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Antes de deixar o Brasil ontem, rumo ao México, Dilma lê reportagem do EM sobre a violência sofrida por ela em Juiz de Fora. Matéria repercute entre setores do governo e da sociedade civil POL ÍTICA ESTADO DE MINAS S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E J U N H O D E 2 0 1 2 5 BERTHA MAAKAROUN, DENISE ROTHENBURG E RENATA MARIZ Logo de manhã, antes de dei- xar o Brasil rumo ao México, on- de participa de reunião do G20, a presidente Dilma Rousseff leu a reportagem do Estado de Minas sobre a tortura por ela sofrida em Juiz de Fora (MG), em 1972, mas preferiu o silêncio. Entre setores do governo e da sociedade civil, entretanto, os relatos contunden- tes da mandatária do país foram motivo de muita repercussão. Se- cretário nacional de Justiça e pre- sidente da Comissão de Anistia do Ministério de Justiça, Paulo Abrão destacou a importância de testemunhos como o de Dilma ao Conselho Estadual de Indeni- zação às Vítimas de Tortura para desconstruir as verdades produ- zidas pela ditadura. “A riqueza do testemunho de Dilma Rousseff na comissão esta- dual é recorrente nesses quase 11 anos de julgamentos. Esse caso ajuda a divulgarmos para a socie- dade a importância do arquivo das vítimas”, afirma Abrão. A divulga- ção do relato da presidente reacen- deu, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – seção Minas Gerais, o debate encerrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que consi- derou a anistia ampla, para os dois lados – agentes do Estado e atores da resistência. “Nós, da OAB, conti- nuamos a entender que a Lei da Anistia não prospera diante da si- tuação fática do crime da tortura. Temos de continuar a exigir puni- ção”, disse Luís Cláudio Chaves, presidente da OAB-MG. No mesmo coro, o presidente da OAB no Rio de Janeiro, Wadih Damous, lembrou a importância da Comissão da Verdade, que pre- tende esclarecer violações de direi- tos humanos ocorridas no perío- do da ditadura. “O fato de a presi- dente ter sido torturada em Juiz de Fora era desconhecido de todos, o que mostra a amplitude e a res- ponsabilidade dos trabalhos que a Comissão da Verdade terá que de- senvolver”, afirmou Wadih. Ele se disse impressionado com a con- tundência do depoimento de Dil- ma reproduzido pela reportagem. “É muito difícil conter a indigna- ção diante do relato da presidente Dilma. São sofrimentos extraordi- nários que não encontram parale- lo no cotidiano das nossas vidas.” Para o deputado Cândido Vac- carezza (PT-SP), conhecer mais um relato de tortura sofrida pela pre- sidente da República colabora pa- ra a conscientização da sociedade, especialmente no momento em que a Comissão da Verdade come- çou a funcionar. “Todas essas his- tórias servem para as pessoas sa- berem a verdade, os fatos ocorri- dos, para que eles nunca mais se repitam”, destacou o petista. “São depoimentos que servirão para a história. Essas pessoas que superam a dor e contam o que vi- veram contribuem para a história de todos e a história do Brasil na- queles anos tão difíceis”, afirmou Márcio Santiago, coordenador executivo da Comissão Estadual de Indenização às Vítimas de Tor- tura de Minas Gerais. Em 20 mil dos 60 mil proces- sos julgados, entre os 70 mil rece- bidos pela Comissão da Anistia desde 28 de agosto de 2001, quan- do foi instalada, cidadãos tive- ram reconhecido o direito a inde- nizações no valor máximo de R$ 100 mil, que, juntas, somam R$ 2,4 bilhões. LEIA AMANHÃ A DESCONHECIDA ESTELA PARA OS MILITANTES DE BH Presidente opta pelo silêncio ROBERTO STUCKERT FILHO/PR Presidente Dilma desembarcou ontem no México para participar da reunião do G20

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Antes de deixar o Brasil ontem, rumo ao México, Dilma lê reportagem do EM sobre a violênciasofrida por ela em Juiz de Fora. Matéria repercute entre setores do governo e da sociedade civil

POLÍTICA

E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 8 D E J U N H O D E 2 0 1 2

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BERTHA MAAKAROUN,DENISE ROTHENBURG E RENATA MARIZ

Logo de manhã, antes de dei-xar o Brasil rumo ao México, on-de participa de reunião do G20, apresidente Dilma Rousseff leu areportagem do Estado de Minassobre a tortura por ela sofrida emJuiz de Fora (MG), em 1972, maspreferiu o silêncio. Entre setoresdo governo e da sociedade civil,entretanto, os relatos contunden-tes da mandatária do país forammotivo de muita repercussão. Se-cretário nacional de Justiça e pre-sidente da Comissão de Anistiado Ministério de Justiça, PauloAbrão destacou a importância detestemunhos como o de Dilmaao Conselho Estadual de Indeni-zação às Vítimas de Tortura paradesconstruir as verdades produ-zidas pela ditadura.

“A riqueza do testemunho deDilma Rousseff na comissão esta-dual é recorrente nesses quase 11anos de julgamentos. Esse casoajuda a divulgarmos para a socie-dadeaimportânciadoarquivodasvítimas”, afirma Abrão. A divulga-çãodorelatodapresidentereacen-deu, na Ordem dos Advogados doBrasil (OAB) – seção Minas Gerais,o debate encerrado pelo SupremoTribunal Federal (STF), que consi-derou a anistia ampla, para os doislados – agentes do Estado e atoresda resistência. “Nós, da OAB, conti-nuamos a entender que a Lei daAnistia não prospera diante da si-tuação fática do crime da tortura.Temos de continuar a exigir puni-ção”, disse Luís Cláudio Chaves,presidente da OAB-MG.

No mesmo coro, o presidenteda OAB no Rio de Janeiro, WadihDamous, lembrou a importânciada Comissão da Verdade, que pre-tendeesclarecerviolaçõesdedirei-tos humanos ocorridas no perío-do da ditadura. “O fato de a presi-dentetersidotorturadaemJuizdeFora era desconhecido de todos, oque mostra a amplitude e a res-ponsabilidade dos trabalhos que aComissão da Verdade terá que de-senvolver”, afirmou Wadih. Ele sedisse impressionado com a con-tundência do depoimento de Dil-ma reproduzido pela reportagem.“É muito difícil conter a indigna-ção diante do relato da presidenteDilma. São sofrimentos extraordi-nários que não encontram parale-lo no cotidiano das nossas vidas.”

Para o deputado Cândido Vac-carezza(PT-SP),conhecermaisumrelato de tortura sofrida pela pre-sidente da República colabora pa-ra a conscientização da sociedade,especialmente no momento emqueaComissãodaVerdadecome-çou a funcionar. “Todas essas his-tórias servem para as pessoas sa-berem a verdade, os fatos ocorri-dos, para que eles nunca mais serepitam”, destacou o petista.

“Sãodepoimentosqueservirãopara a história. Essas pessoas quesuperam a dor e contam o que vi-veram contribuem para a históriade todos e a história do Brasil na-queles anos tão difíceis”, afirmouMárcio Santiago, coordenadorexecutivo da Comissão Estadualde Indenização às Vítimas de Tor-tura de Minas Gerais.

Em 20 mil dos 60 mil proces-sos julgados, entre os 70 mil rece-bidos pela Comissão da Anistiadesde 28 de agosto de 2001, quan-do foi instalada, cidadãos tive-ram reconhecido o direito a inde-nizações no valor máximo deR$ 100 mil, que, juntas, somamR$ 2,4 bilhões.

LEIA AMANHÃA DESCONHECIDA ESTELAPARA OS MILITANTES DE BH

Presidente optapelo silêncio

ROBERTO STUCKERT FILHO/PR

Presidente

Dilma

desembarcou

ontem no

México para

participar da

reunião do G20