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ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA, NOGOES ELEMENTARES DE FlLOSOFlA E OUTROS ESCRITOS FILOSOFICOS Prefaclo de MARIA LU~A COUTO SOARES TraduqBo de RODRlGO S CUNHA COLECCAO PENSAMENTO PORTUGUES IMPRENSA NACKNAL- CASA DA MOEDA

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ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA,

NOGOES ELEMENTARES DE FlLOSOFlA

E OUTROS ESCRITOS FILOSOFICOS

Prefaclo de MARIA L U ~ A COUTO SOARES

TraduqBo de RODRlGO S CUNHA

COLECCAO PENSAMENTO PORTUGUES

IMPRENSA NACKNAL- CASA DA MOEDA

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0 EFsaisur la Psycbologie, comprenant la Ih6orie du Ralsonnement el du Langage, I'Ontologie, l'Esth6tique et la Dtc&osyne, cuja pnmeira traduqso portuguesa se publ~ca no presente volume, f o ~ ed~tado em Pans, em 1826, por Rey et Grav~er e J P Alllaud, havendo conhec~do uma 2 a ed1~8o parcral na Revista da VntversMade de Coimbra, vol 22, 1970

As Nopies Ekmentares de Filosom Geral e Aplrcada cis Ctt?ncias Morafs e Politicas foram publ~cadas, em Parls, em 1839, igualmente por Rey et Grav~er e J. P Aillaud, tendo tido urna 2 a ediqso, em 1979, no Rio de Janeiro, num volume int~tulado Ensaios Ftlos6@cos, prefaciado por AntBnio Paim, publlcado em co-ediq%o da Pontificla Unlversidade CatBlica do Rlo de Janeiro, do Conselho Federal de Cultura e da Ed~tora Documentir~o

A provenlCncla dos Dispetsosque constltuem a Terceira Parte do presente volume val ~ndlcada. em nota de pi.-de-p&gma, em cada um deles

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ENSAIO SOBRE A PSICOLOGIA QUE ZNCLUI A TEORIA DO R A C ~ O C ~ M O E DA LINGUAGEM. A ONTOLOGIA. A ES&TICA E A DICE~SZNA

Pnmnm Parte

DA CLASSIFICACAO DAS CI~NCIAS PSICOL~GICAS ..................................

Das clCnclas em geral ...................................................... Das clCnclas pslcologicas .................................................. Defimp3es preliminares ....................................................... Das ~ d e ~ a s ..................................................................... Das qualldades dos corpos .............................................................. Teoria da causalidade . . . . . . . .................. Da a c ~ P o reciproca de virlas substhcias .......... .............. S~stema do Universo .. . . . . ..... ................. Teoria do movlmento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Do raciocin~o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...................... Da forma~2o dos elementos das ciCncias ........................... Comparar;Po entre as clCnclas psicol6g1cas e as ciencias fis~cas

e matemiticas .............. .......................................... Llm~tes entre a pslcologta proprlamente dita e as ciCncias

psicol6gtcas . . . . . . . . . . . .........................................

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SegunL Parte

DA PSICOLOGIA EM GERAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

Opinides dos fd6sofos sobre a divido da psicologla . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Da faculdade de pensar e do raciochlo ........... . . ... 72

............... Das doutrinas sobre as n q & s preexistentes ou a razao pura 73 .... Exame das doutnnas sobre a razPo pura ................... 74

Notas . . . . . . . ................................................... 85 Cita~6es indlcadas nas notas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ 125

N O C ~ E S ELEMENTARES DE FILOSOFIA GERAL E APLICADA AS CI~NCZAS MORAIS E P O L ~ ~ C A S

AdvertCncla do autor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ......................... IntroducPo ou metodologla .. ........... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Notas ZL IntroducPo . . . . . . . . . . . . . . . ......................................

Ontologia .... ............................................................. Notas 3 Ontologla ......................................................................

Pslcologia ................................................................................... Notas ZL Psicologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Ideologia . . . . . . . . . . . .

Notas a ideologla ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

111

DISPERS 0 s

Notas ao aEnsaio sobre os Principios de MecPnicaw . . . . . . . . . 261 Prlncipios de MecPnica . . . 277 Mem6ria sobre um novo pnnciplo da Te6rlca do Cal6rico ........ .. 285 Gramatica Filodfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291

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Dos principios gerais e elementares da Ortografia . . . . . . . . . Observa@es gramaticais . ... ... .. .. .... . .......... . Novas observaq3es sobre a Ortografia portuguesa .... . . ..... . . .. . . Dos limites da Autoridade dos clPssicos em materia de linguagem .

Reflexdes sobre o metodo para escrever a Hist6ria das Ciencias e parti- cularmente a da Filosofia .... . . . . . ....... .... . ...................... .... .

Da Classifica~Po das Ciencias calculada para servir de base a um sistema racional de InstrucPo Pdblica .. .. .. . . . .. ... .. . . ........ .

Das CLncias em gem1 e da sua classifica~20 em particular ............... ... .. Se o homem fosse dotado de presciCncia do futuro, sena ele mais feliz ou mais

lnfeliz do que o e actualmente? ... ...... ......... .. . ............... Elelrentos de Diretto Natural ou de Filosofra do Direito, por Vicente

Ferrer Neto Paiva ... . . . . ... . . . ... .. . . ............. ... .. .. . ............ . ...

ESSAI SUR LA PSYCHOLOGIE, COMPRENANT LA TH~ORIE DU RAISONNEMENT ETDU LANGAGE, L'ONTOLOGIE, L T S & ~ Q U E ETLA DIC~OSYNE

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A mais evidente daspmvas que sepmcura saber 8 a que, pela opznzdo epelo raciocinio, fixa uma imagem no pensamento

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N O C ~ E S ELEMENTARES DE FILOSOFIA GERAL E APLICADA

AS CIBNCIAS MORAIS E POL~TICAS

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Posto que a falta de um bom CompCndio de Filosofia seja, h% muito tempo, reconhecida em Portugal, nPo nos consta que algum dos professores, que neste largo interval0 se t@m ocupado no ensino daquela ciCncia, tenha empreendido uma semelhante tarefa, nPo por falta de luzes, pols os tCm havido mui distintos, mas, talvez, por julgarem este trabalho menos glorioso.

Muitos anos h% que, convencidos da urgente necessidade desta reforma, nos haviamos proposto contribuir para ela com esses pou- cos cabedais que estPo ao nosso alcance, e mesmo 1% no ano de 1813 anunciamos este project0 na introduqPo a umas Prelec~Ges, que sobre v l r ~ o s assuntos filos6ficos publicamos por aquele tempo no Rio de Janeiro.

Mas deveres do serviso e alguns outros trabalhos htedr~os, que nPo nos era licito adiar, nos impediram at6 agora de cumpnr corn aqueles nossos desejos.

Entretanto, nunca perdemos de vlsta lev%-10s a efeito na primelra oca- SIPO, e pelo meado do ano de 1836 comeGamos a dar-lhes pr~ncipio, publicando, debauro do titulo de No~6es Elementares d'Ontologza, a pri- meira parte do projectado CompCndio. Hole, publicamos a segunda e a terceira versiio sobre a Psicologia em geral e sobre a Ideologia em particular.

Estes tres tratados, reurudos, correspondem ao que, na frase das nossas aulas, se compreende debauro dos nomes da L6gica e Metafisica, e que constltuem a primeira parte do curso filos6fico

Julgamos conveniente dar 2 luz estes trCs tratados, sem esperar pelos que hlo-de versar sobre a Etologia, a Gramluca geral e a Esteuca, porque nos pareceu urgente desafrontar o ensino da Filosofia do insignificante compCndio que h l mais de meio seculo, em vez de desenvolver, en- torpece ou perverte a nascente inteligencia da mocidade portuguesa,

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sendo o seu dnico merecimento o t@-la preservado do tenebroso barba- rismo dos Hergclitos da Alemanha e da brilhante fantasmagoria dos da Fran~a '.

Educados corn os principios de Arist6teles e seus continuadores Bacon, Leibniz, Locke e Condillac, tomamos a ciCncia no ponto em que a deixaram aqueles grandes fil6sofos e procuramos adianth-la ate onde alcanqassem nossas t6nues forcas.

E esta filosofia do senso comum dos homens, exposta na linguagem singela da razPo humana, que neste compCndio oferecemos 2 estudiosa mocidade portuguesa.

Das doutrinas nele contidas nada diremos, pois que se elas por si s6s nPo se acreditam, baldados seriam todos os esforqos que quisi.ssemos empregar em seu abono.

Mas 1190 devemos deixar de satisfazer a dois reparos, que prevemos se , hPo-de oferecer, desde a primeira vista, a uma grande parte dos nossos leitores, relativamente 2 ordem em que vPo colocadas as materias e a extrerna concisPo com que ele C redigido.

Quanto P estranheza que devemos causar o ver-se comeqar este ;

compCndio de Filosofia pela Ontologia e acabar pela L6gica e Dialectics, 1 inversamente do que geralmente se observa em todos os outros, limitar- -nos-emos a perguntar se nPo C um manifesto transtorno de ideias comecar por ensinar as regras que se devem seguir no exercicio das faculdades intelectuais, antes de se ter ensinado aos alunos quantas e quais sejam estas faculdades. Pois nesta incongruzncia caem os fil6sofos que ensinam a L6gica antes da Psicologia.

' H i quase dois mil anos que estas duas sortes de fd6sofos se acham retratados ao natural nos seguintes versos de Lucrecio ':

Herdclito, chefe dates, iltcstre, entre osgregos, pela linguagem obscura; mais iltcstre, poem, entre os qir i tos ligeiros do que entre os espiritos depeso que buscam a verdade. Porque os tolos mats admfram e amam aquilo que julgam ver o culto sob palavms ambrguas e tomam por wdadeim o que atinge agmdavelmente os ouvfdos e vem ornado de sonoridauk suave. [De Rerum Natura, I, pp. 639 e segs.1

Assim, podem-se lisonjear os nossos modernos de encontrarem o seu prot6tipo na antiguidade.

Ouvimos muitas vezes os mais distintos fd6sofos da Alemanha, e entre eles os dois primeiros discipulos de Kant, Fichte e Schelling, disputarem sobre a inteligencia do sistema do seu mestre e seu or5culo. Nem um s6 encontramos, que n2o dissesse que ele s6 entendia Kant. Por este modo, o qua1 todos concordavam, 6 que ninguem o entendia. 0 mesmo acontece aos citados Fichte e Schelling e ao famoso Hegel, que todos acabaram por abandonar Kant e todos repudiaram duas e tr3s vezes os sistemas que antes haviam ensinado como chefes de escola. Outro tanto havemos observado entre os eclkticos da Franca.

Notem agora os nossos jovens leitores que nenhum dos fil6sofos que atacaram Arist6teles e os quatro ilustres modemos, que hA pouco citamos, os taxou de incompreensiveis; antes comecam por declarar que os combatem depois de os terem muito bem estudado e compreendido; mas, quando se combatem uns aos outros, a comum recriminaciio C de serem ininteligiveis.

Recornendamos pois B mocidade, como regra na escolha de seus mestres, a profunda mixima do d e b r e Fontenelle, o qua1 diiia: Celui qui n 'estpas bien intelligible, n 'estpas Men intelligent.

Em lr6m. no original TraduGo de Ant6mo Carlos VlUa~a

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Por outra parte, quando se reflecte que, tanto as defini~des como os teoremas da Psicologia assentam no conhecimento de um grande ndmero de n o ~ a e s gerais, que se pressupdem sabidas e que todas fazem parte da Ontolo@a, custa a compreender como pode vir P mente dos fil6sofos, porem, em segundo lugar, a ciCncia que eles mesmos pressupdem ser jii conhecida dos alunos, quando lhes explicam a Psicologia e a Lbgica, que arbitrariamente colocaram no principio.

Mas como e possivel, dh-5 alguem, que em t5o poucas paginas se discutam tantas e Go renhidas questdes como as que se oferecem, tanto na Ontologia como na Psicologa?

As questdes que se oferecem, nestas como em quaisquer outras ciCncias, dividem-se em principios, aplicagdes e objeccdes.

Destas trCs sortes de questdes, os principios s3o os dnicos que se devem achar no texto do compCndio; as outras s6 podem entrar em notas, quer seja como exemplos para aclarar os principios, quer seja como indispensiivel desenvolvimento destes, todas as vezes que o autor presume que sem isso a sua mente nPo sera bem compreendida.

Um compCndio tem de satisfazer a dois fins: o primeiro, de marcar a ordem em que as materias devem ser tratadas; o segundo, de extremar o que os discipulos devem necessariamente decorar. E logo evidente que o seu conteddo deve reduzir-se exclusivamente aos principios da ciCncia, porque estes sPo os dnicos que o estudante pode e deve absolutamente reter de cor.

As aplicacdes e objec~des sHo infinitas e, portanto, o compCndio apenas pode conter as principais e em pequeno ndmero, e mesmo essas cumpre que sb apareCam em notas, a fim de nPo complicarem o texto e dficultarem ao estudante o red-lo na mem6ria.

Compare-se este nosso compCndio com quaisquer outros, procurando- -se no hdice alfabetico, que vai no fim, as palavras principais de qualquer questQo; e achar-se-ii que, quer no texto, quer nas notas, vPo discutidas todas as que nPo podiam deixar de figurar de algum mod0 num compCndio, sem que este devesse ser considerado como incompleto. As que se nHo acharem aqui tratadas sPo, pela maior parte, questdes que, podendo ter lugar na hip6tese de se adoptarem outras opinides, cessam de ser questdes, uma vez que se adoptem as doutrinas do compCndio. Daremos por exemplo as questties que dizem respeito P liberdade. Estas questdes, dizemos n6s na nota do 5 165 da Ideologia, sd podem ter lugar, admitidas as erradas defini~cies que se costuma dar da palaura liberdade; mas se se adoptar a que n6s damos, todas aquelas objec~6es se desuanecem.

As questdes que n30 estiverem neste caso e que, com efeito, devem ser tomadas em considera~lo, se nPo figuram neste compCndio, i. porque jP nQo sPo elementares e, por conseguinte, s6 podem figurar nos desenvolvimentos que devem fazer a materia das prelecgdes do respective professor.

Um professor, dlgno deste nome, depois de ter feito repetir a alguns dos seus discipulos a IigPo do dia precedente, explica o que por essa ocasiQo

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reconhece nPo ter sido bem compreendido. Certo de que os seus ouvintes estQo senhores da materia, passa a desenvolv2-la, fazendo a histbria das diversas opiniks, e ao passo que esclarece as equivocas e combate as falsas, refuta as objecgdes que se tiverem feito 2s que ele reputa verdadeiras; e para habituar os discipulos a fazer uso das doutrinas aprendidas, escolhe, de entre as inumeraveis aplica~bes possiveis, as que Ihe parecem mais apropriadas 2s particulares circunsdncias do seu auditbrio.

NQo seria digno de ocupar uma cadeira o lente que, para se poupar a trabalho ou para encobrir sua insuficiCncia, exigisse um compCndio assaz volumoso para que, dividido em tantas porgbes quantos sQo os dias de classe, Ihe permita passar uma parte a ler ou a mandar ler a porgPo do compCndio que deve fazer a materia da li@o do seguinte dia.

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INTRODUCAO OU METODOLOGIA

1 0 s conheclmentos humanos, considerados no seu ponto de vista mars geral, podem ser divididos em conheclmentos isolados e em conheclmentos reunldos em corpo de c~@ncla

2 0 s conheclmentos reunldos em corpo de ciencia supdem cinco condi@es, mals ou menos satisfeitas, e que podem considerar-se como outros tantos elementos da ciCncia em geral. a saber factos, nomenclatura, sisternu, teona e mBtodo

3 0 prlmelro passo no estudo da natureza n5o nos leva alCm do conhecimento dos mdividuos; e ate mesmo n5o faremos rnals do que observar os estados lndlvidua~s de cada objecto. A estas observa~des individuals it que se d5 o nome de factos.

4. Para des~gnar estes factos, bem como as circunstincias de que eles se acham acompanhados, C mister nomes e frases cujo ndmero e vanedade crescem com a necessldade de expnrmr, clara e dstmntamente, esses mesmos factos; e els aqul o que constitul a nomenclatura da c~encia.

5 Entretanto porCm, 3 medida que se aumenta o ncmero das observa- ~ d e s individuals, notamos que elas se arranjam, como por si mesmas, no nosso espirito em diferentes gmpos Percebe-se ao mesmo tempo em cada objecto de um mesmo gmpo uma propriedade, ou um complexo de propriedades, comuns a todos os objectos que ai se acham com- preendidos A estes grupos &-se o nome de classes. A propriedade, ou complexo de propriedades, comuns a todo o gmpo, chama-se caracter da classe

6. Assim como naquele pnmeiro golpe de vlsta percebemos juntos em diversas classes todos os indviduos, que havemos observado separadamente, olhando com rnais atenfio achamos que essas mesmas classes s50 compostas de muitos grupos. e estes de outros, e assim sucessivamente ate que se chega a individuos que, reunidos em ndmero mais ou menos considedvel, MO formam todavia sen50 um simples gmpo ind~vidual, a que se d5 o nome de espbcie.

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7. Todos os grupos intermedios desde a classe ate a especie sPo designados com os nomes de ordens, generos, familias, etc. A esta distribuigPo dos factos por classes, ordens, familias, etc., e que se tem dado o nome de sistema.

8. Enquanto, porem, n50 possuirmos sen50 o conhecimento de um certo ndmero de factos, ainda mesmo que tenhamos uma rica nomenclatura, e os nossos conhecimentos se achem arranjados em sistema, isso nPo bastar5 para satisfazer a todas as necessidades da ciencia. 6 mister, alCm d~sso, conhecer as causas, as raz6es e os efeitos dos fen6menos que se nos apresentam. 0 s principios que nos devem guiar na so lu~Qo dos trCs mencionados problemas, constituem a teoria da ciencia.

9. Mas nPo basta haver edificado, 6 mister a1i.m disso averiguar como se edificou, isto C, notar os pontos em que se errou, e aqueles em que se acertou, a fim de evitar os perigos, e conhecer o carninho que se deve seguir.

Cumpre portanto em cada ciCncia aprender como se h5 de proceder na obseroa~do dos factos e na formacPo da nomenclatura; como se deve continuar, rectificar e completar o sktema, e, enfim, como se h l de coordenar a teoria da ciencia. 0 complexo destas doutrinas 6 que se chama metodo, ou ainda melhor, a filosofla da ciCncia.

10. Cada ciCncia deve ter a filosofia que Ihe t? prbpria, assim como deve haver uma filosofia comum a todas as ciencias.

11. Portanto, a arte de observar, o tratado da linguagem, o tratado dos sisternas e o tratado das teorias no seu complexo, constituem o que se chama Filosofla Geral, ou comum a todas as ciencias.

12. A arte de observar, considerada em geral, nPo 6 senPo a arte de raciocinar ou de pensar tambem em geral, e sem dependencia do que possa ser espcial a este ou Squele ram0 dos conhecimentos hurnanos em particular.

13.0 tratado da linguagem compreende, primeiramente, a granxitica geral, onde se deve achar a exposigPo dos principios em que se fundam as linguas das diversas na~des, e depois a exposi~iio dos principios segundo os quais se devcm formar as nomenclaturas das diversas ciencias.

14. 0 tratado dos sistemas estabelece as regras que se devem observar na classifica@o, quer dos objectos, quer dos fen6menos que se pretende classificar.

15. 0 tratado das teorias define as relagdes que existem entre as causas e os seus efeitos: doutrina a que se tern dado o nome de etiologia, ou teoria da causalidade.

16. Comparando-se estas diferentes partes, que compdem a filosofia geral, umas com outras, tem-se notado que h% um certo ndmero de doutrinas que siio comuns a todas quatro. Recopilaram-se, pois, e trataram-se separadamente essas doutrinas mais gerais de todas, e ao complexo delas deu-se o nome de Ontologia.

17. Dois sPo os metodos usados pelos escritores que tCm tratado de filosofia: o primeiro, que consiste em nPo empregar expressPo alguma senPo no sentido que Ihe C prbprio, e em fixar este sentido por meio de defini~des sempre que pode ser definida a expressPo cujo sentido se pretende deterrninar. Tal 6 o metodo adoptado por Arist6teles e que n6s seguiremos nesta obra.

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18 0 outro metodo consiste em recorrer a expressdes figuradas, quando se entende que dado uma ideia mals sensivel do objecto, do que daria a expresslo pr6pria. Este metodo C o que distingue a escola de Platlo.

19. Quando nQ falamos com alguem, somos mais ou menos entendidos, segundo as nossas expressdes despertam na pessoa, a quem nos dirigimos, urn nljmero mais ou menos considedvel de ideias semelhantes Pquelas que queremos designar

20 Se, pelo contdrio, as expressdes que se empregam n90 despertam na pessoa que ouve nenhuma ideia semelhante 3s daquela de quem fala, entPo dizemos que estas pessoas n90 se entendem

21. Em tal caso. aquele que quer ser entendido explica o que ele entende pela express50 que 1190 foi compreendida, isto C, exp6e e enumera as ideias que esta expresslo desperta no seu espirito quando a ouve pronunciar em iguais circunsdncias. Este expediente chama-se definir

22. Dizemos pois que definir uma expresslo C fazer a enumeraq50 das idelas que ela desperta no espir~to de todas as pessoas que se servem dela em circunst9ncias analogas 5s do caso a que se destina a defini~go.

23. TrGs s%o, portanto, as condi~des de que depende a arte de definir, a saber l.a que se h5 de enumerar todas as ideias que a expresslo suscita nas pessoas que as empregam; 2 a que nPo se deve enumerar senlo as que suscita em comum em todas essas pessoas, 3 a que unlcamente se h5-de enumerar as ideias que a express50 susclta em c~rcunstdncias analogas Ps do caso de que se trata.

24. A razlo das duas primeiras condigdes C que, quando se pede a defini~iio de uma palavra de uso geral, n%o importa saber o que uns ou outros individuos arbitrariamente quiseram entender por aquela palavra, mas sim o que no uso geral querem exprimir aqueles que se servem dela.

Cumpre pois n%o mencionar senlo as ideias comuns geralmente recebidas e expender codas essas ideias comuns, pois sem isso a definl@o sera mncompleta.

25. A razlo da terceira cond1~9o C que, podendo a mesma palavra (e muitas vezes tendo) diversas significagdes, segundo s lo d~ferentes os casos a que se aplicam, C evidente que, quando se nos pede a defim~50 de uma palavra, se entende a sua sigrufica@o nos casos analogos Qquele a que se destlna a definiq50 '.

26 A enumeragio das ideias designadas pela palavra, que se quer definir, pode fazer-se por dois modos, a saber ou fazendo entrar na defmiglo tantos

' Tomemos para exemplo a palavra oum Esta palavra nlo desperta no espinto das pessoas pouco lnstruidas as mesmas ldeias que nos ounves, asslm como as idelas que os ounves, em geral, Ihe ajuntam, esao longe de serem as mesmas que ela desperta em urn quimico Asslm, na defin~~Po de palavra ouro s e d preclso atender a qua1 dos t*s menclonados casos se refere a questlo. Se 6 urn caso ordldrio da vlda comum, bastad enumerar as idelas que toda a gente apllca a esta palavra. Isso n5o bastad pokm se se tratar de uma quesao entre ounves. porque entio s e d lister ajuntar 5 deftnlC;io vulgar as ~deias que lhe apntam os ounves. O mesmo se deve duer quando se tratar de uma quest20 de quim~ca

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termos quantas s20 as ideias que se tem de enumerar, ou empregando um menor ndmero de termos dos quais cada um exprima algurnas das ditas ideias 2.

Emprega-se este segundo modo de definir, todas as vezes que se sabe que as pessoas a quem a defini~20 C destinada conhecem a significaclo desses termos.

27. Hii, contudo, expresges indefiniveis, porque MO representando senPo uma ideia simples, que n2o C susceptive1 da enurnera90 que consutul a definig20, s2o elas mesmas os elementos mais simples de toda a defini~Po. Tais sPo por exemplo as palavras que expnmem as ideias de cor, som, cheiro, identidade, semelhanga, unidade, simultaneidade, sucessPo.

28. Se a pessoa, a quem dirigirnos algumas dessas expressks mdefiniveis, n2o Ihe conhecer o senudo, o dnico meio de nos fazermos entender C colocar essa pessoa em uma situa~Po pr6pria para Ihe fazer experimentar a sensacPo designada pela dita express20.

29. 0 modo de se achar a definig20 de qualquer express20 e tomar ao acaso um certo ndmero de frases usuais, em que essa express20 seja empregada no sentido que se pretende determinar E supondo-se ent2o que se nega a verdade de cada uma das mencionadas frases, procurar-se-6 provar que sPo verdadeiras, pondo, no lugar da express20 de que se trata, as idelas que ela representa, e notando-se as ideias comuns a todas as frases que se houver analisado. 0 complexo dessas ideias constituir5 a definig20 da express20 duvidosa 3.

Por exernplo se se pergunta o que e puntr urn delito, pode-se pnmelramente definu esta expressiio, enurnerando urna por urna as ~ d e ~ a s que toda a gente Ihe apl~ca, a saber e fazer sofrer ao culpado uma s h e depnua~6es, que parecem propnas tantopara o coibir a ele. corn aos outm, quepor seu exemplo fossern tentados a corneterern o rnesrno delito, mas tamMm se poded consegulr o rnesmo firn empregando na defin1~2o 0s termos de correc@o e repmdo, que representarn as duas ordens de Idelas predominantes Ass~m dirfamos que punir urn delfto 6 infligiroo culpado aspenaspn5priuspara c h g f r , ban wmopam reprlmir aqueles que fmem tentados a rmzta-lo

0 s f ~ s o f o s da escola platbnica d~narn que punrr um delito i aplicar a u r n pesroa doente de rnoktta moral os rtmt!dios que parecem pt6pHos para destmir os germes do ma4 tanto no culpado, como naqueles que podenam ser fndwJdospelo seu exanplo

Se, por exemplo, quero definlr a palavra d~re~to tomarel ao acaso as seguintes frases, em que se acha esta express20 opal ten o direfto de casttgar sarsfilhas. Osfllbos t&n o dfreito de serem educadospor seuspats Cada um rem o dimto de drspor do fmro do seu mbalho.

Suponhamos que se negava a verdade destas asser~tks Eu provarla dlzendo. Se opai nrio tem o dfreito de castigar s m filbos, wtes se tornardo oicfosos e incowigims, por ndo baver outra pessoa aurorltada para os rtprimir em ocasido oporfuna Entao, seguir-se-cio males irrepardveis, tanto para os mesmos fdbos, como para os sars pars e para a sociedade

Se osflhos ndo t h o direito de serem educadospor sarspats, m-o tendo a lei socralpmvkio por ouhu modo a essa necessidade, m-o s6 asfJlhos, mas a sockdude, sofremremo tanto mais quanto a educagdo fiver sido desprezada

Se caah um ndo tern o drreito de dispor lfvremente do fruto de seu trabalho, cada indiviVTduo, ruio tmhalbando sendo enquanto lbeparece que isso Ibe B uril tmbalhara tanro menos qua^ ele desqtxmr de poder aplicar esse pnxiuto a ban de sew mtercscies Donde rancltara qw

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30. Depois de havermos mostrado como se ha-de proceder para definlr uma express50 dada, vejamos agora como se poder5 verificar se tal ou tal defini~iio C exacta.

Para isso n5o hP mais do que empregar o mCtodo inverso. Toma-se ao acaso tai ndmero de frases que se quiser, em que se ache a express50 cuja defini~iio queremos verificar. A defW5o pbe-se enao em lugar da express50 e achando-se que com esta substltui@o o sentido da frase n2o mudou, ficara provado que a definig5o 6 exacta, porquanto ela i. o equivalente da express50 definitiva 4.

Quanto mais considerPve1 for o nlimero das frases que se tiverem empregado para achar a definiggo, ou para a provar, mals probabilidade haved de que a definic90 C exacta

Coma d o pode haver teoria sem que os principios de que ela se comp6e estejarn coordenados e dispostos deba~xo de uma classifica~lo mais ou menos rlgorosa, acontece empregar-se, muitas vezes, o nome de slstema significando o mesmo que o de teoria.

Podem cttar-se como exemplos a F~losofia Botln~ca d e Lmeu, a Filosofia Entomol6gica de Fabrho, e a Fllosofia Quimica de Fourcroy, ou a de Thenard.

pmuamlrnente, cada um serd compreendtcfo pels m k W , e a sociedade, que d o se altrnenta sendo pela indiistria privada, perecera nos homres da barbaridade

0 que em todas estas frases corresponde 2 palavra d~re~to 6 que do exercic~o desta faculdade atribuida aos pals de castigar os filhos. da fru1~20 das comod~dades culo complexo constitu~ a educa~iio dos fdhos, e enfirn, das fru~~iKs que der~varn para cada um da l~vre disposi~iio do fruto do seu trabalho, resulta o malor bern possivel para toda a sociedade em geral e para cada um de seus membros em part~cular

A palavra dimfto designa pols, em todas as frases a ~ l o g a s Pquelas que ternos anal~sado, o complem das frur@s de que resulta o maior be?n possfuel para todos em geral e para cada um em particular

Suponharnos, por exernplo, que defin~ndo a palavra h e r , o complexo dos 1nc6mcdos que 6 forcoso sofrer para se conseguv o malor bern possivel de tcdos, em geral, e de cada urn, em part~cular, se quer examlnar se esta defin1~30 C exacta NBo M mals do que tomar, por exernplo, as frases correspondentes aquelas que havernos analisado no padgrafo antecedente E do dever dos filhos deixar-se castigar por seus pars E do dever dos pats edtrcar seus jilhos do d m de to& a gente consenMr que cada um d e n h a ltvremente dofnrto de seu tra balho

Substimarnos a palavra dever pela defiii@o dada e, enrao, resultad o que se segue Se 0s filhos se sujmtarem aos rncdmodos tnflgidospr sacspais, como castigo, se ospais se sujelrarem aos incomodos inerentes a educa~ao de seus ftlbos, se to& a gente se su f lar aos rncdmodas que forem indlspensaves para que cada um drsponha do fmtu do ser* trabalho, dai resultard o maior bem possivel para toda a soczedade, em gem1 e para cada indivfduo, em patlrcular

Jii se ve que a substitu~~Bo da defin~~Po em lugar da palavra dever n2o rnudou em nada o valor de nenhuma destas frases. Don& se segue que a definiqio C exacta

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ONTOLOGIA

1. A Ontologia tem por objectivo as noqdes gerais, e que silo comuns a todos os conhecimentos humanos.

2. 0 conhecimento dos factos, que 6 o primeiro elemento de todas as ciCncias, consiste na observagHo de alguma qualidade, ou de algum complexo de qualidades.

3. As qualidades s%o materiais ou imateriais, absolutas ou relativas, essenciais ou acidentais.

As qualidades relativas comummente chamam-se rela~6es. h qualidades acidentais d5-se, tambCm, os nomes de acidente, de mod0

e de modifica~ao. 4. Toda qualidade, todo complexo de qualidades, toda relacPo chama-se

um ser, um ente, um objecto, um individuo, uma coisa. 5. As qualidades materiais s3o: as cores, os sons, os cheiros, os sabores.

a tangibilidade, a extensso, o calor, o frio, o agrado e o desagrado. 6. As qualidades imateriais s%o: a sensibilidade, a inteligCncia, o prazer,

o desprazer, a espontaneidade, o agrado e o desagrado. 7. N6s damos aqui o nome de tangibilidade a uma qualidade que se

reconhece nos corpos quando se lhes toca, e 2 qua1 n%o conviria nenhuma das outras nove denominacdes mencionadas no $ 5 '.

8. Compreende-se debaixo do nome de agrado toda a qualidade material ou imaterial que nos faz agrad5vel o objecto onde ela se encontra.

Todas as qualidades que o fazem repugnante constituem o que se chama desagrado 2.

' A esta qualidade que n6s aqui chamamos tangtMlidade dh-se ordinariamente o nome de mist&cka ou impenetraMIidade. A tangibilidade C a sensaclo que se experiments, por exemplo, quando se pde o dedo no bico de um alfinete sem carregar muito, porque nlo se sente nem agrado, nem desagrado, nem frio, nem calor, nem extensio, nem, finalmente, nenhuma das outras quatro sensa~6es mencionadas no 5 5.

0 cheiro da rosa, a d w r a do a~bcar, a beleza das formas, a afabilidade das maneiras slo outros tantos agrados. 0 cheiro do 6pi0, o estampido do trovso, o rugido do lelo, a frialdade do cadiver, o semblante sinistro do malfeitor, etc., oferecem exemplos desta casta de qualidades denominadas desagrados, e que fazem repugnantes e at6 horriveis os objectos onde se encontram.

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9. As qualidades materiais que podem tornar agradaveis os objectos compreendem-se nas cinco classes seguintes, a saber: beleza, harmonia, suavidade, docura e utilidade.

10. As qualidades materiais que podem tornar os objectos desagradiiveis s%o: a fealdade, a dissoniincia, o mau cheiro, o sabor ou o tacto repugnantes e, enfim, tudo o que no objecto se achar nocivo P espCcie humana, ou a algum de seus individuos.

11. A express50 de fealdade nQo se aplica senPo aos objectos que afectam a vista ou o tacto. A beleza e a harmonia abrangem a vista, o tacto e o ouvido; a suavidade e a dogura sQo comuns a todos os sentidos.

12. Debaixo do nome de utiIida.de entende-se o que, em dltima anglise, produz mais bem do que mal, n%o s6 a tal ou tal individuo da especie humana, mas a todos aqueles que Ihe podem sentir os efeitos.

13. Chama-se bem tudo o que contribui para o aperfeicoamento, conservacPo e satisfacHo da espCcie humana.

14. As qualidades imateriais que podem tornar agradsveis os individuos que as possuem sQo: a virtude, o talent0 e a utilidade. As que os podem tornar desagradiveis sPo: o vicio, a inCpcia e quanto no objecto se achar nocivo a espCcie humana.

15. As palavras que nHo tern significa~Qo alguma quando 1-150 se pensa senPo em um s6 objecto, mas que a tCm quando se uata de dois ou mais objectos ao mesmo tempo, chamam-se palavras de rela~a'o entre esses objectos 3.

16. As relaqdes podem ser de semelhan~a ou de dissemelhanca, de identidade ou de diversidade, de grandeza, de simultaneidade e de sucess5o.

17. Da ideia de semelhanca derivam as de analogia e conformidade. 18. Da ideia de identidade derivam as de unidade e de imutabi-

lidade. 19. Da ideia de diversidade derivam as de diferenca, de disparidade, de

pluralidade, de n6meros e de mutabilidade. 20. A grandeza quando se trata de extensso e de ndmeros chama-se

quantidude. Quando se trata de outra qualquer qualidade absoluta ou relativa, material ou irnaterial dA-se 2 grandeza desta qualidade o nome de intensidade *.

Tais sSo, por exemplo, as palavras pat, tio, general, etc., porque esses nomes n2o significam coisa alguma, senPo enquanto n6s pensamos em urn filho, em urna mPe, ao mesmo tempo que no pai; em um sobrinho e seus pais e av6s, ao mesrno tempo que no tio; em um exercito, ao mesmo tempo que no general, e assim nos outros casos semelhantes. A rela~90, no prirneiro destes t&s exemplos, 6 a qualidude de causa que se reconhece naquele que se chama pai. No segundo exemplo, e a de identidade, que se reconhece nos av6s do sobrinho como causa da existencia do pai e do tio. No terceiro exemplo, ainda procede a qualfdade de causa que se reconhece no general, por isso que C pelo seu comando que se move o exercito.

Assim diz-se da grandeza de urn pano que ele tern uma certa quankhde de varas; da popula@o de urn pais que ela sobe a tal ou tal quunttdadede habitantes. Mas se se trata de determinar a grandeza, isto 6, o mais ou menos de urna cot, de um som, de urn cheiro, de urn prazer, ou de uma dor, diz-se que se pretende determinar a sua tntensidude.

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21. Quando se quer dizer de uma grandeza que h a ou pode haver outra m i o r do que ela, diz-se que ela e uma grandeza finita.

22. Chama-se inJinita quando se quer dzer que ela pode tornar-se maior do que outra qualquer grandeza que se possa propor 5 .

23. Diz-se infinitamentepequena quando se quer dizer que pode tornar-se mais pequena que outra qualquer grandeza que se possa propor 6 .

24. Comparando-se as definiqbes que se acham nos trCs parigrafos tjltimos, vC-se que a palavra Jinito designa o estado actual do objecto a que se aplica, enquanto as palavras infinito e infinitamente pequeno nlo significam nenhum estado efectivo do objecto, mas somente que o objecto, sem mudar de nome, pode variar de estado para se tornar cada vez maior no primeiro, e cada vez menor no segundo caso '.

25. Da ideia de disdncia derivam as de posigPo, de situac50, de espaqo e de movimento.

26. 0 espaqo i. o complexo das distincias; e pode ser linear, superficial ou de capacidade.

27. 0 espaCo linear 6 o complexo das disdncias de um ponto dado a todos os pontos situados na mesma linha que ele.

28. 0 espaco superficial e o complexo das disthcias de um ponto dado a todos os pontos situados na mesma superficie que ele.

29. 0 espago de capacidade e o complexo das dstincias de um ponto dado a todos os que o cercam em todas as diregdes.

30. Quando se quer exprimir que a distincia entre dois objectos tem aumentado ou dirninuido, diz-se que todos ou alguns dos objectos se tCm posto em movimento.

Neste sentido C que se diz, por exemplo, que o eixo duma padbola C infinito, pois o que se quer dizer C que qualquer que seja a grandeza de uma linha que se nos indique, n6s podemos supor o eixo da parabola prolongado a ponto de ser maior do que a linha indicada, sem deixar de ser o eixo da padbola, pois que os lados desta tarnbCm se podem prolongar indefinidarnente. NBo acontece o mesmo a respelto do eixo da elipse, ou durn c'urulo, que n8o poderiam ser prolongados altm do ponto de contact0 dos lados da curva respectiva, sem deixarem de ser eixos; 6 por isso que se dizemflnitos, segundo a defini~ao que acabamos de dar no padigrafo precedente.

or exemplo: quando enunciando uma proposi~80 acerca de um arco de circulo que se sup& infinitamente pequeno, o que quer dizer C que a proposi~50 enunciada 6 verdadeira a respeito de toda a frac@o que se quiser da circunfeencia, por mais pequeno que seja, porque se pcded tornar ainda mais pequeno do que toda a grandeza dada, sem que por isso deixe de ser um arco de circulo. NB0 se poded diier o mesmo falando do diirnetro de um circulo que se sup& infinitamente pequeno, porque desde o momento em que ele for menor do que o dobro do raio, deixad de ser um d9metro. ' E pois de &o dizer de um objecto que ele 6 fmito, pois isso quer dizer que ele t

menor do que outro, por exemplo, que o seu dobro. Ngo 6 porCm conforme ZL &o dizer de tal objecto qualquer que ele C actwlmente inji'nito, isto C, maior do que qualquer outro, porque o seu dobro, o seu triplo, etc. sBo, de certo, maiores do que ele. Do mesrno mod0 quanto ZL qualidade de infmitarnente pequeno, porque se se dissesse de urn objecto que ele C agora infinitamente pequeno, isto C menor do que outro qualquer, afinnar-se-ia urn absurdo, pois, por menor que ele seja, a sua rnetade, o seu terco, etc., sedo ainda menores.

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31. Quando se escolhe alguns destes objectos como pontos de partida donde se prowe contar as variag6es de distincias, que podedo ter lugar entre eles e os outros objectos sujeitos a observa~iio, d5-se aos primeiros o nome de fixos e imo'veis. Todos os outros, cujas distancias variam relativamente a eles, se chamam m6veis.

32. Das ideias de simultaneidade e de sucessiio derivam as de tempo e de causalidade.

33. 0 complexo das qualidades simuldneas de um objecto chama-se o estado desse objecto.

34. 0 complexo de todos os estados sucessivos de um objecto chama- -se a durqiio desse objecto.

35. Quando se considera essa dura~Ho como uma sCrie de que cada estado C um termo, diz-se que esta sCrie C o tempo absoluto da dura~Qo do objecto, e que cada urn de seus estados C uma parte, um momento desse tempo.

36. Se, obsewando a sucessiio dos estados de dois objectos B e C, n6s contarnos por quantos estados diversos passou simultaneamente outro objecto D, diremos que a sCrie dos estados de D, simultiineos com os de B, C o tempo relativo de direc~iio deste objecto, do mesmo mod0 que a sCrie dos simuldneos com os estados de C C o tempo relativo da dura~30 de C; de sorte que, se a serie de D, corresponde 2 de B, C o dobro daquela que corresponde P de C, n6s dizemos que o tempo da dura~iio de B C o dobro do tempo da durag%o de C.

37. As qualidades particulares a um, ou a alguns dos estados de urn objecto s lo o que chama as qualidades acidentais desse objecto.

38. As qualidades comuns a todos os estados de um objecto s%o o que se chama as qualidades essenciais desse objecto. 0 complexo dessas qualidades constitui o que se chama a esszncia do mesmo objecto.

39. 0 complexo das qualidades de um objecto, considerado em um momento dado, charna-se a substdncia desse objecto nesse momento

" As palavras nada mais s2o do que os sinais ou a express20 das nossas ideias. Logo, os nomes com que designamos os objectos n2o significam senrio as ideias que temos deles. Mas todas as ideias que temos dos objectos Mo site sen30 as das suas qualidades; e, por conseguinte, a express20 substdncia do cbumbo, por exemplo, Mo pode significar sen50 as qualidades que conhecemos do chumbo, isto 6, que designamos pela palavra chumbo, consideradas debaixo de um certo ponto de vista. E, corn efeito, se depois de enumerar todas as propriedades que conhecemos deste metal, abstraimos sucessivamente de cada urna delas, n2o nos resta mais nada que a palavra haja de significar. Logo, ou a palavra substdncia significa o complexo daquelas qualidades ou n9o significa nada, porque alCm das ditas qualidades nada h i que n6s conhecarnos.

Mas assim como a express30 substancia do cbumbo MO pode significar s e d o as qualidades do chumbo, tamb&n C mister notar que significa todas as qualidades, quer essenciais quer acidentais, que se acham reunidas no grupo denominado chumbo, no momento em que o observamos.

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40. 0 coqplexo das quahdayes & um objecto considerado em todos os seus diferentks estados, e em todos os momentos da sua existGncla, chama- -se a natureka desse objecto

41. As qualidades que nPo se observam senPo em tal ou tal indlviduo, em tal ou tal classe, chamam-se pmpnedades desse indidduo, ou dessa classe

42. As propriedades podem ser acldentais ou essenciais A estas 6ltimas di-se o no e de atributos

43. A ~ d e tidade de algumas qualidades de dois objectos basta para que haja semelha 1 Ga entre eles Para haver conformidade C mster que haja inteira identidade. guando as qualldades reconhecldas Identicas s8o essenclais aos dols object04 que se comparam, dlz-se que h5 analogta entre eles

44 Toda dissemelhan~a i. dlferenqa, mas quando a diferen~a tem lugar entre as qua1 dades essencials dos dols objectos, diz-se que h i disparidade ou incompa 'bilidade entre eles

45. Quan o se diz de uma qualidade que ela esta na substdncia de um i objecto, ou que pertence a essencza, ou 2 natureza do objecto, quer-se dizer que faz parte do complexo de qualldades que se charnam a substgncia, a essCncia, ou a natureza desse objecto lo

46. Quando acerca de um objecto, cujas qual~dades tCm mudado, se l z que, nPo obstante isso, ele 8 sempre o mesmo, o que se quer expnmr C que, entre o objecto de que se fala e aquele com quem o comparamos, hP identidade de lugar, ainda que na maior parte, ou na totalidade, as outras qualidades j5 nPo sejam as mesmas l1

47. As subst2nclas ou complexos de qualidades matenais chamam-se substdncias matenais, ou corp6reas, ou corpos

48. As suktiincias ou complexos de qualldades imateriais chamam-se substdnczas i ateriais, incolpo'reas, espirituais ou espiritos.

49. 0 s co os cuja extensgo nHo pode ser comensurada por algum dos meios conhec f dos, em razPo de sua extrema pequenez, chamam-se atomos.

50 0 s %to os que se considera fazerem pane de algum corpo chamam- -se moleculas t

que comp6em um corpo charna-se a m m a

das massas de dols corpos de volume igual chama-

Asslrn se dl que e da natureza da igua, actualmente liqu~da, o ser ora gelo, o n vapor; o que quer dize que todos estes estados, tanto o actual de liquida, como o que outrora observamos de g f lo, corno o que se observad de vapor, constltuem, corn as dema~s qualidades

comum

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53. Quando, por dlversas vezes, se tem observado que, se uma subsdnc~a M passa do estado A para o estado B, sempre uma outra substinc~a N passa do estado C para o estado D, e que, todas as vezes que se tem podido investigar, se tem observado que nunca N passou do estado C para o estado D sem que M tenha passado antes do estado A para o estado B; diz-se que M produz~u em N a mudanga D, e dLse a M o nome de agente ou de causa da mudanga de N A esta mudanqa cK-se o nome de efeito da ac$Po de M, porque chama-se acgPo de M a mudanga B, que ele expenmentou. Esta mudanca B chama-se tambem a raz6o do efelto D. A subsdncia N que sofreu o efeito D, chama-se paciente

54. A experienc~a mostra que em caso semelhante, e em consequCncia do efeito experimentado pelo paciente N, sempre o agente M sofre ulteriormente uma mudanga E. Esta observagPo C que se quer exprimir quando se drz que N reaglu sobre o agente M, e dA-se 2 mudanga E experimentada por este o nome de efelto da reacgPo, porque a reac$Po nPo C outra colsa senPo a mudan~a C do paciente, lsto C, o efeito produzido nele pelo agente

55 Em consequencia das observagdes mencionadas nos parAgrafos precedentes, diz-se que M tem a faculdade, a pot&cia, o poder, a forya, a virtude de obrar ou de produzir o efelto D em N. Todas estas expressdes sigmficam slmplesmente que se tern observado, constantmnte, a sucess6o de mudarlgzs experimentadas por M e por N na ordem indicada.

56. 0 complexo das mudan~as experimentadas por uma, ou muitas subsdnc~as, e que precedem sempre a tal ou tal efeito cbama-se a r a z k suficiente, o porquG desse efeito

57. 0 complexo das mudangas experimentadas, tanto pelo agente ou agentes, como pelo paclente, quando neste se operou um efeito, chama-se

' a maneira, o modo, o como esse efeito teve lugar 58 A dournna dos cinco parsgrafos precedentes encerra o que se chama a

teoria da causaldude, que pode reduzlr-se a um s6 pnncipio, a saber: que para poderem ter lugar as relagdes de causalidade i. mlster o concurso de duas substdnc~as, de t+s mudanpas e de quatro momentos. duas substdncias. a causa ou agente l2 e o paclente 13; t d s mudanps: a do agente, razPo do efelto, a do paciente, efelto da causa, e a segunda mudan~a do agente, convertido em paclente, efe~to da reacgPo quatro momentos, a saber: o que precede a ac$Po, o da acgPo, o do efelto da acqgo, o do efeito da reacgiio 14.

59. As causas d~st~nguem-se em totals ou parciais; principais ou secundAr~as, eficientes ou ocasionals; efectlvas ou potenciais, reais ou imag~nAr~as; pnmelras ou segundas, prbximas ou remotas; necessarias ou espondneas; e as espontiineas em meciinicas ou voluntAnas; e estas em instintivas ou livres

l 2 A subsC%ncla que sempre mu& em pruneiro lugar l3 A substanc~a que sempre mu& depo~s da outra e s6 depois dela. l4 Frequentemente se d i , por metifora, o nome de causa, niio A ssubstanc~a que pnmelro

mu&, mas 2 sua mudan~a que, falando-se com propnedade, se deveria charnar ra&o do efe~to de que se trata Do mesmo modo 3 rado dA-se-lhe muitas vezes o nome de causa

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60. Quando urn efeito b nZo se pode realizar na substiincia N senPo em conse4uCncia de certas rnudangas experirnentadas por rnuitas outras substiibcias J, K, L, M, etc , d5-se ao cornplexo destas substiincias o nome de cauSa total de D, e a cada urna dentre elas o de causaparcial.

61 Se a parte do efeito D que corresponde 5s causas J e K e mais importahte que aquela que corresponde 3s causas L e M, d5-se a J e a K o norne dc causasprincipais; e a L, assim corno a M, o de causas secundarias.

62 Quando se quer dizer que estas diversas causas J e K, por exemplo, precedetn sernpre as outras L e M, diz-se que elas sPo causas primeiras ou rernotas, e das outras que elas sPo causas segundas, pnjximas ou imediatas.

Muitas vezes se emprega a expressPo de causaspn'meiras ou primarias para dizek causasprincipais; e a de causas segundas para dizer secundaw.

63 Qwando entre as diferentes causas, que concorrern para produzir urn efeito, se'acham algumas que nPo exercern nenhuma outra influcncia sobre o efeito do que determinar o rnornento em que ele ter5 lugar, chamam-se ocasionab As outras chamam-se eficientes

64. Dia-se de uma subsdncia que ela C a causa efectiva de tal ou tal efeito quando ss quer dizer que ela o produz realrnente no rnomento de que se trata.

65 Quando, porCrn, se quer dizer que, posto que o efeito D se n9o verifique no rnomento de que se trata, a subsdncia M C a causa que a produz, tadas as vezes que ele tern lugar, diz-se que M C a causa potencial de D.

66 QuCndo se quer dizer que a mudanga B da causa M, a que se d5 o nome de llc~Po de M ($ 53), C ela mesrna o efeito de uma outra causa L; diz-se de &I que ela C uma causa necessaria

67 Algtlrnas vezes se emprega a palavra necessho em outro sentido, a saber. quando se quer dizer que sern a causa M o efeito D nPo teria lugar. Neste sentido, necessdrio C sin6nimo de indtspmsdvel.

68 Quando a mudan~a B da causa M, a que se d5 o nome da acgPo de M, nPo i. $la mesma o efeito de outra causa, diz-se de M que ela C uma causa espdntdnea.

69. Qudndo o espirito, que exerce actos espondneos, conhece qua1 deve ser o resultado, &-se a esses actos o norne de motiuados; ao resultado previsto pielo espirito o de motivo, e ao espirito mesmo o de causa voluntana; A faculdade de exercer actos volunt%rios, assirn corno cada um desses actcps, recebe o norne de uontade.

70. 0 s kspintos que, na presenp de muitos rnotivos, obram urnas vezes por um, e outras vezes por outro desses rnotivos, charnam-se liwes; a faculdadk de assirn proceder chama-se lzberdade; e cada urn desses actos charna-se escolha A faculdade de escolher tambCrn se d5 o norne de oppio.

71. Qudndo, observando os actos de tal ou tal ser volunkirio, notamos que, onde n6s reconhecemos rnuitos rnotivos, ele nunca procede senPo segundo urn desses rnotivos, dzernos que ele, am, C dotado de vontade, mas carece de liberdade, e nPo obra s e ~ o por insk'nto.

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72. Quando, obkrvando os actos espontheos, niio reconhecemos que a5 houvesse um motivo, damos ao ser que os praticou, assim como aos actos mesmos, o epiteto de mec8nicos.

73. Ainda que a alma humana e as dos outros entes animados sejam a causa primeira de todos os movimentos espontilneos, resta ainda, para investigar, a causa primeira de todos os outros movimentos desses mesmos entes animados, compreendendo o homem, bem como os que t@m lugar nos vegetais e nos corpos inorginicos.

Considerando, pois, o complexo do universo de momento a momento, em sentido retrbgrado a contar desde o presente, vemos no complexo das mudancas experimentadas por esse mesmo universo, em um momento dado, a / raziio total da mudan~a experimentada no momento seguinte por cada utn dos entes de que ele se comp6e.

Entretanto, C forloso chegar enfim a uma dessas mudanps, que tenha sldo a primeira e que, sendo tiio necess5ria (g 66) como as que aconteceram depois, exige um act0 espontineo, que seja a sua raziio suficiente dos movimentos do nosso corpo, e mesmo a nossa existencia e o resultado dos actos espontineos daqueles que nos fizeram nascer.

Desta sorte, chegamos a reconhecer a necessidade de um espirito, causa primeira de tudo o que existe, e C esta causa primeira que se chama Deus.

74. 0 s efeitos distinguem-se em actuais e efectivos; reais ou ilus6rios; possiveis ou impossiveis; prov5veis ou improviveis; certos ou duvidosos; incertos, contingentes; e estes em espont2neos ou fortuitos.

75. 0 s epitetos de efectivo, actual, real e espontiineo, aplicado aos efeitos, thm o mesmo sentido que quando se aplicam 2s causas.

76. Cham-se possivel um efeito quando se quer dizer, ou que a causa a que se refere tem a forca de o produzir (6 55), ou que niio se pode afirmar sbm contradi~lo que nPo ter5 lugar a raziio suficiente desse efeito.

; 77. Diz-se de um efeito que ele C impossivel quando se quer afirmar que o estado da causa conhecida desse efeito C diferente daquele, que constitui a razPo suficiente do mesmo efeito.

78. Quando se quer dizer, pelo contr5ri0, que o estado da causa C jjstamente aquele que se sabe ser a rado suficiente do efeito, diz-se que este 6 certo.

79. Quando, porCm, se n2o pode afirmar isso senPo relativamente a algumas das causas parciais do efeito, diz-se que este efeito n9o C sen90 proviivel ou vemsimil, e que ele C tanto mais prov5vel quanto C maior o mimero destas causas parciais, que se reconhece como prbprias para produzir o efeito. Quanto menor C este ncmero, mais impmvhuel ou inverosimil dizemos o efeito.

80. Em geral dz-se de um objecto C que ele foi produzido, feito ou criado, por outro objecto A, quando se quer dzer que uma mudanca, mais ou menos cpnsider5ve1, tendo-se operado em A, urn certo objecto B experimentou uma mudanga proporcional e converteu-se no objecto C. Neste caso di-se a A os nomes de pmdutor, de autor ou criador de C, 5 proporgiio que C &ere mais do objecto primitive B.

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81. Qyaaao toaas as quaiidades de C, sem excegPo alguma, diferem das de B, diz-Se que C foi cnado de nada Em tal caso, o mesmo objecto chama- -se obra, roduro, produ~do, criatura l5

82. A A' alavra nada, assim como todas as expresses negativas, quaisquer serve urucamente para significar a relag50 de identidade ou de ntre dois ou um maior numero de objectos, de sorte que para

frases, em que se emprega a palavra nada a respeito de um objecto C, i. mster acrescentar. nada que separeGa corn o objecto B ou nada que dzfira do objecto D; porque h5 sempre um object0 subentendido nesta sorte de frases, que, por sua natureza, encerra uma cornparagPo elcpressa ou thcita \6

83 Se 10 object0 de que se trata C o mundo, diz-se que foi cnado do nada 17.

84 Q u v d o se quer afirrnar de um objecto que ele hii pouco fazia parte de outro objec/to, por cuja acgPo exercida sobre ele se separou, tendo propriedades conformes /as suas, diz-se que emanou dekou 6 urna emana~do dele; que tira ou deriva fele a sua existhcza. A causa desta substiincia emanada dh-se os nomes de @rigern, fonte, ou prlr2cZ;Dio

85 Se o objecto que se diz emanado de outro C um ente vivo, amma1 ou vegetal, a emanagiio chama-se reprodugPo ou gera~iio.

86. Tendo mostrado a expenCncla que para haver reproduqio, tanto entre os animais como entre os vegetais, 6 necessiirio, as mais das vezes, o concurso de dois entes anhlogos, bem que diferentes, distinguiram-se estes dois entes dando o npme de pai Aquele que se considera como a causa principal da reproduggd, e reservando o nome de rn& para aquele de quem o objecto emanado Item pr~ncipalmente feito parte e de quem recebeu mais imediatam nte o seu desenvolvimento Nesse caso, ao produto dh-se os nomes de ilho, renom, pirnpolho I

87. Porimedfora d5-se 5s concepgdes do espirito o nome de produtos, ou produGbes do mesmo espir~to, a que se aplica, por consegumte, o nome

autor, criador, e, enfim, de paidestas concep~bes, e por algumas vezes o nome deJilbas do espirito que as

concebeu .

j5 Vela-se a Letra H - Notas 3 Ontologla. l6 Assirn, LO r exemplo, quando se dlz que n5o M nada em uma cam, quer-se dlzer que,

examinando-a, tudo o que se v2 C 1d2ntlco corn a rnesma caixa. Quando se d ~ z de urna casa que MO ha ~1ngu6m nela, o que se quer dizer C que tudo quanto all hP 6 d~ferente de todo ente humano Quando se dlz de um aconteclrnento ou de urn obpao, que ele nio existiu ou que nunca e ~stiu, o que se quer dlzer C que todos os acontecunentos ou objectos possive~s, nas c~rcunst- clas de que se trata, silo ou serlarn d~ferentes desse sobre que versa a quest20

l7 Quer i er. que C d~ferente de tudo o que existm antes Mas que C o que exlstla antes? Dercs e o caof, respondlam os pagios Un~camente Deus, enslna-nos a revela~20 na Sagrada Escritura ,

pp 401 e segulntes - Esai sur hpsychologie, pp 149, 166, modeme, *go n&gonie, onde exempllfique~ estas definl-s

corn as doutdnas da mltoiogia grega e latl&

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88. Slgnficando a palavra nada que o objecto a que a aplicamos 6 diferente de outro a que tacitamente aludimos ($ 821, segue-se que, empregadas a respeito de qualquer objecto, as seguintes frases: reduzir-se a nada, converter-se em nada, antqutlar-se significam passar a um estado totalmente diferente do que antes era

89. Quando a mudan~a nQo C ~nteira, ou niio tem lugar sen50 em certas quahdades, diz-se que o objecto se metamofoseou, se transfornu, 1 medida que as qualidades mudadas sQo mals ou menos imponanres.

90 Se consideramos a import2ncia das qualidades do objecto, que foram mudadas, com relagPo a utilidade que daI pode resultar para a es@cie humana, diz-se que o objecto se melhomu, se reformoo ou se aperfei~oou; e quando se quer exprirmr que, mudando as qualidades do objecto, ele se tomou menos iitd, diz-se que se altemy se deteriomu, que se d e g m m u

91 Quando porem se quer indicar esta degeneraciio de urn mod0 mais geral, d~z-se que o objecto deperece ou decai.

92. Quando se trata de um corpo, em tal caso diz-se que ele cai em d ~ ~ s o l u ~ d o

93 Quando esse corpo i. um ente vlvo, diz-se que ele depmce, 1 med~da que d~minuem as faculdades que o distinguem dos corpos inorgPnicos. Quando elas vCm a cessar, diz-se que ele esta morto, que peeceu, que se aniquilou, que entmu no nada.

94 As expressdes mencionadas nos dois paragrafos precedentes, lsto C , cazr em dissolu~do, mower, perecer, nQo tendo significaqBo sen50 relativamente aos corpos, quer org2nicos. quer inorgln~cos, segue-se que elas nPo podem ser aplicadas aos espintos, e e isso o que se entende, quando se diz que C da natureza do espinto ser imortal.

95 Quando se observa que um corpo B tendo chegado a urna certa dlst2naa de C que estava em descanso, este se p6s em movimento para B, ou que se C estava j5 em movimento para B com um certo grau de velocidade, esta tem aumentado; ou enfim que se C se afastava de B com uma certa velocidade, esta dimnulu ou se aniqudou, ou que C, em vez de continuar a afastar-se de B, se tem aproximado, em todos e s m casos, diz- -se que B e C se atraem ou silo reciprocamente dotados de urna f o r ~ a de atrac~do; contando que se nPo descubra algum outro corpo, que se possa considerar como causa dessas mudan~as de C, nos termos de 53.

96 DIZ-se, pelo contrano, que eles se repelem ou sHo reciprocamente dotados de urna f o r ~ a de repulsdo, quando se quer exprimir que, nas suposiqdes do par5grafo precedente, C, se estava em descanso. se afasta de B, que se estava j% em movimento para B com urna certa velocidade, esta se afrouxa, que para ou mesmo que se afasta; e que, se ele se afastava de B com urna certa velocidade, esta se aumenta.

97. A repulsiio entre multos corpos 1-150 tendo sido nunca, ou quase nunca observada sem que haja aproxima~iio ou, o que C o mesmo, atracci5o de alguns dentre eles, uns para com os outros, ou para com terceiros, segue- -se que, quando se diz por urna parte que M atrac~go entre A e B e por outro lado que h5 repulsPo entre B e C niio se fez mais do que enunciar um

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s6 e kesmo facto de doislmodos diferentes, porque ser repelrdo por C MO

e rnais do quk afastar-se dele, e afastar-se dele nPo 6 mais do que aproximar- -se de A, istu 6, ser por ele atraido E sempre urn s6 e o mesmo movimento de B que se lrefere a A ou a C.

98. Quanqo a distincia entre dois corpos se reputa nula, ou deixa de ser comensudvd para n6s, diz-se que eles se tocam ou que estiio em contacto.

99 Quanbo um corpo C tendo vindo a tocar outro corpo B, este, se estava em descanso, p6s-se em movlmento, e se estava em movimento, parou, ou cobtinuou a mover-se com uma veloc~dade diferente daquela que antes tinha, du seguindo uma d~recqPo diversa da precedente, diz-se que B foi zmpelido por C, ou que houve colzsa'o ou conflito entre eles

100. en do mostrado a observa~Po que, nas suposig6es dos parigrafos precedentes, nenhum corpo qualquer B passa do estado de descanso para o de movim$nto, ou, se estava em movlmento, nunca a sua velocldade se aumentou ndm d~minuiu, nem a sua d1recgHo mudou, salvo se outro corpo C opera sobie ele, e neste caso C sofre da parte de B um efeito de reacgiio, exprirne-se &sta constante e geral observagiio d~zendo-se que B e geralmente todos os carpos sPo dotados de uma fova de znQrcia, mas esta expressiio significa sohente que se observa sempre o que n6s acabamos de menclonar.

101. ~ u a n d o a forga de atragPo se exerce entre os Ptomos, dh-se-lhes o nome de iafintdade ou de ac~rio quimica, para disbngui-la da acgPo que os outros c rpos exercem uns sobre os outros, em que se dP o nome de a c ~ f o mecri ica E i. tambem isto o que constitul a dlferenga entre a Quimica e a Fisica

k 102. A forga de inertia, que se opde 5 separagPo das moli.culas

actualmente em contacto umas com as outras, chama-se coesrio. 103. Da ldeia de coesa'o derivam as de solido, fluido, duro, mole, com-

pressivel, incjompressivel, rnaleiivel, dtitil, extensivel, conMcti1, tenaz, flexivel, njo, frigil, fhcil de estalar, ou de quebrar, de fazer explosiio, elistico, expansive1

104. Quabdo a coesc?o tem lugar entre todas as molt5culas, que se acham em contacto dCse ao corpo compost0 delas o epiteto de dlido.

105. Cha In a-se fluido quando a coesPo niio tem lugar sen20 entre as molkulas de um certo volume.

106. 0 s bu~dos, que, abandonados a si mesmos, manifestam, pela sua expansiio, a balta de coesPo entre as mol6culas de um certo volume, recebem o nome de +porquando sPo vlsiveis pela reflex20 da hz, e o de g h quando niio siio visikeis sen20 pela refracqiio

107. 0 s fluidos que nHo manlfestam a falta de coesiio entre as suas molCculas senPo porque abandonados a si mesmos se entornam chamam- -se liquldos

108. Depois da div~siio dos corpos em s6lidos e em fluidos, vem outra que debaixa de outro ponto de vista os separa em duas grandes classes a saber: uns qujas mol~culas niio podem expenmentar a acgPo quimica de nenhum outro corpo sem mudar de natureza, outros que, pelo contrsrio,

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nlo devem a sua $onsetva~cio senPo a uma sCrie de accbes quirnicas, que suas molkculas exdrcem umas sobre as outras ou sobre um grande ndmero de co+os estranhos.

10'9. 0 s corpos que pertencem a esta ultima classe chamam-se corpos vivos, ~rgdnicos ou otganizados. 0 s que pertencem 1 primeira chamam-se corpos' mortos, brutos, inoqdnicos ou cristalizados.

110, 0 complexo das ac~des quirnicas conservadoras nos corpos vivos chama-se vida, e cada uma das diversas partes, que contribuem de um mod0 distinto para a sua conservagiio, chamam-se um 6rgdo especial.

111, 0 s entes vivos subdividem-se em duas secedes ou reinos, corno tambe* se chamam, a saber: o reino animal e o vegetal. Pertencem ao primei* os que sPo dotados de vontade. Todos os outros pertencem ao reino vegetal.

112; Alkm da distincgo que acabamos de assinalar entre os corpos orggnidos e os inorggnicos, ainda h% a da repmdu~do, que tem lugar nos primeihs e nPo nos segundos (S 85).

Notas ?I Ontologia

~ o d t s as qualidades absolutas dos corpos entram debaixo de algumas das dez categorihs mencionadas no § 5, bern corno todas as qualidades absolutas d o espirito, compreendem-se em alguma das sete categorias especificadas no $ 6. Do mesmo modo, todas as qualidades relativas, quer materiais, quer espirituais, encerram-se nas sete categorias de que trata o $ 16.

0 s assuntos indicados nestes dois parsgrafos pertencem uns B Estetica e outros P ~tolog/ia; portanto, reservarno-nos trat5-10s quando chegarmos a estas duas partes do presente curso.

C, § 13

Note o leitor que a significaHo que damos neste padgrafo P palavra bem restringe- -se ao que os homens ordinariarnente entendem por esta express20. Portanto, se estendemos a vista alern da especie humana, que nada 6 mais do que uma pequena e rnui pequena parte do Universo, a palavra bem deved significar tudo o que contribui para a conservac20 e aperfei~oamento d o rnesrno Universo em todas as suas partes.

Partindo deste ponto de vista elevado, o fd6sofo reconhece que os acontecimentos justarnente qualificados corno um ma1 relativarnente a urn individuo ou a urn certo nurnero de individuos, 6 relativamente ao Universo um bem efectivo, pois que e do

desses e de todos os demais acontecimentos reputados felizes uns e infelizes os con'ur? outr s que resulta a adrnirivel ordern que desde o principio dos seculos depde da infinbta sabedoria do Criador do Universo.

Eis aqui dispostas em sistema e debaixo de uma forma mais compreensivel as diversas expressdes que servem para designar as sete especies d e relacdes mencianadas no 16.

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MAPA SISTEMATICO das palavras que denotam as relaq8es mais genericas

3 . Identldade

12 unidade 13. Ind~vi+alldade 13. ~rnutab/lidade 15. Unifor+ldade 16. Horno&neidade

17. Incorndatibilidade 18. Nada ' 19 Mult~dHp 20. Multlplikidade 21 ~utabi$dade 22. ~ar~abil idade 23. VanacHb

24. Mudanfa

G Sucessdo 29. Tempo 30. Duracio 31. Causalipade

7 ~ i r n Jltaneldade

32. Distancia 33. Contacto

8 Amlogia

34 Similitude 35 Paridade 36 ProporCHo 37 Simetna

9 Confomidade 38. Harmonia 39 ConsonPnc~a 40 UniHo

11 Dtfeten~as essenciais 41 Heterogeneldade 42 Incompattbilidade

13 Ind~uidualMade 43. Indent~dade de qualidades

essenciais 44. Ident~dade de lugar 45. Personalidade

49. Dispandade 50 OposicPo 51 RepugnPncia

52 De qualidades absolutas 53. De rela~90

25 Quuntidade 54 Continua Extensgo 55 Discreta Ndmero 56 Absoluta 57 Relativa 58 Determinada 59 Indeterminada

60 Extensilo 61. Alcance 62. ~ctividade 63. Cnatividade

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64. Equipolencia: 65. - Absoluta 66. - Relatka 67. - Prop~rcional

28. Desigualdade 68. Aumento 69. Diminui~iio 70. Superioridlade 71. Maioria 72. Minoria 73. Vantagem 74. Excesso

I

75. Absoluto 76. Relativo 77. Determinado 78. Indeterminado

31. Causalidade 79. Agente 80. Paciente 81. Ac@o 82. Paixiio 83. Reac~lo 84. Efeito 85. Razlo: Pbrque 86. Modo: Cbmo 87. For~a

32. Distdlncia 88. Interval0 89. Espa~o 90. Posi~iio 91. Mobilidade 92. Imobilidade 93. InCrcia

45. Per$onalMade 94. Identidlde do eu espiritual 95. Identidade do eu corporal 96. UniPo &a alma com o corpo

106. Disparate 107. Contraste 108. Desarmonia 109. DiscordPncia 1 10. Despropor~Po

50. Opost~do

11 1. Contrariedade 112. Contradi~Po

113. Essenciais 114. Acidentais

57. QuanHdades relattvas 115. Multiplices 116. ~ubmriltiplices 117. Partes aliquotas 118. Partes aliquantas 119. FunC6es 120. Raizes

62. ~ctivktades 121. ForCa 122. Energia 123. Vigor 124. VeemCncQ

63. Graordade

125. Peso 126. 1mpo1t9ncia 127. Conseqdncia 128. ConsideragPo

68. Aurnento

129. Crescimento 130. Acumula~Po 131. AmontoagHo 132. AdigPo 133. Repetiglio 134. MultiplicagPo 135. ReproducPo

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136. Determhada 137. Indetemlnada 138. Fin~ta , 139 Infin~ta ' 228 Necessq~o 229 Mec2nlgo 230 ~ s ~ o n t a n e o 231. Llvre 232. Total ' 233. Parc~al

87 ~ o k a 234 Poder 235 Potenc 236 Faculd e 237. Capaci d e 238 Eficlc~ 1 239. ~utor i&de 240. Vlrtudej 241. Propri4ade 242. Forqa hctual 243. Efectiva 244. Potencial 245 Virtual

246. ~nterstiho 247. 1nterrukio 248. Mora

257 Motor 258. M6vel

259. Absoluta 260 Relatlvia 261 Qu~etagPo 262. Sossegp 263. Repoupo 264. ~ s t a b q d a d e

265 InacqHo 266. Resistencia

267 S~multilneas 268. Anteriores 269. Posteriores 270. Relativas 271 Regulares 272. Irregulares 273. Constantes 274. Vanivels 275. ~nterpoladas 276. Periidlcas

277 Transforma~Ho 278. ~e tamorfose 279 TransmutagOo 280 Transubstancia~Oo 281 Melhoramentos 282 Deteriora~Oo

114 ~ U d t P n p a s acMentais 283. Modifica~des 284. Modos 285 Acidentes 286 Clrcunstilncias

120 Impmdncla 287 Preqo 288 Merecimento 289 Valor 290 Taxa 291 Tar~fa 292 Apreco 293 Aprecla@o 294. Avaha~Oo 295 EstimacPo 296 Estlma

297 Andamento 298. Marcha 299 ImpulsHo 300. Impulso 301 RepulsOo 302. Atrac~Oo 303 At~racOo 304 velocidade

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140 Mlnorat2o 141. Contra4@0 142. ~ncolhbnento 143. ~ b r e v l d ~ ~ o 144. R e d u ~ q 145. Deduq40 146. ~ u b t r a & ~ o 147. DivlsPO 148 ~e te rd lnada 149 Indetedmlnada 150. Dlv1s2d: Flnlta 151. Infinita

72 Mznorta 158. Menor ndmero 159 Menar parte

77. Tempo determinado

160 Hora 161 Dia 162 No~te 163 ManhA 164 Tard 165 Noit 166 Sem na 167 M@S

168 Ano

i 169 Lustro 170. Ollmpiada 171 Seculo 172 Termo

173 fipoca 174 Era

78. Tempo indetenninado 178. Momento 179 Instante 180 Idade 181 Eternidade 182. ~empltemidade

183 Causa 184 Autor 185 Crlador 186 Origem

191. Mudan~a 192 Material 193 ~splritual

82 Pakdo

83 Reaqdo 197 Resutenc~a 198 RecuperacAo 139 Mudanca

200 Mudanca 201 ProduGo 202 Fruto 203 Renovo 204 ~ ~ m p o l h o 205 Fllho 206 Progenitura 207 Criatura 208 Obra 209 Felto 210 Composl~io 211 Prod@o 212 EmanacPo 213 Nascunento 214 Efeito: Actual

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215. Real 216. Imaglnkrio 217. Possivel 218 provlvel 219. Verosimel 220. Certo 221. Incerto 222 Duvldoso 223. Improvlvel 224 Contlngente 225 Fortu~to 226. Casual 227. Efe~to: Eventual

312. Reflexo 313. Salto 314. Pulo

Atrac~cZo 3 15 Aproxima~Po 316. Gravitagio 317 Afinidade 318 Coesio 319. Adesao 320. AderSncia 321. UniPo

Deus, a alma humana t a alma dos brutos s i o os dnicos espiritos de que temos conhecimento. a nossa alma, pelo senso mntemo, da alma dos brutos, pela analogla que h i entre um gra g de numero de seus actos com os que em n6s se passam e s io produzldos pela accio da npssa alma sobre o nosso corpo e da Dlvlndade, pela contemplagPo da maravllhosa &ulna do mundo, que atesta a sua lnfinlta sabedona e bondade

Mas em tod s os tempos e entre todos os povos, os homens conjecturaram que entre Deus e o home 4 deve exlstlr um grande numero de intellg&nclas ~ntermedias Ta~s eram na fase do pagadismo as dlvmdades de diferentes ordens, todas multo lnferlores ao Deus supremo tals 04 anjos, arcanjos, etc., da Escntura Sagrada

Mas a razgo bumana, cujas concepgdes unlcamente podem ser objecto da Fllosofia, n90 descobre, da natureza, fenomenos que deva atribu~r Pquelas mtel~gCnc~as, e , por consegumte, nab podem ser object0 da Fiosofia, sen20 no qcle ela enslna das qclalidades essenclals comuns a todo ente ~matenal.

Adv~rta-se qpe quando se d i ao espir~to o nome de alma C porque se quer indicar ser ele o agente a quem se deve atrlbuir os movtmentos que se operam em algum corpo Daqul vem duetem os antlgos que Dars 6 a alma do mundo (V a nota ao 5 73.)

Note-se ma$ que, n io entrando a idela de extensao no numero das qualidades do espinto, enumebdas no 5 10, e ~ s s o que se quer expr~mlr quando se d ~ z que todoespirto & simples

Se d o pols ~pcompative~s as ~deias de espintoe de extensao, tambitm o s9o as Idelas de ser um espidto e de ocupar um lugar, porque quem d ~ z lugar, dlz espago, e quem d ~ z espago, d ~ z extensgo Lugar indiyisiuel, 6 uma expressgo tPo dest~tuida de sentido como a de espako indrmiveI

Daqu~ se mfkre quanto -5 lnsensata a questgo que se aglta entre os fil6sofos, quando pretendem destknar o lugar onde a alma res~de.

Perguntando-se a um cego se fazla lde~a da cor vermelha, respondeu que slm, que era como o sorn de uma trombeta.

Perguntando-se que lugar (dlvlsivel) ocupa ou em que lugar estd um espirito (~ndlvisivel) i: t%o absurdo como perguntar-se qua1 6 o som de uma cor

Pode-se, porem, d~zer que um espirrto est% presente em tal ou tal lugar, pols lsso slgnlfica unlcamente que a sua acggo se estende a todos os entes compreend~dos nesse lugar Ass~m se 12 com multa propr~edade que a alnaa estapresente em todo o corpo; que um chefe apresente em todo o rectnto desua jurlsdi~do; que Deus estapresente em todo o un i F

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Sendo pois cobtingentes aqueles acontecimentos que a raz2o humana n8o pode prever. e sendo. alCm disso. fortuitos os contingentes que n8o s2o espontheos, v@-$e que todos os fen6menos do Universo, que n2o s8o actos espondneos dos esphtos que fazem pane dele, conshtuem uma d m de causas e de efeitos necessinos (§ 66) a que se tem dado o nome de sorte, fado, fatalidude, destine, os latlnos chamararn-lhe son, fortuna, fatum, derivados dos nomes oros, ata que Ihe tinharn sido dados pelos gregos

express20 destino e ao seu correspondente fatum latino haviam os gregos do m o m e eirnarmenee denotam a decis2o tomada pelo Criador do Un~verso,

mesma sucessPo dos dculos, corno para o futuro Esta mesma ~deia C

( ~ s t e rnesmo pensamento de um espirito, causa primeua e espondnea que deu ondem e lrnpulso a toda essa d n e de fen6rnenos a que se chama o mundo, do mesmo m+o que a nossa alma dfi impulso i s diversas partes do nosso corpo, C o que os antlgos quiseram exprunir dizendo que o mundo C um ente animado, cuja alma e D e b

Levando mais adiante o seu discurso, acrescentavam que, sendo urna grande parte dos fen6menos do Universo efeito da acqio das almas dos homens sobre os res ctivos corpos e, por meio deles, sobre o resto do mundo, as alrnas dos homens faz m com a divlndade o complexo das causas motrlzes do mundo material. E, po nto, a este complexo e que a maior parte dos antigos fil6sofos deram o norne de lma do mundo, isto 6, a pr6pria divindade, donde eles concluiam que as almas hu f anas, e geralmente todos os espir~tos, s20 parte, ou, corno tambitm eles se expnmiarn, emana~cks da divindade

E neste sentido que, tratando-se de urn soberano que elevou urn seu vassal0 do estqdo rnais obscuro a alguma alta dignldade, se diz que o #mu do nada, express20

designa a irnensa diferenqa entre o estado actual e o passado do

Convina ajuntar a estas duas sortes de acgks, mecdnica e quimica, geralmente adoptadas pelos fd6sofos, uma terceira esHcie que j5 alguns deles ti?m indicado corn o nome de ac@o didmica, mas que nenhum tem defmido, que n6s saibamos.

Conservando-lhe, pois, o epiteto de didmica, P falta de outro melhor, diremos que se emprega esta express20 para denotar aqudes casos em que uma substincia, rnater~al ou imaterial, n2o s6 p6e em movunento outra subsdncia, no seu todo ou em suas partes, corno acontece com a forga mecinica, porem, muda-lhe as suas qualldades, sem contudo formar com ela uma nova subsdncia, como acontece com a farqa quimica. Tal C a a c ~ 2 o que, frequentemente, se vC exercer a electricidade, as subptincias eminentemente venenosas e muitos remedios aplicados em doses infinitamente pequenas

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PSICOLOGIA

1. A Psicologia tejn por objecto as faculdades pr6pnas do espinto, e compreende a Ideologia, a GramBtica, a Etologia e a Est6tica.

2. As fafuldades do espinto encerram-se em duas, a saber: sensibilidade e espontardeidade '

3 Aos hfeitos produzidos na alma pelos 6rgilos da sensibilidade d5-se em geral o nome de sensa~do

4. Mas para distinguir os que sPo produzidos somente pelos 6rgPos internos dQs que provcm da a c ~ P o dos 6rgPos externos 2, deu-se aos prirneiros o jnome de sentlmentos e reservou-se para os segundos, em sentldo restrito, o dome de sensacdes

5 As sexhsa~6es dividem-se em tantas classes, quantas sPo as qualidades mencionadh nos §§ 5 e 6 da Ontologla Estas classes dividem-se em tantas ordens, quaptas sPo as diversas sortes de relaqdes especificadas nos §§ 16 e seguintes dqquela parte do presente Curso.

6. Para se denotar que a sensacPo experimentada pela alma C efeito da ac~Po de urn corpo sobre os 6rgHo da sensibilidade, d5-se-lhe o nome de impressdo

7 . E para se denotar que o objecto nPo s6 fez uma lmpressPo no espinto, mas que ela durou um te'mpo mais ou menos consider5ve1, d5-se-lhe o nome de percepCdb.

8. No ex4rcicio da senszbtlidade ou, o que vale o mesmo, da faculdade de senttr, a alma 6 puramente passiva, porque o que nela se passa C efeito dos movimeDtos que se operam nos nossos 6rgPos internos ou externos

9. No exercicio da espontaneidade ou, o que vale o mesmo, da for~a motriz que a alma exerce sobre o corpo, ela C activa, porquanto aquela expressPo ddsigna o que se passa no espirito e que constantemente precede a certos mov/imentos do nosso corpo que nPo sPo causados nem por corpo algum exterrlo, nem por outra alguma parte do nosso mesmo corpo.

' V Letra A/ - Notas A Psc~ologia.

V. Letra B - Notas Psicologla - Notas A Psicologla - Notas a Ps~cologla

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10 0 compleq aestas duas faculdades, que o espirito e o corpo pos- suem Ue obrar um sobre o outro, C o que se chama unia'o da alma com o corpo 5

11 Tanto no exercicio da senslbihdade como no da espontaneidade pode o espimto experimentar prazer ou despraze~ assim como tambCm os pode produair em outros entes sensiveis.

12 A propriedade de causar prazer dh-se o nome de agrado, e P de causar desprazer &-se o nome de desagrado

13 0 s sentimentos dividem-se em tr2s classes, a saber: uns siio actos de sensibiudade; outros que sPo actos de espontaneidade; e outros, enfim, que sPo co&uns a ambas aquelas faculdades.

14 0 s sentimentos de qualquer das tr2s mencionadas classes sPo de duas sdrtes, a saber, uns Ibgrcos e outros etolbgicos.

15. Fhamamos sentimentos Ibgicos Pqueles em que se dB compara~iio, juizo, qu raciocimo

16 ~hamamos etol6gicos todos aqueles sentimentos em que se atende P condlqiio de serem acompanhados de dor ou ck prazer.

17. 0 s sentlmentos etol6gicos denominam-se morals todas as vezes que prove4 do exercicio da liberdade.

18 Ds sentlmentos 16gicos fazem objecto da Ideologia e da Gram5tica. 19. Ds sentimentos etol6gicos fazem objecto da Etologia e da EstCtica 20 ranto os sentlmentos 16glcos como os etol6gicos podem ser actos

de di5tqse ou de imaginagiio e fantasia 21 0 s sentlmentos etol6gicos subdividem-se em patol6gicos e lnstlntlvos 22 Chama-se imagzna@o ou fantasza a faculdade de ter na ausCncia dos

objectob: externos as mesmas idelas que eles em n6s excitaram, obrando sobre ds 6rgiios externos da sensibllidade

23 A fantasia representa, tlmas vezes, os objectos, tais quais os observamos quando presentes, outras vezes no-10s representa diferentemente combi@dos, de muitas e mu1 diversas maneiras h ideias asslm formadas arbitradiamente pela fantasia d5-se o nome de zmagznanas, entretanto, Pquelag que s2o produzidas pela acgiio dos objectos presentes a - s e o nome de reais.

24 kualquer, porCm, que seja o mod0 porque se nos representam as ideias 40s objectos ausentes, como cada uma daquelas ideias i. uma simples reprod j l~~o da primeira sensacPo, di-se a quaiquer daqueles estados do nosso +spirito o nome de recorda~do ou lembran~a

25 Quando a representaHo dos objectos por via da imagina~20 C assaz forte pira absorver toda a nossa atenqiio, d5-se-lhe o nome de transporte

26 Se ela C acompanhada de uma vlolenta paixPo pelos objectos representados, &-se-lhe o nome de entuszasmo.

V Letra E - Notas a Ps~cologla ks vezes, tomam-se estas duas expressdes figuradamente por smbn~rnob, a pnmelra de

prazer e a segunda de desprazer

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27. Se o entusias*~ versa sobre oblectos pertencentes As belas-artes, d4- -se-lhe o nqme de i&iraGrio; e mais particularmente o de estm, se o object0 for a poesi+ ou a mGsica

28 Quabdo as ideias que se reproduzem ao nosso espinto, durante a ausencia dos objectos, niio siio as de nenhuma das suas qualidades, mas slm as dos binais que os representam, tals como os seus nomes, simbolos ou emblemqs, d4-se a essa especle de lembran~as o nome de simples actos

de ~ z % l : t e s e entendemos o sentimento que excita no nosso Pnimo a ac@o das r$lversas partes da nossa orgaruza~iio, umas sobre as outras

30. A di 'tese pode ser actzva ou inerte, normal ou anormal. 31. HP d 1 'atese activa todas as vezes que as diversas partes do nosso corpo

excitam no hosso lnirno as sensac&s que lhes correspondem, sempre que sobre elas c/bram os diversos objectos externos ou lnternos

32. DIZ-sk didtese inerte aquele estado de qualquer parte do nosso corpo durante o q a1 se acha suspensa a faculdade dela excltar no nosso espirito as sensaqde ! ou sentimentos que lhe correspondem

33. Quanbo a lnercia i. de tal mod0 permanente que se nota consider5vel perda das i+ias adqulridas ou absoluta lncapacldade de adquirir outras de novo, d4-se'a estas dlversas sortes de ddtese os nomes de demhcia ou estupidez

34. ~erlfipa-se a dzatese normal sempre que todos os 6rgPos lnternos e externos, tapto da senslbllldade como da espontaneldade, conservam a faculdade qQe lhes e pr6pna de obrarem sobre o espirito e de serem por ele postos efn momento, como cumpre Q conserva~Po de nosso bem-estar

35. DIZ-S~ haver dzatese anormal todas as vezes que alguns dos 6rgPos externos se dcham mais ou menos inertes; entretanto que os correspondentes 6rgPos inteqhos se acham em actlvidade.

36. Quan#o a fantasla se exerce durante a dlPtese anormal, d4-se ao estado do espinto eQ semelhante caso os nomes de sonho, de delino ou de loucura

37. Nos spnhos a dl%tese nHo 6 s6 anormal, mas tamb6m lnerte; porque s6 tem lugad durante o sono

38. Se, duhnte o sono, n6s conservamos o grau de espontaneidade preciso para p6r em movirnento algumas partes do nosso corpo, quer sejam ~nternas, quer externas, d4-se a este estado o nome de sonambulismo.

39. Se durante o sonambullsmo a alma experimenta afeccdes ou exerce actos que nHo sPo efelto da acqPo dos objectos sobre os 6rgPos externos, nem sPo recorda~Po de factos anterlormente sabidos, dlz-se dela que se acha num edtado de lucidez

' V Letra F - Notas P Pslcolog~a A este sentlmento que n6s charnamos dhtese costumarn os fil6sofos dar o norne de

consci&cia ou de senso intzmo, duas expressks vlclosas a prlrnelra porque a palavra conscl&ncla tern outras sign~ficacbes. e a segunda porque toda a sensafio, todo o sentmento e int~mo Para evltar pols estes equivocos C que lulgamos convenlente adoptar a palavra drdtese ' V Letra G - Notas i Ps~cologla

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I

4 ~ : 0 s meios pdlus quais se diz que qualquer pessoa se constitui a si mesma ou a outrem no estado de sonambulismo, com lucidez ou sem ela, chama-se goecia ', encantamento ou encanto lo.

41 No delirio, os 6rgPos externos acham-se em estado de diiitese activa, mas os efeltos da sua accPo sobre o espirito ,990 desuuidos, ou pelo menos modificados pela que exercem os 6rgPos internos

42.' Se o delirio 6 pouco consideriivel, quer seja quanto 3 sua intensidade, quer $eja quanto a sua duraqgo, denomina-se simplesmente delirio ou

43. Mas se ele C permanente, ainda que corn intervalos mais ou menos cons1 ""T. , dveis, chama-se mania, loucura ou inscinia.

44.1 Se a mania se limita a certos e determinados objectos, chama-se monodzania

45. ,A monomama que versa sobre assuntos de pouca import2ncia chama- -se s d m .

46. 'Tanto ao delino como B loucura &-se o nome de akena~do; e quando esta C ~acompanhada de actos de viol@ncia do alienado contra si mesmo ou contra terceiro, chama-se-lhe frenesz, furia, furor mania Importa porCm advertlr que, asslm como nem todos os loucos sPo furiosos, nem todos os furiosbs sP0 loucos ".

47: Durante os sonhos, bem como nos acessos de delino ou de loucura, tem, )nultas vezes, o espinto a consciOncia & que h i ~ncompatibilidade entre o estado actual das coisas e o que a fantasia representa Outras vezes, s6 ddpois de passado o paroxismo C que se reconhece aquela incom- patibblidade. A esta consctOncia de dois sentimentos simultPneos e cont*dit6rios damos o nome de diplase

48. Aos objectos das ideias que dPo origem 3 diplase d5-se-lhes o nomd de quim&icos ou imag~narios, e dos outros diz-se que silo reais e efectrbos 12.

45) A diiitese activa 6 3s vezes acompanhada d o sentimento da persohalidade ou, o que vale o mesmo, do nosso eu.

50. Diz-se haver sentimento de personalidade, todas as vezes que se d5 o corlcurso de duas sensaccies, de duas recordacdes ou de uma sensa~ilo l3

e de +ma recordacPo, sentindo n6s, em qualquer destes casos, que o espinto que dxperimenta uma daquelas sensa~cies ou recordagcies simultiineas C o

o que experimenta ou expenmentou a outra

Do grego, goetefa In V Letra H - Notas P Ps~colog~a " V Letra I - Notas P Ps~colog~a l2 V Letra K - Notas i Ps~cologla " Note-se que n6s empregamos aqul a palavra sensac50 no senttdo mals extenso que

compljeende tanto as sensa@es, em sent~do restnto, como os sentimentos (Ps~cologia, $5 2 e 4)

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51. ?'alrlL~111 sc diz dm tais casos que o espirito tern o senhmento da sua identidadel pessoal

52. A t&o individuo de quem se pode dizer que C dotado de senrimento da sua perbonalidade ou o que vale o mesmo, da sua identidadepessoald5- -se o nome de pessoa.

53. sen40 inseparfiveis as a f q 6 e s da alma das do corpo, no actual estado da nossa +stencia, segue-se que o sentimento da identidade pessoal do espirito C &separ5vel do sentlmento da ~dent~dade daquela arte do nosso corpo a que correspondem aquelas sensacdes ou recorda~des simultiineas de que, na forma do par4grafo antecedente, deriva o sentimento da personalidade

54. Do constante concurso do senhmento destas duas identidades, do espirito e o corpo, resulta que a palavra pessoa slgn~fica, ordinariamente, urn individ 1 o composto de alma e de corpo l4

55. Estei concurso do sentimento daquelas ~dentidades faz parte da idela complexa que se costuma deslgnar pela express50 de unido da nossa alma corn o no* corpo (v g 10 de Ps~cologla)

56 A express50 nosso corpo denota que o sentlmento que temos da sua identtdade difere do sentimento da tdenttdade de qualquer outro corpo externo qu em diferentes tempos afectou os nossos sentidos.

57. A d' erenca mencionada no par5grafo antecedente conslste em que qualquer c rpo externo que obra sobre qualquer 6rgPo da sensibilidade 1-60

produz no osso espirito mais de que uma unzca sensaqgo em um momento dado. Entr nto, qualquer parte do nosso cotpo, obrando sobre alguma outra parte, pro /! z duas sensaqdes simult9neas l5

58. D4-$e aos sentlmentos o epiteto de patol6gicos, e denominam-se necessidades todas as vezes que se precende lndicar que eles sPo acompanh4dos de dor ou desprazer que cessam com a posse de certos objectos od com a pdtica de certos actos. Em tais casos. diz-se que a falta ou a pnuabdo daqueles objectos ou a imposs~bilidade de praticar aquelas artes nos fa/z sofrer, que temos necessidade de possulr uns e de pralcar 0s outros. Esths sentimentos fazem object0 da Etologia.

59. 0 s lsentimentos a que se & o nome de instintiuos, bem como a respectiva Faculdade a que se chama instinto, compreendem os actos de espontanejdade que tCm por efeito procurar a aquisiqPo dos objectos necessanod ao nosso bern, ou de evltar os noclvos, antes de conhecermos, por anteriqr experiencia pr6pria ou alheia, a utilidade dos primeiros ou a malignidadk dos segundos 16.

l4 V Leya L - Notas P Psicologia M - Notas Ps~cologia N - Notas 8 Ps~cologm

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60. Quando os actos instintivos siio de natureza tai que, praticados com cohecimento de causa, se denominariam moralmente bons (v. 5 171, diz-se que procedem de sentimento ou senso moral, de um sentimento inato da uirtude, de uirtude inata, de uma boa inclina~&o, de urn dom natural, de urn born caracter natural, de urn born genie, expressdes todas sin6nimas e equivalentes entre si 17.

Not+ h Psicologia

A,faculdade que aqui designarnos pel0 nome de espontaneidade k denotada por uns Qm o norne de actividade, e pelos outros com o de f o r ~ a motriz.

Nlo adoptarnos o primeiro, porque k nirniamente geral, cornpreendendo tanto a actividiade dos corpos, como a dos espiritos.

Olnorne de fo rp motnz, posto que mais restrito, k igualmenle aplicivel a arnbas aquelas sortes de subst2ncias.

0 6rgPos da sensibilidade prolongam-se desde a superficie interna e externa do nosso corpo, at6 se kern reunir em urna s6 massa, a que se deu o norne de encefalo. 4 partes, de que esta viscera se c o m p k , charna-se-lhes dtgcios infernos da semi lidade, e as suas prolongaqdes, ate a superficie do corpo, drgdm externos.

Que certas partes do nosso corpo, a cujo complexo se tern dado o nome de sistew n m s o , s l o exclusivarnente os 6rgPos da sensaclo, k doutrina corrente de todos os seculos.

TqrnWrn C doutrina, geralmente reconhecida, que este sisterna geral se cornpde de sisiernas parciais, cada um apt0 para produzir uma espkcie de sensaq50, diferente dos obtros.

Pasto que rnenos vulgar, anatornistas houve que, em viirias Gpocas, ensinararn acharern-se confiados ao ckrebro, isto 6, 9 parte anterior d o enckfalo, as fun~des intelequais, e ao cerebelo, isto 6, a parte posterior do rnesmo encefalo, a faculdade de p6k em movirnento os nossos rnembros e os mdsculos em geral, bem corno aquelv a que damos os nomes de desejos, paix6es e instintos.

Al8uns houve que conjecturaram dever cada um dos diversos talentos e propehsdes de que o homem k dotado ter no encefalo uma certa e determinada localidade, pois se observa que certas l e a s locais trazem, apos si, graves alterag6es naquelas faculdades intelectuals ou sensitivas.

EsDava reservado para o grande Gall determinar, com preclsio, um grande ndmero daquelas regides, tanto na rnassa do rnesrno encefalo como nas correspondentes regideb do cr2nio.

As elevaqdes e depress6es deste dltirno nem sempre s2o bem sensiveis, sobretudo aos olhos e ao tacto das pessoas pouco exercitadas; mas tanto urn, como o outro

" V. Letra 0 - Notas a Psicologia.

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destes d o ~ s slntomas sao trmuentemente palpiive~s aos olhos do vulgo e , por consegulnte o fil6sofo nPo podla deixar de entrever a possibllldade de collglr, algum d ~ a , urn su iente nlimero de factos para resolver, ao menos em rnultos casos ou por aproxi GPO. o grande problema de determlnar pela configurag2o do crPnlo ou pela anato a do encCfalo as faculdades intelectuals e morals de qualquer lndlviduo i sobre quern,se pode inst~tulr uma semelhante aver1guag20

Gall crl? esta ciencia e seus discipulos, entre os quals figurarn com dlstln$io Spurzhelrn Dumoutier, tern-na levado a um notivel grau de desenvolv~rnento, debaixo d o ome de Frenologh

Muito se em feito, mas alnda resta mulro mals por fazer. 0 s factos s i o nurnerosos, mas a class 1 f i ca~ io e sobretudo a nomenclatura da cisncra estiio, sobrernaneira, atrasadas

Conexa iorn esta cisncia esti a da Flszognomtu que deve a hvater os seus liltnos progressos or esta express20 n io se entende sornente as felg&s e rnovlmentos das dlferentes partes do rosto que lnd~carn as nossas propens&s, mas o complexo de todos o~~rnovimentos e gestos que podem servlr de lndic~o do que se passa no nosso fin~rnd

Por n20 averem reflect~do nestes dols sentidos da palavra sensagao, ou fmgindo ~gnori-lo, p ra obterem a ficll g16na de debelar urn Aristbteles, urn Locke, um Conddlac, c rtos escritores rnodernos lncreparam aqueles grandes fil6sofos de terem negado ou 1 esconhecldo no nosso espir~to Idelas e sentlmentos que de certo n8o sPo o resultado da experiencla, e, portanto, se n2o podem confundlr corn as que s6 depols da experisncia e por efeito de reflexlo costumam ter lugar Tais sPo, dizem eles, a idem do belo, que nos encanta desde a prlmeira vez que o encararnos; a do litil, que por lnstlnto nos faz correr para o que e 1nd1spens6vel 3 nossa conservag20 e nos faz e$tar o que Ihe 6 contr5r10. e, enfirn, a do honesto, que nos delelta na presenga de/ qualquer acto v~rtuoso, e nos horronza corn a vlsta de qualquer crime.

Esta lncr(epag20 d pode ser feita de boa f6 por quem nPo tlver lldo atentamente os escrltos daqueles fil6sofos

Todos eles rnencionarn, expressarnente, os dlversos senttrnentos ou afec~des d o nosso espir~fo, que nem sempre acompanharn as sensagdes produzldas pela ac@o dos objecco exernos 0 que eles dlsserarn a respelto desras afecgdes 6 que elas nunca tCrn 1 ugar, sen20 conjuntarnente com a ~rnpressPo dos objectos sobre os 6rgPos extemos da senslbll~dade ou depo~s dessas ~mpressbes por vla da recorda~io delas

Asslrn, npnhurn daqueles filosofos d~ss~rnulou que a agradivel harmonla de um concerto a bata a quern nunca aprendeu a arte de rnbica; que o chelro de um rnanjar, os 5 e uvlos de urna beblda lit11 1 nossa exlstCncla nos movem a apoderarmo- -nos daqueles objectos e que o chelro nauseabundo de certos venenos nos leva a evlta-los, qde sentlrnos prazer A vlsta da v~rtude e h o r n na presenca de certos crimes Mas, porventura, 6 rnenos verdade que estas afec~des fazern parte da sensac80 que nesse mornento experlmentarnos pela acc2o daqueles objectos sobre os nossos olhos, sobre o gosto ou sobre o olfacto? Nio C exacto dlzer que, se ficarnos com aquelas ~deias, elas tCrn a sua origern na sensa~2o de que faz~arn parte?

Certo dd que nern sernpre as sensa@es s i o acompanhadas de sernelhantes afeqdes, rn?s por lsso 6 acaso menos certo de que aquelas afecgbes jarna~s exlstern antes de se Ferern experimentado as correspondentes sensa@es?

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bye, auando aauitles fil6sofos dlzlarn que toda a sensa~90 C uma ideia e que toda a Meta & uma sensa~cfo, nada rnals faziarn do que referlr de urn rnodo sumirio dols factos ~ncontestaveis, a saber

1 Que sernpre que temos uma sensa@o, temos uma ideia; e que, nesse mornento, a afec 20 de nossa alrna a que darnos o norne de sensa@o n9o 12 dlstinta daquela que d ! nomnarnos idela, e que lsso e o que slgnifica. ter orlgem na sensagcfo.

2 Que as ldeias ou afecc6es qualsquer de nosso espinto, na ausencla dos objectos, todas s%o mera reproducPo das que fizeram parte da sensa@o que esses objectos nos fizeram expenmentar, quando, presentes, obraram sobre os 6rg%os externos da sensibllldade

Tal e, textualmente, a doutnna dos t 6 s fil6sofos, cujos nomes havemos citado. e de ~murnedvels outros grandes escritores que professaram as rnesrnas opini6es

Que deveremos pols pensar daqueles que os acusam de erros que eles, n%o s6 n%o c eteram, mas que tiio explicltamente repudiararn? Tomo a dlzer: ou n2o os lerarn om atenc20, ou atribuiram-lhes erros que eles nunca ensinararn, para daqui tlrare a pouco custo, a v2 gl6ria de parecerern supenores aos rnalores talentos dos an 4 igos e dos modemos tempos

0 erro destes novos Aristarcos e o rnesmo que corneteram os que antes deles enslnamrn que todas ou muitas das nossas idelas s2o inatas. Confunduarn a faculdade ak ter W a s corn as Idelas rnesmas, porque em se lhes perguntando, se antes de ter p rovah um manjar, j i tinhamos ldeia dele, ou se, antes de ver urna pessoa, j i a conheciarnos, respondlam que n20, mas que aquelas ldeias estavam na alma, em potzncia, e que os objectos n%o fazem mals do que despert&las, e desse rnodo aparecerern de facto

Asam, a pretendlda preexlstzncla das W s do belo e do honesto, mmo as ldeias inatas, n io s8o rnais do que a faculdade de ter aquelas idelas do mornento em que os respectwos objectos obrern sobre os nossos sentldos. E quem duvidou jarnals que n6s nascemos corn essas faculdades ou corn a ap t~d%o d e elas desenvolverern-se?

A1 ns fd6sofos, reputando desauoso para a alma o dlzer-se que ela C passlva nas s nsacaes, sustentaram que ela C sempre actlva. Mas exammando-se os r argum ntos em que eles se fundarn, reconhece-se que, por urn lado, nPo clnharn ide~a clara d o que era ser activo ou passlvo e, por outro lado, confundlam a ace20 com a reace80 Sem duvida, a alma, depols de ter experimentado o efeito que nela produz a ace90 dos 6rgSos da senslbilidade, exerce sobre elas urna reacePo e , neste segundo momento, decerto C aatva, sem que por lsso se possa h e r que, no momento antenor, ela n%o foi passlva, fol-o, porque ser passrvo n%o quer dlzer sen20 que rnudou em segundo lugar, e ninguem duvlda que ela n%o sentiu sen20 depols da mudaqca experlmentada pelos 6rgBos sendnos

sido renhida questiio entre os fil6sofos explicar como C que a alnu. substincla esp~ntual, obra sobre o corpo, e este obra sobre a alma

Jamais teria havido sernelhante questiio, se se tivessk come~ado por defmir o que signlfica obrar uma substc?ncfa s o h a ouha e o que significa a palavra como

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Mas nesta, como n( maior pane das outras questks, ou n2o defm~ram supondo isso colsa esqsada, ou'deram defini~6es mais escuras ou rnals equivocas do que as expressdes q e se tratava de aclarar defin~ndo-as.

Bastaria, d o ~ s , aplicar P presente quest20 as d e f a 6 e s que na Ontologla ($8 53 e seguintes) h b m o s dado daquelas expressks, para fazernos ver aos nossos leitores como ela asdnta toda sobre um equivoco

Corn efe~t . tr2s siio as ophdes emtdas pelos filosofos a este respelto a primelra C a dos Esco 'stsos, os quais diz~am que, propnamente, a alma e o corpo n io obram mas I fluem urn sobre o outro Chamaram a lsto injluxo fsico, a segunda op~niILo e a d ! Malebranche, o qua1 d ~ z ~ a que a alma e o corpo n%o podiam obrar ou lnfluir um kobre o outro, mas que dado um movlmento nos denominados 6rg2os sens6rios, De s faz nascer na alma a correspondente sensaggo, bem como, dado na alma certo d j se)o, Deus faz-lhe corresponder certo e determ~nado mov~mento no corpo; a tercelra oplndo, enfim, C a de Le~bnlz que, rele~tando as duas prlmelras, disse que o Cr~ador, desde o pnmelro momento da ex~stCnc~a da alma e do corpo, os ha formado de maneira que a d r i e de afecgdes da alma e a s h e de movlmentos d o corpo, du nte a sua un190, se correspondessem entre si tAo perfe~tamente, como se um depen t esse do outro, bem como, em um reloglo, o pontelro das horas e os dos minutos $e correspondem constante e regularmente entre SI, posto que o logo do primelro seja independente do do segundo a esta sua manelra de explicar deu Leibniz o nome de Hannonia prestabilita

Para avallarmos ate que ponto estes trss sistemas se conformam entre si, bastana as expressks em que eles se acham conceb~dos

Que quer dlzer a alma e o corpo znjluem, mas n2o obram um sobre o outro? N2o se ppde dizer que uma subst2ncia injlui sobre outra, sen20 quando se

reconhece qu& a pnmelra m e umu ac@o ou, o que vale o mesmo, obra sobre a outra Irtjluulrdenotaj pois uma a c ~ i o , mas n io a principal Portanto, os EscolLst~cos d~zendo que o corpo ba'o obra mas injlui na alma quando esta experimenta uma sensagio, reconhecem o corpo obra sobre a alma, mas niio como causa prmcipal. Incumbia- -lhes, pols, aobr iga~90 de mostrar qua1 era essa causa principal, isto C, qua1 6 a substPnc~a (s4m serem os corpos que obram sobre os nossos 6rgPos) que prlmelro mudou para ue a alma expenmente essa mudanga a que se chama sensag20 JL se ve que o n2o p 1 derlam mostrar, porque na hipotese de que se trata, n2o entra em cons1derag20 enhuma outra substinc~a sen20 a alma que sente e o corpo que C sentdo. f Donde s e segue que o que os Escolast~cos chamam influir C obrar

Que quet dlzer Deus faz nascer na alma sensag6es correspondentes aos movimentos 4contecrdos no corpo, e produz no corpo movimentos correspondentes Ps afecgdes a alma?

Corno C e Deus produz7 Malebranche e todo o mundo responded Querendo Logo, aq la doutrina d o ilustre oratonense reduz-se a dizer que. quando a alma

tem certas afe f g&s, quer Deus que, no corpo, se sigam certos movimentos, e que quando o corpo tem 4ertos movirnentos, quer Deus que a alma expenmente certas afecgdes.

Isto redult-se a dizer que Deus quer que a alma obre sobre o corpo, e o corpo sobre a alma; pois que obrar n2o C outra colsa seniio o mudar um sempre primeiro e o outro depo~s. (Ontologla, § 58).

pols, a ser a op1n12o de Malebranche? Que a alma obra sobre o corpo e o corpo so re a alma, porque Deus quer

Mas que p6s jama~s em ddvida que o que acontece no mundo 6 porque Deus quer? Delxa o pols de parte esta desnecessPr~a causal, fica reduzida a tese de

0 outro

$ Malebrancheia dizer, como os EscolPsticos, que a alma e o corpo obram urn sobre

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0 sistema da Ha onfa pmestabtltta de Leibniz n io difere do de Malebranche, P s e h v em que este d zia: ~ a c s quer, em cada casopa~cular , que a tais mudangas acontecidas no corpo se sigam tais modificag6es na alma e v ice -ma . Leibniz substitui ao,presente Deus quer, o pretCrito: Lkm quis. Mas, como Deus quts sempre o que q d r , e nele n io 6 diferen~a de tempos, C fitil a substituigio. Portanto, podemos d i e r de Leibniz, como de Malebranche, que intrometem, sem necessidade, urna idela que nunca entrou em questio, a saber: que as coisas acontecem porque Deus assirn o quer e quis desde que criou o mundo e ainda antes de o criar; e , portanto, rernovida esta ideia, como urna infitil adigio, reduz-se o sistema de Leibniz, como os outros dois, a afirmar que sernpre a certos movimentos do corpo se seguem certas afecgdes da alma e vice-versa. E corno isso 6 que se chama obrar uma daquelas d u a substincias sobre a outra, todos os tr6s sistemas se reduzem a afirmar que elas obram urna sobre a outra.

Todos eles afirmam, pois, urna e a mesma wrdade, mas n io C disso que se tratbva: o que aqueles autores se propunham era explicar o como essa acgio se ppera, e , de certo, n io C explicar o como elas obram uma sobre a outra, rep' tir, simplesrnente, por estes ou por aqueles termos, que elas obram uma sobre a o tra. B aqui provem de alguns outros fil6sofos, reconhecendo que aqueles t+s sistemas na a explicavam, concluiram que: o mod0 da unido da alma com o cotpo era ine4cpltcauel e mesmo incompwmiuel.

NPo e esta a conclusio que eles deveriam ter tirado, mas sim que d o h i nada que explicar quando se afirma que a alma esti unida ao corpo, mas nem por isso se h g u e que nPo compreendernos o que afirmarnos.

korn efeito, esta frase quer dizer que sempe a certas mudan~as do corpo se segGem certas rnudansas na alma. Ora, dizer isto 6 expor o como acontece o facto em uestio (Ontologia, 5 571, e logo jP nio resta mais nada a acrescentar nem mais

t ca~ao a &r do modo como aqueles factos acontecem. 1 20 -5 menos evidente ser inepta a assergio de que 6 incompreensivel o como aq las duas substincias obram urna sobre a outra, pois que compreender como um substincia obra sobre a outra C saber quais s i o as mudangas de cada urna del s e qual dessas mudan~as 6 primeira, qual C segunda (Ontologia, § 57) ora, n6s sabemos qual i. a sensagio que experimentamos e qual a mudanga que a precedeu no nosso corpo; logo, compreendemos o como isto acontece. 0 mesmo se deve dizer a respeito da a c ~ i o da alrna sobre o corpo.

A distingio que aqui fazemos entre a recordagao dos objectos e a dos seus nomes nio:s6 e real, pois que os nomes nio s io os objectos, mas convem muito que o fil6kfo compreenda toda a importincia desta teoria.

Se o nosso espirito, tendo de discorrer sobre os objectos ausentes, fosse obrigado a retragar por forga de imaginagio a totalidade das ideias correspondentes ao complexo das qualidades que o comptkm, a grande multiplicidade destas e a sua imefisa variedade produziriam tal confusio, e de tal modo cansariam os 6rgios sensGrios que a esse fun seria preciso p6r em movirnento, que bem depressa cairiamos n u m completa apatia.

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klizrnente existe entrelas ldeias mais abastractas e as dlversas qual~dades materiais do corpo u r n t9o intlma relagio que, as mas das vezes, basta representar-se-nos algumas da uelas qualldades mater~ais para deduzlrmos, de sua cornparagPo, conclusdes ulto Importantes a respelto destas outras qualldades abstractas

Asam, a lntura, mesmo ~mperfeita, de um leao nos susclta a ldela de forga, a de um galo, de vigil2ncia e a de um d o , a de fldelldade, etc.

Um slmpl "! s gesto que sabemos costuma andar anexo 1 cblera, 9 compaucPo ou ao medo ba$a para nos trazer 1 mem6rla os sentlmentos deslgnados por estas expressks

Era pols 4atural que os homens, quer seja para consigo mesmos dlscorrerem sobre os obj tos, quer seja para comunlcarem aos outros os seus pensamentos, empregassem estes ou outros semelhantes melos, a que se deu o nome de sznais das nossas Idelas e pensamentos. r

Aos slnaisique, mediante uma slmples relaggo, podem suscltar a ~ d e ~ a do object0 em questPo, omo nos exemplos que h l pouco demos do lePo, do galo ou do cPo, deu-se-lhes o nome de stmM1icos.

Como, p d m , pel0 habit0 de reconhecer em desenhos ma1 tra~ados o sinal simbdllco qu havia quendo representar a pessoa que o tragara, os homens se foram acostumando a entender-se com figuras que cada dla se afastavam mals e mals, posto que gr ualmente, do primitlvo simbolo, vleram os slnals a ser de tal modo desfigurados 1 ue, s6 por convengio, e que se sab~a a sua s~gnlficacio, mas, enfun, esta t5clta co vengao exlstia no povo, todos entendlam aqueles slnais e, portanto, 7 deu-se-lhes o 1 nome de dernbttcos

Mas asslnh como se tinham inventado slnals escrltos ou desenhados para representar o objectos, era natural que se inventassem para representar aos olhos os diversos s A s que constltuem as palavras, e como ja estas s i o slnais dos objectos, vinham aquelhs novas figuras a ser sinats de s~nals, e deu-se-lhes o nome de f6lticos

Temos pbls que as palauras, os gestos, as figuras slmbblicas, as flguras convenclonals demdticas e os caracteres representantes dos sons ou f6nicos prestam todos o mes o servlgo ao dlscurso, em raziio da sua malor slmpllcldade, sendo uns menos compl cados d o que os outros, mas todos eles multos mas slmples do que os oblectos q 1 e eles s i o destmados a representar e, portanto, multo mals face~s de serem maneja)dos, para servuem como melos de execuc90 dos nossos rac~ocinlos

Daqul vet+ que a faculdade de discorrer se achari tanto mals desenvolv~da em uma nagPo, qbanto for mais slmples e mals regular o slstema de slnals escrltos ou falados que ela tlver 1 sua d~sposigio e quanto for mas simples e ao mesmo tempo mals var~ada e regular a sua linguagem 0 mesmolse deve duer de cada uma das ci@nc~as. Nem as Matemhtlcas levam

sobre todas as outras ciCnc~as senio por efeito da admlrivel

n io conhecem esta t i o importante verdade 0s matemlticos, + empregam em seus escritos e demonstragdes o confuso palavreado da Imguagem~vulgar, em vez de se servirem excluslvamente dos simplissimos s~nais geometricos $u algebrlcos que constltuem a sua particular nomenclatura. Nem os matemltlcos pevem esperar fazer progresses ulter~ores st! n9o aumentarem a sua llnguagem aleritmica, p i s , s6 por melo dela e 1 proporgio d o seu aperfelgoamento e que a anillbe moderna tem chegado ao auge a que a vemos elevada.

Posto que; imagina~do e fantasia sejam duas expressks slnonlmas, n io se segue que possam $mpregar-se sempre mdistlntamente uma pelo outra

A represcmta~io dos objectos ausentes pode verlficar-se no nosso espir~to, enquanto, pot efelto do nosso organlsmo. diversas partes d o nosso corpo obram

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umas sobre as outr , sem serem postas em movimento pel0 nosso espirito, ou sendo a alma quem r I produz nos nossos 6rg2os internos da sensibilidade os mesmos movirnentos que aqueles objectos produzirarn quando foram presentes.

Pap se distinguirem, pois, estes dois casos C que se adoptaram aquelas duas expres s, e , por isso, diz-se que a fantasia, bem como os sonhos de que ela C a causa, o comuns a todos os animals, entretanto, que a imagfna@o nem a todos os ho ens foi concedtda em grau dlgno de se notar. Por ela faltar P maior parte dos F home& 6 que os poetas e artlstas distintos sempre foram em muito pequeno numero.

DPtse, a este estado, os nomes de adomecimento, entorpecimento, letargo, coma, modo a, sonolsncia, sono, segundo o grau de lnercia a que o nosso organism0 se acha r duzido.

A xposi~20 de fen6menos que se observam no corpo animal, durante estes f diversds estados, pertence P Fisfologfa

As xpresdes definidas nestes tres parigrafos denotam os fen6menos que se observ k m nas experisncias do magnetismo animal, e cuja expsi@o compete P Fisiolo$ia

S6 otaremos da passagem que, P sombra do magnetlsmo animal, se tem praticado inume k 'veis embustes, e que e a estas que se aplicarn propnamente as expressdes defmidas no 5 40

A c$bserva@o corn que finaliza este parsgrafo C mals unportante do que deve parecek P pnmeua vista E que, de faao, muitas vezes se tem qual~ficado de loucos

dos ind~viduos em quem unicamente se haviam notado actos de furor ou de frenes ; err0 que nio s6 tern causado a ruina de muitas familias, mas [em custado a muita aT pessoas a vida e a honra

P outro lado, tem ficado, nPo poucas vezes, impunidos crlmes horrorosos, escu $ dos com o titulo de mania e mais particularmente com o de monomania

V&se pois quanto aquela observa@o C m-portante em assuntos tiio transcendentes de Medictna legal.

D remos em prova desta nossa teorla um exemplo que cada um poderii comp var com a sua pr6pna expensncia

S ponhamos ter eu um sonho tal, que se me representam, na fantasia, os objectos IO

que nie rodeiam no mesmo quarto em que estou dormindo, e que, ao mesmo tempo, se me afigura ver um amigo meu, que se despede de mim e desaparece Eu acordo imediatamente, n9o a pouco e pouco, mas de repente e t2o completamente, como se antes nP0 estivesse dormindo Vendo p i s em torno de mim os mesmos objectos

o sonho, e n8o tendo experlmentado a transi~80 que de ordinano ao passar d o sono para a vigilla, e a que se chama acordar, C natural estava acordado, quando VI o meu amigo

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I Mas a re*xio n2o tarda em me fazer notar que o rneu amgo n2o podia achar- -se ao mesmb tempo no rneu quarto e no lugar de sua residencia, bem como n io podia penetrar ate perto d o rneu h t o , estando fechadas as portas do rneu aposento, e, portanto, concluo que foi um sonho

Se aconteresse porkm que eu, por efeito de educagio ou por qualquer outro errado princip~o, acreditasse que os espir~tos podem passar lnstantaneamente de uns a outros lugares, por maior que seja a sua distgncia e a despeito de quaisquer corpos que os separem, e, se por uma daquelas coincidCncias que frequentemente se observam,, sucedesse que o rneu amlgo falecesse naquela mesma noae, n2o 6 natural que eb me persuadisse ter sido real aquela apangio, que n20 fora nenhum sonho e que leu estava com efeito acordado'

Logo, a rsuas2o de que foi ou nio f o ~ um sonho depende de eu reconhecer que h i ou q e n2o h i contradig20 entre as circunstincias que constituem o facto em questgo; 7 esta contradig20 reduz-se a dever-se supor que um object0 ~ndividual ocupava dois( lugares ao mesmo tempo, que e o que n6s des~gnamos pela palavra diplase

Tal 6 a expllcag20 de mll visdes que de muita boa fe referem pessoas, cuja probidade incontestivel lhes granjeia c ra i to na opiniio de quem n2o reflecte, que n2o basta prqbidade para nos preservar de calrmos em semelhantes ilus6es

E coisa nwiro digna de norar-se que nem os gregos nem os lat~nos tinham uma express20 particular que correspondesse a palavra pessoa e seus equivalentes nas linguas modelmas.

0 s gregds empregavam para exprimlr a mesma ideia que n6s denotamos pela palavra; pessoa, antropos, que umas vezes significa homem, outras vezes mulher

0 s latlno usavam para o mesmo fim da palavra c a p , que significa cabep, e tamMm ho o (homem ou rnulber).

A palavra lat~na persona e a que h e comsponde em grego, prosopon, significava unicamente cara e, por metkfora, opapd que a l g u h qn-esenta, asfunpies que exerce. i

Na idad4 argCntea da lingua grega, empregou-se a palavra prosopon como sin6nima de /bypostasis que s~gn~fica uma realfhde, em contraposlg20 ao que C s6 aparente (Cn ase).

Em tem 4 s postenores, j i na decadencia das duas linguas, e que aquelas palavras comecaram 4 significar o que n6s hole entendemos pela palavra pessoa

Veja-se 01 nosso Essaf sur la psychologie, nota x m , p. 239 e nota XI, p 149, e as corresponde tes citacks, p 247 t

Se eu p*ho uma das minhas m2os sobre qualquer parte d o rneu corpo, por exemplo, sobre uma perna, tenho ao mesmo tempo as duas sensagdes da parte tocada, medlante a mio, e da m20, med~ante a parte tocada

Mas se eu ponho a m2o sobre qualquer outro objeao, nil0 tenho sen20 a sensag20 desse object . +

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Asslm, se, duranh urn desmaio, tivessem-me cortado a perna e eu, acordando antes ide me tlrarem a parte amputada, a tocasse com a &o, exclamarla Ja nZo @ wtnh4 Quer dizer: ao toc8-la experlmentava s6 a sensac50 da perna por vla da mHo, !mas n5o a da m50 por via da perna.

m deste sentido propno da palavra znstinto, ha outro figurado que n5o so se Ihe d no uso vulgar, mas at6 se encontra nos escrltos de mu1 distintos fil6sofos

E abido que, depois de termos prahcado certo tempo actos para que no principio nos e , necesdno prestar um notavel grau de a ten~%o, os repetimos, prestando-lhes t%o uca, que nos podemos entregar, durante eles, a medlta~des que parecem abso 1 er todas as nossas faculdades.

M ~ S a verdade & que, posto n2o preclsemos jP de consagrar muita atens20 para relter r aqueles actos, sempre somos obrlgadas a prestar alguma, e tanto & assim que,, brevlndo algum desusado obsticulo, nos acudimos logo a removC-lo

E a improprlamente que se d5 o nome de tmnnto a estes actos de leve atenc5o do es into, pols que, por mais leve que ela seja, sempre procede em vlsta de um fim q 1 e Ihe C conhecido Entretanto, que o nome de tmttnto C destinado para denotar os cagos em que a alma obra sem anterior conhecimento do objecto, nem d o que Ihe C 'licito esperar ou recear cia parte dele

Ji rnais de uma vez temos tldo ocasigo de notar que a malor parte das ques te s entre os filosofos n2o provem deles professarem dlversas doutrinas, mas de n50 tereq comesado por concordar no senhdo das exprestes sobre que versa a d1scuss50

Dbsto nos oferece um novo exemplo a quest50 que sobre a doutrlna deste para rafo existe entre as duas escolas, que designaremos pelos epitetos de escocesa e fra cesa.

D *: zem os primeiros a pr6vida natureza, assim como nos dotou dos clnco sentldos geralbente conhecidos para o firn de podermos dist~ngulr os objectos, que nos podem ser ncjclvos dos que podem ser conducentes para a nossa conserva@o, do mesmo modo nos d u um sexto sentldo para podermos reconhecer, anterlormente a toda expenCncia, o qu C moralmente mau, e n5o o confundinnos com o que C moralmente bom.

0 fil6sofos da escola francesa ensinavam, pelo contrino, que as Idelas de v m d e e de icio, do bem e do ma1 moral, so nos podem vir da experiCncia e da educa~20. i bas as escolas tCm raz2o e n2o disputam, sen50 porque nHo se entendem, e n8o entendem, porque 1150 definiram, desde pr~ncipio, o que cada uma delas quer ignlficar pela express50 ter zdeia do que 6 moralrnente bom ou mau

A ,escola escocesa quer dizer que a slmples vista de uma ac@o moralmente m i causal desprazer, alnda iqueles mesmos que n20 receberam nenhuma educa~iio, 1150 de outro modo que o cheiro de certas subsdncias venenosas ou a vlsta de certos animals ou de certos perigos aterram, mesmo as pessoas que nenhuma ldela tCm do ma1 que aqueles objectos lhes ameaCam Isto C uma verdade que os filosofos da escola francesa n5o s6 n2o contestam, mas at& se referem frequentemente a esta observaglo

A que se reduz pols a doutnna desta escola que faz m a t h a da sua dlssens50 corn b outra escola' Em que ela, slm, concede que nos temos uma sensaggo desadradavel na presenGa de certas ag&s moralmente mas, independentemente da

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educacPo, s tenta, porbm, qu/ a educa~ lo , s6, 6 que nos ensina que elas s20 moralmente as; d o mesmo modo que qualquer homem experlmenta uma sensaqPo desagradavel cheirando certas substiincias venenosas, mas so a expericncla 6 que depois lhe e ma que elas silo venenosas

Ja o lelt vS que as asser~des das duas escolas versam sobre duas teses absolutament diversas, e portanto, podem ambas ser verdadeiras.

A escola cocesa trata da sensaSPo individual que se experimenta na presenca de cebtas agd 1 s, e afirma que ela C desagradhvel

A escola francesa reconhece este facto, mas acrescenta que s6 depols de o haverrnos observado repetidas vezes, C que generallzamos a ~ d e ~ a , mediante a asser~ilo de que tals a@eS ou tals substPncias sPo mas

Tambem lsto 6 verdade; nem jamais a escola escocesa pretendeu negar que para se generallzar uma idela 6 precis0 te-la observado repet~das vezes.

Uma colsa C sentir desgostos na presenCa de uma ac@o vlciosa, outra coisa C ter a ideia geral do vicio. No prlmeiro caso, sente-se srmplesmente; no segundo rac~ocina-se sdbre aqueles dlversos factos e deduz-se deles uma conclusiio geral.

Asam, enQanto a escola escocesa tratava daquelas sensa~des ~soladas, a escola francesa tratavk destas expressdes gerais, e , portanto, ambas tlnham raziio no que afirmavam E a seu err0 conslstia em supor cada uma delas que a outra considerava

IXO do mesmo ponto de vlsta que ela E nesse caso mferla, com das duas a s s e r ~ k s havla de ser falsa.

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IDEOLOGIA

1. A ~dqlogia tern pot objecto as faculdades de gerceber e de pensar. 2. A facubade de perceber d5-se o nome de entendtrnento e ii de pensar

o de intelgdncia ' 3. A faculdade de perceber, entendida na sua maior lahtude, compreende

as sensagded, as ideias, as percep~des e as nogdes. 4. A faculdade de pensar compreende a a t e n ~ l o e a recordagPo. 5. A sendag~o que continua a exlstlr no espirito, depois da acgPo dos

6rglos exteFos, e s6 por efeito dos internos, chama-se ideta 2 .

6. Quando se quer intimar que nPo s6 houve a ac@o dos objectos sobre os 6rgPos da sensibilidade, mas que nos lembramos de haver tldo a correspondknte sensat$io, dizemos haver tido a percep~do daqueles objectos 3

7 Todas as vezes que se quer designar unlcamente que se tem ideia do objecto, sem fazer aluslo 5 sensagPo donde ela deriva, damos-lhes o nome de n o ~ d o

8. As idem, bem como as nocdes, distinguem-se em materiais e zntelectuazs

9 ~ e n o h n a m - s e materiais as ideias e nogdes que temos dos corpos e rntelectuazs hs que temos do espirito

10. As Idelas podem ser indlv~duais ou colechvas, pr6pnas ou parttculares, comuns, gedais ou universais, abstractas ou concretas.

em podem ser completas ou incompletas, adequadas ou perfeitas ou imperfe~tas.

' V Letn t - Notas i Ideologv Ass~m dl emos Eu vi esse objecto, mas nlo conservo, nem crelo, que concebi ideia

alguma dele Ppsou tio rapldamente que n b tive tempo para formar fdsia alguma dele. Exemplos Eu ouvi gntar, mas nlo perceb~ o que se dlzv. Eu MO s6 ouvi. mas perceM

o que se dlsse; perdl porem toda a idem do que ent2o se expendeu A lmpressgo dos objextos sobre os nossos sentdos produz a sarsam, passada esta, f m -

-nos as Idelas das suas qualidades Se, abstraindo das ideias pattlculares a cada sensaclo, atentamos unleamente i s que s8o c o m w a vanas dentre elas, damos a esse complexo de Idelas abstractas o nome de no@o

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12, E, enfim. ~ & j e m ser claras ou escuras, clistintas OU C O ~ ~ U S ~ S . 13i Chamam-se individuais as ideias das qualidades que temos observado

ou qde, no momento em que falamos, se consideram como existentes em um dhterminado individuo 5 .

14. D%-se o nome de colectiva P ideia composta de outras, cada uma das quais corresponde a urna parte de algum determinado objecto 6 .

15. Denominam-se pn5prh-s ou particulares aquelas que entendemos n l o corresponderem senlo a algum determinado objecto '.

16. Chamam-se comuns as ideias das qualidades que se observam em virios individuos.

17. As ideias de qualidade que se acham na maior parte dos objectos que t mos interesse em conhecer, debaixo de um certo ponto de vista, cham b -se gerais.

18.1 Mas se se verificam em todos eles, chamam-se universais *. 19.1 AS ideias comuns, tanto gerais como universais, d5-se o nome de

abstr ctas, quando se quer indicar que consideramos unicamente as quali d des que lhes correspondem em algum objecto, sem atendermos as demaiJ que com eles se acham reunidas no mesmo objecto '.

20.1 Quando, porem, queremos indicar que 2 ideia de que se trata corres$onde uma qualidade que se verhca num certo e determinado objecto, chamatnos-lhe concreta lo.

21.' Querendo indicar que temos todas as possiveis ideias de algum object$, dizemos ter dele uma ideia completa, mas se nos falta alguma chama$s-lhe incompleta " .

22. Se temos todas as necesshrias para satisfazer a algum determinado firn, chiamamos a esse complexo idaa adequada. No caso oposto, chamamos- -1he inadequada 12.

A /ideia que tenho de Pedro, meu i d o ; da cidade em que mom; do freixo plantado B minha orta s9o ideias individuais.

emplos: Pouo, exhcito, hospital, quudm, jardim. E emplos: 0 riso 6 p ~ p r l o ouparticular ao homem. - Ter a soma dos t& dngulos igual

a dots 1 , ctar 6 particular ou pnjpP"o do tdngulo.

7 amor-pr6prio excessivo e habitual, a que se chama egoismo, C geral poque C comum B maio parte dos homens. 0 amorpn5p0, isto e, o desejo de seu bem-estar C universal porquel 6 comurn a todos os homens.

E emplo: A ideia da cor amarela, que em n6s suscita a vista do enxofre. ~5 acompanhada das id que, ao mesmo tempo, adquiriios das outras qualidades deste corpo. Mas se, sem atende k os a estas, nos ocupamos unicamente daquela, dizemos haver abstraido delas, e B ideia +im comiderada sepamdamente damos-lhe o nome de idefa abstracta da cor amarela.

lo Quando, depois de ter contemplado, por exemplo, a cor amarela abstractamente, a consid#ramos como fazendo pane daquele complexo de ideias designado pelo nome de enxofre, dizem$s haver passado a considerar a ideia abstracta de cor amarela, como uma ideia concreta.

l 1 i~s s im, dizemos ter uma ideia completa de um quadro que por urn largo espaco de tempd examinamos diariamente, mas que apenas temos uma ideia incompleta de outm que pouc;ls vezes havemos encarado.

'4 0 ourives diz ter urna ideia adequada de qualquer pedra preciosa, quando sabe dela o que l l e basta para a empregar, como cumpre, nos mistkrios do seu oficio. Do mineralogista dir- ia que tinha uma ideia inadequada da mesma pedn, se dela n9o tivesse mais ideias que o ou 'ves. 7

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23. Se' nPo temos soqente do objecto uma ideia adequada, relativamente a um s6 e deterrninado fim, mas a diversos, ou se conhecemos a raz8o e o mod0 por hue ele satisfaz a esses fins, dlzemos ter dele uma idela tanto rnais perfel quanto for malor o numero daqueles conheamentos. Se, porem, a ideia qu dele temos C pouco mals do que adequada, chamamos-lhe impe@ta ' .

24. Se, p rcorrendo uma ap6s outra todas as idelas simples (cujo complexo forma a id 1 ia composts) que temos de algum objecto, reconhecemos a ~dentidade u a dlversldade de cada urna a respeito de todas aquelas com que nos cu !n pre compari-las, dizemos ter uma zdeia clara do oblecto.

25. Se, &em, entre aquelas idelas h i algumas de que n8o descobrimos nern a ~dentidade nem a dlversldade a respeito de outras corn que nos cumpre compari-las, dizemos ter uma ide~a escura do object0 l4

26. Se a fde~a que temos do objecto n8o 6 somente clara, mas cornpleta, chamamos-!he dzstznta l5

27. Se elescura e incompleta chamamos-lhe confusa 16.

28 A aten~do (v. $ 4 ) e a faculdade que tem a nossa alma de furar os 6rgPos e x t q o s da sens~bllidade. ou os do orgamsmo lnterno, sobre um determnad$ objecto, quer seja para o sentlr por mals tempo, quer seja para o sentir mais vivamente ".

29. A r e F d a ~ d o ( $ 4 ) ou reminisc&cia & a faculdade que, na ausCncia dos object s, tem a nossa alma de renovar aos 6rgPos internos da sensibilida 1 , os mesmos movimentos que aqueles objectos lhes impr~miram quando for4rn presentes.

mais restrito di-se o nome de recordu@o ou rernznzscGnch o nosso espinto, na presenca de um object0 que lhe

l3 Exernpl 0 plloto tern uma ldela adequada do Instrumento de que se serve para tomar as alturas Ma ! , o maqulnista que fez aquele Instrumento e o rnaternfitico que o inventou tern dele uma 1dei4 mais perfelta

l4 0 botHnlco que, propondo-se dlstrlbuir as plantas unlcarnente por farnilvas, pode tnd~car dada planta dlz ter uma ldera clam dela Mas, se descobre nela proprledades afirmar que S ~ O ou n9o IdPnttcas corn os caracteres das famillas que Ihe d o

conhecidas, dQ que nHo tem daquela planta sen20 uma ldeia escura IS Se, no xemplo da nota precedente, o botanic0 nHo s6 determlna a familra da planta

mas o gCnero 1 a espCcle a que ela peltence, dlz-se que tern dela uma idela d~stmta, porque nHo s6 v? a ident~dade de cada uma das qualldades que conhece na planta com os ~orres~ondentks caracteres da respectiva familla, mas v@ as que a dtstlnguern das que se compreendern em qualsquer outras famillas. o que s6 se pode verlficar quando conhece to&s as que sso possivels de conhecer

l6 Como tQda a Idera dlstlnra C clara e to& a que e confusa 6 tarnbCrn escura, acontece frequentementt tomarern-se as duas correspondentes expressks, uma pela outra Mas quando 6 rnlster falar corn propnedade, faz-se a diferenp que acabarnos de notar

I' AS veze$ toma-se a palavra atenpZo no sent~do de r e m - 0 , mas no § 34 veremos como estas duas expws6es t6rn dlferente valor a que cumpre atender, todas as vezes que for neces&io falar corn proflnedade. Assun dizemos Eu ouv~ o vosso discurso com toda a aten~so e tenho pensado c&r-p i ta reflexso a irnpon9ncu das doutrinar que nek expendestes

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susclra a lembran~a /de algum outro objecto que se acha ausente, conclu~ que +te Ihe deve tel' s ~ d o tambem outrora presente, ao mesmo tempo que aquelk I*.

31\ No pressuposto do padgrafo antecedente, d%-se 5s Idelas do objecto prese4te e a do ausente por ela suscitada o nome de associadas.

32.1 Tambem h% rem~n~sc?ncia, recordaqiio e assoc~aqiio de ~deias, no sentid dos par5grafos antecedentes, quando a lembran~a de um objecto suscit 4' a lembranqa de outro object0

33.1 SPo actos de recordaqPo a reflexso, a comparaqPo e o raciocinio. 34./Tem lugar a reflex50 todas as vezes que a alma, recordando-se de

algum bbjecto, entretem os correspondentes BrgQos internos da sensibilidade na atitude preclsa para que essa ~deia se lhe conserve presente por mals ou menos tempo.

35. Quando queremos ~nd~car que n5o s6 percebemos um objecto, mas que lhh prestamos um ceno grau de ateng5o ou de reflexso, damos a este act0 d$ espinto o nome de apercepq50 19.

36. lMas se queremos indlcar que a apercepgso, posto que ~nstandnea, nos de uma ~ d e ~ a clara do objecto, denomnamo-la intuipio 20

37. Se a atenqPo ou reflex50 que prestamos a um objecto, se prolonga I not%vel espaqo de tempo, e com certo esforco de espirito, &-se-lhe

o nom de contemplap.2o, e a este esfor~o chama-se conten~do. 38. !A contemplaqHo levada a um gnu, que nos torna insensiveis 5 acqPo

de quaisquer outros objectos, &-se os nomes de arrebatamento, rapto ou Zxtase, P propor~Po cia ~ntens~dade ou da dura~Qo do paroxlsmo Em tais casos diz-se que a a h a esti absorta.

39 Falando proprlamente, servimo-nos das palavras compara~a'o, estudo, para ~nd~car que o espir~to niio se limita unicamente a fixar sua atenqPo ou reflex o sobre os objectos ~soladamente, mas que procede a tomar conhe f lmento das rela~6es que eles tCm entre si ou com alguns outros 21.

4 0 . 1 ~ esta serie de compara~6es, em que conslste o estudo dos objectos, &-se s nomes de exame, avengua@o, indaga~a'o, inuestigapio, znquiri@o, perqu'ri~do, (I pesqursa, informa~do, em raz2o do empenho com que proce4emos ou do fim que nos propomos, quando assim fixamos a nossa aten~qo sobre aquele objecto

41.1 Para disunguir os casos em que procuramos descobrir ou cert~ficar- -nos da verdade, por 116s mesmos, daqueles em que lnvocamos o concurso de oqtrem, servimo-nos, no prime~ro caso, das palavras indaga~ao, aueri&a@o, perquzn@o, pesquisa, e, no segundo caso, das palavras informa@o, inquirip30

lH Ja na Ps~cologia (5 28) fica observado que para se dist~nguir a recordagio dos pr6pnos objectqs da slmples lembran~a de seus nomes, se deu a pnmelra destas duas faculdades o nome e ~maglna~%o e h segunda o de menadria V Letra F - Notas 2 Ps~cologia

l9 tJ . Letra B - Notas h Ideologm keste sentido dizemos ser de prlmeirn intur~ao a verdade da segulnte propos~~iio Duus

rectas aralelas, seja qua1 for o seu comprlmento, $do equidistantes f 21 V Letra C - Notas 3 Iddogla

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42. A a nguqt30, in~brmaGijo e inquiri~io simicam propriamente que j5 levamos lguma ideia da existencia da verdade que faz objecto do nosso estudo, e, or isso, estas expressdes s%o muitas vezes sin6nimas de uerificq&o.

43. Pesq; \ isa e perquiriggo significam propriamente que ignoramos a existencia + verdade que procuramos ou dela suspeitamos.

44. Neste mesmo sentido, emprega-se, muitas vezes, a palavra indagwdo, mas essa usa-se niio menos vezes no sentido de averiguagiio e por isso tem uma significkggo mais geral.

45. Mais; geral, porem, 6 ainda a palavra exame, que se emprega indiferentedente em todos aqueles diversos sentidos.

46. D5-se ao exame o nome de deliberqdo ou de consulta, quando se tem em vish conhecer as consequCncias liteis ou prejudiciais do objecto que, em comum, examinam duas ou mais pessoas entre si.

47. Notejse, porem, que a palavra consulta indica propriamente que um dos deliberahtes ou um terceiro submete o neg6cio ao resultado da &scuss2o.

48. Se para se adquirir o conhecimento daquelas consequCncias precisamos de p6r o objecto em estado de produzir certos efeitos para se poder, por Via destes, conjecturar quais elas devem ser, d5-se a este trabalho prelirninar qs nomes de experii?ncia, ensaio, prova, tentativa, P medida que se espera u h resultado mais ou menos aproximado daquelas consequgncias que nos tidamos proposto avaliar.

49. A cobparaG60 de dois objectos (v. 5 33), que consiste em percorrer, uma ap6s ohtra, todas as suas qualidades, para o fim de descobrir as relagdes que existed entre eles, pode fazer-se debaixo de tantos pontos de vista quantas s50ias diversas sortes de relagdes enumeradas nos $9 16 e seguintes da Ontologih.

50. Comb, porem, quaisquer que sejam as rela~des que se procura conhecer, a4 qualidades que se comparam devem ser homogeneas entre si, segue-se que toda compara@o tende ao conhecimento da identidade ou da diversidade idos objectos, relativamente a alguma determinada qualidade.

51. D5-se P comparagiio os nomes de conferhcia, cola~do, paralelo, con .n ta~d 'o , segundo o grau de importiincia que atribuimos iiquele exame.

52. Todas as vezes que na cornparag20 de dois objectos, acabamos por conhecer a' identidade ou a diversidade das qualidades cuja relaggo procur5vambs descobrir, damos a este conhecimento o nome de jui:zo 22.

53. Ao jbizo d5-se o epiteto de afirmativo, quando ele consisite no conhecimedto da identidade dos dois objectos comparados; e d5-se--lhe 0

epiteto de negative, quando consiste no conhecimento da sua diver- sidade 23.

22 Exemplos: Pedro a m a uirtude; quer dizer que eu vejo identidade entre a id& qUe tenho de Pedm e a de homem que a m a vfrtude. - Luis ndo ama o trabalho; quer dizer que eu vep diversidade entre a ideia que tenho de Luis e a de hornen que ama o trabalh.

Z3 Vejam-se os exemplos cia nota precedente (v. Ontologia, $82).

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I 54. Se na compara~iio se uata de conhecer a identidade ou a diver- sid b de de dois objectos, o juizo que envolve esse conhecimento chama-se re& 24.

155. Mas se o que se trata de conhecer e a identidade ou a diversidade de sighcag20 de dois nornes, dl-se ao correspondente juizo o epiteto de nominal 25.

56. A frase que exprime um juizo nominal chama-se proposi~do, tese, ou asser@o.

57 Nas proposigbes cumpre distinguir o sujeito, o atributo ou predicado e o verbo.

58. Das duas expressdes cujos valores se afirma serem idsnticos ou diversos, chama-se sujeito aquela que denota a substiincia, e atributo 5 que denota a qualidade 26

59 Se ambas as expressdes denotam substiincias, ou ambas denotam qualidades, chama-se sujeito a que se pde em prlmeiro lugar, e atributo a que se pde em segundo 27.

60 Chama-se uerbo a expressPo que denota a identidade ou a diversidade do sujeito e do seu atributo 28.

61 Tanto o sujeito, como o atributo, denormnam-se temos da proposlg20. 62. As proposig&s podem ser afirmativas ou negauvas, partlculares, gerais

ou universals, identicas, opostas, verdadeiras ou falsas; certas ou duvidosas, provaveis ou improvlveis, verosimeis ou ~nverosimeis, convertivels ou inconvertiveis 29

63 0 s epitetos de afirmativas, negativas, particulares, gerais e universais, aplicados Ps proposigdes, tomam-se no mesmo sentido que fica definido nos $8 17, 18 e 53.

64 Chamam-se idsnticas as proposi~des que sPo concebidas nas mesmas palavras, ou em termos incontestavelmente equivalentes 30

65. Dizem-se opostas quando uma afirma o que a outra nega As proposigdes opostas distinguem-se em contrlrias e contradit6rlas

entre si.

kssim, quando depois de haver comparado entre si dois quadros, conhe~o que urn 6 ma16 belo que o outro, digo que fiz a respeito deles urn juizo real

Z5 Exemplo A vittude 12 a unica origem da verdadeira felicMade 26 Na proposi~20 Paulo Bfusro, Paulo 6 o sujeito e psto 6 o atributo 27 Na proposifio Pedm difere inteimmetzte & Paub, MO se d i a Pedro o nome de supito,

senao porque ocupa all o pruneiro lugar A proposifio sena a rnesma passando Paulo para o lugar de sujeito e Pedro para o de atnbuto

" Asslrn, nos dois exemplos precedentes, as palavras. I2e drfere fnteirattlmte s20 0s verbos daquelas duas propos~qes (V Letra D - Notas P Ideologla)

0 s fd6sofos costumam enumerar aqul muitas outras especies de propos~~des, mas essa enurnera@o 6 mais pr6pna da GramciNca Gem1 e por lsso a reservamos para essa parte do presente curso.

Exemplos E hen5i o van20 que se distinguepekzs suas ac~6e.s hetriicas - Veracidade e leal@& srSo os distintiws da honra - As linhas paraleias sdo eqirrdistantes

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66. SPoI contrdrias'entre si quando urna afirma ou nega de urn gCnero ou de umq especie o que a outra nega ou afirrna desse mesrno ou dessa rnesma es ecie 3l.

67 SPo contradzt6nas entre si duas proposigbes, quando urna afirma ou nega da es Ccie ou do individuo o que a outra nega ou afirma do genero \ a que a esC>Ccie pertence ou do genero ou da espCcie a que pertence o individuo 3k.

68. ~ u + d o as proposigdes contrarias sPo arnbas particulares, chamam- -se subcon rarias 33.

69. Qu it ndo duas proposi~des tern urn rnesrno sujeito e urn mesmo predicado, Las urna C umversal e a outra particular, d4-se-lhes o norne de subalternas 34.

70. Dizise que urna propos~gPo 6 verdadeira, todas as vezes que, substituindb-se aos seus dois termos as respectivas defimqbes, ela se torna em urna proposigPo identica, no caso de ser afirrnatlva, ou em urna proposigPo/nQo identica, se ela i. negativa 35

71 Dizjse falsa todas as vezes que, feitas aquelas substltuigbes, a proposig5o;se torna identlca quando era negativa e nPo identica quando era positivd 36

72 ~ u a h d o se quer afirmar que as defimgdes substituidas na proposigPo exprimem 6 sentldo das palavras em cujo lugar elas se substituern, diz-se que aquel proposiq6es sPo certas

73. Qua do se ignora se alguma daquelas defmigbes equlvale ou nQo a respectiva 3 alavra, diz-se que a proposiqQo i. incerta ou duvidosa 37.

31 ~ x e m ~ l $ s To& os homens sdo born Nenhum homem 6 born Todos os hornenspensam Nenhurn homQm pensa

32 Exempl s: To& os hornens sdo justos. Alguns homens ndo $do justos Todos os c f ~ u l o s t h os mios i uats A&um cfrculos ndo tt% os raios iguais f

33 Exempl : Alguns homens sdo doutos Alguns hornens ndo sdo doutos Exempl~ , To& os hornens sao dotados de razdo Alguns hornens sdo dotados & mzdo

35 Exempl A sabedona consiste em ser modemdo eprudente Esta proposi~ao 6 verdadeira, porque substi t mdo-se a cada uma das expressks de que ela se corn@, a sua defin@o resulta numa d r o p o s ~ ~ ~ o ldentlca, a saber os melos de assegurar o gozo & maior soma possivel de bens e de ofrer a menor soma possivel de males consistem em abster-se de pdt~cas que coarctam a d r a ~ i o dos possivels gozos da v~da e em afastar o malor ndmero possivel de causas de des i ostos

36 ~ x e m ~ l d Ojusto consm no maror bem do m a w ntimero Esra pmposi@o 6 falsa, porque, subst~tuindo alcada uma das expressks, a sua definl~Po resulta nd segulnte numa socredude & duzentuspdscus, cucada s&b teni no divkiendo umaparteprvpo~nal d s u a entmda, quando c a m e urn do6 ditos dcros drdrrem enrre sr todos os lucms Proposi~Bo absurda, porque, posto que se verlfiqoe o maior bem do malor numero, o lust0 conslste em que cada s k i 0 tenha nos lucms urna parte proporcronal P sua entrada

37 Exemplo Questiona-se se nos ouuos planetas haved hab~tantes, como na Terra Muitos s8o os pontos de semelhan~a entre a Terra e os outros planetas, mas h i multos mals de que se lgnora se s8o ou n8o semelhantes, e como sena preclso conhed-10s para se poder conclu~r a possib~l~dade de viverem neles anlrnals, diz-se ser duvidoso.

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i 74 h proporgiio bue for maior o nomero das definig6es, de que soubermos ser equivalente As palavras que lhe correspondem, dir-se-5 que a proposigiio 6 mals pmvavel ou mals oemsimil 38.

75. Pelo contdno, quanto maior for o n6mero das definiqdes de que ignoramos se siio ou nlo equivalentes As palavras que lhes correspondem, diremos que a proposi~Qo 6 mais impmvdvel ou mais znvemsimil, tncerta ou duuidosa.

76 Duas proposiqtks conwirias podem ser ambas falsas; mas nlo podem ser ambas verdadeiras 39.

77 De duas proposigdes contradit6r~s. uma i5 forqosamente falsa e a outra verdadeira

78. Duas proposlg6es subcontr%r~as podem ser ambas verdadeiras, mas nPo podem ser ambas falsas 41

79 Duas proposlg6es subalternas podem ser ambas verdadeiras ou ambas falsas, ou uma verdadeira e a outra falsa 42.

80 Da verdade de uma proposi~iio subalterna universal, deduz-se a verdade da respectiva proposigPo part~cular; mas da falsidade daquela nlo se deduz a falsidade desta 43

81 Da falsidade de uma subalterna particular, deduz-se a falsidade da respecuva universal, mas da verdade da primelra MO se deduz que a segunda seja verdadeira 44

82 Tudo quanto se afirma ou se nega do genero pode-se afirmar ou negar da espCcie; e tudo que se afirma ou nega da especie PO&-se afirmar od negar do lndividuo 45

'B Uns pensam que a luz C urn flu~do expedtdo do Sol em roda a rendondeza, outros s io de ioplnlio que aquele flu~do nio C exped~do do Sol, mas que, estando permanentemente espalhado pelo espaco, se torna vrsivel, como luz, pelas ondula~6es que nele produz o lmpulso que Ihe C dado pelo Sol

Quando se sabe por uma pane que a luz para chegar do Sol 2 Terra, por vla de emissio, de erta comer 80 m ~ l ICguas por segundo, e por outra parte se reflecte que o efeito do lmpulso fel num dos extremos de umd vard se faz senttr ~nstantaneamente no outro exFremo, qualquer qu k seja o seu comprrmento, v0-se que o fen6meno da luz tem mals semelhan~a com o do tm ulso do que com o da erntssao, potranto, que 15 mais verosimil a segunda do que a prlmetra te$a

m 39 V 5 66, nota 31 / V § 67, nota 32

41 Exemplos 1 Alguns homens s5o antrop6fago.s. Alguns homens wio siio antrop6fagos 2 U, Alguns homens s io dotados d'alma Alguns homens nio s io dotados d'alma

42 Exemplos 1 Todos os homens s io entes vivos Alguns homens silo entes vlvos 2 Q,Todos os tri5ngulos s io lguars a trCs ingulos rectos Alguns trllngulos lguals a tr2s lngulos rectos 3 Todos os Corsos s io mentlrosos Alguns Corsos s io mentirosos.

43 Exemplo De ser uerdade que to& os homens srio entes vim, segue-se ser uerdade que akum homens sdo entes ~m Mas de ser verdade que alguns homens srio maus, ndo se segue que tohs a bomens scio maus

44 Exemplo De ser falso que alguns animals ndo t h oontade segue-se ser falso que os ammas ncio t& vontade Mas de ser uerdade que a l ' n s bornens scio ingratm, m-o se segue que todos a homens scio ingrata

45 Exemplos 1 Todo homem pensa; alguns homens pensam, Pedro pewa 2 O Nenhum homem e mortal. Paulo MO e lrnortal

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83. Nemi iuda a qub se a f i m do ~ndividuo pde-se afirmar da espircie e nem tudo :o que se afirma da espCcie pode-se afirmar do genero 46.

84. Tudoio que se nega do individuo pode-se negar da esp6cie e o que se nega da qspCcie pode-se negar do gCnero 47

85. Nas proposi~des afirmativas, o auibuto nPo pode ser particular 48.

86 Nas proposicdes negativas, o atributo nPo pode deixar de ser umversal 49

87. ~ i z d m - s e conoertiveis ( 8 62) ou simplesmente conuertit/eis as proposicdes~ cujo atributo pode passar a ser sujelto e o sujeito, atributo, ficando elas sempre verdadeiras 50.

As que dPo admitem esta inversso chamam-se inconvertiveis. 88 Se na conversPo pode-se substituir em lugar de cada um dos dots

termos, istd ir, do sujeito e do atributo, os seus opostos, diz-se que a proposi~Ho & convertivel por contraposipio 51

89. Aqudlas cujo atributo pode ser substltuido por um sujeito particular dizem-se coizvertfveispor acidente, e Ps proposi~des resultantes deste mod0 de conversik io-se-lhes o nome de restntivas ou kmztativas 52.

90. As ptoposi@es universais afirmatlvas sPo susceptiveis de conversiio restritiva, mas nem sempre o s%o de conversPo simples 53.

91. Pod* converter-se simplesmente quando o atributo nPo tem mars extensPo dd que o sujeito 54

92. As pmposi~bes particulares afirmativas s30 susceptiveis de conversPo simples, mats nPo de conversPo restrltiva 55.

93. As proposicdes particulares negatlvas nPo sPo susceptive~s de con- versso simplles, nem de conversiio resuitiva 56

46 Exempl s 1.O Ulrsses era astuto, 0 s gregos eram astutos 2 O 0 homem C bimano; todos os anunals sH bimanos

" Exemp s: 1 Horicro nPo era valente Nem todos os romanos eram valentes 2.O) 0 avestru d o voa Nem todas as aves voam " Exempl 1 Todo homem C mortal, lsto 6, todo homem C urn dos mortais

49 Exempl6 A fraqueza nPo i. vlrtude, a fraqueza d o e nenhuma das v~rtudes Exempl~. Tudo o que C virtuoso C verdade~ramente htrl Tudo o que e verdade~ramente

fititil 6 virtuoso 51 A prop sic20 Tudo o que B oirtuoso B wdadeimmente iitil, conuette-se nesta 7iuio o

que ndo B oi fi mo ndo 6 wnladerramente a i l 52 A ptw@sipio os homens G o animais converte-se nesta Alguns animals s io homens 53 A profls~qPo TosO ente vim B orgdnico 6 suscetivel destas duas esp6cies de convemio,

a saber 1 " T&io ente organico 6 oitv, 2 O A&uns entes o~dnicas sdo uim Mas a proposiflo Todo animal t? urn ente oivo pode-se converter nesta Alguns entes ylvos sdo animau, mas nPo se pode convgrter s~mplesmente, rsto 6, Todos os entes oiuo.s s io anlmais, pols que as plantas tambCm sPo Wtes vrvos

54 Exemplo Todo trfingulo C uma superficre termrnada por tres lados toda superficre termnada pod tres lados ~5 tnhgulo

55 Alguns ~selvagens s2o homens industnosos, alguns homens ~ndustriosos sPo selvagens. NPo pode ter'lugar a conversHo restritiva porque a p r o p o s ~ ~ i o prirnitiva 14 e restritlva. " Exemdo. Alguns homens nPo sZo dellcados Serla falso dizer restrttamente Alguns (hornens) na'o delicados ndo scio homens

Tambem seria falso dizer, por conversPo slrnples 0 s (hornens) ndo delicados, ndo sdo hornem

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94 lQuando o espirito, depo~s de ter reconhecido haver idenudade entre dois objectos A e B, e entre B e C, afirma que A e C sPo identicos; dlz-se que elt3 ractocina, que discom Aquela opera~3o chama-se raciocinio ou discumo; e a faculdade de rac~ocinar chama-se raz20.

95 Tambem se diz que h4 raciocin~o quando o espirito depois de reconkcer que A e B sPo idzntlcos e que B e C sPo diversos, a f m a que tambe& A e C d o diversos entre si.

96. A arte de discorrer tem-se dado o nome de Ldgzca, em que se compreendem a Dial6ctica e a Hermen@utica

97 Entende-se por DiaLGctzca a arte de demonstrar as verdades e de refutar 0s erros

98. D5-se hoje o nome de Hemzen&tzca 3 arte de averiguar a verdade hist6nca tanto dos factos como das doutrinas que nos constam da trad~~Po.

99 Das trSs proposigbes de que consta todo o raciocinio ($ 94), as duas primeikas charnam-se princ@ios ou premissas e 2 dlt~ma d5o-se os nomes de cortclus60, c o t z s e q ~ c i a ou tkqdo A primeira das duas premssas chama- -se-lhd malor, e i segunda, menor.

l0d. Dos trQ termos A, B, C, que entram no raciocimo, o pnmelro chama- -se sujlezto, o segundo, atributo e o tercelro, temzo m6clzo ou mew termo.

101: A raciocinio asslm composto de tres termos, tem-se dado o nome de stlogzsmo.

102. Todo s~log~smo e, por consegulnce, codo rac~ocinio s~mples, consiste na tra formagPo de urna prirneira propos~gPo (que se pode representar pela equagP "t, A = B) na outra (B = C), e esta numa terceira (A = C) 57.

103. 0 s~log~smo pode ser cond~cional, d~sjuntivo ou copulative, segundo a sua malor for urna proposigPo condlc~onal, disjuntiva ou copulativa.

104, Chama-se condictonal a propos~gHo cuja verdade depende da verdadk de outra proposlqPo 58

105 Chamam-se dzsjuntivas duas proposigdes das quais urna s6 entPo pode ser verdadelra, quando a outra for falsa 59.

106, Se urna delas em nenhum caso pode ser verdadelra, sendo-o porem ou podendo-o ser a outra, d~zem-se exclusivas ou adversatzvas 60.

Se urna delas sb em certos casos pode ser verdadelra, sendo-o a ais geralmente, diz-se aquela exceptiva ou restnuva 61

57 0 slnal - quer d~zer que A 6 equrvalente ii express& B 58 Ekemplo Se a rellg~io que tu pregas e verdadelra, &ve reconhecer em Deus todas as

vlrtudes elevadas a um grau tdtnrto Ora. ela presta ii Divindade as pa1x6es rnais detestadas entre osi homens; logo ela nio 6 verdadeua Tale o argumento com que o Cmtimsmo confunde de falsab todas as outras relig6es

59 Ekemplo Ou o castigo que a l e ~ lntllge 6 pr6pno para comgr o culpado e reprimlr os maus ekrtos do cnme, ou ele e urna ign6bil vinganp Ora, o castlgo que a tua ler inflrge ou nio co+ge os culpados, ou nio tolhe que outros os ~mitem, logo esse castigo nfio 6 mais do que u d 1gn6bil vingan~a

Ekemplos 1 O 0 homem vtrtuoso goza de paz de esp'kito; o vlc~oso vrve sempre inquieto 2 ' 0 hdmem douto desconfi sempre do seu JU'W o ign-e reputa-se quase sempre infalivel

61 &emplo Nenhum homem lndecrso pode prosperar, a menos que nio confie a dueccio dos s e d negkros a um admlnrstrador Gbil e determina&.

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108. Chamam-se kopulativas duas proposi~ks, ambas verdadeiras ou ambas falsas, mas ao mesmo tempo condiciona~s entre si, e, portanto, ligadas uma com a outra para o fim de ser ou MO ser verdadeira a asserePo que lhes diz reQeito 62.

ih propbsledes copulativas tamMm se d i o nome de conjuntiuas. 109 0 s filbsofos, querendo ind~car que a conclus20 e equivalente a cada

uma das duas prermssas, dizem que ela se contkm nas premissas. 110 Em vez de d~zerem que ela resulta da sucesslva transformaclo da

primeira prQ>posl@o na segunda, e desta numa terceira (8 1021, dizem que ela se dedukz das premissas, que ela se derrzovlstra pelas premissas ~ q u e l a sucessiva tdnsforma~Po das proposlg6es, urnas nas outras, chamam dedu~do ou, tambCm, demonstra~?~ da consequencia.

11 1 . 0 s ~ciocimos que se empregam com o fim de demonstrar a verdade ou a falsidakle de alguma proposigPo denominam-se algumentos.

112. As lpremissas (§ 99) dividem-se em trEs classes, a saber: dehni~des, lemas e axlomas

113 As defini@es, alem de deverem enumerar as idelas que a expressPo definida exc$ta, em comum, no Qnimo de todos os que dela se servem, nos casos semelhantes nqueles de que se trata (Ontologra, § 22), cumpre que sejam as mals pr6prias para se poderem deduzlr delas todas as outras propriedades do objecto em quest50

114. Di-se o nome de lema a toda a asser~Po que se adopta como verdadeira, or se saber ou se supor que ela tem j i s ~ d o anterlormente demonstrad

115. Cha L a-se m o m a toda a proposi~iio, cuja verdade se conhece pelo simples enuhciado, sem dependsncia de demonstra~iio 64.

116 0 s hciocinlos, considerados quanto ao metodo da sua dedugiio, d~videm-se em analit~cos e sinteticos

117. Geralmente falando, o rnbtodo analitico consiste em examinar, uma ap6s outra, as diferentes partes de um todo, mas esta significa~Ho geral compreendk quatro sentidos restntos em que se costuma tomar aquela expressPo, i saber:

1.O Quabdo se percorrem todas as partes de um objecto com o simples lntuito de fkar conhecido o seu todo,

2.O Quahdo, alem disso, se tem em vista conhecer as rela~6es das partes desse todo, umas com as outras ou com alguns outros objectos,

3.O Quando do conhecimento daquelas rela~6es se intenta passar classifica~20 dos objectos analisados,

62 Exernplo 0 s animals e os vegetals dlstmguem-se dos outros corpos da natureza por se venficarern neles algumas cornbma~6es quinucas que os conservarn Entretanto, nos outros toda a comb~na~ao quimica tern por efelto alted-10s.

63 V Letra E - Notas & Ideologla V. Letra F - Notas A Ideologla

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4 Quando a a lise se exerce sobre urn certo numero de casos ou

geiQis 65 .

ia de teses pamculares, corn o fim de deduzlr uma ou mais consequCnc~as

118. 0 mktodo sintbttco conslste em tomar como prernlssa uma tese ge 1 e deduzir dela todas as consequCncias que entendermos poder e dever tir r 66. ! 120. Todo silogismo deve ter, nem mais, nem menos do que trCs termos 67.

121 Representando por B, C e D os trCs termos de urn dogismo, por quatro dlferentes maneiras se pode deduzir a conclusPo B = D 0 s diali.cticos chamam a estas maneiras figuras do silogismo, e sPo as seguintes:

Malor Menor Concluslo

C = D B = C B = D D = C B = C B = D D - C C = B B = D C = D C = B B = D

122. Nem o sujeito, nern o atnbuto devem ter rmor extensPo na conclusPo do que nas premssas 68

123. 0 termo mkdlo deve-se tomar, ao menos, uma vez em seu sentido universal nas premssas 69

65 V Letra G - Notas a ldeologra 66 Exemplo: E act0 de herorco patrlotlsmo expor a sua vlda a bern das llberdades publicas,

res~strndo h ordens ilegals dos agentec do poder, logo, a reslstCncla de Harnpckm e da Amknca Setentr~onal ao despotismo do govern0 lngles e a dos cida&os franceses em 1789 e 1830 ao despotrsmo do respectwo governo foram actos de henhco patnotlsrno V L&ra H - Notas 5 Idkologia

67 Alem de que esta conclusiio resulta tmediatamente da defin1~50 de sllogsrno (§ 101), os segu~ntes exemplos mostram a sua exacu&o

1 0 s negm sdo bornens pretos; bomem pteto 6 mais do que homem. logo os negms sdo mats do que hornens

Este slloglsmo 6 vrloso, porque d o tem .senso doh termos, a saber a rnenor e a conclus50, pwquanto como negros vale o mesmo que hornens pretos, aquela malor reduz-se a dlzer que 0.4 negros s l o negros, o que vale o mesmo que nPo haver maior

2 O .S6 C puro o que nio tem mrstura, o sangue dos filhos nascrdos do condrc~o de pessoas de dlversas cores tern mlstura, logo ele e lmpuro

Este sllogismo 6 sofistico, porque tern mals de t r h termos Corn efe~to a palavra'mtstura ~~gnf ica na malor uma colsa composta de substhclas vlciosas e na menor srgnfica uma composta de substanclas &s quals nenhuma e v~ciosa

i Exemplo. 0 s chlnas s lo aslatrcos, os lnd~anos s lo asiitrcos, logo, os chlnas $50 rndanos.

Ne te sllogismo, tanto os chinas como os indranos sign~ficam certos as~dtlcos e na conclusao slgnlficam quaisquer aslit~cos

E vicioso porque a express50 aslatlcos apl~cada aos chlnas nPo slgn~fica o mesmo que apllcada aos mdranos, e logo o sllogrsmo tem quatro termos, contra o que se enslnou no 5 120

69 TarnMm contra esta regra peca o slloglsmo c~tado no padgrafo antecedente, porque, tanto na malor como na menor, se toma a palavra asidticos no sentrdo restirto e particular de ccdos asidticos

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124. 0 termo mi.dlo ~nao deve aparecer na conclusiio 70. 125. Quando uma das premissas e afirmauva e outra negauva, a conclusPo

deve ser nggativa 71

126. Q ando urna das premssas i. universal e a outra particular, a conclusiio I e v e ser partlcular 72

127. Regresenternos pela letra A as propost~des unlversats afirmauvas, e por E as propo$l$des unlversais negatlvas, por I as proposlgdes particulares afirmativas k por 0 as proposlgdes partrculares negatlvas; se colocarmos, sucessivarndnte, estas letras t r b e tres, representando duas delas as prernissas e a tercelrd a conclusPo de urn slloglsmo, obteremos sessenta e quarto cornbina~des dlversas, a que os dlalectrcos &o o nome de modosdo szlogismo.

128. Dos sessenta e quatro rnodos de siloglsmo rnencronados no parsgrafo precedente, sornente dez satisfazern 3s condiqdes que os $9 120 a 126 se requerern para um sllog~srno ser concludente, lsto 6 , verdadelro, como se pode verlfidar discorrendo cada urn dos dltos sessenta e quatro modos.

129 Dos: dez rnodos rnencionados no pariigrafo precedente, uns s6 siio concludente6, se os seus termos se dlspuserem abalxo de urna das quauo ftguras rnen41onadas no § 121, outros so debalxo de outra das dltas figuras. 0 s mapas stguintes rnostrarn a correspondi2ncla entre aqueles dez modos do silogismo, e as suas quatro figuras para satlsfazerem as condi~des que nos §$ 120 a 126 se exlgern para qualquer srlogrsrno ser concludente:

Mapa Pos hnicos modos de silogismo que podem ser concludenks

Malor Menor Conchs20

Quatrb afirmativos. A A A I

Seis negatlvos A A E E E

, o

70 Exemplq 0 homem temetririo afnmta o perigo; o homem vaknte afronta o w g o , logo, o homem que gfronta 0-0 # valente e temerd&.

Este discurfio pode reduzir-se P seguinte forma B = C, C - D, logo D - C Por onde sr vC que este silogismo d o tern mais de dois terrnos, contra o que se ensinou

no 5 120. " Exempla Todo homem deseja agradar, m a s os homens d o podem tudo quanto des+m,

logo, n2o basta querer agradar para o conseguir 72 Exemplo As aves G o animafs; as aves r h asas, logo, os animals t h asas Este silogi$mo 6 falso, porque sendo uruversal a prunetra premissa e panrcular a segunda,

a conclusPo devia ser particular. isto 6 logo. ha antmais que t h asas

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Mapa dos modos de silogismo concludentes que correspondem a cada uma das quatro figuras do silogismo

Frguras Mar or Menor Conclus20

130. 0 entimema difere d o silogismo em nQo ter mais do que uma s6 prctmissa 73.

131. A premissa d o entimema enuncia-se, Ps vezes, depois da con- c l d s ~ o 74

132. 0 ep~quirema e o sllogismo em que cada uma das premissas e, ela mesma, urn silogismo ou um entimema 75

' Ponho s6 a rnaror e a menor, porque a concludo B = D C a mesma para todas as quatrc f i w a s (§ 121)

73 Exemplo. 0 homem tem a faculdade de optar entre o bem e o mal, logo, C l~vre V tetra I - Notas A Ideologia

7"xemplo. 0 espir~to sendo srmples C indestrutivd, poque a rde~a de drssolu@o envolvl a rdera de dffisolu@o de partes

75 Exemplo As acq6es nAo merecem o nome de vhuosas, sen50 quando delas s6 result hem ou mas hem do que ma1 Mas essas acqBes siio tambem as dn~cas que se poder chamar urers, logo s6 as a@es vtrmosas s8o realmente iiteis, e s6 as verdadelramente liter? sri vrnWsas

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133. 0 dipma conslste na combina~20 de dois entlmemas, cujas premssas compreendep todos os casos possiveis da tese, que se trata de demonstrar, e portanto, ag correspondentes conclusdes mostram todas as consequtncias que na hip6kse dada se podem deduzir 76

134. 0 sobtes C um entlmema composto de dols ou mais entimemas, no qua1 o que Ciatnbuto numa das premrssas parclais passa a ser o suleito da prernissa seg+lnte ".

135. A in#u~?o consiste numa sCrie de entlmemas, que acabam todos em uma mes a conclus80, a fim de se mostrar que esta C comum a todas as hip6teses !' iguradas nas premssas daqueles diversos entmemas 78.

136. 0 ar mento a que se d i o nome de exemplo consiste em se tomar como princi $ o do raciocin~o um caso que nPo C contestado e que seja o mais anilogo que possivel for, lquele que se quer provar 79

137. 0 s m 4 todos que os dialCcticos costumam seguir nos seus argumentos d~stin~uem-sd em silogistico e socratico

138. No ?&todo silogi3tic0, a marcha da dlscussPo conslste em seguir ngorosamentq algum dos diversos modos de argumenta~iio definidos nos pariigrafos anlecedentes, mas, sobretudo, no emprego do silogismo.

139. 0 m&odo socratzco, prescindlndo do rlgor daquelas formas, aplica- -se; a definlr /as expressdes equivocas e faz conslsur na exactidgo destas defini~des o geu mod0 de demonstra~Po

140. odds as vezes que, empregando-se qualquer das formas de rac~ocinio, se estabelecem premlssas falsas, ou de premssas verdadelras se deduzem fals I s consequ@ncias, diz-se haver-se cometldo um panalogismo. Entretanto, ad paralogismo que consiste em adrnitlr premssas falsas, di-se mais propriahente o nome de sofama

7h Exemplo u tu queres agradar aos homens de bem ou a todos No primelro caso s6 desagradaris a a guns, no segundo Mo agradar&s a n1ngu6m

Exemplo Ho C vlrtuoso quem nHo t bom, Mo 6 born quem nHo t probo, nHo 6 probo quem nao 6 psto, nHo I' justo quem n9o 6 firme; d o 6 firme quem nio 6 clrcunspecto; logo bondade, probldade, fume e clrcunspecqHo sHo os elementos essenclals que constttuem a vrnude

78 Exemplo odos os corpos s6l1dos dmldem-se em duas grandes classes uma compreende os que chamamos duros, nps ou mflexivels, a outra, aqueles a que damos os nomes de moles, flexiveis P ou extensivels ,Os flexivels subdlvldern-se em elastlcos e nrio elastlcos, os extensivels subdlvldem-se e$ dactels e maledvels Assun, a dlferenqa entre as duas grandes classes conslste em que as partes pe que se compdem os corpos compreend~dos na pnmelra, nao se afastam umas das outras nem s ' aproxlmam, a nio ser por vla de urna for~a extraordln9na, entretanto, as partes de que constam s corpos compreend~dos na outra classe afastam-se ou aproxlmam-se corn mals ou menos faclll de Reflecttndo-se, pols que, tanto aquela ddculdade, como esta facllldade, nada mats %o do que iversas modificaq6es da coesdo, segue-se que todas as qualtdades dos corpos deslgnados por !I a uelas expressks, confundem-se todas na qualldade a que se dh o nome de coes5o

79 Exemplo 5e C dlgno de vlrupeno o cabo de guem que abandona a outro a nomeaC;lo dos cornandant* dos corpos, se se castlgam como traidores ou como covardes os mllltares que nHo defendem os postos que lhes foram confiados, que dlremos dos eleltores que abandondm aos lnlnllgos das llberdades pdbltcas a eleicrio dos deputados da na~iio? E como devedo ser conglderados aqueles que, devcando de resldrr ou abstendo-se de votar, desertam do posto de hodra que lhes fora confiado, e abandonam a raptna e a lntrlga tudo quanto uma n a ~ a o possut de mats sagrado?

* V Letra K - Notas P Ideologla

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141. 0 s d~alectlcos cosrumam dstinguir trEs espCc~es de paralogismos, a saber.\ por contrariedade, por contradicPo, por falsa analogia.

142. HP contrariedade quando se afirrnam duas proposi~des contriirias 81

(S 661.; 143 H i contradl~Po quando se afirrnam duas proposi~des contradidrias 82.

(§ 67) 144. H i falsa analogla todas as vezes que, da semelhan~a de qual~dades

aciderltais que observamos em dois objectos, concluimos a semelhanqa de outras; qualidades essenciais ou ac~dentaa, ou vlce-versa.

14$. A falsa analogia pode ser uma 11usPo dos sentidos, uma errada c lass i f~ca~~o ou uma falsa teorla

1 4 H i ilusiio dos sentidos todas as vezes que, do que observamos em certas; c~rcunst%nc~as, concluimos que o mesmo observariamos em circunjt2ncias absolutamente dlversas

141. Hii e m de classajica~~o todas as vezes que, por certa semelhan~a de duds espkcies, as conslderamos pertencentes ao mesmo gknero, posto que a uela semelhanca nPo diz respelto aos caracteres do gCnero 84

14 9 . H i erro de teoria todas as vezes que, por analogla, se atribuem a uma desma causa efeitos que s6 tern entre SI semelhan~as acldentals, ou se ambulium mesmo efelto a causas que s6 tem de comum algumas qual~dades aciden/tais 85

14q. 0 s modos porque se cometem ordlnarlamente estas v5r1as sortes de pataloglsmo sPo os segulntes por vla cia extens50 ou de restriggo, por ehumera~lo lmperfetta, por 1gnor8ncia ou sujeito, por falsa supo- sicPo, por circulo vlc~oso, por peticPo de pnncipio, por falsa causa, por equivoco.

R1 $emplo 0 casrigo tern por @cto a correc@o do mlpado, lbgo, a pena ndo pode ser inf lgiq no c6dfgo seruio por um tempo determtnario

Estq rac~ocinio i vlcroso, porque siio conthnas e n m si as idelas de diferenca individual de v6r1Qs culpados e igualdade do tempo preclso para corrlglr qualsquer culpados

82 qemplo Quem tern opoderde castlgar tem opoder deploporctomr o cas~igo a gravMade do cri*, logo, pode rnflrgtr a penu de morte aos crimes atmzes

Est$ raclocinlo i vlcloso porque as ldeias do cartigo e depena de morte s90 contradit6rlas Cast~gaq quer dlzer corrlglr o culpado e reprlmu os que tlvessem dlsposlfio a ~rnlti-lo Quanto ao c u l ~ d o , niio 6 t~rando-lhe a VI& que a autorldade o pode corrlglr Quanto aos demals, prova a experlOncla de todos os povos, que os alrnes d o t@m aumentado B rned~da que em todos eles se tern tornado mals rara a apllca~Bo da pena de mone, e na RGssia e na Toscana, onde eita pena h6 muitos anos se acha abollda por la , n5o d niio aurnentou o n6mero dos cnmes, imas s9o mals raros do que em quase todos 0s outros paises, 9 propor~&o de suas popula 6es " i 0 caso daqueles que, lgnonndo o efe~to & refracno da luz e figunndae-lhes quebrafo urn pau mergulhado na igua, persuadem-se de que ele est6, corn efe~to, quebrado

ffl Tal 6 o erro daqueles que confundem urn cnstal de rocha ou urn top5zio com urn d~amante, ou urn bloco corn urn cao

" Pode c~tar-se, como exemplo, o e m dos quimcos que, vendo produzu ao cloro de h1drog4nlo efe~tos an6logos aos dos L~dos , concluiram que o oxl&n~o entrava como pane compohente naquela substiincla V Letra L - Notas 9 Idslogia.

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150. Comete-se sofisha por via de M m d o todas as vezes que se afirma ou nega em geral o que s6 i. verdadeiro ou falso em alguns casos partlculares

151 0 s 'alecticos enumeram quatro modos pel- quais estas sortes de F sofismas se costumam cometer e s2o os seguintes: 1.O Por simples extensgo; 2.O Por ac~dente 87; 3.O Por tonsigiio do absoluto ao relativo 4.O Por tmnsigPo do distributive ao colec~vo 89.

152. H1 Sofisma por via de restrigPo quando se &ma ou nega s6 em certo sentidd o que se devera afirrnar ser verdadeiro ou falso em todos e quaisquer casos 30.

153. 0 sqfisma por enumerac20 imperfeita comete-se todas as vezes que s6 se enun)era uma parte das premissas em que devera assentar a conclusPo "'1

154. ~ ~ z - $ e haver ignordncia do sujeito todas as vezes que, saindo-se do assunto em quest50, se demonstra ou se refuta o que d o era object0 da contestaggo Y2.

Neste e+ cabem os que atnbuem as n a m s ou 2s drversas classes da sociedade os defertos que tC+ observado em alguns lndrviduos a elas penencentes

Exemplo , Osprussfanas batemm os franceses na batalha de Rosbach, logo, aspmsfanas excedem aos frbnceses na arte militar

Exemplo~ 0 s habttantes de Roma sdo romanos, ora, consta-nos da Hist6rta serem as romanas os ma4 ualentes soldadas do Uniuerso; logo, as habitantes de Roma G o os mais uahtes soldados do Untuerso

* Exemplo./ 0 ente que chamamos bomem mine as qualidades materiais e espsrttuuis, mas o que mine LLS quulidades materlais @ c o w , logo, um corpo pode ser dotado das qualidades espirtruais

Este racloci/l~o i. vrcioso, porque de se acharem reunrdas as duas substkcias alma e corpo conclui que pe encem a este as propnedades daquela

9O Comete este em os que s6 qualificarn de covard~a suje~ta 2s penas da ler a falta de 4 coragem mllrta~, quando a falta de coragem clvrl nem C menos covardra, nem menos dlgna da sevendade das !leis

91 A urll~da$e de um objeao, o seu custo, o apreco que dele se faz na estima~io de muitos e o que deles &z em particular a pessoa que actualmente o possu~ s8o quatro elementos que mfluem, ora conjunta, ora separadamente, no valor das colcas Cometem, portanto, um sofisma por enumera~ko lmperferta os economrstas que fazem depender, em geral, o valor dos oblectos dn~ca ou prrncrpalmente de urn ou de alguns daqueles elementos, sem reflectrrem que hP casos em que se contemplam todos aqueles quatro elementos, e que noutros casos esses elementqs a que eles atendem nada Influem no valor das coisas e s6 se contemplam os outros

92 Tal 6 o krro dos que mofam dos antrgos porque enslnavam que a terra, o ar, a hgua e o fog0 eram os quatm prmcip~os de todas as dlversas substhcras. 0 s que asslm crltlcam aqueles fi16sofos rgnoram, ou fingem rgnorar, que eles entendlam por aquelas expressdes n2o as substhc~as canhecrdas por aqueles nomes, mas os quatro estados de d l ~ d o , de liqurdo, de vapor ou g9s e de cal6rrco. consrderado este dltimo tambem como certo estado dos corpos, e niio como u r n substincla sui gem& V Letra M - Notas 2 Ideologia

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155. H5 paralogismo por falsa supost~do, quando se supde que o adverilrio toma certas expressdes em sentido diverso do que ela na verdade lhes atnbui 93.

156 E an5logo ao sofisma mencionado no artigo antecedente o que se cometp todas as vezes que se funda o raclocinio em alguma falsa defimg2o %.

157. H% circulo uicioso todas as vezes que, depois de ter definido certas expreSsdes por via de certas outras, se definem estas por aquelas 95

158. Anllogo a este sofisma i. o que se comete por peti~do deprinc@io, todas 0s vezes que se d5 como prova ou explicag20 da tese controvertida essa nlesma tese, quer ela seja expressa nos mesmos, quer em outros termos, para auja explicagPo sena precis0 recorrer P tese contestada 96

159. Diz-se haver sofisma por falsa causa, quando se dA por causa ou raz2o ide algum facto o que n9o i. causa nem raz9o dele 97

160. 0 sofisma por equivoco tem lugar todas as vezes que, tomando uma &press50 no seu sentldo prhprio, afirrnamos dela o que s6 i. verdade no sebtido figurado ou vice-versa 98.

93 qrsseram alguns fil6sofos quesdo ackx drtumos unicamente os quesao tireis eque todos m

s6 equivoca, mas se torna frequentemente em mau sent~do, aprove/taram-se drsso alguns modernos para atacarern aqueles esmtores, supondo que eles tlnham

preten ido combater a lrberdade do homem Todos eles fundam-se na falsa definr~Po que se COstu# dn de liberdade, a saber opoderde obrarou d o o h r , segundo a nossa mntade E@& define se vonrade opoder de derenninur-se algumu a c ~ i o por monvo de algum bem

Donde aqueles Rlbofos concluirarn que a lrberdade 6 a faculdade de nos determinannos, nu presenGa de uhrlos bem, por aquek que nos agrada muis Logo, dizem eles, sendo urn s6 esse que nos determinu, nu-o ha o p ~ i o e, logo, na'o ha lzberdade

Toda a d1scuss20 cessa do momento em que se admitir a defin~cao que havemos dado de I~berchde no 570 da Ontologla, porquanto e um facto, atestado pela experrenc~a de cada urn, que na presenp de vanos motivos, ora obramos por um, ora poroutros, sem se poder ass~nalar objeao algurn externo que seja causa destas nossas determrna~fxs (Ontologla, 5 68)

' 5 Crtaremos como exemplo deste erro o que cometeram os autores do Cod~go Penal da Fran~a quando definlram as tres sortes de mfracgfxs, contrauen~do, delrto e cnrne, pela especre de penas corn que a ler pune cada uma delas Depols, se se val examlnar a raz2o porque se punem as mfracyfxs da pnmelra sorte com ta~s e tars penas, as de segunda sorte corn ta~s outras e as da tercerra sorte j i com outras, respondendo os jurrsconsultos que 6 porque as prlmerras s2o simples contravencdes, as sewndas d o delrtos e as Gltrmas S20 crlmes - . -

% Neste e m cairam os antlgos que presurmarn explrcar os fen6menos da atrac~20 drzendo que

rnernbros paralrsados, quando a verdade~ra causa deve ter obrado sobre aquela parte do cerebro donde depende a mobdrdade, asslrn daquelas como de quaisquer outras partes do nosso corpo

98Ne~te sofisma caiu o brdhante autor do G h w do Crlstlanismo, quando se prop& mostrar que os mf.?+iosdesta reltgkiodevram ser acredrtados, por lsso q w se acreditam os rn~stenos da natureza

@os nPo duv~dam adm~tlr os m~stkrtos d'Elacsis "3 IS poeta de que fil6sof0, confundru, como se fossem expressdes de rdentrco valor, estas da palavra mistao, absolutamente dlstrntas urna da outrd V Letra Q - Notas P

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161. ~?iL;se que uma bxpress20 tomada no sentidojZgurado, e &-se- -1he o nomq de figura ou de tropo, todas as vezes que por ela designamos, nPo j5 o oblecto que ela ordinariamente denota (pois isso seria toms-la no sentido pro'4rio), mas alguma das suas quahdades sobre que nos cumpre furar parbcularmente a aten~2o dos que nos ouvem 99.

162. As causas dos erros (cuja investiga~20 faz objecto da Arte Critica) reduzem-se ordinanamente 2s quatro seguintes, a saber: falsa sensacgo, precipita@oj preven~Po e pamiio.

163 0 s erros por falsa sensa@o t8m lugar todas as vezes que, por defeito habitual ou 'acidental de algum dos nossos 6rgQos da sensibilidade, os objectos excitam em n6s urna sensaCPo diversa da que teriam excitado, se aqueles 6rgd,os estivessem no seu estado normal loo.

164. A p&cipitap3o induz dlferentemente em erro, segundo aquele dos dois merodos (analiricos ou sinrCt~cos) que se houver empregado.

165. HP p~eciplta~Po nas opera~6es analiticas em t&s os seguintes casos: 1.O Q u a d o ao discorrer pelas partes componentes do objecto que

exarninamosj pouco ou nada atendemos a muitas delas lo';

2 O ~ u a n d o , no exame das rela@es que nos importa conhecer os objectos entre si, nos~lim~tamos somente a algumas lo2;

3.O Quanklo, na resenha dos caracteres que nos devem servir para classificar oslobjectos, nPo levamos em conta sen20 uma parte dos que se oferecem 2 nossa observa~2o 1°3;

4 Quando, em pontos de teoria, uramos uma conclus2o geral, sem derado todos os casos particulares de que depende a sua

99 Por exemhlo, querendo lndlcar que um homem t dotado de uma nobre coragem, dlzemos que t um lePo ,V Letra R - Notas 2 Ideologia

IW Tals s90 as 1lus6es provenlentes do estado de delino, os enganos dos miopes e as que provem de um principio de surdez.

lo' Este erm cometeram os fislcos que, tratando das propriedades da atmosfera, a consideraram c4mo um fluido unlfome, quando devenam ter reflectido que ela n8o d consta habitualmente &s dols gases, oxlgtnio e azoto, mas de vPnos outros, em quantidades varaveis, e sempre de u b porc8o de Qua, ora no estado de gPs, ora no de vapor, variando assim continuamente o seu estado, tanto pelo q ~ e respelta ao colondo como A electricldade

Io2 Asslrn, andaram prec~pitados os fislcos que, em suas teonas sobre a cristalizafio, a consideraram unlcamente como efe~to resultante da dlmlnu1~80 de calor, sern atenderem A grande parte q e a electrlcldade tern na produ~8o deste fen6meno

'03 Neste e laboram todos os sistemas arttficla~s da H1st6ria Natural, que classificam os 40

objeaos relatlvamente a um certo nGmero de propnedades, presclndlndo de muitas outras, alds de grande lmponinc~a Daqu~ resulta acharem-se reun~dos na mesma classe e, as vezes, ate no mesmo gtnero, produtos os mals drsparatados, como, por exemplo, no slstema de L~neu, o homem, a balela e a coruja Todos os outros ststemas artificiars oferecem ~guais aberracks.

lM TarnEm deste e m buscaremos urn exemplo no slstema de Lineu, que afirma pertencerem i classe dos mamais todos os quadnipedes, posto que semelhante cadcter se n8o ver~fica no cavalo.

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166. Dos erros A or prec~pitagiio, quando se faz uso do metodo smtetico, jP haGemos feito men~50, pols que todos eles consistem em tirarmos das premissas conclusdes mais gerals ou mals restritas do que cumpria

1@ A preuen~do, segunda causa dos nossos erros, pode ser de tri?s sortes, a saber: 1 relatlva ao assunto de que se trata; 2 O relativa a n6s mesmos e 3 . O rdativa a tercelro

168. A prevengiio relatlva ao assunto de que se trata e 2 qua1 se tem dado ;os nomes de opintdo antecapada, de preconceito, de preocupa@2o ou de pejuizo, tem lugar todas as vezes que, por falta de tempo ou de pnncipios, have4os formado um juizo falso que depo~s tomamos como base de nossos racio inios lo5.

I&. A prwen~rio relatiua a n6s m e s m pode ser de duas sortes, porque, ou n b nos presumlmos dotados de malor cornpreens50 e sagac~dade do que da verdade somos lo6, ou, pel0 contr4n0, fazemos de n6s mesmos um conc$ito demas~adamente acanhado lo'

Ifp. Por estes mesmos dols modos pode ter lugar a preven~iio a respeito de tetceiro, com a d~ferenga porem que a nosso pr6prio respelto s6 nos pode@os lludir quanto 5s faculdades ~ntelectuais, enrretanro, a respelto de terce~tos tambem nos podemos enganar quanto 2s suas qual~dades morais, atribdindo-lhes virtudes ou vic~os que na realidade nHo t@m lo8

17 . As paix&s, consideradas como causas de erros, operam no nosso espiri o, fazendo que fixemos a atensgo s o b e os objectos que nos siio f

lo' Debarno desta rubrica, entram as persegur~iKs que em todos os tempos e em todas as na~6esl se tern ferto As mals sublimes concep~ks de rado humana, nPo d por motrvo de rnveja i u de crbme, mas por aferro i s erradas doutrtnas que se hav~am apoderado mesmo dos home@ mals drstlntos em todas as classes

lo6:Todos 0s dras homens ti0 cheros de presun~io, quanto vazios de ckncia, esao publ~cindo corn ~rnperturbiivel audacia teorias e tratados em assuntos sobre que nunca fizeram

0 alto concerto que t2m concebrdo de seus talentos faz-lhes crer que um ( golpe de vista lhes basta para compreenderem qualquer objecto, tAo bem ou melhor

outra pessoa em murtos anos de estudo 0 s stntomas caracteristrcos deste defe~to sHo uma habttual credulidade ou uma

rncredulidade s~stedttca. As mars das vezes, aquela intima c o n v i c ~ ~ o da pr6prm mcapacrdade cond4z os homens a uma e s ~ p l d a adm~raciio da supertondade de outros homens e. por consqguinte, a uma habitual drsposr~Po para acred~tarem quanto por eles lhes 6 afirmado, arndq mesmo quando suas assercbes repugnam i s mals evldentes verdades fundadas na raz2o corndm e na expenencra un~versal Tal i o caso das grandes massas em todas as na@es, e tal a ra+o do triunfo dos tnumedvers impostores que, em todos os seculos, tern abusado e, d~anamente, abusam da credulidade dos povos Esta credulrdade, porem, n2o 6 part~cular As massas rnenos rlustradas das n a ~ k s Mesmo entre as pessoas que, destrtuidas de s6lrdos conheclmentos, presumem de seus talentos mals do que eles valem, 6 frequente afectarem

credul~dade habitual. entretanto que a cada passo acred~tarn os matores absurdos, quando eles ""!' manam de pessoas a quem, por efe~to da sua tgno&xia, elas prestam uma t20 gratutta quan o ~nconsequente homenagem

la Cada d ~ a vemos os efettos desta sorte de esttlplda preve@o nos sectinos que cegamente se al$andonam Ps extravag2ncias e aos caprlchos dos chefes da escola ou do partido, a que, sem beflexiio, se acham afil~ados

$50 6 menos deplorivel a obstrna@o corn que outroa repelem as verdades man palp5vers, uma vez que elas lhes v@m de pessoas contra quem se acham mjustamente preven~dos

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agraaveis F afartandoa de\cpanto nos 6 desagradavel Daqui resulta cairrnos em precipi$cQo, deixando de fazer entrar em linha de conta muitas ideias essenciais, bu admitindo muitas considera@es estranhas e talvez contra- ditOrias 1 eIp6cie em questiio.

172 0 s beios pelos quais podemos chegar a conhecer e a rectificar os nossos erroF, e aos quais se di o nome de cn'tt%o da verdade, sQo tilo diversos qutntas siio as causas dos mesmos erros

173. No9 erros que provem do defeito dos nossos sentidos, uOs s30 os modos por hue os poderemos rectificar:

1.' Tent*, se for possivel, por meio de outros sentidos que n3o sejam suspeitos d& lesQo, experiencias que rectifiquem as que receamos selam enganosas I?,

2 NQo k n d o possivel recorrer a outros sentidos, variar o mod0 e as circunst5ncihs das primeiras experiencias naquela parte em que os defeitos dos nossos entidos poderem ter exercido maior influEncia "O,

3.' Quan o nenhum dos precedentes recursos seja praticavel, repetinnos as primeiras 'P expen@ncias um suficiente ndmero de vezes, para obtermos a probabilida+ de nQo ter havido engano.

174. QuaJndo receamos ser iludidos pelos nossos pr6prios preconceitos ou opini6es ~ntecipadm, o critkrio da verdade consiste em debatermos, quer connosco n-/esmos, quer com pessoas doutas e desinreressadas, aquelas opinides, c& relacno ao assunto de que se trata.

175. Se c) receio do erro provkm da influEnc~a que sobre n6s pode ter exercldo a lhma paixgo, tres meios se oferecem de rectlficarmos as nossas ideias: o p{imeiro consiste em instaurar as primeiras experiOncias ou avengua~dek nos ~ntervalos que todas, ou quase todas as paixdes costurnam deixar entrej os seus diversos paroxismos o segundo consiste em debelar a paixiio de bue nos receamos, procurando substitui-la por outra que nQo tenha os mksmos inconvenientes e para a qua1 sentimos em n6s mesmos uma propel/lsQo que facilite aquela transic;Po, o terceiro, de que ja aclma fizemos mebcQo, reduz-se a recorrer a autoridade de pessoas cujas luzes e probidades nos afiancem a exactid30 de seus pareceres, quer estes sejam favodveis, quer sejam contranos ao nosso pr6pno parecer.

176. Qmnto ao perigo de sermos induzidos em erro, justamente por essas pessaas em favor de quem nos achamos prevenidos, tambem pelos dois referidos meios nos poderemos precaver contra toda a sedu~Po, a saber: recorrendo P autoridade de terceiro, ou instituindo n6s mesmos um s&o exame dos motivos que nos podem ter induzido a atribuir-lhes tamanha importiincia.

Ice Ass~rn, poderemos, por via do taao, rect~ficar os erros da vlsta quando, por exemplo, um pau mergulhado na igua nos parece quebrado, ou figuras pintadas, segundo as re- & perspectiva, nos parecem esculpidas em relevo

'lo Pot e~emplo: Se uma figura p~ntada parece-nos esculplda em relevo, facllmcnte reconhecerenios o nosso engano. observando-a debauro de ourns pontos de vista.

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acontecidp, e dos autores que a esse respelto guardam absoluto silCncio, se reconhech que eles tinham poderosos motlvos para o referirem ou mesmo que n8o havia nenhum para o passarem em silCncio

186. +ntudo, i. mister que concorram todas estas circunstiincias para que semejhantes argumentos fundados no simples silCncio, e a que se d5 o nome de pegativos, se devam reputar valiosos.

187 AhQlogo a estes argumentos negativos e, por consequCncia, pouco seguro nai sua aplicaq40, sena o que se quisesse deduzir de se encontrar na passagemi em questPo frases ou expressdes de que se nPo descobrern vestigios 4m nenhum outro lugar das obras do mesmo autor.

188. @s se, em vez dlsso, se encontrarem ai frases, expressdes ou nomes pr6prios 8e pessoas ou de lugares, ou enfim mengPo de factos, que de certo congta serem de urna data mu1 posterior ao skculo em que viveu o autor que ifaz object0 da investiga~Ho. nenhuma dcivida pode haver de que a passagein ou i. ap6cr1fa ou se acha adulterada.

189 Quando o escrltor refere factos, de que confessa ou pelas cir- cunstQncids se conhece niio ter ele s ~ d o testemunha, cumpre distlnguir o caso em c(ue ele cita as pessoas de quem os houve daquele em que omite esta declahcPo.

190 Nq prlmelro destes casos, pode acontecer ou que aquelas pessoas sejam, aliqs, desconhec~das ou que n6s possamos avaliar a sua autoridade pelas obra~ que delas nos restam ou pelo que delas referem outros escritores.

191 @logo ao testemunho de pessoas determadas, mas desconhecidas, isto k, cujlf autoridade nos nHo e possivel avahar, C o argument0 tirado da tradicPo okal, em que, frequentemente, se fundam os historiadores.

192 Nb prlmelro caso, do autor cltar o testemunho de deterrninadas pessoas, a, credibilldade dos factos assenta toda sobre o peso que no nosso Qnimo deuem fazer as qual~dades intelectua~s e morals dessas testemunhas, salva a considera~Po que nos merecer a abonag%o que o mesmo autor lhes houver prestado.

193 Sq o autor se refere a urna tradi~iio oral, duas condicdes siio precisas para que ista se possa admtir como urna razQo de credibilidade: a prime~ra i. que esta tradi~30 oral seja atestada por urna tradi~Ho escrita e fidedigna, at6 se chkgar ao testemunho oral das testemunhas de vista; a segunda condigPo que os factos por estas atestados se achem dentro dos llrnites da sua compfeensiio, que elas sejam pessoas d~gnas de cri.dlto pel0 lado da sua mora{idade e desinteresse e que as suas asser~6es nPo tenham sido contraditds ou, se o foram, se possam convencer de falsidade os seus contraditdres

194 Mas se o autor refere os factos sem citar as pessoas de quem os houve, nem mesmo alegar com o testemunho de urna tradicPo oral, todos os motivds de credibilidade residem na pessoa do mesmo escntor.

195. Para avaliarmos pois a sua autoridade, recorreremos ao testemunho de outros escritores que a seu respeito houveram emitido urna opiniPo fundada ern conhecimento de causa, ou procuraremos formar conceit0 dele pelo conrexto rnesmo dos seus escritos

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1 196. Qualquer que seja o credit0 de que um autor tenha gozado, se o

e me de seus escritos nos convence de que h e faltaram as luzes necessarias pa a julgar da veracidade do factos ou que nPo era dotado da moralidade pr cisa para os n30 adulterar, deveremos concluir que os escritores que o a !! nam foram iludidos ou, porventura, cdmplices de seus designios, ou que o escrito que temos diante dos olhos hii sido forjado por algum impostor que ousou cobrir-se com o respeit5vel da pessoa a quem o livro se atribui.

197. Cumpre, porCm, advertir que a obscuridade dos escritos 6 muitas veies aparente e mesmo estudada por terem querido seus autores esconder debaixo de certos simbolos, pariibolas, expressdes metafdricas, fic~bes ou alusks, a narraclo de factos ou ensino de doutrinas que por motivos de prudCncia nHo convinha expender em temos claros. Vide Letra S de Notas P Ideologia.

198. Se o escritor, cuja autoridade se pretende avaliar, tinha interesse em escurecer ou em adulterar a verdade dos factos, o seu testemunho, quando nio e apoiado pel0 depoimento de testemunhas imparciais, pouco ou nenhum credit0 merece.

199. Se, porCm, ele era interessado em fazer conhecer a verdade, nHo s6 oseu testemunho serii de grande peso, mas ate o seu silencio, apesar de ser um argument0 puramente negativo, deve ser tido como uma prova de que o facto por ele omitido, e que ali5s consta que ele niio podia ignorar, i. imagidrio.

200. Depois da veracidade dos escritores, cumpre ao critic0 verificar a a~toridade dos documentos trazidos em apoio das suas assercbes; e quatro s$o as diversas sortes em que eles se compreendem, a saber: manuscritos, dedalhas, inscrigks e monumentos.

201. A arte que trata do estudo destes diversos documentos tem-se dado o nome de diplomatica.

202. 0 s caracteres que podem fazer a favor ou contra a autenticidade dos documentos distinguem-se em internos e extemos.

203. Dizem-se caracteres intemos aqueles que derivam tanto da parte material dos mesmos documentos como do seu pr6prio contexto.

204. Charnam-se caracteres extemos aqueles que derivam da comparacPo das assercbes neles contidas com o que, alib, consta de outros documentos ou de escritores cuja veracidade se nHo pode contestar.

205. Constituem a parte material dos documentos, a natureza e o estado cia substincia do manuscrito ou do irnpresso, a pedra, metal ou composiqQo da medalha ou inscri~Po; a ortografia do que neles se acha escrito, e a parte tnecinica ou artistica da execug%o dos mesmos documentos.

206. SHo pois caracteres de falsidade um papiro, papel ou pergarninho dos manuscritos ou impressos que pertencem a uma Cpoca diversa daquela em que eles se supckm exarados, ou se acham em estado incompativel $om as circunstiincias em que se pretende que eles foram estabelecidos ou depositados.

207. Tambem da natureza das pedras, substilncias metiilicas ou tCrreas qe que as medalhas ou os monumentos s5o compostos e do estilo da sua

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contec~20 podcm-se tirhr argumentos de falsidade, se eles se nPo compadece m com o que alias consta a esse respeito, tocante Qs epocas a que se diz ue eles pertencem.

208. A p r destas considera~des artisticas deve figurar o exame do feitio das letras e ortografia das legendas e inscri~ks, cujas diferencas, segundo os diferente 1 gculos, se acham mui circunstanciadamente descritas nos livros de diplomht/ica.

NO uso otdinario, estas duas palavras tomam-se indiferentemente uma pela outra, mas quando se quer intimar que alguem e superior na faculdade de pensar, prefere-

Compara do esta defmi~Po da palavra reJlexdo com a que havemos dado de ateqdo (1 2 1 ) notar-se-9 que ambas aquelas expressdes designam uma ac@o da alma sobre o/i 6rg5os da sensibilidade, corn o fim de prolongar neles o estado pldprio a entreter nal mesma alma as correspondentes ideias. H i , porCm, entre a a t m d o e a rejkxcio es a diferen~a: que a primeira denota estender-se ate aos 6rgPos e e m o s a agPo da f Ima; entretanto, na reflex50 ela se limita aos 6rgBos internos.

No exedplo citado dos poetas presume-se, e muitas vezes se verifica, que no mesmo modento em que a mem6ria lhes subministra as expres&s, a fantasia lhes representa o/s objectos t8o vivamente, como se estivessem presentes. Nos artistas, porem, nPo a recordaqPo dos nomes, mas dos pr6prim objectos, que os leva a reproduzirerp ji os sons, j i as forrnas, j i as cores, segundo a especialidade da respectiva a+e.

A percedqito C pouco usada mesmo entre os fil6sofos, mas todos, a comear de Arist6teles, a ontam este estado da alma diiendo que ele consiste em sentir que sate. Alguns Ihe Cr Po o nome de intima consci&cia ou somente consciencia.

Enquant$ n6s consideramos, simplesmente, urna a@ outra, as figuras urn quadro, nio'se diz que as comparamos, mas somente quando examinamos a *a@ em que elas e a o entre si. E pois no estudo das relaqies dos objectos que c W i a cornpara$ . b

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D, Q 60 (nota)

nda que s2o dlversos os verbos das d~ferentes propos~gbes, todas elas podem- -se c nverter em outras onde figure o v e r b ser Exemplo Pedro a m a virtude % conv$rte-se nesta: Pedm 6 amante da virtude Do m e m o modo Paulo vive no campo equldale a dizer-se. Patrlo 8 habrtante do campo

fi/erro multo comum o supor-se que basta ser sempre verdade o que se afirma de urn objecto para se poder tomar essa frase como defmlg20 d o objecto.

J1 prevenlmos este erro na IntrodugPo, $5 21 e segulntes e nota respectwa Agora acresrentaremos que, para uma definlg80 ser boa, 6 mlster que seja util, e C dtll somente quando por melo dela se pode deduz~r o malor ndmero possivel das outras qualridades do objecto n9o menc~onadas na defml@o Por exemplo Definem alguns ge6metras as Nnhasparalelus, dzendo serem aquelas que, por mars que seproduzam, ndo pdrn concorrer

Esta definiggo j i C defe~tuosa, porque ninguem ouvtndo aquela expressPo se lembra do que n2o pode ser, mas sim do que C, e o que e, o que todos vPo ver~ficar quarhdo querem certificar-se se duas llnhas s l o paralelas, C se a sua drstdncza @ a mestna em qualquerponto

Mas, alCm daquele defe~to, tem a definlgao vulgar o lnconven~ente de nao ser btll, iporque C impossivel, por meio dela, demonstrar as outras propr~edades das paralelas Adoptando-se, porem, a d e f i n l ~ l o que de~xamos menclonada das equ~d~stiinc~as, & f9c1l demonstrar todas as refendas propnedades, sem se recorrer ao ~nsulso exped~ente dos pretend~dos axlomas que nada menos sPo d o que axiomas Vejakn-se as nossas No~&s Elementares de Matemattca

0 s matemit~cos, sobretudo d e p o ~ s da lntrodug20 da Algebra< assentam suas derr/onstraGdes n lo so sobre definlgdes, mas sobre o que eles chamam axiomas, que sPo certas assergks cuja verdade eles su@m evidentes, mas que na realidade o s l o multo menos do que outras proposigdes que eles se julgam, corn raZii0, obr~gados a denlonstrar. Ta~s sPo, por exempio, os axlomas sobre que assenta a teorla das paralelas

Mais escandalosa porCm C amda a a rb~ td r~a sCrie de suposiq3es conhectda debaixo do nome de teorla dos slnais (+ e -1, segundo a qua1 se atribuem a cada uma destas expkessbes 7 e 8 valores, como se se houvesse demonstrado que todos eles s2o iguals entre SI, entretanto que nem tal se demonstrou jamals, nem era possivel demonstr9-lo, poi! que, pel0 contrario, c9lculos feitos conforme aquelas suposlgdes conduzem a respltados absurdos Veja-se o nosso Essalsurlapsychologie, p 66

0 ilustre Condillac trata de falsa a doutrlna que admite as definigdes como um do$ pnnciplos dos nossos conhecimentos Mas todo o seu argument0 se funda em

equivocos, a saber uma errada n q l o do que se c h a m conheclmentos; e outra, menos e h n e a , d o que se entende por principio de conhecrmentos

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t I

Condilla devera ter retlect~do que por conbecimentm nPo se entende somente aqueles que dquuimos pela experienc~a, mediante o uso dos sentidos, mas tamMm as conclusdt+ a que chegamos por via dos nossos raciocin~os.

Desta se@nda esp6cie de conheclmentos 6 que se diz que denvam das defini@esl pois que, cojno ele mesmo ensina na sua excelente 16gica e na Arte de Raciocinat; o raciociruo $50 consiste senio na substrtu~@o das defini@es no lugar das expressdes escuras

Se pois conclusdes, que antes se ignoravam, s2o novos conhecimentos que se adquirem, e estas conclus6es denvam das premlssas em principios, e se prernissas nada mals s 1 o do que definicks, segue-se que estas definiq6es s3o os principios daqueles cofihecimentos.

Admira ue Condlllac, dando tanta unportsncia ao metodo analitico, ao pontc de conslder -lo como o b i c o canal para a aquisiq30 dos nossos conhec~mentos, c restringisse nicamente P prlmelra das quatro especies de anilise de que nestc padgrafo h I vemos felt0 menqio

Mas o qbe e alnda mais para admlrar 6 a falsa idela que ele nos da do m6todc slntetico '

A r a z ~ o be Condlllac cair nestes dols erros foi ele defmlr aqueles metodos pela etimolog~a das palavras andlise e sintese Corno a prlmelra slgnifica em gregc decmposiq~o e a segunda, c o m ~ d o , conclui que tlnha dado cabal ideia do metodc analitlco d~+ndo que ele se verifica quando exarnlnamos, uma ap6s outra. as pane! de um tod ' e que o metodo sintktico consiste em compor ou reunlr as partes dc todo prece a' entemente anal~sado

Mas qu colsa e recompor as panes de um quadro ou de um jardlm, que primein: consideram, 1 s em detalhe' E, dlz o mesmo Cond~llac, v6-10s todos de urn dpidc golpe de v$ta, quando, antes da anilise, nos era preclso um tempo consider5vel.

Como dorem esse ripido golpe de vlsta nada mais 6 do que uma ankllse feie em menos /tempo do que a pnmelra, segulr-se-la que o metodo sintktlco n3o 4 propr~ame+e senPo o mesmo mktodo analit~co Conclusi%o evldentemente falsa, poi: que todos gabem que, valha esta express30 o que valer, de certo nPo s~gnlfica umi anslise ma$ riplda.

Se ~ o n p l l a c , ao ~nves de calr no err0 vulgar de definu as palavras pela su; etimolog~a,lexam~nasse nos escritos dos fil6sofos os casos em que eles se servea daquelas d as expressks, teria reconhecido que elas d o empregadas no sentidc que n6s h P vemos expend~do nestes §§ 117 e 118

Alguns Ifil6sofos tSm d ~ t o que o &todo analit~co 6 pr6prio para se aprender, f

o sintktico, para se ensinar Este modo de falar equivoco e dai denva em parte c e m de Cohdlllac, mencionado na nota precedente 0 que aqueles fil6sofos devenan ter d ~ t o 6 que na ordem seguida pel0 espirito humano na aquisiqlo dos conhecunento: era for~osd comecar pela anilise, mas que, uma vez deduz~dos, por melo desta, o: principios gerals, o ensino das ciencias se torna mals ficil e mals pronto, fazendc a d m ~ t ~ r aog ouvlntes, como defm1~6es ou como lernas, aqueles pnncip~os gerais (

deduzindo delas as conclusdes particulares que neles se cont2m (§ 109).

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I, g 130 (nota)

Isto n9o quer d~zer que s6 h i llberdade quando ha op@o entre o hem e o mal, mas qyando hi% o p ~ i o enire varies motlvos, por lsso e que asslm havemos defin~do a pala ra liberdade (Ontologla, $ 70) As definlcdes pols que se encontram na gener 4" lidade dos fd6sofos n8o sb s8o falsas, mas &o causas de multos haverem conclubdo que n20 h i nenhum ente Imre. A nossa defin1~90 afirma, unlcamente, um facto atestado pelo intirno senso de cada um, logo, 6 verdadelra e, logo, nos somos entes 1 vres f Da Idef~nlgPo adoptada por alguns fil6sofos que a llberdade conslste em se poder escolh4r entre o bem e o mal, segulr-se-la que Deus n2o 6 llvre Da nossa definig80, ao coatrino, segue-se que 6 tanto mas, quanto s20 lnfinltos os planos, entre os quals 4 Dlvlndade escolheu aquele, segundo o qua1 o mundo f o ~ criado

S' rates, segundo vemos, tanto em Platfo como em Xenofonte, empregava vines meios "$ ara obr~gar os seus adversar~os a concordarem nas definlgdes, sobre que era mister jque aumentassem os raclocinlos que os podiam conduzir ao descobrlmento da vedade

U+as vezes, pedla-lhes a definiciio da palavra, cuja falta de lntellgCnc~a constltuia o ver ade~ro ponto da quest20

0 tras vezes, era ele quem tomava a mlciatlva, apresentando-lhes a definielo que e reputava ser exacta

M como estes dois mCtodos pressup6em no adversario inteligencla e boa fCs outro 1 evia ser o seu metodo, quando ele sabla ou receava que ao seu adversirio faltas alguma destas duas condlc6es

E tal caso pois comecava !%crates por apresentar um certo nlimero de frases 4 em q u ~ entrava a palavra que ele queria definlr, e fazia notar ao adversiirio o sentido que a palavra tlnha naquelas frases E como elas eram escolhidas de modo que fosse f 1 cd perceber que o sentldo da palavra era o mesmo em todas, ficil era deduzlr a defqigao geral, como na Introdu~iio a este curso (§ 29) havemos enslnado

Qkndo , porCm, Socrates tlnha raz9o de suspeltar que o adversiirlo n9o era de boa ft. e que, pelo recelo de se ver colhido, fana d~ficuldade em admitu as conclus6es que ele fosse tlrando das d~ferentes frases especials, recorna a um estratagema digno da sua extraordlniria sagac~dade. Em vez de propor ao seu adversir~o frases em que evtrasse a palavra que se queria defrnlr, propunha-lhas em que entrasse a exprespo contrir~a. 0 adversino, n9o vendo na frase a palavra sobre que versava a contknda, convlnha sem d~ficuldade na defin1~90 que S6crates dava daquela expres$90, e logo depo~s de analtsado um certo nlimero de frases, ele o obrigava a convlr ina definlg20 geral EntAo passava naturalmente para a palavra contenciosa, toman90 em sentido Inverso todas as conclus6es concedidas pelo adverdno, e, portan o, era este obrlgado a admitir a definic90, em que, sem este estratagema, t: jamats (ele houvera concordado.

N241 se pode assaz recomendar P mocidade estudiosa a llc9o das obras dos d o ~ s discip$os de %crates, acima cltados, como as lin~cas fontes onde se pode aprender a prit~ba de uma verdadelra d~alCctlca Entre os modemos, apenas conhecemos um d1510gd, de Berkley int~tulado me Minute Philosophers, que se aproxlma do metodo

0. E lastlma que aquele raro engenho n2o se empregasse em assuntos mals de urn verdade~ro fil6sofo

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De pro osito, escolhemos para exemplo a teoria dos ic~dos. porque ela nos oferece oc iilo de fazermos sobre a nomenclatura das ciCncias uma observg20, que nos pa ce de alguma ~mporti?ncta, e vem a ser que, i medlda que as c~Cncias v2o fazend progressos, um ndmero mats ou menos considerivel de expressdes, que antes e m acertadas e tinham uma util apllca~iio, no estado atrasado da ciCncia, tornam-se e 1 uivocas, ou mesmo, ficam sem sent~do, logo que novos descobnmentos destroem a hip6tese sobre que assenrava a sua antiga signBca~20 E, portanto, 6 forcoso bani-las da nomenclatura.

Assrm, enquanto na mnfinc~a da Qu'mica moderna as bases combmadas corn o oxlg6nlo em certo grau tlnham propriedades que lhes eram comuns e que se n3o achavam em nenhuma outra substincia, a palavra actdo podia muito bem des~gnar esta classe d e substincias Mas, depois que, pelos progressos da Quimica, se descobrlraa outras substinc~as sem que se verifique parte das propriedades das prlmeiras e parte n20, j i C lmpossivel aos qu'mlcos darem uma defmi~iio da palawa acido E, por consegumte, niio C licito conservar na clCncia uma palavra que ela n8o sabe definlr,

Excluid a palavra ucido, fica sem slgnificac90 a palavra sal, pols que dtzendo os quimlco que sal e o produto da combina~50 de urn Acid0 com uma base, e, como acab os de ver, a palavra actdo niio slgnifica nada em Quimica, segue-se F que 6 nula aquela defini~iio de sal, e , portanto, nulo o valor desta express20

0 mesmo dizemos da palavra metal, pols tamwm aos quimicos C impossivel, no actual estado de progresso, dar desta palavra uma definiciio que convenha a todas as suf)stincias a que vulgarmente se d i o nome de metal

De pass*em, reflectuemos sobre a 1ncongruCncla com que os quirmcos modernos dlvidlram todos os corpos nas duas classes de metals e m&l6tdes, dois nomes muito ma1 escolhidbs. 0 prlmeuo porque C lndefinivel, como acabamos.de ver: e o segundo porque lndtta o contrario do que seus autores pretendem que ele slgnifique. Com efeito, todos 10s derlvados em oide slgnrfrcam que as subsdncias, a que eles se aphcam, siIo semelhantes Pquelas a que se refere a palavra radsal, por exemplo esfera, esferbide, ellpse, ellps61de, concha, concho~de, etc Don& se segue que metal6tde deve slgn~fidar que as substinc~as a que este nome se aplica, s2o semelhantes aos

esta palavra para designarem

Niio 6 eaa uma arbitriiria lnterpreta~Po que nos damos i s doutrlnas dos antlgm E Anst6teles mesmo que, no primelro llvro da sua Metafsica, o diz asslm muito expllcltamedte Por onde nos n2o podemos assaz maravilhar da generalldade do err0 em que o mundo tem vlvido a este respelto

Vejam-se as obras de LaRochefoucauld, de HelvCc~o, de Holbach e de Bentham Posto que n6s nPo aprovemos multas das doutrinas destes escritores, niio podemos deixar de fazer-lhes a justlea de reconhecer, que niio so n2o ensinaram que o ittil do torpe egoism0 pudesse jamais ser o move1 das nossas ac&s licitas, mas em muitos

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lugares de seus escrltos recomendam entenda-se que se falam daquele dtil que comprdende todas as pessoas interessadas, o que se reduz ao prlnciplo d o justo 0 maldr bem possivel de todos, em geral, e de cada um, em particular

Nlo C nossa mente reprovar aquela divisio adoptada pelo CMlgo Frances, antes n6s a cbnsideramos como uma Importante base de todo C6digo Crimnal. 0 que censurahos, somente, 6 o circulo vicloso em que cairam os autores do dito c6dig0, quando se tratava de definir aquelas expressdes. Veja-se n o nosso Manual do Ciahdam, artlgos 38, 5 4, e seguintes, o como procuramos suprir esta falta.

Not mos que n io e menos grosseiro o erro dos modernos que, perguntando-se qua1 6 razio porque os corpos caem para a terra, respondem que e pela f o r ~ a de atracG , e cuidam ter dado uma explica~io Se se reflectlr porem na definl@o que demos 4 Ontologia, §§ 55 e 95) das palavras f o r ~ a e atrac~do de um corpo para o outro, *remos que esta express30 quer dlzer Que se tern observado que, em certos casos, aaueles corpos, sem irzterwngio de urn terceitv, ccbegam-se urn para o outro

Se, e s , perguntando eu por que razao A se chegapara B, responde-se-me que. e porque essdo dotados de f o r ~ a deatracpioum para o outro, lsto vale o mesmo que se me resp 3 nder que. a razdo d e b chegam-se umpara o outro B o ter-se obseruado que eles, em semelhantes circunstdncias, se chegarn sempre urn para o outro

E els aqul o que se nos di gravemente como uma expllcag5o do fen6meno da atracc2ol

Chavaubrland devla ter reflectldo que se d i o nome de mlsterlo a todo o facto cujo en Jnclado se acha em algum dos tres segulntes casos 1 O Afirmar factos de que se tem Uma idela geral, mas se ignoram os detalhes; tais s lo os mlstCrtos de Eleusis. 2 . O Expdlmir factos que se compreendem, mas cujas causas e modo de produgio se n lo c o e m , tals s io os mlstkrlos da narureza, 3 O Enunclados, cujas palavras n io & liclto /tomar no sentldo pr6pn0, nem no sentldo figurado e por lsso se dlzem inefa*, incompremfveis, superiores a razdo, mas nio contrhrlos 2 razio, porque,

, serla preclso que se vlsse contradlc20, e para se ver contradl~lo C mister que pa" se '9 ompreenda separadamente cada uma das asser~des contradltonas, tais s i o os venfjrandos MlstCnos do Cr~st~an~smo, cujas expressdes n io podem ser tomadas em se+do pr6pr10, sem se calr nos torpes erros do Pagamsmo, nem no sentido figuradq, sem se calr em alguma das hereslas condenadas pela Igreja, pols todas elas provCm de terem os heresarcas, h o , Montano, Sabelho, Soclno, etc., tomado aquelas express6es no sentldo figurado

Nlq sendo as j3gura.s ou tropos outra colsa mals do que certos sentldos especiais em que se tomam as palavras, e manifesto ser este o lugar d o presente curso em que sehelhante assunto deve ser tratado. Passamos, pols, a dar as definicdes dos tropos Cnumerados pelos retorlcos Resewando-nos tratar deles como melos de diccio, na Gramdtlca Geral e na Estetlca, segundo dlsserem respelto a cada uma daquelas duas partes da Filosofia

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A) 0 s tropos podem tddos ser divididos em duas classes, a saber. a metifora e a metonimia.

B) Hi me I dfora tcdas as vezes que se emprega uma express20 para designar, n2o 15 o objecto que ela costuma denotar, mas alguma das suas partes ou qualidades, que melhor faz sobressair o concelto que intentarnos mamfestar a respeito do m e m o objecto "I.

O Ha rnetcmimza todas as vezes que, em lugar do nome do objecto que querernos designar. emptegamos o de outro objecto que com ele tem uma relac20 tal, que o seu nome excika no 2n1mo do ouvlnte, mals vivamente do que o pr6prio nome do mesmo object^, as ldeias que a respeito dele queremos lndicar

D) A metifora compreende a sinedoque e a antonordsta ~57 H i sinkdoque todas as vezes que, em lugar do nome d o objecto, se emprega

o de algumas @e suas qual~dades ou partes componentes A H i antclnomdsfa todas as vezes que, em lugar do nome genCrico, que seria

o pr6pr10, se dmprega o nome de alguma das esp6cles ou de algum dos individuos compreendidok nesse genero 113

O 0 s ret6hcos tamMm dizem que h i antonomdsia, quando se emprega o nome do genero, em lugar da esp6c1e ou do indlviduo "4

H) Tanto 4 sinCdoque, como P antonomiisia di-se-lhes o nome de hl@rbole, quando o tropo C destlnado a encarecer o oblectlvo de que se trata " 5

4 Pelo contrirlo, di-se-lhes o nome de litote quando o tropo C dest~nado a enfraquecer a ide~a que se trata de apresentar l I 6

K) A met?nimla pode achar-se reun~da P metifora. e isto por d o ~ s modos, a saber: em sidples palavras ou em frases lnteuas No primelro caso, o tropo que resulta daquela un12o chama-se antlfrase e, no segundo, pode ser uma silepse, uma metalepse ou uma alegoria.

L) H i antvrase todas as vezes que, em lugar do nome da qualidade que se quer indicar, se ernprega o da sua oposta

M) A antlfrase distingue-se em eufemlsmo e ironla N) H i eufemismo todas as vezes que o motivo de usar da express20 contrana

Pquela que serla phpna; C querermos poupar aos nossos ouv~ntes alguma lmpress2o desagradivel

0) H i zrqnta quando para abater o objecto ou para escarnecer dele, se Ihe di um nome opbsto ao que Ihe C pr6prlo "'

11' Exemplos A tap, em vez do dnho nela contido - 0 vlzinho, em vez da casa onde ele mora - +tho, em vez do vinho que ele enslnou a fazer - Mortepdlida, em vez de se d~zer que to a gentepdlida - 0 ceptm ou a coma, em vez de monarca

Exemp "P 0s: Em vez de se dizer Frederico II, dizer-se o rel & Rlissia - Em vez de urn bomem bravo; dizer-se urn toum - Em vez de c m wus, dizer-se cem uelas

"3 ~xempbs : Urn Anstarco, em vez de urn cntfco artesoado Um Zo~lo, em vez de um crit~co de m5 f6

caso mostram; o verdadelro sent~do de semelhantes express6es.

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P) 1,Ia s&px tddas as vezes que e m a l g u m frase se acha ao mesmo tempo o sen t id0 l~ r6~no e o sentido figurado 119

"S 1 metalepse todas as vezes que em lugar de uma frase, que seria a mais usual, emprega outra em que a ide~a predomlnante G o e aquela que nos queremos expr~mb, mas outra que, por efeito de alguma alusio, faz nascer no espinto dos ouvmt$ a ~ d e ~ a que n6s temos em vata, de um modo mals enCrg~co ou mais agra- davel liO

R) IfI5aalegofia todas as vezes que, em lugar de discorrer sobre o objecto de que nos prdpbnhamos tratar, dlscorremos sobre outro culas clrcunsdnc~as d i o mals vlgor Ps nosbas obsewa~des , no concelto das pessoas a quem elas se d ~ r ~ g e m 12'

A @iutda sistematica pode provlr do sentmento que o homem tem das suas pr6pn s forcas, ou de uma hab~tual desconfian~a a este mesmo respe~to

N d pnmelro caso, o filosofo n2o adm~te jamals como certo, senio o que Ihe 6 demoristrado, nem concede o seu assenso, senio P med~da do grau de probabll~dade que eqcontra nas provas que estPo ao seu alcance. Este e o dn~co melo de des- cobrirja verdade e de evltar o erro. ao menos quanto a fraqueza humana, 6 lic~to

e s p ~ ! ~ ~ d o , porem, a dbv~da sstem1tlca provem de uma hab~tual desconf~anga, quer eja das nossas propr~as fo r~as , quer seja das dos outros, a lnev~tivel conse 1 uCnc~a de um semelhante desalento e ca~rmos numa vergonhosa ~ndiferenca, a quelse tem dado o nome de cepticismo, ou numa presuncosa lncredul~dade a que os filobofos chamam pmnrsrno 0 c6pt1co nada d~scute, porque em vez de se arrancar a urn1 lnerte preguqa de pensar, prefere cons~derar como ~gualmente verdade~ras ou ~gj,lalmente falsas as doumnas rnals opostas

01 plrr61-11~0, ao contrir~o, toma por empresa mostrar que n io h i mals razio para hdrn~t~r qualquer doutrina ou a que Ihe e mais oposta; e como e impossivel que dmbas selam verdade~ras, conclu~ que ambas s2o ~gualmente falsas

E doutnna vulgar entre os filosofos que a eoi&ncia B o crttkno da verdade; e acre entam que h i tr6s esecles de ev~denc~a, a saber ~ntelectual, fislca e moral.

amam ewf&cia zntelectual aquela que resulta de uma sene de raclocinlos uando os rac~ocin~os, que nos conduz~ram a uma conclusPo ev~dente, partem

de h 4 p6teses arb~trar~as, dl-se P evidenc~a, a que esses rac~ocin~os nos conduziram, o no e de eut&cia rnatemdtica

hamam ewf&cia fuka a que resulta de uma sCrie de observa~6es bem fettas, 4" nos kasos em que a observasio pode ter lugar

'Iy Exemplos As suas palavras d o docs como o me1 - Naquela llha -, d ~ z ~ a um poeta a Lu' XIV, nHo h i sen30 salguetm e v6s n9o estlmals senPo os loims

O Exemplos Rnou-se, em vez de m o m - 0 s mums de Tebas levanraram-se ao som da t lira e Orfeu, em vez de orferu petsuadru os tebanos a leuantarem suas muralhas

' f Exemplo Enquanto a formlga aprovelta o tempo de veAo para fazer o seu celeiro, a clga+ passa os d~as a cantar, chegado o lnverno, a primelra acha no seu retiro agasalho e abun/diinc~a, a segunda perece de fr~o e de mokna.

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Chamam,; &nfi!?, Wf.@?2cia inoral a que resulta d o testemunho de pessoas, cuja veracidade nbs allfis conheclda e demonstrada

Para nos onvencermos de quanto 6 falso o prlnciplo que a evidsncia C o critCrio da verdade, sta1.a reflectir que todos os e m s de boa fC silo hndados em eviancia, 4

n30 fossem, duvidariamos, e, enquanto duvldamos, n9o erramos. d o momento em que adoptou decldidamente uma falsa opinilo.

U, 5 197

Pode citarise, como exemplo, o estudo com que PlatPo encobrlu em suas obras as suas verdabeiras opini&s, pelo recelo de ter a mesma sorte que S6crates, seu mestre. Posto ue medltadas com reflexiio, conhece-se que o seu fim era demonstrar P o panteismo; pom tal arte o soube dlsfarcar que a generalidade dos le~tores, desde a Antipidad+ ate os nossos dias, o consldera, ao contrfirlo, como chefe dos espiritualistas Ate mesmo passa por certo que homens os mais ilustres, como, por exemplo, Catqo, antes de se susidarem, leram mas de uma vez o Fgdun, a fim de

rem da ideia de que a alma C mortal N6s julgamos ter demonstrado notas ao nosso Essai sur lapsychologie, p 210, e geralmente em toda

a nota XXIII.

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