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Enxertos Paramaleolares a partir da artéria poplítea: resultados imediatos e tardios
"
Os autores analisam os resultados a curto e a longo prazo de 20 enxertos poplíteo paramaleolares em 18 pacientes realizados no período de janeiro de 1989 a novembro de 1994 com um acompanhamento variando de um mês a 60 meses. -
Os pacientes tinham um bom pulso poplíteo e pulsos podálicos ausentes, apresentavam lesão trófica de artelhos ou ante-pé tendo sido submetidos a antibioticoterapia, desbridamento e ou amputação e artelhos com má evolução. A perviedade imediata foi de 82% (16 membros). Os quatro membros restantes com enxerto não funcionante necessitaram de amputação transtibial. A perviedade acumulada após 60 meses, baseada na curva atuarial· foi de 73%. Um paciente apesar do enxe.rto funcionante evoluiu para amputação ao nível da coxa por infecção ascendente com óbito. Os demais encontram-se pérvios. Três pacientes morreram neste período, todos com enxerto funcionante.
Esse tipo de enxerto é uma boa opção terapêutica a curto e a longo prazo para pacientes que apresentam isquemia devido a lesões da artéria poplítea distai e artérias tibiais.
Unitermos: artérias, derivações arteriais, derivações distais.
J á há anos os enxertos femoropoplíteo e fêmoro-tibial tornaramse procedimentos consensuais no
tratamento das obstruções das artérias femoral superficial e poplítea. Os enxertos para as artérias paramaleolares a partir da artéria femoral comum e superficial também têm sido progressivamente utilizados l.l5.16. Existe, porém, um grupo de pacientes com puls; poplíteo nOllllal cuja arteriogratia mostra obstrução de artérias de perna e artéria temoral superficial e poplítea sem lesões significativas. Estes, no passado, não eram submetidos a revascularização e frequentemente tinham seus membros amputados. Atualmente, com o auxílio de uma arteriografia de boa qualidade e do Doppler ultrasom podemos identificar a perviedade de artérias a nível paramaleolar epodal e revascularizar o membro a fim de reduzir o número de amputações. O objetivo deste trabalho é analizar os resultados destas reváscularizações a curto e longo prazo, quanto a sua perviedade e taxa de salvação de membro.
Foram tratados 20 membros inferiores em um total de 18 pacientes, de janeiro de 1989 a novembro de 1994. Esses pacientes tinham gangrena de artelhos e haviam sido submetidos previamente a tratamento clínico, amputação de pododáctilos e ou debridamento cirúrgico, mas com evolução desfavorável.
A idade variou entre 58 a 78 anos com média de 64 anos. Doze pacientes eram do sexo masculino, sete eram tabagistas, 13 tinham diabetes e sete cardiopatia lsquêmlCa.
Três pacientes não-diabéticos haviam sido submetidos a simpatectomia lombar. Todos os pacientes tinham pulso poplíteo presente e pulsos podálicos ausentes. O índice pressórico tornozelobraço, excluindo 4 pacientes que apresentavam artérias incompressíveis por calcificação de parede arterial , era diminuido. A arteriografia mostrou artéria femoral superficial sem estenoses significativas , com obstrução da artéria poplítea distaI ou artérias tibiais na sua
Carlos Eduardo Pereira Chete do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Santo Amaro - Guarujá.
Maria Cristina Souza Corrêa Prot. Assistente da Disciplina de Cirurgia Vascular da Faculdade de Ciências Médicas de Santos.
Benito Vasquez Fernandez Maria de Fátima Silva Martins Cirurgiões Vasculares do Hospital Santo Amaro - Guarujá .
Marcello Romiti Prot. Adjunto de Cirurgia Vascular da Faculdade de Ciências Médicas de Santos .
Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Santo Amaro no Guarujá e no curso de pós-graduação "Latu Sensu" em Cirurgia Vascular da Faculdade de Ciências Médicas de Santos - Fundação Lusíadas.
Recebido em 30/1/95 Aprovado para publicação em 19/6/96
emêrgencia com reenchimento distai da artéria tibial posterior a nível maleolar ou pediosa. Não foram utilizadas como sítio de anastomose proximal artérias poplíteas que apresentavam estenoses proximais significativas. A avaliação clínica e a arteriogratla foram os únicos métodos utilizados na quantificação das estenoses proximai s porventura existentes.
A angiografia convencional por nós utili zada não foi suficiente para demonstrar em todos os pacientes a perviedade das artérias ao nível do pé. Em tais casos, foi realizada a artenografi~ intra-operatória pré-reconstrução e mesmo quando através deste último recurso não se conseguiu demonstrar os vasos no pé , procedeu-se à exploração arterial baseada na presença de fluxo ao Doppler ultrassom a nível distaI.
O enxerto utilizado foi preferencialmente a veia safena interna "in situ". Do total de 20 membros, ele foi utilizado em 14 membros. Em dois casos utilizamos a veia safena interna invertida ipsilateral, porque não havia devalvulador dis-
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Enxertos paramaleolares a partir da artéria poplítea Carlos Eduardo Pereira e cols.
ponível. Em um caso usamos a veia safena interna invertida contralateral, em dois a veia cefálica invertida, e em um paciente a veia safena externa "in situ", neste último devido à proximidade da lesão trófica com a veia safena interna.
A hemostasia temporária foi realizada com c1ampes na artéria poplítea, utilizando-se fios de catgut 00 simples com dupla laçada para controle das artérias distais .
A anastomose proximal foi realizada na artéria poplítea a nível infrapatelar com fio de prolene 5-0 , procedendo-se a seguir à devalvulação nos casos em que a veia foi utilizada de maneira "in situ" e o implante distaI com prolene 6-0 . Não foram usados instrumentos para magnificação óptica na realização das anastomoses. O sítio de implante da anastomose distaI foi em 13 casos a artéria pediosa e em sete a tibial posterior à nível maleolar.
A arteriografia intra-operatória pósrevascularização foi realizada em todos os pacientes submetidos a enxerto " in situ" com a finalidade de identificar as fístulas artério-venosas.
RESULTADOS
Dos 20 enxertos realizados, quatro obstruíram no pós-operatório imediato, tornando necessária, a amputação transtibial. Uma paciente , apesar do enxerto funcionante, recusou-se a novo debridamento cirúrgico evoluindo c;m infecção ascendente, amputação de coxa e óbito por septicemia, correspondendo ao único caso de letalidade da nossa séne.
Nos 15 enxertos pérvios restantes , tivemos duas obstruções, uma no 42° dia devido, a exposição do enxerto por infecção e ou!ra no 62° dia, porém os pacientes já apresentavam as lesões cicatrizadas e não necessitaram de amputação. Houve dois óbitos com 31 e 57 meses correspondendo a perda de três enxertos pérvios, posto que um paciente havia sido operado bilate ralmente.
A análise atuarial mostra perviedade primária imediata de 82% e após 60 meses
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Meses
Flg. 1 - CUrva atuarial de pervldade aClmulada após 60 meses. As valores na curva Indicam o nlÍTlero de enxertos em risco no período.
de 72% (fig. 1). A figura 2 mostra a taxa de salvamento de membro de 76% no mesmo período de acompanhamento.
DISCUSSÃO
Com a evolução da técnica cirúrgica e angiográfica tornou-se possível a realização de enxertos cada vez mais distais na tentativa de salvação de membros l
.
Tradicionalmente a artéria femoral comum foi utilizada como sítio da anastomose proximal nas revascularizações infrainguinai s, por ser esta mais preservada da progressão da arterosclerose que a artéria femoral superficial. Embora nem todos os artigos tenham mostrado diferenças relevantes entre os enxertos curtos e longos, a partir de 1981 , observa-se tendência crescente no sentido de se preferir a artéria poplítea para anastomose proximal 1.3.4.9.12
Alguns trabalhos têm demonstrado resultados superiores quando a anastomose proximal é realizada distalmente l
•5•18 As explicações propostas
são que o fluxo aumentado pela artéria femoral superficial e poplítea resultante do enxerto distalmente si-
tuado , pode por si só prevenu a progressão da doença nas artérias proximais ao by-pass a semelhança do que ocorre na artéria ilíaca doadora nos enxertos femorais l 8
O primeiro artigo utilizando a artéria poplítea ou artéria femoral superficial como sítio de implante proximal para o enxerto distaI , foi relatado por Veith l7 Existem muitos benefício s teóricos ao se utilizar um enxerto curto a saber: a necessidade de menor di ssecção com consequente diminuição do tempo cirúrgico , menor probabilidade de infecções e dei s cência , redução das complicaçõ es técnicas relacionadas ao comprimento do enxert0 7• 17 Outras vantagen s incluem, a utilização de segmentos mais curtos de veias, com consequente redução da resi stência do enxerto 16 e , se ocorrer infecção na anastomose proximal, a artéria femoral profunda estará preservada
Um temor ao se utilizar este s enxertos curtos é a progress ão da moléstia proximalmente. A análise da evolução destes pacientes na grande m a ioria dos trabalho s parece tornar esta preocupação injustificável, posto que a oclusão destes enxertos curtos
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Enxertos paramaleolares a partir da artéria poplfteu
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Meses
Flg. 1 - Curva atualal de salvação de membros após 60 meses. Os valores na curva Indicam o número de enxertos em risco no período.
devido a progressão da doença proximal , foi uma ocorrência rara que variou na literatura de 3% a 6%3,10,17
Dados a respeito da perviedade destes enxertos a longo prazo são limitados. Rosenbloon relatou que existe maior pos sibilidade de oclusão do enxerto se este for realizado na presença de estenose proximal maior do que 20% na artéria femoral superficia16 A experiência de Wergerter e col, recentemente relatada, de 153 enxertos poplíteos distais, demonstrou que um grau de estenose proximal maior do quê 35% afetou a taxa de perviedade a longo prazo destes enxertos diminuindo-a de 77% para 53%, em dois anos de seguimento19
Mills não realiza a anastomose proximal com estenoses proximais maior do que 20%, preferindo nestes casos implantar o enxerto mais proximalmente ou tratar a estenose com angioplastia, recomendando o mapeamento dupplex para avaliar a significância hemodinâmica destas lesões proximais 6 Por não dispormos do Ecodoppler, utilizamos somente o critério clínico e arteriográfico na qu'antificação das estenoses proximais.
Os nossos resultados a curto e a
longo prazo de 82 % e 73 % respectivamente de perviedade primária, foram animadores, à semelhança dos observados na literatura5,4,8.9,11,15,16
As obstruções ocorreram nos primeiros três meses de seguimento. Tal fato é observado nos trabalhos de outros autores, levando-nos a crer que a maioria das obstruções precoces ocorrem por falha técnica ou escoamento pobre2•4.5,9.15,16,19 Auer atri
bue como causa de obstruções erro técnico em 32% e, em 68% desague pobre2 Neste período de avaliação, com casuística pequena , não conseguimos observar obstruções atribuíveis a progressão proximal da doença, fato em concordância com a literatura,
Com relação à forma como a veia é utilizada, nos enxertos curtos, a discordância na literatura é grande. Mills dá preferência a usar veia safena magna dissecada na coxa ipsilateral de forma reversa, argumentando que esta veia é facilmente disponível evitando as complicações potenciais de cicatrização da ferida operatória as quais podem ocorrer quando se disseca a mesma ao nivel do pé e perna lI
Na experiência de Quinofies-Bal-
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drich, não existe diferença estatística entre a configura ção " in situ" ou reversa da veia safena sendo crítico da forma translocada (não reversa e devalvulada) , a legando que tai s enxertos apresentam como desvantagens a necessidade de dissecç ão venosa além da posterior d evalvulação , procedimentos es tes que causam trauma a parede venosa, favorecendo a possibilidade de hiperplasia intimal 13 Contrapondo-se a est a opinião, Gloviczky8, defende a utilização na forma tran slocada ao invés da veia reversa alegando a pro porcionabilidade do diâmetro d o enxerto e das artérias doadora s e receptoras , além de evitar dificuldades de cicatrização devido a s incisõe s realizadas para a retira da veia safena ao nível do pé.
Alguns autore s relatam 25% de complicações infecciosas e necrose de pele nas incisões do pé 12 Pelo menos três fatores parec em ser os re sp onsáveis por este problema: o edema do membro no pós-operatório, a criação de retalhos de pele devido a dissecção da veia safena ao nível do pé e a tunelização do subcutâneo . Devido a tais complicações algun s serviço s preferem utilizar a veia reversa ou translocada dissecada ao nív el da coxa 11 Um de no s sos paciente s apresentou necrose da pele e exposição do enxerto com obstrução no 42° dia de pós-operatório. Apó s tal complicação, nos tornamo s mai s cuidadosos nas dissecçõe s da veia safena e tuneli zacão no subcutâneo do enxerto , bem como p assamo s a optar pela utilização da veia safena interna retirada da coxa quando o paciente apresentava process o infeccioso importante ou edema do lnembro.
As obstruções ocorridas apó s 3 O dias não obrigatoriamente levaram os pacientes a amputação pois as lesões já estavam cicatrizadas , fato também observado por outros autores 14, o que nlanteve a nossa' curva de salvaç ão de membros em 7 6%,
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Enxertos paramaleolares a partir da artéria poplítea
A letalidade pós-operatória, definida como Gcorrida dentro dos primeiros 3 O rlias da cirurgia se resumiu a um paciente que apesar do enxerto funcionante se recusou ao desbridamento e houve infecção ascendente e sepsis. Tal complicação também foi descrita em quase todas as séries 4
•8 e reforça a opinião de
muitos autores que preconizam um desbridamento precoce nas lesões infectadas 16
Os resultados deste estudo apóiam uma conduta intervencionista em pacientes com isquemia grave na pre-
POPLlTEAL - PARAMALLEOLAR ARTERV BVPASS: EARLV AND LATE RESULTS
The authors analyse the short and long term results of 20 poplitealparamalleolar artery bypasses, performed in 18 patíents, from January 1989 to November 1994. The follow-up períod varied from one to
sença de doença oclusiva poplítea e tibial, mostrando ser vantajosa a revascularização de artérias podais. Há 20 anos, acreditava-se que somente um em' cada seis pacientes diabéticos poderia ser submetido a reconstrução vascular. Atualmente, aceita-se que 90% dos pacientes diabéticos com isquemia grave serão beneficiados pela reconstrução arterial mesmo que somente as artérias ao nível do tornozelo estejam pérvias. A taxa de salvamento entre 80 a 90% é semelhante as taxas obtidas com as revascularizações fêmoro-poplíteas e fêmoro-tibiais. Levando-se em con-
60 months. Ali patíents had a good poplíteal pulse and absent pedal pulses. Ali presented with toe or forefoot trophiê lesions, that had been previously treated with antibiotics, local debridement or amputation, without healing.
The immediate patency rate was 80% (16/imbs). The four limbs with failed grafts went on to a below-knee amputation. The cumulative patency rate at 60 months was 70% (life-table method). One patient with a patent
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sideração as dificuldades assistenciais do nosso serviço, as taxas de perviedade primária e salvação de membro de 73 e 76% são animadoras, posto que todos os pacientes apresentavam isquemia grave e, aqueles que apresentaram obstrução precoce do enxerto evoluíram para amputação infrapatelar e não em nível mais proximal.
Em conclusão, os enxertos poplíteos para maleolares são eficientes a longo prazo e seu uso deve ser incentivado.
Agradecemos a colaboração do Prof. Maximiniano T Albers na orientação deste trabalho.
bypass underwent below-knee amputation for an ascending infection. The remaining bypasses are patent. Three patients with patent grafts died during the follow-up period.
The popliteal-paramalleolar bypass is a good short and long term therapeutic option for patients with lower limb ischemia dlje to popliteal artery trifurcation lesi,ons.
Key Words : arteries, arterial bypass, distai bypass .
Enxertos paramaleolares a partir da artéria poplítea
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