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Espacialização da anomalia do índice de Hack como suporte a estudos morfoestruturais Édipo Henrique Cremon Trabalho de monografia da disciplina SER- 300 Introdução ao Geoprocessamento do Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto. São José dos Campos 2013

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Espacialização da anomalia do índice de Hack como

suporte a estudos morfoestruturais

Édipo Henrique Cremon

Trabalho de monografia da disciplina SER-

300 Introdução ao Geoprocessamento do

Programa de Pós-graduação em

Sensoriamento Remoto.

São José dos Campos

2013

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Resumo

Em geomorfologia, o perfil longitudinal dos cursos fluviais são bastante

estudados para o estabelecimento de processos evolutivos, de geometria

hidráulica e morfoestruturais. Pelas teorias clássicas de evolução de relevo,

espera-se que relevos evoluídos apresentem rios com perfis longitudinais com

caimento logarítmico. Baseado nessa premissa, Hack (1957) estabeleceu um

índice relacionando a declividade e extensão dos cursos fluviais que desde

então vem sendo utilizado pela comunidade científica. Uma derivada desse

índice é a verificação de anomalias que são relacionadas a diferenças

litológicas e deformações neotectônicas na paisagem. Esse índice de anomalia

morfoestrutural embora seja derivado de uma geometria linear (rede de

drenagem) com expressão pontual, alguns trabalhos tentaram espacializá-lo

por técnicas de interpolação para criar superfícies contínuas que ajudassem na

interpretação de áreas com maiores anomalias que podem ser relacionadas a

diferenças litológicas e deformações neotectônicas. Tal recurso é interessante,

pois auxilia no estudo geomorfológico e de geologia morfoestrutural. O objetivo

desse trabalho foi de avaliar técnicas de espacialização do índice de Hack que

melhor auxiliem no estudo morfoestrutural. A área de estudo foi o interflúvio

dos rios Negro e Branco, no norte da Amazônia, em uma região conhecida

como Pantanal Setentrional. Esse trabalho contou com recursos de

geoprocessamento de extração automática da rede de drenagem de modelos

digitais de elevação para posterior aplicação do índice de Hack e sua anomalia.

Em seguida, métodos de interpolação e de densidade kernel, junto com

representação por proporção pontual foram aplicados e comparados com uma

base cartográfica de lineamentos morfoestruturais e pontos. Dos métodos

testados, o melhor resultado foi para espacialização da anamolia

morfoestrutural por densidade kernel, sendo bastante correspondente aos

lineamentos e pontos sísmicos.

Palavras chave: índice de Hack, anomalia morfoestrutural, espacialização.

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1. INTRODUÇÃO

Em geomorfologia, o perfil longitudinal é um dos elementos morfométricos mais

estudados. Este consiste na representação bivariada entre a cota altimétrica e

o comprimento de um determinado curso fluvial de montante para jusante.

Diversas interpretações são feitas a partir de perfis longitudinais de cursos

fluviais. Espera-se que o perfil longitudinal tenha declividades maiores em

direção à nascente e com valores menores para jusante (Christofoletti, 1981).

Dada a importância dos rios no modelado da paisagem, a análise de perfis

longitudinais é uma antiga temática dentro da geomorfologia (Christofoletti,

1981). Os estudos baseados nesse tipo de perfil têm se pautado no

estabelecimento de processos evolutivos, de geometria hidráulica e análises

morfoestruturais. Embora seja uma representação bivariada de cota pelo

comprimento, implicitamente um perfil longitudinal também possui coordenadas

geográficas, logo, abordagens de análises de modo espacializados em

ambiente de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) também é possível.

Dentro das inúmeras abordagens de análise de perfis longitudinais, uma das

mais utilizadas foi desenvolvida por Hack (1957). Pelas teorias clássicas de

evolução de relevo, espera-se que relevos evoluídos apresentem rios com

perfis longitudinais com geometria que decrescem logaritmicamente. Baseado

nessa premissa, Hack (1957) estabeleceu um índice relacionando a declividade

e extensão dos cursos fluviais que desde então vem sendo utilizado pela

comunidade científica.

Uma derivada desse índice é a verificação de anomalias que são relacionadas

a diferenças litológicas e deformações neotectônicas na paisagem. Na maioria

dos trabalhos desenvolvidos, a análise do índice e sua anomalia são feitas de

forma gráfica de duas dimensões. Embora seja produto de uma geometria

linear (rede de drenagem) com expressão pontual, alguns trabalhos tentaram

espacializá-lo para que pudessem ser utilizados na interpretação de áreas com

maiores valores de anomalia relacionadas a diferenças litológicas e/ou

deformações neotectônicas (p.e. Seeber; Gornitz, 1988; Etchebehere et al.,

2004; Troiani; Della Seta, 2008). Tal recurso é interessante, pois auxilia no

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estudo geomorfológico e de análise morfoestrutural. Ainda que alguns

trabalhos tenham se engajado na espacialização do índice (p.e. Etchebehere et

al., 2004; Vágó, 2010; Fonseca; Augustin, 2011), ainda não há um estudo

específico sobre as vantagens e desvantagens de diferentes métodos de

espacialização. Esse trabalho tem por objetivo avaliar técnicas de

espacialização do índice de Hack com base nas ferramentas de

geoprocessamento que melhor auxiliem no estudo morfoestrutural.

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2. O ÍNDICE DE HACK Hack (1973) desenvolveu um método para analisar perfis longitudinais com o

qual denominou de stream-gradient index. No Brasil o índice tem sido chamado

de relação declividade-extensão (RDE) ou simplesmente índice de Hack

(Etchebehere et al., 2004).

O índice de Hack é um parâmetro quantitativamente significante, pois está

relacionado à potência do canal (stream power) para transportar material de

dada granulometria e às características do canal com a resistência de fluxos. O

índice pode ser calculado para todo o canal (Eq. 1), para comparações de

diferentes cursos fluviais ou por trechos (Eq. 2), este último sendo mais voltado

para análise detalhada das variações dos índices.

L

.. .

ΔH

ΔL

L1

L2

Figura 1 – Representação dos parâmetros necessários para o cálculo do índice de Hack em perfil longitudinal.

Eq. 1

(

)

Eq. 2

Mais voltado para estudos morfoestruturais, Seeber e Gornitz (1988)

estabeleceram uma formulação para anomalias do índice de Hack, onde o

valor do índice por trecho é divido pelo índice total.

Eq. 3

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Valores maiores do índice de Hack ou de sua anomalia têm sido interpretados

em estudos morfoestruturais por diferença litológica do substrato ou por

movimentações tectônicas que deslocam o relevo, por isso a anomalia do

índice também pode ser denominada de anomalia morfoestrutural.

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3. ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreende a região amazônica localizada no interflúvio dos

rios Negro e Branco, que vem sendo sistematicamente estudada nos últimos

anos. Especificamente, o estudo se concentrará numa área denominada de

Pantanal Setentrional (Santos et al., 1993). É uma região com 134.500 km² e

pouco habitada. Possui a cidade de Barcelos como o único centro urbano e

algumas vilas e tribos ao longo dos maiores rios (Figura 2).

Em relação à geologia, a área de estudo está localizada no norte da porção

ocidental da Bacia Sedimentar do Solimões (Figura 3), sendo sobreposta às

rochas pré-cambrianas dos escudos das Guianas ao norte, e do Brasil Central,

ao sul. A oeste e a leste, os limites da Bacia do Solimões são dados pelos

arcos de Iquitos e Purus, respectivamente.

A região do interflúvio do médio rio Negro com o rio Branco foi considerada

uma extensão da Bacia do Solimões, com cerca de 100.000 km², denominada

de Pantanal Setentrional (Santos et al., 1993). De acordo com esses autores,

essa área corresponde a uma bacia sedimentar continental notavelmente

recente, originada provavelmente no Plioceno, cujo preenchimento se deu

essencialmente por deposição de sedimentos fluviais originados por intensa

migração lateral dos rios.

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Figura 2 – A linha tracejada em preto delimita os limites do Pantanal Setentrional.

Figura 3 - Arcabouço geológico da área de estudo, localizada ao norte da porção ocidental da Bacia do Solimões, onde se localiza a sub-bacia do Pantanal Setentrional. 1-3= arcos estruturais de– Iquitos (1), – Purus (2) e Monte Alegre (3).

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A proposição da sub-bacia do Pantanal Setentrional ainda é informal, não

tendo sido adota em mapeamentos geológicos recentes (Schobbenhaus et al.,

2004; IBGE, 2005, 2010).

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4. MATERIAIS E MÉTODOS Para o desenvolvimento desse trabalho, recursos de geoprocessamento para a

extração automática da rede de drenagem a partir de modelos digitais de

elevação foram utilizados. Como insumo topográfico, será utilizado o MDE-

SRTM o qual foi trabalhado dentro da plataforma TerraHidro que possui

ferramentas para extração automática da rede de drenagem. O modelo digital

original passa por preenchimento de sumidouros para torná-lo

hidrologicamente consistente, em seguida é convertido para fluxo acumulado e

após esta operação, para área de contribuição. Com um fatiamento da área de

contribuição é possível extrair a rede de drenagem. No caso, foi usado um

limiar de 50000 pixels, extraindo a rede de drenagem, que foi convertida para

linha. Esta por sua vez foi recortada dos limites do polígono do Pantanal

Setentrional baseado em Rossetti et al. (no prelo).

Com o dado vetorial da rede de drenagem em linha, combinado com MDE-

SRTM, no aplicativo Global Mapper, é possível extrair o perfil (longitudinal) dos

segmentos e exportá-los em planilha (*.csv) com dados de x,y,z e comprimento

para da vértice da rede de drenagem. Em posse dos dados em planilha foi

calculado o índice de Hack e sua respectiva anomalia no aplicativo Excel.

Como a planilha continha a coordenada geográfica de cada vértice da rede de

drenagem extraída, os mesmos foram espacializados por dado vetorial do tipo

ponto. A partir da informação das anomalias do índice de Hack, três modos de

representação foram elaborados:

a) por proporção pontual, onde maiores valores eram representados por

circunferência maiores;

b) por interpolações, onde os dados de anomalia foram divididos em dois

conjuntos com 70% e 30% para a criação por interpolação de geo-

campos com superfícies de anomalias morfoestruturais e validação dos

resultados obtidos quantitativamente das interpolações, com o cálculo

da raiz quadrada do erro quadrático médio. Os métodos de interpolação

que foram testados são o inverso do quadrado da distância, vizinho mais

próximo, vizinho natural, TIN e topogrid.

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c) Superfícies contínuas também foram avaliadas por densidade Kernel. A

principal avaliação para a espacialização dos dados se deu de modo

qualitiativo, com interpretação de intérprete com experiência no assunto,

embora também foi realizado uma avaliação quantitativa dos métodos

de interpolação.

A avaliação qualitativa contou com o uso do mapa de lineamentos

morfoestruturais da CPRM (Schobbenhaus et al., 2004) e base de dados dos

registros de pontos sísmicos do Brasil. A metodologia empregada está

expressa no fluxograma da figura 2.

Figura 4 – Fluxograma metodológico.

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5. RESULTADOS

A partir do MDE-SRTM foi extraída para a região do Pantanal Setentrional uma

rede de drenagem com 9762.60 km de extensão.

Figura 5 – Rede de drenagem extraída do MDE-SRTM para a região do Pantanal Setentrional (Drenagem do rio Negro e Branco do MMA sobreposta).

O contorno da rede de drenagem apresentou-se consistente para a maior parte

da área de estudo. As principais drenagens estão concordantes com a

drenagem real. Em posse dessa rede, e posterior cálculo da anomalia

morfoestrutural, estes foram espacializados. No primeiro caso, foi usado

apenas dados pontuais proporcionais dos vértices da rede de drenagem para a

informação da anomalia, conforme Figura 6.

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Figura 6 – Representação proporcional pontual da anomalia morfoestrutural.

A partir da informação pontual da anomalia morfoestrutural, interpolações

foram processadas para a criação de superfícies de anomalias

morfoestruturais. Em seguida são apresentados os resultados das

interpolações utilizadas. Na interpolação TIN (Triangular Irregular Network) é

possível observar que várias arestas são formadas com predomínio de

anomalias maiores na borda norte do Pantanal Setentrional e ao longo dos rios

Negro e Branco (Figura 7).

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Figura 7 – Superfície de anomalia morfoestrutural da interpolação TIN.

Com o interpolador inverso do quadrado da distância (IQD), vários reticulados

radiais foram criados, com difícil definição de áreas de maior predomínio de

anomalias (Figura 8).

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Figura 8 - Superfície de anomalia morfoestrutural da interpolação inverso do quadrado da distância.

Com o interpolador vizinho mais próximo, as regiões de maiores anomalias

diminuíram bastante em relação aos interpoladores TIN e IQD. Pequenas

arestas também foram criadas ao longo dos interflúvios (Figura 9).

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Figura 9 - Superfície de anomalia morfoestrutural da interpolação vizinho mais próximo.

Já com o interpolador vizinho natural, não foram criadas arestas como nos

interpoladores anteriores. Grandes feições circulares foram criadas

extrapolando os limites da rede de drenagem (Figura 10).

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Figura 10 - Superfície de anomalia morfoestrutural da interpolação vizinho natural.

Por fim, o último interpolador utilizado foi o topogrid, onde feições circulares

também foram criadas assim como no interpolador vizinho natural, entretanto a

proporção e distribuição dessas feições foram diferentes (Figura 11).

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Figura 11 - Superfície de anomalia morfoestrutural da interpolação Topogrid.

Como explicado anteriormente, um conjunto independente de amostras foi

utilizados para validação das interpolações geradas com base no cálculo da

raiz quadrada do erro quadrático médio (RMSE). Os valores mais discrepantes

foram para o TIN, com RMSE de 583,44. Os demais interpoladores tiveram

valores próximos, com menor erro para o IQD, conforme tabela 1.

Tabela 1 – RMSE das interpolações para as superfícies de anomalia morfoestrutural.

Interpolador RMSE

TIN 583,44

Topogrid 37,06

Vizinho mais próximo 36,63

Vizinho natural 36,62 Inverso do quadrado da distância 34,63

A última representação testada foi pelo método de densidade kernel, no qual os

valores são apresentados em fatiamento de cores qualitativamente. Nesse

caso, as anomalias também apresentam feições mais arredondadas e mais

restritas à rede de drenagem, conforme Figura 12.

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Figura 12 – Densidade Kernel das anomalias morfoestruturais.

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6. Discussão

Na representação de proporção pontual, a alta densidade de pontos dado por

trechos pequenos dos vértices da rede de drenagem fez com que o mapa final

ficasse com difícil interpretação de áreas realmente mais anômalas. No caso,

não foi uma boa escolha de representação, mas pode ser em casos onde o

espaçamento dos trechos da rede de drenagem são maiores, como

apresentado no trabalho de Martinez et al. (2011).

No caso das superfícies geradas por interpolação, os interpoladores TIN e

vizinho mais próximo criaram arestas nas regiões de interflúvio, cuja

interpretação em análise morfoestrutural torna-se prejudicada. Por sua vez, na

interpolação pelo método do inverso do quadrado da distância feições de

arestas radiais criadas pela natureza do método pode induzir interpretações de

cunho geológico sobre feições anômalas e lineares que não existem.

Os métodos de vizinho natural e topogrid criaram superfícies mais suaves e

melhor perceptíveis para um intérprete, mas como os demais métodos

extrapolam bastante os limites além da rede de drenagem, isto pode ser

prejudicial dependendo da análise.

A representação que visualmente apresentou melhor definição foi por

densidade kernel, onde os contornos foram mais suaves e se restringiram mais

às áreas próximas a rede de drenagem.

A sobreposição dos lineamentos morfoestruturais mapeados pela CPRM com

mapa de densidade kernel das anomalias é possível notar uma concordância

das anomalias frente às principais feições estruturais da área de estudo.

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Figura 13 - Mapa de densidade kernel das anomalias sobreposto aos lineamentos morfoestruturais.

Dada a falta de uma rede sismográfica mais refinada, os dados de pontos

sísmicos possuem escala bastante generalizada, mas conforme pode ser

observado na Figura 14 é coincidente ou muito próximo das principais zonas de

anomalias morfoestruturais identificadas.

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Figura 14 - Mapa de densidade kernel das anomalias sobreposto aos pontos sísmicos.

Essa região é carente de estudos morfoestruturais e estudos mais sistemáticos

começaram a ser desenvolvidos há pouco tempo. Algumas pesquisas foram

desenvolvidas ao longo do rio Negro e é possível observar que áreas anômalas

do mapa kernel são concordantes com estruturas já mapeadas em trabalhos

anteriores (Bezerra, 2003; Latrubesse; Franzinelli, 2005).

É possível notar que a transição de padrões de canal no rio Negro é

demarcada por áreas onde há altos valores de anomalias. De montante para

jusante, antes de formar o arquipélago Mariuá no rio Negro, uma anomalia alta

é detectada, outra próximo a foz do rio Demini e em seguida na foz do rio

Branco (Figura 15).

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Figura 15 – Anomalias morfoestruturais identificadas ao longo do médio curso do rio Negro.

Todas essas áreas correspondem a áreas com falhas tectônicas já

identificadas por Latrubesse e Franzinelli (2005) e Bezerra (2003), onde se

formam diferentes blocos estruturais, os quais possibilitaram a criação de

espaços de acomodação para o desenvolvimento do padrão de canal

anabranching na região do arquipélago Mariuá.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após os testes para representação da anomalia morfoestrutural obtida pelo

índice de Hack é possível concluir que:

A superfície obtida por densidade kernel consistiu na melhor

representação de espacialização da anomalia morfoestrutural e se

mostrou concordante com os lineamentos morfoestruturais e os pontos

sísmicos registrados no Brasil para essa área de estudo;

Representações por proporção pontual devem ser evitadas em áreas

densamente amostradas, podendo ter melhor aplicação para trechos

maiores de drenagem;

Visualmente, os métodos de interpolação o topogrid e o vizinho natural

foram os que tiveram contornos mais suaves e arredondados, possíveis

de ser interpretados, entretanto muitas feições diferem de bases de

dados estruturais, como os lineamentos;

Interpolações pelos métodos TIN, vizinho mais próximo e inverso do

quadrado da distância devem ser evitadas na espacialização das

anomalias.

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8. REFERÊNCIAS

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Fonseca, B. M.; Augustin, C. H. R. R. Use of GIS to calculate Hack Index as a basis for comparative geomorphologic analysis between two drainage basins: a case study from SE-Brazil. In: International Geographic Union Regional Geographic Conference - UGI 2011, Santiago: Military Geographic Institute of Chile(IGM), v. 1, p. 1-12, 2011.

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IBGE. Geologia de Roraima. Belém: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2005.

IBGE. Geologia do Amazonas. Belém: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010.

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Martinez, M.; Hayakawa, E. H.; Stevaux, J. C.; Profeta, J.D. Índice RDE como indicador de anomalias no perfil longitudinal do rio Pirapó. Geociênc. (São Paulo), vol. 30, n.1, p. 63-76, 2011.

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