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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO PROGRAMA DE ENSINO À DISTÂNCIA - FUNCITEC ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO ESPACIAL PERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO À MICRO REGIÃO DA AMUREL HÉLIO OLIVEIRA DE SOUZA FLORIANÓPOLIS 2001

ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO ESPACIAL - core.ac.uk · engenharia da produção, economia, política, direito, sociologia, psi cologia organizacional e psicologia social. 1.1 Problemática

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DA PRODUO

PROGRAMA DE ENSINO DISTNCIA - FUNCITEC

ESTRATGIAS DE OCUPAO ESPACIALPERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO

MICRO REGIO DA AMUREL

HLIO OLIVEIRA DE SOUZA

FLO RIAN P O LIS

2001

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA DA PRODUO

PROGRAMA DE ENSINO DISTNCIA - FUNCITEC

ESTRATGIAS DE OCUPAO ESPACIALPERSPECTIVA DE DESENVOLVIMENTO

MICRO REGIO DA AMUREL

HLIO OLIVEIRA DE SOUZA

Dissertao de Mestrado apresentada ao Curso de Ps-Graduao em Engenharia da Produo da Universidade Federal de Santa Catarina, para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia sob orientao do professor Dr. Alvaro Guillermo Rojas Lezana.

FLORIANPOLIS2001

11

Hlio O liveira de Souza

ESTRATGIAS DE OCUPAO ESPECIAL - PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO MICRO REGIO DA AMUREL

Dissertao submetida Universidade Federal de Santa Catarina

para a obteno do Grau de Mestre em Engenharia de Produo e aprovada em sua

forma final pelo Proarama de Ps-Graduaco em Enaenharia de Produo.

Banca Examinadora:

Prof. Nelson Casarotto Filho, Dr.

Prof. Joo Zaleski Neto, Dr.

minha esposa M arlise e aos meus filhos Inaui e Amaru.

iv

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela generosidade.Ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo da UFSC, pela oportunidade.Ao professor ignacy Sachs, pela inspirao.Ao professor Neri dos Santos, pelo apoio.Ao professor Alvaro Guillermo Rojas Le- zana, pela orientao.Ao professor Antonio Diomrio de Queirs, pela compreenso.

SINOPSE

Este trabalho refere a perspectiva de desenvolvimento da Regio da AMUREL atravs de estratgias de ocupao espacial.

Caracteriza a Micro Regio objeto deste estudo, situando-a no contexto estadual e regional. Implica tambm em consideraes acerca do mercado global, seus respectivos blocos econmicos transnacionais, s modalidades de desenvolvimento social, poltico e econmico, bem como ao desenvolvimento micro regional sustentvel.

Para tanto, segue o mtodo de abordagem indutivo, a tcnica de pesquisa bibliogrfica e o mtodo de procedimento descritivo.

Como resultados apresenta as estratgias de ocupao espacial, segundo princpios consagrados pela engenharia de produo, como forte elemento disseminador do desenvolvimento econmico micro regional.

No entanto, evidencia imprescindvel necessidade de comprometimento social, poltico e empresarial.

No obstante, revela potencialidades e limitaes naturais decorrentes de fatores estruturais relacionados AMUREL.

ABSTRACT

This project refers to the perspective of development of the Region of the AMUREL through strategies of space occupation.

It characterizes the Region aimed in this study, thus pointing out several characteristics involving factors of the object emerged towards its state and regional scenery. Its results are linked to perspectives about a global market, and the analysis of different kinds of social development, including others such as political and economic development as well as the sustainable development in the region scale.

To reach that objective which is included in the scientific investigation, an inductive method of approaching is assured as well as bibliographical research technique and descriptive procedure method.

As results presents the strategies of space occupation, following widely elected principles for the production engineering, as strong disseminating element of the regional economic development.

Although, it reveals the strong necessity of social, liable to improve economic activity and with political contour involvement.

However, it discloses its list of potencies within limitations that are known for the particular scenery involving structural factors at AMUREL.

SUMRIO

LISTA DE MAPAS, QUADRO E GRFICO ............................................. ix

1 INTRODUO ........................................................................................... 11.1 Problemtica .............................................................................................. 31.2 Objetivos ..................................................................................................... 51.2.1 Geral .................................. ...................................................................... 51.2.2 Especficos ................ ............................................................................ 51.3 Hipteses ............................................................................................ 61.3.1 Geral ......................................................................................................... 61.3.2 Subjacente ............................................................. .............................. 61.3.3 De trabalho ............................................................................................. 61.4 Importncia do tema ............................. .................................................. 61.5 Estrutura do memorial ............................................................................. 71.6 Metodologia ................... ................... 091.7 Limitaes do estudo ........................................................................... 10

2 ASSOCIAO DOS MUNICPIOS DA REGIO DE LAGUNA - AMUREL: CONTEXTO ESTADUAL, REGIONAL E MICRO REGIO- GlONAL ........................................................................................................ 122.1 introduo ................................................................................................. 122.2 Contexto estadual .................................................................................. 132.2.1 O modelo econmico regionalizado de Santa Catarina ......... 162.2.2 Qualidade de vida .............................................................................. 242.2.3 PIB per capita ...................................................................................... 272.3.Contexto regional .................................................................................. 282.3.1 Caractersticas ............. ............................... ...................................... 292.3.2 Populao e taxa de urbanizao .................................. .............. 322.3.3 Principais atividades econmicas ................................................. 352.3.4 PIB das Micro Regies ..................................................................... 362.4.Contexto micro regional ....................................................................... 372.4.1 Processo histrico e caractersticas .........................................!. 382.4.2 Principais atividades econmicas ................................................. 422.5 Consideraes ......................................................................................... 53

3 MERCADOS GLOBAIS E MODALIDADES DE DESENVOLVIMENTO .............................................................................................................. 57

3.1 Introduo ................................................................................................ ..573.2 Mercados globais ................................................................................... ..573.3 Modalidades de desenvolvimento ..................................................... ...613.3.1 Desenvolvimento social .......................................................................663.3.2 Desenvolvimento poltico .................................................................. ...703.3.3 Desenvolvimento econmico .......................................................... ... 723.3.4 Desenvolvimento regional ...................................................................753.3.5 Desenvolvimento sustentvel ............................................................803.4 Consideraes ..................... ................................................................... ..90

4 ESTRATGIA DE OCUPAO ESPACIAL: FATORES ESTRUTURAIS E CONCEITUAIS APLICVEIS MICRO REGIO ........... 924.1 Introduo ................................................................................................ 924.2 Fatores estruturais ................................................................................. 944.2.1 Competitio entre regies ............................................................. 944.2.2 Renncia fiscal ................................................................................... 984.2.3 Centros tecnolgicos ......................................................................... 994.2.4 Pesquisas cientficas ....................................................................... 1014.2.5 Incubadoras ................ ........................................................................ 1014.2 .6 Cluster .................................................................................................. 1024.2.7 Distritos industriais .......................................................................... 1034.2.8 Comunicao ...................................................................................... 1044.2.9 Tecnologia da informao .............................................................. 1044.2.10 Call center ........................................................................................ 1054.2.11 Alternativas energticas .............................................................. 1074.2.12 Estrutura modal .............................................................................. 1084.2.13 Outros fatores estruturais ........................................................... 1104.3 Fatores conceituais ............................................................................. 1114.3.1 Ambiente ............................................................................................ 1114.3.2 Criatividade ....................................................................................... 1114.3.3 Inovao ............................................................................................ 1134.3.4 Competitividade ............................................................................... 1134.3.5 Sustentabilidade .............................................................................. 1144.3.6 Planejamento ..................................................................................... 1154.3.7 Estratgia ........................................................................................... 1164 .3 .8 Estratgia de ocupao espacial ............................................... 1174.4 Consideraes ...................................................................................... 124

5 CONCLUSES ........................................................................................ 1255.1 Concluses ............................................................................................ 1255.2 Recomendaes ................................................................................... 129

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................... 131

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 137

ix

LISTA DE MAPAS, QUADRO SINPTICO E GRFICO

MAPASMAPA DO ESTADO DE SANTA CATARINA - PARCIAL DO CONE-SUL .................................................................................................................... 14MAPA DO ESTADO DE SANTA CATARINA - NDICE DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL NAS ASSOCIAES DOS MUNICPIOS DOESTADO-2 0 0 0 ............................................................................................. 27MAPA DA AMUREL ....................................................................................... 37

QUADRO SINPTICOQUADRO SINPTICO - PLOS ECONMICOS DO ESTADO DE SANTA CATARINA ....................................................................................... 20

GRFICOGRFICO - EVOLUO DA POPULAO DA REGIO DE LAGUN A - 1940-2000 ............................................................................................. 34

1 INTRODUO

Atualmente a competitividade global impe o desafio de conviver-se com incertezas futuras. Segundo Dreifuss

*vivemos, neste final de milnio, as perplexidades de trs processos estonteantes: globalizao econmica e de modos de produzir, mundializao social e de modos de viver e planetarizao poltica e institucional, dos modos de dominar* 1

A necessidade de se acompanhar o processo de mudana, cada vez mais acelerado, fenmeno mundial que ocorre destacada- mente na economia, vem despertando neste incio de sculo, a aten

o de integrantes do meio acadmico, empresarial e de alguns seg

mentos da sociedade.

A visualizao do mundo todo como espao possvel e provvel das atitudes,2 destaca-se como sendo idia bsica globalizao econmica, to difundida teoricamente h tempos atrs e atual

mente em prtica num contexto de inegvel irreverso. Mesmo considerando que ainda est em processo de inicializao, do estgio em

que se encontra, j se podem medir suas manifestaes.

1 DREIFUSS, Ren Armand. A poca tias perplexidades: mundializao, globalizao e planetarizao; novos desafios. Petrpolis : Vozes, 1996. p. 325.

2 ld. ibid., p. 168.

2

O processo de desenvolvimento micro regional o mais afetado diante dessa situao. Sem planejamento sistemtico e depen

dente de aes governamentais de esferas superiores, muitas municipalidades encontram dificuldades para sobreviver diante da eminente

' falncia dos sistemas de governo, cada vez mais com dificuldade de corresponder s expectativas das sociedades que os elegem. 3

Esse processo, merece profunda ateno no tocante implementao de polticas e estratgias de ampliao, muito alm da forma superficial hoje praticada, haja vista

a dualidade da sociedade - cada vez mais dividindo-se em ricos e pobres, a aliana verde, as rupturas tecnolgicas e a globalizao na qual se destacam trs nveis de competitividade igualmente importantes - a estrutural, a setorial e a empresarial. 4

Segundo Jacques Marcovitch (professor titular do Departamento de Administrao da FEA/USP), tais nveis de competitividade transformam-se em dimenses a serem necessria e severamente observadas, especialmente, queles que pretendam implementar inova

es.

Dentro desse contexto, a perspectiva de estudo sobre estratgias de ocupao espacial, como fato gerador de transformaes positivas e desencadeadoras de oportunidades, pode vir a contribuir,

sensivelmente, ampliao de horizontes no desenvolvimento micro regional.

No caso em estudo, o direcionamento terico implica na escolha de uma micro regio que, como qualquer outra, tem a pretenso de receber investimentos empresariais. Com o que se pretende possibilitar uma perspectiva de crescimento econmico e, como conse

qncia, agregar benefcios, dentre os quais, insta dizer, se inscre

3 MARKOVITCH, Jacques. Globalizao. RAE Light So Paulo, v.2, n. 3, p. 67, mai/jun. 1995.

4 ld. ibid., p. 66.

3

vem: gerao de empregos, retorno de ICMS (Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios) s municipalidades e elevao da qualidade de vida, alm de outros que ora poderiam ser aqui mencionados, tambm.

De carter multidisciplinar, o tema em apresentao encontra-se difuso em vrias reas do conhecimento humano. Situa-se, principalmente, entre as cincias sociais, e encontra ressonncia junto a disciplinas relacionadas administrao (pblica e privada),

engenharia da produo, economia, poltica, direito, sociologia, psicologia organizacional e psicologia social.

1.1 Problemtica

O crescimento populacional aliado ao processo acelerado de mudanas ocorridas em termos globais, afetam consideravelmente o desenvolvimento micro regional. A concretizao da globalizao eco

nmica pode significar para algumas regies o empobrecimento. Diante desse fato, primordial um planejamento adequado a preservar aquilo conquistado, bem como, efetivao de novos empreendimentos.

Voltados a preencherem necessidades imediatas, com caractersticas polticas na maioria dos projetos, a estrutura criada pe

los governos municipais para garantir investimentos da classe empresarial, passa, obrigatoriamente, pelas concesses sem muitos critrios avaliativos. Esse tipo de conduta, deixa de visualizar, na maioria dos casos, uma integrao scio-econmico-cultural voltada a desen

volver certa regio.

Diante de tais manifestaes, foi que surgiu a necessidade

de se estabelecer este estudo vislumbrando a perspectiva de desenvolvimento de estratgias de ocupao espacial voltadas ao progresso

micro regional. Neste caso, a inteno maior aqui pretendida reconhecer a necessidade de um processo de mudana no desenvolvimento micro regional. Para se estabelecer um ponto de referncia para tal

4

estudo, necessrio a determinao de uma regio.

Sendo histrica, bem localizada geograficamente e com caractersticas prprias da Associao dos Municpios da Regio de Laguna - AMUREL, figura como cenrio de ao para tal fim.

O desenvolvimento de estratgias de ocupao espacial identificar oportunidades nas caractersticas da Micro Regio em estudo, bem como poder abrir espao para promover a gerao de fontes de produo, trabalho e renda.

Para que seja contempornea, a realizao deste estudo passa, necessariamente, pela tica dos novos paradigmas, buscando

integrar critrios comuns caractersticos de cada municpio com fatores relevantes ao desenvolvimento sustentvel.5

A urgente necessidade de se manter a Micro Regio da AMUREL em franco desenvolvimento, est na preparao planejada do futuro. A eliminao de fatores adversos a essa conquista, ter que fluir de modo que tais sejam combatidos de forma consciente por parte da sociedade e apoiada insistentemente pelo poder locai.

Silva, (professor do Departamento de Planejamento e Anlise Econmica Aplicados Administrao - Fundao Getlio Vargas, So Paulo), entende que a vida econmica o resultado do compor

tamento dos agentes, que est associado a um conjunto de motivaes estabelecido dentro de um determinado arranjo institucional,6 o qual pode servir obteno do equilbrio entre o setor produtivo e as necessidades sociais.

Sobre tal aspecto, o jornalista Paulo Ramos Derengoski, co-

5 Desenvolvimento sustentvel skpifica garantir o desenvolvimento econmico, procurando respeitar o meio ambiente. DEMAJOROVIC, Jacques apud FARIA, Luciana Jacques. Meio ambiente e resduos slidos: avanos e limites na cidade de Viena e lies para So Paulo. RAE Light So Paulo, v. 2, n. 2 p. 36, mar./abr. 1995.

6 SILVA, Marcos Fernandes Gonalves da. Polticas de govemo e planejamento estratpco como problemas de escolha pblica II. RAE - Revista de Administrao de Empresas. So Paulo, v.36 n. 4, p. 38-50, out./nov. 1996.

5

menta: No mundo atual, o capital global, mas o emprego, o trabalho, local.7 Isso refora a idia quanto a possibilidade de estabelecer-se objetivos direcionados ao desenvolvimento micro regional segundo as caractersticas individuais de cada municpio.

Desse modo que a criao de perspectivas favorveis

implementao de espaos produtivos para os municpios integrantes da Regio da AMUREL e um centro inteligente na cidade de Tubaro, encampa a idia do desenvolvimento de estratgias de ocupao espacial.

1.2 Objetivos

1.2.1 Geral

Estabelecer perspectivas de estratgias de ocupao espacial favorveis implementao de espaos produtivos para os Muni-

cpios-Membros da Regio da AMUREL e um centro inteligente cidade de Tubaro.

1.2.2 Especificos

a) Desenvolver perspectivas de estratgias de ocupao espacial;

b) fortalecer o desenvolvimento micro regional;

c) identificar oportunidades nas caractersticas da Micro Re

gio;

d ) reconhecer a necessidade de um processo de mudana

para o desenvolvimento dessa Micro Regio;

e) harmonizar critrios comuns s especificidades de cada

municpio;

f) identificar meios promoo da gerao de fontes de pro-

7 DERENGOSKI, Pauto Ramos. O gtobai e tocai. A Notcia. Jomvite, n. 21539, 13 mar. 2000, p. A3.

6

duo, trabalho e renda.

1.3 Hipteses

1.3.1 Geral

Associar-se novos paradigmas a um planejamento que integre sociedade e economia local possibilita propor estratgias de ocupao espacial, objetivando promover o desenvolvimento sustentvel da Micro Regio.

1.3.2 Subjacente

Interferir-se no processo natural de ocupao, atravs de apoio oficial, gera atitudes competitivas entre municipalidades e poder

de barganha nos responsveis pela gerao de fontes de produo, trabalho e renda.

1.3.3 Interveniente

Incorporar-se estratgias de ocupao espacial, integradas a polticas estruturais locais, bem como, observar o processo scio- econmico-cultural, viabiliza, sensivelmente, o processo de desenvol

vimento sustentvel micro regional.

1.4 Importncia do tema

A contextualizao poltica, econmica, tecnolgica, pedaggica, ecolgica e social imposta atualmente pela globalizao, afetam consideravelmente as condies de competitividade das micro regi

es.

Na atualidade, um dos grandes desafios das micro regies o desenvolvimento do espao local. Tal empreendimento encontra

ressonncia em todas as direes geogrficas do Pas. No entanto, depende principalmente de um conjunto de aes integradas entre so

ciedade civil e governo.

7

Dentro desta linha de raciocnio, deve-se ter em mente que tais aes possam levar uma micro regio envolvida uma organizao estrutural subsidiada pelo poder local com contrapartida da po

pulao participante.

Nesse processo de desenvolvimento micro regional fica evidente a importncia de estudo sobre estratgias de ocupao espa

cial.

Uma anlise particular do perfil scio-econmico-cultural dos

municpios integrantes de uma micro regio, buscando identificar oportunidades nas caractersticas locais, faz vislumbrar a possibilidade de integrar-se interesse social, eficincia econmica e prudncia ecolgica como fatores positivamente determinantes do crescimento.

Outro elemento que assinala a importncia deste estudo e, por conseguinte, justifica a execuo desta dissertao, reside na falta de literatura especfica sobre o tema proposto, vez que poder a mesma contribuir, sensivelmente, a outros interessados em conhecer,

desenvolver e aprofundar o assunto.

O fato de ter-se escolhido a Regio da AMUREL como cenrio realizao deste trabalho situa-se na importncia histrica e econmica e nas peculiares caractersticas que a mesma apresenta,

aspectos relevantes para este estudo.

Alm de ser a Regio de origem do autor, a situao geogr

fica, a agricultura regional, a cidade plo existente, a estrutura modal, o centro educacional, o potencial turstico e a miscigenao de cultu

ras, figuram como alguns pontos determinantes desta escolha.

1.5 Estrutura do memorial

Construdo em cinco captulos, todos atendendo funes metodolgicas, tericas e prticas distintas, cada um deles apresenta

as seguintes finalidades:

8

(a) Neste captulo buscou-se estabelecer os limites desta pesquisa, apresentar suas intenes e os mtodos empregados.

(b) O segundo captulo reporta-se contextualizao estadual, regional e micro regional, indicam-se as caractersticas s- cio-econmico-culturais. Em outra instncia, o enfoque fica direcionado diviso poltico-administrativa das Micro Regies Sul Catarinen

ses, populao total e taxa de urbanizao, bem como s suas principais atividades econmicas.

(c) Subseqentemente, no terceiro captulo, enfocam-se os mercados globais e as modalidades de desenvolvimento, sendo, no primeiro caso, a nfase est voltada globalizao da economia e formao dos blocos econmicos, e no segundo aos tipos de desenvolvimento aos quais a estratgia de ocupao espacial se propem a promover.

(d) No quarto captulo apresenta-se uma perspectiva de estratgia de ocupao espacial, considerando-se fatores estruturais e

conceituais aplicveis Regio da AMUREL.

(e) No quinto e ltimo captulo efetua-se avaliao sobre o memorial, observa-se a metodologia (o sistema) a que ele se prope desenvolver ante as reais necessidades do sistema no qual se inscreve. Desta forma, conclui-se acerca dos objetivos anteriormente apresentados, especialmente no que pertine ao atingimento dos mesmos.

Em outra instncia, estabelece-se paralelo entre as vanta

gens e limitaes.

Cumpre, tambm, s concluses elencadas mostrar como se

pretende transferir os resultados alcanados ao pblico-alvo, vale frisar, abrangendo quatro esferas: ecolgica, social, empresarial e go

vernamental da Regio da AMUREL.

Por este prisma, resta dizer que os captulos seguintes ficam

assim sumarizados:

9

Captulo 2 - Visa trazer luz correlaes significativas elaborao de estratgias de ocupao espacial numa perspectiva de

desenvolvimento Micro Regio da AMUREL. O acervo revisado e discutido reporta-se caracterizao regional e micro regional, situando-as no contexto do padro de desenvolvimento assumido pelo Estado de Santa Catarina.

Captulo 3 - Esse captulo versa a respeito dos mercados globais e das modalidades de desenvolvimento. Assim, em primeiro plano trata sobre a globalizao da economia e a formao dos blocos econmicos. Em segundo, o foco de ateno fica direcionado aos ti

pos de desenvolvimento dos quais a estratgia de ocupao espacial ferramenta, reclamando captulo parte.

Captulo 4 - 0 objetivo desse captulo apresentar os fatores estruturais e conceituais que influenciam no estabelecimento

de estratgias de ocupao espacial, sendo que a observncia a tais aspectos e a aplicabilidade por parte das municipalidades e investidores figura de modo relevante no estabelecimento da proposta em linha.

Captulo 5 - Enseja retomada importncia do tema, avalia o trabalho e observa o sistema a que ele se prope a desenvolver.

De outro lado, conclui acerca dos objetivos anteriormente apresentados, especialmente no que pertine ao atingimento dos mesmos e sobre a corroborao/refutao das hipteses levantadas.

Cumpre, tambm, recomendaes e mostrar caminhos, ob

servando a necessria sintonia intercultural com os novos paradigmas e o estabelecimento de intercmbios, enquanto fonte de promoo do

aprendizado scio-econmico-cultural.

1.6 Metodologia

A bem da ordem metodolgica, os procedimentos emprega

dos consecuo deste memorial implicaram, dado o carter da pr

10

pria matria, no uso do sistema de abordagem de inferncia indutiva, haja vista o contedo referente seguir do todo s partes.

De outro lado, considerando-se a natureza reflexiva desta matria que foram adotados os mtodos de procedimentos descritivo e argumentativo.

Decerto, expe do acervo coletado atravs das tcnicas de pesquisas bibliogrficas, das quais apenas utilizou-se o mtodo de documentao direta por consulta a obras das fontes primrias e secundrias, todas listadas em referncias bibliogrficas e as demais, as no citadas, elencadas em bibliografia, conforme pode ser adiante observado.

1.7 Limitaes do estudo

As limitaes deste trabalho esto relacionadas sua prpria natureza. Todas as anlises scio-econmico-culturais funda

mentadas em apenas uma perspectiva so parciais e, portanto, incompletas, uma vez que implicam em reduo dessa realidade a um ponto de vista subjetivo.

A interpretao do desenvolvimento regional , na atualidade, um dos temas que geram muitas discusses e, em particular, a de como inserir-se, da melhor forma, em uma economia cada vez mais

competitiva e globalizada. Juntamente com tal questo, surgem os impactos scio-econmico-ambientais que, cada vez mais, tm e tero importncia na tomada de decises.

Na qualidade de perspectiva, o presente trabalho prope um

planejamento estratgia de ocupao espacial fundamentada no desenvolvimento regional sustentvel. Deste modo, encontra limita

es tericas e prticas relacionadas complexidade do tema, assim como, ao fato de estar baseado em fontes secundrias.

Uma outra limitao observada que, por definio, uma

pesquisa desta natureza possui carter interdisciplinar e, como estu

11

do, foi desenvolvida com base disciplinar individual, o que, portanto, reflete nos resultados alcanados.

Contudo, pretende-se superar algumas destas limitaes e oferecer um instrumento que possa contribuir s discusses polticas acerca da Regio da AMUREL.

2 ASSOCIAO DOS MUNICPIOS DA REGIO DE LAGUNA - AMUREL

CONTEXTO ESTADUAL, REGIONAL E MICRO REGIONAL

2.1 Introduo

Objetivando trazer iuz correlaes significativas elaborao de estratgias de ocupao espacial, dentro de uma perspectiva de desenvolvimento Regio da AMUREL, segundo princpios consagrados pela engenharia da produo e, em particular, do desenvolvimento sustentvel, necessrio, em primeira instncia, que o acervo

referente seja revisado e discutido conforme diviso ensejada a sub- titulao deste captulo ou seja, que se reporte contextualizao

estadual, regional e micro regional.

Cumpre, deste modo, apresentar a economia local, situando- a no contexto do padro de desenvolvimento assumido pelo Estado de

Santa Catarina.

No caso deste memorial, a descrio das principais dimen

ses do Estado de Santa Catarina, de sua Regio Sul e da Regio da AMUREL, compreende uma fase do processo de planejamento usual

mente denominada diagnstico.

Portanto, as informaes gerais abaixo elencadas, constituem-

13

se nas pilastras centrais sobre as quais est sustentada a perspectiva

a que se reporta o captulo 4.

Assim sendo, no primeiro bloco de assuntos apresenta-se, por linhas gerais, o contexto estadual; sendo que no segundo e no terceiro, adota-se este mesmo eixo metodolgico, porm, com enfoque direcionado Regio Sul do Estado e AMUREL, sendo esta l

tima objeto deste estudo.

Desse modo, apresenta-se nos itens abaixo o modelo eco

nmico regionalizado de Santa Catarina, tendo como pano-de-fundo o posicionamento das escolas neomarxista, o pensamento clssico em

presarial e a corrente ecltica, que utiliza fundamentos de ambas as outras.

Seqencialmente, com o intento de alcanar viso macro faz- se aluso situao da indstria catarinense, evidenciando-se tam

bm os plos econmicos do Estado.

Complementarmente, faz-se referncias qualidade de vida

do Estado, ao PIB per capta nacional e estadual.

Em outra instncia, o enfoque fica direcionado diviso po-

ltico-administrativa das Micro Regies Sul Catarinenses, populao total e taxa de urbanizao, bem como suas principais atividades

econmicas.

2.2 Contexto estadual

Antes de dissertar acerca dos aspectos referentes AMUREL, cumpre evidenciar alguns dados gerais pertinentes ao Estado de

Santa Catarina, conforme segue:

Localizao: Centro da Regio SulSigla: SCrea: 95.442,9 km2Capital: FlorianpolisRelevo: Plancies litorneas, Planalto Atlntico e de-

pressoVegetao: Mata Atlntica, Mata de Araucria, mangues e camposPopulao: 5.333.845 habitantes (2000)Densidade populacional: 55,88 hab/km*Municpios 293 Analfabetismo: 10,4%Rios principais: Uruguai, Canoas, Negro, do Peixe, Itaja, Iguau, Chapec e Tubaro Clima: SubtropicalTemperatura mdia anual: inferiores a 18C Chuvas: Freqentes, bem distribudas Cidades mais populosas: Joinville, Blumenau, Florianpolis, Cricima, Itja e Chapec Limites: Paran (N), Oceano Atlntico (L), Rio Grande do Sul (S) e Repblica da Argentina (O) conforme pode ser visto abaixo.n1

MAPA DO ESTADO DE SANTA CATARINA Parcial do Conesul

Fonte: Santa Catarina, 2000.

Situado no Sul do Brasil, o Estado de Santa Catarina fica nocentro geogrfico das regies de maior desempenho econmico do Pas, Sul e Sudeste. Sua capital est a 1.850 quilmetros de Buenos Aires, 705 quilmetros de So Paulo, 1.144 do Rio de Janeiro e 1.673

de Braslia. Sua posio no mapa situa-se entre os paralelos 2557' 41" e 2923'55" de latitude Sul e entre os meridianos 4819'37" e

1 SANTA CATARINA. Disponvel em: Acesso em: 03 dez. 2000.

http://wvm.sc.gov.brAurismo.htm

15

5350'00" de longitude Oeste.

Politicamente dividido em 08 Regies,2 por sua vez, subdividas em 20 Micro Regies,3 que juntas, consoante sobredito, totalizam

293 municpios.

Dentro deste contexto, a Regio Sul encampa as Micro Regi

es da AMESC, AMREC e AMUREL, adiante enfocadas.

Conforme pode ser observado, Santa Catarina apresenta localizao privilegiada no Mercosul - bloco econmico formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, cujas economias somam mais de US$ 1 trilho. O Estado fica a meio caminho entre os dois maiores plos industriais do continente, So Paulo e Buenos Aires, e a menos de duas horas de vo das capitais dos Pases vizinhos. A ligao terrestre est sendo facilitada com a duplicao da rodovia BR-101 -

Corredor do Mercosul.

Isto coloca o Estado em uma posio cobiada. Seus produtos so distribudos com facilidade a milhes de consumidores da regio mais rica da Amrica do Sul. Uma vantagem adicional que Santa Catarina tem um mercado interno com alto poder de consumo - pesquisa recente mostra que na capital, Florianpolis, cada morador

gasta em mdia US$ 5.310 por ano apenas em supermercados e sho-

2 Litoral, Nordeste, Vale do ttajai, Planalto Norte, Planalto Serrano, Sul, Meio-Oeste e Oeste.

3 AMAI - Associao dos Municpios do Atto Irani; AMARP - Associao do Alto Vale do Rio do Peixe; AMAUC - Associao dos Municpios do Alto Uruguai Catarinense; AM AVI - Associao dos Municpios do Alto Vale do Itaja; AMEOSC - Associao dos Municpios do Extremo Oeste de Santa Catarina; AMERIOS - Associao dos Municpios do Entre-Rios; AMESC - Associao dos Municpios do Extremo Sul Catarinense; AMFRI - Associao dos Municpios da Foz do Rio Itaja; AMMOC - Associao dos Municpios do Meio Oeste Catarinense; AMMVI - Associao dos Municpios do Meio Vale do Itaja; AMNOROESTE - Associao dos Municpios do Noroeste Catarinense; AMOSC - Associao dos Municpios do Oeste de Santa Catarina; AMPLA - Associao dos Municpios do Planalto Norte Catarinense; AMPLASC - Associao dos Municpios do Planalto Sul Catarinense; AMREC - - Associao dos Municpios da Regio Carbonfera; AMUNESC - Associao dos Municpios do Nordeste de Santa Catarina; AMURC - Associao dos Municpios da Regio do Contestado; AMUREL - Associao dos Municpios da Regio de Laguna; AMURES - Associao dos Municpios da Regio Serrana; AMVAU - Associao dos Municpios do Vale Itapo; GRANFPOLIS - Associao dos Municpios da Grande Florianpolis.

16

ppings. 4

Embora seja o menor Estado da Regio Sul, um dos mais

ricos e promissores do Brasil, haja vista a composio dos bens naturais que possui: litoral com praias belssimas; serras que ficam cobertas de neve no inverno; estncias termais espalhadas por diversos pontos do Estado; vales com paisagens buclicas - todos evidencian

do o potencial turstico local que, diga-se de passagem, reconhecido por turistas nacionais e estrangeiros.

2.2.1 O modelo econmico regionalizado de Santa Catarina

Santa Catarina representa cerca de 1,12% do territrio nacional, envolve 3,14% da populao total do Pas, que de 169.544.443

habitantes.5

O Estado um dos principais produtores de alimentos do Brasil. Sua produo agropecuria corresponde a 17,5% de toda a riqueza produzida.6 Esse desempenho se deve qualidade do solo, alta produtividade e distribuio fundiria equilibrada. Do total de

suas terras, 40,6% esto divididas entre propriedades pequenas, com menos de 50 hectares, e 43,0% entre propriedades mdias, entre 50 e 1.000 hectares, em mdia, trabalhadas fundamentalmente por famli

as.7

O modelo de industrializao catarinense, contrariando o seguido pelo Brasil e demais pases em desenvolvimento, vem ocorren

do de forma regionalizada, ao redor de certas cidades plos, sendo a

Regio Sul exemplo disso.

Esse modelo de desenvolvimento, regionalizado e descentra

4 Revista Veja. So Paulo, p. 68, mar. 1999.

5 SCHMIDT, Karen. Santa Catarina em destaque. A Notcia. Joinville, n. 21426, 10jan. 2001, p. A4.

6 Id. Ibid.

7 Id. ibid.

17

lizado, representa um avano importantssimo para a teoria do desenvolvimento brasileiro e latino-americano, posto que, no Brasil o processo de industrializao e urbanizao concentra-se, principalmente, em So Paulo e Rio de Janeiro, ou seja, via de regra, s voltas das

grandes cidades.

O modelo de desenvolvimento industrial catarinense, relativamente importante em relao ao Pas, no est concentrado na capital, mas, espalhado em cidades plos especializadas com pequenas

e mdias empresas.

A rede surgida com a industrializao e urbanizao regionalizada proporcionou equilbrio s cidades, em geral de mdio porte, sendo que apenas dez delas possuem populao superior a 100.000 habitantes e nenhuma ultrapassa a 500.000 .8

As diversas correntes clssicas da teoria do desenvolvimento tentam explicar esse modelo regional diferenciado atravs de trs posies distintas, quais sejam:

(1) Posio neo-marxista. Os defensores desse posiciona

mento argumentam que no sistema capitalista existe um centro e uma periferia. Portanto, nos pases perifricos existem metrpoles ou centros internos, subsatelizando o que se pode chamar de periferia interna. Esses tericos argumentam que no caso do Brasil as metrpoles so Rio e So Paulo - principais centros em relao s demais regi

es do Pas.

Nessa linha de pensamento, Santa Catarina aparece no

cenrio regional com a funo de suprir os centros exportadores ou atuar como corredor para cumprir essa funo.

A leitura dessa perspectiva terica determinista, haja vista no abrir espao s possibilidades de uma regio poder configurar um modelo de desenvolvimento alternativo. Decerto, se assim o

8 SCHMIDT, Karen, ibid, p. A4.

IS

fosse, dentro de uma perspectiva macroeconmica, Santa Catarina estaria cumprindo a funo de pano-de-fundo do desenvolvimento regional.

(2) Pensamento clssico empresarial. Essa corrente ignora

os fatores externos e estruturais que determinam as aes dos indivduos. Para os seguidores dessa linha de pensamento, o desenvolvimento de uma regio ou nao tem a ver com fatores subjetivos, culturais, tcnicos e organizacionais, dentre outros.

Por esse prisma, o desenvolvimento diferenciado de Santa Catarina tem de ser compreendido, em especial, no contexto do imigrante

europeu, que trouxe consigo uma viso diferente de fazer as coisas. Isso pode ser empiricamente constatado, j que o povoamento de Santa

Catarina foi, predominantemente, de aorianos, alemes e italianos.9

Confirmando a realidade emprica tem-se o seguinte:

Uma palavra pode sintetizar o mosaico humano que habita Santa Catarina: multiculturalismo. Ao longo de sua Histria, sucessivas correntes migratrias moldaram a ocupao do territrio com uma rica diversidade de costumes. Esta contribuio deixou marcas profundas no cotidiano e na econo-

9 *A partir do sculo XVI os portugueses chegam a Santa Catarina e construram alguns povoados. [...] Os aorianos se instalaram em pequenas propriedades e trabalharam na agicultura de subsistncia, alm da pesca artesanal. Deixaram para seus descendentes a arquitetura tpica, a culinria baseada em frutos do mar, o sotaque e um rico folclore, entre outras heranas. Em todo o litoral catarinense h marcas desta cultura. [...] Os alemes e italianos vieram para Santa Catarina mais tarde, em meados do sculo XIX. Os primeiros a chegar foram os alemes. Instalaram-se na regio do Vale do Itaja e foram avanando pelo interior. Com trabalho e determinao, araram terras, constituram pequenas propriedades e iniciaram negcios, muitos dos quais tomaram-se parte vital na engrenagem da economia catarinense. Eles trouxeram os conhecimentos dos mestres teceles, moveleiros, mecnicos, qumicos, metalrgicos e cervejeiros. No fim do sculo XIX foi a vez dos italianos, a maior corrente migratria recebida pelo estado. Seus descendentes representam aproximadamente metade da populao do estado. Eles se estabeleceram nas proximidades das colnias alems e mais para o interior. Ocuparam principalmente a Regio Sul, prxima ao litoral. Trouxeram sua contribuio com tcnicas de cultivo de gros, vinicultura, produo de queijos e embutidos. As principais cidades de colonizao italiana - Cricima, Urussanga e Nova Veneza - preservam as tradies herdadas dos pioneiros: o cultivo da uva e do vinho [...]. SANTA CATARINA, toe. cit.

10 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. O potencial catarinense. Florianpolis: FIESC, 1990. v. 1, p. 48.

19

(3) Corrente ecltica. uma postura de autores que tentam integrar as duas escolas anteriores, de um lado, consideram a importncia dos elementos externos e, de outro, os fenmenos internos.

Ceciie Raud em Industria, Territrio e Meio Ambiente no Brasil comenta o seguinte:

Sem subestimar as presses exgenas, ns enfatizamos as dinmicas internas nacionais locais, ou seja, a capacidade das comunidades de se organizarem e aproveitarem as condies impostas a fim de melhorar o seu bem-estar.

Essa viso implica estudar, alm dos aspectos econmicos, os elementos culturais, polticos e sociais. i1

Entende-se, portanto, que ambas as interpretaes observadas, cada qual ao seu turno, tm contribuies tericas inquestion

veis, usualmente empregadas para contrastar o diferencial que h entre o modelo econmico regionalizado de Santa Catarina e a tendncia seguida pelos demais estados brasileiros.

A situao da indstria catarinense. Sobre este assunto precisas so as seguintes palavras:

*A indstria de transformao do Estado tem posio de relevo no cenrio nacional. Ela a quinta do Brasil em nmero de trabalhadores (326 mil) e a sexta em quantidade de empresas. H 150 mil empresas familiares, dos mais diferentes portes. Os segmentos de destaque so os seguintes: agroindstria; eletro-metal-mecnica; txtil; infom- tica; cermica/minerao; turismo; florestal.12

Melhor retrata o citado a suma elaborada em funo dos plos econmicos, qual seja:

11 RAUD, CECILE apud SOUZA Nali de Jesus de. Desenvolvimento econmico. So Pulo: Atlas,1993. p. 214.

12 ld. ibid.

20

QUADRO SINPTICO

PLOS ECONMICOS DO ESTADO DE SANTA CATARINA

PLO ECONMICO DESCRIO

A gro industria l Envolve 1.300 indstrias, que empregam 35 mil pessoas e concentra a maior parte da produo de alimentos do Estado. O setor est investindo US$ 430 milhes para aumentar a produtividade.

Florestal Abrange 1.900 empresas de madeira, 1.180 moveleiras e 117 de papel e papelo. Seu parque moveleiro o maior da Amrica Latina, com exportaes de US$ 200 milhes em 1998.

E letro-m etal-mecnico

Formado por 1.434 indstrias metalrgicas, 517 mecnicas e 195 de material eltrico e de comunicao, emprega 59 mil trabalhadores. O setor est investindo US$ 500 milhes na expanso de suas atividades.

Txtil/ves turio Maior concentrao de indstrias do setor na Amrica Latina (339, das quais 120 de grande porte) e considerada como a segunda maior do mundo. O setor fatura US$ 2 bilhes/ano e responde por 70% das exportaes de txteis do Pas. Esto sendo investidos 500 milhes de dlares para aumentar a competitividade.

Plo m ineral Os segmentos carbonfero e cermico, juntos, tm mais de 1.300 empresas. As indstrias de cermica tm faturamento anual de meio bilho de dlares e respondem por 60% da produo brasileira de pisos e revestimentos. Santa Catarina o maior produtor de carvo mineral do Pas.

T urstico Santa Catarina recebeu 2,2 milhes de turistas no vero 1998/99 e arrecadou 365 milhes de dlares. H 811 empreendimentos instalados, com capacidade para 69 mil leitos. Os municpios que mais atraem visitantes so Florianpolis, Balnerio Cambori e Blumenau, mas os atrativos tursticos esto distribudos por todo o Estado.

In form tica O Estado tem 600 empresas de software, que faturam US$ 260 milhes/ano e empregam 6 mil trabalhadores. Muitas delas so provenientes de laboratrios universitrios e de incubadoras tecnolgicas.

Zona de Processam ento de Exportaes

Localizada margem da rodovia BR-101, a 90 km da capital e a 4 km do Porto de Imbituba, a ZPE uma rea de 200 hectares que oferece liberdade cambial e incentivos fiscais a empresas exportadoras.13

Fonte: IBGE, 2000.

13 O municpio de Imbituba, no Rtoral Sul do estado, Municfpio-Membro da AMUREL, sede do projeto de implantao da ZPE - Zona de Processamento de Exportaes. Localizada na margem da rodovia BR-101, a quatro quilmetros do porto de Imbituba e a trs quilmetros de um terminal ferrovirio, ela oferece liberdade cambial e diversos incentivos fiscais para a instalao de empresas. A ZPE est sendo instalada em uma rea de 200,5 hectares -100 hectares na primeira etapa. Sua infra-estrutura tem sistema virio, equipamentos comunitrios, saneamento bsico, energia eltrica e telecomunicaes, conta tambm com duas instituies de ensino disponveis na Regio Sul para treinamento e formao de pessoal.

21

O desenvolvimento econmico acelerado que diferencia Santa Catarina dos demais estados brasileiros assegurado pela sua

excelente infra-estrutura. Seus portos, rodovias, ferrovias e aeroportos esto entre os melhores do Pas. Dos 6,7 bilhes de dlares que

sero investidos no setor produtivo e na infra-estrutura do Estado at 2003, quase 3 bilhes iro para energia, transporte e saneamento bsico.

A diversidade geogrfica e humana de Santa Catarina surpreendente para um territrio de apenas 95,4 mil quilmetros quadrados - do tamanho aproximado de pases como ustria, Hungria, Irlan

da ou Portugal.

H 100 anos, sem um territrio definido - um tero dele estava sendo contestado na justia, sem um povo que pudesse ser identificado como catarinense e com cinco diferentes idiomas semi-oficiais,

o Estado era um conjunto de ilhas sociais e culturais.

Crescendo base de planejamento estadualizado,14 cada uma delas buscou seu prprio modelo de desenvolvimento. Como resultado, foram conformados diferentes cenrios humanos e econmi

cos, desintegrados entre si, verdade, mas com rara harmonia no seu conjunto. E isso assegurou ao Estado caractersticas absolutamente singulares. Com pouca terra - e a disponvel de difcil manejo - o agricultor catarinense partiu para a agricultura de alta tecnologia.

Os catarinenses construram ao longo de sua histria um modelo econmico diferenciado, cujo motor a fora das pequenas e

mdias empresas. Conhecimento, diversificao e qualidade dos produtos so vistos como prioridades. O sucesso deste modelo se deve,

especialmente, a quatro vocaes econmicas: agricultura; indstria; exportao; e turismo.

Esta base diversificada tem dado impulso a um crescimento

14 SOUZA Nali de Jesus de, ibtd., p. 127.

22

vigoroso. Nos ltimos 30 anos, a economia do estado cresceu 340,0%, bem mais que a mdia brasileira.5 Os produtos catarinenses so hoje consumidos em mais de 170 p a se s /6 E a diversificao fabril tem protegido contra as instabilidades da conjuntura econmica

nacional e internacional.

No segmento industriai superou carncias de matrias-primas e mercados, visto que possui um parque industrial de notvel dimenso, ltimo reduto da empresa genuinamente nacional.

No setor de servios, o Estado tambm apresenta excelente performance: o terceiro plo na recepo de turistas estrangeiros, aproximando-se dos dados das duas maiores metrpoles brasileiras.

Revendo a histria de Santa Catarina percebe-se que os cenrios atuais - guardadas as devidas propores, claro - no diferem, do ponto de vista das oportunidades, de 100 anos atrs: o homem continua se alimentando, continua exercendo atividades econmicas, continua buscando o entretenimento e continua, tambm, se relacionando com outros povos. Sendo a premissa verdadeira, o Estado h que se empenhar ainda mais na abertura das quatro portas que representam as quatro grandes oportunidades de Santa Catarina: a agricultura, a micro e a pequena empresa, o turismo e a exportao.

Na agricultura est voltado gerao de produtos de maior valor agregado, cultivados num ambiente de auto-sustentao, dentro de rgidos padres de conservao ambiental.

Para a micro e a pequena empresa est implementando o micro crdito, fora dos padres bancrios tradicionais, criando oportunidades para que novos empreendedores agreguem o seu talento e a sua criatividade economia de Santa Catarina.

15 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA, op. dt., p. 75.

16 ld. ibid.

23

No turismo, est negociando com agente financeiro internacional um ousado programa de adequao da infra-estrutura. No entanto, ao empreendedorismo catarinense cumpre fazer a sua parte: implementar novos negcios, gerar mais empregos, criar novas ri

quezas. O entretenimento em Santa Catarina tem um enorme potencial a ser desbravado.

Nas exportaes visa buscar um comrcio internacional, proporcionalmente, mais ativo que o do Brasil, em termos de PIB. Capacitando a micro e a pequena empresa tambm para o comrcio planetrio, estar criando as oportunidades para que os novos empreendedores de Santa Catarina - imitando seus antepassados - internalizem poupanas externas, pondo-as a servio da prosperidade de todos.

O modelo econmico catarinense comprovadamente bem- sucedido. Ele se caracteriza pela diversificao de atividades, fora

das empresas familiares de pequeno e mdio porte, vocao exportadora, pujana agrcola, enorme potencial para o turismo e nfase na inovao.

Com 3% da populao do Brasil, o estado gera 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do pas e responsvel por 5,7% das exportaes, sendo o quinto maior exportador. Nas ltimas trs dcadas, a economia catarinense cresceu mais de trs vezes, um ndice superior ao nacional. Enquanto o PIB per capita brasileiro de US$ 5.053, o de Santa Catarina de US$ 6.844.

Uma comparao com trs pases vizinhos na Amrica do Sul bastante ilustrativa: o PIB de Santa Catarina, de 34 bilhes de dlares (1997), equivale metade do PIB do Chile, maior que o do Uruguai e trs vezes superior ao do Paraguai.

No h grandes desequilbrios regionais e a riqueza bem distribuda. A capital, Florianpolis, detm 12% do poder aquisitivo, seguida de perto por Joinville (10%) e Blumenau (7% ).17

17 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA ibid., p. 68.

24

O complexo tecnolgico catarinense est em rpido crescimento, graas infra-estrutura favorvel, aos incentivos do governo e cooperao com universidades. A formao de alianas estratgicas

entre os segmentos acadmico e produtivo tem dado excelentes resultados.

Os catarinenses so conhecidos pela dedicao ao trabalho. Esta uma herana cultural dos pioneiros europeus que aqui se instalaram nos sculos XVIII e XIX, dependendo unicamente de seu prprio esforo para progredir.

Alie-se esta caracterstica prioridade dada pelas famlias educao, fazendo com que tenha um perfil diferenciado de profissionais: esforados, empreendedores, que buscam a evoluo permanente de seus conhecimentos.

O resultado prtico que os trabalhadores catarinenses

so, em geral, bem qualificados, produtivos e abertos a investimentos na sua formao. A parceria entre empresas e universidades tem sido um dos caminhos bem-sucedidos para potencializar tais qualidades.

2.2.2 Qualidade de vida

A situao regional em Santa Catarina reconhecida por um alto nvel de vida, explicada pela boa distribuio de renda. Ao contrrio do que ocorre em outros estados brasileiros, onde a capacidade

do poder de compra se concentra na capital, Florianpolis detm apenas 12% dessa capacidade, aproximando-se desse valor Joinville com

10%, e Blumenau com 7% .18

Cumpre lembrar que o conceito de qualidade de vida usado pela Organizao das Naes Unidas para determinar o ndice de

desenvolvimento humano (IDH), alm de considerar o PIB e a distri-

J

13 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA, ibid.

25

buio de renda (IDH-Renda), tambm encampa sade (IDH-Sade) e educao (IDH-Educao) como indicadores.

Tais indicadores possuem o mesmo peso no clculo do ndice. Para saber-se o grau de sade utilizada a expectativa de vida ao nascer. Para medir-se o nvel educacional so empregadas as matr

culas e a alfabetizao. Para conhecer-se o poder de barganha so usados o PIB e a distribuio de renda. Aps a apurao dos dados estatsticos de cada pas, feita uma mdia geral dos trs indicado

res, cujo resultado varia de 1 a 0. Resultados inferiores a 0,5 indicam baixo desenvolvimento humano; de 0,5 a 0,8 assinalam o estgio intermedirio; e de 0,8 em diante um alto ndice de desenvolvimento humano. 19

A despeito de todos os esforos para calcular os ndices de desenvolvimento humano, entende-se que esses clculos devem ser complementados por outras informaes, posto que tais no inferem sobre o nvel de contaminao, degradao, compleio, de uma re

gio ou localidade, tampouco acerca da maneira que cada comunidade adota produo e recuperao ambiental.

Santa Catarina um dos estados onde se vive mais e melhor no Brasil. Seu IDH de 0,863, considerado elevado, o que o coloca na quarta posio nacional. O catarinense tem a segunda maior expectativa de vida do pas: 71,9 anos.

Dos 80 municpios brasileiros que tm nvel elevado de desenvolvimento humano, 16 so catarinenses. Florianpolis considerada a capital com mais alta qualidade de vida e a segunda melhor

cidade do pas para se viver, conforme os critrios da ONU (Organizao das Naes Unidas).

A taxa de mortalidade infantil em Santa Catarina apresenta ndices significativos, vez que enquanto a mdia brasileira de mortali-

19 SOUZA Nali de Jesus de, op. cit., p. 44.

26

dade infantil de 50 para cada mil nascidos vivos, a de Santa Catarina de 18,1.

A taxa de analfabetismo a metade da mdia do Pas. Cerca de 1,5 milho de catarinenses, 30,0% dos habitantes do Estado, esto na escola - 100 mil no ensino universitrio. H 13 universidades, interligadas por rede de fibra tica, atuantes em todo o territrio.

O custo de vida mais baixo que em outros estados, as escolas so boas e a capacidade de consumo per capita dos catarinenses est entre as mais altas do Pas.

Seguindo prerrogativas do Programa de Desenvolvimento

das Naes Unidas, que adota o IDH para mensurar o desenvolvimento humano, tem-se que o pas com maior IDH o Canad (0,96); o Brasil est na 62a posio (0,809).20

Qualidade uma preocupao permanente dos empreendedores catarinenses, ela assume, no Estado, quilate de pr-requisito para conseguir melhor participao no comrcio exterior. O certificado internacional ISO-9000 j foi conferido a 149 empresas, o que coloca

Santa Catarina na stima posio no ranking brasileiro. Vrias organizaes esto em processo de obteno do ISO-14000, o selo verde de certificao ambiental.

Considerando-se as observaes retro, deve-se ter em mente

que, em geral, o ndice de desenvolvimento humano no Estado predominantemente mdio, conforme pode ser observado no mapa adi

ante exposto.

Dentro deste contexto as Micro Regies AMUREL, e AMREC alcanam, diga-se de passagem, ndice de desenvolvimento social

(IDS) alto mdio, diferenciando-se, dessa forma, de outras regies do Estado e at mesmo do Pas.

20 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA, loc. cit.

27

MAPA DO ESTADO DE SANTA CATARINA - NDICE DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL NAS ASSOCIAES DOS MUNICPIOS

DO ESTADO - 2000

2.2.3 PIB per capita

Sabe-se que o PIB per capita catarinense superior ao bra

sileiro, em escala de 10 a 33%. Contudo, sabe-se tambm que nos l

timos dez anos, a participao de Santa Catarina na economia nacio

nal diminuiu em relao s dcadas anteriores .21

Mesmo ocupando o stimo lugar no ranking de partic ipao

entre os Estados brasileiros, Santa Catarina no consegue conter sua

queda na participao do PIB. Como exemplo disso, tem-se que con

siderando o PIB nacional em 1997, que foi de US$ 800 bilhes, o PIB

de Santa Catarina representou US$ 27,2 bilhes. No que pertine va

riao do PIB per capita, Santa Catarina se distancia consideravel

mente da mdia nacional. Enquanto o PIB per capita brasileiro foi de

US$ 3.700, o catarinense correspondeu, naquele mesmo ano, a US$

5.484.22

21 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA, ibid., p. 40.

22 SANTA CATARINA apud FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA,ibid., p. 71.

28

Segundo Governo de Santa Catarina a contribuio do Estado, por setores da economia, foi a seguinte: agricultura/pecuria 17,51%; indstria 43,14%; e servios 39,35% .23

60% do PIB catarinense provm da produo de bens originrios da agropecuria e de diversos segmentos da indstria. O que mostra uma economia voltada produo de bens fsicos tangveis, operosa e peculiar.

2.3 Contexto regional

Formada por 03 micro regies e composta de 42 dos 293 municpios catarinenses, a Regio Sul de Santa Catarina apresenta a seguinte diviso poltico-administrativa:

AMESC - Associao dos Municpios do Extremo Sul Catarinense. Fundada em 05 de setembro de 1979, composta pelos municpios de Ararangu (sede), Balnerio Arroio do Silva, Balnerio Gaivota, Ermo, Jacinto Machado, Maracaj, Meleiro, Morro Grande, Passo de Torres, Praia Grande, Santa Rosa do Sul, So Joo do Sul, Sombrio e Timb do Sul.

AMREC - Associao dos Municpios da Regio Carbonfera. Existe desde 25 de abril de 1983. formada pelos municpios de Cocai do Sul, Cricima (sede), Forquilhinha, Iara, Lauro Mller, Morro da Fumaa, Nova Veneza, Siderpolis, Treviso e Urussanga.

AMUREL - Associao dos Municpios da Regio de Laguna. Atua desde 14 de agosto de 1970, porm, as suas atividades iniciaram oficialmente em 1974. formada pelos municpios de Armazm, Brao do Norte, Capivari de Baixo, Gro-Par, Gravatal, Imaru, Imbitu- ba, Jaguaruna, Laguna, Orleans, Pedras Grandes, Rio Fortuna, San- go, Santa Rosa de Lima, So Ludgero, So Martinho, Treze de Maio

e Tubaro (sede), conforme constata o mapa adiante apresentado.

23 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA, ibid., 71.

29

2.3.1 Caractersticas

A Regio Sul do Estado, abaixo ilustrada, ocupa rea de 9.705 km2 e, em 1996 possua 763.672 habitantes, representando 15,66% da populao do Estado, com densidade demogrfica de 78,69 habitantes/km2.

Compem-se de 42 municpios, mais da metade (52,5%) so rurais de pequena dimenso, 08 so urbanos, porm, nenhum com grande dimenso. Seu grau de urbanizao de 69,96%, ficando dentre as menos urbanizadas do Estado. Tem como principais centros Cricima e Tubaro, localizados no eixo da BR-101, com centrafidade de nvel forte para mdio, seguidos por Ararangu, com centrali- dade de nvel mdio. Desses, destaca-se Cricima, seja pelo nmero bem mais elevado de populao, seja pela importncia na economia estadual, atraindo para seu entorno um processo de ocupao crescente que o inclui como uma das aglomeraes urbanas brasileiras. 24

O crescimento de sua populao, embora apresentando taxas relativamente baixas e em declnio, demonstra sinais de capacidade de sustentao. A populao rural, com taxas de crescimento negativas nos anos 70 e 80, reduziu esse ritmo entre 1991 e 1996,

passando a apresentar taxas de 0,31% ao ano.25

Entretanto, alguns de seus municpios, a maioria com atividades ligadas agricultura de pequenos produtores, mantm decrscimo acentuado da populao total desde os anos 70.

Um conjunto de municpios cresce mais que a mdia do Estado desde 1970, em torno de Cricima, como Forquilhinha (2,80% ao

ano entre 1991 e 1996), Iara (2,05% ao ano), Morro da Fumaa (1,62% ao ano) e Ararangu (2,80% ao ano).2

24 BOSSLE, Ondina Pereira. Histria da industrializao catarinense: das origens integrao no desenvolvimento brasileiro. Florianpolis: UFSC, 1999. p. 37.

25 Id. ibid., p. 28.

26 SANTA CATARINA. Disponvel em: Acesso em: 20 mai. 2000.

http://www.sc.gov.br/planejamento.htm

30

Mais distantes dessa aglomerao, vale destacar, ficam Brao do Norte, So Ludgero e Sombrio - os primeiros com as mais elevadas taxas de crescimento urbano da Regio.

Essa aglomerao polarizada por Cricima tem sua formao associada peculiaridade da reconverso da base produtiva regional em um curto espao de tempo. Com o declnio da atividade extrati-

vista do carvo, acentuado nos anos 80, a economia evoluiu para a indstria cermica de revestimento - pisos e azulejos, viabilizada pela qualidade da argila existente na Regio. Atualmente, o mais importante parque de cermica existente no Pas, representa cerca de 40%

da produo nacional e 70% das exportaes brasileiras do setor.

Contudo, esse desempenho regional no tem garantido a permanncia de sua expresso na estrutura de renda estadual. Participou, em 1996, com 10,26% dessa renda, metade da contribuio das

regies mais importantes do Estado, com declnio de 2,28%, em relao a 1980.27

Dois de seus municpios destacam-se dentre os que participaram com mais de 1% no valor adicionado de Santa Catarina nos

anos 90: Cricima, com 2,57% em 1996, a 7a posio no ranking do Estado, e Tubaro, com 1,18%, a 11a posio no ranking.28

Sua estrutura produtiva, predominantemente industrial, est concentrada em minerais no-metlicos, que responde por 51,44% do valor da transformao industrial catarinense do gnero em 1985, e por 26% do total da indstria de transformao regional. Cricima,

Tubaro, Urussanga e Imbituba so os principais contribuintes dessa indstria.29

Observe-se que a Regio Sul de Santa Catarina encampa

27 SANTA CATARINA, ibid.

28 Id. ibid.

29 Id. Disponvel em: Acesso em: 20 mai. 2000.

http://www.sc.gov.br/economia.titm

31

quatro grupos empresariais, includos dentre os mais expressivos

do Estado. So empresas que vm expandindo seus investimentos para outras reas e setores. Dentre tais, um dos grupos se particulariza por atuar tambm na produo de mquinas e equipamentos

especializados para a indstria cermica e na linha de carnes e sunos.

A atividade carvoeira, centrada em Cricima, Capivari de Baixo, Urussanga e Imbituba, atende demanda do Complexo Termo- eltrico Jorge Lacerda, localizado em Capivari de Baixo.

A indstria do vesturio participou, em 1985, com 8,54% no valor da transformao industrial da Regio Sul do Estado, e vem

configurando um pto secundrio de confeco. Da mesma forma, a indstria de alimentos, a qumica e a de plsticos ganham expresso regional.

A agricultura apresenta uma complementaridade significativa na economia, respondendo por 16,61% da renda regional de 11,97% do setor agropecurio - a segunda dentre as regies do Estado, porm com grande defasagem em relao primeira (Oeste catarinen

se). Inclui as reas de grande produo de arroz, mandioca, banana e fumo. A maioria dos municpios com superior produo est concentrada ao Sul.

A importncia do setor primrio perceptvel na estrutura ocupacional. Em quase metade dos municpios ainda o setor domi

nante, em 12 municpios, suas atividades absorvem mais de 50% da populao ocupada. Dentre os municpios que apresentam preponderncia de ocupao no setor secundrio, 6 so da aglomerao urbana de Cricima. Alm desses, destacam-se Sombrio, por seu papel na

extenso da indstria caladista gacha; e Garopaba, pela produo de equipamentos esportivos.

Os municpios onde as funes tursticas, porturias ou de

32

servios, so significativas - Ararangu, Gravata!, Laguna e Tubaro.

O mercado de trabalho formal da indstria responde por

38.124 empregos, 12,25% do total de Santa Catarina, concentrados nas atividades do gnero minerais no-metlicos e txtil - que, juntamente com alimentos, vm conseguindo compensar as perdas com os no-metlicos.

Outros segmentos com importante absoro correspondem madeira, extrativismo mineral e calados - esses ltimos apresentando queda substancial no perodo 1986-1996.

Da perspectiva social, a Regio Sul de Santa Catarina situa-

se na mdia das regies do Estado no que se refere proporo de chefes de domiclio com rendimento de at dois salrios mnimos (45,53%) e renda mdia familiar per capita.

A escolaridade mdia da Regio de 4,8 anos de estudo - a quarta posio do Estado, com diferenas internas que favorecem Gravatal, Rio Fortuna, So Martinho e Tubaro, situando em outro extremo Forquilhinha e Jaguaruna, o que demonstra uma desigualdade em que a distncia entre o maior e o menor indicador de quase o dobro. A proporo da populao alfabetizada de 89,03% para maiores de 15 anos, dentre as mais altas de Santa Catarina.

2.3.2 Populao e taxa de urbanizao

AMESC. Em 1980, a populao total da AMESC era de 106.399 habitantes, sendo que 42,66% desse total representava a po

pulao urbana.30

Entre 1980 e 1996, ocorreram crescimentos diferenciados na populao dessa Micro Regio, pois at 1991 a taxa mdia anual era de 2,42%, sendo que de 1991 a 1996 foi de 1,74%.31

30 SANTA CATARINA, ibid.

31 Id. ibid.

Biblioteca Universitria I UFSC

33

Os municpios de Jacinto Machado, Praia Grande, Timb do Sul e Morro Grande tiveram suas populaes diminudas entre 1980 e 1996, enquanto que o municpio de Sombrio, nesse mesmo perodo, registrou crescimento mdio de 4,84% ao ano, portanto, at ento

considerado o municpio com a maior taxa de crescimento da AMESC.32

O municpio mais populoso dessa Micro Regio Ararangu, o qual, em 1980, englobava 31,65% da populao da AMESC, passando para 36,65% em 1996.33

AMREC. Em 1980 o total da populao na AMREC era de

179.644 habitantes, e na ocasio a populao urbana representava 68,1% desse total. A mdia de crescimento da populao entre 1980 e

1991 foi de 4,06% ao ano e de 1991 a 1996 caiu para menos da metade (1,36% anual).34

Entre 1991 e 1996, ocorressem crescimentos negativos/ano de 0,85%, 0,79% e 0,26% nos municpios de Lauro Mller, Nova Veneza e Urussanga, respectivamente.35

Naquele mesmo perodo, a populao em Siderpolis prati-camente ficou estabilizada, vez que o seu crescimento foi de apenas

0,53% ao ano.36

O maior ndice de crescimento de ento foi registrado em

Cricima que a cidade mais populosa da AMREC e do Sul

32 SANTA CATARINA, ibid.

33 Id. ibid.

34 Id. ibid.

35 Id. ibid.

36 Id. ibid.

37 Id. ibid.

Iara (2,01% ao ano).37

34

do Estado possui taxa de urbanizao de 90,42%.38

AMUREL. Em 1980, a populao dessa Micro Regio era

de 247.148 habitantes, sendo que na ocasio a populao urbana

representava 58,05% do total computado pela mesma. No perodo

1980 a 1991, houve um crescimento mdio anual de 1,39%, e no per

odo 1991 a 1996 esse crescimento ficou em apenas 0,87%.39

Do total de 18 municpios da AMUREL, 06 tiveram suas po

pulaes reduzidas no intervalo entre 1991 e 1996, quais sejam: Ima-

ru, Laguna, Pedras Grandes, Santa Rosa de Lima, So Martinho e

Treze de Maio.

Com base no quadro acima, pode-se dizer que o crescimento

mdio de 1,4% da Regio Sul, entre os anos 1991 e 1996, igual media

estadual.40 Observa-se que existe um movimento positivo e uma con

centrao espacial entorno de Cricima, municpio que lidera a Regi

o. Entretanto, h baixo dinamismo em reas ligadas agricultura.

GRFICO

EVOLUO DA POPULAO DA REGIO DE LAGUNA

1940 ----------------------- 2000

350000-

300000-

250000-

200000-

150000-

100000-

50000-

1040 1950 0 1960 01970 O1980 Q1990 (32000

Fonte: IBGE, 2000

38 SANTA CATARINA, ibid.

39 Id. ibid.

40 Id. ibid.

35

2.3.3 Principais atividades econmicas

Os contribuintes fundamentais do desenvolvimento social e econmico de Santa Catarina esto afetos a atividades extrativistas de recursos naturais (pesqueira, agrcola e mineral).

O atual estgio de desenvolvimento alcanado pelo extrativismo pesqueiro coloca o Estado entre os produtores de maior expressividade no Brasil. O potencial pesqueiro, alm da faixa de mar aberto, ocorre em rios, lagos e baas e tambm em tanques de cria

o. Inobstante, h, ainda, a produo de pescados em tanques especiais, normalmente situados em pequenas propriedades destinadas economia familiar, conforme observado anteriormente.

Com relao distribuio agrria, no Estado h apenas 571 estabelecimentos alegadamente com mais de 1000 ha, predomina, portanto, o minifndio produtivo familiar.41

A Regio Carbonfera se destaca no cenrio nacional da minerao, em especial, devido a dois bens minerais: o carvo e a fluo- rita. O primeiro explorado a partir da formao Rio Bonito e foi, por algum tempo, a mola mestra do desenvolvimento regional. Quanto fluorita, o municpio de Morro da Fumaa responde por quase 55,63% da produo nacional beneficiada, que de 86,42 mil toneladas.42 O

terceiro lugar na produo mineral da AMREC ocupado pela argila utilizada na indstria cermica e em olarias.43 Outros bens minerais tambm so explorados, dentre os quais constam: pirita, gua, areia quartzosa, slex, feldspato, caulim, granito e materiais de construo de diversos tipos. Alm desses, a Regio tem reconhecido potencial

para: ametista, quartzo, calcednia, barita, cocheiros e pirolusita.

Tambm produz cana-de-acar, arroz, mandioca, milho e fu

41 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA, op. cit., p. 62.

42 Id. ibid., p. 55.

43 Id. ibid.

36

mo. No obstante, dado s condies climticas da Regio, existe grande potencial para a cultura de ctricos.

Na pecuria: criao de aves, suno e bovinos de leite.

Sobressaem-se tambm os setores de revestimento cermico, vesturio, plstico descartvel, calado, moldura e metalurgia.

A exemplo do que ocorre no Estado, a Regio Sul possui parque industrial alimentado por inmeras pequenas e mdias empresas. Algumas tm origem no capital comercial, visto ser uma Regio onde o processo de industrializao foi acompanhado pela pequena

produo mercantil e de atividades ligadas ao carvo e cermica.

O conjunto de indstrias de transformao de plstico responsvel por cerca de 70% dos copos descartveis consumidos no Pas. Alm disso, tambm produz filmes para embalagens e tubos de

PVC. Apresenta um faturamento total superior a US$ 30 milhes/ms

e emprega 4,5 mil pessoas.44

2.3.4 PIB das Micro Regides

Em Cricima, a extrao do carvo era, em 1990, a atividade econmica mais importante, pois, lhe conferia uma participao de

17,30% sobre o valor total computado pelo conjunto das 100 atividades mais importantes do municpio.45

Em 1994 o extrativismo do carvo ocupava a stima classificao ou seja, 5,15% do valor total das 100 atividades citadas.46

No obstante, at 1994 o carvo imprimiu enorme importncia aos municpios de Lauro Mller e Siderpolis, coincidentemente os

dois mais pobres da Regio Carbonfera. A crise do carvo afetou decisivamente a economia desses municpios.

44 FEDERAO DAS INDSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA, ibid., p. 62.

45 ld. ibid.

46 ld. ibid.

37

A Regio Sul de Santa Catarina a terceira no Estado com

melhor distribuio de renda. A sua frente esto a Regio do Vale do

Itaja e a Regio Norte Catarinense - as duas Regies mais industria

lizadas do Estado.

A AMREC que a Micro Regio mais industrializada do Sul,

possui a renda mais uniformemente distribuda, inclusive apresenta

um ndice acima da mdia do Sul e tambm do Estado.

Note-se que, nenhuma das Micro Regies possui concentra

o de renda superior mdia estadual, sendo que esse privilgio

coube AMUNESC.

2.4 Contexto micro regional

Consoante elencado, o mapa infra identifica os Municpios-

Membros da AMUREL, segundo a sua diviso poltico-administrativa.

MAPA DA AMUREL

Fonte: Santa Catarina. 2000

38

Mesmo tendo sido anteriormente apresentada em sua composio, cumpre destacar as particularidades, por vezes antagnicas, que essa Micro Regio reserva.

Para compreend-la, conforme referncia s palavras de Ce- cile Raud, no basta que se leia a realidade presente e o contexto atual em que se inscreve. Tampouco, pode-se buscar antever cenri

os construdos apenas com bases de dados, vez que qualquer exame aos seus aspectos econmicos, culturais, polticos e sociais reclama, em primeira instncia, seja revista a sua histria.

2.4.1 Processo histrico e caractersticas

A AMUREL comeou a ser colonizada na poca da expanso bandeirante, no sculo XVII, pelo vicentista Domingos de Brito Peixoto, que veio para amparar e assistir a expanso lusitana, juntamente com seus dois filhos Francisco de Brito Peixoto e Sebastio de

Brito Guerra, acompanhados, como de praxe, de colonos, ndios e escravos. Foi de Laguna,47 portanto, que partiu o desbravamento do solo, vez que ento servia de portal de entrada e povoamento do Sul do Brasil.

Mais tarde nasceu nos pampas sulinos o Movimento Republicano Farroupilha e em Laguna se instalou a Repblica Juliana. Na

crista do movimento tambm veio Laguna Giuseppe Garibaldi - o unificador da Itlia que encontrou Ana Maria de Jesus Ribeiro - Anita Garibaldi.

47 Laguna, no incio at quase metade do sculo XX fervilhava com seu porto movimentadssimo. Exportava toda a produo do Sul do Estado, principalmente cereais, peixes, etc. Os comerciantes possuam lojas na cidade, que forneciam mercadorias no $6 aos lagunenses, mas, tambm a toda a populao do Sul, desde os contrafortes da Serra do Mar.Era um entreposto comercial, o nico do Sul de Santa Catarina. Para Laguna, de barco atravs do Rio Tubaro e do Lago do Imaru ou de trem da Dona Tereza Cristina, vinham todos os habitantes das mais longnquas plagas, a fim de comprarem o que precisavam em suas pequenas e atrasadas comunidades, comparadas Laguna.Havia, por volta de 1930, vrios comerciantes que possuam frota de navios mercantes e que no cessavam de comprar mercadorias vindas do interior e export-las, geralmente para o Rio de Janeiro.BOSSLE, Ondina Pereira, op. cit., p. 53.

39

Dentre todas as cidades da AMUREL Laguna obteve repre- sentatividade bastante diferenciada em relao s demais, haja vista o significado social, histrico, cultural, poltico e econmico que inferiu aos habitantes da Regio Sul do Pas. Desde o sculo XIX at

a dcada de 40, foi um importante ou o mais importante centro comercial, com a rica e culta burguesia mercantil agroexportadora composta de armadores, comerciantes e exportadores, enfim, era um entreposto comercial, um ponto de encontro dos povos do Sul.

Para ilustrar o quadro retro basta citar:

[...] em dias de movimento em Laguna, mais de du- zentas carroas, antes do advento do caminho, congestionavam as imediaes do porto. Cerca de 500 embarcaes entre navios fluviais de convs, vela, bem como canoas, atracavam no porto trazendo mercadorias, tais como banha, farinha de mandioca, arroz, carne salgada, couro, frutas, acar grosso, madeira de lei, etc. [ ...]n48

Indo alm, pontua essa historiadora:

As mercadorias vinham desde o Vale do Rio Ararangu at a Regio do Mirim, de regies povoadas pelas mais diversas etnias, tais como descendentes de alemes, italianos e portugueses. Cidades e vilas com nomes estranhos e bonito como: Aratingaba, Madre, Garopaba do Sul, Rio D Una, Jaguaruna, Nova Veneza, Armazm, Camacho, Gravat, So Joo, Figueira, Ribeiro, Siquei- ro, Imaru, Tubaro, enfim, de quase toda a Regio Sul.

[...]

Era ainda Laguna que fornecia para toda a Regio Sul artigos como fazendas, acar refinado, po de padaria, que era algo estranho para algumas pessoas, bem como era em Laguna onde existiam os alfaiates e as costureiras, lojas que forneciam os mais variados produtos nacionais e estrangeiros.49

48 BOSSLE, Ondina Pereira, ibid., p. 90.

49 fd. ibid., p. 90-91.

40

Atualmente, na Regio encontram-se grande nmero de engenhos coloniais, de farinha e de acar, desativados em decorrncia da mudana do porto.

Nas primeiras dcadas do sculo XX, conhecer Laguna era o sonho de muitos camponeses de pequenas vilas e cidades do Sul. Era um centro no s comercial, mas tambm cultural e religioso, com

suas festas, bandas de msica, carnaval, etc., com navios cargueiros da Companhia de Navegao Costeira e do Grupo Hoepck, e outras tantas companhias que traziam as ltimas novidades do Rio de Janeiro, de Paranagu, de Santos e Europa, principalmente de Frana e

Inglaterra.

Nesta perspectiva, o que se constata a incrvel decadncia pela qual alguns municpios da Regio de Laguna passaram envolvendo, por bvio, a sua antes brilhante burguesia agroexportadora,

constituda de exportadores e armadores, especialistas na exportao de carvo, farinha de mandioca, banha, etc., decorrente do fechamento, na primeira metade do sculo XX, do porto de Laguna - veia jugular da Regio, porta do Vale do Rio Tubaro.

As conseqncias do fechamento do porto foram terrveis, nos aspectos sociais, econmicos e polticos, com influncia sobre a populao urbana de toda a Regio Sul do Estado de Santa Catarina.

O industriai Henrique Lage, o principal de um grande grupo econmico que atuava em vrias partes do Brasil, a empresa Lage& Irmos, com diversificado ramo de negcios e que foi responsvel,

no Sul, pela estruturao do sistema porturio e ferrovirio, ligados intimamente ao desenvolvimento da Regio Sul de Santa Catarina.

Foram importantes as atividades desenvolvidas pelo Grupo Lage & Irmos, posto que apresentava grande iniciativa e viso, fun

damentais para a sobrevivncia em perodos entre guerras e ps- guerra.

41

Sua ao empresarial teve o poder de deslocar da posio outro grupo importante - os agroexportadores da Regio de Laguna, o que, por volta dos anos 40, levou esse municpio e cercanias decadncia.

Na ocasio, dentro do capitalismo latino americano havia dois blocos de interesses, o primeiro formado pelas foras sociais que se alinhava em prol de um desenvolvimento capitalista autocentrado com base local e com fortalecimento da nao; e o segundo, formado

pelas foras agroexportadoras e imperialistas, interessados em manter a periferia dedicada produo, enquanto celeiro dos centros desenvolvidos.

Nesse quadro, e em nvel regional, que se situa a luta entre os agroexportadores da Regio de Laguna e o grupo empresarial Lage. Luta que, alis, vinha desde os fins do sculo XIX. O grupo La- ge fazia parte da nova burguesia industrial emergente no Pas e adquiriu impulso maior a partir de 1917.

Dentro do modelo nacionalista de desenvolvimento, surgido no perodo entre guerras e ps-guerra, o modelo considerado mais adequado para a produo do desenvolvimento do Brasil aps 1930 foi o nacional-capitalismo e a escolha recaiu sobre a classe de em

preendedores da burguesia nacional, capitaneada pelo Estado como coordenador de toda a economia.

Foi o desenvolvimento a ltima forma assumida por aquela ideologia que, nascendo com o prprio alvorecer do capitalismo no

Brasil, teve por misso derrotar as sobrevivncias ideolgicas de uma estrutura arcaica e em decadncia - a estrutura semicolonial predo

minante no Pas at a dcada de 30 - ao mesmo tempo em que vislumbrava e projetava as vias pelas quais deveria evoluir o sistema econmico nacional.

Porm as promessas de melhoria de vida para uma significativa parte da populao, a sua integrao no progresso, elevao de

42

salrios, no se concretizaram.

Essa luta, como visto, comeou bem antes, fim do sculo XIX, e foi sofrendo alteraes, culminando sob a gide do nacional- desenvolvimento, ideologia que propunha um avano mais acentuado na industrializao, com um desenvolvimento que feria o menos pos

svel os interesses econmicos dos grupos agroexportadores, buscando o velho caminho da conciliao (o chamado Estado de Compromisso), segundo Guido Mantega, que vinha caracterizando o Brasil e desde a Repblica e que prejudicou, em nvel regional, o Sul do Estado de Santa Catarina que at h pouco sofria suas conseqncias, com excesso de mo-de-obra e baixo poder de barganha dos trabalhadores.

Desse contexto resta que nem os vencedores na disputa atuam no presente em grande escala na Regio. No se justificando,

portanto, a imagem deturpada que se tem do processo histrico- da decadncia econmica, sociat, poltica e cultural da AMUREL.

2.4.2 Principais atividades econmicas

As atividades agropecurias de pesca e outras do setor1 primrio da economia regional ocupam em tomo de 38% da populao

economicamente ativa. O trabalho rural perdeu representatividade, caindo de 51% para 38%, sinalizando que o xodo rural considera

velmente elevado.

Os minrios, em especial o carvo, seus componentes, produtos, rejeitos so elementos estratgicos integrao e ao desenvolvimento dos eixos da economia catarinense, ao mesmo tempo em que so, tambm, significativos para a economia nacional.

Os solos so 1/3 planos e muito frteis, 1/3 de encostas e 1/3 arenoso, necessitando de tecnologia de produo, organizao e, em parte, adequao da estrutura fundiria.

O potencial de turismo tambm requer tecnologia adequada

43

de produo e organizao. Todos os recursos precisam ser libertados da atual economia de rapinagem, significando o confronto do homem e natureza, ao invs do convvio harmonioso (simbiose).

Os recursos, alm da rapinagem, so explorados sob a forma de enclave, isto , atendendo aos interesses de outras regies. Sua utilizao apenas parcial e as formas do atual aproveitamento cau

sam prejuzos a outros recursos naturais e atividades; principalmente nas iniciativas estaduais.

As modalidades de desenvolvimento econmico e crescimento existentes, ameaam seriamente os recursos naturais e o pr

prio homem. frgil, como em todas as sociedades pouco desenvolvidas, a realimentao entre o complexo de cincias, tecnologia, recursos humanos e educao, em relao ao complexo produtivo.

Alm do problema do porto de Laguna, um outro tambm explica o relativo atraso constatado entre a populao litornea da AMUREL, qual seja: a defasagem entre a poca da ocupao da Regio, na primeira metade do sculo XVIil e a Revoluo Tecnolgica Industrial, na Inglaterra, em 1760. Essa defasagem foi agravada pelo

isolamento geogrfico, peia no integrao nos cicios da economia nacional e pela inadequao da incipiente integrao recente na economia.

A produo agropecuria ocupa o primeiro lugar na Micro Regio (38,0% com a pesca includa), restando 10,5% para a indstria e 7,0% para a minerao.

As relaes entre produtor e consumidor so muito deficientes, predominando intermedirios e atravessadores.

O tamanho da propriedade rural muito reduzido, sendo que 83,7% no ultrapassam a 20 ha. A aquisio das terras por he

rana ou compra, e a venda considerada atualmente bom negcio, com inteno de ir para a cidade, na proporo de 51,0% dos proprie-

44

trios.

Os agricultores sem terra so 31,0%.

A fatta de infra-estrutura caracteriza as reas mais urbanizadas, sendo que a poluio e a pesca ilegal caracterizam a rea litor

nea.

A renda per capita de 45,1% na Micro Regio, com menos

de dois salrios mnimos.

No entanto, a AMUREL possui os recursos bsicos para o

desenvolvimento, solo e subsolo generosos; tambm possui recursos excepcionais rea do turismo; bem como, clima diversificado, solo homogneo, formao cultural ecltica. Enfim, uma das reas mais privilegiadas geogrfica e historicamente.

Atualmente, a Micro Regio - na representao de suas municipalidades - busca alternativas, a exemplo do que infere Jos

Mller em comentrio definio do planejamento estratgico local, qual seja:

Em artigos anteriores, nesta pgina, procurou-se demonstrar fatores do relativo atraso do Sul de Santa Catarina, aspectos naturais e sociais do seu potencial de desenvolvimento, iniciativas organizacionais voltadas ao desenvolvimento integrado regional e municipal e enfatizou-se o poder local (foras scio-econmicas em articulao com a respectiva Municipalidade) na definio do planejamento estratgico local.

Ressaltou-se que o desenvolvimento, com sustentabilidade econmica coerentemente com a sustentabilidade scia, poltica e ambiental, um processo de mudana, de responsabilidade endgena, onde a Regio e o Municpio so o sujeito e agentes extrarregionais so possveis parceiros. ttS0

50 MOLLER, Jos. Um investimento multiplicador. A Notcia. Joinville, n. 21434, 26 nov. 1999. p. A15.

45

Em leitura atenta ao texto de Miler fica claro que o processo de desenvolvimento scio-econmico-cultural de uma regio est in

timamente relacionado sustentabilidade destes aspectos e tais, por sua vez, esto estreitamente relacionados s municipalidades,

conscincia poltica e ambiental e, sobretudo, ao modo pelo qual essas municipalidades vm se relacionando com o meio, com nfase especial interao sociedade-natureza-cultura.

Dentro deste campo de viso percebe-se que a sociedade civil tem se mobilizado, no sentido de atrair investimentos, estabelecer novas relaes e parcerias comerciais, abrir mercados e nichos mercadolgicos antes impensados. Assim sendo, tanto os eventos (feiras, exposies, etc.) quanto participao neles vm assegurando s municipalidades da AMUREL possibilidades de se relacionarem com outras regies, evidenciando de forma especial o fortalecimento do setor primrio, conforme se constata do artigo publicado pelo Jornal Folha da Semana, quando da divulgao da 9a Exposio Agropecu

ria no municpio de Brao do Norte:5*

No estande de Tubaro foram expostos produtos feitos pelos agricultores do municpio [...], mostrando assim, a potencialidade de Tubaro, tambm no setor agrcola.

Para o secretrio de Desenvolvimento Rural, Jos de Pier essa foi apenas uma mostra do que a rea rural do municpio produz, a comunidade tubaronense precisa conhecer um pouco mais os nossos produtos. Os agricultores tm trabalhado bastante para mostrar que, alm do plantio, eles oferecem tambm o produto j industrializado,

Outro exemplo de divulgao ocorre no municpio de Tuba

ro. Segundo o Executivo municipal:

51 BOSSLE, Ondina Pereira, op. cit., p. 108.

52 Municpio de TubarSo participa de feira para divulgar potencialidades. Folha tia Semana. Tubaro, v 3, n 89, p. 8, 07 abr. 2001.

46

A economia pungente, recuperada a partir do surgimento de novos empreendimentos, impulsiona o crescimento do municpio onde habitam mais de 100 mil pessoas.

Para promover esse rico potencial surgiu em 1989 a Produsul53 - expofeira de produtos da regio sul [sicj.

A Produsul acontece anualmente, compreendendo:

Exposies da indstria e comrcio

Shows artsticos.

Eventos esportivos, jipecross e rodeios.

Parque de diverses.

Gastronomia.

Paralelamente, tem-se que se h algum tempo atrs o fechamento do porto de Laguna provocou impacto desfavorvel economia da AMUREL, hoje ele representa uma das alternativas que essa Micro Regio possui, haja vista questes anteriormente comentadas.

Recentemente o porto de Laguna obteve autorizao para que seja gerido pelo Conselho de Autoridade Porturia, conforme deciso do Ministro dos Transportes Eliseu Lemos Padilha, para o qual

fica assegurada, dessa forma,

[...] a possibilidade de Laguna ter autonomia em relao ao seu porto para, num futuro prximo, poder promover o seu desenvolvimento e atrair empresrios que venham investir na gerao de divisas para o municpio e empregos. [...] esta iniciativa vem se somar a outras de igual relevncia, como a reativao do aeroporto municipal, as parcerias com

53 Nos dez anos em que foi realizada, mais de 2 milhes e meio de pessoas visitaram a Produsul, confirmando o sucesso de um evento que busca a cada edio aprimorar seus atrativos.Mais de 500 expositores, entre rgo pblicos, grandes empresas e pequenos empreendimentos, j aproveitaram a oportunidade de expor seus produtos na tradicional Produsul, alcanando um excelente retomo em cada participao. PREFEITURA MUNICIPAL DE TUBARO. Boletim Informativo: todos por Tubaro. Tubaro: PMT, 1999. p. 10.

47

outros municpios da regio em defesa de obras importantes busca de alternativas concretas para a Educao, Sade e a gerao de empregos. [...] alternativas concretas para nosso desenvolvimento scio-econmico e Laguna vai retomar seu destino no cenrio brasileiro como alavanca deste processo de recuperao do Sul do Estado.tt4

Consoante supra pautado h expectativas e, portanto, proje

es advindas do processo de reabertura do porto de