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RELATÓRIO ANUAL DE MONITORIZAÇÃO Ocorrências participadas às Forças de Segurança (FS) Estruturas especializadas - FS Atribuição do estatuto de vítima e decisões finais em processos-crime MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA Julho 2012 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 2011

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS PARA A ELABORAÇÃO DO … VD 2011... · Gráfico 1: Ocorrências de VD participadas às FS entre 2008 e 2011 ... Gráfico 4: Dia de semana de registo das

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RELATÓRIO ANUAL DE MONITORIZAÇÃO

Ocorrências participadas às Forças de Segurança (FS)

Estruturas especializadas - FS

Atribuição do estatuto de vítima e decisões finais em

processos-crime

MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA

Julho 2012

VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA

2011

MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA

1

Ficha técnica Título: Violência Doméstica - 2011. Relatório anual de monitorização. Ocorrências participadas às Forças de Segurança (FS); Estruturas especializadas- FS; Atribuição do estatuto de vítima e decisões finais em processos-crime

Data: julho de 2012 Ministério da Administração Interna Direção-Geral de Administração Interna Direção de Serviços de Planeamento Estratégico Núcleo de Estudos e Análise Prospetiva em Segurança Interna (NEAPSI) Av. D. Carlos I, 134, 5º 1249-104 Lisboa -Portugal

Telefone: 21 3947100 Correio eletrónico: [email protected] URL: www.dgai.mai.gov.pt

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ÍNDICE

1. Sumário executivo ............................................................................................................................... 5

2. Ocorrências participadas: Quantitativos ........................................................................................... 11

3. Ocorrências participadas: Caracterização ......................................................................................... 19

3.1 Participações e ocorrências ......................................................................................................... 19

3.2 Vítimas e denunciados/as ........................................................................................................... 26

4. Estruturas especializadas nas Forças de Segurança e ações de (in)formação .................................. 31

4.1 GNR .............................................................................................................................................. 31

4.2 PSP ............................................................................................................................................... 32

4.3 Salas de atendimento à vítima .................................................................................................... 32

4.4 Ações de (In)formação ................................................................................................................ 33

5. Decisões comunicadas à DGAI ........................................................................................................... 36

5.1 Estatutos de vítima ...................................................................................................................... 36

5.2 Resultados de inquéritos ............................................................................................................. 38

5.3 Sentenças .................................................................................................................................... 38

TABELAS

Tabela 1: Número de ocorrências registadas pelas Forças de Segurança segundo a NUT I (2009-2011)

............................................................................................................................................... 12

Tabela 2: Ocorrências de violência doméstica participadas às FS (2010 e 2011) ................................. 14

Tabela 3: Mês, dia de semana e hora de registo das participações e das ocorrências (%) .................. 20

Tabela 4: Meio de comunicação da queixa, motivo da intervenção policial e entrada no domicílio (%)

............................................................................................................................................... 23

Tabela 5: Local da ocorrência, presença de menores, ocorrências anteriores, tipo de violência e

consequências para a vítima (%) ........................................................................................... 25

Tabela 6: Caracterização das vítimas e denunciados/as (%) ................................................................. 27

Tabela 7: Caracterização - vítimas (cont.) (%) ....................................................................................... 29

Tabela 8: Caracterização - denunciados/as (cont.) (%) ......................................................................... 30

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3

Tabela 9: Decisões sobre atribuição de estatuto de vítima comunicadas à DGAI pelas FS (2011) ....... 37

Tabela 10: Resultados dos inquéritos de VD comunicadas à DGAI (até 30/6/2011) ............................ 38

Tabela 11: Sentenças (de 1/1/2010 até 31/12/2010) em processos-crime de VD comunicadas à DGAI

............................................................................................................................................... 39

GRÁFICOS

Gráfico 1: Ocorrências de VD participadas às FS entre 2008 e 2011 .................................................... 13

Gráfico 2: Taxa de variação anual do número de ocorrências de VD participadas às FS (%) ............... 13

Gráfico 3: Taxa de variação homóloga do número de ocorrências VD participadas às FS, por mês

(2011-2010) (%) ..................................................................................................................... 18

Gráfico 4: Dia de semana de registo das participações e das ocorrências (%) ..................................... 21

Gráfico 5: Hora de registo das participações e das ocorrências (%) ..................................................... 21

Gráfico 6: Motivo da intervenção policial (%) ....................................................................................... 23

Gráfico 7: Tipo de violência participada (%) .......................................................................................... 25

Gráfico 8: Idade das vítimas e denunciados/as (%) ............................................................................... 28

Gráfico 9: Nacionalidade das vítimas e denunciados/as (%) ................................................................. 28

Gráfico 10: Relação vítima-denunciado (%) .......................................................................................... 29

MAPAS

Mapa 1: Número de Ocorrências de violência doméstica participadas às Forças de Segurança, em

2011 ......................................................................................................................................... 15

Mapa 2: Participações de violência doméstica registadas pela GNR em 2011 (Continente) ............... 16

Mapa 3: Participações de violência doméstica registadas pela PSP em 2011 (Continente) ................. 16

Mapa 4: Taxa de incidência de participações de violência doméstica às Forças de Segurança, em 2011

(por mil habitantes) ................................................................................................................. 17

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4

PREÂMBULO

Dando continuidade à série de relatórios periódicos sobre a caracterização detalhada das

ocorrências de violência doméstica reportadas às Forças de Segurança (FS), iniciada em 2008, e

viabilizada pela Base de Dados estatísticos de Violência Doméstica (BDVD), surge o quarto

relatório produzido com carácter anual, o qual abrange as participações registadas em 2011.

Conforme pode ser constatado pela estrutura do relatório, este vai além da caracterização das

ocorrências participadas e inclui um outro conjunto de dados que permitem complementar a

análise do fenómeno do ponto de vista do Sistema de Justiça Penal.

O relatório contempla cinco partes: 1) Sumário executivo que sintetiza os principais resultados e

informações constantes do Relatório; 2) Análise global das ocorrências de violência doméstica

(VD) participadas às FS em 2011, tendo em conta os quantitativos fornecidos pela GNR e pela

PSP; 3) Análise detalhada dessas ocorrências (com base numa amostra proveniente da BDVD); 4)

Estruturas especializadas e as salas de atendimento à vítima existentes nas FS; e 5) Dados

relativos às decisões comunicadas à DGAI1 (atribuição de estatuto de vítima, resultados dos

inquéritos e sentenças).

Estrutura do Relatório

1 Na sequência da entrada em vigor da Lei 112/2009, de 16 de setembro, que estabelece o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica, à proteção e à assistência das suas vítimas, que estatuiu no seu artigo 37º que as “As decisões de atribuição do estatuto de vítima e as decisões finais em processos por prática do crime de violência doméstica são comunicadas, sem dados nominativos, ao organismo da administração pública responsável pela área da cidadania e da igualdade de género, bem como à Direcção-Geral da Administração Interna, para efeitos de registo e tratamento de dados”.

2. Ocorrências participadas às FS

Quantitativos

3. Ocorrências participadas às FS

Caracterização

4. Estruturas especializadas nas FS

5. Decisões comunicadas à DGAI

(artº 37º Lei 112/2009, de 16/09)

1. Sumário executivo

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OCORRÊNCIAS PARTICIPADAS: QUANTITATIVOS

1. Em 2011 foram registadas pelas Forças de Segurança 28980 participações de

violência doméstica, 11485 pela GNR (39,6%) e 17495 pela PSP (60,4%), o que

correspondeu a uma diminuição de 7,2% relativamente a 2010;

2. Foram registadas 26791 participações no Continente (92,4%), 1238 na RA Açores

(4,3%) e 951 na RA Madeira (3,3%);

3. A taxa de variação negativa no número de participações registadas verificou-se

especialmente no Continente (-7,5%) e na RA Madeira (-6,5%); na RA dos Açores

foi de -1,7%;

4. Neste período os distritos onde se registaram mais participações foram: Lisboa

(6741), Porto (6039), Setúbal (2282), Aveiro (1795) e Braga (1698);

5. A diminuição em termos do número de participações registou-se nas duas Forças

de Segurança: -9,9% na GNR e -5,4% na PSP;

6. Em 2011 foram recebidas pelas FS, em média, 2415 participações por mês, 79 por

dia e 3 por hora (menos uma do que em 2010);

7. Registaram-se cerca de 3 participações por cada mil habitantes (2,72),

constatando-se, à semelhança dos anos anteriores, uma taxa de incidência mais

elevada nas Regiões Autónomas (Açores: 5,04; Madeira: 3,84) relativamente à

observada no Continente (2,64);

8. Nos distritos do Porto (3,30), Lisboa (2,99) e Faro (3,08) esta taxa de incidência foi

superior à verificada para o Continente; e nos distritos de Beja (1,68), Guarda

(1,83) e Braga (1,96) o número de participações, por mil habitantes, foi inferior a

22.

OCORRÊNCIAS PARTICIPADAS: CARACTERIZAÇÃO

9. Em termos gerais, a tipologia das situações de violência doméstica participadas às

Forças de Segurança apresenta um padrão consistente nos últimos 5 anos;

2 Estes dados relativos à taxa de incidência são meros indicadores, não podendo inferir-se a partir deles que existam mais ou menos situações de

VD nestas regiões/distritos, uma vez que se referem apenas às ocorrências participadas.

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PARTICIPAÇÕES E OCORRÊNCIAS

PERÍODO TEMPORAL

10. Em 2011, o mês em que se registaram mais queixas foi agosto, sendo também

este o mês em que se verificaram mais ocorrências;

11. Manteve-se a tendência para uma maior proporção de participações à 2ª feira

(17%) e uma maior proporção de ocorrências ao fim de semana (34%);

12. Os períodos do dia em que surgiram mais participações foram a noite (19-24h)

(34%) e a tarde (13-18h) (33%); quase metade (46%) das participações foi

rececionada de noite ou de madrugada; a maioria das ocorrências sucedeu-se à

noite ou de madrugada (55%);

13. Em 74% dos casos as situações de violência doméstica foram reportadas às FS no

próprio dia em que ocorreram ou no dia seguinte.

OCORRÊNCIAS

14. Em 54% dos casos a queixa foi efetuada presencialmente, em 25% foi realizada

no âmbito de ações de policiamento de proximidade e em 15% foi por telefone;

15. A intervenção policial ocorreu geralmente motivada por um pedido da vítima

(78%) e em mais de 10% dos casos foram familiares/vizinhos ou denúncia

anónima;

16. Em 40% dos casos registados pela GNR existia(m) ocorrência(s) anterior(es),

reportada(s) ou não às FS; das situações registadas pela PSP, em 22% existia(m)

ocorrência(s) anterior(es) formalizada(s) através de uma outra queixa;

17. Em 42% dos casos as ocorrências foram presenciadas por menores;

18. Geralmente as situações tiveram como consequências para a vítima ferimentos

ligeiros (48%) ou ausência de lesões físicas (51%); sendo no entanto de referir que

em cerca de 1% dos casos os ferimentos resultantes foram graves;

19. Geralmente as vítimas não foram internadas no hospital nem tiveram baixa

médica;

20. Em cerca de 30% dos casos, as FS entraram no domicílio do denunciado e da

vítima; nestes casos, a entrada foi geralmente viabilizada por autorização verbal

expressa da vítima (54%);

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8

21. Em 78% dos casos as ocorrências sucederam numa casa particular, geralmente da

vítima e denunciado ou apenas da vítima; 17% dos casos ocorreram na via pública

ou em espaços públicos “fechados”;

22. A violência física esteve presente em 73% das situações, a psicológica em 78%, a

sexual em 2%, a económica em 7% e a social em 8,5%;

23. Em 14% das participações foram registadas outras vítimas (geralmente uma) e

em 28% foi registada a existência de testemunha(s) (geralmente também uma).

VÍTIMAS E DENUNCIADOS

VÍTIMAS

24. Geralmente: do sexo feminino (85%), casadas ou em união de facto (51%), idade

média de 40 anos e não dependiam economicamente do denunciado (78%);

25. Mais de dois terços possuía habilitações literárias iguais ou inferiores ao 9º ano e

24% possuía habilitações ao nível do ensino secundário ou superior;

26. Metade das vítimas encontrava-se empregada (50%), 22% estavam

desempregadas, 12% eram domésticas, 10% eram reformadas/pensionistas e as

vítimas estudantes representavam 7%;

27. As relações conjugais presentes ou passadas representaram cerca de 83% dos

casos (conjugalidade presente - 63% e conjugalidade passada - 20%); 7,6% das

vítimas eram descendentes do denunciado e 7,3% eram ascendentes;

28. Cerca de 15% das vítimas nasceu no estrangeiro, sendo que as vítimas naturais

dos PALOP representavam 6% e as vítimas oriundas do Brasil 4%.

DENUNCIADOS

29. Geralmente: do sexo masculino (88%), casados ou em união de facto (53%),

idade média 41 anos e não dependiam economicamente da vítima (86%);

30. Em quase três quartos dos casos os denunciados possuíam habilitações iguais

ou inferiores ao 9º ano (74%) e cerca de 19% possuía habilitações ao nível do

ensino secundário ou do ensino superior;

31. A maioria dos denunciados encontrava-se empregado (62%), 25% estavam

desempregados, 9% em situação de reforma/pensão, 3% eram estudantes ou

domésticos;

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9

32. 14% nasceu no estrangeiro; os denunciados naturais dos PALOP representavam

7% e os oriundos do Brasil 3%;

33. Cerca de 9% possuía uma arma e em 5% das situações foi utilizada uma arma

(branca em 2,3% dos casos e de fogo em 0,9%);

34. Problemas relacionados com o consumo álcool estavam presentes em 43% dos

casos e problemas relativos ao consumo de estupefacientes em 11%.

ESTRUTURAS ESPECIALIZADAS NAS FORÇAS DE SEGURANÇA E AÇÕES

DE (IN)FORMAÇÃO

35. Nas Forças de Segurança existia um total de quase mil efetivos com

responsabilidades específicas no âmbito da VD (949: 368 na GNR e 581 na PSP);

36. Na GNR existiam 23 NIAVE e 259 Equipas de Investigação e Inquérito e na PSP

existiam 241 EPAV e 50 equipas especiais VD (investigação criminal);

37. Cerca de 57% dos postos e esquadras da GNR e da PSP, com competência

territorial, dispunham de uma sala de atendimento à vítima;

38. Decorrente de uma avaliação realizada em 2011, pela DGAI em parceria com as

FS, constatou-se que as vítimas apresentaram-se bastante satisfeitas com o

atendimento inicial que lhes foi prestado pelas FS (8,7, numa escala de 1 a 10),

mas um pouco menos satisfeitas com as condições existentes no espaço onde este

decorreu (7,5);

39. As Forças de Segurança realizaram 54 ações de formação, onde a temática da VD

foi uma de entre as abordadas, envolvendo um total de 732 formandos (24 na GNR

e 708 na PSP);

40. Em 2011 foi criada e disponibilizada uma área específica (entre as designadas

“áreas de interesse”) no Portal da Segurança relativa à violência doméstica. A

DGAI, em articulação com as FS, desenvolveu os conteúdos inseridos, dos quais

se destaca a disponibilização de uma ferramenta interativa para a criação de

planos de segurança para as vítimas de violência doméstica.

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ESTATUTO DE VÍTIMA E DECISÕES FINAIS EM PROCESSOS-CRIME

41. Em 84% dos casos registados pelas FS ocorreu a atribuição do estatuto de vítima,

em 4% houve atribuição, mas a vítima prescindiu do direito à informação, e em

12% dos casos a vítima recusou;

42. De um total de 1654 comunicações provenientes dos serviços do Ministério

Público, relativas à decisão sobre atribuição do estatuto de vítima, rececionados

pela DGAI até 30/6/2011, 98% referiam-se à atribuição de estatuto e 2% à

cessação;

43. Do total de resultados de inquéritos de VD comunicados à DGAI até 30/6/2011

(n=844), observou-se que 83% referiam-se a arquivamento, 15% a acusação e 3% a

suspensão provisória do processo;

44. Das sentenças proferidas em processos-crime por violência doméstica entre

1/1/2010 e 31/12/2010 (n=2416), mais de dois terços resultaram em condenação

(67%) e um terço em absolvição (33%);

45. Com base na análise de uma amostra reduzida de sentenças de condenação

comunicadas à DGAI até 30/6/2011 (n=70), constatou-se que as penas aplicadas

correspondiam geralmente a penas de prisão entre 1 e 3 anos, suspensas por igual

período de tempo (82%); em vários casos de pena suspensa o arguido ficou

obrigado ao pagamento de uma indemnização à vítima, a pagar uma quantia a

uma instituição de apoio a vítimas, entre outras medidas; em diversos destes

processos foram aplicadas penas acessórias ao arguido, como sejam a sujeição à

frequência de programa de prevenção da violência doméstica; à frequência de

programa de tratamento ao alcoolismo/toxicodependência; e/ou à proibição de

contactos com a vítima.

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Em 2011 foram registadas 28980 participações de violência doméstica (VD) pelas Forças de

Segurança (FS): 11485 pela GNR (39,6%) e 17495 (60,4%) pela PSP (tabela 1).

Verificaram-se menos 2255 participações do que em 2010, o que corresponde a um decréscimo

de 7,2%. Apesar de as duas Forças de Segurança terem registado um decréscimo no número de

participações, a variação não é homogénea: no caso da GNR verificou-se uma diminuição de

9,9% (menos 1257 participações) e na PSP um decréscimo de 5,4% (menos 998 participações).

Analisando segundo a NUT I3, a taxa de variação no continente foi de -7,5%, na Região

Autónoma (RA) dos Açores foi -1,7%, e na RA da Madeira foi de -6,5%.

Tabela 1: Número de ocorrências registadas pelas Forças de Segurança segundo a NUT I (2009-2011)

Nº total de participações GNR PSP

2009 2010 2011

Tx. var.4

(%) 2009 2010 2011 Tx. var.

(%) 2009 2010 2011

Tx. var.

(%)

Continente 28221 28959 26791 -7,5 11545 12742 11485 -9,9 16676 16217 15306 -5,6

RA Açores 1302 1259 1238 -1,7 - - - - 1302 1259 1238 -1,7

RA Madeira 1020 1017 951 -6,5 - - - - 1020 1017 951 -6,5

Portugal 30543 31235 28980 -7,2 11545 12742 11485 -9,9 18998 18493 17495 -5,4

Fonte: Cálculos da DGAI com base nos dados fornecidos pelas Forças de Segurança.

Em 2011, o valor global de participações situou-se entre o quantitativo verificado em 2008 e 2009

(gráfico 1).

3 Nomenclatura das Unidades Territoriais; NUT I = Continente, Região Autónoma dos Açores e Região Autónoma da Madeira. 4 A taxa de variação considerada refere-se a 2011-2010.

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13

Gráfico 1: Ocorrências de VD participadas às FS entre 2008 e 2011

Em linha com a tendência de desaceleração verificada em 2010 relativamente ao aumento do

número de ocorrências registadas, em 2011 esta tendência acentuou-se, verificando-se agora uma

taxa de variação negativa, quer em termos globais, quer para cada uma das Forças de Segurança

(gráfico 2). Em 2010 a PSP apresentava uma taxa de variação negativa face a 2009, enquanto que

a GNR apresentava ainda uma taxa de variação positiva (embora de menor magnitude que a

registada no ano anterior).

Gráfico 2: Taxa de variação anual do número de ocorrências de VD participadas às FS (%)

2008 2009 2010 2011

10096 11545 12742 11485

17647 18998 18493 17495

27743 30543 31235

28980

GNR

PSP

Total

14,4

10,4

-9,9

7,7

-2,7 -5,4

10,1

2,3

-7,2

-10

-5

0

5

10

15

2009 2010 2011GNR

PSP

Total

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14

Ao nível dos distritos do continente, constata-se que em todos eles, com exceção de Évora,

Guarda e Viseu, foram registadas, em termos globais, menos ocorrências em 2011

comparativamente a 2010. As taxas de variação mais negativas surgiram nos distritos de Leiria,

Aveiro, Portalegre, Viana do Castelo e Beja (tabela 2).

Tabela 2: Ocorrências de violência doméstica participadas às FS (2010 e 2011)

2010 2011 Taxa de

variação

total (%) Distrito/Região

Autónoma GNR PSP Total GNR PSP Total

Aveiro 1378 707 2085 1192 603 1795 -13,9

Beja 195 87 282 196 54 250 -11,3

Braga 1155 683 1838 1080 618 1698 -7,6

Bragança 253 106 359 252 101 353 -1,7

Castelo Branco 360 138 498 305 157 462 -7,2

Coimbra 636 425 1061 553 444 997 -6,0

Évora 247 162 409 248 181 429 4,9

Faro 789 672 1461 714 636 1350 -7,6

Guarda 227 65 292 242 64 306 4,8

Leiria 746 475 1221 695 353 1048 -14,2

Lisboa 1042 6272 7314 972 5742 6714 -8,2

Portalegre 182 115 297 162 99 261 -12,1

Porto 2395 3960 6355 2037 4002 6039 -5,0

Santarém 746 341 1087 647 321 968 -10,9

Setúbal 950 1556 2506 851 1431 2282 -8,9

Viana do Castelo 465 123 588 408 112 520 -11,6

Vila Real 409 134 543 397 145 542 -0,2

Viseu 567 196 763 534 243 777 1,8

R. A. Açores 0 1259 1259 - 1238 1238 -1,7

R. A. Madeira 0 1017 1017 - 951 951 -6,5

Total 12742 18493 31235 11485 17495 28980 -7,22

Fonte: Cálculos DGAI com base nos dados fornecidos pelas FS

Tal como registado em 2010, os distritos onde se registaram mais participações foram: Lisboa

(6714), Porto (6039), Setúbal (2282), Aveiro (1795) e Braga (1698). Nos distritos de Beja,

Portalegre e Guarda registaram-se os menores números de participações: 250, 261 e 306,

respetivamente (tabela 2).

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Conforme se pode observar pelo mapa 1, existe uma clara distinção entre os distritos da zona

litoral do Continente e os do interior, em termos do número de participações. Nos primeiros são

registadas mais participações, com especial relevo para os distritos de Lisboa e Porto.

Mapa 1: Número de Ocorrências de violência doméstica participadas às Forças de Segurança, em 2011

No caso da GNR, os distritos que mais participações registaram situam-se no norte litoral: Porto

(2037), Aveiro (1192) e Braga (1080). No caso da PSP, os distritos que mais ocorrências de

violência doméstica registaram foram os de Lisboa (5742), Porto (4092) e Setúbal (1431), sendo

os únicos distritos em que o número de participações registadas pela PSP supera o verificado na

GNR.

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Mapa 2: Participações de violência doméstica registadas pela GNR em 2011 (Continente)

Mapa 3: Participações de violência doméstica registadas pela PSP em 2011 (Continente)

Para avaliar a magnitude das diferenças globais entre distritos, de forma mais correta torna-se

necessário analisar as taxas de incidência para cada região considerada, tendo-se assim em conta a

respetiva população existente (mapa 4).

No ano transato, registaram-se cerca de 3 participações por cada mil habitantes (2,72),

constatando-se, à semelhança dos anos anteriores, uma taxa de incidência mais elevada nas

Regiões Autónomas (Açores: 5,04; Madeira: 3,84) relativamente à observada no continente (2,64).

Nos distritos do Porto (3,30), Faro (3,08) e Lisboa (2,99) esta taxa foi superior à verificada em

termos do continente, (2,64) e nos distritos de Beja (1,68), Guarda (1,83) e Braga (1,96) o número

de participações, por mil habitantes, foi inferior a 25.

5 Estes dados relativos à taxa de incidência são meros indicadores, não podendo inferir-se a partir deles que existam mais ou menos situações de

VD nestas regiões/distritos, uma vez que se referem apenas às ocorrências participadas.

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17

Mapa 4: Taxa de incidência de participações de violência doméstica às Forças de Segurança, em 2011 (por mil habitantes)

6

6 Cálculos realizados com base nas estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a população residente em Portugal em 31/12/2010.

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18

Analisando o número de participações segundo os meses, e comparando com o registado em

2010 nos períodos homólogos respetivos, constata-se uma efetiva diminuição do número de

ocorrências especialmente no segundo semestre de 2011, nos meses de julho a setembro, em

novembro e em dezembro (gráfico 3).

Gráfico 3: Taxa de variação homóloga do número de ocorrências VD participadas às FS, por mês (2011-2010) (%)

O decréscimo observado no número de ocorrências nos meses de Julho a Setembro,

comparativamente ao período homólogo do ano anterior, explica cerca de 55% da variação anual

negativa registada.

-6,8

-1,1

-2,8

-4,2

-0,9

-6,3

-16,2

-13,2

-10,8

-0,9

-8,9

-10,5

-18,0

-16,0

-14,0

-12,0

-10,0

-8,0

-6,0

-4,0

-2,0

0,0

janeiro março maio julho setembro novembro

MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA

19

As análises que se seguem baseiam-se numa amostra de 28201 ocorrências de VD registadas pelas

Forças de Segurança em 20117, 62% da PSP e 38% da GNR, correspondendo a 97% do universo

de queixas recebidas no período referenciado8.

A análise está essencialmente organizada segundo as seguintes áreas de informação do Auto de

Notícia/Denúncia Padrão de Violência Doméstica: Caracterização da participação, da ocorrência,

da vítima e do denunciado.

Salienta-se que os valores apresentados para cada variável correspondem às percentagens válidas,

ou seja, calculadas após exclusão dos dados omissos.

Em traços gerais, a caracterização das ocorrências e intervenientes que se segue apresenta-se

congruente e em linha com os resultados obtidos nos quatro anos anteriores, o que parece

indiciar a existência de um padrão consolidado em termos da tipologia de situações de VD para

as quais as Forças de Segurança são chamadas a intervir.

3.1 PARTICIPAÇÕES E OCORRÊNCIAS

Em 2011, o mês em que se registaram mais participações e mais ocorrências foi agosto (9,9% e

9,6%, respetivamente), seguindo-se o mês de maio (9,1% - participações e 9% - ocorrências)

(tabela 3).

Em termos gerais, manteve-se a tendência para uma maior proporção de participações à 2.ª feira

(17%) e uma maior proporção de ocorrências ao fim-de-semana (34%).

O período do dia em que se registaram mais participações foi a noite (34%), seguindo-se a tarde

(33%). De madrugada as FS receberam cerca 12% das queixas, significando que entre as 19 horas

7 Ocorrências de VD registadas pelas FS entre 1/1/2011 e 31/12/2011, inseridas na BDVD até 11/6/2012, e extraídas da Base de Dados

estatísticos de Violência Doméstica em 11/6/2012. 8 Esta taxa de cobertura das queixas recebidas neste período reflecte o facto de que nesta data faltavam ainda registos da GNR relativos ao

período considerado. Neste sentido os dados apresentados podem ainda sofrer ligeiras oscilações. Os resultados reflectem os casos em que os valores para a(s) variável(eis) em questão estavam disponíveis, pelo que a dimensão da amostra em cada análise varia de acordo com as variáveis envolvidas.

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20

e as 6 horas da madrugada foram recepcionadas cerca de 46% das participações. Relativamente à

hora das ocorrências, a maioria sucedeu à noite ou de madrugada (55%).

Em quase três quartos dos casos as situações de violência doméstica foram reportadas às FS no

próprio dia ou no dia seguinte (74%).

Tabela 3: Mês, dia de semana e hora de registo das participações e das ocorrências (%)

Registo (%)

Ocorrência (%)

Mês

janeiro 8,0 8,3

fevereiro 7,3 7,5

março 8,3 8,2

abril 8,5 8,7

maio 9,1 9,0

junho 8,9 8,7

julho 8,8 8,9

agosto 9,9 9,6

setembro 8,8 8,6

outubro 8,5 8,2

oovembro 6,7 6,6

dezembro 7,3 7,2

Dia de semana

2ª feira 17,0 14,0

3ª feira 14,5 13,3

4ª feira 14,0 12,9

5ª feira 13,7 12,9

6ª feira 13,1 13,3

Sábado 13,2 15,8

Domingo 14,5 17,7

Hora

Manhã (7-12h) 21,4 16,8

Tarde (13-18h) 32,9 27,8

Noite (19-0h) 33,5 45,8

Madrugada (1-6h)

12,2 9,7

Tempo decorrido entre participação

e ocorrência (%)

Mesmo dia 49,0

Dia seguinte 24,5

2 a 5 dias após ocorrência 13,6

≥6 dias após a ocorrência 12,8

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21

Gráfico 4: Dia de semana de registo das participações e das ocorrências (%)

Gráfico 5: Hora de registo das participações e das ocorrências (%)

Atendendo aos dados disponíveis, observou-se que em mais de metade das participações de

violência doméstica o meio de comunicação utilizado foi o presencial (no posto ou na esquadra)

(54%), cerca de 25% foram comunicadas no âmbito das ações de policiamento de proximidade,

15% foram-no por telefone e nas restantes recorreu-se a outros meios (tabela 4).

Analisando o meio de comunicação da queixa, segundo a Força de Segurança, verificam-se

algumas diferenças a salientar. No caso da GNR, 66% das queixas foram comunicadas

presencialmente no posto e 27% foram comunicadas por telefone, valores que na PSP

2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira Sábado Domingo

17

14 14 14 13 13 15 14

13 13 13 13

16

18

Registo Ocorrência

Manhã (7-12h) Tarde (13-18h) Noite (19-0h) Madrugada (1-6h)

21

33 33

12 17

28

46

10

Registo Ocorrência

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22

correspondem a 47% e 7%, respetivamente. No caso da PSP, 38% foram comunicadas no

âmbito das ações de policiamento de proximidade, enquanto que no caso da GNR essa

proporção foi de 3,5%. Estas diferenças carecem de uma análise mais apurada, no entanto há que

atender que as áreas de responsabilidade da GNR e da PSP são bastante diferentes, sendo que o

carácter mais urbano ou mais rural, com implicações nomeadamente para os estilos de vida e

preferências das populações, não será indiferente para esta reflexão. Também o facto das equipas

especializadas da GNR, no âmbito da VD, atuarem essencialmente ao nível da fase de

investigação criminal e do acompanhamento pós-vitimação, e as Equipas de Proximidade e

Apoio à Vítima (EPAV) da PSP atuarem nomeadamente numa primeira linha de deteção de

casos, poderá contribuir para explicar esta diferença.

Por outro lado, em mais de três quartos das situações a intervenção policial foi desencadeada por

um pedido da vítima (78%), em cerca de 8% foram familiares ou vizinhos que reportaram a

situação, em 3% ocorreu uma denúncia anónima e em 4% dos casos foi a própria Força de

Segurança (FS) que teve conhecimento direto das situações.

Em quase 30% dos casos verificou-se a entrada da FS no domicílio do denunciado e/ou da

vítima, entrada essa geralmente viabilizada por autorização verbal expressa da vítima (54%). No

caso das participações registadas pela GNR a proporção de ocorrências em que se deu a entrada

da FS no domicílio foi de 22% enquanto que no caso da PSP foi cerca de 33%. As situações em

que a entrada se verificou por iniciativa policial devido a perigo iminente ou por mandado judicial

representaram cerca de 2%.

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23

Tabela 4: Meio de comunicação da queixa, motivo da intervenção policial e entrada no domicílio (%)

Total GNR PSP

Meio de comunicação da

queixa

Presencial 54,2 65,6 47,2

Por telefone 14,6 27,4 6,8

Através de acções de policiamento de proximidade 24,7 3,5 37,6

Sistema de Queixa Eletrónica9 ou por e-mail 0,1 0,1 0,2

Outros/não definido (inclui 112) 6,4 3,4 8,2

Motivo da intervenção policial

Pedido da vítima 77,9

Denúncia anónima 2,9

Informação de familiares 4,7

Informação de vizinhos/as 3,2

Conhecimento direto das FS 4,3

Outro 7,0

Entrada no domicílio (sim) 28,8 21,5 32,5

Tipo de entrada

Aut. escrita da vítima e/ou denunciado/a 3,4

Aut. verbal expressa da vítima 54,4

Aut. verbal expressa do/a denunciado/a 6,2

Aut. verbal expressa da vítima e denunciado/a 34,3

Por iniciativa policial (perigo efetivo atual ou iminente) 1,6

Por mandado judicial 0,1

Gráfico 6: Motivo da intervenção policial (%)

9 Segundo os dados extraídos do Sistema de Queixa Eletrónica do MAI, em 2011 foram rececionadas por esta via 69 participações de violência

doméstica, o que corresponde a cerca de 8% do volume total de participações efetuadas através deste Sistema.

Pedido davítima

Denúnciaanónima

Informação defamiliares

Informação devizinhos

Conhecimentodirecto das FS

Outro

78

3 5 3 4 7

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24

Em 78% dos casos as ocorrências reportadas às FS verificaram-se numa residência particular (em

83% destes casos tratava-se da residência da vítima e do denunciado ou a residência da vítima).

Em cerca de 17% dos casos a situação sucedeu na via pública ou em outros locais públicos

“fechados” (ex: organismo público, estabelecimento comercial, estabelecimento de restauração e

bebidas…) (tabela 5).

Em 40% das situações reportadas à GNR existiram ocorrências anteriores por agressão à mesma

vítima e/ou a outro familiar praticadas pelo mesmo denunciado e nos casos reportados à PSP

essa percentagem foi de 21,5%.

Esta diferença deve-se ao facto de que a operacionalização desta variável estava a ser efetuada de

forma diferente entre as duas Forças de Segurança, no caso da PSP, quando é assinalada a

existência de ocorrências anteriores, significa que a(s) mesma(s) foi(ram) participadas às Forças de

Segurança, operacionalização que não é tão restrita no caso da GNR, podendo apenas significar

que existiram ocorrências anteriores, embora não reportadas10.

Em cerca de 42% dos casos as ocorrências foram presenciadas por menores. A violência de tipo11

físico esteve presente em 73% das situações, a psicológica em 78%, a sexual em quase 2%, a

económica12 em 7% e a social13 em 8,5%.

Quase metade das situações tiveram como consequências para a vítima14 “ferimentos ligeiros”

(48%) e em 51% dos casos foi registada a ausência de lesões. Em cerca de 1% dos casos os

ferimentos resultantes foram graves.

Acrescenta-se que em 14% das participações foram registadas outras vítimas (geralmente uma:

72%) e em 28% foi registada a existência de testemunha(s) (geralmente também uma: 67%).

10 Trata-se de uma questão que está a ser alvo de harmonização. 11 No Auto de Notícia/Denúncia o campo relativo ao tipo de violência é de escolha múltipla, pelo que o somatório de todos os tipos de violência

não corresponde a 100%. 12 Traduz-se no facto do agressor agir no sentido de tornar/manter a vítima dependente economicamente, assumindo um total controlo sobre os

recursos financeiros. O agressor pode impedir a vítima de arranjar emprego ou de estudar, mantendo assim a sua dependência financeira, além de se recusar a dar dinheiro à vítima para as necessidades básicas, tais como, comida ou vestuário.

13 Quando o agressor atua promovendo o isolamento da vítima em relação à família, amigos, vizinhos… (ex: impede a vítima de sair de casa e/ou de

contactar com outras pessoas). 14

Não são aqui apresentados os casos em que as FS tenham registado como consequência para a vítima a morte. Tal opção deve-se ao facto

destes dados não serem representativos da realidade, uma vez que a investigação criminal das situações de homicídio, nomeadamente em contexto de violência doméstica é da competência reservada da Polícia Judiciária, entidade responsável pela atribuição do Número Único de Identificação do Processo Criminal (n.º 3 do art.º 10º da Lei da Organização da Investigação Criminal - Lei 49/2008, de 27 de agosto).

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25

Tabela 5: Local da ocorrência, presença de menores, ocorrências anteriores, tipo de violência e consequências para a vítima (%)

%

Local da ocorrência

Residência particular 77,6

Via pública 12,8

Espaço público "fechado" 3,7

Local de trabalho (da vítima) 0,2

Outro/desconhecido 5,7

Presença de menores (sim) 41,5

Ocorrências anteriores (sim) GNR: 40,1

PSP: 21,5

Tipo de violência exercida

Física 73,2

Psicológica 77,9

Sexual 1,8

Económica 6,6

Social 8,5

Consequências para a vítima

Sem lesões 51,4

Ferimentos ligeiros 47,8

Ferimentos graves 0,8

Gráfico 7: Tipo de violência participada (%)

Física Psicológica Sexual Económica Social

73 78

2 7 8

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26

3.2 VÍTIMAS E DENUNCIADOS

Em consonância com os dados dos anos anteriores, a larga maioria das vítimas era do sexo

feminino (85%) e os denunciados do sexo masculino (88%) (tabela 6).

No que diz respeito à idade, mais de três quartos das vítimas e denunciados encontravam-se no

grupo etário dos 25 a 64 anos (77% e 87%), com idade média de 40 anos (desvio-padrão=15,5) e

41 anos (desvio-padrão=12,7), respetivamente.

Em termos do estado civil das vítimas, 51% eram casadas ou viviam em união de facto, assim

como 53% dos denunciados.

Mais de dois terços das vítimas (69%) possuíam habilitações literárias iguais ou inferiores ao 9º

ano, e 16% possuía habilitações ao nível do ensino secundário e 8% ao nível do ensino superior.

Em termos dos denunciados, a proporção daqueles que possuíam habilitações literárias iguais ou

inferiores ao 9º ano era de 73,5%, 13% tinham habilitações ao nível do ensino secundário e 6%

ao nível do ensino superior.

Em termos de situação profissional, metade das vítimas encontrava-se ativa empregada (50%),

22% estavam desempregadas, cerca de 12% eram domésticas, 10% eram reformadas ou

pensionistas e as vítimas estudantes representavam cerca de 7%. No caso dos denunciados, 62%

estavam ativos, 25% em situação de desemprego, 9% em situação de reforma/pensão e 3% eram

estudantes ou domésticos.

Cerca de 85% das vítimas e 86% dos denunciados nasceu em Portugal e aproximadamente 6%

das vítimas e 7% dos denunciados eram oriundos dos PALOP15. A proporção de casos em que os

envolvidos são originários do Brasil foi de 4,3% e 2,9%, respetivamente. Entre as outras

nacionalidades mais representadas contam-se a francesa, ucraniana e romena. No total, a

proporção de vítimas oriundas de países estrageiros representava cerca de 15% dos casos, e em

termos do denunciado o valor correspondia a 14%.

15

Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

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27

Tabela 6: Caracterização das vítimas e denunciados/as (%)

16

16 Enquanto país de origem.

Vítimas

(%)

Denunciados/as

(%)

Sexo

Homem 15,2 87,9

Mulher 84,8 12,1

Idade

[0-18[ 6,1 [0-16[ 0,3

[18-25[ 9,6 [16-25[ 8,2

[25-65[ 77,3 [25-65[ 86,8

[65-75[ 4,3 [65-75[ 3,4

≥ 75 anos 2,6 ≥ 75 anos 1,4

Estado civil

Casado/a 46,4 48,1

União de facto 5,0 5,1

Divorciado/a ou Sep.jud. 14,7 13,2

Solteiro/a 30,2 32,7

Viúvo/a 3,7 0,9

Habilitações

Sem habilitações 4,36 3,2

Ensino básico 1º ciclo 22,46 26,5

Ensino básico 2º ciclo 18,36 21,9

Ensino básico 3º ciclo 23,59 22,0

12º Ano 16,46 12,7

Ensino Superior 8,42 6,0

Outro 6,35 7,7

Situação profissional

Empregado/a 50,2 61,7

Desempregado/a 21,5 25,4

Doméstica/o 11,5 1,4

Estudante 6,9 2,6

Reformado/a, Aposentado/a ou está na reserva 9,7 8,8

Incapacitado/a permanente para o trabalho 0,2 0,2

Nacionalidade16

Portuguesa 85,2 86,3

Brasileira 4,3 2,9

PALOP 6,1 7,3

Outras 4,4 3,6

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28

Gráfico 8: Idade das vítimas e denunciados/as (%)

Gráfico 9: Nacionalidade das vítimas e denunciados/as (%)

Em termos da relação vítima-denunciado, 63% das vítimas mantinham, na ocasião da

participação da ocorrência, uma relação conjugal com o denunciado, para 20%, a conjugalidade

existira anteriormente, 7,6% das vítimas eram descendentes17 do denunciado e 7,3% eram

ascendentes18, e em 2% dos casos a relação era de outro tipo (colateral19 ou outra20). As relações

conjugais, presentes ou passadas, representaram cerca de 83% dos casos (tabela 7).

17 Vítima é descendente do denunciado - inclui situações em que a vítima é filho(a)/ enteado(a)/ neto(a)/ sobrinho(a) / genro/nora do

denunciado. 18 Vítima é ascendente - inclui situações em que a vítima é mãe/ pai/ avó(ô) /tio/a / sogro/a / tutor(a)/ padrasto/madrasta do denunciado. 19 Colateral inclui irmão, primo(a) e cunhado(a).

[0-18[ / [0-16[ [18-25[ / [16-25[

[25-65[ [65-75[ ≥ 75 anos

6,1 9,6

77,3

4,3 2,6 0,3 8,2

86,8

3,4 1,4

Vítimas Denunciados/as

Portuguesa PALOP Brasileira Outras

85,2

6,1 4,3 4,4

86,3

7,3 2,9 3,6

Vítimas Denunciados/as

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29

Mais de três quartos das vítimas não dependiam economicamente do denunciado (78%).

Em apenas 1% das situações registadas pelas Forças de Segurança houve lugar a internamento

hospitalar da vítima e em 0,6% o recurso a baixa médica por parte desta.

Tabela 7: Caracterização - vítimas (cont.) (%)

%

Tipo de relação vítima - denunciado

Conjugalidade presente 62,9

Conjugalidade passada 19,9

Vítima é descendente 7,6

Vítima é ascendente 7,3

Vítima é colateral 0,6

Outras situações21

1,7

Depende económica do/a denunciado/a 22

Com internamento hospitalar 1,4

Com baixa médica 0,6

Gráfico 10: Relação vítima-denunciado/a (%)

20 Outra - inclui situações em que a vítima tem um filho em comum com o/a denunciado ou possui outro tipo de relação com o denunciado (ex:

situações de namoro). 21 As situações de VD entre namorados ou ex-namorados representam 2,5% do total de casos da GNR, considerando uma amostra de 10641

casos em que a relação vítima-denunciado se encontrava especificada. Apenas a GNR contempla estas opções de registo. Se se considerar o peso na amostra global (incluindo PSP), a percentagem reduz-se para menos de 1% (0,95%).

Conjugalidadepresente

Conjugalidadepassada

Vítima édescendente

Vítima éascendente

Vítima écolateral

Outrassituações

62,9

19,9

7,6 7,3 0,6 1,7

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30

Conforme se pode observar na tabela 8, a grande maioria dos denunciados também não dependia

economicamente da vítima (86%).

Relativamente ao consumo de substâncias psicotrópicas, os dados apontam para que cerca de

43% dos denunciados apresentavam problemas relacionados com consumo de álcool22 e 11%

com o consumo de estupefacientes.

Segundo os dados disponíveis, em 9% dos casos o denunciado possuía arma e em cerca de 5%

houve utilização de uma arma. A tipologia de arma mais frequentemente utilizada foi a arma

branca (2,3%), seguindo-se outras armas/instrumentos. A utilização de arma de fogo (de defesa

ou de caça) ocorreu em 0,9% das situações.

Tabela 8: Caracterização - denunciados/as (cont.) (%)

%

Depende economicamente da vítima 13,6

Problemas relacionados com consumo de álcool 42,5

Problemas relacionados com consumo de estupefacientes 11,2

Posse de arma 8,8

Tipo de arma utilizada na ocorrência

Arma branca 2,3

Arma de fogo de caça 0,5

Arma de fogo de defesa 0,4

Outra arma /instrumento 1,8

Nenhum 95,0

22 Significa que o denunciado, no último ano: não conseguiu cumprir tarefas que habitualmente lhe são exigidas (ex: no trabalho, em casa…) por ter

bebido; ficou ferido ou feriu alguém por ter bebido; ou alguma vez um familiar, amigo, médico ou outro profissional de saúde manifestou preocupação pelo seu consumo de álcool ou sugeriu que deixasse de beber; Ilustra que o consumo de álcool do denunciado tem afetado negativamente, no último ano, a sua saúde, desempenho profissional, familiar… e/ou a sua relação com os outros.

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31

Em termos da prevenção, investigação e apoio em situações de violência doméstica importa

destacar as estruturas existentes nas Forças de Segurança, GNR e PSP, destinadas à prevenção,

investigação e acompanhamento das situações de violência doméstica.

No seu conjunto, as Forças de Segurança dispunham, no final de 2011, de 949 efetivos com

responsabilidades no âmbito da violência doméstica e mais de 55% dos postos e esquadras

dispunham de salas específicas de atendimento à vítima.

4.1 GNR

Na GNR, os Núcleos de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas (NIAVE) (anteriormente

designados Núcleos Mulher e Menor - NMUME, cuja implementação teve início em 2004) e as

Equipas de Investigação e Inquérito (EII), incidem a sua atuação na prevenção, investigação e

acompanhamento das situações de violência exercida sobre mulheres, crianças e outros grupos de

vítimas específicas. Os militares são preparados através de formação específica para

desempenharem estas funções.

Atualmente existem 23 NIAVE23, geralmente nos comandos ou destacamentos territoriais da

GNR. Ao nível dos postos territoriais, mais próximos do cidadão, existem as EII (EII PTer),

cujos elementos possuem formação específica. Estas Equipas são geralmente constituídas por

um ou dois elementos.

Em 31 de Dezembro de 2011, existiam 28224 pontos na GNR no âmbito do Projeto IAVE

(Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas) (23 NIAVE e 259 EII PTer), com um total de 368

efetivos afetos (68 mulheres e 300 homens)25.

23 Geralmente no âmbito das secções de investigação criminal. 24 A 31/12/2009 existiam 232 pontos (22 NIAVE e 210 EII PTer) e a 31/12/2010 existiam 269 pontos (22 NIAVE e 247 EII). No quarto

trimestre de 2011 foi implementado o NIAVE descentralizado do Comando Territorial de Lisboa no Posto Territorial da Merceana (Destacamento Territorial de Alenquer).

25 Fonte: GNR.

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32

4.2 PSP

As Equipas de Proximidade e de Apoio à Vítima (EPAV) da PSP, criadas em 2006, como forma

de resposta a uma intervenção que se pretende cada vez mais qualificada, junto de vítimas de

crime em geral e essencialmente perante vítimas especialmente vulneráveis – as crianças; idosos;

vítimas de violência doméstica e outras vítimas de violência grave. As EPAV são responsáveis

pela segurança e policiamento de proximidade, sendo que uma das principais

atribuições/competências passa por proceder a uma caracterização da área de intervenção,

sinalizando locais de risco. No trabalho desenvolvido junto das populações destaca-se a prestação

de informação, encaminhamento para outras entidades/serviços públicos, ONG26 e IPSS27 e

outros organismos, acompanhamento de casos, sem esquecer o acompanhamento pós-vitimação

e a deteção de cifras negras28.

Em 31 de Dezembro de 2011 existiam 241 EPAV, distribuídas pelos diversos Comandos da PSP,

com 466 efetivos afetos (que receberam também formação específica para o efeito) (88 mulheres

e 378 homens)29.

Ao nível da investigação criminal, a PSP dispõe de 50 equipas especiais de VD, com 115

elementos afetos (33 mulheres e 82 homens)30. Trata-se de equipas que funcionam geralmente ao

nível das esquadras de investigação criminal ou nas brigadas de investigação criminal dos vários

Comandos/Divisões policiais e que possuem responsabilidades específicas na investigação dos

casos de VD.

4.3 SALAS DE ATENDIMENTO À VÍTIMA

O atendimento às vítimas de violência doméstica, nos postos da GNR e nas esquadras da PSP

tende a realizar-se em espaços próprios para o efeito, de modo a garantir a privacidade e o

conforto da vítima. Todas as esquadras e postos criados de novo possuem salas de atendimento à

vítima e nas instalações mais antigas foram feitas as adaptações possíveis. No final de 2011, 57%

dos postos e esquadras com competência territorial possuíam uma sala específica para

atendimento à vítima; nos restantes este atendimento realiza-se geralmente numa outra sala que

26 Organização Não Governamental. 27 Instituição Particular de Solidariedade Social. 28 Proporção das ocorrências verificadas mas não reportadas aos órgãos de polícia criminal. 29 Fonte: PSP. 30 Idem.

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33

reúna as condições necessárias durante o atendimento, nomeadamente em termos de conforto e

privacidade.

Durante o ano de 2011, a DGAI em parceria com a GNR e PSP, e com o suporte técnico da

Unidade de Tecnologias de Informação de Segurança (UTIS), realizou um estudo a nível nacional

sobre os espaços utilizados nos postos e esquadras para atender as vítimas de violência

doméstica. Foram recolhidos dados junto de 903 vítimas, de 966 militares e policias (que

atenderam vítimas de VD) e de 599 comandantes de postos e esquadras com competência

territorial em matéria de VD. Em média, as vítimas apresentaram-se bastante satisfeitas com o

atendimento que lhes foi prestado (8,7, numa escala de 1 a 10), mas um pouco menos satisfeitas

com as condições existentes no espaço onde este decorreu (7,5). Foram identificados fatores

facilitadores e inibidores da utilização das salas de apoio à vítima (SAV) existentes, sendo

elencadas várias propostas, tendo em vista a melhoria das condições existentes, um dos fatores

determinantes para a qualidade do atendimento prestado a estas vítimas e a todas as outras. Os

resultados deste estudo serão divulgados em relatório próprio.

4.4 AÇÕES DE (IN)FORMAÇÃO

No decorrer do primeiro semestre de 2011 há a destacar a participação de formadores da DGAI

e das Forças de Segurança em três ações de sensibilização que decorreram no âmbito do projeto

da teleassistência a vítimas de violência doméstica. Estas ações foram coordenadas pela Comissão

para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), a primeira foi destinada a magistrados da

Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, as seguintes destinaram-se a representantes da GNR e da

PSP (de todos os comandos do continente)31.

Salienta-se ainda que em 2011 a GNR realizou um Curso de Investigação e Apoio a Vítimas

Específicas (IAVE) envolvendo 24 formandos e a PSP, através dos cursos realizados no âmbito

do Programa Integrado de Policiamento de Proximidade (29 ações) e do Curso de Gestão de

Ocorrências (24 ações), formou 708 elementos policiais. A violência doméstica é uma das

temáticas abordadas nestes cursos.

31 Foram também realizadas sessões na RA dos Açores e RA da Madeira, mas sem a intervenção direta da DGAI.

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34

Salienta-se ainda a realização de duas acções de sensibilização realizadas nas Forças de Segurança

no âmbito da Base de Dados estatísticos de Violência Doméstica e da Página da VD na intranet

do MAI/DGAI. Esta Página, desenvolvida pela DGAI em parceria com a GNR e PSP e com o

apoio da UTIS, encontra-se disponível desde finais de Outubro de 2010 e contém instrumentos

técnico-policiais e informações que visam apoiar a resposta policial nesta área32. Trata-se de um

instrumento destinado às Forças de Segurança que contempla nomeadamente uma aplicação para

a criação de planos de segurança com as vítimas, assim como um guia com os recursos de apoio

às vítimas.

- Imagem inicial da Página VD na intranet do MAI/DGAI-

32 Disponível para as FS em https://intranet.mai.pt/sites/dgai/VD/Pages/default_VD.aspx.

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35

No início de 2011 o Portal da Segurança foi renovado tendo sido criadas “áreas de interesse”,

entre as quais a da violência doméstica. A DGAI, em articulação com as FS, desenvolveu os

conteúdos introduzidos, dos quais se destaca a disponibilização de uma ferramenta interactiva

para a criação de planos de segurança33 para as vítimas de violência doméstica, e a

disponibilização, em articulação com a CIG, dos contactos das estruturas de apoio existentes.

- Imagem inicial da área de interesse VD no Portal da Segurança

33 Clicar no ícone “Aumente a sua segurança” até abrir a ferramenta

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36

A entrada em vigor da Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro, estabeleceu o regime jurídico

aplicável à prevenção da violência doméstica, à protecção e à assistência das suas vítimas, e define

o quadro normativo de direitos e deveres da vítima que constam da atribuição do estatuto de

vítima.

Ficou ainda definido que as decisões de atribuição do estatuto de vítima e as decisões finais em

processos por prática do crime de violência doméstica devem ser comunicados nomeadamente à

Direcção-Geral de Administração Interna, nos termos do artigo 37.o, n.º 1 da Lei n.º112/09, de

16 de setembro, para efeitos de registo e tratamento de dados.

A Portaria n.º 229-A/2010, de 23 de abril, regulamentou os modelos de documentos

comprovativos da atribuição do estatuto de vítima. Este deve ser atribuído pelas autoridades

judiciárias ou órgãos de polícia criminal quando não existam indícios de que a denúncia de

violência doméstica é infundada.

Em 2011 continuaram a ser desenvolvidas diversas diligências no sentido de harmonizar e agilizar

a comunicação de dados ao abrigo do art.º 37º da Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro,

nomeadamente ao nível dos resultados dos inquéritos e sentenças. Em articulação com os

diversos parceiros, a DGAI elaborou uma proposta de mapas a serem utilizados para a

comunicação dos referidos dados. Na sequência da implementação das orientações constantes no

Despacho 7/2012, da Procuradoria-Geral da República, na Divulgação 80, de 13 de abril de 2012,

do Conselho Superior da Magistratura e no Ofício-circular 32/DGAJ/DSAJ, de 14 de maio de

2012, da Direção-Geral da Administração da Justiça, prevê-se que no próximo relatório anual seja

possível incluir dados mais atualizados e com maior nível de detalhe neste domínio.

5.1 ESTATUTOS DE VÍTIMA

Em 2011 foram rececionadas 28018 comunicações sobre atribuição do estatuto de vítima

provenientes das Forças de Segurança.

Constatou-se que dos 28018 casos em que esta informação estava registada, em 84% ocorreu a

atribuição do estatuto de vítima, em 4% foi atribuído, mas a vítima prescindiu do direito à

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37

informação e em cerca de 12% dos casos a vítima recusou (tabela 9). Verifica-se que a proporção

de situações em que a vítima não pretendeu beneficiar do referido estatuto foi superior na PSP

comparativamente ao observado para a GNR (13,5%, e 8,1%, respetivamente). Estes padrões de

resultados são semelhantes aos já verificados em análises realizadas anteriormente (veja-se o

relatório referente ao 1º semestre de 2011).

Considerando o total de ocorrências participadas às Forças de Segurança em 2011 (28980),

constata-se que para 97% dos casos a informação relativa à atribuição do estatuto de vítima

encontrava-se disponível.

Tabela 9: Decisões sobre atribuição de estatuto de vítima comunicadas à DGAI pelas FS (2011)

2011

Fi %

GNR34

Atribuído 9401 88,5

Atribuído, mas vítima prescindiu do direito à informação 359 3,4

Vítima não pretendeu beneficiar do estatuto

865 8,1

Total 10625 100

Atribuído 14152 81,4

PSP35

Atribuído, mas vítima prescindiu do direito à informação 886 5,1

Vítima não pretendeu beneficiar do estatuto

2355 13,5

Total 17393 100

Atribuído 23553 84,1

Total FS

Atribuído, mas vítima prescindiu do direito à informação 1245 4,4

Vítima não pretendeu beneficiar do estatuto

3220 11,5

Total 28018 100

Considerando o total de dados comunicados pelos serviços do Ministério Público à DGAI, entre

Outubro de 2009 e 30 de Junho de 2011, num total de total de 1654 comunicações, 98%

referiam-se à atribuição de estatuto e 2% à cessação36.

34 Total de comunicações enviadas à DGAI referentes ao período de 1/1/2011 a 31/12/2011 (inclui registos constantes da BDVD provenientes

do SIIOP- Sistema Integrado de Informações Operacionais Policiais - da GNR, bem como outros dados comunicados pela GNR através de mapa próprio para o efeito).

35 Total registado na BDVD referente às ocorrências participadas entre 1/1/2011 e 31/12/2011.

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38

5.2 RESULTADOS DE INQUÉRITOS37

Em termos das decisões relativas a inquéritos de VD, se a análise recair sobre todas as

comunicações recebidas pela DGAI desde a entrada em vigor da Lei 112/2009, de 16 de

setembro até 30/6/2011, cujo número é de 844, 82,5% resultou em arquivamento, 14,8% em

acusação e cerca de 2,7% em suspensão provisória do processo (tabela 10).

Tabela 10: Resultados dos inquéritos de VD comunicadas à DGAI (até 30/6/2011)

Total de comunicações à DGAI até 30/6/2011

Fi

%

Resultado

Arquivamento 696 82,5

Acusação 125 14,8

Suspensão provisória do processo

23 2,7

Total 844 100

5.3 SENTENÇAS

Com base na informação disponibilizada pelo Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça

(ITIJ) foi possível aceder ao resultado das sentenças proferidas em processos-crime por violência

doméstica entre 1/1/2010 e 31/12/2010. De um total de 2416 processos, mais de dois terços

resultaram em condenação (67%) e cerca de um terço em absolvição (33%) (tabela 11)38.

Considerando apenas as sentenças, de entre as referidas anteriormente, transitadas em julgado até

31/12/2010 (n=1903)39, 64% resultaram em condenação e 36% em absolvição.

36 Salienta-se que estes dados não refletem a realidade nacional, uma vez que apenas uma parte das comarcas procedia às respetivas comunicações.

Para mais informação sobre estes dados ver Relatório do 1.º semestre de 2011. 37 Estes dados são os já apresentados no relatório do 1.º semestre de 2011. 38 Neste total de casos não foram incluídos 37 processos para os quais a informação não estava disponível ou referiam-se a casos nomeadamente

de inimputabilidade ou onde estava assinalado “outros motivos”. 39 Neste total de casos não foram incluídos 32 processos por motivos mencionados na nota anterior.

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Tabela 11: Sentenças (de 1/1/2010 até 31/12/2010) em processos-crime de VD comunicadas à DGAI

2010

Fi %

Sentenças (todas) Absolvição 797 33,0

Condenação 1619 67,0

Total 2416 100

Sentenças (trânsito em julgado)

Absolvição 677 35,6

Condenação 1226 64,4

Total 1903 100

Fonte: Cálculos DGAI com base nos dados fornecidos pelo ITIJ

Relativamente a estas sentenças (tabela 11) não foi possível aceder às penas aplicadas. No entanto

com base nos dados comunicados diretamente pelos tribunais à DGAI até 30/6/2011,

informação refletida no Relatório referente ao 1.º semestre de 2011, foi possível caracterizar para

alguns casos as penas aplicadas, bem com aceder a informação sobre as penas acessórias40.

Constatou-se que para um conjunto de 70 casos de condenação as penas aplicadas foram

geralmente penas de prisão de 1 a 3 anos, suspensas por igual período (n=57; 82%), em 13% dos

casos a pena de prisão foi superior a 3 anos, suspensa por igual período, e em 4 processos foi

aplicada uma pena de prisão efetiva, geralmente entre 2 a 3 anos.

Em alguns dos casos em que a pena de prisão foi suspensa, a sentença referia que o arguido ficou

obrigado ao pagamento de uma indemnização à vítima; que ficou sujeito a pagar uma quantia a

uma associação de apoio à vítima; que ficou sujeito a pagar as custas do processo; que a arma

apreendida ficou declarada como perdida a favor do Estado. Num dos casos comunicados, a

pena de prisão de 1 ano e 2 meses, foi substituída por 395 horas de trabalho comunitário.

Em termos de penas acessórias, nestas condenações por VD analisadas, salienta-se a existência de

diversos casos em que o arguido ficou sujeito à frequência de programa de prevenção da

violência doméstica, à frequência de programa de tratamento ao alcoolismo/toxicodependência

e/ou à proibição de contactos com a ofendida e ao afastamento da residência da mesma, pelo

período da pena.

40 Atendendo à dimensão reduzida desta amostra salienta-se que a informação que se segue é meramente exploratória e que não é representativa

da realidade nacional.