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SANTOS, Milton. Espaço e dominação: uma abordagem marxista. In: ______. Economia espacial: crítica e alternativas. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2003. Cap. 5. p. 137-164. Para produção do quinto capítulo do livro Economia Espacial: crítica e alternativas, intitulado Espaço e Dominação: Uma Abordagem Marxista, o autor Milton Santos utiliza-se de oito seções, além da introdução, para discorrer sobre o tema, dispostas da seguinte forma: Os espaços agrícolas; A especialização e a alienação espaciais; Relações cidade-campo em países em vias de desenvolvimento; Espaço e distribuição do capital; A mais-valia no espaço; Rumo a uma lei espacial do valor?; A desalienação do espaço e do homem; Uma ótica marxista? É possível analisar o citado texto iniciando-se pela última seção, quando o autor faz um apanhado geral de suas convicções sobre o tema proposto. Para Santos a retomada da categoria de análise geográfica “espaço”, ou espaço geográfico propriamente dito, é fundamental quando se analisam as relações sociais estabelecidas entre os povos, suas definições políticas e econômicas. O autor indica que o espaço [espaço geográfico] é uma produção histórico-social, não podendo ser analisada de maneira estática, ou generalizada, uma vez que as épocas e localidades apresentam suas peculiaridades formativas, não podendo ser adotadas doutrinas passadas em sua totalidade para lidar com problemas atuais, uma vez que não contemplam as complexidades contemporâneas. Apesar da negativa do marxismo como doutrina, Milton Santos enfatiza que o marxismo como método deve ser adotado como a principal linha

Espaço e dominação: uma abordagem marxista - resenha

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resenha da capítulo Espaço e dominação: uma abordagem marxista. Livro de Milton Santos.

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SANTOS, Milton. Espao e dominao: uma abordagem marxista. In: ______. Economia espacial: crtica e alternativas. 2. ed. So Paulo: EDUSP, 2003. Cap. 5. p. 137-164.

Para produo do quinto captulo do livro Economia Espacial: crtica e alternativas, intitulado Espao e Dominao: Uma Abordagem Marxista, o autor Milton Santos utiliza-se de oito sees, alm da introduo, para discorrer sobre o tema, dispostas da seguinte forma: Os espaos agrcolas; A especializao e a alienao espaciais; Relaes cidade-campo em pases em vias de desenvolvimento; Espao e distribuio do capital; A mais-valia no espao; Rumo a uma lei espacial do valor?; A desalienao do espao e do homem; Uma tica marxista? possvel analisar o citado texto iniciando-se pela ltima seo, quando o autor faz um apanhado geral de suas convices sobre o tema proposto. Para Santos a retomada da categoria de anlise geogrfica espao, ou espao geogrfico propriamente dito, fundamental quando se analisam as relaes sociais estabelecidas entre os povos, suas definies polticas e econmicas. O autor indica que o espao [espao geogrfico] uma produo histrico-social, no podendo ser analisada de maneira esttica, ou generalizada, uma vez que as pocas e localidades apresentam suas peculiaridades formativas, no podendo ser adotadas doutrinas passadas em sua totalidade para lidar com problemas atuais, uma vez que no contemplam as complexidades contemporneas. Apesar da negativa do marxismo como doutrina, Milton Santos enfatiza que o marxismo como mtodo deve ser adotado como a principal linha de ao no que concerne produo do espao e suas relaes intrnsecas, combatendo dessa forma uma produo desigual do mesmo, provocada pelo capitalismo, que possui em sua essncia a produo das contradies, partindo para uma adoo de uma postura socialista, com o Estado regendo a organizao scio-poltico-espacial.O captulo em questo tem como foco central discutir a forma como o espao produzido e dominado pelo homem, tornando-se reduto da satisfao de seus interesses, nesse caso em especfico, o econmico como o principal agente determinante da conformao atual, tendo o capitalismo como o modelo hegemnico dominante.Santos afirma que inicialmente o homem utilizava-se do espao circundante para atender suas necessidades, atravs de um contanto ntimo com a natureza (SANTOS, 2003, p. 137), aprendendo a lidar com a mesma para sua sobrevivncia. O espao, e mesmo as relaes produtivas, tinham o carter de valor de uso. Com o desenvolvimento das tcnicas produtivas, passou-se a expandir as relaes de produo para alm das reas circundantes, visando produo de excedentes, materializando-se e acentuando-se com o surgimento do sistema capitalista. Esse passou a ser o grande determinador das relaes a serem estabelecidas, influenciando sistemas polticos no que concerne a propiciao de expanso de seu poder. O que antes era produzido como valor de uso, transforma-se em valor de troca, ocasionando profundas mudanas nas estruturas sociais.Os espaos agrcolas na estrutura capitalista so transformados em espaos de produo do agronegcio, apoiados por polticas econmicas de Estados. Nessa tica, o poder pblico, como principal agente parceiro na espacializao do agronegcio, produz transformaes no espao, dotando-o de infraestrutura adequada para circulao de mercadorias, bem como de incentivos financeiros e fiscais para modernizaes da produo, ocasionando valorizao diferencial de terras, encarecendo aquisies e manutenes das mesmas, o que resulta em processos de expropriaes de pequenos produtores, como indica Santos (2003, p.143): Quanto mais desenvolvidas as foras produtivas de um pas, mais as pequenas exploraes agrcolas tendero a desaparecer [...]. Esse fato foi marcante na prpria histria do Brasil quando da modernizao do campo, no perodo do Regime Militar. Nessa poca, as grandes empresas de agronegcios receberam subsdios do governo para se modernizarem, aumentando sua capacidade produtiva, enquanto os pequenos proprietrios, desprovidos de apoio estatal, viram-se obrigados abandonar suas ferramentas de trabalho, migrando para as cidades (MARTINE; MCGRANAHAN, 2010).Nessa perspectiva o Estado atua diretamente na especializao do espao, pois o capital instala-se onde h maior possibilidade de maiores taxas de lucros com valores de trabalho reduzidos. Quase sempre essas caractersticas so encontradas nas grandes metrpoles, onde se percebe uma concentrao de mo-de-obra elevada (propiciando uma maior manipulao dos valores a serem pagos pelos trabalhos desenvolvidos, uma vez a existncia de contingente populacional excedente nos exrcitos de reserva), desenvolvimento dos meios tcnico-cientficos, estrutura logstica, etc. Esse tipo de especializao produz diferenas nas alocaes de capital, enriquecendo determinadas reas em detrimento de outras, podendo ser a afirmativa um tanto paradoxal, uma vez que os grandes volumes de lucros alcanados destinam-se aos mercados externos, cabendo ao Estado extrair seu percentual atravs dos impostos pr-estabelecidos.Santos (2003) aborda o tema da mais-valia indicando que o capital a extrai de mltiplas formas, incluindo, na prpria redistribuio do excedente socialmente produzido. Segundo o autor (p. 152), esse excedente retorna s prprias empresas atravs do consumo ou sob a forma de poupana, por meio dos canais institucionais ou no institucionais, quando tratado da populao em geral. O prprio Estado devolve s empresas o obtido a partir dos impostos, atravs dos investimentos em infraestruturas para instalao das mesmas. Assim, essas empresas, total ou parcialmente estrangeiras, extraem a mais-valia de pases em desenvolvimento, contribuindo para a acumulao capitalista em escala mundial (p.153).Como descrito, o capital se instala onde houver maior possibilidade de extrao de mais-valia. Essa caracterstica atua como um polo de atrao de massas de trabalhadores em busca de uma vida melhor, por vezes nas maiores cidades, que por si s no se apresentam preparadas para atender os aumentos nos contingentes populacionais. Dessa estrutura originam-se grandes problemas, gerando a chamada questo urbana. As periferias marginalizadas so frutos desses sistemas, com todos os seus problemas, hiperbolizados nas segregaes socioespaciais, onde pobreza, subemprego e desemprego so caractersticas marcantes (VIEIRA NETO, 2011; MARTINE E MCGRANAHAN, 2010; CUNHA, 2010).Milton Santos segue sua anlise de como se d a dominao do espao pelo capital fazendo uma srie de questionamentos (p.155-156), tais quais: Este processo de dominao do espao irreversvel? Pode-se imaginar uma organizao do espao que no seja ditada pelos interesses do capital, mas que corresponda s necessidades da sociedade?. O prprio Milton Santos responde explicitamente aos questionamentos, discorrendo que o principal objetivo do sistema capitalista o acmulo de lucros. No h espao para questes sociais, o que prevalece a lei do valor internacional (p.157), que trata o homem como objeto. As relaes aqui estabelecidas so somente atravs do valor de troca. Para o autor haveria a necessidade de rompimento com o sistema. Que o Estado assumisse uma nova poltica de produo, devendo organizar-se em funo da demanda social e no comercial simplesmente. Santos ainda afirma que o ponto primordial a apropriao pelo Estado do excedente. Na perspectiva do autor, o sistema socialista seria aplicado como a forma mais justa de desalienao do espao e do homem.Mesmo no sendo marxista, doutrinariamente, Milton Santos, nessa obra assume uma postura metdica do marxismo, indicando que esse deveria ser o melhor vis a ser seguido, uma vez que o sistema capitalista tem se apropriado do espao transformando-o em mero local de produo material de acmulo de mais-valia, no considerando as questes sociais e humanistas presentes no meio. A necessidade de rompimento com sistema mostrada, explanada e comprovada. Os caminhos que se devem trilhar para se chegar a esse socialismo colocado por Milton Santos tortuoso, dificilmente conseguido sem revolues radicais. Como se chegar l? um questionamento sem uma resposta pronta e acabada, no entanto tem-se de ter em mente que o sistema atual, da maneira como se apresenta, no est bom.

REFERNCIAS

SANTOS, Milton. Espao e dominao: uma abordagem marxista. In: ______. Economia espacial: crtica e alternativas. 2. ed. So Paulo: EDUSP, 2003. Cap. 5. p. 137-164.MARTINE, George; MCGRANAHAN, Gordon. A transio urbana brasileira: trajetrias, dificuldades e lies aprendidas. In: BAENINGER, Rosana. Populao e cidades: subsdios para o planejamento e para as polticas sociais. Campinas: Unicamp, 2010. p. 11-24.VIEIRA NETO, Jos. O fenmeno da urbanizao no Brasil e a violncia nas cidades. Espao em Revista, Goinia, v.13, n.2, p.125-149, 2011.CUNHA, Jos Marcos P. da. Planejamento municipal e segregao socioespacial: por que importa?. In: BAENINGER, Rosana. Populao e cidades: subsdios para o planejamento e para as polticas sociais. Campinas: Unicamp, 2010. p. 65-77.