrivel contagio, que desde Outubro de 1748. ate o mez de Mayo de 1749. tem reduzido a notavel consternaçaõ todos os Certões, terras, e Cidade de Bellém, e Graõ Pará, extrahida das mais fidedignas memorias / [Manuel Ferreira Leonardo], p. 2. 26DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente (1300-1800). Trad. Maria Lucia Machado- São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 107. 27 Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013,CX.31, D.2910

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bolhas eram comumente atrelados ao sarampo, ou de forma mais genérica a “bexigas”28.

Interessante notar que o próprio Gorjão não conecta a presença das mesmas de forma direta ao

sarampo, mas afirma que as lesões cutâneas se davam de forma semelhante ao “sarampão”.29

Ao citar a presença de uma diversidade de sintomas, os quais apenas os mais notórios seriam

as diarreias de sangue e os vômitos, Francisco Gorjão nos passa a ideia de que havia a manifestação

de outras enfermidades, as quais poderiam ser consideradas mais secundárias. Ainda a esse respeito,

na missiva é assinalada a incidência das, já referidas, diarreias de sangue, um elemento que hoje não

condiz como sendo sintoma típico de sarampo.30

Saliento que não é meu objetivo afirmar que não houve o contágio feito pelo sarampo no

surto epidêmico, correspondente aos anos de 1748-1750, mas que a sua incidência deve ser

problematizada. Ressalto, inclusive, que os relatos contemporâneos à epidemia, a consideram

enquanto sendo de sarampo. Em um documento intitulado “A Noticia verdadeyra do terrivel

contagio, que desde Outubro de 1748. ate o mez de Mayo de 1749. tem reduzido a notavel

consternaçaõ todos os Certões, terras, e Cidade de Bellém, e Graõ Pará, extrahida das mais

fidedignas memorias” é exemplar nesse sentido. Segundo o que informa a “Notícia verdadeira (...)”,

o contágio procedeu “de umas canoas, que vieram do Sertão, cheias de escravos todos

infeccionados pelo sarampo”.31

28 O termo “Bexigas” era genericamente utilizado para se referir a Varíola. No entanto, assim como o termo “viruela”, muito utilizado nos escritos de conquistadores espanhóis, tais denominações não condizem especificamente à doença em si, mas sim fazem alusões ao aparecimento das pústulas na pele dos doentes, que é o sintoma mais evidente, não somente da varíola, mas também do sarampo, varicela ou tifo. Nesse sentido, essas terminações podem ter sido usadas para referir-se a varíola, em grande medida, mas também a essa gama de doenças. Cf: CROSBY, Alfred.Conquistador y pestilencia: the first New World pandemic and the fall of the great Indian empires. The Hispanic American Historical

Review, Durham, v.47, n.3, p.321-337. 1967. p. 324. 29 Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013, Cx. 31, D. 2910. Biblioteca Nacional de Portugal. Noticia verdadeyra do terrivel contagio, que desde Outubro de 1748. ate o mez de Mayo de 1749. tem reduzido a notavel consternaçaõ todos os Certões, terras, e Cidade de Bellém, e Graõ Pará, extrahida das mais fidedignas memorias / [Manuel Ferreira Leonardo] 30 Atualmente, se define sarampo enquanto uma doença extremamente contagiosa e causada por um vírus. É transmitida por meio das gotículas de muco ou salivas expelidas pelo doente, seja pelo contato direto com as secreções do nariz e da garganta das pessoas infectadas e, em menor grau, por via aérea e também a partir do uso de objetos recém contaminados pelas referidas secreções. O período de incubação é em torno de 10 dias, variando de 8 a 13 dias da data de exposição ao contágio, e cerca de 14 dias até erupção. Os sinais precursores da doença podem ser tosses, coriza, conjuntivites e manchas na mucosa da boca. Já na fase aguda, o sarampo é manifestado com febre alta, dor de cabeça, mal- estar, inflamação das mucosas respiratórias, com incidência de catarro e alterações de cor avermelhada na pele, manchas ou bolinhas. As erupções aparecem, primeiramente, na face, dois dias depois a febre e estendem-se ao corpo todo durante 4 a 7 dias. O sarampo pode ser acompanhado de complicações como pneumonias, encefalites, otites, diarreias entre outros. Ver Glossário de doenças: sarampo. Biblioteca de Manguinhos. Acessado em: http://www.fiocruz.br/bibmang/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=108&sid=106 e http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sarampo.htm. 31Biblioteca Nacional de Portugal. Noticia verdadeyra do terrivel contagio, que desde Outubro de 1748. ate o mez de Mayo de 1749. tem reduzido a notavel consternaçaõ todos os Certões, terras, e Cidade de Bellém, e Graõ Pará, extrahida das mais fidedignas memorias / [Manuel Ferreira Leonardo], p.2.

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Além da “Notícia verdadeira do terrível contágio”, outro registro, dessa vez posterior ao

surto, também faz menção ao contágio enquanto sendo de sarampo. O tenente coronel Teodósio

Chermont relatou que:

“teve principio o contágio de sarampo, que se comunicou ao Estado (...). Na cidade, e em todo Estado fez tal estrago, que por isso mereceu o distintivo de ser chamado sarampo grande. Ele não era mortífero por si, mas da disenteria acessória nenhum escapou ”32.

De acordo com Luiz Felipe de Alencastro o sarampo causa uma alta taxa de mortalidade em

adultos, não imunizados e expostos ao agente infeccioso, como comumente acontecia em aldeias

mais isoladas e, principalmente, nos aldeamentos estabelecidos nos entornos dos povoados

coloniais. O autor ainda salienta que a alta incidência de mortes não estava apenas ligada ao

sarampo em si, mas também por causa de sequelas advindas da infecção do mesmo, como as

pneumonias e diarreias33, um elemento sintomático também destacado pelo relato acima do tenente

Teodósio. E no rastro da morte, vinham as súplicas pelo socorro divino.

Ao perceber que a epidemia não cessara, os vereadores da Câmara de Belém solicitaram ao,

então, Bispo Diocesano Dom Fr. Guilherme de S. Jozé que se fizessem preces públicas. O pedido

foi aceito e o prelado aprovou a “diligencia católica, e desejando conceder aos rogos dos aflitos

moradores”. A cidade foi palco para diversas manifestações de fé, súplicas e flagelos públicos.

No dia 6 de Novembro de 1748, poderia ser vislumbradas imagens de manifestação do

sagrado sobre as principais ruas da cidade. Os cônegos da Sé levavam sobre os seus ombros a

Imagem de Nossa Senhora de Belém, a padroeira da cidade. A Imagem de Nossa Senhora de Santa

Ana era levadas pelos Beneficiados; os meninos do coro carregavam a imagem de Santo Antônio e

a de São Sebastião era levada por outros sacerdotes. Esse “glorioso teatro de clamores” recolheu-

se a Catedral da Sé, onde logo no dia seguinte foi iniciado uma série de novenas, “fazendo na missa

sempre em comemoração a peste”. Os religiosos da Companhia de Jesus também mandaram rezar

missas a esse intento, as quais foram pregadas durante três dias pelo padre Gabriel Malagrida e

exposto no Colégio de Santo Alexandre o “Santíssimo Pão dos Anjos”.

E os rogos se multiplicavam pela cidade. Os Capuchos saíram de seu convento em procissão

a meia noite. Todos descalços, com a Imagem de Cristo Crucificado, seguiam para a Igreja da

Misericórdia, onde foi rezada uma missa. Os religiosos seculares da Terceira Ordem realizaram

procissões em três dias distintos. O primeiro dia se direcionaram à Igreja do Rosário dos Brancos.

Na segunda procissão seguiram para a da Misericórdia e ao terceiro dia para a Ermida de São João.

32 CHERMONT, Teodósio Constantino de. Memória dos mais temíveis contágios de bexigas e sarampo d’este Estado desde o ano de1720 por diante. Revista Trimensal do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, Rio de Janeiro, t.48, p.1, p.28-30. Memória transcrita por Alexandre Rodrigues Ferreira em seu Diário da viagem filosófica pela capitania de São José do Rio Negro. 1885, p 29. 33 ALENCASTRO, Luiz Felipe. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.p. 129.

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Levava as “prodigiosas imagens da Senhora da Conceição, do Senhor dos Passos e de São

Francisco”. Dias de fervorosas orações e também de penitências.

Entre os dias 9 e 18 de novembro, os religiosos das Mercês realizaram uma série de preces

em seu convento. Ao final das preces, percorriam descalços as ruas da cidade e ao recolherem-se ao

convento “cantaram a missa do tempo com lagrimas e sentimento”. Os carmelitas, por sua vez, nos

dia 19 até 28 também realizaram várias súplicas em seu convento e ao ultimo dia saíram em

procissão, à meia noite, até a Igreja da Misericórdia. Com a imagem do Nosso Senhor dos Passos,

caminhavam descalços e autoflagelavam-se.

Deve-se ressaltar que o “caráter penitencial” em vias públicas é envolto por uma ideia de

exorcismo. Os cortejos prosseguiam por diversas ruas da cidade de Belém. Era necessário percorrer

diferentes localidades em extensas procissões para que o mal fosse abarcado em sua totalidade.

Muitas eram realizadas em diferentes ações, como missas, novenas e sacramentos

operacionalizados em dias consecutivos, tanto para dar conta das distâncias percorridas como para

socializar ao máximo as imagens do sagrado aos moradores, materializadas em imagens de santos,

cantos, orações e autoflagelos. 34 Era preciso ser persistente e obstinado para conseguir o perdão dos

pecados, e consequentemente, o paziguar da epidemia.

As preces e flagelos poderiam ser observados não apenas nas vias públicas da cidade,

encabeçadas pelas ordens religiosas, mas também no espaço privado, como nos lares dos

moradores, os quais eram palco para muitas rezas e orações35. Das ruas às casas, o sentimento de

sofrimento e esperança no socorro divino se faziam presentes. Ao passo que poderiam ser assistidos

os autos de fé e demais ações de súplicas divinas, outras medidas também eram ensejadas a fim de

conter o alastrar da epidemia pela capitania. Eram delineadas pelas esferas de poder local medidas

de controle e isolamento de possíveis ameaças de contágio na região.

Práticas de fiscalização e de controle em tempos de sarampo

Uma das principais práticas de isolamento em tempos de epidemia é a quarentena, a qual se

caracteriza enquanto uma medida indicada para conter surtos epidêmicos ou evitar que um

determinado agente patológico atinja um território ou um grupo social. As práticas de quarentena

são utilizadas há muito tempo, antes mesmo da descoberta dos micróbios, dos ciclos de doenças e

dos modos de transmissão de agentes infecciosos. 36

De uma maneira geral, a palavra quarentena refere-se ao período de quarenta dias de

isolamento de passageiros e cargas em embarcações, geralmente imposto por autoridades de uma

34 DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente (1300-1800), op. cit., p. 148. 35 Idem. 36SANTOS, Iris de Almeida; NASCIMENTO, Wanderson Flor. As medidas de quarentena humana na saúde pública: aspectos bioéticos, Revista Bioethikos. Centro Universitário de São Camilo, nº8 (2), 2014 p. 174.

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determinada localidade, caso tivessem suspeita da existência de portadores de infecção entre os

passageiros ou tripulantes.37

Por se tratar de um mal altamente contagioso, segundo os relatos documentais da época, o

sarampo instigou algumas estratégias profiláticas por parte da administração colonial, com o

objetivo de amenizar o alastrar do surto. Havia o constante receio de que a epidemia fosse

comunicada às localidades ainda não contaminadas no interior da Capitania bem como para fora

dela.

Temendo que o Sarampo se alastrasse para a capitania do Maranhão, o governador Francisco

Gorjão, em carta ao rei D. João V, informa que assim que pode avaliar os estragos da epidemia na

cidade de Belém, tratou logo de expedir ordens ao Maranhão para que se tomassem os devidos

cuidados para o não alastrar do surto para aquela capitania. Segundo Gorjão, era necessária a defesa

dos portos do Maranhão, “não consentido a entrada de pessoa alguma, sem fazer quarentena fora

de povoado”38.

Internamente, Gorjão também expediu ordens no intento de amenizar a comunicação do

surto pela capitania. O governador direcionou, em grande medida, tais ações para espaços

estratégicos da Capitania, notadamente, às fortificações39 da Capitania.

Em julho de 1749, o governador instrui que Capitão da Fortaleza de Pauxis, Pedro Alvez

Borges, faça uma “exata averiguação” de qualquer canoas que desembarque naquela fortaleza. Caso

fosse verificada a existência de pessoas infeccionadas pela epidemia nessas embarcações, o capitão,

ou qualquer pessoa que em seu lugar servisse, deveria obrigar esses indivíduos doentes a fazerem

quarentena. A ordem expedida para a Fortaleza de Pauxis pode ser entendida também a partir da

importância dessa fortificação para a capitania.

Em 1758, de Pauxis a fortificação passou a ser chamada de Fortaleza de Óbidos, quando o

então governador Francisco Xavier de Mendonça Furtado, deu à aldeia dos Pauxis, o predicado de

Vila, com o nome de Óbidos.40 Para além de sua posição estratégica de defesa da região, o Forte

funcionou como Fortaleza de Registro, com função de fiscalização para cobrança dos dízimos da

37SANTOS, Iris de Almeida; NASCIMENTO, Wanderson Flor, op cit, 175. 38 Apesar da temente recomendação de Gorjão, seus avisos àquela Capitania chegaram tarde demais. Segundo o Capitão Mor do Maranhão, Domingos Duarte Sardinha, em carta para o governador, já constava haver na cidade alguns focos de epidemia, porém com moderação. O mal havia sido comunicado por alguns índios remeiros da Aldeia de Maracú, que ao conduzir um passageiro para a capitania do Grão-Pará, contaminaram-se pelo sarampo. Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013, Cx. 31, D. 2910 39 As fortificações eram construídas em pontos estrategicamente escolhidos, seja para o controle da navegação ao longo dos rios ou mesmo para assegurar a presença portuguesa no território. Houve uma clara política de Estado, apesar dos escassos recursos metropolitanos, no sentido de assegurar a posse do vasto território da Amazônia Colonial. REZENDE, Tadeu Valdir Freitas de. A conquista e ocupação da Amazônia brasileira no período colonial: a

definição das fronteiras. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, 2006, p.127. 40 CRUZ, Ernesto. História do Pará. 1º vol. Governo do Estado do Pará, 1973, p. 49.

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Coroa, das embarcações que percorriam o rio Amazonas, inclusive as que se direcionavam para as

Capitanias de Mato Grosso ou São José do Rio Negro.41

Para além de ser um local de grande movimentação de pessoas, a Fortaleza de Pauxis

desempenhava um importante papel de defesa e fiscalização na Capitania, o que explica, em grande

medida, os cuidados emanados do governador para essa localidade em tempos de surto. Gorjão não

apenas alertava a necessidade da prática de quarentena, caso houvesse necessidade, na Fortaleza,

como também especificava alguns cuidados que se deveriam ter na execução de tal medida.

O governador alertava que era necessário cuidado na escolha do sítio para quarentena. O

local não deveria ter qualquer tipo de comunicação com a Fortaleza e nem com aldeias vizinhas.

Caso os quarentemados precisassem de algum mantimento, era indicado que o Capitão comprasse a

sua custa e os mandasse entregar com a maior cautela possível. A entrega dos mantimentos também

era acompanhada por uma instrução informando para onde, depois de retiradas as pessoas do

isolamento, as mesmas deveriam ser conduzidas. 42 As medidas de isolamento e quarentena trazem

consigo, para além do isolamento de grupos de indivíduos considerados enquanto ameaça de

contaminação do surto, um maior controle do ir e vir de pessoas na Capitania.

Em 27 de fevereiro de 1749 foi registrada uma portaria para o capitão da Casa Forte do Rio

Guamá, Luís de Moura, para o mesmo tivesse todo o cuidado com as pessoas que transitassem pela

fortaleza43. A referida fortificação localizava-se próxima aos afluentes do rio Guamá, no caminho

da chamada estrada do Maranhão44. Tal denominação dava-se por ser rota para aqueles que “vão e

vem do Maranhão para o Pará” por caminho de terra.45

A casa Forte do Rio Guamá era uma pequena fortificação,46 no entanto, situada em um local

de intensa movimentação de pessoas, já que era um dos principais elos de comunicação com a

Capitania do Maranhão. E como já mencionado, havia por parte do governador um temor que o

sarampo se alastrasse pela capitania do Maranhão. Gorjao alertava em sua portaria que não havia

tido diminuição alguma do Contágio na Capitania, ao contrário, nela “se experimentava com toda a

força”, o que requeria a maior vigilância possível para que o “Mal não se comunicasse ao

Maranhão”. Assim, o governador ordenou ao capitão Luis de Moura que ficasse proibida a

41COSTA, Graciete Guerra da. As cidades amazônicas na América portuguesa. Revista eletrônica de Ciências Sociais,

História e Relações Internacionais, Universidade Federal de Roraima, v. 7, n.2(2014), p. 9. 42 Arquivo Público do Estado do Pará. Fundo: Secretaria da Capitania do Pará. Bandos, Representações, Regimentos e Portarias. Códice 55- 1749-1755. 43Idem 44 CRUZ, Ernesto, op. cit, p. 50. 45 DANIEL, João. Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas. Vol.I. Rio de Janeiro:Contraponto, 2004, p. 67. 46 ARAÚJO, Renata. A Razão na Selva e a Reforma Urbana de Pombal. Revista de Letras e Culturas Lusófonas, Instituto Camões, nº15-16, jan/ jun de 2003, p. 163

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circulação de qualquer indivíduo pela Casa Forte do Rio Guamá, a não ser que apresentasse

autorização- licença- do mesmo por escrito. 47

As ações de um maior controle e de vigilância da movimentação de pessoas, empreendidas

pelo governador, não eram dadas ao acaso. Os exemplos acima citados nos revelam que as ações de

Gorjão foram direcionadas a locais estratégicos: duas Fortalezas. No entanto, não queremos aqui

afirmar que as ações do governador se deram apenas nesses espaços, mas salientar que havia um

direcionamento mais específico para tais lugares. As fortificações eram de suma importância para a

Capitania e consideradas notáveis rotas de movimentação de pessoas.48

Não era apenas a epidemia de sarampo (1748-1750) a propulsora para as ações de vigilância

sobre a entrada e saída de pessoas na Capitania. As ações ordenadas por Gorjão também eram

imbuídas de uma preocupação a respeito do controle sobre mão-de-obra indígena e suas formas de

aquisição.

Apesar dos esforços empreendidos pelo governador em controlar o trânsito de pessoas na

capitania, inúmeros indivíduos circulavam sem licença pelos rios, igarapés e demais espaços da

região, na maioria das vezes, longe dos olhos das autoridades, comerciando com grupos indígenas,

coletando as drogas do sertão ou visitando parentes que moravam em lugares distantes (ROLLER, p

29).

Podemos compreender essa maior vigilância sobre a movimentação, principalmente de

indígenas, não apenas como uma forma de amenizar o alastrar do surto, mas também a partir de

outra faceta que o sarampo instigou: a mobilidade indígena a partir das fugas. Segundo os relatos de

João Daniel: “Costumavam porém neste tempos os índios que estão nas aldeias retirar-se aos seus

sítios, que têm dispersos pelos matos, e neles escapam muito bem”. As fugas certamente também

demandavam um maior controle por parte da administração colonial sobre a mobilidade dos

indígenas.

Para além da movimentação de pessoas e mercadorias, esse processo de ir e vir pelos sertões

e rios adentro, em tempos de epidemia, poderia instigar o alastrar do surto para localidades ainda

não contaminadas. Ainda sobre o rastro da fala de João Daniel, podemos perceber que não raro

foram os casos em que os moradores (colonos), ao irem aos sertões em sua canoas, para coleta das

drogas ou para o resgate de índios, introduziram nesses locais “a peste com grandíssimo

47 Arquivo Público do Estado do Pará. Fundo: Secretaria da Capitania do Pará. Bandos, Representações, Regimentos e Portarias. Códice 55- 1749-1755. 48Segundo Heather Roller, as fortalezas podem ser consideradas como rotas transamazônicas, pois constituíam pontos de encontro específicos ao longo do rio Amazonas e os quais eram palco para diversos contatos sociais e comerciais em uma região tão vasta. ROLLER, Heather. Migrações Indígenas na Amazônia do século XVIII. In: CANCELA, Cristina & CHAMBOULEYRON, Rafael (orgs.). Migração na Amazônia. Belém: Ed. Açaí/Centro de Memória da Amazônia, 2010, p. 33.

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incomodo”.49 No entanto, não eram apenas os moradores responsáveis pelo alastrar da epidemia

pelos sertões.

O processo de fuga dos índios para a floresta também era um elemento desencadeador do

surto. Pois, aqueles indivíduos que tivessem contaminados, porém sem sintomas aparentes (pústulas

sobre a pele) devido ao período de incubação da doença, poderiam comunicar a infecção a

indivíduos saudáveis, que nada sabiam sobre a ameaça de contágio que os mesmos poderiam

representar.50

Gorjão justificou a necessidade de maior vigilância e controle sobre a movimentação dos

indivíduos que “poderiam resultar em algum mal contagioso” a partir dos prejuízos já causados pela

contaminação da epidemia na capitania.51 As práticas de isolamento ordenadas pelo governador

foram muito mais informadas ao passo das circunstâncias, à medida que o surto se expandia, do que

por um direcionamento ou planejamento voltado à saúde pública. Mesmo com a execução de tais

medidas, o curso da epidemia na capitania não foi alterado, ao contrário, continuou com

veemência.52

Reconfigurações populacionais: negros da terra, escravos africanos e povoadores açorianos.

A incidência da epidemia de sarampo (1748-1750) não apenas instigou a tomada de medidas

do Estado voltada às práticas de maior fiscalização e de quarentena na Capitania do Grão-Pará,

como também intensificou a demanda por mão de obra na região. Não foram raras as queixas dos

moradores, do governador e dos vereadores em relação à falta de braços para o trabalho nas

fazendas, nas expedições aos sertões, na locomoção entre os rios amazônicos e demais serviços,

sobretudo devido a elevada mortalidade indígena ocorrida durante o contágio.

Uma das ações engendradas, no intuito de recompor a força produtiva da região, consistia na

aquisição de mais índios, tendo em vista a alta dependência que os moradores possuíam dos

nativos.53 Os vereadores da Câmara, em uma missiva enviada ao rei D. José I em setembro de 1750,

informavam que a epidemia de sarampo havia feito um tão “considerável estrago na escravatura,

49 DANIEL, João, op. cit, p. 385. 50 CROSBY, Alfred. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa, 900-1900, op. cit, p. 211. 51 Arquivo Público do Estado do Pará. Fundo: Secretaria da Capitania do Pará. Bandos, Representações, Regimentos e Portarias. Códice 55- 1749-1755 52 “É uníssono na Ciência que a prática de quarentena humana e de isolamento não altera o curso de uma epidemia, representando apenas uma primeira barreira a um surto epidêmico”. SANTOS, Iris de Almeida; NASCIMENTO, Wanderson Flor, op.cit, p. 182. 53 Em momentos de crise de oferta na mão de obra indígena, ocasionada por epidemias, era comum a intensificação na realização de descimentos e incursões pelos sertões por meio de tropas de resgates. Cf: RAMINELLI, Ronald. Depopulação na Amazônia Colonial, op. cit., p. 1370-1371. MONTEIRO, John M. Negros da terra (índios e

bandeirantes nas origens de São Paulo). São Paulo: Cia. das Letras, 1995, p. 56-58.

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dos quais estão os moradores tão destituídos que se vem as suas lavouras e cultura sem benefício

algum”. 54

E para reparar “tão grande dano” solicitavam ao rei D. José I autorização para aquisição de

índios por meio de “algumas Tropas de resgates”. Salientavam, no entanto, que tal medida já havia

sido requerida por muitas vezes ao governador Francisco Gorjão e que, em todas elas, os seus

pedidos foram revogados, com a justificativa de que a Coroa portuguesa havia mandado impedir as

ditas Tropas. 55

A justificativa do governador estava pautada em uma provisão (21 de março de 1747)

emitida pela Coroa, na qual foi declarada a proibição da Junta das Missões em conceder licenças

para particulares realizarem descimentos, sem que para isso houvesse antes determinação régia.

Também nessa provisão ficaram declaradas nulas todas as licenças dadas aos moradores pela dita

Junta. A decisão régia ainda determinava que não fossem expedidas tropas de resgates sem que

houvesse, primeiramente, um parecer da Junta, analisando a conveniência de serem mandadas, o

qual deveria ser enviado ao rei para que o mesmo decidisse se deveria ou não ser expedidas.56

Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, ainda em seu primeiro ano enquanto governador

(1747-1751), em resposta a Provisão régia, tentou argumentar acerca da idoneidade da Junta, a qual

não estaria exorbitando as suas atribuições. Gorjão também sublinhava o “grande prejuízo que

ocorreria se fossem colocados em liberdade todos os índios que houvesse sido cativos mediante as

licenças da Junta, por serem a maior parte dos escravos naquele tempo feitos naquela forma”57.

Gorjão se referia as licenças concedidas pela Junta, para a realização descimentos de índios dos

sertões pelos moradores, os quais muitas vezes utilizavam essa mão de obra como se ela fosse

escrava.58

No que condizia à pretensa suspensão de resgastes, o governador argumentava que os

mesmos eram importantes para a recomposição da mão de obra para o trabalho, já que em virtude

de uma epidemia (1743-1747) muitos moradores estavam sem “braços” para as lavouras. O

governador ainda atentava em sua narrativa para os riscos que ausência de resgates e descimentos

poderia representar para os domínios das conquistas portuguesas.59 Apesar dos esforços de

54Carta (2ª via) dos oficiais da Câmara da cidade de Belém do Pará, para o rei D. José I, em 15 de setembro de 1750. AHU_ACL_CU_013,Cx.32, D.3001 55Idem. 56 MELLO, Marcia Eliane de Alves de Souza e. Fé e Império: As Juntas das Missões nas Conquistas Portuguesas. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007, p. 262. 57 Idem, p. 263. 58 Ainda mais em tempos de epidemia, no qual a uso da força e violência passavam a ser uma condição necessária para se obrigar os indígenas a se estabelecerem junto às comunidades ou roças dos moradores. Essas práticas muitas vezes se revestiam quase como se fossem uma forma velada de realizar resgate. CHAMBOULEYRON, Rafael; BOMBARDI, Fernanda. Descimentos privados de índios na Amazônia colonial (século XVII e XVIII). Revista Varia História, Belo Horizonte, vol.27, nº46, jul/dez.2011, p. 616. 59MELLO, Marcia Eliane de Alves de Souza e, op.cit,, p.263. Sobre as respostas do Governador dadas à Provisão Régia de suspensão das licenças para descimento particulares e para realização de Tropas de resgastes conferir os seguintes

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convencimento empreendidos por Gorjão, em 1748 a Corte ratificava sua ordem para que não

fossem realizados cativeiros nem descimentos, s quais não se enquadrasse nas normas estabelecidas

em sua provisão régia.60

Em tempos de epidemia, o governador agiu conforme as ordenações régias,61 recusando os

pedidos para a realização de Tropas de resgates, como apontado pelas missivas enviadas pelos

oficiais da Câmara. No entanto, tal medida não impediu que a Câmara enviasse seus requerimentos

à Coroa para a realização de resgaste. Os requerimentos emitidos pela Câmara eram feitos em nome

de “tão necessitados vassalos”.

Para além das tropas, outra medida para solucionar os problemas ensejados pela diminuição

na oferta de mão de obra indígena emergia. Os vereadores assinalavam à Coroa portuguesa que

além da necessidade da autorização para a realização dos resgates, era necessário o reforço de mais

um contingente populacional para recompor a força produtiva da região, pois: “[...] pois a maior parte dos engenhos, mais fazendas se vem hoje despovoadas e como este remédio (tropas) não seja ainda bastante, para a reforma de tantos de milhares de Escravos, que para senão nesta abominável peste, rogamos a V. Majestade se digne mandar algum Navio de pretos, para se repartirem com os moradores [...]”62

Os vereadores não eram os únicos a apontarem em suas missivas a entrada de escravos

africanos na capitania, enquanto uma medida de engrossar os quadros de mão de obra na região em

tempos de sarampo. O governador Francisco Gorjão também construiu uma narrativa em que

pregava a defesa sobre a entrada de braços africanos na capitania, ao menos no discurso, como

poderemos perceber adiante.

O governador afirmava, nas diferentes missivas enviadas endereçadas à Corte portuguesa,

que a solução para se evitar a ruína da Capitania e remediar os efeitos da epidemia que se abatiam

sobre a região residia na inserção novos cativos vindos da África, especialmente, a partir de

algumas carregações de escravos da Costa da Mina, Guiné e de Cacheu. Atentava, no entanto, que

tal entrada deveria ser feita à custa da Fazenda Real. 63No entanto, a proposta feita por Gorjão ao

documentos: Carta do governador e capitão general do Estado do Pará e Maranhão, Francisco de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 28 de outubro de 1747. AHU_ACL_CU_013, Cx. 29, D. 2803. Pode-se ainda cotejar a ressonância da provisão na Câmara de Belém Cf: Carta dos Oficiais da Câmara da cidade de Belém do Pará para o rei D. João V, em 14 de novembro de 1747. AHU_ACL_CU_013, Cx. 29, D. 2815. 60 MELLO, Marcia Eliane de Alves de Souza, op.cit, p. 263. 61 Ressalto que em tempos de sarampo o governador agiu assim, pois enquanto o mesmo aguardava a resposta do reino em relação ás suas pontuações feitas sobre a provisão, o mesmo desconsiderou as ordens de suspensão e expediu uma Tropa para o Rio Branco com aval da Junta das Missões. SWEET, David apud Márcia Mello. Fé e Império: As Juntas

das Missões nas Conquistas Portuguesas. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007. p. 263. 62 Idem. 63Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para o rei D. João V, em 26 de abril de 1749. AHU_ACL_CU_013, Cx. 31, D. 2910. CARTA do governador e capitão – general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, par o rei D. João V, em 13 de agosto de 1750. AHU_ACL_CU_013, CX. 31, D. 2982. CONSULTA do Conselho Ultramarino para o rei D. João V, sobre a

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rei, não passava de mero discurso, pois não apresentava, de fato, o que o governador pensava a

respeito das providências que deveriam ser tomadas em relação aos problemas voltados à força

produtiva na região.

Francisco Gorjão confidenciou em carta ao secretário de Portugal, Pedro Francisco da

Encarnação, que considerava os resgates de índios como a solução para o estado de carência de

“braços” na capitania. Ainda de acordo com o governador, só os índios eram capazes para a

execução dos diversos serviços no Estado- além de sua aquisição ser mais barata e imediata do que

em relação aos escravos africanos. Assim, afirmava que por mais despesas que a Coroa demandasse

para a introdução de “pretos, nunca estes podem ser bastantes a suprir a falta que se experimenta e

só algumas Tropas de resgate (...) é que poderão em parte remediar a indigência destes

moradores”64.

O governador ainda revelava ao secretário os motivos de ter se omitido em falar a respeito

das Tropas de resgate nas informações que dava ao rei D. João V, por meio de seu Conselho

Ultramarino, sobre a elevada mortalidade indígena, derivada do sarampo, pois sabia que: “(...) no Conselho falar-se nesta matéria (resgastes) é além de infrutífera diligencia, arrisca-se muito o crédito, pois entendem que só servem para utilidade dos que governam, e por este causa só aponto o meio dos pretos; porém como V. Rmo devo falar sem o receio de diminuir no conceito de mim (...)”65

Gorjão informava que a sua omissão em relação às tropas de resgate era devido ao receio

que sua imagem diante do Conselho, o qual era contrário à escravização indígena e fomentava a

africana, fosse abalada. O governador tinha plenas razões para temer, pois como já foi sublinhado o

sistema de tropas havia sido proibido pelo rei, em provisão régia em 1747 e ratificada em 1748,

mesmo após as argumentações do governador em relação à importância de realização das tropas

pelos moradores.

O temor do governador em declarar a sua opinião acerca das tropas de resgate, era pautado,

assim, em função dos esforços empreendidos pela Coroa portuguesa em proibir a escravidão

indígena66, os quais Gorjão tinha pleno conhecimento, inclusive na prática. Por outro lado, o

carta do governador e capitão-general do Estado do Maranhão e Pará em 16 de maio de 1750. AHU_ACL_CU_013,Cx.31, D.2976. 64 Arquivo Nacional da Torre do Tombo/Portugal, Ministério do Reino, maço 597, Doc. 02. 65Idem. 66 Interessante notar que as ações da Coroa nesse sentido também podem ser vislumbradas a partir da instituição de três “grandes leis de liberdade” indígena em 1609, 1680 e 1755. Contudo, é importante ressaltar que a legislação indigenista não era aplicada da mesma forma a todos os índios. Assim, para aqueles considerados “aldeados ou aliados” era assegurada a liberdade desde o início da colonização. Uma vez aldeados, eram considerados “senhores de suas terras” e poderiam prestar serviços aos trabalhadores mediante pagamento de salários. Os “aliados” também desempenhavam importante função na defesa contra os estrangeiros e índios inimigos. Por outro lado, se a liberdade era a garantida aos “aldeados e amigos”, por outro a escravidão era o destino dos índios inimigos. Cf: PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios Livres e índiose scravos: Os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, Manuela Carneiro da. (org.) História dos Índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p.117.

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governo metropolitano pregava o fomento à utilização de cativos africanos como meio de recompor

a força produtiva da Capitania.

A respeito da epidemia, o rei D. João V informava ao governador Francisco Gorjão, que

após ter consultado o “seu Conselho”, determinava que se fizesse um assento de escravos para

“irem a esse Estado e que se convide aos Homens de negócio para introduzirem por sua conta

alguns pretos naquelas Capitanias”. D. João V assegurava que não seria imposto direito algum na

entrada dos cativos nas Alfândegas, e que os responsáveis pela introdução dos assentos só pagariam

os direitos sobre os “pretos de Angola”, contratados na saída “daquele Reino”.67

Interessante notar que os pedidos de envio de escravos africanos eram solicitados pelos

moradores e autoridades do Estado do Maranhão e Grão-Pará desde o século XVII, no entanto, a

comercialização de braços africanos só começou a ter um maior volume, a partir da segunda metade

dó século XVIII. Apesar de não desconsideramos a importante presença africana na Amazônia

colonial dos seiscentos, 68 o tráfico negreiro na região começou a ter maior constância e

regularidade com a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão (1755-1777).69

Para além da inserção de cativos africanos, a epidemia de sarampo instigou a entrada de

outro contingente populacional para a Capitania do Grão-Pará. Entretanto, diferentemente do que

ocorrera com os pedidos de escravos africanos, essa demanda não foi evocada por nenhum morador

ou autoridade local, mas sim diretamente orientada pelo Conselho Ultramarino. Em uma consulta

de 1750, os conselheiros recomendavam a respeito da entrada de mil casais das Ilhas de Açores e

Madeira,70 os quais deveriam ser transportados “com maior brevidade para as Capitanias do

Maranhão e Grão-Pará, com a recomendação ao Governador para com eles fazer povoar as terras da

67Arquivo Público do Estado do Pará. Fundo: Secretaria da Capitania do Pará. Bandos, Representações, Regimentos e Portarias. Códice 55- 1749-1755. 68 Segundo Rafael Chambouleyron, apesar de ser incontestável que a principal força de trabalho no Estado do Maranhão e Pará, durante o século XVII, foi a indígena, por outro lado, não podemos desconsiderar a presença africana na região. Deve-se levar em consideração as especificidades dos processos históricos das conquistas portuguesas na Amazônia colonial para que não se caía na ideia de um vazio demográfico voltado aos africanos no Estado do Maranhão. CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlântico equatorial: tráfico negreiro para o Estado do Maranhão e Pará (século XVII e início do século XVIII). Revista Brasileira de História. vol. 26 no.52 São Paulo Dez. 2006. 69 Segundo José Ribeiro Junior um dos instrumentos utilizados para executar o plano mercantilista de D. José I foram as companhias de comércio. Tinha-se por objetivo englobar boa parte das áreas onde Portugal possuía colônias. Abrangendo boa parte da América Portuguesa, foram criadas as Companhias do Grão-Pará e Maranhão (1755-1777), e Pernambuco e Paraíba (1759-1780). RIBEIRO JR, José. Colonização e monopólio no Nordeste brasileiro: as

Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, 1759-1780. São Paulo: HUCITEC, 1976, p.49-50. 70 A presença de açorianos no Estado do Maranhão e Grão-Pará remonta ainda ao século XVII. Chambouleiron aponta que ao contrário do que ocorrera com o soldados e degredados, a maiorias dos açorianos era quem pedia a autorização à Coroa para migrarem das ilhas devido a problemas causados por desastres naturais, como terremotos, por exemplo. Ainda de acordo com Chambouleyron a ida de açorianos para o Estado do Maranhão, patrocinada pela Coroa, se efetivava em razão de uma confluência de necessidades entre os dos lados do Atlântico. De um lado a situação difícil e de risco em que viviam esses sujeitos nas Ilhas e por outro lado a grande necessidade e importância de ocupação do vasto território do Maranhão. CHAMBOULEIRON, Rafael. Povoamento, ocupação e agricultura na Amazônia

Colonial (1640-1706). Editora Açaí, 2010, p.62-72.

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Coroa da França”. O conselho atentava que a execução desta ordem deveria ser feita pelo

Governador, o qual seria o responsável pela distribuição efetiva desses imigrantes na região.

Ainda no ano de 1750 houve um contrato para o transporte de mil açorianos para a

Capitania, o qual foi arrematado pelo assentista José Alvez Torres. No entanto, não foram

encontrados dados que possibilitem inferir a quantidade de açorianos vindos à Capitania.

Entretanto, pode-se perceber que a distribuição desses colonos foi direcionada para áreas bem

delimitadas pelo governo local, a partir das ações do governador Mendonça Furtado. Vejamos

No ano de 1751, o rei D. José I incumbiu ao Governador Mendonça Furtado a

responsabilidade sobre a distribuição efetiva desses imigrantes. O rei atentava para a importância e

a necessidade desses colonos para o povoamento e defesa do território, especialmente, as terras do

“Cabo Norte (...) evitando por esta forma as desordens e conquistas que por esta parte fazem os

franceses e holandeses (...)”.Em dezembro deste mesmo ano, o governador Mendonça Furtado já

havia alocado muitas famílias para Macapá.71Em outubro de 1753, acatando as ordens reais,

Mendonça Furtado escreve ao rei D. José I acerca da distribuição que considerava mais pertinente

dos casais açorianos pelas povoações do interior da Capitania. O governador elencava a recém-

fundada vila de Bragança, a Casa Forte do Guamá, a vila de Ourém, uma vila no rio Xingu e uma

povoação no rio Tapajós como lugares importantes para colonização e ocupação desses açorianos. 72

Importante destacar que os contingentes de colonizadores, especialmente do caso aqui

tratado de imigrantes açorianos, foram distribuídos na Capitania para áreas bem delimitadas a partir

de critérios pautados no fomento à agricultura e defesa das fronteiras. Pautas essas que faziam parte

da agenda política ensejada durante a atuação do gabinete Josefino e com as medidas reformistas do

secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e de Guerra, o futuro Marquês de Pombal.

Desta forma, se a epidemia assumiu um papel desencadeador para essas medidas, a forma

como elas foram estabelecidas e executadas foram- também- em consonância com as ações políticas

de caráter reformistas levadas a cabo por Francisco Xavier de Mendonça Furtado na capitania.73 O

que não quer dizer que a política pombalina na região foi ensejada por uma via única, mas sim

71 Ofício do Provedor da Fazenda Real da capitania do Grão-Pará, Matias da Costa e Sousa, para o secretário de Estado da Marinha e Ultramar, Diogo de Mendonça Corte Real, em 12 de dezembro de 1751. AHU_ACL_CU_013, Cx. 32, D. 3074. 72 Carta do governador e capitão general do Estado do Maranhão e Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, para o rei D. José I, em 11 de outubro de 1753. AHU_ACL_CU_013, Cx. 32, D. 3251. 73 Essas reformas pombalinas, levadas a cabo por Francisco Xavier de Mendonça Furtado correspondiam a uma gama de questões, entre elas: a redefinição da estrutura político- administrativa; a questão da liberdade e civilidade dos índios; o conflito com os jesuítas- que culminou com a expulsão desses últimos-; o fomento a ocupação e povoamento, às atividades econômicas; a questão da defesa e ocupação do território, ligada a demarcação e consolidação dos limites do território estabelecidos pelo Tratado de Madri (1750); a criação da Companhia Geral de Comércio do Grão- Pará e Maranhão (1755); a fundação de novos povoados e a criação de vilas. Cf: COELHO, Mauro. Do Sertão para o Mar

Um estudo sobre a experiência portuguesa na América, a partir da colônia: o caso do Diretório dos Índios (1751-

1798) Op. cit; SILVA, José Manuel e. O modelo Pombalino de colonização da Amazônia. Texto apresentado na Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra. Coimbra: Univ, Coimbra- C.H.S.C, 2002.

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enquanto uma confluência de interesses e demandas dos dois lados do Atlântico, na qual os

desdobramentos do “Grande Sarampo” também se configuraram como um problema que o

gabinete pombalino herdou74 e exigiu soluções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não foram raras as vezes em que correspondências de administradores coloniais

atravessaram o Atlântico para informar à Coroa portuguesa a respeito do “fatal estrago” que havia

causado a epidemia de sarampo (1748-1750) na Capitania do Grão-Pará. Mais do que descrever

sobre extensas linhas quais eram os principais impactos da epidemia na região, as autoridades locais

também informavam a respeito das ações realizadas a fim de amenizar o alastrar do surto e os

percalços decorrentes do contágio.

A elevada mortalidade, sobretudo de indígenas, era a principal tônica evidenciada nas

missivas administrativas endereçadas ao gabinete real português. Alegavam que a incidência da

epidemia na principal força produtiva da região trazia grandes danos à economia da capitania e

também à própria subsistência dos colonos. A inserção de novos cativos africanos para o Grão-

Pará foi apontada pela Coroa portuguesa enquanto solução para a carência de mão de obra na

região. Por outro lado, mas de forma interligada, o surto também ensejou ensejar a entrada de

contingentes de colonizadores, especificamente, de imigrantes açorianos, com vistas ao fomento à

agricultura e defesa das fronteiras.

Entretanto, era preciso mais do que orquestrar ações que dessem conta de suprir as

necessidades de mão de obra na região. Era necessário tentar conter o surto. O governador da

capitania ordenou que fossem mais fiscalizadas algumas fortalezas da região, tendo em vista serem

lugares estratégicos e grande movimentação de pessoas. Qualquer ameaça de contágio deveria ser

colocada sobre observação e em quarentena antes de adentrar aos interiores da região.

A epidemia de sarampo (1748-1750) ensejou mais do que ações, por parte do Estado,

voltadas ao restabelecimento da força produtiva e às práticas de maior fiscalização na região. Foram

constituídas diferentes estratégias e relações para lidar com acontecimento mórbido que ocorria, as

quais dialogavam também com o sagrado. Missas, cortejos religiosos, preces e penitências foram

realizadas, as quais se constituíam em tentativas de rogar aos céus por “tanto estrago”. Os clamores

e temores não passaram despercebidos pelas penas dos vereadores e do governador. Esses sujeitos

solicitavam apenas o “Real socorro” aos problemas terrenos da Capitania. Elucidavam os dolorosos

sintomas e grande malignidade do contágio como também recorriam ao plano celeste em busca de

afago, o que nos desvela processos complexos e multifacetados instigados pela epidemia.

74ALDEN apud CHAMBOULEYRON, Rafael; BARBOSA, Benedito; BOMBARDI, Fernanda & SOUZA, Claudia Rocha. “Formidável contágio”: epidemias, trabalho e recrutamento na Amazônia colonial (1660-1750) op. cit., p. 995.

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