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UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESACentro Regional de Braga
ESTILOS PARENTAIS DOS PAIS DE CRIANAS COM
PERTURBAO DE HIPERACTIVIDADE E DFICE DE
ATENO
Dissertao apresentada Universidade Catlica Portuguesa para aobteno do grau de Mestre em Psicologia Clnica e da Sade.
Por
Ana Catarina de Castro Goiana Braga
FACULDADE DE FILOSOFIA
Maio de 2011
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UNIVERSIDADE CATLICA PORTUGUESACentro Regional de Braga
ESTILOS PARENTAIS DOS PAIS DE CRIANAS COM
PERTURBAO DE HIPERACTIVIDADE E DFICE DE
ATENO
Dissertao apresentada Universidade Catlica Portuguesa para aobteno do grau de Mestre em Psicologia Clnica e da Sade.
Por
Ana Catarina de Castro Goiana Braga
Sob orientao de
Professora Doutora Eleonora Costa
FACULDADE DE FILOSOFIA
Maio de 2011
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AGRADECIMENTOS
Finalizada uma etapa particularmente importante da minha vida, apesar de ser
um processo solitrio para qualquer investigador, no poderia deixar de expressar omais profundo agradecimento a todos aqueles que me apoiaram nesta longa caminhada
e contriburam para a realizao deste trabalho.
Professora Doutora Eleonora Costa, minha orientadora, o maior
agradecimento pela disponibilidade e orientao prestada, pelo apoio incondicional e
compreenso que sempre manifestou.
Dra. Gerly Macedo, pelo apoio, incentivo e disponibilidade sempre presente
na concretizao deste trabalho. Pelo crescimento pessoal e profissional conquistado e
partilhado, o meu mais sincero agradecimento.
Dra. Delfina Coelho, pelo apoio, disponibilidade e amizade, tendo tornado
possvel parte da realizao deste trabalho.
A todos os utentes, um agradecimento muito especial pela participao nesta
investigao, pois sem eles nada teria sido possvel.
Aos meus pais e irm agradeo, pelo amor incondicional, apoio e coragem que
sempre me transmitiram, apelando palavra certa quando mais precisava. minha
sobrinha, Ins, pelas suas inocentes palavras e pelo sorriso que me transmite a cada dia
que reconforta e d foras para superar os obstculos.
Aos meus amigos, agradeo pela amizade, compreenso, dedicao e apoio nas
horas mais difceis e na boa disposio que sempre me foram transmitindo.
Por ltimo, mas no menos importante, agradeo s minhas colegas de estgio e
professores, que comigo partilharam do seu saber, e pelo companheirismo e ajuda
perante as dificuldades encontradas ao longo desta etapa.
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RESUMO
A presente investigao teve como objectivo estudar a relao entre o diagnstico dePerturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno nas crianas e o Estilo Parental
adoptado pelos respectivos pais para a educao dos seus filhos. Foi recolhida umaamostra de convenincia constituda por 50 crianas (36 do gnero masculino e 14 dognero feminino), com idades compreendidas entre os 5 e os 14 anos de idade, comdiagnstico de Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno e um representanteeducacional de cada criana (pai/me). Os instrumentos utilizados foram o Questionriode Conners para pais e professores e o Inventrio de Estilos Parentais. De uma formageral, os resultados demonstram que no existem diferenas estatisticamentesignificativas nos Estilos Parentais adoptados pelos pais, quer para rapazes quer pararaparigas, assim como a idade dos pais no exerce influncia sobre os Estilos Parentais
postos em prtica na educao dos filhos. Na avaliao de diagnstico dehiperactividade, os pais so mais severos em relao aos professores e ao mesmo tempo
no se verificam diferenas estatisticamente significativas na avaliao de pais eprofessores no que se refere s diferenas de gnero. Quanto avaliao feita por pais eprofessores, as crianas com idades entre os 5 e os 8 anos de idade, apresentam maiorgrau de hiperactividade e so a faixa etria que representa diferenas significativas na
prtica educativa "abuso fsico", evidenciando valores mais altos quando comparadacom a faixa etria dos 9 aos 14 anos de idade. Apesar de os pais serem severos naavaliao do diagnstico dos seus filhos, a prtica educativa mais utilizada oComportamento Moral. Espera-se que estes resultados possam contribuir para ainvestigao nesta rea e para a criao de intervenes eficazes que permitam aos paisadaptar um estilo parental que v de encontro s necessidades que a patologia requer.
PALAVRAS-CHAVE:Perturbao de hiperactividade e Dfice de ateno, Estilosparentais, Diferenas de gnero.
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ABSTRACT
This investigation aims to assess the relationship between the diagnosis of AttentionDeficit Hyperactivity Disorder in children and the Parental style adopted in these
childrens up-bringing. A consecutive sample of 50 children (36 male and 14 female)between the ages of 5 to 14 years old, with Attention Deficit Hyperactivity Disorder andan educational representative of each child (parent) was collected. The assessinginstruments for this investigation were: the Conners Questionnaire for parents andteachers and the Parenting Styles Inventory. The overall results revealed no statisticallysignificant differences between the Parenting Styles adopted by these parents, either forthe boys or the girls, as well as the parents age presented no influence on ParentingStyles put into practice in the up-bringing of their children. In the diagnostic evaluationof hyperactivity, the parents are more severe than teachers and at the same time thereare no statistically significant differences in the assessment of parents and teachers inregards to gender differences. Regarding the evaluation made by parents and teachers,
children with ages between 5 to 8 years old present a higher degree of hyperactivity andit is this age group that accounts for significant differences in the educational practice ofphysical abuse, showing higher values in comparison to the age group of 9 to 14 yearsold. Despite the parents being strict in the diagnostic assessment of their children, themost widely used educational practice is the Moral Behaviour. It is hoped that thesefindings can contribute in this area of research and create effective interventions thatenable parents to tailor a parenting style that goes according to the needs that the
pathology requires.
KEY-WORDS: Attention Deficit Hyperactivity Disorder; Parental Styles and GenderDifferences
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Agradecimentos.I
Resumo.II
AbstractIII
ndice...IVndice de Quadros..VII
NDICE
INTRODUO10
PARTE I:ENQUADRAMENTO TERICO..
CAPITULO I: CONCEPTUALIZAO TERICA DA PERTURBAO DE HIPERACTIVIDADE EDFICE DEATENO.16
1.Definio e caracterizao da PHDA...17
1.1. Evoluo conceptual da Hiperactividade.17
1.2. Definio actual da PHDA...20
1.3. Principais caractersticas das crianas com PHDA..21
1.3.1. Hiperactividade .21
1.3.2.
Desateno.221.3.3. Impulsividade22
1.4. Classificao em subtipos23
1.4.1. Classificao categorial: subtipos inatento, hiperactivo/impulsivo e
combinado.23
1.4.1.1. PHDA: Predominantemente Desatento23
1.4.1.2. PHDA: Predominantemente Hiperactivo- Impulsivo..24
1.4.1.3. PHDA: Combinado ou Misto...25
1.4.1.4. Outras classificaes da PHDA25
1.5. Prevalncia...27
1.5.1. Prevalncia em funo da idade27
1.5.2. Prevalncia em funo do gnero..28
1.5.3. Outras variveis scio-demogrficas.29
2.Percepes Etiolgicas.29
2.1.Factores Biolgicos...30
2.1.1. Desenvolvimento Cerebral30
2.1.2. Factores Hereditrios.30
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2.2. Factores Ambientais.31
2.2.1. Consumo de substancias e exposio ao chumbo.31
2.2.2. Educao Parental..32
3.Comorbilidade e Diagnstico Diferencial323.1.Perturbaes comrbidas mais frequentes na PHDA33
3.1.1.PHDA e Perturbaes de comportamento exteriorizado.34
3.2.Problemas Associados...35
3.2.1.Problemas de Rendimento Acadmico35
3.2.2.Problemas Sociais.36
CAPITULOII-CONCEPTUALIZAO TERICA DOS ESTILOS PARENTAIS.37
4. Estilos Parentais.38
5. Factores que influenciam os Estilos Parentais...45
PARTEII:INVESTIGAO EMPRICA
CAPITULOIII-METODOLOGIA...50
6. Metodologia...51
6.1. Objectivos.51
6.1.1.Objectivo Geral51
6.1.2.Objectivos Especficos.51
6.2.Hipteses52
6.3.Variveis52
6.4.Amostra..52
6.5.Instrumentos...57
6.5.1.Questionrio Geral (Scio-Demogrfico)...58
6.5.2.Questionrio de Conners.58
6.5.3.Inventrio de Estilos Parentais60
6.6.Procedimentos61
6.6.1.Procedimento de recolha de dados...61
6.6.2.Procedimentos de anlise de dados..62
CAPITULOIV-APRESENTAO DOS RESULTADOS65
7.Apresentao dos resultados..66
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7.1.Hiptese 1..66
7.2.Hiptese 2..67
7.3.Hiptese 3..69
7.4.Hiptese 4..717.5.Hiptese 5..72
7.6.Hiptese 6..73
7.7.Hipotese 7..74
CAPITULO V-DISCUSSO DOS RESULTADOS77
8.Anlise e discusso dos resultados.78
8.1.Hiptese 1.788.2.Hiptese 2..79
8.3.Hiptese 3..80
8.4.Hiptese 4.82
8.5.Hiptese 5..84
8.6.Hiptese 6..85
8.7.Hipotese 7..87
9. Limitaes do Estudo.89
CAPITULO VI-CONCLUSOINTEGRATIVA EIMPLICAES FUTURAS91
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS95
ANEXOS
Anexo I- Critrios para diagnstico de Perturbao de Hiperactividade e Dfice de
Ateno
Anexo II- Autorizao da Comisso de tica para a recolha dos dados
Anexo III- Consentimento informado
Anexo IV- Questionrios da investigao aplicados aos utentes
Anexo V- Procedimentos Estatsticos
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NDICE DE QUADROS
QUADRO 1 Caracterizao scio-demogrfica da amostra55
QUADRO 2 Caracterizao scio-demogrfica da amostra: variveis especificas da
criana com PHDA..58
QUADRO 3 Dados scio-demogrficos da amostra: mdia (M), desvio-padro (DP),
mean ranke teste tde medidas independentes ou teste UMann-Whitney na comparao
Rapazes versusRaparigas59
QUADRO 4 Alfa de Cronbach () na avaliao da consistncia interna do Questionrio
de Conners...61
QUADRO 5-Alfa de Cronbach () na avaliao da consistncia interna do Inventrio de
Estilos Parentais...63
QUADRO 6 Mdia (M), desvio-padro (DP), mean rank, teste t de medidas
independentes ou teste U Mann-Whitney, na comparao entre Rapazes versus
Raparigas, relativamente ao Inventrio de Estilos Parentais...68
QUADRO 7 Teste de Shapiro-Wilk, na anlise da normalidade das distribuies, das
variveis quantitativas.70
QUADRO 8 Mdia (M), desvio-padro (DP), coeficiente de variao (CV) e teste tde
medidas independentes, na comparao entre Idade dos Pais/Mes 40 anos versus>40
anos, relativamente hiperactividade e s prticas educativas...71
QUADRO 9 Teste de Shapiro-Wilk, na anlise da normalidade das distribuies, das
variveis quantitativas.72
QUADRO 10 Mdia (M), desvio-padro (DP), coeficiente de variao (CV) e teste tde
medidas independentes, na comparao entre Crianas/Jovens 5-8 anos versus
Crianas/Jovens 9-14 anos, relativamente hiperactividade e s prticas educativas73
QUADRO 11 Mdia (M), desvio-padro (DP), coeficiente de variao (CV) e teste tde
medidas independentes, na comparao entre pais versusprofessores, relativamente ao
diagnstico de hiperactividade74
QUADRO12 Mdia (M), desvio-padro (DP), coeficiente de variao (CV) e teste tde
medidas independentes, na comparao entre Crianas/Jovens 5-8 anos versus
Crianas/Jovens 9-14 anos, relativamente hiperactividade e s prticas educativas75
QUADRO13 Correlao entre os Questionrios de Conner: hiperactividade avaliada
pelos PAIS versusavaliada pelos professores.76QUADRO14 Tabela ANOVA da regresso stepwise77
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QUADRO 15 Modelo resumido..78
QUADRO 16 Matriz de coeficientes de regresso stepwise78
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INTRODUO GERAL
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INTRODUO GERAL
A presente investigao centra-se no funcionamento parental, mais especificamente
no estilo parental posto em prtica pelo pai/me de crianas com Perturbao de
Hiperactividade com Dfice de Ateno (PHDA). A eleio desta temtica decorre,
principalmente, do facto de se constatar que, na prtica clnica em contexto peditrico, as
queixas dos pais associadas a perturbaes que se enquadram no espectro dos
comportamentos externalizantes tm vindo a aumentar, constituindo-se a PHDA como uma
das patologias mais diagnosticadas em Sade Mental Infantil (Dieudonn, 2004).
A Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno (PHDA) uma das
perturbaes neuropsiquitricas mais comuns da infncia, assim como uma das mais
controversas, que permite reconhecer a sua grande pertinncia e actualidade (Fonseca,1998). Manifesta-se por nveis clinicamente significativos de desateno,
hiperactividade e impulsividade (APA, 1994). Estas crianas revelam vrias
dificuldades ao nvel interpessoal, acadmico e familiar, comprometendo assim vrias
reas de vida. Alm destas consequncias ao nvel adaptativo, verifica-se a sua
persistncia por longos perodos de tempo, bem como sequelas que continuam a
reflectir-se na vida adulta (Quinn, 1997).
Em 1908, foi feita a primeira descrio clnica sobre a hiperactividade, onde o
comportamento da criana hiperactiva, o nervosismo e o nvel de actividade estavam
associados a uma leso cerebral, designando-se de Disfuno Cerebral Mnima
(Tredgold, 1908; citado por Fonseca, 1998).
De seguida, numa abordagem mais actual, Lopes (2003), sustenta que os
portadores desta patologia apresentam significativos indcios de falta de ateno, em
situaes que requerem a sua ateno, dfice na manuteno prolongada de controlo dos
impulsos (impulsividade) e de actividade motora excessiva (hiperactividade).
Perante a existncia de diversas designaes e terminologias da PHDA, nosso
objectivo dar a conhecer a conceptualizao histrica desta problemtica, incidindo
sobretudo nas designaes que tm vindo a prevalecer nos ltimos estudos, bem como
permitir um maior conhecimento e esclarecimento dos sujeitos com esta problemtica.
Em Portugal, a investigao sobre esta problemtica escassa, o que provoca
uma desorientao e desespero por parte das famlias, assim como tambm por parte dos
educadores e professores, uma vez que este desconhecimento generalizado no permite
a obteno de informaes fidedignas para se poder apoiar, lidar e educar as crianas de
um modo mais apropriado (Lopes, 1998).
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Estima-se que a PHDA afecte entre trs a 20% das crianas em idade escolar,
entre os 5 e os 10 anos de idade. Existe uma maior prevalncia de rapazes com PHDA
aquando comparados as raparigas, sendo os rapazes quatro a nove vezes mais afectados
que as raparigas, pois estes tendem a ser mais impulsivos e hiperactivos do que estas(Parker, 2003).
No mbito da Psicologia, os estudos abordam, em geral, aspectos relacionados
com os estilos educativos parentais e consideram a personalidade e comportamento
educativo dos pais como dimenses que determinam o desenvolvimento cognitivo e
socio-afectivo dos filhos (Pourtois & Desmet, 1989).
A famlia desde os tempos mais antigos, corresponde a um grupo social que
exerce uma marcada influncia sobre a vida das pessoas, sendo encarada como umgrupo com uma organizao complexa, inserido num contexto social mais amplo com o
qual mantm constante interaco (Biasoli- Alves, 2001).
Os estilos parentais so entendidos como um conjunto de atitudes que incluem
as prticas educativas parentais e outros aspectos da interaco pais-filhos, tais como:
tom de voz, linguagem corporal, desateno, ateno, mudanas de humor, assim como
o contexto dentro do qual os pais operam esforos para socializar os seus filhos de
acordo com as suas crenas e valores. Por outras palavras, os estilos parentais, podem
ser entendidos como o clima emocional que decorre das atitudes dos pais, cujo efeito o
de alterar a eficcia de prticas disciplinares especificas, e influenciar a abertura ou
predisposio dos filhos para a socializao (Darling & Steinberg, 1993).
As prticas educativas tm sido objecto de estudo de inmeras investigaes nos
ltimos anos (Alvarenga, 2001), contudo uma grande parte destas investigaes
realizaram-se de acordo com uma perspectiva evolutiva e no psicodedagogica (Vila,
1998).
Segundo Cohen e Rice (1997), os filhos de pais autoritativos/ democrticos tm
sido associados sempre a aspectos positivos, nomeadamente, com o melhor rendimento
escolar.
Em Portugal, Fontaine (1988), num estudo em que aborda os estilos parentais,
observa tanto o desenvolvimento intelectual como o sucesso escolar. De uma forma
global, estes estudos apontam para um maior sucesso escolar, quando o estilo educativo
praticado pelos pais o de tipo autoritativo/democrtico, uma vez que este estilo
permite transmitir criana uma maior autonomia e aumentar a capacidade de
realizao (Oliveira et al., 2002).
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A par da falta de consenso, da diversidade de terminologias, conceptualizaes e
a escassa investigao em Portugal acerca da temtica dos estilos parentais em crianas
com PHDA, sendo esta, uma problemtica frequente, torna-se importante este estudo de
modo a verificar o estilo praticado pelos pais, tendo em conta as suas caractersticas, e ainfluncia que este estilo tem no seu filho com PHDA. Assim, poderemos verificar se
existe um estilo parental relacionado com PHDA, salvaguardando que estas crianas j
foram diagnosticadas com PHDA.
Aquilo que se constata que este silncio difcil de compreender, na medida
em que o PHDA apresenta inmeros factores negativos que se prolongam por vrios
anos, afectando os mais diversificados aspectos da vida do indivduo (social, pessoal,
educacional e familiar).Infelizmente, as crianas e adolescentes afectados por este distrbio so, ainda
hoje, erroneamente rotulados como padecendo de falta de educao devido s suas
sucessivas buscas de novos estmulos e, relativamente, aos seus repetitivos, incessantes
e incontrolveis movimentos de mos, cabea, ps e braos (Lopes 2003).
.Resumidamente, parece no haver dvidas de que os estilos parentais dos pais
tm influncia no desenvolvimento diferencial dos filhos, quer a nvel cognitivo, quer
afectivo e social (Oliveira et al., 2002).
Assim sendo, este trabalho desenvolvido com crianas diagnosticadas com
Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno (PHDA), em que se ir avaliar os
estilos parentais que os pais destas crianas adoptaram para a educao dos seus filhos,
visto que estes podem vir a influenciar o desenvolvimento e o comportamento dos seus
filhos ao longo da vida. Quando falamos de estilos parentais, falamos das caractersticas
dos pais (idade, emprego, agregado familiar, situao financeira, entre outros), sendo
que todas estas variveis so potentes influenciadoras do estilo parental que os pais
adoptam e que mais tarde influencia o comportamento do filho.
A escolha deste grupo em especial prende-se com a nossa rea de actuao e tem
como objectivo contribuir para aumentar os conhecimentos sobre esta temtica,
distinguindo os maus comportamentos que esto associados aos estilos parentais, uma
vez que o estilo parental tendo em conta as caractersticas da famlia, influencia o
comportamento da criana.
Ao nvel estrutural, este trabalho encontra-se dividido em duas partes distintas.
Na primeira parte apresentamos uma reviso da literatura cientfica sobre o tema, que se
divide em dois captulos, no primeiro captulo feita uma conceptualizao terica da
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Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno, e no segundo capitulo, propem-
se uma abordagem da nossa varivel em estudo, os estilos parentais. Na segunda parte
apresentamos a investigao emprica realizada, que inclui um captulo onde aborda a
metodologia, um outro captulo para a apresentao dos resultados, seguido de umcaptulo para a discusso desses mesmo resultados e por fim um captulo onde feita
uma concluso integrativa e implicaes futuras.
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PARTE I
ENQUADRAMENTO TERICO
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Na parte I, enquadramento terico, proceder-se- a uma reviso da literatura
sobre a Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno, a sua evoluo conceptual,
caractersticas, classificao em subtipos, prevalncia, perspectivas etiolgicas ecomorbilidade e diagnstico diferencial.
O segundo capitulo propem-se a abordar a varivel deste estudo, os estilos
parentais, conceptualizando o conceito e os factores que influenciam o estilo parental
dos pais.
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CAPTULO I
CONCEPTUALIZAO TERICA DA PERTURBAO DE HIPERACTIVIDADECOM DFICE DE ATENO
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1.DEFINIO E CARACTERIZAO DA PERTURBAO DE HIPERACTIVIDADE E DFICE
DE ATENO
1.1- Evoluo conceptual da Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno
A Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno (PHDA) representativa
dos mais variados problemas conceptuais uma vez que no existe uma definio
consensual e nica da mesma. Como afirma Lahey e colaboradores (1998, citado por
Lopes, 1998, p.123): Nenhum termo na histria da psicopatologia da infncia foi
sujeito a tantas conceptualizaes, redefinies e renovaes como o distrbio
conhecido no- tecnicamente como hiperactividadequase nada se manteve constantena nossa compreenso deste distrbio, excepto a crena de que as crianas o
manifestam e de que nuncao definimos adequadamente.
A PHDA vista como uma perturbao do desenvolvimento, no inicio da
infncia e que poder permanecer e perdurar at e durante a idade adulta (Quinn, 1997),
tendo como suas manifestaes de natureza comportamental e cognitiva repercutindo-
se, por isso, em mltiplas reas do funcionamento, nomeadamente acadmico, social,
familiar ou ocupacional (APA, 1994).
De forma a proporcionar alguma inteligibilidade ao conceito de PHDA,
primordial referir que a sua evoluo conceptual est intimamente marcada pelas
abordagens neurobiolgica, nosolgica e dimensional.
Nos finais do sc.XIX, incio do sc.XX, surgem as primeiras referncias na
Europa, no que se refere s crianas agressivas com problemas no controlo dos
impulsos, indisciplinadas e desafiantes (Meyer, 1904; Still, 1902, citado por Lopes
2003).
Assim, na Inglaterra, em 1877, Ireland (citado por Fonseca, 1998) deu nfase
importncia da hiperactividade como um sintoma associado a crianas com atraso
mental.
Em 1897 Borneville (Citado por Fonseca, 1998) descreveu o que ele
denominava de crianas instveis, caracterizadas por instabilidade, carncia de
ateno e por uma motricidade excessiva denotando desta forma, o preconceito inicial
que aos portadores de PHDA era dispensado.
J em 1902, Stil (Fonseca, 1998) descreveu um grupo de crianas, em que os
seus comportamentos, configuram aquilo a que se pode considerar-se como a primeira
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caracterizao do distrbio de hiperactividade. Assim, o autor menciona sintomas como
a incapacidade de manter a ateno, a irrequietude, as exploses violentas e a
destrutividade. Observou que a maior frequncia destes comportamentos existia nas
crianas do sexo masculino, e encontram-se associados a estes comportamentos asmanifestaes de comportamento anti-social que no eram explicveis por factores de
ordem scio-cultural e que se presumia estarem relacionadoss a alguma deficincia
biolgica hereditria ou adquirida.
Em 1918, houve uma epidemia mundial de encefalite (encefalite de Von Economo). As
crianas que contraram esta infeco desenvolveram depois de recuperarem da fase
aguda da doena um sndrome de hiperactividade e grave impulsividade muito
semelhante ao que Still descrevera, designadamente dfices de ateno, impulsividadeedificuldades nos comportamentos de oposio e relacionamento interpessoal, resultantes
de leses no Sistema Nervoso Central (Vieira, 2006). Nesta fase, a denominao
utilizada era a de Distrbio Ps- Enceflico do Comportamento (Hohman, 1922;
Ebaugh, 1923, citado por Fonseca, 1998).
A percepo de que a Hiperactividade possui uma base orgnica defendida nas
dcadas seguintes, espelhando-se em expresses como Impulsividade Orgnica (organic
drivenes), Leso Cerebral Mnima, Hipo-excitao do Sistema Nervoso e,
posteriormente, Disfuno Cerebral Mnima (Clements & Peter, 1962 citado por
Fonseca, 1998).
Nos finais dos anos 60,sob a influncia do movimento psicodinmico, o DSM-II
descreveu todas as perturbaes da infncia como reactivas e o sndrome de
hiperactividade transformou-se em reaco hipercintica da infncia. Definido como
uma perturbao de hiperactividade, agitao, distractibilidade e desateno, cujo
comportamento diminua progressivamente at adolescncia, onde se extinguia. O
DSM-II incluiu pela primeira vez sintomas de desateno, posteriormente enfatizados,
juntamente com a dificuldade no controlo dos impulsos (anos 70). Na dcada de 70,
Virgnia Douglas e colaboradores na McGill University, Canad, estudaram
extensamente crianas hiperactivas e descobriram que elas exibiam uma variedade de
dfices cognitivos e aumento da actividade motora (Fonseca, 1998).
Posteriormente, no final da dcada de 70, a tnica dos estudos nesta rea
deslocou-se do sintoma da agitao motora para o dfice atencional, dado o
reconhecimento crescente de que as crianas podiam ter dfices atencionais sem
hiperactividade, o que motivou a extino da designao de sindroma hipercintico
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(Quinn, 1997). Douglas e Peters (1975, p.173, citado por Manga, Fournier &
Navarredonda, 1999, p.696) ilustram claramente esta mudana ao afirmarem que a
principal dificuldade das crianas hiperactivas a sua incapacidade de manter a
ateno e inibir as respostas impulsivas em tarefas ou situaes sociais que requeremum esforo focalizado, reflexivo, organizado e auto-dirigido. Assim, em 1980, o
DSM-III (APA, 1980), aponta dois tipos de Distrbio de Dfice de Ateno: distrbio
de ateno com hiperactividade e distrbio de ateno sem hiperactividade, com o
objectivo de destacar o distrbio atencional comparativamente hiperactividade e
impulsividade. Passaram ento a enfatizar-se as dificuldades de concentrao
prolongada nas tarefas, bem como a constante substituio de umas tarefas por outras,
sem que nenhuma fosse concluda. desconcentrao podiam associar-se adistractibilidade, a impulsividade, bem como o comprometimento no funcionamento
social, nomeadamente no que se refere resoluo de problemas.
Assim, em 1994, o DSM-IV criou dois grandes grupos de sintomas: os
problemas de ateno (subtipo predominantemente inatento) e os problemas de
hiperactividade/impulsividade (subtipo predominantemente hiperactivo/impulsivo) e, ao
considerar ainda um subtipo combinado ou misto quando esto reunidos os critrios de
inateno e de hiperactividade/impulsividade (Fonseca 1998).
Para completar a caracterizao da evoluo conceptual da PHDA importa
referir a abordagem dimensional, uma vez que o estudo das perturbaes da infncia e
da adolescncia tm vindo progressivamente a alicerar-se numa viso mais
dimensional do que categorial. Significa isto que a viso categorial baseada na
identificao de critrios de diagnstico, que permitem a identificao de um sndroma
discreto, isto , perfeitamente isolado e diferenciado dos restantes sndromas. Com
efeito, as evidncias crescentes da elevada comorbilidade de perturbaes na infncia
revelam que estas dificilmente podem conceptualizar-se como unidades discretas,
claramente diferenciadas entre si e resultantes de uma ruptura inequvoca com o
funcionamento adaptativo. Deste modo, na perspectiva categorial, o distrbio
considerado intrnseco ao individuo, enquanto que numa perspectiva dimensional so
igualmente contempladas a qualidade relacional dos contextos da criana, observando-
se com significativa frequncia o reforo de padres de disfuncionamento decorrentes
de estilos de interaco perturbados. Tomando em considerao estes aspectos, torna-se
compreensvel a necessidade de integrar no estudo das perturbaes da infncia e
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adolescncia uma conceptualizao holstica e integradora de mltiplas perspectivas
(Emde, Bingham & Harmon, 1993).
No caso concreto da hiperactividade, esta conceptualizao assume uma
particular relevncia considerando a elevada comorbilidade de perturbaes e aconsequente necessidade de distinguir entre a incidncia e gravidade da sintomatologia
associada ao PHDA e da sintomatologia correspondente a outras perturbaes (Fonseca,
1998).
1.2- Definio Actual de Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno
Vrias so as terminologias e concepes na designao das crianashiperactivas ou hipercinticas, tal como anteriormente referido, posto isto, a Associao
Americana de Psiquiatria (2002) no seu manual DSM-IV-TR (Manual de Diagnstico
Estatstico das Perturbaes Mentais) designou o PHDA, como Perturbao de
Hiperactividade com Dfice de Ateno, englobado nas Perturbaes Disruptivas de
Comportamento e de Dfice de Ateno, considerando que as principais caractersticas,
baseiam-se num padro perseverante e intenso de falta de ateno e/ou impulsividade-
hiperactividade.
Estes sintomas devero, ainda, manifestar-se antes dos sete anos de idade e
como tal deve ser dado uma importante nfase na necessidade de o despiste ser
efectuado em contextos estruturados (contexto social, acadmico, familiar ou
ocupacional), ou seja, ter em conta com a interferncia dos diferentes contextos na
criana num perodo superior a 6 meses (Lopes, 2003).
Para o diagnstico ainda importante que os sintomas no resultem de uma
outra desordem de foro psquico (Parker, 2003).1
Posteriormente, no ponto subsequente, iremos abordar mais detalhadamente a
sintomatologia da PHDA para uma melhor compreenso do conceito.
1Em anexo encontram-se os critrios de diagnostico do PHDA segundo o DSM-VI-IR ( APA,
2002).
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1.3- Principais caractersticas das crianas com Perturbao de Hiperactividade e
Dfice de Ateno
Tendo em conta ao anteriormente referido, e apesar da controvrsia associada definio e caracterizao desta patologia, consensual a constelao na PHDA, de
sintomas que geralmente se abarcam em trs categorias: falta de ateno e/ou
impulsividade hiperactividade, com uma intensidade que mais frequente e grave que
o observado habitualmente nos sujeitos com um nvel semelhante de desenvolvimento
(APA, 2002).
Assim, apresenta-se de seguida uma delimitao dos conceitos de
hiperactividade, falta de ateno e impulsividade.
1.3.1- Hiperactividade
As crianas com PHDA apresentam normalmente nveis de actividade
substancialmente superiores mdia, quer ao nvel motor quer ao nvel vocal. Ao nvel
motor, comum estas crianas mexerem permanentemente as mos e pernas, correndo
em locais inapropriados, falando demasiado, apresentando dificuldades em manter o
silncio, apresentarem uma grande dificuldade em estar quietas ou simplesmente
descansarem e, sobretudo, exibirem estes movimentos em momentos desajustado
(Lopes, 2003), parecendo estar constantemente ligada a um motor.
Na verdade, estas crianas apresentam nveis de actividade superiores mdia,
quer ao nvel motor, quer ao nvel vocal.
Assim, Firestone e Martin (1979, citado por Lopes ,2003) defendem que o nvel
de actividade das crianas com PHDA tende a aumentar, no mesmo contexto, ao longo
do tempo e em situaes caracterizadas por baixo nveis de estimulao, em que neste
sentido a hiperactividade parece assumir uma posio de procura de elevados nveis
estimulao por parte dos sujeitos.
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1.3.2- Desateno
A ateno no vista como um processo isolado, mas como um mecanismo
regulador do processamento de informao.Embora certos tericos defendam a existncia de um dfice primrio de ateno
subjacente a esta perturbao, segundo Douglas, (1989, citado por Fonseca 1998) esta
incapacidade de manter a ateno est associada a um dfice de auto-regulao, embora
seja claro que as capacidades de processamento de informao destas crianas se
mantm intactas.
Estas crianas apresentam assim como principais dificuldades srias em manter
a concentrao e dificuldades na captao de informao e em filtrar distraces, tendo
um desempenho bastante dbil em tarefas que lhe despertam pouco interesse ou
associadas a diversos factores que facilitam uma maior distraco, como o caso de
situaes que requerem ateno por longos perodos de tempo e durante a realizao de
tarefas repetitivas ou quando existem rudos (Guimil, 1997).
Quando interrompidas por estmulos (rudos) (Vieira, 2006), apresentam uma
maior lentido em retomar a tarefa, esquecendo-se facilmente das tarefas quotidianas
(APA, 2002). Por consequncia, tendem a cometer mais erros ortogrficos do que as
outras crianas (Fonseca, 1998).
Estas crianas tambm sao afectadas no que se refere s relaes sociais, uma
vez que a ateno que prestam nas conversas com os outros mnima, e mudam
frequentemente de assunto, no conseguindo, igualmente, cumprir regras nas
brincadeiras (APA, 2002).
1.3.3-Impulsividade
A impulsividade constitui-se como outra das principais problemticas
implicadas na PHDA. Constitui-se como um constructo multifacetado (Hinshaw, 1994),
correspondendo a um padro de tomada de deciso baseado na ausncia de antecipao
das consequncias da aco a tomar ou na no dedicao do tempo necessrio tomada
de deciso (Barkley, 1995).
A impulsividade tambm descrita como uma dificuldade na organizao e
controlo do prprio comportamento (Lopes, 1998).
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Assim sendo, a impulsividade poder reflectir um dfice primrio de inibio
comportamental responsvel pelas respostas imadiatas e irreflectidas, pelas dificuldades
em adiar as recompensas e, de um modo geral, pelas vrias manifestaes de baixo
auto-controlo associadas PHDA (Hinston, Jameson & Whitney, 2003). Posto isto, tmuma maior tendncia para sofrerem acidentes, uma vez, que tendem a envolverem-se em
actividades perigosas, sem mediar os riscos que correm (Lopes, 2003).
1.4- Classificao em subtipo
1.4.1-Classificao categorial: subtipos inatento, hiperactivo/impulsivo ecombinado
A PHDA descrita como uma Perturbao Disruptiva do Comportamento
infantil, de base gentica, em que esto implicados diversos factores neuropsicolgicos,
que provocam alteraes atencionais, impulsividade e uma grande actividade motora
criana. Refere-se a um problema generalizado de falta de autocontrolo com
repercusses no desenvolvimento, na capacidade de aprendizagem e na adaptao
psicossocial (Barkley, 2006).
Como anteriormente se adiantou, umas das possveis classificaes da PHDA
consiste no estabelecimento de trs subtipos para a perturbao, nomeadamente: PHDA
predominantemente Hiperactivo- Impulsivo, PHDA predominantemente Desatento e
PHDA tipo Misto. Recapitulando, tal categorizao refere-se, respectivamente, ao
predomnio de sintomas de hiperactividade e impulsividade, de sintomas de inateno
ou combinao de ambos os tipos de sintomas (A.P.A., 2002).
1.4.1.1-PHDA: Predominantemente Desatento
Em 2002, a APA (DSM-IV-TR) volta a considerar este subtipo, devido a uma
maior congruncia nos estudos efectuados designando-o de PHDA predominantemente
Desatento.
A desateno a caracterstica principal neste subgrupo, uma vez que as suas
caractersticas comportamentais, so completamente distintas dos subtipos que so
mencionados de seguida.
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O dfice de ateno evidenciado pela frequente dificuldade em manter a
ateno em tarefas ou actividades, seguir instrues e regras, iniciar tarefas sem concluir
as antecedentes, considerar pormenores ou evitar erros por descuido, entre outros.
Demonstram estar alheados quando interpelados, necessitam repetio frequente dedirectrizes ou parecem no compreender as nuances das instrues. O trabalho escolar
caracteriza-se por erros de distraco, desorganizao e esquecimento. Perdem
frequentemente material escolar e pessoal. Tipicamente so os ltimos a iniciar e
terminar as tarefas solicitadas, no demonstram a agitao includa nos outros subtipos
(Lopes, 2003).
Para o diagnstico de Perturbao de Hiperactividade com Dfice de Ateno
tendo como predomnio o dfice de ateno, necessrio serem satisfeitos pelo menosseis dos critrios durante os ltimos 6 meses. Este tipo apresenta, geralmente, um dfice
na rapidez com que se processa a informao que se encontra focada na ateno
selectiva (Parker, 2003).
Este subtipo, estima-se que afecte apenas um tero das crianas. O maior
nmero de crianas encontra-se entre os subtipos de predominncia de hiperactividade-
impulsividade e no tipo que combina os trs traos: hiperactividade, impulsividade e
desateno (Parker, 2003).
1.4.1.2- PHDA: Predominantemente Hiperactivo-Impulsivo
Os sintomas de hiperactividade impulsividade manifestam-se por
movimentao excessiva de mos e ps, mesmo quando sentado, levantar
frequentemente da sala de aula; correr e saltar excessivamente; falar em excesso; ter
dificuldade em esperar pela sua vez; interromper ou interferir nas actividades dos
outros, entre vrios. O comportamento das crianas hiperactivas dependente do
contexto, ou seja, uma criana pode apresentar elevada distractribilidade na sala de aula
e ser inquieta e impulsiva em casa. Alm disso, a gravidade do comportamento varia
com as exigncias contextuais, assim uma criana claramente sintomtica na sala de
aula pode ser descrita como tendo um comportamento dentro da mdia pelos pais, ou
uma criana com evidente dfice de ateno enquanto realiza uma tarefa estruturada na
sala de aula, pode no evidenciar qualquer alterao da ateno enquanto joga no
computador, interage com pares ou durante uma tarefa no estruturada (Lopes, 2003).
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Num estudo efectuado por Lahey e colaboradores em 1994 (citado por Fonseca,
1998), concluram que as crianas do grupo de PHDA do tipo predominantemente
Hiperactivo-Impulsivo no se diferenciavam, em relao s crianas sem PHDA, ao
nvel de ateno ou do rendimento escolar.Porm, para Phelan (2005, citado por Barbosa, 2006) o subtipo hiperactivo-
impulsivo semelhante ao PHDA de tipo misto, pois para o autor pouco provvel que
estas crianas mantenham a ateno numa s tarefa, derivado da sua actividade motora
desmesurada e da sua impulsividade. Assim sendo, para este autor sintomas de
hiperactividade e impulsividade conduzem, inevitavelmente desateno.
1.4.1.3- PHDA: Combinado ou Misto
As caractersticas das crianas referem-se presena das trs reas dominantes:
hiperactividade, impulsividade e desateno, no existindo nenhuma rea predominante.
No presente subtipo, as crianas apresentam-se como mais inquietas, desatentas
e impulsivas. Estas caractersticas muitas vezes levam as crianas a serem desprezadas
pelos pares e apresentam dificuldades em viver experincias satisfatrias (Schweizer &
Prekop, 2001, citado por Barbosa, 2006).
Para o seu diagnstico necessrio algumas precaues, respeitando os critrios
descritos no DSM-IV-TR ( APA, 2002), tendo estes de existir no mnimo seis sintomas
de falta de ateno e seis de hiperactividade e impulsividade.
1.4.1.4- Outras classificaes da PHDA
Para alm da classificao da PHDA em subtipos desatento, hiperactivo-
impulsivo e combinado, existem ainda outras, das quais destacamos a PHDA
Situacional versus Generalizada (Tripp & Luk, 1997, citado por Fonseca, 1998).
De acordo com as classificaes utilizadas em vrios pases Europeus (ICD-10
World Health Organization, 1992, citado por Lopes, 2003), necessrio para a
elaborao do diagnstico que os sintomas se expressem independentemente dos
contextos, assumindo assim, um carcter generalizado.
A Hiperactividade Situacional acontece quando, para a realizao do
diagnstico, se considera que os sintomas devam estar presentes num s contexto
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(normalmente em casa ou na escola), tal como postulado em 1987 no DSM-III-R
(Lopes, 2003).
Toda esta divergncia de posies diminuiu, quando no DSM-IV-TR (APA,
2002) se passou a considerar que os sintomas da perturbao devam manifestar-se emmais do que um contexto (Hiperactividade Generalizada), aproximando, por
consequncia, estas duas vises.
Segundo Achenbach e Edelbrock em 1981 (citados por Lopes, 2003), a
Hiperactividade Situacional compreendia 30% das crianas entre os 6 e os 9 anos ou
16.5% para as pessoas entre 10 e 11 anos. Por outro lado Schachar em 1991 (citado por
Lopes, 1998) referncia que a Hiperactividade Generalizada s afecta 2.2 % da
populao.No caso de uma criana s apresentar comportamentos hiperactivos num dado
contexto, no significa que essas crianas apresentem menos dfice e necessitem de
menos ajuda em relao s crianas com Hiperactividade Geeneralizada (Fonseca
1998).
Existe ainda a constituio de subcategorias com base na presena e na ausncia
de agresso relacionada com a falta de ateno, hiperactividade e impulsividade. Esta
associao da agressividade como subcategorizao da PHDA, ainda pouco pacifica,
uma vez que a presena ou ausncia de agresso em certas situaes, apresenta um
papel muito importante que pode implicar um outro diagnstico, tal como o Distrbio
de Oposio.
Embora existam autores que defendam esta associao da PHDA
agressividade, apontando nos seus estudos que as crianas apresentam um maior
insucesso escolar e so frequentementemente rejeitadas pelos pares (Fonseca, 1998).
Para Barkley (1990), estas crianas so mais desatentas, imaturas e apresentam
comportamentos de agresso fsica e verbal, so mentirosas e praticam o roubo.
Embora seja evidente a existncia de crianas com PHDA sem problemas de
aprendizagem, existe ainda uma outra classificao da PHDA, em que se associa esta
perturbao com os problemas de aprendizagem, pois segundo alguns autores chegam a
atinguir 60% das crianas. Porm, os estudos evidenciam que esta situao diz respeito
a uma minoria de crianas (Lopes, 2004).
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1.5- Prevalncia
Embora da Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno se encontre
entre as perturbaes comportamentais mais frequentes na infncia, os dados relativos sua prevalncia variam significativamente de estudo para estudo.
Barkley, em 2002, defende uma estimativa de 3 a 7% de crianas em idade
escolar com PHDA. No mesmo sentido, Holmes acredita serem 10% as crianas na
escola primria com PHDA. Em 2003, Golfeto e Barbosa chegam concluso que a
diversidade cultural pode ser um factor de influencia na predio de PHDA e
apresentam taxas que variam entre 1% e 20% em diferentes pases.
Podemos assim verificar que os resultados dos estudos da prevalncia da PHDA,realizados em vrios pases, tendem a variar de investigao para investigao, de
acordo com a amostra, os critrios utilizados e a metodologia implementada no estudo.
Com efeito, as metodologias utilizadas variam significativamente com os diferentes
estudos, nomeadamente no que diz respeito a aspectos como (Fonseca, 1998):
Tamanho da amostra (centenas vs. Milhares de sujeitos);
A rea geogrfica contemplada (estudos circunscritos a uma regio vs. Estudos
representativos da populao de um pas;
A constituio dos grupos (grupos limitados aos rapazes vs. grupos com crianas
dos dois sexos; estudos efectuados por inqurito comunidade vs. amostras
clnicas);
As fontes de informao utilizadas (pais e professores vs. apenas pais ou apenas
professores vs. pais, professores e diagnostico de um especialista de sade
mental infantil);
O tipo de instrumento de recolha de informao (caracterizados pela grande
heterogeneidade dos mesmos);
O tipo do sistema de classificao categorial utilizado para o estabelecimento do
diagnostico, por exemplo, diferenas encontradas nos ndices de diagnostico em
funo da utilizao do DSM-IV ou CID-10 (Fonseca, 1998).
1.5.1- Prevalncia em funo da idade
Segundo Manga, Fournier & Navarredonda (1999), em estudos efectuados na
populao Americana, os dados relativamente prevalncia da PHDA em funo da
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idade so igualmente diversificados, chegando a apresentar variaes entre os 3 e os
20%. Por Sua vez, Garcia (2001) sugere estimativas entre os 2 e os 6%. A par com estes
dados so os apontados por outros estudos, segundo os quais a prevalncia da PHDA
para as populaes em idade escolar oscilaria entre 3 e 7% (Barkley et al., 2001),observando-se alguma coerncia com os valores apontados pelo DSM-IV que indicam
variaes de 3 a 5% na referida faixa etria (A.P.A, 1994).
De acordo ainda com a prevalncia em funo da idade, verifica-se a tendncia
para uma diminuio da incidncia da perturbao durante a adolescncia e idade adulta
(Barkley, 2002). Por outro lado, so igualmente vrios os estudos que apontam para a
persistncia da perturbao ao longo da vida (Young, 2000).
Os valores relativos taxa de prevalncia na idade adulta so variveis e oscilamentre os 30 e 70% dos casos diagnosticados com PHDA na infncia (Barkely et al.,
2001). Barkley (2002), conclui que os estudos longitudinais podero, assim, subestimar
a persistncia da PHDA na idade adulta quando baseados exclusivamente em auto-
relatos.
1.5.2- Prevalncia em funo do gnero
A prevalncia no que se refere ao gnero em crianas com PHDA,
independentemente de factores como a idade ou outras variveis scio-demogrficas,
aponta para uma maior incidncia nos sujeitos do sexo masculino, podendo atingir
valores iguais ou superiores a 14% contra valores variveis entre os 2 e os 9% para o
sexo feminino (Taylor et al., 1991, cit. por Fonseca, 1998). Estudos mais recentes
apontam para uma prevalncia de 3% a 5% da populao, sendo que mais de 50%
mantm estes sintomas na vida adulta (Souza et al., 2007).
Esta prevalncia verifica-se tanto em estudos efectuados em amostras clnicas
como nos estudos efectuados em comunidade e feita uma comparao destes dois tipos
de estudos verificam-se valores de prevalncia diferenciados. Assim, nas amostras
clnicas tem-se verificado maior discrepncia entre os dois sexos, chegando alguns
estudos a apresentar valores de oito a 10 rapazes para uma rapariga. Por seu turno, os
inquritos efectuados junto da comunidade apontam para valores de trs rapazes para
uma rapariga (APA, 1994). A explicao destas diferenas poder residir tanto em
factores de natureza social como em factores de natureza biolgica ou gentica (Morrell
& Murray, 2003).
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1.5.3- Outras variveis scio-demogrficas
Torna-se importante referir os dados existentes relativos a outras variveis scio-demogrficas. A PHDA incide independentemente da etnia, cultura ou nvel scio-
econmico de origem. Em Portugal, so escassos os estudos sobre a prevalncia da
PHDA em crianas e adolescentes, podendo indicar, os dados obtidos na regio de
Coimbra que apontam para uma taxa de 4.3% com predomnio da perturbao nos
rapazes comparativamente s raparigas (Fonseca et al., 1998). Porm, estudos sugerem
efeitos das variveis culturais sobre a prevalncia da PHDA nos sujeitos em idade
escolar, tal como sugerido pelas taxas encontradas em diversos pases, nomeadamente:5 a 29% na ndia, 2 a 13% no Japo, 2 a 9% nos EUA (Barkley, 1997, op. Cit. por
Fonseca, 1998).
2- PERSPECTIVAS ETIOLGICAS
Tal como acontece com a definio da PHDA, a sua etiologia tambm est
condicionada pela diversidade de conceptualizaes da natureza desta perturbao.
Se tivermos em conta a heterogeneidade de manifestaes desta perturbao,
seria arriscado considerar explicaes generalistas sobre as suas causas, uma vez que
estas se podem tornar vagas numa variedade de casos. Esta mesma perspectiva
assumida por Hinshaw (1994), quando se referiu investigao sobre a etiologia da
PHDA, ao considerar que um conjunto de factores de risco qualitativamente diferentes
podem aludir-se s crianas com PHDA que apresentam diferentes comorbilidades com
outras perturbaes, assim como factores causais do PHDA substancialmente diferentes
podem referir-se a subgrupos diferentes de crianas com PHDA.
Na comunidade cientifica, apesar de no existir uniformidade em relao
etiologia da PHDA, verifica-se uma inclinao para considerarem esta perturbao
causada mais por factores internos ao prprio sujeito (factores endgenos), que se
encontram relacionados a desordens a nvel cerebral por desenvolvimento deficitrio ou
resultante de factores hereditrios, do que relacionados com o meio (factores exgenos).
Lopes (2003), aponta que os factores relacionados com o meio (factores exgenos),
influenciam de forma positiva ou negativa a manifestao dos sintomas.
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De seguida iremos abordar as hipteses mais apontadas pela investigao, dado
que no ainda possvel determinar as verdadeiras causas do PHDA, sendo apenas
possvel falar em factores de risco, nomeadamente os factores biolgicos e ambientais.
2.1- Factores Biolgicos
2.1.1-Desenvolvimento Cerebral
Segundo Falardeau (1999), a origem do PHDA est ligada a alteraes no curso
do desenvolvimento do crebro da criana, parecendo existir uma disfuno no lobo
frontal. Do ponto de vista neuroqumico, estas crianas apresentam uma deficincia naproduo da dopamina sendo este, um neurotransmissor que est relacionado com a
inibio comportamental e auto-controlo, nas reas pr-frontais do crtex.
Para a normalizao deste dfice foi demonstrada a eficcia da medicao
estimulante, pois os seus efeitos recaem num aumento do fluxo sanguneo nas reas
pr-frontais do crtex, o que possibilita uma melhor adequao social e inibio no
comportamento dos hiperactivos (Lau, Henricksen, Bruhn, Bornna & Nielsen, 1989; cit.
por Lopes, 2003).
Importa referir que as primeiras causas levantas para a origem da PHDA, faziam
referncia a uma leso cerebral. Assim sendo, esta concepo foi levada a cabo em
vrias investigaes, as quais concluram que apenas 5% a 10% das crianas com leso
cerebral podero ter desenvolvido esta perturbao. Posto isto, a maioria das crianas,
diagnosticadas com PHDA, no apresentam qualquer tipo de leso cerebral (Fonseca,
1998).
J Garcia (2001), menciona que em vrias investigaes se concluiu que os
comportamentos das crianas com PHDA encontram-se relacionados mais com um
atraso mental do que com leses cerebrais. E por isto, o mesmo autor considera que o
atraso mental e as leses cerebrais, podem ser factor de influencia para o surgimento
desta perturbao, mas no o fazem de modo exclusivo e determinante.
2.1.2-Factores Hereditrios
Os factores hereditrios, tm sido apontados pelas investigaes efectuadas,
como causa do PHDA (Lopes, 2003). Segundo Villar (1998), estudos recentes
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confirmam que 20 a 30% dos pais de crianas com PHDA, manifestaram tambm
comportamentos hiperactivos durante a sua infncia.
Factos este que tm vindo a ser constatados pelas investigaes que referem que
os pais biolgicos das crianas com PHDA, apresentam mais problemas que os pais dascrianas ditas normais, nomeadamente problemas de conduta, alcoolismo e
hiperactividade (Lopes, 2003).
Pondera-se a hiptese de que as caractersticas bioqumicas que influenciam o
aparecimento da sintomatologia do PHDA, sejam transmitidas de pais para filhos, no
existindo um um gene responsvel pela transmisso desta perturbao, mas um conjunto
de genes capazes de potenciar o controlo dos neurotransmissores.
Deste modo, a causa da PHDA, no se limita apenas a um nico factor, mas sima mltiplos factores e que ao interagirem entre si podem originar a PHDA. Uma atitude
parental desadequada no se constitui numa cauda da PHDA, mas sim numa
consequncia. As problemticas familiares (desentendimentos ou separaes), podem
acarretar comportamentos emocionais e agressivos que se acumulam com a
problemtica da hiperactividade, porm no a provocam (Fonseca, 1998).
Os factores fisiolgicos tm um papel importante na origem do PHDA, e posto
isto no no se poder esquecer, que a criana no seu ambiente, gera uma sucesso de
reaces e conflitos que podem ter um carcter patolgico. Assim sendo, em casos em
que existe uma disfuno familiar, este distrbio pode tornar-se ainda mais grave
(Lopes, 2004).
Por fim, importa desmistificar alguns mitos associados causa da PHDA, no que
se refere , sobredosagem de consumo de vitaminas, a deficincias na alimentao
excesso de televiso, assim como, o internamento em instituies (Lopes, 2003).
2.2 - Factores Ambientais
2.2.1- Consumo de substncias e exposio ao chumbo
No que se refere aos factores ambientais apontados como possveis causadores
da PHDA, podemos considerar, por um lado, ao consumo de substncias durante a
gravidez. A nicotina e o lcool, quando ingeridos durante a gravidez, podem causar
alteraes em algumas partes do crebro do beb, incluindo a regio frontal. Pesquisas
indicam que mes alcolicas tm mais probabilidade de terem filhos com problemas de
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hiperactividade e desateno. Existem ainda evidncias de que crianas pequenas que
sofreram intoxicao por chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos da
Perturbao de Hiperactividade e Dfice de Ateno, especialmente se esta ocorrer entre
os 12 e os 36 meses de idade (Lopes, 2003).Porm, para Lopes (2003) s por si, estes factores no explicam a origem desta
perturbao, mas o seu impulsionamento ou agravamento.
2.2.2- Educao Parental
A relao entre o desenvolvimento da PHDA e a educao parental, so tambm
factores a considerar. Famlias caracterizadas por alto grau de agressividade nasinteraces (alto grau de discrdia conjugal, baixa instruo, famlias com baixo nvel
socioeconmico, ou famlias com apenas um dos pais) podem contribuir para o
aparecimento de comportamento agressivo ou de oposio nas crianas. Assim, a
disciplina em vez de um factor de causa desta problemtica, desempenha um papel
fundamental na gesto dos comportamentos resultantes desta perturbao, assim como
na preveno do desenvolvimento dos comportamentos agressivos ou de oposio e
conduta (Harvey, Danforth, Ulaszek & Eberhardt, 2001).
Deste modo, os programas psico-educativos existentes para os pais de crianas
com PHDA que se centralizam na gesto disciplinar dos comportamentos, tm
representado uma grande ajuda para estes, de modo a conseguirem lidar com os seus
filhos, obtendo resultados positivos sobre o controlo dos sintomas e problemas
associados (Ravenel, 2002).
Se a interaco dos pais com os filhos parece exercer uma influencia importante
na gesto e curso da perturbao, tambm se verifica um impacto significativo das
crianas com PHDA sobre o bem estar psicolgico dos pais, constituindo a perturbao
dos filhos numa das causas frequentemente apontadas para a procura de apoio clnico
por parte dos pais (Connell & Goodman, 2002).
3- COMORBILIDADE E DIAGNSTICO DIFERENCIAL
A comorbilidade entendida como a concomitncia de dois ou mais distrbios
diferentes num mesmo indivduo (Fonseca et al., 2000).
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A presena de perturbaes comorbidas vista como uma dificuldade acrescida
para o estabelecimento de um diagnstico diferencial, uma vez que requer a
determinao dos sintomas de forma a averiguar at que ponto se est perante uma
nica perturbao ou se est, antes, na presena de duas ou mais perturbaes distintas ecoexistentes (Lopes, 1998).
Por conseguinte, importante que os profissionais de sade mental adquiram um
conhecimento das desordens de comportamento e psicopatologia do desenvolvimento.
Devero, de igual modo, ter sensibilidade para confrontar as dificuldades nos adultos e
as complexidades associadas ao grau de desadaptao dos sintomas de desateno,
hiperactividade e impulsividade relacionados aos nveis de idade apropriados (Marks et
al., 2005).
3.1- Perturbaes comrbidas mais frequentes na PHDA
Os dados da investigao sugerem que a comorbilidade predominante na
populao com PHDA, constituindo-se como a regra em vez da excepo.
Os elevados ndices de comorbilidade so confirmados nos vrios estudos, por
exemplo Biederman e colaboradores (1991, cit. por Quinn, 1997), evidenciam que a
maioria dos sujeitos com PHDA apresentam pelo menos uma perturbao adicional e,
por vezes, at mais do que uma. Em 2004, Rohde e colaboradores alegam serem
elevados os ndices de comorbilidade entre PHDA e abuso ou dependncia qumica na
adolescncia e na idade adulta. A existncia de comorbilidades associadas PHDA, tais
como o transtorno bipolar, depresso, transtornos de ansiedade e abuso de lcool e
drogas, aumentam o grau de comprometimento numa parcela significativa de pessoas.
Da mesma forma, outros estudos verificam que entre um tero a metade dos
sujeitos com diagnostico de distrbio de conduta ou Perturbao de Comportamento de
Oposio, apresentam comorbilidade com a PHDA, tendo sido encontrados valores de
75% de casos comrbidos (Biederman, Newcorn & Sprich, 1999, cit. por Connell &
Goodman, 2002). Num estudo levado a cabo no Brasil, os resultados foram
semelhantes, numa amostra de 36 crianas, de idades compreendidas entre os 6 e os 16
anos, diagnosticadas com PHDA segundo os critrios do DSM-IV-TR. A anlise dos
ndices de comorbilidade revelou uma incidncia de perturbaes associadas na ordem
dos 86%, dos quais 57% se referiam co-ocorrncia de pelo menos duas perturbaes a
par da PHDA (Souza, Serra, Mattos & Franco, 2001). Esta elevada incidncia de
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perturbaes comrbidas foi igualmente corroborada por Barkley (1999, cit. por Decker
et al., 2001) ao indicar que 44% dos sujeitos diagnosticados com PHDA apresentam
uma perturbao comrbida, 32% apresentam duas perturbaes comrbidas e 11%
apresentam pelo menos trs.De entre muitas perturbaes associadas PHDA destacam-se como mais
frequentes a Perturbao de Comportamento de Oposio, Perturbao do
Comportamento, Depresso, Perturbao de Ansiedade, Dificuldades de Aprendizagem
Especificas (como o caso da Dislexia), Perturbao de Tiques de Gilles de la Tourette,
abuso de substancias ilcitas (drogas) na adolescncia e na idade adulta, entre outras
(Barkley, 2006).
3.1.1- PHDA e Perturbaes de comportamento exteriorizado
A Perturbao de Comportamento de Oposio e a Perturbao de Conduta, so
as perturbaes que apresentam valores mais relevantes quando se fala em prevalencia
perturbaes comrbidas com a PHDA. Como podemos verificar no estudo de Souza e
colaboradores (2001) encontraram-se valores de 20,6% de comorbilidade entre a PHDA
e a perturbao de oposio, e de 39,2% entre a PHDA e a perturbao de conduta.
Quanto s populaes clnicas em idade escolar, Barkley e colaboradores (2001)
sugerem ndices de comorbilidade na ordem dos 45 a 65%. Fonseca (1998) apresenta,
igualmente, um leque de estudos, segundo os quais a prevalncia de PHDA e as
perturbaes de comportamento assumem valores na ordem dos 64% para as
populaes clnicas. Para as amostras das comunidades, apresentam-se intervalos de
valores mais alargados, em que os valores oscilam entre os 22% e os 80%, valores estes
que tm vindo a encontrar-se em diferentes contextos e pases, amostras de diferentes
faixas etrias e com o recurso a instrumentos diversificados (Danckaeters & Taylor,
1995, McArdle et al., 1995, cit. por Fonseca, 1998).
Embora alguns autores avancem a possibilidade de a comorbilidade PHDA/
Perturbaes do Comportamento sugerir a existncia de um sndroma comum s vrias
perturbaes, existem importantes indcios para a distino e individualidade de cada
um dos distrbios, no que se refere aos estilos de educao parental e clima familiar,
factores como a histria familiar e padres de funcionamento cognitivo.(Hinshaw,
1994). Burt e colaboradores (2001), indicam em vrios estudos que comorbilidade
PHDA/Perturbao Comportamento de Oposio salientam-se as diferenas no tipo de
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problemas especficos associados a cada uma das perturbaes e os efeitos
diferenciados do tratamento com psicoestimulantes. No que diz respeito presena de
problemas de conduta na infncia, associada ou no PHDA, parece ser um antecedente
dos comportamentos agressivos, delinquncia e abuso de substncias na adolescncia,enquanto os problemas atencionais, na ausncia de problemas de conduta, aparentam
anteceder dfices acadmicos e cognitivos. J no que respeita (Fonseca, 2000).
3.2- Problemas Associados
Os problemas associados so um conjunto de caractersticas clnicas que
ocorrem frequentemente com a perturbao mas que no se consideram essenciais parao estabelecimento do diagnstico. As perturbaes e caractersticas clnicas associadas
no DSM-IV so discriminadas, apesar de includas na mesma seco referente s
caractersticas e perturbaes associadas. Para alm das perturbaes propriamente
ditas, surgem um conjunto de problemticas que comprometem o funcionamento
adaptativo dos sujeitos e das quais destacamos as mais frequentes (APA, 1994).
3.2.1- Problemas de Rendimento Acadmico
Nas crianas com PHDA, para efeitos de diagnstico, no so necessrios
critrios adicionais para alm dos descritos no DSM-IV: o excesso de actividade
motora, impulsividade e dfice de ateno, e respectiva frequncia e durabilidade
(Lopes, 2003). Sobressaem a este nvel algumas caractersticas comprometedoras do
funcionamento acadmico, nomeadamente o baixo nvel de motivao atestado pela
generalidade dos modelos tericos da PHDA. certo que as crianas com PHDA
demonstram efectivamente nveis de realizao escolares baixos e significativamente
inferiores s suas capacidades, o que pode derivar das suas prprias caractersticas:
dfice de ateno, impulsividade e actividade motora excessiva (Lopes, 2003). De
acordo com Barkley (1999), as crianas com PHDA apresentariam um dfice de auto-
regulao da motivao, que se traduz em dificuldades para se auto-motivarem e assim
persistirem nas tarefas. Atendendo a tais factores, associando ao quadro sintomtico da
PHDA, no pois surpreendente que as estimativas de problemas de aprendizagem das
crianas com PHDA oscilem entre os 10 a 60%.
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3.2.2- Problemas Sociais
As dificuldades de relacionamento interpessoal das crianas com PHDA, so
descritas como mais um dos problemas associados a este diagnostico, uma vez queapresentam maior risco de rejeio pelos pares, bem como problemas significativos de
interaco social (Hinshaw, 2002).
Comparando as crianas com PHDA com crianas sem perturbao, as crianas
com PHDA apresentam uma maior incidncia de comportamentos sociais inadequados
e dfices no conhecimento de regras de interaco social. Estas crianas, estabelecem
com mais frequncia interaces negativas com os seus professores e pares. No que se
refere aos comportamentos sociais inadequados, destaca-se o risco acrescido para odesenvolvimento de comportamentos de agressividade (Stormont, 2001).
As condutas agressivas parecem referir-se a uma aparente tendncia para agredir
sem um motivo plausvel, ou seja, apenas como uma manifestao de hostilidade.
Reala-se, ainda, o facto dos comportamentos agressivos aparecerem associados
PHDA predominantemente hiperactivo/impulsivo, bem como do tipo combinado mas
no se salientarem no tipo predominantemente inatento (Howell, 2002).
Observa-se igualmente que para alm dos comportamentos socialmente
inadequados, existe por parte destas crianas um comprometimento a nvel cognitivo,
nomeadamente no que se refere, por um lado, ao conhecimento dos comportamentos
mais adequados interaco social e, por outro, no que se refere s cognies sociais.
Nos comportamentos adequados interaco social, quando as crianas com PHDA so
confrontadas com supostas situaes problemticas, estas recorrem mais
frequentemente ao recurso a estratgias de agressividade (Howell, 2002).
Um dos indicadores das competncias sociais refere-se aos resultados ou
consequncias que decorrem da interaco social, destacando-se dificuldades de
relacionamento interpessoal e rejeio por parte dos pares em cerca de 50% dos casos
das crianas com PHDA (Guevremont & Dumas, 1994; cit por Nixon, 2001), contra 15
a 30% dos casos de crianas sem perturbao (Coie, Dodge & Coppotelli, 1982, cit in
Nixon, 2001).
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CAPTULO II
CONCEPTUALIZAO TERICA DOS ESTILOS PARENTAIS
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4- ESTILOS PARENTAIS
De acordo com Bussab (2000), culturalmente, o contexto familiar que funciona
como matriz essencial do desenvolvimento humano, tendo sido o elemento crucial sobre
o qual ocorreu a presso selectiva na evoluo natural do homem. Segundo a autora,
nenhuma comunidade humana desconsidera o parentesco na constituio dos seus laos
afetivos, existindo predisposies naturais no ser humano para a vinculao familiar,
como sugerem estudos sobre apego, adopo e cuidados com a prole. Mais
especificamente, Keller e Zach (2002) afirmam que a famlia no mais concebida
como um sistema homogneo, mas como um sistema composto por membros em
diferentes momentos do desenvolvimento, configurando diversos contextos de criao
para cada criana na mesma famlia. Segundo Trivers (1974), o investimento parental
definido como um esforo do pai ou da me em aumentar a probabilidade de
sobrevivncia e, portanto, do sucesso reprodutivo de um filho em particular, ao mesmo
tempo em que diminui o grau de investimento em outro descendente. Keller (2003)
concorda com Trivers (1974) quando afirma que qualquer investimento envolve dois
aspectos: por um lado, os cuidados parentais fsicos, sociais e psicolgicos que
contribuem para o sucesso reprodutivo dos filhos, promovendo a adequao dos pais;
por outro, o investimento numa criana em particular que, ao mesmo tempo,
compromete a possibilidade parental de investir noutro filho. Assim, a deciso de
investimento baseia-se em condies ecolgicas e sociais do ambiente que definem as
condies parentais. O investimento pode variar desde a negligncia ou infanticdio at
o cuidado adequado, associado a um clima familiar positivo.
Segundo Keller e Zach (2002), a parentalidade entendida como um programa
comportamental que d apoio aos filhos na formao da matriz relacional, a qual
desenvolvida na sua estrutura bsica por volta dos 3 meses de idade. A esse respeito,Rodrigues (1998) ressalta o conceito de solicitude, ou seja, o cuidado, a ateno e o
empenho dos pais na criao dos filhos. A solicitude influenciada por uma srie de
factores provenientes das caractersticas dos pais, dos filhos e da situao na qual esto
inseridos.
A literatura da Psicologia a respeito das prticas educativas parentais e dos estilos
parentais bastante abrangente e, embora alguns autores adoptem definies especficas
(Darling & Steinberg, 1993) de modo geral elas referem-se s formas especficas dospais se relacionarem com os filhos, o que configura um padro relacional particular.
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Existem vrias formas de se analisar os tipos de prticas parentais. A anlise das
atitudes parentais permite identificar as crenas e os valores dos pais que servem de
base para as suas prticas (Baumrind, 1971). As atitudes parentais seriam um constructo
que reflecte as expectativas e sentimentos dos pais sobre como agir no desempenho dosseus papis com os filhos (Oliveira, Frizzo & Marin, 2000). Outra forma de avaliar as
interaces familiares a investigao das prticas educativas parentais,
comportamentos especficos e diversos domnios de socializao. As prticas parentais
so descritas como aces especificas que os pais utilizam e que podem ter significados
diferentes dependendo do clima emocional em que ocorrem (Darling & Steinberg,
1993).
Ao contrrio das outras formas de anlise, a descrio dos estilos parentaispermite olhar para padres globais de comportamento dos pais, no apenas para
dimenses especficas. O estilo parental o contexto dentro do qual operam os esforos
dos pais para socializar os seus filhos de acordo com as suas crenas e valores (Darling
& Steinberg, 1993). o clima emocional que prope as atitudes dos pais e cujo o efeito
alterar a eficcia das prticas disciplinares especificas, alm de influenciar a abertura
ou predisposio dos filhos socializao (Costa, Teixeira & Gomes, 2000).
A descrio dos estilos parentais em termos de padres globais, foi feita pela
primeira vez pela autora Diana Baumrind. Uma das distines propostas por Baumrind
(1967) quanto operacionalizao dos estilos parentais foi a diferenciao qualitativa
da autoridade dos pais em trs categorias: autoritativo, autoritrio ou permissivo. A
avaliao dos padres categricos propostos pela autora inclua tambm outros atributos
parentais como a aceitabilidade e a comunicao familiar.
O modelo tripartite/tripartido estabelecido pela autora subsidiou o estudo de
Maccoby e Martin (1983), que transformaram a tipologia da autora, estendendo-a
atravs de duas dimenses ortogonais- responsividade e exigncia- que, cruzadas,
constituem quatro estilos parentais. A principal diferena do modelo de Maccoby e
Martin (1983) face ao de Baumrind (1971), a separao do padro permissivo em dois
estilos: indulgente e negligente. A variao ocorre ao nvel emocional.
O padro autoritrio descreve os pais cujo controlo sobre os filhos feito de
forma absoluta, rgida e inflexvel, em que se estima o cumprimento e a obedincia de
regras tidas como certas. Estes pais no encorajam o dilogo nem a autonomia,
procuram modelar, controlar e avaliar o comportamento dos filhos de acordo com regras
bem estabelecidas. Os pais autoritrios geralmente utilizam ameaa de punio e
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privao de afecto e privilgios, gerando medo, ansiedade, raiva e retraimento social
nos filhos (Baumrind, 1966). Atravs de vrios estudos, pode-se constatar que filhos
criados sob um padro autoritrio, apresentam menos auto-estima, maior hostilidade,
medo e frustrao, maiores ndices de ansiedade e depresso, maior insegurana emrelao a situaes de interaco social, baixos ndices de problemas de comportamento
e altos ndices de desempenho acadmico (Pacheco, 1999).
O mesmo no acontece com os pais percebidos como autoritativos, pois estes
pais desempenham um papel de auto- controlo, no qual fornecem as razes para as
restries impostas e favorecem o dilogo. Existe um encorajamento da liberdade e da
autonomia e os pais apresentam-se responsivos s necessidades e opinies dos filhos.
Os pais reconhecem os interesses individuais dos filhos, as suas qualidades ecompetncias, dirigindo as actividades dos filhos de uma forma racional, estabelecendo
padres de conduta e valorizando o respeito s regras que consideram razoveis
(Baumrind, 1991). O padro autoritativo parece ajudar as crianas e adolescentes a
desenvolver uma competncia instrumental caracterizada pelo balano de necessidades
e responsabilidades sociais e individuais, entre os indicadores dessa competncia esto a
independncia, cooperao com pares e adultos, maturidade psicossocial e sucesso
acadmico. Pais autoritativos mostram grande interesse e participao activa na vida dos
seus filhos e gostam de saber onde eles esto, com quem e o que esto a fazer (Darling
& Steinberg, 1993).
Baumrind (1971) encontrou evidncias de que crianas criadas sob um padro
autoritativo apresentam um melhor desempenho geral do que crianas criadas sob
qualquer outro padro. Filhos de pais autoritativos mostram mais responsabilidade
social, cooperao, amizade, maior auto-estima, maiores ndices de motivao e
realizao, sentimentos de controlo sobre os acontecimentos da vida, competncia social
e cognitiva, menor hostilidade e agressividade e baixos ndices de problemas de
internalizao e de comportamento.
Por outro lado, o padro indulgente, caracteriza-se pelo alto grau de
responsividade, tolerncia e afecto e pelo baixo uso do controlo do comportamentos dos
filhos. Estes pais, propiciam a auto-regulao dos filhos e agem de acordo com uma
orientao ideolgica complacente. Raramente fazem exigncias ou aplicam punies e
oferecem apoio afectivo incondicional. No exigem por parte dos filhos
comportamentos maduros, permitem que eles se comportem independente e
autonomamente (Steinberg & Ritter, 1997).
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Estes filhos, criados sob um padro indulgente, tendem a apresentar uma maior
imaturidade, bons ndices de auto-estima e bem - estar psicolgico, afectividade, pouco
envolvimento em actividades escolares, maior agressividade e impulsividade e altos
ndices de problemas de comportamento (Maccoby & Martin, 1983).Por fim, o padro negligente, aquele cujos pais so fracos tanto em controlar o
comportamento dos filhos como em atender s suas necessidades e demonstrar afecto.
So vistos como pais pouco envolvidos com na educao dos seus filhos e no mostram
interesse nas suas actividades ou sentimentos, no oferecem assistncia emocional aos
mesmos. H uma diferena, no entanto, entre ser negligente por violar deliberadamente
o direito dos filhos ao afecto e educao e no poder atender s suas necessidades por
falta de condies socioeconmicas para isso (Paget, 1997; cit. por Oliveira, Frizzo &Marin, 2000). O estilo negligente descrito por Maccoby e Martin (1983) refere-se
primeira situao.
Filhos criados sob um padro negligente, apresentam menores ndices de
competncia social e cognitiva e maiores ndices de problemas de internalizao e
comportamento. Adolescentes criados por pais negligentes apresentam os piores ndices
de ajustamento entre os quatro estilos parentas (Maccoby &Martin, 1983).
Comparando os estilos parentais, Baumrind (1971) afirma que tanto os pais
autoritativos como os pais autoritrios estabelecem padres para os filhos e so
bastantes controladores, embora, os pais autoritativos permitam a autonomia para o
desenvolvimento da autoconfiana, enquanto que os pais autoritrios dominam a
criana. Quando os pais autoritativos impe exigncias aos seus filhos, ser menos
provvel que elas conduzam a respostas antagnicas do que as exigncias impostas por
pais autoritrios (Maccoby & Martin, 1983). Os pais autoritativos so diferentes de pais
autoritrios que disciplinam, mas no explicam o porqu e so vistos como pouco
carinhosos. So tambm diferentes dos pais de padro indulgente, pois estes so
carinhosos, mas no entanto no explicam que preciso controlar e no disciplinam os
seus filhos.
A dimenso responsividade relaciona-se com melhores ndices de bem-estar
psicolgico, auto-estima, autoconfiana e ao desenvolvimento das atribuies de
causalidade interna. A dimenso de exigncia (controlo), isoladamente, pode estar
relacionada com indivduos competentes, que apresentam valores altos em variveis de
desempenho e obedincia e baixos valores em problemas de comportamento. No
entanto, pode estar relacionada, tambm, com indivduos preocupados e inseguros
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quanto ao seu prprio desempenho (Pacheco, 1999). A intrusividade refere-se
excessiva monitorizao dos filhos, em que os pais julgam que todas as aces e at os
pensamentos dos filhos podem e devem ser acompanhados de perto, gerando um
sentimento de invaso e falta de privacidade (Oliveira, Frizzo & Martin, 2000). ParaBaumrind (1991), a no intrusividade est associada competncia, a baixos problemas
de internalizao, percepo positiva dos pais, maior auto-estima e autonomia.
Neste sentido, Baumrind (1997) retrata a socializao como um processo
dinmico. Atravs desse processo, os estilos parentais alteram a disponibilidade dos
filhos, actuando como varivel moderadora da adaptao psicolgica das crianas e
adolescentes.
Entretanto, recentemente, a autora Paula Gomide construiu uma teorizao arespeito dos estilos parentais, considerando outras categorias no especificadas no
modelo de Baumrind. Pode-se dizer que os modelos no se contradizem mas
complementam-se, pois o modelo anteriormente descrito mais amplo e de certa forma
contm o segundo. No entanto, o modelo de Gomide (2006) que ser utilizado como
base para avaliao das prticas educativas parentais nesta pesquisa.
Para Gomide (2006), as prticas educativas parentais dizem respeito a tcnicas e
estratgias utilizadas pelos pais na criao dos seus filhos, as quais, em conjunto,
determinam o estilo parental. De modo geral, as prticas educativas incluem o modo
como os pais monitorizam os filhos, em casa e fora dela, como negoceiam regras de
convivncia, como estimulam comportamentos adequados/adaptativos, como ensinam
valores morais e competencias sociais e que formas de punio utilizam diante do
comportamento filial considerado inadequado. Dessa forma, a autora selecionou no seu
modelo terico sete prticas educativas que compem o Estilo Parental, sendo duas
favorveis ao desenvolvimento de comportamentos pr-sociais: monitoria positiva e
comportamento moral, e cinco relacionadas com o desenvolvimento de comportamentos
anti-sociais: abuso fsico, punio inconsistente, disciplina relaxada, monitoria negativa
e negligncia.
A monitoria positiva definida como o conjunto de prticas parentais que
envolvem ateno e conhecimento dos pais acerca de onde seu filho se encontra e das
actividades desenvolvidas por ele. Para Gomide (2003), so ainda componentes da
monitoria positiva as demonstraes de afecto e carinho dos pais, principalmente
relacionados aos momentos de maior necessidade da criana. A monitoria do
comportamento da criana defendida por vrios autores como uma varivel importante
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para promover o desenvolvimento saudvel e evitar o comportamento disruptivo ou
anti-social (Patterson, Reid & Dishion, 1992; Stattin & Kerr, 2000), sendo que um dos
fatores mais importantes para que ela ocorra a comunicao adequada entre pais e
filhos (Stanton et al., 2000).O comportamento moral refere-se a uma prtica educativa pela qual os pais
transmitem valores como honestidade, generosidade e senso de justia aos filhos,
auxiliando-os na discriminao do certo e do errado por meio de modelos positivos,
dentro de uma relao de afecto. Alguns factores so tidos como essenciais para o
desenvolvimento do comportamento moral nas crianas, como o sentimento de culpa, o
desenvolvimento da empatia, as aces honestas e as crenas parentais positivas sobre o
trabalho, alm da ausncia de prticas anti-sociais. Uma pesquisa desenvolvida porLamborn, Mounts, Steinberg e Dornbusch (1991), com adolescentes de 14 a 18 anos de
idade, demonstrou haver correlao positiva entre pais considerados responsivos e
ndices mais altos de desenvolvimento psicossocial, sucesso escolar, autoconfiana e
inibio dos comportamentos anti-sociais dos filhos. Da mesma forma, o modelo
paterno parece ter uma funo importante no desenvolvimento da moralidade de
crianas e adolescentes. Nurco e Lerner (1996), por exemplo, afirmam que a presena e
modelo positivo do pai na famlia inibem o consumo de drogas e lcool por
adolescentes.
A punio inconsistente acontece quando os pais punem ou reforam os
comportamentos dos seus filhos de acordo com o humor, de forma no contingente ao
comportamento da criana. Assim, o estado emocional dos pais que determina as
aces educativas e no as aces da criana. Como consequncia, a criana aprende a
discriminar o humor dos seus pais e no se o seu acto foi adequado ou inadequado
(Gomide, 2003). Essa falta de contingncia ao comportamento leva manipulao das
partes, em que os filhos escolhem os momentos considerados adequados para interagir
com os pais, esquivando-se do contacto quando julgam que eles esto de mau-humor.
Nesse padro, a transmisso de valores e a comunicao tornam-se confusas, o que pode
dificultar criana a compreenso de regras e atitudes morais, e lev-la a no respeitar
leis e figuras de autoridade (Carvalho, 2003).
A neglignciaocorre quando os pais no esto atentos s necessidades dos seus
filhos, ausentam-se das responsabilidades, omitem-se de auxiliar os seus filhos, ou
simplesmente interagem sem afecto, sem amor. A falta de calor e carinho na interao
com a criana pode desencadear sentimentos de insegurana, vulnerabilidade e eventual
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hostilidade e agresso em relacionamentos sociais. Oliveira, Frizzo e Marin (2000),
acreditam que ela uma das variveis importantes para o desenvolvimento de
comportamentos anti-sociais, pois a falta de cuidados e principalmente de amor e
carinho, impedem ou dificultam o desenvolvimento da auto-estima.A monitoria negativa (ou superviso stressante) caracteriza-se pelo excesso de
fiscalizao dos pais sobre a vida dos filhos e pela grande quantidade de instrues
repetitivas, as quais no so seguidas. Em suma, um controlo psicolgico e
comportamental exagerado. Essa prtica educativa produz um clima familiar hostil,
stressado e sem dilogo, j que os filhos tentam proteger a sua privacidade evitando
falar com os pais sobre suas particularidades, e os pais sentem-se frustrados com o seu
papel parental porque imaginam que esto a fazer de tudo para educar os filhos. Astentativas de controlo contnuo por parte dos pais inibem ou interferem no
desenvolvimento da autoconfiana e autonomia dos filhos pelo facto de manter a
dependncia emocional dos pais (Barber, 1996), podendo gerar psicopatologias como
ansiedade e depresso (Pettit, Laird, Dodge, Bates & Criss, 2001).
Na disciplina relaxadaverifica-se que o factor controlador da interao pais
filhos o comportamento agressivo/opositor e coercitivo do filho. As regras
estabelecidas pelos pais no so cumpridas e, diante de cobranas ou ameaas, a criana
torna-se rebelde e manipuladora, conseguindo manter a situao do jeito que deseja para
si. Os pais, por sua vez, omitem-se de impr ou manter os limites, no fazendo valer as
regras que eles prprios determinaram (Gomide, 2003). As regras, portanto, so
instveis e insuficientes.
Por fim, considera-se abuso fsico quando os pais magoam ou causam dor aos
seus filhos com a justificativa de que os esto a educar, por vezes causando-lhes
ferimentos e deixando marcas na pele. Pesquisas demonstram que o abuso fsico
(espancamento) e a negligncia so os factores que mais facilmente desencadeiam
comportamentos anti-sociais em crianas e adolescentes (Gomide, 2004). Alm disso,
pais que administram punio corporal tendem a ser abusivos verbalmente com os seus
filhos, atravs de insultos e ameaas, o que pode magnificar a agresso, a delinquncia e
o comportamento anti-social nas crianas (Gershoff, 2002). A punio corporal e abuso
fsico so dois pontos em continuum, sendo que, se a punio for administrada muito