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estenose mitral
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ESTENOSE MITRAL
SLIDE 1: Capa
SLIDE 2: Introdução
Define-se estenose mitral como uma anormalidade da válvula mitral que dificulta sua abertura,
contribuindo para obstrução ao esvaziamento do AE. Em condições normais, a Valva mitral se
abre durante a diástole permitindo que o sangue passe livremente através de uma área de 4-6
cm2 que corresponde à Área Valvar Mitral (AVM) normal. Essa área confere uma resistência
desprezível ao fluxo sanguíneo, não havendo praticamente diferença de pressão entre o AE e o
VE no final da diástole. Para que haja estenose mitral com formação de gradiente pressórico
AE-VE, a AVM deve ser inferior a 2,5cm2, nesses casos já começa a ter repercussões
hemodinâmicas.
A principal causa de EM é a cardiopatia reumática crônica, que corresponde a 95% das EM. A
endocardite reumática ocorre em 65% dos casos na valva mitral podendo acometer também a
Valva aórtica. O seu comprometimento é mais comum no sexo feminino, (2/3 dos casos). Mais
raramento a EM pode ocorrer por: EM congênita, endocardite infecciosa, endocardite de
Liebman –Sacks, amiloidose, síndrome de Hunter- Hurler. A EM por endocardite reumática
surge após uma IVAS (Faringite) pelo streptococcus B-hemolítico do grupo A de Lancefield. O
paciente desenvolve uma resposta inflamatória no endocárdio valvar por meio de reposta
imune cruzada conforme será explicada na fisiopatologia.
SLIDE 3: EPIDEMIOLOGIA
Estudos realizados na população de escolares em algumas capitais brasileiras mostrou um
frequência de cardite reumática de 1-7/1000 casos, enquanto nos EUA a prevalência gira em
torno de 0,1-0,4/1000 escolares. A valvopatia reumática mais comum é a dupla lesão mitral
(IM e EM), manifestada entre a 2-5 décadas de vida. Caracteristicamente a IM corresponde à
lesão aguda enquanto a EM corresponde à lesão crônica. A EM é reponsável por uma
demanda elevada de cirúrgias valvares sendo a principal causa de óbito por doenças cardíacas
na população abaixo de 40 anos.
SLIDE 4: FISIOPATOLOGIA
Na fisiopatologia da EM, o paciente apresenta uma infecção, geralmente uma faringite
estreptocica na infância. O sistema imunológico produz anticorpos contra antígenos do
streptococos, o problema é que esses Ac vão agir de forma cruzada com Ag presentes no
endocárdio da valva mitral desencadeando uma resposta inflamatória crônica. Durante essa
resposta inflamatória pode haver fusão das cúspides desenvolvendo uma EM ou retração das
cúspides e nesse caso o paciente desenvolve uma IM. Dessa forma, na EM reumática ocorre
uma fusão das cúspides que se tornam espessadas, podem sofrer calcificação e encurtamento
das cordoalhas tendíneas. Esse processo patológico justifica a redução da AVM promovendo
uma resistência ao fluxo sanguíneo átrio-ventricular, ou seja, criando um gradiante de pressão
AE-VE no final de diástole.
Conforme podemos observar na figura esquemática do coração, a resistência ao fluxo
transvalvar promove aumento da Pressão no AE e essa pressão se transmite de forma
retrógrada para o sistema veno-capilar. Geralmente uma pressão veno-capilar maior que
18mmHg já é capaz de promover uma síndrome congestiva no paciente. Entretanto, na EM
esse aumento de pressão ocorre de forma insidiosa estimulando mecanismos adaptativos da
vasculatura pulmonar que passa a tolerar uma pressão veno-capilar até 25mmHg sem
apresentar sintomas (PACIENTE ASSINTOMÁTICO) Esse acúmulo de sangue de forma
retrógrada caracteriza a congestão pulmonar que justifica os principais sintomas da EM, a
DISPINEIA E A ORTOPNÉIA. A congestão aumenta a pressão hidrostática levando a um edema
que dificulta as trocas gasosas. O aumento da pressão veno-pilar é transmitida para o leito
arterial pulmonar desencadeando uma HAP. De forma crônica pode ocorrer uma
arteriolosclerose e essa HAP passa a ser irreversível. A HAP aumenta a pós carga no VD, que
dilata e se torna insuficiente, levando ao quadro de ICC direita, justificando os sintomas de
congestão sistêmica, tais como INGURGITAMENTO JUGULAR, EDEMA, HEPATOMEGALIA,
ASCITE...
O Débito cardíaco em geral não é prejudicado no início da EM pois o enchimento ventricular é
preservado pelo aumento do gradiente de pressão transvalvar. Entretanto, quando a estenose
se torna crítica o DC torna-se limitado principalmente durante o esforço físico.
É importante ressaltar que o DC e a FC são fatores determinantes do gradiente de pressão
transvalvar. Ao aumentar o DC aumenta o retorno venoso e consequentemente o fluxo pela
valva estenosada aumentando o gradiente de pressão transvalvar piorando os sintomas.
Algumas situações que promovem aumento do DC e piora dos sintomas: Esforço físico,
estresse, anemia, febre, gestação, hipertireoidismo. Com relação a FC, a taquicardia reduz o
tempo de diástole, dificultando o esvaziamento atrial pela valva estenosada. Por esse motivo
que a Fibrilação atrial com alta resposta ventricular pode descompensar o quadro.
SLIDE 5: DIAGNÓSTICO
História clínica: A EM reumática é endêmica em nosso meio, sendo comum o diagnóstico em
adolescentes e adultos jonvens (20-40 anos), contudo pode se manifestar em qualquer idade.
O paciente vai queixar de dispneia aos esforços decorrentes de congestão pulmonar. Em casos
mais avançados pode haver fadiga, cansaço, lipotímia (tonteira) decorrentes de baixo debito.
Em alguns casos, o paciente pode apresentar tosse com hemoptise (ruptura de capilares
brônquicos congestos), dor torácica (distensão do tronco pulmonar devido à HAP). O aumento
exagerado do AE pode comprimir o esofago causando disfagia e/ou o laríngeo recorrente
causando rouquidão.
Exame físico: Inspeção pode evidenciar alterações do pulso venoso com uma onda A
exacerbada no pulso jugular decorrente da HAP. Nos casos de ICC direita, pode evidenciar
ingurgitamento da jugular externa e elevação da altura do pulso da jugular interna com o
paciente posicionado em 45 graus. Essas alterações de pulso venoso indicam EM grave,
refletindo consequências de uma HAP. A palpação do precórdio mostra um ictus de VE fraco,
sendo o choque valvar de B1 (pela hiperfonese de B1) a alteração de precordio mais
característica. Ausculta revela Hiperfonese de b1 caso a valva mantenha certo grau de
mobilidade e pouca ou nenhuma calcificação. Com a progressão da doença a valva se torna
menos móvel e mais calcificada tornando-se hipofonética. Hiperfonese de B2 indica HAP,
aumentando o componente P2 de B2. Logo após o B2 (fechamento da valva aórtica), pode
ocorrer um estalido de abertura da valva mitral devido aos seus folhetos tensionados. Por
ocorrer logo após b2 deve-se diferenciar de B3 e de desdobramento de b2. Quando mais
próximo de b2 o estalido mais grave a EM. Também pode ser evidenciado na ausculta o sopro
de EM caracterizado por um ruflar diastólico (som grave), mais facilmente auscultado com a
campânula em foco mitral, no final da diástole (quando ocorre a contração atrial). Esse sopro
diminui com a manobra de valsalva porque essa manobra promove um aumento do retorno
venoso para o coração direito e reduz a quantidade de sangue que chega no AE diminuindo o
fluxo sanguíneo transvalvar reduzindo assim a intensidade do sopro. Não ocorre B3 e B4 pois o
VE não esta acometido. Com a ICC direita, o VD pode se dilatar e com isso ocorrer uma
insuficiência de tricúspide evidenciando um sopro sistólico de regurgitação em foco tricúspide.
Além da anamnese e do exame físico alguns exames complementares ajudam no diagnóstico
da EM, dentre eles:
ECG: O paciente pode apresentar ECG com ritmo sinusal ou, frequentemente, apresentar
Fibrilação atrial. Sinais de SAE como aumento da duração da onda P, onda P com entalhe (onda
P mitrale), índice de Morris em V1 (porção negativa da onda P aumentada). Em casos mais
avançados pode haver sinais de SVD, como por exemplo desvio do eixo para a direita, aumento
de onda R em V1/V2 e onda S em V5/V6.
Radiografia de Tórax: Na incidência PA o sinal mais precoce evidenciado decorre do aumento
do AE que pode ser visto como: Duplo contorno da silhueta direita do coração, Sinal da
bailarina (AE aumentado desloca o brônquio esquerdo superiormente), abalulamento do 4º
arco cardíaco esquerdo que corresponde ao apêndice atrial esquerdo. Já as alterações
pulmonares se caracterizam por cefalização do fluxo (vasodilatação das veias pulmonares
apicais), linhas b de Kerley e padrão intersticial (edema)
SLIDE 6: FOTOS
Os ECG evidenciam sinais de SAE com aumento da onda P em DII e índice de Morris em V1.
Sem sinais de SVD. A radiografia de Tórax mostra o sinal do duplo contorno da silhueta direita
(seta curva) e abaulamento do 3º arco (seta reta).
SLIDE 7: DIAGNÓSTICO
Teste ergométrico pode ser útil na avaliação da capacidade funcional naqueles pacientes que
apresentam poucos sintomas, mas que limitaram sua atividade física de forma significativa.
A ecocardiografia com Doppler colorido é um exame importante para o diagnóstico e avaliação
da gravidade anatômica e funcional da EM, tendo grande influência na decisão terapêutica
também. Comumente a via de acesso é a transtorácia mas em algumas situações a via
transesofágica se faz necessária, principalmente quando se objetiva visualizar trombos no AE
em que o ETE possui maior sensibilidade para detectar trombos no apêndice atrial esquerdo. O
exame fornece dados fundamentais para o manuseio da doença. Dentre os dados mais
relevantes destacamos, a Área valvar mitral, o gradiente de pressão transvalvar, o Escore de
Wilkins e Block, além da visualização de trombos no AE. Por meio da Área valvar mitral e do
gradiente de pressão a EM é classificada quanto à gravidade em discreta (AVM > 1,5 cm2 / P <
5 mmHg), moderada (AVM 1 – 1,5 cm2 / P 5-10 mmHg) e importante (AVM < 1,5 cm2 / P > 15
mmHg).
SLIDE 8: ESCORES
Os escores de Wilkins e Block consistem na avaliação ecocardiográfica da valva mitral com
ênfase na descrição dos aspectos estruturais. Quatro parâmetros são considerados:
mobilidade dos folhetos, espessamento valvar, grau de calcificação e acometimento subvalvar.
Cada item é graduado de 1 a 4 pontos resultando num escore que vai de 4-16 pontos.
Pacientes com escore < 8 são candidatos a valvoplastia na ausência de contra-indicações
enquanto que escore > 11 é indicação de cirurgia de troca valvar. Pacientes entre 8 e 11
devem ser avaliados individualmente levando em conta a presença de comorbidades e do risco
cirúrgica para escolha do procedimento mais adequado. Os procedimentos em si serão
descritos mais adiante no trabalho
SLIDE 9: TRATAMENTO
O tratamento da EM pode ser farmacológico e intervencionista. O tratamento farmacológico
apenas alivia os sintomas sem alterar a obstrução fixa da valva. EM discreta, paciente
assintomático e com ritmo sinusal não há necessidade de tratamento medicamentoso. Este
está indicado para EM moderada/grave objetivando melhoras dos sintomas e controle das
complicações (FA, por exemplo) enquanto o paciente aguarda o procedimento
intervencionista. Diuréticos de alça, juntamente com a restrição hidrossalina, estão indicados
nos pacientes com sintomas de congestão pulmonar (dispneia, ortopneia, DPN). Em estágios
avançados da doença, quando o paciente já apresenta ICC direita (edema, hepatomegalia,
ascite), esse sequestro de liquido para o 3º espaço promove uma hipovolemia que ativa o
sistema renina-angiotensina-aldosterona resultando em um hiperaldosteronismo secundário.
Nessa fase, o uso de antagonistas da aldosterona (Diuréticos poupadores de
potássio/Espironolacto) podem ser considerados como terapia adjuvante aos diuréticos
habituais. Na EM, a alteração hemodinâmica se localiza acima do VE, que permanece com sua
função contrátil integra. Dessa forma, o uso de digitálicos não é recomendado nos pacientes
com função ventricular normal e ritmo sinusal. Entretanto, pode ser utilizado em pacientes
com FA objetivando reduzir a resposta ventricular (controlar a FC). A base do tratamento
clinico da EM é o controle da FC. Isso porque a taquicardia reduz o tempo de diástole e
consequentemente dificulta o fluxo sanguíneo pela valva já estenosada, aumentando o
gradiente de pressão. Os beta bloqueadores são a droga de escolha porque controlam a FC no
repouso e também durante os exercícios físicos que seriam um agravante para piora do
quadro clínico. Pacientes com evento embólico prévio, trombos no AE e/ou FA estão indicados
para anticoagulação plena com Warfarin mantendo RNI entre 2-3. Em pacientes com
anticoagulação adequada mas que tiveram eventos embólicos ou trombos documentados está
indicada acréscimo da Aspirina no tratamento.
Com relação ao tratamento intervencionista, ele está indicado para todo paciente sintomático
(NYHA II-IV) com EM moderada/grave e em pacientes assintomático com EM grave e HAP.
Dentre as possibilidades de terapia intervencionista temos a Valvuloplastia Mitral Percutanea
por cateter-balão (VMCB), a comissurotomia e a troca valvar que serão descritas a seguir.
SLIDE 10: VALVULOPLASTIA MITRAL PERCUTÂNEA POR CATETER-BALÃO
A VMCB está indicada em pacientes com EM moderada a grave, que mantenham certa
mobilidade dos folhetos e pouca calcificação, ou seja, pacientes com escore de Block < 8. É
contra-indicada em pacientes com presença de trombos no AE e na vigência de insuficiência
mitral moderada a importante. A taxa de sucesso quando bem indicada ultrapassa 90%, sendo
que os parâmetros de sucesso considerados são: redução de 50 – 60% no gradiente
trasnvalvar, aumento da AVM para > 1,5cm2 e manutenção da PAP < 18 mmHg. As taxas de
complicações são menores que 2% (pode complicar com embolia sistêmica, regurgitação
mitral e CIA) e a sobrevida em 10 anos de 80-90%. A figura mostra a técnica em que
basicamente é feito um cateterismo do átrio direito, o cateter transpassa o septo inter-atrial
através do forame oval chegando no AE. A extremidade do cateter contem um ou ou dois
balões que são insuflados quando posicionados, desfazendo assim a fusão das comissuras.
SLIDE 11: COMISSUROTOMIA
Tambem chamada de valvoplastia cirúrgica, é indicada para pacientes sintomáticos (NYHA III-
IV), com escore de Block < 8, sem insuficiência mitral mas que apresentem trombo intra-atrial
após 3 meses de anticoagulação ou quando não há disponível uma equipe treinada para
realização de VMCB. A comissurotomia pode ser aberta ou fechada. Na aberta o procedimento
é realizado após visualização da valva, pela abertura do coração, em circulação extracorpórea.
O cirurgião ainda pode liberar aderências entre a cordoalha tendínea, debridar o cálcio dos
folhetos, extrair trombos atriais e ressecar o apêndice atrial esquerdo que é uma importante
fonte de êmbolos. A comissurotomia fechada só deve ser realizada na indisponibilidade da
cirurgia com circulação extracorpórea e do método percutâneo (situação comum em países
pobres) por oferecer alto risco de embolia e resultados menos satisfatórios. A figura mostra de
forma esquemática a comissurotomia fechada no qual o cirurgia abre a valva estenótica com o
próprio dedo, através de uma incisão no apêndice atrial esquerdo.
SLIDE 12: TROCA VALVAR
A troca valvar está indicada nos pacientes com escore de Block > 11, com valva calicificada,
insuficiência mitral moderada/grave. Nesses pacientes os resultados da plastia valvar são
limitados sendo necessário a troca valvar que trás uma nova morbidade ao paciente que é a
prótese valvar. O momento ideal para a cirurgia é quando o paciente apresenta-se com classe
funcional NYHA III-IV ou pacientes assintomáticos/oligossintomáticos com PASP > 50 mmHg.
SLIDE 13: CONCLUSÃO
Concluimos o nosso trabalho com esse fluxograma que resume a conduta diante de um
paciente com EM moderada/grave:
Pacientes assintomáticos e sem HAP grave deve ser tratado clinicamente. Já pacientes
assintomáticos com PSAP > 50 (Repouso) ou > 60 (esforço) deve-se avaliar os critérios de
escolha para VMCB. Caso o paciente não tenha contra-indicações é feita a valvoplastia, caso
contrário o tratamento cirúrgico deve ser estabelecido.
Pacientes sintomáticos devem ser avaliados se podem ser submetidos a VMCB. Caso haja
contra-indicações os pacientes com classe funcional II devem ser avaliados individualmente
quanto ao risco cirúrgico e presença de comorbidades para auxiliar na escolha do melhor
método. Já os pacientes com classe funcional III-IV devem ser submetidos a cirurgia de troca
valvar.