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entre as ameaças austeras - Canal Educação · Invenção de Orfeu Um barão assinalado sem brasão, sem gume e fama cumpre apenas o seu fado: amar, louvar sua dama, dia e noite

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— entre as ameaças austeras

de mais impostos e taxas

que uns protelam e outros negam.

Casamentos impossíveis.

Calúnias. Sátiras. Essa

paixão da mediocridade

que na sombra se exaspera.

E os versos de asas douradas,

que amor trazem e amor levam ...

Anarda. Nise. Marília ...

As verdades e as quimeras.

Outras leis, outras pessoas.

Novo mundo que começa.

Nova raça. Outro destino.

Plano de melhores eras.

E os inimigos atentos,

que, de olhos sinistros, velam.

E os aleives. E as denúncias.

E as ideias.

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JORGE DE LIMA (1893-1953)

•Filho de senhores de engenhos, nasceu em União dosPalmares (Alagoas).

•Médico, político e professor de literatura.• formas clássicas e modernistas.•Obra de crítica social e clara pulsão metafísica com

matizes surrealistas.

•poesia de fundo religioso e também a “poesia negra”.•Contamina o leitor num clima de busca essencial: O passado junta-se

ao presente, memória e invenção, sonho e realidade, história e futuro,infância e ancestralidade confundem-se.

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XIV Alexandrinos (1914) - “ O acendedor de Lampiões“

Poemas (1927)

Essa Negra Fulô (1928)

Novos Poemas (1929)

O Anjo (1934)

Calunga (1935)

O Tempo e a Eternidade (1935)

Livro de Sonetos (1949)

Invenção de Orfeu (1952)

Consagrou-se com o poema: O Acendedor de lampiões.

Colaborou com Murilo Mendes em Tempo e eternidade.

Obras:

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Essa Negra Fulô

Ora, se deu que chegou

(isso já faz muito tempo)

no bangüê dum meu avô

uma negra bonitinha

chamada negra Fulô.

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!

(Era a fala da Sinhá)

- Vai forrar a minha cama,

pentear os meus cabelos,

vem ajudar a tirar

a minha roupa, Fulô!

Essa negra Fulô!

Essa negrinha Fulô

ficou logo pra mucama,

para vigiar a Sinhá

pra engomar pro Sinhô!

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

Ó Fulô! Ó Fulô!

(Era a fala da Sinhá)

vem me ajudar, ó Fulô,

vem abanar o meu corpo

que eu estou suada, Fulô!

vem coçar minha coceira,

vem me catar cafuné,

vem balançar minha rede,

vem me contar uma história,

que eu estou com sono, Fulô!

Essa negra Fulô!

“Era um dia uma princesa

que vivia num castelo

que possuía um vestido

com os peixinhos do mar.

Entrou na perna dum pato

saiu na perna dum pinto

o Rei-Sinhô me mandou

que vos contasse mais cinco."

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Invenção de Orfeu

Um barão assinaladosem brasão, sem gume e famacumpre apenas o seu fado:amar, louvar sua dama,dia e noite navegar,que é de aquém e de além-mara ilha que busca e amor que ama.

Nobre apenas de memórias,vai lembrado de seus dias,dias que são as histórias,histórias que são porfiasde passados e futuros,naufrágios e outros apuros,descobertas e alegrias.

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OBRAS:

Tempo e Eternidade (1935), com Jorge de Lima); A Poesia emPânico (1937) O Visionário (1941), As Metamorfoses (1944),Mundo Enigma (1945) Poesia Liberdade (1947)

MURILO MENDES (1901-1975)

• Mineiro de Juiz de Fora; passou muitos anos vivendona Europa. Foi professor de literatura brasileira naItália (Roma) e morreu em Portugal em 1975.

• Converteu-se ao catolicismo, mesclou em seuspoemas a ideologia cristã, a estética surrealista e apostura socialista.

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Canção do ExílioMinha terra tem macieiras da Califórniaonde canta gaturanos de Veneza.Os poetas da minha terrasão pretos que vivem em torres de ametista,os sargentos do exército são monistas, cubistas,os filósofos são polacos vendendo a prestações.A gente não pode dormircom os oradores e os pernilongos.Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.Eu morro sufocadoem terra estrangeira.Nossas flores são mais bonitasnossas frutas mais gostosasmas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdadee ouvir um sabiá com certidão de idade!

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