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União Europeia – Fundos Estruturais Governo da República Portuguesa
PROJECTOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
RELATÓRIO REFERENTE AO PROJECTO
PTDC/ECM/099250/2008
“Comportamento em serviço de estruturas de betão: uma abordagem
multi-física das tensões auto-induzidas”
Ensaio de restrição axial controlada para caraterização do
betão tracionado devido à retração impedida
Autores:
Luís Teixeira
Luís Leitão
Rui Faria
Miguel Azenha
Porto, FEUP, 2012
i
Resumo
O betão é um material compósito cujo historial de tensões se inicia logo após a
betonagem, instante em que têm início reações exotérmicas ligadas à hidratação do
cimento, que asseguram o desenvolvimento de uma estrutura porosa responsável pelo
crescimento da resistência do material. Em simultâneo, processos físico-químicos
ligados à hidratação do cimento e às interações do betão com o ambiente são
responsáveis por deformações autoinduzidas, com origem térmica ou associadas à
retração. Sob restrições parciais ou totais estas deformações induzem estados de tensão,
que em serviço limitam a capacidade do betão na resistência a trações adicionais,
podendo gerar fissuração. Apesar da crescente atenção dedicada pelos mais recentes
códigos de projeto, como é o caso do Eurocódigo 2 - Parte 1, ao comportamento em
serviço das estruturas de betão, o conhecimento sobre esta temática está ainda longe de
estar consolidado na Engenharia Civil. Além disso, a resposta do betão sob ação da
retração é ainda pouco conhecida, seja devido à relaxação das trações sob deformações
restringidas e ao papel da humidade no desenvolvimento das extensões locais. A
previsão das tensões e da fissuração no betão desde a betonagem e sob condições de
serviço, tomando em consideração a retração, as deformações térmicas nas primeiras
idades e a evolução das propriedades mecânicas, é, portanto, um assunto essencial. O
presente trabalho está inserido no projeto PTDC/ECM/099250/2008 liderado pelo
LABEST/FEUP e visa contribuir para ultrapassar esta insuficiência de conhecimento, e
descreve o desenvolvimento de um equipamento com o objetivo de caracterizar
adequadamente o comportamento viscoelástico do betão, quando este se encontra
solicitado à tração por efeito da retração. É um sistema concebido para ensaiar betão,
que permite efetuar o controlo em força ou em deslocamento através da solicitação dos
varões que armam o provete. O betão é consequentemente tracionado através da
transferência de tensões entre os dois materiais, resultante da aderência existente na
interface betão/armaduras que origina o desenvolvimento de tensões tangenciais. A
relaxação das tensões de tração devidas à fluência sob estados de tração induzidos pela
retração autogénea e de secagem é adequadamente reproduzida, garantindo-se
inclusivamente que o ensaio pode prosseguir após a fissuração do betão.
iii
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1
1.1 Enquadramento e objetivos deste trabalho .................................................................................... 1
1.2 Ensaio de Anel Restringido ........................................................................................................... 4
1.3 Ensaio de Painel Restringido ......................................................................................................... 6
1.4 Ensaio de Restrição Imposta pelo Agregado ................................................................................. 7
1.5 Ensaios de Restrição Longitudinal ................................................................................................ 9
2 CONCEÇÃO DO ENSAIO DE RESTRIÇÃO LONGITUDINAL DESENVOLVIDO PARA
CARATERIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO DIFERIDO DO BETÃO TRACIONADO .......... 15
2.1 Introdução .................................................................................................................................... 15
2.2 Conceitos Teóricos ...................................................................................................................... 17
2.2.1 Introdução .......................................................................................................................... 17
2.2.2 Efeito da deformação do betão por retração ....................................................................... 18
2.2.3 Efeito da solicitação imposta pelo atuador hidráulico ........................................................ 21
2.2.4 Efeito da deformação térmica ............................................................................................ 22
2.2.5 Sobreposição dos efeitos .................................................................................................... 24
2.3 Sistema de Atuação de Força ....................................................................................................... 25
2.4 Dimensões do Provete Armado ................................................................................................... 28
2.5 Pórtico Metálico .......................................................................................................................... 28
2.6 Cofragem Metálica ...................................................................................................................... 29
2.7 Sensores ....................................................................................................................................... 31
2.7.1 Extensómetros Elétricos de Colar nos Varões de Aço ....................................................... 31
2.7.2 Extensómetros de Cordas Vibrantes para Embeber no Betão ............................................ 33
2.7.3 Sensores de Temperatura ................................................................................................... 36
2.7.4 Células de Carga ................................................................................................................ 38
2.7.5 Manómetro de Pressão ....................................................................................................... 40
2.7.6 Transdutor de Pressão ........................................................................................................ 40
3 CAMPANHA EXPERIMENTAL REALIZADA ........................................................................ 43
3.1 Introdução .................................................................................................................................... 43
3.2 Protocolo experimental ................................................................................................................ 44
3.2.1 Preparação do Ensaio ......................................................................................................... 44
3.2.2 Variantes de Ensaio ............................................................................................................ 46
3.3 Ensaios Realizados ...................................................................................................................... 47
3.4 Determinação do Coeficiente de Dilatação Térmica do Betão .................................................... 63
3.4.1 Introdução .......................................................................................................................... 63
3.4.2 Descrição do Ensaio ........................................................................................................... 63
3.4.3 Protocolo Experimental...................................................................................................... 66
iv
3.4.4 Ensaios Preliminares Realizados ........................................................................................ 67
4 CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 71
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................................71
ANEXO A ..................................................................................................................................................75
ANEXO B ..................................................................................................................................................79
ANEXO C ..................................................................................................................................................82
v
Índice de figuras
Figura 1.1 – Ensaio de Anel Restringido [5]. .............................................................................................. 5
Figura 1.2 – Ensaio de Painel Restringido [7]. ............................................................................................ 6
Figura 1.3 – Ensaio de restrição imposta pelo agregado. ............................................................................. 7
Figura 1.4 – Ensaio de restrição linear Germânico (mm). ........................................................................... 8
Figura 1.5 – Ensaio de restrição com base na curvatura do provete ............................................................ 9
Figura 1.6 – “Temperature Stress Testing Machine” (TSTM). .................................................................. 10
Figura 1.7 – Ensaio de restrição longitudinal executado horizontalmente. ................................................ 11
Figura 1.8 – Ensaio de restrição longitudinal com sistema automático [15]. ............................................. 12
Figura 1.9 – Ensaio de restrição longitudinal com sistema automático e controlo de temperatura [18]. ... 13
Figura 1.10 – Ensaio de restrição longitudinal realizado num provete armado [19]. ................................. 14
Figura 2.1 – ‘Variable Restraint Frame’ (VRF). ........................................................................................ 17
Figura 2.2 – Esquema do comportamento do ensaio sob ação exclusiva da retração. ............................... 19
Figura 2.3 – Esquema do comportamento do ensaio sob ação exclusiva do atuador. ................................ 21
Figura 2.4 – Esquema do comportamento do ensaio sob ação exclusiva da deformação térmica. ............ 23
Figura 2.5 – Pormenor dos cilindros hidráulicos ENERPAC RCH-202. ................................................... 26
Figura 2.6 – Pormenor dos componentes do sistema hidráulico à saída da bomba manual. ...................... 27
Figura 2.7 – Pormenor do “T” de derivação da bomba manual para os cilindros hidráulicos. .................. 27
Figura 2.8 – Vista geral do provete. ........................................................................................................... 28
Figura 2.9 – Sistema de cofragem montado pronto a betonar. Vista da cofragem do provete do sistema e
do provete “dummy”. ........................................................................................................... 30
Figura 2.10 – Provete descofrado. Pormenor da posição das chapas metálicas após a descofragem. ........ 31
Figura 2.11 – Extensómetros elétricos colocados nos varões de aço. ........................................................ 32
Figura 2.12 – Esquema de funcionamento de um sensor de cordas vibrantes para embeber no betão [20].
.............................................................................................................................................. 34
Figura 2.13 – Sensor de cordas vibrantes posicionado no molde do sistema............................................. 35
Figura 2.14 – Sensor de cordas vibrantes posicionado no molde do provete “dummy”. ........................... 36
Figura 2.15 – Pormenor de um PT100 colocado num varão de aço. ......................................................... 38
Figura 2.16 – Pormenor da colocação das células de carga no sistema. .................................................... 39
Figura 2.17 – Pormenor dos varões instrumentados numa secção não embebida pelo betão, funcionado
como células de carga. .......................................................................................................... 40
Figura 3.1 – Preparação de todo o sistema antes de se proceder à betonagem. ......................................... 45
Figura 3.2 – Pormenor das ligações dos sensores ao Datalogger, fonte de alimentação e computador. ... 45
Figura 3.3 – Preparação da amassadura de betão. ...................................................................................... 46
Figura 3.4 – Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante o ensaio 1. .................................... 48
Figura 3.5 – Extensões no betão registadas no ensaio 1 através dos extensómetros elétricos do varão 1 e 2
(EE1 e EE2). ......................................................................................................................... 48
Figura 3.6 – Valor da força registada pelas duas células de carga (CC1 e CC2) durante o ensaio 1. ........ 49
Figura 3.7 - Valor da retração livre medida no provete “dummy” no ensaio 1. ........................................ 49
vi
Figura 3.8 – Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 1. ......................................................... 50
Figura 3.9 – Valor da extensão total no betão durante o ensaio 1. ............................................................. 50
Figura 3.10 – Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 1. ...................................................... 51
Figura 3.11 – Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 1. ................................................ 51
Figura 3.12 – Fluência específica do betão obtida no ensaio 1. ................................................................. 53
Figura 3.13 – Coeficiente de fluência do betão obtido no ensaio 1. ........................................................... 53
Figura 3.14 – Selagem dos provetes........................................................................................................... 55
Figura 3.15 - Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante o ensaio 4. ................................... 56
Figura 3.16 - Extensões no betão registadas no ensaio 4. .......................................................................... 57
Figura 3.17 - Valor da força registada pelas células de carga e pelos varões durante o ensaio 4. .............. 57
Figura 3.18 – Valor da retração livre medida no provete “dummy” no ensaio 4. ...................................... 58
Figura 3.19 - Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 4. ........................................................ 58
Figura 3.20 - Valor da extensão total no betão durante o ensaio 4. ............................................................ 59
Figura 3.21 - Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 4. ....................................................... 59
Figura 3.22 - Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 4. ................................................. 60
Figura 3.23 - Fluência específica obtida no ensaio 4. ................................................................................ 60
Figura 3.24 - Coeficiente de fluência obtido no ensaio 4. .......................................................................... 61
Figura 3.25 – Molde do provete “dummy” instrumentado com um sensor de cordas vibrantes. ............... 64
Figura 3.26 – Molde do provete “dummy” instrumentado com um varão de aço que contèm um
extensómetro elétrico e um PT100. ...................................................................................... 65
Figura 3.27 – Molde do provete ‘dummy’ instrumentado com um varão de acrílico que contém um
extensómetro elétrico e um PT100. ...................................................................................... 65
Figura 3.28 – Provetes para a câmara climática que sofrerão variações de temperatura. .......................... 66
Figura 3.29 – Determinação do instante de aderência para o sensor de cordas vibrantes do provete
colocado na câmara climática. .............................................................................................. 68
Figura 3.30 - Determinação do instante de aderência para o sensor de cordas vibrantes do provete
colocado na câmara de cura. ................................................................................................. 68
Figura 3.31 - Determinação do instante de aderência para o varão de aço instrumentado do provete
colocado na câmara climática. .............................................................................................. 69
Figura 3.32 - Determinação do instante de aderência para o varão de aço instrumentado do provete
colocado na câmara de cura. ................................................................................................. 69
Figura A.1 – Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante do ensaio 2 ...................................71
Figura A.2 – Extensões no betão registadas no ensaio 2 ............................................................................71
Figura A.3 – Valor da força registada pelas células de carga durante o ensaio 2 ......................................72
Figura A.4 – Valor da retração livre medida no provete “dummy” no ensaio 2 ........................................72
Figura A.5 – Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 2 .........................................................73
Figura A.6 – Valor da extensão total no betão durante o ensaio 2 .............................................................73
Figura A.7 – Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 2 ........................................................74
Figura A.8 – Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 2 ...................................................74
Figura B.1 – Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante do ensaio 3....................................75
Figura B.2 – Extensões no betão registadas no ensaio 3. ...........................................................................75
Figura B.3 – Valor da força registada pelas células de carga durante o ensaio 3........................................76
Figura B.4 – Valor da retração livre medida no provete “dummy” no ensaio 3........................................ 76
Figura B.5 – Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 3 ..........................................................77
Figura B.6 – Valor da extensão total no betão durante o ensaio 3............................................................. 77
Figura B.7 - Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 3........................................................ 78
Figura B.8 - Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 3. ..................................................78
Figura C.1 - Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante do ensaio 5....................................79
Figura C.2 - Extensões no betão registadas no ensaio 5. ...........................................................................79
Figura C.3 - Valor da força registada pelas células de carga durante o ensaio 5...................................... 80
Figura C.4 - Valor da retração livre medida no provete “dummy” no ensaio 5........................................ 80
Figura C.5 - Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 5............................................................81
Figura C.6 - Valor da extensão total no betão durante o ensaio 5. .............................................................81
Figura C.7 - Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 5 .........................................................82
Figura C.8 - Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 5.....................................................82
ix
Símbolos e Abreviaturas
Para clareza de exposição no texto proceder-se-á à descrição de cada símbolo
simultaneamente com a sua primeira utilização. A seguinte lista é apresentada por
ordem alfabética:
Símbolos
t Variação de temperatura ao longo do tempo
s,p Extensão no aço (devido à ação do atuador)
s,co,sh Extensão no aço de compatibilização (devida à retração)
s,co,t Extensão no aço de compatibilização (deformação térmica)
s Coeficiente de dilatação térmica do aço
r,rc,total Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado (total)
r,rc,sh Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado devido à
(retração)
r,rc,p Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado (devido à ação
do atuador)
r,rc,t Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado (deformação
térmica)
r,pc,total Leitura direta da extensão nos sensores do provete livre (total)
r,pc,sh Leitura direta da extensão nos sensores do provete livre (devido à retração)
r,pc,t Leitura direta da extensão nos sensores do provete livre (deformação
térmica)
c,el,sh Extensão no betão de compatibilização – contribuição elástica (devido à
retração)
c,el,t Extensão no betão de compatibilização – contribuição elástica (deformação
térmica)
c,cr,sh Extensão no betão de compatibilização – contribuição da fluência (devido à
retração)
c,cr,t Extensão no betão de compatibilização – contribuição da fluência
(deformação térmica)
n Constantes típicas do condutor
i Extensão inicial
f Extensão final
c,total Tensão no betão (total)
c,total Extensão no betão (total)
c,sh Tensão no betão (devido à retração)
x
s,sh Tensão no aço (devido à retração)
c,sh Extensão no betão (devido à retração)
c,p Extensão no betão (devido à ação do atuador)
c,el,p Extensão no betão - contribuição elástica (devido à ação do atuador)
c,cr,total Extensão no betão de compatibilização – contribuição da fluência (total)
c,cr,p Extensão no betão - contribuição da fluência (devido à ação do atuador)
c,co,sh Extensão no betão de compatibilização (devido à retração)
c,co,t Extensão no betão de compatibilização (deformação térmica)
c Coeficiente de dilatação térmica do betão
Resistividade
A Área da secção transversal
Ac Área da secção de betão
As Área da secção das armaduras
Ec(t) Módulo de elasticidade do betão no instante t
Es Módulo de elasticidade do aço
ff Frequência final
fi Frequência inicial
Kv Constante do sensor
Kt Coeficiente dilatação térmico da corda tencionada
l Comprimento
Nc,p Força no betão (devido à ação do atuador)
Nc,co,t Força no betão de compatibilização (deformação térmica)
Nc,co,sh Força no betão de compatibilização (devido à retração)
Ns,p Força no aço (devido à ação do atuador)
Ns,co,t Força no aço de compatibilização (deformação térmica)
Ns,co,sh Força no aço de compatibilização (devido à retração)
P(t) Força aplicada pelo atuador no instante t
R Resistência elétrica
R0 Resistência do condutor à temperatura 0ºC
RT Resistência do condutor à temperatura T
T Temperatura
t Tempo
1 INTRODUÇÃO
1.1 Enquadramento e objetivos deste trabalho
O betão surge atualmente como um dos principais materiais utilizados em
engenharia civil com capacidade estrutural, sendo que uma das suas características é a
evolução ao longo do tempo das suas propriedades. Por um lado, esta evolução pode ser
desfavorável, pois muitas vezes as deformações associadas, como por exemplo a
retração e a fluência/relaxação, são responsáveis por tensões autoinduzidas ou por
perdas de pré-esforço que podem pôr em causa a resposta eficaz da estrutura. Por outro
lado, podem apresentar um caracter benéfico, pois servem também como forma de
redistribuição de esforços na estrutura ou simplesmente como forma de reduzir a sua
intensidade (através da fluência). Este tipo de análise é da máxima importância,
principalmente quando se pretende analisar o comportamento estrutural do betão em
idades jovens, pois é neste período que os elementos de betão apresentam deformações,
quer por retração, quer por fluência, de forma mais acentuada.
Tendo em conta a importância que a fendilhação do betão assume na análise
estrutural (além das limitações que impõe do ponto de vista estético e funcional), a
2 Capítulo 1 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
fendilhação em idades jovens surge como um dos tópicos importantes atuais de estudo.
Um dos fatores associados ao aumento da importância deste tema é a utilização e o
desenvolvimento nas últimas três décadas de betões de maior resistência em edifícios de
altura elevada, estruturas ‘offshore’, pontes, estruturas pré-esforçadas, etc. Estes betões
proporcionam propriedades superiores, quer do ponto de vista mecânico, quer do ponto
de vista da durabilidade, além de uma boa trabalhabilidade [1,2]. No entanto, o aumento
do seu uso releva a importância em entender o fenómeno da fendilhação em idades
jovens, uma vez que este tipo de betões apresenta valores de retração autógena e das
deformações térmicas bastante superiores, sendo estes fenómenos os principais
responsáveis pelas tensões autoinduzidas nestes betões.
O principal método empregue pelos projetistas e utilizado atualmente para lidar
com os problemas associados às deformações impostas tem sido adotar a construção de
juntas de dilatação e procedimentos de cura apropriados (normalmente mantendo os
elementos de betão em idades jovens saturados de forma a evitar retração por secagem).
Contudo, estes procedimentos de cura revelam ter pouco impacto em betões de maior
resistência (devido à forte retração autógena registada em idades jovens) e a adoção de
juntas de dilatação não é uma alternativa económica, além de poder não ser exequível
por comprometer a durabilidade e a funcionalidade da estrutura (problemas estruturais
graves podem surgir caso a junta de dilatação seja prevista, mas não seja executada
corretamente).
Tal como referido anteriormente, a simulação do comportamento do betão, das
deformações associadas a idades jovens e da sua sensibilidade à fendilhação surge como
um campo de estudo importante na análise estrutural. Assim, é natural que em fase de
projeto se pretenda efetuar simulações numéricas no sentido de poder avaliar o risco de
fendilhação e qual o comportamento da estrutura pós-fendilhação. No entanto, é preciso
ter em conta que tais simulações requerem modelos que permitam ter em conta o
carácter transiente do betão em idades jovens. De facto, a variável tempo tem uma
grande importância na definição das deformações de retração e nas deformações
térmicas, mas afeta também outras propriedades do betão, tais como: o módulo de
elasticidade, a resistência à tração e à compressão, a fluência, etc. [2,3]. Atualmente a
comunidade técnica tem tentado minimizar alguns dos efeitos associados a esta temática
através de diferentes técnicas, como por exemplo a utilização de fibras no controlo da
fendilhação e de misturas redutoras de retração. No entanto, para um controlo mais
eficaz é necessário mais informação e a realização de campanhas experimentais
Introdução 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
exaustivas que permitam obter resultados confiáveis, em ambientes controlados, que
possam servir de base para o desenvolvimento de modelos numéricos robustos.
De facto, o betão em idades jovens é um material que se encontra em contínua
alteração e que nesta fase apresenta evoluções bastante acentuadas. Contempla
processos de hidratação durante o endurecimento do betão que são responsáveis pelo
aumento de temperatura característico registado após a betonagem. Contempla também
grandes alterações volumétricas devidas ao fenómeno da retração, que em conjunto com
as deformações térmicas, caso o elemento de betão se encontre restringido, são
responsáveis pelo aparecimento de tensões de tração significativas. Este processo não
pode ser desprezado uma vez que todos os elementos de betão apresentam normalmente
algum grau de restrição, seja internamente devido à presença de armaduras, ao campo
térmico não uniforme ou ao diferencial de humidade ao longo da secção transversal,
seja externamente pelos elementos adjacentes. Por este motivo, caso as deformações
associadas ao betão em idades jovens sejam significativas pode ocorrer fendilhação,
sendo o risco de fendilhação máximo normalmente associado ao período de
arrefecimento do betão após ocorrer a hidratação do cimento [4]. Neste período as
deformações térmicas correspondem a uma forte contração do betão, estando ainda esta
redução de volume associada à contribuição da retração autógena que nesta altura da
vida do betão pode ser significativa (principalmente em betões com uma baixa relação
água/cimento). No entanto, é de salientar que também a fluência é bastante superior em
idades jovens, daí que a determinação e controlo da fendilhação seja um processo tão
complexo e tão pouco abordado na literatura, apesar da sua importância ao longo da
vida de uma estrutura.
Outro aspeto importante a realçar é que tradicionalmente apenas tem havido
preocupação em proceder a ensaios da fluência do betão em compressão, devido às
complexidades associadas aos sistemas que permitem o estudo da fluência em tração.
No entanto, se o objetivo é conseguir representar adequadamente o comportamento do
betão quando sujeito a tensões de tração, uma correta determinação da fluência em
tração é da maior importância. A relação existente entre a fluência à compressão e à
tração ainda não se encontra bem definida e por este motivo têm-se adotado modelos de
fluência em compressão para simular o comportamento do betão em tração. Além disso,
o conhecimento adquirido nos últimos anos referente a idades jovens tem evoluído
bastante, sendo que os modelos teóricos que permitem modelar a fluência em idades
jovens, mesmo à compressão, ainda se encontram rodeados de alguma incerteza [2]. Por
4 Capítulo 1 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
estes motivos, e devido à importância da fluência na correta quantificação da evolução
das tensões no betão, pretende-se também no presente trabalho contribuir para o estudo
da fluência em tração. Neste sentido desenvolveu-se um mecanismo de aplicação de
tensões de tração no betão, com imposição de restrição variável de forma a conseguir
avaliar corretamente a fluência e separar as parcelas relativas às deformações térmicas,
à retração e à deformação elástica.
Apresenta-se de seguida, uma revisão sucinta das diferentes estratégias e
instrumentações desenvolvidas no estudo da fendilhação em idades jovens, de forma a
proporcionar uma visão geral das metodologias existentes e identificar as vantagens e
desvantagens do sistema que será desenvolvido no âmbito do presente trabalho face aos
existentes na literatura. Tal como explicado anteriormente, existem dois tipos de
deformações responsáveis pela fendilhação em idades jovens: a deformação térmica e a
retração. Para uma maior compreensão destes fenómenos, é necessário avaliar e separar
adequadamente estas duas contribuições, e é por este motivo que alguns dos sistemas
descritos apresentam ambientes selados ou condições de saturação máxima. Existem
quatro categorias em que normalmente é possível enquadrar estes ensaios de retração
impedida: os ensaios de anel restringido; os ensaios do painel restringido; os ensaios de
restrição imposta pelo agregado e por último os ensaios de restrição longitudinal [3]. Na
presente descrição será dada especial atenção aos ensaios de restrição longitudinal pelo
facto de o mecanismo desenvolvido se enquadrar nesta categoria.
1.2 Ensaio de Anel Restringido
O ensaio de anel com núcleo restringido foi desenvolvido na década de 1940, e
por esse motivo é normalmente o ensaio mais referido na literatura, tendo sido aplicado
inicialmente com o intuito de medir o potencial de fendilhação do betão [3]. Este ensaio
(Figura 1.1) é passível de ser aplicado na avaliação da fendilhação em betões
endurecidos e em idades jovens sendo que o seu princípio é bastante simples: o anel de
betão é betonado à volta de um núcleo de aço que impõe uma restrição caso o betão
pretenda retrair. Devido a este impedimento, é imposto um estado de tensão de tração
no anel exterior (e um correspondente estado de tensão de compressão no anel interior
que é passível de ser monitorizado) e caso as deformações sejam significativas, as
tensões tangenciais que se desenvolvem na superfície betão/aço podem originar a
Introdução 5 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
fendilhação (Figura 1.1). A caraterização do betão é baseada na sua resposta ao longo
do ensaio, nomeadamente avaliando: número de fendas, abertura máxima e média de
fendas e o tempo de ocorrência das fendas [5].
Devido à simplicidade de execução associada a este ensaio, nas últimas duas
décadas tem sido utilizado com o objetivo de caracterizar o fenómeno da fendilhação
em betões com diferentes constituintes, englobando diferentes tipos de aditivos, inertes,
fibras, etc. De facto, a sua aplicabilidade fez com que se torna-se numa das normas da
American Association of State Highway and Transportation Officials (AASHTO) –
norma AASHTO PP34-98 – e também serviu posteriormente como base da norma
ASTM C 1582-04 da American Society for Testing Materials [5].
No entanto, apenas mais recentemente Hossain e Weiss [6] e Silva [5] aplicaram
esta metodologia como forma de avaliar e estimar as deformações por fluência e a
consequente relaxação de tensões em betões. Hossain e Weiss [6] aplicaram inclusive
técnicas baseadas na emissão acústica de forma a detetar micro e macrofissuras ao
longo do ensaio.
Figura 1.1 – Ensaio de Anel Restringido [5].
6 Capítulo 1 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
1.3 Ensaio de Painel Restringido
O ensaio do painel restringido foi desenvolvido apenas em alguns laboratórios,
traduzindo-se no fundo numa restrição imposta a uma peça de betão laminar através de
armaduras existentes nas suas extremidades. Uma das diferenças significativas desta
técnica de avaliação da fendilhação é a capacidade de incorporar o comportamento
biaxial da retração em geral e possibilitar o estudo dos efeitos da retração plástica [7,8].
O procedimento de ensaio passa por betonar um molde com dimensões de 10x10cm2
encontrando-se a superfície exposta à secagem. A retração por secagem é acelerada
através da circulação de ar quente, simulando condições externas de vento recorrendo a
ventiladores (Figura 1.2). Na Figura 1.2 também se pode constatar a existência de dois
painéis em condições semelhantes, algo que é habitual nos procedimentos experimentais
associados a este tipo de ensaios, pois foram frequentemente utilizados para aferir o
potencial de vários componentes a incorporar no betão, neste caso tratando-se do estudo
da inclusão de fibras de polipropileno. No entanto, a utilização deste método apenas se
demonstra vantajosa quando se pretende avaliar o comportamento qualitativo do betão,
sendo este um dos principais motivos pelo qual este ensaio não é normalmente referido
como um ensaio de referência no estudo das deformações impedidas.
Figura 1.2 – Ensaio de Painel Restringido [7].
Introdução 7 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
1.4 Ensaio de Restrição Imposta pelo Agregado
Os ensaios de restrição imposta pelo agregado surgiram da necessidade de
representar as condições de restrições existentes quando se pretende simular
construções e/ou reparações em pavimentos, existindo atualmente diversas abordagens
[3]. De facto, os ensaios descritos anteriormente, tal como os ensaios de restrição
longitudinal, apresentam condições de restrições totais ou parciais, porém sempre de
uma forma simétrica na estrutura. Por este motivo, desenvolveram-se os ensaios de
restrição imposta pelo agregado que permitem realizar um estudo direcionado para
pavimentos, que na generalidade apresenta restrição apenas numa das faces [9]. No
fundo, consoante as características que se pretende avaliar, é possível distinguir estes
ensaios tendo por base o objetivo de análise: o estudo da fendilhação ou a curvatura
registada no provete.
Um dos exemplos de um ensaio de restrição imposta pelo agregado é o sistema
desenvolvido por Banthia et al. [9], que contempla um molde cuja parte inferior é
previamente betonada, impondo-se uma superfície extremamente rugosa através da
adição de agregados na face superior, enquanto o betão se encontra fresco (Figura 1.3).
Após esta primeira fase de betonagem, o processo de cura é acelerado através de um
banho de água quente a 50 ºC durante três dias, procedendo-se à segunda fase de
betonagem que contempla um processo de cura numa câmara a 38 ºC e 5% de humidade
relativa (além de se verificar também um aumento da retração de secagem através da
circulação de ar quente na superfície do betão). Desta forma é possível simular a
construção e ou a reparação de um pavimento e retirar ilações com base no padrão de
fendilhação observado.
Figura 1.3 – Ensaio de restrição imposta pelo agregado.
8 Capítulo 1 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Na Alemanha foi desenvolvido pela Technical Academy de Aachen outra
metodologia de análise da fendilhação no betão que posteriormente foi adotada na
norma TP BE-PCC pela Highway Construction Department of the Federal Ministry for
Transport. Trata-se de um método de restrição linear que utiliza um elemento de aço
com formato em V no qual o betão é betonado e sujeito a condições ambientais normais
(Figura 1.4). O formato específico deste elemento de aço é o principal responsável pela
origem da fendilhação devido à forte restrição que impõe ao betão. Através da
observação da abertura de fendas e do padrão de fendilhação é possível obter
informação importante sobre a mistura, tratando-se assim de um ensaio de análise
qualitativa que é normalmente utilizado para avaliar a inclusão de aditivos plásticos nas
camadas superiores de pavimentos [2].
Figura 1.4 – Ensaio de restrição linear Germânico (mm).
Tal como referido anteriormente, existem também ensaios que têm como base a
análise da curvatura no betão, tendo sido um destes desenvolvido pela empresa
Structural Preservation System. Este ensaio consiste na betonagem sobre uma chapa de
aço que é previamente revestida de ‘epoxy’ e de grãos de areia, de forma a garantir uma
perfeita aderência entre a camada de betão e a chapa. O objetivo é estudar qual a
curvatura associada à simulação de uma reparação de um pavimento, sendo que a placa
de aço representa o pavimento existente e que a curvatura é originada pelo diferencial
de deformação existente entre as camadas inferior e superior do betão (Figura 1.5). O
provete tem uma das suas extremidades fixas num pórtico e a outra extremidade livre
possibilitando desta forma aferir qual o deslocamento relativo vertical entre as
extremidades e calcular a correspondente curvatura [2,3].
Introdução 9 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 1.5 – Ensaio de restrição com base na curvatura do provete
1.5 Ensaios de Restrição Longitudinal
Os ensaios com restrição longitudinal têm como base o método do pórtico de
fendilhação que foi desenvolvido na Alemanha em 1960 [1]. Este método surgiu
inicialmente como forma de avaliar as tensões devido aos efeitos da temperatura em
betão endurecido, tendo posteriormente sido aplicado na avaliação do risco de
fendilhação em betões nas primeiras idades. O mecanismo associado a este ensaio
resulta do formato do provete de betão, que apresenta nas extremidades um formato de
‘dog-bone’, permitindo ancorar o provete numa estrutura mais rígida (normalmente de
aço), que é a responsável pela restrição. A deformação e o grau de restrição dependem
da relação de rigidez entre o pórtico e o provete, sendo que inicialmente a restrição
imposta era bastante inferior a 100%. As forças que se desenvolvem neste ensaio podem
ser determinadas através de um conhecimento prévio das características mecânicas do
pórtico, e utilizando sensores elétricos para avaliar a deformação deste último [1,3].
Numa fase posterior, também na Alemanha, Springenschmid et al. [10]
procederam a um melhoramento do pórtico para que este pudesse proporcionar 100% de
restrição, e tornar-se assim num ensaio de restrição totalmente impedida. A adaptação
desenvolvida englobou a introdução de um sistema ativo numa das extremidades do
pórtico, resultando assim num provete com uma extremidade fixa e outra com
movimentação ajustável (Figura 1.6). O controlo da deformação pode ser realizado por
um motor de passo, com precisão de 1 m, sendo que a restrição a impor é controlada
pela monotorização das deformações registadas em barras de fibra de carbono,
localizadas na zona central do provete. Devido à sua aplicação inicial, que é baseada na
10 Capítulo 1 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
medição de tensões com origem na temperatura, e também no robusto sistema de
controlo de temperatura existente na cofragem, este mecanismo é designado por
‘Temperature Stress Testing Machine’ (TSTM) [1,10].
Figura 1.6 – “Temperature Stress Testing Machine” (TSTM).
No entanto, apesar do sistema ser bastante robusto para a análise dos efeitos
térmicos em betão endurecido, uma série de adaptações e aperfeiçoamentos era ainda
necessária por forma a poder aplicar esta metodologia à análise da retração impedida,
nomeadamente em betões jovens.
De entre os primeiros autores a tentar adaptar o sistema para o estudo da retração
impedida destacam-se Paillère e Serrano [11], que desenvolveram um pórtico com uma
solução alternativa de controlo da restrição. Neste modelo, a extremidade livre
encontra-se ligada a uma máquina de pressão de ar que permite controlar a deformação
no provete, sendo este inicialmente betonado horizontalmente e após ser desmoldado é
posicionado verticalmente. A utilização de provetes gémeos (com betão exatamente da
mesma amassadura), um restringido e o outro livre, permitiu a Paillère e Serrano [11]
controlar a deformação de retração. Com os dados relativos à tensão registada pela
máquina de pressão de ar é possível teoricamente separar as diferentes contribuições de
deformação do betão no provete restringido, e obter informação importante sobre a
fluência do betão à tração.
Do ponto de vista teórico estava desenvolvido um ensaio capaz de possibilitar o
estudo completo da retração impedida. No entanto, do ponto de vista experimental ainda
Introdução 11 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
havia um conjunto importante de fatores a melhorar. Um deles era o facto do ensaio se
realizar verticalmente, algo que induz a rotura na parte superior do provete devido à
ação do peso próprio. Bloom e Bentur [12] desenvolveram um ensaio controlado
manualmente, que recorre a um motor de passo como no TSTM, porém adotaram uma
disposição horizontal para o provete. O problema associado às forças de atrito que se
desenvolvem entre o molde e o provete foi minimizado introduzindo uma
descontinuidade de 2mm no molde, que foi posteriormente preenchido com resina
(Figura 1.7).
Figura 1.7 – Ensaio de restrição longitudinal executado horizontalmente.
Outras alterações e/ou inovações menos importantes foram sendo aplicadas por
outros autores ao longo dos anos, tal como é referido por Kovler [3], mas que
contribuíram para o contínuo aperfeiçoamento do sistema do ponto de vista
experimental. Diferentes esquemas de ancoragem foram utilizados, tal como embeber
placas de aço com saliências, ou transformar o típico formato de ‘dog-bone’ das
extremidades do provete em formatos cónicos. Outra evolução engenhosa foi
desenvolvida por Banthia et al. [13], que apresentou um sistema de roletes ao longo do
pórtico cujo objetivo era servir de apoio para um microscópio, de forma a aumentar a
precisão das leituras das aberturas de fendas registadas (no entanto o sistema era
destinado para instrumentação de pastas).
Entretanto em 1994 Kovler [14] apresenta um sistema de controlo automático,
completamente autónomo (sistema ‘closed loop’), destinado ao estudo da retração
impedida em betões de idades jovens. Este sistema é baseado no de Bloom e Bentur
[12], porém o facto de não necessitar de intervenção humana permite obter resultados
com um grau de precisão muito superior, algo que não é desprezável tendo em conta
que as deformações envolvidas são da ordem de grandeza da décima do micrómetro.
Este controlo consiste numa compensação cíclica da deformação, registada em dois
provetes (um restringido e um livre), baseada num critério pré-estabelecido que
possibilita a imposição de diferentes níveis de restrição à livre deformação do provete
12 Capítulo 1 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
restringido. Basicamente, quando as deformações devidas à retração, às variações da
temperatura e à fluência ultrapassam o critério definido, um motor de passo é acionado
e a extensão total do provete restringido é reposta para um valor pré-definido de forma a
garantir a restrição axial pretendida [3,14]. A precisão deste sistema permitiu começar a
avaliar as deformações de fluência e proceder ao desenvolvimento de modelos
numéricos que traduzissem o comportamento diferido do betão sob esforços de tração.
No entanto, existiam ainda algumas lacunas no ensaio que podiam ser melhoradas, tais
como: aumentar ainda mais a precisão do sistema, evitar a fendilhação do betão na zona
das ancoragens, garantir a possibilidade de secagem nas quatro faces do provete,
garantir um controlo da temperatura em todo o sistema, eliminar os problemas
associados a uma fendilhação precoce do provete, etc.
No sentido de proceder a estudos de caraterização mais exaustivos, Altoubat e
Lange [15,16], utilizaram o mecanismo de Kovler [14] (Figura 1.8), aplicando
diferentes procedimentos experimentais através da variação de alguns fatores:
composição do betão, idade de início do ensaio, posição do mecanismo (vertical ou
horizontal), ciclos de secagem/molhagem, diferentes zonas instrumentadas
simultaneamente, etc. A consistência e a quantidade de resultados reportados por estes
autores permitiram um conhecimento mais aprofundado sobre este tema, tal como
aumentar a confiança no sistema desenvolvido. Do ponto de vista experimental
surgiram também alguns contributos, de entre os quais se realça a importância em se
garantir uma medição na zona central do provete, e não fixar os LVDT´s (‘Linear
Variable Differential Transformers’) na zona de ancoragem, uma vez que esta zona não
é representativa do ensaio e pode surgir como uma fonte de erro adicional.
Figura 1.8 – Ensaio de restrição longitudinal com sistema automático [15].
Introdução 13 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Apesar dos mecanismos mais recentemente desenvolvidos serem também
baseados no proposto por Kovler [14], tem havido uma preocupação em garantir um
controlo adequado da temperatura do betão, tal como acontecia no TSTM, de forma a
obter resultados mais precisos e a separar adequadamente os efeitos da retração e da
temperatura. Em Repette et al. [17] é apresentado um sistema cujo controlo da
temperatura é efetuado através de banhos térmicos realizados em ambos os provetes.
Em Boulay et al. [18] esse controlo obtém-se através da circulação de um líquido ao
longo de caixas de zinco que envolvem o provete, e utilizando uma cofragem de
alumínio de forma a tirar partido da alta condutibilidade térmica deste material (Figura
1.9).
Figura 1.9 – Ensaio de restrição longitudinal com sistema automático e controlo de temperatura [18].
Numa nova perspetiva de abordagem à presente problemática, Cusson e
Hoogeveen [19] apresentaram uma metodologia bastante inovadora face aos
mecanismos previamente apresentados. Esta nova técnica consiste em ensaiar provetes
restringidos armados, com a vantagem de poder utilizar os próprios varões do elemento
como forma de tracionar o provete. Basicamente, quando se pretende aplicar uma tração
axial no provete restringido, um atuador hidráulico é acionado e traciona inicialmente as
armaduras, que por sua vez tracionam também o betão envolvente (Figura 1.10).
A esta modificação do ensaio clássico em betão simples para betão armado estão
associadas algumas vantagens e desvantagens. Como vantagens podemos realçar:
14 Capítulo 1 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
- O contributo que esta abordagem traz no estudo do betão armado, algo
que não é desprezável uma vez que a maioria das estruturas atuais se
encontra nestas condições;
- A possibilidade de continuar o ensaio caso ocorra uma fissuração
imprevista do provete - esta é uma das grandes potencialidades deste
sistema resolvendo assim uma das principais limitações dos métodos
descritos anteriormente;
- A fendilhação tende a localizar-se numa zona central do provete, uma
vez que nas extremidades a tensão no betão é inferior à tensão da zona
central (devido a tratar-se de uma zona de aderência aço-betão, em que o
betão é solicitado em tração de forma muito gradual e crescente).
No entanto, surgem também algumas desvantagens:
- O procedimento experimental envolve um tratamento de resultados mais
complexo;
- É necessária uma caraterização prévia dos varões de aço utilizados;
- É necessário garantir um comprimento de amarração em cada
extremidade do provete de forma a garantir uma correta distribuição das
tensões ao longo da secção transversal do betão.
Figura 1.10 – Ensaio de restrição longitudinal realizado num provete armado [19].
2 CONCEÇÃO DO ENSAIO DE RESTRIÇÃO LONGITUDINAL
DESENVOLVIDO PARA CARATERIZAÇÃO DO
COMPORTAMENTO DIFERIDO DO BETÃO TRACIONADO
2.1 Introdução
Tal como referido anteriormente, os principais fenómenos associados às tensões
autoinduzidas no betão são originadas pelas deformações térmicas (que englobam o
calor de hidratação quando se analisam betões em idades jovens) e pelas deformações
associadas à retração (autógena e de secagem). Um projeto de investigação precedente,
o POCI/ECM/56458/2004 – “Betão nas Primeiras Idades: Previsão do
Comportamento”, liderado pelo mesmo IR do projeto a que se refere este relatório,
permitiu à equipa de investigação obter significativo ‘know-how’ sobre as deformações
com origem térmica, relacionadas com a libertação do calor de hidratação do cimento
[23, 24]. No sentido de completar o conhecimento adquirido nesse projeto, é necessário
proceder a um estudo da distribuição da humidade no interior do betão, e da respetiva
relação com as deformações de retração. Nesse sentido, foi definido o objetivo de
16 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
desenvolver um dispositivo experimental de restrição axial controlada, de forma a
caraterizar o comportamento diferido do betão sob estados de tração induzidos pela
retração. O estudo da relaxação das tensões de tração devidas à fluência, bem como o
comportamento pós-fissuração do betão são os principais objetivos a atingir com o
desenvolvimento deste dispositivo experimental.
No entanto, a escolha do dispositivo a adotar não é um processo fácil, pois todos
os sistemas descritos no Capítulo 1 apresentam vantagens e desvantagens, sendo que os
sistemas baseados numa restrição longitudinal se destacam pela positiva, devido ao
potencial de informação que se pode retirar deste tipo de ensaios. Face aos objetivos
traçados no âmbito do presente projeto de investigação, decidiu-se optar por um ensaio
de restrição longitudinal realizado em betão armado, baseado na ideia inicial do
mecanismo desenvolvido por Cusson e Hoogeveen [19], mas incorporando
significativos melhoramentos. Esta escolha teve como principal motivação o facto de
ser possível continuar o ensaio mesmo após ocorrer a fissuração do betão (devido à
utilização de provetes armados), bem como permitir caraterizar o comportamento de um
elemento de betão armado, algo que é mais representativo das estruturas correntes. A
grande desvantagem associada a este método é realmente a impossibilidade de se poder
aplicar tensões de compressão elevadas, algo que no entanto não limita
significativamente os objetivos deste trabalho, que se encontram essencialmente ligados
ao comportamento do betão em tração. É importante referir que se aproveitou o
conhecimento reportado por Cusson e Hoogeveen [19] para se desenvolver um
mecanismo aperfeiçoado, quer ao nível físico do pórtico e do tipo de instrumentação
utilizado, quer da riqueza de informação que é possível extrair do procedimento
experimental que será seguidamente apresentado.
Neste capítulo pretende-se fazer uma descrição detalhada do desenvolvimento
deste ensaio, desde a conceção do mecanismo até à forma de obtenção de resultados.
Nesse sentido, proceder-se-á de seguida a uma breve descrição dos conceitos teóricos
associados, de forma a explicar como é possível através deste sistema separar as
contribuições das diferentes deformações envolvidas num betão submetido a retração e
a uma restrição axial de tração.
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 17 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.2 Conceitos Teóricos
2.2.1 Introdução
O ensaio de restrição à retração longitudinal adotado desenvolve-se através da
instrumentação de dois provetes: um provete de betão com varões embebidos ensaiado
num pórtico de restrição variável, ‘Variable Restraint Frame’ (VRF) e um provete de
betão (‘dummy’) que não se encontra restringido e que apresenta exatamente a mesma
composição e ciclo de maturação que o provete armado. No provete armado, é possível
através do VRF controlar as deformações/tensões aplicadas recorrendo à utilização de
cilindros hidráulicos que permitem o ajuste gradual das forças envolvidas (Figura 2.1).
Figura 2.1 – ‘Variable Restraint Frame’ (VRF).
No entanto, este controlo necessita de informação detalhada sobre as
deformações térmicas e as deformações por retração, sendo este ‘input’ fornecido pelo
‘dummy’. Em ambos os provetes regista-se as deformações e as temperaturas
envolvidas, através de extensómetros elétricos, sensores de cordas vibrantes e sensores
de temperatura. Além disso, no VRF é registada simultaneamente a força aplicada ao
sistema recorrendo à utilização de células de carga. Desta forma, é possível separar as
18 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
deformações térmicas e de retração que ocorrem simultaneamente no VRF e no
‘dummy’, das deformações elásticas e de fluência que ocorrem exclusivamente no VRF.
Numa fase posterior, através da informação das células de carga e do conhecimento do
valor do módulo de elasticidade do betão (que apesar do seu caráter evolutivo pode ser
determinado no próprio VRF, através de ciclos de carga/descarga) é possível
inclusivamente estimar as tensões instaladas no betão e a correspondente deformação
elástica e de fluência. Ao longo do ensaio é efetuado o cálculo das diversas
deformações, sendo assim possível desenvolver um ensaio em controlo de força (através
da análise da tensão no betão) ou em controlo de deformação (através da análise da
deformação total).
O objetivo do presente ensaio é conseguir caracterizar adequadamente o
comportamento do betão sob estados de tração induzidos pela retração. Nesse sentido, é
importante conseguir identificar e separar as contribuições dos diferentes tipos de
solicitações que ocorrem no betão ao longo do ensaio, nomeadamente as decorrentes
das deformações térmicas, das deformações por retração e da força axial imposta ao
provete de ensaio por um atuador hidráulico.
De seguida, apresenta-se o comportamento do ensaio face a cada uma das
solicitações referidas ocorrendo isoladamente, aplicando no final o princípio da
sobreposição dos efeitos de forma a obter as correlações finais entre as leituras do
ensaio e os resultados pretendidos. A apresentação envolverá apenas metade dos
provetes devido à simetria existente em termos longitudinais. De forma a evitar
ambiguidades adotou-se a seguinte convenção: considerar as expansões e os esforços de
tração com sinal positivo, e as contrações e os esforços de compressão com sinal
negativo.
2.2.2 Efeito da deformação do betão por retração
Na Figura 2.2 é possível observar o comportamento do provete armado e do
provete livre sob ação exclusiva da retração. Em a) encontra-se representado o estado
inicial do provete armado, em b) representa-se o comportamento de ambos os materiais
caso não houvesse aderência, em c) apresenta-se a sua configuração final considerando
uma aderência perfeita entre o betão e as armaduras.
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 19 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Tendo em conta somente os efeitos da deformação do betão por retração, a
Figura 2.2 descreve as diferentes entidades (extensões e forças) envolvidas:
c,sh Extensão de contração livre no betão (retração livre)
Nc,co,sh Força no betão de compatibilização (devida à retração)
Ns,co,sh Força no aço de compatibilização (devida à retração)
c,co,sh Extensão no betão de compatibilização (devida à retração)
s,co,sh Extensão no aço de compatibilização (devida à retração)
c,el,sh Extensão no betão de compatibilização – contribuição elástica (devido à
retração)
c,cr,sh Extensão no betão de compatibilização – contribuição da fluência (devido à
retração)
r,rc,sh Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado (devido à
retração)
r,pc,sh Leitura direta da extensão nos sensores do provete livre (devido à retração)
Figura 2.2 – Esquema do comportamento do ensaio sob ação exclusiva da retração.
Com base no equilíbrio das forças e na compatibilidade das deformações entre o
betão e as armaduras é possível obter as seguintes equações:
(1)
20 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
(2)
considerando:
(3)
em que:
As Área da secção das armaduras
Ac Área da secção de betão
obtém-se:
(4)
(5)
em que:
c,sh Tensão no betão (devido à retração)
s,sh Tensão no aço (devido à retração)
Es Módulo de elasticidade do aço
Ec(t) Módulo de elasticidade do betão no instante t
t Tempo
substituindo na Eq.(2) resulta:
(6)
(7)
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 21 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
sendo que a Eq.(7) possibilita o cálculo das deformações por fluência provocadas pela
retração (r,cr,sh ), através da aplicação direta das leituras no provete armado e no provete
livre (r,rc,sh e r,pc,sh respetivamente).
2.2.3 Efeito da solicitação imposta pelo atuador hidráulico
Na Figura 2.3 é possível observar o comportamento do provete armado sob ação
do atuador hidráulico. Tendo em conta somente os efeitos da solicitação imposta pelo
atuador hidráulico constata-se:
c,p Extensão no betão (devido à ação do atuador)
s,p Extensão no aço (devido à ação do atuador)
c,el,p Extensão no betão - contribuição elástica (devido à ação do atuador)
c,cr,p Extensão no betão - contribuição da fluência (devido à ação do atuador)
r,rc,p Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado (devido à ação
do atuador)
P(t) Força aplicada pelo atuador no instante t
Figura 2.3 – Esquema do comportamento do ensaio sob ação exclusiva do atuador.
Com base no equilíbrio das forças e na compatibilidade das deformações é
possível obter as seguintes relações:
(8)
(9)
22 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
em que:
Nc,p Força no betão (devido à ação do atuador)
Ns,p Força no aço (devido à ação do atuador)
Manipulando as Eqs (8,9) ter-se-á:
(10)
(11)
obtendo-se a equação final que relaciona a deformação de fluência no betão com as
leituras r,rc,p realizadas:
(12)
2.2.4 Efeito da deformação térmica
Na Figura 2.4 é possível observar o comportamento do provete armado e do
provete livre sob ação da deformação térmica. Considerando um aumento de
temperatura constata-se:
t Variação de temperatura ao longo do tempo
c Coeficiente de dilatação térmica do betão
s Coeficiente de dilatação térmica do aço
Nc,co,t Força no betão de compatibilização (deformação térmica)
Ns,co,t Força no aço de compatibilização (deformação térmica)
c,co,t Extensão no betão de compatibilização (deformação térmica)
s,co,t Extensão no aço de compatibilização (deformação térmica)
c,el,t Extensão no betão de compatibilização – contribuição elástica (deformação
térmica)
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 23 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
c,cr,t Extensão no betão de compatibilização – contribuição da fluência
(deformação térmica)
r,rc,t Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado (deformação
térmica)
r,pc,t Leitura direta da extensão nos sensores do provete livre (deformação
térmica)
Figura 2.4 – Esquema do comportamento do ensaio sob ação exclusiva da deformação térmica.
Com base no equilíbrio das forças e na compatibilidade das deformações entre o
betão e as armaduras é possível concluir que:
(13)
(14)
(15)
Manipulando estas equações obtêm-se sucessivamente:
(16)
(17)
24 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Uma vez que:
(18)
a equação final que relaciona a deformação de fluência do betão com as leituras
realizadas sob efeito da deformação térmica pode ser expressa como se segue:
(19)
2.2.5 Sobreposição dos efeitos
Nesta fase é possível aplicar o conceito da sobreposição dos efeitos de forma a
conseguir calcular a deformação de fluência no betão originada pela ação conjunta das
três solicitações descritas. Assim, das Eqs(7), (12) e (19) resulta:
(20)
em que:
c,cr,total Extensão no betão de compatibilização – contribuição da fluência (total)
r,rc,total Leitura direta da extensão nos sensores do provete armado (total)
r,pc,total Leitura direta da extensão nos sensores do provete livre (total)
uma vez que:
(21)
(22)
Existem ainda duas entidades, que são extremamente importante quer no
tratamento de dados, quer no controlo do ensaio, sendo estas a tensão total e a extensão
total no betão. Apresenta-se de seguida a forma de as calcular (resultante da
combinações das expressões apresentadas):
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 25 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
(23)
(24)
em que:
c,total Tensão no betão (total)
c,total Extensão no betão (total)
2.3 Sistema de Atuação de Força
Para o sistema de atuação de força foram equacionados vários cenários, como
por exemplo a utilização de um motor mecânico de passo recorrendo a vários
desmultiplicadores de força, ou a utilização de um servo atuador acoplado a uma central
de pressão hidráulica com atuação contínua. Devido a critérios de custo-benefício
optou-se pela utilização de dois cilindros hidráulicos alimentados através de uma bomba
manual para a aplicação da força P(t) que solicita axialmente o provete armado a
ensaiar.
São selecionados cilindros ENERPAC RCH-202 (Figura 2.5) de simples efeito,
cujo retorno é feito através de uma mola. Cada um tem a capacidade de 20 toneladas e
um êmbolo com o curso máximo de 49 mm. Possuem a particularidade de serem ocos
na zona central do êmbolo, sendo que esta furação é de 26.9 mm de diâmetro.
Funcionam com gamas de pressões altas, até 700 bar.
A bomba manual ENERPAC P-391 possui um volume de 901 cm3 e tem a
capacidade de alimentar os dois cilindros em simultâneo. À saída da bomba existe uma
válvula ENERPAC antirretorno V-66 que minimiza as perdas de pressão no sistema
devido ao retorno do volume de óleo para a bomba. A jusante desta bomba existe um
manómetro de pressão ENERPAC G4039L, graduado de 0 a 700 bar, que permite a
visualização da pressão do sistema em cada instante. Numa secção posterior está
instalado um transdutor de pressão que permite o desta em cada instante, sendo que esta
aquisição é realizada através de um Datalogger Datataker 515. Estes pormenores estão
representados na Figura 2.6.
26 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Na ligação entre a mangueira proveniente da bomba manual e a mangueira que
alimenta os cilindros existe um “T” de derivação, onde estão instaladas duas válvulas
reguladores de caudal ENERPAC V-82, que permitem regular o caudal que alimenta
cada um dos cilindros (Figura 2.7).
Na extremidade das mangueiras que alimentam os cilindros existem ligadores
“macho” de alto fluxo, que permitem o encaixe rápido entre a mangueira e o cilindro e
impedem que haja perdas de óleo durante a operação.
Figura 2.5 – Pormenor dos cilindros hidráulicos ENERPAC RCH-202.
Cilindros Hidráulicos
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 27 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 2.6 – Pormenor dos componentes do sistema hidráulico à saída da bomba manual.
Figura 2.7 – Pormenor do “T” de derivação da bomba manual para os cilindros hidráulicos.
Bomba Manual
Transdutor de Pressão
Manómetro de Pressão
Válvula Antirretorno
Válvula reguladora de caudal
28 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.4 Dimensões do Provete Armado
A área da secção transversal do provete armado a ensaiar foi determinada por
forma a que toda a área de betão fosse efetiva e que a peça de betão tivesse a armadura
mínima pelo critério da plastificação da armadura. Optou-se por considerar para o
provete armado uma secção retangular, cuja maior dimensão é a horizontal, pois foi
decidido que os varões de aço (em número de 2 ou 3 consoante o objetivo do ensaio)
seriam colocados e alinhados segundo esta direção.
A dimensão longitudinal do provete foi determinada com base no comprimento de
aderência dos varões de aço ao betão, e assegurando que se teria pelo menos 1m de
comprimento na zona central do provete em que se formasse um campo uniforme de
extensões no betão. Assim, a dimensão longitudinal do provete foi estimada em 1,5m.
Na Figura 2.8 apresenta-se uma vista geral do provete armado, inserido no pórtico
metálico de reação que o envolve.
Figura 2.8 – Vista geral do provete.
2.5 Pórtico Metálico
No dimensionamento do pórtico metálico que possibilitará a restrição do provete
armado, para além de critérios de segurança foram tidos em conta critérios de
Pórtico metálico
Provete armado
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 29 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
deformabilidade do sistema sendo que estes últimos foram os mais condicionantes para
o dimensionamento. A força máxima a que o sistema poderá vir a estar sujeito é a carga
máxima que os cilindros hidráulicos permitem, ou seja, 430 kN (correspondente a 215
kN por cada cilindro). Por questões de furações e de soldaduras optou-se por escolher
para as secções transversais dos elementos do pórtico tubos quadrangulares do tipo RHS
(‘Rectangular Hollow Section’).
O aço usado nos RHS é da classe S275, e impôs-se que para a força máxima do
sistema a tensão máxima em cada perfil não ultrapassasse 15% da sua tensão de
cedência. Este critério permitiu que as deformações no pórtico fossem baixas, e que nos
perfis RSH sujeitos a compressões não ocorressem efeitos de 2ª ordem significativos,
pois permitiu obter esbeltezas da ordem de 20.
Nos perfis sujeitos a flexão e para a hipótese mais desfavorável de se adoptar 3
varões de aço no ensaio, impôs-se que a diferença de forças imposta pela curvatura da
peça não fosse superior a 7%.
2.6 Cofragem Metálica
Idealizou-se um sistema de cofragem incorporado no pórtico metálico para que
fosse possível realizar a betonagem do provete ‘in situ’, de forma a se poder começar o
ensaio quando se achasse pertinente, e também para não haver reposicionamentos do
provete de forma a não haver perturbações no sistema.
A cofragem é constituída por chapas com 4 mm de espessura (Figura 2.8), que é o
suficiente para as de maior dimensão terem deslocamentos da ordem da centésima do
milímetro, quando sujeitas à pressão do betão nas suas paredes. A cofragem pode ser
deslocada do betão com o auxílio de um mecanismo de porca-parafuso. A extremidade
do parafuso é de cabeça esférica, o que permite o recuo da cofragem.
O pórtico metálico tem ainda a particularidade de ter uns apoios ajustáveis em
altura, que permitem regular a distância ao solo e nivelá-lo conforme necessário. Isto
permite que o pórtico fique elevado do solo, o que é favorável para se realizar a
secagem uniforme em todas a faces do provete após a descofragem.
Na Figura 2.9 apresenta-se uma vista geral da cofragem inserida no pórtico
metálico, bem como a cofragem para o provete ‘dummy’. Na Figura 2.10 esta
30 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
representado o provete descofrado, evidenciando o pormenor da recolha da cofragem
metálica.
Figura 2.9 – Sistema de cofragem montado pronto a betonar. Vista da cofragem do provete do sistema e
do provete ‘dummy’.
Cofragem do provete livre
Cofragem metálica
Pórtico metálico
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 31 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 2.10 – Provete descofrado. Pormenor da posição das chapas metálicas após a descofragem.
2.7 Sensores
2.7.1 Extensómetros Elétricos de Colar nos Varões de Aço
São sensores destinados à medição pontual da extensão. Nos ensaio realizados
foram usados extensómetros elétricos aplicados na superfície dos varões de aço.
O princípio de funcionamento de um extensómetros de resistência elétrica é
baseado na variação da resistência de um condutor ou semicondutor, quando sujeito a
uma deformação mecânica. Para um dado condutor com comprimento l, secção
transversal A e resistividade , a resistência elétrica R é dada pela expressão:
(25)
Quando se aplica ao condutor uma deformação longitudinal, cada uma das três
quantidades que afetam a resistência variam, e por conseguinte ocorre uma variação da
resistência dada por:
Cofragem metálica removida
32 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
(26)
Onde G é designado por fator de ganho do extensómetro (“Gauge Factor”), que
usualmente ronda valores próximos de 2.
Os extensómetros elétricos de colar no aço utilizados são calibrados para Silicato
de Titânio Policristalino, que é um material com um coeficiente de dilatação muito
baixo, admitindo-se na prática que é zero. Assim, a grandeza medida pelo extensómetro
tem sempre incorporado uma componente térmica, que através da medição da
temperatura local é possível distinguir da componente mecânica de deformação.
No ensaio são instrumentadas 3 secções com este tipo de sensores: duas nos
varões de aço na zona embebida pelo betão, e outra nos varões de aço não embebidos
pelo betão (extremidades salientes relativas ao provete de betão de ensaio). As zonas
embebidas permitem a determinação das extensões do provete até à fendilhação do
betão. Na realidade o ensaio pode prosseguir mesmo quando ocorre uma fendilhação
acidental do betão, aproveitando as leituras dos extensómetros elétricos colados no aço
em secções não coincidentes com a localização da fissura.
Na Figura 2.11 apresenta-se uma secção do varão de aço instrumentada com
extensómetros elétricos.
Figura 2.11 – Extensómetros elétricos colocados nos varões de aço.
Varão de aço
Extensómetro elétrico colado
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 33 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.7.2 Extensómetros de Cordas Vibrantes para Embeber no Betão
A aplicação de sensores de cordas vibrantes em estruturas de betão armado é
prática corrente, pois são especialmente concebidos para funcionarem embebidos no
betão, sendo frequente a sua aplicação em fundações, pilares, pontes, etc.
Este tipo de sensores podem apresentar diferentes comprimentos de referência,
consoante a aplicação pretendida, algo que é importante ter em conta uma vez que
existem por vezes limitações espaciais e é necessário garantir uma boa
representabilidade do betão. Apresenta também uma elevada robustez de forma à sua
medição não ser afetada por possíveis momentos fletores localizados, sendo assim
indicado a sua utilização mesmo em elevados volumes de betão.
A existência de duas placas metálicas nas suas extremidades permite garantir
uma maior aderência entre o sensor e o betão, sendo a extensão medida segundo o
seguinte princípio: no interior do sensor existe uma corda metálica com cerca de 0.3mm
de diâmetro cuja frequência de vibração é passível de ser correlacionada com a tensão
na corda. Por outro lado, uma variação da deformação do sensor, ou seja da estrutura
pois considera-se haver uma aderência perfeita entre ambos, provoca uma alteração na
tensão da corda metálica. Assim, através de uma corrente que percorre uma bobine
instalada junto à estrutura metálica, é possível criar um campo magnético que excita a
corda, a qual passa a oscilar a uma frequência associada à tensão correspondente. A
oscilação da corda no interior desse campo magnético induz uma corrente alternada na
bobine que é detetada pelo sistema de aquisição [20].
Na Figura 2.12 está representado o esquema de funcionamento de um sensor de
cordas vibrantes.
34 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 2.12 – Esquema de funcionamento de um sensor de cordas vibrantes para embeber no betão [20].
Os sensores de cordas vibrantes são então aplicados de forma a determinar uma
deformação, que associada ao comprimento do sensor permite extrapolar o valor da
extensão no betão. No entanto, uma vez que este tipo de sensores é afetado pela
temperatura (pois é constituído por um material metálico, com coeficiente dilatação
próximo do betão), caso se pretenda realizar uma medição precisa, é necessário
proceder numericamente a uma compensação dos efeitos da temperatura. A Eq.(27)
demonstra de que forma é possível calcular as correspondentes variações de extensão,
tendo em conta os efeitos da temperatura e lembrando que a constante associada ao
sensor depende do seu comprimento de referência.
(27)
Em que kv é a constante do sensor que depende essencialmente das
características mecânicas e geométricas da corda, enquanto kt representa a constante
associada ao coeficiente de dilatação térmico da corda metálica tencionada.
No ensaio experimental são usados 2 sensores de cordas vibrantes: um
posicionado no centro do provete armado e outro posicionado no centro do provete
‘dummy’. São estes sensores que comandam o ensaio em termos de deformações no
betão, sendo posicionados no centro dos respetivos provetes para serem representativos
dos estados de deformação, por estarem localizados em posições equivalentes, estes
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 35 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
sensores registam temperaturas em pontos correspondentes, o que é determinante para
as correções térmicas necessárias à separação das extensões mecânicas das extensões
térmicas.
Na Figura 2.13 apresenta-se o posicionamento de um sensor de cordas vibrantes
no molde do sistema mecânico, e na Figura 2.14 o posicionamento de um sensor de
cordas vibrantes no molde do provete ‘dummy’.
Figura 2.13 – Sensor de cordas vibrantes posicionado no molde do sistema.
Sensor de cordas vibrantes
36 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 2.14 – Sensor de cordas vibrantes posicionado no molde do provete ‘dummy’.
2.7.3 Sensores de Temperatura
Existe atualmente uma grande variedade de instrumentos destinados à medição
da temperatura, cada um dos quais apresentando características que os tornam
particularmente indicados para determinadas aplicações específicas. De entre estas
características salienta-se a gama de medição e a linearidade. Os sensores de
temperatura atualmente mais utilizados nas aplicações de engenharia civil são os
termopares e os detetores resistivos, sendo que nestes ensaios foram usados detetores
resistivos.
Um detetor de temperatura resistivo (RTD – do inglês Resistance Temperature
Detector) é um sensor baseado no princípio do aumento da resistência do metal com a
temperatura. O metal mais usado neste tipo de sensores é a platina, sendo por vezes
designado por PRT (do inglês Platinum Resistance Thermometer), embora outros
metais possam ser utilizados como o cobre, o níquel e o balco. Mais recentemente têm
surgido ligas de metais que apresentaram características muito idênticas às da platina,
constituindo para certas gamas de medição soluções economicamente mais atrativas.
A resistência R de um elemento condutor, a temperatura constante, é dada pela
expressão:
Sensor de cordas vibrantes
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 37 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
(28)
em que:
l Comprimento do elemento condutor
A Área da secção transversal
Resistividade
De acordo com esta expressão a variação de resistência é consequência da
variação da resistividade e da alteração das dimensões do elemento condutor
provocadas pela variação da temperatura. A relação entre a resistência e a temperatura
de um dado condutor é dada pela expressão geral:
(29)
em que:
RT Resistência do condutor à temperatura T
R0 Resistência do condutor à temperatura de 0ºC
T Temperatura
1,2,…,n Constantes típicas do condutor
No caso do elemento sensor ser platina, cobre ou níquel, numa gama de medida
bastante alargada esta expressão pode ser simplificada, sendo em geral suficiente
considerar a seguinte variação linear entre a resistência e a temperatura:
(30)
Sendo o chamado coeficiente de temperatura da resistência. Este factor é
muito sensível à presença de impurezas ou à deformação mecânica. Nas aplicações mais
correntes o sensor mais utilizado é a platina, que tem um =100 a 0ºC, recebendo por
isso a designação corrente de PT100.
38 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
No ensaio são usados 3 PT100, um em cada secção instrumentada pelos
extensómetros elétricos de colar nos varões de aço. Assim, utilizam-se 2 PT100 colados
aos varões de aço na zona embebida e 1 PT100 colado ao varão de aço na zona não
embebida. Os PT100 apresentam uma boa precisão e desempenham um papel de
enorme importância na quantificação da temperatura em cada secção instrumentada. Só
desta forma é possível com exatidão determinar a parcela térmica da leitura do sensor e
conseguir separar os efeitos térmicos dos mecânicos ao nível das extensões medidas no
betão e no aço.
Na Figura 2.15 apresenta-se uma secção instrumentada com um sensor de
temperatura PT100.
Figura 2.15 – Pormenor de um PT100 colocado num varão de aço.
2.7.4 Células de Carga
O processo mais frequente para a medição direta das forças induzidas por um
atuador hidráulico é através da interposição de células de carga. São dispositivos
tradicionalmente hidráulicos ou de deformação, consoante o processo adotado para a
transdução da força. No segundo caso, a força aplicada induz uma deformação elástica
numa peça devidamente instrumentada com extensómetros, que se encontra inserida no
Extensómetro elétrico
Sensor de temperatura
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 39 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
interior da própria célula de carga. A deformação elástica medida é convertida no valor
da força, por calibração. Os modelos de células de carga mais comuns utilizam
extensómetros de resistência elétrica ou de corda vibrante. Nos ensaios realizados no
presente trabalho foram usadas células de carga de deformação que utilizam
extensómetros de resistência elétrica. Utilizaram-se duas células de carga ocas, uma
para cada varão, que são atravessadas pelos varões de aço.
Na Figura 2.16 apresenta-se a colocação das células de carga no sistema
mecânico, enquanto na Figura 2.17 apresenta-se a secção dos varões não embebida pelo
betão, onde os extensómetros elétricos de colar no aço funcionam igualmente como
células de carga, após adequada calibração.
Figura 2.16 – Pormenor da colocação das células de carga no sistema.
Varões de aço
Células de carga
40 Capítulo 2 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 2.17 – Pormenor dos varões instrumentados numa secção não embebida pelo betão, funcionado
como células de carga.
2.7.5 Manómetro de Pressão
O manómetro de pressão (Figura 2.6) é um aparelho que indica a pressão no
sistema hidráulico em cada instante. A sua utilização em série com as células de carga
cria uma oportunidade de redundância, e portanto de robustez, no ensaio em termos da
avaliação das forças transmitidas ao provete armado, uma vez que com uma prévia
calibração do manómetro com as células de carga é possível rapidamente saber o valor
da força instalada no sistema. Caso contrário é necessário recorrer sempre a um
Datalogger Datataker 515 para conhecer o valor da força instalada no sistema.
2.7.6 Transdutor de Pressão
O transdutor de pressão (Figura 2.6) permite transformar pressão no sistema em
força transmitida aos varões. Tem a mesma função do manómetro de pressão, mas com
a principal vantagem de ser possível o registo autónomo dessa mesma pressão em cada
instante.
Extensómetro elétrico
Sensor de temperatura
Conceção do Ensaio de Restrição Longitudinal Desenvolvido para Caraterização do
Comportamento Diferido do Betão Tracionado 41 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3 CAMPANHA EXPERIMENTAL REALIZADA
3.1 Introdução
Neste capítulo são apresentados os resultados da campanha experimental realizada
com o sistema desenvolvido descrito no Capitulo 2. O objetivo dos primeiros ensaios
efetuados foi essencialmente afinar e ajustar o protocolo experimental, e ganhar
confiança no funcionamento do sistema e na fiabilidade dos sensores e do sistema de
aquisição utilizados. Portanto, à medida que o protocolo experimental se foi alterando e
melhorando, a qualidade dos resultados dos ensaios também foi melhorando.
A campanha experimental incluiu a caracterização do comportamento de betões
de resistência normal e de betões de alto desempenho, estes últimos com elevada
retração autógena. Foi também alvo de estudo o estudo do comportamento de um
mesmo betão, mas carregado a idades diferentes.
44 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.2 Protocolo experimental
3.2.1 Preparação do Ensaio
Antes de se realizar o ensaio experimental é necessário efetuar o seguinte conjunto
de operações:
1- Instrumentar os varões de aço com extensómetros elétricos e sensores de
temperatura PT100, nas secções pretendidas. As secções devem estar
rebarbadas, lisas e planas para uma melhor aderência e comportamento dos
extensómetros.
2- Colocar as várias chapas referentes à cofragem no pórtico metálico.
3- Colocar os varões no pórtico metálico e centrá-los nas respetivas furações,
recorrendo ao auxílio de casquilhos de nylon.
4- Posicionar a cofragem de forma centrada relativamente aos varões. Para além de
ser possível ajustar a cofragem no plano horizontal, é também possível ajustar a
cofragem no plano vertical, fazendo com que haja uma maior centragem dos
varões relativamente a esta.
5- Colocar os cilindros hidráulicos nas extremidades dos varões, e proceder à
ancoragem destes últimos.
6- Realizar todas as ligações ao Datalogger e etiquetar todos os cabos referentes a
cada sensor.
7- Realizar algumas cargas e descargas ao sistema e verificar se os sinais e
grandezas estão todos em correspondência com os valores esperados.
8- Colocar óleo descofrante na cofragem e proceder à amassadura de betão.
9- Colocar o betão nos moldes, tendo o cuidado de não o despejar diretamente em
cima dos sensores, por forma a não os danificar.
10- Selar os provetes para evitar a secagem.
Na Figura 3.1 está representado o aspeto geral do ensaio antes de se proceder à
betonagem dos moldes. Na Figura 3.2 apresenta-se o pormenor das ligações ao
datalogger, fonte de alimentação (baterias) e computador. Na Figura 3.3 mostra-se a
preparação da amassadura de betão em laboratório.
Campanha Experimental Realizada 45 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.1 – Preparação de todo o sistema antes de se proceder à betonagem.
Figura 3.2 – Pormenor das ligações dos sensores ao Datalogger, fonte de alimentação e computador.
Baterias Computador
Datalogger
VRF
Varões
Bomba manual
Cilindros hidráulicos
Dummy
46 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.3 – Preparação da amassadura de betão.
3.2.2 Variantes de Ensaio
Este sistema de ensaio permite uma certa versatilidade no que diz respeito ao
protocolo a seguir.
1- É possível realizar um ensaio em força constante, repondo o valor da força P(t)
nos cilindros atuadores no correspondente valor P(t) inicial alvo.
2- É possível realizar um ensaio com carga P(t) evolutiva, sendo que esta evolução
seguirá uma percentagem da expectável curva de evolução da resistência à
tração do betão. Esta curva de evolução de resistência à tração é previamente
caracterizada com ensaios em laboratório, recorrendo ao ‘split test’ ou ensaio
brasileiro.
3- É viável simular um ensaio de restrição completa ou parcial, repondo a uma
cadencia temporal pré-definida o valor da deformação axial do provete armado
no correspondente valor inicial alvo.
Campanha Experimental Realizada 47 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.3 Ensaios Realizados
Foram realizados vários ensaios, onde foram testadas algumas variantes levando o
sistema a um processo de evolução. Estes ajustes foram sendo graduais, por forma a ser
possível isolar os efeitos e tentar encontrar a causa e solução para cada problema
identificado.
Ensaio 1
O primeiro ensaio tinha como principal objetivo detetar erros na montagem do
dispositivo experimental ou na conceção de algum aspeto do sistema propriamente dito,
bem como despistar falhas ao nível da folha de cálculo previamente preparada para
interpretação das medições efetuadas e resultados obtidos. O protocolo experimental foi
também posto à prova, sofrendo alterações à medida que se realizaram os sucessivos
ensaios.
Foi preparada uma amassadura de um betão de elevado desempenho, da classe C95,
e com uma relação água cimento a/c= 0.3. A baixa relação a/c destinava-se a impor que
o betão tivesse uma forte retração autógena, o que permitia que todo o processo se
desenrolasse rapidamente e se assegurasse um acelerada execução do ensaio. Nas
Figura 3.4 a 3.11 apresentam-se os resultados do ensaio 1.
48 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.4 – Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante o ensaio 1.
Figura 3.5 – Extensões no betão registadas no ensaio 1 através dos extensómetros elétricos do varão 1 e 2
(EE1 e EE2).
Campanha Experimental Realizada 49 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.6 – Valor da força registada pelas duas células de carga (CC1 e CC2) durante o ensaio 1.
Figura 3.7 - Valor da retração livre medida no provete ‘dummy’ no ensaio 1.
50 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.8 – Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 1.
Figura 3.9 – Valor da extensão total no betão durante o ensaio 1.
Campanha Experimental Realizada 51 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.10 – Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 1.
Figura 3.11 – Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 1.
Tratando-se de um ensaio preliminar, adotou-se uma cofragem provisória em
poliestireno para o provete ‘dummy’, e usou-se a cofragem metálica definitiva para o
provete armado. Esta estratégia originou uma diferença nas temperaturas geradas pelo
calor de hidratação, como se pode verificar na Figura 3.4. A temperatura alcançada no
interior do provete ‘dummy’ foi maior, pois a cofragem em poliestireno, devido à sua
52 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
baixa condutibilidade térmica, não permitiu que o calor se dissipasse tão rapidamente
como ocorreu na cofragem metálica.
Na Figura 3.5 estão representados os valores das extensões de cada varão de aço,
medidas através dos extensómetros elétricos de colar na zona embebida. São
apresentados os valores de cada varão, sendo que cada varão está instrumentado com 2
extensómetros na mesma secção. Assim, o valor apresentado corresponde à média
destes dois sensores. Verifica-se uma semelhança de deformação nos dois varões de
aço, o que despista quaisquer problemas de excentricidades no sistema e corrobora a
hipótese inicial de que no interior da peça se forma um campo uniforme de tensões.
Este facto, também está reportado na Figura 3.6, referente às duas células de carga
do sistema. Ambas têm o mesmo comportamento e apresentam diferenças bastantes
reduzidas. Encontrou-se um problema de ‘stick and slip’ proveniente dos cilindros
hidráulicos, e que é repercutido nos resultados das células de carga através. Isto é
devido aos cilindros hidráulicos serem de alta pressão (700bar), pelo que é necessário
possuírem vedantes com bastante atrito. Assim, quando o cilindro é solicitado a sua
resposta não é imediata, pois primeiro é necessário vencer o referido elevado atrito,
assistindo-se depois a um escorregamento súbdito do atuador.
Na Figura 3.8 está representada a tensão total no betão. As duas grandes quedas que
se observam na figura correspondem às duas descargas instantâneas e propositadas
efetuadas no sistema, com as quais foi medir o módulo de elasticidade do betão. Para a
medição desta propriedade a força é descarregada do sistema e é deixada em patamar
durante 1 minuto, para que o sinal fique totalmente estabilizado. Em seguida faz-se uma
recarga para um valor de força próximo que se pretende atingir, deixando-se novamente
1 minuto em patamar. Por fim, é reposta a força para o valor alvo. As subidas
instantâneas que se observam no gráfico coincidem com aumentos da carga no sistema
de forma a tentar seguir da melhor forma possível uma curva de resistência à tração
expectável no betão ensaiado.
Nas Figura 3.9, 3.10 e 3.11 estão representadas a extensão total, elástica e de
fluência do betão, sendo que a primeira é a soma das restantes. A forma como estes
efeitos são separados é explicada no início do presente Capítulo.
Na Figura 3.12 está representada a fluência específica do betão obtida no ensaio 1.
É uma grandeza que corresponde à extensão de fluência medida no ensaio dividida pela
tensão aplicada ao betão. Assim, permite uma comparação com resultados de outros
autores, pois é uma grandeza independente da tensão aplicada.
Campanha Experimental Realizada 53 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Na Figura 3.13 apresenta-se o resultado obtido para o coeficiente de fluência do
betão. Este coeficiente tem sensivelmente o mesmo tipo de evolução da curva da
fluência específica, mas com uma escala diferente.
Figura 3.12 – Fluência específica do betão obtida no ensaio 1.
Figura 3.13 – Coeficiente de fluência do betão obtido no ensaio 1.
54 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ensaio 2
No ensaio 2 fizeram-se algumas modificações relativamente ao ensaio 1. Usou-se
também um sensor de cordas vibrantes no provete armado, tentando tirar partido do
sinal mais estável registado por estes sensores, e verificar se o sensor não é demasiado
intrusivo para o provete. Este facto, poderia ser preocupante, uma vez que a secção de
betão poderia ficar fragilizada ao ponto de surgir uma fendilhação indesejada na secção
do sensor.
Usou-se também uma cofragem definitiva para o provete ‘dummy’, do mesmo
material aço e espessura da cofragem usada no provete armado.
No Anexo A são apresentados os resultados obtidos para este ensaio (Figuras A.1 a
A.8).
Em termos de temperaturas a diferença entre os dois provetes já não se verifica
(Figura A.1) e desenvolveram-se campos térmicos idênticos e temperaturas de
hidratação semelhantes tanto no provete armado como no provete ‘dummy’. A extensão
medida através dos extensómetros elétricos e através do sensor de cordas vibrantes tem
bastante semelhança (Figura A.2), o que garante que há uma boa aderência entre o aço e
o betão e que as extensões nos dois materiais são iguais. Este facto é importante uma
vez que na formulação matemática é assumido que tem de haver aderência perfeita entre
os dois materiais, para que as expressões de compatibilidade sejam verdadeiras e
aplicáveis.
Em termos de estabilidade de sinal relativo à extensão total no betão verificou-se
uma melhoria significativa neste ensaio 2 como se pode observar pelo gráfico da Figura
A.6.
Ensaio 3
O ensaio 3 teve a particularidade de ser precedido de intensiva uma campanha de
caraterização do betão. Fez-se uma caraterização cuidada ao longo de 28 dias, com
ensaios aos 1,2,3,8,16 e 28 dias de idade, para a determinação da evolução da
resistência à compressão, da resistência à tração e do módulo de elasticidade do betão,
chegando-se a betão da classe C35/45. Deste modo, foi possível traçar as curvas de
Campanha Experimental Realizada 55 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
evolução das propriedades do betão de forma mais realista, e previamente ao ensaio de
restrição propriamente dito.
A variante de ensaio de restrição sofreu também alterações, optando-se por não
começar o ensaio durante as primeiras 24 horas, por forma a não se interferir com o
betão durante o desenvolvimento do calor de hidratação. Deste modo, após a betonagem
os provetes foram selados e deixados em repouso durante 24 horas. Após este período,
os provetes foram descofrados, ocorrendo o fenómeno de ‘evaporative cooling’. Ao fim
de 48 horas de idade momento em que as temperaturas estavam estabilizadas em ambos
os provetes, procedem-se ao carregamento do provete armado até à tensão alvo daquela
idade.
Nesta experiência foi incluído um transdutor de pressão nos atuadores, de forma a
ser possível o registo da pressão no sistema em cada instante.
Na Figura 2.15 apresenta-se o pormenor da selagem dos provetes após se proceder à
betonagem.
Os resultados deste ensaio encontram-se no Anexo B nas Figuras B.1 a B.8
Figura 3.14 – Selagem dos provetes.
Selagem dos provetes
56 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Ensaio 4
A principal diferença deste ensaio 4 para os precedentes foi o facto de ser feito
numa camara climática com uma temperatura e humidade constante de 20ºC e 50%,
respetivamente. O principal objetivo foi não ter flutuações de temperatura e, deste
modo, obter uma curva de retração suave, sem as perturbações do ciclo térmico diário, e
de acordo com o esperado. Neste ensaio a classe de betão mantém, aproveitando a
exaustiva campanha experimental para o ensaio 3.
Outra alteração está relacionada com a utilização de extensómetros elétricos colados
nos varões de aço, mas numa zona não embebida pelo betão. Deste modo, a partir deste
ensaio, os varões passam a funcionar também como células de carga, permitindo
confrontar os valores obtidos entre os varões e as células de carga propriamente ditas.
Os resultados obtidos no ensaio 4 estão reproduzidos nas Figura 3.15 a 3.24.
Figura 3.15 - Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante o ensaio 4.
Campanha Experimental Realizada 57 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.16 - Extensões no betão registadas no ensaio 4.
Figura 3.17 - Valor da força registada pelas células de carga e pelos varões durante o ensaio 4.
58 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.18 – Valor da retração livre medida no provete ‘dummy’ no ensaio 4.
Figura 3.19 - Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 4.
Campanha Experimental Realizada 59 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.20 - Valor da extensão total no betão durante o ensaio 4.
Figura 3.21 - Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 4.
60 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.22 - Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 4.
Figura 3.23 - Fluência específica obtida no ensaio 4.
Campanha Experimental Realizada 61 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.24 - Coeficiente de fluência obtido no ensaio 4.
Devido ao facto de o ensaio 4 decorrer no interior de uma câmara climática, as
temperaturas medidas são praticamente constantes, ocorrendo variações na ordem da
décima do grau (Figura 3.15).
As extensões medidas no betão, registadas em três secções diferentes (Figura 3.16)
apresentam boa concordância, facto que ocorreu em todos os ensaios. No entanto, neste
ensaio, por volta das 98 horas ocorreu uma fenda indesejada no betão, que afetou os
extensómetros da secção 2. Apesar disso, verifica-se que os outros sensores, o sensor de
cordas vibrantes e os extensómetros da secção 1, não registaram qualquer perturbação,
uma vez que estão a distâncias suficientemente grandes dessa fenda que permite a
formação de campos uniformes de extensões. Este acontecimento acabou por ser
benéfico, pois permitiu testar a robustez do ensaio e mostrar realmente que o ensaio
pode continuar mesmo após a fissuração do provete. Esta era uma das razões pela qual
se tinha optado por realizar o ensaio com um provete armado.
No que diz respeito à força atuante, na Figura 3.17 apresentam-se os gráficos
referentes aos valores registados pelas células de carga e pelos extensómetros elétricos
colados nos varões (zona não embebida), que funcionam também como células de
carga. Para além dos valores serem bastantes concordantes, há que realçar o facto do
sinal proveniente dos extensómetros elétricos ser mais estável e não registar o ‘stick and
62 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
slip’ que se observa nos registos das células de carga. Isto deve-se apenas a uma questão
de escala, porque é necessária uma maior variação da extensão para esta ser repercutida
no gráfico. Este acontecimento trouxe maior estabilidade dos resultados globais, pois
tornou as curvas referentes à tensão e à fluência do betão menos irregulares.
A curva de retração do provete ‘dummy’ (Figura 3.18) apresenta-se agora sem
oscilações térmicas e com um andamento idêntico ao esperado. No entanto, há que
realçar que foi admitido para o betão um coeficiente de dilatação térmica constante e
igual a 10x10-6
/ºC , pois a quantificação desta propriedade ainda não está totalmente
resolvida. Sabe-se que há uma evolução desta propriedade nas primeiras idades, mas os
valores obtidos não são muito distantes destes, pelo que se admite que um valor de
10x10-6
/ºC é aceitável na presente fase de estudo.
Os gráficos da tensão total, extensão total e elástica, presentes nas Figura 3.19 a
3.22, apresentam sinais muito mais estáveis e com andamentos muito concordantes.
Existem as descargas pontuais no sistema, que coincidem com a determinação do
módulo de elasticidade do material, e portanto não reflete qualquer instabilidade ou
incidente inesperado do sistema de ensaio.
Em termos da fluência específica e do coeficiente de fluência do betão, observáveis
nas Figura 3.23 e Figura 3.24 respetivamente, apresentam agora curvas suaves e com
um sinal muito estável, havendo apenas perturbações quando humanamente se intervém
no sistema.
Ensaio 5
O ensaio 5 teve como objetivo replicar o ensaio 4, para se observar a repetibilidade
do sistema e protocolo de ensaio. No entanto, por volta das 74 horas surgiu uma fuga de
óleo inesperada no sistema hidráulico, fazendo com que a força nos cilindros
hidráulicos baixasse a uma taxa elevada. Tentou-se resolver o problema sem
descarregar o sistema hidráulico, mas as medidas tomadas não surtiram efeito. Deste
modo teve-se que descarregar o sistema hidráulico ficando o problema resolvido apenas
por volta das 86 horas de ensaio. Apesar de o ensaio propriamente dito ter ficado um
parcialmente comprometido com esta situação, retomou-se o ensaio para verificar o
comportamento do provete a partir deste acontecimento. Os resultados obtidos
encontram-se no Anexo C nas Figuras C.1 a C.8. Verifica-se que os resultados mantêm
Campanha Experimental Realizada 63 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
a mesma tendência, apresentando concordância com os resultados anteriormente
alcançados.
3.4 Determinação do Coeficiente de Dilatação Térmica do Betão
3.4.1 Introdução
Como se referiu anteriormente, o do coeficiente de dilatação térmica do betão (c) é
uma propriedade importante e necessária para se conseguir separar as deformações de
origem mecânica das de origem térmica. Apesar de haver um vasta bibliografia sobre a
evolução desta propriedade, nomeadamente no que diz respeito às primeiras idades, em
paralelo com o desenvolvimento do VRF tem-se preparado ensaios que permitam a
caraterização desta propriedade.
É necessária uma forma rigorosa para a determinação desta propriedade, mas este
não é o principal objetivo do projeto envolvido, pelo que não é pretendido um
procedimento experimental minucioso para a sua quantificação.
Para o aprofundamento de uma técnica mais rigorosa para a determinação desta
propriedade deve consultar a seguinte bibliografia [21,22].
3.4.2 Descrição do Ensaio
O ensaio idelizado passa por instrumentar dois provetes de betão, de iguais
dimensões 0.10x0.10x0.5 m3, embebendo um sensor em cada um deles. É necessário
medir a extensão e temperatura no centro dos provetes.
Um dos provetes é colocado numa camara climática sofrendo ciclos de temperatura
entre 17.5ºC e 22.5ºC e com uma humidade relativa de 50%, para que a média da
temperatura se situe nos 20ºC: de seguidas este provete é deixado em patamar de
temperatura constante durante 4 horas, tempo necessário para que todo o provete fique à
mesma temperatura. O outro provete ‘dummy’ é colocado numa câmara de cura, com
uma temperatura de 20ºC e uma humidade relativa de 50% (ambos constantes). Este
provete é necessário para se conseguir quantificar a parcela referente à retração, para
deste modo ser possível quantificar a parcela mecânica e assim determinar o coeficiente
de dilatação térmica do betão.
Testaram-se 3 tipo de sensores: (i) sensor de cordas vibrantes (Figura 3.25), (i) um
varão de aço com diâmetro de 6mm e instrumentado com um extensómetro elétrico e
64 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
um PT100 (Figura 3.26) e (iii) um varão em acrílico com 6 mm de diâmetro e
instrumentado com um extensómetro elétrico e um PT100 (Figura 3.27). A razão pela
qual foram testados vários sensores está relacionada com a diferença de rigidez entre
eles. Podendo desta forma estudar-se os diferentes instantes de aderência entre cada
sensor e o betão, em função da sua rigidez.
A determinação do coeficiente de dilatação térmica do betão é efetuada utilizando as
medições das extensões obtidos entre cada patamar de temperatura constante. A
temperatura ambiente é também registada, e assim pela comparação desta com a
temperatura registada no interior do provete é possível determinar quando este atingiu o
equilíbrio térmico com o meio ambiente.
Figura 3.25 – Molde do provete ‘dummy’ instrumentado com um sensor de cordas vibrantes.
Sensor de cordas vibrantes
Campanha Experimental Realizada 65 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.26 – Molde do provete ‘dummy’ instrumentado com um varão de aço que contém um
extensómetro elétrico e um PT100.
Figura 3.27 – Molde do provete ‘dummy’ instrumentado com um varão de acrílico que contém um
extensómetro elétrico e um PT100.
Varão de aço instrumentado
Varão de acrílico instrumentado
66 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.28 – Provetes para a câmara climática que sofrerão variações de temperatura.
3.4.3 Protocolo Experimental
O protocolo experimental para a determinação do c do betão segue os seguintes
passos:
1- Colagem dos extensómetros elétricos e dos sensores de temperatura PT100
nos varões de aço e acrílico
2- Posicionamento dos sensores no centro dos moldes
3- Realização a amassadura de betão
4- Colocação do betão nos moldes, selagem dos provetes e colocação destes na
câmara climática e na câmara de cura
5- Programação da camara climática para realizar os ciclos de temperatura
pretendidos
Sensor de cordas vibrantes Varão de acrílico instrumentado
Varão de aço instrumentado
Campanha Experimental Realizada 67 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3.4.4 Ensaios Preliminares Realizados
Os resultados dos ensaios realizados para a determinação do c ainda não são
conclusivos, pois o protocolo ensaio ainda está em fase de melhoramento e ajustes.
Apresentam-se seguidamente os resultados relativos ao instante de aderência entre o
betão e o sensor de cordas vibrantes e o betão e o varão de aço. Para a identificação
destes instantes previamente foram determinados os coeficientes de dilatação térmica da
própria estrutura do sensor de cordas vibrante e do varão de aço. Deste modo é possível
prever o comportamento de cada sensor quando sujeito a uma determinada temperatura
mas em estado ‘livre’, isto é, ainda não embebido no betão. Quando comparado o
comportamento do sensor embebido com o respetivo sensor em estado ‘livre’ é notório,
a partir de um determinado instante, uma mudança de comportamento. Este momento é
o instante de aderência entre o sensor e o betão, sendo que agora é este material que
comanda as deformações registadas pelo sensor.
Os resultados obtidos na campanha preliminar de ensaios estão reportados nas
Figura 3.29 a 3.32. Observa-se que no sensor de cordas vibrantes o instante de aderência
ocorre mais cedo do que no varão de aço, devido à sua menor rigidez. Verifica-se
também que os provetes colocados na câmara climática têm instantes de aderência mais
tardios do que os colocados na câmara de cura, uma vez que coincidiu que no momento
da betonagem a câmara climática se encontrava a 17.5ºC, pelo que os provetes da
câmara de cura estiveram a uma temperatura superior a esta, o que acelerou o
endurecimento do betão e antecipou o instante de aderência.
68 Capítulo 3 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.29 – Determinação do instante de aderência para o sensor de cordas vibrantes do provete
colocado na câmara climática.
Figura 3.30 - Determinação do instante de aderência para o sensor de cordas vibrantes do provete
colocado na câmara de cura.
Instante de aderência
Instante de aderência
Campanha Experimental Realizada 69 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura 3.31 - Determinação do instante de aderência para o varão de aço instrumentado do provete
colocado na câmara climática.
Figura 3.32 - Determinação do instante de aderência para o varão de aço instrumentado do provete
colocado na câmara de cura.
Instante de aderência
Instante de aderência
4 CONCLUSÃO
Neste trabalho foi apresentado a evolução do dispositivo de ensaio desenvolvido
para a caraterização do betão nas primeiras idades, no que diz respeito ao
comportamento deste material sob restrição a deformações impostas pela retração tendo
em linha de conta o comportamento diferido e a fissuração do betão.
Criou-se um sistema versátil denominado “VRF” com base na informação
reportada na bibliografia, mas incluindo uma série de novas capacidades de ensaio
desenvolvidas, originalmente no âmbito do presente projeto de investigação. Pode-se
realizar um ensaio em controlo de força ou de deslocamento. É possível iniciar o ensaio
nas primeiras idades do betão, logo após o instante de aderência entre o betão e as
armaduras ou numa altura mais avançada de cura do material. O sistema de cofragem
removível permite o estudo do comportamento dos provetes de betão em qualquer
idade, e permite a secagem uniforme dos provetes.
Apesar de o sistema estar ainda numa fase de ajustes já é possível retirar
resultados consistentes, e observar comportamentos coerentes e repetibilidade dos
ensaios. Deste modo começa-se a ter confiança nos resultados obtidos, e está-se em
condições de começar uma campanha sistemática de ensaios de caraterização de vários
tipos de betão.
72 Capítulo 4 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Uma das principais vantagens deste sistema VRF em comparação com a grande
maioria de sistemas congéneres reportada na bibliografia é o facto de o ensaio poder
continuar mesmo após a fissuração do betão. Esta situação foi testada e os resultados
obtidos foram coerentes com o esperado.
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76 Referências ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Anexo A
Resultados do Ensaio 2.
Figura A.1 - Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante do ensaio 2.
Figura A.2 - Extensões no betão registadas no ensaio 2.
78 Anexos ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura A.3 – Valor da força registada pelas células de carga durante o ensaio 2.
Figura A.4 – Valor da retração livre medida no provete “dummy” no ensaio 2.
Anexos 79 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura A.5 - Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 2.
Figura A.6 - Valor da extensão total no betão durante o ensaio 2.
80 Anexos ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura A.7 - Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 2.
Figura A.8 - Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 2.
Anexos 81 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Anexo B
Resultados do Ensaio 3.
Figura B.1 - Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante do ensaio 3.
Figura B.2 - Extensões no betão registadas no ensaio 3.
82 Anexos ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura B.3 - Valor da força registada pelas células de carga durante o ensaio 3.
Figura B.4 - Valor da retração livre medida no provete ‘dummy’ no ensaio 3.
Anexos 83 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura B.5 - Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 3.
Figura B.6 - Valor da extensão total no betão durante o ensaio 3.
84 Anexos ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura B.7 - Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 3.
Figura B.8 - Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 3.
Anexos 85 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Anexo C
Resultados Ensaio 5
Figura C.1 - Temperaturas atingidas no interior dos provetes durante do ensaio 5.
Figura C.2 - Extensões no betão registadas no ensaio 5.
86 Anexos ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura C.3 - Valor da força registada pelas células de carga durante o ensaio 5.
Figura C.4 - Valor da retração livre medida no provete “dummy” no ensaio 5.
Anexos 87 ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura C.5 - Valor da tensão de tração no betão durante o ensaio 5.
Figura C.6 - Valor da extensão total no betão durante o ensaio 5.
88 Anexos ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Figura C.7 - Valor da extensão elástica no betão durante o ensaio 5.
Figura C.8 - Valor da extensão de fluência no betão durante o ensaio 5.