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PÁGINA 6 Diário Oficial do Distrito Federal Nº 41, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE SUBSECRETARIA DE VIGILÂNCIA À SAÚDE ATO CONVOCATÓRIO Nº 01/2015. A Subsecretaria de Vigilância à Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal comuni- ca a abertura da Dispensa de Licitação em caráter emergencial, referente à aquisição de FÓRMULA INFANTIL TIPO I, nos termos da Lei nº 8.666/93, processo 065.001711/2014-DIVEP/SVS. O recebimento das propostas juntamente com a documentação original ou cópias autenticadas em envelope lacrado, será até: 10h do dia 04 de março de 2015. Endereço: GISV/DIGEPLAN/SVS/ SES, SBN - QUADRA 02 - BLOCO P - LOTE 4 - 1º SUBSOLO - BRASÍLIA/DF. O ato convo- catório está disponível na Gerência de Insumos da Subsecretaria de Vigilância à Saúde/SVS/SES. JOSÉ CARLOS VALENÇA Subsecretário SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO PORTARIA Nº 15 DE 11 DE FEVEREIRO DE 2015(*) O SECRETÁRIO DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo inciso XXV, do artigo 172º, do Regimento Interno da Secretaria de Estado de Educação, aprovado pelo Decreto nº 31.195, de 21 de dezembro de 2009, e o contido no processo nº 460.000.013/2015, RESOLVE: Art. 1º Aprovar o Regimento Escolar das Instituições Educacionais da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, constante do Anexo Único desta Portaria. Art. 2º Determinar que os gestores da Secretaria de Estado de Educação e de cada instituição da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal promovam a ampla divulgação deste Regimento Escolar entre os segmentos que o compõem. Art. 3º Revogam-se as disposições em contrário, em especial a Ordem de Serviço nº 01, de 11 de dezembro de 2009, publicada no Diário Oficial do Distrito Federal nº 240, de 14 de dezembro de 2009. Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data da sua publicação. JÚLIO GREGÓRIO FILHO APRESENTAÇÃO A Secretaria de Estado de Educação do DF apresenta o Regimento Escolar da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, revisado e atualizado em conformidade com a legislação vigente. O presente documento foi elaborado com a participação de representantes das várias Subsecreta- rias que compõem esta casa, bem como de representantes de órgãos colegiados e, portanto, sua reedição, em acordo com os demais documentos norteadores produzidos neste período 2011-2014, confere a necessária unidade e identidade ao Sistema Público de Ensino do Distrito Federal. O Regimento subsidiará o planejamento e o adequado desenvolvimento do trabalho realizado pelas Unidades Escolares, considerando as normas e regulamentações aqui discutidas. Destaca-se, que este Regimento contempla os princípios da Gestão Democrática, ou seja, as ações que devem permear a Gestão Educacional Pública, garantindo a participação ativa e consciente de toda a comunidade escolar, em especial, a dos estudantes, sujeitos valorosos desse processo; bem como constitui mais um canal de comunicação e manifestação do comprometimento desta Secretaria com a qualidade da Educação Pública. ANEXO ÚNICO REGIMENTO ESCOLAR DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO DISTRITO FEDERAL Art. 1º O presente Regimento regulamenta a organização pedagógico-administrativa das unidades escolares da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, nos termos da legislação vigente e dos dispositivos normativos do Sistema de Ensino do Distrito Federal. TÍTULO I DA ORGANIZAÇÃO DAS UNIDADES ESCOLARES CAPÍTULO I Da Estrutura Organizacional Art. 2º As unidades escolares da Rede Pública de Ensino integram a estrutura da Secretaria de Estado de Educação, identificada por SEEDF, unidade integrante do Governo do Distrito Federal, e são vinculadas pedagógica e administrativamente às respectivas Coordenações Regionais de Ensino. Art. 3º As unidades escolares, de acordo com suas características organizacionais de oferta e de atendimento, classificam-se em: Centro de Educação Infantil – destinado a oferecer, exclusivamente, a Educação Infantil: Creche e Pré-Escola. Jardim de Infância – destinado a oferecer, exclusivamente, a Educação Infantil: Creche e Pré-Escola. Centro de Educação da Primeira Infância – CEPI – destinado a oferecer, exclusivamente, a Educação Infantil: Creche e Pré-Escola. Escola Classe – destinada a oferecer os anos iniciais do Ensino Fundamental, podendo, ex- cepcionalmente, oferecer a Educação Infantil: creche e pré-escola; os 6.º e 7.º anos do Ensino Fundamental e o 1.º e o 2.º segmento de Educação De Jovens e Adultos, de acordo com as necessidades da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal. Centro de Ensino Fundamental – destinado a oferecer o Ensino Fundamental e o 1.º e 2.º seg- mentos da Educação de Jovens e Adultos, podendo, excepcionalmente, ofertar o 3.º segmento da Educação de Jovens e Adultos. Centro Educacional – destinado a oferecer as séries/ os anos finais do Ensino Fundamental, o Ensino Médio, a Educação de Jovens e Adultos, bem como o Ensino Médio e a Educação de Jovens e Adultos Integrados. Centro de Ensino Médio – destinado a oferecer o Ensino Médio e/ou o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e o 3.º Segmento da Educação De Jovens e Adultos e/ou o 3.º Segmento da Educação de Jovens e Adultos Integrado. Centro de Educação de Jovens e Adultos – destinado a oferecer, exclusivamente, a Educação de Jovens e Adultos presencial e na modalidade a distância. Centro de Ensino Especial – destinado a oferecer atendimento aos estudantes, público-alvo da educação especial, sob a forma complementar, suplementar ou substitutiva ao ensino regular. Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente - CAIC – destinado a oferecer a Educação Infantil: Creche e Pré-Escola e o Ensino Fundamental – anos iniciais. Escola Parque – destinada a oferecer atividades complementares e/ou intercomplementares ao currículo. Centro Interescolar de Línguas – destinado a oferecer Língua Estrangeira moderna, em caráter de formação complementar exclusivamente aos estudantes da Rede Pública de Ensino do Dis- trito Federal, matriculados no Ensino Fundamental, no Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos. Centro de Educação Profissional – destinado a oferecer a Educação Profissional por meio de cursos e programas de formação inicial e continuada e a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Escola Bilíngue Libras e Português Escrito – destinada a oferecer a educação bilíngue em todas as etapas e modalidades da Educação Básica. Parágrafo único. Toda unidade escolar poderá oferecer as etapas da Educação Básica e moda- lidades fora de sua tipologia, em caráter excepcional e provisório, quando autorizada por ato próprio do titular da SEEDF. CAPÍTULO II Dos Fins e dos Princípios Art. 4º As unidades escolares, fundamentadas nos princípios de liberdade, participação, auto- nomia, respeito à laicidade, pluralidade e diversidade da escola e do Sistema Público de Ensino devem assegurar, democraticamente: I-o desenvolvimento integral do estudante; II-a formação para a cidadania com garantia de direitos humanos com vistas ao mundo do trabalho; III-o aprimoramento da criatividade, do senso crítico e reflexivo e das demais potencialidades humanas a serviço de um projeto social sustentável. CAPÍTULO III Da Gestão Democrática nas Unidades Escolares SEÇÃO I Dos Fins e dos Princípios da Gestão Democrática Art. 5º A Gestão Democrática da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, cuja finalidade é garantir a centralidade da unidade escolar no sistema e o caráter público quanto ao financiamento, à gestão e à destinação, observará os seguintes princípios: I-participação da comunidade escolar na definição, na implementação e no acompanhamento de decisões pedagógicas, administrativas e financeiras, por meio de órgãos colegiados, e participação na eleição de Diretor e Vice-Diretor da unidade escolar; II-respeito à pluralidade, à diversidade, à laicidade da escola pública e aos direitos humanos em todas as instâncias da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal; III-autonomia das unidades escolares, nos aspectos pedagógico, administrativo e da gestão financeira nos termos da legislação; IV-transparência da gestão da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal, em todos os seus níveis, nos aspectos pedagógico, administrativo e financeiro; V-garantia de qualidade social, traduzida pela busca constante do pleno desenvolvimento da pessoa, da formação para o exercício da cidadania e da qualificação para o mundo do trabalho; VI-democratização das relações pedagógicas e de trabalho e criação de ambiente seguro e propício ao aprendizado e à construção do conhecimento; VII-valorização do profissional da educação. Art.6º A Gestão Democrática será efetivada por intermédio dos seguintes mecanismos de par- ticipação: I-Direção e Vice Direção II-Órgãos Colegiados: a) Assembleia Geral Escolar b) Conselho Escolar c) Conselho de Classe d) Grêmio Estudantil SEÇÃO II Da Equipe Gestora Art. 7º A equipe gestora é composta por Diretor e Vice-Diretor, Supervisores e Chefe de Secre- taria, conforme a modulação de cada unidade escolar, em consonância com as deliberações do Conselho Escolar, respeitadas as disposições legais. Art. 8º São atribuições da equipe gestora: I- elaborar e avaliar coletiva e continuamente o Projeto Político Pedagógico - PPP da unidade escolar, durante a sua gestão; II- elaborar o Plano de Ação Anual plenamente aliado e integrado ao respectivo Projeto Político Pedagógico - PPP da unidade escolar; III- fortalecer o Conselho Escolar da unidade escolar, em conformidade com a legislação vigente; IV- garantir o cumprimento da carga horária, de acordo com as Matrizes Curriculares, aprovadas para todas as etapas e modalidades da Educação Básica; V- fazer cumprir os dias letivos e as horas estabelecidas por turma, separadamente, conforme legislação vigente; VI- garantir o acesso e a permanência do estudante na unidade escolar visando a qualidade social da educação, de acordo com as normas estabelecidas pela SEEDF; VII- garantir a lisura, a transparência e a regularidade da prestação de contas dos recursos re- passados à unidade escolar, e daqueles por ela diretamente arrecadados; VIII- distribuir a carga horária dos professores, segundo as normas estabelecidas pela SEEDF;

Estratégia para o tratamento cirúrgico das anomalias da ... · a uma comunicação interventricular. Nestas anomalias, o objetivo da correção é o de conectar o ventrlculo esquerdo

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Rev. Bras. Cir. Cardiovasc., 4(2) : 159-162, 1989.

Estratégia para o tratamento cirúrgico das anomalias da conexão ventrículo-arterial

com comunicação interventricular

José CALlANI*, Yves LECOMPTE*

RBCCV 44205-87

CALlANI, J. & LECOMPTE, Y. - Estratégia para o tratamento cirúrgico das anomalias da conexão ventrlcu­lo-arterial com comunicação interventricular. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc., 4(2) : 159-162, 1989.

RESUMO: Designamos anomalias da conexão ventriculo-arterial toda a conexão que difere daquela de um coração normal. Dentro desta abordagem, não utilizamos os termos ventrlculo direito ou esquerdo com dupla via de salda, Taussig-Bing e transposição das grandes artérias, quando estes estão associados a uma comunicação interventricular. Nestas anomalias, o objetivo da correção é o de conectar o ventrlculo esquerdo com a aorta e o ventriculo direito com a artéria pulmonar. A estratégia que escolhemos é baseada na hipótese de que a correção mais simples é aquela que não exige a utilização de um tubo protético, a transferência de coronárias, ou a septação complexa da cavidade ventricular. Baseados na experiência de 162 correçóes para as anomalias da conexão ventriculo-arterial, em uma série de 197 pacientes, utilizamos três tipos de correção anatómica: a correção intraventricular (tunelização ventrlculo esquerdo-aorta) em 35 pacientes, lo REV (tunelização ventrlculo esquerdo-aorta associada a translocação do tronco pulmonar sobre o ventrlt lo direito) em 78 pacientes, e a operação de Jatene associada ao fechamento da comunicação interventricular em 49 pacientes. O tipo de correção ideal é a correção intraventricular, na qual a simples tunelização ver lriCUIO esquerdo-aorta estabelece uma conexão ventrlculo-arterial normal. Quando a correção intraventricular não é posslvel, nós indicamos o REV em presença de estenose pulmonar e a operação de Jatene na ~usência desta. A questão principal é saber quando uma correção intraventricular é realizável . A realização desta é função da distância entre a valva tricúspide e a valva pulmonar. Se esta distância é suficientemente grande (igualou superior ao diâmetro do oriflcio aórtico), o túnel intraventricular é realizável ; se não, outra modalidade de correção é indicada. Nossa experiência atual sugere que a exploração pré-ope­ratória das distâncias entre a valva tricúside e as válvulas semilunares é um critério essencial para a escolha da correção apropriada para as anomalias da conexão ventriculo-arterial associadas a uma comuni­cação interventricular. Esta estratégia não se opõe às outras classificações usuais, baseadas na posição das grandes artérias, ou na situação da:comunicação;interventricular, e ela nosifornece!informações precisas quanto à possibilidade de realizar uma correção intraventricular.

DESCRITORES: conexão ventrlculo-arterial, cirurgia.

INTRODUÇÃO

Há quase dois séculos, os corações com conexões ventrículo-arteriais anormais, em particular o ventrículo direito com dupla via de saída (DVS), eram reconhecidos como formas de cardiopatias congénitas 1. No que diz

respeito às anomalias da conexão ventrículo-arterial (V A) com comunicação interventricular (CIV), inúmeras classi­ficações anatómicas foram propostas, mas estas perma­necem insatisfatórias. Por exemplo, a definição de ventrí­culo direito com DVS é matéria de controvérsia e .as diferentes modalidades de correção cirúrgica propostas

Trabalho realizado no HOpilal Laênec e Centre Medioo-Chirurgicale, Porte de Choisy. Paris, França. Apresentado ao IS? Congresso Nacional de Cirurgia Cardlaca. São Paulo, 7 e 8 de abril, 1989 . • 00 HOpital Laênec e Centre Medioo-Chirurgicale, Porte de Choisy. Endereço para separatas: J. Caliani. Centre Medico-Chirurgicale de la Porte de Choisy. 6, Place de Port au Prince 75013 Paris, France.

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CALlANI. J . & LECOMPETE. Y. - Estratégia para o tratamento cirúrgico das anomaliéJf da conexão ventrfculo-arterial com comunicação interventricular. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc., 4(2): 159-162. 1989. .

para esta lesão podem, também, ser utilizadas para ou­tras cardiopatias 10 • Por estas razões, preferimos incluir, em nossa estratégia cirúrgica, todas as anomalias da conexão VA associadas a uma CIV e com conexão atrio­ventricular normal. O objetivo deste trabalho é definir os critérios anatómicos que seriam úteis para a escolha do melhor tipo de correção para as anomalias da cone­xão VA associadas a uma CIV, com ou sem estenose da via pulmonar.

DEFINiÇÕES E CRITÉRIOS PARA A CONDUTA CIRÚRGICA

Designamos anomalias da conexão VA toda a cone­xão que difere daquela de um coração normal. Nesta definição estão incluídas as anomalias usualmente deno­minadas ventrículo direito ou esquerdo com DVS, Taus­sig-Bing e transposição das grandes artérias associada a umaCIV.

Atualmente, utilizamos três tipos de correção anató­mica para o tratamento das anomalias da conexão VA:

1) Corração intraventricular (RIV) - Nesta modali­dade, incluem-se todos os tipos de correção que estabe­leçam uma conexão VA normal com a simples tu neli­zação ventrículo esquerdo-aorta. Na maioria dos casos, esta correção deve ser complementada por uma ressec­ção septal (septo conal e/ou parte do septo que está localizado anteriormente à CIV). O fechamento de uma CIV representa o tipo mais simples de correção intraven­tricular, sendo que as técnicas descritas por KIRKLlN et a/ii 4 para a correção do clássico ventrículo direito com DVS, e por KA WASHIMA et a/ii 3 para o tratamento do Taussig-Bing 'são tipos mais complexos de correções intraventriculares. Nós não temos experiência com as técnicas descritas por PATRICK & McGOON 8 e, mais recentemente, por PAcíFICO et a/ii 7 • Estas últimas não estã incluídas em nossa definição de correção intraven­tricular.

2) REV Reparatlon à I'étage ventrlculalre - Original­mente descrita por LECOMPTE et a/ii5 , esta é, por defini­ção, a associação da correção interventricular com a translocação do tronco pulmonar sobre o ventrículo di­reito.

3) Operação de JATENE 2 - O princípio desta técnica é o de conectar o ventrículo esquerdO com o orifício pulmonar e realizar, ao nível arterial, uma troca das gran­des artérias com a transferência dos óstios coronarianos do seio de Valsalva aórtica para o tronco pulmonar. Em nossa série, realizamos a manobra de LECOMPTE 6 em todos os casos

A estratégia cirúrgica está contida em duas questões fundamentais :

1) Quais são as condições necessárias para que uma correção anatómica possa s~r realizada?

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2) Se estas condições preliminares forem satisfeitas, qual dos três tipos de correção anatómica deve ser esco­lhido?

Respondendo a estas questOes, elaboramos uma estratégia cirúrgica, recentemente descrita 9 e cujos prin­cípios serão apresentados abaixo.

a) Condições necessárias para uma correçlo anato.. mica - Ambos os ventrículos devem ser normais em tamanho e função, e a pressão do ventrículo esquerdo deve ser sistêmica. Na avaliação pré-operatória, é difícil medir as dimensões das cavidades ventriculares e acre­ditamos que a medida do diâmetro da valva atriove'n­tricular seja um critério confiável. Assim sendo, uma val­va atrioventricular hipoplásica (dois pontos abaixo do diâmetro teórico) é uma contra-indicação à correção ana­tómica. Outra condição importante é a exclusão de comu­nicações interventriculares múltiplas. Finalmente, a ida­de, o estado nutricional e a função respiratória devem ser considerados antes da conduta cirúrgica.

b) Escolha do tipo de correçAo - Por razões empíri­cas, preferimos a correção intraventricular, e a realização desta é função das distâncias entre a valva tricúspide e as valvas semilunares. Estas distâncias são medidas em ecografia bidimensional e graduadas de O a 3. Cada caso de anomalia da conexão AV pode ser representado por dois números: o primeiro representa a mínima distân­cia entre a valva tricúspide e a valva aórtica, o segundo a distância entre a valva tricúspide e a valva pulmonar. Quando a distância entre a valva tricúspide e pulmonar é suficientemente grande (igual a 3, ou igualou superior ao diâmetro do orifício aórtico), a correção intraventri­cular é realizável com ou sem ressecção septal e/ou alargamento da via pulmonar. Nos outros casos, realiza­mos o REV em presença de estenose pulmonar e a operação de Jatene, na ausência desta. Nesta última categoria de pacientes, a escolha cirúrgica é feita basea­da em considerações fisiológicas: o REV, ainda que ana­tomicamente realizável, deve ser evitado pelo alto risco de regurgitação pulmonar e insuficiência ventricular di­reita.

CAsuíSTICA E MÉTODOS

De janeiro de 1979 a novembro de 1988, 197 pacien­tes foram submetidos a 327 operações para as anoma­lias da conexão VA com CIV. Do total das operações 167 foram correções anatómicas eas demais corres­pondem a intervenções paliativas (Gráfico 1). A avalia­ção pré-operatória e as indicaçOes cirúrgicas foram ba­seadas nos critérios ecográficos acima descritos.

A idade variou do período neonatal até 12 anos, refletindo a ausência de homogeneidade deste grupo (Gráfico 2). Algumas anomalias associadas foram en­contradas : nove coarctaçOes ou interrupções do arco aórtico, 12 CIVs múltiplas e nove hipoplasias das valvas atrioventriculares.

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CALlANI, J. & LECOMPETE, Y. - Estratégia para o tratamento cirúrgico das anomalias da conexão ventrfculo-arterial com comunicação interventricular. Rev. Bras. Cír. Cardíovasc., 4(2) : 159-162, 1989.

60

50

40

30

20

10

o

GRÁFICO 1

TIPO DE OPERAÇÃO 327

GRÁFICO 2

DISTRIBUIç:ÃO DAS FAIXAS ETÁRIAS

0·15050·3 MI·6 M6·12 M 1·2 A 2·5 A 5·10 A10·15 A

RESULTADOS

.FEJ • RIV • JATENE ~ RASTELLI O PALIATIVAS

• TOTAL • FBI • RIV

A correção anatómica foi contra-indicada em 30 pa­cientes. Dentre estes, 15 apresentavam ao menos uma contra-indicação absoluta; nos demais, a idade e a pre­sença de anomalias associadas nos conduziram a prati­car operações paliativas.

Em cinco das 167 correções anatómicas foi reali­zada a operação de Rastelli, que, segundo nossa defini­ção, não está de acordo com o termo "correção anató­mica", porque esta requer a utilização de um conduto protético. Dos cinco pacientes, três foram submetidos a operações prévias em outros centros e a presença de aderências mediastinais nos impossibilitou a mobili­zação do tronco pulmonar. Em outro caso, um conduto, valvado foi indicado na presença de uma resistência pulmonar elevada e, no último paciente, uma ventricu­Iotomia ampla nos abrigou a utilizar um conduto protético

a fim de proteger uma das artérias coronárias. Com ex­cessão destes cinco pacientes, todos os demais se bene­ficiaram de um . dos três tipos de correção anatómica descritos na primeira parte deste trabalho.

A mortalidade global foi de 11,3% (37 pacientes para 327 operações), sendo que 15 óbitos ocorreram nos pacientes submetidos à operação de Jatene, 13 na série do REV, três na série da correção intraventricular e os seis demais no grupo das paliativas (Gráfico 3). Dentre as causas de óbito, constatamos um número significativo de anomalias associadas, que foram subestimadas nas explorações pré-operatórias, sendo as mais freqüentes a hipoplasia de um dos ventrículos (cinco pacientes) e as CIVs múltiplas (cinco pacientes). Onze óbitos não estão relacionados com a estratégia cirúrgica: erros técnicos (cinco pacientes), mediastinite (três pacientes), hemop­tise massiva (um paciente), hemorragia intra-operatória (um paciente) e hemorragia cerebral (um paciente). Um dos pacientes faleceu de insuficiência ventricular direita aguda, após a realização de manobra de Lecompte; isto deveu-se ao fato de que este não apresentava estenose da via pulmonar e a regurgitação causada pela manobra acabou sendo mal tolerada pelo ventrículo direito. Dois óbitos ocorreram tardiamente, o primeiro de uma arritmia ventricular um ano após a operação; o segundo evoluiu com insuficiência cardíaca global; em seguida, foi trans­plantado e faleceu de rejeição, na unidade de terapia intensiva. Em 12 pacientes, não foi possível identificar, com precisão, a causa do óbito. Em um dos pacientes, a extratégia foi, provavelmente, inadequada. Este apre­sentava uma anomalia da conexão VA do tipo 3-3 (em outra terminologia, Taussig-Bing) e se beneficiou de uma correção intraventicular. Uma semana após tal evento, veio a falecer de uma rotura septal, sendo que a tuneli­zação ventrículo esquerdo-aorta estava anatomicamente intacta. A causa desta rotura foi, possivelmente, devida à ressecção septal, que, neste caso, foi bastante ampla. Retrospectivamente, acreditamos que, para este pacien­te, teria sido melhor realizar a operação de Jatene.

GRÁFICO 3 ;

MORTALIDADE OPERATORIA

400

300

200 ,

• oorros • TOTAL

100

161

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CONCLUSÃO sões, em particular no grupo das chamadas transpo­sições corrigidas das grandes artérias.

Nossa experiência atual fornece duas conclusões :

1) A estratégia escolhida para d tratamento cirúrgico das anomalias da conexão VA é adequada e útil, na maioria dos casos; entretanto, existem algumas ex ces-

2) Na avaliação pré-operatória, uma atenção especial deve ser prestada na detecção de eventuais anomalias associadas que, nesta série, representam a causa mais importante da mortalidade hospitalar.

RBCCV 44205-87

CAlIANl, J. & lECOMPTE, Y. - Repair 01 anomalies 01 ventriculo-arterial connections: surgical strategy. Rev. Bras. Cir. Cardiovasc., 4(2) : 159-162, 1989.

ABSTRACT: ln our practice, we no longe r use the terms 01 double-outlet right ventricle, Taussig-Bing anomaly, double outlet left ventricle, or transposition 01 the great arteries when associated with a ventricular septal delect. We call anomalous ventriculo-arterial connection any connection dillerent Irom that 01 a normal heart. ln these anomalies the aim 01 the repair is to connect theleft ventricle to the aorta and the right ventricle to the pulmonary trunk. The strategy we have chosen, lor empirical reasons, is based on the hypothesis that the simplest methods which require no prosthetic conduit, no translocation 01 the coronary arteries and no complex partition 01 the ventricular cavity ofler the best chances 01 optimal Iong term results. The leasibility 01 anatomic repair was investigated in 197 patients who underwent an operation lor anomalies 01 ventriculo-arteríal connection associated with ventricular septal delect. Three types 01 anatomic repair were used: intraventricular rerouting (35 patients), R.E.V. (association 01 intraventricular rerouting with translo­cation 01 the pulmonary arterial trunk on the right ventricle) in 78 patients, and Jatene's operation with closure 01 the ventricular septal delect (49 patients). Our repair 01 choice is intraventriclar repair when it is possible to construcl a straight and direct tunnel Irom the left ventricle to the aorta. Thus, the basic question is the leasibility 01 a sim pie intraventricular repair. We presently base our strategy in ali types 01 anomalous ventriculo-arterial connection on the preoperative measurement 01 the minimal distance between the tricuspid valve and the pulmonary valve. Either this distance is significant (at least equal to the diameter 01 the aortic oritice) and the intraventricular repair is leasible, or it is shorter and another type 01 repair is indicated. We then perform a R.E.V. in cases associated with pulmonary stenosis or Jatene's operation in cases with increased 'pulmonary blood Ilow. Our present experience suggests that the measurement 01 intervalvar distances is, lrom a surgical standpoint, the most important inlormation adequately to choose the 01 repair lor the anomalies 01 ventriculoarterial connection. This approach is not in contrast with the usual classilications based on the position 01 the great arteries and/or the situation 01 the ventricular septal delects. It gives inlormation which is directly related to the leasibility 01 intraventricular repair.

DESCRIPTORS: veRtriculo-arterial connection, surgery.

REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS correction 01 transposition 01 the great arteries. J.

ABERNETHY, J. - Surgical andphysiological essays. london, James, Evans, Publishers, 1973.

2 JATENE, A. D.; FONTES, V. F.; PAULISTA, P. P.; SOUZA, L. C. B.; NEGER, F.; GAlANTIER, M.; SOUZA, J. E. M. R. - Anatomic correction 01 transposition 01 the great vessels . J. Thorac ~Cardiovasc Surg., 72 : 364-370, 1976.

3 KAWASHIMA, Y.; FUGITA, T.; MIYAMOTO, T. ; MANABE, H. - Intraventricular rerouting 01 blood lor the correc~ tion 01 Taussig-Bing mallormation. J. Thorac. Cardio­vasco Surg. , 62: 825-829, 1971.

4 KIRKlIN, J. W.; HARP, R. A.; McGOON, D. C. - Surgical treatment 01 origin 01 both véssels Iro right ventricle, including cases 01 pulmonary stenosis. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 48: 1026-1036, 1964.

5 lECOMPTE, Y.; NEVEUX, J. Y.; ZANNINI, L. ; TU, T. V.; DUBOIS, Y.; JARREAU, M. M.

6 lECOMPTE, Y; ZANNINI, L. ; HAZAN, E.; JARREAU, M. M.; BENX, J. P.; TU, T. V.; NEVEUX, J. Y. - Anatomic

162

Thorac. Cardiovasc. Surg., 82: 629-631 , 1981.

7 PAcfFICO, A. D.; KIRKlIN, J. W.; COlVIN, E V.; BARGE­RON, L. M. -Intraventricular tunnel repair lor Taussig­Bing heart and related cardiac anomalies. Circula­tion, 74:153-160, 1986.

8 PATRICK, D. L. & McGOON, D. C. - An operation lor double-outlet right ventricle with transposition 01 the great arteries . J. Cardiovasc, Surg., 9: 537-542, 1968.

9 SAKATA, R. ; lECOMPTE, Y.; BATISSE, A.; BORROMÉE, L.; DURANDY, Y. - Anatomic repair 01 anomalies 01 ventriculo-arterial connection associated with ventricu­lar septal delect: I. Criteria 01 surgical decision. J. Thorac. Cardiovasc. Surg., 95: 90-95, 1988.

10 WllCOX, B. R.; HO, S. Y.; MACARTNEY, F. J.; BACKER, A. E.; GERlIS, L. M.; ANDERSON. R. H. - Surgical anatomy 01 double-outlet right ventricle with situs solitus and atrioventricular concordance. J. Thorac. Cardio­vasco Surg., 82: 405-417,1981 .