Entrevista com Nelson Graburn

  • Upload
    ana

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    1/28

    341Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    ENTREVISTA COM NELSON GRABURN

    Nelson Graburn concedeu a presente entrevista em Buenos Aires, Argen-tina, no dia 27 de setembro de 2007, no decorrer do perodo, julho a novembrode 2007, em que ele esteve, como professor visitante estrangeiro, com bolsa daCapes, no Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social, da Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul. Nelson Graburn foi professor da Universi-dade da Califrnia, em Berkeley, de 1964 a 2007, quando se aposentou, aos 70anos de idade. conhecido como um dos pioneiros e mais importantes estudi-osos do turismo na rea da antropologia no mundo. Seus interesses de pesquisaabarcam, alm do turismo, temas como parentesco, arte, museus, etnologia eOriente, especialmente Japo e China. Na entrevista ele narra um pouco sobresua vida pessoal e profissional e o processo pelo qual foi se interessando eagregando seus temas de pesquisa.Horizontes Antropolgicosagradece par-ticularmente a Rodrigo de Azeredo Grnewald pela conduo desta entrevista.Rodrigo de Azeredo Grnewald professor da Universidade Federal de Cam-pina Grande e fez seu estgio de ps-doutorado em 2005-2006, na Universida-

    de da Califrnia, Berkeley, sob a superviso de Nelson Graburn.

    Rodrigo Grnewald:Professor Graburn, voc gostaria de comentar algosobre sua infncia ou adolescncia que voc acha importante e que tenha influ-enciado sua futura carreira em antropologia? Onde voc nasceu e como erasua vida na Inglaterra? O que foi determinante para o seu futuro como antrop-logo?

    Nelson Graburn:Eu nasci em Londres, em 1936, de uma mulher solteiraque imediatamente me deu para uma instituio de adoo e desapareceu. Euno sabia quem era meu pai, mas soube que ele j tinha se casado com outramulher. Ento, fui colocado num orfanato onde fiquei por cerca de um ano, atque meus pais, que eram bem mais velhos, vieram adotar uma criana minhame tinha 36 anos e meu pai 56. Minha me contou que meu pai estava muitoinseguro em ter um filho, pois j tinha 56 anos e no queria ter trabalho com umbeb pequeno. Mas, quando eles chegaram l, eu sorri para ele e tentei toc-lo

    e no a minha me e ento ele disse: oh, ento talvez seja legal [risos].

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    2/28

    342 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Ento, eles me adotaram. Meus pais passaram a maior parte de sua vida adultana Malaia,1especialmente meu pai, que passou 27 anos l, trabalhando em uma

    companhia de fuso de estanho. Minha me apenas foi para l 28 anos depoisde meu pai. Ela era muito mais jovem e ficou com um tio que era um altocomissrio em Cingapura. Ento ela conheceu meu pai. Ela tinha 28 anos e ele48 quando se casaram. Eles moraram na Malaia at 1933, quando meu pai seaposentou e voltou para a Inglaterra. Ento eu nasci e fui adotado depois quemeu pai j tinha se aposentado. Mas, a maior parte da famlia dele, a irm e oirmo mais velho e um mais novo, todos passaram sua vida adulta na Malaia ouno Oriente. Isso imediatamente conectou muitos jovens britnicos com outras

    pessoas no Imprio, falando lnguas e convivendo com culturas diferentes. Airm mais velha de meu pai casou-se com um jovem que tinha vindo para aInglaterra, para Londres, para estudar direito e eles tiveram que ajudar o Imp-rio. Quando Gandhi foi para a frica do Sul, meu tio foi para Hani, que umailha da China onde estava a sede do comrcio britnico. Ento, eles foram em1896 e, em 1900, foram para Cingapura e Malaia, e convidaram todos os ir-mos para irem morar l com eles. Ento, a famlia inteira viveu na Malaia ouem Cingapura. E quando eu cheguei, muitas coisas na minha casa eram daMalaia. Meus pais falavam malaio e minha me no entendia porque eles se

    xingavam em malaio quando brigavam. Quando meu tio chegou, eles tambmfalavam em malaio. Ento, acho que eu fui um tipo de britnico/malaio, enquan-to outras pessoas britnicas como minha av ou funcionrios do governo nosabiam falar malaio e no sabiam nada sobre o lugar. Ento, eu sou fruto deuma natureza especial de diferenas culturais e, quando fui para a escola, aosoito anos, descobri outros meninos que tinham outras conexes com outroslugares no mundo. Talvez eles pensassem que fizessem parte da frica do Sulou de outro lugar no Imprio. Muitas pessoas na escola ou seus pais tinhamvivido nesses lugares, e tambm estavam num internato onde tinham aulas,ento havia uma grande conexo com diferentes partes do mundo. Eu me lem-bro, quando era garoto, de ouvir velhas histrias sobre nativos. Eu via fotos denativos nos lbuns e livros dos meus pais, e eles descreviam como os nativoseram pessoas maravilhosamente talentosas, que tinham uma esttica muito bela,

    1 Neste trecho da entrevista Graburn mantm a designao de Malaia regio, porque na pocaainda no existia a Malsia como pas.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    3/28

    343Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    que cantavam bem e tinham belas vozes, que podiam correr e trabalhar muito,etc. E na Inglaterra daquele tempo outras pessoas que tinham passado algum

    tempo fora do pas chegavam para meus pais e diziam: Oh, Cecily, que onome da minha me, o que so esses nativos na cozinha, eles so sujos. Aoque ela respondia: No, voc pode aprender a cozinhar muito bem com eles.Ou diriam, como me lembro de um homem que disse ao meu pai: Diga-me,Henry. Um chins um homem de verdade?, pois ele nunca havia sado daInglaterra, e ento pensava que um chins era uma espcie de macaco ou algodo gnero. Ento meus pais estavam sempre defendendo os nativos de todotipo de preconceito dos ingleses. O que interessante, pois sempre se ouve que

    as pessoas que governavam o Imprio eram extremamente racistas epreconceituosas, mas na Inglaterra havia, por outro lado, pessoas que nuncaforam simpticas ao Imprio e estavam misturadas com outras pessoas muitomais preconceituosas. Elas pensavam que os nativos estavam num ponto dife-rente da escala de evoluo. Ento, de algum modo, os nativos costumavamme acompanhar e com eles eu podia correr descalo, ver coisas maravilhosas,ouvir os pssaros, etc. Ento achei timo ser um nativo. Eu tambm ouviahistrias de que s vezes os nativos no se davam bem com as bebidas alco-licas, pois ficavam facilmente bbedos e coisas assim. Assim, me vi interessa-

    do no que estava acontecendo ao redor do mundo, em outras lnguas.

    Rodrigo Grnewald:E quanto ao colgio e de quando voc decidiu setornar antroplogo?

    Nelson Graburn:Bem, outra coisa que acontecia na minha escola quens ramos forados a aprender o latim e o grego. E a gente no aprendiaapenas a linguagem. Aprendamos peas de teatro e poemas, e toda a civiliza-o. Ento, lembro-me de um antroplogo dizer que existia um outro jeito de

    conhecer realmente uma civilizao. E isso foi at eu ter 14 anos. Depois eumudei para cincias naturais, de que eu realmente gostava, e fui para Cambridge,onde consegui uma bolsa de estudos. Numa das casas em que morei, um rapazdo quarto ao lado estava estudando antropologia. Ento ele me pediu para ajud-lo a preparar-se para os exames. Assim eu comecei a ler livros de antropologiae achei interessante. Eu no entendia por que eu estava estudando aquilo, masachei que deveria tentar. Depois do final de meu segundo ano, depois de passarnas provas, tive outro ano em que poderia estudar o que quisesse. Ento decidi

    estudar antropologia no terceiro ano e quis conhecer Edmund Leach. Ele me

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    4/28

    344 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    convidou para participar, gostei e fui assistir aulas e ouvi muita gente, e ele e umde seus alunos de graduao tornaram-se meus tutores. Eu lia um livro toda

    semana, escrevia ensaios e discutia com eles, etc. Ento me decidi pela antro-pologia.

    Rodrigo Grnewald:Voc tinha algum interesse especfico naquela poca?

    Nelson Graburn:Bem, difcil dizer o que so interesses conscientes ousubconscientes. Por exemplo, algumas pessoas costumavam me provocar di-zendo que eu estava interessado em parentesco e estrutura social porque eu

    tinha sido adotado e estaria procurando minha famlia perdida Eu estudeiparentesco na Ps-Graduao tanto na Universidade McGill (Canad) quantona Universidade de Chicago por muitos anos. Eu tinha um interesse especialem famlia. Mas eu no tinha um interesse especfico. Acho que me interessa-va saber sobre pessoas que viviam de um modo diferente, que faziam coisasextraordinrias ou eram caadores, falavam outras lnguas. Acho que isso umjeito de olhar para frente e provavelmente muita gente na Inglaterra sentia que,se tivesse oportunidade, era isso que gostaria de fazer. Por exemplo, meu primofez McGill comigo e, logo que terminou a graduao, estudando lnguas moder-

    nas ou algo do gnero, foi para o Brasil trabalhar para o Banco de Londres naAmrica do Sul, em Recife, Ele ficou l durante 14 anos. Agora ele mora naInglaterra e sente saudades do Brasil. Ele ainda visita o Brasil. Ento acho quemuitas pessoas na Inglaterra tm essa idia de se engajar com o restante domundo. No preciso ser antroplogo nem estar arruinado para gostar deconhecer outras pessoas e outros lugares. Ento as pessoas se engajavam emvrias misses. Muitas outras pessoas na antropologia tiveram conexes ouexperincias, como o prprio Edmund Leach. Ele veio de uma famlia que tinhanegcios na China. Ento, na infncia, ele ouviu sobre a China e, quando setornou adulto, decidiu ir para l. Ele tinha estudado matemtica e engenharia eento foi chamado de volta durante a guerra.

    Rodrigo Grnewald:Voc decidiu trabalhar enquanto estava na univer-sidade na Inglaterra?

    Nelson Graburn:No, no era preciso trabalhar. No mesmo. Era ape-nas o terceiro ano de graduao, um ano em que estudei apenas antropologia,

    nada alm de antropologia.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    5/28

    345Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Rodrigo Grnewald:E depois disso?

    Nelson Graburn:Depois disso, eu no sabia o que eu iria fazer, masnaquela poca na Inglaterra havia o Servio Militar Nacional compulsrio eeu tinha participado de treinamento militar enquanto estava na escola mdia.Foi na artilharia, quando tnhamos uma arma para praticar. Naturalmente euno tive que ir para o exrcito e me tornar um oficial, mas tive que me formarna universidade. Ento eu teria que me alistar no exrcito e ir para algum lugarno Imprio. Eu preferia estudar antropologia e estudar nativos em vez disso. Euperguntei ao Leach se eu poderia ir para a faculdade ou algo do gnero para

    me livrar do exrcito britnico e ele me disse: bem, voc precisa esperar pelasprovas do final do ano. Se voc se sair bem, eu posso arrumar um lugar comoa Austrlia ou algo do tipo para voc ir. Mas eu no consegui esperar e escre-vi para todas as faculdades ao redor do mundo me candidatando para estudarantropologia. Fui aceito na McGill University, em Montreal (1958-1960), e meuprimo, que era mais novo do que eu, tambm foi aceito l, mas na graduao,ento foi legal. A McGill me ofereceu uma bolsa que me fez escolher entre osistema de ensino e o sistema de pesquisa. Ento eu fiz algum dinheiro, assimcomo meu primo, e embarcamos no navio rumo ao Canad exatamente no

    momento em que eles estavam fazendo alistamento para o campo de treina-mento no exrcito, ao que meu pai respondeu simplesmente: Meu filho estestudando fora. Ento eu no poderia voltar para a Inglaterra at que o Servi-o Nacional terminasse, sob risco de ser considerado desertor. Tive que ficarfora da Inglaterra e, durante esse perodo, minha me morreu e eu no pudevoltar para v-la. Era 1960. Eu no voltei para a Inglaterra at 1963. Foi aprimeira vez que eu voltei desde que havia partido em 1958.

    Rodrigo Grnewald:E o seu interesse pelos inuit comeou nessa poca?

    Nelson Graburn:Comeou, sim, na McGill, quando eu estava no Canad.

    Rodrigo Grnewald:E no comeo voc se interessou por organizaosocial ou artes?

    Nelson Graburn:Foi pela estrutura do parentesco. Eu naturalmente achoreligiosidade e simbolismo muito interessantes. Talvez algumas coisas sobre

    lingstica tambm. Mas eu no tinha idias especficas quando fui para a McGill.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    6/28

    346 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Entre as oportunidades de estudar no Canad, uma possibilidade era estudar osindgenas mohawk na reserva Caughnawaga. Fui para a reserva algumas ve-

    zes e conversei com as pessoas. Outra possibilidade, que algum me sugeriu,era estudar os franco-canadenses, pois havia um professor que estudava osfranco-canadenses. Ambos os professores eram antroplogos neste departa-mento em que muitos socilogos se interessavam pelo Norte. Um deles tinhafeito alguns trabalhos no rtico e outro fez uma pesquisa sobre aculturao e ofato de o governo ter comeado a ir para o rtico para instalar servios sociais.Ento fui persuadido que era uma boa coisa a fazer e fui apresentado a umpesquisador do governo que tinha enviado vrias pessoas para fazer trabalhos

    durante o vero no Canad. Naquela poca, fiquei sabendo que a instituiomandava mais pesquisadores a campo do que qualquer outra no mundo. Maisdo que os museus, do que a Smithsonian, porque o governo queria que antrop-logos fossem para todos esses lugares, lugares indgenas e inuit, onde estavacomeando a chegar para instalar escolas, clnicas e programas de moradiapara os nativos. Para isso, eles queriam que estudos de comunidade fossemfeitos. Ento fui l num vero para estudar uma comunidade sobre a qual euescrevi meu ensaio para a McGill e, no vero seguinte, fui trabalhar numa outracomunidade, onde fiz um estudo similar para o governo que era a aplicao

    pura da antropologia. Depois, fui para a Universidade de Chicago. Eu no pre-tendia ir para os Estados Unidos, mas, quando voltei para a McGill, fiquei sa-bendo que no poderia fazer um PhD em antropologia porque eles tinham ape-nas PhD em sociologia, o que eu no compreendia. Eu achei que poderia esco-lher entre antropologia e sociologia. Ento, eu disse para o chefe de departa-mento: Eu cruzei o Atlntico por nada? Para conseguir um diploma de mestradoe no de doutorado? Alm disso, havia apenas um departamento no Canadque oferecia PhD em antropologia na poca, a Universidade de Toronto, queno era muito boa. A maioria dos professores da McGill eram americanos outinham sido formados nos Estados Unidos, pois havia pouqussimos cursos noCanad. Eles me convenceram e eu escrevi para uns dez lugares para mecandidatar. Fui classificado e consegui bolsas em Yale, Cornell e na Universi-dade de Chicago. Um dos meus professores foi para Yale, e outro para Cornell.E todos os socilogos disseram que eu deveria ir para a Universidade de Chica-go, que era a melhor. Ento eu escolhi a Universidade de Chicago (1960-1963)e tive muita sorte, no apenas porque encontrei professores como Sol Tax,Fred Eggan, Julian Pitt-Rivers, Norman McQuown, como tambm pelos jovens

    que chegaram da Universidade da Califrnia exatamente na mesma poca que

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    7/28

    347Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    eu, Clifford Geertz, David Schneider, Lloyd Fallers, formando um grupo depessoas que fez de l um lugar muito excitante. Eu tinha uma bolsa e, depois de

    um ano, comecei a trabalhar. Eu trabalhei para o projeto sobre parentesco deDavid Schneider, que era um estudo comparado de pessoas comuns em Chica-go e Londres. Raymond Firth era o responsvel pela pesquisa em Londres eDavid Schneider pela pesquisa nos Estados Unidos. Eu trabalhei para eles pordois anos e meio para fazer um dinheiro alm da bolsa. Na verdade, fui para aInglaterra na mesma poca em que Schneider foi participar de uma confern-cia entre a parte americana e a inglesa desse estudo. Raymond Firth estava le seus assistentes na pesquisa eram Anthony Forge e Jane Hubert, que se

    tornariam grandes antroplogos depois. Eu estava para conseguir o PhD, quan-do disse para Raymond: Bem, vou conseguir meu PhD em Chicago em seismeses e quais so as minhas chances de conseguir um emprego na Inglaterraou no Reino Unido? Eu gostaria de voltar para o lugar de onde eu vim. Estiveem Cambridge. E ele disse: Bem, a menos que algum morra, eu no achoque haver uma vaga nos prximos cinco anos. As coisas so lentas na Ingla-terra. Uma vaga em cinco anos. Ento, desisti de conseguir um emprego naInglaterra. Ento eu fiz um ps-doutorado na Northwest University, com umprofessor que dava aula l e na Universidade de Chicago. Eles enviaram cerca

    de 15 jovens antroplogos para diferentes partes do mundo onde j tinham sidofeitas experincias de campo para estudar a natureza das fronteiras, particular-mente em situao pr-coloniais ou no-coloniais. O que fazia as pessoas setornarem inimigas ou amigas? Tnhamos que estudar ambos os lados das fron-teiras. Eu passei um ano estudando as fronteiras entre os ndios naskapi e ooutro lado inuit, que sempre foram inimigos tradicionais. Eu estava muito inte-ressado em etnologia e em trabalhar com os inuit. Quando estava no rtico,no tinha nenhum equipamento sofisticado, telefone, etc.

    Rodrigo Grnewald:Como voc chegou a Berkeley?

    Nelson Graburn:Quando eu estava trabalhando para Schneider, no pro-jeto sobre parentesco, um dia algum me disse: Dois professores de Berkeleyesto chegando aqui. Eles gostariam de entrevistar algumas pessoas. Voc noquer fazer a entrevista? Eram David Mandelbaum e Ted McCown, ambosprofessores de Berkeley. Eles estavam voltando da reunio da AssociaoAmericana de Antropologia, provavelmente de trem. Vinham a Chicago e pen-

    saram em fazer entrevistas para ver se contratavam algum, antes de voltar

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    8/28

    348 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    para Berkeley. Bem, parece que funcionou, porque seis ou oito meses depois,recebi um telegrama com uma proposta de emprego. Fiquei muito surpreso.

    David Schneider tinha vindo de Berkeley. O pessoal em Chicago no gostavade algumas pessoas de Berkeley e referiam-se ao antiquado e autoritrio GeorgeFoster. Ento eles disseram: Bem, ns no gostamos de Berkeley, mas umlugar agradvel para se morar. Ento se voc for para l e conseguir uma boacasa nas colinas Fui para l e me dei bem com as pessoas, at com oGeorge Foster. Quando voltei do rtico em setembro de 1964, peguei minhascoisas em Chicago e fui para Berkeley e comecei a dar aulas em outubro.

    Rodrigo Grnewald:Foi na poca do movimento dos direitos civis?

    Nelson Graburn:Sim, exatamente nessa poca. Logo que eu cheguei,houve greves, boicotes, fechamento de universidades e ocupao policial.

    Rodrigo Grnewald:O livro sobre parentesco e organizao social quevoc organizou dessa poca?

    Nelson Graburn: Exatamente. Eu no acho que o parentesco tenhasido o primeiro tema. Eles sabiam que era um dos meus temas e um dos meusprofessores da poca era Eugene Halton, uma pessoa brilhante que estudavaparentesco, e propunha at uma verso matemtica do parentesco, com umaabordagem demogrfica. No era um curso de ps-graduao, mas ele tinhaestudantes brilhantes. Um artigo de uma estudante dele foi publicado naAmerican Anthropologist, mostrando que Lvi-Strauss estava errado emrelao ao parentesco. Era uma estudante chinesa. No ano seguinte, um ou-tro estudante examinou a mesma questo e apresentou no exame final. Esse

    texto tambm acabou sendo publicado pela American Anthropologist. Noera nem uma monografia de final de curso, apenas uma prova. Mas era umtrabalho brilhante. Parentesco nunca foi um assunto popular, talvez umas 25pessoas estudassem o tema. Eu dei aulas sobre parentesco por muitos anos,e eram poucos os interessados. Algumas vezes eu dei aulas para turmas decinco alunos.

    Rodrigo Grnewald:Sobre o qu voc ministrava aulas em Berkeleynessa poca?

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    9/28

    349Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Nelson Graburn: Eu dava aulas sobre a estrutura de parentesco. Eutambm escrevi um livro didtico que nunca foi publicado. Ainda o tenho. So

    uns doze ou catorze captulos, mas nunca foi publicado. Tem um captulo queeu gostaria de terminar.

    Rodrigo Grnewald:Quando e como seu interesse mudou para turismoe arte? Foi primeiro arte ou turismo?

    Nelson Graburn:Ah, as artes. Quando voltei do rtico para McGill,descobri que alguns inuit estavam fazendo pequenas esculturas que vendiam

    para qualquer branco que aparecesse quando o navio chegava. Chegavam doisou trs navios, s vezes um avio, mas isso era raro. Havia alguns brancosvivendo l, o administrador e sua esposa, empregado do governo. Havia tam-bm dois missionrios, um anglicano e outro catlico. Ento eram oito brancosna comunidade. Os inuit faziam coisas para vender e Companhia de Comrciocomprava essas coisas e as mandava para serem vendidas no Sul do Canad.Ento isso se tornou uma fonte de renda para os inuit, alm do que eles conse-guiam vendendo peles de foca. s vezes, eles faziam mais dinheiro vendendopeas de arte do que peles de foca, pois os preos das peles tinham cado. Ogoverno estava chegando ao Norte naquela poca e estava iniciando um pro-grama de subsdio ao qual todos os nativos tinham direito se tivessem um filhocom menos de seis anos. Acho que eles ganhavam oito dlares por cada crian-a com menos de seis anos. Uma famlia inuit tinha oito ou nove filhos, entoconseguiam bastante dinheiro. O governo tambm dava um socorro, algo comouma previdncia social, para as pessoas muito pobres, que precisavam caarou algo do tipo para sobreviver. Quando o clima est muito ruim, ningum podesair para caar e conseguir peles de foca para vender, e ento eles vivem do

    dinheiro do governo. Mas o governo pensou que seria melhor que eles traba-lhassem para ganhar esse dinheiro. Ento, em vez de dar-lhes o dinheiro, ogoverno lhes disse faam esculturas e passou a compr-las. Assim, o gover-no deixou de simplesmente lhes dar dinheiro e passou a fazer com eles traba-lhassem para ganhar o dinheiro. O governo tambm estava economizando im-postos, pois pagava s pessoas 20 dlares por uma escultura que talvez seriavendida por 25 ou mais. Quando voltei para Montreal, depois de cinco mesesno rtico, vi que as lojas estavam vendendo essas esculturas e contando hist-rias fantsticas sobre elas, sobre vises espirituais que os inuit nunca associa-

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    10/28

    350 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    ram a elas. Os brancos estavam inventando histrias para vender as escultu-ras. Nessas esculturas, os brancos projetavam coisas que eles pensavam sobre

    os nativos. Pensei isso detestvel. Quando fui para Berkeley, em 1965,assisti a um programa de televiso, na televiso pblica, a PBS, em que umanegociante de arte falou sobre as esculturas inuit que estava tentando vender.Ela no sabia nada sobre os inuit. Ento, liguei para a emissora e disse isso terrvel, e pedi um tempo igual para os inuit falarem. Eles concordaram, edisseram que me ligariam depois. Bem, depois eu me tornei amigo daquelamulher que era a negociadora de arte. Quando minha mulher e eu fomos parao rtico estudar especificamente a arte inuit, em 1967 e 1968, tive que deixar

    Berkeley e minha mulher ensinou um ano em uma escola primria. Tnhamosuma casa subsidiada pelo governo. No final do ano, aquela mulher, a senhoraJaffe, foi com a filha para o rtico para conseguir alguns objetos de arte. E elame pagou para acompanh-la. Eu no fiz o programa de televiso, mas elamesma aprendeu sobre a realidade dos inuit. Assim, surgiu um interesse antro-polgico sobre os inuit, seu artesanato, sua fonte de renda. Havia um professorespecialista na Nova Zelndia que falava sobre a arte maori e muitas coisasque ele dizia se aplicavam arte inuit, como os brancos a vendiam e contavamhistrias sobre ela, como a argumentao de algumas pessoas era falsa, ape-nas para vender as peas e alguns detalhes tcnicos sobre como eles esculpi-am, sobre os instrumentos que usavam tambm eram falsos. Fiquei muito insti-gado em saber que algo similar estava acontecendo no outro lado do mundo.Naquele ano, estava lecionando um seminrio de ps-graduao sobre cadeiasculturais e introduzi o tema. Alguns estudantes foram atrs de mais literaturasobre como a arte primitiva tinha se tornado comercial. Descobrimos que issoera freqente e que alguns vendiam diretamente para turistas, enquanto a mai-oria das peas inuit eram exportadas. No havia turistas, apenas alguns poucos

    brancos que exportavam as peas que depois eram vendidas para turistas. Issofoi chamado turismo indireto. Quando voc compra coisas de um povo, mas narealidade nunca o viu, ento se diz que voc compra seus espritos. Isso foipublicado, em 1977, num dos primeiros nmeros deAnnals of Tourism Research(Aspelin, 1977). E era um artigo sobre o Brasil. Ento, percebi que esse temabastante interessante estava completamente difundido, mas ningum tinha pen-sado muito sobre ele. Na verdade, em muitos lugares havia o interesse a res-peito disso por se tratar de arte comercial ou algo do gnero, arte turstica.Escrevi para todos os antroplogos do mundo que descobriram quem tinha um

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    11/28

    351Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    programa de pesquisa sobre a arte nativa, o que eles estavam fazendo na fri-ca, na Amrica do Sul, etc. Eu me propus a dialogar, caso eles quisessem me

    encontrar ou enviar-me algum trabalho, para podermos conversar sobre o queacontece com essa arte quando turistas se apropriam dela. Que mudanasocorrem, o que a populao local pensa. Entrei em contato com vrias pessoas,no apenas americanos, e nos encontramos no congresso da Associao Ame-ricana de Antropologia, em San Diego, em 1970. Ento, formamos um grupo depesquisa para examinar os trabalhos e montei um livro sobre o tema. Tambmpedi para as pessoas que no puderam ir ao congresso que escrevessem algunscaptulos, e assim reunimos muitos textos para o livro.

    Rodrigo Grnewald:Ethnic and Tourist Arts?

    Nelson Graburn:O livro foi chamado de um modo diferente no primeiromomento, algo comoArt and Social Changes, onde havia publicado um traba-lho sobre o tema. As pessoas obviamente ficaram muito interessadas, j quehaviam publicado textos nele. Os editores mudaram o ttulo do meu trabalhosem me avisar e o chamaram de Eskimos and Airport Art(Graburn, 1967).Foi a primeira vez que se ouviu o termo arte de aeroporto, em 1967. Aspessoas pensaram que eu que havia inventado o termo, mas, na verdade,foram os editores. Montamos o livro com os trabalhos preliminares e eu mandeipara vrios editores, mas ningum quis public-lo.

    Rodrigo Grnewald:A arte de aeroporto foi o tema que o levou paraos estudos sobre turismo?

    Nelson Graburn: No especificamente. Fiquei interessado na

    comercializao dessa arte. Algumas delas eram arte turstica, mas no eramtodas feitas para turistas. A maioria dos trabalhos escritos que eu reuni eramsobre vendas diretas para turistas. Alguns eram nativos. No consegui queningum publicasse meu livro e, uma vez, conversando com meu cunhado so-bre isso, decidimos cham-lo deEthnic and Tourist Art, porque o livro incluaa parte tnica do tema bem como o comrcio e o turismo. Algumas artes mo-dernas e tnicas no so feitas para vender, mas so transformadas em conesou identidade e servem a mltiplos propsitos: podem ser vendidas, mas tam-bm podem preservar tradies. Ento eu chamei o livro deEthnic and Tourist

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    12/28

    352 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Arts: Cultural Expressions from the Fourth World.2 Mas, muitas pessoasno tinham nenhuma idia a respeito do ttulo. O diretor da editora da Universi-

    dade da Califrnia me escreveu perguntando: O que uma arte turstica?Voc se refere ao que aquelas senhoras fazem quando vo para Paris e pintamNotre Dame sentadas no banco ou algo do tipo? Ento no era um tema quepessoas da academia soubessem muito a respeito, ningum lia sobre isso. Acoisa mais prxima foi o livro escrito por Julius Lips, em 1937, chamado TheSavage hits Back(Lips, 1937). Era um livro sobre como nativos na colniafazem esculturas de brancos que estavam l. E isso um tipo de resistncia, ocontra-ataque selvagem, e o que se tornou muito popular na arte turstica agora

    comprar retratos de brancos colonos com seus uniformes e chapus. Naverdade, depois de passar por 16 editores, a editora da Universidade da Califrniadecidiu public-lo e acharam que fizeram um bom negcio. Havia muitas fotosnele. Eu no tinha dinheiro suficiente para muitas fotos coloridas, mas ele foibem ilustrado.

    Rodrigo Grnewald:Como voc levou os estudos sobre turismo para aUniversidade da Califrnia? Lembro-me que certa vez em Berkeley voc mecontou da primeira vez que voc esboou um comentrio sobre as semelhan-

    as entre turismo e antropologia no campo. Como foi comear a ensinar sobreturismo e convencer as pessoas sobre o interesse dos estudos sobre turismo?

    Nelson Graburn:O que aconteceu foi que, em 1974, Valene Smith meconvidou para a primeira sesso dos encontros sobre antropologia e turismo daAssociao Americana de Antropologia, embora no estivesse estudando tu-ristas na poca. Eu estudava a arte turstica. Isso foi antes do livro ser publica-do, mas ela sabia o que eu estava fazendo. E todas as outras pessoas queforam convidadas, como o excepcional Dennison Nash, estavam escrevendosobre turismo e turistas. Eu os chamei de estudos de impacto. Ento, o queeu fiz foi ser um comentarista e tentei olhar isso sob o ponto de vista motivacionaldo turista, focado mais no turista do que no turismo. Na verdade, eu ajudei a

    2 o clssicoEthnic and Tourist Arts. Cultural Expressions from the fourth World (Graburn, 1976).Nelson organizou e escreveu a tambm clssica introduo: Introduction: The Arts of the FourthWorld (Graburn, 1976, p. 1-32).

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    13/28

    353Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    organizar o livro e escrevi a introduo e um ensaio que foi includo na nicaparte escrita pelos estudantes, chamada Estou estudando macacos, que

    feito quando se rastreia turistas. E, sem me dizer, ela no usou o ensaio no livroe cortou a maior parte do que eu tinha colocado na introduo, porque nofizemos juntos. Os alunos me ajudaram a fazer cpias de todo o material e asusamos nas aulas de turismo. Na mesma poca, talvez em novembro de 1975,eu vi cpia do livro de Dean MacCannell, chamado The Tourist(MacCannell,1976). Ele no estava venda, ainda, mas eu o vi e achei interessante. Quandocomecei a lecionar o curso sobre turismo em 1976, usei o livro de MacCannell,que era muito bem explicado e tinha um tanto de turismo ocidental, e usei esse

    livro na sua forma preliminar para organizar os estudos. As pessoas diziamesse assunto que era bobagem, perda de tempo. Elas no achavam que o turis-mo era srio ou um tema importante. Mas, deixaram, mesmo assim, eu fazerum experimento. Disseram: Ns deixaremos que voc faa isto uma vez e nschamaremos um nmero regular. Ento, dei uma aula para cerca de 170 estu-dantes. Esperava uns 40. Tive, ento, uma grande sala e um assistente, que eraum dos meus alunos da ps-graduao. A coisa ficou animada. Consegui quealgumas outras pessoas se interessassem e organizei minissimpsios com umespecialista de cada rea para falar sobre suas leituras. Por exemplo, sobre as

    montanhas peruanas, convidei John Rowe e Pat.3Rowe, claro, o mais famo-so antroplogo e arquelogo desse assunto e Pat estudava os ndios da rea.Contei tambm com a participao de Ochoa,4que tinha sido antroplogo daUniversidade de Cuzco e estuda turismo desde ento. Eles eram especialistassobre o desenvolvimento do turismo em Cuzco, onde estive com Kathy5anteri-ormente. Num outro painel, participaram dois estudantes e um visitante noDepartamento de Antropologia de Berkeley, da Tailndia. Eles eram especia-listas em turismo na Tailndia, que comeava a se tornar popular entre os turis-tas. Eu e Kathy visitamos o pas em 1974 e sabamos sobre ele. Ento, pudemostrar minhas fotos e filmes, que os alunos viam e depois debatiam. Isso setornou muito excitante. No me lembro quais eram, talvez dois ou trs dessestrabalhos, eu tive pessoas da rea respondendo questes e debatendo sobre o

    3 Patrcia Lyons, esposa de Rowe.4 Jorge Flores Ochoa.5 Sua esposa Katherine Graburn.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    14/28

    354 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    desenvolvimento do turismo. De qualquer forma, as pessoas concordaram comas aulas regulares que eu poderia dar. Chamei MacCannell, que na poca em

    que li o seu livro ele estava na universidade (Berkeley). Acho que isso foitemporrio. Ele pediu-me que escrevesse uma carta de apresentao para eleconseguir um emprego na Universidade da Califrnia, em Davis. Ele conseguiuo trabalho e desde ento temos estado prximos. Eu acho que algumas vezesns temos algo em comum. Acredito que o livro de MacCannell nos levou aconsiderar o turismo antropolgico e a explorao ocidental como um todo e aquestionar as coisas que viriam.

    Rodrigo Grnewald:E a respeito desses 33 anos lecionando e atuandoem arte turstica, turismo e estudo de arte em Berkeley e outros lugares domundo?

    Nelson Graburn:Na verdade, tive muita sorte. O editor da revista daUnesco, a revistaInternacional Social, ouviu falar do meu ensaio sobre artestursticas e tnicas antes de o livro ser publicado porque eu tinha escrito outroartigo em algum outro lugar. Ele pediu-me outro artigo, que foi publicado narevista da Unesco em quatro lnguas, acho que em ingls, francs, alemo e

    espanhol. Ento, alguns anos mais tarde, ele me escreveu de volta e disse:Voc tem um outro artigo sobre aquele assunto? Estava muito bom. Poderiame dizer o que est acontecendo agora que voc est estudando essas artes?E eu escrevi: Na verdade, eu apenas comecei a ensinar turismo e nunca tinhafeito isto antes. Gostaria de saber sobre isto? E ele disse: Oh, meu Deus. Eununca soube que voc estava ensinando turismo. Ento, escrevi um artigopara eles sobre o ensino de antropologia e turismo, sobre como eu comecei ocurso, que tipo de estudantes o procuravam, que livros eu usei. Na verdade,tive que explicar sobre o sistema universitrio americano porque sabia quemuitas pessoas no o conhecem. Esse artigo foi publicado na revista, em 1979,em cinco lnguas. Adicionei outras, talvez russo. Desde ento, encontro pesso-as que me dizem: Obrigado por aquele artigo. Fui capaz de mostrar na minhauniversidade e dizer: isso srio, ensinar sobre turismo. Vamos estudar turismotambm. Ouvi de pessoas da Amrica Latina, da ndia, de todos os lugares.Foi muito bom e ajudou a criar conscincia de sobre algo que estava apenascomeando. Havia o livro do MacCannell e da Valene Smith, ambos publicadosem ingls. Mas esses artigos de peridicos esto em todos os lugares, poderiam

    ser muito bem distribudos, no temos que compr-los. Eles se espalham. O

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    15/28

    355Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    estudo de arte turstica e tnica e o estudo do turismo ainda esto muito presosao mundo anglo-saxo, muito dominado por um certo grupo de anglfilos que

    tentam fazer algo a respeito. Meus livros esto no Japo. Tudo aconteceu aomesmo tempo. Fui para l em 1974. Tive um ano sabtico e em dois mesesviajei para a sia com minha mulher, minhas duas filhas e minha sogra. Fomosao Japo por um ms e ficamos no campo, na casa da famlia da minha sogra.Ficamos em Tquio com amigos por uma semana e fomos ao Sudeste da sia,para Hong Kong, Malsia, Cingapura e Bancoc. Por isso, eu conhecia Bancoc.Estive l como turista em 1974. Isso me exps a alguns desses estudos compa-rativos e voltei ao Japo em 1978/79. Tive um semestre livre e fui trabalhar no

    Museu Nacional de Tecnologia, que tinha acabado de ser inaugurado, estavabem vazio naquela poca. Me interessei pelo turismo japons, que era nico,com modelos antigos de turismo, muito abundante e bem organizado. Quandovoltei aos Estados Unidos, no consegui encontrar ningum que tivesse escritosobre turismo japons. Todo mundo escrevia sobre protestantes e budistas etodas essas coisas. Ningum escrevia sobre turismo. Ento, escrevi um livrochamado To Pray, Pay and Play: the Cultural Structure of JapaneseDomestic Tourism (Graburn, 1983) e no consegui public-lo nos EstadosUnidos. As pessoas diziam: turismo?! e achavam que 80 pginas eram de-

    mais. Alguns jornalistas diziam: cortamos umas 20 pginas e publicamos.Algumas editoras diziam: transformaremos em 20 pginas e publicaremos.Oitenta pginas um tamanho muito estranho, mas no sei se poderia escrevermais. Por sorte, eu estive em contato com um homem do Centre des Hautestudes Touristiques, em Aix-en-Provence, uma espcie de organizao de es-tudo de turismo patrocinada pela indstria francesa de turismo. E ele tinha umaeditora grande e publicava muito. Ele tinha publicado um artigo sobre museu eturismo. Na verdade, havia conseguido uma pessoa para traduzir para o fran-cs, mas ele disse: Vou public-lo do jeito que est, sem traduzi-lo para ofrancs. Ento, ele publicou o artigo, que saiu em 1983. Estive l em 1979 e foipublicado em 1983. Muitas pessoas no mundo usaram esse artigo original sobrea antropologia do turismo japons e turismo domstico, enquanto outras queescreveram sobre o Japo moderno e contemporneo usaram o livro. Claro, foiimpresso h muito tempo, mas ainda est nas bibliotecas. Eu tenho observado oturismo japons ao longo dos ltimos 13 anos, retornando com freqncia paral. E isso expandiu meu interesse tambm para a China e o turismo domsticochins. Estive na China muitas vezes nos ltimos 11 anos e eles so muito

    prximos dos japoneses, mais do que de qualquer outro povo do mundo. Eles

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    16/28

    356 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    tm muito em comum e se vistam mutuamente. Assim o Japo o lugar favo-rito dos turistas coreanos, o lugar favorito para o turista japons agora a

    China. Costumava ser os Estados Unidos, mas a agora a China, por causa daabertura do pas ao turismo. Eles formam um grupo que engloba 75% dosturistas japoneses e chineses e os outros 25% vo para o resto do mundo. Oschineses esto investindo no turismo domstico porque algo realmente antigoe de que todo mundo participa; apenas poucas pessoas podem viajar para oexterior. E isso tambm interessa as relaes internacionais de cultura. Umacoisa que aconteceu nos ltimos dez anos foi que o turismo seguiu os filmes eos dramas televisivos. Quando a Coria fez um programa televisivo chamado

    The Winter Sonata, uma histria de amor muito triste, as japonesas amaram. Eelas quiseram ir aos lugares onde o filme foi rodado. Eles puseram esttuas decenas dos amantes se beijando ou dizendo adeus. Parecia ter sido criado umcrculo ao redor dessa parte da Coria para visitar os lugares onde o filme foifeito. E eles pagavam para ir a estes lugares. Surpreendente! Por causa dessesucesso, todas as empresas daquela regio perceberam que fazer filmes era aprincipal maneira de conseguir novos turistas. At as cidades japonesas paga-vam as companhias coreanas para fazer filmes em suas cidades. Uma coisalouca. Houve parcerias entre Hong Kong e Coria e entre China e Coria para

    que as pessoas pudessem visitar esses lugares dos filmes. As pessoas vo aocinema e querem ver esses lugares. Isto est acontecendo ao redor do mundo,e isso interessa muito s relaes de turismo internacional.

    Rodrigo Grnewald:E o seu trabalho com museus? Voc est interes-sado em museus e em curadoria?

    Nelson Graburn:Desde 1970 tenho sido curador do Museu Hearst deAntropologia. A senhora Hearst, que era uma mulher extremamente lcida,apoiava o Departamento de Antropologia de Berkeley. Ela patrocinou expedi-es de arqueologia e comprou colees enormes no mundo todo e as colocouem Berkeley. Ento, eu me tornei o curador e as pessoas comearam a conhe-cer meu trabalho no museu. Um dia, vieram at mim e disseram que queriamorganizar uma exposio sobre as mudanas da arte primitiva ou mundo tribal.Organizamos uma exposio, com um pequeno catlogo, sobre tradies emudanas, o que talvez tenha sido a primeira exposio no mundo que reuniuilustraes sobre as mudanas das colees de museus, como as coisas eram

    aculturadas Por exemplo, uma das coisas que fizemos foi reunir uma srie

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    17/28

    357Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    de cuias de mate, vinda talvez da Argentina, para mostrar o que tinha mudadonaquela poca. Isso comercial, mas tnico. Lembro-me que fotografei as

    cuias e Larry Dawson, um dos trs co-autores que conhecia o museu do direitoe do avesso, tinha uma mente gil para conectar as coisas. E mostramos mu-danas nas tradies artsticas de coisas da arqueologia, histria, cruzando oAtlntico. Pudemos localizar coisas como os rabes que pegavam desenhosdos persas e levavam para a frica, para a Espanha e Portugal. Mais tarde, osespanhis pegaram esses desenhos e levaram para o Mxico e Amrica doSul. Os mexicanos pegaram esses desenhos e levaram para o Sudeste dosEstados Unidos, onde as tribos hopi e zuni pegaram e colocaram esses dese-

    nhos em suas cermicas. Voc pode olhar e dizer: Isto uma cermica hopi.Sim, mas, na verdade, esses desenhos foram localizados com os persas. Claro,as pessoas dizem: Oh, que maravilhoso! Eles podem retratar animais e pssa-ros. Claro que podem, eles copiaram dos persas o modo de fazer isso. Antesda aculturao pelos espanhis, esses ndios nunca fizeram nenhum desenhoem cermica. Isso mudou entre 1860 a 1880, sob a influncia dos espanhis.De qualquer forma, essa foi uma pequena exposio e um pequeno catlogo.Infelizmente, Larry no tinha bom gosto. Ele imprimiu em papel verde comcapas azuis. E era difcil de ler. Foi chamado Traditions in Transition(Graburn;

    Dawson; Frederickson, 1974). Era muito difcil ler o ttulo na capa, o texto nopapel verde. Mesmo assim foi um grande esforo. Isso foi antes da arte turs-tica. Foi baseado no trabalho preliminar que eu tinha feito. Alguns dos artigoseram da publicao da Unesco. Ento, eu me tornei o curador e desde ento otrabalho mais ativo no museu tem sido organizar as exposies. Estive envolvi-do em uma srie de exposies. Tivemos a maior visitao na exposio dearte nativa, inuit. O governo canadense fez publicidade. Mais tarde, fiz umaexposio na Companhia Comercial Alasca com a coleo que a senhora Hearstnos deu sobre os inuit e os ndios do Alasca. Mais tarde, eu organizei umaexposio com meus alunos de ps-graduao. Era principalmente sobre opovo inuit do Canad e arte nativa canadense. Contamos com uma mulher inuitque nos ajudou na abertura, assistiu s aulas e fez um filme com os estudantessobre as aulas e a exposio. Ela queria levar o filme para o rtico e mostrarao seu povo o que ns fazamos com aquelas coisas, por que as colecionva-mos e colocvamos em museus, para mostrar o quanto os alunos so entusias-mados com aquela cultura. Fizemos o filme e os alunos aprenderam a fazer umfilme autobiogrfico, que depois foi editado, sonorizado e exibido na televiso.

    No faz muito tempo, organizei outra exposio com minha prpria pesquisa.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    18/28

    358 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Usei peas que colecionei ao longo dos anos e uma poro de coisas que useipara pensar sobre as transformaes em diferentes pases, para pensar sobre

    expresses pessoais, mudanas tcnicas. Em vez de pesquisa sobre arte,chamamos de a arte da pesquisa. A arte da pesquisa de Nelson Graburn.No havia um catlogo, mas um artigo escrito por Roz Tunis, que era um curadorfreelancercom quem trabalhei bastante. Foi publicado naInuit Art Quarterly[Revista Internacional de Arte Inuit] (Tunis, 2001). Ao lado disso, havia umoutro artigo que tinha sido publicado em uma revista pouco conhecida, onde eucoloquei as melhores fotos. Essa foi a ltima que organizei. Uma outra exposi-o que estava planejando fazer era uma exposio itinerante sobre arte nativa

    e Alasca. No apenas com a coleo da Companhia Comercial Alasca, masreunindo outras colees. Havamos planejado doaes e estvamos prontospara iniciar quando nosso diretor se demitiu e no conseguimos encontrar umsubstituto. Na verdade, era eu quem estava organizando e planejando a exposi-o, com alguns nativos do Alasca que estavam trabalhando conosco. Quera-mos ser co-autores. Ainda estamos pensando sobre isso.

    Rodrigo Grnewald:Se voc pudesse dividir sua produo acadmicaem blocos, como faria? Blocos como arte turstica e tnica, museus e or-

    ganizao social? Como voc organizaria esses blocos?

    Nelson Graburn:Isso muito interessante. Diria que, ao contrrio dealgumas pessoas, eu os disponho paralelamente. Ento, em vez de terem umbloco aqui, outro ali e outro l, a maioria das pessoas constroem tudo em um sbloco, o que mais complicado e confuso. Eu parei de lecionar e de pesquisarsobre parentesco. Entretanto, a literatura sobre parentesco ajuda a analisaroutro fenmeno, como a natureza da herana, porque todos ns baseamos aidentidade em pertences. Eu usei os modelos de parentesco para a anlise daherana e como as pessoas utilizam o turismo para explicar a herana para afamlia. Essas duas coisas seguem juntas. E por isso que, quando ensino, euno chamo de turismo e arte. Eu chamo turismo e arte moderna, porque osmuseus esto envolvidos nessa identidade e eles mostram expresses dessaidentidade que tem que ser mantida, inclusive por meio de uma srie de coisasque as pessoas compram e levam para casa. Essas coisas, na verdade, soinseparveis. No sei como isso se chama, mas essa espcie de poltica deidentidade est associada aos museus, aos programas tursticos, classe. To-

    das essas coisas esto juntas, e quando eu ensino, mantenho tudo articulado.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    19/28

    359Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    O Japo um subtema do que fao no turismo. Recentemente passei a meinteressar pelo turismo japons e pelos estrangeiros no Japo. Eles tm diver-

    sas vilas estrangeiras e muitos estrangeiros vivendo no Japo. E o pas estmudando. Havia alguns estudantes que queriam pesquisar esse tema e eu deci-di organizar uma conferncia que chamei de Multiculturalismo no Japo. Omeu trabalho foi sobre multiculturalismo em museus e turismo no Japo, masns tivemos outros trabalhos sobre outros aspectos do multiculturalismo no Ja-po, como mulheres imigrantes casando com japoneses, comunidades de fron-teira. Trabalhei duro na organizao de um livro que resultou dessa confernciae que est para ser publicado. Minha pesquisa sobre o turismo no Japo me

    levou para outros temas. A prpria antropologia tem mudado bastante desde1960. O tipo de coisa que eu fao agora no existia na antropologia nos anos1960. Talvez tenha comeado nos anos 1970. E todo mundo tem mudado naantropologia tambm. Ento, no inventei as coisas sozinho. Todos ns estamosnos movendo, observando mais os simbolismos, as identidades, as polticas deexpresso artstica, em vez de fazer coisas mais puristas, como costumvamosfazer, como pensvamos que poderamos fazer.

    Rodrigo Grnewald:Liminaridade parece ser um conceito importante

    para voc, porque desde o seu artigo sobre o Santo Graal (Graburn, 1989) voctem usado esse conceito. Todo o seu trabalho perpassado pela liminaridade?

    Nelson Graburn:Eu acho que uma parte fundamental da vida humana nos desafiar a encenar outros aspectos liminares de outros palcos na prpriavida ou na vida da comunidade ou outro crculo. A liminaridade , para mim, umfenmeno geral que poderia ser utilizado de diversas maneiras, mas a questoda liminaridade marcar o que diferente. um lugar onde as coisas aconte-cem. s vezes, um ritual reverso, outras um comportamento especial oudiferentes hbitos alimentares. Ento, a liminaridade muito especial e umlugar excitante da vida humana. Penso que isso universal nos humanos, por-que de certa forma concordo com Dennison Nash, que diz que a harmoniaenvolvida no turismo ainda encontrada na maioria das sociedades. Impressi-onou-me o trabalho de Maurice Bloch sobre a natureza selvagem do significa-do do poder da arte, que foi publicado em 1974 (Bloch, 1974). A arte o aspec-to liminar de outros comportamentos. O mundo visual do artista o aspectoliminar dessa parte em que voc encontra experimentos excitantes, coisas dife-

    rentes, como janelas atravs do ordinrio, do comum. E fala sobre outros movi-

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    20/28

    360 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    mentos. Ele no os chama de liminaridade, mas fala sobre esses lugares espe-ciais e simblicos. E eles tm um tipo de estrutura e fornecem diferentes sen-

    saes para as pessoas que os experimentam.

    Rodrigo Grnewald:Desde o incio de seus estudos sobre os turistas,quais paradigmas voc destacaria? Quais paradigmas voc acha importante?

    Nelson Graburn:Eu acredito que o paradigma da liminaridade seja bsi-co. Ns aplicamos a qualquer fenmeno a qualquer hora. Tambm gosto dealguns trabalhos exploratrios e os estudos sobre turismo e significado o que

    o turismo faz pelas pessoas e sua relao com identidade de classe. Estou maisinteressado nas pessoas envolvidas do que na rea do turismo como tal. Embo-ra, hoje, eu esteja muito interessado na interao entre o turista e a viagem,mas acho que isso leva a uma perspectiva dualista. Comeamos a falar sobre oimpacto do turismo que era como: temos comunidades diferentes e o turismoas transforma e homogeiniza. O turismo sempre a ao e a comunidade areao. Esta aqui e o outro l. Bem, vimos nos estudos de Maurice Bloch quea coisa no to simples assim. Quando o turismo chega, no uma coisa. um conjunto de vrias pessoas com diferentes interesses, vrios tipos de turis-

    tas. H as multinacionais e os fornecedores de servios que os trazem. Ento,um conjunto de gente sria com diferentes interesses move essa arena. E, sevoc vir isso por outro lado, no existe um grupo passivo. Geralmente h umconjunto de pessoas afetadas na rea alvo do turismo que tm interesses dife-rentes, alguns proprietrios de terras e prdios. Eles dizem: Bom, esta exce-lente oportunidade de negcios. Mas h outras pessoas que tm que ir emborae outras que no tm nada a fazer diretamente com o turismo, mas continuamvivendo na comunidade e sofrem as conseqncias do turismo como a inflaodas terras e dos preos dos alimentos. Por isso, prefiro o modelo que analisaqualquer situao de turismo em termos de pessoas vindo e indo, com diferen-tes interesses no mesmo fenmeno. o que aconteceu no turismo. Todos estotentando se virar na situao. Por isso que eu gosto de alguns dos trabalhosque o arquiteto e urbanista Rami Daher tem escrito sobre o que aconteceu naJordnia sobre o desenvolvimento de projetos tursticos. Ele escreveu o me-lhor livro sobre o Oriente Mdio que conheo e trabalhou com o MikeRobinson, em Sheffield. Ele tambm passou um ano em Berkeley, trabalhan-do comigo e Nezar Al-Sayyad. Enfim, mudamos do modelo de impacto para

    o modelo de interesse.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    21/28

    361Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Rodrigo Grnewald:E em termos acadmicos, a antropologia tem esta-do conectada com outras cincias humanas nos estudos sobre turismo? Voc

    acha que em termos acadmicos a antropologia tem seguido um caminho soloou deveria continuar a dialogar com outras disciplinas?

    Nelson Graburn:Na verdade, til dialogar com outras disciplinas. Muitasdas coisas que lemos foram escritas por pessoas de outras disciplinas. Estamostodos interessados no mesmo tema e em dizer que a negociao entre as partesenvolvidas est na cultura. Economistas esto interessados nos estudos cultu-rais, gegrafos e antroplogos esto todos interessados no mesmo fenmeno.

    Temos que ler uns aos outros. H no turismo algo que envolve a antropologia eoutras disciplinas: a relao entre o local e o global. A antropologia foi alm dosestudos de comunidade e mesmo dos estudos de rede. A antropologia estpreocupada com os movimentos globais do mesmo modo que outras discipli-nas. Na verdade, talvez ela tenha um desempenho melhor nos movimentosglobais porque conhece muito bem o local. Os antroplogos esto lendo e utili-zando as mesmas coisas que os outros, apenas no tm uma abordagem majo-ritariamente quantitativa. Fora isso, hoje estou lendo coisas de pessoas quedizem fazer uma nova geografia e a nica diferena que elas enfatizam o

    espao mais do que qualquer outra coisa. Acredito que os antroplogos preci-sam levar em conta o espao tambm. No preciso ser gegrafo para fazerisso. Eu acho que esses novos gegrafos fazem etnografia. Mas considero umpouco suspeito os estudos culturais feitos por pessoas que no fazem etnografia,por que elas acabam utilizando modelos preestabelecidos para analisar as coi-sas e as vem a partir de posies polticas. Elas podem estar certas ou erra-das, mas elas realmente no o sabem, uma vez que nunca se fizeram essasperguntas. Desconfio que quando ns usamos materiais, posies e livros dosestudos culturais podemos ser levados a concluses no muito seguras. Osantroplogos podem achar alguns estudos socioculturais brilhantemente corre-tos ou podem achar incompletos. No estamos mais sozinhos nos estudos so-bre turismo, artes tursticas e museus. No podemos mais usar nossos prpriosparadigmas e conceitos. Devemos ser capazes de compreender os conceitosde outras reas tambm. Por outro lado, vejo que as pessoas esto aderindo antropologia, pensando que esto fazendo etnografia. A antropologia se tornoumuito bem sucedida para quem quiser us-la. Por exemplo, a Sociedade Urba-na de Etnografia que tem uma revista chamadaEthnography, em sua lista de

    membros do conselho, apenas trs, entre 20, so antroplogos. Estamos recor-

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    22/28

    362 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    rendo uns aos outros e temos sido bem sucedidos. Um dos problemas com essesucesso que algumas pessoas confundem nossos instrumentos com os con-

    ceitos. Quando os estudantes chegam aos meus seminrios, costumo dizer-lhesque eu nunca tive um ncleo de estudantes de antropologia, porque os meusestudantes geralmente so da geografia, dos estudos tnicos, da matemtica,da arquitetura, dos estudos italianos, da msica, etc. Ento eles aprendem queesses conceitos e modos de pensar tm que ser adquiridos no trabalho de cam-po. Sei que alguns antroplogos fazem muitas declaraes e constroemparadigmas baseados em pouco trabalho de campo, mas quando eles fazemisso, esto fazendo o mesmo que os outros fazem. Eu cheguei idia do turis-

    mo como uma jornada quando percebi que pelo turismo se torna conhecido oque era secreto. Quando eu estava no Japo, muito depois disso, estava sendoentrevistado no rdio, ao vivo, e o jornalista disse para mim: Bem, voc escre-veu em 1976, o que foi publicado em 1977, e voc esteve no Japo em 1974.Voc deve ter chegado essa idia porque voc esteve no Japo. E eu disse:No, no foi bem isso. A idia se encaixa ao Japo muito bem, mas, na verda-de, eu pensei nisso independentemente de ter vindo ao Japo. Ele no sabia oque dizer no rdio, ao vivo, uma vez que a minha visita ao Japo no me tinhadado o insightpara essa teoria sobre o turismo. s vezes, tambm pegamos

    nossas idias e as testamos. Por exemplo, foi uma etnografia comparativa queme levou ao estudo da arte turstica. Ento, se eu tivesse observado apenas umdos contextos, no teria tido o interesse de escrever sobre isso porque eu vi amanipulao do significado sobre as coisas feitas pelos inuit, quando eu obser-vei os comerciantes e os museus. Isso foi o ponto de partida para fazer minhapesquisa.

    Rodrigo Grnewald:Agora voc est morando em Berkeley e tem umemprego na Inglaterra

    Nelson Graburn:Sim, apenas parcial. Estarei l apenas por trs sema-nas a cada perodo.

    Rodrigo Grnewald:Onde?

    Nelson Graburn:Na Universidade Metropolitana de Londres.

    Rodrigo Grnewald:E quais so os seus projetos l?

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    23/28

    363Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Nelson Graburn:Bem, voc se refere a como isso se relaciona com oque eu tenho feito?

    Rodrigo Grnewald:Sim.

    Nelson Graburn:Bem, estou querendo fazer menos [risos]. Ainda noaconteceu nada. Eu no sei que efeito ter, porque eles me disseram que euno precisaria dar aulas. Tenho que ajudar as pessoas em suas pesquisas.

    Rodrigo Grnewald:Em artes, turismo

    Nelson Graburn:Ser em turismo e artes, porque as pessoas que mecontrataram esto num departamento chamado Linguagem e Turismo Inter-nacional, ou algo do tipo. uma espcie de departamento de antropologiapara pesquisar turismo, herana e cultura naquela universidade. Eles tm vri-os antroplogos que estudam turismo e so bem famosos. Michael Hitchcockestuda a Indonsia, turismo esouvenirs. H tambm Raoul Bianchi, um mem-bro jovem, que estuda turismo e relaes de trabalho, e Tom Selwyn, que estu-da desenvolvimento de turismo.

    Rodrigo Grnewald:E sobre sua vinda ao Brasil? Como foram seusestudos sobre turismo no Brasil? E as pessoas aqui?

    Nelson Graburn:Bem, eu fiquei muito impressionado com as pessoasque eu conheci no Brasil, especialmente na Reunio de Antropologia do Mercosul(RAM).6Me surpreendi com a quantidade de pessoas interessadas e com onmero de estudantes que est fazendo pesquisas e relatrios. A antropologiame pareceu muito viva e excitante no pas e os antroplogos brasileiros estotendo muito sucesso. Talvez eles no sejam mais importantes do que em outrospases, mas maravilhoso que o Brasil esteja cooperando com outros pases.Obviamente, o Brasil tem contribuies importantes para a antropologia atual eh muitas coisas interessantes em termos de mudanas sociais, etnicidade, ra-

    6 Nelson Graburn refere-se aqui VII Reunio de Antropologia do Mercosul, que se realizou em PortoAlegre, no perodo de 23 a 26 de julho de 2007, na qual ele participou como conferencista na mesa-redonda Antropologia do Turismo e no simpsio sobre Antropologia do Turismo.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    24/28

    364 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    as mltiplas e tudo o que voc puder pensar a respeito. De algum modo, oBrasil um paraso antropolgico. Fico feliz em saber que os antroplogos

    esto sendo patrocinados pelo governo porque, como voc sabe, em algunslugares do mundo a antropologia no tem sido patrocinada pelo governo. Fiqueimais feliz ainda em ver o considervel intercmbio entre antroplogos brasilei-ros e europeus. Encontrei l tambm vrios antroplogos americanos, alm doBrasil, Argentina, Chile e Peru. O Brasil um terreno antropolgico muito rico.No conheo muitas publicaes brasileiras, mas as que eu tive a oportunidadede ver so muito boas. Felizmente pude l-las e apreci-las. Tambm fiqueiimpressionado com a revistaHorizontes Antropolgicose com alguns livros

    produzidos por Margarita Barretto, Caleb Faria Alves, voc (Rodrigo Grnewald),Carlos Alberto Steil e o Wallace de Deus Barbosa. uma boa tradio antro-polgica que ainda acredita em dados, pesquisa e que no est amarrada amodelos antiquados. Seu prprio trabalho est desafiando os modelos de outraspessoas. uma ruptura. Voc est propondo coisas que outras pessoas devemcomear a observar. por isso que estou feliz em divulg-lo e vou continuar afaz-lo em ingls, francs, japons, no sei. O Brasil um timo lugar para serdivulgado no mundo da antropologia. A antropologia do pas ainda est poucopresente na sia, pelo que eu sei, e h muitas razes para isso. difcil chegar

    l, leva muito tempo, de modo que difcil para os acadmicos brasileiros iremaos encontros na sia. Mesmo quando eles conseguem bancar, leva muitotempo para chegar, pois no h vos diretos. Mas o Brasil tem muito a fazer esei que h bons instrumentos e relaes antropolgicas para isso. Sei de brasi-leiros que esto fazendo pesquisa no Mxico, mas no sei se h mexicanosfazendo pesquisa no Brasil. A idia de uma troca igualitria maravilhosa.Detestaria ver que algum vai para algum lugar e volta sem conhecer os aca-dmicos locais. Sei que essa uma acusao comum contra os Estados Uni-dos. Os acadmicos brasileiros tm muito a dizer e desejam conhecer o queoutras pessoas esto fazendo. Tambm conheci muitos estudantes interessan-tes. Tive sorte em conhecer voc em sala de aula. Talvez voc tenha criado uminteresse especfico em antropologia, que chamou a ateno dos estudantes.Acho que est acontecendo um movimento antropolgico maravilhoso no Bra-sil. Acho que o pas tem graves problemas de pobreza, relaes raciais e sadetambm, mas a antropologia pode ajudar a pensar sobre isso. Talvez os antro-plogos tomem a dianteira e levem isso bastante a srio.

    Rodrigo Grnewald:Quais so os seus projetos de agora em diante?

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    25/28

    365Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    Nelson Graburn:No momento, estou observando o que est acontecen-do. Estou escrevendo um texto que ser a base para uma palestra que vou

    apresentar na universidade e tambm de um captulo para o livro organizadopor Margarita Barretto, que ser traduzido para o portugus. Como eu disse,estou escrevendo sobre a exposio que estamos planejando fazer sobre oAlasca e as artes nativas. Ainda no escrevi a maioria do material. Estou reu-nindo algumas fotografias vindas do Alasca e de Berkeley. Tenho que escrevero texto e j fiz uma verso que no depende das ilustraes. Bem, tenho aindadois outros textos para terminar, um para os Estados Unidos e outro para aInglaterra. Tambm tenho que escrever um texto para a reunio da AssociaoAmericana de Antropologia, que se realizar no final de novembro [2007] eestou muito animado, porque a sesso sobre empreendedores culturais. Nosei o que est acontecendo no Brasil, mas, no resto do mundo, na segundametade do sculo XX, existiram pessoas que fizeram conexes entre diferentespartes do mundo e fizeram as coisas acontecerem. Um dos principais exemplos Jim Thompson, que foi um americano que decidiu, depois da Segunda GuerraMundial, ir para a Tailndia ressuscitar a indstria da seda. Ele levou seda para osamigos em Nova Iorque, trabalhou com os produtores na Tailndia e criou umadas maiores indstrias de seda do mundo. Isso aconteceu muitas vezes com o

    comrcio de arte nativa e inuit, a arte moderna asitica e a arte africana. No seisobre o Brasil, mas esse poderia ser o papel de empreendedores que fazem ascoisas locais se tornarem algo de que todo mundo se orgulha. Fizeram um projetopara voltar ao passado, e disseram: Essas coisas que eu descobri fazem parte daherana dessas pessoas. Ento, vou escrever um texto sobre Jim Houston, quepromoveu a arte inuit.7Espero que outras pessoas escrevam sobre isso tambm.Sempre quis fazer um livro sobre isso. Sei que existem trabalhos assim naIndonsia. No sei quando sero publicados, mas estou aguardando.

    Rodrigo Grnewald:Voc gostaria de dizer algo sobre sua vida e traba-lho que eu no perguntei?

    Nelson Graburn:Bem, eu penso que fui exaustivo. Gostaria apenas dizerque a vida interessante, que nunca deixa de ser interessante e, de algum modo,

    7 Cross-Cultural Magicians: Entrepreneurs of Art and Heritage in the late 20 th Century. Textoapresentado na Sesso Heritage Entrepreneurs, da Reunio da Associao Americana de Antropo-logia, em Washington D.C., em novembro de 2007.

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    26/28

    366 Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    fica cada dia melhor. A vida to curta s vezes, leva-se muito tempo paraaprender algumas coisas que a gente aprecia quando conquista. H, por outro

    lado, algumas coisas que eu aprendi a fazer, que aprecio agora, e que gostaria deter aprendido antes. Penso que existe uma relao estreita entre a vida pessoal ea profissional e isso divertido e vale a pena explorar. No creio que as pessoasdevam separar as coisas, dizendo, por exemplo, que no h nenhuma relaoentre sua infncia e sua vida profissional. Ambas se relacionam mutuamente eesto interligadas. Na antropologia, no deveria haver relutncia em admitir isso.Por que temos de fingir que estamos fazendo uma cincia desconectada? Noestamos. Estamos lidando com seres humanos e somos humanos tambm. Ento

    acho que essa uma lio importante. H um livro escrito por uma antroplogainglesa, Judith Okely, chamado Own or Other Culture(Okely, 1996), que umaautobiografia em que ela fala sobre como sua vida foi afetada pelos trabalhos queela fez. um livro muito inspirador. Gosto do fato de eu ter tido muitas experin-cias na China. Minha mulher diz: Os idosos se do bem l, porque todo mundopresta ateno. Bem, se eu fosse mais jovem e no tivesse mulher talvez eufosse mais tmido ou algo do tipo, mas eu gostei muito do meu trabalho com aspessoas na China. Estudantes e professores, as pessoas em geral, so muitogentis, abertas. Elas querem conhecer voc e lev-lo para fazer pesquisas. Acho

    que o Japo tem mais problemas do que a China. Eles tm problemas em terfilhos, tm problemas com os filhos que tm. As crianas japonesas no queremcrescer, querem ser adultos instantaneamente. As mulheres japonesas no que-rem se casar com homens japoneses, ou, quando se casam com eles, no queremter filhos. Eu gosto do Japo, mas acho que muita coisa est indo mal l. E eu novejo o mesmo na China. No estou dizendo que prefiro a China, mas vejo essepas numa condio mais feliz. Fiquei surpreso por gostar tanto da China.

    Rodrigo Grnewald:No que voc acha que a antropologia do turismo ea antropologia de modo geral ajudariam os empreendedores a desenvolver oturismo em certos lugares?

    Nelson Graburn:A antropologia poderia fazer vrias coisas. No sei seos empreendedores e o governo acham que os antroplogos possam ajudar.Mas, algumas vezes, eles podem. Penso que os antroplogos tm conscinciade que escolhem as pessoas que querem ajudar. Eles no ajudam a todos. Porexemplo, h um movimento chamado pr-turismo. Ns no dizemos que o tu-

    rismo pode aumentar o emprego, a remunerao, mas dizemos quem benefi-

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    27/28

    367Entrevista com Nelson Graburn

    Horizontes Antropolgicos, Porto Alegre, ano 14, n. 29, p. 341-368, jan./jun. 2008

    ciado pelo turismo. Temos que dirigir o turismo para um segmento da popula-o, mas isso no cabe apenas aos antroplogos. Os gegrafos e ativistas tm

    trabalhado nisso. Podemos ajudar as pessoas a compreender para onde elasesto indo e a projetar as coisas para que elas entendam e apreciem mais olugar de destino. Os antroplogos podem, como no caso de Edward Bruner, naIndonsia, trabalhar como antroplogo e como guia turstico. Ele conhece aIndonsia e conhece o turista. Ento acredito que os antroplogos esto numaposio muito boa, desde que escolham o que desejam fazer.

    Rodrigo Grnewald:Bem, muito obrigado e eu desejo que voc se di-

    virta bastante

    Nelson Graburn:Estou feliz por estar aqui em Buenos Aires, emborano saia muito. Ainda tenho trabalho a fazer, mas encontrei pessoas aqui, comoo jovem casal que me apresentou universidade que dirigida pelas mes dosdesaparecidos. Eles tm um caf e um restaurante na universidade, um tipo deorganizao de ensino e treinamento, patrocinada por vrios empresrios quevisam publicidade. por isso que eles patrocinam as mes daqueles que desa-pareceram.8

    Rodrigo Grnewald: um tipo de turismo?

    Nelson Graburn:Sim, todo mundo quer ir e ver. um tipo de organiza-o bastante antiquado, com uma poro de coisas no cho, muitos livros queas pessoas podem pegar, biblioteca livre. como voltar aos anos 1960.

    Traduzido do ingls por Adriana de Oliveira.Reviso tcnica de Rodrigo Grnewald e Carlos Alberto Steil.

    8 Trata-se de um jovem casal, produtores de filmes, conhecidos de Nelson Graburn, que ele encontraem Buenos Aires. Na ocasio eles estavam fazendo um filme sobre imigrantes chineses em BuenosAires, e o entrevistaram para o filme sobre dispora chinesa. A entrevista aconteceu num caf daUniversidade Popular das Mes da Praa de Maio: Universidade da Luta e Resistncia. Essa univer-sidade est situada na rua Hiplito Irigoyen, 1584, Buenos Aires (http://www.madres.org/univupmpm/univumpm.asp).

  • 7/24/2019 Entrevista com Nelson Graburn

    28/28

    368 Entrevista com Nelson Graburn

    Referncias

    ASPELIN, Paul L. The anthropological analysis of tourism: indirect tourismand political economy in the case of the Mamainde of Mato Grosso, Brazil.Annals of Tourism Research,v.4,n.3, p. 135-160, 1977.

    BLOCH, Maurice. Symbols, song, dance and features of articulation: is religionan extreme form of traditional authority. European Journal of Sociology, v.15, p. 55-98, 1974.

    GRABURN, Nelson H. H., The Eskimos and airport art.Transaction, v. 4, p.28-33, 1967.

    GRABURN, Nelson H. H.Ethnic and tourist arts: cultural expressions fromthe fourth World.: Berkeley: University of California Press, 1976.

    GRABURN, Nelson H. H. To pray, pay and play: the cultural structure ofJapanese domestic tourism. Aix-en-Provence: Centre des Hautes EtudesTouristiques, 1983. (Les Cahiers du Tourisme, Serie B, Numero 26).

    GRABURN, Nelson H. H. Tourism: the sacred journey. In: SMITH, Valene(Ed.). Hosts and guests: the anthropology of tourism. 2nd ed. Philadelphia:University of Pennsylvania Press, 1989. p. 21-36.

    GRABURN, Nelson H. H.; DAWSON, Larry; FREDERICKSON, Vera Mae.Traditions in transition: culture contact and material change. Berkeley: LowieMuseum of Anthropology, 1974.

    LIPS, Julius. The savage hits back. New Haven: Yale University Press, 1937.

    MACCANNELL, Dean. The tourist: a new theory of the leisure class. NewYork: Scocken Paperbacks, 1976.

    OKELY, Judith. Own or other culture. London: Routledge, 1996

    TUNIS, Roslyn. The art of research: Nelson Graburn and the aesthetics ofInuit sculpture: Co-Curated by Roslyn Tunis and Nelson Graburn. Inuit ArtQuarterly, v. 16, n. 3, p. 24-29, 2001.