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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA Departamento de Engenharia de Produção ESTRATÉGIAS COMPETITIVAS E DE PRODUÇÃO EM DUAS PEQUENAS EMPRESAS: uma Comparação Entre a Teoria e a Prática Hannah Mayumi Morikawa SÃO CARLOS 2014

Estrategia em Pequenas Empresas

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O elevado índice de mortalidade de pequenas empresas no Brasil revela que o mercado interno é altamente competitivo. Cerca de 64% das empresas (SEBRAE-SP, 2008) não sobrevivem ao sétimo ano de existência. Como solução para este problema, este trabalho assume que a adoção de determinadas estratégias poderia evitar a falência de diversos negócios. Henderson (1989) explica que a vantagem competitiva pode ser obtida através de posicionamentos estratégicos, os quais permitem melhor desempenho e/ou direcionam ao caminho da sobrevivência. O objetivo deste projeto foi encontrar o significado de estratégia aplicado em pequenos negócios e comparar com as definições encontradas na literatura. Visto que o entendimento do conceito de estratégia é amplo, primeiramente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre estratégia em negócios, em seguida, sobre estratégia em pequenos negócios. E depois, foi investigada, através de dois estudos de caso, a prática das estratégias em duas empresas. Entre os resultados obtidos, constatou-se a diferença entre a finalidade da estratégia para as pequenas e para as grandes empresas. Para negócios menores a estratégia existe, porém apresenta-se informalmente e para planos de curto prazo.

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS

    CENTRO DE CINCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

    Departamento de Engenharia de Produo

    ESTRATGIAS COMPETITIVAS E DE PRODUO EM DUAS PEQUENAS EMPRESAS: uma Comparao Entre a

    Teoria e a Prtica

    Hannah Mayumi Morikawa

    SO CARLOS

    2014

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS

    CENTRO DE CINCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

    Departamento de Engenharia de Produo

    ESTRATGIA EM PEQUENAS EMPRESAS: uma Comparao Entre a Teoria e a Prtica

    Hannah Mayumi Morikawa

    Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Produo da Universidade Federal de So Carlos (UFSCar) como parte dos requisitos para obteno do ttulo de bacharel em Engenharia de Produo.

    Orientador: Prof. Dr. Edemilson Nogueira

    SO CARLOS

    2014

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, agradeo a colaborao e compreenso dos meus pais,

    familiares, amigos que me apoiaram e apoiam, desde o comeo de minha carreira na UFSCar.

    Este apoio foi essencial para que pudesse ter a oportunidade de estudar, desenvolver esta

    monografia e concluir o curso.

    Os amigos que fiz durante meu curso so pessoas muito especiais que

    marcaram minha vida, sem eles o perodo em que frequentei a universidade no teria sido

    uma das pocas mais agradveis que j vivi. Tanto eles como minha famlia, me motivaram e

    serviram de inspirao para que eu completasse este ciclo.

    Agradeo tambm aos professores do Departamento de Engenharia de

    Produo e da UFSCar que me passaram muitos conhecimentos e me guiaram a encontrar o

    tema desta monografia. O intercambio mediado pelo departamento possibilitou grandes

    experincias e foi uma oportunidade imensamente agregadora para minha vida profissional e

    pessoal.

    Em particular, expresso meus agradecimentos aos professores, Marcelo Silva

    Pinho, Rosane Lucia Chicarelli Alcantara, Edemilson Nogueira, grandes pessoas que me

    inspiram e me promoveram importantes oportunidades de crescimento profissional. Ao

    Murillo Biscegli igualmente ofereo minha gratido, por seus suportes frequentes. Agradeo

    enormemente aos colaboradores deste trabalho, aos entrevistados e empresas que participaram

    das entrevistas, pois alm de acreditarem e confiarem em mim, dedicaram seu tempo com

    muita disposio.

    Sou muito grata aos funcionrios da UFSCar, que com muito empenho e

    carinho, cuidam da administrao da universidade, da limpeza de salas, banheiros, ruas do

    restaurante universitrio, da biblioteca, e dos alunos e professores.

    Por fim, agradeo a Deus, quem me deu a vida e promoveu todas as conquistas

    que obtive at hoje, sempre me acompanhando e me motivando a procurar novos objetivos.

  • RESUMO

    O elevado ndice de mortalidade de pequenas empresas no Brasil revela que o mercado

    interno altamente competitivo. Cerca de 64% das empresas (SEBRAE-SP, 2008) no

    sobrevivem ao stimo ano de existncia. Como soluo para este problema, este trabalho

    assume que a adoo de determinadas estratgias poderia evitar a falncia de diversos

    negcios. Henderson (1989) explica que a vantagem competitiva pode ser obtida atravs de

    posicionamentos estratgicos, os quais permitem melhor desempenho e/ou direcionam ao

    caminho da sobrevivncia. O objetivo deste projeto foi encontrar o significado de estratgia

    aplicado em pequenos negcios e comparar com as definies encontradas na literatura. Visto

    que o entendimento do conceito de estratgia amplo, primeiramente foi realizada uma

    reviso bibliogrfica sobre estratgia em negcios, em seguida, sobre estratgia em pequenos

    negcios. E depois, foi investigada, atravs de dois estudos de caso, a prtica das estratgias

    em duas empresas. Entre os resultados obtidos, constatou-se a diferena entre a finalidade da

    estratgia para as pequenas e para as grandes empresas. Para negcios menores a estratgia

    existe, porm apresenta-se informalmente e para planos de curto prazo.

    Palavras chave: Estratgia; Pequena Empresa; Planejamento.

  • ABSTRACT

    The high mortality rate of small businesses in Brazil reveals that the domestic market is

    extremely competitive. About 64 % of businesses (SEBRAE - SP , 2008) do not survive the

    seventh year of existence . As a solution to this problem, this paper assumes that the adoption

    of some strategies could prevent the failure of many businesses. Henderson (1989 ) explains

    that a competitive advantage can be achieved taking strategic placements , which allow better

    performance and / or lead to the path of survival. So, the objective of this project was to find

    the meaning of strategy applied in small business and compare it with the existent literature

    about the subject. Since the understanding of the concept of strategy is wide, firstly a

    literature review on business strategy has been held, then, about strategy in small business. In

    this way, the research was introduced, through two case studies to find out what is the strategy

    in small firms. Among the results, it was found some differences between the purpose of

    strategy for small and large businesses. For smaller business strategy exists, but it is presented

    informally and for short-term plans.

    Key words: Strategy; Small Enterprise; Planning.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.Estrutura do trabalho. .............................................................................................................. 17 Figura 2. Cinco foras de Porter. Fonte: adaptado de PORTER, 1979. ................................................ 24 Figura 3. Formulao da estratgia corporativa. Fonte: adaptado de ANDREWS, 1980. .................... 26 Figura 4. Benefcio Competitivo dos Fatores Ganhadores de Pedidos e Qualificadores. Fonte: Adaptado de Slack, Chambers; Johnston (2007)................................................................................... 33 Figura 5. Apresentao dos Resultados. ................................................................................................ 42 Figura 6. Esboo da planta do salo. ..................................................................................................... 57 Figura 7. Esboo dos galpes da metalrgica. ...................................................................................... 60 Figura 8. Estgios das Empresas 1 e 2 no ciclo de vida do produto adaptado ao ciclo da empresa. ..... 68

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Quantidade de empresas por porte. Fonte: (IBGE, 2012). .................................................... 38 Tabela 2. Quantidade de locais por regio. Fonte: (IBGE, 2012). ........................................................ 38

  • TABELA DE QUADROS

    Quadro 1. Estratgias Genricas. Fonte: Adaptado de Porter (1985). ................................................... 28 Quadro 2. Categorias de deciso da estratgia de produo. Fonte: HAYES et al., 2004. ................... 31 Quadro 3. Prioridades Estratgicas Desagregadas. Fonte: Adaptado de Garvin (1993). ...................... 32 Quadro 4. Ciclo de vida do produto. Fonte: Adaptado de Slack, Chambers; Johnston (2007) ............. 34 Quadro 5. Classificao dos fatores determinantes na deciso do cliente. ........................................... 66 Quadro 6. Classificao das Prioridades Estratgicas das Empresas 1 e 2. .......................................... 67 Quadro 7. Estratgias identificadas nas Empresas 1 e 2. ...................................................................... 70

  • SUMRIO 1 INTRODUO ............................................................................................................................ 12

    1.1 CARACTERIZAO DO TEMA DE PESQUISA ............................................................. 13

    1.2 FORMULAO DO PROBLEMA DA PESQUISA ........................................................... 14

    1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................................... 15

    1.4 RELEVNCIA DO TEMA E DA PESQUISA .................................................................... 16

    1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO .......................................................................................... 17

    2 ESTRATGIAS COMPETITIVA E DE PRODUO ............................................................... 19

    2.1 CONCEITO DE ESTRATGIA ........................................................................................... 19

    2.1.1 Agentes influenciadores da estratgia ........................................................................... 21

    2.1.2 Estratgia Corporativa ................................................................................................... 25

    2.1.3 Estratgia de Negcios .................................................................................................. 26

    2.1.4 Estratgia Funcional ...................................................................................................... 29

    2.2 ESTRATGIA NA PEQUENA EMPRESA ........................................................................ 34

    2.3 CONTEXTO DA PEQUENA EMPRESA NO BRASIL ...................................................... 37

    3 MTODO DE PESQUISA ........................................................................................................... 40

    3.1 ESTUDO DE CASO ............................................................................................................. 40

    3.2 CARACTERIZAO DA PESQUISA E ESCOLHA DAS EMPRESAS .......................... 40

    3.3 QUESTES DA PESQUISA ................................................................................................ 41

    4 APRESENTAO E RESULTADOS DA PESQUISA .............................................................. 43

    4.1 CARACTERIZAO GERAL ............................................................................................ 43

    4.1.1 Empresa 1 ...................................................................................................................... 43

    4.1.2 Empresa 2 ...................................................................................................................... 44

    4.2 ASPECTOS GERAIS DA ESTRATGIA DA EMPRESA ................................................. 44

    4.2.1 Empresa 1 ...................................................................................................................... 45

    4.2.2 Empresa 2 ...................................................................................................................... 47

    4.3 ESTRATGIA COMPETITIVA E PRIORIDADES ........................................................... 48

    4.3.1 Empresa 1 ...................................................................................................................... 48

    4.3.2 Empresa 2 ...................................................................................................................... 51

    4.4 ESTRATGIA FUNCIONAL .............................................................................................. 54

    4.4.1 Empresa 1 ...................................................................................................................... 54

    4.4.2 Empresa 2 ...................................................................................................................... 59

    4.5 ANLISE DAS INFORMAES ....................................................................................... 62

    5 CONCLUSO .............................................................................................................................. 72

    6 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... 74

  • 7 Anexo 1 ......................................................................................................................................... 77

    Questionrio .......................................................................................................................................... 77

  • 12

    1 INTRODUO

    O Brasil um pas que vem ganhando reconhecimento econmico ao redor do

    mundo inteiro. Primeiramente por ser uma economia emergente, a qual, desde 2008,

    conseguiu manter-se relativamente estvel comparando com as potncias diante a crise. O

    fato de ser a sede da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpadas em 2016, tambm um fator

    que desperta o interesse de investimentos estrangeiros e nacionais.

    Observando a dinmica econmica-social do pas em conjunto com seu

    crescimento econmico, pode-se perceber que este se deve ao consumo interno atrelado a

    atividade das pequenas empresas. De acordo com o IBGE (2010) mais de 99% das empresas

    no Brasil, so micros, pequenas e mdias empresas (MPME). Destas 89% so microempresas,

    10% so pequenas e 1% mdias. Somente as PME eram responsveis por cerca de 50% dos

    empregos em 2011. Ou seja, as pequenas empresas so importantes impulsionadores do

    progresso econmico.

    Apesar de o volume ser expressivo, no significa que ele represente uma

    realidade esttica. Isto , 24,4% das empresas constitudas em 2007 no passaram dos dois

    anos de existncia e entre as fundadas em 2000, 64% no chegaram ao 7ano. Este estudo foi

    realizado pelo SEBRAE, instituio que acompanha o desenvolvimento das pequenas

    empresas anualmente.

    Entre os motivos do encerramento das empresas a falta de planejamento surge

    como uma das razes mais relevantes (20% dos empreendedores relataram esta causa)

    (SEBRAE-SP, 2008). O planejamento de uma organizao abarca diversos aspectos, de curto,

    mdio e longo prazo.

    No caso de empresas de pequeno porte o primeiro o mais utilizado. Diversos

    fatores so geradores desse problema, porm um dos mais expressivos o fato de os

    proprietrios desses negcios serem os responsveis por grande parte das decises e

    atividades cotidianas. Eles no tm muito tempo disponvel para se planejar a longo prazo

    (KRAKAUER, FISCHMANN; ALMEIDA, 2010).

    Como retrato da realidade das pequenas empresas, em 2000, apenas 53% dos

    empreendedores conhecia, antes de abrir o negcio, algumas informaes como, qualificao

    de mo-de-obra, nmero de clientes e hbitos de consumo, nmero de concorrentes,

    localizao, aspectos legais do negcio, condies dos fornecedores e valor do investimento

  • 13

    (SEBRAE-SP, 2008). Esses itens so alguns dos elementos que conformam o planejamento a

    mdio e longo prazo.

    Na realidade, esse tipo de planejamento tambm conhecido como

    planejamento estratgico das empresas, pois inclui decises que direcionam o rumo que elas

    tomaro durante os perodos futuros (HAYES, PISANO, et al., 2004; HENDERSON, 1989;

    MINTZBERG, 1987; PORTER, 1979; PORTER, 2004). Por conseguinte, o problema da falta

    de planejamento est fortemente atrelado e alinhado s decises estratgicas de uma

    empresa/empreendedor.

    Porm, o planejamento estratgico uma ferramenta utilizada para delinear a

    estratgia. A partir dos pontos fortes e fracos da organizao e das oportunidades e ameaas

    do ambiente de negcios, ela define um conjunto de aes e um caminho a ser seguido

    (BERTERO, VASCONCELOS e BINDER, 2003). Ela no , no entanto, sinnimo de

    processo da formulao, este um processo muito dinmico e no deve se limitar ao

    planejamento fixado (MINTZBERG, 1994).

    1.1 CARACTERIZAO DO TEMA DE PESQUISA

    Apesar da relativa estabilidade econmica brasileira, durante a crise

    econmica de 2008, as dificuldades das empresas brasileiras permaneceram, sendo que

    algumas se acentuaram. Enquanto grandes grupos conseguiram manter-se com um

    desempenho satisfatrio, outras companhias tiveram seus rendimentos limitados e/ou

    reduzidos. E essa diferena de performance est totalmente ligada s questes de estratgia,

    planejamento e de tomada de deciso (SPIELMANN; ROSS, 2009).

    A histria e o futuro de uma organizao esto relacionados s atitudes que

    esta possui em relao ao seu entendimento de estratgia, processo de formulao da

    estratgia, aspectos considerados, formalizao e planejamento estratgico (HAMEL;

    PRAHALAD, 1997). O sucesso, sobrevivncia e trajetria dos negcios dependem muito da

    abordagem que se tem sobre planejamento em longo prazo.

    No entanto, no foram afetados somente os grandes grupos. Tambm, milhares

    de pequenas empresas sofreram grandes impactos com a crise, que acentuou as, j existentes,

    problemticas e barreiras s suas sobrevivncias.

    As empresas de menor porte podem sofrer muito mais impactos em um

    ambiente de crise. De acordo com a Confederao Nacional da Indstria (CNI), a crise de

  • 14

    2008 reduziu em 30% o nmero de empregados nas pequenas empresas, enquanto que nas

    grandes esta porcentagem foi de 24% (CNI, 2010). E assim como as primeiras, a estratgia

    pode definir o sucesso ou decadncia de um pequeno negcio. Por essa razo, o presente

    trabalho procurar responder a questo: o que estratgia, na prtica e na teoria, em pequenos

    negcios?

    1.2 FORMULAO DO PROBLEMA DA PESQUISA

    Grandes empresas multinacionais, como Kodak, Coca-Cola, Toyota, so

    citadas por diversos autores com exemplos de melhores prticas de posicionamento

    estratgico (HAMEL e PRAHALAD, 1997; MINTZBERG, 1987; OHMAE, 1998). A

    Harvard Business School, escola pioneira no estudo sobre a estratgia em negcios, tambm

    apoia um parte volumosa de suas publicaes e pesquisa em empresas de grande porte

    (HAFSI; MARTINET, 2008).

    Pesquisadores da rea de estratgia como Andrews, Ansoff, Bower, Lawrence,

    Lorsh, Thompson, Porter dissertaram sobre o tema, considerando realidades e cotidianos de

    grandes corporaes. Um exemplo so as estratgias genricas do Porter (2004) que, de

    acordo com Gimenez et al. (1999), no se aplicam as pequenas empresas, pois todas se

    enquadrariam em estratgia de foco.

    A riqueza de estudos e publicaes sobre estratgia muito concentrada ao

    redor das grandes corporaes, havendo poucas fontes sobre estudos e/ou o tema da estratgia

    e planejamento na pequena empresa (ALMEIDA, 2010; KRAKAUER, FISCHMANN ;

    ALMEIDA, 2010).

    Utilizando o sistema Portal Peridicos CAPES, com as palavras-chave

    estratgia, pequena empresa e PME, em todos os campos de busca, apenas 30 artigos

    foram encontrados, sendo que destes, apenas cinco realmente mostraram ter relao com o

    tema. Na base Scielo.com, essas mesmas palavras no geram nenhum resultado. Se omitido

    PME, trs artigos so encontrados.

    Apesar disso, existem alguns autores que acreditam na viabilidade da aplicao

    de prticas e teorias, relativas a grandes empresas, no contexto de empresas menores, mas

    ressalvam que ainda no foram estudadas as caractersticas das pequenas empresas e seus

    processos de planejamento estratgico (ALVES FILHO et al., 2011). Outros autores, como

    Gimenez et al. (1999), consideram que a taxonomia de Miles e Snow (1978) apud Bortolaso;

  • 15

    Verschoore; Antunes Jnior, (2012)1 e Oyedijo e Akewusola (2012)2 independente do

    tamanho da organizao.

    Oyedijo e Akewusola (2012) tambm utilizam o modelo destes autores para

    descrever o comportamento estratgico das Pequenas e Mdias Empresas (PME).

    Diferentemente de Porter (2004), Miles e Snow (1978) apud Bortolaso; Verschoore; Antunes

    Jnior, (2012) e Oyedijo e Akewusola (2012) propem quatro tipos de estratgia, defensiva,

    prospectora, analtica e reativa.

    No entanto, as pequenas empresas possuem determinadas particularidades que

    devem ser estudadas e entendidas de forma diferenciada. O alto ndice de mortalidade destas

    evidencia que existe um problema quanto a gesto estratgica dos pequenos negcios. Devido

    baixa adaptabilidade e a inadequao de determinados elementos (conceitos, teorias e

    prticas) aplicados a pequena empresa, algumas podem ter sido prejudicadas. Por isso, este

    trabalho se prope a comparar a teoria com a realidade das pequenas empresas, a fim de

    encontrar uma melhor relao entre elas. Para isto, procurar-se- quais conceitos e teorias

    existem sobre estratgia em pequena empresa e quais so realmente aplicveis.

    1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA

    Diante do problema apresentado anteriormente, este trabalho se dedicar a

    explorar se as teorias, conceitos, mtodos sobre estratgia das empresas se aplicam ao

    cotidiano das pequenas empresas. O objetivo deste trabalho identificar e analisar as

    estratgias competitivas e de produo de duas pequenas/ mdias empresas industriais e/ou de

    servios.

    Mais especificamente os objetivos deste trabalho so:

    Compreender o mercado no qual as empresas esto inseridas;

    Identificar as estratgias competitivas das duas empresas estudadas;

    1 BORTOLASO, I. V.; VERSCHOORE, J. A.; ANTUNES JNIOR, J. A. V. O Desenvolvimento Estratgico de Redes Interorganizacionais: uma avaliao de Redes de Pequenas e Mdias Empresas no Rio Grande do Sul. In: Encontro de Estudos Organizacionais da ANPAD, 7. Curitiba: ANPAD. 2012. p. 1-16. 2 OYEDIJO, Q.; AKEWUSOLA, R. O. Organizational Strategy and Firm Performance: A Test of Miles and Snow's Model Using 34 Paint Manufacturing SMEs in Southwestern Nigeria. International Research Journal of Management and Business Studies, 2012.

  • 16

    Identificar as estratgias de produo das empresas estudadas;

    Desenvolver uma anlise na qual se compara o tema estudado com a realidade das

    pequenas empresas/mdias estudadas.

    O principal interesse desse trabalho se concentra em descobrir se o campo da

    estratgia nas pequenas empresas um campo especfico e diferente em relao ao das

    organizaes maiores e assim descobrir o que e como a estratgia. Dessa forma, poder-se-

    recomendar ou sugerir trabalhos futuros, como por exemplo, pesquisas qualitativas

    envolvendo menor nmero de empresas ou quantitativas e, ampliando a abrangncia.

    1.4 RELEVNCIA DO TEMA E DA PESQUISA

    Existe uma abundncia de trabalhos sobre estratgia e planejamento estratgico

    de grandes empresas, publicados em livros, jornais, revistas. No entanto, o tema pouco

    desenvolvido para as empresas de menor porte. Como j destacado, utilizando a base de dados

    Scielo.com, com as palavras chaves pequena empresa e estratgia, somente trs artigos

    so recuperados (GIMENEZ, 1998; GIMENEZ et al., 1999; MORAES; TERENCE;

    ESCRIVO FILHO, 2004).

    Como as atividades das empresas em geral so muito dinmicas, o

    planejamento estratgico e a estratgia so facilmente confundidos com o planejamento

    operacional (PORTER, 1996). E na pequena empresa isto pode ocorrer com maior frequncia,

    dada a falta de tempo do empreendedor em planejar e pensar estrategicamente (GOLDE,

    1986).

    A estratgia na pequena empresa raramente formalizada, e pensada de

    maneira espontnea. O dirigente cria suas estratgias intuitivamente e sem classific-las

    conforme as teorias e conceitos acadmicos (DORNELAS, 2008; KRAKAUER;

    FISCHMANN; ALMEIDA, 2010; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).

    Porm, se houver um melhor entendimento e formalizao da estratgia, dentro

    do ambiente das organizaes de porte menor, estas poderiam melhorar seu desempenho nos

    negcios e evitar o alto ndice de falncias existente no Brasil (KRAKAUER; FISCHMANN;

    ALMEIDA, 2010; SPIELMANN; ROSS, 2009).

    Segundo o SEBRAE-SP (2008), 64% entre as micros e pequenas empresas

    (MPE) fundadas em 2000 no chegaram ao stimo anos de existncia. Para 15% dos

  • 17

    proprietrios dessas empresas, os problemas que causaram o encerramento de suas atividades

    tiveram origem na falta de planejamento.

    Considerando que a estratgia faz parte do planejamento, este trabalho se

    dedicar a compreender este assunto de forma a entender o que estratgia para a pequena

    empresa e como ela pode ser classificada e adotada de forma mais adequada, pois a falta da

    compresso e do planejamento estratgico uma causa do insucesso das MPE.

    1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

    Para alcanar os objetivos deste trabalho, o mesmo foi estruturado em

    diferentes tpicos (Figura 1). Cada tpico est conectado ao seguinte de forma a organizar o

    desenvolvimento do assunto progressivamente. O primeiro tpico aborda a definio da

    estratgia, em seguida os tipos de estratgia que existem. Esta parte serve como suporte para o

    entendimento do conceito, segundo diferentes autores, e aplicados em diversos setores e

    tamanhos de empresa.

    Estratgia

    Estratgia Corporativa

    Estratgia De

    Negcios

    Estratgia Funcional

    Estratgias Competitivas

    Estratgia de Pequenas Empresas e

    contexto Brasil

    Estudo de caso

    Comparao com a teoria

    Relao com as grandes

    empresas

    Estratgia de

    Operaes

    Figura 1.Estrutura do trabalho.

  • 18

    Na sequncia se explora o ambiente da pequena empresa no Brasil, por meio de

    dados qualitativos e quantitativos, a fim de mostrar a importncia que elas possuem no Brasil.

    Para conectar esta parte com a primeira, o quarto tpico se destina a explanar, de acordo com

    a literatura, a estratgia na pequena empresa.

    O estudo de caso apresentado ento, para que se faa uma comparao entre a

    literatura e a realidade de algumas empresas. Duas empresas participaram desta pesquisa, um

    salo de beleza e uma metalrgica.

    Para finalizar o trabalho, uma concluso elaborada a partir da reviso

    bibliogrfica e dos comportamentos obtidos no estudo de caso.

  • 19

    2 ESTRATGIAS COMPETITIVA E DE PRODUO

    Este captulo tem como objetivo mostrar os diferentes conceitos e abordagens

    sobre a estratgia, confrontando-os com a realidade dos pequenos empresrios brasileiros.

    Inicialmente apresentam-se as definies de estratgia, assim como seus influenciadores e sua

    hierarquia dentro de uma corporao (estratgia corporativa, de negcios e funcional). A

    seguir, mostra-se o sentido que a estratgia toma dentro de pequenas empresas. Ento,

    contextualiza-se a situao das pequenas empresas no Brasil.

    2.1 CONCEITO DE ESTRATGIA

    A palavra estratgia de origem grega, e foi inicialmente utilizada e aplicada

    em contextos militares. A guerra, dentro do contexto de negcios, significa, analogamente, o

    estabelecimento de objetivos, a definio de direes, e o desenvolvimento de planos, atravs

    de metas, tratando de superar os adversrios (HAYES et al., 2004).

    Embora o sentido da palavra seja facilmente explicado, na prtica, o conceito

    de estratgia pode ser confundido e mal utilizado. Porter (2004) ressalta a importncia de

    saber diferenciar estratgia de eficcia operacional. Como ambos visam a melhoria e

    manuteno do desempenho da empresa, suas aplicaes e finalidades podem ser

    confundidas.

    A eficcia operacional significa apresentar melhor desempenho que os rivais,

    em termos das atividades cotidianas, a fim de minimizar custos e maximizar a rentabilidade.

    Apesar de ser imprescindvel para o sucesso de uma empresa, ela no suficiente. Baseando-

    se somente em eficcia operacional no se obtm xitos em perodos mais prolongados. O

    motivo a proliferao rpida das melhores prticas (PORTER, 2004).

    As empresas japonesas durante a dcada de 1980 enfrentaram essa distino, e

    algumas tiveram que mudar seu posicionamento quanto ao balanceamento entre estratgia e

    eficcia operacional (OHMAE, 1998; PORTER, 2004). O sistema de produo enxuta

    (modela TOYOTA) mesmo sendo uma forma de obter vantagens competitivas, pode no

    sustentar uma vantagem em longo prazo, visto que diversas indstrias e segmentos adotaram

    essa prtica.

  • 20

    Nesse sentido Rumelt3 (1982) apud Mintzberg (1994) define que estratgia a

    criao de situaes de rentabilidade econmica e tambm formas de encontrar e manter essa

    rentabilidade, levando em considerao a competio existente, mas procurando desviar dela

    e super-la. Ou seja, copiar a prtica ou ideia de um concorrente e depois fazer igual no

    seria uma estratgia, visto que a meta da estratgia vencer a concorrncia (OHMAE, 1998).

    No existem duas empresas com a mesma estratgia.

    Ohmae (1998) ressalta que estratgia lutar contra a tendncia da

    padronizao de oferta e prticas, pois ela no deveria ser utilizada de forma reativa. Por

    exemplo, o desenvolvimento e vendas de aplicativos de celular esto em alta, investir e entrar

    nesse mercado, no seria, sob a viso do autor, uma operao estratgica. A concorrncia

    existente alta e o esforo para venc-la ser muito maior caso fosse encontrada uma

    alternativa mais estratgica de se alcanar esse mercado ou um mercado novo.

    Segundo o autor, estratgia resistir s perguntas fceis e procurar melhores

    formas de fornecer valor ao cliente; fazendo perguntas simples sobre a utilidade do produto, e

    o mais importante, conscientizar a gerncia sobre a importncia da implantao da real

    estratgia, evitando-se a confuso com eficcia operacional e tendncias de mercado.

    Como se pode perceber, esta palavra adquire diversas definies, que variam

    de acordo com o entendimento e viso do autor. Porm, todas as explicaes em conjunto

    melhoram seu entendimento. Mintzberg (1987) define a estratgia com cinco termos: Plano,

    Pretexto, Padro, Posio e Perspectiva.

    A estratgia considerada como um plano por dois motivos: construda

    antes das aes as quais esta se refere e so construdas de forma consciente e proposital.

    Conjuntamente, ela pode ser vista como um pretexto, no sentido que se trata de uma

    manobra para superar um concorrente ou oponente. Por exemplo, pode-se ameaar uma

    expanso de mercado mesmo que isto no seja a real inteno da companhia a fim de que

    entrantes se desmotivem e desistam de ingressar (MINTZBERG, 1987).

    Alm de ser aferida como uma deciso antecedente ao, a estratgia contm

    uma definio que engloba o comportamento resultante. Por isso, ela tratada como

    padro, pois pode ser aplicada como uma consistncia no comportamento, pretendida ou

    no. A Ford Motor Company ilustra esta percepo com o caso do modelo T preto. Assim,

    deixa-se de lado a faceta de plano, passando a ser uma atitude (padronizada) includa no

    3 Expressado durante a Conferncia da Sociedade de Gesto Estratgica, Montreal, Outubro de 1982.

  • 21

    cotidiano de uma empresa. Um plano bem diferente de um padro, ele pode no se realizar,

    enquanto que o padro pode aparecer sem ser preconcebido (MINTZBERG, 1987).

    Unindo estas trs definies surge uma quarta, posio. A posio um meio

    de localizar uma organizao dentro do ambiente (mercado) no qual ela est inserida. Ou seja,

    o posicionamento aspirado por uma empresa tem um cunho estratgico sobre as aes que ela

    toma ou tomar futuramente, preferencialmente, de acordo com as caractersticas do mbito

    que a envolve (MINTZBERG, 1987).

    A partir desses quatro conceitos, a estratgia, ento adota o sentido de

    perspectiva. Definidos os planos e pretextos, colocando em prtica padres e determinando-

    se a posio da organizao, tem-se um entendimento particular dos resultados desejados e

    tambm se determina sua personalidade. Segundo Mintzberg (1987) a perspectiva da

    organizao o anlogo personalidade de um indivduo. Ou seja, uma caracterstica que

    pode definir seu trajeto e futuro, pois cada personalidade possui objetivos, afinidades,

    pensamentos prprios.

    Todas essas cinco faces da estratgia esto relacionadas, dando maior sentido

    ao significado da palavra. A criao de um padro dentro da companhia permite concepo de

    um planejamento formalizado. A aceitao e incorporao desse padro tem como

    consequncia a conformao da perspectiva, como carter da empresa, ela define o jeito de se

    visualizar e entender o ambiente interno e externo. Assim, a empresa determina o

    posicionamento que ela deseja transparecer aos demais.

    A estratgia pode ser entendida de acordo com diversos aspectos, alm de

    poder ser implantada em diferentes ambientes e contextos. Nos tpicos seguintes sero

    abordados o contedo da estratgia e a classificao na qual ela se submete no ambiente de

    negcios, de acordo a finalidade e proposio de onde ela definida. Lembrando que nos

    negcios, a finalidade primordial da estratgia brindar vantagem competitiva.

    2.1.1 Agentes influenciadores da estratgia

    A determinao e desenvolvimento da estratgia dependem do tipo da empresa,

    do contexto econmico-social, das indstrias, segmentos envolvidos, entre outros. Por isso,

    para elabor-la deve-se levar em considerao alguns fatores, que enriquecem seu contedo e

    a tornam uma verdadeira vantagem competitiva.

  • 22

    Porter (1979) nomeia esses fatores como foras (Figura 2), e as classifica em

    cinco: rivalidade entre concorrentes, as ameaas de novos entrantes, a ameaa de produtos ou

    servios substitutos, o poder de barganha dos fornecedores, e o poder de barganha dos

    clientes.

    2.1.1.1 Rivalidade entre concorrentes

    Os concorrentes conformam a fora considerada como a mais significativa

    entre as demais, afinal so aqueles que vendem um mesmo produto/servio no mesmo

    mercado que a organizao em questo. So considerados os concorrentes diretos.

    Isto se evidencia devido s evidentes disputas por posicionamento, atravs de

    propagandas, da introduo de novos produtos, do aumento do servio ao consumidor, da

    definio de preos, de melhorias nos canais de distribuio, entre outros. A rivalidade alta,

    por exemplo, quando:

    O nmero de concorrente volumoso;

    A taxa de crescimento do mercado baixa;

    Os custos fixos so altos;

    Os custos de estocagem so altos.

    2.1.1.2 Novos entrantes

    Os novos entrantes representam uma fora ao qual se deve combater, pois

    trazem novas capacidades, desejo de ganhar participao de mercado e concorrem com

    recursos substanciais. Pode se tratar de empresas novas, como empresas que diversificam suas

    atividades entrando em novos mercados.

    O nvel de severidade dessa fora depende muito das barreiras entrada

    existentes. Entre elas existem: economias de escala, diferenciao do produto, necessidades

    de capital, desvantagens de custo independentes do porte, acesso a canais de distribuio e

    politica governamental.

    2.1.1.3 Produtos substitutos

    Os produtos substitutos oferecem uma grande ameaa no sentido que

    competem com a oferta de uma empresa em preo e qualidade. Quanto mais atrativo for o

  • 23

    trade-off preo/desempenho oferecido pelo produto substituto maior o potencial de lucros

    do setor. Eles entram rapidamente em ao, aumentam a competio em seus setores e

    provocam a reduo de custos ou melhoria de desempenho.

    Deve-se dar maior ateno estratgica aos produtos que esto sujeitos a

    tendncia de melhoria de seu trade-off preo-desempenho e aos produtos que sejam

    produzidos por setores com altos lucros.

    2.1.1.4 Poder de barganha dos fornecedores e compradores

    Tanto fornecedores como clientes podem exercer o poder de barganha sobre os

    participantes de um setor. Do lado do fornecedor, isto ocorre quando eles aumentam preos

    ou reduzem a qualidade das mercadorias e servios. Do lado do cliente, o recproco ocorre,

    porm eles desejam o preo baixo e qualidade alta.

    Um fornecedor poderoso quando ele a minoria no mercado; se o produto

    tiver um diferencial com respeito aos demais; se tiver custos repassados embutidos; se o

    produto for peculiar; no tiver competio; se a clientela no for de grande importncia.

    Por outro lado, um cliente poderoso se suas compras forem concentradas e

    volumosas; se os produtos que ele adquire so padronizados ou no diferenciados; se a

    mercadoria comprada representar uma porcentagem importante do custo total do produto ao

    qual estar embutido; se ele tiver lucros baixos, o que incentiva a negociao de preos

    baixos; se o produto for de pouca importncia para a qualidade dos produtos ou servios dos

    compradores; se os compradores apresentarem uma ameaa plausvel de se integrarem na

    retaguarda para fazerem eles mesmos o produto do setor.

    2.1.1.5 Posicionamento da empresa

    A estratgia pode ser considerada como a construo de defesas contra a

    competio ou com a descoberta de novas posies em um setor. A empresa deve analisar a

    estrutura do setor, saber como ela e assim comparar seu desempenho. Para isso ela deve

    definir suas fraquezas e foras perante o setor.

    Conhecendo suas capacitaes e as causas de suas foras competitivas, a

    empresa ter maior discernimento para decidir onde, como e qual competio confrontar e

    qual evitar. Essas cinco foras permitem uma melhor anlise do contexto no qual uma

    companhia se insere, permitindo o desenho da estratgia. No entanto, tambm deve-se ter em

  • 24

    considerao fatores internos, como as competncias e recursos da empresa. Como Mintzberg

    (1980) diz, a estratgia resulta da combinao entre uma oportunidade e as capacidades da

    empresa.

    Ferramentas como o Balanced Scorecard (BSC) permitem essa anlise interna

    e implantam a estratgia na empresa (KAPLAN ; NORTON, 1996). O BSC analisa quatro

    perspectivas, financeiro, cliente, processos internos do negcio e aprendizado e crescimento, e

    procura entender a ligao entre elas. Por exemplo, atender a expectativa do acionista

    (objetivo estratgico da perspectiva financeira) est relacionado com a atualizao das

    competncias dos funcionrios (aprendizado e crescimento), uma vez que so eles que

    realizam as vendas (processos internos). Para cada objetivo alguns indicadores de

    desempenho so escolhidos e assim, avalia-se o andamento da estratgia.

    O setor competindo por uma posio

    entre os concorrentes

    existentes

    Ameaas de novos

    entrantes

    Poder de barganha dos clientesPoder de barganha dos fornecedores

    Ameaa de produtos ou

    servios substitutos

    Figura 2. Cinco foras de Porter. Fonte: adaptado de PORTER, 1979.

  • 25

    Alm dos fatores que influenciam a estratgia, existem outros elementos que

    determinam seu contedo e suas diretrizes. Hayes (2004) classifica trs tipos de estratgia, de

    acordo com a estrutura organizacional de uma empresa. O nvel mais elevado a estratgia

    corporativa, seguida da estratgia de negcios e da estratgia funcional. Todas esto

    interligadas, porm cada uma possui um contedo e fatores de influncia prprios.

    2.1.2 Estratgia Corporativa

    A estratgia corporativa abrange um conjunto de deliberaes no qual uma

    companhia determina e revela seus objetivos, propsitos e metas, alm de desenvolver suas

    principais polticas e planos para alcanar essas metas. Trata-se de um processo

    organizacional que, em muitos aspectos, inseparvel da estrutura, comportamento e cultura

    da companhia (ANDREWS, 1980).

    Tambm inclui decises como o tipo de organizao econmica e humana que

    a empresa deseja ser, como e quais contribuies ela deseja produzir (benefcios econmicos

    e/ou sociais) para seus stakeholders, empregados, clientes e comunidade (ANDREWS, 1980).

    O nvel corporativo envolve decises sobre indstrias e mercados nos quais a

    companhia atua ou poderia atuar. Quando existe inteno de ingressar em novos mercados

    surgem questes como, a estrutura para ingressar neles, como adquirir e alocar recursos

    corporativos para determinadas atividades e grupos, entre outros (HAYES et al., 2004).

    So essas estratgias que guiam e estruturam grandes grupos. Por exemplo, a

    Petrobrs possui trs palavras chave que definem sua estratgia corporativa: crescimento

    integrado, rentabilidade e responsabilidade socioambiental. Com base nisso, ela conforma sua

    misso e viso, fundamentados tambm em um conjunto de valores que so a forma de como

    o grupo pauta suas estratgias, aes e projetos desenvolvimento sustentvel, integrao,

    prontido para mudanas, etc.

    Essas alternativas estratgicas so resultados da combinao entre

    oportunidade e a capacidade da corporao, com um nvel aceitvel de risco, que pode ser

    chamado de estratgia econmica. importante destacar que alm do lado financeiro, as

    estratgias corporativas tambm devem considerar os benefcios e impactos relativos durante

    seu desenvolvimento, planejamento e implantao (Figura 3).

  • 26

    FORMULAO(Decidindo o que fazer)

    1. Identificao da oportunidade e risco

    2. Determinao dos recursos da companhia: material, tcnico, financeiro e administrativo

    3. Valores pessoais e aspiraes do administrador snior

    4. Reconhecimento de responsabilidades no-econmicas para a sociedades

    ESTRATGIA CORPORATIVA:

    Padro de propostas e polticas

    definidoras da companhia e seus

    negcios

    Figura 3. Formulao da estratgia corporativa. Fonte: adaptado de ANDREWS, 1980.

    2.1.3 Estratgia de Negcios

    Este tipo de estratgia est relacionado com as unidades de negcio,

    normalmente associadas a um tipo de diviso ou linha de produo. Ela se relaciona ao tipo de

    indstria para manter uma posio estratgica vantajosa, sempre alinhada estratgia ao nvel

    da corporao. Essa vantagem obtida quando se detecta as necessidades do consumidor

    levando em conta as fortalezas e fraquezas dos competidores. Dessa forma mantida a

    capacidade sustentvel de uma unidade de negcios (HAYES et al., 2004).

    Neste nvel a estratgia descreve como a empresa pretende criar valor para seus

    stakeholders, clientes e cidados. Cada unidade de negcio, dentro de uma corporao, ter

    um pensamento e viso estratgica nica. Quatro diferentes perspectivas podem ser

    consideradas no momento de definir e implantar a estratgia: financeira, cliente, processos

    internos e conhecimento/aprendizado (KAPLAN e NORTON, 1996).

    Como o objetivo alcanar uma vantagem competitiva, esta pode ser obtida de

    diferentes maneiras. Por exemplo, definindo estratgias genricas como baixo custo/altos

  • 27

    volumes, inovao de produto e caractersticas nicas, ou servio customizado em nichos

    (HAYES, PISANO, et al., 2004). E para isso se faz a anlise das foras, fraqueza,

    oportunidades e ameaas do setor. O modelo conhecido como PEST (atualmente PESTEL)

    ferramenta para anlise dos fatores Polticos-legais, Econmicos-naturais, Socioculturais,

    Tecnolgico e Ecolgicos-ambientais auxilia nesse estudo, permitindo a compreenso do

    contexto externo ligado aos fatores internos da empresa.

    Para ilustrar a estrutura e contedo de uma estratgia de negcios, tem-se o

    caso do grupo Ultra. O nvel corporativo se encarrega de assuntos abarcando seus quatros

    segmentos de negcios: Ipiranga, Oxiteno, Ultracargo e Ultragaz. Cada um est inserido um

    tipo de mercado, possuindo estratgias de negcios prprias. Enquanto o corporativo decide,

    por exemplo, a distribuio do investimento em cada unidade de negcio, estas se dedicam a

    definir como alcanar seus objetivos de forma a responder as diretrizes do grupo. Por

    exemplo, o Ipiranga foca em expanso contnua e sustentvel e a Oxiteno foca em inovao

    (ULTRA).

    2.1.3.1 Vantagem competitiva

    A competio a essncia do sucesso ou fracasso das empresas. Ela determina

    o quanto as atividades de uma empresa colaboram para seu desempenho, como inovaes,

    cultura, e outras boas implantaes. Por isso, se buscam estratgias competitivas, para

    encontrar uma posio favorvel (HENDERSON, 1989; PORTER, 1985).

    O que diferencia os competidores em um negcio pode ser o preo de vendas, a

    velocidade de resposta, a rapidez, sua localizao, a percepo que os clientes possuem, os

    esforos em propaganda, entre outros. As empresas podem combinar esses fatores de diversas

    maneiras e se planejar. Por isso, pensando em se diferenciar dos rivais, existe a estratgia.

    Porter (1985) diz que existem dois tipos de vantagem competitiva que uma

    empresa pode possuir: baixo custo ou diferenciao. O custo relativo e a diferenciao esto

    diretamente relacionados s suas foras e fraquezas. A combinao destas duas vantagens

    ligadas ao escopo de como uma empresa deseja atingir gera um terceiro tipo: a estratgia de

    foco. O foco tem duas variantes, pode ser em custo ou foco em diferenciao.

    A liderana em custo pode ser alcanada atravs de economias de escala,

    propriedades tecnolgicas, acesso preferencial matrias-primas, etc. Um produtor a baixo

    custo deve encontrar e explorar todas as formas de se conseguir vantagem em custo. Mesmo

  • 28

    assim, ele no ignora algumas bases de diferenciao. Se o produto dele no visto como

    aceitvel e/ou comparvel aos do mercado, o produtor obrigado dar maiores descontos

    abaixo de seus competidores.

    J na diferenciao, a empresa escolhe um ou mais atributos que a indstria

    considera como importante se posiciona para atender essas necessidades. Um diferenciador

    deve sempre procurar algo que justifique um preo premium. No entanto, no se deve ignorar

    a estrutura de custos, para que no se ultrapassem o preo.

    O terceiro tipo, foco, por sua vez, se fundamenta na escolha de um segmento

    ou um grupo de segmentos da indstria (nichos) e centraliza as estratgias para atender esse

    alvo em detrimento de outros grupos. Assim, se decide entre a procura pela liderana de custo

    dentro desse nicho, ou pela diferenciao.

    No aconselhvel manter mais de um tipo de estratgia (PORTER, 1985;

    HAYES et al, 2004). Ao dedicar-se a diversos tipos de estratgia uma empresa pode diminuir

    suas chances de obter boas performances e resultados. Normalmente diferentes estratgias, se

    aplicadas simultaneamente, exigem aes inconsistentes entre si. Ademais, necessrio

    considerar o risco atrelado a cada uma, para prevenir, mensurar e decidir qual estratgia

    encarar.

    ALV

    O

    ESTR

    AT

    GIC

    O

    VANTAGEM ESTRATGICA

    Unicidade Observada pelo Cliente Posio de Baixo Custo

    No mbito de Toda a Indstria Diferenciao Liderana no Custo Total

    Apenas um Segmento Particular Enfoque

    Quadro 1. Estratgias Genricas. Fonte: Adaptado de Porter (1985).

    Essa classificao apresentada por Porter (1985) conhecida como estratgias

    genricas. Sua premissa, no entanto, de que a vantagem competitiva pode ser alcanada de

    inmeras formas e depende do tipo de indstria na qual se est inserida. As estratgias

    genricas representam uma rota alternativa que promovem um desempenho superior. Vale

    ressaltar que a estratgia no deve ser confundida com ao, esta resultado da primeira. Por

    exemplo, aquisies e integrao vertical no so estratgias, mas meios de se alcan-las.

  • 29

    2.1.4 Estratgia Funcional

    A estratgia funcional serve para suportar as demais anteriores, a finalidade

    manter e buscar a vantagem competitiva. Uma unidade de negcios, segundo Hayes et al.

    (2004), possui quatro divises: estratgia de marketing e vendas, estratgia de operaes (de

    produo), estratgia financeira / de controladoria, e estratgia de pesquisa e

    desenvolvimento. As decises envolvidas neste nvel esto relacionadas questes como, a

    precificao, promoo e nvel de servio. A estratgia de negcios direciona cada uma dessas

    divises, integrando o sentido delas para o alcance dos objetivos da organizao.

    A seguir sero abordados os dois primeiros tipos, devido a sua maior

    relevncia na comparao entre empresas grandes e pequenas.

    2.1.4.1 Estratgia de Marketing e vendas

    De acordo a definio de Kotler (1993): A estratgia de marketing define os princpios amplos pelos quais a unidade de

    negcio espera realizar seus objetivos de marketing em um mercado-alvo e consiste

    em decises bsicas sobre gasto total em marketing, composto de marketing e

    alocao em marketing.

    O gasto total de marketing definido com base na percentagem convencional

    sobre as metas de vendas. As empresas procuram se informar sobre a proporo entre o

    oramento de marketing e a venda dos concorrentes, dado que algumas podem preferir gastar

    a mais para conquistar uma maior fatia do mercado. Por outro lado, o composto de marketing

    se trata dos quatro Ps produto, preo, place (distribuio) e promoo que so, decises

    impactantes no nvel de vendas e satisfao ao cliente.

    2.1.4.2 Estratgia de Operaes

    Para Hayes et al (2004) este o elemento mais importante dentro da estratgia

    de uma unidade de negcios, porque atravs dela que se diferenciam os produtos e servios

    da concorrncia. Entre as decises tomadas por esta rea de planejamentos encontram-se

    questes relativas preo, qualidade, confiabilidade, flexibilidade, velocidade/resposta. Porm,

    Kotler (1993) defende a estratgia de marketing, afirmando que ela que sustenta o negcio

  • 30

    como todo, visto que seu objetivo entender melhor a necessidade do cliente e atingi-lo da

    melhor forma.

    A estratgia de operaes contm decises e aes que englobam o papel, os

    objetivos e as atividades da operao. importante ressaltar que estratgia de operaes no

    pode ser confundida com conotaes operacionais (SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON,

    2007).

    Essas deliberaes so suportadas por diferentes aspectos da unidade de

    negcio. Primeiramente, devem-se levar em considerao os recursos que a companhia

    possui, e qual uso pode-se fazer destes. Tantos os recursos fsicos como os intangveis (por

    exemplo, as relaes com fornecedores) precisam ser estudadas, pois ambos compem os

    sistemas e processos da produo. O entendimento das operaes, a partir de seus

    componentes, permite que as decises estratgicas se direcionem melhor utilizao de seus

    recursos, desenvolvendo capacidades e aptides mais adequadas (SLACK; CHAMBERS;

    JOHNSTON, 2007).

    Dentro das decises estratgicas a serem concludas, Hayes et al (2004) as

    classificam duas categorias: decises estruturais relacionadas aos atributos fsicos da

    organizao e decises infra-estruturais sistemas, polticas e prticas que determinam

    como os aspectos estruturais precisam ser gerenciados (Quadro 2). A unio dessas duas

    classes define o escopo da estratgia de operaes.

    A fragmentao das decises em diversos aspectos auxilia na viso geral dos

    processos da produo, visto que diferentes questes influenciam no desempenho das

    atividades de cada unidade de negcios. Todo processo, produo, unidade de negcios,

    precisa ser entendida como uma situao particular.

    Sendo assim, no existe um padro, um jeito certo de se fazer (KOTLER,

    1993; SKINNER, 1969). Em cada caso, as escolhas de uma unidade devem ser baseadas em

    seu prprio contexto, metas, recursos e pessoal. Por isso, a estratgia de negcio traduzida

    em diferentes estratgias de operaes (prdios, equipamentos, pessoas e procedimentos

    adequados) que aperfeioem a produo desejada. A organizao da produo eficaz no

    significa eficincia nem perfeio do processo. Na verdade, a eficcia surge da organizao

    que atende s necessidades competitivas da unidade de negcios.

    Uma vez desenvolvidas as estratgias, neste nvel, necessrio estabelecer

    algumas prioridades, para indicar manufatura em quais reas focar esforos. A maioria dos

    autores, segundo Garvin (1993), menciona quatro(ou cinco) prioridades: custo, qualidade,

  • 31

    entrega, flexibilidade e servio . Aps a determinao da ordem dessas prioridades, polticas e

    aes sero adotadas para apoiar as estratgias (GARVIN, 1993).

    Decises estruturais Capacidade - quantidade, tipo, tempo. Fornecimento e integrao vertical - direo, extenso, balano. Instalaes - tamanho, localizao, especializao.

    Informao e tecnologia de processo - grau de automao, interconectividade, liderar versus seguir.

    Sistemas e polticas infra estruturais Alocao de recursos e sistemas de oramento de capital

    Sistemas de recursos humanos - seleo, habilidade, compensao, segurana do empregado.

    Planejamento do trabalho e sistemas de contrle - compras, plano agregado, planejamento, contrle ou estoques w/ou reservas de tempo de espera.

    Sistemas de qualidade - preveno de defeitos, monitoramento, interveno e eliminao.

    Medio e sistemas de recompensa - medies, bnus, polticas de promoes.

    Sistemas de desenvolvimento de produtos e processos - lder ou seguidor, organizao da equipe de projetos.

    Organizao - centralizada versus descentralizada, quais decises deve se delegar, papel dos grupos de apoio.

    Quadro 2. Categorias de deciso da estratgia de produo. Fonte: HAYES et al., 2004.

    No entanto, Garvin (1993) adverte sobre a importncia de se detalhar o que a

    empresa compreende de cada prioridade, pois, no curto prazo, essas prioridades podem ter

    uma conotao genrica, gerando mltiplas interpretaes. Por exemplo, flexibilidade pode

    ser entendido como mix de produo extenso ou como agilidade durante os set-up. O

    Quadro 3. Prioridades Estratgicas Desagregadas. Fonte: Adaptado de Garvin (1993).

    desagrega cada prioridade, mostrando os aspectos que cada uma pode ter. Esse detalhamento

    permite que as atuais performances e polticas sejam mais bem avaliadas, e que novas

    medidas, ou adequaes, sejam feitas para seguir as estratgias funcionais.

    Resumindo, a estratgia de operaes entendida sob quatro diferentes

    perspectivas (SLACK, N.; CHAMBERS S.; JOHNSTON, R., 2007). Primeiramente, ela um

    reflexo do que o grupo inteiro ou a empresa deseja fazer (top-down). uma atividade onde

    as melhorias das operaes constroem e direcionam outras estratgias (bottom-up).

  • 32

    Tambm a traduo dos requisitos do mercado em decises de produo. Alm disso,

    envolve as capacidades dos recursos produtivos dos determinados mercados.

    Essas quatro perspectivas resumem e agrupam as vises de outros autores

    mencionados anteriormente. Por isso elas devem ser consideradas conjuntamente. Por

    exemplo, em uma empresa onde os objetivos corporativos se concentram em alcanar um

    market share dominante, a produo, definir as prioridades estratgicas, e tomar decises

    (estruturais e infaestruturais), para lidar com a necessidade de rpida expanso, investimentos

    em capacidade extra.

    Qualidade Custo

    Perfomarnce Custo InicialRecursos Custo OperacionalConfiana Custo de ManutenoDurabilidade FlexibilidadeServios ProdutoEsttico Novos ProdutosQualidade percebida Customizao

    Entrega ModificaesAcurcia VolumeCompleta Resposta rpida a alteraes de previso de demandaPontualidade Rapidez na variao do volume de produoDisponibilidade ProcessoRapidez Variedade no mix de produto/produoAcessibilidade informao Set upQualidade Rearranjo das rotas de produoFacilidade do pedido Substituio de matria-primaFlexibilidade da ordem Sequnciamento do processoFlexibilidade na expedioFacilidade de devolues

    Quadro 3. Prioridades Estratgicas Desagregadas. Fonte: Adaptado de Garvin (1993).

    A dimenso bottom-up mostra a importncia que as estratgias funcionais

    possuem. Quando uma corporao/unidade de negcios revisa suas estratgias, ela pode

    analisar o comportamento de suas reas, e tomar como base o que est sendo feito no

    momento para desenhar o caminho futuro da empresa. Quando isto ocorre, surge o conceito

    de estratgias emergentes. Ou seja, a estratgia moldada de acordo com a experincia de

    situaes reais, ao invs de estar baseada em conhecimentos tericos.

    Nesse sentido, o contato com mercado e com os clientes muito importante

    para manter a empresa em dia com suas as necessidades, pois, a partir destas que a unidade

  • 33

    de negcio e a corporao iro direcionar seus esforos. As exigncias do mercado revelam os

    fatores competitivos, isto , os aspectos que os consumidores valorizam. Com base nisso,

    que so escolhidas as prioridades estratgicas, as quais servem para atender a demanda.

    Vale ressalvar que para determinar estas prioridades, importante a

    diferenciao dos fatores ganhadores de pedido e os fatores qualificadores. Os primeiros so

    os que contribuem para que a empresa ganhe mais pedidos. Enquanto que os segundos so

    fatores mnimos a serem cumpridos pela empresa, para que o consumidor considere seus

    produtos/servios como uma opo. As melhorias nestes ltimos no trazem necessariamente

    novos negcios (Figura 4).

    Neutralidade

    BenefcioCompetitivo

    Performance

    Fatores Ganhadores de Pedidos

    Neutralidade

    BenefcioCompetitivo

    Performance

    Fatores Qualificadors

    Figura 4. Benefcio Competitivo dos Fatores Ganhadores de Pedidos e Qualificadores. Fonte: Adaptado de Slack, Chambers; Johnston (2007)

    A importncia da determinao destes fatores provm da particularidade que

    cada tipo de empresa possui. Ademais, como uma operao produz servios e/ou produtos

    para diferentes grupos de clientes, necessrio estabelecer os fatores que iro influenciar no

    desempenho dos objetivos da unidade de negcios. Cada tipo de servio/produto, destinado a

    determinados pblicos possuem diferente influenciadores e fatores demandados pelos

    clientes, os quais criam objetivos particulares para cada caso (SLACK; CHAMBERS;

    JOHNSTON, 2007).

    Outro elemento que configura as decises dentro das operaes o ciclo de

    vida do produto. Existem quatro fases conhecidas dentro dele: Introduo, Crescimento,

  • 34

    Maturidade e Declnio (Quadro 4). Dentro delas existem algumas aes e deliberaes tpicas,

    as quais so caractersticas em razo da situao em si.

    Por exemplo, durante a introduo de um novo produto/servio, os clientes-

    alvo so aqueles que procuram inovaes, dificilmente h concorrentes. Os ganhadores de

    pedidos sero diferentes dos da etapa de declnio, pois durante o lanamento, o cliente visa

    desempenho tcnico de excelncia (fator que o atrai ao consumo). J no declnio, o

    produto/servio j conhecido, este no necessita comprovar utilidade, eficincia ou outro

    atributo, por isso, o principal ganhador de pedido se torna o preo.

    A partir da reflexo sobre as decises estruturais e infraestruturais, as

    prioridades estratgicas, os fatores ganhadores de pedidos e qualificadores, o ciclo de vida do

    produto, se desenham as estratgias de operaes. Estas, em conjunto com as demais

    estratgias funcionais impulsionam as demais estratgias dentro da estrutura hierrquica

    (negcios e corporativa).

    Vol

    ume

    de V

    enda

    s

    Introduo ao mercado

    Crescimento (mercado sob aprovao) Maturidade do

    mercado, nvel de vendas estvel Declnio devido a

    saturao do mercado

    Cliente Inovadores Adeptos Recentes Massa Retardatrios

    Concorrentes Poucos/Nenhum Surgimento crescente Nmero estvel Nmero declinando

    Ganhadores de pedido Especificao de produto/servio

    Disponibilidade Preo baixoFornecimento confivel

    Preo baixo

    Qualificadores QualidadeGama

    PreoGama

    GamaQualidade

    Fornecimento confivel

    Objetivos Dominantes da Performance das Operaes

    FlexibilidadeQualidade

    VelocidadeConfiabilidadeQualidade

    CustoConfiabilidade

    Custo

    Quadro 4. Ciclo de vida do produto. Fonte: Adaptado de Slack, Chambers; Johnston (2007)

    2.2 ESTRATGIA NA PEQUENA EMPRESA

    Uma pequena empresa caracterizada pelo faturamento anual de 360 mil 3,6

    milhes de reais, emprega de 10 a 19 pessoas, no comrcio e de 20 a 99 no caso de indstria

    (SEBRAE-SC, 2013; IBGE, 2012). Tanto no Brasil, como no exterior, ela tratada de forma

    diferente das organizaes de porte maior, devido s suas peculiaridades. Entre elas so: a

    forte relao que existe entre o proprietrio-dirigente com seu negcio (GIBB, 1984) e a

  • 35

    elevada carga de trabalho dele, a qual impossibilita, muitas vezes, uma maior dedicao sobre

    as questes estratgicas da empresa (KRAKAUER, FISCHMANN e ALMEIDA, 2010).

    Ademais, as pequenas empresas so caracterizadas por: restrio de recursos,

    alta personalizao da gesto, forma estrutural orgnica, pouca burocratizao e relaes

    informais, grande dependncia perante o ambiente externo. Com tantas particularidades, elas

    no podem ser tratadas como miniaturas de grandes empresas. Suas diferenas com as

    grandes no se fundamentam somente nas escalas de produo (ALVES FILHO et al., 2011)

    Entre as pequenas e mdias empresas que mais crescem no Brasil, 59% de seus

    dirigentes dizem que se pudessem enderear seu tempo, recursos e esforos atuais, boa parte

    do tempo da gesto seria destinada a pensar em estratgias para empresa (DELOITTE e

    EXAME, 2012). Entretanto, este tempo consumido com as dificuldades do ambiente de

    negcios (problemas como burocracias do governo, dificuldades para exportao, precria

    infraestrutura pblica, etc.).

    Devido a essa falta de tempo e outros atributos, a estratgia na pequena

    empresa entendida e estruturada de forma diferente das encontradas na seo anterior

    (CONCEITO DE ESTRATGIA). O assunto ainda recente, apesar da abundncia de

    estudos sobre estratgia, e poucos trabalhos consideram as especificidades do pequeno

    negcio (TERENCE e ESCRIVO FILHO, 2010).

    Alguns autores defendem a similaridade do processo de desenvolvimento da

    estratgia e de planejamento em todos os portes empresarial (GIMENEZ et al., 1999;

    CIMINO; SIMO, 2007; NETTO, 2007). Netto (2007) sugere que as empresas pequenas de

    tecnologia devem, assim como as grandes empresas, definir a misso seguida da viso para

    realizar a montagem da estratgia. Tambm indica a utilizao do modelo PEST, a reflexo

    sobre os quatro Ps de marketing e a importncia da cultura organizacional.

    Porm, o mesmo autor ressalta algumas diferenas sobre os fatores que

    influenciam o direcionamento e contedo estratgico de uma organizao menor, como a

    existncia de uma sexta fora (referindo-se as foras de Porter) e a reviso peridica do

    planejamento, devido dinamicidade, no caso, do segmento tecnolgico.

    Essa sexta fora se trata da presso dos familiares mais prximos,

    principalmente do cnjuge. A falta de suporte e apoio desta ltima dificulta as decises do

    empreendedor, que tem a necessidade de resultados rpidos e acaba se concentrando em um

    nico objetivo: estabilidade financeira.

  • 36

    A reviso peridica do planejamento resulta no encurtamento do propsito a

    longo prazo de uma estratgia. A realidade dinmica das pequenas empresas, j visto pelo alto

    ndice de mortalidade destas, dificulta um posicionamento estratgico e vantagem competitiva

    duradouras.

    Por isso, determinadas decises e tipos de estratgias so mais adequadas a

    elas. Vantagens competitivas obtidas atravs de flexibilidade e velocidade/resposta so

    estratgias muito utilizadas por empresas menores para competir com as maiores. Outras

    enfatizam na flexibilidade de volume, procurando acelerar ou desacelerar a produo, gerando

    pedidos, cujas entregas sero rpidas (HAYES et al, 2004).

    No entanto, nem sempre essas decises e estratgias so concebidas como

    questes estratgicas pelo pequeno empreendedor. O grande volume de atividades e

    responsabilidades do dirigente inviabiliza a formalizao de um plano estratgico, a realidade

    que muitas das aes tomadas no cotidiano ocorrem de forma espontnea. Isto , o processo

    de criao da estratgia no feito a partir de uma estrutura racional, como no modelo

    PESTEL, ou uma anlise das cinco foras de Porter (BROUTHERS, ANDRIESSEN e

    NICOLAES, 1998).

    O empreendedor apoia-se em suas experincias anteriores e utiliza muito a

    intuio. Alm disso, devido s suas necessidades operacionais/ dirias e a falta de recursos e

    tempo, direciona decises e estratgias voltadas ao curto prazo. Por isso, para alguns autores a

    formulao da estratgia das grandes empresas, assim como sua estrutura, no adequada s

    menores (MCCARTHY4 (2003) apud TERENCE E ESCRIVO (2010); SHRADER,

    MULFORD, BLACKBURN5 (1989) apud TERENCE E ESCRIVO (2010)).

    No entanto, Gimenez et al. (1999) constataram que a classificao de estratgia

    competitiva de Miles e Snow (1978) apud Bortolaso, Verschoore e Antunes Jnior, (2012)6 e

    Oyedijo e Akewusola (2012)7 pode ser aplicado para qualquer tamanho de empresa. O motivo

    se deve a que esta taxonomia define os relacionamentos entre estratgia, estruturas e

    4 McCARTHY, B. Strategy is personality-criven, strategy is crisis-driven: insights from entrepreneurial firms. Management Decision, v. 41, n. 4, p. 327-339, 2003. 5 SHRADER, C. B.; MULFORD, C. L.; BLACKBURN, V. L. Strategic and operational planning, uncertainty, and performance in small firms. Journal of Small Business Management, v. 27, n. 4, p. 45-60, 1989. 6 BORTOLASO, I. V.; VERSCHOORE, J. A.; ANTUNES JNIOR, J. A. V. O Desenvolvimento Estratgico de Redes Interorganizacionais: uma avaliao de Redes de Pequenas e Mdias Empresas no Rio Grande do Sul. In: Encontro de Estudos Organizacionais da ANPAD, 7. Curitiba: ANPAD. 2012. p. 1-16. 7 OYEDIJO, Q.; AKEWUSOLA, R. O. Organizational Strategy and Firm Performance: A Test of Miles and Snow's Model Using 34 Paint Manufacturing SMEs in Southwestern Nigeria. International Research Journal of Management and Business Studies, 2012.

  • 37

    processos, identificando as organizaes como universos integrados que interagem com seus

    ambientes.

    Essas categorias se diferenciam de acordo com as respostas das empresas a trs

    problemas. O primeiro relacionado ao empreendedor, sobre a definio de um domnio de

    produto/mercado. O segundo um problema de engenharia, isto , a escolha de sistemas

    tcnicos, e o terceiro se trata do problema administrativo, relacionado estrutura e aos

    processos organizacionais.

    Esses trs problemas formam o ciclo adaptativo que uma empresa vive durante

    sua existncia. Durante a transio de uma situao para outra, ela adota alguma estratgia

    competitiva de Miles e Snow. Estas se dividem em quatro: prospectora, defensiva, analtica,

    reativa.

    A estratgia prospectora, marcada por uma grande busca de mercados e

    inovao de produtos e processos. A defensiva se caracteriza por um estreito domnio dos

    produtos e mercados, o que coloca a eficincia como nfase. A postura analtica uma

    mistura entre as duas anteriores, pois se abrange reas de negcios estveis, cujos

    componentes so dinmicas e tratadas de forma prospectora. A ltima, est relacionada a

    situao quando a empresa no possui nenhuma estratgia, ela somente possui reaes

    impulsivas de acordo com os eventos do ambiente, por isso so reativas.

    A taxonomia apresentada aplicvel tanto as pequenas como as grandes

    empresas, contradizendo ao defendido por outros autores. Esta problemtica um dos

    assuntos abordados por este trabalho, pois este visa entender e comparar as teorias sobre

    estratgia com a realidade das pequenas empresas.

    2.3 CONTEXTO DA PEQUENA EMPRESA NO BRASIL

    No Brasil, segundo dados de 2010, existiam 4.599.880 empresas, ocupando um

    total de 30.841.801 assalariados. Desse total, 9,9% so de porte pequeno, responsveis por

    24,2% do pessoal ocupado, sendo que as grandes empresas ocupam 42,9% (Tabela 1Error!

    No se encuentra el origen de la referencia.). O setor principal o comrcio (56%), seguido

    de servios (30%) e a indstria (14%) (SEBRAE-SP, 2006). E conforme se pode observar

    pela Tabela 2, a maior parte delas se concentra na regio sudeste.

    As pequenas empresas enfrentam, no Brasil, grandes desafios quanto

    estrutura do mercado nacional, problema que desviam os recursos e o tempo dos

  • 38

    empreendedores, os quais poderiam ser destinados s estratgias da empresa. Entre as 250

    pequenas e mdias empresas de maior crescimento, em 2012, foram relatadas dificuldades

    com o sistema legal e tributrio, a legislao trabalhista, a captao de recursos, as condies

    de inovao, a cadeia de suprimentos, o ambiente econmico e demogrfico e o comrcio

    exterior (DELOITTE e EXAME, 2012).

    Porte da Empresa Quantidade

    Absoluta Quantidade Relativa (%)

    Pessoal Ocupado Absoluto

    Pessoal Ocupado Relativo (%)

    Micro 4 080 168 88,5 4 497 579 14,6 Pequenas 446 884 9,9 7 433 850 24,1 Mdias 60 111 1,3 5 685 412 18,4 Grandes 12 717 0,3 13 224 960 42,9 Total 4 599 880 100,0 30 841 801 100,0

    Tabela 1. Quantidade de empresas por porte. Fonte: (IBGE, 2012).

    Grandes Regies Unidades Locais

    Absoluto

    Unidades Locais

    Relativo (%)

    Pessoal Ocupado

    Absoluto

    Pessoal Ocupado

    Relativo (%)

    Brasil 5 51 915 100,0 43 000 578 100,0

    Norte 198 811 3,6 2 369 536 5,5

    Nordeste 875 559 15,8 7 899 809 18,4

    Sudeste 2 854 568 51,4 21 994 265 51,1

    Sul 1 210 689 21,8 7 293 551 17,0

    Centro-Oeste 412 288 7,4 3 443 417 8,0

    Tabela 2. Quantidade de locais por regio. Fonte: (IBGE, 2012).

    Para superar esses desafios essas empresas foraram o aumento das vendas e a

    reduo de custos, 62% delas aumentou o portflio de produtos e servios e 65% procurou

    melhores condies de pagamentos (prazos e juros). Mesmo assim, 59% gostaria de se

    dedicar mais ao plano estratgico para garantir um crescimento sustentvel a longo prazo

    (DELOITTE e EXAME, 2012).

    Fazendo uma analogia com a teoria de Darwin, sobre a evoluo das espcies,

    o ambiente das empresas um ambiente onde milhares de espcies (empresas) competem

    entre si em busca da sobrevivncia. Trata-se de um meio muito diversificado, caracterstica

    que potencializa a concorrncia.

    Porm, existe uma diferena entre as competies biolgicas e comerciais. Esta

    se deve a que os estrategistas de negcios podem usar sua imaginao e capacidade de

    raciocnio lgico para acelerar o efeito da competio e velocidade das mudanas. Por essa

    razo o ambiente de negcio no evolui gradualmente de acordo com as mutaes e variaes.

  • 39

    As pequenas empresas brasileiras, entretanto, parecem ainda estar em um nvel de evoluo

    biolgica, e a isto se deve a alto ndice de mortalidade entre elas (64%, (SEBRAE-SP, 2008)).

    A estratgia, por tanto, poderia representar um diferencial que as levaria a vantagem

    competitiva, e, por conseguinte, a sobrevivncia e evoluo comercial (HENDERSON, 1989).

    Desde 1972, no Brasil, existe um servio de consultoria, fornecido aos

    pequenos empreendedores. O rgo responsvel o SEBRAE (Servio Brasileiro de Apoio s

    Micro e Pequenas Empresas). Tambm se oferecem treinamentos e materiais, alm de

    algumas informaes em sua pgina de internet. No entanto, somente 46% dos proprietrios

    de micro e pequenas empresas j tiveram algum relacionamento com o rgo. Isto mostra que

    existe a oportunidade de explorar este campo de apoio aos empresrios, principalmente na

    rea acadmica (ENDEAVOR, 2013).

  • 40

    3 MTODO DE PESQUISA

    Considerando o conceito definido por Lakatos (1991), mtodo um conjunto

    de atividades sistemticas e racionais que, com maior segurana e economia, permite alcanar

    o objetivo, traando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decises do

    cientista.

    Para alcanar os objetivos da pesquisa, se utilizou o estudo de caso como

    mtodo. Este uma investigao emprica que investiga um fenmeno contemporneo em

    profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o

    fenmeno e o contexto no so claros (YIN, 2010).

    Semelhante mtodo foi escolhido pelo fato de que este trabalho contm uma

    pesquisa exploratria cujo objetivo o de proporcionar maior familiaridade de um

    fenmeno/problema, tornando-o mais explicito e permitindo a construo de hipteses. Nesse

    sentido, o levantamento bibliogrfico, as entrevistas com pessoas que tiveram ou tm

    experincia relacionado ao problema e a anlise de exemplos que colaborem na compreenso

    do problema so meios de alcanar este objetivo. Por essa razo se decidiu pelo estudo de

    caso como mtodo a ser utilizado no trabalho (GIL, 2007).

    3.1 ESTUDO DE CASO

    Este mtodo utilizado quando se almeja entender um fenmeno da vida real

    em profundidade, no qual condies contextuais so importantes para se ter um completo

    entendimento (YIN, 2010). Dentre os trs tipos de estudo de caso apresentados por Yin

    (2010), foi escolhido o de carter exploratrio. Isto se deve a necessidade de explorar dentro

    de casos reais o significado de estratgia para as pequenas empresas brasileiras.

    3.2 CARACTERIZAO DA PESQUISA E ESCOLHA DAS EMPRESAS

    Foram realizados dois estudos de caso com empresas de pequeno a mdio

    porte. Elas foram escolhidas de forma a pertencerem a setores diferentes. A seleo foi feita

    por convenincia, preferindo as localizadas nas regies prximas a Jundia e So Paulo.

    A finalidade a coleta de dados de carter qualitativo (YIN, 2010) atravs de

    fontes primrias e secundrias (LAKATOS, 1991), como entrevistas com os responsveis das

  • 41

    empresas, visitas, observaes e informaes encontradas em revistas, jornais, site da

    companhia.

    A pesquisa qualitativa no se preocupa com a representatividade numrica, o

    interesse se concentra na compreenso de um grupo social, de uma organizao, etc. Algumas

    de suas caractersticas so: a objetivao de um fenmeno; descrever, compreender, explicar

    determinado fenmeno; observncia das diferenas entre o mundo social e o mundo natural

    (GERHARDT; SILVEIRA, 2009).

    3.3 QUESTES DA PESQUISA

    O questionrio das entrevistas (Anexo 1) composto de perguntas que no

    induziam o entrevistado a responder tendenciosamente. Isto , no foi perguntado, por

    exemplo, quais estratgias a empresa utiliza, o que estratgia. O objetivo era identificar

    de forma indireta os elementos que compem as estratgias da empresa estudada. O tema da

    pesquisa foi apresentado como Gesto de Pequenas Empresas. Deste modo, durante as

    conversas evitou-se utilizar a palavra estratgia.

    A lista de perguntas foi estruturada em cinquenta questes, divididas em quatro

    blocos principais. O primeiro se dedica a caracterizao geral da empresa, como a razo

    social, atividade principal, nmero de funcionrios. O segundo bloco explora a estratgia em

    geral das empresas, procurando analisar as dimenses como valores, misso, cultura

    (KOTLER e KELLER, 2012), planejamento estratgico em longo prazo, entre outras. A

    penltima parte investiga as estratgias competitivas adotadas, consciente ou

    inconscientemente e o ltimo estuda o comportamento da empresa para com suas estratgias

    de operaes. As questes desta ltima parte fazem aluso s decises estruturais e as

    polticas e sistemas infraestruturais.

    As entrevistas ocorreram de maneira espontnea, isto , as questes no

    necessariamente foram aplicadas na ordem, pois, tiveram um carter mais informal, deixando

    o entrevistado livre para expressar qualquer tipo de comentrios ou informaes.

    Formalmente ocorreram duas entrevistas, e duas conversas de apoio, sendo as primeiras

    gravadas e transcritas em documento.

    Depois da apresentao dos dados gerais das empresas e das informaes

    coletadas de cada uma, ser feita uma breve comparao entre elas. A finalidade encontrar e

    entender (quando possvel) as semelhanas e/ou divergncias entre essas pequenas empresas.

  • 42

    Em seguida, ser feira a comparao com a bibliografia consultada e com a realidade das

    grandes empresas (Figura 5).

    Caracterizao

    geral Empresa 1Caracterizao

    geral Empresa 2

    Transcrio das respostas

    Transcrio das respostas

    Estratgia Corporativa/

    Negcios

    Estratgia Funcional

    Estratgia Corporativa/

    Negcios

    Estratgia Funcional

    Anlise das respostas

    Anlise das respostas

    Comparao das respostas

    Comparao com a literatura e

    grandes empresas Figura 5. Apresentao dos Resultados.

  • 43

    4 APRESENTAO E RESULTADOS DA PESQUISA

    Aps o embasamento terico sobre estratgia, a contextualizao das pequenas

    empresas no Brasil e a estruturao das questes, foram feitas as entrevistas. A estrutura da

    apresentao destes resultados est dividida em cinco tpicos: caracterizao geral das

    empresas, aspectos gerais da estratgia da empresa, estratgia competitiva e prioridades,

    estratgia funcional, anlise das informaes.

    Cada tpico est subdividido em Empresa 1 e Empresa 2 por separado, exceto

    o ltimo. A anlise das informaes compara os resultados das entrevistas das empresas,

    procurando agrupar semelhanas e diferenas encontradas.

    4.1 CARACTERIZAO GERAL

    Nesta seo sero apresentadas as duas empresas participantes do estudo de

    caso. As caractersticas se direcionam a mostrar brevemente a histria da empresa, o

    segmento de atuao, o porte da empresa (em termos de funcionrios), sua localizao, o tipo

    de empresa.

    4.1.1 Empresa 1

    Trata-se de um salo de beleza, localizado no centro de Jundia, interior de So

    Paulo. Esta empresa existe desde 2005, fundada aps a resciso de uma sociedade do atual

    dono em outro salo. Atualmente trata-se de uma sociedade limitada, cujos scios so um

    casal (marido e esposa). O salo conta com 42 funcionrios, sendo que 21 deles so familiares

    do dono.

    No incio, a empresa possua apenas 3 cadeiras e um lavatrio, destinados para

    o empreendedor, sua esposa e seu filho. Os trs exerciam a funo de cabelereiro, e no havia

    secretria, e, o pai da famlia administrava as atividades. medida que o salo foi se

    expandindo, em uma primeira etapa, foi adicionada uma cadeira destinada aos servios de

    cabelereiro da irm do proprietrio , posteriormente, a rea de trabalho foi duplicada

    (totalizando trs lavatrios e oito cadeiras). O staff era todo composto por familiares do casal.

    Mas, como a demanda aumentou, h aproximadamente trs anos o salo se

    transladou para um local maior. O terreno possui 350 m, com doze cadeiras disponveis para

  • 44

    os cabelereiros. Assim, o portflio de servios ficou mais diversificado (promovendo servios

    de esttica, dia de noive, escova progressiva, manicure, maquiagem definitiva), incluindo uma

    escola de especializao para cabelereiros. O salo utiliza como meios de comunicao:

    telefone, e-mail, site, facebook, comerciais (em canais televisivos e banners na cidade).

    4.1.2 Empresa 2

    A empresa 2 localiza-se na regio de Cumbica, em So Paulo (SP). Consiste

    em uma metalrgica, com 17 funcionrios. Sua atividade principal a usinagem de peas

    metlicas. Foi fundada em 1985, por dois irmos cuja formao tcnico em mecnica. Antes

    da criao da empresa, um dos irmos trabalhava na companhia que hoje um dos clientes

    mais importantes.

    Assim como a Empresa 1, esta uma sociedade limitada (LTDA), cujos

    acionistas ainda so somente os dois fundadores, ambos com a mesma porcentagem de

    participao. Contam com uma planta, a qual se divide em dois galpes vizinhos (um alugado

    e um prprio).

    Os servios e produtos comercializados se destinam a outras empresas (B2B).

    Seus meios de comunicao principais so: telefone, e-mail e fax.

    4.2 ASPECTOS GERAIS DA ESTRATGIA DA EMPRESA

    Durante as entrevistas foram feitas questes cuja inteno era identificar se as

    empresas possuam comportamentos estratgicos similares s grandes corporaes. No

    foram feitas perguntas diretas, a fim de no gerar respostas tendenciosas. Portanto, sete

    tpicos foram abordados:

    1. Valor, Cultura, Misso;

    2. Comunicao;

    3. Estrutura Organizacional;

    4. Planejamento como gesto;

    5. Crescimento/Desenvolvimento nos ltimos 10 anos;

    6. Atividade da empresa;

    7. Planos futuros

  • 45

    4.2.1 Empresa 1

    Os valores, a cultura e a misso da empresa so normalmente definidos pelas

    grandes empresas, pois so eles que do sentido aos objetivos, metas e planejamentos

    estratgicos da empresa. E a comunicao destes elementos para seus membros essencial na

    implantao de melhorias/mudanas e no cotidiano da empresa.

    A empresa 1 no possui formalmente nenhum desses trs conjuntos. A

    compreenso dos termos foi obtida atravs da explicao e exemplificao. Porm, possui

    dentro do negcio valores familiar de forma muito expressiva. Como metade dos funcionrios

    parente do casal proprietrio, os assuntos do salo so discutidos como um tema de famlia,

    prezando pela unio e consenso de todos.

    Durante as atividades do dia a dia, no salo, observa-se a informalidade

    existente entre os funcionrios. O proprietrio mencionou, de forma espontnea, que sempre

    relembra seu staff que a finalidade do negcio atender bem seus clientes e tentar beneficiar a

    todos os funcionrios da melhor forma. Assim, ele transmite uma mensagem que alinha o

    comportamento da sua equipe. Mesmo que no seja uma atitude intencionalmente estratgica,

    pde ser considera como tal.

    Foram os valores, cultura e misso, que, indiretamente, levaram o casal a

    mudar-se de local, para onde o salo se situa atualmente. O objetivo era promover aos clientes

    maio conforto, atrair novos clientes, oferecer diferentes servios. Neste novo espao, a

    variedade de profissionais e servios aumentou, mas o foco e a maior parte do faturamento

    provm dos relacionados ao cabelo.

    Segundo o empresrio, foram os valores e cultura familiar que levaram

    mudana do sistema de remunerao dos cabelereiro. Estes eram comissionados de acordo

    com o volume de seus clientes e pagavam uma quantia pela utilizao do salo. Porm, esse

    sistema no os satisfazia. Ento, migrou-se para o formato de cooperativa. A parte dos

    servios que envolvem cabelo uma cooperativa. Cada profissional recebe de acordo com o

    volume de servios prestado e colabora com as despesas de forma proporcional.

    Alm disso, a fim de melhorar o atendimento aos clientes, facilitando o acesso

    s informaes e ao agendamento, o salo possui uma pgina de internet, uma pgina de

    facebook (canal mais utilizado ultimamente), onde igualmente so colocadas tendncias, fotos

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    do salo, curiosidades, promoes. Tambm, duas pessoas trabalham em horrio comercial,

    em um call center.

    Outro comportamento considerado estratgico para este trabalho a estrutura

    organizacional. A definio de cargos e a organizao de atividades e funes so caminhos

    para se colocar a estratgia em prtica e dirige a construo de novas estratgias (SLACK,

    CHAMBERS e JOHNSTON, 2007). Observando e entrevistando o empreendedor, pode-se

    verificar a existncia de uma estrutura de funes.

    O proprietrio quem toma a maioria das decises, mas tambm cabelereiro

    devido a problemas de sade, ele somente corta. Seu local de atendimento na ponta da

    fileira de cadeiras, prximo a entrada do salo, pois dessa maneira, pode observar a quase

    todas as movimentaes. Uma de suas irms cuida de assuntos administrativos (pagamentos,

    recebimentos, compras, banco, fornecimento, estoque etc.), outra irm se encarrega das

    operaes do salo, remanejando clientes, orientando-as, checando agendas. A escola

    profissionalizante possui apenas uma professora, parente do casal. O restante do pessoal

    atende aos clientes.

    Quando se trata de planejamento, constatou-se sua inexistncia dentro desta

    empresa. O entrevistado revelou que suas decises so em curto prazo, sendo de cunho mais

    operacional. As ideias e planos so discutidos com a esposa, que prefere no se envolver e

    opinar muito, e tambm com os funcionrios, mas, isto ocorre informalmente, ou em reunies,

    as quais no so peridicas.

    Todas as mudanas que ocorreram no salo nos ltimos dez anos foram

    resultado de decises sem muitas anlises e com rapidez. De acordo com a demanda dos

    clientes, o salo implanta a solicitao em espaos de tempo curtos (respeitando a capacidade

    e recursos disponveis). Isto se deve, de acordo com o entrevistado, a dinamicidade do setor.

    O plano mais longnquo dos scios tem previso para ocorrer em um perodo

    dois anos. E este ser a mudana do atual local, o qual alugado, para outro prprio. O

    terreno j foi adquirido e pretende-se comear a construo o mais breve possvel. Outro

    plano, a ser efetuado antes, a reforma dos ambientes, no estabelecimento em funcionamento.

    As estatsticas mostram que a cada trs anos o salo deve passar por um remodelamento

    mencionou o empreendedor. Existe a ideia de criar um salo para cada filho, em diferentes

    regies da cidade, mas ainda somente uma aspirao.

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    4.2.2 Empresa 2

    Durante a entrevista com o representante desta empresa, questionou-se e

    observaram-se os componentes dos valores, misso e cultura. Estes no so definidos

    formalmente e to pouco so comunicados aos funcionrios, tratando-se de um assunto

    nebuloso para o entrevistado. A justificativa encontrada se deve a natureza do servio dos

    operrios, a qual no exige competncias extraordinrias para usinagem de pea. Por isso, eles

    no passam por nenhum processo de treinamento e nenhum contedo ou direcionamento

    passado a eles.

    A metalrgica em questo possui uma hierarquia formalizada. Os irmos,

    apesar de serem scios, com igual participao, ocupam cargos distintos. Um deles o diretor

    corporativo, sendo responsvel por assuntos administrativos pagamentos, funcionrios,

    bancos, entre outros. O outro o diretor de produo, encarregado de todos os temas que

    envolvem o cho de fabrica, desde a parte comercial at a entrega de pedidos. As decises de

    carter corporativo so feitas por ambos.

    Os filhos de cada um deles trabalham na empresa: o entrevistado, que pode ser

    considerado como um operrio multifuncional, trabalhando no cho de fbrica, auxiliando

    diversas pessoas em diferentes atividades; e sua prima, responsvel pela gesto da qualidade

    com a finalidade de cumprir os requisitos da norma ISO e pela gesto