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Entrevista Psicológica Judicial Julho/2018 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018 Entrevista Psicológica Judicial Suzana Cilira Pedro [email protected] Avaliação Psicológica Instituto de Pós-Graduação - IPOG São Paulo, SP, data 25/11/2017 Resumo O objetivo do presente artigo se localiza no interesse da autora em estudar a entrevista como técnica de avaliação, fundamental para a psicologia praticada na área jurídica. Como pontos disparadores, objetiva-se planejar um roteiro de entrevista sugestivo, para que o profissional psicólogo possa refletir sobre a maneira de operacionalizar suas perguntas. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica na literatura especializada utilizando-se livros, e pesquisas em todos os index com palavras chaves relacionados ao tema. Descreveram-se os processos de leitura minuciosa dos autos a fim de se obter com clareza os dados relevantes, o objetivo da avaliação e as hipóteses psicológicas a serem avaliadas. O planejamento prévio do roteiro guia constituído de tipos de perguntas que visam alcançar o objetivo do estudo. Relataram-se variáveis que interferem na obtenção de informações como perguntas mal formuladas, e atitudes advindas de entrevistado. Ao final, discorreu-se sobre alguns passos para a realização da entrevista psicológica judicial. Concluiu-se que a técnica de entrevista semiestruturada é considerada uma técnica de investigação cientifica para coleta de dado essencial para este contexto, envolvem aspectos e características singulares, e deve ser planejada com antecedência e focada em seu objetivo de estudo, com a finalidade de uma coleta de informações reais e confiáveis. Palavras-chave: Avaliação Psicológica Judicial. Construção de perguntas. Roteiro de Entrevista semiestruturada. Investigação Psicológica. Manipulação de Informações. 1. Introdução As pessoas recorrem ao sistema judiciário à procura de uma decisão para resolver um fator jurídico conflituoso. Elas esperam deste operador do direito um julgamento, uma solução, um direcionamento de quem tem razão, ou como se deve proceder diante da questão- problema. O conteúdo embutido nesta dinâmica que foi judicializada, muitas vezes, está vinculado às relações e aos conflitos interpessoais das partes, ou com violações de direito (CASTRO, 2005; SILVA e ROVINSKI, 2012). Frequentemente, as questões-problema envolvem conteúdos considerados delicados, como aqueles relacionados a populações vulneráveis, assuntos polêmicos e de difícil acesso e diálogo (SCORSOLINI-COMIN, 2016). E para se alcançar o entendimento da situação, o Juiz, o Promotor, o Defensor público, ou o Advogado poderão contar com a ajuda de um especialista para realizar uma perícia

Entrevista Psicológica Judicial - Ipog...Na entrevista, o que vai determinar o norte e a estratégia para utilizá-la será o delineamento do objetivo específico e a orientação

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Entrevista Psicológica Judicial

Julho/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018

Entrevista Psicológica Judicial

Suzana Cilira Pedro – [email protected]

Avaliação Psicológica

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

São Paulo, SP, data 25/11/2017

Resumo

O objetivo do presente artigo se localiza no interesse da autora em estudar a entrevista como

técnica de avaliação, fundamental para a psicologia praticada na área jurídica. Como pontos

disparadores, objetiva-se planejar um roteiro de entrevista sugestivo, para que o profissional

psicólogo possa refletir sobre a maneira de operacionalizar suas perguntas. Foi realizada

uma pesquisa bibliográfica na literatura especializada utilizando-se livros, e pesquisas em

todos os index com palavras chaves relacionados ao tema. Descreveram-se os processos de

leitura minuciosa dos autos a fim de se obter com clareza os dados relevantes, o objetivo da

avaliação e as hipóteses psicológicas a serem avaliadas. O planejamento prévio do roteiro

guia constituído de tipos de perguntas que visam alcançar o objetivo do estudo. Relataram-se

variáveis que interferem na obtenção de informações como perguntas mal formuladas, e

atitudes advindas de entrevistado. Ao final, discorreu-se sobre alguns passos para a

realização da entrevista psicológica judicial. Concluiu-se que a técnica de entrevista

semiestruturada é considerada uma técnica de investigação cientifica para coleta de dado

essencial para este contexto, envolvem aspectos e características singulares, e deve ser

planejada com antecedência e focada em seu objetivo de estudo, com a finalidade de uma

coleta de informações reais e confiáveis.

Palavras-chave: Avaliação Psicológica Judicial. Construção de perguntas. Roteiro de

Entrevista semiestruturada. Investigação Psicológica. Manipulação de Informações.

1. Introdução

As pessoas recorrem ao sistema judiciário à procura de uma decisão para resolver um

fator jurídico conflituoso. Elas esperam deste operador do direito um julgamento, uma

solução, um direcionamento de quem tem razão, ou como se deve proceder diante da questão-

problema.

O conteúdo embutido nesta dinâmica que foi judicializada, muitas vezes, está vinculado

às relações e aos conflitos interpessoais das partes, ou com violações de direito (CASTRO,

2005; SILVA e ROVINSKI, 2012). Frequentemente, as questões-problema envolvem

conteúdos considerados delicados, como aqueles relacionados a populações vulneráveis,

assuntos polêmicos e de difícil acesso e diálogo (SCORSOLINI-COMIN, 2016).

E para se alcançar o entendimento da situação, o Juiz, o Promotor, o Defensor público,

ou o Advogado poderão contar com a ajuda de um especialista para realizar uma perícia

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psicológica. Esta tem por objetivo subsidiar o trabalho do juiz, e as intervenções do Estado na

vida dos indivíduos (GÓMEZ, 2012).

A avaliação psicológica será demandada pelo operador de direito, relacionada às

questões psicológicas especificas para a perícia psicológica responder (SHINE, 2008). Logo,

segundo Castro (2005), e Silva e Rovinski (2012: 215) “a pesquisa do psicólogo deve ser

direta e destinada a responder aos quesitos”, pois são fenômenos psicológicos definidos de

forma mais restrita, envolvidos dentro de um quadro de intencionalidade. As questões

psicológicas podem ser apresentadas como exemplificado.

Se esta mãe é ou não suficientemente capaz de proteger a sua filha (como?

Com que tipo de rotina?); Se esse pai tem motivações diretas ou indiretas

para realizar esse tipo de denúncia; Se há interesse do pai pela segurança da

criança ou se há necessidade de atualizar o conflito que levou ao rompimento,

quais são as características emocionais dessas figuras parentais, como se

estabelece a dinâmica familiar, [...] se determinada situação ocorreu, se existe

alguém em situação de risco, se alguém é doente emocionalmente (SILVA e

ROVINSKI, 2012: 215).

Com vistas a estes aspectos, o psicólogo norteará a sua atuação através de uma

investigação minuciosa dos dados reais. Castro (2005) trata disso argumentando que não só é

importante compreender como a criança internalizou as figuras parentais, mas também é

necessário e relevante apreender como são os pais na realidade. Isso porque naquela situação,

a criança ou adolescente podem estar com os seus direitos sendo violados.

Desde o início, segundo Serafim e Saffi (2012), as partes expressam os seus interesses

no resultado da decisão judicial. No entanto, quando recebem a notícia de que terão de entrar

em contato com um psicólogo perito para uma avaliação, elas podem expressar

comportamentos de desconfiança.

Alguns pensam em maneiras de provar a sua inocência e a credibilidade de seu relato.

Outros, na tentativa do resguardo de seus interesses e alcançar o objetivo desejado, podem ser

capazes de emitir comportamentos com intenções conscientes de simulação, dissimulação e

manipulação das informações (SILVA E ROVINSKI, 2012).

Afinal, como comentou Saffi e Serafim (2012), o objetivo das partes é ganhar uma

causa ou assegurar um direito, e não comparecer ao judiciário para uma demanda psicológica.

Com este cenário posto, ressalta Silva e Rovinski (2012), e Castro (2005) o

posicionamento do psicólogo com relação às partes será composta de um vínculo mais

distanciado, com uma confiança relativizada. Por que a sua resposta será de forma objetiva e

neutra, tendo em vista a compreensão do caso, pois a questão-problema nem sempre

conciliará com os interesses das partes.

E uma das formas de se coletar os dados é por intermédio da avaliação psicológica.

Esta é considerada um processo complexo e investigativo, que opera através de

procedimentos científicos de diagnóstico. Para a sua realização exige-se vários instrumentos e

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combinações de técnicas com a finalidade de descrever, investigar e analisar os fenômenos e

processos psicológicos (SAFFI e SERAFIM, 2012).

O método de pesquisa qualitativo, segundo Scorsolini-Comin (2016:18) é a “forma de

acessar determinadas realidades, fenômenos, situações e pessoas a partir de um olhar

diferente, que valoriza o modo como se constrói esse olhar e como os dados são construídos

no contexto”.

A partir desta compreensão comenta Saffi e Serafim (2012), podem-se construir

hipóteses que serão desenvolvidas e refinadas durante a realização da própria entrevista.

Dentre os métodos de pesquisa qualitativa na investigação científica, a entrevista é a

mais utilizada para aferir a coleta de dados ou estudos qualitativos e quantitativos (BLEGER,

2001; SCORSOLINI-COMIN, 2016). A entrevista é considerada um conjunto de técnicas de investigação, de

tempo delimitado, dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza

conhecimentos psicológicos, em uma relação profissional, com o objetivo de

descrever e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistêmicos (indivíduo,

casal, família, rede social), em um processo que visa fazer recomendações,

encaminhamentos ou propor algum tipo de intervenção (TAVARES,

2008:47)

Os conteúdos psicológicos são observados e avaliados nesta técnica tem o intuito de

compreender e descrever a dinâmica interna das situações. Bem como, a maneira que o sujeito

descreve sua realidade, suas experiências, sua maneira de compreender o mundo e dá sentido

à vida. E como interpretam estes significados em suas perspectivas e conteúdos

(SCORSOLINI-COMIN, 2016; GÒMEZ, 2012).

Na entrevista, o que vai determinar o norte e a estratégia para utilizá-la será o

delineamento do objetivo específico e a orientação do entrevistador (GÓMEZ, 2012).

Por que o investigador é o principal instrumento e quem direciona o foco da entrevista,

e a sua compreensão dos fatos é o dispositivo chave de análise. Pois faz questionamentos

básicos apoiados e fundamentados em referenciais teóricos e em bibliografias específicas

sobre o tema. Muitas entrevistas podem até extrapolar o alcance de determinados recursos

padronizados (QUINTANA, 2010; SERAFIM e SAFFI, 2012 SCORSOLINI-COMIN, 2016).

E assevera Gómez (2012) que para a maior parte dos casos apresentados no sistema

legal, este instrumento é considerado a única técnica para coleta de dados, por ser um

processo de avaliação intervenção.

Quanto à estrutura da entrevista, descreve Scorsolini-Comin (2016), ela pode ser

semiestruturada, ou seja, é planejada em função dos objetivos propostos, de forma mais

objetiva e com precisão. Permite o registro da comunicação verbal e não verbal, e obter

através da observação alguns sinalizadores como expressão facial, semântica, comportamento

motor, interação, empatia.

Esta técnica é considerada a espinha dorsal nas avaliações devido às suas

características de se adaptar, ser flexível, estrutura-se a qualquer contexto, e a qualquer

abordagem psicológica. Pode ser empregada em qualquer fase do processo de avaliação,

como no início, para uma visão geral da realidade dos fatos, e ao final com a intenção de

afunilar questões que não ficaram claras (QUINTANA, 2010; SCORSOLINI-COMIN, 2016).

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Uma das características da entrevista semiestruturada é a utilização de um roteiro

previamente elaborado. Os questionamentos iniciais desencadeariam novas hipóteses

advindas das respostas do entrevistado, que por sua vez seriam investigadas através de novas

perguntas (SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Descreve Scorsolini-Comin (2016) e Gómez (2012) que as perguntas auxiliam no

levantamento de informações. Possibilita correlacionar eventos e experiências, realizar

inferências, e descrever uma dada realidade. Para assim, estabelecer conclusões e auxiliar nas

tomadas de decisão. Atitude esta que assegurará uma confiabilidade e fidedignidade da

informação obtida.

Deste modo, a sistematização da entrevista como técnica de investigação cientifica na

psicologia possibilita um maior rigor em sua aplicação e na coleta de seus resultados

(BLEGER, 2001).

Neste sentido, faz se necessário que o psicólogo planeje o seu trabalho e o cronograma

de execução da avaliação pericial. E as entrevistas devem estar abarcadas neste projeto, de

forma sequenciada e com tempo necessário para a sua efetivação (SCORSOLINI-COMIN,

2016). Um bom entrevistador não só interpreta o que dizem, deve elaborar uma estratégia

adequada para obter os dados mais relevantes (GANGORA, 2012).

Silva e Rovinski (2012) sugerem para facilitar a execução do plano de trabalho, a

leitura prévia dos autos. Especificam que, a compreensão do objetivo norteará não só a

realização da perícia, como também a estimativa do número de sessões, quais pessoas serão

ouvidas, e dentre outros elementos considerados relevantes ao caso.

Gómez (2012) descreveu algumas características de um bom entrevistador na

psicologia forense.

Tem um objetivo perfeitamente delimitado, baseado fundamentalmente nas

perguntas solicitadas pelo juiz. Isto implica a utilização de grupos de

perguntas, sobre o mesmo tema. Mas que perguntas isoladas, e perguntar por

acontecimentos objetivos e indicadores observáveis de conduta. Evitar

perguntas sobre respostas sugestivas pelo entrevistado e que tem pouco haver

com o caso em questão, tentar evitar sua influencias com juízo de valor e

conclusões, registrando os julgamentos, as impressões, os fatos durante a

entrevista, e saber como e quando terminar a entrevista (GÓMEZ, 2012:77).

O autor cita que existe uma diferença entre aquele que pergunta para saber o que se

passa, daquele outro que sabe levar um guia (roteiro), com uma ordem em suas perguntas.

Isso demonstra a capacidade de perceber e reagir a mudanças, formulando as

perguntas com as palavras apropriadas, sem maltratar, sem agredir, sem ferir a sensibilidade

do entrevistado, perguntando com tato, e discriminando o momento mais adequado para

formular segundo os tipos de perguntas.

Por meio das perguntas de sondagem Segundo Gómez (2012) é possível perceber a

habilidade do entrevistador para desenvolver uma entrevista.

O não habilidoso se atém a uma lista de perguntas preparadas, antecipa as

perguntas prematuramente ou é impaciente. O habilidoso ouve

cuidadosamente cada resposta para determinar se a resposta é satisfatória. Se

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não é ele determina a causa provável em segundos e elabora uma pergunta de

sondagem adequada (SCORSOLINI-COMIN, 2016: 76).

Uma sondagem habilidosa descobre informações mais relevantes, precisas e

completas, e pode incrementar uma motivação por parte do entrevistado, porque o

entrevistador parece estar interessado e atento. Além do mais, o entrevistador “destaca ao

possível entrevistado as questões necessárias para a realização adequada da conversa, ou uma

construção de ‘clima’ para está interação” (SCORSOLINI-COMIN, 2016: 122; GÓMEZ,

2012).

Gongora (2012) enfatiza que diferentes maneiras de se perguntar podem limitar,

induzir, facilitar ou dificultar a obtenção de dados e a interação entre entrevistador e

entrevistado.

Deve-se segundo Scorsolini-Comin (2016, p.141), se fazer a seguinte pergunta: “com

este roteiro de entrevista eu consigo atingir o objetivo proposto?”. Cada objetivo pode

envolver um método e um instrumento específico de entrevista, como por exemplos entrevista

de famílias, com terceiros, com crianças, dentre outras essenciais a compreensão do caso.

Por que alerta o autor, que ao se chegar à fase na qual o entrevistador terá de

correlacionar o conteúdo obtido nas entrevistas com os outros instrumentos psicológicos, a

delimitação de quais objetivos terão de ser respondidos por cada um dos instrumentos,

também deve ser pensada.

A relação com o entrevistado não só deve ser pensada com relação às formar de se

perguntar, mas também a interação entre entrevistador e entrevistado para uma boa prática no

desenvolvimento da entrevista.

O entrevistador, segundo Gangora (2012) e Gómez (2012), deve manter o rapport

estabelecido, escutar e observar o sujeito o ajudando a expor informações, respeitando seus

interesses e a maneira de falar. Dando continuidade à entrevista com base no que o

entrevistado verbaliza e expressa em geral. Algumas vezes, se for interessante até deixar que

o entrevistado fale para saber do que se fala, o que não disse e não comenta, do que fala, o

que esta pessoa quer que o entrevistador seja.

As técnicas de clarificação e perguntas de sondagem auxiliarão o entrevistador, no

transcorrer da entrevista, a analisar as inconsistências e os aspectos contraditórios que

aparecem no discurso tanto na verbal, quanto não verbal do entrevistado. Esta postura ajuda a

eliminar ideias irracionais que o indivíduo possa ter e fontes errôneas de informação

(QUINTANA, 2010).

Na relação, o que se pode prever são as perguntas, um roteiro que funcione como um

guia, mas o modo como será enunciado dependerá fundamentalmente de como o entrevistador

perceberá o entrevistado e como ocorrerá o contato. Neste momento a atitude do entrevistador

conta muito para um bom desenvolvimento da entrevista (SCORSOLINI-COMIN, 2016).

O objetivo deste presente artigo se localiza no interesse da autora em estudar a

entrevista como técnica de avaliação, fundamental para a psicologia na área jurídica. Como

pontos disparadores, objetiva-se planejar um roteiro de entrevistas sugestivo para que o

profissional psicólogo possa refletir sobre a maneira de operacionalizar suas perguntas.

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2. Desenvolvimento

O planejamento do roteiro de entrevista psicológica judicial

Refletir a maneira como se estruturará a entrevista e o manuseio de suas perguntas são

aspectos fundamentais para conduzir uma boa entrevista.

O planejamento de um roteiro como um guia flexível norteará a coleta para

informações relevantes, e fará com que o entrevistador não se depare com perguntas mal

elaboradas, e consequentemente com respostas do entrevistado que podem levar a erros na

coleta de dados.

No ambiente jurídico, um elemento essencial na investigação pericial, argumentam

Rovinski (2008) e Gómez (2012: 69), é a coleta de dados de informações relevantes, reais e

confiáveis. “não resulta fácil e nem cômodo recolher a informação mais válida e confiável. As

pessoas, que estão implicadas encontram-se em um processo no qual os fatores emocionais, e

também cognitivos, podem estar sensivelmente afetados”.

O motivo da consulta “é um ponto fundamental que dirige todo o processo para levar a

cabo uma determinada perícia”. Esta demanda pode vir do juiz, do promotor, do advogado, da

parte ou até por uma determinada pessoa que considerou formular uma questão pertinente

para a perícia psicológica responder, e auxiliar o juiz na tomada de decisão mais justa

(SHINE, 2008; GÓMEZ, 2012: 30).

A resolução do Conselho Federal de Psicologia- CFP nº 007/2003 que explica sobre a

elaboração de documentos escritos pelo psicólogo, descreve apontamentos fundamentais

referentes à avaliação da demanda.

Sempre que o trabalho exigir, sugere-se uma intervenção sobre a própria demanda e a

construção de um projeto de trabalho que aponte para a reformulação dos

condicionantes que provoquem o sofrimento psíquico, a violação dos Direitos

Humanos e a manutenção de estruturas de poder que sustentam condições de

dominação e segregação [...] desta forma, a demanda, tal como é formulada, deve ser

compreendida como efeito de uma situação de grande complexidade (CFP nº

007/2003, 2003: 4).

Scorsolini-Comin (2016: 19) afirma que a investigação qualitativa é descritiva e o

investigador deve ter um “olhar não trivial sobre as coisas comuns e cotidianas, pois tudo

pode servir como pistas para investigar o objeto de estudo”.

Nesta perspectiva, Castro (2005) recomenda que se faça uma leitura atenta dos autos e

dos documentos relativos ao caso. Isso ajudará o profissional a nortear os objetivos e o

levantamento de hipóteses sobre o ocorrido, dando lhe as linhas nas quais pautará a sua

atuação e a responder a questão legal que é dirigida ao psicólogo nos autos.

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Por meio destes apontamos nos autos. Relata Scorsolini-Comin (2016) que o objetivo

deve ser bem definido, pontual, claro e preciso, com uma linguagem adequada e igualmente

precisa. Com o intuito de delimitar o conteúdo a ser observado, compreendendo a experiência

destes sujeitos acerca do fenômeno investigado, e que possam ser atingidos a partir de uma

pesquisa com perguntas devidamente planejadas.

Logo, a exploração psicológica dos autos para Gómez (2012: 62) começa captando o

que o operador do direito está perguntando dentro do processo, quais informações são

relevantes e quais condições devem ser investigadas. “o que querem saber? Para quê? Quem o

pede? O que vão fazer com a informação?”.

Esta exploração envolve variantes que intervêm no processo e que devem ser

observadas e analisadas. E para isso, existem alguns questionamentos estratégicos que visam

à avaliação das variáveis.

Quem pode apontar? Como abordar o problema? Quais são as variáveis mais

importantes pra analisar? Que técnicas psicológicas podemos utilizar que

pode nos prestar uma informação precisa e confiável sobre estas variáveis

que me interessa? (GÓMEZ, 2012: 30).

Seguindo o raciocínio, Gómez (2012) denominou de “extra-test” os tipos de fontes

essenciais para a obtenção detalhada dos dados analisados na exploração dos autos:

a) Fontes precedentes do sumário, ou seja, análise dos dados expostos, de como se

desenvolveu o processo e se desencadearam os fatos e a análise das sequelas do

próprio processo. Como cada parte está envolvida, dos informes apontados no

processo, data do delito e da ocorrência, as versões do acusado, da vítima e das

testemunhas.

b) Fontes procedentes de informes é o estudo de documentos como informes técnicos

realizados, ou que podem ser solicitados a outros profissionais. Localizar e escolher as

pessoas para se entrevistar que são importantes para compreensão do caso, dentre eles

familiares, amigos, a polícia, médicos, psicólogos, neuropsicólogo, escolares, laborais,

psiquiátricos. E a depender do caso, entrar em contato com os profissionais que os

realizaram.

c) Fontes biográficas: compreender conteúdos de historia de vida pertinentes ao caso, e

que se referenciam ao objetivo pleiteado. Como o desenvolvimento quando criança,

adolescência, adulto nos aspectos de suas doenças, experiências traumáticas,

escolaridade, laboral, hospitalares e familiares. Como também, saber qual a matéria de

psicológica que está relacionada ao caso.

Discorre Gómez (2012) que no âmbito de exploração, formulação e avaliação do

problema, torna-se necessário que o psicólogo se fundamentar em uma abordagem, métodos e

técnicas psicológicas, conjuntamente, com estudos da literatura especializada sobre o assunto,

para nortear as suas ponderações.

Para cada caso concreto, deve-se desenhar, com base nos objetivos de estudo uma

estratégia metodológica específica para obtenção destes dados psicológicos relevantes.

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E nos métodos de pesquisa qualitativa, a entrevista semiestruturada segundo

Scorsolini-Comin (2016) oferece este suporte adequado para se pensar em um roteiro guia

que se apresente de maneiras distintas a diferentes sujeitos. Por se tratar de um roteiro prévio

contendo uma listagem básica de perguntas com conteúdos claramente constituídos das

hipóteses que foram definidas a partir do objetivo especifico, e formuladas de modo a garantir

que todos os temas vinculados sejam explorados na entrevista.

A entrevista semiestruturada, explicam Quintana (2010) e Scorsolini-Comin (2016),

que é um instrumento com maior flexibilidade e liberdade nas configurações do roteiro guia

permite ao entrevistador a possibilidade de incorporar novas perguntas, exclui-las ou refaze-

las. Assim como, podem ser alteradas as perguntas do guia em sua ordem, readaptando-as

tanto no modo de verbalizar quanto em sua sequência exposta.

O roteiro é o guia principal de uma entrevista (GÓMEZ, 2012). E alerta Scorsolini-

Comin (2016: 126) que a realização de um roteiro guia nem sempre é uma tarefa simples de

se efetuar, “muitas vezes, nossas questões de pesquisa estão mais claras em nossa mente do

que no papel, dai a necessidade de testar esses enunciados”.

E também ressalta, que o entrevistador “esteja bastante familiarizado com o universo

investigativo e da entrevista, bem como domine o tema alvo da entrevista [...] o roteiro

semiestruturado é como um roteiro vivo e em permanente reformulação.” Porque cada

entrevista mesmo tendo o mesmo roteiro, acontecerá de formas distintas em função deste

encontro (SCORSOLINI-COMIN, 2016: 61).

Ao se planejar sua construção com vistas a ter uma maior confiabilidade dos

resultados e a realização da coleta de dados é crucial atentar-se ao seu estilo e as suas

perguntas. Observar se estas são relevantes e permitem que se atinja o objetivo proposto

(SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Devem-se saber quais perguntas estão lincadas aos objetivos delineados, de forma a

tangenciar a questão conflitiva. Essas poderão ser especificas de conteúdo direto ou indireto

ou em um conjunto de perguntas direcionadas a atingir o conteúdo proposto (SCORSOLINI-

COMIN, 2016; GÓMEZ, 2012).

Para exemplificar, Scorsolini-Comin (2016) trás um caso sobre postulantes à adoção.

O objetivo é a compreensão de como os postulantes pensam a respeito da temática e do

processo de adoção. Tanto as suas motivações como seu histórico acerca do tema devem ser

abarcados na entrevista.

Além de compreender suas motivações para a adoção de uma criança em acolhimento

institucional, verificar a maneira como estes pais construíram esse desejo, e como tomaram

essa decisão. Quais as expectativas existentes e como entendem a parentalidade. Os tipos de

perguntas que serão planejadas no roteiro.

O que vocês compreendem por adoção? Quando sentiram o desejo ou a

necessidade de buscarem a adoção? O que esperam do processo adotivo?

Como compreendem o processo de preparação necessária a adoção? Como

esperam que seja a chegada de seu filho após a concretização do processo

adotivo?(SCORSOLINI-COMIN, 2016: 57).

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Como também, avalia-se em ambos postulantes a personalidade, o comportamento

social e suas relações interpessoais (laboral, familiar), suas capacidades cognitivas e volitivas,

e a rede de apoio físico e social (GÓMEZ, 2012).

As informações das perguntas podem variar de uma única palavra, ou longas

descrições, ou uma narrativa. E será direcionada pelo entrevistador, e permitindo ao

entrevistado ir compreendendo qual é a dinâmica e o assunto que ocorre durante a entrevista

(SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Só que estas perguntas não podem ser expostas de qualquer maneira ao entrevistado,

existem cuidados, relata Scorsolini-Comin (2012), referentes à sequência, quantidade e aos

ajustes necessários no planejamento da construção e formulação das perguntas no roteiro.

No que se refere à sequência, é interessante e recomendado começar as perguntas por

aspectos mais gerais e gradualmente ir para questões mais específicas e particulares

(SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Bleger (2001) também recomenda começar a entrevista com perguntas mais gerais,

diretas, simples, claras e sem subterfúgios, sem segundas intenções, e que sejam adequadas à

situação, e evitando perguntas que sejam complexas.

Já o ajuste visa respeitar o entrevistado em suas especificidades linguísticas, costumes,

expressões, vocabulário e sotaques. Observar se são compreensíveis e de fácil interpretação,

ou se abrem margens para dúvidas ou interpretações errôneas de conteúdo, que podem

comprometer a investigação.

Por se tratar de uma situação ansiógena, o entrevistado pode se retrair e considerar que

está sendo julgado e que suas respostas serão avaliadas com termos de certo ou errado

(SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Quanto a Quantidade, devem ser balizadas na quantidade de objetivos propostos, e na

complexidade de enuncia-los em uma ou mais perguntas. Cada pesquisador pensara em um

roteiro que demonstre o seu estilo.

Tanto as perguntas abertas quanto às fechadas podem modelar-se de acordo com a

quantidade de informação solicitada, e com o grau de controle do entrevistador.

Alguns preferem roteiros mais amplos e que podem se tornar mais enxutos durante o

contato com o entrevistado. Outros preferem roteiros mais curtos e que deem mais espaço

para o participante organizar seu relato de forma mais livre (SCORSOLINI-COMIN, 2016;

STEWART, CASH Jr., 2015).

Cada tipo de pergunta, explica Stewart e Cash Jr. (2015), tem características peculiares

e desempenham funções específicas. Existem vários formatos, dentre eles, uma frase com um

ponto de interrogação, qualquer palavra, frase, declaração ou ato não verbal que exija uma

solução como resposta.

Tipos de perguntas

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Perguntas Característica Exemplo Atitude do entrevistado

Abertas Informação ampla e

descritiva, não induzindo a

uma única resposta.

Perguntas abertas as respostas

são abertas.

Uma perspectiva geral

Para assuntos novos e

amplos.

Alta: Conte-me sobre

seu casamento?;

Como aconteceu? ;

Quais os principais

fatos? ; Dê um

exemplo.

Moderada: conte-me

experiências que teve

de enfrentar no seu

relacionamento?

Vantagens: encoraja a fala;

Informação espontânea por

representar menor ameaça.

Desvantagem: Escolhe, seleciona,

revela ou esconde a quantidade de

informações. Informações

irrelevantes.

Fechadas Foco limitado e específico.

Restrita quantidade e tipo de

informação fornecida. Exige

a formulação de várias

perguntas para se obter mais

informações.

Conteúdo mais facilmente

induzido pelo entrevistador

Para saber uma resposta

adicional a questões já

relatadas, esclarecimentos e

complementação.

Moderadas: Como

compreende o

processo de

preparação necessária

a adoção?

Altamente: são muito

restritivas, e exige

uma única

informação. Qual é o

seu e-mail?

Vantagens: guiar, controle e direção

das informações necessárias. Induz a

resposta sim e não.

Desvantagens: ele não se revela,

produz respostas curtas por não

estimula-lo a falar. Revela pouco

sobre os motivos que o estimulou e o

levou as escolhas, o agir de

determinada forma, ou o grau de

sentimento ou comprometimento.

Primárias Apresentam temas ou novas

áreas dentro de um tema, e

podem se sustentar sozinhas,

mesmo quando tiradas do

contexto.

O que vocês

compreendem por

adoção?

Neutras Permite que o entrevistado

decida sobre suas respostas.

Sem direcionamento ou

pressão dos entrevistadores.

Você gosta de pescar?

Você já ficou bêbado?

Quer um refrigerante

diet?

Abertas e neutras: o entrevistador

determina o comprimento, os detalhes

e a natureza da resposta.

Fechadas e neutras: escolhe entre

alternativas iguais.

Direcionadas Direciona perguntas, guia os

entrevistados a respostas

específicas. Este tipo de

parcialidade do entrevistador

pode ser intencional ou não

intencional. E sugerem uma

resposta esperada e desejada.

Você gosta de pescar,

não?

Quando foi a última

vez que você ficou

bêbado? (insinua que

ele já ficou bêbado).

Imagino que você

queira um refrigerante

diet?

Dão respostas que sentem que os

entrevistadores preferem ouvir.

E se somado a uma situação

ameaçadora e formal, como a

diferença de status entre as parte, as

percepções ou suposições do

entrevistado, a escolha de palavras, as

roupas, símbolos e sinais não verbais,

o entrevistado respondera conforme

acha que dever se e não o que ele

realmente pensa.

Direcionadas

e carregadas

Extremamente direcionadas,

com palavras fortes e dose de

Você esteve na casa

de seu ex-marido

Provocar as testemunhas; induzir

entrevistados a responder.

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excessiva emoção. E utilizado

tons de voz, expressões não

verbal.

Uso com muita cautela.

ontem? Frases introdutórias: de acordo com a

lei; conforme testemunhas- podem

levar ao entrevistado a dar respostas

aceitáveis, ao invés de expor seus

verdadeiros sentimentos ou crenças.

Tabela 1- Tipos de perguntas

Fonte: Adaptados de STEWART, CASH Jr. (2015) e GONGORA (2012).

Perguntas de sondagem

As perguntas são elaboradas com o propósito de ampliar as respostas incompletas,

superficiais, sugestivas, vagas, irrelevantes ou imprecisas, chamadas de perguntas de

sondagem ou de continuação. Mas este tipo de pergunta somente faz sentido quando lincadas

a perguntas anteriormente expressas (STEWART; CASH Jr., 2015).

Segundo Stewart e Cash Jr. (2015: 55), é através de perguntas de sondagem que pode

se descobrir informações mais relevantes, precisas e completas. A reação surtida no

entrevistado é de que o entrevistador parece atento ao que ele diz, e isso o deixa motivado

para continuar a falar.

Para fazer este tipo de pergunta, explica Stewart e Cash Jr., (2015), o entrevistador tem

de ter uma postura ponderada, paciente e persistente, pontos fundamentais para não relatar

questões que sejam interpretadas e alteradas do seu objetivo principal. Perguntas deste tipo

mal formuladas podem instruir o entrevistado a interpretações errôneas, fazendo-o se sentir

desconfiado e desaprovado.

Como por exemplo, evitar apresentar perguntas quando não for o momento, ou não

colocar palavras de forma errônea na ‘boca’ da pessoa entrevistada, demonstrando deste

modo uma ansiedade e impulsividade por parte do entrevistador (STEWART, CASH Jr.,

2015).

Desta mesma forma, ao se elaborar as perguntas de sondagem, evite a ênfase vocal ao

enfatizar palavras verbalizadas, por que a depender de qual se acentua, o entrevistado pode

entender de maneiras diferentes (STEWART, CASH Jr., 2015). Como, por exemplo: por que

você diz isso? ; Por que você diz isso? ; Por que você diz isso? ; Por que você diz isso?

Tipos de perguntas de sondagem

Característica Exemplo

Fechadas Esclarecimentos: interromper e solicitar

informações sobre pontos focais, que pareçam

importantes ou se encontram confusos, e trás

dúvidas.

Complementação: no final do relato, para obter

informações adicionais pertinentes que foram

omitidas ou esquecidas pelo paciente.

Indica atenção e interesse do

entrevistador.

Como esperam que seja a chegada de

seu filho após a concretização do

processo adotivo?

Silenciosas Para respostas incompletas, ou o entrevistado O que você achou do presente que seu

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parece hesitante em prosseguir. Usar sinais não

verbais como o contato visual, ou/e acena com a

cabeça, gestos que o estimulem a continuar a falar.

filho ganhou? :

- não gostei muito.

(Silencio)

- é porque não achei adequado.

Provocativas Quando é preciso estender a conversa para obter as

informações. Estimula o entrevistado a fornecer

respostas ou a continuar o diálogo.

Ela substitui um silêncio com uma palavra ou frase.

Entendo; continue; é? ;- entrevistador

negligenciou o fato, ou perdeu o ponto.

E? ; E então? ; Ah é? - Um fato

adicional a ser considerado, vendo por

outra perspectiva.

Tratamento de

informações

Verifica se uma série de perguntas abordou todos

os aspectos importantes de um tema.

Pergunte em invés de supor.

Estimula o entrevistado a oferecer informações não

previstas no roteiro previamente elaborado, ou a

preencher lacunas ainda existentes. Como não é

possível planejar ou prever todas as informações

que a parte está disposta a revelar.

Que pergunta ainda não fiz sobre este

acidente?

Há alguma coisa que você gostaria que

eu soubesse?

Informativas Obter informações ou explicações adicionais. Faça

sondagens sobre respostas vagas, superficiais e

sugestivas.

Para Respostas superficiais: O que ela

disse especificamente? ; Fale mais

sobre o encontro com ele?

Para respostas vaga ou ambígua, que

da margem a diferentes interpretações:

você disse que é de uma cidade

pequena? Qual é a população dela?

Resposta que sugere um sentimento ou

atitude: Quando sentiram o desejo ou a

necessidade de buscarem a adoção?

Reformulação Reformule ou reelabore para obter respostas

completas.

Atingir uma informação depois de pergunta

primária.

Os entrevistados podem não responder as perguntas

que são feitas, reformule parte ou toda a questão

original. E neste momento, a depender do caso, use

a ênfase vocal para que a outra parte possa entender

o ponto nodal da questão.

Quando for verbalizada uma pergunta com mais de

uma parte, o entrevistado poderá só responder a

uma delas. Reformule a parte ou as partes deixadas

sem resposta.

Qual é a sua opinião sobre as novas

opções de assistência de saúde da

empresa? :

-não sou favorável a ir atrás do meu

próprio plano.

Entendo como se sente, mas e quanto às

novas opções de assistência de saúde da

empresa?

Reformule as questões de forma mais

clara quando: Entrevistado parecer

hesitante em responder, pode significar

que a questão não ficou clara, ou que o

entrevistador está exigindo algo que o

entrevistado não pode ou não quer

fornecer.

Reflexivas Literalmente reflete a resposta recebida. Deste

modo, o objetivo é verificar e esclarecer a resposta

Isso foi depois que o incêndio foi

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para que você saiba que a interpretou de forma

pretendida pelo entrevistado, se a resposta parecer

imprecisa. Mas não tente direcionar ou emboscar o

entrevistado para dar uma resposta desejada, nem

questionar sua honestidade ou inteligência.

detectado?

Esses foram os lucros brutos do evento

beneficente?

Por ex- presidente Buch, você está se

referendo ao presidente George W.

Buch?

Se não tiver certeza do que o

entrevistado disse ou quis dizer, use

para resolver esta dúvida.

Tipo espelho Elas resumem para garantir precisão. Resume uma

série de respostas ou trocas para garantir

compreensão e retenção precisas. Ela pode espelhar

ou resumir uma grande parte da entrevista inteira.

Para confirmar instruções, elementos de

uma proposta, regimes prescritos,

procedimentos acordados, compreensão

de sintomas.

Se compreendi o que está dizendo, o

seu ex-marido te ligou e você comentou

que seu filho não estava mas ele estava?

Parafrasear Repetir, de forma lenta, palavras ou frases do

entrevistado, e ser prosseguida de silêncio. Para

induz o entrevistado a pensar no assunto.

Machucou...

Não viu...

Tabela 2 – Tipos de perguntas de sondagem

Fonte: Adaptado de Stewart e Cash Jr.(2015) e Gongora (2012).

Variáveis que interferem em uma entrevista: fontes de erros na coleta da informação

Estilos de perguntas construídas que afetam a resposta do entrevistado

Um roteiro de entrevista, em geral, é minimamente estruturado, e ao longo do

processo, muitas vezes, é preciso criar perguntas primárias, fechadas e de sondagem.

Perguntas mal formuladas pelo entrevistador desencadeiam respostas errôneas advindas do

entrevistado.

Stewart e Cash Jr.(2015) enumeram os tipos de formulação de perguntas que devem

ser evitadas pelo entrevistador, por que são perguntas que induzem o entrevistado a erro na

verbalização de suas respostas:

a) Perguntas bipolares: quando se faz perguntas com o começo como: você sabe; você

sabia; você é; você foi; você pode; há e você poderia; o que; por que; como; explique e

fale sobre, dentre outras. O entrevistado pressupõe que só existam duas respostas

possíveis do tipo sim ou não, gosto ou não gosto, quando a intenção do entrevistador era

receber uma resposta detalhada ou específica.

Somente utilize este tipo de pergunta quando tiver a intenção que a resposta só possa

ser bipolar. Para eliminar este tipo de situação, comece as perguntas com palavras ou

frases que denotem e exijam informações detalhadas, sentimentos e atitudes.

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Cuidado com o uso dos por quês, pois, culturalmente, tem-se uma conotação negativa,

de culpado. Somente a utilize para chegar a fatos e não a sentimentos, pensamento e

emoções.

b) Perguntas do tipo Pergunte-me tudo: perguntas extremamente aberta sem restrições ou

orientações ao entrevistado. Este pode ter dificuldade de que modo começar, o que incluir

e excluir e quando terminar. Exemplo: “fale-me sobre você seu casamento, suas

doenças”. Logo, o entrevistador teria dificuldade de interromper a fala do entrevistado.

c) Substituir uma pergunta aberta por uma fechada: é feita uma pergunta aberta e antes do

entrevistado responder, o entrevistador reelabora logo em seguida, para um tipo fechado

ou bipolar; ou quando ainda está elaborando a pergunta mentalmente. Exemplo: fale-me

sobre a sua viagem para a casa de seus pais. Você viu o seu avô por lá?; Ou por que

você comprou uma nova caminhonete agora? Foi por causa do desconto?

d) Perguntas de Questionamento duplo: elabora duas ou mais perguntas ao mesmo tempo

ao invés de propor uma única pergunta precisa. Exemplo: para quais entidades

beneficentes você faz doações com mais frequência e por que as escolheu?; Fale-me

sobre as suas funções na empresa x e na y. A forma como a pergunta é posta, pôde-se

receber do entrevistado vários tipos de respostas parcialmente dúbia, ou responde-las

somente em uma parte, ou as responder de forma superficial. Ou até responder somente a

parte que se lembrar, e escolher uma, ou até reagir negativamente. Para evitar esta

situação, faça uma pergunta de cada vez.

e) Perguntas de Indução: são perguntas que sugestionam determinadas respostas através da

linguagem verbal e de sinais não verbais interpondo sentimentos e atitudes ao

entrevistado. Elas podem ser intencionais (quer influenciar) ou não intencionais (não tem

consciência da indução). Exemplo: você escolheu uma faculdade por que foi escolhida

pela sua namorada? A resposta do entrevistado, para a sua pergunta direcionada, será

distorcida para agradar ao entrevistador, podendo concordar com qualquer resposta que

pareça querer, especialmente, se estiver em posições hierárquicas diferentes. Ou poderá

expressar uma atitude aversiva por se sentir julgado. Induza somente quando houver a

necessidade de induzir, e evite este tipo de pergunta fazendo no lugar delas perguntas

neutras, e escute cada resposta atentamente.

f) Perguntas de Jogos de adivinhação: o entrevistador tenta adivinhar as informações ao

invés de pedi-las. Exemplo: “você foi o primeiro a chegar ao local?”. Este tipo se

caracteriza por uma sequência de perguntas fechadas que receberam respostas de sim ou

não. Para evitar isso, apoie-se em perguntas abertas como, por exemplo, “quando você

chegou?”.

g) Perguntas com Resposta sim ou não: uma pergunta óbvia gerará uma resposta óbvia.

Exemplo: “você quer passar nesta disciplina?”. Para evitar isso, faça perguntas abertas.

h) Sondagem curiosa: é quando o entrevistador se aprofunda em informações que não são

importantes para a investigação. Se for o necessário, faça uma pergunta e se o

entrevistado não achar relevante responder, explique a ele o porquê da necessidade deste

tema ser explorado.

Alertam Stewart e Cash Jr.(2015) e Gongora (2012) que a entrevista semiestruturada

não é um show de perguntas e respostas entre entrevistador e entrevistado ou um questionário

inflexível.

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Perguntas acima do nível de compreensão do entrevistado podem causar

constrangimento ou ressentimento, explica Scorsolini-Comin (2016). Por que segundo este

autor, as pessoas não querem parecer desinformadas, mal formadas ou pouco inteligentes.

Com esta sensação, o entrevistado pode dar informações vagas ou inventadas, por não

admitir que não soubesse, ou até chegar a sentir-se insultado quando as informações são

abaixo do seu nível esperado. Para evitar estas situações, faça perguntas dentro de categorias

ou referenciais em comum (SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Observações na entrevista: reflexões sobre as variáveis que interferem na entrevista

psicológica pericial

A observação é uma estratégia intimamente ligada à entrevista psicológica. Enquanto

o entrevistador realiza a entrevista, e faz as perguntas, também, irá observar o que o conteúdo

destas surte de efeito no entrevistado. Pois isto pode ser uma pista do não dito.

Esta é uma técnica que observa o comportamento expresso e constitui uma amostra

das relações sociais interpessoais do entrevistado. Através dela, podem-se compreender

pensamentos, ações e atitudes relacionadas ao tema investigado. Ocampo (2008) relata os

objetivos da entrevista inicial. Observa-se que estão intimamente correlacionados com a

observação psicológica, e serão descritos em seguida:

a) Perceber a primeira impressão que nos desperta o entrevistado, e se esta se mantém

ou se modifica ao logo da entrevista, e em que sentido. Observar aspectos da

linguagem corporal, roupas, gestos, maneira de se move e de ficar quieto, semblante.

Dentre outros comportamentos não verbais.

b) Considerar o que verbaliza o que, como, quando e em que ritmo é realizado. Para

depois comparar isso a imagem que ele transmite através da sua maneira de falar. As

características de linguagem o conteúdo destas verbalizações que escolhe começar a

falar e o que considera como motivo do encontro. Ele tem referência por quais termos,

e o que anula e o que restringe dentro do discurso, se são claros ou existem confusões

no modo de se expressar e escolha de termos. Comenta sobre o passado, o presente e o

futuro, e a utilização do tom de voz.

c) Extrair certas hipóteses da sequência temporal, como foi, é e será o entrevistado.

d) Estabelecer o grau de coerência ou discrepância entre tudo o que foi verbalizado e

tudo o que captamos através da sua linguagem não verbal. O que se expressa

verbalmente é algo menos controlado do que as verbalizações. Tal confrontação

podem nos informar sobre a coerência ou discrepância do que é apresentado no

motivo manifesto e o motivo subjacente.

Aquilo que não se pode dar como conhecimento de forma explicita, nos é fornecido ou

emerge do comportamento não verbal, que irá demonstrar concordâncias e divergências do

que se é dito de forma verbal. A confrontação das interações do que é expresso verbalmente e

o comportamento não verbal, podem transmitir uma congruência ou discrepância sobre o

assunto em questão (GÓMEZ, 2012).

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A técnica de observação é muito utilizada para contrastar as informações obtidas

através das entrevistas, comprovando, através de seu comportamento verbal e não verbal, a

consistência de certas atitudes mostradas pelo entrevistado que falsifica e manipula as provas

psicológicas no âmbito judicial (QUINTANA, 2010; GÓMEZ, 2012).

Isso porque a avaliação psicológica feita no âmbito jurídico, o psicólogo tem a

constante preocupação com as possíveis distorções dos dados por parte dos entrevistados.

Cabe ao psicólogo ter um posicionamento mais crítico e incisivo, e estar preparado e

atento a este tipo de conduta, detectando aspectos que podem contaminar toda a informação

transmitida na entrevista (SILVA, ROVINSKI, 2012; QUINTANA, 2010).

Esclarecem Serafim e Saffi (2012) que o papel do psicólogo é a investigação do

mundo psíquico e o estabelecimento de uma linha de compreensão daquele fenômeno que foi

delimitado. O profissional não está para fazer a coleta de dados afim de levantamento de

provas, nem a condenação, nem absolvição do periciando.

Cada profissional refletirá sobre quais estratégias irá adotar em cada situação

problema. Os casos podem ser parecidos, mas as pessoas são diferentes (GÓMEZ, 2012).

Dentro de um processo judicial, as partes envolvidas procuram a justiça com o

objetivo de resolver seus problemas, e nestes objetivos podem estar relacionados interesses

diversos daquele que originou o processo judicial (SERAFIM E SAFFI, 2012).

Quando as partes recebem uma intimação, relata Serafim e Saffi (2012), para

comparecer a uma avaliação com um psicólogo perito, vivenciam e expressam medo, raiva,

mágoa, ansiedade, angústias, e preocupações diante de uma situação de perícia.

O entrevistado fica desconfiado, tentando provar a sua inocência e credibilidade de seu

relato. Nas entrevistas, muitos acreditam que o problema não é com ele, e sim com o outro

que feriu seus direitos, e se sente “como se alguém estivesse suspeitando de que o problema

seja dele, e não do outro” (SERAFIM E SAFFI, 2012: 67).

Com esta situação estabelecida, o entrevistado fará articulações para tentar obter o

ganho do litígio, e não sofrer as punições coercitivas que serão desencadeadas daquele

processo judicial (QUINTANA, 2010).

E alguns entrevistados demonstram uma resistência a dar informações pertinentes e de

relevância ao caso. As partes podem tentar utilizar-se de artifícios comportamentais de

desconfiança, de omissões, de baixa cooperação nas atividades propostas, manipulação,

mentiras, simulação, e dissimulação (SILVA, ROVINSKI, 2012; QUINTANA, 2010;

GÓMEZ, 2012). Todos são considerados fontes de erros de informação de respostas por parte

do entrevistado.

No intuito de manter determinada situação de poder; ganhar tempo para o alcance de

metas diversas; encobrimento de situações de violência; falsas acusações de maus tratos ou de

abuso sexual, dentre outros. Os entrevistados também experimentam internamente questões

relacionadas à desejabilidade social, à falta de compreensão, aos lapsos de memória, e no

ocultar das verdadeiras opiniões e a variabilidade de suas percepções sobre a situação

(QUINTANA, 2010; GÓMEZ, 2012).

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Para exemplificar, Gómez (2012) relata um caso de pais que comparecem ao tribunal

para solicitar a guarda de seu filho, e os dados confirmam a detecção de algum tipo de

manipulação das respostas. Os pais irão declarar serem os melhores do mundo e que

transmitem uma educação equilibrada e psicologicamente adequada aos seus filhos.

E quando se avalia o filho, não é estranho que o encontre influenciado por alguma das

ideias ou instruções de um dos pais. Diante deste caso, a indagação do psicólogo.

que estratégias de tipo psicológico deveremos adotar para obter uma

informação que não esta contaminada por influências ou variáveis estranhas?

São confiáveis os dados que obtemos? Como os obter? Que estratégias

deveram ser adotadas para se obter as informações psicológicas mais

confiáveis sem contaminação alguma? (GÒMEZ, 2012: 79)

Ao se entrevistar vários integrantes de um grupo, as divergências e contradições são

frequentes, e são fontes de informações sobre o contexto relacional do entrevistado e seus

membros. Observa-se a administração de suas tensões, seus conflitos e a dinâmica psicológica

tanto individual quanto familiar organizada em uma mesma realidade (BLEGER, 2001).

Rovinski (2008) relata que na literatura segundo suas pesquisas, existem autores que

descrevem indicadores de simulação que poderiam ser observados na entrevista. O

entrevistado apresenta uma conduta cautelosa, premeditada dramatizada e exagerada, com

estilo teatral, se referindo a sintomas extremamente severos e indiscriminados. Articulam-se

mediando uma fala lenta, repetindo as questões, e excessiva hesitação.

Demonstra uma inconsistência no próprio relato no que se refere ao diagnostico

psiquiátrico, confirmações de sintomas positivos óbvios em detrimento dos negativos e mais

tênues. Como também, relatos de sintomas contraditórios e dispare entre sintomas relatados e

a observação da conduta, como sintomas raros e não usuais, com melhoras repentinas.

(ROVINSKI, 2008).

A Realização da entrevista

As questões- problema que ocorrem no contexto jurídico envolvem sofrimento e muita

mobilização emocional que disparam situações de estresse e ansiedade no entrevistado.

Scorsolini-Comin (2016) comenta que é muito importante ter em mente que para se

conhecer uma pessoa, o primeiro ponto é entrar em contato com ela, para se evitar

generalizações prévias do entrevistador.

Afirma Bleger (2001) que quando a entrevista é realizada para um terceiro, exige-se

do entrevistador manifestações de atitudes que motivem e despertem o interesse de

participação no entrevistado.

Além disso, deve ter à habilidade de manter a interação, que se refere à continuidade, à

coerência e ao entrosamento entre a fala e os demais comportamentos entre o entrevistado e o

entrevistador (GANGORA, 2012).

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E para isso, utiliza-se o instrumento do Rapport, que funciona como uma orientação,

uma conversa anterior à própria entrevista. O entrevistador irá propor um clima de

aproximação e interação de forma empática, e a criará junto ao entrevistado um contexto

menos tenso e ansiógeno, e que deve ser sustentado durante todo o processo. (GANGORA,

2012).

E a qualidade deste contato inicial poderá interferir significativamente no modo como

as respostas serão oferecidas pelo entrevistado (SCORSOLINI-COMIN, 2016).

E para mantê-la o entrevistador precisa estar atento, para observar e responder a

comportamentos, inclusive o não verbal do entrevistado. Scorsolini-Comin (2016) recomenda

que o entrevistador transmita uma postura com um ar de tranquilidade, criando um clima de

respeito e de acolhimento demonstrando interesse pelo relato do entrevistado. Por que a

depender de quem se entrevista, um ar de formalidade pode afastar o entrevistado. Como

também, um ar muito coloquial, para outros, pode fazer com que ele não confie na

credibilidade da entrevista.

É neste momento que o contrato é estabelecido, no qual serão expostas ao

entrevistado, as funções de todos os envolvidos, de quem pediu a avaliação e como esta

ocorrerá em suas atividades e encontros (SERAFIM E SAFFI, 2012; CASTRO, 2005).

Explica-se que aquele ambiente não é para um tratamento e sim “para entender o que

aconteceu e não para julgar, e que as informações relevantes serão remetidas a autoridade

requisitante”, a quem pediu a avaliação e que julgará o processo, o operador do direito

(SERAFIM E SAFFI, 2012: 67).

O sigilo pode e deve ser garantido ao entrevistado naquilo que é irrelevante para a

matéria jurídica em apreciação (CASTRO 2005; SHINE, 2008). Deve-se sim resgatar dados

considerados relevantes à matéria legal para elucidar as questões ao destinatário do laudo.

Colocando-se com o cuidado de não expor no laudo elementos desnecessários do periciando

(CASTRO, 2005).

Ao se explicar a função do psicólogo para o entrevistado, aconselha Scorsolini-Comin

(2016) a verbalizar que não existem posicionamentos e respostas consideradas certas ou

erradas. A função do profissional é compreender como o indivíduo se posiciona, compreende,

interpreta ou experiência determinado evento, fenômeno ou assunto, tema e objetivo daquela

entrevista, que podem ser diferentes de uma pessoa para a outra.

Obtêm-se informações pessoais acessando uma série de elementos do entrevistado que

podem compor um repertório e dar indícios, ou mesmo evidências, que podem ser úteis no

diagnóstico sobre as normas, os preconceitos, as expectativas, os padrões familiares e as

diferentes características individuais e grupais (SERAFIM E SAFFI, 2012; QUINTANA,

2010; SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Em seguida, pede-se ao periciando que conte com suas palavras e de modo minucioso

o motivo que suscitou o exame, e o fator jurídico envolvido (SERAFIM E SAFFI, 2012).

Segundo Bleger (2001) e Ocampo (2009), a entrevista começa por onde começa o

entrevistado.

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E durante o processo da entrevista, o entrevistador terá de ter flexibilidade processo da

conduzindo com fluidez, e segundo a necessidade do caso, poder mencionar, esclarecer,

avançar ou retroceder, e aprofundar as perguntas. Com o intuito de verificar informações

através de convergências e divergências expressas no discurso do entrevistado, a fim de

clarificar e obter as informações sem fostes de erros (GÓMEZ, 2012; SCORSOLINI-COMIN,

2016).

Conduzir a entrevista também significa por parte do entrevistador, manter uma

sequência das ideias, para não se perder de vista os objetivos. Os recursos sugeridos por

Gongora (2012) é valer-se de transições e do timing.

Nas transições é feito o uso de frases ou perguntas adequadas para mudar o assunto, ou

dar continuidade através de intervenções a outros assuntos relevantes. Já o timing é o

momento certo de a intervenção, colocando perguntas pertinentes ou falas introduzidas em

continuidade à fala do entrevistado.

As perguntas podem ser feitas pelo entrevistador uma de cada vez, e ouvindo

calmamente as respostas. A depender do conteúdo expresso pelo entrevistado, pode-se dispor

de outras perguntas correlacionadas ao tema que estão no roteiro guia. Como também, pode

fazer intervenções inserindo perguntas para compreender melhor o que o entrevistado está

relatando. Assim, não deixando dúvidas sobre o relato, porque a qualidade da exposição das

perguntas e o recolhimento das respostas podem afetar a análise e a fidedignidade da

entrevista (SCORSOLINI-COMIN, 2016; GONGORA, 2012).

Alerta Gómez (2012) que em um contexto judicial e de litígio, as pessoas avaliadas

mediante a estratégia de perguntar, sempre tenderam a possibilidade de contestar as perguntas

colocando-as ao seu favor.

Nestas situações, Shine (2008) alerta através de um exemplo, o cuidado e a cautela não

só no planejamento da construção de um bom roteiro de perguntas, mas também para se

pensar outros conteúdos relacionados à interação, como a postura, as questões éticas e

técnicas implicadas nas respostas do entrevistador.

Parece simples de cumprir, mas perguntas simples tais como: “o meu ex-marido já

veio aqui?” Ou “Você já conheceu o meu filho?” Devem ser avaliadas com cuidado e

respondidas com cautela. Afinal, isso (comparecimento ou não a entrevista

psicológica). Ao deixa de ser um dado pertinente à parte atendida. Pode haver a

intenção do uso de tal informação nas interações entre os membros da família em

litígio. Um pai convocado por mim para a entrevista com conhecimento da outra parte

foi preso no saguão do fórum por meio da execução de um processo de alimentos. Em

outro caso, a requerente queria subordinar suas entrevistas à vinda da parte contrária:

“Eu quero saber se ele veio, porque senão eu não vou comparecer de novo aí”. Nesse

momento, temos mais dados para avaliar a forma como está pessoa entende a sua

participação no processo. Este dado poderia ter-se obscurecido se não buscássemos a

preservação do enquadre de atendimento pericial (SHINE, 2008: 6).

Ter uma conduta ética e imparcial é importante para se permitir uma condução de

trabalho adequado. Se a outra parte não se sentir tratada com a mesma ética, respeito, cuidado

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e consideração que ela imagina que o entrevistador tenha com as outras partes. Ela trará

questionamentos, que de alguma forma, para o entrevistado refletem uma zona conflitiva,

angustiantes e até ameaçadoras (SHINE, 2008).

Com o prosseguir das entrevistas, deve-se planejar o encontro com outros terceiros

envolvidos e que podem fornecer informações relevantes. Já o planejamento técnico de outras

entrevistas deve ser construído visando o entendimento do caso. Como por exemplo,

entrevista inicial com os pais para posterior entrevista com a criança (SCORSOLINI-COMIN,

2016), entrevistas semiestruturais individuais ou em grupos; entrevistas com os filhos,

individuais ou conjunto com os pais, ou outras pessoas que convivem e podem fornecer

informações (GOMEZ, 2012).

No início ou durante as entrevistas podem ocorrer dificuldades para entrar em contato

com os pais ou mesmo de encontrar horários comuns disponíveis para que ambos participem

desse encontro. O profissional precisa lidar com essas especificidades e se articular de modo

que tais dificuldades não interfiram significativamente no processo tanto de avaliação quanto

o judicial (SCORSOLINI-COMIN, 2016).

Segundo Gongora (2012) e Scorsolini-Comin (2016:143) podemos nos preparar para a

entrevista em termos de ajuste linguístico, “mas é sempre importante considerar que nossas

pressuposições nem sempre serão confirmadas, de modo que o roteiro pode ter uma redação

mais formal e ser adaptado em função das necessidades observadas durante o contato com o

entrevistado”. É natural ocorrerem ajustes, estes se referem às especificidades do contato

humano que nem sempre podem ser previstas ou controladas.

Conclusão

O objetivo deste presente artigo se localiza no interesse da autora em estudar a

entrevista como técnica de avaliação, fundamental para a psicologia na área jurídica. Como

pontos disparadores, objetiva-se planejar um roteiro de entrevistas sugestivo para que o

profissional psicólogo possa refletir sobre a maneira de operacionalizar suas perguntas.

Tentou-se através deste artigo, descrever a entrevista como técnica de investigação

cientifica. Não está direcionado a um tema jurídico especifico, e sim em modos de se pensar

esta técnica através da entrevista semiestruturada, seu roteiro e formas de fazer as perguntas.

Com o intuito de que qualquer psicólogo judiciário pudesse usufruir destes procedimentos

descritos sobre a sua prática.

Uma das limitações encontradas foi que na pesquisa bibliográfica, a maioria dos

artigos científicos encontrados se relacionavam a entrevista com crianças e adolescentes que

passaram por situações abuso sexual. Foram poucos os artigos ou capítulos de livros que

falavam especificamente sobre o tema o a entrevista psicológica como técnica no judiciário de

forma mais técnica. O tema deste artigo poderia ser mais explorado por outros pesquisadores,

assim melhorando a técnica, e a cada dia nossa prática.

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