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Dal Bianco, Fortunato & Ioriatti Sociedade de Advogados EXCELENTÍSSIMO JUIZ DA VARA FEDERAL DE ERECHIM/RS Ação Monitória n° 5002391-91.2011.404.7117 Autor: Caixa Econômica Federal Réus: Artfer Esquadrias Metálicas Ltda. e outros Objeto: Embargos à Ação Monitória ARTFER ESQUADRIAS METÁLICAS LTDA, qualificada nos autos em epígrafe da ação monitória que lhe move a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, também devidamente qualificada, vem respeitosamente à presença de V. Exa., por seus procuradores firmatários apresentar EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA o que faz pelos fatos e fundamentos que passa a expor. 1 RAZÕES DE FATO E DE DIREITO Primeiramente cumpre observar, sem a necessidade de profundas observações a respeito, que o contrato que ora serve de pretenso título monitório é um típico contrato de adesão, no âmbito de uma relação de consumo, o que impõe ao julgador decidir as questões deste processo à luz do Código de Defesa do Consumidor, o que se requer desde já. Dal Bianco, Fortunato & Ioriatti Sociedade de Advogados – Rua Euclides da Cunha, 386, Centro, Erechim – RS – CEP 99.700-000 Ademir Dal Bianco OAB/RS 75.841 B - Silvio Fortunato OAB/RS 61.153 – Rafael Ioriatti da Silva OAB/RS 66.268 – Fone: (54) 2106-8260

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EXCELENTÍSSIMO JUIZ DA VARA FEDERAL DE ERECHIM/RS

Ação Monitória n° 5002391-91.2011.404.7117

Autor: Caixa Econômica Federal

Réus: Artfer Esquadrias Metálicas Ltda. e outros

Objeto: Embargos à Ação Monitória

ARTFER ESQUADRIAS METÁLICAS LTDA, qualificada nos autos em epígrafe da ação monitória que lhe move a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, também devidamente qualificada, vem respeitosamente à presença de V. Exa., por seus procuradores firmatários apresentar

EMBARGOS À AÇÃO MONITÓRIA

o que faz pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

1 RAZÕES DE FATO E DE DIREITO

Primeiramente cumpre observar, sem a necessidade de profundas observações a respeito, que o contrato que ora serve de pretenso título monitório é um típico contrato de adesão, no âmbito de uma relação de consumo, o que impõe ao julgador decidir as questões deste processo à luz do Código de Defesa do Consumidor, o que se requer desde já.

Dito isto é de se reconhecer que, de fato, a ré, ora embargante, que é uma empresa pequena, na condição de destinatária final, assinou o contrato de empréstimo para capital de giro flutuante com a autora, ora embargada, entretanto, sem possuir condições técnicas de aferir a legalidade das cláusulas impostas e de prever as conseqüências danosas que viriam a decorrer de todas essas abusividades.

A onerosidade excessiva daí decorrente tornou a prestação inexeqüível, fato este que se tornou perceptível no decorrer da contratualidade e obrigou a embargante a deixar de efetuar os pagamentos, originando a pretensão da cobrança judicial por parte da fornecedora de serviços, sendo que esta optou pela via monitória.

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De outra banda surge também a pretensão de revisão por parte da consumidora, para que a justiça declare a abusividade das cláusulas que prevêem obrigações manifestamente excessivas. Tal pretensão também é meio de defesa quando serve para demonstrar a improcedência total da demanda inicial ou o excessivo valor que está sendo cobrado, sendo perfeitamente possível de se deduzir em sede de contestação, da mesma forma em embargos à ação monitória, tendo esta qualquer das naturezas possíveis.

Desta forma passa-se a atacar as cláusulas contratuais de forma a demonstrar as cláusulas abusivas que apresentam onerosidade excessiva e depois algumas considerações de natureza processual.

1.1 Considerações de fato e de direito material

Neste subtítulo se demonstrará, articuladamente, a presença de abusividades em várias cláusulas do contrato em questão, que devem ser declaradas por V. Exa. para que se faça a justiça.

1.1.1 Do excesso nos juros remuneratórios

A CLÁUSULA QUARTA do contrato estabelece taxa efetiva mensal de 2,21% de juros ou 29,993% ao ano na modalidade pós fixada (capital de giro flutuante).

Os juros remuneratórios merecem ser limitados quando superiores à taxa média praticada no mercado nas relações da espécie.

Tal média deve ser aquela praticada na data da contratação, neste caso foi em 02 de junho de 2009.

A média é aferida das informações prestadas pelas instituições financeiras em funcionamento no Brasil perante o Banco Central. Tal informação é extraída do site da autarquia no endereço <http://www.bcb.gov.br/fis/taxas/htms/20090602/tx031040.asp>, o qual apresenta para o dia 02 de junho de 2009 o seguinte:

Ordem Nome da Instituição Financeira % Juros1 BCO BGN S A 1,032 BCO VOLKSWAGEN S A 1,043 BCO INTERCAP S A 1,094 BCO BANESTES S A 1,115 CAIXA ECONOMICA FEDERAL 1,146 BCO DA AMAZONIA S A 1,227 BCO ITAU BBA S A 1,26

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8 BCO RABOBANK INTL BRASIL S A 1,319 BCO BRADESCO S A 1,3110 HSBC BANK BRASIL SA BCO MULTIP 1,3111 BCO DO BRASIL S A 1,3312 BCO TOKYO MITSUBISHI UFJ BRASI 1,3313 BCO SANTANDER (BRASIL) S.A. 1,4214 BCO DES DE MG S A 1,4315 BCO SAFRA S A 1,4416 BCO SUMITOMO MITSUI BRASILEIRO 1,5117 BCO ABC BRASIL S A 1,5418 BCO VOTORANTIM S A 1,5919 NBC BANK BRASIL S. A. 1,6020 BCO RIBEIRAO PRETO S A 1,6721 BCO MERCANTIL DO BRASIL S A 1,7022 BCO FIBRA S A 1,7323 BCO DO EST DO RS S A 1,7524 BCO CITIBANK S A 1,7625 BANCO SOFISA 1,8126 BANCO BONSUCESSO S.A. 1,8827 BCO MERCANTIL DE INVS S A 1,8828 BCO PINE S.A. 1,9129 BCO GUANABARA S A 1,9230 BCO ITAU S A 1,9531 BCO INDUSTRIAL DO BRASIL S A 1,9932 BANCO PORTO REAL DE INVEST S A 2,0033 BCO RURAL S A 2,0534 BCO DAYCOVAL S.A 2,0935 BCO PAULISTA S A 2,1336 BCO INDUSVAL S A 2,4437 BCO INDUSTRIAL E COMERCIAL S A 2,4738 BANCO SEMEAR 2,6439 BCO TRICURY S A 2,7740 BANIF BRASIL 2,8341 BCO BMG S A 2,83  TAXA MÉDIA DO MERCADO 1,7368293

A taxa média do mercado foi calculada pela soma das taxas praticadas pelas quarenta e uma instituições que prestaram as informações ao Banco Central no dia 02 de junho de 2009, dividida por quarenta e um, assim, a taxa média praticada pelo mercado para a data da assinatura do contrato é de 1,7368293%.

É importante assinalar que a embargada informou ao Banco Central (número de ordem 5 na tabela retro) que praticava a taxa de 1,14% ao mês para as operações desta espécie.

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Diante disso, nada justifica o que foi feito no presente caso, onde foi cobrado abusivos 2,21% de juros, assim, os juros devem ser limitados no presente caso por V. Exa. à taxa de 1,14% (taxa informada pela embargada ao Banco Central) ou, subsidiariamente, 1,7368293% (taxa média praticada no mercado para operações da espécie).

1.1.2 Da inconstitucionalidade do art. 5° da Medida Provisória 2.170-36 de 23 de agosto de 2001

O Código Civil de 2002 estabelece em seu art. 591 que

Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

Entretanto, o art. 5° da Medida Provisória 2.170-36 de 23 de agosto de 2001 traz uma regra diferente nos seguintes termos:

Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano.

Nota-se que existe uma regra para a classe “inferior”, para o “resto”, a “arraia-miúda”, ou seja, para nós, os mais de 99% de toda a sociedade (art. 591 do CC), e outra que beneficia uma classe “privilegiada”, “superior”, que possui condições financeiras para prestar os favores necessários à classe dos políticos, a fim de que eles legislem em seu serviço (art. 5o da MP 2.170-36/2001).

Os poderosos podem praticar tranquilamente a capitalização de juros mensalmente, enriquecendo-se assim, cada vez mais e mais rapidamente. Por outro lado os de “casta” inferior, os derrotados no eterno jogo do darwinismo social, estes somente podem praticar a capitalização anualmente, devagar, com calma, “despacito”.

Revela-se claramente a mais vil promiscuidade entre o Estado e os banqueiros, geradora de uma desigualdade de tratamento legislativo absoluta e definitivamente injustificável.

O indigitado art. 5o da MP 2.170-36/2001 viola frontalmente o outro artigo 5o, o artigo que assegura com redundância absolvida, com status normativo da mais alta hierarquia em nosso país, a isonomia de todos perante a lei.

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Art. 5o. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Isto é o que diz a Constituição Federal da República Federativa do Brasil, e ela deve ser defendida por todos nós contra essas injustificáveis distorções.

Diante disto, estão presentes razões suficientes para a declaração da inconstitucionalidade do art. 5o da MP 2.170-36/2001, por criar diferenciação que viola frontalmente o art. 5o da CF, e conseqüentemente, deve ser afastada a capitalização dos juros em periodicidade inferior a anual no contrato ora questionado.

1.1.3 Da inexistência da mora

Quando presente uma cláusula abusiva, esta é nula, portanto, o consumidor tem o direito de não cumpri-la como meio de legítima defesa, de tal sorte que provada a abusividade da taxa de juros, surge para o consumidor o direito de não pagar o que lhe é cobrado indevidamente.

Dessa forma todos os encargos moratórios – juros de mora, comissão de permanência, multa e vencimento antecipado da dívida – devem ser afastados por V. Exa.

1.1.4 Da impossibilidade de cumulação de juros moratórios, comissão de permanência e multa como encargos da mora.

Para a remota hipótese de não ser declarado abusivo o juro remuneratório e por esta ou por outra razão não ser declarada inexistente a mora, em razão do princípio da eventualidade processual, apresenta-se argumentos sobre a inacumulabilidade dos encargos moratórios.

Sem a necessidade de tecer argumentações mais complexas, tem-se que é pacífico na jurisprudência do STJ que são inacumuláveis encargos moratórios a título de juros, multa e comissão de permanência, assim, pode ser cobrado apenas um encargo.

O contrato em que se funda a pretensão da embargada possui previsão dos três tipos de encargos moratórios nas Clausulas DÉCIMA TERCEIRA; DÉCIMA TERCEIRA, Parágrafo Primeiro e DÉCIMA QUARTA, o que é reconhecidamente ilegal.

Diante desta circunstância deve subsistir apenas um dos encargos, e é de se concluir que decorre do sistema protetivo do consumidor adotado no Brasil que deve prevalecer o encargo menos oneroso.

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Analisando-se o demonstrativo de evolução contratual apresentado pela própria autora/embargada (Evento: 1 – Documento: PLAN8), percebe-se de maneira prática que o menor de todos os encargos é o juro de mora de 1%, assim, isto deve ser declarado por V. Exa. para o caso de entender por existir mora.

1.2 Considerações processuais

Neste subtítulo, por sua vez, demonstram-se alguns problemas que decorrem da via eleita pela embargada para cobrar a dívida, problemas estes que também serão apresentados articuladamente.

1.2.1 Da ausência de título monitório

É sabido que não são requisitos da ação monitória os mesmos do título executivo, ou seja, não precisam obrigatoriamente estar presentes a certeza e a liquidez, mas de alguma forma deve existir possibilidade de a dívida passar na sentença a ser um título líquido, certo e exigível.

Diante do grande acúmulo de abusividades presentes no contrato, torna-se extremamente difícil identificar qual valor que se pretende dar executividade, consistindo o mérito deste embargo monitório em verdadeira causa modificativa do pedido inicial (art. 326 do CPC), desta forma o documento escrito se torna ineficaz para se chegar a um valor líquido no bojo de um procedimento de ação monitória mesmo que por natureza este ordinarize-se, uma vez que seria criada uma verdadeira aberração processual, sendo o meio adequado para descobrir-se o valor que se quer tornar exeqüível, no presente caso, uma ação declaratória que pode ser manejada inclusive de maneira incidental (art. 325 do CPC), caso em que o valor será aclarado em sentença.

Em decorrência do disposto no artigo 1.102-C e respectivo §3º do Código de Processo Civil, Fischmann (FISCHMANN, Gerson. Comentários ao Código de Processo Civil: dos procedimentos especiais, arts. 982 a 1.102c. v. 14. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000) esclarece que não há, na monitória, estágio posterior para se realizar uma liquidação do crédito, devendo, desde logo, o valor ser explicitado ou a coisa identificada. Nesse sentido é o magistério de Humberto Theodoro Júnior (THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. v. 3. 32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 331-34).

Diante da absoluta desconstituição do valor apontado como certo, conforme pretende a embargante, se não for apontado um novo valor, apurado de maneira autônoma, não restará nada para se tornar título executivo, o que deve ensejar obrigatoriamente a improcedência (art. 269, inc. I), ou extinção sem julgamento de mérito (art. 267, inc. IV), da ação monitória ou procedência dos embargos monitórios, a depender do entendimento sobre a natureza jurídica dos institutos.

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Para Alvim (ALVIM, J. E. Carreira. Procedimento Monitório: ação monitória. 2. ed. Curitiba: Juruá, 1997) a liquidez do crédito deve resultar do próprio documento.

Estando o documento viciado por várias ilegalidades intrínsecas ele perde o caráter de prova de dívida hábil a se tornar título executivo pelo meio escolhido, pois primeiro é necessário aclarar o quantum devido em procedimento autônomo. Diante disso, no caso de não ser devidamente esclarecido quanto que está sendo cobrado, a ação monitória deve ser julgada improcedente ou extinta sem a resolução de seu mérito, pois evidencia-se a presença de cláusulas abusivas cuja declaração modificará substancialmente o valor apontado na inicial, ou, se diverso o entendimento sobre a natureza jurídica do instituto, deve ser julgado procedente o embargo à monitória.

1.2.2 Da natureza jurídica dos embargos monitórios

Há séria divergência na doutrina e na jurisprudência sobre a natureza jurídica dos embargos monitórios, havendo quem entenda que se trata de uma ação autônoma e outros que entendem que é um meio de defesa semelhante a uma contestação.

O e. TRF da 4ª região entende que este embargo possui natureza de ação em várias decisões recentes, a exemplo da seguinte:

EMENTA: CONTRATO BANCÁRIO. AÇÃO MONITÓRIA. AVAL. DEVEDOR SOLIDÁRIO. CDC. JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. 1. No momento em que apõem seu aval no contrato, os avalistas tornam-se devedores solidários, respondendo nos mesmos termos da devedora principal. 2. Os embargos à monitória, por se consubstanciarem em verdadeira ação de conhecimento, constituem meio adequado para ampla discussão processual, possibilitando, inclusive, a revisão de cláusulas contratuais. 3. O artigo 5º da Medida Provisória 2.170-36/2001 (reedição da Medida Provisória n.º 1.963-17/2000), autorizativo da capitalização mensal nos contratos bancários em geral, foi declarado inconstitucional pela Corte Especial deste Tribunal (Incidente de Argüição de Inconstitucionalidade 2001.71.00.004856-0/RS, DJU 08/09/2004). 4. É lícita a pactuação da comissão de permanência, desde que cobrada na forma da Súmula n.º 294/STJ e não cumulada com quaisquer outros encargos remuneratórios ou moratórios previstos para a situação de inadimplência, como a correção monetária, a taxa de rentabilidade, os juros moratórios e remuneratórios e a multa moratória, eis que incompatíveis. 5. Após o ajuizamento da ação, os encargos contratuais não são mais aplicáveis, uma vez que se operou a judicialização do débito. Tal correção diz respeito a normas de ordem pública, que derrogam as determinações contratuais e são aplicáveis independentemente da manifestação da parte autora. (TRF4, AC 5001167-09.2010.404.7003, Terceira Turma, Relatora p/ Acórdão Maria Lúcia Luz Leiria, D.E. 02/09/2011)

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Por outro lado, o STJ tem decisões que entendem que os embargos à ação monitória possuem natureza jurídica de contestação. Neste sentido:

Processual Civil. Recurso Especial. Ação monitória. Reconvenção. Admissibilidade. Segundo a mens legis os embargos na ação monitória não têm "natureza jurídica de ação", mas se identificam com a contestação. Não se confundem com os embargos do devedor, em execução fundada em título judicial ou extrajudicial, vez que, inexiste ainda título executivo a ser desconstituído. Não pagando o devedor o mandado monitório, abre-se-lhe a faculdade de defender-se, oferecendo qualquer das espécies de respostas admitidas em direito para fazer frente à pretensão do autor .Os embargos ao decreto injuncional ordinarizam o procedimento monitório e propiciam a instauração da cognição exauriente, regrado pelas disposições de procedimento comum. Por isso, não se vislumbra qualquer incompatibilidade com a possibilidade do réu oferecer reconvenção, desde que seja esta conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa. A tutela diferenciada introduzida pela ação monitória, que busca atingir, no menor espaço de tempo possível a satisfação do direito lesado, não é incompatível com a ampla defesa do réu, que deve ser assegurada, inclusive pela via reconvencional. Recurso provido, na parte em que conhecido (REsp 222.937/SP, 2ª Seção, Min. Nancy Andrighi, DJ de 02/02/2004)

Na doutrina não é diferente a controvérsia, sendo que, recentemente o e. Ministro Teori Albino Zavascki, no REsp 845545/RS, citou o magistério de Leonardo Carneiro da Cunha o qual conclui o seguinte:

"A Súmula 292 do STJ assim esclarece: 'a reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do procedimento em ordinário'. Ao editar dita Súmula, o Superior Tribunal de Justiça eliminou, no âmbito jurisprudencial, a controvérsia quanto à natureza jurídica dos embargos monitórios. Ora, se é cabível a reconvenção na ação monitória, é porque os embargos ostentam feição de contestação. E, juntamente com a contestação, o réu pode, simultaneamente, ofertar reconvenção (CPC, art. 299).Se os embargos revestem-se de matiz de ação, não há que se falar em reconvenção. É que, sendo ação, qualquer pretensão a ser formulada pelo réu em face do autor já deveria ser veiculada nos próprios embargos, sendo desnecessário aludir-se à reconvenção. Ao admitir a reconvenção no procedimento monitório, o Superior Tribunal de Justiça restou por definir que a natureza dos embargos é de defesa ou contestação. Sob essa perspectiva, não há mais o que discutir: caso se entenda realmente como cabível o procedimento monitório em face da Fazenda Pública, o prazo para que esta apresente embargos é de 60 (sessenta) dias, mercê da aplicação do art. 188 do CPC" (CUNHA, Leonnardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo, 8ª Ed., SP: Dialética, 2010, p. 454/455)

Diferente é o entendimento de Antonio Carlos Marcato:

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"Na minha visão particular, entendo que esses embargos têm natureza jurídica de ação, dando origem a um processo de conhecimento com plenitude do contraditório, provas e assim por diante." (MARCATO, Antonio Carlos. Ação monitória: seu regime jurídico e a Fazenda Pública. In: SUNDFELD, Carlos Ari e BUENO, Cássio Scarpinella. Direito processual público: a Fazenda Pública em juízo.São Paulo: Malheiros, p. 206-207).

Aqueles que defendem a natureza de ação autônoma justificam esse entendimento na redação adotada pelo CPC. A lei processual afirma que os embargos tramitam nos mesmos autos do procedimento monitório (afirmação que só seria necessária se os embargos tivessem natureza de ação autônoma, uma vez que a contestação sempre é processada nos mesmos autos da petição inicial), pelo procedimento ordinário (sabe-se que a contestação não segue procedimento nenhum), e não dependem de segurança do juízo.

Com isso não há segurança jurídica suficiente para autorizar que a justiça seja dura no caso de se manejar embargos à ação monitória como se fosse ação autônoma ou contestação em entendimento diverso do que entende determinado julgador.

Independentemente disto, seja qual for o entendimento, é pacífico que os embargos monitórios são o meio adequado para a discussão de cláusulas contratuais. Neste sentido exemplifica-se tal ausência de divergência com as seguintes decisões:

AÇÃO MONITÓRIA. CONTRATO BANCÁRIO - CRÉDITO ROTATIVO. NULIDADE DA SENTENÇA - EXTRA PETITA. EMPRÉSTIMO /FINANCIAMENTO. CRÉDITO ROTATIVO. POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO CONTRATO EM MOMENTO ANTERIOR AO INADIMPLEMENTO. LIMITAÇÃO DA TAXA DE JUROS. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E TAXA DE RENTABILIDADE.- Os embargos monitórios constituem meio adequado para a discussão de cláusulas contratuais, mesmo porque transformam o procedimento especial da ação monitória em processo de conhecimento. A limitação da revisão do contrato para momento posterior ao inadimplemento estaria a cercear o direito de ação da parte e o direito à ampla defesa.(...)' (TRF - 4ª REGIÃO. Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL. Processo: 200472000004492. UF: SC. Órgão Julgador: TERCEIRA TURMA. Rel.(a) Vânia Hack de Almeida. Data da decisão: 17/03/2005) (grifei)

E no e. STJ:

AÇÃO MONITÓRIA. Ensino. Contrato de prestação de serviços educacionais.

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O contrato de prestação de serviços educacionais pode ensejar a propositura de ação monitória, reservando-se aos embargos a matéria relacionada com a invalidade de cláusulas convencionadas.Precedente.Recurso não conhecido.(REsp 286.036/MG, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 15/02/2001, DJ 26/03/2001, p. 430)

Assim, no que diz respeito ao presente processo, interessa abrir a possibilidade ao julgador, caso acolha a pretensão da embargante, para decidir de um ou de outro modo, seja pela improcedência da ação monitória, seja pela procedência do embargo monitório.

1.2.3 Da natureza da sentença e da coisa julgada pretendida

Sendo extremamente controversa a matéria atinente à natureza jurídica dos embargos monitórios é de se concluir que a sentença que o julga, se acolher total ou parcialmente a pretensão da embargante, pode ser dada de duas maneiras. Se for considerado por V. Exa. que os embargos monitórios tem natureza de ação, a sentença deverá ser de procedência ou de parcial procedência destes embargos; caso o entendimento for pela natureza contestacional, a sentença deverá ser de improcedência ou de parcial procedência da ação monitória.

A coisa julgada, na hipótese de se concluir pela natureza contestacional dos embargos, na mesma circunstância de acolher a tese da embargante, também poderá ter natureza variável, conforme o entendimento de V. Exa., em material ou formal.

Se for entendido que o procedimento monitório se confirma adequado após a declaração da abusividade das cláusulas contratuais, sendo a via eleita um meio adequado para apurar uma dívida que se tornou ilíquida e incerta, tal sentença terá eficácia material em sua totalidade; se, por outro lado, for considerada insubsistente a adequação do procedimento eleito após o valor da dívida se tornar obviamente diverso do apontado na inicial monitória, em decorrência da declaração de ilegalidade das cláusulas, haverá divisão da coisa julgada em sua natureza, sendo a parte que reconhece as cláusulas abusivas de natureza material e a parte que julga extinto o feito por superveniência de causa que acarreta a falta de pressuposto processual, por óbvio, dotada de eficácia meramente formal.

A importância prática da adoção de um ou de outro entendimento é saber se a questão será resolvida totalmente neste processo chegando-se de alguma forma a um valor correto após a desconsideração das cláusulas ilegais, ou se haverá necessidade da embargada ter que ajuizar outra demanda para cobrar o valor recalculado sem as cláusulas abusivas.

2 PEDIDO

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a) Diante do exposto requer, preliminarmente, com fulcro no art. 1.102-C do CPC, a suspensão da eficácia do mandado inicial.

b) No mérito requer:

1 – seja citada/intimada a embargada para responder, querendo, o presente embargo monitório no prazo legal;

2 – caso o entendimento de V. Exa. seja pela natureza contestacional dos presentes embargos à ação monitória, seja julgada improcedente ou extinta sem resolução de mérito a ação monitória;

3 – caso V. Exa. entender ser este embargo monitório uma ação autônoma, seja julgado procedente o pedido nele aduzido.

c) Ainda no mérito, em qualquer das hipóteses, sendo considerada contestação ou ação autônoma o presente embargo monitório, requer:

1 – seja declarada abusiva a CLAUSULA QUARTA, a fim de limitar os juros remuneratórios a 1,14% ao mês ou, subsidiariamente a 1,7368293% ao mês;

2 – seja declarado inconstitucional o 5o da MP 2.170-36/2001, com o objetivo de afastar a capitalização dos juros em periodicidade inferior a anual;

3 – seja declarada inexistente a mora, afastando-se, conseqüentemente os seus encargos (juros de mora, comissão de permanência, multa e vencimento antecipado da dívida) ou, subsidiariamente, seja declarada abusiva a cumulação existente nas cláusulas DÉCIMA TERCEIRA; DÉCIMA TERCEIRA, Parágrafo Primeiro e DÉCIMA QUARTA no tocante à pena convencional, limitando-se os encargos moratórios ao juro de 1% ao mês não capitalizado;

4 – seja a embargada ordenada a recalcular a dívida conforme a fundamentação da sentença, considerando-se os valores já pagos, calculando-se o que foi pago a mais em cada uma das seis parcelas pagas pela consumidora, atualizando-se tais valores pelo IGP-M desde a data de cada pagamento efetuado, somados a juros de 1% ao mês desde a citação/intimação da embargada, depois disso compensando-se com o remanescente da dívida e por fim redistribuindo o valor restante que for apurado da dívida nas dezoito prestações mensais em aberto;

5 – seja dada a possibilidade de produção de provas por todos os meios lícitos, especialmente pericial e juntada posterior de documentos;

6 – seja a CEF condenada a arcar com as custas e demais despesas processuais e com os honorários advocatícios de 20% conforme a CLÁUSULA DÉCIMA QUARTA do contrato, como forma de promover a paridade das obrigações convencionadas.

Como medida profilática, para o caso de ser considerado o presente embargo monitório uma ação autônoma, aponta-se como valor da causa para efeitos fiscais a cifra de R$ 41.375,12, ou seja, o mesmo da inicial monitória.

Dal Bianco, Fortunato & Ioriatti Sociedade de Advogados – Rua Euclides da Cunha, 386, Centro, Erechim – RS – CEP 99.700-000Ademir Dal Bianco OAB/RS 75.841 B - Silvio Fortunato OAB/RS 61.153 – Rafael Ioriatti da Silva OAB/RS 66.268 – Fone: (54) 2106-8260

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Nestes termos, pede deferimento.

Erechim, 17 de novembro de 2011.

________________________________ ___________________________ RAFAEL IORIATTI DA SILVA SILVIO FORTUNATO OAB/RS nº. 66.268 OAB/RS nº. 61.153

________________________________ADEMIR DAL BIANCO JÚNIOR

OAB/RS n° 75.841 B

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