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Durante quase um mês Dilma ficou sozinha na cela em Juiz de Fora, submetida a sessões de interrogatórios e a todo tipo de tortura. Nem sob forte violência entregou colegas POL ÍTICA ESTADO DE MINAS S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E J U N H O D E 2 0 1 2 4 REPERCUSSÃO EL MUNDO (ESPANHA) Dilma foi torturada com choques elétricos durante a ditadura “Mantinha contato apenas com meus torturadores” Além de eletrochoques, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, sofreu pancadas que lhe arrancaram um dente, também enfrentando torturas psicológicas como a simulação de fuzilamento, segundo divulgaram os jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. ABC (ESPANHA) Dilma Rousseff foi torturada com eletrochoques na ditadura A presidente foi golpeada até que lhe arrancaram um dente e foi vítima de técnicas de tortura psicológica como a simulação de um fuzilamento, segundo divulgam os diários Correio Braziliense e Estado de Minas. TE INTERESSA (ESPANHA) A presidente do Brasil foi torturada com eletrochoque durante a ditadura Dilma Rousseff relata os escabrosos métodos de tortura que sofreu durante os três anos em que esteve presa por se opor ao regime militar. EL MERCURIO (CHILE) A imprensa brasileira revela as torturas sofridas por Dilma Rousseff A presidente recebeu choques elétricos durante a ditadura, segundo divulgaram os diários Correio Braziliense e Estado de Minas. COOPERATIVA (CHILE) Presidente relatou eletrochoques e pancadas sofridas na ditadura Entrevista da presidente do Brasil ao Conselho de Direitos Humanos de Minas, foi divulgada pelos diários Correio Braziliense e Estado de Minas. CBN (BRASIL) Dilma foi torturada também em Juiz de Fora, afirma jornal Segundo o Estado de Minas, documentos mostram depoimento pessoal da presidente quando ela tinha 22 anos. CRÓNICA VIVA (ARGENTINA) Brasil: meios revelam detalhes de torturas a Dilma Rousseff A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi torturada com eletrochoques enquanto permanecia presa durante a última ditadura brasileira, informa neste domingo a imprensa deste país. 24 HORAS (PERU) Dilma recebeu choques elétricos e pancadas durante a ditadura A presidente do Brasil foi torturada com largas sessões de eletrochoques e simulações de fuzilamento entre 1970 e 1973, quando era militante de esquerda e lutava contra o regime militar, informou a imprensa de seu país. EL FINANCIERO (MÉXICO) Dilma Rousseff, vítima de tortura A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, relatou em 2001 a uma comissão de direitos humanos as torturas que sofreu entre 1970 e 1973, quando aos 20 anos militava no Comando da Libertação Nacional (Colina), segundo revelaram os jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. O GLOBO (BRASIL) Documentos detalham tortura sofrida por Dilma na ditadura Depoimento da presidente divulgado pelo jornal Estado de Minas expõe um capítulo ainda pouco conhecido da militância política da petista. No alto, o croqui das instalações do presídio onde estava Ângelo Pezzuti. Ao lado, um dos bilhetes escritos por ele para tentar planejar a fuga SANDRA KIEFER A passagem de Dilma pelo cárcere de Juiz de Fora foi mais mineira, no sentido de reservada, mas nem por isso menos dura. Conforme depoimento pessoal, durante quase um mês Dilma ficou sozinha na cela, na condição de clandestina, sendo torturada em Juiz de Fora. “Fiquei em absoluto isolamento, mantendo contatos apenas com os meus torturadores, entre- gue por um carcereiro, que também me conduzia ao banheiro, quando conseguia andar. Nesse período, fui submetida, por quase um mês, a interrogatórios e a toda sorte de torturas”, revelou a presidente, por escrito, em documentação anexa ao depoimento pessoal, que consta do processo mineiro do Conse- lho Estadual de Direitos Humanos (Conedh-MG). Nem sob tortura intensa, a então jovem militan- te política de esquerda, de codinome Estela, confir- mou a suspeita de infiltração de colegas da própria organização no meio policial e militar. Tampouco re- velou a identidade desses tais militantes infiltrados nem sequer o nome da organização a que pertencia. Somente em 2001, diante da dupla de estagiários do Conedh-MG, Dilma revelou o nome de todos os gru- pos a que pertencera. Em voz alta, revelou com to- das as letras: “Eu pertenci às seguintes organizações: Colina, Polop, O… (lê-se Ó Pontinho) e VAR. A Polop deu Colina, VPR e POC”. Na realidade, no período em que Gabriel (Ânge- lo Pezzuti) estava preso e tentava estabelecer con- tato com Mônica (Oroslinda) e com Estela, no iní- cio de 1970, Dilma já havia deixado a Colina. Sabe- se que, no fim de 1969, o Colina seria praticamen- te dizimada, com a prisão, tortura e perseguição de seus militantes em Belo Horizonte, obrigados a viver na clandestinidade no Rio, São Paulo e em ci- dades do interior do país. No carnaval de 1969, o Colina já havia sido fundida com a VPR e Estela passaria a adotar o codinome de Vanda. Antes dis- so, em uma fase de transição para a criação do no- vo grupo, Colina e VPR foram provisoriamente ba- tizados de Ó Pontinho. “Ainda vai ser necessário mais tempo para que es- sa história bonita de luta seja entendida sem paixão”, compara José Francisco da Silva, que era secretário- adjunto de Direitos Humanos na época e foi respon- sável por enviar a jovem equipe à capital gaúcha. Em- bora tivesse direito à indenização, por ter militado na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, a antiga Fafich da Rua Carangola, Chico nunca reivindicou o valor, evitando qualquer risco de manchar a imagem da comissão mineira, a primeira do país a começar a pagar as indenizações às vítimas de tortura. Perante os “meninos do Chico”, Dilma continua contando a história do Brasil depois de 31 de março de 1964, data do golpe militar. “Em Minas, fiquei só com a Terezinha. Um dia, a gente estava nessa cela, sem vidro. Um frio de cão. Eis que entra uma bomba de gás lacrimogênio, pois estavam treinando lá fora. Eu e Terezinha ficamos queimadas nas mucosas e fo- mos para o hospital”, continua a presidente. Não se sabe quem teria sido essa Terezinha. No movimento de esquerda de BH, onde Dilma militava, não há registros conhecidos da participa- ção de uma Terezinha, nem com esse nome verda- deiro nem falso. “Eu me lembro da Dilma quando ia visitar a minha mãe na prisão. Eu tinha apenas 15 anos. Gostaria de me esquecer dessas memórias”, afirma Eugênia Cristina Godoy de Jesus Zerbini, ho- je com 58 anos, advogada e escritora em São Paulo. Ela é filha da única Terezinha já citada nos escritos conhecidos sobre a época da ditadura. “Se a passa- gem deu-se em Minas, em 1972, asseguro que essa Terezinha não é minha mãe”, diz. “Mamãe ficou detida de março a dezembro de 1970 na Oban (Operação Bandeirantes) de São Paulo. Em 1972, ela não poderia estar em Juiz de Fora com a Dilma, pois já tinha ganhado a liberdade e me pe- gava diariamente na faculdade com seu Dodge Dart”, explica, por telefone, da capital paulista. Hoje com 84 anos, Therezinha Zerbini era casada com o general Euryale de Jesus Zerbini, desertor da ditadu- ra, e fundou o Movimento Feminista pela Anistia, denunciando que havia perseguidos políticos sen- do presos e torturados no Brasil. E quanto ao estudante da Faculdade de Medicina da UFMG Ângelo Pezzuti, dirigente do Colina? Se- gundo o grupo Tortura Nunca Mais, Ângelo foi ba- nido do país em 1970, trocado com outros 39 com- panheiros, inclusive o irmão Murilo Pezzuti, pelo embaixador alemão (esse foi um dos sequestros de embaixadores praticados pelas organizações de luta armada com o objetivo de libertar seus militantes torturados no país). Em 1971, Ângelo encontrou-se no Chile com sua mãe, Carmela Pezzuti, também ba- nida do Brasil por suas atuações políticas. Com o gol- pe chileno, Ângelo foi para o Panamá e depois para a França, onde morreria em Paris, em 1974, em um acidente de motocicleta. REPRODUÇÃO

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Durante quase um mês Dilma ficou sozinha na cela em Juiz de Fora, submetida a sessõesde interrogatórios e a todo tipo de tortura. Nem sob forte violência entregou colegas

POLÍTICA

E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E J U N H O D E 2 0 1 2

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❚❚ REPERCUSSÃO

EL MUNDO (ESPANHA)

Dilma foi torturada com choqueselétricos durante a ditadura

“Mantinha contatoapenas com meustorturadores”

Além de eletrochoques, a presidente do Brasil,Dilma Rousseff, sofreu pancadas que lhearrancaram um dente, também enfrentandotorturas psicológicas como a simulação defuzilamento, segundo divulgaram os jornaisCorreio Braziliense e Estado de Minas.

ABC (ESPANHA)

Dilma Rousseff foi torturada comeletrochoques na ditadura

A presidente foi golpeada até que lhe arrancaramum dente e foi vítima de técnicas de torturapsicológica como a simulação de um fuzilamento,segundo divulgam os diários Correio Braziliense eEstado de Minas.

TE INTERESSA (ESPANHA)

A presidente do Brasil foi torturadacom eletrochoque durante a ditadura

Dilma Rousseff relata os escabrosos métodos detortura que sofreu durante os três anos em queesteve presa por se opor ao regime militar.

EL MERCURIO (CHILE)

A imprensa brasileira revela astorturas sofridas por Dilma Rousseff

A presidente recebeu choques elétricos durante aditadura, segundo divulgaram os diários CorreioBraziliense e Estado de Minas.

COOPERATIVA (CHILE)

Presidente relatou eletrochoquese pancadas sofridas na ditadura

Entrevista da presidente do Brasil ao Conselho deDireitos Humanos de Minas, foi divulgada pelosdiários Correio Braziliense e Estado de Minas.

CBN (BRASIL)

Dilma foi torturada também emJuiz de Fora, afirma jornal

Segundo o Estado de Minas, documentosmostram depoimento pessoal da presidentequando ela tinha 22 anos.

CRÓNICA VIVA (ARGENTINA)

Brasil: meios revelam detalhesde torturas a Dilma Rousseff

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foitorturada com eletrochoques enquantopermanecia presa durante a última ditadurabrasileira, informa neste domingo a imprensadeste país.

24 HORAS (PERU)

Dilma recebeu choques elétricose pancadas durante a ditadura

A presidente do Brasil foi torturada com largassessões de eletrochoques e simulações defuzilamento entre 1970 e 1973, quando eramilitante de esquerda e lutava contra o regimemilitar, informou a imprensa de seu país.

EL FINANCIERO (MÉXICO)

Dilma Rousseff,vítima de tortura

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, relatou em2001 a uma comissão de direitos humanos astorturas que sofreu entre 1970 e 1973, quandoaos 20 anos militava no Comando da LibertaçãoNacional (Colina), segundo revelaram os jornaisCorreio Braziliense e Estado de Minas.

O GLOBO (BRASIL)

Documentos detalham torturasofrida por Dilma na ditadura

Depoimento da presidente divulgado pelo jornalEstado de Minas expõe um capítulo ainda poucoconhecido da militância política da petista.

No alto, o croqui

das instalações do

presídio onde

estava Ângelo

Pezzuti. Ao lado,

um dos bilhetes

escritos por ele

para tentar

planejar a fuga

SANDRA KIEFER

A passagem de Dilma pelo cárcere de Juiz de Forafoi mais mineira, no sentido de reservada, mas nempor isso menos dura. Conforme depoimento pessoal,durante quase um mês Dilma ficou sozinha na cela,na condição de clandestina, sendo torturada em Juizde Fora. “Fiquei em absoluto isolamento, mantendocontatos apenas com os meus torturadores, entre-gue por um carcereiro, que também me conduzia aobanheiro, quando conseguia andar. Nesse período,fui submetida, por quase um mês, a interrogatóriose a toda sorte de torturas”, revelou a presidente, porescrito, em documentação anexa ao depoimentopessoal, que consta do processo mineiro do Conse-lho Estadual de Direitos Humanos (Conedh-MG).

Nem sob tortura intensa, a então jovem militan-te política de esquerda, de codinome Estela, confir-mou a suspeita de infiltração de colegas da própriaorganização no meio policial e militar. Tampouco re-velou a identidade desses tais militantes infiltradosnem sequer o nome da organização a que pertencia.Somente em 2001, diante da dupla de estagiários doConedh-MG, Dilma revelou o nome de todos os gru-pos a que pertencera. Em voz alta, revelou com to-das as letras: “Eu pertenci às seguintes organizações:Colina, Polop, O… (lê-se Ó Pontinho) e VAR. A Polopdeu Colina, VPR e POC”.

Na realidade, no período em que Gabriel (Ânge-lo Pezzuti) estava preso e tentava estabelecer con-tato com Mônica (Oroslinda) e com Estela, no iní-cio de 1970, Dilma já havia deixado a Colina. Sabe-se que, no fim de 1969, o Colina seria praticamen-te dizimada, com a prisão, tortura e perseguiçãode seus militantes em Belo Horizonte, obrigados aviver na clandestinidade no Rio, São Paulo e em ci-dades do interior do país. No carnaval de 1969, oColina já havia sido fundida com a VPR e Estelapassaria a adotar o codinome de Vanda. Antes dis-so, em uma fase de transição para a criação do no-vo grupo, Colina e VPR foram provisoriamente ba-tizados de Ó Pontinho.

“Ainda vai ser necessário mais tempo para que es-sa história bonita de luta seja entendida sem paixão”,compara José Francisco da Silva, que era secretário-adjunto de Direitos Humanos na época e foi respon-sável por enviar a jovem equipe à capital gaúcha. Em-bora tivesse direito à indenização, por ter militado naFaculdade de Filosofia e Ciências Humanas, a antigaFafich da Rua Carangola, Chico nunca reivindicou ovalor, evitando qualquer risco de manchar a imagemda comissão mineira, a primeira do país a começar apagar as indenizações às vítimas de tortura.

Perante os “meninos do Chico”, Dilma continuacontando a história do Brasil depois de 31 de marçode 1964, data do golpe militar. “Em Minas, fiquei sócom a Terezinha. Um dia, a gente estava nessa cela,sem vidro. Um frio de cão. Eis que entra uma bombade gás lacrimogênio, pois estavam treinando lá fora.Eu e Terezinha ficamos queimadas nas mucosas e fo-mos para o hospital”, continua a presidente. Não sesabe quem teria sido essa Terezinha.

No movimento de esquerda de BH, onde Dilma

militava, não há registros conhecidos da participa-ção de uma Terezinha, nem com esse nome verda-deiro nem falso. “Eu me lembro da Dilma quando iavisitar a minha mãe na prisão. Eu tinha apenas 15anos. Gostaria de me esquecer dessas memórias”,afirma Eugênia Cristina Godoy de Jesus Zerbini, ho-je com 58 anos, advogada e escritora em São Paulo.Ela é filha da única Terezinha já citada nos escritosconhecidos sobre a época da ditadura. “Se a passa-gem deu-se em Minas, em 1972, asseguro que essaTerezinha não é minha mãe”, diz.

“Mamãe ficou detida de março a dezembro de1970 na Oban (Operação Bandeirantes) de São Paulo.Em 1972, ela não poderia estar em Juiz de Fora coma Dilma, pois já tinha ganhado a liberdade e me pe-gava diariamente na faculdade com seu DodgeDart”, explica, por telefone, da capital paulista. Hojecom 84 anos, Therezinha Zerbini era casada com ogeneral Euryale de Jesus Zerbini, desertor da ditadu-ra, e fundou o Movimento Feminista pela Anistia,denunciando que havia perseguidos políticos sen-do presos e torturados no Brasil.

E quanto ao estudante da Faculdade de Medicinada UFMG Ângelo Pezzuti, dirigente do Colina? Se-gundo o grupo Tortura Nunca Mais, Ângelo foi ba-nido do país em 1970, trocado com outros 39 com-panheiros, inclusive o irmão Murilo Pezzuti, peloembaixador alemão (esse foi um dos sequestros deembaixadores praticados pelas organizações de lutaarmada com o objetivo de libertar seus militantestorturados no país). Em 1971, Ângelo encontrou-seno Chile com sua mãe, Carmela Pezzuti, também ba-nida do Brasil por suas atuações políticas. Com o gol-pe chileno, Ângelo foi para o Panamá e depois paraa França, onde morreria em Paris, em 1974, em umacidente de motocicleta.

REPRODUÇÃO