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Revista da Graduação Vol. 5 No. 1 2012 4 Seção: Faculdade de Administração, Contabilidade e Informática - Campus Uruguaiana ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: Desafios e perspectivas Angelita Correa de Oliveira Este trabalho está publicado na Revista da Graduação. ISSN 1983-1374 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/article/view/11398

ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAÇÃO BÁSICA.pdf

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  • Revista da Graduao

    Vol. 5 No. 1 2012 4

    Seo: Faculdade de Administrao, Contabilidade e Informtica - Campus Uruguaiana

    ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAO BSICA: Desafios e perspectivas

    Angelita Correa de Oliveira

    Este trabalho est publicado na Revista da Graduao. ISSN 1983-1374 http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/graduacao/article/view/11398

  • PONTIFCA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL

    CAMPUS URUGUAIANA FACULDADE DE FILOSOFIA, CINCIAS E LETRAS

    CURSO DE PEDAGOGIA

    ANGELITA CORREA DE OLIVEIRA

    ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAO BSICA

    Desafios e perspectivas

    Uruguaiana

    2011

  • ANGELITA CORREA DE OLIVEIRA

    ENSINO RELIGIOSO NA EDUCAO BSICA: Desafios e perspectivas

    Trabalho de Concluso do Curso apresentado como requisito parcial para obteno do grau de Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras, da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul - Campus Uruguaiana,

    Orientadora: Ms. Ligia Maria Mezzomo

    Co-orientadora: Marilda Regina Motta Ptter

    Uruguaiana

    2011

  • AGRADECIMENTOS

    Minha gratido a Deus, a minha famlia, a famlia das Filhas do Amor Divino e

    a todas as pessoas que foram, no decorrer do tempo acadmico, agregando-se e

    fazendo parte da minha histria, em especial as professoras que colaboraram

    generosamente para a realizao deste trabalho. Que o Bom Deus os/as

    recompense com Preciosas Bnos.

  • Ningum nasce odiando outra

    pessoa pela cor de sua pele, por sua

    origem ou ainda por sua religio. Para

    odiar, as pessoas precisam aprender, e

    se podem aprender a odiar, pode ser

    ensinadas a amar.

    Nelson Mandela

  • RESUMO

    O presente trabalho se constitui de um estudo qualitativo descritivo e consiste

    numa reflexo sobre o desenvolvimento do Ensino Religioso nas Sries Iniciais em

    cinco Escolas Pblicas no Municpio de Uruguaiana. O mesmo tem o objetivo de

    analisar a importncia, a compreenso e a metodologia que os professores dos

    cinco Anos Iniciais (1 ao 5 ano) tm do Ensino Religioso na suas prticas em sala

    de aula. Para a realizao desta pesquisa, foram utilizados como instrumentos de

    coleta de dados, entrevistas semi-estruturadas e observaes direta. Os dados

    foram analisados atravs da tcnica de analise de contedo proposta por Bardin

    (1977) surgindo as seguintes categorias: Conhecimento emprico, ausncia de

    orientao e fragilidade nos objetivos: fatores que interferem no trabalho do Ensino

    Religioso no Ensino Fundamental I, e Qualificar relaes, sensibilizar para a

    Espiritualidade e valorizar a orao: marcas do trabalho pedaggico com o Ensino

    Religioso nos Anos Iniciais. Pela anlise realizada foi possvel observar que as

    lacunas atuais so conseqncia do passado. Historicamente o Ensino Religioso

    nas Escolas Pblicas do nosso pas passou por relaes de poder e tinha-se o

    intuito de catequizar, disciplinar, doutrinar e conduzir valores condizentes a mesma

    f que estava no poder. Com o surgimento da lei 9475/97 e da nova redao do

    Artigo 33, deixou de ser confessional, exigindo uma radical transformao no modo

    de pensar e compreender o Ensino Religioso. Com esta abertura ficou muito a

    desejar a formao do docente nesta rea. Em sntese a pesquisa reafirma que o

    assunto pesquisado reconhecido e comprovado por vrios autores ser de grande

    valia para o educando do Ensino fundamental, contudo falta objetividade para

    desenvolv-lo na comunidade escolar.

    Palavras-chave: Ensino Religioso. Professores. Formao. Educao.

    Transcendente.

  • RESUMEN

    El estudio de este trabajo es una reflexin sobre el desarrollo de la Educacin

    Religiosa en los primeros grados de cada cinco escuelas pblicas en la ciudad de

    Uruguaiana. Lo mismo tiene que analizar la importancia de comprender y la

    metodologa para los profesores de los primeros cinco aos (1 a 5 grado), es la

    Educacin Religiosa en sus prcticas en el aula. Para esta investigacin, se utilizaron

    como instrumentos, entrevistas semiestructuradas con la tcnica de anlisis de

    contenido propuesto por Ldke, surgiendo las siguientes categoras: conocimiento

    emprico, la falta de orientacin sobre los objetivos y la fragilidad: factores que afectan

    el trabajo de la Educacin Religiosa en la escuela primaria, y calificar las relaciones, la

    espiritualidad y la conciencia del valor de la oracin se cumple el trabajo pedaggico

    con la Educacin Religiosa en los primeros aos. Para el anlisis se observ que las

    deficiencias actuales son el resultado del pasado. Histricamente, la Educacin

    Religiosa en las escuelas pblicas de nuestro pas fue a travs de relaciones de poder

    y tena la finalidad de la catequesis, la disciplina, doctrina y conducta valores

    coherentes de la misma fe que estaba en el poder. Con la promulgacin de la ley

    9475/97 y la nueva redaccin del artculo 33, ya no es confesional, lo que requiere un

    cambio radical en el pensamiento y la comprensin de la Educacin Religiosa. Con

    esta apertura fue mucho que desear a la formacin docente en esta rea. En

    resumen, el estudio reafirma que el tema estudiado es reconocida y apoyada por

    varios autores a ser de gran valor para el estudiante de la escuela primaria, pero

    carecen de la objetividad a la que se desarrollan en la comunidad escolar.

    Palabras clave: Educacin Religiosa. Los Maestros. La Capacitacin. La Educacin.

    La Trascendiente.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................................ 9

    1.1 RELEVNCIA DO ESTUDO .................................................................................... 9

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ................................................................................. 10

    1.3 DEFINIO DO PROBLEMA ................................................................................ 11

    2 PRESSUPOSTOS TERICOS ................................................................................ 12

    2.1 PROCESSO HISTRICO DE ESCOLARIZAO DO ENSINO RELIGIOSO NO

    BRASIL ......................................................................................................................... 12

    2.1.1 Primeira Fase 1500 a 1800 ............................................................................ 12

    2.1.2 Segunda Fase - 1800 a 1964 ............................................................................ 12

    2.1.3 Terceira Fase - 1964 a 1996 ............................................................................. 16

    2.2 CONCEPO DE ENSINO RELIGIOSO ............................................................. 20

    2.3 CONTEDOS DE ENSINO RELIGIOSO .............................................................. 22

    2.4 FORMAO DOCENTE ........................................................................................ 25

    3 METODOLOGIA ....................................................................................................... 29

    3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA .............................................................................. 29

    3.2 QUESTES NORTEADORAS .............................................................................. 29

    3.3 PARTICIPANTES ................................................................................................... 30

    3.4 COLETA DE DADOS ............................................................................................. 30

    3.4.1 Entrevistas Semi-estruturadas........................................................................ 30

    3.4.2 Observao direta ............................................................................................. 31

    3.5 ANLISE DE DADOS ............................................................................................ 31

    3.5.1 Processo de anlise ......................................................................................... 32

    3.5.2 Categorias emergentes .................................................................................... 32

    4 RESULTADOS .......................................................................................................... 33

    4.1 CONHECIMENTO EMPRICO, AUSNCIA DE ORIENTAO E FRAGILIDADE

    NOS OBJETIVOS: FATORES QUE INTERFEREM NO TRABALHO DO ENSINO

    RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL I ............................................................... 33

  • 4.2 QUALIFICAR RELAES, SENSIBILIZAR PARA A ESPIRITUALIDADE E

    VALORIZAR A ORAO: MARCAS DO TRABALHO PEDAGGICO COM O

    ENSINO RELIGIOSO NOS ANOS INICIAIS. .............................................................. 41

    5 CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................... 52

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................... 55

  • 9

    1 INTRODUO

    1.1 RELEVNCIA DO ESTUDO

    Desde que o ser humano comeou a ter conscincia das coisas, ele j

    percebeu a existncia de algo superior a ele, que foge da sua compreenso. Esta

    mesma interpretao foi feita por vrios povos e culturas diferentes, e concluiu-se

    que vem da mesma fonte inspiradora que chamamos de Transcendente.

    Para tornar mais objetivo o assunto, busca-se o sentido da palavra

    transcendente, que segundo o dicionrio Aurlio (2002) apresenta muitos

    significados como: algo muito elevado, superior, sublime, excelso, que transcende

    aos limites da experincia possvel, que supe a interveno de um principio que lhe

    superior. De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais do Ensino

    Religioso (FONAPER, 2009), o transcendente um fenmeno religioso.

    Entende-se por fenmeno religioso o processo de busca do ser humano pela

    Transcendncia, que passa pela experincia pessoal at a experincia religiosa em

    grupo, comunidade at a institucionalizao pelas Tradies Religiosas. Neste

    contexto o Ensino Religioso o subsdio que vai ao encontro do educando, para lhe

    ajudar a entender o que o fenmeno religioso.

    Para Junqueira (1995, p.14) no funo do Ensino Religioso escolar,

    promover converses, mas oportunizar ambiente favorvel para a experincia do

    Transcendente, em vista de uma educao integral, atingindo as diversas

    dimenses da pessoa. So oportunidades que a comunidade escolar deve

    proporcionar ao educando, visto que nem todos tm a mesma sorte de nascer num

    ambiente que proporcione tal experincia.

    Da decorre a preocupao em averiguara nas Escolas Pblicas de Uruguaiana,

    como est acontecendo o Ensino Religioso, mais especificamente nas Sries Iniciais do

    Ensino Fundamental I, a partir do marco histrico do Ensino Religioso no Brasil com a

    Lei 9394/96, onde foi dada a nova redao do Artigo 33 da Lei de Diretrizes de Bases

    da Educao Nacional (LDBEN). importante ressaltar que a modificao deste artigo

    teve ampla participao de pessoas sensibilizadas e comprometidas com Ensino

    Religioso na escola pblica no domnio da Educao Bsica.

    A Lei determina que o Ensino Religioso de matrcula facultativa parte integrante

    da formao bsica do cidado, constituindo disciplinas nos horrios normais das

  • 10

    escolas pblicas de ensino fundamental, assegurado o respeito diversidade cultural

    religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo (nova redao ao Art.. 33

    da Lei n 9394, de 20 de dezembro de 1996). (FONAPER, 2009)

    Aps quatorze anos da lei em vigor em nosso pas foi possvel verificar

    atravs da pesquisa de campo, a lacuna que h nas escolas a respeito do modo de

    compreender e trabalhar o Ensino Religioso no Ensino Fundamental. Tambm foi

    averiguado a responsabilidade e o desafio que o educador das sries iniciais

    encontra ao abordar a temtica do Ensino Religioso, visto que no fcil conhecer e

    ter uma viso da diversidade religiosa, bem como, conseguir trabalhar com estas

    turmas que j tm conceitos advindos da sociedade a respeito de religiosidade.

    Observou-se o quanto as crianas de 1 ao 5 ano refletem na escola o que a

    sociedade impe sobre a diversidade religiosa, chegando intolerncia e

    desrespeito entre colegas, especialmente entre os pr-adolescentes, ficando cada

    vez mais difcil abordar estes assuntos. Para isso os educadores precisam estar

    atentos s abordagens dos Parmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso

    (FONAPER, 2009), para que mesmo no sendo da rea especfica, mas como

    partes do currculo possam trabalhar didaticamente estando cientes de que a criana

    necessita, desde a tenra idade, conhecer a diversidade tendo outro olhar para o

    diferente, podendo contemplar a sua vida na alteridade.

    Segundo Silva (2011), a palavra alteridade, com o prefixo alter vindo do latim,

    possui o significado de se colocar no lugar do outro na relao interpessoal, com

    estima, valorizao, identificando o outro atravs do dilogo. na prtica da

    alteridade que se conectam os relacionamentos tanto entre indivduos como entre

    grupos culturais religiosos, cientficos, tnicos, etc.

    No entanto, para que o professor chegue a este patamar de liberdade em

    trabalhar o Ensino Religioso na busca da alteridade necessrio que se tenha

    oportunidades de orientao/formao, para desenvolver um trabalho de qualidade

    junto aos alunos, que carecem deste contedo.

    1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA

    Entender o que a professora pensa sobre Ensino Religioso;

    Compreender a importncia que o professor atribui ao Ensino Religioso;

    Verificar as orientaes recebidas pelo professor para trabalhar o Ensino

  • 11

    Religioso e onde os receberam;

    Entender como o professor trabalha os contedos;

    Verificar os recursos e materiais que o professor utiliza para trabalhar os

    contedos de Ensino Religioso;

    Averiguar o espao utilizado para trabalhar o Ensino Religioso;

    Perceber como a orao utilizada em sala de aula;

    Verificar os objetivos que o professor tem ao trabalhar Ensino Religioso.

    1.3 DEFINIO DO PROBLEMA

    Como o Ensino Religioso Trabalhado nas Escolas Pblicas do Ensino

    Fundamental de Uruguaiana?

  • 12

    2 PRESSUPOSTOS TERICOS

    2.1 PROCESSO HISTRICO DE ESCOLARIZAO DO ENSINO RELIGIOSO

    NO BRASIL

    Nos ltimos anos vem se acentuando mais fortemente a questo do Ensino

    Religioso nas escolas pblicas. Esta polmica no atual, mas j tem uma longa

    histria de lutas, desentendimentos e incompreenses na educao do nosso pas.

    A falta de compreenso est ligada obscuridade da natureza desta disciplina, bem

    como ao papel da escola quanto ao seu desenvolvimento. Por isso, esta disciplina

    no pode ser entendida como Ensino de uma Religio ou das Religies na Escola,

    mas uma disciplina centrada na antropologia religiosa.

    2.1.1 Primeira Fase 1500 a 1800

    Para uma melhor compreenso da histria do Ensino Religioso no Brasil

    nestes quinhentos anos, far-se- um resumo breve desta trajetria. Conforme o

    Frum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER), nesta primeira fase,

    de 1500 a 1800, a nfase a integrao entre escola, igreja, sociedade poltica e

    economia, tendo como objetivo bsico a integrao dos alunos nos valores da

    sociedade. Foi um perodo em que o Ensino Religioso era desenvolvido como

    Ensino de Religio como evangelizao dos gentios e catequese para os negros,

    conforme acordo com o Sumo Pontfice e o Monarca de Portugal. (FONAPER, 2009)

    2.1.2 Segunda Fase - 1800 a 1964

    Neste perodo, a educao est sob a direo do Estado-Nao e o objetivo

    a escola pblica, gratuita, laica para todos. Sendo que o religioso estava submetido

    ao estado, onde a burguesia toma o lugar da hierarquia religiosa.

    Peixoto (1998) ressalta em sua obra as vrias reformas realizadas nos

    primeiros anos da Repblica, entre elas a reforma Rivadvia Corra (1911), que

    tentou imprimir um critrio prtico ao estudo das disciplinas e ampliou a aplicao do

    princpio de liberdade espiritual ao pregar a liberdade de ensino. Contudo, diante dos

    protestos catlicos e de medidas laicizantes introduzidas no sistema escolar, o

  • 13

    Governador de Minas Gerais em 1928, promulgou a Lei 1.092/28 reintroduzindo o

    Ensino Religioso nas escolas oficias mineiras. Isto foi o resultado de um cuidadoso

    trabalho do clero mineiro junto sociedade resultando em reconhecimento da parte

    do governo para com a Igreja.

    Tinha-se a esperana que, conforme Junqueira (2007), com a nova Repblica

    se conseguiria organizar no Brasil uma rede pblica de ensino para todos, mas

    somente com a Revoluo de Trinta e o Manifesto de 1932, conseguiu-se

    responsabilizar o Estado, por meio da Constituio de 1934, a estabelecer um Plano

    Nacional de Educao e a extenso da rede de ensino.

    Nos anos de 1910 a 1930, ficou marcado o esforo da Igreja Catlica para

    aproximar-se do Estado, apesar de reaes oposicionistas da Maonaria. Houve,

    neste perodo, a tentativa de organizar partidos catlicos, como a Liga Eleitoral

    Catlica (LEC), visando orientar os fiis na escolha de candidatos a cargos polticos

    no processo constitucional de 1934 e 1946. (JUNQUEIRA, 2007)

    Conforme Junqueira (2007), foi organizada pela Igreja Catlica uma lista de

    questes que se julgavam fundamentais e apresentou-se aos polticos interessados em

    apoi-la. Entre as questes polmicas estava o campo da educao do Ensino

    Religioso, pois, segundo a Igreja Catlica, a compreenso do homem, do mundo e de

    Deus estariam sendo progressivamente destrudas pela Modernidade e pela Maonaria.

    Neste contexto, d para perceber que a educao, alm de ser uma

    estratgia que a Igreja usou para desenvolver este projeto, foi tambm uma

    preocupao constante do episcopado com a concepo de educao como um

    todo, em especial com o ensino primrio, pois revelava uma oscilao entre a

    influncia humanista clssica e a realista cientfica.

    Conforme Fvero (1996), na defesa da Igreja Catlica na dcada de 1930,

    esteve Leonel Frana que, em Minas Gerais, teve seu texto sobre Ensino Religioso

    incorporado Constituio de 1934, ficando facultativo para o aluno e obrigatrio

    para a Escola. Entretanto, em 1937, passa a ser facultativo para ambos.

    Em 1946, o Ex-Ministro da Educao do governo de Getlio Vargas, Gustavo

    Capanema, responsvel pela elaborao do captulo sobre Educao da

    Constituio de 1946, props alteraes legislao de 1934, ficando o Ensino

    Religioso explicitado no Decreto 19.941, de 30 de abril de 1931, nesses termos:

    O Chefe do Governo Provisrio da Republica dos Estados Unidos do Brasil decreta: Art. 1 Fica facultativo, nos estabelecimentos de instruo primria,

  • 14

    secundria e normal o ensino da religio. Art. 2 Da assistncia s aulas de religio haver dispensa para os alunos cujos pais ou tutores, no ato da matricula, a requererem. Art. 3 Para que o Ensino Religioso seja ministrado nos estabelecimentos oficiais de ensino, necessrio que um grupo de, pelo menos, vinte alunos se proponha a receb-lo. Art. 4 A organizao dos programas de Ensino Religioso e a escolha dos livros de textos ficam a cargo dos ministros do respectivo culto, cujas comunicaes, a este respeito sero transmitidas s autoridades escolares interessadas. Art. 5 A inspeo e vigilncia do Ensino religioso pertencem ao Estado, no que se respeita disciplina escolar, e s autoridades religiosas, no que se refere doutrina e moral dos professores. (BONAVIDES, 1996, p.9)

    No Art. 198 a legislao do ensino adotar os seguintes princpios: V O

    Ensino Religioso constitui disciplina dos horrios das escolas oficiais, de matrcula

    facultativa e ser ministrado de acordo com a confisso religiosa do aluno,

    manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsvel

    (BONAVIDES, 1996, p.9).

    Conforme Junqueira (2007), o Ensino Religioso foi introduzido nas escolas

    brasileiras a partir de 1931 e foi justificado pelo Ministro da Educao, Francisco

    Campos, com argumentos de carter filosfico e pedaggico. No entanto, a

    dimenso poltica que estava oculta por detrs do decreto teve igualmente uma

    dimenso ideolgica, transferindo para a Igreja a responsabilidade da formao

    moral do cidado, com a Educao Religiosa.

    Encontra-se a partir da dcada de 1940, uma perspectiva cultural-religiosa,

    o perodo da passagem de uma economia agropastoril para uma realidade de

    urbanizao. Em meio a este movimento migratrio, deram-se maior visibilidade s

    particularidades culturais regionais colocando em evidncia o pluralismo religioso.

    Segundo Lustosa, (1992) dentro do sistema republicano, em 1889, foi

    empossado para o cargo do Ministrio de Instruo, Benjamim Constant, at 1891.

    Este foi responsvel por uma profunda reforma no ensino que envolveu alteraes

    de currculo. Neste perodo, assumiu-se na Constituio do Regime Republicano no

    Brasil, a Educao de compreenso laica. Esta compreenso decorrente da

    interpretao francesa que tinha como princpio a liberdade religiosa ou a

    neutralidade escolar com a ausncia de qualquer tipo de informao religiosa em

    escolas mantidas pelo estado.

    A escola pblica, que at ento teria assumido um ensino irreligioso, ateu ou

    laicista, foi condenada explicitamente pelos membros da hierarquia eclesistica

    catlica, j que os mesmos afirmavam que a Igreja Catlica no aprovava as

    escolas que teriam extinguido o ensino da doutrina crist, pois apelavam para o fato

  • 15

    de que a populao brasileira era catlica. (LUSTOSA, 1992)

    Mesmo que o episcopado brasileiro sentisse a perda do espao no novo

    sistema, o governo republicano deixava liberdade para que a instituio eclesistica

    se expandisse e fortalecesse conforme rege os artigos:

    Art. 72. 3 Todos os indivduos e confisses religiosas podem exercer pblica e livremente o seu culto, associando-se para esse fim a adquirindo bens, abservadas as disposies do direito comum. 4 A Republica s reconhece o casamento civil, cuja celebrao ser gratuita. 5 Os cemitrios tero carter secular e sero administrados pela autoridade municipal, ficando livre a todos os cultos religiosos a prtica dos respectivos ritos em relao aos seus crentes, desde que no ofendam a moral pblica e as leis. 6 Ser leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos pblicos. 7 Nenhum culto ou Igreja gozar de subveno oficial, nem ter relaes de dependncia ou aliana com o Governo da Unio, ou o dos Estados. (BONAVIDES, 1996, p. 193).

    A Igreja aceitou o novo regime, pois de certa forma sua separao oficial do

    Estado lhe permitiu restaurar com mais liberdade seus quadros e estreitar sua

    ligao com a Santa S. O Ensino Religioso foi introduzido na primeira LDBEN (Lei

    de Diretrizes de Base da Educao Nacional) em 1961 (Lei 4.024), que, segundo

    Junqueira (2007), homologou o modelo mais antigo de Ensino Religioso adotado em

    todo o territrio nacional, o Ensino Religioso confessional.

    No entanto, a Comisso da Constituinte (polticos) afirma que essa disciplina

    causa constrangimento no cotidiano escolar sendo que alguns partidrios

    propuseram que a disciplina fosse ministrada fora dos horrios normais de aula, sem

    nus para os cofres pblicos.

    Importante destacar que os que apoiavam a disciplina na escola no

    contestaram o contedo dos opositores, apenas concordaram que devia permanecer

    assim. Neste contexto, a disciplina assumiu a caracterstica de corpo estranho no

    currculo, pelo fato de ser facultativa, por caber docncia autoridade religiosa, por

    no fazer parte do sistema de educao e por dividir as turmas conforme o credo:

    Art. 97. O Ensino Religioso constitui disciplina em horrios normais das escolas oficiais, de matrcula facultativa e ser ministrada sem nus para os cofres pblicos, de acordo com a confisso religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsvel. 1 A formao de classe para o Ensino Religioso independente de nmero mnimo de alunos. 2 O registro de professores de Ensino Religioso ser realizado perante a autoridade religiosa respectiva. (SAVIANI, 1996, p.3).

    Este texto da Lei apenas ratificou a realidade que j existia, sendo que os

    Estados assumiram a legislao para a Educao conforme as perspectivas

  • 16

    confessionais de cada escola, e os professores realizavam seu trabalho por doao,

    sendo orientados pelos representantes das diferentes confisses religiosas.

    2.1.3 Terceira Fase - 1964 a 1996

    um tempo marcado por profundas transformaes que mexem com

    esquemas de referncia. Com maior universalizao do ensino, as contradies da

    sociedade so trazidas para a escola. Aps a hegemonia da Igreja e do Estado

    sobre a escola e a educao, caminha-se para a redefinio de poderes e

    regulamentaes no seio da instituio escolar, pois as diversas foras sociais e

    profissionais se articulam para assumir responsabilidades constituindo novas

    modalidades de funcionamento da ao escolar. (FONAPER, 2009)

    Como visto, o Ensino Religioso passou por vrias mudanas e conflitos ao

    longo da histria do Brasil, decorrente das mudanas constitucionais e ideolgicas

    do Estado. Entretanto, o modelo catequtico foi o mais marcante, dado o grande

    tempo que vigorou nas escolas. Pode-se dizer que o Ensino Religioso no Brasil, ao

    longo da histria, vinha sendo caracterizado pelo ensino da religio.

    A busca pela liberdade, na dcada de 1960, no campo individual e coletivo

    levou as pessoas a lutarem por seus direitos civis e polticos, mas foi na dcada de

    1970 que a formao profissionalizante tornou-se exigncia para o mercado de

    trabalho, para que se tornassem compatveis com as exigncias do capitalismo

    industrial internacional.

    Neste contexto os Parmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso

    (FONAPER, 2009), vem ressaltar que o Ensino Religioso obrigatrio para a escola,

    concedendo ao aluno o direito de optar ou no por ele, no ato da matrcula, sendo

    contemplado com a reforma trazida pela Lei 5.692/71, por ser compreendido como

    um elemento que colaboraria na formao moral das geraes .

    Conforme Junqueira (2007) aps oito anos da promulgao da Constituio

    foi sancionada em 20 de dezembro de 1996, a LDBEN 9.394/96, denominada Lei

    Darcy Ribeiro, que orientava os sistemas da Educao nacional para uma nova

    compreenso favorecendo a diversidade e a pluralidade cultural brasileira, com

    princpios e fins mais amplos:

    Art. 2 A educao, dever da famlia e do Estado, inspirada nos princpios

  • 17

    da liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidades o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. Art. 3 O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: I - igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de idias e de concepes pedaggicas; IV - respeito liberdade e apreo tolerncia; V - coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos oficiais; VII - valorizao do profissional da educao escolar; VIII - gesto democrtica do ensino pblico, na forma desta Lei e da legislao dos sistemas de ensino; IX - garantia de padro de qualidade; X - valorizao da experincia extra-escolar; XI - vinculao entre a educao escolar, o trabalho e as prticas sociais. (CARON, 1997, p. 120-121).

    Com base nestes princpios, os educadores favorveis a insero do Ensino

    Religioso visavam tornar as relaes do saber mais solidrias com aes

    transformadoras e valores fundamentais da vida, com o objetivo de contribuir com a

    sociedade brasileira nas suas diferenas e pluralidades culturais, sendo a escola um

    espao de conhecimento. No entanto, com a redao final da LDBEN 9.394/96, ficou

    confirmado que este ensino seria sem nus para o Estado e o corpo docente deveria

    trabalhar de forma voluntria, ou financiada pelas tradies religiosas, conforme

    rege o Art. 33:

    3 O Ensino Religioso, de matrcula facultativa constitui disciplinas de horrios normais nas escolas pblicas de educao bsica, sendo oferecido, sem nus para os cofres pblicos, de acordo com as preferncias manifestadas pelos alunos ou por seus responsveis [...]. (CARON, 1997, p.121).

    No entanto, segundo Junqueira, o art. 210 da Constituio Federal, o Ensino

    Religioso foi aprovado na LDBEN 9.394/96, com a seguinte estrutura:

    De matrcula facultativa, uma disciplina apenas para os alunos interessados;

    Ministradas para os horrios normais nas escolas publicas do ensino

    fundamental, e para as escolas de rede privada no h nenhuma

    determinao; No acarretando nus parta os cofres pblicos; Oferecida

    conforme as preferncias manifestadas pelos alunos ou por seus responsveis;

    podendo ter carter confessional ou interconfessional. (2007, p.37-38)

    Neste caso, os professores seriam credenciados pelas respectivas Igrejas ou

    entidades religiosas, enquanto o interconfessional seria ministrado por professores

    indicados por mais de uma entidade religiosa, sendo estes os responsveis pela

    elaborao e desenvolvimento do programa, cabendo escola a responsabilidade

    de desenvolver atividades alternativas aos alunos que no optaram pela disciplina.

  • 18

    Para que o Ensino Religioso tivesse um tratamento como disciplina do

    currculo escolar, houve um movimento em todo o pas mobilizando os professores e

    a sociedade. A seguir, foi reconhecida pelo Presidente da Repblica a necessidade

    de reelaborar a proposio sobre o Ensino Religioso na legislao da educao. No

    entanto, a inteno do governo era dar nova concepo disciplina, acenando para

    o fenmeno religioso, formao e valores, mas as confisses religiosas pediram

    Presidncia da Repblica que autorizasse a produo de outras propostas.

    (JUNQUEIRA, 2007)

    Sendo assim, foram apresentadas diversas propostas pelos Deputados, que

    reunidas em texto foi aprovado em Plenrio na Cmera dos Deputados e no Senado

    Federal, sancionado, pelo Presidente da Repblica, em julho de 1997, o novo texto

    do art. 33 da LDBEN:

    Art. 33. O Ensino Religioso, de matrcula facultativa, parte integrante da formao bsica do cidado e constitui disciplina dos horrios normais das escolas pblicas de ensino fundamental, assegurado o respeito diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 1 Os sistemas de ensino regulamentaro os procedimentos para a definio dos contedos do ensino religioso e estabelecero as normas para a habilitao e admisso dos professores. 2 Os sistemas de ensino ouviro entidade civil, constituda pelas diferentes denominaes religiosas, para a definio dos contedos do Ensino Religioso. (FONAPER, 1997, p. 66)

    A nova redao do art. 33 focaliza o Ensino Religioso como disciplina escolar,

    como rea do conhecimento com a finalidade de compreender o fenmeno religioso

    como objeto da disciplina. A incluso dessa disciplina foi confirmada como uma das

    dez reas do conhecimento que orientam o currculo nacional, e formalizada por

    meio da Resoluo 02/98 sobre as Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental:

    [...] as reas de conhecimento: Lngua Portuguesa, Lngua Materna, para populaes indgenas e migrantes, Matemtica, Cincias, Geografia, Histria, Lngua Estrangeira, Educao Artstica, Educao Fsica, Educao Religiosa, na forma do art. 33 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (MEC, 1998)

    Como citado acima, as reas do conhecimento um modo de estruturar as

    informaes essenciais que venham a auxiliar o individuo na sua formao

    garantindo a sua participao ativamente na sociedade. Todas as reas

    mencionadas devem contribuir, a criana e ao adolescente, em especial, numa

    melhor compreenso da sociedade em que vivem, esta deve ser uma das

    preocupaes da Educao Bsica para que num futuro bem prximo eles exeram

  • 19

    seu papel de cidado de forma autnoma e consciente. Para contribuir com este

    pensamento, Brandenburg (2009, p.87-88) ressalta:

    O Ensino Religioso configura-se como rea essencial interdisciplinar. A interdisciplinaridade constitui, alis, um dos temas tericos mais freqentes no campo educacional, mas de pouca expresso prtica. O currculo escolar fragmentado e fragmentador, cada rea do conhecimento um territrio especifico e isolado dos demais.

    Segundo Caron (2007), o FONAPER (fundado em 26/09/1995 em

    Florianpolis) desempenhou um papel importantssimo para a disciplina de Ensino

    Religioso, pois foi um dos principais protagonistas do Ensino Religioso em face da

    atual LDB. Primeiramente, ocupou-se com a promulgao da Lei de Diretrizes e

    Bases (1996 - 1997), simultaneamente com a estrutura do Ensino Religioso atravs

    da produo do Parmetro Curricular Nacional do Ensino Religioso (PCNER).

    Conforme Junqueira, os integrantes do FONAPER tm procurado construir

    uma nova concepo de Ensino Religioso, vm desde o seu incio, articulando

    aes em vista da formao de professores, buscando acompanhar, organizar e

    subsidiar o esforo de professores, associaes e pesquisadores no campo do

    Ensino Religioso, privilegiando "informaes no campo sociolgico-fenomenolgico,

    tradies e cultura, teologias, textos sagrados orais e escritos, ethos, ritos, em que o

    professor seja um educador e no um agente religioso" (JUNQUEIRA, 2002, p. 28).

    Dentro desse quadro estabelecido, foi proposto nos Parmetros Curriculares

    Nacionais o seguinte objetivo para o Ensino Religioso:

    Valorizar o pluralismo e a diversidade cultural presentes na sociedade brasileira, facilitando a compreenso das formas que exprimem o transcendente na superao da finitude humana e que determinam subjacente, o processo histrico da humanidade. Por isso, deve: propiciar o conhecimento dos elementos bsicos que compem o fenmeno religioso, a partir das experincias religiosas percebidas no contexto do educando; subsidiar o educando na formulao do questionamento existencial, em profundidade, para dar sua resposta devidamente informada; analisar o papel das tradies religiosas na estruturao e manuteno das diferentes culturas e manifestaes socioculturais; facilitar a compreenso do significado das afirmaes e verdades de f das tradies religiosas; refletir o sentido da atitude moral, como conseqncia do fenmeno religioso e expresso da conscincia e da resposta pessoal e comunitria do ser humano; possibilitar esclarecimentos sobre o direito diferena na construo de estruturas religiosas que tm na liberdade o seu valor inalienvel (FONAPER 2009, p.46-47).

    Estes Parmetros foram elaborados por pessoas procedentes de vrias

    tradies religiosas que juntas conseguiram organizar o que elas tm em comum

    para uma proposta educacional que tem como objeto de estudo o Transcendente.

  • 20

    Para isto o educador que vai transcorrer nesta rea precisa conhecer basicamente

    as Tradies Religiosas e compreender o fenmeno religioso partindo das razes

    orientais, ocidentais e africanas, de acordo com o PCNER (2009).

    Segundo o Estatuto do Conselho do Ensino Religioso do Estado Rio Grande

    do Sul, CONER/RS, ressalta no Artigo 2 que tem por finalidade, entre outras:

    Congregar as denominaes religiosas interessadas, com o objetivo especfico de se constiturem em entidade civil, para os fins previstos no artigo 33 da Lei 9.304/96, de 20 de dezembro de 1996, com a nova redao que lhe d a Lei 9.475/97 de 22 de julho de 1997; colaborar com as competentes autoridades na regulamentao dos processos para a definio da formulao e execuo dos contedos bsicos, urgindo o cumprimento dos mesmos; apoiar a formao de profissionais para o Ensino Religioso e propugnar, junto aos Sistemas, a necessidade da colaborao mtua, no sentido da habilitao e admisso de professores de Ensino Religioso.

    Fazem parte deste grupo de estudo do CONER/RS; o Centro Budista

    Chagdud Gompa Brasil; Confisso Israelita; Conveno Batista do Rio Grande do

    Sul; Conveno das Igrejas Evanglicas e Pastores das Assemblias de Deus no

    Estado do Rio Grande do Sul; Federao Esprita do Rio Grande do Sul; Igreja

    Adventista do Stimo Dia; Igreja Catlica Apostlica Romana; Igreja Episcopal

    Anglicana do Brasil; Igreja Evanglica Congregacional do Brasil; Igreja de Confisso

    Luterana do Brasil; Igreja Evanglica Luterana do Brasil; Igreja Metodista e a

    Sociedade Islmica de Porto Alegre, estas so as denominaes religiosas filiadas

    ao CONERS que tem sua sede e foro em Porto Alegre/RS (Art.3).

    2.2 CONCEPO DE ENSINO RELIGIOSO

    Faz-se necessrio ter bem presente que durante muito tempo o Ensino

    Religioso teve um carter catequtico-doutrinal nas escolas pblicas do nosso pas,

    este conceito fez com que se criasse certa rejeio a esta disciplina, de ambas as

    partes do aluno bem como do professor.

    Em tempos atuais, onde a diversidade cultural e religiosa est bem mais viva

    e presente em todos os ambientes, incluindo o espao escolar, inadmissvel que

    no se trabalhe este mbito na escola, visto que o ser humano um ser de relaes

    que interage com outros seres, com a natureza, com o Transcendente em diferentes

    espaos e ambientes.

    Para melhor compreender o termo religioso, o FONAPER (2000) desenvolveu

  • 21

    uma pesquisa, que para melhor compreenso necessrio ter presente a trajetria

    do Ensino Religioso no Brasil, que conduz a diferentes concepes de religio do

    latim, religio, que deu origem s concepes expressas pelos verbos: reeligere (re-

    escolher), religare (re-ligar) e relegere (re-ler). Ciente destas concepes pode-se ter

    agora uma viso mais ampla da compreenso do Ensino Religioso que se teve no

    Brasil durante sculos at a compreenso atual.

    O Ensino religioso, na concepo de reeligere, no entendimento de reescolher

    tinha a finalidade de fazer seguidores. Neste contexto, caracterizava-se como

    catequese, aula de religio, ensino bblico, conhecimentos sobre elementos da

    religio. Esta concepo refletiu na LDB n4.024/61.

    Na concepo de religare, o significado de religar a pessoa a si mesma aos

    outros, natureza e a Deus tornando-as mais religiosas. Neste contexto, o Ensino

    Religioso caracterizou-se como pastoral, aula de tica e valores, com conhecimento

    veiculado formao antropolgica da religiosidade. Esta concepo desenvolveu-

    se nos anos 80, refletida na LDBn5.692/71.

    Desde 1995, com a instalao do Frum Nacional Permanente do Ensino

    Religioso, est se fazendo a passagem de uma nova concepo de Ensino Religioso

    a partir do entendimento de relegere, que significa reler o fenmeno religioso no

    contexto da realidade sociocultural. O objeto de estudo o fenmeno religioso, e o

    conhecimento veiculado o entendimento dos fundamentos desse fenmeno que

    parte do convvio social.

    Cabe aqui salientar que a formao primria que o docente tem para trabalhar

    esta rea da cincia religiosa muito restrita e de pouca atrao, assim como

    Matemtica e Portugus, o Ensino Religioso precisa tambm ser planejado,

    estudado com sua devida ateno, de acordo com linguagem e os assuntos

    adequados idade e srie da turma. preciso fazer uma releitura e dar um novo

    olhar para esta parte do ensino em nossas escolas, pois Boeing ressalta que:

    O conhecimento do Fenmeno Religioso, elaborado pelas Cincias da Religio e sistematizado pelo currculo da Educao Bsica faz parte da construo cultural da sociedade. Com o Esprito de ressignificar as diferentes dimenses da vida humana. E o Ensino Religioso como componente da formao cidad torna-se no espao de releitura e ressignificao do Fenmeno Religioso como tambm de respeito pluralidade de cada contexto sociocultural. (BOEING, 2009, p. 10-11)

    Portanto, o Ensino Religioso componente curricular, cujas atividades que

    so desenvolvidas na escola, apresentam, como alguns dos objetivos, a

  • 22

    socializao dos conhecimentos religiosos elaborados historicamente pela

    humanidade, o esclarecimento sobre o direito as diferenas na construo de

    estruturas religiosas que tm seu valor em si mesmo. Talvez o que esteja faltando

    no Ensino Religioso Espiritualidade, para ser compreendido e explorado a riqueza

    que h no contedo e nas mudanas que ele capaz de produzir como disciplina.

    2.3 CONTEDOS DE ENSINO RELIGIOSO

    O Ensino Religioso apresenta-se, hoje, como uma questo para a educao

    brasileira, se no propriamente nova, ao menos renovada em suas determinaes.

    Jaques Delors no Relatrio da Comisso Internacional sobre Educao para o

    sculo XXI, apresentado para a UNESCO, destaca algumas recomendaes que

    vm contribuir:

    Devemos cultivar como utopia orientadora, o propsito de encaminhar o mundo para uma maior compreenso mutua mais sentido de responsabilidade e mais solidariedade, na aceitao de nossas diferenas espirituais e culturais. A educao permitindo o acesso de todos ao conhecimento tem um papel bem concreto a desempenhar no cumprimento desta tarefa universal: ajudar a compreender o mundo e o outro a fim de melhor se compreender (DELORS, 1999, p.50).

    Num momento em que as religies ocupam maiores e mais importantes

    espaos sociais e polticos, a ratificao legal ocorrida recentemente em diversos

    nveis da legislao do pas, e, dentro dela, a regulamentao do financiamento

    pblico do Ensino Religioso, representa uma mudana significativa nas relaes

    entre as esferas pblicas e privada e tambm na concepo do Estado laico.

    A Resoluo n 256/2000, em seu Art. 3 aborda os contedos do componente curricular de Ensino Religioso so fixados pela escola, de acordo com seu projeto pedaggico, observadas as diretrizes curriculares nacionais e com base em parmetros curriculares que sero estabelecidos sob a coordenao da Secretaria da Educao. Art. 4 Para a fixao dos parmetros curriculares ser ouvida entidade civil, constituda pelas diferentes denominaes religiosas. Art. 5 A entidade civil de que trata o artigo anterior ser credenciada pelo Conselho Estadual de Educao, com base em solicitao, instruda com os seguintes documentos: I - requerimento; II - Estatuto Social; III - relao de associados, indicando sede e endereo e responsvel; IV - qualificao do corpo dirigente, com identificao, endereo de cada membro; V - parecer da Secretaria de Educao sobre a pretenso. (JUNQUEIRA, 2007, p. 51)

    Segundo Caron (1999) o Ensino Religioso, como disciplina, obriga o Estado a

    assumir o seu papel de administrador dos bens culturais, dentre eles a educao

  • 23

    integral, tendo presente dimenso religiosa do educando, integrante das demais

    dimenses, bem como procurar entender a religiosidade presente em todas as

    culturas, raas e povos, de todos os tempos com suas diversas formas de devoes,

    doutrinas e princpios ticos. A necessidade constante que a pessoa tem de

    encontrar sentido para a vida, faz com que se confirme a importncia de contemplar

    este aspecto na educao, possibilitando o surgimento de uma cultura onde se

    estabelea o dilogo, o respeito e uma convivncia inter-religiosa enriquecedora.

    Alm disso, a escola deve proporcionar ao educando a aprendizagem do

    aprender a pensar, a sociedade precisa de pessoas crticas, no bom sentido, que

    saibam olhar as coisas de vrios ngulos que saibam refletir, fazer concluses, pessoas

    que reajam diante da injustia. De acordo com Demo [...] toda influncia que se exerce

    sobre o aluno, precisa frutificar em sua autonomia (2004, p.31). O autor continua a

    desafiar educadores e educandos, a saber, pensar e interpretar as realidades que os

    cercam, ao educador o desafio de largar as amarras de metodologias que aprisionam a

    um modo de pensar que pode se aplicar a cultura e a religiosidade. Este novo jeito de

    pensar na escola, para Demo (2004, p.37) dizer que:

    Podemos alargar enormemente, indefinidamente a autonomia, se soubermos pensar, conhecer, aprender. Faz parte do saber pensar no s conquistar espao prprio, mas saber conviver com o espao dos outros. Quem sabe pensar no usa fora para convencer, mas o argumento. Ao mesmo tempo em que se sabe argumentar, promove o contra-argumento. Jamais fecha a discusso porque o sentido da discusso no fechar, mas abrir para novas e infindveis discusses.

    sabido, que a formao docente foi por muito tempo idealizada de modo

    conteudista, tradicional e hierrquica, onde o docente trazia tudo pensado, era o

    modo de pergunta-resposta exata. Talvez este seja o vis que ainda perpassa os

    sistemas pblicos de educao, vindo a desencadear o problema maior com o

    Ensino Religioso, visto o porqu na maioria das vezes deslocado para o fim da

    lista das prioridades escolares. Sendo que a outra dificuldade a carncia de

    docentes com formao adequada para atuar nesta rea.

    O sentido da lei est em garantir que a escola de Ensino Fundamental oportunize aos alunos o acesso ao conhecimento religioso. No seu interesse fazer com que a escola garanta aos educandos o acesso s formas institucionalizadas de religio isto competncia das prprias igrejas e crenas religiosas. escola compete garantir o acesso ao conhecimento religioso, a seus componentes epistemolgicos, sociolgicos e histricos. Pode naturalmente, servir-se do fenmeno religioso e de sua diversidade, sem, contudo, erigir uma ou outra forma de religiosidade em objeto de aprendizagem escolar. Na aula de Ensino Religioso nossas

  • 24

    crianas tm que ter acesso ao conhecimento religioso, no aos preceitos de uma ou de outra religio. (ZIMMERMANN, 1998, p. 11).

    A capacidade de admitir o valor intrnseco que h nas diferentes crenas faz

    com que se crie um dilogo sadavel mantendo a pessoa num patamar mais seguro

    e fraterno no meio onde est. Ao saber que a busca pelas respostas individuais nos

    cultos de f que integram a identidade, fazem eco entre outras identidades

    religiosas, pode aumentar e fortalecer a f e, ao mesmo tempo, faz a pessoa ser

    mais compreenciva e emptica com a riqueza das outras religies. Segundo

    Berkenbrock (1996, p.327), importante que o dilogo inter-religioso seja

    impulsionado pelo desejo de um melhor entendimento humano vindo a contribuir

    para uma melhor convivialidade humana.

    A grande quantidade de pessoas mobilizadas na dcada de 90 do sculo XX

    gerou a instalao do Frum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER)

    tendo como objetivo ser uma organizao civil de diferentes denominaes

    religiosas para tratar sobre as questes pertinentes ao Ensino Religioso.

    Tem como papel principal consultar, refletir, propor, deliberar e encaminhar assuntos pertinentes ao Ensino Religioso, com vistas s seguintes finalidades: I- exigir que a escola, seja qual for sua natureza, oferea o Ensino Religioso ao educando, em todos os nveis de escolaridade, respeitando as diversidades de pensamento e opo religiosa e cultural do educando, vedada discriminao de qualquer natureza; II- contribuir para que o pedaggico esteja centrado no atendimento ao direito do educando de ter garantida a educao de sua busca do Transcendente; III- subsidiar o Estado na definio do contedo programtico do Ensino Religioso, integrante e integrado s propostas pedaggicas; IV- contribuir para que o Ensino Religioso expresse uma vivncia tica pautada pelo respeito dignidade humana; V- reivindicar investimento real na qualificao e habilitao de profissionais para o Ensino Religioso, preservando e ampliando as conquistas de todo o magistrio, bem como a garantia das necessrias condies de trabalho e aperfeioamento; VI- promover o respeito e a observncia da tica, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e dos outros valores universais; VII- realizar estudos, pesquisas e divulgar informaes e conhecimentos na rea do Ensino Religioso (CARON, 2007, p. 135).

    Como visto, o Ensino Religioso tem de atuar como ponte que conduz os

    estudantes ao caminho do bem, aos valores humanistas construdos com as bases

    slidas do amor, da fraternidade, da bondade, da honestidade, da humildade e,

    principalmente, do respeito queles cujas opinies divergem das nossas. So

    conceitos, infelizmente, cada vez mais escassos num mundo onde prevalece a

    coisificao, o descartvel, o consumismo e outros, provocado pelo mundo do

    materialismo. Portanto, papel dos educadores indignarem-se e procurar reverter

  • 25

    esse quadro, comprometendo-se com a qualidade do futuro das novas geraes.

    2.4 FORMAO DOCENTE

    Conforme o Conselho Nacional de Educao, no seu Parecer de 11/03/97,

    percebe-se a necessidade de um professor habilitado e no mais de um representante

    de alguma denominao religiosa. Isso se confirma atravs da nova redao do Artigo

    n 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao, 9394/96, sancionada em 22/07/97,

    que em seu 1. prev o profissional capacitado para esta rea.

    O Ensino Religioso foi estadualizado e municipalizado, portanto a formao

    do docente est sobre a responsabilidade do Estado e do Municpio. O Conselho

    Estadual de Educao do Rio Grande do Sul (CEED/RS) expediu em 2000 o

    Parecer N 290/2000 e a Resoluo N 256/2000, regulamentando a habilitao de

    professores de Ensino Religioso e os procedimentos para a definio dos contedos

    desse componente curricular:

    Art. 1 So habilitados a lecionar Ensino Religioso em escolas integrantes do Sistema Estadual de Ensino os professores: I - titulados em nvel mdio ou superior para a docncia na educao infantil e/ou nos quatro anos iniciais do ensino fundamental, para atuar nesses nveis da escolarizao; II - os licenciados em qualquer rea do currculo que tenham realizado curso ou cursos de preparao para lecionar o componente curricular Ensino Religioso, para atuar nos quatro anos finais do ensino fundamental e no ensino mdio. 1 O curso, ou a soma da carga horria dos cursos, de que trata o inciso II, dever totalizar, no mnimo, quatrocentas horas. 2 O curso ou os cursos podero ser oferecidos pelas denominaes religiosas ou por estabelecimentos de ensino, independente de autorizao, nas seguintes modalidades, conforme o caso: I - curso de atualizao ou aperfeioamento; II - curso de qualificao profissional; III - curso de extenso universitria; IV - curso em nvel de ps-graduao. Art. 2 A comprovao da titulao referida no artigo anterior e seus pargrafos so suficientes para a contratao ou admisso a concurso para provimento de vagas decorrentes da oferta do Ensino religioso em escolas pblicas. (JUNQUEIRA, 2007, p. 51)

    A prtica do Ensino Religioso nas escolas pblicas brasileiras foi bastante

    marcada pela presena catlica, sendo a atuao pedaggica de cunho confessional

    at a dcada de 1970, deixando muitas marcas na compreenso do Ensino

    Religioso escolar.

    Para a Igreja Catlica que sempre defendeu o Ensino Religioso na escola, a

    partir da Constituinte de 1988, concede o espao para a atuao de educadores

    leigos, que esto inseridos nos diferentes meios sociais e que podem muito bem

    contribuir, buscando especializao do assunto.

  • 26

    O que antes era feito somente pela Igreja Catlica, agora assumido, de modo especial, pelos prprios educadores, graas ao incentivo da prpria Igreja em devolver sociedade as suas funes por dever, na conquista de seus direitos de cidadania, dentre os quais o da garantia do Ensino Religioso na escola pblica. (CARON, 1997, p.16).

    No ambiente escolar, o Ensino Religioso compreendido por muitos setores

    como sendo ainda um elemento eclesial, visto que marcado por um substrato

    scio-econmico-politico e cultural. Assim sendo torna-se, na viso de muitos

    educadores, um elemento estranho ao sistema de ensino, acarretando dificuldades

    de natureza pedaggica e administrativa (FIGUEIREDO, 1995, p.23).

    Na busca da razo de ser do Ensino Religioso, Figueiredo encontra a

    resposta na prpria terminologia da palavra e na pessoa, Toda e qualquer reflexo

    sobre a pessoa humana, como sujeito da educao, no pode perder de vista a sua

    dimenso religiosa, ou seja, as predisposies do ser para a experincia religiosa

    individual que nasce do eu mais profundo (FIGUEIREDO, 1995, p.46).

    Neste sentido, o Ensino Religioso est voltado para o aguamento da

    sensibilidade religiosa, que segundo Caron (1999, p.38) apresenta como proposta

    pedaggica o desafio de colocar-se a servio do desenvolvimento da religiosidade

    do ser humano, isto do desejo de busca do sempre mais, de algo que o impulsiona

    ao translimite, ao transcendente dentro ou fora da religio.

    De acordo com Junqueira (2002, p.125-126), o educador no Ensino Religioso

    tem papel relevante, pois:

    a) deve ser guia e estar atento e disponvel aos caminhos dos educandos; b) deve escutar o que os alunos sabem e necessitam expressar; c) no deve ser o nico e principal informante; d) deve conectar os temas propostos a outros contedos e realidade; e) deve possibilitar a interveno do maior nmero de alunos; f) deve dar fisionomia pessoal ao seu trabalho; g) deve dar organicidade ao processo educacional; h) deve ter a compreenso do educando como sujeito competente e capaz, que necessita partilhar sua vida com o grupo; i) deve saber organizar os espaos e o tempo de acordo com as exigncias do trabalho a ser executado.

    As competncias destacadas acima devem ser entendidas para todos os

    docentes, visto que o educador das Sries Iniciais algum que est mais prxima

    do aluno fazendo a mediao da aprendizagem, sendo assim Libneo (2003, p.28)

    complementa a funo do educador salientando que, Como mediador, o educador

    deve propiciar condies favorveis para a apropriao crtica, criativa, reflexiva,

    significativa e duradoura do conhecimento, condio para o exerccio consciente e

    ativo da cidadania. Estas atitudes precisam ser apreendidas pelo educador para

  • 27

    que faa parte do seu trabalho com o aluno.

    Na relao interpessoal do docente com o aluno, devem manter o respeito

    entre ambos acima de tudo, sendo assim, o Referencial Curricular para o Ensino

    Religioso do Sistema Estadual de Ensino do RS (2006, p.9), recomenda ao

    professor de Ensino Religioso na sua relao, educando-conhecimento-educador,

    algumas caractersticas tais como:

    a) ser habilitado e conhecer o fenmeno religioso e suas conseqncias scio-culturais no contexto da educao em geral; b) ser capaz de compreender o pluralismo religioso presente na sociedade brasileira e de interagir com ele; c) desenvolver um pensamento autnomo, criativo, interrogativo e mediador, diante de um amplo referencial cultural; d) comprometer-se com seu desenvolvimento pessoal e profissional, atravs de uma formao continuada e aberta sua atualizao, com flexibilidade para o aprendizado do novo; e) apresentar um compromisso pautado em princpios ticos, com a transformao social e com a afirmao da construo da cidadania como patrimnio coletivo de toda a sociedade civil; f) adquirir habilidades comunicativas e domnio das novas linguagens e tecnologias, para articular a prtica pedaggica com meios de comunicao atualizados; g) admitir que o educando pessoa, sujeito-como-sujeito, manifestao da realidade e da alteridade; h) promover relaes interdisciplinares e transdisciplinares, envolvendo os diferentes componentes curriculares, favorecendo a formao integral, fim ltimo da ao educativa.

    Estas caractersticas vm contribuir na interao do processo ensino

    aprendizagem, que precisam estar pautadas na vida do docente de Ensino

    Religioso, bem como na vida de todos os profissionais da educao, pois no d

    para divergir as qualidades pessoais das competncias profissionais. Para contribuir

    com este pensamento, Libneo (1991, p.42) destaca que o professor deve:

    Saber interagir com o aluno, respeitar as diferenas individuais, saber que somente o aluno o autor da prpria aprendizagem e incentivar a pesquisa e a criatividade. Esses aspectos podem, sem dvida, ser observados na formao de professores das sries iniciais. Esta pessoa, atuante no processo de ensino-aprendizagem, agente de transformao social, integrante essencial do processo da educao, no apenas professor. Ele participa de outros contextos de relaes sociais que, na sua articulao, afetam a atividade prtica do professor. A eficcia do trabalho docente depende de sua filosofia de vida, das convices sociais e polticas, do preparo profissional, das caractersticas da vida familiar e da satisfao pessoal, entre outros fatores.

    Frente a este subsdio, confia-se ao professor a mediao entre o saber e o

    educando. Ele o link que ajudar o aprendiz a estabelecer o seu conhecimento

    prestando-lhe as informaes adequadas e necessrias sua formao integral.

    Portanto, percebe-se a importncia do docente ter uma formao qualificada com

    embasamentos prticos e tericos, contudo no ser suficiente se no tiver paixo

  • 28

    pela causa, pois segundo Rubem Alves (1991, p. 11-12), o educador no exprime

    uma funo, mas sim uma vocao:

    Professores h aos milhares. Mas professor profisso, no algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrario, no profisso; vocao. E toda a vocao nasce de um grande amor de uma grande esperana.

    Da decorre a necessidade de cultivar no profissional da educao, paixo

    pela causa resultando em uma pessoa flexvel, criadora, humana, sensvel, que

    tenha compaixo e no tenha medo, mas que tenha confiana no que pode vir a

    enfrentar no futuro, esse grande desconhecido, permitindo ao educando ser tambm

    o responsvel pelas possveis transformaes que viram.

  • 29

    3. METODOLOGIA

    3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA

    Esta pesquisa qualitativa caracteriza-se por ser um estudo de cunho

    etnogrfico atravs da qual foi possvel ter um contato direto com o fenmeno

    estudado, possibilitando colher informaes importantes coleta de dados. Este

    mtodo de pesquisa oportuniza ao pesquisador observar diferentes situaes que

    ocorrem no espao fsico bem como nas relaes que permeiam este ambiente.

    A abordagem etnogrfica permeia por vrios mtodos para a coleta de dados

    dos quais pode-se citar alguns: observao, entrevistas, histrias de vida, pesquisa

    documental... O papel da pesquisa etnogrfica est sendo cada vez mais

    experimentado, em razo de que ela apresenta informaes de um determinado

    grupo com influncia social. Segundo Ldke (1986, p. 11) o estudo etnogrfico

    permite que se conhea o fato onde ele ocorre.

    A etnografia tem um sentido prprio: a descrio de um sistema de significados culturais de um determinado grupo. Dessa forma, permite que se pense sobre o tema dentro de um contexto cultural, interpretando todas as suas manifestaes.

    Esta pesquisa foi realizada com o objetivo de saber como o Ensino Religioso

    realizado nas escolas pblicas do Ensino Fundamental de Uruguaiana, do 1 ano ao

    5 ano. Tendo presente que embora o Ensino Religioso, nas sries iniciais, no conste

    como uma disciplina especifica, salvo no 5ano, faz parte do currculo escolar.

    3.2 QUESTES NORTEADORAS

    O que o professor entende por Ensino Religioso?

    Que importncia o professor atribui ao Ensino Religioso em suas aulas?

    Que orientaes os professores tem para trabalhar os contedos de

    Ensino Religioso? E onde receberam?

    Que contedos o professor trabalha em sala de aula?

    Como o professor trabalha os contedos relacionados ao Ensino Religioso?

    Que recursos o professor utiliza para trabalhar os referidos contedos?

    Que espao o professor utiliza para trabalhar o Ensino Religioso?

  • 30

    O professor utiliza as oraes em sala de aula? Como?

    Que objetivos o professor tem ao trabalhar os contedos de Ensino

    Religioso?

    3.3 PARTICIPANTES

    As participantes da pesquisa foram escolhidas de forma aleatria, tendo o

    cuidado de que fossem cinco professoras de escolas diferentes, sendo duas de

    escola municipal e trs de escolas estaduais. As professoras que trabalham no

    municpio sero identificadas como P1 e P3. A P1 trabalha h 28 anos no

    Magistrio, tem 46 anos, formada em Pedagogia e ps graduada em

    Psicopedagogia, atualmente tm uma turma de 27 alunos do 3ano. A P3 atua no

    Magistrio h14 anos, tem 35 anos de idade, sua formao curso normal e curso

    Superior em Histria, trabalha com uma turma de 30 alunos do 4ano.

    As trs professoras que trabalham em escolas Estaduais sero chamadas de

    P2, P4 e P5. A P2, que atua no 1ano com uma turma de 26 alunos, tem 32 anos de

    idade e 9 anos de magistrio. Atualmente est cursando Pedagogia distncia. A

    P4 formada em Pedagogia e Orientao Educacional, atua no magistrio h 24

    anos, sua idade 44 anos, trabalha com 25 alunos do 5ano. A P5 tem 34 anos de

    idade e 15 de magistrio, formada em Pedagogia e trabalha com uma turma de 27

    alunos, do 2ano. Todas as entrevistadas foram muito atenciosas e aceitaram

    gentilmente o convite para colaborar no trabalho de pesquisa.

    3.4 COLETA DE DADOS

    A coleta de dados foi realizada da seguinte forma: no primeiro momento foi

    realizado o contato com a direo da escola, com a solicitao de realizao do

    trabalho, em seguida uma conversa com cada professora e agendamento da

    entrevista. Aps essas etapas aconteceram as entrevistas semi-estruturadas e

    observaes registradas num dirio de campo.

    3.4.1 Entrevistas Semi-estruturadas

    A entrevista semi-estruturada uma tcnica utilizada para, no primeiro

  • 31

    momento, captar dados de uma forma imediata e direta para o encaminhamento do

    problema e da pesquisa. Ldke (1986, p.34) caracteriza o valor da entrevista frente

    s outras tcnicas, A grande vantagem da entrevista sobre outras tcnicas que

    ela permite a captao imediata e corrente da informao desejada.

    Aps o contato com a escola, foi feito o agendamento com as entrevistadas, em

    horrios disponibilizados pelas mesmas, no espao da escola. As entrevistas tiveram a

    durao de, aproximadamente, 55 minutos cada uma. As entrevistas foram gravadas

    com o consentimento das entrevistadas, foram transcritas, para serem utilizadas na

    pesquisa. Foi assegurado s participantes que aps a transcrio das entrevistas

    seriam destrudas as informaes nelas contidas. Segundo Ldke (1986, p. 37):

    importante que o entrevistador esteja bem informado sobre os objetivos da entrevista e de que as informaes fornecidas sero utilizadas exclusivamente para fins da pesquisa, respeitando-se sempre o sigilo em relao aos informantes. preciso que ele concorde, a partir dessa confiana em responder as questes, sabendo, portanto que algumas notas tm de ser tomadas e at aceitando um ritmo com pausas destinadas a isso.

    O transcurso da entrevista foi agradvel, num clima de abertura e confiana

    da parte do entrevistado, sentindo-se seguro em suas respostas.

    3.4.2 Observao direta

    Ao realizar as observaes possvel constatar dados importantes abordados

    na entrevista, bem como dados novos que se fazem de valia para o decorrer da

    pesquisa. Com a observao direta em sala de aula, o pesquisador entra em contato

    direto com o fenmeno da pesquisa, gerando muitas vantagens. Ldke (1986, p.26),

    ressalta que: Em primeiro lugar, a experincia direta , sem dvida, a melhor tese

    de verificao da ocorrncia de um determinado fenmeno.

    Neste sentido, foram realizadas 10 observaes diretas, com 1hora de

    durao na sala de cada educadora. As observaes foram realizadas em

    momentos diferentes sem agendamento anterior. Procurou-se registrar detalhes que

    so relevantes para o desenvolvimento da pesquisa que sero encontradas no corpo

    do texto registradas como notas de campo.

    3.5 ANLISE DE DADOS

  • 32

    Foram utilizadas as leituras dos tericos que se tornam relevantes para a

    pesquisa, como Ldke (apud PATTON, 1986, p.42);

    [...] a anlise dos dados qualitativos um processo criativo que exige grande rigor intelectual e muita dedicao. No existe uma forma melhor ou mais correta. O que existe sinterizao e coerncia do esquema escolhido com o que pretende o estudo.

    3.5.1 Processo de anlise

    Aps a realizao das entrevistas e as observaes foi efetuada a anlise de

    contedos, suposta por Bardin (1977).

    1 Leitura e releitura das entrevistas para a impregnao do significado dos

    contedos;

    2 Anlise vertical, atravs da leitura de todos os itens de cada entrevistado,

    assinalando as idias chaves;

    3 Anlise horizontal, trabalhando cada questo com todos os entrevistados;

    4 Sntese das idias-chave

    5 Sntese com explorao intensa do material a fim de esclarecer e definir

    as categorias.

    3.5.2 Categorias emergentes

    Aps a anlise dos dados, surgiram duas categorias:

    Conhecimento emprico, ausncia de orientao e fragilidade nos objetivos:

    fatores que interferem no trabalho do Ensino Religioso no Ensino Fundamental I.

    Qualificar relaes, sensibilizar para a espiritualidade e valorizar a orao:

    marcas do trabalho pedaggico com o Ensino Religioso nos Anos Iniciais.

  • 33

    4 RESULTADOS

    4.1 CONHECIMENTO EMPRICO, AUSNCIA DE ORIENTAO E

    FRAGILIDADE NOS OBJETIVOS: FATORES QUE INTERFEREM NO TRABALHO

    DO ENSINO RELIGIOSO NO ENSINO FUNDAMENTAL I

    Essa categoria trata da compreenso que o professor tem em relao ao

    Ensino Religioso, da falta de conhecimentos tericos, de orientao e de uma linha

    sistemtica de ensino, deixando inconsistentes os objetivos que quer alcanar.

    Na pesquisa realizada ficou bem evidente a dificuldade dos professores

    trabalharem este contedo de ensino, tendo em vista que 90% das participantes

    tiveram seu perodo de formao acadmica h mais de 15 anos e nem todos

    tiveram a oportunidade de aprofundar este conhecimento.

    Conforme Freire (1991), o Ensino Religioso deve estar com um olhar voltado

    para a prtica pedaggica dialgica, onde exige uma relao crtica e construtivista

    entre educadores e educandos com seus respectivos universos culturais. Sabendo

    que ensinar religio no apenas transmitir conhecimentos, mas o que foi

    apreendido ter seu respaldo na sociedade com responsabilidade. Para isto exige

    do docente, conhecimentos nesta rea da educao.

    O docente que atua no Ensino Fundamental I tem assegurado as didticas no

    Curso Normal Mdio que nem sempre so suficientes para a sua prtica

    pedaggica. Sabendo das mudanas realizadas nos ltimos anos em relao ao

    ensino e mais especificamente na rea do Ensino Religioso fica por vezes a desejar

    o trabalho docente por falta de formao continuada.

    Frente a esta realidade, a professora P1 relata as dificuldades em relao s

    mudanas bem como a falta de formao: [...] Nos meus anos de magistrio eu vi

    que a cada ano foi se dando um enfoque diferente ao Ensino Religioso, eu mais ou

    menos fui acompanhando, mas ressalta que muito falho para ns, por parte dos

    rgos competentes, no tem uma pessoa especializada que trabalhe conosco na

    parte dos contedos, sempre pra ns relacionar com os outros contedos que ns

    estamos trabalhando, e cada um trabalha a sua maneira.

    As escolas pblicas, onde foi realizada a pesquisa, no oferecem para os

    professores uma linha de trabalho para o desenvolvimento do Ensino Religioso em

    suas aulas, ciente de que no uma disciplina especfica no Ensino Fundamental I,

  • 34

    mas que faz parte do currculo. Frente a esta afirmao, alguns professores atribuem

    importncia ao Ensino Religioso para mediar alguns momentos conflitantes.

    Algumas vezes o Ensino Religioso fica a merc das necessidades ocasionais

    em sala de aula, como aconteceu na observao da P1: A turma ao voltar do recreio

    estava muito agitada, porque houve um desentendimento entre dois alunos na hora do

    recreio, onde um chutou a perna do outro e acabaram batendo-se. A professora

    aproveitou a ocasio para conversar com a turma sobre o que aconteceu no recreio,

    Fez toda a turma refletir, a partir da inteno com que se fazem as coisas. Seguiu

    pedindo que os dois alunos pedissem desculpa um ao outro. (nota de campo)

    Segundo o relato da professora, este um caso que ocorreu na turma e ela

    atribuiu este tempo de conversa e reflexo com os alunos como sendo Ensino

    Religioso. Assim h falta de esclarecimento quanto ao contedo de Ensino

    Religioso, embora, os fatos que acontecem na turma devam ser refletidos com a

    mesma buscando solues em conjunto. Por outro lado, ressalta a religio como

    sendo um recurso para resolver problemas quando eles surgem, contudo, o

    objetivo do Ensino Religioso na educao escolar bem mais amplo.

    Considerando-se as situaes acima, compreende-se a dimenso, carecida

    de compreenso por parte dos docentes, em relao ao Ensino Religioso e Cortela

    (2007, p.25) ressalta que:

    A construo da competncia do docente de Ensino Religioso, por ser rea profundamente delicada e usualmente polmica, carece de maior substncia e necessita ser feita de forma embasada, consistente e metdica, com os recursos e reflexes da Didtica e da Pedagogia sobre os processos educativos.

    Por vezes, percebe-se que a falta de conhecimento terico, de uma proposta

    de trabalho da escola ou de se ter como uma das prioridades o desenvolvimento dos

    contedos, faz o docente assumir uma postura frente a um contedo para o qual ele

    no est preparado, ignorando-o como se no fosse necessrio. Em outros casos, o

    docente trabalha a partir do seu conhecimento pessoal, de sua experincia de vida.

    Isto o que a P4 confirma: [...] meu trabalho fundamentado na experincia que

    tenho como catequista na minha vivencia religiosa e no meu conhecimento bblico.

    Nesse sentido, prudente afirmar que, mesmo que o docente no tenha uma

    formao mais especfica na rea do Ensino Religioso, ele poder vir a desenvolver

    um trabalho satisfatrio, mesmo com lacunas, com seus alunos. Assim, se o docente

    tiver um bom embasamento pessoal de vida religiosa (independente do seu credo),

  • 35

    atitudes conscienciosas, e experincias significativas que levem a reflexes

    pessoais, ser uma pessoa mais ciente do trabalho que desenvolve.

    Conforme Silva (2004), o Ensino Religioso nas escolas pblicas, deve

    respeitar profundamente a f dos alunos, seja ela qual for, desde a pertena

    religiosa h alguma forma de atesmo. As aulas devem ajudar os alunos a

    amadurecerem, sem contar necessariamente, com a f como ponto de partida.

    necessrio que o Ensino Religioso como disciplina, proporcione aos alunos

    experincias, informaes e reflexes que os ajudem a cultivar uma atitude dinmica

    de abertura ao sentido mais profundo de sua existncia, de sua vida em comunidade

    e de seu projeto de vida.

    Por isso, a importncia do docente estar bem esclarecido quanto a esta

    disciplina, para que ele venha auxiliar e colaborar na formao do ser do aluno.

    E, para isto, necessrio ter um conhecimento geral das diversas religies para

    poder esclarecer aos alunos o que difere umas das outras (crists e no crists

    pentecostais...) e o que tm em comum, sempre com o cuidado de no fazer

    proselitismo.

    Pela falta de formao, conhecimentos e informaes a P2 revelou um fato

    que aconteceu na sua turma: A professora trabalhou os smbolos da pscoa com a

    turma, mas um dos alunos que pertence religio judaica teria dito a professora,

    que a sua me lhe pediu que no fizesse este tipo de atividade por no fazer parte

    de sua crena. A professora respeitou e no exigiu do aluno estas atividades. Mas

    os colegas ficaram inquietos e queriam saber por que o colega no fazia a mesma

    atividade que eles. (nota de campo)

    Para solucionar o problema na turma, a professora deveria ter explicado como

    procede a religio em que o aluno e sua famlia fazem parte, ter apresentado seus

    costumes, ritos, uma explicao que fosse compreensvel idade das crianas, ter

    falado sobre quais as religies que fazem parte do cristianismo que celebram a

    pscoa e demais datas reservadas aos cristos, com suas simbologias, cultos e

    manifestaes de f.

    Para contribuir, argumentando este fato, Passos (2007, p.65) ressalta que;

    [...] o conhecimento da religio faz parte da educao geral e contribui para a formao completa do cidado, devendo assim, estar sob responsabilidade dos sistemas de ensino e submetida s mesmas exigncias das demais reas do saber que compem os currculos escolares.

  • 36

    Esta uma proposta da Cincia da Religio, pois sabido que educar algum

    transmitir informaes e construir conhecimentos e valores que venham contribuir

    na vida, no ser integral do educando. Mas, enquanto no se proporcionar este tipo

    de formao ao docente, a deficincia nesta disciplina vai se prorrogando e a perda

    exclusiva do educando, j que este um assunto que no bem aceito por muitos

    educadores que acabam ignorando-o por completo em suas aulas.

    importante ressaltar que cada professor busca alcanar seus objetivos com

    Ensino Religioso, conforme a necessidade da sua turma e que, s vezes, parece no

    estar bem esclarecido aonde quer chegar, pois a P1 tem como objetivo: De imediato

    o meu objetivo o melhor relacionamento para a sala de aula, o respeito, fazendo que

    gostem dos colegas, que sejam pessoas bem melhores, que no sejam malvados e

    egostas. E em longo prazo a professora espera [...] que sejam pessoas melhores no

    amanh, dignas e conscientes e que saibam dar valor ao que necessrio.

    A professora trabalha o Ensino Religioso com objetivos a curto e longo prazo,

    contudo preciso ter em mente que para se alcanar algo mister planejar os

    contedos de ensino hoje, tendo em vista onde se quer chegar. Mas, para tanto, a

    escola deveria comprometer-se mais em auxiliar os professores com

    esclarecimentos dos contedos que devem ser trabalhados neste 1 ciclo.

    De acordo com o Referencial Curricular para o Ensino Religioso na Educao

    Bsica do Sistema Estadual de Ensino (2006, p.9), o objetivo do Ensino Religioso

    para os Anos Iniciais :

    Valorizar a vida como criao do transcendente, reconhecendo nossa responsabilidade pela preservao; Conhecer a sua prpria cultura, respeitando os valores das diversas tradies religiosas, possibilitando convivncia, o respeito, a tolerncia e a solidariedade com o diferente; Conhecer os textos sagrados, orais e escritos, das diversas manifestaes religiosas nas diferentes culturas.

    Percebe-se que os objetivos so bem mais amplos e que neste perodo a

    criana necessita fazer esta experincia e fortalecer a idia do Transcendente,

    independente de religio. Esta oportunidade que a escola oferece ao educando

    certamente o ajudar no estabelecimento da conscincia moral, na internalizao

    de valores e num modo mais consciencioso de resolver as coisas que acontecem

    a sua volta.

    De acordo com a prtica diria da P3, percebe-se que h uma sintonia e um

    bom acolhimento por parte da turma no momento da orao inicial: Ao chegarem

  • 37

    sala de aula, a professora espera que todos se acomodem para iniciar o momento

    de orao. Ela pediu que a turma baixasse a cabea, fechasse os olhos e lembrasse

    pessoas e situaes pelas quais gostariam de rezar, em seguida motivou a turma a

    expressar em voz alta seus pedidos e desejos. Alguns alunos pediram por familiares

    doentes ou que esto viajando, por animais de estimao que fugiram, agradecendo

    escola, comida, sade...Concluindo este momento com a orao do Pai-Nosso e

    com o pensamento do dia. (nota de campo)

    A professora tem esta prtica diria com objetivo de formar pessoas para uma

    sociedade mais humana e sensvel, com um olhar mais voltado para o outro. No

    entanto este mais um desafio para os educadores de hoje, que convivem numa

    sociedade que incentiva ao individualismo e a busca de solues imediatas, contudo

    superficiais. A experincia do Transcendente necessita de uma caminhada

    experimental, alimentada diariamente com reflexes e fortalecida segundo a cren a

    de cada individuo.

    Conforme Junqueira (1995, p.24) o grande desafio dos educadores

    proporcionar ao educando a experincia do Transcendente:

    Possibilitar a cada indivduo a experincia da dimenso religiosa, o sentido radical da vida humana, para uma posterior organizao das prprias idias e do compromisso com uma das mltiplas e diversificadas formas de expresso da religiosidade humana, o grande desafio que a histria apresenta aos educadores que atuam na rea do ensino Religioso.

    Atualmente, na sociedade, bem como nas famlias, assumiram-se muitas

    responsabilidades que sobrecarregaram os indivduos distanciando da vida

    comunitria e da prtica da f. Compreende-se que vrios so os fatores que

    contribuem para estas atitudes, entre eles talvez o vazio interior faz com que a

    pessoa se sobrecarregue buscando preencher-se com coisas externas, sufocando

    as oportunidades de experincia com o Transcendente.

    Contudo a P4 relata os principais objetivos que tem ao trabalhar o Ensino

    religioso: [...] despertar o aluno para o amor a Deus como Criador e Pai, a Jesus

    Cristo como nosso Salvador e irmo e todas as pessoas que nos cercam como

    nossos irmos, filhos do mesmo Pai; melhorar a auto-estima do aluno atravs da

    sua valorizao como ser humano, criatura perfeita criada a imagem e semelhana

    de Deus; diferente dos outros seres vivos por sua dimenso espiritual; qualificar as

    relaes deles, alunos, colegas, a famlia e a comunidade em que esto inseridos.

    Esta professora trabalha o Ensino Religioso com caractersticas catequticas,

  • 38

    tendo em vista que o seu embasamento para desenvolver o trabalho em sala de

    aula est, [...] fundamentado na experincia que tenho como catequista, minha

    vivncia religiosa, meu conhecimento bblico, foi o que relatou a P4. Sendo que no

    recebe, nem da escola nem dos rgos competentes, formao ou orientao de

    como trabalhar o Ensino Religioso.

    Segundo o Referencial Curricular para o Ensino Religioso na Educao

    Bsica do Sistema Estadual de Ensino (2006), ressalta que o Ensino Religioso,

    como componente curricular, tem sua prtica didtica alicerada na preparao e

    compreenso de saber, quem o educando, o que vai ser ensinado e como

    desenvolver este assunto no cotidiano da sala de aula. Portanto, isto significa que,

    assim como as outras disciplinas, necessria organizao social das atividades,

    bem como do espao e do tempo e da definio de critrios para a seleo e uso de

    materiais e recursos.

    Frente a estas situaes, em relao formao do docente para trabalhar o

    Ensino Religioso, fica em aberto a grande questo; porque a formao no est

    sendo oferecida aos professores deste municpio, onde est o impasse? Enquanto

    no houver interesse e organizao por parte dos rgos responsveis e dos

    professores, continuar esta concepo de ensino por tempo indeterminado.

    Em relao a este fato, importante que se reflita com mais afinco, pois

    estamos passando por um perodo de muitas mudanas e o aluno que est sobre a

    responsabilidade do docente precisa de esclarecimentos do mundo que o rodeia.

    Para a criana/adolescente que est em fase de estruturao dos conhecimentos,

    pode causar certa confuso ao assimilar tais informaes, quando a P4 em sua aula

    explica sobre: [...] os santos da Igreja Catlica e de outros dogmas enquanto que

    nas suas Igrejas pregam ao contrario. (nota de campo)

    Faz-se necessrio transformar a sala de aula num espao de liberdade de

    pensamento e de construo do conhecimento. Lugar onde se estimule o aprender a

    pensar e no receber verdades prontas. Neste sentido, se educar para o respeito

    diversidade, dentro de um esprito de total liberdade:

    O momento histrico em que vivemos nos solicita para uma abertura com relao s culturas e religies diferentes da nossa, no s para satisfazer um interesse cognitivo e uma espontnea curiosidade, mas tambm para estabelecer comparaes e estreitar os laos, a fim de realizar, quem sabe, uma unio da humanidade alm das diferenas (BELLO, 1998, p.169).

    Sabemos que o docente precisa estar ciente desta realidade e para tanto

  • 39

    deve estar preparado e aberto para buscar e acolher outras possibilidades de

    trabalhar com as diferenas num clima de serenidade e confiana. Sendo assim, a

    motivao do professor faz toda a diferena em uma sala de aula, como relatou a

    P5: Acho que muito importante ns professores ter auto-estima, pois tem muitos

    professores que no do muita importncia na valorizao da criana como pessoa.

    Eu vou ser sincera, eu tenho uma base crist, ento assim eu to sempre procurando

    espao para valorizar o que Deus tem me dado, ento este dos passos

    importantes pra que eu ajude a valorizar meu aluno.

    D para perceber nitidamente o docente que tem uma espiritualidade, pois

    algo que transparece em todo o seu jeito de ser e no modo de fazer as coisas, e o

    que a docente falou na entrevista ficou comprovado na observao em sala de aula.

    A escola onde ela atua carente, e alguns alunos apresentam dificuldades na

    aprendizagem, mas a motivao com que ela trabalha supre estes desafios e faz

    com que cada aluno caminhe cada um em seu ritmo.

    Neste contexto, Resende (2006, p.116) ajuda a compreender a motivao do

    docente atravs de uma definio, A motivao baseia-se em dois pilares. O

    primeiro deles a necessidade. Se voc precisa, vai correr atrs e se dedicar. O

    segundo a paixo. Se voc gosta, ama o que faz, vai querer melhorar sempre.

    Talvez estas definies no estejam bem claras para o docente que no consegue

    desenvolver um trabalho de qualidade junto aos seus alunos.

    Quanto a isto, a P5 contribuiu com a experincia que faz com algumas

    colegas de trabalho: Muitos professores no tm auto-estima em acreditar em si e

    sentir-se melhor, com isto tm dificuldades de passar para os alunos esta motivao,

    pois s podemos dar aquilo que temos e acreditamos. [...] tem professores que no

    sabem dar uma boa tarde para os colegas, como vo ensinar os alunos estas boas

    maneiras bsicas? Penso que ns temos um papel importantssimo na sociedade,

    pois podemos contribuir positivamente ou negativamente.

    Portanto, fundamental que a pessoa que opta pelo magistrio v aos

    poucos se auto-avaliando e confirmando-se nesta vocao de docente, pois como

    visto, a influncia que o professor exerce na vida do aluno de muita

    responsabilidade, e conseqentemente se refletir na sociedade. Este um hbito

    que a P2 tem diariamente em sua turma: Aproveita todas as oportunidades para

    trabalhar as palavras mgicas com a turma, desde a chegada sala de aula at a

    sada, mantendo uma boa convivncia entre a turma (nota de campo).

  • 40

    De acordo com FONAPER (2009, p. 65) o 1ciclo se caracteriza pelo perodo

    da ritualizao formal em que:

    O educando introduzido no trabalho metdico, na convivncia social, na codificao e decodificao do conhecimento, na contemplao que o ajudar no estabelecimento da conscincia moral, na interiorizao de valores, na organizao do superego e no fortalecimento da idia do Transcendente que traz ou no em si.

    Recentemente as escolas pblicas brasileiras esto sendo mais desafiadas a

    acolher, conhecer e respeitar a diversidade dos sujeitos presentes no cotidiano

    escolar atravs das relaes sociais e prticas curriculares dentro da escola. Nesta

    perspectiva da formao plena do cidado, no contexto de uma sociedade cultural e

    religiosamente diversificada, na qual todas as crenas, expresses religiosas e no-

    religiosas devem ser respeitadas, que se insere o Ensino Religioso como

    componente curricular nas escolas pblicas.

    Tendo em vista a atual tendncia da sociedade, na constituio de valores,

    (consumismo, individualismo, modismo, tudo descartvel...) muitas so as

    dificuldades que a famlia, escola e comunidade de f, esto encontrando para

    educar as crianas e os adolescentes no caminho da integridade. Sentindo na

    prtica estes desafios, a P3 ressalta que trabalha o Ensino Religioso no intuito de:

    Formar cidado para uma sociedade mais humana e carismtica, preocupada com

    os outros, para que sejam sensveis e cheguem a pensar se eu estou feliz, devo

    ajudar ao meu irmo para que ele tambm esteja feliz. Relata tambm, que nem

    sempre a famlia contribui na formao de seus filhos. Tem algumas famlias que

    contrapem-se aos valores que ensino e reflito com as crianas em sala de aula.

    Com relao a este aspecto, o papel do professor fundamental, atuando

    como mediador destes grupos de vivncia do aluno. O docente tem que ajud-lo

    encontrar sentido e significado para a sua vida, mesmo em meio s contradies,

    faz-se necessrio manter postura e convico nos valores fundamentais de

    convivncia. Para contribuir neste aspecto Delors (2006, p.99) reafirma um princpio

    fundamental na educao:

    [...] a educao deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa esprito e corpo, inteligncia, sensibilidade, sentido esttico, responsabilidade pessoal, espiritualidade. Todo ser humano deve ser preparado, especialmente graas educao que recebe na juventude, para elaborar pensamentos autnomos e crticos e para formular os seus prprios juzos de valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circunstncias da vida.

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    Contudo, percebe-se que o docente, mesmo em meio s fragilidades por falta

    de orientao para trabalhar o Ensino Religioso com segurana e autonomia, ele

    procura a seu modo contribuir na formao integral do educando. Sabendo da

    responsabilidade e da interferncia que o professor tem na vida da pessoa, os

    rgos competentes teriam que pensar e proporcionar formao intelectual-

    permanente ao professor das Sries Iniciais.

    4.2 QUALIFICAR RELAES, SENSIBILIZAR PARA A ESPIRITUALID