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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE ENGENHARIA CIVIL ESTABILIZAÇÃO DE SOLO RESIDUAL DE LAJEADO COM ADIÇÃO DE CIMENTO E CINZA DE CASCA DE ARROZ Sara Virgínia Fritscher Lajeado, novembro de 2016.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

ESTABILIZAÇÃO DE SOLO RESIDUAL

DE LAJEADO COM ADIÇÃO DE CIMENTO E

CINZA DE CASCA DE ARROZ

Sara Virgínia Fritscher

Lajeado, novembro de 2016.

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Sara Virgínia Fritscher

ESTABILIZAÇÃO DE SOLO RESIDUAL

DE LAJEADO COM ADIÇÃO DE CIMENTO E

CINZA DE CASCA DE ARROZ

Monografia apresentada na disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso – Etapa II, do

Curso de Engenharia Civil, do Centro

Universitário UNIVATES, como parte da

exigência para a obtenção do título de

Bacharela em Engenharia Civil.

Orientadora: Prof. Me. Viviane Rocha dos

Santos

Lajeado, novembro de 2016.

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Sara Virgínia Fritscher

ESTABILIZAÇÃO DE SOLO RESIDUAL

DE LAJEADO COM ADIÇÃO DE CIMENTO E

CINZA DE CASCA DE ARROZ

A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada na disciplina de Trabalho de

Conclusão de Curso – Etapa II, na linha de formação específica em Engenharia Civil, do Centro

Universitário UNIVATES como parte da exigência para a obtenção do grau de Bacharela em

Engenharia Civil:

Profa. Ma. Viviane Rocha dos Santos – orientadora

Centro Universitário UNIVATES

Profa. Dra. Emanuele Amanda Gauer

Centro Universitário UNIVATES

Profa. Ma. Marina Bellaver Corte

FTEC Porto Alegre

Lajeado, novembro de 2016.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, à Deus, pela minha saúde, por ter me encorajado e me guiado por

todo o percurso.

Aos meus pais, que são as pessoas mais incríveis que tenho ao meu lado. Pela força que me

deram durante todo o curso e por me darem força nos momentos difíceis, quando a vontade de

desistir passou pela cabeça.

Em especial, agradeço a minha irmã Ester, que seguiu junto comigo durante os seis anos de

graduação. Juntas vencemos desafios, dividimos trabalhos, torcemos pelo sucesso uma da outra.

Com certeza, cheguei até aqui por que você esteve comigo. Na etapa final do TCC, por estar ao

meu lado, me apoiando, por secar minhas lágrimas nas noites em que tudo parecia tão difícil.

Pelos gritos de alegria e de alívio quando conseguimos terminar nossos trabalhos. Pela

cumplicidade e pelo olhar acalmador nas horas de nervosismos.

Ao meu irmão, Eliseu, que me ajudou muito na elaboração de planilhas, textos. E que sempre

esteve ao meu lado, sem reclamar em ocupar seu tempo para me ajudar.

À grande amiga que conheci no curso, Natália. Juntas dividimos medos e incertezas. E claro,

comemoramos por cada etapa vencida. Sou grata por sempre estar disposta a ouvir meus

problemas, e sim, sempre ter uma palavra amiga para me confortar. Tenho certeza que nossa

amizade será para toda vida.

Às colegas de trabalho, Lenise e Verediana, pelas inúmeras vezes que ouviram minhas

angústias sobre os ensaios no laboratório, por me acalmarem nas semanas antes da

apresentação. E pela descontração, necessária, para seguir em frente.

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Agradeço também, com muito carinho, a minha orientadora, Profa. Viviane. Pelos incontáveis

ensinamentos durante este processo de formação. As inúmeras dicas e conselhos. Por sempre

estar disponível para conversar. Com certeza, você foi essencial para a conclusão deste trabalho.

Aos colegas, e ex-colegas da Engenharia Civil, que compartilharam suas experiências para

ajudar no desenvolvimento deste trabalho. Pela parceria e pela amizade.

Ao LATEC, e aos laboratoristas Gilberto, Rodrigo e Marcelo. Pela grande ajuda que me deram

no laboratório, durante os meses de desenvolvimento do trabalho. Pela amizade que fizemos

durante os ensaios. Pelos momentos divertidos que passamos juntos. Por seus ensinamos, que

foram de extrema importância para a conclusão do trabalho. Pelo apoio e incentivo, quando

muitas vezes, fiquei desanimada.

Meu muito OBRIGADO, a todas as pessoas, que de alguma forma, me apoiaram nessa etapa

da vida.

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RESUMO

O solo natural é um material de grande utilidade para engenharia, principalmente por ser de

baixo custo. Porém, muitas vezes, não apresenta as características que a obra exige, sendo

necessário buscar soluções viáveis para este problema. Entre uma das técnicas utilizadas, está

a estabilização de solos através do tratamento com aditivos e de sua compactação. Neste

trabalho, foram utilizados dois aditivos, o cimento Portland, que é amplamente utilizado na

construção civil, e a cinza de casca de arroz, um subproduto residual da produção de arroz,

dando um caráter sustentável para a estabilização do solo. O solo em questão foi coletado nas

proximidades do Prédio 17, do Centro Universitário Univates por ser predominante na região

de estudo. Foram realizados ensaios de caracterização do solo e executados ensaios de

resistência a compressão simples a fim de determinar a resistência da mistura solo-cimento-

cinza de casca de arroz, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias. Os resultados de caracterização

demonstraram que o solo em questão é composto de 18,93% de silte, 45,42% de areia fina e

35,65% de areia grossa. A umidade ótima encontrada foi de 35,2% e o peso específico aparente

seco máximo foi de 13,4 kN/m³. Esses valores foram utilizados para determinar a quantidade

de cada material para a confecção dos corpos de prova. Nas misturas contendo apenas cimento,

a resistência à compressão simples obteve bons resultados, praticamente dobrando de valor com

o aumento do teor de cimento de 7% para 11% da massa seca de solo. Com base nos resultados

obtidos, é possível notar que a adição somente da cinza não seria suficiente para tornar o solo

estabilizado, pois a variação da resistência apresentada pelas amostras não é expressiva,

demonstrando a importância de um agente cimentante nas misturas. As misturas contendo os

dois aditivos apresentaram resistências inferiores comparadas com aquelas que continham

somente cimento. Esse comportamento pode ser justificado pelo fato de as cinzas reagirem

melhor com as frações finas do solo (reações pozolânicas), e como o solo em estudo possui

poucos finos, a interação entre os materiais não foi efetiva.

Palavras-chave: Estabilização de solos, Solo-cimento-cinza de casca de arroz, Ensaios de

caracterização, Resistência à compressão simples.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ensaio de cisalhamento direto .............................................................................. 19

Figura 2 - Ensaio de compressão triaxial .............................................................................. 20

Figura 3 - Ensaio de compressão simples ............................................................................. 21

Figura 4 - Estabilização em colunas ..................................................................................... 26

Figura 5 - Estabilização em painéis ...................................................................................... 26

Figura 6 - Coloração da CCA ............................................................................................... 31

Figura 7 - Variação da resistência à compressão simples ao teor de cimento ........................ 33

Figura 8 - Relação da umidade ótima e massa específica aparente seca com a quantidade de

aditivos ................................................................................................................................ 34

Figura 9 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cal com

0% de cinza volante ............................................................................................................. 35

Figura 10 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cal com

12,5% de cinza volante ........................................................................................................ 36

Figura 11 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cal com

25% de cinza volante ........................................................................................................... 36

Figura 12 - Relação entre a resistência à compressão uniaxial e o aumento do teor de água (ω)

............................................................................................................................................ 38

Figura 13 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade .............. 40

Figura 14 - Cinza de casca de arroz ...................................................................................... 43

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Figura 15 - Aparelho Casagrande ......................................................................................... 46

Figura 16 - Mistura dos materiais ......................................................................................... 48

Figura 17 - Mistura com a adição da água ............................................................................ 48

Figura 18 - Mistura dividida nos recipientes ......................................................................... 49

Figura 19 - Molde tripartido ................................................................................................. 50

Figura 20 - Macaco hidráulico tipo garrafa ........................................................................... 50

Figura 21 - Corpo de prova identificado e vedado ................................................................ 51

Figura 22 - Corpo de prova de solo – cinza de casca de arroz – cimento ............................... 52

Figura 23 - Combinações das amostras................................................................................. 52

Figura 24 - Ensaio de compressão simples ........................................................................... 53

Figura 25 - Corpo de prova submerso em água ..................................................................... 54

Figura 26 - Corpo de prova dissolvido ................................................................................. 54

Figura 27 - Curva granulométrica ......................................................................................... 56

Figura 28 - Gráfico limite de liquidez ................................................................................... 56

Figura 29 - Curva de compactação ....................................................................................... 57

Figura 30 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cimento

das amostras com 0% de CCA, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias ................................. 58

Figura 31 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de CCA das

amostras com 0% de cimento, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias .................................. 59

Figura 32 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cimento

das amostras com 12,5% de CCA, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias ............................ 60

Figura 33 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cimento

das amostras com 25% de CCA, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias ............................... 61

Figura 34 - Relação vazios/cimento para amostras com cimento sobre a resistência à

compressão simples ............................................................................................................. 63

Figura 35 - Relação vazios/CCA para amostras com cinza de casca de arroz sobre a resistência

à compressão simples ........................................................................................................... 64

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Figura 36 - Relação vazios/cimento para amostras com 12,5% CCA sobre a resistência à

compressão simples ............................................................................................................. 65

Figura 37 - Relação vazios/cimento para amostras com 25% CCA sobre a resistência à

compressão simples ............................................................................................................. 65

Figura 38 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade das amostras

com 0% de cinza de casca de arroz ....................................................................................... 66

Figura 39 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade das amostras

com 0% cimento e 12,5, 25% de cinza de casca de arroz ...................................................... 67

Figura 40 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade das amostras

com 7, 11% cimento e 12,5, 25% de cinza de casca de arroz ................................................ 67

Figura 41 - Efeito do teor volumétrico de cimento (Civ) sobre a resistência à compressão

simples das amostras com 0% de cinza de casca de arroz ..................................................... 68

Figura 42 - Efeito do teor volumétrico de cinza de casca de arroz (CCAv) sobre a resistência à

compressão simples das amostras com 0% de cimento ......................................................... 69

Figura 43 - Efeito do teor volumétrico de cimento (Civ) sobre a resistência à compressão

simples das amostras com 12,5% de cinza de casca de arroz ................................................ 70

Figura 44 - Efeito do teor volumétrico de cimento (Civ) sobre a resistência à compressão

simples das amostras com 25% de cinza de casca de arroz ................................................... 70

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tipos de cimentos ............................................................................................... 29

Tabela 2 - Efeito da temperatura nas propriedades da CCA .................................................. 32

Tabela 3 - Cimento CP - IV.................................................................................................. 42

Tabela 4 - Composição cinza de casca de arroz .................................................................... 42

Tabela 5 - Escala granulométrica brasileira, segundo a NBR 6502. ...................................... 45

Tabela 6 - Ensaio de plasticidade ......................................................................................... 57

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANITECO Associação Nacional da Indústria do Tijolo Ecológico

EN European Norm

NBR Norma Brasileira Regulamentadora

CA Casca de Arroz

CCA Cinza de Casca de Arroz

CCAv Teor volumétrico de Cinza de Casca de Arroz

Civ Teor volumétrico de cimento

γd Peso específico aparente seco

γdmáx Peso específico aparente seco máximo

η Porosidade

qu Resistência à compressão simples

ωót Teor de umidade ótima

LL Limite de Liquidez

LP Limite de Plasticidade

IP Índice de Plasticidade

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 13

1.1 Objetivo ...................................................................................................................................... 15

1.1.1 Objetivo geral .................................................................................................................................................... 15

1.1.2 Objetivos específicos......................................................................................................................................... 15

1.2 Justificativa ................................................................................................................................ 15

1.3 Hipótese ...................................................................................................................................... 16

1.4 Delimitação ................................................................................................................................ 16

1.5 Estrutura do trabalho ............................................................................................................... 16

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 18

2.1 Resistência ao cisalhamento do solo ........................................................................................ 18

2.2 Estabilização de solos ................................................................................................................ 21

2.2.1 Estabilização química ........................................................................................................................................ 24

2.3 Mistura solo-cimento-cinza de casca de arroz ........................................................................ 26

2.3.1 Solo ..................................................................................................................................................................... 27

2.3.2 Cimento .............................................................................................................................................................. 27

2.3.3 Cinza de casca de arroz ..................................................................................................................................... 29

2.3.4 Água ................................................................................................................................................................... 32

2.3.5 Comportamento da mistura ............................................................................................................................... 32

2.3.5.1 Efeito do cimento ........................................................................................................................................... 32

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2.3.5.2 Efeito da cinza de casca de arroz .................................................................................................................. 34

2.3.5.3 Efeito do teor de umidade .............................................................................................................................. 37

2.3.5.4 Efeito da densidade e compactação............................................................................................................... 39

3 PROGRAMA EXPERIMENTAL .................................................................................. 41

3.1 Materiais .................................................................................................................................... 41

3.1.1 Solo ..................................................................................................................................................................... 41

3.1.2 Cimento .............................................................................................................................................................. 41

3.1.3 Cinza de casca de arroz ..................................................................................................................................... 42

3.1.4 Água ................................................................................................................................................................... 43

3.2 Dosagem das misturas .............................................................................................................. 43

3.3 Métodos ...................................................................................................................................... 44

3.3.1 Coleta do solo .................................................................................................................................................... 44

3.3.2 Ensaio de granulometria.................................................................................................................................... 44

3.3.3 Limites de consistência ..................................................................................................................................... 45

3.3.4 Ensaio de compactação ..................................................................................................................................... 46

3.3.5 Massa específica real dos grãos do solo ........................................................................................................... 47

3.3.6 Moldagem e cura dos corpos de prova ............................................................................................................. 47

3.3.7 Ensaios de Compressão simples ....................................................................................................................... 53

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 55

4.1 Ensaios de caracterização ......................................................................................................... 55

4.2 Ensaios de resistência à compressão simples .......................................................................... 58

4.2.1 Relação entre aditivos e resistência .................................................................................................................. 58

4.2.2 Relação entre vazios/cimento, vazios/CCA sobre a resistência à compressão simples ................................ 62

4.2.3 Efeito da porosidade sobre a resistência à compressão simples ..................................................................... 66

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 74

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13

1 INTRODUÇÃO

O solo natural é um material de grande utilidade para engenharia, principalmente por

ser universal e de baixo custo. Porém, muitas vezes, não apresenta as características que a obra

exige, sendo necessário buscar soluções viáveis para este problema.

Cristelo (2001) cita alguns recursos que podem ser adotados, como: aceitar o material e

alterar o projeto para as restrições impostas pelo mesmo; remover o material do local e substituí-

lo por um de melhor qualidade e que se adequa ao projeto; ou alterar as propriedades do solo

existente a fim de criar um novo material que atenda as exigências impostas pelo projeto,

processo este, conhecido como estabilização de solos.

A técnica de estabilização de solos se torna bastante aplicada, visto que muitas vezes,

os tradicionais métodos de engenharia geotécnica se tornam inviáveis. A execução de fundações

em solos de baixa capacidade de suporte é um bom exemplo disto, uma vez que a execução de

fundações profundas pode inviabilizar um projeto devido ao seu elevado custo. Dessa forma, o

melhoramento das propriedades mecânicas desse solo, através de tratamento com aditivos e

pela sua compactação, se torna uma solução exequível (VITALI, 2008).

No caso de execução de pavimentos, em que o solo constitui papel fundamental

resistindo às cargas do tráfego da rodovia, quando esse não possui os requisitos necessários,

busca-se em outros locais um solo com características adequadas. No entanto, dependendo da

região, o transporte desse material se torna inviável economicamente. Assim, a estabilização do

solo se torna uma alternativa, melhorando o solo local para ser empregado na pavimentação

(CRISTELO, 2001).

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14

A estabilização de solos constitui, provavelmente, a técnica mais antiga utilizada na

Engenharia Civil. Há mais de 3000 anos já era aplicada na construção dos templos da antiga

Babilônia. Já as técnicas contemporâneas, iniciaram nos Estados Unidos em projetos

executados com misturas de cimento, betume e alguns químicos, favorecendo o

desenvolvimento de máquinas propícias para realização da estabilização do solo. Além disso,

a Segunda Guerra Mundial acarretou a construção de aeroportos e vias de acesso, nos quais foi

utilizado o cimento como aditivo estabilizante do solo (CRISTELO, 2001). No Brasil, várias

obras já foram executadas com solo-cimento, e muitos pavimentos com solo-cal e areia-cal-

cinza volante ainda estão em ótimas condições para o tráfego (ANITECO, 2016).

Além destes materiais, outros aditivos vêm sendo empregados na estabilização de solos,

entre eles estão as pozolanas, como a cinza de casca de arroz (CCA), a cinza volante e a

microssílica, provenientes de processos produtivos industriais e agroindustriais, na forma de

resíduo. Paula (2013) justifica essa utilização pelo fato de os materiais pozolânicos

apresentarem um diâmetro médio dos grãos bem pequenos, preenchendo grande parte dos

vazios da mistura, além de possuírem elevada quantidade de sílica amorfa, auxiliando no ganho

de resistência da mistura.

Nas últimas décadas vem crescendo o interesse na utilização ou reutilização de diversos

resíduos em obras de engenharia. No caso da CCA, a elevada produção de arroz acarreta na

geração de resíduos (casca do arroz) dificultando sua disposição final, sendo a queima para

geração de energia uma forma de reduzir o volume do material, o que não minimiza o problema.

No Brasil, por exemplo, são geradas aproximadamente 490 mil toneladas de CCA por ano

(IBGE, 2016). Logo, justifica-se o desenvolvimento de pesquisas e aplicações para reutilizar os

subprodutos residuais como aditivos estabilizantes de solos.

Nesse sentido, este trabalho busca estudar o comportamento do solo através da adição

de cimento e CCA. A CCA representa a parcela da mistura que seria descartada na natureza

como um resíduo da queima da casca de arroz, desta forma o estudo busca utilizar este material

como uma forma alternativa de aproveitamento. O cimento representa um dos produtos mais

utilizados na construção civil, sendo de fácil acesso a sua compra, além de proporcionar ao solo

a cimentação necessária, visto que algumas pesquisas indicam que a CCA, quando utilizada

individualmente para estabilizar um solo, não possui propriedades cimentantes (BASHA et al.,

2005).

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15

Apesar das diversas aplicações, ainda não existem metodologias de dosagem das

misturas de solo-cimento-cinza de casca de arroz baseadas em critérios racionais, como existem

para o concreto, onde o fator água/cimento desempenha um papel fundamental na obtenção da

resistência desejada (VITALI, 2008). Logo, o estudo será desenvolvido com base em trabalhos

já realizados nessa área do conhecimento que possam auxiliar a identificar dosagens de cimento

e CCA que propiciam uma estabilização adequada no solo de estudo, verificando os resultados

de resistência da mistura em ensaios de laboratório.

1.1 Objetivo

1.1.1 Objetivo geral

Este estudo possui como objetivo geral investigar a melhoria de resistência do solo

quando da adição de cimento e CCA.

1.1.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos são:

Identificar as mudanças ocorridas na resistência à compressão simples do solo estudado,

utilizando diferentes porcentagens de cimento e CCA;

Analisar a influência do tempo de cura na resistência das misturas;

Verificar a relação da porosidade e do teor volumétrico de cimento e CCA das misturas

com a resistência à compressão simples.

1.2 Justificativa

A casca de arroz (CA) é um resíduo proveniente do processo produtivo do arroz, o qual

existe em grande escala no Brasil. A queima deste material para produção de energia gera em

grande volume a CCA que é descartada como rejeito, e muitas vezes, depositada de forma

incorreta no meio ambiente, ocasionando vários impactos ambientais negativos.

Nesse contexto, pesquisas vêm sendo realizadas para a utilização deste resíduo como

material de engenharia. Dentre as aplicações, pode-se destacar o emprego como aditivo na

estabilização de solos, uma vez que a CCA possui propriedades importantes, como a elevada

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presença de sílica amorfa e o pequeno diâmetro médio de seus grãos, que ajudam para a

elevação da resistência do solo. Entretanto, quando utilizada individualmente para estabilizar

um solo, não possui propriedades cimentantes necessárias para ocorrer a estabilização,

demandando o uso conjunto com um aditivo cimentante.

Apesar da técnica de estabilização de solos a partir da estabilização química já ser

bastante aplicada em obras de engenharia, há poucos estudos referentes à adição de CCA no

solo. Sendo a maioria dos trabalhos relacionada à utilização de cimento como principal aditivo

para estabilização de solos.

Assim, este trabalho visa investigar o comportamento de misturas solo-cimento-cinza

de casca de arroz, visto que ainda não existem metodologias de dosagem para este tipo de

mistura baseadas em critérios racionais.

1.3 Hipótese

Através da mistura solo-cimento-cinza de casca de arroz haverá modificações nas

propriedades mecânicas do solo, aumentando sua resistência.

1.4 Delimitação

O solo utilizado para a realização do estudo foi coletado no Campus do Centro

Universitário Univates em Lajeado/RS. Foram utilizadas diferentes porcentagens de cimento e

CCA para a análise do melhoramento das características mecânicas do solo que influenciam na

sua resistência, através de ensaios de resistência à compressão simples.

1.5 Estrutura do trabalho

O trabalho está dividido em cinco capítulos: introdução, revisão bibliográfica, programa

experimental, resultados obtidos e conclusões.

No capítulo 1, compreende este capítulo em que foi apresentada uma introdução sobre

o assunto, como também os objetivos, justificativa do estudo e suas delimitações. No capítulo

2 estão apresentados informações importantes buscadas na literatura para fundamentar o estudo,

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como os principais conceitos relacionados ao solo e sua resistência, além das características do

cimento, CCA e da mistura solo-cimento-cinza de casca de arroz para a estabilização do solo.

O programa experimental é abordado no capítulo 3, que apresenta um detalhamento das

técnicas e ensaios realizados e dos materiais utilizados na pesquisa.

No capítulo 4 estão apresentados os resultados, obtidos através do programa

experimental, em seguida há as interpretações e análises dos dados obtidos. Já no capítulo 5

estão as conclusões relevantes do estudo.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Resistência ao cisalhamento do solo

A ruptura do solo geralmente acontece devido ao fenômeno de cisalhamento. Pinto

(2006) define a resistência ao cisalhamento do solo como a máxima tensão de cisalhamento que

um solo consegue suportar sem ocorrer fratura do mesmo. Para Bastos (2008), o cisalhamento

do solo pode ser caracterizado pela ruptura ocorrida devido aos deslocamentos relativos entre

partículas, e a resistência dos solos a essa ruptura é chamada de resistência do solo ao

deslizamento.

Segundo Caputo (2008), a resistência ao cisalhamento do solo é um dos fatores que

influenciam a propriedade dos solos em suportar cargas e conservar sua estabilidade. Essa

resistência é composta principalmente por duas componentes: a coesão e o atrito entre as

partículas.

A atração química entre as partículas consegue provocar uma resistência independente

da tensão normal que atua no plano, essa resistência é dita coesão real (PINTO, 2006). A coesão

real é resultante, principalmente, das forças eletroquímicas de atração das partículas de argila,

enquanto a coesão aparente é devido à pressão capilar da água presente nos solos (CAPUTO,

2008).

O fenômeno de atrito nos solos acontece pelo deslocamento de um grande número de

grãos, que deslizam entre si ou rolam uns sobre os outros, acomodando-se em vazios que estão

no percurso. Há uma diferença entre as forças transmitidas nos contatos entre grãos de areia e

grãos de argila. O contato entre os grãos de areia acontecem realmente entre os dois minerais,

por possuírem uma força suficiente para expulsar a água da superfície. Já nas argilas, o número

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de partículas é muito maior, e a força transmitida em cada contato fica reduzida. Dessa forma,

as moléculas de água quimicamente adsorvidas nas moléculas de argila não são removidas.

Assim, o contato não ocorre diretamente entre os grãos de argila (PINTO, 2006).

Caputo (2008) ressalta que na determinação experimental de resistência ao cisalhamento

dos solos é necessário reproduzir, em cada caso, as condições em que o solo estará submetido

na prática, pois os parâmetros de coesão e atrito não são constantes de um material.

Das (2011), Craig (2011), Caputo (2008) e Pinto (2006) descrevem os principais ensaios

para determinar a resistência dos solos sendo: ensaio de cisalhamento direto, ensaio de

compressão triaxial e ensaio de compressão simples.

O ensaio de cisalhamento direto é o ensaio mais antigo para a determinação da

resistência ao cisalhamento e consiste na aplicação de uma tensão normal para determinar qual

a tensão de cisalhamento capaz de provocar a ruptura de uma amostra de solo que é colocada

no interior de uma caixa composta de duas partes deslocáveis entre si. A tensão cisalhante é

aplicada gradualmente sobre o plano horizontal, fazendo com que uma das metades da caixa se

mova em relação à outra. São colocadas duas pedras porosas, uma superior e outra inferior,

para a drenagem da amostra (Figura 1). O ensaio é repetido para outras amostras e, assim, é

possível construir um gráfico com os pares de tensão normal e tensão de cisalhamento,

permitindo determinar o ângulo de atrito interno e a coesão do solo (CAPUTO, 2008).

Figura 1 - Ensaio de cisalhamento direto

Fonte: adaptado de Pinto (2006, p. 265).

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Já o ensaio de compressão triaxial é o mais utilizado atualmente. Neste ensaio, aplica-

se um estado hidrostático de tensões e um carregamento axial sobre um corpo de prova

cilíndrico de solo. O procedimento ocorre colocando o corpo de prova dentro de uma câmara

de ensaio envolvido por uma membrana de borracha. Na base do corpo de prova e no cabeçote

superior são colocadas pedras porosas que permitem a drenagem do solo. A câmara é

preenchida com água, na qual se aplica uma pressão chamada de pressão confinante que atua

em todas as direções, até mesmo na direção vertical. Deste modo, o corpo de prova fica sob um

estado hidrostático de tensões. O carregamento axial é feito através da aplicação de forças no

pistão que penetra a câmara e a tensão desse carregamento é conhecida como tensão desviadora

(Figura 2). As tensões desviadoras correspondentes à ruptura das diversas amostras ensaiadas

que permitem o traçado dos respectivos círculos de Mohr. Com isso, é possível determinar a

envoltória dos círculos e, consequentemente, obter os valores de coesão e ângulo de atrito

interno do solo (PINTO, 2006).

Figura 2 - Ensaio de compressão triaxial

Fonte: adaptado de Pinto (2006, p. 266).

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No ensaio de compressão simples uma amostra cilíndrica é colocada entre dois pratos

de uma prensa (Figura 3). A carga é aplicada na vertical progressivamente, não sendo aplicada

nenhuma pressão lateral, sendo a curva tensão-deformação traçada por um dispositivo adaptado

ao aparelho durante o ensaio (CAPUTO, 2008). De acordo com Dalla Rosa (2009) este ensaio

vem sendo utilizado em vários estudos sobre a resistência de solos tratados. Principalmente por

ser de rápida execução, baixo custo, confiável e muito difundido no meio técnico.

Figura 3 - Ensaio de compressão simples

Fonte: LabGeo UFSCar (2016).

2.2 Estabilização de solos

A estabilização de solos é utilizada desde os tempos das civilizações Mesopotâmica e

Romana para a construção de pavimentos rodoviários. Ao passar dos anos, com a invenção e

uso dos veículos com roda, foi necessário ter superfícies mais rígidas. E com as investigações

nessa área chegou-se à conclusão de se aplicar na execução das vias rodoviárias betão ou

betuminosos sobre bases e sub-bases devidamente estabilizadas (CRISTELO, 2001).

O mesmo autor comenta que as técnicas contemporâneas de estabilização de solos foram

iniciadas nos Estados Unidos, no ano de 1906. Os resultados favoráveis atingidos com misturas

de areia e argila impulsionaram à execução de projetos com misturas que incluíam cimento,

betume e alguns químicos. Foi nessa mesma época que houve o início do desenvolvimento de

máquinas propícias para realizar a estabilização do solo.

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Já na Europa, a estabilização dos solos aconteceu em meados da década de 1930, com a

evolução da indústria automotiva nesse continente, necessitando de solos estabilizados para

execução de projetos rodoviários. Na década de 1940, os países que participaram da Segunda

Guerra Mundial necessitavam de aeroportos e vias de acesso. Nesses locais foi utilizado o

cimento como aditivo para a estabilização do solo (CRISTELO, 2001).

A estabilização de solos no Brasil começou com estudos realizados pela Associação

Brasileira de Cimento Portland (ABCP) com blocos e paredes de solo-cimento, em 1941. A

partir daí várias obras foram executadas com esta mistura, como o Hospital Adriano Jorge do

Serviço Geral de Tuberculose, que ainda está em funcionamento. Foram construídos muitos mil

quilômetros de estradas em solo-cimento, sendo que muitos trechos com mais de 20 anos

atualmente estão em ótimas condições, permanecendo ainda intactos apesar do elevado tráfego.

Também foram feitos vários trechos íntegros pavimentados com solo-cal e areia-cal-cinza

volante, com dezenas de anos abertos ao tráfego (ANITECO, 2016).

Em se tratando da descrição da estabilização de solos, Sousa (2012) considera-o como

técnicas que por efeito físico, químico ou mecânico alteram propriedades intrínsecas do solo,

ou seja, aquelas que são particulares e originais do solo.

Segundo Cristelo (2001), a estabilização do solo é necessária pelos seguintes motivos:

A fraca capacidade de carga ou elevada permeabilidade em solos de fundação que pela

sua localização, são difíceis de tratar por outros métodos que não as injeções;

Solos naturais que não são adequáveis para a execução de fundações superficiais, como

estradas e aeroportos.

Fatores que contribuem para o aumento na utilização de técnicas de estabilização de

solo (SOUSA, 2012):

Crescente uso de solos “frágeis” para fundar estruturas que exigem alta capacidade de

suporte;

A grande utilização do solo como material de construção, principalmente pela sua

abundância e baixo custo, comparado com outros materiais;

Introdução de novos métodos e a adição de materiais;

Avanço do conhecimento teórico sobre os fenômenos que ocorrem na utilização de cada

uma das técnicas.

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Porém Cristelo (2001) alerta que pela grande variabilidade de solos nenhum dos

métodos de estabilização será bem sucedido em mais do que alguns tipos de solos. A escolha

do método a ser utilizado deve ser condicionada pelo número e tipos de solos sobre os quais foi

comprovada uma maior eficiência.

Com o intuito de ampliar o desenvolvimento de um país ou região, buscam-se

alternativas economicamente viáveis para se atingir o objetivo. Por isso a estabilização de solos

tem grande aplicabilidade. Segundo Winterkorn (1972) apud Cristelo (2001), as principais

justificativas para aplicações da estabilização de solos são:

Desenvolvimento econômico em regiões com terrenos lodosos e arenosos;

Fornecer bases para pavimentos de qualidade em situações em que o recurso a materiais,

como rocha ou outros, normalmente utilizados nestas situações não é economicamente

viável;

Atuar como fonte de absorção de ruído, principalmente em zonas urbanas, em que

adequados sistemas de solo estabilizado possuem vantagens consideráveis sobre outros

materiais de construção.

Mas a grande aplicação da estabilização dos solos está na execução de pavimentos, na

base, sub-base e camadas de desgaste de estradas e aeródromos. Principalmente, pelos solos na

região da execução da pavimentação não possuírem os requisitos necessários e os materiais

naturais que estão de acordo com o necessitado estarem em locais em que o transporte não é

viável economicamente (CRISTELO, 2001).

Nascimento (1970) apud Cristelo (2001) justifica esta aplicação afirmando que é

precisamente na pavimentação de estradas e aeródromos que a estabilidade de um solo é mais

solicitada, pois a tensão transmitida pode ir desde valores próximos de zero até dezenas de

kilopascal (kPa), enquanto o grau de saturação pode variar entre 0 e 100%.

Os métodos de estabilização são classificados em três grupos, segundo Cristelo (2001):

Métodos de estabilização mecânica: são aqueles que buscam melhorar as características

do solo através de uma melhor “organização” das partículas constituintes e/ou através

de correções da sua composição granulométrica;

Métodos de estabilização física: são alteradas as propriedades do solo, modificando a

sua textura a partir da ação do calor, da eletricidade, entre outros;

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Métodos de estabilização química: são aqueles que modificam permanentemente as

propriedades do solo com a adição de aditivos.

A compactação é um dos exemplos de método de estabilização mecânica, citado por

Nascimento (1970) apud Cristelo (2001). Pinto (2006) define a compactação de um solo como

a sua densificação através de equipamento mecânico, como o rolo compactador e em pequenas

áreas, o soquete manual. A compactação visa aumentar o contato entre os grãos e tornar o solo

mais homogêneo. Tanto Cristelo (2001), como Pinto (2006) afirmam que o aumento da

densidade ou a redução do índice de vazios melhoram várias propriedades do solo, entre elas

estão: acréscimo de resistência e a diminuição da deformabilidade e permeabilidade.

Outras técnicas de estabilização mecânica do solo são a correção granulométrica ou a

adição de fibras (metálicas, minerais, sintéticas ou vegetais) (PINTO, 2008). A correção

granulométrica é feita quando se deseja alterar a distribuição das partículas do solo

(CARVALHO, 2011).

A estabilização física pode ser dividida em eletro-osmose e térmica (CRUZ, 2004). A

estabilização por electro-osmose consiste em colocar dois eletrodos em uma massa de solo e

fazer passar uma corrente elétrica entre eles. Com isso, ocorre a migração da água do solo do

eletrodo positivo para o negativo, de onde é removida. A eletro-osmose não visa a secagem do

solo, mas sim direcionar a percolação da água para provocar um efeito de estabilização. Na

estabilização térmica são utilizados os métodos de aquecimento e congelação. O método de

aquecimento aquece uma zona do solo, evaporando a água presente nele. Já a congelação,

utiliza um sistema que congela a água existente nos vazios do solo, transformando o solo em

um material rígido de maior resistência (CRISTELO, 2001).

O método utilizado neste estudo, além da compactação, é a estabilização química do

solo e por esse motivo será apresentada com maior ênfase no próximo subitem.

2.2.1 Estabilização química

Neste tipo de estabilização as partículas do solo são aglutinadas através de reações

químicas que ocorrem com a adição de aditivos químicos (CRISTELO, 2001). Sendo divididos

em três classes: aqueles em que o efeito do produto químico é devido apenas a sua interação

com o solo, sendo que suas propriedades físicas não tem ação relevante no processo, podendo

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citar a cal como exemplo; outra classe, que utiliza o cimento, os efeitos do aditivo químico são

da sua interação com o solo e de suas propriedades; e na outra classe, com o betume de exemplo,

os efeitos são considerados apenas devido às propriedades do aditivo (NÚÑES, 2010).

Paula (2013) cita como uma das técnicas de estabilização química, a estabilização in

situ do solo, também chamada de estabilização profunda ou deep mixing. Essa técnica ocorre a

partir da estabilização do solo natural com a adição de agentes cimentantes e pozolânicos

através da mistura mecânica destes componentes com o solo.

Correia (2011) ressalta que essa técnica tem apresentado bons resultados aplicados a

solos moles, tornando-se uma alternativa economicamente viável comparada com outras

técnicas de melhoramento utilizadas nesses solos. Essa técnica pode ser aplicada em vários

tipos de solos, desde solos moles até rochas brandas, devido a vários estudos realizados nesta

área durante os últimos 40 anos.

Esta técnica possui uma vasta aplicação, como em estruturas de suporte de escavações,

auxílio na escavação de túneis, mitigação da propagação de vibrações, melhoramento de solos

de fundação e solos para a pavimentação (CRISTELO, 2011).

Os ligantes atualmente utilizados são o cimento Portland e a cal, e mais recentemente,

a escória granulada de alto forno, a cinza volante, a sílica de fumo, entre outros. Esses ligantes

apresentam características que alteram o solo para o seu melhoramento, além de vários destes

serem provenientes de subprodutos industriais, sendo uma forma de reutilizá-los, e ocasionando

um menor impacto ambiental (CORREIA, 2011).

Cruz (2012) explica que a mistura dos materiais ocorre através da rotação de eixos com

pás ou hélices, no caso da construção de colunas, conforme Figura 4, ou com rodas dentadas,

no caso da construção de painéis, exibido na Figura 5. Correia (2011, p. 7) acrescenta que “os

ligantes podem ser introduzidos no solo no estado seco ou na forma de calda (ligante

previamente misturado com água), correspondendo, respectivamente, à variante seca ou úmida

da técnica de deep mixing”. Pode-se considerar que o deep mixing é um método bastante

versátil, pois pode ser aplicado desde areias a argilas, sendo igualmente viável o tratamento de

solos orgânicos, lamas e turfas. As profundidades de tratamento que podem variar, segundo a

norma EN 14679:2005, são entre 3 e 50 metros (CRUZ, 2012).

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Figura 4 - Estabilização em colunas

Fonte: Correia (2011, p. 8).

Figura 5 - Estabilização em painéis

Fonte: adaptado pela autora com base em Gradex Ltd (2016).

2.3 Mistura solo-cimento-cinza de casca de arroz

A seguir serão apresentadas as descrições e propriedades importantes dos materiais que

compõem a mistura solo-cimento-cinza de casca de arroz, bem como o comportamento geral

da mistura.

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2.3.1 Solo

Craig (2011, p. 1) descreve que “para o engenheiro civil, solo é qualquer reunião de

partículas minerais soltas, ou fracamente unidas (cimentadas), formada pela decomposição de

rochas por ação do intemperismo, com o espaço vazio entre as partículas ocupado por água e/ou

ar”.

Caputo (2008) divide o solo em três categorias, de acordo com a sua formação: solos

residuais, sedimentares e de formação orgânica. Os solos residuais são aqueles que permanecem

no mesmo local da rocha de origem, ocorrendo uma transição do solo até a rocha. Entre os solos

residuais estão os solos lateríticos, os expansivos e os porosos. Os solos sedimentares são

submetidos à ação de agentes transportadores, podendo ser: aluvionares (transportados pela

água), eólicos (pelo vento), coluvionares (pela ação da gravidade) e glaciares (pelas geleiras).

Já os solos de formação orgânica são os originados pela matéria orgânica, podendo ser de

natureza vegetal, como plantas e raízes, ou de origem animal, como conchas.

Para verificar qual aditivo melhor se enquadra na estabilização de solos, é necessário

que seja levado em consideração a granulometria do solo e sua plasticidade. Solos com média

a alta plasticidade são mais reativos a cal. (DALLA ROSA, 2009). Para solos granulares são

utilizados principalmente o cimento Portland, a cal, materiais betuminosos e resinas

(MARQUES, 2004).

A partir da década de 1990, foram realizados diversos estudos utilizando solos orgânicos

melhorados através da mistura com cimento, comprovando que é possível estabilizar um solo

com este método, sendo necessária uma maior quantidade do material aglomerante (PAULA,

2013).

Schwendler (2013) cita que os solos muito argilosos precisam de elevados teores de

cimento para melhorar as propriedades do solo, dificultando a homogeneização da mistura.

2.3.2 Cimento

O cimento é um dos aditivos mais conhecidos e aplicados na estabilização química de

um solo. Os principais objetivos da utilização do cimento na estabilização de solos são a

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melhoria das características mecânicas e uma maior estabilidade relativamente à variação do

teor em água (CRISTELO, 2001).

Segundo ABCP (2002), o cimento Portland é um pó fino que possui propriedade

aglomerante, aglutinante ou ligante, endurecendo quando adicionado água. Depois de

endurecido, mesmo em contato com a água novamente, não se decompõe mais.

O cimento Portland é constituído de clínquer e adições. O clínquer é uma rocha calcária

que possui como matérias-primas o calcário e a argila, e está presente em todos os tipos de

cimento Portland, sendo o principal elemento do cimento. Já as adições, são aquelas que

determinam os diferentes tipos de cimento, podendo ser: gesso, escórias de alto-forno, materiais

pozolânicos e materiais carboníticos (ABCP, 2002).

Na estabilização química de solos, os cimentos do tipo Portland foram sempre os mais

utilizados, embora praticamente todos os tipos de cimento possam ser empregados. Porém,

independente do tipo de cimento utilizado na estabilização do solo, ele precisa estar conforme

as especificações que o caracterizam, isto é, um cimento de qualidade inferior ou danificado

não deve ser utilizado (CRISTELO, 2001). Na tabela 1 estão listados os tipos de cimento

produzidos no Brasil, conforme sua composição.

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Tabela 1 - Tipos de cimentos

Fonte: ABCP (2002, p. 18).

2.3.3 Cinza de casca de arroz

A CCA é caracterizada como um material pozolânico (PAULA, 2013). Desta forma,

serão descritos inicialmente algumas características dos materiais pozolânicos e posteriormente

sobre a CCA.

Pozolana é um material natural ou artificial que contém em sua composição sílica em

forma reativa (NETTO, 2006).

Segundo a NBR 12653 (ABNT, 2014), os materiais pozolânicos são definidos como

materiais silicosos ou silicoaluminosos que possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante,

porém quando são divididos finamente e há presença de água, reagem com o

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hidróxido de cálcio à temperatura ambiente formando compostos com propriedades

aglomerantes.

Os materiais pozolânicos podem ser divididos em naturais e artificiais. Os naturais são

de origem vulcânica ou de origem sedimentar com atividade pozolânica. As pozolanas

artificiais são materiais resultantes de processos industriais ou de tratamento térmico com

atividade pozolânica, podendo ainda ser divididas em argilas calcinadas, cinzas volantes e

outros materiais, como as pozolanas não tradicionais: escórias siderúrgicas ácidas, cinzas de

materiais vegetais e rejeito de carvão mineral (ABNT, 2014).

A CA é uma estrutura que protege o grão de arroz, sendo muito resistente às condições

do meio ambiente, principalmente por ter em sua composição grande quantidade de sílica. A

CA é considerada um subproduto da produção de arroz (BEHAK, 2007). Boateng e Skeete

(1990) apud Behak (2007) explicam que ela não pode ser utilizada como alimento animal. Já

Metha (1979) apud Behak (2007) dissertou que a CA não está apta como matéria prima para

manufatura de papel.

A CCA é o resíduo proveniente da queima da CA em fornalhas, a céu aberto ou em

fornos especiais à temperatura controlada. Essa queima geralmente acontece em empresas de

pequeno porte, que utilizam a CA para geração de calor e de vapor necessários para os processos

de secagem e parboilização dos grãos (fervura parcial dos grãos), substituindo a lenha

(MILANI, 2008). As cinzas provenientes desses processos possuem altos valores de sílica

amorfa, em torno de 85 a 90% (NK ENTERPRISES, 2008).

Outra forma de se obter a CCA é através do processo de geração de outras formas de

energia, como energia elétrica, em usinas termelétricas, ou de processos de calcinação para

obtenção de sílica com alto teor de pureza (SANTOS, 2006).

Pouey (2006) explica sobra a variação da cor da cinza. As mudanças da cor estão

relacionadas à presença de impurezas, ao processo de combustão e às modificações estruturais

ocorridas no material, causadas pela oscilação da temperatura de queima. Quanto mais escura,

maior o teor de carbono, indicando a presença de matéria orgânica não queimada. Já a cor

branca, indica a completa oxidação do material. Na Figura 6 são mostradas as variações de

cores das cinzas.

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Figura 6 - Coloração da CCA

Fonte: Pouey (2006, p. 144).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2016), o Brasil

produziu cerca de 12,3 milhões de toneladas de arroz em casca no ano de 2015. Segundo Milani

(2008), a CCA representa cerca de 4% do peso do arroz em casca. Logo, é possível estimar que

a atividade agroindustrial de beneficiamento de arroz, no Brasil, consegue gerar

aproximadamente 490 mil toneladas de cinzas por ano. Essa grande quantidade pode acarretar

impactos ambientais negativos, principalmente relacionados com a disposição final incorreta

no meio ambiente, depositando a CCA em terrenos baldios ou em cursos de água.

No entanto, a CCA pode ser reaproveitada na área da construção civil, ocorrendo o

reaproveitamento do resíduo. Milani (2008) cita exemplos da utilização da CCA na construção:

estabilização de solos e aterros sanitários; fabricação de vidros, isolantes térmicos, tijolos

prensados e materiais refratários; e produção de cimento pozolânico.

Boateng e Skeete (1990) apud Behak (2007) lembram que o tipo de cinza apropriada

para as reações pozolânicas é a amorfa, e não a cristalizada. A queima da CA realizada em uma

faixa de temperatura entre 550 a 700°C é geralmente determinada para produzir sílica amorfa

na cinza. Já as temperaturas que ultrapassam 900 °C produzem formas cristalinas indesejadas.

Contudo é importante salientar que CCA resultante depende além da temperatura, o tempo de

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incineração. Na Tabela 2 é demonstrado o efeito da temperatura nas propriedades da CCA,

segundo Metha (1977) apud Pouey (2006).

Tabela 2 - Efeito da temperatura nas propriedades da CCA

Fonte: Metha (1977) apud Pouey (2006, p.14).

2.3.4 Água

Para Ingles e Metcalf (1972) a utilização da água potável é considerada satisfatória para

a estabilização do solo, aproximando-se das condições encontradas em campo.

2.3.5 Comportamento da mistura

O solo estabilizado com pozolana constitui um novo material geotécnico artificialmente

cimentado. O comportamento mecânico deste novo composto difere das características do solo

natural (DALLA ROSA, 2009). Por isso é necessário compreender as interações que ocorrem

entre seus constituintes.

Nos próximos subitens serão abordados alguns tópicos sobre as alterações das

propriedades do solo com a adição de cimento e CCA, como também quais os efeitos do teor

de umidade, densidade e compactação. Esses são fatores de extrema importância para conhecer

o desempenho do solo estabilizado, pois influenciam diretamente no seu comportamento.

2.3.5.1 Efeito do cimento

O solo será mais resistente às intempéries quando ocorre a hidratação do cimento. A

adição de pequenos teores (a partir de 2%) já modificam as propriedades do solo, sendo que

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grandes quantidades alteram radicalmente suas propriedades, mostrando que o efeito causado

no solo depende diretamente da quantidade de cimento adicionada. Com o acréscimo de

cimento ocorrem as seguintes mudanças: aumento da capacidade de carga; aumento da

durabilidade a ciclos de molhagem e secagem; aumento da permeabilidade em solos argilosos,

mas geralmente a diminuição nos outros solos; aumento da tendência à retração em solos

granulares; e a diminuição da tendência à expansão de solos argilosos (INGLES E METCALF,

1972).

Foppa (2005) concluiu, analisando as variáveis-chave no controle da resistência

mecânica de solos cimentados, que na adição de pequenas quantidades de cimento (utilizadas

na pesquisa de 1 a 7%) ocorre um aumento na resistência mecânica do solo. Esse aumento foi

observado na resistência à compressão simples (qu) de forma linear com o aumento do teor de

cimento. A taxa de aumento da resistência foi proporcional ao aumento do peso específico

aparente seco (γd) do solo-cimento compactado, mostrando que a eficiência da cimentação é

maior nas misturas mais compactas. Lopes Junior (2007) comprovou os mesmos

comportamentos em seu estudo. Esse comportamento pode ser visualizado na Figura 7.

Figura 7 - Variação da resistência à compressão simples ao teor de cimento

Fonte: Foppa (2005, p. 82).

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Catton (1962) apud Vitali (2008) verificou que com o aumento do teor de cimento

também ocorre um acréscimo nas dimensões das partículas, redução do índice de plasticidade

e perda da capacidade de retenção de água.

2.3.5.2 Efeito da cinza de casca de arroz

A adição de CCA com cal ou cimento, em solos arenosos ou areno-siltosos altera suas

propriedades físicas e mecânicas, proporcionando melhorias na plasticidade, resistência,

tensão-deformação e durabilidade (BEHAK, 2007).

Basha et al. (2005) estudaram a estabilização de solo com cimento e CCA através dos

ensaios de compactação e compressão simples em um solo arenoso-siltoso. Os autores notaram

que houve um aumento no teor de umidade ótima (ωót) e um decréscimo no peso específico

aparente seco máximo (γdmáx) quando adicionados gradativamente teores de cimento e CCA

(Figura 8). No ensaio de compressão aos 7 dias, percebeu-se que a CCA, quando utilizada

individualmente para estabilizar um solo, não possui propriedades cimentantes e precisa da

adição de cimento para ocorrer a estabilização.

Figura 8 - Relação da umidade ótima e massa específica aparente seca com a quantidade de

aditivos

Fonte: adaptado de Basha et al. (2005, p. 451).

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Os autores concluíram com estes ensaios que a adição de 6% a 8% de cimento e 15% a

20% de CCA são ótimos teores para melhorar as propriedades mecânicas do solo e a cinza

apresentou-se como um potencial material para reduzir os custos das construções.

Como descrito anteriormente, a CCA é um material pozolânico artificial assim como a

cinza volante, dessa forma os dois materiais possuem propriedades semelhantes.

No estudo realizado por Dalla Rosa (2009) utilizando a mistura solo-cinza-cal foi feita

a variação do teor de cinza volante de 0, 12,5 e 25% para o tempo de cura de 90 dias, utilizando

o teor de umidade para todos os ensaios de 14%. Nas Figuras 9, 10 e 11 percebe-se que ocorreu

um aumento linear da resistência à compressão simples (qu) com o aumento do teor de cal.

Quando foi acrescido o teor de cinza volante, também ocorreu um aumento na magnitude da

resistência.

Figura 9 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cal com

0% de cinza volante

Fonte: Dalla Rosa (2009, p. 80).

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Figura 10 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cal com

12,5% de cinza volante

Fonte: Dalla Rosa (2009, p. 84).

Figura 11 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cal com

25% de cinza volante

Fonte: Dalla Rosa (2009, p. 89).

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Analisando os gráficos nota-se que a resistência à compressão simples sem teor de cinza

volante atinge a maior resistência no valor de aproximadamente 300 kPa, utilizando a maior γd

(Figura 9). Já com teor de 12,5% de cinza volante, com a menor γd atingiu-se uma resistência

superior a 600 kPa, comprovando o melhoramento que a cinza causa na mistura (Figura 10).

Comparando os dois teores de cinza volante utilizados no ensaio (12,5 e 25%), nas Figuras 10

e 11, percebe-se que o valor da resistência quase dobra com o dobro de teor de cinza volante,

principalmente nas curvas de maior γd.

Paula (2013) realizou ensaios para estabilizar o solo com adição de cimento, CCA e

microssílica e Bravo (2013) utilizou cal, CCA e microssílica. Os dois estudos utilizaram o teor

de material estabilizante de 100 e 200 kg/m³, com amostras contendo 100% aglomerante e 0%

pozolana, e amostras com 50% aglomerante e 50% pozolana. Paula (2013) observou que

utilizando 200 kg/m³ com CCA houve um aumento na resistência à tração, comparada às

misturas que possuíam a mesma quantidade de cimento. Já Bravo (2013) verificou que na

utilização de 100 kg/m³ de material estabilizante não ocorre ganho de resistência à tração com

a substituição de 50% de cal da mistura por microssílica ou CCA. A explicação adotada pela

autora seria que existe uma quantidade mínima de material estabilizante a ser adicionado na

mistura para estabilizar a quantidade de solo utilizada.

2.3.5.3 Efeito do teor de umidade

A água exerce um papel importante na mistura do solo com cimento e CCA, hidratando

o cimento, melhorando a trabalhabilidade e ajudando na compactação. A quantidade de água

influência diretamente na resistência da mistura (VITALI, 2008).

Lightsey et al. (1970) apud Foppa (2005) salientam que a demora na compactação muda

a relação entre umidade, resistência, densidade e durabilidade. Porém, a perda de resistência e

durabilidade pode ser minimizada, em muitos casos, com adição de uma porcentagem de água.

Através de ensaios de durabilidade e de compressão simples Felt (1955) apud Foppa

(2005) analisou o efeito da variação do teor de umidade sobre a resistência de solos arenosos,

argilosos e siltosos. As amostras de silte e argila compactadas, com teores de umidade abaixo

do teor ótimo de compactação, apresentaram grandes perdas de massa nos ensaios de

durabilidade. Já utilizando teores de umidade acima do teor ótimo de compactação, a perda de

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massa foi baixa e praticamente constante com o aumento do teor de umidade. As amostras dos

solos arenosos que perderam menor quantidade de massa foram àquelas submetidas ao teor de

umidade levemente inferior ao ótimo, nos testes de durabilidade. Nos ensaios de compressão

simples o teor de umidade que proporcionou a máxima resistência foi o levemente inferior ao

teor ótimo de compactação, exceto para o solo mais argiloso testado.

Mesclando os resultados obtidos nos ensaios de durabilidade e de compressão simples,

o autor concluiu que as misturas constituídas de cimento possuem maior efetividade quando

compactadas com o teor ótimo de umidade ou com teor um pouco inferior, no caso das areias.

Se tratando de siltes e argilas, a mistura deve ser compactada com um teor de umidade entre

1% a 2% superior ao teor ótimo determinado no ensaio de compactação. Dessa forma, pode-se

deduzir que o teor de umidade que proporciona máxima resistência e durabilidade não é

obrigatoriamente igual ao ωót encontrado no ensaio de compactação.

No estudo do efeito da variação de umidade na resistência à compressão uniaxial de

solos cimentados, Foppa (2005) verificou um aumento de resistência até um valor ótimo,

sofrendo decréscimo após este ponto. O autor também constatou que o teor em água ótimo não

se altera conforme a variação do teor de cimento. Na Figura 12 é possível observar a relação

entre a resistência à compressão uniaxial e o aumento do teor de água (ω).

Figura 12 - Relação entre a resistência à compressão uniaxial e o aumento do teor de água (ω)

Fonte: Foppa (2005, p. 86).

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2.3.5.4 Efeito da densidade e compactação

Segundo os autores Ingles e Metcalf (1972), quando ocorre um aumento na densidade,

a resistência também aumenta, por outro lado, a permeabilidade decresce até atingir um valor

mínimo próximo da ωót e depois começa a subir novamente.

Felt (1955) apud Foppa (2005) constatou através de ensaios de durabilidade em areias,

argilas e siltes, que com o aumento da densidade da mistura compactada ocorre uma grande

redução nas perdas de massa, principalmente nos solos argilosos e siltosos. O autor também

observou que com o aumento da densidade, a resistência à compressão simples também

aumentou, mantendo-se constante o teor de umidade. Percebeu-se que as misturas testadas

apresentaram características satisfatórias quando compactadas utilizando o ωót e γdmáx do ensaio

de compactação.

Em um dos trabalhos realizados por Clough et al. (1981) apud Foppa (2005) em misturas

de solo-cimento, com ensaios triaxiais em areias, foi possível notar um aumento nos parâmetros

responsáveis pela resistência ao cisalhamento do solo, a coesão e ângulo de atrito interno, com

o aumento da densidade relativa, mantendo-se constante a porcentagem de cimento.

Aumentou-se de 60% para 90% a densidade relativa, obtendo-se um acréscimo de

aproximadamente 25% na coesão e 40% no ângulo de atrito interno.

No estudo da mistura solo-cinza-cal de Dalla Rosa (2009) concluiu-se que a porosidade

afetou a resistência à compressão simples. Utilizando teores diferentes de cinza volante,

independente da quantidade de cal e o tempo de cura, constatou-se que com a redução da

porosidade do material houve ganhos de resistência. A resistência à compressão simples

aumentou de forma exponencial com a redução da porosidade da mistura compactada. Tanto

Foppa (2005), como Lopes Junior (2007) chegaram a esta mesma conclusão em seus ensaios.

Na Figura 13 é representada a variação da resistência à compressão simples (qu) em relação à

porosidade, utilizando teor de 12,5% de cinza, confirmando o aumento da resistência

independente dos teores de cal utilizados (3%, 5%, 7% e 9%).

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Figura 13 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade

Fonte: Dalla Rosa (2009, p. 85).

Através dos referenciais bibliográficos percebe-se que a estabilização de solos vem se

tornando uma alternativa para utilizar o solo com pouca resistência à compressão simples. A

falta de dosagem específica para misturas contendo cimento e outros aditivos fez crescer

estudos nessa área. Os trabalhos utilizados como embasamento demonstram que não apenas os

aditivos utilizados nas misturas, mas outros vários fatores são importantes para a obtenção do

aumento de resistência à compressão simples do solo, como o teor de umidade, a densidade e a

compactação, além das características próprias de cada solo.

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3 PROGRAMA EXPERIMENTAL

O programa experimental está dividido na descrição dos materiais que foram utilizados

no estudo bem como, na descrição dos ensaios de caracterização do solo e de medição da

resistência ao cisalhamento da mistura.

3.1 Materiais

3.1.1 Solo

O solo utilizado para o experimento foi retirado de uma jazida localizada nos fundos do

Prédio 17, do Centro Universitário UNIVATES, Bairro Universitário, município de

Lajeado/RS, coordenadas geográficas 29°44'80.22"S e 51°94'54.63"O. “É um solo residual de

basalto pertencente à Formação Serra Geral, em uma provável área de contato com o arenito da

Formação Botucatu” (CORTELETI, 2013). A escolha por este tipo de solo foi determinada por

ser predominante na região de estudo e estende-se por uma extensa área do Rio Grande do Sul.

3.1.2 Cimento

O cimento utilizado no experimento é o mesmo utilizado no Laboratório de Engenharia

Civil da UNIVATES, o cimento CP-IV, conforme Tabela 3.

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Tabela 3 - Cimento CP - IV

Parâmetros CP IV

Tempo de início de pega (horas) ≥ 1

MgO (%) ≤ 6,5

Perda ao fogo (%) ≤ 4,5

Resíduo insolúvel (%) -

SO3 (%) ≤ 4,0

Adições permitidas

Escória (%) 0

Fíler calcário (%) 0 a 5

Material pozolânico (%) 15 a 50

Fonte: Adaptado de Itambe (2016).

3.1.3 Cinza de casca de arroz

A CCA utilizada é da marca Pilecco que produz arroz e também a cinza. Suas

características estão apresentadas na Tabela 4. A queima da casca é realizada com temperatura

controlada de 500 °C. A cinza contém sílica amorfa e apresenta coloração cinza escura,

conforme Figura 14, o que indica que a presença de matéria orgânica não queimada,

demonstrando que sua produção não é tão efetiva, quanto deveria ser.

Tabela 4 - Composição cinza de casca de arroz

Fonte: Pilleco (2016).

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Figura 14 - Cinza de casca de arroz

Fonte: autora (2016).

3.1.4 Água

A água foi destilada para a realização dos ensaios, conforme especificado pelas normas.

3.2 Dosagem das misturas

No trabalho realizado por Dalla Rosa (2009) utilizando solo-cinza-cal, a autora cita a

Transportation Research Board (1976) para definir a dosagem da mistura que determina que o

teor de cal + cinza volante, a qual varia, geralmente, entre 12% a 30%. Os solos finos requerem

maiores percentagens de cal + cinza volante, e para os agregados bem graduados a faixa do teor

varia de 1% até 12%. Carraro (1997) apud Dalla Rosa (2009) encontrou como teor ótimo de

cinza em misturas solo-cinza-cal de 25% da massa de solo. Os teores utilizados por Dalla Rosa

(2009) foram de 0%, 12,5% e 25% de cinza volante. Paula (2013) utilizou como aditivo para

estabilizar o solo o cimento, a CCA e a microssílica e Bravo (2013) utilizou cal, CCA e

microssílica. As duas autoras utilizaram o teor de material estabilizante de 100 e 200 Kg/m³,

com amostras contendo 100% aglomerante e 0% pozolana, e amostras com 50% aglomerante

e 50% pozolana.

Sobre o teor de cimento, a NBR 12253 (ABNT, 2012) determina como critério de

aceitação uma resistência mínima de 2,1 MPa aos 7 dias de cura, descrevendo os procedimentos

que devem ser seguidos. Foppa (2005) utilizou teores de cimento entre 1% a 12% em seu estudo

com solo-cimento. Lopes Junior (2007) utilizou 3% a 11% de teor de cimento em seu trabalho

sobre solos tratados com cal, cimento e rocha basáltica.

Com base nesses trabalhos realizados nesta área de pesquisa, foram utilizados como teor

de CCA 0%, 12,5% e 25%. E para o cimento, teores de 0%, 7% e 11%.

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3.3 Métodos

Foram realizados ensaios de caracterização do solo e ensaio de resistência à compressão

simples para determinar as características do solo e da mistura. A seguir são descritos os

procedimentos realizados para execução de cada um deles.

3.3.1 Coleta do solo

O solo foi coletado através de escavações com o auxílio de ferramentas manuais na

quantidade suficiente para a realização de todos os ensaios. As quantidades de material das

amostras para a realização de cada ensaio foram preparadas de acordo com a NBR 6457

(ABNT, 2016).

3.3.2 Ensaio de granulometria

Este ensaio foi realizado para identificar o solo através de suas partículas e consistiu em

duas fases: o peneiramento e a sedimentação. No peneiramento, a amostra de solo passou por

várias peneiras, com diferentes diâmetros de abertura, sendo que a menor peneira utilizada foi

a de n° 200 (abertura de 0,075 mm). O peso do material que passou em cada peneira foi pesado

e considerado como a porcentagem passante e representado graficamente em função da abertura

da peneira, em escala logarítmica.

A fase de sedimentação determinou a distribuição granulométrica da porção mais fina

do solo, ou seja, com dimensões menores que 0,075 mm. A sedimentação foi realizada com

uma quantidade da amostra de solo passado na peneira de 2,0 mm. Essa amostra era transferida

para um béquer e adicionado um defloculante e feito a agitação do recipiente. Esse material

ficou em repouso por 12 horas, sendo posteriormente transferido para um copo dispersor que

ficou em ação por 15 minutos. Após, foi feita a transferência para uma proveta e completado

com água destilada até a marcação de 100 cm³. Esse material foi homogeneizado e iniciou-se o

processo de leitura do densímetro correspondente aos tempos de sedimentação de 0,5, 1, 2, 4.8,

15 e 30 minutos, 1, 2, 4, 8 e 24 horas, a contar do início da sedimentação.

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O ensaio foi executado de acordo com a NBR 7181 (ABNT, 1984). Após a obtenção

dos resultados do ensaio foi possível classificar o solo, conforme a escala granulométrica da

ABNT, representada na Tabela 5.

Tabela 5 - Escala granulométrica brasileira, segundo a NBR 6502.

Fonte: ABNT (1995).

3.3.3 Limites de consistência

Foram realizados ensaios de Limite de Liquidez (LL) e Limite de Plasticidade (LP) do

solo em estudo a fim de caracterizar a sua consistência.

O Limite de Liquidez foi determinado como o teor de umidade do solo necessário para

fechar uma ranhura nele feita em uma concha após 25 golpes, com o aparelho de Casagrande

(Figura 16). Como é difícil obter o teor de umidade para fechar a ranhura exatamente com 25

golpes foram feitas cinco repetições, alterando os teores de umidade e obtendo o número de

golpes entre 15 e 35 para fechar a ranhura. Com os resultados obtidos (número de golpes e suas

umidades correspondentes) foi realizada uma interpolação linear em que para 25 golpes

determinou-se o teor de umidade correspondente. O ensaio foi realizado conforme NBR 6459

(ABNT, 2016).

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Figura 15 - Aparelho Casagrande

Fonte: Kamacha (2016).

O Limite de Plasticidade é caracterizado como o menor teor de umidade em que se

consegue moldar um cilindro com 3 mm de diâmetro e cerca de 10 cm de comprimento rolando

com a mão (CAPUTO, 2008). O ensaio seguiu os procedimentos da NBR 7180 (ABNT, 2016).

O Índice de Plasticidade (IP) do solo foi determinado através da diferença entre os limites de

Liquidez e Plasticidade.

3.3.4 Ensaio de compactação

O ensaio de compactação, também conhecido como Ensaio normal de Proctor, foi

realizado utilizando a energia normal de compactação de acordo com a NBR 7182 (ABNT,

1986).

O procedimento de ensaio consistiu em compactar uma amostra dentro de um recipiente

cilíndrico (aproximadamente 1000 cm³), em três camadas sucessivas através de 26 golpes com

um soquete de 2,5 kg, caindo de uma altura de 30,5 cm. Foram executadas cinco repetições

para diferentes teores de umidade, determinando em cada uma delas, o peso específico aparente

seco. Com os dados atingidos foi possível desenhar a curva de compactação, obtendo no ponto

máximo da curva a umidade ótima e o peso específico aparente seco máximo do solo analisado,

parâmetros utilizados para determinação das quantidades de cada material para confecção dos

corpos de prova.

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3.3.5 Massa específica real dos grãos do solo

Para a realização deste ensaio foi utilizado como referência a norma o DNER – ME 093

(1994). O ensaio foi realizado duas vezes e foram utilizados picnômetro, amostra seca do solo

e água destilada. As amostras de solo foram emergidas em água destilada por 12 horas. Essas

amostras foram transferidas para um agitador mecânico, sofrendo a agitação por 15 minutos,

após sendo transferidas para o picnômetro, conectado a uma bomba de vácuo para a retirada

total de ar, por 15 minutos. Foi acrescentada água destilada ao picnômetro até a marca

estabelecida e submete-se a bomba de vácuo por mais 15 minutos, anotando a temperatura da

mistura ao final do ensaio. Foi feita a pesagem do conjunto picnômetro + água + solo, como

também do conjunto picnômetro + água. A obtenção da massa específica foi encontrada

utilizando esses resultados em uma equação, dada pela norma.

Este parâmetro foi utilizado para comparar a variação de resistência em relação ao

volume de vazios versus volume de CCA e volume de cimento e para a realização da curva

granulométrica.

3.3.6 Moldagem e cura dos corpos de prova

Para o ensaio de resistência à compressão simples foram moldados corpos de prova

cilíndricos de 5 cm de diâmetro e 10 cm de altura com auxílio de molde tripartido. A confecção

dos corpos de prova foi executada através dos procedimentos de pesagem, mistura,

compactação, desmoldagem, acondicionamento, armazenagem e cura.

Após a pesagem dos materiais (solo, cimento, CCA e água), a mistura foi realizada com

uma espátula metálica e depois adicionada água até a homogeneização, conforme Figuras 16 e

Figura 17.

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Figura 16 - Mistura dos materiais

Fonte: autora (2016).

Figura 17 - Mistura com a adição da água

Fonte: autora (2016).

A quantidade de solo, cimento e CCA constituem a massa seca total. Dessa forma, a

quantidade de cimento necessária para cada mistura foi calculada em relação à massa de solo e

CCA utilizada, sendo que a quantidade de água (teor de umidade) foi calculada em relação à

soma das massas de solo, CCA e de agente cimentante. A quantidade total da mistura permitiu

a moldagem de um corpo de prova e um remanescente para determinação do teor de umidade.

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Após a mistura dos materiais, a quantidade de solo-cimento-cinza de casca de arroz era

dividida em três partes iguais e armazenadas em recipientes com tampa para evitar a perda de

umidade, conforme mostra a Figura 18.

Figura 18 - Mistura dividida nos recipientes

Fonte: autora (2016).

Do remanescente da mistura, duas pequenas porções da mistura eram retiradas para

determinação do teor de umidade, sendo que a média dos dois teores medidos foi adotada como

o teor de umidade do corpo de prova.

Posteriormente, a mistura seguia para a compactação. A amostra era compactada em

três camadas no interior de um molde tripartido (Figura 19), devidamente lubrificado, de

maneira que cada camada atingisse o peso específico aparente seco definido, tomando-se o

cuidado de escarificar levemente os topos acabados da primeira e segunda camada para

aumentar a integração entre as faces das camadas. Essa compactação foi realizada com um

macaco hidráulico tipo garrafa, representado na Figura 20.

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50

Figura 19 - Molde tripartido

Fonte: autora (2016).

Figura 20 - Macaco hidráulico tipo garrafa

Fonte: autora (2016).

Depois do processo de moldagem, o corpo de prova era extraído do molde, sua massa e

dimensões medidas (diâmetro e altura), e acondicionado em um saco plástico identificado e

vedado para evitar variações significativas do teor de umidade, conforme Figura 21.

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Figura 21 - Corpo de prova identificado e vedado

Fonte: autora (2016).

Os corpos de prova foram armazenados e curados por um período de 7 dias, 14 dias e

28 dias, em um ambiente com temperatura e umidade controladas (temperatura de 23° ± 2°C e

umidade relativa do ar maior que 95%). Para este procedimento foi utilizada a câmara úmida

do LATEC (Laboratório de Tecnologias da Construção), do Centro Universitário Univates.

Eram considerados aptos os corpos de prova que atendiam as seguintes tolerâncias:

Peso específico aparente seco (γd): valor especificado (pela curva de

compactação do solo) ± 0,2 kN/m³;

Teor de umidade (ω): valor especificado (pela curva de compactação do solo) ±

0,5 pontos percentuais;

Dimensões: diâmetro 50 ± 0,5 mm e altura 100 ± 1 mm;

Foram moldados três corpos de prova para cada dosagem, obtendo-se assim, uma maior

confiabilidade dos resultados. A Figura 22 apresenta o aspecto de um corpo de prova

compatível com as características determinadas.

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Figura 22 - Corpo de prova de solo – cinza de casca de arroz – cimento

Fonte: autora (2016).

A relação entre os teores de cimento e cinza de casca de arroz, e o tempo de cura,

resultou em 27 combinações (3 x 3 x 3), conforme Figura 23, tendo por fim 81 corpos de prova,

Figura 23 - Combinações das amostras

Fonte: autora (2016).

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3.3.7 Ensaios de Compressão simples

Ensaios de compressão simples têm sido utilizados na maioria de programas

experimentais relatados na literatura quando se deseja verificar a efetividade da estabilização

de solos através da adição de agentes cimentantes e pozolânicos, ou acessar aspectos relativos

à importância de fatores influentes sobre a resistência de solos tratados.

De acordo com Dalla Rosa (2009) este ensaio vem sendo utilizado principalmente por

ser de rápida execução, baixo custo, confiável e muito difundido no meio técnico.

Para estes ensaios foi utilizada uma prensa de compressão simples (Figura 24), na forma

manual, com capacidade de carga máxima de 25 toneladas. A velocidade de deformação

utilizada para os ensaios foi de 1,14 mm por minuto.

Figura 24 - Ensaio de compressão simples

Fonte: autora (2016).

Os corpos de prova, após serem curados na câmara úmida seriam submersos em um

recipiente com água por um período de 4 horas, visando aproximar a condição de saturação.

Porém, quando realizado esse procedimento com um corpo de prova, este acabou se

desmanchando, demonstrado nas Figuras 25 e 26. Logo, os corpos de prova não foram

submetidos a este processo.

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Figura 25 - Corpo de prova submerso em água

Fonte: autora (2016).

Figura 26 - Corpo de prova dissolvido

Fonte: autora (2016).

Esse método foi utilizado nos trabalhos de Foppa (2005), Lopes Junior (2007), Dalla

Rosa (2009), Bravo (2013) e Paula (2013). Para a realização desse ensaio, foram seguidos os

procedimentos gerais da NBR 12025 (ABNT, 2012).

Como critério de aceitação para o ensaio de resistência à compressão simples, estipulou-

se que as resistências individuais de três corpos de prova não deveriam se afastar mais de 10%

da resistência média desse conjunto.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seguir serão apresentados os resultados dos ensaios de caracterização do solo e dos

ensaios de compressão simples realizados com os corpos de prova, como também discussões

desses resultados.

4.1 Ensaios de caracterização

A massa específica real dos grãos do solo obtida foi de 2,87 g/cm³. Esse parâmetro foi

utilizado para a construção da curva granulométrica e também para produzir os gráficos

relacionados com a porosidade, o efeito do teor volumétrico do cimento e da CCA em relação

a resistência à compressão simples.

Na Figura 27 está representada a curva granulométrica do solo utilizado nos ensaios. O

solo é composto por 18,93% de silte, 45,42% de areia fina, 35,65% de areia grossa.

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Figura 27 - Curva granulométrica

Fonte: autora (2016).

A Figura 28 apresenta o gráfico obtido no ensaio de Limite de Liquidez. É possível

observar que o teor de umidade para fechar a ranhura-padrão com 25 golpes é de 61%.

Figura 28 - Gráfico limite de liquidez

Fonte: autora (2016).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,01 0,1 1 10

Porc

enta

gem

Pass

an

te

Abertura da peneira (mm)

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Os valores obtidos através do ensaio de plasticidade estão apresentados na Tabela 6 a

seguir. O Limite de Plasticidade do solo em questão é de 53%.

Tabela 6 - Ensaio de plasticidade

Amostra 1 2 3 4 5 Média

Umidade (%) 51,70 50,35 52,49 54,76 53,24 52,5

Fonte: autora (2016).

Com os valores de LL e LP foi possível obter o IP, através da diferença entre esses

valores: 8%. Com base nos resultados do IP e da curva granulométrica, o solo utilizado na

pesquisa é classificado como uma areia média, segundo a NBR 6502 (ABNT, 1995) e como SP

(areia mal graduada) pelo Sistema de Classificação Unificado (ASTM D 2487, 1993).

A partir do ensaio de compactação de Proctor, realizado utilizando a Energia Normal,

foi possível obter a curva de compactação do solo, através da relação entre o teor de umidade e

o peso específico aparente seco das amostras. O ponto mais alto da curva definiu a umidade

ótima do solo sendo de 35,2% e o peso específico aparente seco máximo de 13,4 kN/m³,

conforme Figura 29. Essas informações foram utilizadas para determinar a quantidade de cada

material utilizado em cada uma das misturas.

Figura 29 - Curva de compactação

Fonte: autora (2016).

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58

4.2 Ensaios de resistência à compressão simples

A resistência obtida pelos corpos de prova que não possuiam nenhum aditivo, ou seja,

apenas solo, alcançaram 378 kPa em média, tanto para os tempos de cura de 7, 14 e 28 dias.

4.2.1 Relação entre aditivos e resistência

A Figura 30 representa o gráfico correspondente às amostras com 0% de CCA,

ensaiadas com 7, 14 e 28 dias, sendo a mistura formada apenas por solo, água e cimento.

Figura 30 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cimento

das amostras com 0% de CCA, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias

Fonte: autora (2016).

É possível perceber que mesmo aos 7 dias de cura, as amostras já tiveram um acréscimo

de resistência, em torno de 100 kPa, comparada com as amostras contendo apenas solo. Houve

uma maior amplitude entre os resultados contendo 7 e 11% de cimento no tempo de cura de 14

e 28 dias, onde a resistência quase dobrou, com o aumento do teor de cimento. Segundo Bastos

(2008), isso ocorre pela ótima interação entre o solo arenoso e o cimento.

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

5 6 7 8 9 10 11 12

qu

(K

Pa)

Teor de Cimento (%)

0% CCA (7 DIAS) qu= 36,372Ci + 337,67 (R² = 0,8056)

0% CCA (14 DIAS) qu= 68,104Ci + 308,49 (R² = 0,8343)

0% CCA (28 DIAS) qu= 82,533Ci + 310,52 (R² = 0,8872)

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59

A NBR 12253 (ABNT, 2012) determina como critério de aceitação uma resistência

mínima de 2,1 MPa (2.100 kPa) aos 7 dias de idade, que não acabou sendo alcançado utilizando

as dosagens adotadas no estudo.

A Figura 31 mostra o gráfico correspondente às amostras com 0% de cimento, ensaiadas

com 7, 14 e 28 dias, sendo a mistura formada apenas por solo, água e CCA.

Figura 31 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de CCA

das amostras com 0% de cimento, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias

Fonte: autora (2016).

As amostras contendo apenas a CCA reduziram sua resistência, aos 7 dias, comparada

com a resistência das amostras contendo apenas solo. Esse fator pode ter sido provocado pelas

primeiras interações entre o solo e a cinza. Esse mesmo comportamento foi verificado por Dalla

Rosa (2009), que explica que as reações pozolânicas que proporcionam ganhos efetivos de

resistência às misturas compactadas de solo e cinza são lentas, estendendo-se por anos e só se

iniciam certo tempo depois da compactação. Ao longo do tempo, 14 e 28 dias, essa resistência

aumentou, atingindo aos 28 dias, uma média de 502 kPa (acréscimo de 124 kPa) para teores de

12,5% de CCA. Nota-se que as amostras contendo maior quantidade de aditivo acabaram

reduzindo sua resistência à compressão simples, com isso é possível concluir que as reações

ocorridas entre a mistura não proporcionam aumentos na resistência.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26

qu

(K

Pa)

Teor de Cinza de Casca de Arroz (%)

12,5 E 25% CCA (7 DIAS) qu= 1,0784CCA + 261,43 (R²=0,0961)

12,5 E 25% CCA (14 DIAS) qu= -7,5821CCA +548,05 (R²=0,9722)

12,5 E 25% CCA (28 DIAS) qu= -8,1788CCA + 604,87 (R²= 0,9645)

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60

Outro fator que pode ter influenciado nos resultados é a presença de matéria orgânica

na CCA utilizada no estudo, que apresentava uma coloração escura. Pouey (2006) explica que

as mudanças da cor da CCA estão relacionadas à presença de impurezas, ao processo de

combustão e às modificações estruturais ocorridas no material, causadas pela oscilação da

temperatura de queima. Quanto mais escura, maior o teor de carbono, indicando a presença de

matéria orgânica não queimada.

A Figura 32 caracteriza o gráfico das amostras com 12,5% de CCA, com a adição de 0,

7 e 11% de cimento, nos tempos de cura de 7, 14 e 28 dias em relação à resistência à compressão

simples.

Figura 32 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cimento

das amostras com 12,5% de CCA, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias

Fonte: autora (2016).

Quando adicionado 7% de cimento, as amostras com tempo de cura de 7 dias obtiveram

um ganho na resistência. No entanto, as amostras com tempo de cura de 14 e 28 dias mantiveram

praticamente a mesma resistência quando comparados com os corpos de provas sem adição de

cimento. As amostras contendo 11% de cimento alcançaram valores mais significativos de

resistência, com uma média de 1153 kPa aos 28 dias. É possível notar que a adição somente da

cinza não seria suficiente para tornar o solo estabilizado, pois a variação da resistência

apresentada pelas amostras não é expressiva, demonstrando a importância de um agente

cimentante nas misturas. Basha et al. (2005) também constataram esse desempenho em seus

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

qu

(K

Pa)

Teor de Cimento (%)

12,5% CCA (7 DIAS) qu= 72,146Ci - 83,947 (R² = 0,9958)

12,5% CCA (14 DIAS) qu= 127,56Ci - 448,3 (R² = 0,985)

12,5% CCA (28 DIAS) qu= 162,27Ci - 631,33 (R² = 0,9977)

12,5% CCA (7, 14, 28 DIAS) -> 0%Cim

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61

experimentos, quando utilizada somente a cinza. Paula (2013) encontrou resultados que

também evidenciam que a CCA necessita de um agente cimentante para um melhor

desempenho. Em seu estudo, as misturas com 100 kg/m³ de material estabilizante não atingiram

a resistência à tração de 50 kN/m², definida como mínima em seu estudo.

A seguir, na Figura 33, está exibido o gráfico correspondente as amostras contendo 25%

de CCA e 0, 7 e 11% de cimento, nos tempos de cura de 7, 14 e 28 dias.

Figura 33 - Variação da resistência à compressão simples em relação à quantidade de cimento

das amostras com 25% de CCA, com tempos de cura de 7, 14 e 28 dias

As amostras contendo apenas 25% de CCA diminuíram sua resistência em relação à

resistência das amostras sem aditivos, sendo que o aumento da resistência ocorreu somente aos

28 dias, quando atingiu uma média de 400 kPa. Esse comportamento demonstra que o solo em

questão não possui boas interações com a CCA, ou como explicado anteriormente, pode conter

matéria orgânica, prejudicial a mistura. Com a adição de 7% de cimento, houve um aumento

pouco significativo nos valores de resistência, visto que as amostras mantiveram praticamente

a resistência na mesma faixa de valores, apresentando uma melhora na resistência apenas nas

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

qu

(K

Pa)

Teor de Cimento (%)

25% CCA (7 DIAS) qu= 47,893Ci + 48,119 (R² = 0,8449)

25% CCA (14 DIAS) qu= 67,074Ci - 32,526 (R² = 0,9844)

25% CCA (28 DIAS) qu= 73,703Ci - 2,2475 (R² = 0,9964)

25% CCA (7, 14 e 28 DIAS) -> 0%Cim

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62

amostras que continham 11% de cimento. A amplitude entre os tempos de cura foi pequena,

comparada com as amostras com 12,5% de CCA e 0% de CCA.

Com base nos resultados obtidos, foi possível verificar que as amostras que não

continham cinza e tinham 11% de cimento atingiram uma resistência, aos 28 dias, em torno de

1330 kPa. Já as amostras com 12,5% de CCA, obtiveram uma resistência aos 28 dias de 1150

kPa, enquanto que a maior resistência alcançada pelas amostras contendo 25% de CCA foi em

média de 800 kPa. Esses valores afirmam que o cimento é um bom agente cimentante,

constituindo um importante material para a estabilização do solo. Por outro lado, a CCA não

apresentou ser um material eficaz para a estabilização do solo em estudo, demonstrado através

dos menores valores de resistência atingidos pelas amostras. Esse comportamento pode ser

justificado pelo fato de as cinzas terem melhores reações químicas com as frações finas do solo

(reações pozolânicas), e como o solo em estudo possui poucos finos, a interação entre os

materiais não foi efetiva (BASTOS, 2008), ou a presença de matéria orgânica, explicada

anteriormente.

4.2.2 Relação entre vazios/cimento, vazios/CCA sobre a resistência à compressão

simples

A relação vazios/cimento está expressa em termos da porosidade (η) e do teor

volumétrico de cimento (Civ). O Civ foi calculado pelo volume de cimento dividido pelo

volume total do corpo de prova. Já a relação vazios/CCA está expressa em relação à CCA.

A Figura 34 mostra o gráfico do fator vazios/cimento em termos da porosidade e do teor

volumétrico de cimento versus a resistência à compressão simples para as amostras contendo

apenas como aditivo o cimento, nos tempos de cura de 7, 14 e 28 dias.

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63

Figura 34 - Relação vazios/cimento para amostras com cimento sobre a resistência à

compressão simples

Fonte: autora (2016).

Percebe-se uma tendência exponencial na relação vazios/cimento, de forma que com a

redução deste fator, houve um aumento na resistência da mistura em todos os tempos de cura.

Mostrando que com a redução dos vazios e o aumento do teor de cimento ocorre um acréscimo

de resistência.

Já a Figura 35 representa as amostras que continham apenas CCA como aditivo para os

tempos de cura de 7, 14 e 28 dias.

qu = 2325,3e-0,23n/Civ (R² = 0,9887)

qu = 4103,9e-0,28n/Civ (R² = 0,9952)

qu = 4592,5e-0,27n/Civ (R² = 0,9984)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

4,00 5,00 6,00 7,00 8,00

qu

(k

Pa)

n/Civ

7 e 11% cimento: 7 dias

7 e 11% cimento: 14 dias

7 e 11% cimento: 28 dias

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64

Figura 35 - Relação vazios/CCA para amostras com cinza de casca de arroz sobre a resistência

à compressão simples

Fonte: autora (2016).

Os resultados apresentados são inversos àqueles mostrados pela Figura 34. Porém esse

fenômeno ocorreu pelo solo do estudo não ter tido boa interação com a CCA, explicado nos

gráficos da relação de aditivos com a resistência. Dessa forma, o gráfico em questão demonstra

que com o aumento da relação vazios/CCA aumentar, aumentaria a resistência. Mas esse fato

ocorreu por nesses pontos haver maior quantidade deste aditivo, que acaba prejudicando a

resistência da mistura.

Nas Figuras 36 e 37 estão os gráficos que representam a relação vazios/cimento para as

amostras contendo cimento e 12,5% CCA, e cimento e 25% CCA, respectivamente.

qu = 307,23e-0,064n/CCAv (R² = 0,122)

qu = 273,33e0,2719n/CCAv (R² = 0,963)

qu = 304e0,2748n/CCAv (R² = 0,9704)

0

100

200

300

400

500

600

0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80 2,00

qu

(k

Pa)

n/CCAv

12,5 E 25% CCA: 7 dias

12,5 E 25% CCA: 14 dias

12,5 e 25% CCA: 28 dias

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65

Figura 36 - Relação vazios/cimento para amostras com 12,5% CCA sobre a resistência à

compressão simples

Fonte: autora (2016).

Figura 37 - Relação vazios/cimento para amostras com 25% CCA sobre a resistência à

compressão simples

Fonte: autora (2016).

Os gráficos também apresentam uma tendência exponencial, mais acentuada na Figura

36, que representa as misturas contendo cimento e 12,5% CCA. Esse fator pode ser explicado

pelo fato dessas misturas não terem sido tão prejudicadas, pois a quantidade de cinza utilizada

qu = 1097,2e-0,128n/Civ (R² = 0,4811)

qu = 3815,7e-0,274n/Civ (R² = 0,9942)

qu = 5473,2e-0,318n/Civ (R² = 0,995)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00

qu

(k

Pa)

n/Civ

7 e 11% cimento: 7 dias

7 e 11% cimento: 14 dias

7 e 11% cimento: 28 dias

qu = 1146,6e-0,136n/Civ (R² = 0,8378)

qu = 1783,9e-0,165n/Civ (R² = 0,9763)

qu = 1744,5e-0,147n/Civ (R² = 0,996)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

4,00 5,00 6,00 7,00 8,00 9,00

qu

(k

Pa)

n/Civ

7 e 11% cimento: 7 dias

7 e 11% cimento: 14 dias

7 e 11% cimento: 28 dias

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66

foi menor. Porém, nota-se que com o aumento do teor de cinza de 12,5% para 25%, a relação

de vazios/cimento se manteve com valores aproximados, fenômeno ocorrido também nas

amostras de Dalla Rosa (2009). Paula (2013) obteve em seus resultados gráficos um aumento

exponencial da resistência à tração das misturas com a diminuição da relação η/Civ. E se

comparada com a Figura 35, também não houve grandes modificações, demostrando que o

cimento possui grande influência nas misturas.

4.2.3 Efeito da porosidade sobre a resistência à compressão simples

As Figuras 38, 39 e 40 mostram a relação da porosidade (η) com a resistência à

compressão simples nos tempos de cura de 7, 14 e 28 dias. A Figura 38 representa apenas as

amostras contendo cimento, sem adição da cinza. Na Figura 39, estão as amostras contendo

apenas a CCA como aditivo. Já na Figura 40 estão as amostras que contêm tanto cimento como

CCA. Em todas essas figuras há um ponto que representa as amostras contendo apenas solo,

sendo um parâmetro para a análise das demais amostras.

Figura 38 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade das amostras

com 0% de cinza de casca de arroz

Fonte: autora (2016).

300,00

500,00

700,00

900,00

1.100,00

1.300,00

1.500,00

23 23,4 23,8 24,2 24,6 25

qu

(k

Pa)

ƞ (%)

Cimento: 0,0%, CCA:0,0%

Cimento: 7,0%, CCA: 0,0%

Cimento: 11,0% , CCA: 0,0%

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67

Figura 39 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade das amostras

com 0% cimento e 12,5, 25% de cinza de casca de arroz

Fonte: autora (2016).

Figura 40 - Variação da resistência à compressão simples em relação à porosidade das amostras

com 7, 11% cimento e 12,5, 25% de cinza de casca de arroz

Fonte: autora (2016).

Nota-se que a porosidade influenciou na resistência à compressão simples das amostras.

Com a diminuição da porosidade houve aumento na resistência, conforme as Figuras 38 e 40.

Verificou-se que a resistência à compressão simples aumentou exponencialmente com a

redução da porosidade da mistura compactada. O efeito benéfico em termos de aumento de

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

21 21,5 22 22,5 23 23,5 24 24,5 25

qu

(k

Pa)

ƞ (%)

Cimento: 0,0%, CCA:0,0%

Cimento: 0%, CCA: 12,5%

Cimento: 0%, CCA: 25%

300,00

400,00

500,00

600,00

700,00

800,00

900,00

1.000,00

1.100,00

1.200,00

1.300,00

20 21 22 23 24 25 26

qu

(k

Pa)

ƞ (%)

Cimento: 0,0%, CCA:0,0%

Cimento: 7,0%, CCA: 12,5%

Cimento: 7,0%, CCA: 25,0%

Cimento: 11,0%, CCA: 12,5%

Cimento: 11,0%, CCA: 25,0%

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68

resistência com a diminuição da porosidade foi observada também por Foppa (2005), Lopes

Junior (2007) e Dalla Rosa (2009).

Conforme Lopes Junior (2007), o efeito do ganho de resistência à compressão simples

com a redução na porosidade é atribuído à existência de um maior número de contatos entre as

partículas existentes, tornando a cimentação mais efetiva.

Na Figura 39 ocorreu o inverso, esse fator está relacionado pelo fato de que as amostras

que possuíam como aditivo apenas a CCA reduziram sua resistência com o aumento do teor de

cinza, como já apontado anteriormente.

Nas próximas Figuras (41, 42, 43 e 44) estão caracterizadas o efeito do teor volumétrico

de cimento (Civ) sobre a resistência à compressão simples, das amostras contendo apenas

cimento, das amostras com 7, 11% cimento e 12,5% CCA, e das amostras com 7 e 11% cimento

e 25 % CCA. E também a figura que representa o efeito do teor volumétrico de cinza de casca

de arroz (CCAv).

Figura 41 - Efeito do teor volumétrico de cimento (Civ) sobre a resistência à compressão

simples das amostras com 0% de cinza de casca de arroz

Fonte: autora (2016).

Comparando a Figura 38 e a 41, verifica-se que as análises feitas considerando o teor

de cimento dosado em relação à massa de solo seco permanecem válidas quando considerados

o teor de cimento volumétrico, ou seja, a resistência à compressão simples cresce linearmente

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 5,50

qu

(k

Pa)

Civ (%)

7 e 11% cimento: 7 dias qu= 182,68Civ -153,77 (R²=0,9886)

7 e 11% cimento: 14 dias qu=336,85Civ -580,04 (R²=0,9978)

7 e 11% cimento: 28 dias qu= 358,02Civ -549,77 (R²)=0,9972

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69

com o aumento do teor de cimento. Foppa (2005), Lopes Junior (2007) e Dalla Rosa (2009)

também obtiveram esses resultados em suas dissertações de mestrado.

Figura 42 - Efeito do teor volumétrico de cinza de casca de arroz (CCAv) sobre a resistência

à compressão simples das amostras com 0% de cimento

Fonte: autora (2016).

Conforme os resultados apresentados na Figura 39, a Figura 42 também demonstra um

comportamento contrário em relação às amostras contendo cimento. Como já explicado ao

longo dos resultados, esse fator se deve pela interação não muito efetiva entre esse aditivo e o

solo em questão.

0

100

200

300

400

500

600

11,00 12,50 14,00 15,50 17,00 18,50 20,00 21,50 23,00

qu

(k

Pa

)

CCAv (%)

12,5 E 25% CCA: 7 dias qu=1,329CCAv + 258,22 (R²=0,0907)

12,5 e 25% CCA: 14 dias qu=-9,4321CCAv + 574,2 (R²=0,9738)

12,5 e 25% CCA: 28 dias qu=-10,246CCAv + 632,24 (R²=0,9614)

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70

Figura 43 - Efeito do teor volumétrico de cimento (Civ) sobre a resistência à compressão

simples das amostras com 12,5% de cinza de casca de arroz

Fonte: autora (2016).

Figura 44 - Efeito do teor volumétrico de cimento (Civ) sobre a resistência à compressão

simples das amostras com 25% de cinza de casca de arroz

Fonte: autora (2016).

As Figuras 43 e 44, que representam o teor volumétrico de cimento das amostras

contendo CCA também se observa um crescimento linear da resistência à compressão simples.

É possível perceber que a mistura dos dois aditivos se comporta com a mistura de solo com

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

3,00 3,50 4,00 4,50 5,00

qu

(k

Pa

)

Civ (%)

7 e 11% cimento: 7 dias qu=187,34Civ -155,43 (R²=0,9933)

7 e 11% cimento: 14 dias qu=320,28Civ -564,16 (R²=0,985)

7 e 11% cimento: 28 dias qu=411,56Civ - 761,3 (R²=0,9983)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

2,50 3,00 3,50 4,00 4,50

qu

(k

Pa)

Civ (%)

7 E 11% cimento : 7 dias qu=131,42Civ + 21,692 (R²=0,856)

7 e 11% cimento: 14 dias qu=181,76Civ - 77,431 (R²=0,9844)

7 e 11% cimento: 28 dias qu=207,03Civ - 61,781 (R²=0,9945)

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cimento, comprovando que o cimento tem alta influência nas misturas e é essencial para a

estabilização do solo, como um agente cimentante.

Não ocorreram grandes mudanças nos resultados do efeito do teor volumétrico de

cimento, das amostras com 12,5% CCA com as de 25% CCA. Apenas houve uma redução do

teor para as amostras com 7% de cimento, que ficaram com uma média de 2,75% de Civ,

quando adicionado 25% de cinza. E as amostras com 12,5 % de cinza com 3,10%.

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5 CONCLUSÃO

Os estudos realizados na área de estabilização de solos serviram de base para estabelecer

dosagens para as misturas de solo-cimento-cinza de casca de arroz, pois ainda não existe

dosagem específica para este tipo de mistura. Logo, foi necessário estimar teores de cimento e

CCA que pudessem resultar em uma resistência satisfatória. Contudo, há uma grande variedade

de solos existentes, fazendo com que os resultados apresentados no referencial bibliográfico

não necessariamente se repetiriam neste trabalho. Assim, este estudo buscou de fato identificar

quais as mudanças que seriam alteradas com a adição de cimento e CCA.

Através dos ensaios realizados em laboratório foi possível obter dados para analisar o

comportamento da mistura em relação à resistência à compressão simples. Pode-se perceber

que o cimento realmente é um ótimo agente cimentante, comportamento este, verificado em

vários trabalhos utilizados como bibliografia. Porém, a resistência alcançada utilizando 11%

deste aditivo não atingiu o estabelecido pela NBR 12253 (2012) para solo-cimento utilizado

para a pavimentação. Portanto, seria necessário adicionar uma maior porcentagem de aditivo,

caso o solo fosse utilizado para esta funcionalidade.

Nas amostras que continham apenas CCA, não houve um aumento muito expressivo na

resistência à compressão simples, aliás, nos primeiros dias de cura, a resistência diminuiu se

comparada com a resistência das amostras contendo apenas solo. Esse fenômeno pode ter

ocorrido devido às baixas interações das partículas do solo e da CCA, constatado também em

outras pesquisas. Com isso percebeu-se que a adição somente da cinza não seria suficiente para

tornar o solo estabilizado, demonstrando a importância de um agente cimentante nas misturas.

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As amostras de solo-cimento-cinza de casca de arroz obtiveram valores menores de

resistência se comparadas com as amostras contendo apenas cimento. Esse comportamento

pode ser justificado pelo fato de as cinzas terem reações químicas com as frações finas do solo

(reações pozolânicas), e como o solo em estudo possui poucos finos, a interação entre os

materiais não foi efetiva. Tal fato foi verificado em trabalhos onde foram utilizados solos com

maiores teores de frações finas e obtiveram como resultado uma resistência mais satisfatória.

Sobre os parâmetros de vazios/aditivos e porosidade conclui-se que com a diminuição

desses fatores ocorre um aumento da resistência à compressão simples da mistura. Esse

comportamento também foi verificado em outras pesquisas que foram utilizadas como base no

desenvolvimento deste trabalho. Definindo que esses fatores não estão ligados com o tipo de

solo, mas com a quantidade de material utilizado.

Além disso, o teor volumétrico de cimento e CCA possui relação com a porosidade,

mostrando que com o aumento do teor volumétrico, ocorre uma diminuição na porosidade, e

consequentemente, um acréscimo na resistência da mistura.

Através deste estudo foi possível avaliar que para a estabilização do solo utilizando

aditivos é necessária a realização de vários ensaios em laboratório e de uma análise rigorosa de

seus resultados, pois como verificado, o solo utilizado possui grande influência no

comportamento da mistura. Neste contexto, a CCA não apresentou ser um material eficiente

para o solo em estudo, em contrapartida a outros estudos em que sua eficácia como estabilizante

foi evidenciada.

Portanto, é de grande importância a realização de estudos nessa área, a fim de obter mais

dados sobre quais aditivos são indicados para cada tipo de solo. Além disso, a utilização de

materiais considerados resíduos torna a estabilização sustentável, algo imprescindível nos dias

de hoje.

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