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FACULDADE IMED
ESCOLA POLITÉCNICA
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MARIA EDUARDA DALLAGNOL
REUSO ADAPTATIVO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
DE MARCELINO RAMOS
PASSO FUNDO / RS
2020
MARIA EDUARDA DALLAGNOL
REUSO ADAPTATIVO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE MARCELINO RAMOS
Relatório do Processo Metodológico de Concepção do Projeto Arquitetônico e Urbanístico e Estudo Preliminar de Projeto, apresentado para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista no curso de Arquitetura e Urbanismo, Escola Politécnica de Arquitetura e Urbanismo, da IMED.
Orientador(a): Prof. (ª) Me. Liliany da Silva Gattermann
PASSO FUNDO / RS
2020
MARIA EDUARDA DALLAGNOL
REUSO ADAPTATIVO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE MARCELINO RAMOS
Relatório do Processo Metodológico de Concepção do Projeto Arquitetônico e Urbanístico e Estudo Preliminar de Projeto, apresentado para obtenção do grau de Arquiteta e Urbanista no curso de Arquitetura e Urbanismo, Escola Politécnica de Arquitetura e Urbanismo, da IMED.
Passo Fundo, 14 de julho de 2020.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Me. Liliany da Silva Gattermann
IMED - Orientador
Prof. Me. Josiane P. Talamini
Integrante - IMED
Carolina Dario
Integrante/ Mestrando - IMED
À minha família, minha mãe Lizolete, meu
pai Airton e meu irmão Julio Cesar.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer à instituição IMED e todo o corpo docente, em
especial à minha orientadora pela sabedoria transmitida.
Aos meus colegas de classe e amigos para a vida, pelo companheirismo,
troca de conhecimento e ajuda desde o início da graduação.
À minha família que compartilhou esse sonho comigo e nunca mediu
esforços para que fosse concretizado. Em especial à minha madrinha Lisandra
Blanck, pelo apoio, amparo, incentivo e zelo sempre.
Meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que contribuíram de
alguma forma para que esse trabalho fosse concluído, direta ou indiretamente, seja
com uma conversa informal, colaboração, disponibilidade de tempo, documentos e
informações. Este trabalho só foi possível com a ajuda de todos.
“A memória é um glorioso e admirável dom
da natureza, através do qual reevocamos as
coisas passadas, abraçamos as presentes e
contemplamos as futuras, graças à sua
semelhança com as passadas”
Boncompagno da Signa
RESUMO
Este trabalho, intitulado Reuso Adaptativo da Estação Ferroviária de
Marcelino Ramos, busca reunir as informações necessárias para a realização de um
projeto de reuso adaptativo para a Estação Ferroviária localizada no município de
Marcelino Ramos/RS. A escolha do tema, Estação Ferroviária, se justifica pela
importância da valorização das rotas ferroviárias que percorreram o Brasil e o
mundo, tendo papel decisivo no desenvolvimento socioeconômico e cultural por
onde passavam. Este trabalho contextualiza as Estações Ferroviárias brasileiras
(nacionais e regionais), fazendo-se necessário seu resgate histórico, em especial a
Ferrovia São Paulo – Rio Grande, cuja linha ferroviária chega até a cidade de
Marcelino Ramos, enfatizando seu potencial cultural e patrimonial. Para a realização
deste projeto, os estudos se debruçaram em pesquisa de campo (visitas in loco,
conversas informais), pesquisa bibliográfica, documental, audiovisual e iconográfica,
em materiais impressos e virtuais. Nesse sentido, foram realizados estudos sobre: o
histórico da ferrovia na cidade de Marcelino Ramos, a arquitetura ferroviária na
época de sua implantação, conceitos e referências de restauro e reuso adaptativo,
análise da morfologia urbana da cidade de Marcelino Ramos, e ainda, estudos sobre
as diretrizes iniciais para o projeto arquitetônico.
Palavras-chave: Estação ferroviária, cultura, patrimônio, arquitetura.
ABSTRACT
This work, entitled Adaptive Reuse of Marcelino Ramos Train Station, seeks to
gather the necessary information to carry out an adaptive reuse project for the Train
Station located in the city of Marcelino Ramos/RS. The choice of the theme, Train
Station, is justified by the importance of valuing the train routes that traveled through
Brazil and the world, playing a decisive role in the socioeconomic and cultural
development they passed through. This work contextualizes the brazilian Train
Stations (nationals e regionals), making its historical rescue necessary, especially the
São Paulo - Rio Grande Railway, whose train line reaches the city of Marcelino
Ramos, emphasizing its cultural and heritage potential. To this project realization, the
studies focused on field research (on-site visits, informal conversations),
bibliographic, documentary, audiovisual and iconographic reserach, in printed and
virtual materials. In this sense, studies were carried out on: the history of the railway
in the city of Marcelino Ramos, the railway architecture at the time of its implantation,
concepts and references of adaptive restoration and reuse, analysis of the urban
morphology of the city of Marcelino Ramos, and further studies on the initial
guidelines for architectural design.
Key-words: Station, railway, culture, patrimony, architecture.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 01: Mapa de Localização do município de Marcelino Ramos. ....................... 15
Figura 02: Ponte Metálica [1]..................................................................................... 19
Figura 03: Ponte Provisória. ...................................................................................... 20
Figura 04: Ponte Metálica [2]..................................................................................... 21
Figura 05: Primeira Rua Urbanizada no povoado de Marcelino Ramos, em 1917. ... 22
Figura 06: Estação em junho de 2019. Figura 07: Estação em março de
2020. ......................................................................................................................... 26
Figura 08: Classificação das Estações de acordo com sua posição em relação às
linhas. ........................................................................................................................ 28
Figura 09: Fachadas do projeto inicial da Estação de Marcelino Ramos. ................. 30
Figura 10: Estação de Marcelino Ramos em 2003. ................................................... 31
Figura 11: Panteão [1]. Figura 12: Panteão [2]. ................. 32
Figura 13: Puffing Billy Railway Visitor Center .......................................................... 36
Figura 14: Implantação do Projeto Puffing Billy. ........................................................ 37
Figura 15: Grande Salão. Figura 16: Circulação interna.
.................................................................................................................................. 38
Figura 17: Setorização. ............................................................................................. 38
Figura 18: Setorização. ............................................................................................. 39
Figura 19: Circulação Café. ....................................................................................... 40
Figura 20: Centro Cultural de Araras. ........................................................................ 41
Figura 21: Centro Cultural de Araras. ........................................................................ 41
Figura 22: Centro Cultural de Araras. Figura 23: Centro Cultural de Araras.
.................................................................................................................................. 42
Figura 24: Implantação do Projeto. ........................................................................... 43
Figura 25: Setorização Plataforma Original. .............................................................. 44
Figura 26: Setorização Auditório. .............................................................................. 44
Figura 27: Setorização Casa do Chefe da Estação. .................................................. 44
Figura 28: Setorização Ateliês e Biblioteca. .............................................................. 45
Figura 29: Centro Cultural de Araras. ........................................................................ 46
Figura 30: Auditório. Figura 31: Café. ............................... 46
Figura 32: Biblioteca e Auditório Público Curno. ....................................................... 47
Figura 33: Planta baixa subsolo. ............................................................................... 49
Figura 34: Planta baixa térreo. .................................................................................. 49
Figura 35: Planta baixa primeiro pavimento. ............................................................. 50
Figura 36: Planta baixa cobertura. ............................................................................ 50
Figura 37: Biblioteca Pública Curno. Figura 38: Biblioteca Pública Curno. 52
Figura 39: Localização do projeto. ............................................................................ 54
Figura 40: Local de intervenção. ............................................................................... 55
Figura 41: Imagens da área de intervenção. ............................................................. 56
Figura 42: Locação das imagens da área de intervenção (Figura 40). ..................... 57
Figura 43: Mapa Nolli. ............................................................................................... 58
Figura 44: Mapa do Uso do Solo. .............................................................................. 59
Figura 45: Mapa de Alturas. ...................................................................................... 60
Figura 46: Rede Pluvial e postes de Energia Elétrica. .............................................. 61
Figura 47: Mapa de Vegetação. ................................................................................ 62
Figura 48: Rede Viária. ............................................................................................. 63
Figura 49: Imagens da área de intervenção e entorno. ............................................. 66
Figura 50: Levantamento da Estação Ferroviária ...................................................... 68
Figura 51: Imagens internas da Estação Ferroviária. ................................................ 68
Figura 52: Organograma da Estação Ferroviária. ..................................................... 70
Figura 53: Fluxograma da Estação Ferroviária. ........................................................ 70
Figura 54: Planta baixa zoneada da Estação Ferroviária – opção 01. ...................... 71
Figura 55: Planta baixa zoneada da Estação Ferroviária – opção 02. ...................... 71
Figura 56: Organograma e fluxograma do bloco novo. ............................................. 74
Figura 57: Organograma e fluxograma do bloco novo. ............................................. 74
Figura 58: Planta baixa zoneada do bloco novo – opção 01. .................................... 75
Figura 59: Planta baixa zoneada do bloco novo – opção 02. .................................... 76
Figura 60: Zoneamento da área de implantação. ...................................................... 77
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Programa de Necessidades – PuffingBilly ................................................. 39
Tabela 2: Programa de Necessidades – Centro Cultural de Araras .......................... 45
Tabela 3: Programa de Necessidades – Biblioteca Curno ........................................ 51
Tabela 4: Programa de Necessidades – Bloco Existente. ......................................... 69
Tabela 5: Programa de Necessidades – Bloco Novo ................................................ 72
Tabela 6: Programa de Necessidades – Área Externa ............................................. 77
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAFMR Associação Amigos da Ferrovia de Marcelino Ramos
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABPF Associação Brasileira de Preservação Ferroviária
ALL América Latina Logística
DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
ICR Instituto Central do Restauro
IPHAE Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Sul
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
PDDI Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
PND Programa Nacional de Desestatização
RFFSA Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima
RVPSC Rede de Viação Paraná – Santa Catarina
VFRGS Viação Férrea do Rio Grande do Sul
ZUE Zona de uso especial
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15
2 FERROVIA, UM POUCO DA HISTÓRIA ............................................................... 17
3 NOS TRILHOS DE MARCELINO RAMOS ............................................................ 20
3.1 ESPAÇOS CULTURAIS ...................................................................................... 27
4 ARQUITETURA FERROVIÁRIA ............................................................................ 28
5 REUSO ADAPTATIVO .......................................................................................... 32
5.1 REFERÊNCIAS DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO ............. 33
6 ESTUDOS DE CASO ............................................................................................. 36
6.1 PUFFING BILLY RAILWAY VISITOR CENTER .................................................. 36
6.1.1 Implantação .................................................................................................... 37
6.1.2 Programa de Necessidades ........................................................................... 38
6.1.3 Materiais e Técnicas Construtivas ................................................................ 40
6.1.4 Análise Geral e Referência ............................................................................ 40
6.2 CENTRO CULTURAL DE ARARAS .................................................................... 41
6.2.1 Implantação .................................................................................................... 42
6.2.2 Programa de Necessidades ........................................................................... 43
6.2.3 Materiais e Técnicas Construtivas ................................................................ 46
6.2.4 Análise Geral e Referência ............................................................................ 47
6.3 BIBLIOTECA E AUDITÓRIO PÚBLICO CURNO ................................................ 47
6.3.1 Implantação .................................................................................................... 48
6.3.2 Programa de Necessidades ........................................................................... 48
6.3.3 Materiais e Técnicas Construtivas ................................................................ 51
6.3.4 Análise Geral e Referência ............................................................................ 52
6.4 CONCLUSÃO DOS ESTUDOS REFERENCIAIS ............................................... 52
7 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO ................................................... 54
7.3 ANÁLISE DO ENTORNO: MAPA NOLLI, USO DO SOLO E ALTURA DAS
EDIFICAÇÕES .......................................................................................................... 57
7.4 INFRAESTRUTURA URBANA ............................................................................ 60
7.5 SÍNTESE DE LEGISLAÇÃO E NORMATIVAS ................................................... 63
8 CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS ........................................................... 65
8.1 CONCEITO ......................................................................................................... 65
8.2 DIRETRIZES ARQUITETÔNICAS, URBANÍSTICAS E SUSTENTÁVEIS .......... 65
9 PARTIDO GERAL .................................................................................................. 67
9.1 EDIFICAÇÃO EXISTENTE .................................................................................. 67
9.2 BLOCO NOVO .................................................................................................... 72
9.3 ÁREA EXTERNA ................................................................................................. 77
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 78
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 79
15
1 INTRODUÇÃO
A cidade de Marcelino Ramos, localizada no Alto Uruguai Gaúcho no estado
do Rio Grande do Sul, se constituiu a partir da instalação da Estrada de Ferro São
Paulo - Rio Grande. O desenvolvimento urbanístico da cidade principiou do entorno
do trilho do trem, contornando a orla do Rio Uruguai. Desse modo, o
desenvolvimento populacional deve-se à ferrovia que, em 1910, finalizou o trecho
que conecta São Paulo ao Rio Grande do Sul (RÜBENICH, 2020). Reconhecer e
valorizar esse fato marcante fundamentou a escolha do tema do presente trabalho.
Figura 01: Mapa de Localização do município de Marcelino Ramos.
Mapa do Brasil Mapa do Rio Grande do Sul
Mapa de Marcelino Ramos
Fonte: Google Maps, 2020; adaptado pelo autor.
16
Após a desativação das locomotivas a serviço do transporte de pessoas e
mercadorias, a estação ferroviária ficou em desuso e entrou em estado de
abandono. A busca da comunidade marcelinense pela preservação desse
importante ponto turístico vem sendo constante a cada ano, tendo como exemplo o
grupo de voluntários Associação Amigos da Ferrovia de Marcelino Ramos (AAFMR).
Atualmente o local que é utilizado para o turismo, com passeios de trem
organizados pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e uma
feira de produtos artesanais local instalada em apenas um espaço dos diversos
existentes na edificação, pois a maior parte do ambiente interno encontra-se em
estado precário. Além disso, o espaço externo do complexo possui grande área em
desuso e a carência de práticas culturais e diferentes usos nesta área propicia a
sensação de insegurança pela falta da circulação frequente de pessoas. Por se
tratar do mais importante ponto turístico da cidade, levando em consideração a
história da estrada de ferro e o desenvolvimento urbano do município, é significativo
a reativação do espaço e a otimização de atividades culturais.
Tendo em vista a situação precária da Estação Ferroviária de Marcelino
Ramos, cidade turística reconhecida pelo Balneário de Águas Sulfurosas, pela
Romaria da Nossa Senhora da Salette, entre outros pontos e festas tradicionais
importantes, percebeu-se a necessidade de realizar um projeto de reuso desta
Estação. Com o intuito de otimizar a área a partir da adaptação de ambientes
internos e externos que possam estar inseridos no contexto social, o projeto busca
contribuir para que a comunidade marcelinense reconheça a Estação como
patrimônio histórico e cultural, participando e usufruindo do ambiente. Porventura
atraindo o turismo local, que representa o movimento de pessoas, envolvendo e
estabelecendo relações entre elas.
Para tanto, os estudos realizados para o desenvolvimento do trabalho, partiu
de pesquisas de campo (visitas in loco, conversas informais), pesquisas
bibliográficas, documentais, audiovisuais e iconográficas, em materiais impressos e
virtuais. As análises buscaram a história da ferrovia no âmbito geral e local, além de
conceitos sobre o reuso adaptativo, restauro e patrimônio histórico, estudo da
morfologia urbana na cidade de Marcelino Ramos, além de propostas iniciais das
diretrizes para o projeto arquitetônico.
17
2 FERROVIA, UM POUCO DA HISTÓRIA
Enquanto, na Europa, em meados do século XIX, a estrada de ferro era uma
realidade com tecnologia em desenvolvimento, no Brasil, chegou em meados de
1850, em um período que não haviam indústrias, infraestrutura e tecnologia
ferroviária, impulsionando o desenvolvimento socioeconômico e social.
A ferrovia no Brasil teve início durante o Império de Dom Pedro II, por duas
principais razões: a primeira era tornar o Império brasileiro como potência mundial,
classificando o Brasil como uma nação unificada e independente de Portugal; a
segunda foi a necessidade da rápida distribuição dos produtos agrícolas e cafeeiros
para outras regiões, pois essas produções eram cultivadas, principalmente, no Rio
de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo e sua exportação dependia da mão de obra
escrava (LUCAS, 2010).
O governo de Dom Pedro II, buscando investidores para o empreendimento,
deu concessão, pela lei Nº 101 de 31 de outubro de 1835, com o prazo de 40 anos,
às empresas que se disponibilizassem a construir as estradas de ferro que
conectariam os hemisférios brasileiros (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul e Bahia). O investimento inicial foi significativo, inclusive com
aplicações de investidores britânicos, no entanto, por falta de planejamento,
interesse político e ausência de desenvolvimento da análise de viabilidade, muitos
ramais ferroviários funcionaram de maneira ineficiente obtendo resultados
insatisfatórios (WICKERT, 2003).
Em 1852, o governo brasileiro ampliou os incentivos para alavancar o
interesse das empresas nacionais e estrangeiras para construir as estradas de ferro
no país. Dessa forma, promulgou a Lei nº 641 que dava isenções e garantia de juros
sobre o investimento do capital. Sendo assim, a primeira ferrovia foi construída por
Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. A primeira linha férrea no país foi
inaugurada em 31 de abril de 1854, conectando o Porto Mauá à Fragoso, no Rio de
Janeiro. Sua extensão era de apenas 14km, mas gerou muita expectativa do
governo e dos empreendedores, pois encurtaria caminhos, exportaria matérias-
primas e desbravaria novos terrenos (DNIT, 2020). No Rio Grande do Sul, sucedeu
três principais linhas construídas no estado: a Linha Tronco Central, conectando
Porto Alegre com Uruguaiana; Linha Tronco Sul, que ligava Rio Grande à Bagé; a
18
Linha Tronco Norte, interligando a cidade de Santa Maria à Marcelino Ramos
(WICKERT, 2003).
De acordo com depoimentos de historiadores no documentário Memorável
Trem de Ferro, de 2011, após a implantação de algumas linhas férreas espalhadas
pelo Brasil, em 1887, o engenheiro João Teixeira Soares projetou a linha férrea que
interligaria o Sul com o Centro do país. Os trilhos iniciariam no interior paulista, na
cidade de Itararé, passaria por terras paranaenses e catarinenses, atravessando o
Rio Uruguai e chegando para desbravar o sul do Brasil, totalizando 1403km. Para o
Governo Federal, a construção da ferrovia São Paulo – Rio Grande era, acima de
tudo, estratégica, pois, explorando novas regiões, tomaria posse definitiva do local.
Após alguns conflitos e paralisações das obras ao longo do trajeto, em 17 de
dezembro de 1910, a Ferrovia que conectaria o Sul ao Centro do país foi finalizada,
unindo os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul por uma ponte provisória
de madeira sobre o Rio Uruguai. Na sequência dos acontecimentos, após uma
enchente em Marcelino Ramos, em novembro de 1911, a ponte provisória não
resistiu e, em 22 de junho de 1913, foi inaugurada a Ponte Metálica definitiva sobre
o Rio Uruguai, obra executada pela empresa Belga Compagnie Auxiliare De
Chemins De Fer Au Brésil (RÜBENICH, 2020).
Entre os fatos históricos em que a linha ferroviária São Paulo – Rio Grande foi
cenário de importantes acontecimentos, está a Revolução de 30 capitaneada por
Getúlio Vargas que inúmeras vezes viajou sob os trilhos dessa rota. Outro fato
relevante é que muitos moradores das antigas colônias do Rio Grande do Sul,
migraram para outras regiões como o norte do estado, seguindo para oeste de
Santa Catarina e Paraná. É importante lembrar também, que os gaúchos que
lutaram na Segunda Guerra Mundial, seguiram por esses trilhos rumo aos portos de
Santos e Rio de Janeiro. Segundo o documentário Dormentes do Tempo (2010), a
ferrovia São Paulo – Rio Grande aproximou o Brasil do Uruguai e Argentina, por
meio da ligação férrea Montevidéu – São Paulo. A suntuosidade da engenharia
belga da ponte metálica, por onde passam os trilhos que guardam essas memórias
históricas, fortalecem a importância de ser valorizada e preservada junto à sua
Estação Ferroviária.
19
Figura 02: Ponte Metálica [1].
Fonte: RÜBENICH, 2020.
Em Marcelino Ramos a Estação Ferroviária estava sob o comando da Viação
Férrea do Rio Grande do Sul (VFRGS) e, após, compartilhada com a Rede de
Viação Paraná – Santa Catarina (RVPSC). O processo de encampação das
empresas nacionais, estrangeiras e estaduais de viação formaram a Rede
Ferroviária Federal (RFFSA) sob o comando da União; no entanto, nos anos 1980,
os investimentos na RFFSA reduziram-se e a empresa não foi capaz de gerar
recursos suficientes para liquidar suas dívidas.
O Governo Vargas pôs em prática o Programa Nacional de Desestatização
(PND); a desestatização das malhas da RFFSA concedeu a região sul, em 13 de
dezembro de 1998, para a Ferrovia Sul-Atlântico S.A., – atualmente América Latina
Logística S.A. (ALL) –, em fusão com a empresa Rumo Logística.
20
3 NOS TRILHOS DE MARCELINO RAMOS
Em 1893, o território pertencente ao município de Passo Fundo – RS,
chamado de Povoamento de Barra, começou a ser colonizado e exatamente nessa
localidade, em 1907, foi dado início às construções da ferrovia (linha Passo Fundo –
Marcelino Ramos). As obras foram comandadas pelo engenheiro carioca Marcelino
Ramos da Silva, e em 25 de outubro de 1910, a Estação Alto Uruguai foi inaugurada
(RÜBENICH, 2020). No mesmo ano da inauguração, ocorreu o falecimento do então
engenheiro, e em sua homenagem, o povoado recebeu seu nome – Marcelino
Ramos.
Nessa época, entendia-se como um povoado de mais ou menos 40 casebres
dos operários da ferrovia, habitado por 100 a 200 pessoas. Nos primórdios do ano
seguinte, uma ponte de madeira provisória foi construída para conectar os trechos
da ferrovia entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No entanto, em
novembro de 1911, houve a grande cheia do Rio Uruguai, carregando a ponte
provisória. A solução foi a construção de uma ponte metálica, cujo responsável
técnico pelo projeto foi o Engenheiro Antônio Meirelles Leite (THOMÉ, 1967;
RÜBENICH, 2020).
Figura 03: Ponte Provisória.
Fonte: MARCELINENSES, 2018.
21
Figura 04: Ponte Metálica [2].
Fonte: MARCELINENSES, 2016.
O desenvolvimento desse território passou a ser mais intenso com o início do
tráfego de trens e a instalação do telégrafo da Viação Férrea. Em 1913, por incentivo
do Governo Estadual, os colonos de descendência alemã, italiana, polonesa e luso-
brasileiros começaram a chegar à terra prometida como fértil e ali instalaram-se. Até
1917, um total de 418 colônias foram vendidas em patrocínio pelo Governo do
Estado (RÜBENICH, 2020).
As estações ferroviárias tornaram-se importantes referências para as comunidades. Em torno delas, muitas cidades se desenvolveram e outras surgiram com a implantação da ferrovia.” (RFFSA, 1991).
Em 27 de julho de 1918, Marcelino Ramos passa a ser distrito da cidade de
Erechim. A partir desse ano, os empreendimentos na região começam a se
desenvolver, o Cartório Distrital foi instalado e, em seguida, houve a inauguração da
primeira Igreja Católica. Nos anos decorrentes, são fundados clubes de sociedades,
22
jornais, sedes religiosas, cinema, serviços públicos de saúde e de água, bancos,
rodoviária, entre outros. Até que, em 24 de dezembro de 1944, Marcelino Ramos
torna-se município pelo decreto Lei Nº 178, assinado pelo Governador Ernesto
Dornelles (THOMÉ, 1962; RÜBENICH, 2020).
Figura 05: Primeira Rua Urbanizada no povoado de Marcelino Ramos, em 1917.
Fonte: RÜBNICH, 2020.
O entusiasmo da emancipação de Marcelino Ramos encaminhou o progresso
significativo da cidade para a sua vida socioeconômica e cultural, alavancando a
representação política, a comunicação e as estradas para a era do rodoviarismo. Na
década de 1950, com o país se encaminhando à transição da ferrovia para a
rodovia, Marcelino Ramos fica em desvantagem e os segmentos do ensino e da
agricultura ganham força, assegurando a evolução da cidade.
O documentário Dormentes do Tempo, do ano de 2010, dirigido por Boca
Migotto e produção de Mariana Muller, relata as experiências de ferroviários, filhos
de ferroviários, historiadores e moradores dos municípios de Gaurama, Viadutos e
23
Marcelino Ramos, que presenciaram momentos importantes da época em que o
trem Maria Fumaça era o principal meio de transporte da região. Depoimentos que
falam de trabalho árduo, mas de boas recordações e saudade, como o de Domingos
Nichetti (2010), morador da cidade de Viadutos:
Aqui era o centro do pessoal se reunir, não tinha outro lugar. De noite, quando o (trem) noturno atrasava, a maioria das vezes, nos reuníamos toda a rapaziada, as gurias... tudo para ver o trem cruzar. Agora não tem mais nada, acabou.
É na década de 1960 que o declínio da ferrovia se efetiva e a economia de
Marcelino Ramos cai bruscamente. A cidade começa a perder população e, com a
construção da rodovia asfaltada entre Erechim/RS e Concórdia/SC, o povoado é
excluído por 20km de estrada de chão. Entre 1965 e 1970, acontece novamente
uma cheia no Rio Uruguai; dessa vez, a inundação carregou mais de 100 casas de
suas margens, seguido de uma grande nevasca. No entanto, o prefeito da época,
Antônio Floriani Zordan vislumbrou o turismo econômico no município, tomando a
iniciativa de tratar com a Petrobrás a abertura do poço de águas termais. Em abril de
1970, o poço da água termal sulfurosa abre esperanças para a cidade de paisagens
exuberantes e marca o destino promissor na área do turismo (RÜBENICH, 2020).
Nos anos de 1975 a 1980, as atividades ferroviárias foram, de fato, cessadas;
consequentemente, muitas famílias migraram da cidade em busca de outras
atividades para o próprio sustento, sumarizando o número de habitantes pouco a
pouco. As autoridades locais e a comunidade que ali ficou engajaram-se para
desenvolver o setor turístico socioeconômico que levou décadas para ser
economicamente notável (RÜBENICH, 2020).
Apesar da exuberante paisagem natural que contempla o município e região,
o ramo do turismo como atividade econômica exige investimento para prestar o
suporte necessário ao turista. Com a abertura do poço de águas termais, Marcelino
Ramos iniciou um processo lento, mas intenso no desenvolvimento do novo
segmento financeiro.
Nos anos entre 1985 e 1990, a população recebe a notícia de que a Usina
Hidrelétrica entre Aratiba/RS e Itá/SC seria construída; a Administração Municipal
inicia o processo de reorganização e realocação do Balneário das Águas Termais,
com mais investimentos e melhorias para a área turística de lazer. A construção
24
detém investidores na cidade e a espera pelo Lago gera pânico na comunidade
marcelinense, ali muitas famílias são indenizadas e vão embora, novamente a
população declina e Marcelino Ramos passa por um drástico período entre 1995 e
2000 (RÜBENICH, 2020).
Marcelino Ramos começou a reestruturar-se aos poucos e os investimentos
apareceram gradativamente. Hoje, a cidade possui como segmento econômico a
agricultura familiar, com destaque para o cultivo da laranja e à criação de gado
leiteiro e, principalmente, ao turismo, em que destacam-se notáveis pontos de
referência, como o Seminário da Nossa Senhora da Salette, o Balneário de Águas
Termais, o Turismo Rural, o Turismo Náutico, o Turismo Gastronômico, além do
Turismo Histórico – destacando-se a Estação Ferroviária e a Ponte Metálica, que
deixaram um importante legado para a população (Prefeitura de Marcelino Ramos,
2020).
Ao se tratar da Estação Ferroviária, objeto de estudo deste trabalho, constata-
se a importância de manutenção constante em sua infraestrutura e do espaço como
um todo, já que ocupa lugar de destaque no patrimônio histórico do município. A
falta de manutenção e cuidado com a Estação foi notória e durou muitos anos. A
iniciativa de buscar subsídios e apoio para recuperação e reutilização do espaço
ganhou a devida atenção com voluntários marcelinenses, que em 2012 criaram a
Associação Amigos da Ferrovia de Marcelino Ramos (AAFMR) (Portal de Marcelino
Ramos, 2016). O grupo é formado por integrantes marcelinenses e entusiastas da
história local; todos trabalham voluntariamente para manter viva a ferrovia, seja
promovendo eventos para arrecadar fundos ou divulgando investimentos e ações
realizadas pelo grupo (Conversa informal com Marcelo Santos, 2020).
A Estação Ferroviária recebe o maior número de turistas entre os meses de
dezembro e fevereiro, em que é notório o predomínio de pessoas de outras cidades
do que propriamente de moradores locais. Também possui um espaço destinado
aos turistas ocupado por, aproximadamente, dez autônomos (artesãos,
comerciantes de lembranças locais, bebidas, lanches) que ajudam a divulgar
informações aos turistas. Aos sábados e em eventuais quartas-feiras o trem Maria
Fumaça parte da cidade de Piratuba, administrado pela Associação Brasileira de
Preservação Ferroviária (ABPF), trazendo os turistas para conhecer pontos turísticos
de Marcelino, movimentando assim a Estação (Conversa informal com Marcelo
25
Santos, 2020). No entanto, a maior parte dos espaços internos da edificação está
em desuso e em estado precário. Em visita ao espaço no mês de junho de 2019, foi
observado que o telhado, em alguns pontos, estava desmoronando, ameaçando a
segurança dos visitantes e trabalhadores.
Visto a necessidade de manutenção, os integrantes da AAFMR, através de
reuniões e audiências públicas, conquistaram a cedência em parceria com a
Prefeitura Municipal junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (DNIT); desse modo, a Associação ganhou força e, a partir da definição
da diretoria, começou a desenvolver planejamentos de trabalho para a recuperação
definitiva do espaço em foco. Surgiu, então, o projeto denominado “Estação Viva”,
cujo objetivo surge da necessidade de recuperação da edificação e preservação da
história da comunidade, ampliando o uso e buscando, através de doações e
promoções, as manutenções necessárias para a gare (Portal de Marcelino, 2016;
conversa informal com representantes da AAFMR, 2020).
O “Projeto Estação Viva” pode ser classificado em três etapas: a primeira
etapa foi concluída em março de 2020, sendo realizadas ações emergenciais, as
quais representam os reparos urgentes na edificação para o uso seguro e
adequado, como: a substituição de telhas quebradas, adaptação dos banheiros,
repintura das fachadas externas e o acréscimo de pontos de iluminação externa; na
segunda etapa, serão intervenções funcionais, potencializando e amplificando o uso
dos espaços internos da edificação; a última etapa se refere ao Parque Ferroviário,
abrangendo maior área de intervenção na orla do Rio Uruguai (Conversa informal
com representantes da AAFMR, 2020).
26
Durante o processo de pesquisa, visitas in loco e conversas informais com os
integrantes da Associação Amigos da Ferrovia de Marcelino Ramos (AAFMR) e
também moradores locais, percebe-se a contínua busca por subsídios que supram a
necessidade em manter a preservação da Estação. Também observou-se o
incansável engajamento da comunidade em manter viva a memória histórica e
cultural que esse importante espaço representa. Mesmo com o esforço e empenho
de todos os envolvidos, a infraestrutura da Estação requer muitos investimentos para
se manter. Muitos relatos de moradores e até ex-moradores de Marcelino Ramos
relembram com carinho da Estação Ferroviária:
Povo sem memória é um povo sem história! Parabéns àqueles que se dedicam em preservar a memória e a história de Marcelino Ramos. Sempre vale lembrar que se Marcelino existe, deve à estrada de ferro sua existência. A preservação do prédio da Estação Ferroviária e seus anexos (girador, ponte e trilhos), faz com que muitos marcelinenses revivam o tempo em que ali trabalharam, ali viveram ou apenas por ali passaram. Isso não é apenas saudosismo. É amor pela terra e pela sua história! Quem conhece ou viveu em Marcelino Ramos entende muito bem o que estou dizendo. Neri Biavatti. Radialista. Panambi – RS (BIAVATTI, 2016).
Figura 06: Estação em junho de 2019. Figura 07: Estação em março de 2020.
Fonte: Autora, 2019. Fonte: Autora, 2020.
27
3.1 ESPAÇOS CULTURAIS
Para cidades de pequena dimensão, centros culturais podem ser o principal
recurso para o desenvolvimento local, de modo progressivo, investir e desenvolver
na cultura que, não raramente, recebem destaque regional e, até mesmo, nacional
(LOPES, 2000).
Centro cultural define-se pelo uso das atividades aplicadas em determinado
espaço, propagando práticas culturais e bens simbólicos em espaços que propiciam
leitura, exibição de filmes, espetáculos de dança, teatro, performances, acesso à
informação, à criação e à discussão (NEVES, 2012).
Considerando a Estação Ferroviária de Marcelino Ramos como um edifício
cultural que leva consigo uma bagagem relevante da história para a cidade e da
ferrovia para o país, considera-se, portanto, importante testemunho local e referência
regional, contribuindo para o principal segmento econômico de Marcelino Ramos
atualmente: o turismo. Em conversa com dois integrantes da Associação Amigos da
Ferrovia de Marcelino Ramos, o professor Irineu Isoton e a professora Lourdes
Isoton comentaram sobre a importância da história para a comunidade, salientando
a valorização da memória histórica no processo de aquisição de conhecimento e,
consequentemente de evolução de uma comunidade (conversa informal com Isoton,
2020).
28
4 ARQUITETURA FERROVIÁRIA
Durante o século XIX, muitas Estações Ferroviárias foram implementadas
pelo mundo; estas conjugavam blocos de diferentes funções, tais como a casa do
chefe da Estação, oficinas e abrigos de locomotivas, armazéns, estações de
passageiros, entre outras. Atualmente, algumas infraestruturas ainda são utilizadas,
principalmente para transporte de produtos comerciais importantes para a economia
de regiões e de países.
As ferrovias elaboradas na época da Revolução Industrial trouxeram para os
centros urbanos as características arquitetônicas, compondo cidades, auxiliando nos
fluxos, na distribuição de espaços e no desenvolvimento econômico no país.
Com o passar do tempo, inúmeras estações foram reconstruídas, adaptando-
se às necessidades causadas pelas mudanças no tráfego de pessoas e
mercadorias. A tecnologia ganhou grande força na era industrial e as cidades
cresceram aceleradamente, bem como as modificações nas locomotivas a vapor e
nos complexos ferroviários. Pode-se mencionar a Inglaterra como principal
dominante da comercialização da arquitetura do ferro na América Latina, além da
França, Alemanha e Bélgica (KÜHL, 1998), esta última responsável pela importação
da estrutura e o projeto da ponte metálica de Marcelino Ramos.
Figura 08: Classificação das Estações de acordo com sua posição em relação às linhas.
a) Estações Intermediárias;
b) Estações de Ponto Final;
c) Estações de Retorno.
Fonte: WICKERT, 2003.
29
Baseado na dissertação da pesquisadora Ana Paula Wickert (2003), foi
encontrado na biblioteca da Universidade de Santa Maria um exemplar do tratado do
século XIX, Traité d’ Architecture, éléments de I’ architecture – types d’ édificies.
Esthétique. Composition et Pratique de L’ arquitecture, redigido pelo arquiteto
francês e professor da Universidade de Gand, Cloquet. Esse tratado contém o
carimbo da Escola Industrial Hugo Taylor, escola técnica de caráter industrial e
administrada com recursos da Viação Férrea do Rio Grande do Sul; possivelmente,
o tratado serviu de base para a empresa responsável pela construção da malha
ferroviária entre Passo Fundo e Marcelino Ramos, a Auxiliare, cujos escritórios
localizavam-se na cidade de Santa Maria – RS. No tratado citado acima, Cloquet
classificou as Estações Ferroviárias de acordo com a posição do edifício referente
aos trilhos: estações intermediárias (fig. 08 a); estações de ponto final (fig. 08 b);
estações de retorno (fig. 08 c) (WICKERT, 2003). Em análise à gare em estudo, é
possível afirmar que de acordo com a classificação determinada pelo professor
Cloquet, a Estação Ferroviária de Marcelino Ramos classifica-se como Estação
Intermediária; apesar disso, sua importância deve-se ao ponto inicial no Rio Grande
do Sul da malha entre Itararé - SP e Santa Maria - RS.
A partir da pesquisa comparativa das estações ferroviárias na linha Tronco
Norte (Santa Maria a Marcelino Ramos) realizada por Wickert, foi constatada uma
semelhança na tipologia arquitetônica entre as edificações, com algumas diferenças
classificadas em classes, 1ª classe (núcleos mais desenvolvidos – Santa Maria e
Cruz Alta), 2ª e 3ª classes muito semelhantes, apenas com pequena diferença de
área, sendo a 2ª classe geralmente maior. A pesquisadora concluiu que a análise
dos elementos e composições arquitetônicas das estações determinaram uma
tipologia em comum, ou seja, possivelmente havia um “padrão” de projeto.
Apesar das características originais e padronizadas das estações, a gare de
Marcelino Ramos sofreu algumas variações no decorrer dos anos para atender às
demandas necessárias. Inclusive, o projeto original propunha dois pavimentos para
a Estação e, por motivos desconhecidos, a obra concluiu apenas um pavimento.
30
Figura 09: Fachadas do projeto inicial da Estação de Marcelino Ramos.
Fonte: RÜBENICH, 2020.
De acordo com o livro Patrimônio Ferroviário do Rio Grande do Sul (2002),
publicado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Rio Grande do Sul
(IPHAE), sob forma de inventário das estações ferroviárias gaúchas de 1874 a 1959
e, classificando-as por tipologia arquitetônica, nas páginas 122 e 123, encontra-se a
ficha individual da Estação de Marcelino Ramos, correspondida em 2000 por Wilmar
Wilfrid Rübenich que, na época, participava como membro do Conselho Municipal de
Turismo de Marcelino Ramos.
A ficha apresenta as seguintes informações: no Sítio Ferroviário de Marcelino
Ramos, inclui-se os trilhos de ferro, sanitários, casa do agente (hoje habitada),
girador de trens, escadaria da estação e a ponte metálica. Caracteriza-se pela
tipologia construtiva semelhante às da região, como a de Sertão, Erechim, Gaurama
e Viadutos. A edificação foi construída em alvenaria, telhado de duas águas e beiral
sustentado por estrutura em madeira sobre a plataforma de embarque. Os vãos
emoldurados possuem esquadrias em madeira, com caixilhos de vidro e bandeira
31
fixa. Cunhais e pilastras salientes permitem que haja ritmo nos vãos das fachadas,
além dos óculos localizados nas empenas das fachadas laterais da edificação.
Figura 10: Estação de Marcelino Ramos em 2003.
Fonte: GIESBRECHT, 2019.
32
5 REUSO ADAPTATIVO
O Reuso Adaptativo trata-se da modernização e adaptação de edifícios
antigos para que possam servir para uma nova finalidade. A reutilização de um
espaço permite que as pessoas possam usufruir efetivamente desses espaços, sem
deixar de valorizar o patrimônio histórico. Essa prática vem sendo utilizada há
séculos, no passado, por exemplo, era comum ajustar Mesquitas para o padrão das
Igrejas Católicas, assim como edificações muito antigas que se salvaram da
demolição. O Panteão em Roma é um exemplo de Reuso Adaptativo, pois para
transformar-se em uma Igreja Católica em 609 d.C. passou por algumas
modificações, quiçá este é o motivo de ser uma das edificações mais bem
preservadas (URBAN HUB, 2020).
Figura 11: Panteão [1]. Figura 12: Panteão [2].
Fonte: UNSPLASH, 2020. Fonte: UNSPLASH, 2020.
Diversas edificações que perderam seu uso com o tempo permanecem na
malha urbana das cidades e, apesar da valorização histórica que muitos trazem,
esses espaços tornam-se inutilizáveis pelas pessoas. A demolição e reconstrução
33
dessas obras torna-se inviável pelo alto custo, então ressignificar tais ambientes é
uma estratégia eficiente para atender causas urgentes como, por exemplo,
habitações de interesse social; além disso, a reutilização permite a preservação da
memória arquitetônica. Dessa forma, reutilizando as edificações para fins culturais,
propicia que a população usufrua do local, prosseguindo com a história do edifício e
da cultura local.
Enquanto o verdadeiro Restauro demanda muita verba, a Reutilização
Adaptativa permite a combinação entre o antigo e o novo; diante disso, desconsidera
gastos exorbitantes em construção. Ademais, reutilizar é sinônimo de
sustentabilidade, pois transformar o espaço que já causou impactos ambientais não
irá causar mais efeitos negativos; desse modo, a intervenção possibilitará o uso,
agindo positivamente para o meio urbano (URBAN HUB, 2020; MOREIRA, 2019).
5.1 REFERÊNCIAS DE CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Para falar sobre a Conservação Patrimonial, é fundamental conhecer as
Cartas Patrimoniais, documentos contendo desde conceito a orientações para
manutenção e conservação de patrimônio artístico, cultural ou histórico. Essas
declarações começaram a ser desenvolvidas no século XX, abrangendo posturas,
medidas e legislações para serem utilizadas internacionalmente (Secretaria da
Comunicação Social e da Cultura do Paraná, 2020).
Em 1964 foi elaborada a Carta de Veneza no II Congresso Internacional de
Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos; o objetivo foi desenvolver um
programa visando salvaguardar a obra e seu histórico (Carta de Veneza, 1964).
Monumento Histórico foi definido da seguinte maneira pelo ofício:
Artigo 1º - A noção de Monumento Histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Entende-se não só às grandes criações, mas também as obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural.
O primeiro requisito da conservação elaborado na carta exige a manutenção
permanente; ademais, constatando que a história é testemunho da edificação, é
primordial respeitar e evidenciar os elementos estéticos originais e os documentos
34
autênticos, portanto todo elemento complementar deve destacar-se pelo tempo em
que ocorreu a intervenção (Carta de Veneza, 1964).
Outra carta importante para proteger patrimônios históricos é a Carta de
Restauro Italiana, elaborada em 1972 pelo Governo da Itália. Esse documento
implica em uma série de cláusulas indicando diretrizes para salvaguardar e ações de
restauro em obras de arte, desde monumentos arquitetônicos a esculturas e
pinturas, com o propósito de conservação para o futuro (Carta de Restauro Italiana,
1972).
Assim como a Carta de Veneza, a Carta de Restauro Italiana propõe, de
forma rigorosa, a conservação dos elementos originais, impedindo que haja qualquer
demolição que descaracterize o estilo e valores históricos da obra. As modificações
devem ser realizadas em casos de extrema necessidade, com muito estudo e
análise da situação e, sempre, sendo destacadas, evidenciando o tempo de
construção (Carta de Restauro Italiana, 1972).
Uma importante referência para o restauro global é o italiano Cesare Brandi.
Formado em Direito e Ciências Humanas, atuou em diversas instituições, inclusive
na Universidade de Roma, como escritor, crítico e palestrante sobre história,
restauro e arte, assuntos que o instigaram durante toda a sua vida (DO CARMO;
VICHNEWSKI; PASSADOR; TERRA, 2016).
Brandi ficou responsável pela organização do Instituto Central do Restauro
(ICR), ocupando o cargo de diretor durante os anos de 1939 a 1960. O ICR surgiu
com a necessidade de recuperar as destruições europeias praticadas pela Segunda
Guerra Mundial; os posicionamentos de Brandi buscavam resgatar a identidade da
população de maneira prática, rápida e econômica. Esse ato tornou o Instituto
referência fundamental para intervenções de restauro em toda a Itália. Ao sair da
diretoria do ICR, aprofundou-se nos estudos mais complexos sobre arte e
desenvolveu a teoria do restauro crítico, resultando no livro Teoria da Restauração,
em 1963, descrevendo suas experiências desde a década de 1940 e influenciando,
posteriormente, a Carta do Restauro Italiana e em filosofias do restauro (DO
CARMO; VICHNEWSKI; PASSADOR; TERRA, 2016).
Também é discutido, nesta temática – o restauro, a importância de dar uso às
edificações históricas, tanto as prerrogativas das cartas mencionadas quanto Brandi
defendem a utilização desses espaços, sendo a melhor condição para manter o
35
monumento vivo por muito mais tempo, sempre respeitando e conservando as
características originais do edifício, além de determinar o novo uso de acordo com
estudos de compatibilidade estrutural e espacial. Ou seja, é possível fazer o reuso
adaptativo dentro do restauro; no entanto, é imprescindível que haja compatibilidade
com o monumento, de modo que não interfira na originalidade de sua construção
(DO CARMO; VICHNEWSKI; PASSADOR; TERRA, 2016).
36
6 ESTUDOS DE CASO
Neste capítulo, serão apresentadas algumas referências projetuais para
auxílio no desenvolvimento do projeto final. Serão feitas análises das características
relevantes para o desenvolvimento deste trabalho.
6.1 PUFFING BILLY RAILWAY VISITOR CENTER
Arquitetos: Escritório de Arquitetura TERROIR.
Localização: 40km de Melbourne, Austrália.
Ano do Projeto: 2018.
Ano de Conclusão: Previsão para 2021.
Figura 13: Puffing Billy Railway Visitor Center
Fonte: ARCHDAILY, 2020.
A proposta desse projeto consiste em um Centro de Visitantes Ferroviário
para a Puffing Billy Railway. Uma estrada de ferro inaugurada em 1900 que hoje
funciona como atração turística. O objetivo do escritório TERROIR foi submeter para
os visitantes a autenticidade da ferrovia introduzindo a edificação como
complemento da linha e plataforma ferroviária existentes. A obra está em
37
desenvolvimento e, de acordo com o site de Puffing Billy, a previsão de conclusão da
obra será em 2021.
6.1.1 Implantação
A edificação estará localizada em frente ao caminho dos trilhos; sua
volumetria será diferente das estações antigas e menores. Apesar do grande volume
em meio à mata europeia, o novo Centro de Visitantes será composto pela textura
natural dos materiais utilizados e, por isso, não contrastará com o entorno e, sim,
compor-se-á ao cenário, deixando a via férrea como protagonista.
Figura 14: Implantação do Projeto Puffing Billy.
Fonte: PUFFINGBILLY, 2020; adaptado pela autora, 2020.
38
Figura 15: Grande Salão. Figura 16: Circulação interna.
Fonte: TERROIR, 2020. Fonte: TERROIR, 2020.
6.1.2 Programa de Necessidades
O projeto ampliará o uso existente, de acordo com o Escritório TERROIR, os
ambientes propostos consistem em espaços ao ar livre em diferentes propostas:
café, cozinha comercial, serviços de informações aos visitantes, memorial, salas
multiuso, escritórios de funcionários, varejo, instalações educacionais e banheiros.
Figura 17: Setorização.
Fonte: PUFFINGBILLY, 2020; adaptado pela autora, 2020.
Legenda:
Edificações pré-existentes Edificação nova
39
Figura 18: Setorização.
Fonte: PUFFINGBILLY, 2020; adaptado pela autora, 2020.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
Tabela 1: Programa de Necessidades – PuffingBilly
SETOR AMBIENTE ÁREA ÚTIL
Administrativo Serviços de informações aos visitantes 16,15m²
Escritórios 7,50m² cada
Público Memorial 18,30m²
Varejo 95m²
Café 270m²
Área de alimentação externa 122m²
Espaço multiuso 218m²
Grande salão 405m²
Serviço Cozinha industrial 180m²
Banheiros 32m² cada
Fonte: Autora, 2020.
40
6.1.3 Materiais e Técnicas Construtivas
Pode-se observar que os materiais utilizados foram empregados com a
intenção de manter a textura original dos mesmos, trazendo naturalidade e harmonia
com o entorno: a madeira, muito presente na floresta; materiais como a telha e os
perfis metálicos, remetendo aos trilhos de ferro; o vidro que transmite a sensação de
transparência e conexão entre a área interna e externa.
Figura 19: Circulação Café.
Fonte: ARCHDAILY, 2020.
6.1.4 Análise Geral e Referência
O projeto na Austrália será inserido de maneira sutil, compondo o ambiente e
atendendo às necessidades do uso. Respeitando a Estação Ferroviária existente, a
nova edificação, disfarçada na paleta de cores do entorno, agrega aos espaços de
convivência, lazer e conhecimento com sensações e experiências singulares.
O programa de necessidades do projeto atenderá diferentes públicos
favorecendo o setor turístico, do mesmo modo em que a Revitalização da Estação
Ferroviária de Marcelino Ramos pretende realizar.
41
6.2 CENTRO CULTURAL DE ARARAS
Arquitetos: AUM Arquitetos.
Localização: Araras, São Paulo.
Ano do Projeto: 2003.
Ano de Conclusão: 2009.
Figura 20: Centro Cultural de Araras.
Fonte: DIVISARE, 2020.
Figura 21: Centro Cultural de Araras.
Fonte: DIVISARE, 2020.
42
A Estação Ferroviária de Araras, assim como muitas ferrovias brasileiras,
deixou de operar na década de 1980. Pouco a pouco, as edificações perderam suas
utilizações e foram abandonadas. Em 2003, com o objetivo de transformar a antiga
Estação Ferroviária de Araras em um centro cultural, foi organizado um concurso
para o projeto de requalificação da mesma, no qual o Escritório de Arquitetura AUM
Arquitetos foi selecionado.
Figura 22: Centro Cultural de Araras. Figura 23: Centro Cultural de Araras.
Fonte: DIVISARE, 2020 Fonte: DIVISARE, 2020
6.2.1 Implantação
A Gare está situada no eixo central da cidade de Araras, área de grande
densidade populacional. A proposta para o conjunto edificado buscou a distinção
dos diversos momentos históricos do complexo, resgatando e valorizando as
peculiaridades da Estação inativa. Esse princípio guiou o projeto na introdução de
todos os elementos. A premissa partiu de três pontos: a restauração, reprodução de
itens necessários para a composição estilística e a adição de componentes para o
novo uso. Todos os elementos inseridos, sejam réplicas ou novos, distinguem
claramente o atual do antigo, assumindo de fato que ouve intervenção (PORTAL
VITRUVIUS, 2011).
43
A linearidade foi seguida em todo o projeto, inclusive no espelho d’água de
245m (não consolidado) trazendo a referência dos trilhos de ferro que foram
retirados.
Figura 24: Implantação do Projeto.
Fonte: DIVISARE, 2020; alterado pela autora, 2020.
6.2.2 Programa de Necessidades
A antiga sede da estação foi definida como área administrativa do Centro
Cultural e loja.
Os dois antigos depósitos de materiais e mercadorias ganharam novo uso:
um definido para abrigar exposições temporárias e, no outro, foi implantado um
auditório com capacidade para 208 pessoas, foyer, café/lanchonete e cyber café.
A antiga casa do chefe da estação foi setorizada no uso de serviços, como
bloco de apoio aos funcionários.
No projeto, a edificação nova abrigaria ateliês e uma biblioteca, no entanto
esse bloco não foi consolidado.
44
Figura 25: Setorização Plataforma Original.
Fonte: DIVISARE, 2020; adaptado pela autora, 2020.
Figura 26: Setorização Auditório.
Fonte: DIVISARE, 2020; adaptado pela autora, 2020.
Figura 27: Setorização Casa do Chefe da Estação.
Fonte: DIVISARE, 2020; adaptado pela autora, 2020.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
45
Figura 28: Setorização Ateliês e Biblioteca.
Fonte: DIVISARE, 2020; adaptado pela autora, 2020.
Legenda:
Público Serviço
Tabela 2: Programa de Necessidades – Centro Cultural de Araras
SETOR AMBIENTE ÁREA ÚTIL
Administrativo Sala de Reuniões 14m²
Escritório 26,35m²
Público Loja 71,45m²
Ateliês 600m²
Biblioteca 600m²
Café 124m²
Foyer 17,30m²
Auditório 272,85m²
Serviço Banheiros na Sede Original 25m²
Cozinha Funcionários 20m²
Banheiro Funcionários 14,24m² cada
Demais espaços de apoio dos
funcionários
67m²
Banheiros Biblioteca 97m²
Cozinha do café 24,45m²
Banheiros do Auditório 18m² cada
Fonte: Autora, 2020.
46
6.2.3 Materiais e Técnicas Construtivas
Para seguir com a ideia de preservação das características originais da Gare,
a intervenção permitiu que algumas fachadas e paredes internas contivessem tijolos
aparentes, assim como as vigas em madeira.
A intervenção foi trabalhada sutilmente, restaurando os elementos originais
existentes e explorando o estilo contemporâneo através das cores e, principalmente,
por meio da iluminação.
Figura 29: Centro Cultural de Araras.
Fonte: DIVISARE, 2020.
Figura 30: Auditório. Figura 31: Café.
Fonte: DIVISARE, 2020. Fonte: DIVISARE, 2020.
47
6.2.4 Análise Geral e Referência
Com a análise, mais especificamente, um patrimônio antes totalmente
abandonado e destruído, pôde tornar-se um espaço útil e valorizado pelos usuários,
através do contraste de materiais, associando o antigo ao novo, e das novas
atividades propostas, chamando a população para usufruir do Centro Cultural.
6.3 BIBLIOTECA E AUDITÓRIO PÚBLICO CURNO
Arquitetos: Archea Associati.
Localização: Bergamo, Itália.
Ano do Projeto: 1996 - 2009.
Figura 32: Biblioteca e Auditório Público Curno.
Fonte: ARCHDAILY, 2019.
O projeto, concebido no ano de 1996, foi desenvolvido para abrigar uma nova
biblioteca pública e um auditório; mas, sofreu diversas paralisações de cunho político
48
e só foi finalizado no ano de 2009. Dentro de uma área escolar pré-existente, o
objetivo do escritório Archea Associati era dar continuidade no espaço público
envolvente. Seu volume remete a um livro aberto, onde a cobertura em degraus
transforma-se em um anfiteatro permitindo o uso para eventos e contemplação do
ambiente.
6.3.1 Implantação
O projeto estende-se por cerca de 2.000 metros quadrados; segundo os
arquitetos, a ideia era ocupar menor área possível do terreno a fim de estender a
praça pública. A proposta constitui-se em apenas um edifício retangular com
superfície triangular formando o anfiteatro; o planejamento parte da circulação
principal, sobretudo, estrutural e espacialmente.
6.3.2 Programa de Necessidades
O subsolo foi destinado à área técnica e ao depósito do acervo de livros; o
acesso principal fica no pavimento térreo que conta com foyer, auditório com
capacidade para 250 pessoas com vestiário, depósitos, banheiros, área
administrativa, área técnica e biblioteca, com espaço para leituras, acervo de livros e
espaço de leitura infantil.
No primeiro pavimento, estão os mezaninos da biblioteca e do auditório, bem
como a cobertura que também se transfigura em um anfiteatro.
49
Figura 33: Planta baixa subsolo.
Fonte: ARCHDAILY, 2019.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
Figura 34: Planta baixa térreo.
Fonte: ARCHDAILY, 2019.
50
Figura 35: Planta baixa primeiro pavimento.
Fonte: ARCHDAILY, 2019.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
Figura 36: Planta baixa cobertura.
Fonte: ARCHDAILY, 2019.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
51
Tabela 3: Programa de Necessidades – Biblioteca Curno
SETOR AMBIENTE ÁREA ÚTIL
Administrativo Escritório 32m²
Público Foyer 30m²
Auditório 210,5m²
Biblioteca 450m²
Mezaninos Biblioteca 115m²
Mezanino Auditório 37,50m²
Arquibancada Anfiteatro 880m²
Serviço Área Técnica subsolo 154m²
Depósito de livros 70,73m²
Vestiário Auditório 22m²
Depósito pav. térreo 15m² cada
Banheiros 35m²
Área Técnica pav. térreo 9,2m²
Fonte: Autora, 2020.
6.3.3 Materiais e Técnicas Construtivas
A edificação foi constituída de concreto pigmentado e ferro. No decorrer da
obra, foram adicionados tubos de PVC de 200 milímetros de diâmetro, distribuídos
nas paredes de concreto, para auxiliar na ventilação dos ambientes.
A composição do concreto com óxido de ferro natural e a adição de
lubrificantes permitiu que as paredes recebessem uma textura de letras feita com
moldes, remetendo às páginas de um livro.
Na parte interna, as passarelas são de estrutura metálica aparente e a
circulação principal iluminada por aberturas zenitais.
52
Figura 37: Biblioteca Pública Curno. Figura 38: Biblioteca Pública Curno.
Fonte: ARCHDAILY, 2019. Fonte: ARCHDAILY, 2019.
6.3.4 Análise Geral e Referência
O projeto inseriu-se de maneira marcante no terreno; seu volume, nada sutil,
apresenta três propostas interessantes para os usuários de diferentes idades.
Apesar dos materiais simples, mas ao mesmo tempo impactantes neste contexto, o
anfiteatro inserido na cobertura da edificação propôs uma forma inteligente de uso.
6.4 CONCLUSÃO DOS ESTUDOS REFERENCIAIS
A partir dos estudos referenciais, foi possível analisar exemplos de
intervenções em Estações Ferroviárias importantes para suas respectivas
localidades. O principal propósito desses projetos descende da intenção de
preservar a história das estações, valorizando as edificações arquitetônicas e
propondo novos usos ou ampliando a função do local; dessa forma, incentivando o
fluxo de indivíduos nesses espaços.
53
O desenvolver da proposta de projeto para a Revitalização da Estação
Ferroviária de Marcelino Ramos buscará o reconhecimento desse patrimônio
histórico para a cidade, recuperar a arquitetura original da edificação e revitalizar o
entorno do complexo ferroviário. O uso será ampliado para desenvolver novos
projetos em que a comunidade marcelinense possa participar e usufruir, bem como
promover o turismo local.
Quanto à parte arquitetônica, serão preservadas as características atuais,
bem como o sistema construtivo, garantindo conservação do histórico da edificação.
O outro tema referencial exibe um projeto de uma biblioteca pública e um
auditório em Bergamo, na Itália. Esse projeto situa-se em uma área educacional,
interligando a edificação com uma escola, motivando os principais usuários a utilizar
o espaço. O projeto conceitual busca referência ao livro, seu volume remete a um
livro aberto e as paredes são texturizadas com letras aludindo às páginas escritas.
A proposta de ampliação de uso para a Gare de Marcelino Ramos buscará
proporcionar um novo bloco como espaço público que seja de acesso a todos e que
incentive o fluxo de pessoas no ambiente. A ideia de uma biblioteca pública firma-se
na falta de um espaço adequado na cidade para essa finalidade; além disso, o
município carece de um auditório público, pois não há local específico para tal
utilização. Portanto, essa referência foi escolhida como base para o desenvolvimento
do novo bloco que será elaborado no decorrer do projeto, usada como
embasamento para desenvolver o programa de necessidades adequado.
54
7 DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE IMPLANTAÇÃO
Neste capítulo será apresentado o levantamento das informações
características do terreno definido, como área de intervenção e seu entorno.
7.1 CONTEXTUALIZAÇÃO REGIONAL
A área de intervenção da proposta do projeto de reuso adaptativo está
localizada em Marcelino Ramos, ao norte do estado do Rio Grande do Sul, uma
pequena cidade com 229,759km² de área territorial e 4.402 habitantes (IBGE, 2019).
Além de ser um município com referência nacional por seu legado histórico-
cultural deixado pela ferrovia, a qual originou a malha urbana e o desenvolvimento
do município, Marcelino Ramos destaca-se, também, por seu potencial paisagístico,
motivando as atividades turísticas que, hoje, caracteriza-se como principal segmento
econômico na cidade juntamente com as atividades agrícolas (Prefeitura de
Marcelino Ramos, 2020).
Figura 39: Localização do projeto.
Fonte: Autora, 2020.
7.2 CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS DO TERRENO
Às margens do Rio Uruguai, divisa com Santa Catarina, está localizada a área
de intervenção, onde encontra-se a estrada de ferro que passa pela monumental
Ponte Metálica a caminho da Estação Ferroviária, o Girador de Locomotivas,
importante equipamento e “um dos últimos exemplares da América Latina” (Portal de
Marcelino, 2015) e o trem Maria Fumaça que transporta os turistas para uma viagem
55
memorável saindo da cidade de Piratuba em Santa Catarina a caminho de Marcelino
Ramos, por responsabilidade da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária
(ABPF). Além dos elementos que fazem parte da gare, há no terreno uma das
poucas moradias que sobraram da época dos ferroviários, ao longo do tempo teve
outros usos e atualmente é destinado aos serviços da SAMU (Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência), localizado próximo à ponte metálica.
Para o projeto de intervenção, ficou definida a área de 28.130m², iniciando no
começo da ponte férrea, incluindo o girador de locomotivas, a edificação da Estação
Ferroviária e os acessos para o complexo ferroviário. Esse espaço está situado em
um nível mais baixo ao da cidade; para acessar o local, existem dois acessos de
estrada de chão para veículos e um acesso de pedestres através das escadarias;
além destes, há o acesso através da Ponte Metálica, onde é permitido a travessia de
automóveis e outros meios de transporte, com altura máxima definida pelo gabarito
de altura presente no início e final da ponte.
Os ventos predominantes da cidade situada no Alto Uruguai Gaúcho são de
Sudeste (MACHADO, 1950). A vegetação existente está às margens do rio; são
vegetações nativas do local e importantes para o ecossistema da região. Quanto à
iluminação, restringe-se apenas à edificação da antiga Estação e no acesso à Ponte
Metálica.
Figura 40: Local de intervenção.
Fonte: Google Earth Pro, 2020; alterado pela autora 2020.
Legenda: Estação Ferroviária Casa do Gerente Ferroviário SAMU Girador de Locomotivas Praça Clovis Dobrowolski Ponte Metálica Área de Intervenção Vegetação existente
56
Figura 41: Imagens da área de intervenção.
Fonte: Autora, 2020.
57
Figura 42: Locação das imagens da área de intervenção (Figura 40).
Fonte: Google Earth Pro, 2020; alterado pela autora, 2020.
Nas imagens da Figura 40, é possível perceber alguns pontos importantes da
gare como a paisagem que contempla seu entorno, os acessos, o girador de
locomotivas desativado e a Estação Ferroviária.
Os reparos feitos pela AAFMR em março de 2020, buscaram realizar as
adaptações necessárias, remetendo sempre aos padrões originais e identificando a
data da modificação nos elementos novos. Para determinar as cores da pintura, foi
realizado o procedimento de raspagem das repinturas chegando à tonalidade
original da edificação (prospecção); a cor definida assemelha-se à cor original, no
entanto, é perceptível a diferença do tempo de execução.
As imagens C e G da Figura 40 expõem o sistema construtivo da Estação
Ferroviária. Alguns relatos afirmam que, a partir do sistema construtivo, é
questionável o tempo de construção dos lados separados pelas tonalidades de
marrom e azul, administrados respectivamente pela VFRGS e RVPSC, no entanto,
nada foi comprovado. Além da pintura, algumas esquadrias e telhas precisaram ser
substituídas, pois não estavam em condições de uso, bem como foi realizada a
adição de luminárias externas e banheiros, exigidos pelo DNIT (conversa informal
com Jonas Kerber – integrante da AAFMR, 2020).
7.3 ANÁLISE DO ENTORNO: MAPA NOLLI, USO DO SOLO E ALTURA DAS
EDIFICAÇÕES
O estudo do entorno ficou definido com forma linear à área de intervenção,
compreendendo 300m de raio, seguindo o perímetro linear do local estabelecido
para a proposta de projeto. Sendo assim, foram analisados os cheios e vazios
58
urbanos, as edificações quanto ao uso do solo e à altura, além das características
específicas do entorno.
A análise do Mapa Nolli (figura 42), referente a cheios e vazios urbanos,
apresenta pouca área edificada; entretanto, essa é a área central do município.
Levando em consideração que se trata de uma cidade de pequeno porte,
tradicionalmente, os lotes possuem grande área permeável com vegetação e, muitas
vezes, pomar, característica de cidades do interior, além de grandes áreas verdes de
preservação ambiental.
Figura 43: Mapa Nolli.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Rio Uruguai (Lago da Usina Hidrelétrica de Itá) Área de Intervenção
Cheios
O mapa de uso do solo (figura 43) apresenta a tipologia das edificações
quanto ao uso; a área em análise possui a maioria das edificações de uso
residencial unifamiliar e edificações classificadas como mista; estas últimas possuem
área de comércio, geralmente no pavimento térreo, e área residencial unifamiliar ou
multifamiliar nos pavimentos superiores.
59
Na área central está localizada a maior parte do comércio da cidade, apesar
da área residencial ser predominante. Portanto, por ser próximo à gare, o centro
oferece importante apoio ao visitante da Estação Ferroviária, cooperando para o
desenvolvimento do setor socioeconômico do município.
A maioria das construções são antigas ou reformadas; no entanto, algumas
edificações classificadas como residencial multifamiliar, também existentes na
classificação “mista”, são construções mais recentes. Ainda assim, a perspectiva de
maior desenvolvimento está na área do Balneário de Águas Termais, sendo o foco
do turismo marcelinense e tornando o centro um espaço de fluxo local.
Figura 44: Mapa do Uso do Solo.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Rio Uruguai (Lago da Usina Hidrelétrica de Itá) Área de Intervenção
Comércio Prestação de Serviços Residencial Unifamiliar
Mista Espaço Comunitário Residencial Multifamiliar
Religioso Edificação em Desuso Indústria
Praça Ponto Turístico
60
Em análise ao gabarito de alturas, na figura 44, foi observado que existe
similaridade nas edificações, sendo a maior parte entre 1 e 3 pavimentos.
As edificações com mais de 6 pavimentos possuem diferentes características,
entre elas o tempo de construção e o uso.
A tipologia arquitetônica segue o padrão médio/baixo; geralmente a
volumetria é simétrica e objetiva, seguindo um padrão regional de construção e
edificadas com alvenaria ou madeira.
Figura 45: Mapa de Alturas.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Rio Uruguai (Lago da Usina Hidrelétrica de Itá) Área de Intervenção
1 a 3 pavimentos 4 a 6 pavimentos Mais de 6 pavimentos
7.4 INFRAESTRUTURA URBANA
Em análise à infraestrutura pública urbana, é possível observar a deficiência
de iluminação na área de intervenção, pois, apesar do acréscimo de alguns pontos
específicos nas fachadas da antiga Estação Ferroviária com a intervenção realizada
pela AAFMR, seu entorno carece de mais luminosidade, contribuindo para a
segurança do entorno.
61
Quanto à rede pluvial e bocas de lobo (BL), é possível visualizá-las nas ruas
acima da área do projeto; no entanto, não há nenhum sistema no local da
intervenção.
A rede de abastecimento de água, sob responsabilidade da CORSAN, possui
um único mapa físico existente do ano de 1981, portanto está em processo de
atualização devido às modificações das redes de água em diferentes épocas. As
plantas detalhadas não foram disponibilizadas pelo órgão responsável.
Não há rede de esgoto cloacal pública, ou seja, cada cidadão é responsável
pelo destino dos dejetos residenciais, através de fossa séptica, filtro e sumidouro.
Figura 46: Rede Pluvial e postes de Energia Elétrica.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Rio Uruguai (Lago da Usina Hidrelétrica de Itá) Área de Intervenção
Rede Pluvial e Bocas de Lobo (BL) Poste de Energia Elétrica
Marcelino Ramos possui grandes áreas de vegetação nativa (figura 46); além
disso, nos lotes urbanos, são cultivados espaços permeáveis como jardins, pomares
ou áreas de lazer particulares com gramados e áreas verdes, peculiaridades de
cidades interioranas.
62
Tendo em vista que o local está às margens do Rio Uruguai, serão seguidas
as normas referentes à Lei 12.651, que estabelece a proteção de áreas de
preservação permanente, o Código Florestal. Considerando que, de acordo com o
Art. 4º é obrigatório o recuo de trinta metros para Áreas de Preservação Permanente
em zonas urbanas.
Figura 47: Mapa de Vegetação.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Rio Uruguai (Lago da Usina Hidrelétrica de Itá) Área de Intervenção
Vegetação Existente Recuo de 30m
A figura 47 apresenta as vias no entorno da área de intervenção, sendo o
maior fluxo nas vias coletoras. No terreno, existem vias locais e a linha férrea, o fluxo
de veículos e pedestres nesse local é reduzido, havendo mais movimentação nos
dias em que ocorrem atividades turísticas na Estação Ferroviária.
63
Figura 48: Rede Viária.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Rio Uruguai (Lago da Usina Hidrelétrica de Itá) Área de Intervenção
Vias Locais Vias Coletoras Ferrovia
7.5 SÍNTESE DE LEGISLAÇÃO E NORMATIVAS
Em análise ao Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da cidade de
Marcelino Ramos (PDDI) de 2013, a área de intervenção está localizada na Zona de
Uso Especial (ZUE), de acordo com o Art. 16:
Zona de Uso Especial (ZUE) - são aquelas áreas identificadas no Mapa de Zoneamento (Anexo I), reservadas para fins específicos e sujeitas às normas próprias, nas quais toda e qualquer obra deverá ser objeto de estudo por parte do poder Público Municipal e do Conselho de Desenvolvimento (CDM) e Corpo Técnico da Prefeitura Municipal.
Considerando que o projeto terá finalidade cultural, para calcular as vagas de
estacionamento foi adotada a tipologia de edificações reservadas para teatros,
cultos e cinema onde o anexo XI do PDDI determina uma vaga para cada 75m² que
exceder 200m² de área construída. Além do PDDI, também serão seguidas as
normativas do Código de Obras de Marcelino Ramos.
64
A Lei Nº 12.651 de 2012, o Código Florestal, apresenta regulamentos de
preservação nativa. A área de intervenção está locada às margens do Rio Uruguai,
portanto toda e qualquer normativa referente à proteção das áreas nativas devem
ser seguidas, bem como o recuo de 30m referente ao art. 4º da seção I, capítulo II
do Código Florestal.
Serão seguidas as normas estabelecidas pela Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT): NBR 9050 de 2015 (referente à acessibilidade de
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos) e a NBR 9077 de 2001
(referente às saídas de emergência), bem como a NT 11 do Corpo de Bombeiros a
fim de complementar a NBR 9077.
Além das normativas citadas anteriormente, durante a pesquisa teórica para
o desenvolvimento do futuro projeto, foram vistas algumas legislações e termos
relevantes para o processo de estudo e desenvolvimento do projeto:
• Termo de Cessão de 2018 pelo DNIT dos bens ferroviários descritos na
cláusula terceira para a Prefeitura de Marcelino Ramos (Prefeitura de
Marcelino Ramos, 2020).
• Lei Municipal Nº 043, de 22/09/1999, que transforma a antiga Estação
Ferroviária e o Girador de Locomotivas em monumentos históricos municipais
(Prefeitura de Marcelino Ramos, 2020).
65
8 CONCEITO E DIRETRIZES PROJETUAIS
Neste capítulo será apresentado o conceito do projeto arquitetônico e suas
diretrizes que especificarão de que maneira o conceito será aplicado no projeto.
8.1 CONCEITO
A proposta do projeto traz como conceito a valorização do patrimônio histórico
municipal ferroviário através do uso cultural do espaço de intervenção.
A ferrovia, vista como importante marco da era industrial é considerada
responsável pelo desenvolvimento do país, instauradora de cidades e do
desenvolvimento do meio de transporte, também fazendo-se presente na memória
de gerações de famílias, das tradições, dos hábitos e de comunidades.
8.2 DIRETRIZES ARQUITETÔNICAS, URBANÍSTICAS E SUSTENTÁVEIS
Com o objetivo de valorizar a memória da cidade, as diretrizes arquitetônicas
buscam recuperar as pré-existências, como a antiga edificação da Estação
Ferroviária e o Girador de Locomotivas, preservando os elementos originais e
intervindo minimamente para o uso turístico e cultural para apoio à Gare, ao visitante
e aos funcionários do complexo ferroviário, através de sanitários, segurança, centro
de informações, café, memorial, escritórios, entre outros espaços.
Para incentivar o fluxo de marcelinenses no espaço e estimular a cultura local,
será proposto um bloco novo com infraestrutura para atividades culturais, como
apresentações e espetáculos de teatro, dança e música. Ainda considerando o
espaço como um local de memória e identidade municipal, será proposto um espaço
para realocar a biblioteca pública da cidade, maior que o atual1 e mais adequado
para a comunidade e região.
As diretrizes urbanísticas têm a intenção de salientar a paisagem natural do
local, serão então propostos espaços de contemplação e permanência, como
mirante, espaços adequados para crianças e caminho peatonal às margens do rio. A
1 A biblioteca pública municipal está locada, atualmente, na Casa da Cultura que possui o Memorial do Estreito Augusto Cesar, um auditório e salas para cursos, dentre estas salas uma é destinada à biblioteca pública municipal, no entanto o espaço é pequeno para o uso.
66
fim de buscar a permeabilidade entre o interior e o exterior da nova volumetria, serão
projetadas aberturas estratégicas emoldurando o cenário local.
Também se pretende com o projeto, conectar a cidade com o complexo
ferroviário adequadamente, resolvendo a problemática do fluxo de pedestres e
veículos através de acessos seguros e de qualidade, além de solucionar o problema
da iluminação precária e a falta de espaço destinado para estacionamento.
É importante salientar que o complexo ferroviário abrange mais construções
do que aquelas existentes na área de intervenção, incluindo a casa do gerente da
Estação e as escadarias que dão acesso à cidade e a essa casa, ambas próximas
ao terreno definido para o projeto. No entorno também há, ao lado do acesso
principal de veículos para a Estação Ferroviária, a praça Clovis Dobrowolski, que
carece de manutenção, como iluminação e mobiliário urbano. Esses espaços aos
arredores do terreno receberão intervenção indireta, pois estão inseridos no entorno
imediato.
As diretrizes de sustentabilidade serão desenvolvidas a fim de gerar
benefícios para o complexo ferroviário, mediante estratégias redutoras de consumo,
mitigando o impacto ambiental e permitindo seu funcionamento mais sustentável.
Através do aproveitamento dos condicionantes climáticos, como o sistema de
captação da água da chuva, o uso de placa solar fotovoltaica e estratégias para o
conforto térmico, como implantação de barreiras solares e aproveitamento da
ventilação natural.
Figura 49: Imagens da área de intervenção e entorno.
Fonte: Autora, 2020.
67
9 PARTIDO GERAL
Neste capítulo, serão apresentados os estudos iniciais a partir do programa
de necessidades com pré-dimensionamento aproximado de cada ambiente e o
mobiliário previsto para cada uso. Também foram desenvolvidos os esquemas de
fluxograma e organograma para apresentar como funcionará a organização dos
espaços a partir do zoneamento e intensidade de fluxo. Por fim, os estudos de
mancha com o zoneamento de setores.
9.1 EDIFICAÇÃO EXISTENTE
A partir da análise do levantamento arquitetônico e registros fotográficos da
Estação Ferroviária, foi possível perceber que as modificações realizadas no espaço
foram executadas em diferentes épocas. As intervenções mais recentes, por
iniciativa da Associação Amigos da Ferrovia de Marcelino Ramos (AAFMR), entre
elas pode-se destacar a instalação de banheiros novos, foi uma exigência do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para a continuidade
dos serviços de turismo já em funcionamento. Além disso, foi necessário o
fechamento em alvenaria de algumas aberturas de portas e janelas das esquadrias
que estavam danificadas, esse reparo foi uma solução encontrada pela AAFMR para
manter o local fechado, já que não há montante suficiente para o investimento da
substituição das esquadrias semelhantes às originais, dado o propósito de manter a
caracterização original presente na edificação e adaptar para o uso total do espaço
remetendo sempre ao antigo uso.
O projeto buscará adaptar a edificação existente da Estação Ferroviária de
Marcelino Ramos com o mínimo de alteração na construção consolidada, tendo em
vista que o objetivo é destacar as marcas da história, remetendo aos tempos em que
o local atuava, de fato, como uma Estação Ferroviária. Contudo, o projeto terá a
intenção de atender, dentro das possibilidades do espaço existente, às
necessidades que foram percebidas através de informações obtidas no decorrer do
projeto, por meio de conversas informais com representantes da AAFMR e visitas in
loco. A demanda é atender aos turistas e preservar os ambientes, destinando-os
68
para memorial; além disso, a Associação necessita de uma sala para realizar
reuniões e armazenar os registros de atividades desenvolvidas pelo grupo.
Figura 50: Levantamento da Estação Ferroviária
Fonte: Autora, 2020.
Figura 51: Imagens internas da Estação Ferroviária.
Fonte: Autora, 2020.
69
Tabela 4: Programa de Necessidades – Bloco Existente.
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA (BLOCO EXISTENTE)
SETOR ADMINISTRATIVO
Ambiente Quantidade Área Mobiliário
Escritório AAFMR 1 15m² Mesa, cadeira, armário,
copa
SETOR DE SERVIÇO
Ambiente Quantidade Área Mobiliário
Apoio para autônomos da
feira 1 12m²
Geladeira, pia, micro-ondas,
cooktop, banheiro PCD
unissex
Depósito / DML 1 8m² Prateleiras e armários
Cozinha do café 1 20m²
Fogão, pia, geladeira,
freezer, forno, mesa,
armários
SETOR PÚBLICO
Ambiente Quantidade Área Mobiliário
Sala de exposições / Feira 1 155m²
Stands dos autônomos,
mini palco para
apresentações de música
Café 1 50m² Mesas e cadeiras
Sala para Memorial 5 95m² Acervo de objetos históricos
da época ferroviária
Banheiro unissex 3 10m² Bacias sanitárias e
lavatórios
Banheiro PCD 1 8m² Bacia sanitária e lavatório
Fonte: Autora, 2020.
70
Figura 52: Organograma da Estação Ferroviária.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
Figura 53: Fluxograma da Estação Ferroviária.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda de Setor:
Público Serviço Administrativo
Legenda de Fluxo:
Intenso Moderado Ocasional
71
Figura 54: Planta baixa zoneada da Estação Ferroviária – opção 01.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
Figura 55: Planta baixa zoneada da Estação Ferroviária – opção 02.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Público Administrativo Serviço
Partindo da situação atual da Estação Ferroviária e levando em consideração
o programa de necessidades definido, a proposta escolhida (opção 02) estabelece o
mínimo de intervenção na planta baixa existente, fazendo-se necessário apenas
algumas aberturas internas, a fim permitir total fluxo interno entre as extremidades
da edificação. Além disso, a setorização define-se pelos acessos do público na
plataforma de embarque, onde os turistas chegam do passeio de trem. Já os
acessos de serviço, estão localizados na parte posterior à plataforma.
72
9.2 BLOCO NOVO
O objetivo do bloco novo é atender, principalmente, ao público da comunidade
marcelinense, estimulando a circulação mais frequente de pessoas na área de
intervenção. Para isso, o programa de necessidades foi elaborado frente à
necessidade de espaços culturais adequados para desenvolver atividades como
apresentações de teatro, música, palestras, além de realocar a biblioteca pública
municipal para um espaço mais atrativo e apropriado.
Tabela 5: Programa de Necessidades – Bloco Novo
BLOCO NOVO
SETOR ADMINISTRATIVO
Ambiente Quantidade Área Mobiliário
Sala da Gerência 1 20m²
Mesa para
computadores, cadeira,
armários
Sala de Reuniões 1 12m² Mesa, cadeiras, armário
Sala de Arquivo 1 10m² Armários, mesa para
computador e cadeira
Copa 1 10m² Geladeira, pia, microondas,
cooktop
Lavabo PCD Unissex 1 5m² Bacia sanitária e lavatório
Sala de Monitoramento 1 15m²
Computador com acesso às
câmeras de segurança,
cadeira, armário
SETOR DE SERVIÇO
Ambiente Quantidade Área Mobiliário
DML 3 10m² Prateleiras e armários
Doca 1 8m²
Depósito 1 20m² Prateleiras e armários
73
Vestiário com banheiro
Feminino PCD 1 15m²
Bacia sanitária, lavatório,
armário locker
Vestiário com banheiro
Masculino PCD 1 15m²
Bacia sanitária, lavatório,
armário locker
Catalogação e Restauração 1 12m²
Mesa de apoio, mesa para
computador, cadeira,
estantes
Sala Bibliotecária 1 10m² Mesa para computador,
cadeira, armário
SETOR PÚBLICO
Ambiente Quantidade Área Mobiliário
Recepção 1 10m² Poltronas, mesa e cadeira
para recepcionista
Foyer 1 30m² Poltronas, café
Auditório 1 230m² Capacidade para 200 pax,
cadeiras, palco
Camarins 2 10m² Cadeiras, araras,
penteadeira
Biblioteca 1 300m² Prateleiras, mesas,
cadeiras
Banheiro Feminino 8 12m² Bacias sanitárias, lavatórios
e fraldário
Banheiro Masculino 8 12m² Bacias sanitárias, lavatórios
e fraldário
Banheiro PCD Família 2 8m² Bacia sanitária e lavatório
Fonte: Autora, 2020.
74
Figura 56: Organograma e fluxograma do bloco novo.
Legenda de Setor:
Público Serviço
Administrativo
Fonte: Autora, 2020.
Figura 57: Organograma e fluxograma do bloco novo.
Legenda de Setor:
Público Serviço
Administrativo
Legenda de Fluxo:
Intenso Moderado
Ocasional
Fonte: Autora, 2020.
75
Figura 58: Planta baixa zoneada do bloco novo – opção 01.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda de Setor:
Público Serviço Administrativo
76
Figura 59: Planta baixa zoneada do bloco novo – opção 02.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda de Setor:
Público Serviço Administrativo
De acordo com os estudos de zoneamento em planta baixa, a opção 02 ficou
definida para ser desenvolvida durante o projeto arquitetônico. A proposta
77
apresentou melhor fluxo entre os setores, bem como o zoneamento dos espaços
definidos no pré-dimensionamento.
9.3 ÁREA EXTERNA
Como já visto, o problema da falta de circulação de pessoas na Estação
Ferroviária, transmite sensação de insegurança para o entorno. Portanto, na área
externa, o propósito é conectar a área urbana com a gare por meio de acessos, além
de espaços de permanência convidativos ao usuário.
Tabela 6: Programa de Necessidades – Área Externa
ÁREA EXTERNA
SETOR PÚBLICO
Ambiente Quantidade Área Mobiliário
Deck de madeira plástica 1 130m² Bancos
Bicicletário 1 10m² Suporte para bicicletas
Banheiro Feminino PCD 1 10m² Bacia sanitária, lavatório
Banheiro Masculino PCD 1 10m² Bacia sanitária, lavatório
Estacionamento 30 vagas
Fonte: Autora, 2020.
Figura 60: Zoneamento da área de implantação.
Fonte: Autora, 2020.
Legenda:
Público Estação Ferroviária Bloco Novo
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10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou o reconhecimento do valor
histórico, cultural e econômico que as ferrovias brasileiras trouxeram com sua
implantação no mundo. Enfatizando a relevância da Estação Ferroviária para a
cidade de Marcelino Ramos, como patrimônio histórico, sociocultural e turístico.
Através de visitas in loco e conversas informais com representantes da
Associação Amigos da Ferrovia de Marcelino Ramos (AAFMR), constatou-se a
necessidade de intervir na Estação Ferroviária de Marcelino Ramos, pois o espaço
encontra-se em estado precário e inseguro, visto sua importância histórica.
Para tanto, buscou-se referências projetuais semelhantes ao tema do projeto
em desenvolvimento, além de conceitos sobre reuso adaptativo e restauro para a
proposta de partido geral do projeto de Reuso Adaptativo da Estação Ferroviária de
Marcelino Ramos.
Nesse sentido, os estudos inicias foram concluídos e o embasamento teórico
foi empregado para a evolução da segunda etapa do projeto arquitetônico. Da
mesma forma, foi significativa a contribuição em registrar a importância da Estação
Ferroviária de Marcelino Ramos como patrimônio histórico municipal.
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REFERÊNCIAS
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