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ESTATUTO EDITORIAL · curso. O orçamento acabou por so-brar, e o número de inscrições no site da empresa aumentou. A participação no concurso demonstrou que os alu-nos da ESCS

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Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

5 PararParaPensarL. M. Vicente Ferreira

6 RondadasEscolas

8 OAcontecimentoNovaEscoladeMúsicajáfunciona

Paulo Silveiro

14 EmFocoISELprojectacarroecológico

Clara Santos Silva

22 AGrandeEntrevistaAlmeidaCosta,curadordaavaliação

Clara Santos Silva

28 ReportagemEstudantesdecinemaemRibadeo

Carlos Natálio

30 HistóriasdeSucessoA«Curva»fazsensaçãonoYoutube

Paulo Silveiro

35 DestaquePresidênciadoIPLcompletaNelsonÉvoraregressaàESCS

36 ProfissãoAméliaBentes,bailarina

Clara Santos Silva

40 EmpreendorismoIPLapostanainovação

Margarida Jorge

46 AProtagonistaIsabelAlçada,comissáriadaleitura

Vanessa de Sousa Glória

56 MalaDiplomáticaAinternacionalizaçãodaESELx

Carla Ruivo

62 Estante

66 TribunaLivreDavid Antunes

8AEscolaSuperiordeMúsicadeLisboajáestáafuncionarnassuasnovasinstalaçõesnocampusdeBenficadoInstitutoPolitécnicodeLisboa.OPlanetaMúsicavaiestarabertoàcomunidadeenvolvente.APolitecniafoi ver e dáa conhecer, nestaedição, o quedescobriu.OespectáculocomeçamesmoantesdoespectáculonaquelaqueseráanovasaladeconcertosdeLisboa.

14 Professorese alunos do InstitutoSuperior de Engenhariade Lisboa unem-se noprojectodeconstruçãodoNónio, o carro ecológicoque deixa antever umfuturo menos poluído.

22«Com o Processo de Bolonha foi oensinouniversitárioqueseaproximoudoensinopolitécnicoenãoo inverso».AafirmaçãoédoprofessorAntóniodeAlmeidaCosta,curadordaAgênciadeAvaliaçãoeAcreditaçãodoEnsinoSuperior,queementrevistaàPolitecniafaladosproblemasedesafiosquesecolocamaoensinosuperioremPortugal. 46 Isabel Alçada, professora da

EscolaSuperiordeEducaçãodeLisboa,eescritoradesucesso,éaprotagonistadesta edição. Nomeada pelo governocomissáriadoPlanoNacionaldaLeitura,propõe-se a fazer crescer entre osportuguesesapaixãopeloslivros.

Sumário

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Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

ESTATUTO EDITORIAL

1. A revista Politecnia é uma publicação trimestral, editada pelo Instituto Politécnico de Lisboa, que assegura e disponibiliza informação de referência sobre a vida do IPL e a actividade das oito escolas que o integram;

2. A Politecnia respeita a Constituição da República e as leis que se enquadram nos direitos, obrigações e deveres da Imprensa, tendo em conta o Código Deontológico dos jornalistas. E compromete ‑se a respeitar os direitos e deveres inerentes à liberdade de expressão e ao direito a ser informado, observados que sejam os princípios consignados neste Estatuto Editorial;

3. A Politecnia rege ‑se por critérios de rigor e honestidade, sem dependências de ordem ideológica, política ou económica, no respeito integral pelos Estatutos e a Lei Orgânica do IPL;

4. A Politecnia elege como público de referência as instituições (económicas, políticas e sociais) da sociedade civil e o corpo docente das oito escolas do IPL, e os alunos, pais e educadores em geral;

5. A Politecnia quer contribuir para a unidade do IPL e a afirmação da sua cultura própria, em prol do desenvolvimento em Portugal de um Ensino Superior de qualidade, apostado na qualificação profissional dos alunos;

6. A Politecnia diferencia os artigos de conteúdo opinativo dos artigos informativos e reserva ‑se o direito de interpretar e comentar, nos seus espaços de opinião, os factos e acontecimentos de âmbito educativo que se relacionem com a sua actividade;

7. A Politecnia está aberta à colaboração de todos os docentes do Instituto Politécnico de Lisboa que tenham contributos, no domínio da Educação, importantes que queiram partilhar;

8. A Direcção da Politecnia reserva ‑se o direito de não publicar a colaboração não solicitada, que considere não ter a qualidade pretendida;

9. A responsabilidade dos textos publicados é inteiramente assumida pelos seus autores;

10. A Politecnia participa no debate dos grandes temas da actualidade educativa, relacionados com o Ensino Superior, tendo em vista a discussão de questões de interesse para o IPL e a troca de ideias entre aqueles que se preocupam e dedicam ao seu desenvolvimento e prestígio.

AnoVIINúmero19Outubro2008

DirectorL.M.VicenteFerreira

EditorOrlandoRaimundo

RedactoresBárbaraGabriel,ClaraSantosSilva,JorgeSilva,MargaridaJorge,PauloSilveiro,eVanessadeSousaGlória

FotografiaCarlosMatos/COP(ComitéOlímpicoPortuguês),CatarinaBarata,Cem,BrunaViegas,EditorialCaminho,HugoCosta,JoséAlexandre,PedroPinaeSofiaGomes

CorrespondentesAnaRaposoeClaúdiaGuerreiro(TecnologiadaSaúde),JoãoCosta(Dança),LucyWainewright(Educação),LuísaMarqueseMargaridaSaraiva(TeatroeCinema),MariaJoãoBerkeleyCotter(ContabilidadeeAdministração),MariaJoãoGonçalves(TecnologiadaSaúde)ePedroAzevedo(TeatroeCinema)

ColaboradoresPermanentesAntónioSerrador,LuísOsório,LuísaMarques,ManuelEsturrenho,PauloMorais--AlexandreeSérgioAzevedo

ColaboradoresCarlaRuivoeCarlosNatálio

ColunistaDavidAntunes

GrafismoePaginaçãoOrlandoRaimundo(coordenador),ClaraSantosSilva,PauloSilveiroeVanessadeSousaGlória

PropriedadeInstitutoPolitécnicodeLisboaEstradadeBenfica,5291549-020LisboaTelefone:217101200Fax:217101236e-mail:[email protected]:www.ipl.pt

Redacção,Admin.ePublicidadeEstradadeBenfican.º5291549-020Lisboa

ImpressãoTipografiaPeres,RuadasFontaínhas,Lote2VendaNova2700-321AmadoraDepósitoLegal-158054/2000ISSN-1645-006xTiragem:4000exemplares

Capa:VanessadeSousaGlória(fotoearranjográfico)

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Parar para Pensar

5Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Parar para Pensar

5

NA CAPTAÇÃO de alunos doconcurso nacional de acessoao ensino superior deste ano oInstituto Politécnico de Lisboaclassificou-se no terceiro lugardo ranking,aUniversidadeTéc-nicadeLisboanosegundolugare a Universidade do Porto noprimeiro lugar.Estasubidaparao InstitutoPolitécnicodeLisboaé muito significativa sobretudosetivermosematençãoqueem2007 ocupámos a 10.ª posiçãodorankingnacional.

Este lugar que, apesar detudo, é penalizado pela nossaofertadeformaçãoempós-labo-ral,aocontráriodosnossospar-ceiros de pódio, é uma classifi-caçãoquenãonossurpreende,face à estratégia de desenvol-vimento adoptada pelas esco-las do Instituto Politécnico deLisboa, que têm apostado numensino de grande qualidade enumaformaçãodealtonível,vo-cacionados para a empregabili-dadeeparaasprofissões.

De facto,oprocessode recon-versão à designada Declaraçãode Bolonha, que contou com umenormeempenhodasescolasedosseusprofissionaisdesdeoprimeiromomento, centrou-se na oferta decursosdebandalargamuitoorien-tados para as formações conven-cionais nas áreas das Artes Per-formativas, Comunicação Social,ContabilidadeeGestão,Educação,EngenhariaeTecnologiasdaSaúdecom uma oferta que totaliza 42 li-cenciaturase26mestrados.

Isto justificará a demandacrescente do número de candi-datosquenosúltimostrêsanostêm procurado o Instituto Poli-

técnico de Lisboa: 9.566 em2006,11.896em2007e13.854em2008,umcrescimento regu-larque,emtermosdenúmerodeentrada de alunos, representoueste ano um aumento de mais13%, um pouco mais do dobrodos 6% de crescimento médiodo ensino politécnico, podendojájustificarumpotencialaumen-to de vagas para responder aoelevadonúmerodesolicitações,

uma vez que as 2.268 vagasdeste ano apenas satisfizeramcercade16,5%daprocura.

Contudo, o aumento donúmero de alunos não tem tidoa respectiva correspondênciaem termosde financiamentodoOrçamentodeEstado.Efectiva-mente,oquetemostidonosúl-timos trêsanoséumasuborça-mentação sistematizada, sendohojeovalororçamentadodeO.E.paraoInstitutoPolitécnicodeLisboaparaoexercíciode2009inferioraovalorde2006emcer-cade-3%.

Se considerarmos o aumentodesde então dos custos suporta-dospelasinstituiçõescomaCaixaGeral de Aposentações (11%),IVAeaumentodamassasalarial,paracitarapenasalguns,verificar-se-áqueoexercícioquefazemosé o de uma gestão muito aper-tada cobrindo com dificuldade asdespesas de funcionamento, nãohavendo,porisso,recursosfinan-ceiros disponíveis para despesasdecapitalououtrasqueapostemclaramente num ensino superiordequalidade.

Esteestrangulamentodefinan-ciamentodeOrçamentodeEsta-dopoderá levar a curto prazoe,de forma forçada,àmudançadeparadigma do ensino politécnicodebaseessencialmentelaborato-rialeexperimental,comelevadoscustos, para umabase de acen-tuadaorientaçãoteóricaquepos-sibiliteareduçãodecustos.Estaopçãopolíticagovernamentalé,anossover,erradaeiránumfuturopróximo terconsequênciasmuitopenalizadoras para o ensino su-periorportuguês.

IPLconquista3.ºlugarnorankingnacional

L.M.VicenteFerreira

O aumento do número de alunos não tem tido a respectiva

correspondência em termos de financiamento do Orçamento de Estado

O que temos tido nos últimos três anos é

uma suborçamentação sistematizada

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Parar para Pensar

6 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Ronda das Escolas

EstudantesdaComunicaçãoSocialbrilhamnoGoogleMarketingChallenge

UMAEQUIPAdaEscolaSuperiordeComunicação Social, constituída porquatro alunos finalistas do curso dePublicidade e Marketing, alcançouas semi-finais da 1ª edição doGoo-gleOnlineMarketingChallenge.Esteconcurso,destinadoaestudantesuni-versitários de todo omundo, contoucomaparticipaçãode1.650equipasoriundasde47países.OsestudantesdaESCSintegraramogrupodos150melhoreseforamaequipaportugue-samaisbemclassificada,oqueespe-lhaobomtrabalhoquerealizaram.

Ana Teresa Silvestre, Joana Mou-rato, RamiroGonçalves eMário Silvaforam os alunos da Escola SuperiordeComunicaçãoSocialquefizeramobrilharete ao atingirem as semi-finaisdo concurso organizado pelo conhe-cidomotordebusca.A ideiapartiudaprofessoraresponsávelpelacadeiradeMarketingDigital,AnaTeresaMachado,queaoterconhecimentodoconcurso,atravésdeumaex-alunadaescolaquetrabalha no Google, decidiu integrá-lona disciplina. O objectivo era permitiraos alunos trabalharem em situaçõesreais, utilizando ferramentas inovado-ras como o AdWords. Toda a turmaparticipou no projecto, mas foram osalunosreferenciadosqueobtiveramosmelhoresresultados.Odesafioconsis-tiaemdesenvolverumacampanhade

marketingonline,paraumaempresaportuguesacomsite,gerindoumorça-mentode200dólares.AUniqueStyle,agênciademodelosedetalentos,foiaempresaescolhidapelaequipaque,durantetrêssemanas,trabalhouardu-amentenadelineaçãodeumaestraté-giaqueaumentasseanotoriedadedositedaempresa.Asprincipaisdificul-dadessentidaspelosalunos foramaaprendizagemdoprogramaAdWordse a escolha de palavras-chavemaisapropriadasaonegóciodaagênciademodelos.O trabalhoemequipaeos

Competiçãoanívelmundial

conhecimentosadquiridosnaescola,permitiram ultrapassar os problemaseconcluirodesafio.

Aeficáciadacampanhafoiconsi-derada«excelente»pelo júridocon-curso. O orçamento acabou por so-brar,eonúmerodeinscriçõesnositedaempresaaumentou.Aparticipaçãonoconcursodemonstrouqueosalu-nosdaESCSpodemsercompetitivosnomercadode trabalho.Eamelhorprovadissoéo factodeumdeles jáestaratrabalharemmarketingdigitalnumaempresaprivada.

O GOOGLE Online MarketingChallenge foi uma competição anívelmundialdemarketingonline,desenvolvida por professores dediferentes países em colaboraçãocom o Google. A competição de-correuentreFevereiroeJunhode2008efoiabertaàsinstituiçõesdeensinosuperiordetodosospaísesdomundo.

Osalunostrabalharamcomem-presas locais, na concepção cam-panhas eficazes demarketing. De-linearam estratégias, executaram

OsestudantesAnaTeresa,MárioSilvaeJoanaMourato,semi-finalistasdoconcurso

campanhaseavaliaramresultados,aconselhandoasempresasnode-senvolvimentodascampanhas.

Estacompetiçãofoiumagran-de oportunidade para os estu-dantesadquiriremexperiênciademarketing do mundo real online,para além do desafio de compe-tirem com outros estudantes detodo o mundo. Para o ano estáprevistaa2ªediçãodoconcurso,sendocertoqueaEscolaSuperiordeComunicaçãoSocial voltaráamarcarpresença.

FotodePedroPina

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Parar para Pensar

7Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Ronda das Escolas

OINSTITUTOSuperiordeEngenha-ria de Lisboa há muito que tinha aambição de voos mais altos, nome-adamente a de procurar no campointernacional mais conhecimento emeiosparadesenvolveroquedeme-lhor sabe fazer: ensinar engenharia.Em2006,algumasdasmetasaquesepropôsforamatingidas,passandoapertenceraduasgrandessociedadesde conhecimento–umanocontextoeuropeu,outranocontextoglobal.Osefeitosjásefazemsentir.

Actualmente,aofalar-sedeinstitui-çõesdeensinodereferêncianoensinodaengenharia,fala-seobrigatoriamen-tedoInstitutoSuperiordeEngenhariade Lisboa. Após um percurso difícil,mas muito estudado, foi possível àescola,emfinaisde2006,integrarso-ciedadesinternacionaisdeengenhariaqueacolocamnumaposiçãoderelevonorankingnacionaleinternacional.

AAssociação Ibero-Americana deInstituições deEnsino deEngenharia(ASIBEI) serviu de rampa de lança-mentoparavoosmaisaltosdo ISEL.Através desta associação, da qual oInstitutojáfaziaparte,surgiuoproces-sodeformaçãodeumarededeenge-nhariamaisampla.FoiemOutubrode2006noRiodeJaneiro.Numencontrodosmembros destaAssociação, sur-giuaassembleiafundadoradaIFEES(International Federation of Enginee-ring Education Societies). Os objecti-

OINSTITUTOéhojeconhecidoemváriasredeserespeitadocomoinsti-tuiçãodequalidade.Asvantagensjásefizeramsentir, principalmentenocampodosprojectos internacionais.Alguns já foramaceiteseestãoemcurso. E existe a possibilidade decanalizarmaisrecursos,querfinan-ceiros,querdepessoas.

NestemomentooISELjárecebealunos de vários países, com des-taque para a Lituânia, e até 2009,ultrapassadaqueestejaapolémicagerada em torno da assinatura deumprotocolocomumaUniversidade

ISELnaredeglobaldeengenharia

vosqueestãonabasedosurgimentode uma nova organização, passampelanecessidadededar lugaraumaglobalizaçãodeconhecimentoseapli-cação do ensino da engenharia numcontextoglobal.Foidesdelogodefini-doqueaASIBEIseriaarepresentantedaAméricadoSul.NocasodaEuropa,aopçãofoiPortugal,emdetrimentodaEspanha.Decorreuaeleiçãodovice-presidentedaIFEES,umcolombiano,eaaprovaçãodosestatutosdaorgani-zaçãoapardoestabelecimentodoseuplanoestratégico.

do Irão, passará a receber tambémalunos deste país. Aqui se percebequeo intercâmbiodealunos,docen-tes e pessoas, permitirá uma apren-dizagem mais ampla da engenhariapraticada noutros países, permitindoumaelevadapartilhadeexperiências.A conjugação de todos estes facto-rescriacondiçõesconjuntasparaseaprendermais, partilhar ideias e es-forçosqueconduzamaodesenvolvi-mentomundialdaengenharia.

Uma outra associação, assumi-damenteeuropeia,surgeentretantonoscaminhosdoISEL,aEuropean

AentradanoIFEES«fazdoISELumplayermundial no campodaen-genharia»,naspalavrasdopresidentedoConselhoDirectivodoISEL.

Numa altura em que, em termosnacionais, as coisas não são fáceisparaasinstituiçõesdeensino,aapos-taseriaaumentararepresentatividadenacional,factoqueacabouporconse-guircomrecursoaumacordoconsi-derado «histórico» com os restantesInstitutos Superiores de Engenhariaportugueses,odoPortoeoCoimbra.Nesteacordo,ficouestabelecidoquenoIFEES,oISELseriaorepresentan-tedonúcleorecém-formado.Aestra-tégiapassounecessariamenteporas-sumirumadimensãosuperioràssuasestruturas internas, conseguindo umlequemaiordevantagensparatodos.

JoséCarlosQuadradoexplicaaindaquealigaçãoemredepermiteumaca-pacidadedesobrevivênciamuitosupe-rior,alargandoocampodeactuação,no-meadamenteapossibilidadedeoISELconcorrer a concursos internacionais,queanteriormenteseriaminalcançáveis.

Quandoquestionadosobreacapa-citaçãodoISELparaessasactuações,opresidentedoConselhoDirectivodizque«jáhaviacondiçõesinatas,faltandoapenasumpoucomaisdeorganizaçãoprocessual».Oresultadonãopodiasermelhor: o ISEL detém já a vice-presi-dênciadaASIBEIeestáindigitadoparapresidiraopróximomandato.

OreconhecimentointernacionalSociety for Engineering Educa-tion,quepassaasermembrosdaIFEES.Neste caso, o objectivoépromover o desenvolvimento e amelhoriadoensinodaengenharianoespaçoeuropeu.

O modelo a seguir é cada vezmaisodeabrirportasdecrescimentoedeestabelecimentoemrededeins-tituiçõesedesociedadesdoconheci-mento.Criarcondiçõesparaumensi-nodeengenhariadealtaqualidade,com diplomados bem preparados,permitiráoreforçodacapacidadederespostadasorganizações.

JoséCarlosQuadrado

FotodeBrunaViegas

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 20088

O Acontecimento

PlanetadaMúsicaOsonhodesucessivasdirecçõesdaEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa–aconstruçãodeumedifícioespecíficoparaoensinodasartesmusicais–concretizou-se.AnovaCasadaMúsicareúneumconjuntodecaracterísticasqueatornamúnicaemPortugal.Projectadaderaizparaafunçãoque

vaidesempenhar,nasuaconstruçãoforamempreguesasmaismodernastécnicaseosmateriaismaisevoluídos.Nasceu,assim,umanovaeemblemáticareferêncianoensinoartísticoemPortugal.

Textos de Paulo Silveiro Fotos de Vanessa de Sousa

PROFESSORES, alunos e funcionáriosdaEscolaSuperior deMúsicadeLisboatêmagora todasascondiçõesparaensi-nar,aprenderetrabalharaníveisinterna-cionais de excelência. O efeito do novoedifíciojásefezsentirnonúmerodecan-didatos,queconcorreramaoscursosmi-nistradospelaESML.Paraoano lectivode2008/2009apresentaram-se307can-didatosparaas112vagasdisponíveis.

Aexpectativaégrande,principalmen-teparaosalunosquetransitaramdasan-teriores instalações, como nos dizNélioSilva,docursodeinstrumentonavarian-tedeclarinete.Aprimeiraimpressãoqueosestudantesexperimentaram,aoentrarnonovoedifício,éagrandiosidade.Sen-tem-se pequeninos naquela imensidãode salas e corredores.A motivação pa-

NovasinstalaçõesdaEscola

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 9

O Acontecimento

raaaprendizagem,para tocarcadavezmais e melhor, aumentou na proporçãodasdimensõesdoedifício.Osnovoses-paçosvãopermitirqueosalunospassemmaistemponaescola, jáqueagoratêmondetrocarideias,dassalasdeaulasaobar.OfactodeaescolaestarinseridanoCampusdeBenfica,edeasaulasesta-remtodasconcentradasnonovoedifício,ao contrário doqueantesacontecia, irápermitir o nascimento de um verdadeiroespíritoacadémico.

Oedifíciofoiprojectadopeloarquitec-toCarrilhodaGraça,figurahistoricamen-teligadaaoutrasedificaçõesdoInstitutoPolitécnicodeLisboa,tendojásidooau-tor dos projectos daEscolaSuperior deComunicaçãoSocialedosServiçosCen-trais do IPL.O edifício ocupa uma áreade 7.300 metros quadrados distribuídosporquatrozonas.

A área reservada àDirecção/Adminis-traçãoocupa255m2,englobando16ga-binetes e secretarias.A área destinada ainfra-estruturas e instalações gerais, tem679m2, distribuídos por uma oficina, ga-ragem, espaços de convívio, armazéns earrecadações.AáreadoApoioPedagógicoocupa1451m2,englobandooGrandeAu-ditório,Biblioteca,Fonoteca/Videoteca,Re-prografia,salasdeconferências,gabinetesecamarins.Finalmente,aáreadestinadaao ensino, propriamente dito, estende-sepor2473m2distribuídosporumPequenoAuditório, com 60 lugares sentados; umEstúdiodeInterpretaçãoCénicaeoutrodeElectroacústica,duasrégiese73unidadesdiversas, que englobam salas e estúdiosdeleccionaçãoedeestudo.

Oedifíciotemumaformapeculiar,de-senvolvendo-seemespiralapartirdopisomenos2,eatéaopiso2,emredordeumpátioajardinado,semelhanteaumclaus-tro. Ao contrário das anteriores instala-ções,naRuadoAtaíde,asdimensõessãogenerosas.ComogracejaoSecretáriodaescola,Manuel Esturrenho, agora «já sepodeguardarocontrabaixonocacifo».

No piso zero há uma separação nítidadeduasáreasatravésdopátiodeentrada.

SuperiordeMúsicadeLisboa

brilhaemBenfica

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200810

O Acontecimento

NaáreaSulencontram-seaBiblioteca,assalasparaosdocentesea zonaadminis-trativa.Porcimadestaúltimaencontra-seamezanine,destinadaaosórgãosdegestãodaescola.NaáreaNorte,oelementodomi-nanteéaentradadoauditório,cujoanfitea-troseestendeatéaopalconopisomenos2,ondesesituamosespaçosdeapoio,comooscamarinseosarmazénsde instrumen-tos.EsteGrandeAuditórioimpressionapelasuaamplitude.Possui450lugaressentadoseumpalcocom160m2.Podevir,porisso,aafirmar-secomoafuturasaladeespectácu-losdoIPLemesmodazonadeBenfica.

Ainda no piso zero, encontramos assalas de ensaio para orquestras e coroe as régies, as salas demúsica de câ-mara,umasalade interpretaçãocénica,oPequenoAuditório,asaladealunosareprografiaeumespaçoquepoderáviraacolherumfuturoMuseudaMúsica.

O piso 1 é totalmente ocupado pelassalas dedicadasàs aulas de instrumento.Estassalastêmumcarácterinovadorten-do sido estudadas, em termos acústicos,de acordo como tipo de instrumento.Ostectosdassalassãoassimétricos,sendoaquepossuiopédireitomaisalto,noveme-

tros, destinadaaoórgão.Asparedes sãoconstituídas por material compósito emgesso cartonado e lãmineral. E o piso éconstituídoporpavimentoflutuante.

Porseulado,opiso2,queapenasexis-tenoladoSul,édedicadoàssalasdecom-posiçãoeformaçãomusical.

Umadasgrandesmais-valiasdaes-colasãooscacifos,ondeosalunostêma possibilidade de guardar os seus ins-trumentosmusicais.Esteaspectoémuitoimportante,sepensarmosnovolumedeumcontrabaixo.Jánãoexisteanecessi-dadedeandaremcarregadoscomosins-

EspaçodograndeauditóriodonovoedifíciodaESMLondeproximamenteseráinstaladaaplateiacomcapacidadepara450lugares

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 11

O Acontecimento

trumentosnassuasdeslocaçõesdiárias.Mas apesar das novas funcionalidadesque o novo edifício da escola possui, oquemaisimpressionouosestudantesfoioGrandeAuditório. É um choquemuitogrande para quem passa de uma salaexígua, das antigas instalações na RuadoAtaíde,noBairroAlto,paraumpalcode160m2.Osentimentoqueaquelees-paçogeraneleséummistodeexpectati-vaereceio.Aquelepalcovaipermitir-lhesganhar experiência nas actuações emgrandes salas de espectáculos com umpúbliconumeroso.

Tobeornottobe…NÉLIO SILVA é um jovem madeirense,de 26 anos, apaixonadopelo ensino damúsica. Sentiu essa vocação ainda naadolescênciaeacaboupor tirar o cursodeformaçãomusicalnaEscolaSuperiorde Música de Lisboa. Nélio prefere asaulas colectivas às individuais, tendo jáacumuladoumaexperiênciasignificativanestaáreadoensino.Paraalémdosalu-nosdoensinovocacional,temdiscípulosde todas as idades e estratos sociais.Essaheterogeneidadeexige-lheaaplica-ção demetodologias diferenciadas paracada tipo de estudante, obrigando-o aumaconstanteactualização.

OutrotipodeacçõesquedáprazeraNélioSilvasãoasaulasdeenriquecimen-to curricular, proporcionadas aos alunosdo 4º ano de escolaridade, alguns ori-undosdefamíliascomgravescarênciassociais. «É reconfortante poder ajudaras crianças de estratos sociais baixos,incutindo-lhesogostopelamúsica»,diz.

Nélio Silva é igualmente monitor naFundaçãoCalousteGulbenkian,ondedi-rigesessõesparaumpúblicoigualmentejovem mas, de outras classes sociais,comoobjectivodefomentarogostopelaaprendizagemdamúsica.

Esse conjunto de actividades rouba-lhe, porém,muito do tempo de que ne-cessitavaparaoseucursodeclarinete,obrigando-o a fazer opções, nem sem-pre,nadafáceis.Éoeternoproblemadotrabalhador-estudante, que no caso doensino artístico se agudiza ainda mais.Darmaisaulasouensaiarmaishoras,eisaquestão,aojeitoshakespeareano…

NélioSilva,apesardeentusiasmadocomonovoedifíciodaEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa,nãoescondequesente uma nostalgia pelos quatro anosque passou nas velhas instalações daRua doAtaíde, ali junto aoBairroAlto.Foiaí,nessevelhoedíficioque,profes-sores como Francisco Cardoso e Mar-garidaFonsecaSantos, entre outros, oajudaramnasuaformaçãoprofissionalepessoal.Omúsico sente-se um privile-giadopor ter tidoessasexperiências,evêanovaescolacomoumprémiomere-cido para todos os que, durante anos,se sacrificaram para ensinar e estudarmúsicasemascondiçõesnecessárias.Anovaescolaéaprovavivaqueexistempessoas muito competentes e empen-hadasnodesenvolvimentodoensinodamúsicaemPortugal.

EspaçodograndeauditóriodonovoedifíciodaESMLondeproximamenteseráinstaladaaplateiacomcapacidadepara450lugares

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200812

O Acontecimento

Umanovainstituição

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 13

O Acontecimento

O PROFESSOR José João Gomes dosSantos teve o privilégio de ser o directorda Escola Superior de Música de Lisboaqueconcluiuoprojectopeloqualosseusantecessores lutaram durante 25 anos: amudançaparaonovoedifício.Conscientedaresponsabilidadequeestanovafasedavida académica acarreta, o dirigente estáigualmente motivado para encontrar asmelhoressoluçõesparaqueaescolasejarentabilizadanasuaplenitude.

JoséJoãoGomesdosSantostemjáal-gumas ideias, geradoras de receita, comoporexemplooaluguerdeespaços,incluin-doosdoisauditóriosepartedoparquedeestacionamentosubterrâneo,oqueassegu-raráàescolaumaimportantefontederen-dimento.Outroscamposaexplorarpoderãopassar pela angariação de patrocínios emecenatoseoestabelecimentodeacordoscomaJuntadeFreguesiadeS.DomingosdeBenficaparaumamelhorintegraçãodo«planeta»noespaçoemqueestáinserido.

Aideiaéabriraescolaaoexterior,di-vulgando-ajuntodacomunidadeenvolven-te,sendoquepara issoestáemequaçãoaconstituiçãodeumgabinetedeimagemque realize todoum trabalhodeprospec-çãoe divulgação de tudo o quea escolapodeofereceradiversospúblicos.

Umadasáreasaexploraréaabertu-radenovoscursos,sendoqueoexem-plodavariantedejazz,quejáéumêxito,pode conduzir a apostas semelhantes.Encontra-se já para aprovação na tute-la, uma licenciatura em ComunicaçãoMusical, com uma variantemais ligada

àformaçãodeTécnicosdeCenaePro-duçãodeEspectáculos,eoutradestina-da aosTécnicos de Som, aproveitandoo novíssimoestúdio de electroacústica.Encontra-se igualmenteparaaprovaçãono Ministério da Ciência, Tecnologia eEnsinoSuperiorumMestradoemMúsi-ca com características inovadoras, queinclui uma parte prática e uma parte li-gadaàdidácticaeàpedagogia,oqueotornadiferentedosmestradosexistentesnasoutrasinstituiçõesdeensino.

Noutravertentedaformação,aapostapo-deráserfeitanosCursosdeVerãoe,aprovei-tandoobeloanfiteatroquedesaguanopátiorelvado,proporcionarunsfinsdetardemusi-cais,quepromovamogostopelamúsica.

OdirectordaESMLsentequefinalmen-teexiste,porpartedosdocentesealunos,umamaiorvontadedeestarnaescola,deavivernasuaplenitude.Eassimseprovaqueamelhorardaqualidadedavidaaca-démica constituí um importante estímuloparaoensinoeaprendizagem.

Estudantesdemúsicasãoelitistas?ExISTEaideiaqueoestudantedemúsicaéumapessoaindivi-dualista,queseisolaeseafastadasociedade.Éaconsequên-ciadashorasdeestudointensivoquesãonecessáriasquandosedefineoobjectivodetocarnaperfeiçãouminstrumentomu-sical.Oisolamentoéummalnecessário,queoinstrumentistainconscientementeadoptaparaconseguiratingirosobjectivos.

Persiste,poroutrolado,aconvicçãodequeoestudantedemúsicaé elitista, dado serempoucosos queo queremserepelaspoucasvagasexistentesnoscursos.Osmúsicosperseguemumobjectivoalongoprazoeinvestemmuitotem-poparaoatingir,abdicandoporvezesdeamizadese rela-cionamentosamorosos.Investemtudonatentativadeatingirumaperfeição,sóaoalcancedealguns.

OprofessorJoséJoãoGomesdosSantos,directordaESML,estácheiodeideias

abertaàcomunidade

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200814

Em Foco

UmprojectodebacharelatodedoisalunosdoInstitutoSuperiordeEngenhariadeLisboaestánaorigemdaconstruçãodeumveículofuturista,cujamaior

vantagemseráoreduzidoconsumodecombustível.OveículotrouxeumânimocrescenteaosalunosdocursodeMecânica,queacadaetapaseforamjuntandoàequipaqueéagorade

dezasseteelementos.Asoutroraapagadasoficinasdemecânicavoltaramaganharvidaelá,todosusamosconhecimentosteóricosdocursoparanapráticaverresultados,sempresobaorientaçãodedoisprofessores.

Um projecto de bacharelato de dois alunos do Instituto Superior de Engenhariade Lisboa está na origem da construção de um veículo futurista, cuja maior

vantagem será o reduzido consumo de combustível. O veículo trouxeum ânimo crescente aos alunos do curso de Mecânica, que acada etapa se foram juntando à equipa que é agora de

dezassete elementos. As outrora apagadas oficinasde mecânica voltaram a ganhar vida e lá, todosusam os conhecimentos teóricos do cursopara na prática ver resultados,sempre sob a orientação dedois professores.

Textos de Clara Santos Silva Fotos de Vanessa de Sousa Glória

InstitutoSuperiordeEngenharia

Vemaíocar

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 15

Em Foco

AShellEcoMarathonéumacompetiçãointernacionalautomóvel,emqueademons-traçãodacapacidadedeoptimizaçãoener-gética,estruturaledinâmicadeumveículodemonolugarérequisitoprévioàparticipa-ção.Asuavertentepedagógicaencorajaainovaçãoepromoveodesenvolvimentodenovas tecnologias, associadas à garantiadeuma maior eficiência

energética.Oeventosurgiu

pelaprimeiravezem1939,edesdeentãotem

estimulado a iniciativa dejovensestudantesdeenge-

nhariaemtodoomundo.OEco-marathoncontemplaveícu-

losquesemovamcomrecursoatodootipodecombustíveis,nãosódieselouga-solina,mastambémfontesenergéticasal-ternativas,comooGPLeaenergiasolar.Odesigndoscarrospodepassarpelospro-tótiposmaisfuturistas,tendocomolimiteaimaginaçãodosparticipantes.

Dentrodoespíritodaprova,amaiorpre-ocupaçãodosalunos,seriaadeconceberumcarroquepermitissepercorreromaiornúmerodequilómetroscomumconsumomínimodecombustível.Daideiapassaramà prática. Trabalharam na construção doprotótipovirtualnoprogramaSolidworksedaípassaramàanálisedochassiscomre-cursoaosprogramasCosmoworkseAnsys.AvaliaramtambémoescoamentodearemtornodacarenagemcomoprogramaFlo-works.Oresultadofoiaimagemdoprotóti-povirtualtotalmentedesenvolvido.

Em 2005, Pe-dro NunesNavarro, fi-

nalistadobacharelatodeEnge-nhariaMecânica,movidopelapaixão

pelosautomóveis,aoouvirfalardoEco-Marathonevernatelevisãoprovasdecarrossolares, pensou em fazer alguma coisa noISELaesserespeito.OcolegaRuiMarquesaderiuàideiaeassimnasceuumprojecto,quecomeçoucompesquisaàInterneteagrandeconvicçãodequeseriapossívelconstruirumcarroinovadornoISEL,capazatédeenfren-taracompetiçãodaShellEcoMarathon.

AShell EcoMarathon é uma competiçãointernacional automóvel, em que a demons-tração da capacidade de optimização ener-gética, estrutural e dinâmica de um veículode monolugar é requisito prévio à participa-ção. A sua vertente pedagógica encoraja ainovação e promove o desenvolvimento denovas tecnologias, associadas à garantiadeuma maior eficiência

energética.O evento surgiu

pela primeira vez em1939, e desde então tem

estimulado a iniciativa dejovens estudantes de enge-

nharia em todo o mundo.O Eco-marathon contempla veícu-

los que se movam com recurso a todo otipo de combustíveis, não só diesel ou ga-solina, mas também fontes energéticas al-ternativas, como o GPL e a energia solar. Odesign dos carros pode passar pelos pro-tótipos mais futuristas, tendo como limite aimaginação dos participantes.

Dentro do espírito da prova, amaior pre-ocupação dos alunos, seria a de conceberum carro que permitisse percorrer o maiornúmero de quilómetros com um consumomínimo de combustível. Da ideia passaramà prática. Trabalharam na construção doprotótipo virtual no programa Solidworks edaí passaram à análise do chassis com re-curso aos programasCosmoworks eAnsys.AvaliaramAvaliaramA também o escoamento de ar emtorno da carenagem com o programa Flo-works. O resultado foi a imagem do protóti-po virtual totalmente desenvolvido.

Em 2005, Pe-dro NunesNavarro, fi-

nalista do bacharelato de Enge-nhariaMecânica,movido pela paixão

pelos automóveis, ao ouvir falarfalarf do Eco-Marathon e ver na televisão provas de carrossolares, pensou em fazerfazerf alguma coisa noISEL a esse respeito.respeito.r O colega Rui Marquesaderiuà ideiaeassimnasceuumprojecto, quecomeçou com pesquisa à Internet e a grandeconvicção de que seria possível construir umcarro inovador no ISEL, capaz até de enfren-tar a competição da Shell Eco Marathon.

PedroNavarro,nestemomentojáfo-ra do projecto, recorda ainda a motiva-çãodaaltura e a dificuldadeempassaràprática,principalmentenaquestãodoscustos. Rui Marques juntou-se-lhe e oprocessonãoparoumais.VieramdepoisAnaOliveiraeBrunoAmiano,edoveícu-lodesenvolvidovirtualmentepassaremàfasedeconstrução.

O mentor do projecto, Pedro Navar-ro,mantém-seaindahojenoISEL,comomonitor do Departamento de Mecânica,dandoapoioaoslaboratórioseàsaulas.Issofazcomqueele,apesardeafastadodoNónio,possairacompanhandoaevo-luçãodaconstrução,juntodaequipaquetãobemconhece.

Apresentado formalmente ao ISEL, oprojectodeinvestigaçãofoiaprovado.Issogarantiu que os consumíveis, a inscriçãona competição, a viagem e transporte dobólideedaequipa,eaestadianopaísdeacolhimento,ficaramassegurados.

AequipacomeçouatomarformacomoapoiodosprofessoresAníbalChaveseSousa eAfonso Leite, que rapidamentemobilizaram mais elementos para o co-lectivo.Maselesprópriosgarantemqueos grandes impulsionadores sempre fo-ramosalunos.

Osoitoelementosdaequipacomeça-ramentãoainvestirtodootempolivrequeocursolhespermitianaconstruçãodocar-ro.OprofessorChaveseSousanãodeixanuncade frisar,queagestãode tempoécomplicada,nãoesquecendoqueaAnaeoBrunojáestãonomercadodetrabalho,eos restantes têmsemprequepreparar-separaasépocasdeexames.

Paraumamaiorrentabilizaçãodaequi-pa,procederamaumadivisãodotrabalhoporáreas,relacionadascomoprocessodedesenvolvimento e construção do carro:carenagem,chassis,sistemadetransmis-sãoeembraiagemejantes.

Afonso Leite, com os seus 33 anos,espelha uma vontade e o orgulho de um

deLisboaprojectaNónio

roecológico

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200816

Em Foco

NaoficinademecânicainstaladanoISEL,umgrupodealunostrabalhaomoldedametadesuperiordacarenagem,jáconstruídapelosalunos

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 17

Em Foco

jovemprofessor,outroraalunodoISELquesempre valorizou a prática como melhorformadeaprenderateoria.Amelhorestra-tégiaparaangariaralunosparaaequipafoiescolhê-los,deentreaquelesquetivessemcompletadoadisciplinadeFabricação.Fri-samquetodososelementosdaequipatêmméritonosresultadosacadémicos.Acons-truçãodassub-equipas tevedepoisavercom o interesse que eles foram demons-trandopelasdiversasáreas.

Na oficina de mecânica onde fomosencontrar toda a equipa, todos estavamansiosospor falardaaventuraedoentu-siasmodeparticiparnacompetiçãodaEcoMarathon.Aequipadacarenagemtemco-mo preocupação a utilização da fibra decarbono,quetemavantagemdesermaisresistenteemais leve, pois assimconse-guirá atingir mais velocidade commenosgastosnocombustível.Nocasodochas-sis,omaterialaaplicaréoalumínio,oque

permitecolocaremprática técnicascomoasoldaduradealumínio.Atransmissãodosistema de rotação às rodas fica a cargodaequipadosistemadetransmissãoeem-braiagem.Asuamissãoinicialfoialteraraembraiagemcentrífugadomotororiginalefazerumadebase,electromagnética.

Abasedoveículofarátodaadiferença,eporisso,aequipadasjantesaproveitouum estudo feito pelos anteriores colegaspara construir moldes para as jantes. Aquestão fundamentalésempreamesma,têm que ser leves e resistentes, por isso

serãoocas.Otrabalhoincidenamaquina-gem totalmente automática.As jantes se-rãode16polegadas,feitasapartirdeummoldeàescaladeumpordoisemresinamaquinável.Numasegunda faseo traba-lhoincidirásobreosmateriaiscompósitos.Serão, então, colocadas várias camadasdefibradecarbonoqueapósumproces-sodecuradedoisatrêsdias,daráorigema uma jante que será fechada com outrafibra de carbono e enchida com espuma,aocontráriodasjantescomunsemligale-ve,masmaciças.AsjantesdoNónioserãomaisleves,maisresistentesemaiscaras.Tambémemtermosdesuporteserãome-lhores,dadaasualargura.

Poucos saberão que a construção docarroseiniciougraçasàcontribuiçãofinan-ceiradosalunosenvolvidos,entretanto járeembolsados.Osapoiosfinanceirosema-teriaiseram inexistentes,atéporqueparaangariaçãodepatrocínioséimportanteter

algofísicoparamostrar.Acompradomotor,umHonda-gx35de

umcortarelvas,foiocomeço.Oseubaixoconsumo,associadoàforça,iadeencontroaosobjectivos.TudonoNóniofoiprojecta-doparadiminuirosconsumos.Aembraia-gemelectromagnéticaédirectamenteliga-daàroda.Ochassisfoifeitoemaçoparatestar seestava tudobem,masnaetapafinal seráemalumínio.Obancodopilototeráqueserfeitonummaterialmuitoleve.Osistemadedirecçãotambémfoiestuda-doaopormenorpelogrupo.

OmotordoNónioéumHonda-gx35deumcorta-relvas

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Politecnia Outubro n.º 19 / 200818

Em Foco

Os apoios começaram entretanto asurgirpor iniciativadosalunos.JuntodasOficinas Gerais de Material Aeronáutico(OGMA), já havia sido feita uma primeiratentativa,negada.Umgrupodealunosde-cidiuentretantodeslocar-senovamenteàsinstalaçõesdasOGMA,semmarcaçãodeentrevista.Conseguiramfalarcomodirec-tor, juntodequemfizeramumaexposiçãodoprojecto.Areacçãofoimuitopositiva,eopassoseguintefoioderemeteremumacartacomtodosospormenores,para for-malizaropedidodopatrocínio.Osinalver-deparaapoionãosefezesperarepassapela oferta da fabricação, com a carena-gem em carbono auto-clave, o que farácom que o carro sejamuito leve emuito

posicionado.Todoesteprocessoserárea-lizadonaáreadecompósitosdasOGMA.A única explicação que encontram paraesta mudança tem a ver com a fase máqueasoficinas jáultrapassaramecomofactode teremconsigoa trabalharmuitosprofissionaisformadosnoISEL.Adesloca-ção dos alunos às instalações parece terfeitoadiferençapois, foi vista comoumademonstraçãodehumildadeecomprovouseramelhorestratégia.

À conversa comos alunos das váriasequipas,quasetodosafrequentaroúltimoanodalicenciaturadeBolonha,verificámos,quesemprepresenteestáavalorizaçãodaaquisiçãodepráticanaárea,odeveral-goacrescercomoseuprópriocontributo.

Muitosnãohesitamemassumirque foiaprimeira vez que sentirama parte práticanocurso.Outroshá,queconsideramestedesafioo«abriraportaparaomundodotrabalho,paraalémdeconstituirumaban-deira do departamento de mecânica quepromoveaimagemdoISELnoexterior.»

Todos têm esperança que o projec-to lhesdêumavalorização curricular quepermitaumarápidacolocaçãonomercadodetrabalho.Agestãodetempotemsidoofactormaiscomplicadodeultrapassar,poistodootrabalhoéfeitonostemposlivres.

Na equipa fomos encontrarAgostinhoRocha, de 58 anos e oficial do exércitona reserva, cuja vontade de concretizarumsonhoantigo,nãoodeixadesanimar.

UmnomecomHistória

A DECISÃO de baptizar o carro deNónio foi (é) umahomenagemaomate-máticoecientistaportuguêsPedroNunes(1502-1578),queinventouoaparelhode

mediçãocomoessenome(retiradodoseuapelidoemlatim),usadopelosnavegado-resportuguesesnosDescobrimentos.

A alusão ao Nónio surge pela primei-ravezem1542,naobraDeCrepusculis,na proposição três. Pedro Nunes cons-truiu numastrolábio, graduado de 0 a 90graus,mais44escalasconcêntricas,massucessivamente divididas em 89, 88, 87,atéchegara46partes.Nestascondições,aomedir-se umdeterminado ângulo, quenãocorrespondaaumnúmeroexactodegraus, é muito provável que o seu valorcaia rigorosamente,oumuitopróximo,deumadivisãodasreferidasescalas.Depoisporumasimplesregradetrês,encontra-seovalordoângulo,comumerromédiodaordemdos2minutosdearco.

OProcessodeMediçãoNónio,quesetraduznumaescaladeuminstrumentodenavegação,representounaépocadePe-droNunesumarespostaaoproblemadamedidarigorosadosângulosdealturadosastros.Maistarde,passouaseraplicadoaoutros instrumentosdemedida,nome-adamente no campodamecânica, dadopermitiramediçãoàdécimademilímetro.

O Nónio do matemático Pedro Nu-nes é também caracterizado como umpardeescalasgraduadasquedeslizamuma sobre a outra, em que na segun-daescalaépossívelterumafracçãodemedidadaprimeira.Esteépoisumins-trumentomuitousadonosparquímetrosemicrómetroscomoobjectivodeobtermedidasprecisas.

Peçasdosistemadeembraiagem Moldesdasjantes

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 19

Em Foco

Confirma que está a ser «muito pesado»coordenarocursocomoprojecto.Garantetratar-sedeumaboaexperiêncianaáreada coordenação de equipas, pois não éfácil trabalhar comumnúmerograndedeelementos,sãotodosdiferentes.

Osapoios foramchegandoàmedidaque o carro foi tomando contornos. Os

alunos da equipa, usando conhecimen-tos, nomeadamente de familiares foramconquistando empresas que decidiramapostarnoprojecto.

DamargemsuldoTejoveioapoiodaCâ-maraMunicipaldeSesimbra,quedesdehájáalgumtempovêodesenvolvimentolocaldi-rectamenteligadoàsuniversidadesepolitéc-

nicos,atribuindobolsasa jovensresidentesnoconcelho.PoriniciativadeBrunoAmiano,através de uma apresentação do projec-to juntodavereadoradaeducação,FelíciaCosta,garantiuaatribuiçãodeumaBolsadeMérito, no valor de seiscentos e cinquentae oito euros.O protótipo doNónio chegoumesmoa ser apresentadonumaFeira das

A equipa que está a trabalhar no projecto: (da esquerda para a direita), BrunoAmiano, AnaOliveira, Afonso Leite(professor),ChaveseSousa(professor),VítorPinto,PedroSengo,FaustoGonçalves,SérgioPereira,ArmandoBispo,LuísPinheiro,NunoSousa,LuísFerrão,PauloReis,RonnieCaxola,PedroNavarroeAgostinhoRocha

Sistemadetravagem Discos

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Parar para Pensar

20 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

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profissões, realizada em Sesimbra,como forma de sensibilizar os jovensparaasváriasáreasvocacionais.Foi,navisãodeFelíciaCosta,amostradeumprojectofeitopor«alguémdaterra»,avaliadoeapreciadopelaspessoasdoconcelho.OBruno,entrounomercadodetrabalhohácercadeumano,ega-rantequeoCentroparaaExcelênciaeInovaçãonaIndustriaAutomóvel,ondeexercefunções,viunoprojectosinóni-modecompetênciaeexperiência.

Segue-se agora uma nova eta-pademuitotrabalho,que irá incluirumapassagempelasinstalaçõesda

Osegredoestánopiloto

OSEGREDO do sucesso de qual-quer veículoestá tambémnopilotoqueoconduzeoNónionãofogeàregra. O seu piloto foi escolhido adedo: é a únicamulher da equipa,AnaOliveira,quemestáencarreguedeconduzirocarronacompetição.Estaantigaaluna,umdosprimeiroselementosdaequipa,sente-secon-fiantenatarefaquetempelafrente.Vairindoedizendoquefoiescolhidaporseramaisleve,oquenãodes-mentearealidade,poisotamanhoé

fundamental.Brincaaocolocarahipó-tesedesertrocada,casoapareçaumaraparigaaindamaislevedoqueela.

Com alguma pena diz que con-tinua a haver poucas mulheres nocursodeEngenhariaMecânica,daíqueessarealidadetambémseapli-queàconstituiçãodaequipa.Dáco-moexemploumasalacomtrintaalu-nos,naqualapenasdoisatrêssãomulheres. No entanto sente que apercentagemtemvindoaaumentar,equeoprópriomercadodetrabalho

estáaabsorvermaisestesegmen-todeprofissionais.

Ana Oliveira frequenta actual-mente o Mestrado em EngenhariaMecânica, o que faz comque nãoestejatãoligadaaoprojecto,embo-racontinueavisitaroscolegaseaparticiparnas reuniõesparaacom-panharodesenvolvimentodocarro.

Oseupapel comopilotopassamuitoporsaber lerossinaisqueocarrolhedá.Temquetertelemetrianocarro,esensibilidadeparasabero que fazer em determinadas áre-as do percurso, para isso o treinoé fundamental. Considera-se umaboacondutoranodia-a-diaeporis-sojulgaestaràalturadodesafio.

Enquantoalunaficoufelizcoma viragem no curso, pois nuncaantestinhamtidotantaprática.Fo-ramobrigadosamuitapesquisaea aprender com os erros que co-metiamacadapasso.

Ana já ingressou no mercadoprofissional,oquealevouaterme-nos tempo livre, e diz que tudo sedeveuaoNónio.NaBarloworldStet–Caterpillar,onde trabalhaemes-tágio, deram muita importância aoprojecto,poisaáreadeacçãotemavercommotores.Otrabalhoain-dapassamuitopelasecretáriamassabe que se trata de um inicio, oimportanteéjáterconseguidoestaligação,«ofuturologosevê».

OGMA, com muita aprendizagempelo meio. Os árbitros da competi-çãoterãoaindaqueprocederaumaavaliaçãodoprojectoparasaberseocarrotemcondiçõesparacompetir,jáqueestamosa falardecercadetrezentos candidatos.A equipa temtodaaconfiançanaentradanapro-va,masosprimeiroslugaresjulgamser difícil de conseguir. Têm aindaum longo percurso pela frente emrelaçãoamuitosdosparticipantes.

A crise dos combustíveis queagora se vive, bem como a procu-raporcombustíveisalternativosnão

lhes tira omérito.A experiência doprofessorChaveseSousafá-loacre-ditarquetãorapidamentenãodeixa-remos de depender do petróleo. ONónioé jáumdegrau,poispermiteumconsumomínimo.Consideraqueoscarroseléctricosnaforjapoderãovir a fazer parte do nosso parqueautomóvel,masnãovãocortarade-pendência.Alertaparaofactodoserhumano ser muito necessitado deenergia,equemesmoparaumcarromovidoaelectricidadeénecessárioligá-loàtomada.Estanãoseráumaquestãosimplesderesolver.

AnaRitaOliveira,mestrandadoISEL,éopilotoescolhidoparaacompetição

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Parar para Pensar

21Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

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OSPROFESSORESChaveseSousaeAfonsoLeitesãoosorientadoresedinamizadores da equipa. Não hesi-tam em dizer que tudo é feito pelosalunos,masnaverdadeoespíritoca-talisadorestátambémneles.

ChaveseSousa,maisexperiente,vai falando do percurso do ISELen-quanto antigo Instituto Industrial. Dizter havido temposemqueamaioriadosprofessoresdoISELvinhadain-dústria,contracenandocomapráticarealdo trabalhoexteriorqueagoraérelativamente fraca. Afirma, sem ro-deios, que quem está na parte aca-démicaachaqueésóporaíqueseavança,eaparteprofissionaltambém.Mas a importância de uma vivênciarealnoexterioracabapor fazer todaadiferença.Oensinohoje,começaainteragircomasempresas,masháal-gunsanosestavadecostasvoltadas,por isso consideraestar aacontecerumamudançamuitoqualitativa.

Oseudiscurso, preocupado comoestadodoensino, alerta aindapa-rao factoda formaçãoqueaescoladá ser apenas uma ferramenta. En-cara a realidade de forma positiva,até porque sabe que os alunos deengenharia mecânica do ISEL têmsempre uma boa colocação e acei-tação no mercado de trabalho. NãodeixadereferirqueseralunodoISELé sempre uma referênciamuito boa.Osalunosqueoptamporsedeslocarparaoestrangeironãotêmquaisquerdificuldadesdeadaptaçãoporquenasuaopiniãoosportuguesessãomaispolivalentes quenoutros países.Crêquemuitosalunosfugiramdasenge-nharias,masquepossivelmente vãocomeçar a pensar em voltar-se paraelas porque são das poucas profis-sõesemquenãoexistemproblemasgravesdeemprego.

Projectos como o do Nónio ser-vem sempre de motivação para osalunosporqueestes,preferemaapli-cação real e não apenas o conheci-mento teórico. O docente assume ograndeorgulhoquesenteaoreceberofeed-backdosalunos,atéporqueasuaconvicçãoéadequeestespre-ferem a aplicação real aomero pro-

Oorgulhodosprofessores

jecto.Enquantoprofessorvaidandooseuapoio,nuncaperdendodevistaocontactocomasociedade,nomeada-mentecomasempresas.Osprópriosalunos já sentem essa necessidadeporquesabemoquãoimportanteéacapacidadedeargumentaçãoedede-fesadassuasideias.Dizqueumdosgrandesensinamentosquelhespodetransmitirédequehojeaengenhariaprecisa de interacção com pessoas,comoutrosprofissionais.NocasodoprojectoNónio,aliberdadedeacçãoédosalunos,apesardeestarintegradonumaunidadecurricular,otrabalhodetodosévoluntário.

Afonso Leite, também orientadordo projecto, já foi outrora aluno doISEL.Falada referênciaqueaesco-laeranocampoprático,masdizqueentretantodeixoudeoser–«oensinomudou».RecordaqueoDepartamen-todemecânicasótinhaoficinas,algoque foidesaparecendocomo tempo.Aquando dos seus tempos de estu-danteapreferênciasemprefoiaparteindustrial, apesar de ter enveredadopeladocênciacontinuaater«obichi-nhodaindústria».Dizgostarmuitodeleccionar, mas vê com bons olhos aoportunidadedeumdiaerguerapró-priaempresa,atéporquefaltammuitasempresasdeconcepçãoemPortugal.

O projecto Nónio, considera serumbomcaminhoparaosalunosfaze-remumacoisaválidanodecursodocurso.Reconhecequeacomponentedegestãodeveriaestarcontempladano plano curricular, pois o contactocomempresasporpartedosalunosémuitoimportante.

O Departamento de EngenhariaMecânicatemevoluídopositivamen-te e os orientadores são unânimesemafirmar,queeste tipodeprojec-tos, são umgrande contributo.Esteano, a Expomecânica pôde final-mente apresentar algomais. Dizempor experiência que os professorese alunos de outros cursos viram al-gumacoisa,eatémesmoosalunosdosecundárioquevisitaramaexpo-siçãocomentaramofacto.

A construção do veículo para oShell Eco-Marathon, dizem ser umbomexercício,mesmoquenãopas-sedisso.Aexpectativaéclaramenteadeparticiparnaprova,massabemque as equipas participantes sãoexperientes e têm muitos apoios.Semfalsasmodéstias,osprofesso-res consideram que o Nónio não édospiorescarrosnaprova,havendomuitos que não demonstramquais-querpreocupaçõescomasquestõesdeaerodinâmica.

OsprofessoresChaveseSousaeAfonsoLeitesublinham,emdeclaraçõesàPolitecnia,aimportânciadaligaçãodoISELàindústria

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Parar para Pensar

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A Grande Entrevista

AlmeidaCosta,BolonhaeaAvaliação

‘‘Foiauniversidadequeseaproximoudoensinopolitécnicoenãooinverso»Primeiro presidente do IPL, António Almeida Costa foi recentemente nomeadopeloGovernocuradordaAgênciadeAvaliaçãoeAcreditaçãodoEnsinoSuperior.Oantigoprofessor,quejáfoiSecretáriodeEstadoemváriosGovernos,falaaquipormenorizadamentedopapeldaAgênciaedosproblemasedesafiosdoEnsinoSuperioremPortugal.

Entrevista conduzida por Clara Santos Silva l Fotos de Paulo Silveiro

POLITECNIA–Quepodemosespe-rardaAgênciadeAvaliaçãoeAcre-ditaçãodoEnsinoSuperior,acujoConselhodeCuradorespertence?ANTÓNIO ALMEIDA COSTA – AAgência envolve duas componentesintegradas:aavaliaçãoorientadaparaoestímuloaumaculturadequalidadenas instituições de ensino superior,traduzida num desempenho mensu-rável e consequente informação àsociedade; e a acreditação dos es-tabelecimentosdeensinoedosseusciclos de estudo, com o sentido deverificarsesão,ounão,conferidososrequisitosmínimosdequalidadequetenham sido estabelecidos. Importa,no entanto, precisar dois aspectosfundamentais:noquerespeitaàava-liação,osparâmetrosdeapreciação,incidindo sobre os múltiplos aspec-tos que identificam e caracterizam aactividadedas instituiçõesdeensinosuperior, têm dimensão e níveis deexigênciadeâmbitoeuropeu.POL.–Equeconsequênciasdaíadvêm?A.A.C.–Aacreditação temváriasconsequências, entre as quais sesitua, no limite, a eventualidade denão reconhecimento oficial dos es-tabelecimentos de ensino superiore dos seus ciclos de estudo. Devoacrescentar,aliásqueestasdecisõespassamasercompetênciaexclusivadaAgência,enquantoentidadeinde-pendente,sendocertoqueosmeca-nismosprocessuais incluemodirei-toaoprocedimentocontraditóriopor

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A Grande Entrevista

partedosestabelecimentosdeensi-no, no que respeita às conclusõesdaavaliaçãoexternaeorecursopa-raochamadoConselhodeRevisão,comoórgãodeinstânciadaAgência,emmatériadeavaliaçãoeacredita-ção.Dito tudo isto,concluiriaqueaAgênciadeAvaliaçãoeAcreditaçãoirátornar-senaentidadedegarantiadequalidadedoensinosuperior,to-mandocomoreferencialdessaqua-lidadeoquedemelhorsefazaníveleuropeu. É umamissão de granderesponsabilidade, só possível deconcretizarcomacompreensãoeaconfiançadasinstituiçõesdeensinosuperior, dentro da certeza de queuma«entidade independente»a to-dosgaranteidênticaspossibilidadesdeafirmação.POL. – Revê-se inteiramente nosparâmetros de avaliação de qua-lidadeestabelecidosouaindavaihaverajustamentosnoregimeju-rídicoadoptado?A.A.C.–Éaindamuitocedoparamepronunciarsobreessaquestão,aindaque me reveja no documento basequevaiorientaraactividadedaAgên-cia,concretamenteos«standardsandguidelinesforQualityAssuranceinthe

European Higher Education Área».Emparticular,privilegia-seacriação,emcadaestabelecimentodeensino,deum«sistemainternodegarantiadequalidade»,suportadoemcritériosdeelevadaexigência,actividadecontinu-adaeparticipaçãoalargada,aqui in-cluindocomespecialênfaseosestu-dantes.Noentanto,comooconceitode«qualidade»émultidimensional,hámuitosaspectosquesóaprática,emcadaPaís,viráaconfirmarointeressequelhesédedicadoe,bemassim,abondadedoscritériosqueorientamarespectivaapreciação.POL.–Quemvãoserosavaliado-reseoqueéquevaiseravaliado?A.A.C.–NostermosdaLei,aava-liação envolve uma primeira fase deauto-avaliação de responsabilidadeinstitucional–paramim,a fasemaisinteressante e fecunda do processoquando incluir uma dimensão críticasériaeconsistente–eumaavaliaçãoexterna, comperitos nacionais e es-trangeiros.Importanteserá,asagezana escolha destes peritos, natural-mente beneficiada por relações queseestabelecementreAgênciasdedi-ferentesPaíses, tendencialmenteemcritériosdeproximidaderegional.

POL.–OqueéqueaAgênciaes-pera do Instituto Politécnico deLisboa?A.A. C. –Do Instituto PolitécnicodeLisboa,creioqueaAgênciapo-de esperar aquilo que o seu pas-sadodeixaantever:umaconstantepreocupação com a qualidade doseudesempenhoeumaposturaderelaçãocomasociedadecadavezmais estreita e, sobretudo, maisempenhada na solução dos seusproblemas reais.Tenderiaaacres-centar que a natureza associativado modelo orgânico do InstitutoPolitécnico de Lisboa, em razãoda sua gestação original, deve sermuito reflectido, pois o exercícioprofissional dos diplomados exigecada vez mais polivalência funcio-nal,oqueequivaleadizerque im-portadesenvolvercompetênciasdenaturezatransversal.Pessoalmenteacredito que o Instituto PolitécnicodeLisboasaberáencontrarnasuahistória,emquecoexistemescolasrecentescomoutrasbemmaisan-tigasdeestatutoprogressivamenteevolutivo,oestímulobastanteparasaber agarrar o futuro, no quadrodavocaçãoquelheéprópria.

Já em2000 oMinistro daEducaçãoemfunções,Guilhermed’OliveiraMar-tins,sereferiaaAntónioAlmeidaCos-ta como «um símbolo da educaçãoemPortugal,ealguémque»temaindatudoparadardeexperiência».

NascidoemPenalvadoCastelo,a 26 de Dezembro de 1931, licen-ciou-seemCiênciasMatemáticaseEngenhariaGeográficapelaUniver-sidadedeCoimbra,econcluiuocur-sodeCiênciasPedagógicas.

Aolongodavidajáfoiprofessormetodólogodoensino liceal, reitordoLiceuNormalD.ManuelII,direc-tordoGabinetedeEstudosePla-neamentodoMinistério daEduca-ção, Inspector-geral de Educação,presidente do Instituto PolitécnicodeLisboa,presidentedoConselhoCoordenador dos Institutos Supe-riores Politécnicos, presidente do

UmareferêncianaEducaçãoemPortugal

Conselho de Avaliação do ensinopolitécnico público, presidente doConselho Coordenador do EnsinoParticulareCooperativoefinalmen-te e vice-presidente do Conselho

Científico-PedagógicodaFormaçãoContínuadeProfessores.

Anível degovernoexerceu fun-çõescomoSecretáriodeEstadonaárea da Educação, nos III, V e VIIIgovernos institucionais. foiaindare-presentante de Portugal no ComitédaEducaçãodaOCDE.

Éautordecompêndiosescolaresdematemática, a par da apresenta-çãodoprogramadematemáticamo-dernanaTveducativaefoiautor,emregimedeco-autoriadeobrassobrepolíticaeducativa,entre2000e2006,entreasquaisseincluem«OensinoPolitécnico em Portugal»; «EnsinoSuperior.Umavisãoparaa próximadécada»e«Ambiçãoparaaexcelên-cia.AoportunidadedeBolonha».

ÉactualmentecuradordaAgên-cia de Avaliação e Acreditação doEnsinoSuperior.

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A Grande Entrevista

das com a mesma dignidade. Aliás,nãodeixadesersintomático,quecomoProcessodeBolonha,tenhasidooensinouniversitárioqueseaproximoudoensinopolitécnicoenãooinverso,oqueacabaporconfirmararazoabili-dadedecriaçãodesteúltimo.POL.–OProcessodeBolonhatemsóvantagensparaoensinosupe-rior português ou envolve algunsriscos?A.A.C.–AapreciaçãodoProcessode Bolonha, em Portugal, tem sidomuito marcada pelo problema dosgraus,atéporquetínhamosumpro-blema que na grande maioria dosoutrosPaísesnãosecolocava,queera a existência de dois níveis degraduação. Isto, levou, naturalmen-te,amuitosexercíciosdecosméticapararesolverumproblemadeanosde duração do 1º ciclo de estudos.Mas,ameuver,oProcessodeBo-lonhatemduasvertentesessenciaisquelheoferecemumadimensãodevalia inquestionável: centrar o pro-cessodeaprendizagemnosalunoseabriraexpectativadevalorizaçãoacadémicadeadquiridospessoaiseprofissionais.Pelaprimeiravertente,consagra-se um velho princípio pe-dagógico de converter o estudanteno «sujeito» da sua aprendizagem,rompendo a imagem de «objectopassivo»de trabalhodos seuspro-fessores.Eestamudança,sóporsi,oferece, um carácter de fecundida-deaosistemadeaprendizagemnoensinosuperior,abrindoasportasaumregime tutorialdemaioroume-nor densidade, ainda que, ao con-tráriodoquepodepensar-se, tornamaisdifícilopapeldosprofessores,uma vez que orientar a procura de«conhecimento»custabemmaisqueoferece-loemaulasmaisoumenosmagistrais.Asegundavertente-va-lidação académica de adquiridospessoaisouprofissionais–éoreco-nhecimento,queme,como tudonavida,osabertambémsedemocrati-zou,saindodassalasdeaulaparaoexercícioprofissionalouavidapes-soal. Assim sendo, torna-se impor-tante dar «validação» académica aestasoutrasformasdeaquisiçãodesaber, abrindo as portas do ensinosuperioratodosquantosdesejarem

POL. – Com este mecanismo deavaliação passará a estar assegu-rada aqualidadenoEnsinoSupe-rioremPortugal?A.A.C.–Sim.SeaAgênciadeAva-liaçãoeAcreditaçãoconseguir levarabom termo a sua missão, como nãopoderá deixar de ser e, contar comaconfiançaeapoiodasinstituiçõesedasociedadecivil,umavezquevaimexercommuitos«preconceitos»edesfavo-receralgumasleviandadesqualitativas.POL.–AavaliaçãodasInstituiçõesdeensinoprivadoseguiráasmes-masregras?A.A.C. –Umdos princípios funda-mentaisdaLeidaAvaliaçãoeAcredi-tação,aqueaactividadedaAgênciatemdeafeiçoar-se,éexactamenteaideiadeque,emmatériadeaprecia-çãodaqualidade,osníveisdeexigên-ciaeosprocessostêmdeserinteira-menteidênticosparaoensinopúblicoeoensinoprivado.POL.–Tendojáestadonopapeldepresidente de umadestas institui-ções,comoanalisaoscortesorça-mentaisimpostospelatutela?A.A.C.–Nãoconheço,comoéna-tural,adimensãodaquiloquedesignacomo «cortes orçamentais impostospelatutela»razãopelaqualnãopos-so pronunciar-me sobre essa ques-tão.Istonãomeimpede,noentanto,deacentuaranecessidadedegarantirdotaçõesadequadasàsinstituiçõesdeensinosuperior,poisesseéomelhorinvestimento que pode fazer-se emqualquer País. A minha experiênciaanterior,jádistante,diz-meque,paraalém de um ou outro desperdício, aaplicação dos dinheiros públicos erainteiramentecriteriosaecomsentidode bem servir.Aproveito, aliás, pararecordarquea«fórmulade financia-mento»original,dequefuiumdosco-autores,nãosedestinavaareduzirasdotações atribuídas às instituições,massimacorrigirverdadeiras iniqui-dades institucionais que, se fosseminteiramente conhecidas, iriam gerargritantesperplexidades.POL.–ComoencaraosplanosdeintegraçãodeUniversidadesePo-litécnicos sustentados pelos seusdirigentes?A.A.C.–Começoporfazerduasob-servaçõesoriginais:aprimeira,éque

nãoacreditoqueos«planosde inte-gração» sejamsustentados sópelosdirigentes pois que, se assim fosse,nadateriasentido;asegunda,équeme incomoda o termo «integração»,poisquesugereadissoluçãodeumainstituiçãonaoutra,oqueretiraopla-no de igualdade em que devem po-

sicionar-se na negociação. Dito isto,não tenho nada contra as hipótesesde associação institucional, seja emmodelosdeconsórcioourelaçãopro-tocolar, visando a realização de pro-jectosconjuntosouumesforçocons-cientederegulaçãointer-institucional.Defendi,aliás,estassoluçõescomosmeus companheiros Veiga Simão eMachado dos Santos em dois livrospublicados.Aodizer isto,nãoesque-çoqueomodelobináriodosistemadeensinosuperioremPortugal,emborafortemente atenuado pelo ProcessodeBolonha,noquerespeitaàmissãoefunçõesdosensinosuniversitárioepolitécnico,designadamenteno1ºci-clodeestudos, continua,ameuver,aexprimir virtualidades fecundas,nadiversidade da «matriz conceptual eformativa»decadaumadasmodali-dadesdeensino,desdequeencara-

Privilegia-se a criação, em cada estabelecimento de ensino, de um «sistema interno de garantia de

qualidade», suportado em critérios de elevada exigência

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e o conseguirem fazer. Não querocomistodefendermenoresníveisdeexigência, bem pelo contrário, massalientar, que a vida, como a natu-reza são verdadeiros laboratóriosde criaçãode conhecimentoeestí-mulo à curiosidade e apetência desaber: Dito isto, responderei à suapergunta dizendo que, se nos con-formarmosaosimplesproblemadosgraus, o Processo de Bolonha nãosó envolve alguns riscos, pois queelepróprioéumriscoemsimesmo;mas,senossituarmosnoverdadeiroespíritodeBolonha,assumindode-cididamente as duas vertentes quereferi,entãosim,oProcessodeBo-lonhaéumaoportunidadequevaleapenaagarrar, pois correspondeaumaprofundaalteraçãoevolutivadepráticasancestrais.POL.–Comoéquecombateopro-blema do emprego dos jovens li-cenciadosemPortugal?A. A. C. – Não é fácil responder àquestãoquemecoloca,poiselaen-volvemúltiplosaspectosque importaponderar.Antes demais, há que di-zer,emboaverdade,aformaçãodosjovens licenciados não pode ter em

vistaapenasoterritórionacional,umavezque,comocidadãoseuropeusderaiz portuguesa, todos têm o direitodemobilidadeeestabelecimentoemqualquer outro País da União. Mas,

comoéevidente,aformaçãodevedi-rigir-sepreferencialmente,paraoter-ritórionacional,oquecolocaoproble-madodesajustamentoentreosistemadeformaçãosuperioreadinâmicada

economianacional.Nãodevemosilu-dir-nosaesterespeito,poisésabidoque,emparticular,osectorprodutivonacionaltemvividocommão-de-obrade baixas qualificações e dificilmen-te tende a modificar-se, até pela di-mensãoreduzidadamaiorpartedoselementosdo tecidoempresarial eoposicionamentodegestores tambémpoucoqualificados.Importa,porisso,estimular essamudança, através demecanismosdiversos,inclusivamentefiscais,egeraroentendimentodequeaprodutividadevarianarazãodirectadoníveldequalificaçãodostrabalha-dores.Otempoacabarápormodificara situação actual, com a renovaçãodosquadrosdasantigasempresase,deigualmodo,comacriação,deno-vasempresasemquesefaçasentirapreponderânciadetrabalhadoresmaisqualificados.Porventura,doquenãotemossidocapazesédegerargran-desimpulsosàcriaçãodestasnovasempresas,oqueaconteceemalgunsPaíses, por iniciativa e com o apoiodas instituições de ensino superior.Masentendamo-nos,adificuldadedeempregodosjovensquesãolicencia-dosserásempremenordoqueseria

«OensinopolitécnicoemPortugalrepresentoutalvez,umdosprojectosmaisbemsucedidosdepoisdo25deAbril»

O Processo de Bolonha é uma oportunidade que vale a

pena agarrar

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A Grande Entrevista

se as suas habilitações fossem infe-riores.Querocomistodizerque,seépreocupanteodesempregodejovenslicenciados, nem por isso devemosdeixardenos regozijarpelo factodeeles disporem já de uma habilitaçãosuperior; porventura, terão tendênciaparalidarmenosbemcomasituaçãodedesemprego,masécertoqueasexpectativasdeasuperaremsãoga-rantidamentemaisfortes.POL. –Oque équedeveria já tersido feito, e ainda não foi, a essepropósito?A.A. C. –Parte da resposta a es-ta questãodecorre doquedissenaanterior. Acrescentaria, no entanto,duas notas mais: uma relacionadacom as autarquias municipais quepoderiam ter um papel importante,seenveredassempordinamizaracti-vidadesculturais,científicaseartísti-casnasuaáreadeinfluência,dequehábonsexemplosmasinsuficientes;outra, relacionada com os critériosdeaberturadecursosdoensinosu-perior, nem sempre orientados para

maioresexpectativasdeempregabili-dade,oqueatécolocaumproblemadepolivalência formativa.Nestaúlti-mareferência,oqueestáemcausaéachamada«relevância»doscursosministrados, que será um problemacom que a Agência deAvaliação eAcreditação tambémvai terde lidar.Devodizerqueexistemestudospro-fundos no Departamento de Plane-amento doMinistério das Finanças,emqueatéseabordaatemáticados«clusters»deCiênciaeInovaçãoco-mo campos privilegiados de desen-volvimento de empresas com traba-lhadoresdeelevadaqualificação.POL.–Fazsentido,naactualsitu-açãodecrisedeempregabilidade,aumentar o número de vagas noacessoaoEnsinoSuperior?A.A.C.–Doquedisseantes,fazto-do o sentido aumentar o número devagasemcursosdeelevadograudeempregabilidade;pelocontrário,nada

justifica a abertura de cursos de re-duzidapolivalênciaeorientadosparasectoressaturados.Aesterespeito,élegítimo afirmar que, durante muitosanos,nãoseponderouesteproblemae, bem pelo contrário, assistiu-se àaberturadecursoscomdesignaçõesapelativas,massemcorrespondêncianosconteúdosefectivos,quasesem-predistantesdequalquerrelaçãocomo mundo do trabalho. Dito isto, nãopossodeixardereferirque,sobretudonasuniversidades,érazoáveladmitiraexistênciadealgunscursosnãodi-rectamenterelacionadoscomomun-dodotrabalhodonossotempo,masquepodemrepresentarumsaltoparaofuturo,numaépocaemquearegradevidanãoéaestabilidademassimamudançaemaltavelocidadesocial.POL.–Oquepodemesperarosjo-venscandidatosaoensinosuperiorparaofuturo?A.A.C.–Devemesperaremerecemváriascoisas,entreasquais:maiordi-nâmicadaeconomianacional;maiorexigência formativa, por parte dos

empresários aos trabalhadores querecrutam;melhorcritériodosestabe-lecimentos deensino superior, esco-lhendo cursos demaior empregabili-dade;maiorfacilidadenaassunçãodasua cidadania europeia, orgulhando-sedasuaraizportuguesa;melhorfor-maçãoduranteoscursosquevãofre-quentar, oferecendo-lhes capacidadede iniciativaquepossamconduzi-losauma lógicaempreendedora.Tendoematençãoqueosjovenscandidatosaoensino superior serão futuros tra-balhadores – não deixo de recordarque uma constante das políticas daUniãoEuropeiaéachamada«Decla-raçãodeLisboa»,comalgunsanosjápassados,emqueaexaltaçãoaoes-forçoformativodostrabalhadoresera,apardacoesãosocial,umdosobjec-tivosdominantes.Entrenós,diriaquenecessitamosdeumverdadeiro«cho-que de conhecimento», susceptíveldesuperarumacertatendênciapara

oempirismo,o«chico-espertismo»ealguma leviandade funcional. A esterespeito,nãopodemosesquecerque,num inquérito que se realiza há cer-cadeumadezenadeanos,agrandemaioria dos trabalhadores no activonãosentia«necessidade»deinvestirna sua formação individual… numaclaramanifestaçãodeinérciapessoale profissional. Felizmente, creio queostemposmudaramealgunsprogra-masemcurso,tantonoensinosupe-riorcomonosoutrosníveisdeescola-ridade,sãoumbomexemplodoquepodeedevefazer-se.POL.–Pensatercontribuídoparaoaperfeiçoamento do Ensino Supe-rioremPortugal?A.A.C. –A comissãode reformadosistema educativo incidiu muito maissobre os níveis de ensino anteriores,mastambémjánessaalturaestudámosmuito o ensino superior, em particularaqueladicotomiasempreexistenteen-tre ensino politécnico e universitário.Aprimeira vezqueeu tive contacto eoportunidadedeaprofundaroconceito

dasduasmodalidadesdeensinosupe-rior,foibastanteútilparaaminhaactivi-dadenoensinopolitécnico.POL.–Oarranqueem1985doIPL,acujaComissãoinstaladorapresi-diu,marcou,comoporvezessediz,uma viragem no ensino superioremPortugal?A.A.C.–Nitidamente.Oensinopo-litécnicoemPortugalrepresentoutal-vez,umdosprojectosmaisbemsu-cedidosdepoisdo25deAbril.Porquetemumadispersãogeográficamuitogrande,estende-seportodoopaís.Éevidentequeosdistritosmaisdistan-tesdo litoralganharammuitocomoensinosuperior.Porumladoosnatu-raisdaregiãotiveramoportunidadesdeacessoaoensinosuperiorqueospais nunca tinham tido, isso em si,emtermossociaisfoimuitoimportan-te.Mastambémhouveaoportunida-dedecriarnessas regiões,quadrossuperiores, que se tivessem encon-

A Agência de Avaliação e Acreditação irá tornar-se na entidade de garantia de qualidade do ensino superior

tomando como referencial dessa qualidade o que de melhor se faz a nível europeu

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A Grande Entrevista

trado por parte dos outros sectoressociais, a mesma possibilidade dedesenvolvimento, teriam sido muitoúteisparagerarumsurtodedesen-volvimentodessasmesmas regiões.Infelizmente, tenho que reconhecerque os outros sectores sociais nãoavançaram tanto, quanto o ensinosuperior lá. E, também houve umaideiaqueameuverfalhou.Eusem-predefendi,queemtodososdistritosdeveriamser criadasescolasdear-tesparadesenvolveracultura.Claroqueaculturanãoseresumeàsartes,masestassãoumaboaoportunidadedegeraroutra formadeestar,outramaneiradeser.Nota-senosdistritosondeissoaconteceu,umdesenvolvi-mentobastanteacentuado.Culturaéeducaçãoeeducaçãoécultura.Nãoéfácilcriarumaescoladeartesnospolitécnicos,masosquetiveremes-sapossibilidadedevemfazê-lo.POL.–Aligaçãoàvidarealcontinuaaseropapelpreponderantedoen-sinopolitécnico,nãolheparece?A. A. C. – Inteiramente. Aquilo quedistinguefundamentalmenteoensinopolitécnicodouniversitárioéomododeassociaçãoàvidareal.Eopolitéc-nicoliga-seàvidarealdeumamaneiramais contemporânea.Auniversidadepodeterumavisãomaisprospectiva,maisdistante,masoProcessodeBo-lonhaacentuouanecessidadedestatambématender de imediato ao quesepassanavidareal,principalmentenocampoeconómico.POL.-OProcessodeBolonhaveiodealgumaformarealçarnovamen-teopapeldoensinopolitécnico?A.A. C. –O processo de Bolonha,veio acentuar o ensino politécnico,ou pelo menos chamar a atençãoparaaquiloqueesteensinoestavaarealizar.Oquenãoquerdizerquejánãofosseumamarcabemexpressi-va.O«bancodeempregos»doen-sinopolitécnico,designadamente,asescolasdeengenhariaenasescolasrelacionadascomaadministraçãoecontabilidade,semprefoimuitogran-de.Quemtiveroportunidadedepas-sarpelasnossasex-colóniasverificaquequeroISEL,queroISCAL,têmládiplomadosseusemlugareschavedaadministraçãoeatédoGoverno.Essasescolas,mesmoantesdese-

remensinosuperiorjáseafirmavampelapossibilidadequetinhamdelan-çarnomercadodetrabalhoprofissio-naismuitoqualificados.Asuaascen-sãoaoensinosuperiorfavoreceuumpoucomaisoensino.Nocasodestasescolas,continuamasermuitoprocu-radaspelasnossasex-colóniaseemPortugal também.Hojeosectordos

contabilistasesobretudoosTécnicosOficiaisdeContastêmnonossoPaísumpesomuitogrande,e todoselessaíramdoensinopolitécnico.POL.–Continuaaencararoensinopolitécnicocomooinstrumentodequeosistemaeducativonecessitaparaseadaptaràsnecessidadesdasociedadeecontribuirparaopro-gressodavidasocial?A.A.C.–Éevidentequesim.Eudiriaque também temumaoutravertenteimportante.Seentendemosqueauni-versidadesededevepreocuparcoma vida real e deve estar, sobretudoatravésdoProcessodeBolonha, in-clinadaparapessoalaltamentequali-ficadonosváriossectoresdavidaso-cial,tambémécertoquenãosepodeperderdevistaqueoensinosuperiortemoutramissãoqueéadeanteciparofuturo.Ospaísesnãopodemestaragarradosà realidadeactual,apesar

dogranderitmodavidasocial.Tenhodememóriaqueemcertomomento,na análise dos relatórios dos cursosde física do ensino universitário, emquecolaborei,apedidonoProf.VeigaSimão, constatei que havia um cur-so dessa área emPortugal, em queamaioriadosseusdiplomadosficounaprópria instituição,ebem,porqueficaram a fazer investigação, numaáreaemqueopaísaindanãocontem-plava,mas passou a fazê-lo. É umaárea de grande interesse. O ensinouniversitáriotemumacapacidade,emtermosderecursoshumanosnaáreadainvestigação,umpapelpreponde-rante.Oquenãoquerdizerqueoen-sinopolitécniconãopossafazerisso.Éevidenteque,estámaisnavocaçãodo ensino universitário abrir horizon-tesfuturoseestaratentoatudoquan-tosepassanomundo.POL. – Concorda com as con-clusões da Organização para aCooperação e DesenvolvimentoEconcómico expressas no últimorelatório,queapontamprogressosna aplicação das recomendaçõesdoMinistério?A.A.C.–JátiveaoportunidadedelereéevidentequeaOCDE,queeuco-nheçobem(fuimesmorepresentantede Portugal na organização durantealgunsanos),estásempreatentaaoque se passa nos diferentes países.Normalmente,asrecomendaçõesquefaz,aindaquemuitoorientadasparaesta relação entre o ensino superiore omercado de trabalho, reconhecequeoensinosuperioremPortugalsevirou definitivamente para a vida dopróprio país. Porventura, não sei sedevemosorientaranossaactividadepara o próprio país. Hoje o espaçogeográfico da União Europeia é umcampo no qual se vão desenvolverosfuturoscidadãosdePortugal.Nãodevemosficarincomodadosseacer-taalturaosnossosjovensforemparaoutropaís,talcomooutrosvirãoparacá.Omercadodetrabalhoestende-sedeumamaneiramuitoacentuadaportoda a União Europeia. Reconheçoque amaior riqueza daUnião Euro-peiaéesteconglomeradodeculturasdosdiferentespaíses.Mas,reconhe-çoqueistonãovaledenadasenãohouvermobilidadeentreeles.

Hoje o espaço geográfico da União Europeia é um campo

no qual se vão desenvolver os futuros cidadãos de Portugal

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Reportagem

ComIngleses,búlgaroseestónios

AlunosdaEscoladeCinemanoFilmFestivaldeRibadeo

Uma equipa de estudantes de cinema da Escola Superior de Teatro e Cinemaparticipouno»On&OffFilmFestival»,quedecorreunapequenacidadeespanholadeRibadeo,150quilómetrosaNortedeSantiagodeCompostela.Aexperiênciafoiestimulanteeosresultadosoriginaisemuitocriativos.

Carlos Natálio (texto) em Ribadeo (Espanha) l Hugo Costa (fotos)

O«On&OffFilm»éumfestivaldedica-doacurtas-metragensdecinemaestu-dantil,queentrouesteanonasuaquar-taedição.Alémdeprojecçõesderuaedeumasecçãocompetitiva,comváriasfitasaconcurso,agrandenovidadede2008era a secção«Youth InAction».A ideia, apoiada financeiramente pelaUniãoEuropeia,éjuntarestudanteseu-

ropeusdecinemadurantepoucomaisdeumasemanaeestimulá-losacon-ceber, executar e projectar pequenosfilmescomcercadecincominutos.

À chegada a Madrid, o ponto deencontro de todosos participantes, ogrupoportuguêsentrou logoemcon-tacto com os outros três grupos dealunos; ingleses,búlgaroseestónios.

Cadaequipa tinhaummembroespe-cializadonumaárea, para quea jun-çãoemequipasdecinemafossemaisrápidaeeficiente.Ogrupoportuguêsincluía Gonçalo Jordão (Realização),GonçaloSoares(Montagem),CatarinaPereira(Som),RúbenSantos(Produ-ção) e Hugo Costa (Imagem), todosdo2ºano;eeracoordenadopormim

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29Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Reportagem

próprio, Carlos Natálio, finalista, queassumiaresponsabilidadepelasques-tõesmaisburocráticaseosaspectosligadosàsupervisãodotrabalho.

DeMadrid as equipas seguiramdeautocarroparaRibadeo.A longaviagem serviu para que os partici-pantessecomeçassemaconhecer,uma vez que em pouco mais deumasemanateriamquefazerfilmesjuntos.JánoNortedeEspanha,osalunos ficaram alojados numa es-cola primária, que serviu de palcoaos primeiros jogos e reuniões detrabalho.Além de local de descan-

so,diversãoe trabalhoaescola foitambémfontedeinspiraçãoparaumdosfilmesrealizados.

A complementar a vertente mul-ticultural do projecto, a organizaçãopediu aos participantes que organi-zassemumanoitetípica,dedicadaaopaís de cada grupo.Assim, sucede-ram-seasnoitesnacionaiscomcomi-da,jogosecançõestípicas.

Comtãopoucotempoparafazerfilmes, a organização era fulcral.Assim, e desde logo, os passeiospelacidadedeRibadeoserviamsi-multaneamente de inspiração para

acriaçãodeideiaseapesquisadelocaisdefilmagem.

Osegundodiaemsoloespanholfoi inteiramentededicadoàformaçãodosgruposeaodesenvolvimentodashistórias.Otemaeralivre,masaex-periênciadeconvivênciaemambientedefestivalacaboutambémporsefa-zersentirnashistórias.

E Ribadeo tornou-se capital docinema.Porforçadacompetiçãoofi-cial,quedecorriaemparaleloàsec-ção internacional, váriasequipasdecinemaespalharam-sepelasruasdacidade.Todaselasafilmar.

DEPOISde constituídas as equipas,cada grupo organizou-se livrementeparaescreverassuasideias.Umdosgruposteveumasópessoaaescre-ver,masdoisoutroscriaramassuashistóriascolectivamente.Eumhouveque prescindiu mesmo de um argu-mentotradicionalescrito,baseando-seapenasemalgumaslinhasdirectivasenumaabordagemmaisdocumental.

Umavez fechadososargumen-tos,odiaseguintefoidedicadoàpro-duçãoeváriospequenosproblemasselevantaram.Mascomooscineas-tassetêmdehabituardesdecedoacondiçõesadversas,láseforamar-ranjandoosadereçoselocais.Esteserammuitodiversificados,passandoporumcorodeigrejaàautorizaçãoparafilmarnumadiscoteca.

Chegaramosdiasderodagem:umparacadagrupo,exceptoimprevistos.Osfilmesseriamrodadosemminidvedepreferênciacomluznatural,umavezquenãoexistiamaterialdeilumi-naçãodisponível.Quemoptasseporfilmar um dia mais tarde teria maistempodepreparaçãoemenostempodemontagem.Evice-versa.

Os actores tanto foram mem-bros das outras equipas de cine-ma,comoactoresousimplesmenteamadores que responderam a umcastingpublicitadonas ruasdeRi-badeo. E organizado naquela queviriaaserasaladeprojecçãodosfilmes,nofinaldofestival.

Ascondiçõesdisponibilizadaseoescassotempodisponívelnãopermiti-

ramfilmesmuitoapuradostecnicamen-te.Noentanto,o resultadofinaldeste«youthexchangeprogramme»traduziu-seemobrasoriginaiseinteressantes.

Gonçalo Jordão realizou «BaixaCeo!», uma enternecedora história deconquistaamorosa.E«Bittersweat»,co-realizado por Gonçalo Soares e LeeniLinna, uma das participantes estónias,contaahistóriadeumrapazquecometeumcrimeparairpararàprisãoeassimsepoder«libertar»dasuanamorada.

Osoutrosdoisfilmesforam«TheFlo-werSeller»,realizadopeloinglêsWilliamTennant, estudante da London FilmAcademy(comotodososseuscompa-triotas),quenarraopequenodramadeumvendedordefloresquenãoconse-gue arranjar namorada; e «Ribadeo,

Singularidadesdeumcinemaportátil

Babylon»,omaisexperimental,quesevirouparaacidadequeacolheuofesti-val,fazendooretrato,entreaficçãoeodocumentário,deumjovemquechegaàcidadeeatenta«incorporar»,assimcomointegrar-senasuasociedade.

Nopenúltimodia,asobrasforamexibidasnoAuditórioMunicipal,apósdoisdiaseduasnoitesdemontagemepós-produçãodesom.Areacçãodopúblicofoiextremamentepositiva,dei-xando antever a futura continuidadedoprojecto«On&OffFilmFestival».

Os participantes portugueses fi-caramcomumaboarecordaçãodasua participação e, acima de tudo,empenhados em procurar apoiosfinanceirosparaorganizar este tipodeencontrosemPortugal.

Osargumentosdascurtas-metragensforamescritospelosprópriosalunos

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30 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Histórias de Sucesso

‘ACurva’batetodososrecordes

SeismilhõesvêemnoYouTubeactoresdaEscoladeCinema

David Rebordão pode orgulhar-se de ter conseguido o que nenhum outro realizadorportuguês conseguiu até hoje: juntar seismilhões de espectadores a ver o seu filme«ACurva».Realizadaem2004,estacurta-metragem,comaduraçãodeseteminutos,é jáomaiorêxitodocinemaportuguêsaoníveldasaudiências.OfilmefoidivulgadointernacionalmenteatravésdoYouTube,aplataformacibernautacadavezmaisnaberra.

Textos de Paulo Silveiro

«Foialiqueeumorri»,dizapersonagemdeTeresaFidalgo,imediatamenteantesdocarrosedespistar

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31Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Histórias de Sucesso

AHISTÓRIAdofilmeémuitocuriosa,tendo sido feito comomeio promo-cionaldeumaoutracurta-metragem.Em 2004, David Rebordão estavacomdificuldadesemrealizarofilme«O Vírus», quando se lembrou defazer uma pequena metragem quefuncionassecomochamariz.Foias-simquenasceu«ACurva».

Ofilmeéapresentadocomoumafilmagem realizada por um grupo deamigos,quesepasseiadecarronumanoitepelasestradasdeSintra.Subita-menteumaestranharaparigaaparecea pedir boleia.Odesfechoé surpre-endente:araparigaeraoespíritodeTeresaFidalgo,umajovemquetinhamorridonumacurvadaquelaestrada.Osjovensacabamporsedespistarememorrernamesmacurva.AideiadeDavidRebordão era apresentar estefilmecomoumahistóriaverdadeira.Oresultadofoiassombroso:«ACurva»tornou-seummitourbano,apartirdomomentoemqueumcibernautades-conhecidoresolveuinseri-lonomaiorsitededivulgaçãodevídeosdomun-do,ofamosoYouTube.

Ofilmepercorreuomundo.Foile-gendadoeminglês,italiano,espanholeatéemlínguasorientais,tendosidovistomilhõesdevezes.Afacemórbidade Teresa Fidalgo, ao voltar-se paraacâmaraeexclamar«Foiali queeumorri»concorreemtermosdepopula-ridadecomasensualidadedeSorraiaChavesn’«OCrimedoPadreAmaro»,ofilmeportuguêsmaisvistoatéhoje.

Paratornarahistóriamaisrealista,DavidRebordãousouactores desco-nhecidosdograndepúblico.Aescolharecaiu emalunos daEscolaSuperiordeTeatroeCinema,quetiveramassima oportunidade de testarem as suascapacidades artísticas. Esta colabo-raçãodosalunosdaescola jáexistiadesdealgumtempo.Semprequeeramprecisos actores para publicidade ouvideoclips, os alunos da ESTC eramreferenciados comoosmais capazespara encarnarem as personagens. Oresultadonãopoderiatersidomelhor:o seu desempenho foi tão verosímilqueofilmepassouporverdadeiro,tor-nando-seumfenómenodainternet.

Paraorealizadorosucessodeve-seaofactodahistóriaretratarummitouniversal, já queem todos os países

FotodeBárbaraGabrie

l

Ajovemactriz,SaraCipriano,fazopapeldeTeresa

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32 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Histórias de Sucesso

Um mistério na estrada de Sintra existem descrições de aparições demulheresdebrancoemestradas.Du-ranteumano,DavidRebordãomante-veo anonimatoem relaçãoà autoriadofilme, contribuindoparaaespecu-laçãoquesegerouquantoàveracida-deda«Curva».Apósesseperíododetempo,orealizadorapresentou-seaosMediacomooautordofilmecommaisvisualizações na internet, tentando ti-rar partido desse facto para angariarapoiosparaosseusprojectoscinema-tográficos.Econseguiufinalmentequea produtora MGN, de Tino Navarro,aceitasse produzir a longa-metragemRPG – Real Playing Game. O seugrandedesafioéagoraconseguirqueesta fita alcance o sucesso que elesemprepensouquepoderiaatingir,selhedessemumaoportunidade.

Oguiãogiraàvoltadosvideojogos,ondeaspersonagensvivemvidasalter-nativas,numthrillerfuturista.Outraparti-cularidadedoprojectoconsistenofactodocastingestaraserrealizadoatravésda internet.Foiconstruídoumsiteso-breofilme–rpgcasting.com–ondeosactores que quiserem candidatar-se aum papel no filme podem seleccionarospersonagensdeacordocomassu-ascaracterísticasfísicasepsicológicas.Apósaescolha,osactoresterãoquefil-marumacenapropostapelaproduçãodofilmeeenviá-laparaosite.

Osinternautasqueacedamaosite,podemverossketchesdoscandidatosevotarnosqueconsideraremosme-lhores.Jáexistemcercade450can-didatos,detodasaspartesdomundo,sendoqueosmelhoresserãochama-dosarealizarumcastingpresencial.Aescolhafinalrecairánosdezmelhoresactores,queirãointegraroelencodofilmequeserárodadoesteano.

DavidRebordãotemaconsciênciadeque foiosucessoalcançadopelacurva,quelheabriuaportajuntodasprodutorasnacionais,equeestaésuaoportunidadeparamostraroquevale.Paraisso,aprodutoraMGNtemcer-cadeummilhãodeeurosparareunirumaequipa,queconsigaporemprá-ticaas suas ideias.Eessasnão lhefaltam.Nacertezadequeocinemaé(também)umnegócio e o retorno fi-nanceiroéimportante,temapalavraopúblicoqueserásempreocríticomaisimportanteparaorealizador.

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33Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Histórias de Sucesso

Ahistória de «A Curva»tem semelhanças comumfamosofilme,supos-

tamente feitopor trêsestudantesdecinema,queentraramnasflo-restas de Burkittsville, Maryland,nos Estados Unidos, para filmarumdocumentário sobreumcasodebruxaria.Desapareceramsemdeixar rasto,eumanodepois foiencontradoumfilmequeretratavaos acontecimentos sobrenaturaisvividospelostrêsestudantes.

Esse episódio provocou gran-desdiscussõessobreasuavera-cidade,tendodadoorigemàmito-logiad’«ABruxadeBlair».Todoofolcloregeradoemseuredorfoidepois aproveitado pela HaxanFilmes, para divulgar em todo omundo o filme dos estudantescomoverídico.Aprodutoralucroumilhões e o site foi visitado pormaisde20milhõesdepessoassónaprimeirasemanadaexibição.

Na«Curva»sucedeuumpoucoo contrário; sódepoisdacoloca-çãodofilmenainternet,surgiramos fóruns de discussão sobre «ofantasmadaestradadeSintra».

ApersonagemdeTeresaFidal-go,que foi interpretadade formasoberbapelaalunadaEscolaSu-perior de Teatro e Cinema, SaraCipriano,tornou-seumverdadeiroíconenainternet.Sefizermosumapesquisa no Google, deparámo-noscomumaexaustivadescriçãoda personagem. O fascínio daspessoas pelo sobrenatural é tãointenso,quehouvequemjurasseapés juntos tervistoasepulturadeTeresa Fidalgo num cemitériodeSintra.Conhecidos como len-das urbanas, este tipo de fenó-menos são difundidos por formaoral oupela internet, utilizandooe-mail.Algumas dessas históriassãobaseadasem lendasantigasque,aolongodotempo,foramso-frendoalterações.

Um mistério na estrada de Sintra

FotodeBrunaViegas

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Histórias de Sucesso

OrealizadorrebeldeOCINEASTArebeldenasceuemLis-boanoanodaRevoluçãodeAbril.Ain-dafrequentouocursodeDireito,masdepressa se percebeu que não eraessaasuavocação.Desdeainfânciaqueseinteressavaporcinema.E,da-doqueopaieradonodeumclubedevídeo,tinhaacessoamuitosfilmes.

Aos7anosjáconseguialerasle-gendas.Mais tarde, quando tinha 14anos, foi experimentar o teatro ama-dor,masoteatronãoofascinoucon-venientemente.Eaos18anos,comoadventodastelevisõesprivadas,resol-veuinscrever-senaEscolaTécnicadeImagemeComunicação–ETICondetirouocursodeoperadordecâmara.David tinha consciência de que eranecessário começar por aprender astécnicascinematográficas,antesdeseaventurarnarealizaçãodeumapelícu-la.Quandosaiudaescolafoitrabalharnoutrasáreas,regressouaos28anosparatirarocursoderealização.Oem-penho e o entusiasmo demonstradosduranteocurso,forampremiadoscoma permanência na ETIC durante umano,aproveitandoomaterialqueaes-colalhedisponibilizavaparadesenvol-veretestaroquetinhaaprendido.

Aentradanomercadode trabalhodeu-senaáreadapublicidade,ondetra-balhouemváriasagênciascomoeditordeimagem.Masosonhocontinuavaaserarealizaçãodefilmes.Tentouentãovenderaosprodutoresassuas ideias:umasériedetrezeepisódiosparatele-visão,«LendasemSéries»,sobrelen-dasportuguesasdecarizsobrenatural,oriundas de várias regiões do país; alonga-metragem Real Playing Game;e a curta-metragem«OVírus».Oex-pedientefracassou,masacriatividadelevou-oateraideiaquemudoutudo.

DavidRebordãoéumferozcríticodopanoramaaudiovisualportuguês.Qual D. Quixote contra os moinhosdevento,nãodesistede lutarpelosseusprojectos,utilizandoosseusdo-tescriativosparaospromover.A in-ternetéumaferramentapoderosaeDavidRebordãoutiliza-asabiamente.Ositede«ACurva»incluiumteasersobreas«LendasemSérie»,segui-dodeumapetiçãoparapressionaras

estaçõesde televisãoaproduzirem-nas. A palavra de ordem é «Todosjuntosvamosconseguirmudaroau-diovisualemPortugal».

O realizador considera que emPortugal dá-se mais valor aos «ar-tistas» sem qualidade, quando são«popularuchos», do que aos jovensque tentam iniciar-se com poucosmeios.Emsuaopinião,asestaçõesdetelevisãoestãomaisinteressadasem noticiar catástrofes naturais, cri-mesemexericospolíticosdoqueemrealizarjornalismodeinvestigação.Ainternetacabaassimpordaraopor-tunidadeaosjovenscriativoscompe-quenosmeios,demostraremdoquesãocapazes.ParaDavidRebordãoainternetéfundamentalparaqualquerprofissão, ali não existem limites àcapacidadecriativa,eoscríticossãoos cibernautas que fazem a avalia-çãodoquevêm.

O realizador é igualmente críti-co do cinemaque se faz emPortu-gal, sublinhando o facto de ser dospoucos países que nunca tiveramnenhumfilmenomeadoparaosÓs-cares. E considera que os nossosrealizadores são poucos exigentes,ficandoempolgadosquandoatingemos400milespectadores.

David Rebordão diz que, aocontráriodoqueouviudizeraJoãoBenarddaCosta,ocinemaéentre-timento. Em seu entender o actualproblemadocinemaportuguêsnãoétécnico,masdefaltadeargumen-tistas que forneçam matéria-primadequalidade.Eleéadeptodocine-maquesefazemHollywood,sendofãdeStevenSpielberg.Eapesardesaberqueo factodeser tãocríticopode afastar potenciais produtores,não desiste de dizer e fazer o queconsideracorrecto.

DavidRebordão,cineastainconformista

FotodeBrunaViegas

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35Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Destaque

PresidênciadoIPLcompleta

COManomeaçãodoProfessorDou-torManuelMendesdaCruz, do Ins-tituto Superior de Contabilidade eAdministraçãodeLisboa,comovice-presidente,ficacompletaaequipaquedirigeoInstitutoPolitécnicodeLisboa.OcolectivopresididopeloProfessor-coordenadorVicenteFerreiracontavajá,desdeasuareeleição,comaPro-fessoraDoutoraMariadeLurdesSer-razina,daEscolaSuperiordeEduca-çãodeLisboa,comovice-presidente.

ApossedeMendesdaCruzrea-lizou-senopassadodia1deSetem-bro,nosserviçosCentraisdoIPL,sobapresidênciadeVicenteFerreira.

Mendes daCruz licenciou-se emControlo Financeiro no ISCAL, con-cluiuomestradoemGestãoeEstraté-gia Industrialno InstitutoSuperiordeEconomiaeGestãoedoutorou-seemGestão Global no Instituto Superiordas Ciências do Trabalho e da Em-presa.DocenteePresidentedoCon-selhoCientíficodoISCAL,possuiumavastaexperiêncianaIndústriasegura-dora,ondedesempenhoufunçõesdedirecção.Foioautordaprimeiraobrapublicada pela colecção CaminhosdoConhecimento,«FundamentosdoProcesso de Decisão Estratégica naIndústriaSeguradoraPortuguesa».

Maria de Lurdes Serrazina acu-mulaavice-presidênciadoIPLcomapresidênciadoConselhoDirectivodaEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboa.Licenciou-seemMatemáticana Universidade de Lisboa, possuioMasterofEducation,MathematicsEducationdaUniversidadedeBos-toneéDoctorofPhilosophy,Mathe-maticsEducationpelaUniversidadedeLondres.Éaactualcoordenadorada Comissão de AcompanhamentodoProgramadeFormaçãoContínuaemMatemáticaparaprofessoresdo1ºciclo,nomeadapeloMinistériodaEducação.

CampeãoOlímpicoregressaàsaulasOATLETANelsonÉvora,alunodaEscolaSuperiordeCo-municaçãoSocial,regressaàrotinadoseucursodePubli-cidadeeMarketing,apósdeixarasuamarcanahistóriadaparticipaçãoportuguesanosJogosOlímpicosdaEraMo-derna.Nodia21deAgostode2008,oseuesforçofoire-compensadocomaobtençãodamedalhadeouronotriplosalto.Há12anosqueonossopaísnãoconquistavaumamedalhadeouronosJogosOlímpicos.Oatletapassouagarantira4.ªmedalhadeouroalgumavezconseguida,sendoa1.ªnumadisciplinatécnica.Imparável,continuaademonstraroseupotencial,tendovencidoentretantoafi-naldotriplosaltonafinalmundialdeatletismorealizadaemEstugarda,naAlemanha.ApardeNelsonÉvora,aatletaNaideGomes,alunadaEscolaSuperiordeTecnologiadaSaúdedeLisboa,comoqueemdesforrapelosresultadosemPequim,foitambémvencedoraemEstugarda.C

arlosMatos/COP

LurdesSerrazina VicenteFerreira MendesdaCruz

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200836

Profissão

AdançaentroumuitocedonavidadeAméliaBentesenuncamaissaiu.Éatravésdelaqueabailarinaexteriorizaenergiaseemoçõesquepassaaosespectadores,despertandonelesaimaginação,ossentidos,acapacidadedeviajarnamáquinadossonhos.AEscolaSuperiordeDança,aquesemantémligadadesdeoiníciodoseupercurso,éopalcoonde,comoprofessora, transmite experiências e ensinamentos aos queagoradãoosprimeirospassos.

Textos de Clara Santos Silva

AENTRADAdeAméliaBentesnaEscolaSuperiordeDançadeu-seem1987,termi-nando em 1989 a licenciatura em espec-táculo. Considera-se, aliás, uma pioneirada escola, dado tê-la frequentado no seuprimeiroanodeexistência.Nomesmope-ríodo, e sendo a dança contemporânea,uma área ainda em expansão, foi alunaconvidadadaEscoladoBalletGulbenkian.Foram três anos muito intensos, que seconfiguraram como uma rampa de lança-mentomuitoimportante.

A ambição de desenvolver cada vezmais o lado coreográfico, a condição deintérpreteeaimprovisação,levou-aaop-tarporprocurarmaisformação,destafei-ta noestrangeiro.Atravésde referênciasdadasporGilMendo,professordaEscolaSuperior de Dança, chegou à EuropeanDanceDevelopmentCenter –College ofArts, na Holanda, onde se diplomou emdançaecoreografia.Estanovaexperiên-

cia, permitiu alargar os horizontes, prin-cipalmentenocampoda técnicaContactImprovisation.ApesardepoucoconhecidaemPortugal,estatécnicasurgiunosAnos60naEuropa.Assentamuitonasensibili-dadedo toquee da pele, tirandopartidodaforçadagravidade.

Ainda na Holanda, Amélia Bentestornou-se,em1990,membrodaCompa-nhia,AmsterdamDanceTheatre.Desdeaíqueinveste,incessantemente,naactu-alizaçãodastécnicas,quesãoobjectodeconstantes mudanças. Isso explica queintercaleassuasactuaçõesemPortugalcomidasaoestrangeiro,comointérprete,coreógrafaeatéprofessora.

A partir de 1991 passou a incorpo-rar aCompanhiaClaraAndermatt, comquem se identificamuito em termos deemocionalidadeedelinguagem.E,qua-se em paralelo, dançou, entre 1993 e1994, inúmeras coreografias de Paulo

Ribeiro,voltandoaaceitarumseucon-viteem2005,paraacomemoraçãodosdezanosdaCompanhia.

O seu projecto pessoal iniciou-se em1997,comoespectáculoCircularAr,mon-

A«NoiteÁrabe»eoutrossonhosAMÉLIA Bentes continua cheia de projec-tos,queremPortugal,quernoestrangeiro.Esteano,aconvitedoencenadorPauloFi-lipe,ensinandoosactoresdapeça,«ANoi-teÁrabe»deRolandSchimmelpfennig,queesteveemcenade7a16deMarçoúltimo,noTeatrodaPolitécnica,amovimentar-seempalco.Essaexperiêncianovafoi,paraela,muitoenriquecedora,levando-anãosóaolharparaoscorposmasa«ouvi-los».

Do estrangeiro surgiram-lhe convi-tes para ir à Finlândia e à Holanda daralgumasaulas,oqueabailarinaAméliaBentes levouadecidir queem2009 iráapostaremcursosintensivos.

Oseumaisrecentesonhoéumpro-jecto, ainda embrionário, que deveráser protagonizado por um trio de mu-lheres,equeesperapoderapresentarjánopróximoano.

AméliaBentes:bailarinaeCriadora,intérpretee

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 37

Profissão

tadocomoobjectivodeobterapoiodoMi-nistériodaCultura.Atentativaresultoueofinanciamentomantém-seatéhoje.

UmdosseusúltimostrabalhosderelevofoioDuetoEgoSkin,apresentadoem2007,

no Centro Cultural de Belém. Trata-se deumprojectoinovador,quealevaapartilharopalcocomLudgerLamers,numaviagemtridimensional, que atravessa o teatro, adançaeodesenhodigital, tendoumavez

maiscomo referênciaocorpoeapele.Osucessodestetrabalhoacaboupordetermi-naranecessidadedeorganizaçãode inú-meros workshops ligados à improvisação,quepercorreramalgumasregiõesdoPaís.

FotodoCem

coreógrafadecorpoealmaprofessoradedança

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Parar para Pensar

38 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Profissão

Amélia Bentes lamenta que adança esteja ainda pouco populari-zadaemPortugal,jáque,paraalémde não ser possívelmanter umes-pectáculopormaisdedoisdiasemcena, o público é escasso e poucosimpático para os bailarinos. O la-do bom é que os teatros são cadavezmaisreceptivosàsuaactuaçãoe têm cada vezmais condições deproporcionarumbomespectáculo.

Montar um espectáculo impli-ca um investimento enorme, emtempoeesforço, paraa equipa.O

Ego Skin, por exemplo, começoua ser preparado um ano antes deserapresentadonoCentroCulturaldeBelém.Osworkshopssãomaisbaratos,mais fáceisdecolocaremfuncionamentoechegammaisfacil-mente às pessoas,mas sãoo quesão.Aadesãoé,aí,muitosuperioràdeumaapresentaçãoempalco.

Para a bailarina o Ministério daCulturadeveriainvestirmaisnoensi-nodadançae incitaascompanhiasdedançaaapostarmaisnosnovosbailarinosqueestãoasairdasesco-

las,emenosnacontrataçãodebaila-rinosestrangeiros.

O ensino é nela uma paixão.Amélia Bentes nunca chegou aparar de ensinar. Associou sem-pre a missão pedagógica às suasperformances de intérprete e decoreógrafa.AsprofessorasManue-la Valadas e Luísa Taveira são as«culpadas» dessa dedicação, umavezqueforamelasqueiniciaramosconvitesquerecebeparadaraulasnaEscolaSuperiordeDança,oquesemantématéhoje.

A DANÇA contemporânea, como evolução da dançamoderna,procuratransmitirsentimentoseproblemasdasociedadeactual,atravésdemovimentosquereflectemimagens corporais ementais, desenvolvendo o corpoemmovimentosexpressivosdeideiasabstractas.

Aconsciênciadocorpo,dosgestos,daexpressão,éfundamentalparaadesinibiçãonadança,fazendoesquecer o preconceito do toque. Amélia Bentestem trilhado, nesta área, um caminho profundo no

desenvolvimentodadançacontemporânea,noestudodosmovimentosedassuasmensagens.Começoucedonadança,masdesdelogopercebeu

que essa seria a paixão da sua vida.Aos 14 anos adança começou a assumir um papel muito forte, epelasmãos da professora FátimaPiedade, que cedopercebeu as suas potencialidades, tornar-se-ia suaassistente em todos os espectáculos e produções,entre1980e1992.

Adançaéumespelhosocial

CatarinaBarata

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39Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Profissão

AMÉLIABENTES entra noEstúdio 8daEscolaSuperiordeDança,seguidadosalunosdo1ºano.Estãoumpoucoapreensivos.Elessabemqueaforma-ção-base que possuem não é aindasuficiente para que tudo corra comodesejam.Estãoainda«verdinhos».

A sessão começa comumaque-cimento profundo, a nível muscular.Soltoocorpo,háquetrazeramenteparadentrodasala.Começamentãoa mexer-se em todas as direcções,com total desinibição. A professorafala-lhesdaimportânciadossentidos,dotoque,daintensidade,daqualida-de dos seusmovimentos. E quandoatingemessedomínio, irrompeaes-pontaneidadeeaimprovisação.

Tudoénovoparaeles.Eessano-vidade é acolhida comevidente pra-zer.Percebe-se,nalevezadosmovi-mentos,a intensidadedamensagemquepassadelaparaeles.Pareceumacontradiçãomasnãoé.Elesseguem-naatentos,tentandoatodocustore-petiroesquemacomamesmaener-giaepaixão.

AformaçãodedançanestaEscoladirige-sefundamentalmenteàáreadoespectáculo.Eumensinomuitovoca-cionadoparaacoreografia,emqueto-dossabemquetrêsanosdeformaçãoé pouco para entrar nummeio ondehámuito competição.Osestudantessãoporissoconvidadosaconstruirasuaprópriamensagem.Éumtrabalhodeestudomuitointenso,quequando

UmamanhãnoEstúdio8

nãoé feito combaseemmuitapes-quisa acaba por ter de ser copiado.Adocenteestimulaa leitura,ogostopelacultura,oprazerdotexto.

Adançacontemporâneatemumacomponente improvisação muito for-te.Améliaexplicaqueosmovimentosqueexemplificasão«puroesqueleto»,apartirdoqualsepodeconstruirumafrase,umamensagem.Éessa,deres-to,atécnicadecontactimprovisation,quetrabalhamuitocomasensibilida-dedotoqueedapele,comagravida-de.Faladoestadodeawareness,daconsciênciadoespaçoedosoutros,danoçãodepesoedecheiro.Éumatridimensionalidade, na qual o corpotemqueestarlivreparasemexerem

todasasdirecções,chamandoasiamente.Aconsciênciaperiféricapermi-teaobailarinoestaratentoatudoeatodos,nomeadamenteopúblico,eemsimultâneotocarnocorpoumdooutrosempudor.Éumtrabalhomuitoemo-tivo, noqual tambémpodemutilizar-se metáforas, trabalhando muito natransformaçãodeumaimagemcomaqualopúblicoseidentifique.

A dança passa muito pela ima-ginação,nãoseprendendomuitoafórmulasepodelevarquemofazadescobrir-se como indivíduo.A téc-nicaé,aqui,uminstrumento,quele-vaaqueopúblicoesqueçaocorpoe viaje, entrando em comunicaçãocomobailarino.

FotosdeBárbaraGabriel

FotodeBárbaraGabriel

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Parar para Pensar

40 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Empreendorismo

OINSTITUTOSuperiordeEngenha-ria de Lisboa acolheu recentementeumworkshopalusivoaoempreendo-rismo,centradona ideiadaviragempor que passam, a nível internacio-nal,asáreaseconómicaesocial.Oeventoreuniuespecialistasdeváriasinstituições, reconhecidos pelo seu

trabalhoouexperiêncianocampodoempreendorismo.Eosintervenientesforamunânimesemafirmar,aolongodo debate, que Portugal atravessa,inserido numa realidade maior, ummomentoparticularmentedifícil,queexige uma consciência, assente nomaiorpapelqueteráaaprendizagem

ao longo da vida activa, que serátambémelamaislonga.

A primeira grande crise de globa-lização,naspalavrasdeAugustoMa-teus,economistaeconhecedordestasmatérias, provocará mudanças tam-bémnaformacomoseencaraareali-dadenumavertentepolítica.Umadas

OpresidentedaBrisa,VascoMello,aoladodopresidentedoIPL,VicenteFerreira,edoempresárioRicardoPrata,ouvematentamenteasexplicaçõesdoengenheiroLuísOsóriosobreosprojectosdesenvolvidosnonovolaboratóriodoISEL

Tempodesercriativoecorrerriscos

EscolasdoIPLestimulamideiasgeradorasdeemprego

AsescolasdoInstitutoPolitécnicodeLisboareforçamaapostanoempreendorismo.As suas redes de colaboração científica e tecnológica ganhammaior dimensão,envolvendocadavezmaisalunoseprofessoresnoprocessogeradorde ideiaseprojectosdesucesso.OtemaesteveemdebatenoISEL,numencontroquereuniumuitosespecialistas.Numtempoemquecrescea ideiadequeoplenoempregochegouaofim,acriaçãodeempregoprópriopodeserboasolução. Textos de Clara Santos Silva l Fotos de Pedro Pina

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Empreendorismo

grandesrespostasaesteparadigmaé,semdúvida,serempreendedor,apre-sentarconceitosinovadores.Trabalharcomoobjectivodecriaropróprioem-prego é uma saída ao agravamentodo desemprego, nomeadamente doslicenciados. A importância do conhe-cimento assume-se primordial comofactordedistinçãonomercadodetra-balho.Ainda,eaindasegundoaqueleex-ministrodaEconomia,aspessoastêmqueinvestirnumaactividadeondepossamserúteiseautónomas.Opa-ralelismoentreproduto/serviçopodeserumadaschavesparaosucesso,considerando sempreo segmento de

mercadoaquemsedirige,easoportu-nidadesquesurjam.Aqui,osInstitutosPolitécnicos têmumpapel de relevo,quepassaporpromoverodesenvolvi-mento regional, lembrouopresidentedoIPL,VicenteFerreira.

NaópticadoEstado, representa-do por Luís Filipe Costa, presidentedo InstitutodeApoioàsPequenaseMédiasEmpresas (IAPMEI), a quali-ficaçãodaspessoas,eacapacidadedesoluçãoderiscodosportugueses,serãofundamentaisparaencararesteperíodonegativodegrandeflutuaçãoeconómica.Emsuaopinião,osportu-guesessão«culturalmenteavessosa

cooperar»,maséaíqueresideares-posta.Acooperaçãoentreempresase unidades académicas, defendidapelopresidentedoIPL,jádeumostrasdesucessonoutrospaíses.Umbomexemploéa Itália, paísondea coo-peraçãoobtevemelhores resultados,atécomofactordesobrevivênciaporpartedealgunssectores.

O programa FINICIA é uma dasredes de parcerias que parece tersemeadoalgumaconfiançajuntodosjovensempreendedores.OIPLconti-nuaainvestirnestaplataforma,acre-ditando tratar-se de um fio condutorparaainovaçãoedesenvolvimento.

BrisasubsidianovolaboratórionoISELOINSTITUTOSuperiordeEngenha-riadeLisboaficoumaisapetrechado,desde a inauguração do seu maisrecente laboratóriododepartamentodeengenhariadeelectrónicae tele-comunicações e de computadores.Aproveitando a presença de VascodeMello,presidentedoconselhodeadministraçãodaBrisa,cujocontribu-tofinanceiropermitiucolocarolabo-ratórioem funcionamento,a inaugu-ração deu-se com o descerramentoda placa pelo próprio. O professorLuís Osório, principal responsávelpela realização do workshop ISELEmpreendedorismo,mostrou-semui-tosatisfeitocomoavançoconsegui-do,querpelodebatepromovido,quer

comonovolaboratório.Osentimentodequeamensagempassoufoisentidopor todos os presentes no evento.Oenfoqueparaoinvestimentoemredesdecooperação,apardoqueaconteceentreoISELeaBrisa,serviudeexem-ploparaquemuitosmaissurjam.

Muitosdosoradoresafirmaramafalta de coragem do Estado em de-sencadear sérias mudanças no de-senvolvimento do empreendorismo.Apesardeaindaserencaradocomosubsidiador, Luís Osório consideraqueseriamuitopositivoseroEstadoa criar condições para que o poten-cial na inovação seja mais intenso,tendoumconhecimentomaisdirectona avaliação das situações. Aquilo

que se pretende é garantir que asuniversidades e politécnicos sejammelhoresnocampodainovação.Noentanto,oinvestigadorasseguraquesetodostivessemasmesmasregrasos resultados seriam melhores. Éaindadeopiniãodequequemcon-segue resultados temapoio implíci-to.«Oproblemadoempreendorismoécomumaosdoissubsistemaseéimportante que as empresas sejamfinanciadoras das condições de in-vestigação e desenvolvimento».Osprojectos,essescontinuamasurgir,permitindoavanços tecnológicosnocampo das telecomunicações, quefazem do ISEL uma escola ampla-mentecotadanestasmatérias.

OsprofessoresAugustoMateuseFernandoGonçalves(InstitutoSuperiordeEconomiaeGestão),FernandoSantana(FaculdadedeCiênciaeTecnologia)eopresidentedoIPMAEI,LuísCosta,foramosprincipaisoradoresdoencontro

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Empreendorismo

OdirectordaFaculdadedeCiên-cias e Tecnologia, Fernando Santa-na,assertivonodiscurso,aproveitoua oportunidade para criticar a opçãodotecidoempresarialportuguêspelacompradeknowhow, lançandoparasegundoplanoaprocuradeinovaçãotecnológica.Eomesmoorador, tam-bém representante do Madan ParkCiência,umparquedeciência, loca-lizadonocampusdaFCT,aproveitouparalamentarqueasincubadorasdeempresasestejamquasesempreas-sociadas a prejuízo, em contradiçãocomosucessoquetêmmostrado.

Um outro fervoroso apoiante dasincubadoras de empresas, JoaquimMenezes, reforça aquela ideia. AOPEN, a que preside, é uma incu-badora sediada naMarinha Grande,em estreita relação com empresasdaregião,comaadministraçãolocal,e com o ISEL, em cujas instalaçõespossuiumespaçodeincubaçãovirtu-al.JoaquimMenezesfoi,elepróprio,aluno do Instituto Superior deEnge-nharia de Lisboa, e como tal é-lhemuito cara esta cooperação.Na suaperspectiva,«daraosoutrosoquelhefoidado»motiva-oacontinuarligadoaesteprojecto.

Umdasmodernasteoriassobreoempreendorismoassentanasmudan-

ças culturais profundas, que devemser desencadeadas na ligação comosalunos,motivando-os,trabalhandoo seuespírito empreendedoremos-trando-lhes resultados de casos desucesso. Um dosmaiores exemplosa apontar é claramente o do MIT -MassachusettsInstituteofTechnology(agoraemPortugal),emque80%dosseusalunosnãoaceitaramapropostade primeiro emprego, preferindo in-vestirnacriaçãodaprópriaempresa.

Ocontactocomoexteriorporpartedosdocenteséumadasestratégiasquepermitecatalisarnovosconhecimentosque vão sendo transmitindos aos alu-nos,tornadoasuaformaçãomaisdinâ-micaenãomeramenteacadémica.

O empreendorismo está directa-mente relacionado com o factor ino-vação.Apressãodaprocuracatalisaa dinamização da oferta, de acordocom os economistas que estudam aárea. Fernando Gonçalves, do Insti-tutoSuperiordeEconomiaeGestão,afirma convictamente queos cientis-tasnãosão inovadores,nempodemambicionar ser empreendedores. Asuafunçãopassaporapresentarso-luções para velhos problemas. Serempreendedor significa abraçar umaideiaeapresentá-laaomercado.Noentanto,nãopodemosesquecerque

asuniversidadesnãogeramsóinves-tigadores, mas também empreende-dores.Daí ser importante adequar oensinoàsváriasvertentes.

A capacidade de ver numa ideiaumaoportunidadefazadiferença, tra-balhando sempre com certezas, masconsciênciadosriscos.Oconhecimentodapossíveltaxadesucessoeinsuces-soéprimordialparaagestãodoriscodequemquerlançar-senomercado.

Em representação das platafor-mas,estiverampresentesnoevento,professores da Escola Superior deComunicaçãoSocialedoISEL.Fran-ciscoCostaPereira,daESCS,centrouoseudiscursonafaltadeconsciênciadas instituições de ensino superiorquanto ao papel que desempenhamno campo do empreendorismo. De-fende que os alunos, no decurso dasuaformação,podemtrabalharead-quirir características, que de algumaformaospossamconduziraumper-cursoempreendedor de sucesso, noqualaimportânciadepensarestrate-gicamenteestánotopo.

Mas,comooempreendorismonãosobrevive semmeios financeiros,RitaSeabra, directora do IAPMEI, directa-mente ligada ao programa FINICIA,falou resumidamente sobre o apoiodadopeloEstadonorecursoacrédito

Osoftwareassociadoaoprojectodegestãodeparqueamentos,comrecursoaoreconhecimentoautomáticodematrículas

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Empreendorismo

bancáriocomgarantiaeelaboraçãodeplanosdenegócios.AplataformaIPL–Universidade Católica, inserida nesseprograma,esperacolherresultadosnaapresentação de projectos inovadoresporpartedosalunosdassuasescolas.

Oencontronãoterminousemdara conhecer dois casos de boas prá-ticasedesucessoquepodemservirde rampa de lançamento para tan-tosoutros.AsempresasMakewiseeDailyWorkmostraramqueépossívelvencernocampodainovaçãotecno-lógica.Osex-alunosdo ISEL,PedroManuel,daMakewise,eRicardoPra-ta,daDailyWork, falaramumpoucodaexperiênciaque têmnoprocessodecriaçãodeempresaseselaramassuas apresentações com chave deouro, assinando contratos estabele-cidoscomoISEL,representadopeloprofessorJoséCarlosQuadrado,pre-sidentedoConselhoDirectivo,garan-tindoa continuidadedeuma relaçãode cooperação muito enriquecedoraparatodasaspartes.

O ISEL foi exaltado por todosos presentes, porquanto mostraaté hoje que o seu papel vai alémdomeroensinoteórico,privilegian-

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doaindaesempreocontactocomasempresase comosalunosqueapresentem projectos inovadores.À luz desta imagem, Vasco Mello,presidentedoConselhodeAdminis-traçãodaBrisa,aquemcoubeoen-cerramentodoevento,faloudosvá-

riosprojectosqueligamaempresaàescola.Nãodeixoudereferirqueasustentabilidadeéumaconstantepreocupaçãodaempresa.Acriaçãodevaloréporisso,nasuaperspec-tiva, fundamentalparaassegurarosucessodasempresas.

NomaisrecentelaboratóriodeI&DdoISELensaiam-seprojectosdeelectrónica,telecomunicaçõesecomputadores

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Empreendorismo

O FACTOR inovação é fundamentalpara quem procura um espaço nosParques de Ciência ou IncubadorasdeEmpresas.Nasuamaioria,oses-paçossãocriadosnoscampusuniver-sitários, tendocomoapoioasCâma-rasMunicipaiseasempresaslocais.Verifica-seumaumentocrescentenaprocura desses espaços, por partedequemqueriniciarumacarreiranocampodainovaçãotecnológica.

Dirigido essencialmente a pro-fessores,alunos,ex-alunos,emes-moaempresasquequeiramalugarespaços, as incubadoras têmmos-tradoserumcasodesucesso.Nãopodemos deixar de considerar quese trata tambémdeum forte impul-so para o desenvolvimento de de-terminadas regiões. Aqui subsistea razão pela qual a AdministraçãoLocalestáquasesemprepordetrásdosParquesCiência, associada àsuniversidadesepolitécnicos, fontesgeradorasdeconhecimento.

OInstitutoSuperiordeEngenha-riadeLisboaéumadasinstituiçõesdo ensino superior que rapidamen-te assumiu estar direccionado paraprojectos empreendedores. Em di-rectaparceriacomaOPENdaMa-rinha Grande, uma incubadora deempresas, por sinal presidida porumex-alunodaescola, temnoseucampusumaáreadeincubaçãovir-tual. O espaço integra laboratóriosusados para desenvolvimento deprojectostecnológicos,comrecursoa equipamentos da escola. A incu-bação virtual, assim denominada,permite meios que de outra formatrariamcustoselevadosaumaem-presaqueoperenoramodaciênciaetecnologia.

ADailyWork, sediada nas insta-lações daOPEN naMarinhaGran-de,éumdessesexemplos.RicardoPrata refereque todososprojectossão desenvolvidos nos laboratóriosdoISEL,emboraasede,fisicamen-te,estejanasinstalaçõesdaOPEN.A empresa surgiu da colaboraçãodesteex-alunoedoprofessorAntó-nio Serrador, na área da investiga-çãoelectrónica.Osprojectoscome-

Umnegócioemexpansãoçaramabrotareaideiadeagarraraoportunidadedecriaropróprioem-pregofoiopercursonatural.

ParaalémdaestreitaligaçãocomoISEL,colaboramdirectamentecoma Universidade de Aveiro, que tam-bém alberga um espaço para incu-bação de empresas. «Os riscos sãoinerentes,maséumdesafio»,afirmaconvictamente Ricardo Prata, quesemmedosabraçouestegrandepas-sonasuavida.Elegarante tratar-sedeumagranderesponsabilidade,mascontrapõecoma liberdadedeacçãoque têm.Considera quepara se serempreendedor é necessário ser-sedotado de algumas das característi-casquefazemadiferença.«Achavedosucessotemessencialmenteavercom uma grande dose de persistên-cia, sem nunca pensar em desistir»,ideiareforçadaporGonçaloAbreudaempresaMakewise, outro dos casosdesucessonasboaspráticasnacria-çãodeempresas.

AempresaMakewisesurgiuem2004, de uma colaboração coma Brisa. O seu principal objectivo

passa pela prestação de serviçostecnológicos. O também ex-alunodo ISEL refere que neste momen-to já tem doze colaboradores, dosquais 90% são quadros técnicoscom formação superior. O últimogrande passo foi a integração daempresanoGrupoSousaPedro,oque permitirá trabalhar no sentidode garantir uma presença interna-cional da sua área de acção. Estepassosurgiudanecessidadedeemcertaalturaentraremredesdecoo-peraçãoquepermitemumfortaleci-mentodeumsegmentodemercadocomcontornosmaisamplos.

A continuidade da ligação aoISEL é assegurada pela assinaturade contratos de colaboração e deprestação de serviços. O objecti-vode cooperar em rede, defendidopelos especialistas, é colocado emprática pelos jovens empresários,semprecomoapoiodaescolaquelhesdeuaformação,eaquemelesretribuem com projectos de relevo.Porque, saber fazer, inovar e de-monstraréempreender.

Makewise(CaldasdaRainha):umcasodesucesso

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Empreendorismo

O INSTITUTO Politécnico de Lisboavai iniciar comestenovoano lectivoumconcursodeideias,noâmbitodoprogramanacionaldosInstitutosPoli-técnicosdoPaís,comoobjectivodefomentar o empreendorismo nos es-tudantesenoPaísepodercontribuirparadesenvolvimentonacionalcomacriaçãodenovasempresas.

Podem concorrer todos os estu-dantesdoInstitutoPolitécnicodeLis-boa, bem como os seus diplomadosqueestãonomercadode trabalhoetodososdocentesououtraspessoasque queiram formar equipas com osestudantesouosdiplomados.

Nesteconcursofoicriadaumaequi-paderepresentantesdecadaumadasescolasdoPolitécnicodeLisboacomoobjectivodedivulgaremeapoiaremto-dosaquelesquedesejaremenvolver-senesteprojecto.CadaEscolapossuidestemodoo seu representante quecoordenará todo o processo no seuâmbito.Afichade inscriçãoencontra-senositedoIPL,bemcomooende-reçodorepresentantedecadaEscolaparaquemseráenviadaaficha.

Esteprogramaqueseinicianodia1deOutubrocomasuaaberturaoficialnoInstitutoPolitécnicodeCoimbra,pre-tendetambémdinamizarosestudantesdetodososanosparaquepossamdarumcontributoparaelevaronossopaísno «ranking» internacional do empre-endedorismo,valorizaroseucurrículopessoaleemsimultâneopoderemcriaroseupróprioautoemprego.

OInstitutoSuperiordeEngenhariadeLisboaque vai tambémestar en-volvido neste concurso de ideias, jácomeçouadarasuacontribuiçãoaoempreendedorismo, com a sua liga-çãoaomercadodetrabalho,comasinovaçõestecnológicasquejádesen-volveu e com as empresas que temcontribuídoparaseremcriadaspelosseusdocentes e estudantes.Recen-tementedeumaisumpassoparaqueoempreendedorismosepossadesen-volvermaiscomarelaçãoqueestabe-leceucomumaincubadoradeempre-sas,aOPENeondejátemempresasem incubação virtual. Este concursodeideiasqueestamosagoraainiciar

Poliempreende:IPLlançaconcursodeideias

pretendedarumcontributoparaqueesse empreendedorismo no ISEL sedesenvolvaepossa levarmaisestu-dantesedocentesacriaremassuasempresas utilizando os recursos daOPEN,nasuaincubaçãovirtual.

Esteconcursodeideiaspodetam-bémreceberapoiosdoIAPMEI,atra-vésdoprogramaFINICIA,noâmbitodosacordosestabelecidosentreoIPLeoIAPMEI.Esteprogramadefinan-ciamentoalargourecentementeasuabasedeapoioepodeefectuarfinan-ciamentosnoâmbitodomicrocrédito,desdequeconsiderequeasideiases-tejambemconsubstanciadas no seuplanodenegócios.

Para este plano de negócios oprograma Poliempreende prevê umconjunto de formações que permiteaosparticipantesdoconcursoaprofun-darem os seus conhecimentos sobreo empreendedorismo e a criação deempresas,bemcomoaelaboraçãodoplanodenegóciosparaasuaideia.To-dososparticipantesqueconseguiremchegarà fasefinaldecriaçãodasuaempresaterãoumtutorqueoapoiaránaelaboraçãodoseuplanodenegó-ciosdemodoaquepossamaterializaraideianumnegóciodesucesso.

Um outro objectivo que se pre-tendecomesteconcursode ideiasnoInstitutoPolitécnicodeLisboaéquepossamexistircruzamentosdesinergias entre as várias Escolasaproveitandoosseussaberesatra-vés das complementaridades quesepossamcriar.OsgestoresdoIS-CAL com os técnicos do ISEL, daTecnologiadeSaúdeedasrestan-tesEscolas,naquiloemqueconsi-gaobtermais-valiascomosconhe-cimentosconjuntoparaacriaçãodeumdeterminadonegócio.

Esteconcursode ideiasmateria-liza-se num concurso regional paraos projectos de negócio que foremconsiderados viáveis onde serãoatribuídos prémios monetários aostrês melhores projectos (1.º 2000€;2.º1500€;3.º1000€)seleccionadospor entidades nacionais relevantesdosector,bemcomopelasempresaspatrocinadorasdosprémios.OstrêsprojectospremiadosemcadaInstitu-toPolitécnicodoPaísserãopresen-tesaumconcursonacionalondese-rãoescolhidosostrêsmelhorescomprémiosmonetários (1.º 10000€;2.º5000€; 3.º 3000€) que podem seracumuladoscomosregionais.

OprofessorFranciscoCostaPereiraéocoordenadordoprogramaPoliempreende

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A Protagonista

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Umabest-sellernoIPL

IsabelAlçadacomoprémioNobel,GabrielGarcíaMárquez,emCartagenadasÍndias

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OSONHOdeseraviadoranãoche-gouaserconcretizado.IsabelAlçada,pragmáticacomosempretemsidoaolongodavida,desistiudaideiaquan-doopailherecusouobrevet.Hojedizqueacircunstânciadesetertornadonumaprofessoraeescritoradeêxitofoioreflexodeumainfânciafeliz:Osseuslivrosmarcamjá,deformadefi-nitiva,aHistóriadaLiteraturainfantilejuvenilemPortugal.Asualongaeva-riadaexperiênciaeducativaeotalen-toparacomunicarcomosmaisnovossãoosingredientesdosucesso.

Comapenas18anoscasoue foimãedeumamenina,quemaistardelhe deu dois netos. Do segundo ca-samento,agoracomRuiVilar,actualpresidentedaFundaçãoGulbenkian,ganhoumaistrêsfilhosesetenetos,que a tratam como se fosse mãe eavóde sangue.E tudo isso faz comque,aos58anos,seconsidereumamulherfelizerealizada.

Isabel licenciou-se em Filosofia,mashoje,sepudessevoltaratrás,op-tariaporestudarHistória.Professorana Escola Superior de Educação deLisboa,deixoudedaraulasparaas-sumirocargodeComissáriadoPlanoNacional de Leitura.Assumido comouma prioridade política, o projecto,que existe há dois anos, pretendeelevarosníveisdeliteraciadosportu-guesesecolocarPortugalaoladodospaíseseuropeus.Numa iniciativaemqueosucessodependeda interven-çãodetodosedecadaum,IsabelAl-çadatemaresponsabilidadedecon-

A embaixadora da leituraAplaudidapormilharesde jovenscomoautoradaColecçãoUmaAventura…,daCaminho,queobtevesucessoseditoriaisrepetidosesemprecedentes,IsabelAlçadaé,paraalémdeescritora,professoradaEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboa.Mulherdeconvicções,aceitousemhesitaçãoodesafiodeseassumirpublicamentecomocabeçadecartazdoambiciosoprojectodefomentarhábitoscontinuadosdeleitoraentreosportugueses.ÉaComissáriadoPlanoNacionaldeLeitura,emquemmilesperançassedepositam.

Textos de Vanessa de Sousa Glória l Fotos de Pedro Pina

Isabel Alçada

FotoVanessadeSousaGlória

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seguirqueosportuguesesconsigamlidar, em qualquer situação, com apalavraescrita.SejanainterpretaçãodainformaçãoquelheschegaatravésdosMedia,sejanoacessoaoconhe-cimentodaCiênciaouna leituradasgrandesobrasdaLiteratura.Encara-

docomoumdesígnionacional,oPNLé da responsabilidade do Ministérioda Educação, em articulação com oMinistériodaCulturaeoGabinetedoministrodosAssuntosParlamentares.

A vida intensa que leva e umamemória muito viva de infância fa-

zemdelaumaexcelentecontadoradehistórias. Alguns dos episódios maismarcantesdasuavidajáserviramdeinspiraçãoparaoslivrosqueescreve.Éco-autoradacolecçãoUmaAventu-ra…,queiniciouhá26anoscomAnaMariaMagalhães,equeemPortugaljávendeu7milhõesdeexemplares.Foiumprojectocomumquecresceucomosanosecomoentusiasmodosleito-res.Aobrateminfluenciadogeraçõeseconquistadoosjovensparaaleitura.AsgémeasTeresaeLuísa,oPedro,oChico,oJoãoeopastoralemãoFaial,são personagens principais das 50aventuras já publicadas.Os enredos,cheiosdeemoçãoemistério,passam-semaioritariamenteemPortugal,masas ilhas da Madeira e dosAçores ealgunspaísesdosquatro continentesjá foram, também, cenários. Atravésdasuaobra,asduasescritorasdãoaconhecertradições,monumentos,cul-turasehábitoslocais.

GeralmenteéemcasadeAnaMa-riaMagalhãesqueocorreobrainstor-ming,doqualresultamasideiasparaoslivros.Depoisdedefiniremolocalda próxima aventura, elaboram umplanodetrabalho.Pornorma,visitamsempre os lugares onde se passamas histórias. E no regresso sentam-

EnquantocomissáriadoPlanoNacionaldaLeituraempenha-seemtransmitiroprazereogostopelapalavraescrita

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ELECTRICISTA amadora, Isabelé sempre voluntária para repararuma tomadaouum interruptoremcasadafilha,Vera.Sempredispo-nívelparaajudar,cultivaumarela-çãomuitopróximacomelae comos netos, Bernardo eGonçalo, de14e12anos.Habituadosaterumaavójovem,osrapazesjáaensina-ramaandardepatinsemlinha.

Isabel preocupa-se com a vi-da escolar dos netos e adora irbuscá-losàescola.Emsuacasa,Bernardo e Gonçalo sabem per-feitamente onde é a Gaveta dasGuloseimas,semprerecheadadechocolateseosrebuçados–umatradiçãoqueherdoudopai.

Praticamente, todos os dias, aescritora falaao telefonecoma ir-mã e os sobrinhos, habituada queestá, desde os 18 anos, ao papeldemãe.Éumacompensaçãoparaofactodeterdesistidodetermaisfilhos por razões de saúde. Aindapensou em adopção, mas nuncaconcretizouesseprojecto.Oprimei-ro casamento tinha durado quinzeanosemqueapósodivórcio,mãee filha passaram a viver sozinhas,oquenãoimpediaqueacasaesti-vessesemprecheiadegente.

Ela e a filha sempre cultivaramuma relaçãodegrandecumplicida-de;passavamhorasàconversa,tro-cavamlivrose,quandosefartavamdisso,mudavamosmóveisdelugar.Umdia,sozinhas,viajaramatéItália,ondepermaneceramummês,des-cobrindosítiosevisitandoamigos.

Mãe muito liberal, a filha, naadolescência,não tinhahorasmar-

Mãeliberal,avóradical

cadaparachegaracasa.Aeducaçãobaseou-sesemprenaconfiança,semmentiras.Veraéasuafãn.º1.Nomo-mentoemquecomeçoualeroslivrosdamãe,percebeuqueelesreflectiamemmuitosaspectosavidaqueambastinhamvivido.Aindahojealgumashis-tórias da filha servem de inspiraçãopara o seu trabalho. Uma Viagem àTailândiaéomelhorexemplo.

Apaixonada pelo campo trans-mitiu esse gosto à filha, agora com38anos,quese licenciouemEnge-nhariaAgrícola,emboraexerçahojefunçõesnoGabinetedeEmpresasdaCaixaGeraldeDepósitos.

Veraaindarecorda,comsaudade,otempoemqueamãelheliahistóriastodasasnoites,econtavamaventurasdosreiserainhasdePortugal.

Amante do desporto, IsabelAl-çada praticou várias modalidades,desde os quatro anos de idade, echegouaganharumamedalhanu-maprovadenatação,naclassedemariposa. Aprendeu a nadar nasFériasGrandes,napiscinadaPraiadasMaçãs.Experimentouvoleibol;basqueteboleginásticadesportiva,emparalelasebarra.Ediz-sespor-tinguista,porcausadopai,fundadordoClubeAtléticodeAlvalade.

Fascinada pelo mar, prometeainda este ano experimentar surfcomonetomaisvelhoedizterpenadenão ternascidomais tarde.Empequenadeixava-seiraosabordasondas,sóparasentiraadrenalina.Equandofazpatinsemlinhacomonetomaisvelhousavabotasdele.

seàmesaedãoasasàimaginação.Quandoestãoemdesacordo,procu-ramencontrarumaideiaqueagradeaambas.Otempodeescritadeumlivrovariabastante,podemlevarentreumacincomeses.

EmUmaAventuranoAltoMar,oúltimolivropublicado,jáesteano,osleitoresviajamatéaAntárctida,paraconhecer o trabalho de investigação

deumaequipadecientistasportugue-ses.Asescritorasrecorreramafilmes,diários,fotografias.

Nopapeldeescritoradesucesso,IsabelAlçadanuncasearmouemes-trela. Nas escolas e bibliotecas, nosconstantese inúmerosencontroscomosfãs,nuncaviraacaraàsobjectivas.Sempre com um sorriso, é capaz deautografar 400 livros, se lho pedirem.

Adapta-se com bastante facilidade, adiferentespessoasesituações,oquelevaAnaMariaMagalhãesadizerqueseperdeu»umagrandeembaixadora».

Após longas horas de trabalhono Plano Nacional de Leitura e naescrita, ainda tem coragem paravestir trajedegalaeacompanharomarido nos acontecimentos sociaisparaquesãosolicitados.

NostemposlivrescomosnetosBernardoeGonçalo

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200850

A Protagonista

MemóriasdeumameninabemcomportadaAescritora Isabel Alçada não serecordadeexistiremoutroses-

critoresnafamília,masoslivrossempre foramumapresençamuito forteláemcasa.Todasasnoitesopai, JoãoVeiga, engenheiro, lhe lia histórias emvoz alta. O momento era ansiosamenteaguardado por ela. E em casa da famí-lianãohavia livrosproibidos.Aindahojeserecordadeter lidoOCrimedoPadreAmarocomapermissãodopai.

Alfacinhadegema,nasceua29deMaiode1950,sendoamaisvelhadetrêsirmãsAfamíliavivianumapartamentoemAlvala-de,construídopelaempresadeconstruçãocivildopai.Guardaumaideiadefelicidade.AsfériasdeVerãoerampassadascomosprimos e tios, emSãoMartinho do PortoounaPraiadasMaças.Faziamassestasno terraço,averosolatravessaroscha-péusdepalhinha,antesdeadormecerem.Queriamcrescerdepressa,parapoderpar-tilharcomosadultosaalegriaeasrisadasque ecoavam no 1º andar, onde a sestaeraobrigatória.Tinha12anosquandosedeuumterrívelincêndionaSerradeSintra.Sempreprontaparaajudar,elaeosprimostentaram,semavisarospais, chegaraosbombeirosqueapagavamofogoparalhesentregar o farnel que tinham preparado.Masamissãofalhoueaindavaleuumabo-fetadadamãe,aflita.

A vocação para a escrita não passoudespercebida à professora daEscolaPri-mária, que escolheu entre muitas a suacomposição que retratava a coragem deD.FilipadeVilhenaemarmarosseusdoisfilhoscavaleiros.Mãegalinha,hojediz-seincapazdeimitarogesto.

Maistarde,aos12anos,inventavahis-tórias que depois passava para o papel,para adormecer a irmãmais novanope-ríodo de convalescença de uma maleita.EraaépocaemqueescrevianoseuDiáriopoemasehistóriasdeamor.

Opaifoiumdosresponsáveisporalgu-masdasgrandesobraspúblicasdaépoca,entre as quais a primeira auto-estrada, oEstádioNacionaleoMetropolitanodeLis-

IsabelAlçada,aembaixadoradaleitura

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 51

A Protagonista

Memóriasdeumameninabemcomportadaboa.Amãe,MariaHermínia Veiga,Mimi,nãotrabalhavamastinhaumenormetalen-toparaacostura.Faziaquestãodedese-nharosmoldesdosvestidosparaas trêsfilhas, que uma costureira depois confec-cionava. Era uma senhora, daquelas quenão saiam à rua sem se arranjar a rigor.Aindaviva,sofrehojedeAlzheimer.

No mundo maioritariamente femininoem que vivia, herdou do pai muitas dassuascaracterísticas,acomeçarpelaale-griadeviver.ErahomemcapazdelevarafamíliaatomarbanhosdemarnoInverno.Comunicativo e brincalhão, surpreendiaa famíliacomosmalabarismosque faziacom ovos. Enquanto educador, aplicava-

lhescastigosdivertidoseoriginais,comoo daquele dia em que foi obrigada, coma irmã,a jantarnacasadebanho.Disci-plinador,tinhaohábitodelhescheirarasmãos àmesa, para verificar se estavambemlavadas.Aprendeucomelequenemsempre devemos ter a pretensão de serosmelhores,porqueainveja,trazproble-mas.Depoisdasuamorte,Isabelassumiuoseupapelnafamília.Ehojenãohesitaem fazer o pino em frente dosnetos, selheapetecer.Aosdomingosreúneafamí-liaemCalamares,Sintra,nacasa-refúgiodosfins-de-semana,Efazquestãodeserelaprópria–quequandocasounãosabiacozinhar–aensaiarreceitasrebuscadas,muitas das quais inspiradas na comidaqueamãefazia.ÉtambémemSintraquepraticaumdosseuspassatempospreferi-dos:ajardinagem.

IsabelfrequentouoLiceuCharlesLe-pierreatéconcluiroensinosecundário.Noprimeirodiadeaulas,constatoucomespantoquefalavamumalínguadiferen-te da que conhecia. Valeu-lhe a colegadecarteira,aFifas,que ia traduzindooque os professores diziam. Mas aos 6

anos já falava francês…Ainda recordaodia,na2.ªclasse,emquese irritoueatirouumsacodeberlindesàcabeçadoAlan,omaudaturma,quelheestavaapedirnamoro.

Tornou-secatólicaporinfluênciadospaisdojornalistaJorgeWemans–actualdirectordaRTP-2–vizinhosdafamília,e fez a Primeira Comunhão. Todos osdomingos ia àmissa e chegoumesmo,

aos14anos,aser catequistana IgrejaSãoJoãodeBrito.

PeloseuexcelentedesempenhonoLi-ceuFrancês,foidistinguidacomo«Prixd’Excellence».Dacerimónia,noTeatroSãoLuiz,recordaovestidodefazendaquelhepicavaaspernasedeumfrioquesentiuaosubiraopalcoparareceberolivroOsDe-sastresdeSofia,daCondessaSégur,quenessanoite,leudefioapavio.

IsabelAlçada,aembaixadoradaleitura

AosoitoanosrecebeoPrix d’ ExcellencenoLiceuFrancês

A vocação para a escrita não passou despercebida à

professora da Escola Primária

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200852

A Protagonista

Boaaluna,confessaqueperdeuacon-tadas vezesemque fezos trabalhosdecasanacamionetaquealevavaaoLiceu.Eramuitonamoradeira,àsescondidasdopai, comonãopodia deixar de ser, tendonormalmentedoisnamoradosporépoca.

Não havia imagens ou gravuras quesuperassemomodosuigeneriscomoaprofessoraAliceGomes ensinavaHistó-ria de Portugal. Recorrendo à imagina-ção,elalevavaosalunosaviajarnotem-poenoespaço.HojedizqueoseuamorpelaHistóriasedevemuitoaela.Talvezpor isso tenha publicado livros que dãoa conhecer personagens doutras eras.A edição não passou despercebida aoshistoriadoresLuísdeAlbuquerqueeJoséMattoso,quedesafiaramasescritorasapublicaremcomelesaHistóriadosDes-cobrimentos Portugueses e alguns dosepisódiosmaisrelevantesdaHistóriadePortugal.Eaideiaprolongou-senotem-po,superandomesmoodesaparecimen-todeLuísAlbuquerque.«AFugadaCorteparaoBrasil»éotemadolivroquenestemomentoestãoapreparar.

Documenta-se sempre sobre os lo-caisacercadosquaisescreveeparaon-deviaja.Prefereaquelesondeosportu-guesesdeixarammarcas,comoacolóniade Sacramento, no Uruguai, cenário deconfrontoscomaEspanha.Jáempeque-na, nas viagens em família, ouvia aten-tamente as explicações do pai sobre osmonumentos históricos. Gosta da Índia,ondejáfoitrêsvezes,etemAngolaeMo-

çambique na lista de espera. E gostavadevisitar, naEtiópia, as igrejasescava-dasnaRochadeLalibela.

Isabel Alçada licenciou-se em FilosofiapelaFaculdadedeLetrasdeLisboa,maspri-

meirofrequentouocursodeGermânicas.FoiolivroACríticadaRazãoPura,deKant,queafezmudardeideias.Chegouadarexplica-çõesdeFilosofiaemcasa.Nopapeldepro-fessoradoEnsinoPreparatório,preferiusem-

Praticantedamariposa,ganhouváriasmedalhasanadarnapiscinadaPraiadasMaçãs

IsabelAlçadacomumanodeidadeaocolodamãe Aosdoisanoscomopai,JoãoVeiga

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 53

A Protagonista

preensinarHistória.FrequentouomestradoemCiênciasdaEducação.naUniversidadedeBoston,enoregressocomeçouacarreiradedocentenaEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboa,ondeaindahojeexercefunções.LáleccionouasdisciplinasdeSociologiadaEducação,IntervençãoEducativaeManifes-taçõesCulturaisContemporâneas.

Nemsempreavidalhesorriu.Sofreumuitocomosuicídiodairmãmaisnova,queeramédica.Masconseguiunãoen-traremdepressão,retomandoasuaacti-vidadeprofissional.

Desinibida, a dança sempre foi umapaixão, dedicando-se sobretudo ao rock-

and-rolleaotwist.Hoje,nãofrequentadis-cotecasporquenãosuportaoexcessodebarulho,masconfessaqueemcasamentosefestassociais,comomarido,éaprimeiroaabrirobaileeaúltimaasair.

Melómana,éfrequentadoraassíduadeconcertos de música clássica. Faz sem-prequestão,emAgosto,de iraoFestivaldeSalzburg,naÁustria.Adoracháenãodispensaosbiscoitosdecoco.Egostadocheirodotabacobom,emborajánãofume.Emtemposexperimentoucigarrosdemen-tol que, nas tardes de escrita saboreava,masdesistiudelesporcausadosprotestosdeAnaMariaMagalhães.

AosoitoanosnapraiadasMaçãs Aos16anosemfériasgrandesnoAlgarve

Habituadadesdepequenaacontactardepertocomanimais,naquintadostios-avós, no Cartaxo, não temmedo de bi-chos,àexcepçãodosratos.Sempretevemuitosgatos.Eumcão,EpanholBreton,

Em casamentos e festas sociais, com o marido, é a primeiro a abrir

o baile e a última a sair

que morreu para seu grande desgosto.Recorda-sedecorreratrásdasgalinhasnacapoeira.Eumdia,comaprimaMa-dalena,encheuotanquederãspregandoumgrandesustoàsmães.

NodiaemquefoiagraciadapeloPresidentedaRepública,JorgeSampaiocomoGrandeColardaOrdemdoInfanteD.Henrique,acompanhadapelomarido,EmílioRuiVilar

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Ronda das Escolas

Politecnia Outubro n.º 19 / 200854

A Protagonista

AescritoraIsabelAlçadaencaraavidacomoumaaventuraprolon-gada, arriscando incursões no

desconhecido e assumindo com deste-morassurpresasqueaousadiadeviverdentrodoslivroslheproporciona.Diznãotermedodenadae conseguirmanteracalma mesmo em situações perigosas.Adoraviajardeaviãoenemamaiordasturbulênciasécapazdeaassustar.Opti-mista, acaba por ser a companhia idealpara pessoasmais ansiosas, comoAnaMariaMagalhães,co-autoradacolecção«Uma Aventura», da Editorial Caminho,

queaconhecehámaisdevinteanosecomquemjápassou,emdiversasocasi-ões,momentoscomplicados.

Napreparaçãodo livro«UmaAven-turanoDeserto»,asescritorasviramocasomalparadoquandoatravessavamde carro as areias escaldantes do de-serto e ficaram sem orientação, a 600quilómetrosdodestino.Comomedoainstalar-seeadominar-lheossentidos,Isabeloptouporsedeitarnobancodetrás, em silêncio, fingindo que não sepassavanada,atéarotaserretomada,atacto,eodestinoalcançado.

Deumaoutravez,nailhadeSãoNi-colau,emCaboVerde,foramapanhadasdesurpresapelorabodeumtufão,queasisoloudurante24horasnumacasa,semtelefonenempresençahumanaporperto.Conscientedequeasituaçãosepoderiaprolongarporváriosdias,Isabelrefugiou-senoquartoalerumlivro.

As duas escritoras conheceram-senaEscolaFernandoPessoa,emLisboa,ondeleccionavamjálávão32anos.«Foioiníciodeumaamizadequeaindahojesemantém»dizAnaMariaMagalhãeseconfirmaIsabelAlçada.

IsabelAlçada,aembaixadoradaleitura

IsabelAlçadaeAnaMagalhãesnumaaventuranodeserto

Viverdentrodos

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Politecnia Outubro n.º 19 / 2008 55

A Protagonista

IsabelAlçada,aembaixadoradaleitura

Nesse ano de 1976, Isabel Alçadatinha 26 anos eAnaMaria Magalhães30, sendo ambas professoras estagi-árias das disciplinas de Português eHistória do 2º ciclo. As semelhançasentre as suas vidas aproximaram-nasaindamaisdepressa:apesardenãoseterem conhecido antes, tinham ambasfeito Filosofia na Faculdade de LetrasdeLisboa;casadocedoetidofilhosaomesmotempo;crescidonamesmazonadacidade;epertencidoafamíliasmuitoparecidasenumerosas,ondeaalegriaeoconvívioeraumaconstante.

Durantequatroanospreparavamemconjunto as aulas e os testes e elabo-ravam textos originais para os alunos.Umadessashistórias, redescobertanofundo de uma gaveta, foimais tarde opontapédesaídaparaolivroViagemaoTempo dos Castelos, da colecção Via-gensnoTempo.

Numa quarta-feira de Janeiro de1982,IsabelAlçada,depoisdeumalmo-çoemcasadospais,emAlvalade,desa-fiouAnaMagalhães a escreverem comelaum livro.Trêsmesesemeiodepoissurgia UmaAventura na Cidade, o pri-meiro livro da nova colecção.A escusade trêseditoras levouAnaMariaMaga-lhãesapensarqueomelhorseriadesis-

AsduasescritorasnaQuintadasLágrimas,emCoimbra

NumasubidaàilhadoPiconosAçores

tirem,masapersistênciaeooptimismodeIsabelAlçadalevou-asabateràportaàEditorialCaminho,quedavaosprimei-rospassoselogoacolheuoprojecto.

Eraoiníciodacarreiradeescritoraspa-raasjovensprofessoras,queestavamlon-gedeimaginarosucessoqueassuashis-tóriasiriamterjuntodemilhõesdeleitores.

NadescobertaaosmistérioseencantosdoPaláciodeVersailles

livrosdeaventuras

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Parar para Pensar

56 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Mala Diplomática

Aazul,amanchadepaísesparceirosErasmusdaESELx,em2008/2009

Educandoparaofuturo...global

EscolaSuperiordeEducaçãopresenteemquinzepaíses

São já vinte e seis os acordos bilaterais de cooperação assinados pela EscolaSuperiordeEducaçãodeLisboa,queforamaplicadoseestãoemvigoremquinzepaíses.DiversificarosparceirosErasmus,emtermosdepaísesede instituições,adequando-osànovaformaçãooferecidapelaescoladoIPLéoobjectivo. Textos de Carla Ruivo

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Parar para Pensar

57Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Mala Diplomática

AESCOLASuperiordeEducaçãodeLisboa,dandocumprimentoàsuapo-líticadeinternacionalizaçãoe,nome-adamente,àsuaestratégiaeuropeia,tem como objectivo principal imple-mentar e reforçar (duas dimensõesdeintervenção)ainternacionalizaçãoda formaçãoea internacionalizaçãodas práticas investigativas. E isso,nãoapenasnoâmbitodaEducação,mas, também, da Animação Socio-culturaledaFormaçãodeEducado-reseProfessores.

OEnsinoSuperior tem, como sesabe,umpapeldecisivonaformaçãoderecursoshumanosdealtaqualida-de,nomeadamentenoâmbitodaEdu-cação.Éatravésdelesquesecriamcadeias de valor, que disseminam oconhecimento avançado, adaptadasàsnecessidadesemergentes.E issoaplica-seàaquisiçãodenovascom-petênciasequalificações,queprepa-ramasfuturasgeraçõespara intervi-remnumcontextoglobalizante.

A cooperação internacional e amobilidadeconstituem-secomodoisdospilaresdapolíticadeinternacio-nalização:AESELxparticipa, regu-larmente,emacçõesdecooperaçãointernacional e em projectos euro-peus de cooperação e mobilidadeemeducação.

Essesprogramas têmcomofina-lidadeaconstruçãodeuma«Europado Conhecimento». O cumprimento

AcordosBilateraiscelebradospelaEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboa,noâmbitodoprojectodeinternacionalização,avigorarnoanolectivo2008/2009

INSTITUIÇÃO País

Pedagogische Akademie des Bundes in Tirol Áustria

Hochschule Esslingen Alemanha

Vrije Univisitaitei Brussel Bélgica

Katholieke Hogeschool Kempem Bélgica

Kahles Seminarium Education College Dinamarca

University of Maribor Eslovénia

University of Ljubliana Eslovénia

University of Koper Eslovénia

Universidad de Castilla-La Mancha Espanha

Universidad de Extremadura Espanha

Universitat Autonoma de Barcelona Espanha

Universidad de Granada Espanha

Universidad de Santiago de Compostela Espanha

University of Helsinki Finlândia

IUFM Nord/Pas-de-Calais França

IUFM de Versailles França

Università degli Studi di Milano-Bicocca Itália

Hogeschool Drenthe Holanda

Hogeschool Rotterdam Holanda

University of Hague Holanda

University of Szeged Hungria

Oslo University College Noruega

Universidade Marie Curie Polónia

University of Vicent Pol Polónia

University of Greenwich R.Unido

University of West Bohemia Rep. Checa

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Parar para Pensar

58 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Mala Diplomática

lançadopelaDirecção-GeraldeEdu-cação,FormaçãoeJuventudedaCo-missãoEuropeia.OErasmusprocuradarênfaseàqualidadeereforçaradi-

ma Erasmus. È, como se sabe, umprojecto sectorial relativo ao EnsinoSuperior,que fazpartedoProgramaAprendizagem ao Longo da Vida,

desse objectivo passa pela troca deestudantes e professores, a realiza-çãodeprojectosconjuntos,odesen-volvimento de redes temáticas paraelaboraçãodeestudoseadissemina-çãodasboaspráticas.

AEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboaenglobaesintetizaumaheran-çacentenária, semprenavanguardadaformaçãodeprofissionaisdequali-dadeligadosaoensinoeàeducação.Olemaquepresideàsuaactividadeé «Educando para o futuro». Nessequadroencontramosimplícitaumavi-sãomaisampla–«Educandoparaofuturo... global» – que se depreendedasuaestratégiadeinternacionaliza-ção,eseafiguracomocondiçãopri-mordialparaseafirmar,numEspaçoEuropeu deEnsinoSuperior, no Sé-culoxxI.

Ospaíseseuropeustêmintensifi-cadoacooperaçãoentresi, tantoaoníveleconómicocomocientífico.Des-taforma,ointercâmbiodeestudanteséencaradocomoelemento-chavedeuma estratégia. O objectivo a longoprazoéalcançarumasociedademul-tinacional e pluridisciplinar, politica-menteestável,economicamentecom-petitivaecientificamenteavançada.

Amobilidadedeestudantesedo-centes realizada na ESELx enqua-dra-se, principalmente, no Progra-

Noâmbitodos26acordos,celebradospelaEscolaSuperiordeEducação,osestudantesvivemexperiênciasem15paíseseuropeus

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59Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Mala Diplomática

go,comoobjectivosgeraisapoiarereforçararealizaçãopessoal,acoe-sãosocial,acidadaniaactivaeaci-dadaniaeuropeia.E, ainda, promo-veracriatividade,acompetitividade,aempregabilidade,aaprendizagemeadiversidadedaslínguas.

O número de estudantes e do-centes emmobilidade, quer inco-ming, quer outgoing, tem vindoa crescer, nos últimos anoslectivos.Essecrescimentotra-duz o apoio e interesse queos diversos órgãos da Es-cola Superior de Educaçãode LIsboa têm dedicado àquestãodainternacionaliza-çãoemobilidade.Etambém,ocrescenteinteressedoses-tudantes.E elemento igualmente

importantedereferirnocresci-mento da mobilidade e na ade-

quação dos destinos oferecidosaosestudantesdaEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboa, (tantodoscursosanteriorescomoposterioresaoProcessodeBolonha)éacres-centediversificaçãodeacordosbi-laterais estabelecidos e assinadoscominstituiçõescongéneres.

mentoacadémicodosPlanosdeEs-tudosefectuadosemestabelecimen-tosdeacolhimento,sãoduasáreasque marcam o aumento da quali-

dade da

mobilida-deondeaESELxpretendecontinu-ar a investir. A escola participa noPrograma Erasmus desde o inícioda década de 90, tendo, desde lo-

mensãoEuropeiadoEnsinoSuperior.Através dele promove-se a coopera-ção transnacional entre as universi-dades, fomentandoamobilidadeeu-ropeiaeincentivandoatransparênciae o total reconhecimento académicodos estudos e das qualificações emtoda aUniãoEuropeia. Ele tem si-do (continua a ser) um elementoimpulsionador da mudança noEnsino Superior europeu. Jácontribuiu para renovar ossistemaseuropeus,inspiran-dooProcessodeBolonha,iniciativadevultodestinadaa simplificar os diferentessistemas, que actualmenteseestendea45países.

Tendo em conta as de-terminações da Declaraçãode Bolonha, o incremento daacção internacional, principal-mentenoquedizrespeitoàmobi-lidade,éumdosprincipaisvectoresdapolítica internacionaldaESELx.Amobilidadedeestudantesedocentestemsidoumfactorconducenteàcon-cretização da dimensão europeia doprocessodeensino/aprendizagem.

AutilizaçãodosistemaECTS,emtodososcursos,eototalreconheci-

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60 Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Mala Diplomática

OSPROJECTOSinternacionaisdein-vestigação,cooperaçãoemobilidadetêmcomofinalidadeaconstruçãodeuma Europa do Conhecimento. Elesconcretizam-se através do financia-mento de mobilidade de estudantesedocentes;dainvestigaçãoconjunta,em áreas como o desenvolvimentocurricular, a facilitaçãodo reconheci-mentoacadémicoouaintroduçãodoestudodacidadaniaeuropeianaedu-cação básica; e no desenvolvimentode redes temáticas para elaboraçãodeestudosedisseminaçãodeideiaseboaspráticas.

NoâmbitodasuaestratégiaEuro-peia,aEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboaparticiparegularmente,atravésde docentes dos diferentes departa-mentos, em projectos europeus decooperaçãoemeducação.Nosúltimosanoslectivos,estiveramemevidênciaosqueoquadroàdireitamostra.

A Escola Superior de Educaçãode Lisboa, à semelhança das outrasunidades orgânicas do Instituto Poli-técnicodeLisboa,respondeudeformaresponsáveleatempadaaosdesafioscolocadosporBolonha.Contasfeitas,conseguiu-seapresentarprojectosdereestruturação dos cursos com umnívelmuito elevado de qualidade, nocontextoque foidefinidoparao Insti-tutoPolitécnicodeLisboa.Enocasodas adequações do 1.º ciclo, com aduraçãodetrêsanos,poder-se-ádizerque esse esforço foi recompensadocomaaprovaçãode todososcursosapresentados.

RumoàEuropadoConhecimento

OBAPTISMOdoprogramaéumahomenagemaofilósofo,te-ólogoehumanistaholandêsErasmus(1465-1536).Adversáriopersistentedopensamentodogmáticoemtodososcamposhumanos,Erasmus,origináriodeRoterdão,viveuetrabalhouemdiversasregiõesdaEuropa,naprocuradoconhecimen-to e experiência que apenas o contacto comoutros paíseslhepoderiaproporcionar.Esãoesses,aindahoje,osgrandesproveitosqueosestudantesretiramdestaexperiência.

OsalunosdaEscolaSuperiordeEducaçãodeLisboaqueviveramumperíododemobilidade,apontam,nosseusrelató-riosdeautoavaliaçãofinal,osfactoresabaixoindicadoscomoasprincipaismais-valiasdasuaparticipaçãonoprograma.

Obalançodosestudantes

Tipo de Programa Projecto

Organização Coordenadora Países Participantes

Sócrates/Comenius 2.1

ESELx Portugal

Portugal, Irlanda, Alemanha, Itália, Escócia, Noruega, República Checa

Sócrates/Comenius 2.1

IUFM Nord-Pas-Calais França

França, Portugal, Alemanha, Chipre, Turquia, Bulgária, Itália, Alemanha e Roménia.

Leonardo Da VinciCIECA – Universidade Lusofona Portugal

Portugal, Itália, Áustria, Bulgária e Polónia

Sócrates/Medida de Acompanhamento

Centro di Iniziativa Democratica degli Insegnanti (CIID) Itália

Itália, Portugal, Reino Unido

Leonardo Da Vinci - Mobilidade

ESELx Portugal Portugal, Espanha

Leonardo Da Vinci - Mobilidade

ESELx Portugal Portugal, Reino Unido

Sócrates/Medida de Acompanhamento

Centro di Iniziativa Democratica degli Insegnanti (CIID) Itália

Itália, Portugal e Escócia.

Sócrates /Erasmus Network

University of Hamar Noruega 116 instituições de 29 países

Alfa University of Granada - Espanha

Portugal, Espanha, México, Brasil e Argentina

Sócrates /Comenius 2.1

University of Szeged Hungria Hungria, Portugal, Áustria

Sócrates /Comenius 2.1

Direzione Scolastica Regionale della Lombardia Milão- Itália

Itália, Suécia, Portugal, França, Reino Unido, Roménia, Suíça (parceiro silencioso)

Sócrates /Comenius 2.1

Hedmark University College Noruega

Portugal, Lituânia, Islândia, Estónia, Suécia, Reino Unido.

Sócrates /Comenius 2.1

Centro di Iniziativa Democratica degli Insegnanti (CIID) – Itália

Itália, Portugal, Reino Unido

Sócrates /LinguaCentro di Iniziativa Democratica degli Insegnanti (CIID) – Itália

Itália, Portugal, Reino Unido

Sócrates /LínguaCentro di Iniziativa Democratica degli Insegnanti (CIID) – Itália

Itália, Portugal, Reino Unido

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Parar para Pensar

61Politecnia n.º 19 Outubro / 2008

Mala Diplomática

CooperaçãocompaísesdaCPLPAESCOLASuperiordeEducaçãodeLisboadesenvolveumaamplacoope-raçãocominstituiçõesdaComunida-dedosPaísesdeLínguaPortuguesa,no campoda formação de professo-reseformadores,análiseeavaliação,planificaçãoeorganizaçãocurricular.

Nos últimos anos foram muitosos projectos e actividades desen-volvidas. Um deles foi a assistênciatécnicaàFormaçãoContínuadePro-fessoresdoEnsinoPrimárioemAngo-la, que decorreu entre 2003 e 2005.Foi realizadoemcolaboração comaCESO(Consultores Internacionais)eenvolveuprofessoresdeváriasáreascientíficas. Ainda emAngola, decor-reude2005a2006umprogramadedesenvolvimentodecompetênciasdeliteracia para adultos profissionais,envolvendodoisprofessorasdaEsco-laSuperiordeEducaçãodeLisboa.

EmCaboVerde,aescolapartici-pou, no ano 2000, num projecto deanálise e avaliação da situação doPré-escolar, iniciativa do Ministérioda Educação, Ciência, Juventudee Desporto cabo-verdiano, apoiada

pela Fundação Gulbenkian. E co-laborou, entre 2004 e 2007, com oInstitutoSuperiordeCiênciasEconó-micaseEmpresariais,nadefiniçãoeorientaçãodasdisciplinasde forma-çãoinicialnaquelepaís.

A São Tomé e Príncipe desloca-ram-se, em 2000, três professoresdaescola,noâmbitodeumprotocoloestabelecido comaempresaPartex,paraprestaçãodeserviçosnodomí-niodaeducação.Enessemesmoanodeslocaram-se aTimor-Leste profes-soresdediversasáreascientíficas,noâmbitodeumProgramadeFormaçãodeFormadoresdoEnsinoPrimário.

Timor-Lestebeneficiouainda,de2002 a 2004, da presença de umaprofessora da Escola Superior deEducação de Lisboa, ali desenvol-veu acções de formação para osprofessores portugueses presen-tes no território, numa cooperaçãocom a DirecçãoGeral de Inovaçãoe de Desenvolvimento Curricular eoGabinetedeAssuntosEuropeuseRelaçõesInternacionais.Eaescolacolaboraainda,desde2001,através

deoutraprofessora, napreparaçãoeelaboraçãodemanuaisescolares,destinadosàscrianças,numainicia-tivadaFundaçãoGulbenkian.

Neste momento decorre, desde2007,naUniversidadedeCaboVer-de, em parceria com a Escola Su-perior de Educação de Lisboa, umMestrado em Educação Especial.EaescolaaguardaaaprovaçãodoProjectoEdulink,cujacandidaturafoiapresentada à Comissão EuropeiaemJulho2008.OProjectoEdulinkvi-saestimularacapacidadeinstitucio-naleaintegraçãoregionalnodomí-niodoensinosuperiornosEstadoseRegiõesACP,assimcomopromoveroensinosuperiorcomoummeioparareduzirapobreza.

AlémdaEscolaSuperiordeEdu-cação de Lisboa, estão envolidasneste projecto a Escola Superiorde Educação de Viana do Castelo,aUniversidadedeCaboVerde;Uni-versidadeNacionaldeTimorLorosae, a Universidade Pedagógica deMaputo e o Instituto Politécnico deSãoToméePríncipe.

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Estante

ATÉ RECENTEMENTE, apenas aEditorialCaminhoeasEdições70(seexceptuarmos algumas outras, pou-cas,editorasdemenorrelevo),faziamconstardoseucatálogocolecçõesde-dicadasàartedossons.Edestasdu-aseditoras,apenasaCaminhoapos-tou, na sua maior parte, em títulosoriginaisdeautoresportugueses.

Foi esta editora que lançou, emMaiode2007,nasuacolecção«Ca-minhodaMúsica»,um importantíssi-mo volume dedicado ao compositorLuís de Freitas Branco, da trípliceautoria de Alexandre Delgado, AnaTelles e Nuno Bettencourt Mendes.Compositor, pianista e musicólogouniram-se para produzir um livro de477páginasqueanalisaaobrapeçaapeça,ladoaladocomumaresenhabiográfica notável e muito completa.Sendo o primeiro livro monográficode alguma importância alguma vezdedicado ao compositor, não pode-rá ser considerado definitivo (espe-remos que não!), mas será decertoreferênciaobrigatóriaparaquaisquertrabalhos futuros. 52 anos (!) depoisdamortedestegrandevultodanossamúsica,eisfinalmenteatãomerecidapublicação.

Mais recentemente, a novel edi-toraBizâncio tem-sedistinguidopelasuacolecçãodebiografias(apartirdaqual iniciouumsub-génerodedicadoa compositores: Chopin, Beethoven,Mozart e Mahler até ao momento),à qual se juntou recentemente Ol-gaPrats –UmPianoSingular (Maio2007), jámencionado na revistaPo-litecnia. Fora destas colecções masainda dedicado àmúsica, deu-nos aBizâncioarecentíssimaHistóriaCon-cisa daMúsica Ocidental (Setembro2007)doreputadomusicólogo inglêsPaulGriffiths.Últimolivrodesteautor

até à data (original inglês de 2006),nele Griffiths «resume» brilhante-mentemaisde1000anosdemúsicaeruditaocidental,depoisdeemlivrosanteriores (nenhum deles – infeliz-mente–jávertidoparaportuguês)seterdedicadoàmúsicadosséculosxxexxI.Oconceitode«tempo»,essen-cialnaartedossons,éoconceitouni-ficador de todo o livro.Temosassim«O tempouno»,«O tempomedido»,«Otemposentido»,eporaíadiante,

atéa«Otempoperdido»,quetrataamúsicacompostadesde1975atéaopresenteeemdirecçãoao...futuro.

Ainda dentro dos livros originaisportugueses sobre música, e depoisdeumaatribulada«carreira»àprocu-radeumeditordesdeiníciosdosanos90,surge-nos,comacoordenaçãodeManuel Pedro Ferreira, o livro DezCompositores Portugueses, da DomQuixote. Dez nomes importantes damodernidademusicalportuguesa,de

RedescobrirLuísdeFreitasBrancoEmboraaediçãodelivrosdemúsicaemPortugalsejaescassa,mesmocomparadacom a Espanha, tem-se assistido, no início deste séc, xxI, a um aumentosignificativo do número de livros disponíveis no mercado. É particularmenteimportanteaobradedicadaaLuísdeFreitasBranco,mashá váriosoutrosaredescobrir,deOlgaPratsaEmanuelNunes.

Texto de Sérgio Azevedo

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Estante

Luís de Freitas Branco a EmmanuelNunes, são dissecados através daanálisedeumaobraespecífica,recor-rendoanomescomoJorgePeixinho,Christopher Bochmann, Teresa Cas-cudoouAlexandreDelgado.Emboramais técnico do que qualquer outrodosqueaquirecenseamos,poismaiscentrado na análi-semusicalcomre-curso a exemplosem partitura, estelivro impunha-sejunto do públicouniversitário daárea da música,sendodenotarquefoi apoiado peloCESEM, por suavez financiado pe-laFCT, talcomoamonografiadeLuísde Freitas Branco,da Caminho, tam-bém ele com umaforte componentetécnica, emboraparcial, foiporsuavez apoiado peloMinistério da Cul-tura e pelo TNSC.O facto de livrosdesteteor(edestaimportância paraos estudiosos) te-rem de ser publi-cados por editorasgeneralistas,e istoapenas graças aoescasso apoio deentidadespúblicas,apenas realça otriste facto de emPortugalaindanãoexistir,pelomenosna área da músi-ca, uma editorauniversitária forte,dinâmica e queconsigacolocarosseusprodutosnaslojas,comoláforaacontecehájámui-tosanos («PressesUniversitairesdeFrance»,entreinúmerosoutrosexem-plos,deontemedehoje...).

O quarto livro desta rubrica «Es-tante» que me proponho divulgar, ébastante peculiar, pois intitula-seMo-zartnaSelva–Sexo,DrogaseMúsica

Clássica,efoiescritoporBlairTindall,reputadaoboístanorte-americana,em2005,sendoagora(Agosto2007)pu-blicadoemPortugalpelaGuerraePaz,Editores.Baseadoemfactosreaisdavidadaartísticadaautora(queinclusi-veseviuobrigadaaesconderalgumaspessoas debaixo de nomes fictícios,

certamenteparaevitar processospordifamação),MozartnaSelvarevela–chegandoaopormenorescabroso–astensõesquesevivemnomeiomusicalclássicodosEUA,extremamentecom-petitivo,como,aliás,tudooresto.Poroutraspalavras,Tindallrevelaummun-do nãomuito diferente domundo doRockedaPopmais comercial, onde

osfavoressexuaiseasdrogas,entreoutros«meios»,servemparaforjarcar-reirasereputações,eondeodinheirocontamaisqueoamoràmúsica.Nadaquenãosesoubessejá,sóquerevela-doliterariamenteenaprimeirapessoa.Olivroalternaentreopessimismoeooptimismodeumaoboístaquepassou

por tudo,mas tudoultrapassou graçasao prazer genuínode fazer músicaforadeumacarrei-ra profissional, e àpossibilidade de afazer apenas poramoràarte, tendo-se tornado, parasobreviver, jornalis-ta musical no NewYorkTimes.

Finalmente, e aterminar esta breveresenha, gostariade mencionar a jámuito próxima pu-blicação em 3 volu-mes,pelaOficinadoLivro, da nova obradeAntónio Victorinod’Almeida: HistóriadaMúsicaOcidental,uma revisãoeactu-alização/aumento,doclássicoMúsicaeVariações,queaCa-minho publicou nosanos80semnuncachegar a fazer sairo seguimento quenostrariaatéaopre-sente (o primeiro eúnicovolumedadoàestampa terminavaem Mozart e Bee-thoven...). Na alturaprópriafaremosumarecensãodestestrêslivros que prome-

temmais uma vezmomentos de con-víviocomaescritatãopessoalebem-humoradadomaestroAntónioVictorinod’Almeida,que,emcertossentidos,par-tilhaoseuestilooriginalcomPaulGriffi-ths,tambémeleum«musicólogo»muitopoucoortodoxo(equetambémescreve,como Victorino d’Almeida, romances eoutrasliteraturas...).

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OS TESTES psicológicosparaavaliaçãododesenvol-

vimentodacriança,emborapossuindogranderigor,va-lidade e garantia, são deaplicaçãomorosa, cotaçãoelaborada e interpretaçãocomplexa, requerendo trei-noespecialdoexaminador.Muitosdelesnãosão,por

isso,muitopráticosnocam-podapsicopedagogia,ondese requerem instrumentosde rápida e fácil aplicação,podendo ser utilizados poreducadores, professoresou pais, para constatar onívelmaturacionaldassuascriançasnosdiferentesfac-toresdapersonalidade.

Foi, portanto, necessáriocriar-seumconjuntodepro-vas que avaliassem o de-senvolvimento da criança,nas suas dimensões Bio-lógicas, Emocionais-Senti-mentais,Gnósico-Mnésicas,Cognitivo-Criativas,Autonó-micas, Sócio-Relacionais ePsicomotoras.Oconjuntodeprovasdes-

critas no livro Avaliação dodesenvolvimentodacriançados3aos10anos,deA.B.Sousa, (Livros Horizonte),permitem uma profunda al-teração nos procedimentospedagógicos: sabendo-se o

níveldedesenvolvimentodacriança em cada uma des-tas competências, as pro-gramações e metodologiaseducacionais pós-Bolonhapoderão ser concretamenteobjectivadas para aquelascapacidades e competên-cias que estejam mais ne-cessitadasdeapoioaoseudesenvolvimento.AlbertoBarrosdeSousaé

docentede‘MetodologiasePedagogias I’ e de ‘Socio-logia’ na Escola SuperiordeDança.ÉdoutoradoemCiênciasdaEducaçãopelaUniversidadedeÉvora.

Desenvolvimentodacriança

Apoesiadentrodeumpiano«PianoSingular»,otítulodoúltimoCDdaprofessoraOlgaPrats,daEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa,éumaviagemsembarreirasdeestilos, épocasoucredosestéticosque, ladoa ladocomas formasclássicasdasarabanda,dagavota,davariaçãoedoprelúdio,fazouvirofado,otango,avalsaeochorinhobrasileiro.

Texto de Sérgio Azevedo

FAzENDO jus ao título do CD OlgaPrats conduz-nos numa viagem po-ética através do universo infinito damúsica escrita para teclado. É umaviagem de três séculos emeio, queseinicianopassado,comRameaueHaendel,paracontinuarnopresente,comBerioePiazzolla,eapontarparaofuturo,comSaraClaro.

Nestaviagem,comonovastooce-ano,a linhadohorizonteencontra-sesempre àmesma distância, por mui-to que na sua direcção caminhemos.Viagemsemrumonemfim.OlgaPratsdetém-se no caminho, explora algu-mas veredas. Afasta-se, por vezesquilómetros,doitineráriomaisfrequen-tado–Bach,SchumannouBrahms–queaceita,aindaassim,comoabasedoseupercurso,paraconhecer,enosdaraconhecer,clareirasearvoredosesconsos,masnemporisso(outalvezpor issomesmo)menos belos. PodeserumapeçatardiadeLiszt,umarari-dadedeWagner,umabagatelainspira-dapelamemóriaamorosadeJanacék,umquaseteatromusicalemminiatura,

escritoporumaConstançaCapdevilleadolescente,ouumtangoeumavalsadeSérgioAzevedo,dedicadosaOlgaPratsnaformadeDuasBorboletaspa-raOlga,essascriaturasevanescentes,símbolosdeumapoesiaaladaefrágil,queapianistatantoadmira.

Este«pianosingular»podia,aliás,intitular-seigualmente(usurpandootí-tulodeumdosciclospianísticosmaispoéticos de Janacék), Por um cami-nhorelvado,taléapoesiaromânticaemisteriosaqueseelevadasobras.Elassãoescolhidassegundocritérios

OlgaPratslançaumnovocd

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ASEBENTA,PelléasetMé-lisande:Debussy eMaeter-

linck: análise dramatúrgicacomparadado textooriginaledolibreto,daColecçãoTe-atro/Música,nº3,daautoriadeConceiçãoAlvesCosta,éo resultado de um trabalhopara a disciplina de Histó-ria da Música Comparada,leccionada pela ProfessoraDoutoraMariaJoãoSerrão.

Aautorarealizaumes-tudo dramatúrgico compa-rativo da ópera Pelléas etMélisande, de Claude De-bussy, a partir do texto deMauriceMaeterlinck.Oseuobjectivoéperceberatéqueponto a música utiliza as

palavras,eemquemedidao cantoé transformadooutransforma o texto escritoeoadaptaàmúsica,paraqueestesetorneperceptí-veleaudívelaoespectador.Naopiniãodaprofessora,aanálisequeconstadopre-sente «caderno», tambémseajustaparanosajudaracompreenderassubtilezaseosmeandrosmaisobscu-rosdanaturezahumanaedasuaprojecçãonaarte.

ClaudeDebussynasceua22deAgostode1862emParisefaleceunodia25deMarçode1918.Omúsicoe

compositor francês entrounoConservatóriodeMúsicadeParis com10anos.Em1892depoisdeterassistidoàpeça«PelléasetMélisan-de»,ecomoconsentimen-to de Maurice Maeterlinck,iniciouumaoperaemcincoactos,baseadanaobra,quelevoudezanosaconcluir.

Maurice Maeterlinck,nasceunodia29deAgostode 1862 em Gante, e fa-leceunodia5deMaiode1949. Dramaturgo e ensa-ístabelgadelínguafrance-sa,foioprinicpalexpoentedoteatrosimbolista.

Músicacomparada

totalmenteopostosàbanalprograma-çãodamaiorpartedediscosecon-certos, que se obstinam em seguirapenas pelos caminhos já estafadosdorepertório,oqual,detãoexploradonamesmadirecção,escondeaverda-deirariquezaegrandezacósmicadeum«corpus»absolutamentesemparem qualquer outro instrumento. Nãohouve praticamente um compositor,maioroumenor,quenãotenhadedi-cadopeças,umaquefosse,aopiano(ouaocravo,oquevaidaraomesmo,sendoquemuitodorepertóriocravís-tico funciona igualmentebem,senãomelhor, no piano moderno), sendoBerlioz,VerdiePucciniasexcepçõesclamorosasqueconfirmamaregra.

Paraalémdoelevadonúmerodeobrasparaeleescritas,opiano,ins-trumento de eleição de maior partedos compositores enquanto auxiliardacriação,serviutambémde«diário»musical,diárioondeospensamentosmais profundos, íntimos e elevadosencontraram a sua «madre» e aífecundaram. Não admira pois, quecompositores menos célebres, ouatédesegundoplano,tenhamigual-mentedeixadomúsicaadmiráveldepoesiaparaoinstrumento,emesmoentreosnãopianistas–comoWag-ner,conhecidosobretudopelosseusdramasoperáticosepelatécnicaor-questral–tenhamexistidomomentossublimesimaginadosparauminstru-mentoque,ounãotocavamdetodo,oudominavammuitomal.AChegada

dos Cisnes Negros, desse mesmoWagner, consegueemalgunsminu-tosdemúsicatransformarosolitáriopianonumBayreuthemminiatura,eastrêsvezesqueotemasefazrepe-tir,noinícioefimdapeça,antecipamo Tristão e as três enunciações dopresságiodamortecomqueseabreoaudaciosoterceiroactodomaisau-dacioso e romântico drama musicalalgumavezescrito.

Nãoobstanteabelezaquesedes-prendedestaspáginas,quantasvezesdeparamos com uma tal obra progra-mada?OucomoenigmáticoEnrêve,do velho Liszt? Ou ainda com essehinoàmemóriaamorosa,nostalgiadeumtempo irrecuperável,queéRecor-dação,deLéosJanacék,aúltimaobraqueovelhomestreescreveu,antesdeseembrenhardebaixodeumatempes-

tadenosbosquesmoráviosàprocuradofilhodeKamila,poramordequemviráafalecerdepoisdeumapneumoniacontraídanessabusca insana?Equedizer das despojadas e tragicamentesimplesVariaçõesparaaconvalescen-çadeArinushka,deArvoPärt,escritaspara a filha doente do compositor, doenigmaticamente aquático Wasserkla-vier de LucianoBerio, dedicadoa umamigoquerido,oudaliberdadeagógicado maravilhoso Where have I knownyoubeforedeChickCorea?

São alguns destes tesouros deuma história da música muito dife-rentedahistóriadamúsicasemima-ginaçãoquepovoaamaiorpartedasprogramações pianísticas, que OlgaPrats nos oferece neste registo ínti-mo, pessoal, e inequivocamente sin-gular,comoelatambémoé.

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Tribuna Livre

ACRIAÇÂOdeumDoutoramentoemArtes,naespecialidadedeArtesPer-formativasedaImagem,frutodapar-ceriaentreaUniversidadedeLisboaeo InstitutoPolitécnicodeLisboa,éjáumarealidade,queseencontranoseumomentofinal.Estecursoéabso-lutamenteinéditoemPortugalerepre-sentaoculminardeumprojectoqueteveinício,hátrêsanos,noDeparta-mento de Teatro da Escola SuperiordeTeatroeCinema.

EsteDoutoramentoemArtesrep-resenta uma partilha de saberes ecompetências específicas, uma re-flexão e uma visão final de conjuntoda Escola Superior deTeatro eCin-ema, da Escola Superior de Dançae da Escola Superior de Música deLisboa. Ele pode constituir ummod-elodeformaçãoavançada,noqueaoterceirociclodiz respeito,dentrodosprincípios de Bolonha e do dispostonoDecreto-Lein.º74/2006,de24deMarço, relativamente ao que aí sedesignaporÁreaArtística.

Neste curso já vários aspectosconsiderados basilares. Desde logo,agrandeflexibilidadecurricular,equa-cionadacomumprincípiodeformaçãoespecífica que assenta na legitimi-dade, no reconhecimento e na inde-pendênciarelativadossaberestécnic-os,científicoseartísticosdecadaumadasescolasartísticasdoIPL.Depois,a construção de um plano curricular,cujos princípios, estrutura e unidadescurriculares justificam a pertinênciadedoisobjectospossíveisparaaob-tençãodograu:umatesedenaturezacientífica, com o formato académicoconvencional; e uma tese constituídaporumobjectodearteeumensaioqueodescreveejustifica.Porfim,avisãointegradadocursoedasacçõesare-alizar,nocontextoespecíficodo‘mun-dodaarte’enocontextoacadémico,nomeadamente, no seio da Universi-dadedeLisboa,instituiçãoqueconfereograuepossibilitaumcorpodocenteresponsávelporunidadescurricularesquepodemviraser realizadaspelosalunosdoDoutoramentoemArtes.

Aespecialidadecentra-senocon-ceito ‘Artes Performativas e da Ima-gem’, cuja extensão, pluridisciplinare transdisciplinar, pretende suscitaro interesse e acolher alunos de for-mações diversas. E fundamenta-sena ideia de que os objectos de artesóseconstituemplenamentenasuarealizaçãoeprocessoderecepção;equeaformação,noâmbitodasartes,dependedaexperimentação,realiza-çãoe teorizaçãodeobjectospores-pecialistas e investigadores na área.AespecialidadeArtesPerformativasedaImagemresultadapesquisadeumconceito, uma identidade artística eumdesigncurricularporpartedequa-tro disciplinas diferentes: o teatro, amúsica,adançaeocinema.Aofertade formação artística é orientada de

acordo com seis grandes áreas: In-terpretação, Voz, Movimento, Teoria,Imagem e Composição. Estas áreasdefinem as orientações artísticas ecientíficaspretendidaspelo alunonoseio da unidade curricular de ArtesPerformativas e da Imagem, e apre-sentam eventualmente programasprópriosnasdiferentesinstituições.

A flexibilidade curricular, o con-ceitodemobilidade,internaeexterna,docenteediscente,eapartilhadere-cursosconstituem-secomodesígniosdesteDoutoramentoemArtes.Aeleestão subjacentes os mesmos doisprincípios fundamentais: o princípiosegundooqualéaoalunoquecabeconstruiroseuplanocurriculardefini-tivo; eaquelequeensinaqueo tãodebatido problema da Investigaçãoem Artes se define e problematizana realização de objectos artísticosenumprocessodecontextualizaçãoinstitucional, académico, científico eartístico, da própria arte. Acredita-mos que estes princípios se encon-tramsalvaguardadosatravésdeumprograma que possibilita uma diver-sidade de intervenientes, contextos,experiências, procedimentos aca-démicoseprofissionais.

Emsíntese,oprogramadoDouto-ramentoemArtesapresenta-secomouma reflexão sobre a natureza dasArtesPerformativasedaImagem,emparticular,edaarte,emgeral;defineum quadro de parceria entre ensinopolitécnicoeuniversitário,norespeitopela autonomia e competências es-pecíficas das instituições envolvidas,massobretudonobenefíciomútuodaídecorrente;é testemunhododiálogocooperante, mas também autónomoe independente,entreas instituiçõesque o podem tornar possível: aUni-versidade de Lisboa e as unidadesorgânicas,do InstitutoPolitécnicodeLisboa, Escola Superior de Teatro eCinema,EscolaSuperiordeDançaeEscolaSuperiordeMúsicadeLisboa.

*ProfessordaEscolaSuperiordeTe-atroeCinema

Umdoutoramentoinéditoemartes

O Doutoramento em Artes é uma reflexão sobre a natureza das Artes

Performativas e da Imagem e define um quadro de parceria entre o ensino politécnico e o

ensino universitário

DavidAntunes*

FotodeBárbaraGabrie

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